Centro gastronomico valongo

Page 1


2


3


4


Índice

5

O edifício na cidade, a cidade no edifício Introdução Camillo Sitte Saturnino de Brito Jean Nouvel

7 9 11 15 21

Santos História Centro Histórico Alegra Centro Conclusão

25 27 35 39 45

Projeto Introdução Terreno Programa Projeto

47 49 51 55 57

69

Bibliografia


6


O Edifício na Cidade A Cidade no Edifício


8


Introdução Um projeto pode ser concebido de várias formas, não existe uma regra ou norma específica para tal. Existem, no entanto, fatores que podem nortear, direcionar ou até mesmo restringir o processo. É necessário levar em conta o programa que será instalado, o custo máximo que se pode atingir, as vontades do contratante e as ambições estéticas para o projeto. Podemos pensar nestas como as características genéticas, o que nos dá o genótipo do projeto. Mas isso não é tudo. Se continuarmos associando as diretrizes projetuais às características genéticas de um ser vivo, podemos lembrar que muitas vezes indivíduos com geneticamente semelhantes apresentam aparência diferente. E o fenótipo explica isso. Características ambientais podem causar essas diferenças. O mesmo acontece com o edifício, ou qualquer que seja o espaço projetado. A Cidade e os usuários podem ser considerados como características ambientais que modificarão o projeto. Por isso é de extrema importância entender os usuários e o entorno da implantação do que será proposto. É importante pensar no entorno do projeto como parte deste, ou pensar no projeto como uma parte do entorno, um modificará o outro, e faz parte do trabalho do arquiteto prever e aperfeiçoar a interação entre ambos. Como a volumetria de um edifício será vista pelos caminhos da cidade, ou como a cidade será vista por paredes de vidro ou janelas que enquadram o espaço interno, bem como o espaço interno do edifício que 9


cria continuidade com essa discussão, se tornaram inquietações principais e serão estudadas e discutidas no desenvolvimento do projeto que será apresentado neste estudo.

10


Camillo Sitte Estudar a relação entre o edifício e a cidade foi uma curiosidade que nasceu a partir da vivência de cidades europeias onde, pelo caminhar em ruas tortuosas, ou mesmo pela relação dos edifícios entre si, era possível se apreender pontos de vista diferentes a cada passo, adicionando beleza e interesse a paisagem urbana. O trabalho de Camillo Sitte se tornou de suma importância para o entendimento de como e quais artifícios se uniam para a produção desses efeitos artísticos que adicionavam características únicas a cada espaço. Sitte se propõe a discutir como o novo urbanismo de seu tempo, que transformava o papel do urbanista em um trabalho de engenharia, buscando principalmente solucionar problemas em função do fluxo viário e do higienismo, priorizando grandes ruas retas e construções independentes entre si. A nova concepção urbanística leva a discussão da perda dos princípios artísticos na composição do espaço, atribuída por Sitte a perda da tradição artística nos tempos modernos. Sitte então se dedica ao estudo de características urbanas de cidades antigas europeias, buscando normatizar artifícios usados pelos antigos para obter espaços com qualidade estética na cidade. O estudo do autor se dedica a analisar praças, construções e ruas. Algumas citações foram extraídas de seu livro síntese dessa pesquisa, “A Construção das Cidades Segundo seus Princípios Artísticos” para ilustrar importantes conclusões formuladas pelo historiador: 11


“(...) as igrejas não eram construídas isoladas – sua praças mais impressionantes resultaram da construção da igreja encostada em outras estruturas ou encaixada nelas (...)” (SITTE. 1992. P.39)

“Uma praça demasiado pequena quase nunca propicia a revelação de todo o efeito das construções monumentais; em contrapartida uma praça grande demais é ainda pior, pois mesmo a construção mais imponente terá uma aparência diminuta em relação a ela.” (SITTE. 1992. P.58) “(Sobre praças irregulares) A experiência pessoal nos demonstra que tais irregularidades não causam, de maneiraalguma, um efeito ruim; ao contrário, aumentam a naturalidade, estimulam nosso interesse e, sobretudo, reforçam o caráter pinturesco do conjunto.” (SITTE. 1992. P.63) “Os terrenos irregulares são os que propiciam, sem exceção, as mais interessantes soluções, e quase sempre também as melhores, não apenas por exigirem um estudo meticuloso do local e impedirem uma disposição retilínea e mecânica, mas sobretudo por restarem, no interior de tal edifício, vários tipos de espaços vazios que se prestam de forma adequada à instalação de toda a sorte de pequenos compartimentos (elevadores, escadas em espiral, despensas, toaletes etc.), o que não acontece em conjuntos retangulares.” (SITTE. 1992. P.97) “Em toda cidade onde existe um corso (ou passeio) pode-se observar que, instintivamente, foi escolhida como proteção lateral uma fileira contínua de casas, pois, caso contrário, todo o prazer do local seria comprometido pela necessidade constante de se atentar aos cruzamentos.” (SITTE. 1992. P.103-104) “O fechamento do espaço e dos efeitos de visão era a base de todas as disposições nas cidades antigas, e derivou da evolução histórica de uma rua que era sem interrupções quando de sua formação.” (SITTE. 1992. P.110)

12


“Deliberadamente a vida dos antigos era muito mais favorável à concepção artística da construção urbana do que a nossa vida moderna, matematicamente compassada e onde o próprio homem acaba por tornar-se máquina (...) É sobretudo a tendência de nossas metrópoles a adquirir dimensões gigantescas que marca o rompimento de todos os limites das antigas formas artísticas (...) A eterna repetição dos motivos já basta para coibir a sensibilidade.” (SITTE. 1992. P.113)

