A MAIS BELA DE TODAS AS NOITES “Ó noite mais bela que o dia, ó noite mais luminosa que o sol, ó noite maio branca que a neve, mais brilhante que nossos luzeiros, mais doce que o Paraíso.”1
Esse poema, de um bispo do mar Negro, celebra a Festividade que, do Oriente ao Ocidente, canta a alegria pascal. Desde as primeiras gerações cristãs enquanto os judeus, pela imolação do Cordeiro pascal, comemoram a saída miraculosa do Egito, a Igreja festeja a ressurreição de Cristo. Como escrevia Paulo de Tarso:2 "Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade". Nós possuímos até hoje a descrição da celebração pascal no século III, contada pela Didascalia dos Doze Apóstolos:3 "Vós vos reunireis e não dormireis. Fareis a vigília a noite toda na oração e nas lágrimas. Lereis os profetas, os Evangelhos e os salmos. Isso até a terceira hora da noite que se segue ao sábado. Então, cessareis de jejuar, oferecereis o sacrifício, comereis e ficareis na alegria e no júbilo, porque Cristo, primícias de nossa ressurreição, ressuscitou."
Descrição essa que se mantém válida nos séculos IV e V, tanto na África como no Oriente! O Bispo de Hipona fala da festa pascal como de uma mobilização de toda a comunidade, ocasião em que até os indiferentes vêm excepcionalmente engrossar a assembléia. Nesse dia - mais exatamente, nessa noite -, os catecúmenos recebem o batismo. A preparação pascal 4 No século IV, na África, como no resto da Igreja, a festa de Páscoa não é mais preparada simplesmente por um dia de jejum, mas por uma longa quarentena, chamada Quaresma. Esse período de preparação constitui um grande acontecimento na comunidade. Os fiéis entram na quaresma como haviam entrado na religião. Era uma recolocação da fidelidade de modo consciente. Com a aproximação da grande quarentena, o Bispo sacode com insistência o torpor dos catecúmenos perpétuos, tentando fazê-los decidirem-se a dar enfim o passo definitivo: "A Páscoa aproxima-se, catecúmeno: inscreve-te para o batismo. Se a festa não basta para te atrair, mova-te para ouvir estas palavras: 'Batei, e a porta vos será aberta.’ Eu também estou batendo. Estou vos endereçando um apelo que soa em vossos ouvidos, estou batendo em vosso coração. Vós, fiéis, exortai-os pela pureza de vossos costumes."5
No caso do conde Ceciliano que imitava o exemplo de tantos outros altos funcionários, Agostinho6 não faz rodeios: "Se estais em condições de ouvir a verdade, deixai que vos diga de meu pesar por vos ver, em vossa idade, e honesto como sois, ainda na condição de catecúmeno. Como se os cristãos não fossem capazes de administrar o Estado, tanto mais, sendo eles cristãos.”
Durante esses quarenta dias, os candidatos ao batismo que se inscreveram recebem uma intensiva formação doutrinária, moral e litúrgica para se prepararem ao seu novo nascimento. Aqueles que haviam cometido um dos três grandes pecados - idolatria, assassínio ou adultério - submetiam-se à penitência pública, tendo em vista a reconciliação solene: Toda essa convergência transforma pouco a pouco a quaresma em um período de retiro e de intensa vida espiritual para a comunidade inteira. Em Hipona, o Bispo prega várias vezes por semana; em Antioquia, João Crisóstomo a faz todos os dias. É uma verdadeira estação de quaresma. Agostinho enche a catedral, como o fariam mais tarde Bourdaloue e Lacordaire. Toda a comunidade se faz presente, com os monges e monjas nas primeiras fileiras. Durante quarenta dias, os fiéis abstêm-se de ir às termas, o que constituía uma dura penitência nos anos em que o calor aparecia antecipadamente. Não se comia peixe nem carne, sobretudo esta. Vinho, então, nem falar! Todos os dias, à exceção do domingo, ficava-se em jejum até o pôr-do-sol.7 Por volta da nona hora, no fim da tarde, a ceia ou jantar era a primeira e única refeição do dia. Uma refeição frugal, composta de pão e sal, água e legumes. Durante a Semana Santa, o jejum era ainda mais rigoroso, salvo na Sexta-Feira Santa. O Bispo de Hipona8 aconselhava às pessoas casadas que passassem esse tempo em total continência: “Ao invés de vos abraçar, colocai-vos de joelhos: trocai vossos enlaces pela oração." Como revela Agostinho, os africanos abastados, na falta de carne e vinho, preparavam coquetéis das mais refinadas frutas e pratos magros, contudo saborosos, delicados e infinitamente variados: "Eles tem medo de se macular ao tocar as travessas onde se cozinhou carne. Eles não jejuam para se moderar, mas para satisfazer seu gosto de epicuristas."9 Núpcias e festins eram proibidos nesse período. Os imperadores chegaram até a suspender os espetáculos de teatro e circo, da mesma forma que os processos criminais, para permitir a todos a observância de quaresma.10
