Arquitetura de Transição
o Caso Síria-Líbano
Marcelo Haissam Shimizu BaydounTrabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista, sob orientação dos professores Me. Daniel Corsi da Silva, Me. Angelo Cecco, Dr. Edison Batista Ribeiro, Me. Apoena Amaral e Almeida e Dr. Célio Martins da Matta
São Paulo, Maio de 2022
“...um campo de refugiados é toda uma cidade em si. Uma cidade temporária, em teoria. Uma cidade efêmera, cujos habitantes vão sendo colocados ali como peças de um quebra-cabeça. Uma cidade em estado de espera, aguardando uma arquitetura que parece ignorar a sua incontestável existência.”
Ana Asencio, 2013
Local de intervenção na última fase do projeto Autoria: Marcelo Baydoun
SUMÁRIO
0. introdução
1. situações de emergência e de calamidade pública
2. síria e líbano
3. arquitetura emergencial
3.1 o que é e o que pode fazer em cenários críticos 3.2 tipos e casos 3.3 questões tecnológicas 3.4 transição
4. arquitetura islâmica
5. espaço indefinido/ o vazio
5.1 relação do ser com o vazio e percepções culturais 5.2 projetos de referência
6. ação arquitetônica
6.1 informações gerais 6.2 tecnologia
6.2.1 módulo emergencial 6.2.2 módulo permanente 6.3 implantação faseada 6.4 experimentações
7. referências bibliograficas
7 13 37 71 81 98 104 111 123 130 151 168 226 230 250 263
Assentamento informal de refugiados sírios em Bar Elias, no Líbano.
Fonte: Bilal Hussein.
INTRODUÇÃO
O trabalho final de graduação de arquitetura é um momento propício para o aluno explorar e aprofundar sua experiência em assuntos que lhe despertam o interesse, lhe causam questionamentos e inquietações. Ter a chance de poder fazer dessa última fase do curso a oportunidade de discutir e desenvolver hipóteses para temas diversos, agregando conhecimento e novas reflexões aos trabalhos que já estão sendo produzidos. Este trabalho provém de percepções feitas a partir de visitas a familiares e momentos passados com parentes em suas residências localizadas próximas da área foco deste estudo no Líbano, país localizado na Ásia Ocidental, além de uma série de questionamentos sobre os quais o trabalho tratará a respeito dos refugiados sírios e das condições em que vivem ali na busca pela sobrevivência após anos visualizando o agravamento da situação e o exercício de projetos na região que impactaram de forma positiva, mas não abrangente, deixando grande parte das famílias afetadas sem a assistência necessária.
Desta forma, o seguinte estudo busca desenvolver uma reflexão acerca do grande número de famílias refugiadas de descendência síria que migraram ao Líbano durante os anos de conflitos da Guerra Civil Síria e como a arquitetura pode trabalhar na realização de ações que auxiliem na melhora da situação em que as mesmas se encontram, tendo ela não como uma solução para o problema, mas sim
como uma importante operação de um conjunto maior elaborado pela união de agentes, como governos de países atingidos pelos desastres, nações que oferecem auxílio e diversas organizações de ajuda humanitária, ficando assim responsáveis por milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. Isto acaba levando a mudanças na sociedade daquele lugar, na diluição das barreiras intangíveis entre a população local e seus novos vizinhos, trabalhando a relação entre eles.
Assim, para o desenvolvimento desta investigação foram realizadas, no primeiro momento, buscas aprofundadas a respeito dos fatores sociais, como informações sobre as condições de vida dos refugiados, da crise migratória e seus antecedentes para um entendimento melhor dos fatos ocorridos nas últimas décadas no Líbano e na Síria com apoio dessa pesquisa sensível. Com esses dados aliados a um estudo teórico sobre as relações entre as pessoas e o ambiente que as envolve, o trabalho se debruçou intensamente sobre questões tecnológicas que viabilizassem projetos e levassem a decisões mais precisas nas propostas. Buscou também ações que tenham a participação de todos os envolvidos em todas as fases: de conversas iniciais que passam de fatos a questões imateriais do local, do desenvolvimento de um projeto ou movimento, participação na materialização da ideia e, por fim, na apropriação do espaço.
Situações de Emergência e de Calamidade Pública
Garoto sírio passando pelas construções destruídas na cidade de Raqqa, Síria Fonte: AFP Photo
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E DE CALAMIDADE PÚBLICA
Todos os anos é possível observar diversos acontecimentos em lugares diferentes do mundo que acabam gerando mudanças. Mudanças essas que atingem negativamente inúmeras famílias, seja no momento da ocorrência ou mesmo anos depois, levando ao cenário atual onde mais de 82 milhões de pessoas são forçadas a migrar de suas terras natais para buscar sua sobrevivência em outro lugar (UNHCR, 2022). Elas podem ter causas diversas, como será explicado a seguir, e fazer com que uma população passe por situações de crise e necessite de uma resposta, na maioria dos casos, imediata por parte dos agentes envolvidos. Segundo o dicionário Houaiss, a palavra “emergência” pode ter alguns significados, um deles é identificado como “uma combinação inesperada de circunstâncias imprevistas (ou o que delas resulta) e que exigem ação imediata” (EMERGÊNCIA, 2021); e a expressão “calamidade pública” pode ser apontada como “interrupção da vida normal de uma coletividade, por efeito de desgraça pública, catástrofe ou desastre decorrentes de fenômenos naturais ou de lutas armadas” (CALAMIDADE PÚBLICA, 2021). É em cima destas definições que as situações estudadas se encaixam. São episódios anormais no cotidiano de um local alterando de forma brusca as condições de
normalidade, causando a ruptura do funcionamento daquela sociedade e levando ao comprometimento parcial ou substancial da capacidade de resposta da população e do poder público no enfrentar das inúmeras perdas que podem ocorrer, como explica o Sistema Nacional de Proteção e Defesa CivilSINPDEC.
Diversos acontecimentos de naturezas e escalas variadas podem levar a situações desse tipo, causando certa instabilidade para a região nos quesitos econômicos, políticos, relacionados à saúde e à educação, deixando uma marca na história daquela população atingida. Muitas dessas ocorrências podem ser prevenidas ou ter seus danos já previstos, mas outras atingem de forma inesperada podendo levar a resultados devastadores, como será abordado com maior profundidade no decorrer do trabalho. Aliado a isso há mais dois pontos: o primeiro é o fato de que condições extremas, como cidades que crescem descontroladamente com a falta de planejamento nos processos de urbanização, sem a segurança devida, acabam criando ambientes perigosos em relação à própria infraestrutura, oferecendo riscos à população que lá habita; o segundo é relacionado aos problemas ambientais que são agravados com o passar dos anos e podem ser vistos em muitos países ao redor
do mundo mostrando o quão vulneráveis são e como afetam de forma negativa em caso de desastres.
A respeito dos efeitos que esses acontecimentos acabam causando ano a ano em todos os atingidos, direta ou indiretamente, os resultados são muito prejudiciais à sociedade como um todo, pois interferem nas vidas de todos com impactos negativos no bem-estar das famílias, na economia local, nos suprimentos e na infraestrutura, mobilizando diversos setores (de saúde, logísticos, abastecimento, tecnologia, comunicação, educação, entre outros) e até ajuda externa com apoio de outras nações ou organizações de ajuda humanitária internacionais para realização de planos e busca por soluções para os problemas que acabam surgindo. Isso tentando sempre levar aquele local para uma possível volta às condições de normalidade, como a vida antes do desastre, e restabelecimento de boas condições em todos os setores citados anteriormente que estão a serviço dessa população.
Dependendo das dimensões do evento que atingiu determinada região, as sequelas que podem ser vistas passam por danos na infraestrutura com a destruição de inúmeras construções, como no Iêmen em 2018 com os ataques aéreos e bombardeios, e o apagar da memória/ história de uma população com seus patrimônios e símbolos sendo destruídos, como ocorreu nas Filipinas em 2013 quando um terremoto destruiu edificações históricas pelo país. O agravamento da pobreza e a falta de recursos para
combate a fome e epidemias também podem ser vistos, tendo como exemplo a situação do Haiti após os desastres naturais que o atingiram e deixaram parte da população a anos vivendo em abrigos e necessitando de ajuda para obtenção de suprimentos básicos para sobrevivência. Por fim, eventos como esses podem levar até a morte de centenas de milhares de pessoas logo após o fato ou com o passar do tempo, já que em muitos casos é possível ver doenças se espalhando sem qualquer possibilidade de tratamento, ou com ataques que atingem a população sem uma previsão de um cessar-fogo, como o que está sendo visto nos confrontos entre Rússia e Ucrânia que deixam milhares de mortos, a maioria civis. Esses pontos levam a problemas com os meios de produção e distribuição de recursos básicos, como suprimentos, água potável e medicamentos, para a população que está, muitas vezes, desabrigada e sem as mínimas condições para sobrevivência, dificultando o processo de recuperação.