A intenção de Camillo Sitte com tal estudo não era tentar voltar à época dos grandes mestres da composição urbana, por reconhecer a impossibilidade e incoerência com os tempos modernos. Como o próprio descreve em seu livro, “há um violento engano em acreditar que o acaso ainda hoje possa criar sozinho coisas tão belas quanto outrora. Pois não foi nem um mero acaso ou o empenho individual que possibilitaram a criação progressiva de belas praças ou conjuntos sem esforço aparente: este desenvolvimento, não foi casual, e os contrutores não seguiam sua própria arbitrariedade, mas todo o conjunto era régio inconscientemente pela tradição artística de seu tempo, sólida a ponto de tudo resultar o mais perfeito.” (SITTE. 1992. P.128) O escritor desejava com seu levantamento propor a formulação de normativas que guiassem a produção urbana moderna a uma volta aos perdidos princípios artísticos de outrora, como disserta no trecho: “Não! Deixar a mercê do acaso as questões da construção urbana não solucionará mal algum. É fundamental que as reivindicações da arte sejam formuladas de maneira positiva, pois hoje não mais podemos confiar em um sentimento comum, inexistente nas questões artísticas. É fundamental o estudo das obras da antiguidade, substituindo a tradição artística perdida pelo reconhecimento teórico dos princípios responsáveis pelo efeito preciso de seus conjuntos urbanos.

13


Devem-se exprimir as causas desses efeitos enquanto reivindicações positivas na forma de regras de construção urbana, pois apenas isso pode prestar auxílio em nosso desenvolvimento, caso isso ainda seja possível.” (SITTE. 1992. P.130)

Figura 1: Rua XV de Novembro, na cidade de Santos. A rua foi aberta sobre antiga trilha indígena, o que se enquadra no discurso Sittiano sobre a qualidade das ruas derivadas de evolução histórica.(Acervo Próprio)

14


Saturnino de Brito Apesar das ideias de Camillo Sitte não terem modificado o planejamento urbano moderno da maneira pretendida, são norteadoras quanto ao entendimento das formas urbanas que despertaram curiosidade e interesse visual e de vivência, mas o arquiteto e historiador austríaco baseou seu estudo apenas em cidades europeias, era necessário buscar essas características exaltadas por Sitte no Brasil. No entanto o Brasil é um país considerado novo se comparado a toda história europeia, não apresentando grande parte das formações urbanas estudadas por Sitte, e grande parte das cidades barrocas tem suas construções “congeladas” no tempo e com grandes restrições para as novas intervenções, o que não as tornou interessantes para o que se deseja propor. Um engenheiro sanitarista brasileiro, que se influenciou pelas ideias de Camillo Sitte para as intervenções modernas na cidade, então, se apontou como resposta para a dificuldade de encontrar uma área para estudo e projeto. Francisco Saturnino Rodrigues de Brito (1864-1929), formado pela Escola Polytechnica do Rio de Janeiro em 1886, trazia em sua temática a preocupação com a estética no traçado das ruas ou melhoramentos urbanos, mas o primeiro fator considerado em seus planos era o sanitário, sem nunca se esquecer do aspecto econômico. Nas palavras de Saturnino “Os traçados mais belos e racionais de novos arrebaldes e de melhoramentos dos existentes são aqueles que procuram tirar das linhas, das superfícies das construções expostas à vista do transeunte e das circunstâncias naturais todo 15


o partido estético, sem entretanto nos esquecermos de que estas ruas e estes quintais devem ser esgotados das águas pluviais e dos despejos das casas e sem nos esquecermos também de que todos os trabalhos públicos devem ser feitos com a precisa economia” (SITTE. 1992. P.209) A referência de Sitte foi introduzida a Brito em 1905 e entrou em seu trabalho sob a ótica sanitarista. “Vemos, em Brito, o pinturesco de Sitte reconhecendo-se no Urbanisme nascente articulando-se com exigências higiênicas, o que só foi possível porque ambos partem da ideia de cidade como organismo, a cidade como um corpo, belo e são e, por isso mesmo, produtivo”. (SITTE. 1992. P.211) Britto, assim como Sitte, acreditava no planejamento das cidades modernas de modo a não deixar a construção da cidade a arbitrariedades individuais. “Entre deixar a extensão das cidades depender do acaso, dos caprichos dos proprietários e das administrações locais’ ou fazer algo em relação à ‘orientação orgânica’ do crescimento da cidade, ele opta pela segunda alternativa. Para Brito, trata-se de intervir no processo de urbanização, prevendo e ordenando o crescimento do organismo urbano. O acaso. Os interesses fundiários dos proprietários e os interesses locais eram apontados como os males que os planos gerais deveriam eliminar. Contra o acaso, a previsão sobre o modo e funcionamento e a extensão da cidade; contra os proprietários, uma legislação concernente à edificação e à urbanização apoiada em critérios científicos do urbanismo nascente; contra os interesses locais, uma administração e gestão centralizadas”. (SITTE. 1992. P.212) Outra citação completa a ideia e reafirma a necessidade do planejamento urbano: 16


“Ao justificar a elaboração de planos gerais, Saturnino de Brito irá valer-se dos argumentos de Camillo Sitte, ‘para provar que a irregularidade dos planos das cidades antigas vinha do sentimento artístico, mas que não se devia deixar ao acaso a extensão das cidades’. ‘Nas cidades antigas era a tradição artística sempre viva em todo o povo que regulava suas construções, e não o acaso’, afirmava Brito, citando textualmente trechos da tradução francesa de Der Städtebau de Sitte, reiterando assim a ideia fichtiana da cidade ‘como uma pura criação do Volk’. Através das ideias urbanísticas de Sitte(...) Mas, ao analisar os planos de cidades coloniais brasileiras, Brito constatará a ‘falta de sentimento artístico’. (...) O que levava Brito a afirmar, mais uma vez repetindo Sitte: o desenraizamento nas massas das tradições artísticas faz com que, hoje, cada particular construa diferentemente o vizinho, sem planos e sem regras, ao acaso. A colônia, adiantando-se nesse aspecto em relação à Europa, entre outros males, nos legara a falta de sentimento e tradição artísticos, levando a que o desenhista de nossas cidades se fizesse ao acaso” (SITTE. 1992. P.214)