Oração, jejum e esmola caminham lado a lado, como obras quaresmais, associação que deita suas raízes no húmus bíblico.11 Em cada pregação, Agostinho retoma esse tema. Como de costume, acentua a questão da partilha: "A penitência voluntária deve servir ao sustento do indigente. Que a indigência voluntária do rico transforme-se na abundância necessária do pobre."12 O Bispo também associa à partilha o perdão das ofensas, outro cancro endêmico que grassa na comunidade africana. Os ódios são cruéis. Conta Agostinho13 que todo dia iam à igreja homens que se ajoelhavam e se prostravam, a testa na poeira e às vezes em lágrimas. E, nessa prostração, Agostinho os ouve dizer: "Vingai-me, Senhor, fazei perecer meu inimigo!”Ao que o Bispo replicava: "Sim, que ele faça perecer o inimigo, mas salve o irmão!". Apenas uma vez em sua vida aqueles que haviam cometido um dos três grandes pecados podiam receber o perdão, depois de uma quaresma de penitência. Estamos muito longe da confissão de que fala O Coronel Bramble, obra na qual o padre católico diz maquinalmente ao assassino: “Quantas vezes?" O rigor do tempo de Agostinho explica o atraso daqueles que não eram muito fervorosos a decidirem-se a receber o batismo. Esse temor não provinha de um aprofundamento, mas sim de um esfriamento da fé, a partir da paz constantiniana. Durante a quaresma, a atenção da comunidade concentrava-se sobre a preparação do batismo. Os catecúmenos, que anteriormente já haviam recebido o sal e o sinal da cruz sobre a testa, decididos que estavam a dar o passo definitivo, inscreviam-se entre os candidatos ao batismo da noite pascal, a data solene mas não única da administração desse sacramento. A partir daí, eram chamados competentes, "postulantes", no sentido literal do termo: “aqueles que pedem". Geralmente, os candidatos apresentavam-se acompanhados de um amigo ou parente já batizado. O bispo sondava as intenções e examinava as motivações.14 Na época da perseguição, era preciso alertar para os riscos da profissão de fé cristã. Mas os tempos haviam mudado: tornara-se de bom-tom dizer-se pertencente à Igreja e até cristão. Mais uma razão para olhar o candidato bem de perto. Alguns apresentavam-se para se valorizar aos olhos de seu senhor cristão, para garantir uma clientela ou para desposar uma cristã. Agostinho estava muito persuadido da necessidade do batismo para não considerar as menores centelhas, que podiam transformar a palha num enorme braseiro. Os mais sólidos tomavam sua decisão depois de um tempo de reflexão, nutrido com muita prece e leitura bíblica.15 Já então, tanto os fervorosos como os conformistas, homens e mulheres de todas idades e condições, reúnem-se para urna intensa preparação espiritual, para a qual os mais generosos devem impulsionar os menos motivados. Toda a comunidade cerca-os de fervor e calor fraternal. Os jejuns, as vigílias, as orações e os exorcismos predispõem os corações para a mudança de vida. Pausa nas idas às termas e abstenção para as pessoas casadas. Na Igreja, os catecúmenos ocupam um lugar especial, bem à vista de todos.16 Temos ainda um sermão de Agostinho17 que serviu de introdução espiritual e moral a essa última catequese no começo da quaresma: "Vede, companheiros de aprendizado, que beatitude encontrareis ao rejeitar os prazeres deste mundo. Orai para que o nosso ministério, que começa, faça nascer em vós a fé e vos permita renascer para a graça. Que nossa palavra vos traga a salvação e que vosso fervor seja consolo para nós”.18
Exercícios espirituais mantinham aceso o fervor dos candidatos. O primeiro deles, ligado a um exorcismo, era a renúncia ao demônio, “às suas pompas", fórmula até há pouco ainda utilizada na França e no Brasil. Tanto para os candidatos da África como para os de Roma, isso significava renunciar aos espetáculos do anfiteatro e do circo, onde o demônio recrutava aqueles que sucumbiam a seus artifícios venenosos. Em termos claros o candidato comprometia-se a nunca mais assistir a esses espetáculos, que atraíam as multidões africanas. O Bispo explicava o símbolo batismal que nós nos acostumamos a designar conforme sua primeira palavra: o Credo. Primitivamente, a palavra simbólica expressava um sinal de reconhecimento. Os antigos cortavam em dois um objeto, cujas duas metades, entregues aos interessados e depois passadas aos seus filhos, quando reunidas novamente, permitiam reconhecer os portadores e autenticar as relações de hospitalidade contraídas anteriormente. Da mesma forma, o Credo permitia reconhecer um cristão autêntico.19 Expondo as verdades da fé, o Bispo de Hipona insistia na necessidade de mudança de vida. O que, antes de mais nada, significava mudança de profissão para os comediantes, diretores de teatro (muito poucos dos quais procuravam a Igreja), os usuários, os proxenetas e as mulheres da vida. Passava-se um “pente fino" nos candidatos, por diversas vezes, na presença de toda a comunidade, durante uma reunião noturna. Os candidatos mantinham-se diante da comunidade, com as faces encovadas pelo jejum, usando vestes grosseiras. A falta de banhos era uma prova a mais para todos, pois pesava bastante sobre o ar da basílica. Durante a cerimônia de exorcismo, os candidatos ficavam descalços, sobre túnicas de pele, o que significava ao mesmo tempo que eles deviam a partir daquele momento pisotear as vestes da queda e se preparar para adquirir uma pele nova. Para uma vida nova, vestes novas.20 Santo Agostinho, que era friorento, durante muito tempo lembrou-se do frio que havia sentido, ele, um africano, naquela fria noite de primavera em que, com seu amigo Alípio, pediu o batismo, em Milão.21
Na véspera de Ramos, os candidatos passavam no exame do Credo. Um após o outro, postavam-se diante do Bispo para recitar de cor o símbolo batismal. Para as pessoas cultas, isso tornava-se quase uma prova infantil, de tão fácil que era. Mas os pescadores e as pessoas simples, que nunca haviam freqüentado a escola, tinham quase que soletrar as palavras de uma língua que não lhes era familiar. Intimidados por isso, suavam de pingar pelo chão. Que provação, aquele exame! Paternal, Agostinho22 tranqüilizava-os e encorajava: “Ficai em paz. Nós somos um pai para vós e não um mestre-escola. Podeis perfeitamente tropeçar em uma palavra, pois o importante é não hesitar em vossa fé." Terminado o exame, o catequista tirava resoluções: "Vós não ouvireis o Credo todos os dias na igreja, como ocorre com o Pater. Recitai-o todos dias, de manhã e à tarde. Recitai-o a vós mesmos - ou melhor, recitai-o a Deus. Gravai-o bem em vossa memória e tratai de repeti-lo sem cessar, para nunca mais o esquecer. Não digais: ‘Eu o recitei ontem ainda, hoje também, todos os dias. Eu o sei na ponta da língua'. Vós não vos vestis todos os dias? Pois, quando recitardes o Credo, estareis vestindo o vosso coração.”23