Destruição no Iêmen em 2018 causada por conflitos armados
Fonte: Ghaith Abdul-Ahad
Destruição em Sanaa (Iêmen) após ataques aéreos em 2018.
Fonte: ICRC
Igreja destruída pelo terremoto de 2013 que atingiu a província de Bohol, Filipinas.
Fonte: Vincent Go
População morando em abrigos improvisados a mais de 9 anos em Porto Príncipe, Haiti.
Fonte: Water Mission
Policiais trabalhando na identificação de corpos de civis mortos em Kiev no conflito entre Rússia e Ucrânia em 2022.
Fonte: The Associated Press
Os acontecimentos que podem ocorrer e levar a emergências são causados por fenômenos naturais ou por causas humanas. Sobre os naturais, eles podem se manifestar de formas diferentes envolvendo fenômenos de movimentação do solo, fortes ventos ou elementos como a água. Desastres naturais sempre aconteceram ao longo da história do nosso planeta, mas com a degradação ambiental que o ser humano vem causando ao longo de sua existência com desmatamentos e poluição, o número de ocorrências e a gravidade delas passaram a aumentar, como apontam os estudos do projeto Our World in Data feito pela organização Global Change Data Lab em 2020.
Nas análises feitas pelo Our World in Data é possível verificar um aumento das ocorrências de desastres naturais desde 1900, sendo mais expressivo a partir da década de 1960 com a influência das ações humanas no agravamento dos mesmos até os dias de hoje. Os desastres naturais que ocorrem por todo o mundo aparecem na forma de secas, inundações, furacões, tsunamis, mudanças extremas do clima com temperaturas recorde tanto positivas quanto negativas, deslizamento de terra, atividades vulcânicas, terremotos e incêndios, todos esses eventos deixando a população em situação crítica (EMDAT, 2020).
Mesmo com o grande aumento de desastres, apontado no gráfico, o número de mortes não acompanhou este aumento brusco tendo a média de
mortes por década diminuído bastante desde 1920. Isso ocorre por conta dos avanços tecnológicos e das formas mais eficientes de enfrentar esses fenômenos, como o uso de equipamentos que conseguem prever sismos, ferramentas para resgate de pessoas atingidas por destroços após um terremoto ou meios de combater incêndios imensos, como os que atingem grandes áreas de reservas florestais. Ainda assim, muitos países em desenvolvimento, como as Filipinas, ou subdesenvolvidos, como o Haiti e o Nepal(segundo o Fundo Monetário Internacional, 2015), passam por situações como essas sem ter como fazer uso dessas novas tecnologias e acabam sofrendo perdas muito expressivas.
Muitas regiões no planeta também estão suscetíveis a serem atingidas por desastres naturais por conta da sua localização que pode estar próxima de áreas de encontro de placas tectônicas, como é o caso do Círculo de Fogo do Pacífico que transcorre por toda extensão da costa do Oceano Pacífico e é onde ocorre a maioria dos terremotos do mundo (ABBANY, 2020). Assim, essa área acaba sempre presenciando fenômenos, como o sismo seguido de um tsunami que atingiu o Oceano Índico em 2004 deixando cerca de 230.000 pessoas mortas e arrasando parte da costa da Indonésia (G1 Globo, 2018), ou o sismo de Tohoku, no Japão em 2011, causando um tsunami e deixando mais de 15.000 mortos (G1 Globo, 2021).
Número de eventos de desastres naturais registrados de 1900 a 2019. Fonte: Our World in Data. Tradução: Marcelo Baydoun
Número de mostes causadas por desastres de 1900 a 2010. Fonte: Our World in Data.
Outros fatores que levam a uma emergência são os causados por ações humanas, como conflitos internos de um país ou mesmo externos quando há o desentendimento com outras nações, podendo até levar a guerras. Neles a repressão, o uso excessivo de violência e perseguições passam a ser alguns dos meios pelos quais a desestabilização da ordem de um determinado local comece. Esses conflitos podem ser ligados ao tema da política com a insatisfação da população com o poder público por problemas ligados à corrupção, às atitudes tomadas pelos membros do executivo ou mesmo aos regimes autoritários com ditadores que atacam diretamente a democracia e ferem os direitos de uma grande parte dos habitantes de seu país. Isso pode levar a manifestações e protestos pacíficos em um primeiro momento, mas que podem se agravar e tomar proporções perigosas com o aumento da violência de ambas as partes envolvidas no conflito e levando à opressão da população pelas forças do governo.
Essas questões podem acabar em muitos casos com um número grande de feridos e até assassinatos. Muitos governos passam por esses tipos de eventos, como os países que passaram pela Primavera Árabe. Este foi período em que uma onda de protestos contra a corrupção e por melhores condições de vida aconteceram em vários países do Oriente Médio, resultando na queda de alguns ditadores, como Hosni Mubarak (Egito), e em grandes confrontos que já duram anos.
Milhares de pessoas protestando contra o governo de Hosni Mubarak em 2011 no Cairo, Egito Fonte: Amr Diab
Número de conflitos relacionados ao governo ativos desde 1946 a 2020, com destaque para porção onde Síria e Líbano estão situados. Fonte: Our World in Data. Tradução: Marcelo Baydoun
Os embates políticos, quando externos, podem ser causados por fatores como a disputa por territórios, interesses em recursos como petróleo ou gás natural, ou qualquer outro desentendimento que pode acabar se agravando até chegar ao nível de guerras, como as muitas que já aconteceram no Oriente Médio. Em outros casos há a intervenção de países em conflitos entre outras nações, caso sejam aliados ou tenham algum interesse no embate, como afetar negativamente um membro de alguma oposição ou garantir bases e tropas em localidades estratégicas.
Alguns embates podem ser internos, acontecendo quando ocorre um descontentamento com o governo vigente ou mesmo a população querendo lutar por melhores condições de vida em países de governos autoritários, onde seus direitos são violados. Outra causa para conflitos é a economia, pois também é um ponto que afeta diretamente o cotidiano da sociedade como um todo. Seja pelas relações comerciais entre países, que podem ser afetadas por uma instabilidade na política, ou mesmo por crises mundiais, a economia pode mexer com o nível de desemprego, com a inflação nos preços de produtos básicos para a população e com a desvalorização de moedas, deixando parte da população em situação de miséria e se tornando um incentivo para que manifestações passem a aparecer.
Até em situações de guerras, muitos países
fazem a exploração dos confrontos armados como uma geradora de capital pelo fato dos mesmos movimentarem uma quantidade exorbitante de recursos, sendo assim impulsionada por governos que lucram nesses cenários, como é o caso da guerra no Afeganistão que fez com que os Estados Unidos tivessem um gasto em 20 anos de mais de US$2 trilhões (HELMAN, 2021).
Esses conflitos criam cenários que prejudicam a vida de toda a sociedade, levando muitos civis a óbito, muitos feridos, muita pobreza, fome e doenças se espalhando por todo o território, chegando a necessitar de ajuda externa para que a nação retorne a uma condição de normalidade. Em diversos casos é necessária a intervenção de organizações, como a Organização das Nações Unidas, para tentar encerrar confrontos violentos ou conseguir acordos de cessarfogo para que a ajuda humanitária possa atender aos civis que foram atingidos e que não conseguem sair do meio do conflito. Para isso, a organização conta com uma equipe para manutenção da paz chamada de United Nation Peacekeeping que foi fundada durante o período da Guerra Fria com o intuito de auxiliar no mantimento de cessar fogo e estabilizar situações em locais onde poderiam iniciar ou que já haviam conflitos em andamento.