Brito ainda se apoia em Sitte para definir os aspectos do profissional responsável pelo planejamento urbano, um técnico, permitindo “’ao artista olhar por cima de seu ombro e deslocar, de vez em quando, seu compasso ou sua régua’ E ainda, a partir de Sitte, ao dividir as tarefas entre o artista e o técnico, comenta: ‘o artista ficaria satisfeito em desenhar algumas ruas e praças principais, abandonando voluntariamente o resto às exigências da circulação e da vida material’”. (SITTE. 1992. P.215) Brito, através de seus planos de melhoramentos, redesenhará as cidades coloniais, sempre buscando adequar o desenho da cidade à topografia do sítio, acreditando em seu efeito ‘pitoresco natural’, no entanto, em áreas de terreno plano, o engenheiro adota traçado retilíneo sem rigidez, como o mesmo diz “quando o terreno é plano, não há razão para as ruas serem curvas, elas serão retas, com as variações de direção exigidas 17


pela circulação, pela orientação, pela disposição dos monumentos”. (SITTE. 1992. P.217) será o caso do projeto mais conhecido, da cidade de Santos, sem no entanto desprezar o estudo de mecanismos ópticos no traçado das ruas. A cidade então, por ser a obra mais conhecida do expoente mais conhecido das ideias de Sitte no Brasil, foi escolhida para campo de projeto. No entanto, a área escolhida não foi exatamente foco do plano de Brito, como os canais de drenagem e suas avenidas marginais, onde se encontravam passeios e pontes, mas a área do centro velho, onde a cidade teve seu início, já consolidada no período do plano, apresentado ainda assim, por suas ruas tortuosas e fachada contínua dos edifícios, características pitorescas descritas por Sitte. Antes de estudar a cidade aonde o projeto irá se desenvolver, é necessário que, para a complementação teórica deste estudo, seja visto um ponto de vista atual sobre a principal discussão que se espera desenvolver: as formas e ambições para um edifício que se relaciona com o espaço em que está inserido.

18


Figura 2 - Mapa do Projeto de Saturnino de Brito para Santos. (Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa27g.htm)

19


20


Jean Nouvel A análise de Camillo Sitte dos espaços urbanos antigos e a contextualização no Brasil a partir do trabalho de Saturnino de Brito formam um consistente pano de fundo para a discussão das relações da percepção urbana por parte do indivíduo. É necessário, no entanto, trazer esta questão para os dias de hoje e para a forma arquitetônica, e com o objetivo de obter esta perspectiva, o discurso de Jean Nouvel sobre a temática será apresentado. Jean Nouvel acredita que na concepção de cada projeto existe um contexto único para nortear as decisões, formulado em termos arquitetônicos, plásticos, filosóficos e conceituais, e o sítio onde o projeto será inserido adiciona demandas e características únicas ao que se idealizará. Jean Nouvel não acredita que no universo complexo em que vivemos hoje seja possível se aplicar a receita moderna de construções que se adaptam a qualquer contexto. Como o próprio autor diz em entrevista a Zaera, “Arquitetura contemporânea é a transformação de umas condições dadas. (...) Os objetivos arquitetônicos não podem ser senão uma reflexão específica sobre as condições externas que se tornam cada vez mais dominantes e inevitáveis”( GABARRA, 2000, P.105), e na mesma entrevista completa sua ideia do posicionamento de sua arquitetura no espaço em que se insere: “A especificidade trata do que o projeto pode acrescentar ao meio urbano, o que ele pode trazer de novo para o local”( GABARRA, 2000, P.105). Em entrevista a Futagawa, o arquiteto ainda fala da arquitetura inserida no espaço: “Afinal, o que esperamos de 21


uma arquitetura inserida no espaço urbano, senão que os problemas existentes no local sejam melhor resolvidos e as qualidades potenciais sejam descobertas e melhor ressaltadas. Este seria o ato arquitetônico correspondente a nova era urbana” (GABARRA, 2000, P.105) Jean Nouvel, ao entender as especificidades de cada projeto e do que nosso tempo pode proporcionar para a arquitetura, busca a produção de efeitos em suas idealizações, explorando de forma sagaz o uso da “tecnologia, as incertezas, a virtualidade, a luz e a desmaterialização” (GABARRA, 2000, P.108) Um dos avanços da tecnologia mais explorados pelo arquiteto para obtenção de toda complexidade e simplicidade que a arquitetura paradoxal proposta pode incorporar é a pele de vidro, brincando com transparências, reflexões, difusões e as sensações que as diferenças visuais podem adicionar a experiência dos espaços. “Jean Nouvel desta forma lança mão de materiais, luzes, cores e imagens para que o que se vê, mesmo que a distância, tocar o observador com adesividade. Para que o que se olha a distância adquira qualidades táteis, impondo-se sobre o olhar como se fosse tocado, capturado, posto em contato com a aparência. O espaço da cidade já não é configurado apenas pela realidade, mas pela soma do real e do virtual, através da simulação estética e nostálgica da realidade. A luz, os efeitos de luz sobre os materiais reflexivos e as imagens são meios para se obter esse espaço. Essa é a poética de Jean Nouvel” (GABARRA, 2000, P.108) Jean Nouvel acrescenta, então, o ponto de vista do produtor arquitetônico atual a discussão da relação entre 22


o edifício e a cidade, e um dos artifícios utilizados por ele na concepção de seus projeto pode ser ainda mais um ponto de conexão com a leitura de Camillo Sitte dos espaços urbanos, a cenografia, colocada nas leituras de Sitte na exaltação da compreensão dos espaços a cada passo, e na concepção de Nouvel na aproximação entre arquitetura e cinema: “tanto na arquitetura quanto no cinema alguém pensa, concebe e lê um edifício em termos de sequências – numa dimensão de tempo e movimento. Criar um edifício é adivinhar e explorar efeitos de contraste e articulações com a sucessão de espaços através dos quais alguém passa” (GABARRA, 2000, P.109) As ideias e produções dos três teóricos e produtores de espaços urbanos apresentadas até agora servem de guia para o desenvolvimento do projeto que será apresentado, mas antes disso é importante compreender o espaço específico onde tal será inserido.