É quase como se fosse Agostinho ao estilo do "Pequeno Príncipe". Após o Credo, o Pater, o Pai-nosso. Ele era recitado em uma cerimônia solene e depois explicado aos catecúmenos, tanto no tempo de Agostinho como nos de Tertuliano e Cipriano. Assim como os seus colegas africanos, o Bispo de Hipona utilizava o tratado de Cipriano, que acabara se tornando normativo.24 Nos numerosos comentários sobre o Painosso que chegaram até nós, Agostinho25 insiste particularmente no perdão das ofensas, que assume um espaço desmedidamente maior que o dedicado aos outros pedidos. Esse era o grande tema para aquelas cabeças africanas, tão próximas do conflito, irascíveis, vingativas e tendentes à vingança. A última semana, chamada "semana Santa" ou “Grande Semana" reveste-se de uma gravidade particular. Os catecúmenos punham-se a contar os dias, que não mais se repetiriam até a noite do Sábado. A Quinta-Feira Santa já se apresenta iluminada por uma discreta alegria. O jejum é rompido. Os catecúmenos vão tomar um banho nas termas da cidade, o que prepara o corpo para a festa, mas também é uma precaução indispensável para entrar limpo na piscina batismal. Nesse dia, em certas igrejas, o bispo lava os pés de doze pessoas, pobres ou órfãos, em recordação do gesto de Jesus.26 Na costumeira hora da ceia, no fim da tarde, os fiéis apenas, sem os catecúmenos, reúnem-se na basílica, para celebrar a Última ceia. A Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo são dias particularmente importantes. Todos os fiéis observam estrito jejum, para associarem-se à preparação dos catecúmenos. Os próprios pagãos compreendem, pelo recolhimento dos cristãos, que algo de muito importante está ocorrendo. A comunidade reúne-se e canta o salmo 21, "meu Deus, meu Deus", a última liturgia do Cristo na cruz, indo do abandono até ao cântico pela reunião do novo povo de Deus. Basta lembrar a cantata Christ Lag in Todesbangen. Depois, lê-se a Paixão, geralmente segundo Mateus, que inspirou a Johann Sebastian Bach a sua obra musical. Sensível quase ao ponto da sensualidade para a música, Agostinho não teria recusado essa obra de gênio e de fé. Como a vigília se prolonga nesse dia, Agostinho a fica alimentando, de preferência comentando um salmo (o saltério é o seu livro de oração e invocação). Não há necessidade de ficar comentando a Paixão, que por si mesma é uma pregação: “Lê-se solenemente e solenemente honra-se a Paixão daquele cujo sangue apagou as nossas faltas. A cada ano, a liturgia reanima mais vivamente a nossa memória. A multidão reunida traz ainda maior brilho sobre a nossa fé.”27 O Sábado Santo é um dia sem liturgia e sem reunião matinal. Um dia de jejum completo, no qual os corações e espíritos se preparam em silêncio para a vigília, que irá ocupar toda a noite. A noite pascal Na antiguidade, o dia não começa à meia-noite, mas ao cair da tarde. O tempo não se conta de dia em dia, mas sim de noite em noite. Assim, a Páscoa cristã começa ao cair da noite, como ainda ocorre hoje entre os cristãos do Oriente, na Grécia, por exemplo. Para nossos espíritos calejados pelo costume e embotados pelo espetáculo, é difícil compreender o que podia significar a vigília pascal para uma comunidade africana. Somente os ortodoxos gregos e russos conservaram esse caráter ao mesmo tempo religioso e popular da festa: mobilização geral da multidão, falando à sua imaginação e a seu coração cujo folclore é apenas a cinza extinta de um imenso fogo de alegria, o inolvidável fogo de artifício da fé. "Noite nupcial da Igreja, que faz nascer os neobatizados e na qual velamos com os anjos. Noite pascal, por tudo um ano esperada.”28
Não se trata de uma missa de meia-noite ou da tarde, fixada para a comodidade do Público e Dos Pastores - sucedâneo tardio de comunidades degeneradas. Trata-se de uma noite inteira de vigília, consagrada à oração, à leitura, à espera,
como a Páscoa russa soube conservar. Dizia o grande Agostinho: "Mãe de todo as vigílias, durante esta noite o mundo inteiro se mantém acordado".29 Algo terá mudado e nós teremos reencontrado vigor da fé antiga, quando novamente soubermos fazer a Deus o dom de uma noite - noite que hoje passamos facilmente em uma cela ou, para os mais jovens, numa festa dançante. No crepúsculo desse sábado, quando a noite cai por toda parte, as lâmpadas se acendem e as casas se iluminam: começa a santa Páscoa. Noite de primavera, quando a terra desperta novamente, em meio a um odor quente e úmido. Hipona transformava-se num mar de luzes, como a cidade de Roma no encerramento de um concílio. Vitória da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte. Era preciso ser cego ou surdo para não se deixar tocar pela maré humana, pelo movimento daquela fé que mobiliza todo o povo cristão. Como isolar-se ou cair no sono quando todo o universo está desperto? "Que noite é essa, irmãos, da qual a verdade nos arranca? Ela nos arranca ao sono de nossos sentidos e de nosso corpo, para nos levar