Ao longo das décadas, muitas missões foram formadas pela equipe que levou ajuda com tropas a diversos países, como na Índia e Paquistão em 1949, no Iêmen em 1964, até nas últimas duas décadas
com missões no Sudão em 2011 e na Libéria em 2018. Para dar conta de tantas missões, a equipe para manutenção da paz da Organização das Nações Unidas (Center on International Cooperation - United Nations, 2018) teve um aumento no número de membros desde 1999, como apontado no gráfico a seguir.
A respeito da situação da Síria, a United Nation Peacekeeping realizou uma missão em 2012 com duração de 90 dias para monitorar um cessarfogo e auxiliar na implementação de uma força militar que pudesse encerrar o conflito. Infelizmente os confrontos armados acabaram se agravando muito, levando a equipe a suspender as suas atividades no país e que uma volta só seria possível com a interrupção do uso de armamento pesado e com menores índices de violência por ambos os lados da guerra. Com essas metas não sendo atingidas, a missão foi encerrada no segundo semestre do mesmo ano (United Nation Peacekeeping, 2022).
Agente da equipe de manutenção da paz realizando uma ronda em 2012 por Homs, Síria Fonte: Neeraj Singh
Gráfico mostrando o crescimento do número de agentes da United Nations Peacekeeping
Fonte: CIC - United Nations
Tradução: Marcelo Baydoun
Um grande problema que surge com esses tipos de emergências é o deslocamento forçado da população para outros lugares, seja dentro do próprio país de origem ou até indo para outro continente. Isso acontece pois parte dos habitantes de uma região atingida acabam tendo suas moradias destruídas ou se vendo no meio de situações perigosas com tiroteios, ataques a bombas ou com armas químicas. Assim, milhões de famílias saem de suas terras natais deixando tudo para trás em busca de algum lugar onde possam ter maiores chances de sobrevivência, melhores condições de vida para se reestruturarem e um dia poder voltar às suas casas ou iniciar uma nova vida em uma nova localidade.
Segundo a ACNUR (agência do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), no final de 2020 cerca de 82,4 milhões de pessoas tiveram que se deslocar à força por todo mundo por conta de conflitos, perseguições, violação dos direitos humanos e outros eventos que perturbaram a ordem pública. E outro dado preocupante do mesmo ano é o de que o número de pessoas que retornaram para seus países de origem foi de 3,1 milhões, um número grande mas que representa uma pequena fração do total de famílias deslocadas. Isso também foi influenciado pela pandemia do COVID-19 que impediu que muitas viagens fossem feitas e atingiu milhares de refugiados que não possuíam recursos para se prevenir ou tratar do vírus ou de outras enfermidades graves (UNHCR, 2021).
Representação das categorias de pessoas deslocadas à força. Fonte: UNHCR. Tradução: Marcelo Baydoun
Para entender melhor sobre a situação em que se encontram essas famílias que lutam pela sua sobrevivência em locais desconhecidos e conhecer alguns casos de situações migratórias de conflito, é possível visualizar na maioria dos continentes alguma situação de emergência que leva ao deslocamento forçado de pessoas e, com a análise de dados, foi observado uma concentração de casos na região do
nigéria
Desde 2014 o país sofre com ataques violentos de um dos grupos terroristas mais perigosos da atualidade chamado de Boko Haram, cujo nome significa “a educação não islâmica é um pecado”. Este grupo combate a influência ocidental na Nigéria e busca impor a Sharia, que seria a lei islâmica, principalmente no norte do país com o intuito de criar uma república islâmica (SOUZA, 2017). Eles iniciaram suas ações de forma não violenta, mas após um tempo passaram a se armar e buscar treinamento com grupos militares radicais na África e, assim, começaram a fazer uso de muita violência para imposição de seus ideais e para deixar a população os temendo. Os atos de extrema violência que cometem são diversos, tendo várias pessoas e lugares diferentes como alvos. Eles já realizaram diversos atentados a bomba em escolas, universidades e igrejas católicas, realizaram invasões e diversos massacres em estradas e nos centros, além de inúmeros sequestros em massa. Nesse
Oriente Médio e da África. Com isso, é apresentado a seguir um conjunto de casos que estão ocorrendo nos dias de hoje nas regiões citadas:
último caso, eles buscam raptar mulheres e meninas que acabam sendo estupradas e torturadas pelos membros do grupo para que depois sejam forçadas a seguir a religião imposta por eles com ameaça de serem mortas, sofrerem mais torturas ou serem vendidas como escravas sexuais dentro do próprio Boko Haram. Um dos eventos mais conhecidos foi quando o grupo sequestrou mais de 200 meninas entre 7 e 15 anos em uma escola para cometer todas essas atrocidades, fazendo com que o governo fechasse inúmeras escolas de ensino exclusivo para garotas com medo de novos ataques. Essa situação com o grupo terrorista acarretou em uma crise interna, deixando milhões de pessoas na extrema pobreza, mal nutridas, sem acesso a serviços básicos e vivendo em situação de insegurança, temendo sempre futuros ataques (UNHCR).
A violência deste grupo contra a população é tremenda, como conta para UNHCR (2019) a
nigeriana Fanne Gambo, residente na cidade de Rann que passou por um ataque do grupo e precisou correr para conseguir sobreviver:
“Podíamos ouvir tiros atrás de nós. Eu realmente não vi o que estava acontecendo, só vi cadáveres deitados aqui e ali, pessoas sendo mortas.”
Fanne Gambo, UNHCR, 2019
O país contabiliza mais de 330.000 refugiados (Operational Data Portal, 2022) que fugiram da Nigéria buscando a sobrevivência nos países vizinhos, como no Níger, onde é encontrada a maior concentração de refugiados com aproximadamente 187.000 pessoas buscando refúgio, atravessando as fronteiras ao norte do país em busca do campo de refugiados organizado pela UNHCR na região de Sayam Forage. Outro país vizinho que recebeu refugiados foi Camarões com a entrada de aproximadamente 130.000 pessoas que buscam se abrigar no campo de refugiados em Minawao. Campo esse que já abriga mais de seis vezes a capacidade máxima proposta. E por fim o Chade que está abrigando pouco menos de 20.000 refugiados em um campo de refugiados em Dar Es Salam. Esses países estão recebendo ajuda de muitas organizações, como da Organização das Nações Unidas, para poder garantir uma vida melhor a todas as famílias com mais segurança, abrigos, doação de suprimentos e ajuda médica.
sahel
A região semi-árida que corta o continente africano de leste a oeste passando por 11 países (Observatório de Crises Internacionais - UNPE, 2021) está passando por diversas questões que a colocam em uma das mais graves crises de migração forçada no mundo e também uma das mais esquecidas, segundo a ACNUR, principalmente na região formada pela Burkina Faso, Mali e Níger. Até abril de 2022 mais de 900.000 pessoas de origem na região do Sahel se tornaram refugiadas buscando abrigo em outras localidades e mais de 2,5 milhões estão deslocadas internamente (Coordination Platform for Forced Displacement in Sahel - UNHCR), além de milhares de óbitos com o passar dos anos. Em comparação com a Síria, que na mesma data conta com mais de 5,7 milhões de refugiados buscando refúgio em outros países. A crise nessa área teve seu início a mais de uma década atrás no ano de 2011 com a soma de fatores como a extrema pobreza, o desemprego e a rápida expansão de grupos armados que desde aquele momento até os dias de hoje realizam roubos, emboscadas, ataques e violência contra mulheres e crianças com mortes e abusos. Isso levou a uma situação extrema no Sahel com milhões de pessoas mal nutridas e tendo as infraestruturas de apoio
como hospitais e escolas se tornando alvo de ataques (UNHCR, 2021).
Outra questão que afeta diretamente toda essa situação é o tema das alterações climáticas e seus efeitos na região do Sahel que prejudicam a agricultura, meio de subsistência ali, e cria conflitos para obtenção de recursos.
O Sahel recebe ajuda humanitária das Nações Unidas e de seus parceiros, mas continua não recebendo muita atenção por parte da mídia, como é apontado por Filippo Grandi da agência ACNUR:
“A emergência é aqui, no Sahel, onde pessoas sofrem, são mortas, mulheres são violadas, as crianças não podem ir à escola. O Sahel é o lugar onde devemos intervir antes que esta crise se torne incontrolável.”