23


24


Santos



História A história de Santos começa antes da colonização. A ilha de São Vicente, onde hoje se encontra a cidade de Santos, chamava-se Guaiaó e era povoada pela nação tupi. Os primeiros europeus chegados às terras brasileiras conviveram de maneira pacífica com os indígenas. Américo Vespúcio, piloto e cosmógrafo da expedição exploradora ordenada pelo rei português D. Manoel, batizou a ilha com o nome de São Vicente, por ser dia do santo no dia que conheceu a ilha. A região foi foco de inúmeras expedições em busca de escravos e pau-brasil. Mestre Cosme, um dos portugueses que se estabeleceram em Cananeia, veio para São Vicente em 1510, fundou um povoado e organizou um porto de serventia no estuário do rio de São Vicente. Com o intuito de proteger as novas terras portuguesas das expedições exploratórias clandestinas, e devido à decadência dos negócios da coroa portuguesa nas Índias, em dezembro de 1531, a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza chega ao Estuário de Santos. Martim expulsa Mestre Cosme e distribui sesmarias na área norte da ilha. Em 1543 a ilha é elevada a posição de vila e capital da capitania, tento Martim Afonso como governador. A Capela de Santa Catarina, construída na Sesmaria de Luiz de Goes, se tornou igreja matriz da vila, e o Outeiro de Santa Catarina é considerado até hoje local de nascimento de Santos.

27


Figura 3 (FONTE: www.vivasantos.com.br)

28


Na vila é construído o primeiro hospital da América, Alfândega, e esta cresce em importância. No século XVII, no entanto, da mesma forma que toda a Capitania de São Vicente, a vila de Santos entra em um processo de estagnação seguido de decadência, levando muitos de seus habitantes a participarem das bandeiras em busca de atividade econômica. “Ao fim do século XVIII, a vila retoma o desenvolvimento e

sua população começa a crescer. A construção da Calçada do Lorena – estrada de ligação de Santos com São Paulo, o desenvolvimento na infraestrutura (iluminação pública, melhoramentos no porto) e a posterior abertura dos portos brasileiros com a vinda da família real portuguesa reativaram o dinamismo econômico da vila.” (CARDOSO, 2007, P.93)

Em 26 de janeiro de 1839 a Assembleia Provincial eleva a vila de Santos à categoria de cidade. Até o ano de 1846, o açúcar era o maior produto de exportação do Brasil, e o principal porto, o do Rio de Janeiro. Neste momento, no entanto, o café supera esta produção,tendo os agricultores de São Paulo como principais produtores, e o porto de Santos como ponto mais próximo para escoamento do produto. “A inauguração da ferrovia São Paulo Railway ligando Santos às lavouras cafeeiras de Jundiaí em 1867 foi uma fonte de progresso inestimável, principalmente para o porto. A cidade aumentou sua população sobremaneira, ocupando toda a área entre o porto e o Monte Serrat, e as áreas conhecidas como Paquetá e Macuco.” (CARDOSO, 2007, P. 94)

29


Figura 4: Vista de um dos planos inclinados da serra e dos cabos do sistema funicular que puxavam os trens (postal M.Serrat). (Fonte: www.vivasantos.com.br)

Santos, no entanto, não possuia infra-estrutura para suportar o grande aumento populacional em decorrência das atividades relacionadas ao café, e por mais que os impostos recolhidos pela cidade, justamente por este motivo, fossem altos, pouco era revertido em medidas públicas para a cidade, na maioria dos casos apenas em emergências. Com a explosão demográfica e pouco ou nenhum investimento em infra-estrutura, Santos viveu um surto de epidemias. Sobre a peste negra: “No início de 1889, o antigo arsenal e estaleiro da marinha, datado do século XVII e situado em frente ao Carmo, é derrubado para o início das obras de construção do cais. Acredita-se que o revolvimento do lodo putrefato acumulado na antiga “praia do Consulado” e também no “porto do Bispo”, locais onde se atiravam os resíduos da cidade, tenha sido o estopim da epidemia de peste negra (febre amarela) que assolou Santos, uma das maiores e mais violentas das que atacaram a cidade. Foi uma tragédia coletiva: o Mosteiro de S. Bento virou hospital, bem como o Theatro Rink, a Beneficência abriu as portas, a Cruz Vermelha atendia à domicílio, os corpos eram transportados por

30


carrinhos ao cemitério, que permanecia aberto à noite e as redações dos jornais viraram postos de informação. Os mais abastados haviam deixado a cidade e a população que ficou foi sendo vitimada. A crise só terminou em maio, com um saldo de 700 mortos.”( http://www.vivasantos.com.br/01/01a.htm)

A partir de 1889 se inicia o programa de Saneamento da cidade, que, entre projetos pouco efetivos e concorrências para intervenções que nunca foram efetivadas, Santos só enxerga uma solução efetiva para a crise enfrentada no projeto do engenheiro Saturnino de Brito. Sobre o projeto: “A primeira fase compreendia a abertura de canais de drenagem para dar vazão às águas das chuvas e canalizar as águas de rios e ribeiros. A segunda fase consistia nos serviços de esgoto, na ampliação da rede coletora e na construção dos emissários, das estações elevatórias e das usinas de recalque para o bombeamento do esgoto, uma vez que o terreno plano não propiciava a condução por gravidade. O projeto era ambicioso e previa até a disposição de ruas e quadras a partir dos canais, um perfeito planejamento urbano para o crescimento da cidade.”( http://www.vivasantos. com.br/01/01a.htm)