à vigília, em uma noite povoada de luz."30 Na basílica, são acesos os candelabros de ouro e prata, a nave da igreja cintila com o reflexo de todos os fogos, de dentro e de fora, uns iluminando, outros guiando as pessoas na noite. As portas estão abertas de par em par e as cortinas erguidas, para que a igreja possa receber a multidão que entra e sai. O silêncio da noite e a emoção da espera amortecem o ruído das vozes e os passos leves daquele mar humano que se congrega em assembléia. O batismo Os catecúmenos são os primeiros a chegar. Há uma cerimônia especial, organizada para eles, na qual todos, um de cada vez, diante do Bispo, recitam ("entregam", dizia a palavra latina) o símbolo batismal, de cor e em voz alta.31 Até mesmo a crianças de sete anos e abaixo dessa idade, "já capazes de mentir e dizer a verdade" estão integradas a esse rito. Para as pessoas emotivas ou ilustres, admitia-se uma "récita" em ambiente fechado. Quando o orador africano Mário Victorino, que combativamente havia defendido o paganismo contra o cristianismo “com uma voz que ressoava pelo universo”, converteu-se ao cristianismo em Roma, quiseram poupá-lo dessa obrigação, que poderia constrangê-lo. Mas aquele homem ilustre declinou da oferta: "Por 1ongo tempo eu defendi contra-verdades em público; hoje, eu quero confessar a verdade de público.”32 Já agora a massa, havia invadido toda a nave da igreja, onde crepitam as chamas. Dominando o zumbido daquela colméia em festa e o ruído das sandálias que se arrastam sobre o piso, as leituras se sucedem, entrecortadas pelos cânticos e salmos. Uma última, recapitulação de toda a catequese batismal para os catecúmenos. O relato da criação, tirado de Gênesis, abre a vigília, como profecia e semelhança da nova criação que se dá nas fontes batismais (1ª leitura). Para todos, a travessia do mar Vermelho traz à memória a libertação miraculosa que prefigura a do novo Israel (3ª leitura). O canto de vitória de Maria, irmã de Moisés, anuncia o Aleluia triunfal do Cordeiro como mostra o Apocalipse (salmo depois da 3ª leitura). Vem em seguida a história de Jonas, que pressagia a ressurreição, como, havia afirmado o próprio Cristo. E, por fim, o hino dos três Jovens hebreus miraculosamente poupados pelo fogo da fornalha.33 Profusão de leituras, que deixa embaraçado o Pregador. Não se poderia explicar todas, dizia Agostinho.34 E, no entanto, ele se obriga a falar, apesar de seu cansaço, acrescido pelo jejum de longas semanas. O Bispo está ao mesmo tempo esgotado e feliz. Não há noite pascal que não lhe lembre aquela noite em que, diante do bispo Ambrósio, em Milão, ele estava misturado entre os catecúmenos. Todos os olhares fixavam-se no Bispo. Os homens e mulheres usam suas roupas festivas; adornos e pedrarias lançam clarões de fogo fátuo na noite. Os catecúmenos esperam em meio a uma alegria nupcial. Agostinho35 quer concentrar a atenção e galvanizar os corações: “Com que grandioso mistério nos defronta a piedade! Fortalecida pela ressurreição de Cristo, nossa fé espantou todo sono. Esta noite, iluminada por nossas vigílias, também se encheu de claridade. E, com a Igreja estendida pela terra inteira, nós esperamos não ser surpreendidos pelas trevas. E agora, irmãos, escutai as poucas palavras que quero dizer sobre a vigília que nos reúne esta noite. Nós passamos em vigília a noite que o Senhor ressuscitou e em que, em nossa carne, ele começou a vida de que vos falava há pouco, uma vida que não conhece sono nem morte. Está claro que ele ressuscitou na noite que precedeu o alvorecer (em que as mulheres foram ao sepulcro). Ele adormeceu para que nós fizéssemos a vigília, ele que morreu para que nós vivêssemos. Em parte alguma se fala do círio pascal, atestado tanto em Jerusalém como na Espanha na época do Baixo-Império. O único sermão36 que fala do círio não é autêntico, mas mostra-nos que o uso acabou por se implantar na África. Mais interessante ainda é que o Exultet que canta o círio pascal por vezes tem sido atribuído a santo Agostinho.37 Na realidade, ele é mais tardio e de origem gaulesa. Já agora, o Bispo volta-se para os catecúmenos, que se transformam no centro da celebração. Nesse momento, dá-se a renúncia solene a Satã e a suas pompas, bem como a confissão de fé.38 Voltados para o Ocidente, o “país das trevas” os candidatos respondem às questões:
- Renuncias a Satã? - Sim, renuncio. - Renuncias às suas obras? - Sim, renuncio. - Renuncias às suas pompas? - sim, renuncio. Então, põe-se em movimento a procissão dos catecúmenos, deixando a basílica iluminada para reencontrar a noite, onde brilham as últimas estrelas. A procissão dirige-se para o batistério, um prédio à parte fora da igreja de Hipona, à direita da entrada. O canto do salmo 41, de que Agostinho39 fez um fascinante comentário traduz a expectativa: "Como a corça suspira pela águas da torrente assim minha alma suspira por ti, ó meu Deus!" O termo batistério designava inicialmente as termas particulares (ou piscina) das moradias ricas. A piscina era uma grande bacia octogonal protegida por um ciborium ou dossel, sustentado por duas colunas; algumas delas estão de pé até hoje. A África conservou-nos os mais belos batistérios da Antiguidade cristã, em Timgad e Djemila. Em Timgad, bastião donatista, a piscina batismal, de forma hexagonal, também era encimada por um dossel, sustentado por colunas. Descia-se ao batistério através de três degraus. A piscina era coberta de desenhos geométricos: ziguezagues nas paredes, quadrados