Filippo Grandi, UNHCR
afeganistão
A crise no país é algo que já acontece há algumas décadas, mas que se intensificou em 2021. A situação é produto de uma série de conflitos internos e externos que envolvem principalmente um grupo armado fundamentalista afegão, conhecido como os Talibãs, e uma aliança formada por forças nacionais com o apoio dos Estados Unidos, que foram de certa forma motivados a se envolver no confronto após os atentados às Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 (El País, 2021).
Combates entre os talibãs e as tropas norte-americanas foram acontecendo, consumindo quantidades enormes de recursos, destruindo bairros e deixando muitos civis feridos ou mortos. Com as derrotas do Talibã, o mesmo foi perdendo sua força no país e seus membros foram se reposicionando em áreas de difícil acesso da oposição. Até que em 2014 o então presidente dos EUA, Barack Obama, declarou o fim das principais operações das tropas no Afeganistão, mantendo o foco no treinamento das forças afegãs para que elas pudessem confrontar os talibãs, caso fosse necessário. O presidente seguinte, Donald Trump, seguiu mantendo o exército no país para que continuassem na sua missão, mas em 2020 realizou um acordo com o grupo talibã dizendo que iria retirar as tropas. Foi só com o atual presidente Joe
Biden que os Estados Unidos removeram suas tropas do território (El País, 2021).
Assim que as tropas começaram a se retirar, o grupo fundamentalista iniciou ofensivas para retomar o controle de áreas por todo o país utilizando violência e causando o caos no Afeganistão, deixando em 2 meses mais de mil mortos e um número de refugiados que só aumentava com o passar dos dias.
Outras questões impactam a situação em que o Afeganistão se encontra hoje como a pobreza gerada pela guerra, a pandemia do COVID-19 que atingiu um povo que já se encontrava vulnerável, que possuía em 2021 menos de 10% da população totalmente vacinada, e os desastres naturais como as fortes secas que afetam no acesso da população a água (UNHCR). Até o final do mês de agosto de 2021 o Afeganistão possuía mais de 2,2 milhões de refugiados (Operational Data Portal, 2022) que se encontravam espalhados por diversos países, como no Irã, Paquistão, entre outros. Outro dado importante é o de refugiados que retornaram a sua terra natal e em 2021 foi de menos de 1400 pessoas, mostrando que apesar de ter muitos afegãos saindo do país desde anos antes, a grande maioria continua não voltando pelas condições em que o país se encontra.
primavera árabe
Esse nome remete a um período de transformações na política de diversos países do Oriente Médio e do norte da África, tendo como meio para isso uma série de eventos de resistência por parte do povo que se iniciaram no ano de 2010 e se estendem até os dias de hoje. Os objetivos desses movimentos são de derrubar ditadores e seus governos repressivos do comando de suas nações, combater a falta de uma democracia e a negligência com as necessidades básicas da nação, tudo isso levando a busca por melhores condições de vida para toda a população que ainda sofrem com os efeitos da crise econômica mundial de 2010. Essa resistência se deu por meio de greves, protestos, manifestações, comícios, passeatas e uso de mídias sociais para divulgação de ideias, organização desses eventos e contato com o mundo todo para o compartilhamento da situação em que viviam as pessoas nesses locais (SIMÕES, 2021).
O início da Primavera Árabe aconteceu na Tunísia com o ato de um jovem chamado Mohamed Bouazizi que ateou fogo ao próprio corpo como uma forma de manifestar a sua indignação com as condições em que vivia e pela corrupção.
Isso desencadeou uma série de protestos que acabou levando à primeira deposição de um
chefe de estado, sendo ele o ex-presidente da Tunísia, Zine al-Abidine Ben Ali. Após esse episódio, diversos outros países começaram a se movimentar contra os governos opressores vigentes, gerando em muitos desses casos confrontos entre autoridades e a população, com uma resposta muito violenta por parte dos ditadores, causando um número grande de mortes e de feridos nos eventos.
“Tudo começou com um vendedor de frutas no interior da Tunísia. Mohamed Bouazizi, de 26 anos, era um ambulante na pequena cidade de Sidi Bouzid, onde era constantemente intimidado por policiais - falta de licença, problemas com seus produtos, pedidos de propinas.”
Rogério Simões, BBC, 2021
Assentamento informal no Líbano recebendo mais refugiados sírios Fonte: AP
Mapa da região do Oriente Médio com destaque para a Síria e para o Líbano Autoria: Marcelo Baydoun
SÍRIA E LÍBANO
Dois países que participaram dos movimentos da Primavera Árabe contra os governos e as situações em que se encontravam as suas economias são a Síria e o Líbano. Ambos passaram nos últimos anos
síria
A Síria é um país que vem passando por períodos conturbados a aproximadamente 30 anos envolvendo problemas com nações vizinhas e, principalmente na última década, com conflitos internos. Vendo a partir dos anos 2000 quando o atual presidente da Síria, Bashar al-Assad, assumiu o posto de presidente de maneira ditatorial, diversos atritos entre a Síria e o Líbano aconteceram envolvendo, sobretudo, a permanência do exército sírio dentro do território libanês. As forças sírias estavam no país vizinho há muitos anos para intervir nas guerras civis auxiliando no cessar-fogo e só evacuaram depois de muito tempo. Foi só em 2008 que os dois países estabeleceram pela primeira vez relações diplomáticas desde que tinham se tornado independentes na década de 1940 (BBC, 2019).
Apesar da imagem do presidente estar muito boa naquele momento em meio a comunidade mundial, a situação em que o país se encontra hoje acabou
por eventos com efeitos negativos, como propagação de doenças e ataques terroristas, deixando-os com grandes emergências a serem resolvidas e graves crises que serão explicadas a seguir:
sendo diretamente ligada aos conflitos de 2011 decorrentes de um descontentamento da população síria com o governo corrupto do ditador, com as suas atitudes que limitavam muito a liberdade de seu povo e também com as altas taxas de desemprego. Esse enfrentamento do governo por parte da comunidade também é um reflexo do que estava acontecendo no mesmo período em outros países do Oriente Médio com protestos, greves e confrontos violentos. Assim, começaram a ser realizados movimentos contra o regime por todo o país em busca da renúncia de Bashar al-Assad e da instituição de um governo mais democrático (BRITTANICA).
Como explicado pela autora Natália Bentes (2018), as manifestações começaram a aparecer em todo país no mesmo ano de forma pacífica por parte da população, principalmente jovens, mas foi reprimida com o uso de violência e realização de várias prisões pelo governo. Mais protestos foram
sendo organizados e com isso o número de prisões e feridos só aumentava.
A ocorrência que fez com que as manifestações tivessem um aumento enorme em escala e em quantidade aconteceu no interior do país quando um grupo de crianças realizaram pichações com falas contra o governo. Elas foram levadas pelas forças de segurança do governo para prisões onde passaram por torturas como espancamento, choques elétricos e até ter as unhas arrancadas. Os pais ao exigirem que seus filhos fossem libertados receberam como resposta do chefe local da segurança política e também primo do presidente, Atef Najib: “Esqueçam seus filhos, vão fazer outros e se não conseguirem, tragam suas mulheres que nós faremos” (NAJIB apud KASSAB/ AL-SHAMI, 2016). Na mesma época outras crianças foram vítimas de violência pelas forças do governo como o garoto Hamza al-Khatib, de 13 anos, que foi preso em um protesto e torturado por quase um mês até a sua morte. As manifestações ficaram mais intensas e o governo de Bashar al-Assad decidiu que era a hora de responder com o uso de força letal contra a população. Assim, muitos movimentos foram combatidos pelas forças de segurança do país utilizando armas de fogo, tanques de guerras, helicópteros de ataque e artilharia pesada, matando milhares de pessoas. Os principais meios de comunicação ao redor do mundo, como o jornal espanhol El País, o canal de notícias Al Jazeera do Catar e muitos outros, estavam sempre
apresentando manchetes que mostravam novos ataques contra a população, a agressividade do governo contra o próprio povo e o número de mortes que subia em um ritmo alarmante. Além disso, muitos relatos de crimes cometidos pelos militares contra a população estavam aparecendo nas mídias, como estupros, sequestros, tomada ilegal de propriedades e assassinatos, mas o governo sempre negou o ocorrido (BRITANNICA).
