Monstros e lendas na contemporaneidade O mitológico e o fantasioso permanecem como objetos do cotidiano; se por um lado perderam a carga religiosa, é certo que ganharam apelo midiático, pois se fazem presentes em todos os suportes e linguagens. São objeto do design, da arte e da cultura contemporânea. Alguns pesquisadores buscaram um tipo de catalogação universal, apontando transformações e apropriações nas diferentes culturas e construindo um inventário. Mário Corso organizou um desses inventários de entidades. O trabalho, publicado em 2004, apresenta personagens que são uma mistura de mitos oriundos da cultura europeia com a indígena, com contribuições africanas e asiáticas; uma miscigenação que teve lugar nas Américas devido à formação dos povos. O autor procura identificar motivos para o surgimento e a continuidade dessas histórias de assombramento, estabelecendo relações entre psicologia, crenças, história e linguística. Um exemplo é o Bicho Papão, um mito sem origem definida, mas que participa ativamente na cultura infantil. Corso também apresenta mitos ligados ao universo adulto, como a Dama da Meia-noite, uma mulher bela e misteriosa que solicita um táxi na madrugada, indica o endereço – sempre perto de um cemitério –, mas, quando se aproximam do local, ela desaparece. Para o psicanalista, ela representa a morte e constitui um recado aos vivos quanto aos perigos urbanos. A cultura brasileira é plena de criaturas e histórias; algumas são reconhecidas nacionalmente e outras são de cunho regional ou local, apresentando variações na aparência, nas designações, nas narrativas e nas caracterizações. Mapinguari, Curupira, Cuca, Mula Sem Cabeça, Saci e Boto são algumas criaturas, de uma lista imensa, originárias dos contos orais e populares inspirados na exuberância da fauna e da flora nacional e que são reconhecidos graças ao trabalho de autores que recontaram os mitos e as lendas, como: Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Simões Lopes Neto, Câmara Cascudo, Sílvio Romero, entre outros folcloristas. 21