Figura 6 (Fonte: www.vivasantos. com.br)

31


Figura 7 (Fonte: www.vivasantos. com.br)

Com a queda do café e pluralização e mecanização do mercado portuário. A burguesia da cidade passa a se afastar da área portuária para ocupar a orla marítima, e novas estradas, facilitando o acesso a cidade, levaram o potencial turístico e comercial de Santos a crescer como nunca. No entanto, na 32


década de 70, a poluição e outros fatores mergulham a cidade em uma fase de estagnação: “A poluição das águas se deve a vários fatores: a superlotação das cidades irmãs nas temporadas supera a vazão do sistema de esgotos e parte dele é despejado em plena baía vicentina; o desaguamento da Represa Billings, onde é despejado metade do esgoto da Grande São Paulo; e finalmente, os resíduos industriais e o esgoto lançado de forma clandestina nos canais. As praias de Santos e São Vicente, sem a sua balneabilidade, afugentam os turistas para outros locais, como o Guarujá e as cidades do litoral sul. Santos passa a receber na maioria turistas de baixa renda, que depredam e sujam ainda mais as praias.”

Os projetos de recuperação do potencial turístico da cidade só passam a ser desenvolvidos na cidade no fim da década de 80, com a queda do regime militar, que havia retirado a autonomia da cidade. “Graças à Sabesp, com investimentos em infra-estrutura, e às comportas dos canais de Saturnino de Brito, que voltam a ser utilizadas como se deve, a balneabilidade das praias é recuperada em 1991, e também é dedicado investimento à recuperação de elementos históricos e culturais da cidade.

33


34


Centro Histórico O Outeiro de Santa Catarina, marco da fundação da cidade, encontra-se no centro histórico de Santos. “As primeiras ocupações do território brasileiro pelos portugueses eram apenas uma consequência de suas atividades exploradoras. Explica-se assim o fato do povoado de Santos ter se iniciado a partir de uma ocupação informal do território, sem nenhum planejamento, com ruas sendo abertas sobre antigas trilhas indígenas que acompanhavam a geografia do território, fato que pode ser observado no traçado irregular de algumas ruas do Centro Histórico de Santos.” (http://www.vivasantos.com.br/01/01a. htm) A área, antes conhecida como “Enguaguaçu” tem a primeira formação de povoação da região, fazendo com que, em 1540, o porto, que se localizava na ponta da praia, se transferisse para a região. O desenvolvimento da então vila passa a atrair novos moradores. A produção de açúcar no nordeste leva a vila a estagnação até a fundação e início do desenvolvimento da Vila de São Paulo de Piratininga, em 1554, tornando o porto vital para o planalto. “A partir de 1570, novas casas comerciais se estabelecem na região do atual bairro do Valongo e fazem daquela área a mais movimentada da Vila e do porto, atraindo para lá o fundeadouro comum e a Alfândega, que passa a funcionar em um casarão levantado na praia, em frente ao Beco da Alfândega Velha (depois Travessa da Banca do Peixe, Rua 11 de Junho, atual Riachuelo). Para a ligação do antigo núcleo, próximo ao Outeiro 35


de Santa Catarina, com a nova área no Valongo (um novo bairro próximo do caminho do mar) é criado um caminho, a Rua Direita, que viria a ser no futuro a principal rua da cidade (Rua XV de Novembro).” (http://www.vivasantos.com.br/01/01a.htm) A transferência da Capital da Capitania para São Paulo agrava uma crise que se instaura na vila até o meados do séc XVII, principalmente pela evasão de seus moradores que partem nas bandeiras em busca de fortuna.

Figura 8 (Fonte: www.vivasantos.com.br)

36


A cidade volta a crescer em meados do séc XVII com o aumento da atividade comercial, mas sem grande ampliação na ocupação territorial, tendo em 1822, apenas um sutil aumento em direção ao morro.

Figura 9 (Fonte: www.vivasantos.com.br)

37


No fim do séc XIX, com a chegada da Ferrovia e do café, a cidade passou a crescer em proporção nunca vista, ultrapassando a área do centro histórico. “Em 1882 era inaugurado o Theatro Guarany , que sediou inúmeros espetáculos pró-abolicionimo e republicanos. Neste mesmo período, o governo imperial abre concorrência e Cândido Gafrée e Eduardo Guinle iniciam a construção do primeiro trecho de cais organizado do país.”( http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/01.htm) Com a queda do café Centro entra em profundo processo de estagnação, e projetos de requalificação da área só se tornariam efetivos no final do séc XX.

38


Alegra Centro Ao final da década de 1990, entidades da sociedade civil, junto com a prefeitura municipal, se reúnem e desenvolvem o projeto ‘Alegra Centro’, com o intuito de promover a requalificação da área do centro histórico de Santos, visando a retomada do desenvolvimento socioeconômico e turístico da área. O desenvolvimento do projeto se deu em cima de duas vertentes principais: o fomento à preservação do patrimônio histórico e a requalificação urbana. O principal foco de atuação está no incentivo à iniciativa privada, através de isenções fiscais, para implantação de empreendimentos que se comprometam com a restauração e manutenção dos edifícios da área. Os incentivos são oferecidos para a instalação de atividades relacionadas a turismo e hospedagem, diversões, comunitárias ou sociais, agenciamento e organizadores, beleza e higiene pessoal, educação e cultura, comércio varejista, profissionais liberais e ateliês artísticos, prestadores de serviços e comércio de café. Dentro da área de abrangência do projeto (FIGURA), é oferecido serviço de consultoria especializada para áreas com nível de proteção 1 (NP -1) – preservação total – e 2 (NP2) – preservação da fachada e telhado.