“Não pedimos coisas irrealistas. Queríamos uma libertação de prisioneiro, uma revogação da lei de emergência, uma lei de novos partidos, e assim por diante.”
KASSAB; AL-SHAMI, 2016
A guerra civil havia começado no país e diversas organizações e outras nações buscaram intervir no conflito em vários momentos diferentes. Por volta do início de 2012 houveram alguns atos pela Liga Árabe, uma organização de estados árabes, com a suspensão da Síria como um membro, tentando fazer com que o governo parasse com a violência contra os manifestantes, mas acabou não sendo eficaz. Alguns países como os Estados Unidos, Reino Unido e França começaram a se movimentar e a considerar ataques no país contra o regime de Assad após o mesmo ter ordenado o uso de armas químicas contra a população, matando centenas de manifestantes. Vendo que a situação só ficava mais grave, os grupos
Diversas manchetes retratando os ataques do governo sírio contra a população
Autoria: Marcelo Baydoun
rebeldes passaram a receber apoio externo para que conseguissem o controle de cidades e vilas espalhadas por território sírio. A ajuda externa de outras nações, junto de organizações como a Organização das Nações Unidas, tentavam também auxiliar na definição de cessar-fogo para entrega de suprimentos para população necessitada, atendimento a feridos e buscando que se tornasse permanente, mas as suas tentativas acabaram falhando. Outro ponto a ser levantado é que, infelizmente, outros países, como é o caso da Rússia, interviram nos confrontos auxiliando o governo a reconquistar cidades com o uso de artilharia pesada e bombardeios, matando milhares de soldados, rebeldes e civis (BBC, 2019).
Com os ataques que a população começou a receber por parte do exército e com as investidas dos grupos rebeldes contra o governo ficando cada vez mais violentas, a população síria começou a se deslocar dentro do próprio país para tentar escapar dos tiroteios e bombardeios nas regiões que estavam tendo o controle disputados pelos dois lados. Outro motivo para o deslocamento interno dessas pessoas é a busca por suprimentos que acabam ficando escassos com a destruição das cidades. Assim, com a chegada de ajuda humanitária, muitas famílias vão para outras áreas buscando o auxílio. O resultado disso é uma mudança nas dinâmicas urbanas de um conjunto de cidades que antes dos protestos eram cheias de vida e que agora se encontram abandonadas e repletas de edificações destruídas.
Os confrontos já duram mais de 10 anos e deixaram uma grande parte da Síria em ruínas. Cidades ficaram irreconhecíveis com suas edificações totalmente condenadas e com graves avarias em toda infraestrutura pública, tão vital para recuperação do país. As moradias de milhões foram bombardeadas ao longo da guerra civil, deixando muitas famílias desabrigadas e necessitando de auxílio para que possam reconstruir sua história ali praticamente do zero. Com o país arrasado, a crise econômica que já afetava a Síria se agravou e prejudicou toda nação, desvalorizando a moeda síria e inflacionando os valores dos produtos, deixando muitos passando fome e crianças sofrendo de desnutrição, como foi apontado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV, 2020). Além disso, a questão do desemprego aumentou muito e, junto com a crise, formam uma barreira que impede muitos de conseguirem suas necessidades básicas, como água potável, eletricidade, medicamentos, tratamentos e etc. O número de mortos no país foi só aumentando ao longo dos anos de conflitos, chegando a passar dos 500.000 e, em paralelo, a quantidade de civis que fugiram de sua terra natal em busca de lugares para sobreviver sem serem perseguidos pelo governo ou por seus apoiadores acompanhou o aumento. O número passou de cerca de 20.000 no ano de 2010 para aproximadamente 5,7 milhões em maio de 2022. A população refugiada migrou para diversos lugares, desde países que fazem fronteira, até para o outro
lado do mundo, como é o caso do Brasil. Dos países vizinhos que receberam esses refugiados, a Turquia é o que teve a maior entrada de sírios no seu território com mais de 3,68 milhões de pessoas, seguida do Líbano com cerca de 851.000, Jordânia com 670.000 e Iraque com 250.000 (UNHCR, 2021).
Com o passar dos anos desde o início dos conflitos em 2011, uma porção de refugiados começou a voltar para sua terra natal por conta própria. As maiores movimentações começaram 5 anos após os primeiros protestos, crescendo a cada ano, mas com a pandemia do coronavírus o número de refugiados voltando acabou diminuindo. No total foram contabilizados cerca de 305.500 refugiados retornando à Síria no período de 2016 a janeiro de 2022, sendo uma grande parte deste número correspondente aos que retornaram da Turquia (125.047) e do Líbano (66.803). Esses números são um reflexo das inseguranças que os refugiados possuem quando pensam no retorno à sua terra natal. Como foi levantada pela pesquisa realizada pela UNHCR em 2021 com mais de 3200 pessoas, a maioria (69%) pretende continuar no ano de 2022 abrigados nos países anfitriões, como Líbano e Egito, e os principais motivos para não retornarem a Síria agora são a falta de oportunidades de trabalho e meios para o sustento da família, falta de segurança, de moradias adequadas e de serviços básicos. Além disso, um motivo para que muitos não voltem é para evitar a participação forçada nos serviços militares.
Falando sobre o retorno das famílias sírias que buscaram refúgio no Líbano, as projeções feitas utilizando dados coletados em pesquisas e entrevistas desde março de 2018 até o primeiro semestre de 2021 indicam que a porção de pessoas que não planejam retornar em 2022 vai continuar aumentando, passando de 85% no começo da coleta de informações a 89% na última checagem (UNHCR, 2021).
A pandemia do COVID-19 agravou muito a situação em que a Síria se encontrava por conta de que muitos hospitais e outras instalações voltadas à saúde foram atingidos em bombardeios e outros ataques, como os de gás sarin, deixando muitos mortos, inclusive médicos em ações voluntárias, tendo como consequência uma população sem ter onde tratar feridos ou infectados pelo novo vírus. Sobre a destruição de hospitais e outras instituições de saúde, muitos acabaram sendo atingidos em ataques sírios e também russos que planejavam facilitar o avanço de suas tropas por terra para retomada de regiões, como ocorreu em 2016 e como conta Tirana Hassan, diretora de Respostas à Crises da organização Amnesty International:
“Forças sírias e russas têm atacado deliberadamente instalações de saúde em flagrante violação do direito internacional humanitário. Mas o que é verdadeiramente notório é que aniquilar hospitais parece ter se tornado parte de sua estratégia militar.”
HASSAN, 2016)
Protesto contra o governo de Bashar al-Assad em 2011 na cidade de Hama, Síria Fonte: Associated Press
Crianças sírias participam de protesto em 2011 em Istambul, Turquia, carregando cartazes com a foto de Hamza al-Khatib Fonte: Murad Sezer
Destruição causada por ataques aéreos em 2018 na cidade de Arbin, Síria Fonte: MYSA
Vítimas do ataque em 2013 com armas químicas em Ghouta, Síria
Fonte: Bassam Khabieh
Países com mais de 1000 refugiados sírios em 2021. Fonte: UNHCR. Imagem: Marcelo Baydoun
Países com mais de 1000 refugiados sírios em 2021, próximos da Síria. Fonte: UNHCR. Imagem: Marcelo Baydoun
Mapa apresentando a análise do número de refugiados sírios que retornaram de forma voluntária até janeiro de 2022
Fonte: UNHCR Tradução: Marcelo Baydoun
As crianças sírias também sofrem muito com tudo que está acontecendo, tanto pelos pontos já levantados, mas também por sofrerem de diversos problemas físicos e psicológicos, como ansiedade e depressão, e de não conseguir acesso à educação, seja por causa da destruição das escolas ou por serem impedidas de estudar para trabalhar e auxiliar no sustento de suas famílias. Outro ponto é que elas são as mais vulneráveis e acabam sendo expostas a diversas condições de insegurança, ocorrendo muitos abusos, sempre acompanhados de muita violência. Ainda sobre elas, uma porção grande dos sírios que saíram do país possuem entre 0 e 17 anos, mais de 2,9 milhões (UNHCR, 2021), sendo um dado preocupante ao pensar em como o terror dos ataques e a falta de esperança afeta não só o presente, mas também o futuro delas, pensando que muitas delas nasceram nessas condições longe da terra natal de seus pais.