interpostos no fundo. E crismas decoram os ângulos. Todo o salão é coberto de mosaicos: folhagens e flores estilizadas, que se desdobram em pequenos ramos, partindo de quatro vasos, que ocupam os quatro ângulos do batistério.40 (40) Já o batistério de Djemila é um prédio redondo, de tijolos, coberto com uma cúpula. Ele conservou toda a galeria circular, com nichos, que serviam de vestiário para os catecúmenos, que se apresentavam totalmente despidos na piscina. A galeria angular era iluminada por lâmpadas sustentadas por consoles. O catecúmeno descia em uma piscina quadrada, que tinha acima uma abóbada cuja viga monolítica era sustentada por quatro belas colunas caneladas e denteadas, com capitéis coríntios. No centro da face interna do dossel, pendia uma lâmpada, presa a um argola de pedra, talhada no mesmo bloco da viga. No fundo, nichos serviam de cadeiras para o bispo e seus assistentes. Vêem-se ainda os tubos que levavam água para a piscina.41 Amiúde, os mosaicos da piscina apresentavam desenhos de ondas em que nadam peixes estilizados, que lembram ao Bispo e aos catecúmenos o ensinamento do grande Tertuliano, retomado por Agostinho: “Nós, pequenos peixes, assim chamados pelo nome do nosso (peixe: IXTUS) Jesus Cristo, nascemos na água e só podemos conservar nossa vida permanecendo nessa água”.42 Ali, se opera o batismo, de imersão, vindo do Oriente, o mesmo que João Batista praticava às margens do Jordão e que o próprio Cristo havia consagrado, querendo recebê-lo antes de confiá-lo a seus apóstolos. A piscina está cheia de água corrente, que rumoreja e se move em ondas. A água cai em cascatas de um conduto ainda visível em Cuicul, correndo ao longo da corniza em mármore, abaixo das colunas do dossel. Em Roma, ela sai da goela de sete cervos de prata, no batistério de Latrão. A água da piscina era esquentada, como no caldarium (banho de água quente) das termas, porque a noite era fresca naquele mês de abril. Uma prece consagratória transmitia à água o poder de santificação.43 Os catecúmenos se despem, as mulheres de um lado, os homens do outro, deixando suas vestes nos nichos. As mulheres soltam os cabelos, tiram brincos e anéis. Todos entram completamente nus no seio maternal da Igreja, tal como haviam saído do seio de suas mães. Uma nudez que não surpreende aquelas pessoas, que freqüentam as termas públicas e dormem despidos sob as cobertas, à noite. Primeiro as crianças, depois os homens, em seguida as mulheres, descendo um a um, em meio ao roçar das cortinas, até a piscina, onde chegavam comumente descendo três degraus, para entrar na água corrente até a metade do corpo. A piscina era construída de modo a obrigar o catecúmeno a descer pelo lado oeste e sair pelo leste.44 O Bispo fazia a cada um as três perguntas rituais:45 Crês no Pai? Crês no Filho? Crês no Espírito Santo?" A resposta vem clara e decidida: 'Sim, creio!” A cada resposta, o batizado recebe um jato dágua ou o próprio batizador derrama água sobre ele, dizendo: "Eu te batizo." Para os homens o Bispo é assistido por clérigos e padrinhos; para as mulheres, por diaconisas ou mulheres de idade madura. O batizado então atravessa a piscina, para simbolizar que ele também faz a travessia milagrosa. Às vezes, encontramos o Jordão personificado nesses batistérios, desenhado em suas paredes.46 Os antigos, ao saírem do banho, tinham o hábito de esfregar óleo no corpo trânsido para protegê-lo e ativar a circulação sanguínea. Esse costume transformou-se em rito no batismo. Talvez em uma sala contígua encontrada nas escavações, os neobatizados apresentam-se ao Bispo, que lhes faz unção sobre a cabeça com o óleo perfumado “da alegria", o santo crisma, que os torna membros do povo real e sacerdotal.47 Os renascidos do batismo recebem, então, uma veste branca48, tecida com uma matéria vegetal, estão "vestidos de linho e pureza”. Essas vestes simbolizam a transparência da alma e a incorruptibilidade do corpo, em uma integridade paradisíaca.. São calçados com sandálias de feltro, para evitar tocar no solo durante toda uma semana. Trata-se de uma preocupação um tanto supersticiosa, com a qual Agostinho49 se diverte, em uma carta a Januário: "Eles não tocam o solo, mas bebem até à embriaguez." A imposição da mão e o sinal da cruz sobre a fronte do batizado, de origem apostólica, passam a marcá-lo, então, com o nome de seu novo mestre, de
seu Imperador, Jesus Cristo: 'Ele impõe-lhe a mãos, chamando sobre ele o Espírito.” Essa confirmação sela e conclui a iniciação batismal.50. A partir daí, os batizados passam a chamar-se "neófitos", os recém-nascidos da mãe Igreja.51 Um traço róseo já começa a desenhar a aurora no horizonte quando a procissão vestida de branco, sem jóias nem colares, os cabelos soltos sobre a túnica imaculada "penetra na basílica iluminada, com uma leveza de elfos. Um tremor percorre a assembléia. Cada família procura com o olhar o parente, o próximo ou o amigo no cortejo que se aproxima. Os neófitos atravessam rapidamente o corredor central, vão para o altar e formam uma coroa branca, no interior das balaustras. E o batismo acaba em festim - pela Eucaristia. Pela primeira vez, os neobatizados podem participar da Eucaristia, comungando do corpo e do sangue de Cristo. Nesse dia - e somente nesse dia - os neocomungantes recebem uma bebida festiva, leite misturado com mel, que deve evocar a Terra Prometida, onde jorram leite e mel, e que se abre diante deles.52 No momento em que a aurora se ergue sobre o dia de Páscoa, esgotados mas