Monstruário: o livro dos monstros sensíveis

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O monstruoso como tema A história da arte e da cultura é plena de artistas dedicados e inseridos nesse universo; o monstruoso se instaura como tema e como poética nas diferentes linguagens artísticas. Selecionei alguns desta lista numerosa por gosto pessoal, filiação e afinidades estéticas.

Goya (Saragoça, Espanha, 1746-1828) Goya é um “monstro sagrado” e comparece primeiro pelo desenho assombroso capaz de provocar o “maravilhoso”, seja pela qualidade gráfica que imprime as suas monstruosas criaturas, seja pela ousadia política e originalidade. O artista traz o fantástico para as suas obras com intenção de zombaria ou como sátira para criticar as injustiças sociais de sua época. Seus monstros são, antes de tudo, políticos; através de suas criaturas, Goya denunciava as aterrorizantes atividades da Santa Inquisição (Espanha, século XVIII). Bruxas em vassouras, cães voadores e demônios povoam as obras de Goya e são representados em rituais satânicos, orgias e bestialidades. Além disso, outro de seus temas era a levitação: pessoas, crianças e seres míticos eram representados em pleno ar. Estudiosos de sua arte apontam que seu gosto pelo “ocultismo” estaria afinado com as pesquisas científicas da época (as leis da gravidade, as leis de Newton e o eletromagnetismo). Porém, quanto mais a ciência avançava em explicar o mundo, mais o artista desconfiava dos princípios da razão pura. O lado obscuro da razão, a força da irracionalidade, a energia das paixões e o medo do desconhecido constituíam suas inquietações. Nessa linha, os sonhos eram revisitados, sendo esse um tema fascinante para o artista.

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