Essas condições citadas acima nas quais as crianças refugiadas se encontram impactou diretamente nas diretrizes e estratégias adotadas para o desenvolvimento da ação arquitetônica, tanto na questão programática, quanto na forma como o projeto atua no território com a participação e apropriação dos espaços por todos.
Crianças refugiadas tendo aula em uma tenda que se tornou uma escola improvisada no assentamento em Qab Elias, Líbano
Fonte: Bilal Husseinlíbano
O Líbano é um país que se encontra em uma situação caótica e isso é resultado de uma série de acontecimentos de naturezas diversas que atingiram essa nação nas últimas décadas. Um dos primeiros pontos que influenciou nos conflitos internos e externos do governo do Líbano foi o assassinato do ex primeiro-ministro Rafic Hariri em 2005, que gerou um momento turbulento com acusações e movimentação de tropas militares com a Síria (BBC, 2018). Os conflitos da organização política Hezbollah com outras nações, como com Israel, também afetaram o governo de forma negativa durante anos. O país sentiu diretamente os efeitos do que estava acontecendo na Síria em 2011, isso porque ocorreram manifestações e revoltas dentro do país entre apoiadores e opositores do governo da nação vizinha, além de atentados a chefes de segurança. Apesar disso, o Líbano permitiu a entrada de refugiados em busca de abrigo em seu território e isso levou a diversos ataques feitos pela Síria, utilizando inclusive de foguetes, no norte do Líbano buscando atingir militantes que eram contra o ditador sírio.
O medo da população libanesa e dos refugiados sírios começou a aumentar na mesma medida em que a quantidade de ataques que o país passou a receber de rebeldes sírios crescia,
levando a morte de centenas de civis em conflitos armados e atentados a bomba em mesquitas e em locais movimentados (REUTERS, 2020). No ano de 2013, diversos atentados ligados ao conflito sírio continuaram ocorrendo dentro do território libanês causando mais fatalidades e destruição. E logo no ano seguinte o números de sírios que fugiram das situações extremas em que sua terra natal se encontrava e se tornaram refugiados já estava passando de 1 milhão dentro do país, correspondendo a quase um quinto da população que morava no Líbano.
Em 2015, o governo do Líbano sentiu a necessidade de estudar novas restrições a respeito da entrada de refugiados sírios no país em resposta ao fluxo de entrada de pessoas que estava muito elevado e aos inúmeros atentados e ataques relacionados aos conflitos no país vizinho. A própria relação entre os mais de 1 milhão de refugiados sírios e a população libanesa começou a ficar mais fragilizada por conta de toda a situação em que se encontravam as duas nações (BBC, 2018).
Nos últimos anos ocorreram alguns eventos que impactaram mais diretamente a situação atual do país, como a grande quantidade de protestos que começaram a acontecer pelo Líbano contra a corrupção, os problemas na economia e também por
conta do descontentamento da população com a política e o rumo que a nação estava tomando. Esses protestos começaram a ser reprimidos e ambos os lados começaram a fazer uso da violência, piorando a situação. Com isso, o país foi aos poucos afundando em uma crise econômica gravíssima que se tornaria uma das piores na história do Líbano. Na sequência desses acontecimentos, a pandemia do COVID-19 atingiu o país em 2020 e o mesmo não se encontrava preparado para o enfrentamento dessa nova doença. A infraestrutura de saúde, que já estava sobrecarregada com a grande quantidade de refugiados no país e com os feridos dos protestos, não era suficiente para atender toda a população. Assim, o vírus foi se espalhando pelo
Líbano em ritmo rápido e complicou muito a situação para toda a sociedade.
Ainda em 2020, uma explosão no porto de Beirute causada por um incêndio que atingiu um depósito de armazenamento de nitrato de amônio deixou centenas de mortes e muitos feridos. Além disso, causou a destruição de tudo que estava próximo do depósito e danificou diversas edificações na cidade (WHO, 2020). Isso agravou toda a crise pela qual o país estava passando, afetou a taxa de desemprego, a inflação, o valor da moeda libanesa e aumentou a insatisfação que a população já tinha pelo governo vigente.
Com todos os problemas ligados à política e à economia, a inflação afetou o fornecimento e os
Milhares de pessoas protestando em 2019 pelo descontentamento com o governo e contra a corrupção em Beirute, Líbano Fonte: Diego Ibarra
valores dos combustíveis. Isso se tornou um problema maior do que o esperado, pois usinas de geração de energia passaram a ficar sem combustível para manter algumas partes em funcionamento, deixando o país em uma situação de racionamento de energia elétrica e mesmo cortes durante alguns dias (NEVES, 2021).
Destruição causada em Beirute pela explosão do porto em 2020.
Fonte: COMIBAMsíria
Linha do tempo - Líbano e Síria
Autoria: Marcelo Baydoun
Com o aprofundamento das análises de ambos os países foi possível ter um melhor entendimento sobre as questões que estão sendo abordadas e as condições que estão orientando a produção da ação arquitetônica apresentada adiante no trabalho. A situação das crianças e o número de famílias que buscaram refúgio no Líbano é um dado importante e que influencia diretamente no projeto, nesse caso em como um equipamento ou conjunto implantado na área consegue suprir a demanda de um campo de refugiados ou assentamento.
A região do Líbano que terá um maior destaque neste estudo é a do distrito de Zahle, mais especificamente o vilarejo de Deir Zenoun, ao norte da província de Bekaa. Esta área fica na porção mais central do país e é o maior distrito e capital da província. É também próxima da fronteira com a Síria, por isso, sempre recebeu um fluxo grande de pessoas em trânsito entre as duas nações principalmente por motivos ligados ao comércio, já que a capital síria, Damasco, está a cerca de 70 km de distância do distrito libanês.
Por conta dessa proximidade de Zahle com a fronteira com a Síria, quando se deu início aos protestos e a posterior guerra civil no país vizinho, um fluxo enorme de famílias buscando refúgio começaram a entrar no país e se abrigaram na região. Também pela familiaridade com a religião predominante na Síria, sendo o islamismo (SOUZA, 2021), e sendo encontrada em diversos vilarejos por toda Zahle. Com
os anos do conflito na Síria passando, o número de refugiados entrando por toda a fronteira no Líbano foi aumentando sempre se mantendo de forma elevada no distrito que estava acolhendo em maio de 2021 cerca de 150.000 refugiados (aproximadamente 17,5% de todos os refugiados sírios que tinham entrado no país até o momento, cerca de 851.000) (UNHCR, 2021).
Com essa grande movimentação a UNHCR implantou um sub–escritório para administração e auxílio para esses refugiados, sendo localizado no centro de Zahle, onde é possível encontrar um forte comércio do setor agrícola, produção de vinhos e arak (bebida alcoólica destilada tradicional de países árabes).
Com o avançar dos conflitos na Síria, a entrada de refugiados começou a praticamente dobrar a população de diversas cidades e vilarejos por todo o Líbano, como foi o caso em Zahle. Isso levou ao início de um desabastecimento de suprimentos na região e a infraestrutura, como hospitais, escolas, entre outros, ficou sobrecarregada.
Sobre Deir Zenoun, região que terá uma análise mais aprofundada na pesquisa, ele fica a aproximadamente 15 km da fronteira de Masnaa entre Líbano e Síria e é um vilarejo pequeno, mas que abriga muitos refugiados. O local tem como atrativo para que as famílias se estabeleçam por lá a cidade vizinha, Bar Elias, que tem uma infraestrutura mais desenvolvida com um número maior de equipamentos para uso da população, como equipamentos voltados à saúde, escolas, centros comerciais, entre outros, que com
Mapa destacando o o trajeto entre o distrito de Zahle e Damasco com o círculo marcando a fronteira de Masnaa
Autoria: Marcelo Baydoun
Mapa apresentando a quantidade de refugiados sírios no Líbano em maio de 2021
Fonte: UNHCR Tradução: Marcelo Baydoun
o tempo acabou também ficando sobrecarregada, um comércio forte e pelo fato do vilarejo tem muitos campos e plantações onde os refugiados poderiam montar seus abrigos.
