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1140 – Nelson da Rabeca e esposa, com Thomas Rohrer, lançam álbum “áspero”, mas que encanta pelo tom festivo* Vozes e instrumentos lembram o carro de boi, os gritos roucos do dia de trabalho, o atrito entre madeiras, metais e rochas e revelam o modo como esses sons são articulados e dão a eles um tom de celebração
* Com Tiago Mesquita, do Selo Sesc
C O M EC E A Q U I
A Viola Caipira como estandarte (Sidnei de Oliveira)* Contato Dia do Violeiro (18 de maio) Parceiros e colaboradores
FO T O S D O F L I C K R
A audição matinal do sábado, 29/12, aqui no cafofo/redação do Barulho d’água Música , na Estância Turística de São Roque , Interior paulista, começou com Tradição Improvisada , álbum do Selo Sesc lançado em junho que destaca o inédito e feliz encontro entre Thomas Rohrer , Seu Nelson da Rabeca e Benedita dos Santos. O disco reúne 23 faixas que revelam a união dos músicos em torno das rabecas produzidas por Nelson dos Santos. O instrumento, de timbre tão peculiar, permitiu que as sensibilidades musicais dos músicos de Alagoas e da Suíça se entendessem como Pelé e Coutinho .
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A música chegou tarde para Nelson da Rabeca, nascido
E S T A T Í S T I C A S D O B LO G
Nelson dos Santos em março de 1929 na cidade alagoana de Joaquim Gomes . Embora possua memória extensa do
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repertório da música popular executada naquele estado, o instrumentista, compositor e luthier voltou-se para as artes só depois de décadas de trabalho penoso no corte de cana . Impressionado com o som de um violino que ouvia pela televisão, decidiu reproduzir um instrumento de cordas, a ser tocado com arco. E assim descobriu como fabricar, afinar e tocar a rabeca por conta própria. Embora análogo, o instrumento de Nelson não soa uniforme como os das cordas da orquestra, pois tem um zumbido metálico. O rabequeiro deixa ranger as cordas e, acorde após acorde, faz com que o som, rouco, emule harmonias que nos remetem às cantigas medievais, às cirandas e aos xotes dos cantores de rádio. O timbre é arranhado, mas o toque é festivo. Com mais de 50 anos de idade, o artista descobriu uma maneira de viver mais intensamente pela música. Faz tempo que ele é jovem desse jeito.
Antes de se dedicar a fabricar e a tocar rabecas, Nelson dos Santos trabalhou penosamente no corte de cana, no Interior alagoano: Foto: Flavio Vogtmannsberger
Esse som original, incontrolável, temperado de maneiras não convencionais, fez com que Thomas Rohrer se iniciasse na rabeca. Quando chegou ao Brasil, o músico suíço originário da Basileia não tocava mais o violino que aprendera na infância: tornara-se saxofonista de recursos infinitos. Dedicado à produção de música nova, Rohrer fez da improvisação livre seu método principal . Para ele, o improviso é um modo de evitar os cacoetes harmônicos tradicionais e de buscar maior diálogo com outros procedimentos criativos . A sua música parece mais espontânea, aberta a novos sons, novas formas de tocar. Rohrer conheceu a rabeca no fim da década dos anos de 1990, por meio de Zé Gomes , um dos músicos mais importantes do Brasil. O instrumento pôs Rohrer em contato com timbres inusitados e um repertório rítmico saído do sertão nordestino. O som que mais chamou a atenção foi o da rabeca de Seu Nelson. Quando pôde, adquiriu um instrumento e se aproximou do rabequeiro de Marechal Deodoro (AL). Ali nasceu a colaboração musical que resultou em Tradição Improvisada . Infelizmente Zé Gomes, outro interlocutor dos dois músicos, não sobreviveu para participar do projeto.
Nesse disco do selo Sesc, Nelson da Rabeca, Benedita dos
Santos, Thomas Rohrer e Panda Gianfratti trabalham com sons ásperos. A voz e os instrumentos lembram o carro de boi, os gritos roucos do dia de trabalho, o atrito entre madeiras, metais e rochas. No entanto, o modo como esses sons são articulados dão a eles um tom de celebração, de alegria incontida, como se com aquele pouco a vida pudesse se tornar uma festa intermináve l. Em uma das faixas do disco, a partir de rangidos desencontrados, os músicos encontram uma progressão de acordes que nos lembra um trechinho de Cintura fina , de Luiz Gonzaga . Sons rudes vão estabelecendo contatos gentis, festivos, como se um convidasse outro a abrir a carranca e aproveitar a vida. Aliás, são as letras de Benedita dos Santos que melhor expressam esse esforço para encontrar uma canção que faça sentido para a vida de todos. Suas palavras musicadas são fundamentais no disco. Elas falam de amores que não pedem nada em troca, do encontro com maravilhas naturais e sobrenaturais e da felicidade que a música trouxe a ela e a Nelson . As músicas também são sobre encontros, amor e amizade. Um desses encontros é o da cultura popular com a improvisação livre: duas formas de resistir à homogeneização da música pela indústria cultural. Aqui, essas formas de arte dançam juntas no baile infinito de Nelson da Rabeca e Thomas Rohrer. A Revista Bravo! deste mês elegeu o disco Tradição Improvisada entre os melhores do ano.
*Tiago Mesquita é o autor do texto desta atual ização
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Músico que quando menino tocou para Lampião, Sebastião Biano (AL) lança em Sampa álbum com banda de pífanos Terno Esquenta Muié
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1139- Aos 81 a nos, Miúcha
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1141 – Antonio Guerra e Silvério Pontes formam duo piano/trompete e lançam “Coração Brasileiro” 1140 – Nelson da Rabeca e esposa, com Thomas Rohrer, lançam álbum “áspero”, mas que encanta pelo tom festivo* 1139- Aos 81 anos, Miúcha (RJ) é mais uma estrela que se apaga em 2018 1138 – Revolver, segundo álbum de Walter Franco, é tema de mais um “Clássico do Mês” 1137 – Marcelo Quintanilha (SP) lança Caju, álbum em homenagem a Cazuza
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