39


40


Figura 10 (Fonte: http://www.portal.santos. sp.gov.br/alegra/abrange.htm)

Em conjunto com as atividades do ‘Alegra Centro’, a prefeitura vem desenvolvendo o ‘Plano de Revitalização do Centro’, com obras como a criação do calçadão da Rua XV de Novembro, reurbanização do Outeiro de Santa Catarina, substituição do cabeamento de energia elétrica aéreo por subterrâneo e implantação de iluminação por lampiões antigos na Rua XV, no Valongo e na Rua do Comércio, restauração da estação do Valongo e lançamento da linha e do bonde históricos.

41


Figura 11 - Intervenções na área do Valongo (http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/08.htm)

Figura 12 - Projeto de Reurbanização do Entorno do Outeiro de Santa Catarina (http:// www.vivasantos.com.br/centrohistorico/ pag/08.htm)

42


Os projetos para a região central surtiram positivo efeito e a requalificação da área já traz interesse comercial e turístico, e o poder público ainda investe. O intuito é transformar o Centro Histórico num shopping a céu aberto, com atividades culturais e comércio diversificado. A complementação do projeto de requalificação da área vem com o projeto “Marina Porto de Santos – Complexo Náutico e Empresarial”, idealizado por uma comissão de forças políticas e empresariais. A proposta visa dar utilização aos armazéns 1 a 8 do antigo porto, desativados há 20 anos, agregando atrações turísticas, de lazer e centro empresarial. O projeto se apresenta como uma forma de valorização do significado e representatividade do porto de Santos, como disse o prefeito da cidade na noite de apresentação do projeto: “Todos os portos importantes do mundo já realizaram empreendimentos como esse, e agora, esta proposta demonstra nossa consciência em relação à dimensão do porto de Santos”. (Diário Oficial de Santos. 16 fev 2007, P.8) O projeto contará com uma estrutura que incluirá marina, terminal de cruzeiros, restaurantes, espaços para eventos e feiras, estaleiro, serviços de apoio náutico, Escola de Navegação e Centro Oceanográfico. Uma passagem subterrânea ligando o empreendimento ao Centro Histórico – o mergulhão – é uma das principais formas de conectar a nível do pedestre os dois espaços, devido a barreira da linha férrea e grande fluxo de caminhões que aparece como obstáculo para tal comunicação. O projeto ainda se encontra em fase de concepção, visando proporcionar uma requalificação da área portuária de modo a torná-la atrativa para os empreendimentos que se desenvolverão. 43


Figura 13 - Esquema de organização da orla (Diário Oficial de Santos. 16 fev 2007, P.8-9)

Figura 14 - Detalhe do esquema de organização da orla (Diário Oficial de Santos. 16 fev 2007, P.9)

Figura 15 - Perspectiva da implantação do projeto (http://www.arup.com/Projects/ Santos_Valongo_waterfront_regeneration. aspx#!lb:/Projects/Santos_Valongo_waterfront_regeneration/Santos_Valongo_waterfront_regeneration_Gallery_1.aspx)

44


Conclusão A cidade de Santos foi escolhida como área de intervenção projetual por ter sido palco do principal trabalho de Saturnino de Brito, um dos principais tradutores das ideias de Camillo Sitte para o contexto e necessidades brasileiros. Um estudo detalhado da História da cidade, com foco no Centro Histórico, mostraram que a área passa por uma requalificação que a tornam o lugar perfeito para as pretensões projetuais.

45


46


Projeto


48


Introdução O desenvolvimento do projeto, após toda a reunião de ambições e bibliografia, teve como início prático a terreno. Duas questões primordiais dependiam desta decisão: encontrar uma paisagem urbana que, ao nível de percepção do pedestre, acentuasse as qualidades da interação entre o edifício e a cidade e o desenvolvimento de um projeto de caminhos instigantes que se desenvolvessem pelas formas do terreno. O terreno, então, precisaria de forma irregular, bem como de um entorno de ruas que possibilitassem diferentes enquadramentos do edifício pela cidade e uma riqueza urbana nas proximidades que proporcionasse um enquadramento da cidade pelo edifício, e foi o que se encontrou no espaço escolhido no centro de Santos.

49


50


Terreno A área onde o terreno se encontra foi selecionada a partir de uma série de ideias introduzidas pela literatura de Camillo Sitte, principalmente a busca por um terreno irregular, que, como descreve o autor “propiciam, sem exceção, as mais interessantes soluções, e quase sempre também as melhores, não apenas por exigirem um estudo meticuloso do local e impedirem uma disposição retilínea e mecânica, mas sobretudo por restarem, no interior de tal edifício, vários tipos de espaços vazios que se prestam de forma adequada à instalação de toda sorte de pequenos compartimentos (elevadores, escadas em espiral, dispensas, toaletes etc.), o que não acontece em conjuntos regulares” (SITTE. 1992. P.97) . Outro ponto importante foi a busca de ruas arredores curvas e sinuosas, pois, como justificava Alberti, referência teórica de Sitte, “não apenas por suas vantagens funcionais, ou pela ilusão quanto à grandeza da cidade que rua com larguras variáveis pode oferecer, mas sobretudo porque os transeuntes deveriam descobrir, a cada passo, novos edifícios”(SITTE. 1992. P.227). A determinação específica deste espaço dependia também de outras questões apresentadas pela cidade escolhida. A iniciativa pública de requalificação do centro de Santos determina limitações de intervenção nesta área que se apresenta consolidada. O mapa a seguir apresenta as restrições impostas a essas intervenções na área selecionada para o projeto:

51


Figura 16 - Zoneamento de Ocupação do Centro Histórico (Fonte: http://www.portal. santos.sp.gov.br/alegra/abrange.htm) Figura 17 - Detalhe do quarteirão de intervenção: fechamento parcial da Rua Conde D’Eu, delimitação do terreno escolhido e do local de implantação do estacionamento (Fonte: http://www.portal.santos.sp.gov.br/ alegra/abrange.htm; edição própria)

52


Nas áreas em vermelho não poderia, como já dito, ser realizada nenhuma intervenção. As alaranjadas seriam de preservação de fachada, enquanto as amarelas permitiriam maior liberdade de atuação. O terreno selecionado se compõe de áreas de preservação de fachada ou maior liberdade de atuação. A proposição de demolição do edifício que ocupa a maior área do projeto se deu pela falta de integração entre esta construção e o entorno histórico (diretamente em frente ao museu do café, na rua Frei Gaspar), de forma a não proporcionar um espaço interno interessante ou que ressaltasse qualidades de qualquer um dos edifícios. A segunda maior parte do projeto é constituída por uma edificação de preservação de fachada, adicionando o desafio de integrar esta questão ao desenvolvimento projetual. O restante da área projetual é constituída por garagens de fundo de lote de algumas edificações. Além de adicionar espaço ao terreno, a escolha de utilizar áreas de garagens privadas tem duas motivações adicionais: a)propõe-se a construção de um estacionamento único – conectado ao projeto principal por passagem subterrânea –, que possibilite a utilização de edifícios vandalizados pela transformação em estacionamentos irregulares por usos que valorizem e requalifiquem tais espaços; b)a rua Conde D’Eu, devido a presença destas garagens que tratam esta como fundo de lote, tornou-se um espaço vandalizado, sem cuidado ou interesse.

53


Figura 18 - Edifício pré-existente que fará parte do projeto (Fonte: Acervo próprio)

Figura 19 - Garagem desapropriada para construção do projeto (Fonte: Acervo próprio)

Figura 20 - Edifício que será demolido (Fonte: Acervo próprio)

Figura 21 - Área onde se instalará o estacionamento (Fonte: Acervo próprio)

54


Programa Visando estudar principalmente a interação entre o edifício e o entorno, o projeto teve início na escolha do terreno. Após escolha da cidade e da área de implantação, diretrizes da própria cidade de santos – visando a requalificação do centro histórico e incentivo ao turismo – auxiliaram na escolha do programa. O projeto “Alegra Centro” contempla com isenções fiscais, dentre outras atividades, instituições culturais e educacionais e comércio, além do incentivo a atividades de apoio ao turismo, como restaurantes. Após o início das intervenções no centro antigo, foi possível notar também a aparição de espaços com foco em atividades noturnas: casas noturnas foram implantadas inclusive em prédios históricos. Para a escolha do programa do edifício foi, então, levado em consideração uma atividade que se relacionasse de forma a complementar a intenção de criar o projeto em cima de caminhares e passagens que fossem também áreas onde diversos eventos ocorressem. A ideia inicial de projetar um mercado se tornou inviável na medida em que o espaço, bem como os espaços para intensa carga e descarga eram incompatíveis com o terreno. No entanto, pequenas lojas que demandassem de pequeno espaço para estoque ou necessidades específicas dos produtos poderiam ser viáveis. A possibilidade de complementação de um espaço de lojas com um bar ou restaurante se mostrou interessante, e a in55


tenção de construir um espaço gastronômico, de lojas especializadas, escola de gastronomia e restaurante integrado tornou-se a possibilidade que integrou todas as ideias pretendidas. Diretrizes e referências específicas para a construção das áreas da escola de gastronomia serão retiradas da tese de doutorado de Renata Zambon Monteiro, “Escolas para cursos de gastronomia: espaços, técnicas e experiências”, de 2009, que se dedica a estudar normas, necessidades e escolhas no projeto de uma escola de gastronomia.

56


Projeto O desenvolvimento projetual, depois de escolhido o terreno, se estruturou em dois pilares principais: os caminhos e os materiais vítreos. Os caminhos exploram as formas tortuosas do terreno, de forma a não serem apenas elos entre espaços principais, mas que os próprios fossem estes espaços onde atividades programáticas pudessem se desenvolver simultaneamente às intervenções de cunho sensorial. Os principais artifícios de exploração sensorial trabalhados pretendem instigar visualmente o usuário. Os jogos provocados pela manipulação dos efeitos de refração, reflexão ou difusão da luz nas superfícies vítreas serão primordiais para as ativações pretendidas. Essas superfícies vítreas serão também responsáveis pela ligação visual entre o interno e o externo. A reflexão do exterior nas fachadas vítreas pretende ao mesmo tempo exaltar as construções arredores, bem como toda a modernidade e atualidade que o uso deste material acrescenta ao projeto, e a possibilidade de ver frações da cidade através da pele de vidro complementa a apreensão do edifício como parte que se integra ao espaço. O edifício é composto por uma construção de dois andares já existente, dois blocos de três andares e um bloco maior de seis andares que são conectados por uma área envolvida por uma pele de vidro. Atividades que necessitassem de maior isolamento foram localizadas nos blocos, enquanto a área da pele de vidro foi dedicada ao que pudesse participar das experiências 57


dos caminhos.

Figura 22 - Esquema de ocupação

58


Os pilares na área dos caminhos foram dimensionados em formato retangular, como paredes que foram dispostas de forma a enquadrar ou bloquear a visão em momentos do caminhar, criando diferentes pontos de vista em cada espaço.

