B A R U L H O D 'ÁG UA M Ú S I CA
1 D E D E Z E M B R O D E 2 0 1 8P O R B A R U L H O M A R C E L
1131 – Dia Nacional do Samba, comemorado em 2 de dezembro, exalta gênero de origem controversa e marginalizada Data tem duas fontes que se referem a documento redigido na Guanabara, na década dos anos 1960, instituindo o Dia Nacional do ritmo que antes de se tornar popular era motivo de perseguições e de forte repressão Vários eventos em todo o país estão programadas para comemorar neste domingo, 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba , ao qual são atribuídas pelo menos duas origens, próximas, na década dos anos 1960, no antigo estado da Guanabara e em Salvador (BA). A
C O M EC E A Q U I
A Viola Caipira como estandarte (Sidnei de Oliveira)* Contato Dia do Violeiro (18 de maio) Parceiros e colaboradores
FO T O S D O F L I C K R
data apareceu mencionada pela primeira vez em documento conhecido como Carta do Samba , redigido ao término do Primeiro Congresso Nacional do Samba, entre 28 de novembro e 2 de dezembro de 1962, no Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, e, mais tarde, ressurgiu por iniciativa de Luiz Monteiro da Costa, vereador soteropolitano. Costa conhecia a Carta do Samba e apresentou à Câmara Municipal de Salvador, em 3 de outubro de 1963, o Projeto de Lei n° 164/63, cuja redação “institui o Dia do Samba, manda preservar as características da música popular e dá outras providências” . O Congresso reuniu o patrocínio da Confederação Brasileira das Escolas de Samba (CBES), da Associação Brasileira das Escolas de Samba (ABES), de representantes da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, o Conselho Nacional de Cultura e da Ordem dos Músicos do Brasil. Edison Carneiro, presidente daquele encontro, foi o redator da Carta do Samba , e à página 6 observou que “foi sancionada lei estadual declarando o dia 2 de dezembro Dia do Samba”, seguindo projeto apresentado pelo deputado Frota Aguiar à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Carneiro já contava, portanto, com o ovo da galinha antes de ela botá-lo — ou seja, esperava que o governador fluminense Carlos Lacerda sancionasse o PL n° 681, de 19 de novembro de 1962 –publicado no Diário daquela câmara já no dia seguinte à sua apresentação por Aguiar –, no qual o artigo 1° dispunha: “Fica 2 de dezembro oficialmente considerado como o Dia do Samba” . Lacerda, entretanto, desafinou e atravessou o ritmo: cortando o barato dos congressistas, vetou a matéria, integralmente. A canetada do político só viria a ser rejeitada mais tarde e parcialmente na Alerj, com o voto de 29 deputados, transformando o PL 681/62 na Lei 554, de 27 de julho de 1964. Assinada em dia 29 de julho pelo deputado Vitorino James, presidente da Alerj, a 554 foi publicada no Diário Oficial do Estado da Guanabara no dia 7 de agosto de 1964 . Neste ínterim,
Mais fotos
E S T A T Í S T I C A S D O B LO G
entre o veto de Lacerda e a publicação que veio com a assinatura de James, é que o baiano Luiz Monteiro da Costa levou sua ideia ao plenário da Câmara de Salvador, em outubro de 1963, mais tarde consubstanciada na lei municipal 1543/63.