Sobre os abrigos, é possível encontrar diversos assentamentos, de pequenos a grandes, espalhados por Deir Zenoun e com análise de imagens de satélite (Google Earth, 2022) foi possível verificar que todos são informais (começaram a surgir em algum terreno com algumas pessoas precisando de abrigo e sem o planejamento por parte do governo ou de organizações humanitárias) e foram crescendo ou diminuindo com a chegada e partida das famílias sírias de forma desordenada e sem qualquer preparo do local. Muitos se encontram perto de uma das principais rodovias da região que passa cortando ao meio o vilarejo e conecta a capital do Líbano, Beirute, até a capital da Síria, Damasco. Alguns assentamentos também podem ser vistos nas margens do Rio Litani que corta a província de Bekaa por serem áreas que antes não tinham qualquer ocupação. Outros acabam sendo encontrados espalhados pela região, tendo se estabelecido em áreas que estavam vagas. Esses assentamentos estão identificados no mapa na página seguinte.
Diversos fatores influenciam a vida dos refugiados e dos que já moravam na região de formas negativas, como mudanças climáticas, propagação de doenças e milhares vivendo em péssimas condições. A respeito do clima, é algo que as famílias sírias acabam
tendo muitas dificuldades em enfrentar no distrito em que a pesquisa foca. As temperaturas variam muito ao longo do ano e no período próximo a Julho, verão no país, chegam a atingir máximas de 44ºC, como registrado em 2021 (AccuWeather, 2022).
Com temperaturas tão elevadas e o ar muito seco, os refugiados sofrem muito na convivência em seus abrigos, feitos em sua maioria de lona e madeira, que não os protegem do calor, levando muitos a ficarem doentes. Já no inverno, período dos meses de dezembro e janeiro, as temperaturas caem de forma brusca chegando a números negativos, como em janeiro de 2022 que foi possível verificar mínimas de até -8ºC. Neste caso as famílias também passam por momentos difíceis pois os materiais de seus abrigos não os isolam termicamente e são frágeis contra os fortes ventos. Junto das temperaturas baixas, nevascas e tempestades aparecem com frequência, preocupando os que não possuem moradias robustas e precisam remover a neve da cobertura das habitações para que elas não desmoronem (The Guardian, 2015). Com isso, novas soluções para o enfrentamento do clima foram implementadas no projeto, trazendo estratégias diferentes para esse problema.
“Eu não posso brincar lá fora, vou congelar. Nós precisamos de madeira. Estamos com frio. Hoje nós tivemos que colocar nossos chinelos e roupas velhas no fogão porque nós não encontramos madeira.”
Crianças em Deir Zenoun, BAYDOUN, 2015
Abrigos improvisados em assentamento informal de refugiados em Deir Zenoun.
Fonte: Nabil Mounzer
Refugiados sírios em seu abrigo improvisado em Deir Zenoun.
Fonte: Bilal Hussein.
2016 2020
2017 2021
Mudanças
na área de estudo de 2016 a 2021
Fonte: World Imagery Wayback
Autoria: Marcelo Baydoun
As grandes chuvas que atingem o vilarejo causam também muita destruição por conta da maioria das construções serem frágeis e do governo libanês ter exigido a destruição de qualquer abrigo para refugiado construído com materiais permanentes como tijolos cerâmicos ou blocos de concreto (Al Jazeera, 2019).
Assim, os refugiados sírios passam por momentos críticos sempre que chegam as temporadas de chuvas, também por conta de que muitos estão estabelecidos próximos das margens do Rio Litani que, além de muito poluído, acaba passando por grandes cheias. Aliado a essa questão, os abrigos não são, em sua maioria, construídos elevados do solo, não evitando com que suas moradias sejam invadidas pelas águas sujas que podem trazer doenças e imensas perdas. Organizações e algumas pessoas vendo essa situação buscaram certas formas de ajudar a prevenir novas inundações com formas de aumentar o tempo com que a água avance cavando trincheiras ao redor de abrigos ou colocando cascalho e pedriscos nas vias comuns dentro dos assentamentos, além de auxiliar a reforçar as construções com lonas resistentes a água e mais peças em madeira (Al-Mashareq, 2018).
Todos esses pontos analisados na região, como geografia, temperaturas extremas, chuvas, nevascas, condições dos refugiados e população local, são indispensáveis para a produção deste trabalho e que são todas consideradas na ação proposta pelo mesmo.;
Refugiados sírios em assentamento no Vale Bekaa em meio a uma inundação
Fonte: Diego Ibarra
Jovem refugiado tirando água de uma inundação que invadiu o abrigo de sua família Fonte: Diego Ibarra
Refugiado em meio da inundação que atingiu o assentamento Fonte: Diego Ibarra
Refugiado removendo neve sobre seu abrigo em assentamento em Deir Zenoun
Fonte: VoaNews
Nevasca atingindo assentamento em Deir Zenoun
Fonte: VoaNews
Arquitetura de Emergência
Campo de refugiados sírios orgaanizado pela UNHCR na Jordânia.
Fonte: Best Delegate.
ARQUITETURA DE EMERGÊNCIA
o que é e o que ela pode fazer em cenários crítico
A arquitetura emergencial, como definido por Ian Davis (1980), é aquela que age como uma das estratégias de resposta a uma situação de emergência, buscando meios de auxiliar a população atingida e dar suporte para combate dos problemas que venham a surgir após um momento crítico, como o grande número de famílias que acabam ficando desabrigadas, pessoas necessitando de ajuda médica e/ou psicológica, entre outros. Para isso, essa estratégia vem aliada a outras operações, formando um conjunto de respostas englobando ações econômicas e sociais, buscando dar o apoio com êxito à população que passa por necessidades, conforme considerado no trabalho.
Seja por desastres naturais, quando estes se apresentam em grandes escalas deixando a população em condições de risco, ou por conflitos armados, muitas pessoas que passam por alguma situação de emergência acabam buscando uma forma de abrigo, em muitos casos feita de forma improvisada, um meio de refúgio, de sobrevivência, de suporte e de proteção após ficarem vulneráveis perante o clima e/ou diversas formas de violência. Assim, ações arquitetônicas que possam trabalhar de forma ampla com temas diversificados, como moradia, educação, saúde e alimentação, sendo reinterpretados para as
situações e condições em que estão envolvidos e não como aconteceriam em um cenário recorrente, adquirem um papel importante na ajuda humanitária em situações de emergência na reconstrução da vida ou na construção de um novo cotidiano temporário desses sobreviventes e do próprio local.
Os governos de países que acabam sendo afetados por desastres ou conflitos e ficam em situações extremas dão o suporte para população trabalhando com diversas áreas, como com equipes de resgate para socorro e busca de feridos, setores da saúde para o atendimento dos atingidos, com os meios de produção e indústria para a obtenção de suprimentos básicos para a população necessitada em um momento desses. Pensando na reestruturação de suas nações, muitas contam com o apoio de diversas organizações, como as descritas a seguir, que, vendo a situação em que muitas regiões no mundo se encontram atualmente, oferecem ajuda humanitária com o envio de agentes para os locais afetados e construção ou montagem de abrigos e outras estruturas indispensáveis para qualquer grupo social. Algumas das organizações que dão esse apoio às pessoas atingidas são: United Nations (Organização das Nações Unidas): é uma organização internacional fundada em
1945 e com sede em Nova Iorque, Estados Unidos. Hoje conta com 193 países membros que discutem os problemas e soluções que afetam toda a humanidade. Possui alguns órgãos subsidiários como a UN-Habitat que promove o desenvolvimento de assentamentos sociais e ambientalmente sustentáveis, além de prover abrigos adequados para todos que estão passando por necessidades (United Nations, 2022). Além dele, a organização possui diversas agências e programas que trabalham para auxiliar milhões de pessoas pelo mundo e alguns deles realizam missões que atingem diretamento os afetados pelos conflitos na Síria, como a WFP (World Food Programee - Programa Mundial de Alimentos), a WHO (World Health OrganizationOrganização Mundial da Saúde) e a própria ACNUR que protege os refugiados e ajudam na volta para terra natal ou a se estabelecer em um novo território.
United Nations High Commissioner for Refugees - UNHCR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - ACNUR): é uma agência das Nações Unidas com sede em Genebra, na Suíça, que deu início às suas atividades em 1950 enfrentando diversas crises por todo o mundo, procurando dar assistência vital à refugiados, solicitantes de refúgio, deslocados internos e apátridas (UNHCR, 2022). No caso estudado por este trabalho, a agência está presente na região afetada com diversos escritórios, inclusive um na região de Zahle, dando apoio às famílias sírias com materiais para construção de abrigos, entrega de suprimentos, ajuda com a parte
de saúde no tratamento de feridos e vacinação contra doenças. Além disso, auxiliam os refugiados com a emissão de documentos que acabaram perdidos no meio dos conflitos, como carteiras de identidade ou passaportes.