realizados, os batizados e fiéis voltam para casa. A maior parte retorna para moradias humildes, para além das vilas próximas da basílica. Mas, nesse dia, mesmo o casebre mais enfumaçado está semeado de estrelas. Páscoa a cada dia Na manhã de Páscoa, depois de descansar, o Bispo encontra toda a comunidade na catedral, muito pequena para acolher a multidão que acorre, de perto e de longe, da cidade e do campo. Então, dá livre curso à sua alegria:53 "Aleluia é o cântico novo. O homem novo canta o cântico novo. Nós o cantamos, vós o cantais e vós também, filhos que acabastes de ser renovados por ele. E nós o cantamos convosco porque fomos resgatados pelo mesmo preço. Tenho diante de mim filhos e irmãos, porque a Igreja, nossa mãe, deu-nos todos à luz pelo Evangelho. Vivei retamente, filhos bem-amados, para tirardes grande proveito do sacramento recebido. Endireitai vossas vidas, reformai vossos costumes, desenvolvei vossas virtudes. Fazei florescer a piedade, a santidade, a castidade, a humildade, a sobriedade. Amai o Senhor que vos ama, sede fiéis a essa mãe que vos gerou.”
No dia de Páscoa e durante a semana “festiva", os neófitos com suas vestes brancas, vêm todos os dias à celebração eucarística. O Bispo lhes ministra uma espécie de catecismo de perseverança, explicando-lhes em particular o significado dos ritos eucarísticos: “Este pão vos conta a vossa própria história. Ele cresceu como trigo em nossos campos. Foi a terra que o fez nascer e a chuva que o nutriu, fazendo-o erguer-se como espiga. Depois, o trabalho do homem o colheu, o aerou, o bateu, o enfeixou e levou ao moinho. Depois de moído, amassado e assado no forno, finalmente foi transformado em pão. Lembrai-vos de que essa é a vossa própria história. Vós não existíeis, mas fostes criados, levados à eira do Senhor e batidos pelo trabalho dos bois - quero dizer, os pregadores do Evangelho. Durante a espera do vosso catecumenato, éreis como grãos de trigo recolhidos no celeiro. Vós vos inscrevestes para o batismo. Então, fostes submetidos à mó do jejum e dos exorcismos. Vós viestes à fonte batismal. Aí fostes amassados até, vos tornar uma só massa. Então, fostes assados no fogo do Espírito Santo e vos tornastes verdadeiramente pão de Deus.”54
Num outro ano, Agostinho55 utiliza a imagem do vinho, o que se explica numa região de vinhedos, onde a assistência muitas vezes viu o processo de fabricação do vinho: “Vós sabeis, meus irmãos, como se faz o vinho. Os bagos de uva pendem numerosos nos cachos. Neles, Cristo nosso Senhor nos fornece a imagem daquilo que somos. Ele quer que permaneçamos unidos. O sacramento consagrado na mesa exprime nossa paz e nossa unidade.”
Durante toda a oitava pascal, os neófitos usam as vestes de linho branco, indo todos os dias à basílica para reforçar sua formação e consolidar sua fé. No curso dessa semana, lêem-se as aparições do Ressuscitado a Maria de Magdala, aos discípulos de Emaús e aos pescadores do lago de Tiberíades. No domingo, lê-se Mateus; segunda-feira, Marcos; terça e quarta-feiras, Lucas; a partir de quinta-feira, João.56 O Bispo prega todo dia mostrando-se inesgotável nessas páginas do Evangelho, lidas e relidas, amiúde marcadas por uma lágrima. Todas as tardes, sem dúvida, o Bispo reúne novamente os recém nascidos na fé. Senta-se no meio deles, não como um mestre, mas como um pai. Cada qual pode livremente colocar-lhe as questões e apresentar objeções. O bispo ouve, responde, exorta, lê e comenta uma página do Evangelho.57 Os sermões sobre a primeira epístola de são João foram pronunciados nessa ocasião.58 O oitavo domingo da Páscoa chama-se in albis, isto é, o dia em que os neófitos tiram suas vestes brancas. É o sinal para a retomada da vida cotidiana. Parece que o dia pascal desembocava no dia da eternidade. Não é ele o oitavo dia, ao cabo da semana sabática, sendo portanto sinônimo de acabamento e plenitude? Mas não bem isso. Mais exatamente, todo cristão leva a eternidade no coração e a vida na esperança do cotidiano. No dia seguinte, a vida cotidiana retomaria os seus direitos e o neófito retornaria ao seu trabalho. Os tribunais voltariam a funcionar, o que faz com que o Bispo observe: “Que isso não constitua uma razão para trapacear”.59 Nessa oitava pascal, o coração do pastor aperta-se um pouco, pensando que aqueles homens, mulheres e jovens, renovados pelo banho d'água e pelo Espírito, vão reencontrar
a vida cotidiana de antes, com suas contrariedades e seus conflitos, com seus perigos e seus companheiros. Dos tantos que ele havia batizado há um, cinco ou dez anos, muitos engrossaram as fileiras dos medíocres e dos tíbios e alguns até chegaram a se afastar definitivamente. "Vós ireis reentrar na multidão, reunindo-vos ao povo cristão. Ah, cuidai-vos de imitar os maus cristãos ou, antes, os falsos cristãos, aqueles que são fiéis pela fé que professam e infiéis pela vida que levam”.60
E, uma última vez, o Bispo exorta e adverte:61 “Neste oitavo dia, visai àquilo que permanece, àquilo que é definitivo. Não imiteis aqueles que ficam dando voltas, sobre si mesmos, tomados pelo turbilhão das vaidades, sem ver os verdadeiros valores. Ponde-vos a caminho, na direção daquilo que dura! Sabei escolher vossos modelos. Não digais: ‘Fulano age assim ou assado e é um cristão.' Não digais: 'Este bom paroquiano bebe, mantém uma amante embora seja casado e se enriquece à força de falsos juramentos. É um usurário, corre para a cartomante à menor dor de cabeça e utiliza tiras mágicas para escapar à morte.'”