178.655 cliques
A iniciativa do vereador teria ainda outra razão: homenagear Ary Barroso (Ubá/MG) , “Cidadão Baiano” desde 1956 por iniciativa de estudantes e de professores universitários da capital da Boa Terra, já que, apesar de mineiro, o autor de Aquarela do Brasil tinha grande identificação com as manifestações populares da Bahia e compôs em nome deste amor, por exemplo, Na Baixa do Sapateiro , canção que expressa sua paixão pelo estado nordestino. “Eu me descobri na Bahia”, informou Barroso em entrevista em 1962. “Os seus ritmos, seus candomblés, suas capoeiras, sua gente (…) foram uma revelação pra mim”, emendou o compositor. “Fiquei de tal modo impressionado que o jeito foi exteriorizar a minha admiração por meio da música.” Hoje disseminado como um dos ritmos mais populares do Brasil e cultuado ao redor do globo, o samba embala a maior festa popular do país, o Carnaval, e ocorre na maioria dos estados nacionais, com acentuada predominância no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco e em São Paulo – que, curiosamente, ganhou a alcunha de “túmulo do samba” por conta de uma controversa e mal interpretada fase de Vinicius de Moraes ¹ pecha que obviamente não resiste diante das ricas contribuições entre outros de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini , autores de joias como Trem das Onze , Saudosa Maloca , Ronda e Volta por cima . E tem diversas variações em suas formas de expressão cuja raiz é proveniente de um tipo de dança trazida por escravos africanos, a semba, que sofreu forte influencia de estilos que já eram apreciados no país, como o xote, polca e o maxixe. Dentro do próprio gênero se multiplicam subgêneros como samba de roda, samba exaltação, partido alto, samba de breque, samba de gafieira, samba rock ² e samba enredo, variações que refletem tempos e influência de diversas regiões do Brasil, além da mistura com outros tipos de música. Em Água de Minha Sede , um dos melhores álbuns de Zeca Pagodinho , lançado em 2000, ele canta uma música de Tio Hélio (fundador da Império Serrano e primo de Dona Ivone Lara ) e Nilton Campolho, Delegado Chico Palha (#3) , que conta as maldades e o fim trágico de um policial que descia a madeira em quem curtia samba e curimba, acabando a festa a pau e ainda quebrando os instrumentos.
Chico Palha era um homem muito forte, com o gênio violento que, de acordo com o refrão, “não prendia, só batia”. A letra faz referência à perseguição ao gênero em seus primórdios, quando o samba, de fato, era marginalizado e encarado pelas autoridades e membros da elite, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro, como malandragem e manifestação quase considerada criminosa, o que turbinou preconceitos e gerou muita perseguição e invasão a terreiros e praças até, sem cerimônia, penetrar pelos salões da sociedade, e, vitorioso, com a mesma roupagem que saiu daqui, exibir-se para a duquesa de Kent , no Itamaraty , como canta em Tempos Idos o genial Cartola apresentado a forra obtida pela inspiração de geniais artistas. E em sua origem, o samba já causou. Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional . A composição é atribuída a Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga , e ao jornalista Mauro de Almeida , registrada em 27 de novembro de 1916. Este vestuto senhor, portanto, já com 102 anos, acabou sendo anotado, primeiro, como de autoria apenas de Donga, mas depois este incluiu incluir Mauro como parceiro. Mas o samba foi concebido em um famoso terreiro de candomblé daqueles tempos, a casa da Tia Ciata , frequentada por grandes músicos da época e, por ter sido um grande sucesso e devido ao fato de ter nascido em uma roda de samba , de improvisações e criações conjuntas, vários foram os músicos que reivindicaram a autoria da composição. A canção foi composta em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze/XI . A melodia, originalmente, intitulava-se Roceiro e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana , Pixinguinha , Caninha , Hilário Jovino Ferreira e Sinhô , entre outros. A letra original da canção, que era “O chefe da folia/ Pelo telefone / Mandou me avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar” , foi alterada para a versão mais conhecida hoje em dia, “O Chefe da Polícia / Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que na Carioca / Tem uma roleta/ Para se jogar” . Segundo depoimento de Donga para o Museu da Imagem e
do Som (MIS), “O Chefe da Polícia… ” foi uma paródia feita pelos jornalistas de A Noite . Repórteres do jornal tinham, em 1913, posto uma roleta no Largo da Carioca, para demonstrar a tolerância da polícia com o jogo. Em abril de 1913, o chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro havia declarado que o jogo permaneceria liberado “até que o governo resolvesse o contrário”. Henrique Foréis Domingues, o Almirante, em matéria no jornal O Dia , em 13 de fevereiro de 1972, também confirma essa versão: “alguém lá na redação de ‘A Noite’, inspirando-se nos episódios em questão, criou a famosa paródia”. Existem controvérsias quanto à autoria e quanto à data da composição. O Jornal do Brasil , em 4 de fevereiro de 1917, publicou uma nota do Grêmio Fala Gente comunicando que “o verdadeiro tango Pelo Telefone ”, seria de João da Mata, Germano, Tia Ciata e Hilário, cantado na Avenida Rio Branco, dedicado “ao bom e lembrado amigo Mauro”. O próprio Almirante acusou Donga de se ter apropriado de uma criação coletiva. Donga respondeu que as músicas eram diferentes. Mas concordou que não foi o autor da letra de Pelo Telefone , que é de Mauro de Almeida . Culpou a gravadora por ter omitido o nome do parceiro. “A omissão do nome de Mauro na gravação da Casa Edison não pode ser atribuída a mim” , disse.