Figura 23 - Esquema dos pilares na região central

59


O subsolo, responsável por conectar o estacionamento ao edifício, propõe caminhos tortuosos, com variações de larguras e iluminação difusa. Fragmentos do térreo podem ser observados por rasgos de vidro no teto. A conexão com o térreo é feita por escadas e elevador localizados no bloco pré-existente e na extremidade leste da pele de vidro. Acesso ao estacionamento

Figura 24 - Planta Subsolo (Escala 1:500)

60 entrada


Figura 25 - Perspectiva da escada oeste, subsolo

61


No térreo, espaço diretamente ligado ao acesso público, encontra-se o restaurante e parte da escola de gastronomia. No edifício pré-existente, isolado do fluxo contínuo de pessoas e na área sul do projeto (indicação normativa), foram dispostas as atividades institucionais: salas de aula, recepção, diretoria e administração, conectados ao andar superior por escada e elevador. A cozinha do restaurante, bem como banheiro, escada de incêndio e elevadores foram locados no bloco de 6 andares. Os outros dois blocos, com diferentes níveis, são reservados para mesas do restaurante, que também se localizam no decorrer do caminho central. Também é possível ver fragmentos do patamar superior por rasgos de vidro no teto, e a diferença de forma deste andar ocasiona diferenças de pé direito e de incisão da iluminação natural vinda do teto.

Figura 26 - Perspectiva da área oeste, térreo

62


entrada

entrada

acessos

caminh

Figura 27- Planta TĂŠrreo (Escala 1:500)

63


O primeiro andar se reserva para lojas de comercio específico relacionadas à gastronomia. O espaço pode comportar desde casas de vinho ou casas de cupcake a lojas de eletrodomésticos. As lojas dispostas nos três blocos são espaços maiores, com possibilidade de estoque, enquanto nos caminhos são localizados pequenos estandes para espaços que vendam produtos que não demandem de área para estocagem. Pilares, rasgos no chão que permitem ver o térreo, assim como o formato irregular do piso, permitindo visualizar os outros andares se apresentam como artifícios para diferentes cenários no mesmo patamar. Desconectado e isolado da área de lojas, o primeiro andar do edifício pré-existente abriga mais salas de aula, sala dos professores e vestiário para a escola, além de uma escada conectada ao terceiro andar.

Figura 28- Planta Primeito Andar (Escala 1:500)

64


O segundo andar, mais distante do fluxo público mais intenso no térreo, é dedicado a atividades institucionais. O bloco noroeste se dedica à biblioteca, enquanto os outros dois a salas de aula. A área central de caminho conta com mesas de estudo e se conecta ao bloco pré-existente, onde se encontra um terraço que possibilita a vista da área portuária.

acessos

áreas externas / futuro tratamento com vegetação áreas de andares inferiores/ áreas do terreno

Figura 29-caminhos/eventos Planta Segundo Andar (Escala 1:500) ao andar não competentes

65


Figura 30 - Vista do terraço para o porto

Os outros três andares são encontrados apenas no bloco nordeste, com a finalidade de completar as necessidades institucionais, onde se encontram salas de aula e auditório.

Figura 31- Planta Terceiro Andar (Escala 1:500)

66

Figura 32- Planta Quarto Andar (Escala 1:500)

Figura 33- Planta Quinto Andar (Escala 1:500)


1

Figura 34- Corte AA (Escala 1:500)

5

6(tĂŠrreo)

Figura 36- Corte CC (Escala 1:500)

Figura 35- Corte BB (Escala 1:500)

67


6(térreo) 3 6

4

2

1

2

1

Figura 37 - Perspectiva da Fachada Leste, Térreo

1

5 2 Figuras 28, 29 e 40 - Vistas do Edifício pela Cidade

1

68 6(térreo) 3 6


A pele de vidro que envolve toda a área de caminhos ainda será fonte de estudo de forma a apresentar uma superfície complexa tanto formalmente, quanto em relação a materialidade. Os momentos em que esta será tortuosa e composta por materiais vítreos opacos, reflexivos, transparentes ou fotossensíveis deverão ser estudados e detalhados com propósito de obter conforto ambiental, bem como interesse visual.

Figura 41 - Possível disposição da película vítrea, intercalando vidros opacos e translúcidos a partir de caixilhos alinhados a posição dos pilares

69


Dois projetos já apresentados complementam a idealização da área em que o projeto se insere. O estacionamento, localizado no mesmo bloco de edifícios do projeto principal, num terreno de conservação de fachada, visa não só ser um apoio ao projeto, mas uma forma de requalificar o uso de edifícios nos arredores, degradados pela transformação em estacionamentos irregulares. O fechamento parcial da Rua Conde D’Eu é a segunda proposta complementar do projeto. O calçadão criado se conectará com o calçadão já existente na Rua XV de Novembro através do projeto principal, e promoverá requalificação das atividades da Rua, que agora terá tratamento mais adequado ao incentivo da utilização pelos pedestres.

70


Bibliografia SITTE, Camillo. A Construção das Cidades Segundo seus Princípios Artísticos. Tradução de Ricardo Ferreira Henrique, João Roberto Martins Filho e Carlos Roberto Monteiro de Andrade. São Paulo: Editora Ática S.A., 1992. GABARRA, Valéria. Luz na Arquitetura Contemporânea: a Interface entre Poética e Técnica (um Exemplo na Obra de Jean Nouvel). São Carlos: USP, 2000. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, 2000. CARDOSO, Jorge de Jesus. Patrimônio Ambiental, Urbano e Requalificação: Contradições no Planejamento do Núcleo Histórico de Santos. São Paulo: USP, 2007. Tese de Doutorado. Programa de Graduação em Geografia Humana. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. MONTEIRO, Renata Zambon. Escolas para Curso de Gastronomia: Espaços, Técnicas e Experiências. São Paulo: USP, 2009. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. ‘Marina Porto de Santos’: Vida Nova para o Centro Histórico. Diário Oficial de Santos. Santos. 16 fev. 2007. p. 8-9 http://www.vivasantos.com.br/ http://www.portal.santos.sp.gov.br/alegra/alegra.htm 71


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.