Num outro ano o Bispo renova o tema de sua exortação: "Respirai à altura de vossa dignidade, meus bem-amados. Vós vos chamais 'fiéis', então vivei a fidelidade. Não vos mistureis à promiscuidade da multidão dos maus cristãos. Escutai o que vos digo: sede grãos e não palha. Olhai para os bons e tratai de seguir o seu exemplo. Quem se parece, se junta."62
E o Bispo apresenta os exemplos cotidianos que eles podem ver, se souberem observar, e que ele lhes pede que imitem: "Crede-me, vós podeis encontrar bons cristãos: bons maridos, fiéis às suas esposas, e boas mães de família, que respeitam a fé prometida. Buscai, e encontrareis. Sede assim vós mesmos, e vos tornareis exemplos também.”63
De outra feita, sem dificuldade de encontrar um novo tema, o Bispo de Hipona64 recomenda aos neófitos que levem o aleluia pascal em seu caminho: “Aleluia” significa “louvai o Senhor". Louvemos o Senhor, irmãos, pela vida e pelos lábios, pelo coração e a boca, pela voz e a conduta. Deus quer que digamos “Aleluia” sem que haja desacordo com seu significado. Coloquemos em uníssono nossa vida e nossos lábios, nossa voz e nossa conduta. Eu o repito, com receio de que o nosso belo canto esteja em contradição com nossa conduta. Cantemos agora “Aleluia” com solicitude, para que um dia possamos cantá-la em toda a quietude. Cantemos "Aleluia" em meio aos perigos e às tentações, nós e os outros. Aqui na terra o cantor deve morrer, mas lá no alto viverá para sempre. Aqui, ele canta a esperança; lá, a posse. Aqui, é o "Aleluia" do caminho; lá, o "Aleluia" da pátria. Canta como canta o viajante, que canta mas caminha. Canta para sustentar teu esforço, não cultiva a preguiça. Canta e caminha. O que quer dizer "caminhar"? Quer dizer “fazer progresso, progresso no bem. Progredir na retidão da fé e em pureza de vida. Portanto, canta e caminha.”
O Bispo de Hipona não chegou a citar a frase de Clemente de Alexandria: "A vida inteira é um longo dia de festa.”65 Mas encontrou outras palavras para expressá-la: “O cristão canta a Deus menos pelas palavras que pelo coração. E o canto só é verdadeiro à medida que expressa a emoção interior."66 Incontáveis vezes Agostinho ouvira o canto da rua, o canto do trabalhador, como também as cantigas de roda que acompanham as brincadeiras das crianças na praça.67 Ele sabe que o apaixonado canta porque tem o coração em festa.68 Mas, por seu turno, os cantos cristãos, os salmos, também descem às ruas. Jerônimo ouve salmos por toda parte: o trabalhador empurrando o arado, o vinhateiro podando as parreiras, o pastor no meio do seu rebanho, todos cantando um salmo ou entoando o "Aleluia". Esse canto, ritmando a caminhada, o trabalho e a vida, não será como uma antecipação da eternidade bem-aventurada?69 "Os homens que cantam ao acaso, na colheita, na vindima, no trabalho que os absorve totalmente, começam por expressar sua alegria através das palavras de suas canções. Depois, repletos de tal alegria, as palavras apagam-se, inadequadas; eles então deixam as sílabas de lado e entoam vocalizações para produzir seu júbilo."
A caravana dos batizados, iluminados na noite de Páscoa, passa a viver, agora no cotidiano a festa de Deus, com todas as suas alternâncias de sombra e de luz. Com olhos fixos no levante, formam uma procissão que avança para adiante, certa de que, para além da noite, aparecerá diante de seus olhos a estrela da manhã. HAMMAN, A. Santo Agostinho e seu tempo. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. p. 193-207. 1
Astério de Amaséia, na Ásia Menor, 19ª homilia, Ps., 5; PG 40, 436, (cf. Orações dos Primeiros cristãos, Ed. Paulinas, 1985, p. 160). 2 ICor 5,7. 3 XXI,19ª, Ed. Nau, pp. 174-175.