Imagem da Praça XI, na cidade do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX, um dos berços do samba no Brasil
Sinhô , por sua vez, também reclamava direitos autorais. Sinhô é o carioca José Barbosa da Silva, que revelou-se surpreso quando Donga registrou p samba como seu. A canção, que virou motivo de discussões, gerou uma das maiores polêmicas da história da música brasileira, justamente em torno da suposta autoria. Para alimentar a pinimba, Sinhô compôs, em 1918, Quem são eles , numa clara provocação aos parceiros de Pelo telefone e tomou chumbo. Exclusivamente para ele, foram compostas Fica calmo que aparece , de Donga, Não és tão falado assim , de Hilário Jovino Ferreira, e Já te digo , de Pixinguinha e seu irmão China, que lhe traçaram um perfil nada elegante: “Ele é alto e feio/ e desdentado/ ele fala do mundo inteiro/ e já está avacalhado…” . Depois, Sinhô pagou a ambos com a marchinha O pé de anjo , primeira composição gravada com a denominação marcha.
¹ O jornalista , compositor e crítico paulistano Nelson M otta , em seu livro 10 1
¹ O jornalista , compositor e crítico paulistano Nelson M otta , em seu livro 10 1 C a nç ões que toc a ra m o B ra sil (2016, Estação Brasil), ao escrever sobre Trem da s Onze , de Adoniran Barbosa, comenta na página 81 o episódio no qual o Poetinha utilizou a frase “São Paulo é o túmulo do samba”
² No mesmo livro, à página 76, Motta discorre sobre M a is que na da , de J org e B en (ainda não Ben Jor), de 1973, de composição taxada no início até como “infantil”, tornou-se uma das precursoras do estilo samba rock
Leia também no Barulho d’água Música:
1121- Samba-enredo da Mangueira vai homenagear Marielle Franco, vereadora carioca morta por defender minorias 875 – Bamba de São Paulo para quem Nelson Sargento tira o chapéu, Tuco Pellegrino lança “Na contramão do progresso”
São Roque, SP, Brasil C ompa rtilhe isso:
Skype
Carregando...
B A H I A , B R A S I L E I R A , F E S T A S P O P U L A R E S, G A F I E I R A , M Ú S I C A , M Ú S I C A B R A S I L E I R A , M Ú S I C A I N D E P E N D E N T E, M Ú S I C A L A T I N O A M E R I C A N A, P O P U L A R , R I O D E J A N E I R O, SAMBA A N O I T E, A D O N I R A N B A R B O S A , A Q U A R E L A D O B R A S I L ( M Ú S I C A ) , A R Y B A R R O S O , A S S E M B L E I A L EG I S L A T I VA D O R I O D E J A N E I R O ( A L E R J ) , A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A DA S E S C O L A S D E S A M B A ( A B E S ) , A V E N I DA R I O B R A N C O ( R J ), B A H I A , B I B L I O T EC A N A C I O N A L, C A M P A N H A D E D E F E S A D O FO LC LO R E B R A S I L E I R O , C A N I N H A , C A R LO S L A C E R DA ( GOV ER NA DO R F L U M I NENS E) DEP U TA DO V I T O R I NO J A M ES ( P R E S I D E N T E DA A L E R J E M 1 9 6 4 ) , C A R N A VA L , C A R T A D O S A M B A , C A R T O L A , C A S A E D I S O N, C Â M A R A M U N I C I P A L D E S A LVA D O R , C O N F E D E R A Ç Ã O B R A S I L E I R A DA S E S C O L A S D E S A M B A ( C B E S ) , C O N S E L H O N A C I O N A L D E C U LT U R A, D E L EG A D O C H I C O P A L H A ( M Ú S I C A ), D E P U T A D O F R O T A A G U I A R , D I A N A C I O N A L D O S A M B A, D O N A I VO N E L A R A, D O N G A , D U Q U E S A D E K E N T, E D I S O N C A R N E I R O , E R N E S T O D O S S A N T O S ( D O N G A ) , E S T A Ç Ã O B R A S I L ), G E R M A N O , G U A N A B A R A , H E N R I Q U E FO R É I S D O M I N G U E S ( A L M I R A N T E ) , H I L Á R I O J O V I N O F E R R E I R A, I T A M A R A T Y , J O Ã O DA M A T A, J O R G E B E N J O R, J O R N A L D O B R A S I L, J O S É B A R B O S A DA S I LVA ( S I N H Ô ) , L A R G O DA C A R I O C A, L U I Z M O N T E I R O DA C O S T A ( V E R E A D O R S O T E R O P O L I T A N O ) , M A N G U E I R A ( E S C O L A D E S A M B A ), M A R C O S H E R M E S , M A R I E L L E F R A N C O , M A U R O D E A L M E I DA, M I N A S G E R A I S / M G ) , M U S E U DA I M A G E M E D O S O M ( M I S, )N A B A I X A D O S A P A T E I R O , N É L S O N S A R G E N T O, N E L S O N M O T T A , N I LT O N C A M P O L H O , O D I A , O R D E M D O S M Ú S I C O S D O B R A S I L , P A L Á C I O P E D R O E R N E S T O, P A U LO VA N Z O L I N I , P E R N A M B U C O , P I X I N G U I N H A , P R A Ç A O N Z E / X I ( R J ) J O Ã O DA B A I A NA , P R I M EI R O C O NGR ES S O NAC I O NA L DO S A M B A , RIO D E J A N E I R O ( C I DA D E ) , S A LVA D O R , S Ã O P A U LO ( C I DA D E ), S I N H Ô , T I A C I A T A , T I O H É L I O ( F U N DA D O R DA I M P É R I O S E R R A N O ) , T U C O P E L L EG R I N O , U B Á , V I N Í C I U S D E M O R A E S, Z EC A P A G O D I N H O
Deixe um comentário Digite seu comentário aqui...
A NT ERI O R
P R ÓXI M O
1130 – Edna rdo (CE)
1139 – Chico Ma ra nhã o
rememora “Roma nce do
(MA): símbolo musica l da
Pa vã o Mysterioso” em dua s
déca da de 1960 la nça
roda da s, no Sesc
CD duplo
Belenzinho (SP)*
dezembro 2018 D
S
T
Q
Q
S
S 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31 « nov
A R Q U I VO S
Selecionar o mês
C A T EG O R I A S
Selecionar categoria
T Ó P I C O S R EC E N T E S
1139 – Chico Maranhão (MA): símbolo musical da década de 1960 lança CD duplo 1131 – Dia Nacional do Samba, comemorado em 2 de dezembro, exalta gênero de origem controversa e marginalizada 1130 – Ednardo (CE) rememora “Romance do Pavão Mysterioso” em duas rodadas, no Sesc Belenzinho (SP)* 1129 – Trompetista Guilherme Dias Gomes lança sétimo disco, Trips, com homenagem a Janete Clair 1128- Mesclando tradição e experimentalismo, “Expresso 2222” crava o nome de Gilberto Gil na MPB*
TAGS
Almir Sater
Argentina
Ariano Suassuna
Bahia
Belo Horizonte Biblioteca Mário de Andrade Brasília
Caetano Veloso
Chico Buarque
Brasil Campinas
Chico Lobo
Cláudio Lacerda
Chile
Consuelo de Paula
Dandô - Circuito de Música Dércio Marques Distrito Federal
Dominguinhos
Déa Trancoso
Dércio Marques
Elis Regina
Elomar
Estados Unidos
França
Geraldo Azevedo Goiás
Espanha
Gilberto Gil
Guimarães Rosa
Inezita Barroso Jair Marcatti
Ivan Vilela João Arruda
João Bá
João Evangelista Rodrigues Júlio Santin
Katya Teixeira
Levi Ramiro
Luiz Gonzaga
Luiz Salgado
Milton Nascimento
Minas Gerais
Neymar Dias
Paraíba
Paulo César Pinheiro
Paulo Freire
Paulo Netho
Paraná
Paulo Simões
Pereira da Viola
Pernambuco
Pixinguinha
Renato Teixeira
Portugal
Ricardo Vignini
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
Rodrigo Zanc
Rolando Boldrin
Salatiel Silva
Salvador
Sarah Abreu
SESC
Sr. Brasil
São Carlos
Thadeu Romano
Socorro Lira São Paulo
Tião Carreiro
Tom Jobim
Toninho Ferraguti
Wilson Dias
Wilson Teixeira
Xangai
Zé Helder
ontinuar a usar este site, você concorda com seu uso. Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.Fechar e aceitar ookies, consulte aqui: Política de cookies