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Pode-se encontrar a coletânea das informações litúrgicas fornecidas por Agostinho sobre a África em Roetzer, W., Des Hl. Augustinus Schriften als Liturgiegeschichtliche Quelle, Munique, 1930. 5 Sermo, 132,1-2; PL 38,734-736. 6 Ep., 151.1.4; PL 33,646.647. 7 In Jo. XVII, 4; PL 35,1529. 8 Sermo, 205,2; cf. também Sermones 205, 207, 208, 209 e 210. 9 Sermo, 210,10; PL 38,1052. 10 Cod. Theod., lX, 35,4-5. 11 Pode-se ver a Didaqué 8 e o nosso comentário La Priêre, Lês Trois Premiers SiècIes, Vol. II, pp. 14,15. 12 Sermo, 210,12; PL 38,1053. 13 Sermo, 211,6; PIL 38,1056. 14 De Cat. Rudibus, 5, 9,5; 13,19; PL 40,316. (Cf. A Instrução dos catecúmenos, Vozes, 3! ed. 1984). 15 Idem, 5,9. 16 Foi para o diácono Deogratias, encarregado da catequese em Cartago, mas um pouco despreparado para a tarefa, que Agostinho, escreveu o seu tratado De Catechizandis Rudibus, uma espécie de manual do catequista. 17 Sermo, 216; PL 38,1076-1084. 18 Idem, § 1 e 2; PL 38,1076.1077. 19 Sobre essa questão, cf. J. de Ghellinck, Les Recherches sur les Origines du Symbole des Apótres, Bruxelas-Paris, 1946, cap. "Patristique et Moyen Age". 20 Conf., IX, 6; De Civ. Dei, XV, 20,4; PL 32,769 e 41,465. 21 Conf., IX. 6. 22 Sermo Guelf., 1,11; PLS 11, 543. 23 Sermo, 58,13; PL 38,399. 24 Ep., 21,2; PL 33,88. 25 Pode-se ver a nossa coletânea Le Pater Explique par les, Pêres, Paris, 1962, nova edição, pp. 124-170. 26 Ep., 55,18.33; PL 33,220. 27 Sermo, 218,1; Guelf., 2 e 3; PL 38,1084; PLS 11, 543.545. 28 Astério de Amaséia, 19ª homilia; PG 40,436. (Cf. Orações dos primeiros cristãos, Ed. Paulinas, 1985, p. 160). 29 Sermo, 219,1; PL 38,1088. 30 Sermo Wilmart, add. 17; PLS 11, 741. 31 Cf. Rufino, Camm. in Symbolo Apostol., 3. 32 Conf., VIII, 2; PL 32,751. 33 Hino frequentemente utilizado pelos donatistas. 34 Sermo Denis, 2,1; PL 46,821. 35 Sermo Guelf., 3.1.4; PLS 11, 550. 36 Sermo Denis, 1; PL 46,817-821. O editor do Século XVIII já havia reconhecido a sua falta de autenticidade. 37 Sem dúvida por causa dos versos compostos em homenagem ao cirio pascal: De Civ. Dei, XV, 22; PL 41.467. 38 Resumido em A. Sterutel, Die Taufe, Innssbruck, 1958, pp. 177-184. 39 In Ps., 41; PL 36,464. 40 Ch. Courtois, Timgad, Alger, 1951. pp. 74-75. 41 Cf. A. Grégoire, Byzantion, 13, 1938, pp. 589.593. 42 De Baptismo, 1. 43 Sermo, 213,8; PL 38,1064. Sobre essa consagração e seu signíficado teológico, cf. Baptéme et Confirmation, Paris, 1969, pp. 84, 95 e 204. 44 É preciso ter presente no espírito, o espaço ocupado pelo êxodo na catequese batismal: cf. Notre Baptême.... pp. 90-93. 45 De Peccatorum Meritis et Remissione, 1, 34,63; PL 44,446. 46 Cf. H. Leclercq, artigo: "Jourdain", in DACL IV, 2706-2707. 47 Sermo, 324; PL 38,1447. 48 Sermo. 223,1; PL 38,1092. 49 Ep., 55,19.35; PL 33,221. Cf. também De Consensu Evangelistarum, 2,30.75; PL 34,1114, e Döl, F., Antike und Christentum, Vol. V, 1936, pp. 113-115. 50 Sermo, 324; PL 38,1447. 51 O tema da Igreja, virgem e mãe, retorna com freqüência na pregação de Agostinho, Sermones, 223,1; 228,1; PL 38,1092.1101. 52 Breviarium Hippon., 23; Reg. Eccl. Excerpt., 37; Conc. Carth. III, can. 24, Ed. Munier, pp. 40, 184. 53 Sermo Mai, 92; PLS 11, 482. 54 Sermo Denis, 6,1; PL 46,835. 55 Sermo, 272; PL 38,1248. 56 Sermo, 232,1: PL 38.1108. 57 De Divinatione Daemonum, 1,1; PL 40,581. 58 Cf. A. M. Ia Bonnardière, Recherches de Chronologie Augustinienne, Paris, 1965. (Os Comentários à Primeira de S. João, achamse traduzidos em português, nas Ed. Paulinas, no prelo). 59 Sermo, 259,6; PL 38,1201.
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Sermo, 260; PL 38,1202. Sermo Guelf., 18,2; PLS 11, 586. 62 Idem, ibidem. 63 Idem; PLS II, 587. 64 Sermo, 286,1; PL 38,1190. 65 Stromates, VII, 47,3: é um tema freqüente da filosofia grega, de Aristóteles a Platão. 66 Sermo, 33,1; PL 38,207 67 Conf., VIII, 12,29; PL 32,762. 68 Sermones, 33,1; 336,1; In Ps, 203,147,2. 69 In Ps., 32,8; PIL 36,283. É o tema mais caro a Agostinho, retomando incessantemente, como, por exemplo: In Ps., 46,7; In Ps., 94,3; 97,3-4; In Ps., 99,4-5; In Ps., 102,8. 61