Emergency Architecture & Human Rights - EAHR (Arquitetura de Emergência e Direitos Humanos): é uma organização não-governamental fundada em 2015 com sede em Copenhague, na Dinamarca, e tem o objetivo de ajudar comunidades socialmente vulneráveis em todo o mundo que estão lidando com crises ou enfrentam problemas com desigualdades de qualquer tipo (CUTIERU, 2020). Eles desenvolveram diversos projetos para ajudar os refugiados sírios que estão vivendo nos países vizinhos de sua terra natal, como na Jordânia, principalmente focando nas crianças com a construção de escolas.
Architecture Sans Frontières - International (Arquitetura sem Fronteiras): é uma organização não-governamental fundada em 1979 e presente em 30 países por todo mundo. Sua sede fica em Paris, na França, e possui como missão melhorar o ambiente construído para pessoas necessitadas com intervenções pós-desastre e apoio no socorro (CUTIERU, 2020). Já realizaram projetos com foco nos refugiados sírios e também para população que não emigrou da Síria. Desenvolveram com a ajuda de outros agentes e diversos voluntários espaços dedicados ao brincar das crianças, como na cidade de Ariha.
Para que a arquitetura possa exercer o seu papel de forma positiva em uma região afetada, ela é trabalhada junto da população local para que assim se tenha um melhor entendimento das reais necessidades daquelas pessoas, de suas vontades, de seus costumes, de toda questão cultural que envolve seu cotidiano e também dos tipos de edificações que ali existem ou existiam. Neste trabalho a abordagem foi feita dessa maneira para que fosse possível trazer aos habitantes do local estudado uma maior sensação de pertencimento àquele local, utilizando também de alguns conceitos apresentados pela socióloga, professora e pesquisadora da Université du Littoral Côte d’Opale, na França, Marion Segaud. A socióloga apresenta (SEGAUD, 2016) um conceito denominado “design social”, um movimento que combinava a participação dos destinatários de um projeto, a dimensão ”desenvolvimento sustentável” e preocupações com o desenvolvimento da sensibilidade estética, com o apelo à responsabilidade coletiva e com a atenção para os efeitos do construído sobre o ser humano. Além de apontar conceituações de outros autores, como da psicossocióloga Nicole Haumont e do sociólogo Henri Raymond, indica a noção sobre apropriação do espaço, ligada diretamente com a ideia de pertencimento de habitantes com um espaço, sendo algo que não só envolve a sociedade como um todo, mas que depende dela.
“A apropriação do espaço designa o conjunto das práticas que conferem a um espaço limitado as qualidades de lugar pessoal ou coletivo. Esse conjunto de práticas permite identificar o lugar; esse lugar permite engendrar práticas [...] a apropriação do espaço se baseia numa simbolização da vida social que se efetua por meio de habitat.”
HAUMONT; RAYMOND,2001
Com isso, é possível entender também os materiais e as técnicas construtivas utilizadas em determinado local, um melhor aproveitamento dos produtos gerados pelas ações lá exercidas e gerar um maior processo participativo no que vai estar sendo produzido ali, desde as fases de idealização e conceituação das ações projetuais, até a própria execução dos objetos e equipamentos. Um exemplo disso são os projetos produzidos no Líbano pelo escritório CatalyticAction que buscam ajudar as crianças e suas comunidades através de um processo participativo na arquitetura, como no desenvolvimento e construção do IBTASEM Playground em 2015 e da Jarahieh School no ano seguinte, ambos na província de Bekaa.
IBTASEM Playground construído para crianças em Bar Elias, Líbano
Fonte: CatalyticAction
Criança participando das obras do IBTASEM Playground
Fonte: CatalyticAction
Escola Jarahieh em Al-Marj, no Líbano
Fonte: CatalyticAction
Estrutura da escola sendo construída
Fonte: CatalyticAction
Diagrama sobre riscos e condições perigosas. Fonte: Marcelo Baydoun
Diagrama sobre vulnerabilidades. Fonte: UNISDR, 2012. Imagem: Marcelo Baydoun
Outro autor que traz discussões que, aliadas aos conceitos da socióloga Marion Segaud, impactam a forma como a ação arquitetônica foi produzida e como atua com a apropriação do espaço é o arquiteto holandês Herman Hertzberger com as análises feitas em seu livro “Lições de Arquitetura”. Nele, o arquiteto discute sobre as relações com o espaço e as dinâmicas entre o público e o privado com o entendimento de que a cidade é feita para todos e por todos. As questões sobre o pertencimento e a apropriação pelas pessoas podem ser vistas com a utilização desses novos espaços criados e a demonstração das intenções daqueles que os utilizam.
“O arquiteto pode contribuir para criar um ambiente que ofereça muito mais oportunidades para que as pessoas deixem suas marcas e identificações pessoais, que possa ser apropriado e anexado por todos como um lugar que realmente lhes “pertença.”
HERTZBERGER, 2015, p. 47
O papel que a arquitetura vai ter em situações como as citadas anteriormente vai envolver uma série de vulnerabilidades com as quais ela terá de enfrentar, diversas condições que podem deixar as pessoas que se encontram em situações extremas inseguras ou sujeitas a serem prejudicadas. Em casos como o dos refugiados sírios que vivem hoje no Líbano, é possível destacar algumas (GOVERNMENT OF LEBANON, 2020):
Sobre as vulnerabilidades no campo físico é possível destacar as condições dos abrigos em que muitos vivem, com estruturas frágeis, sem uma proteção eficiente contra fortes eventos climáticos. Sobre as econômicas, o desemprego é algo muito preocupante pois está afetando uma grande quantidade de pessoas no país fazendo com que muitas famílias não tenham condições de adquirir serviços ou suprimentos básicos com os valores alterados com a inflação. Sobre as psicológicas (UNHCR, 2020), uma proporção notável de pessoas acima dos 5 anos de idade acabam apresentando problemas psicológicos ligados aos traumas passados durante os anos de conflito na sua terra natal, como ansiedade e depressão. E, por fim, sobre as fisiológicas, as inúmeras doenças que atingem crianças e adultos, principalmente aqueles que vivem em assentamentos informais sem qualquer infraestrutura de saneamento ou melhores abrigos protegidos das águas sujas das inundações. Além de pandemias, como a do coronavírus vista a partir do ano de 2020. Esse conhecimento em relação às vulnerabilidade foi construindo as bases para a proposta de ação que será apresentada no decorrer do trabalho. Outro ponto relacionado à formação das bases é o conjunto de obstáculos que surgem na realização de um trabalho em um lugar distante, fora do nosso contexto habitual. As análises feitas tanto do ponto
de vista técnico, quanto dos fatores sociais da região e questões teóricas guiaram o andamento de todo o trabalho, desde as primeiras abordagens com o território, análise das necessidades da população que lá habita, propostas projetuais e soluções técnicas adequadas para situação trabalhada e modos de envolver os refugiados e a população local em todo o desenvolvimento.
A arquitetura emergencial possui alguns pontos ou características que são discutidas a seu respeito e que mudam a sua forma de atuar nas diferentes situações em que pode ocorrer. Um dos pontos levados em conta e que pode mudar completamente a forma que se dá uma ação projetual é a questão do tempo de resposta que ela pode ter. Esse ponto pode alterar fatores como os meios de construção, a amplitude ou a área de atuação, os materiais mais adequados e até a vida útil dos projetos. Em muitos casos as ações da arquitetura emergencial podem atuar no curto prazo como uma resposta mais imediata à emergência da região tratada. Assim são propostas estruturas para uma montagem mais rápida e mais simples que possam servir àquela população o mais rápido possível, tendo em mente que, em sua grande maioria, essas construções teriam uma vida útil menor. A arquitetura pode também atuar em situações pensando no médio a longo prazo com construções temporárias, pensando em um período de reabilitação, ou permanentes, em períodos de reconstrução, quando é necessária a construção
de moradias ou equipamentos mais robustos com materiais mais resistentes e, consequentemente, com maior vida útil, além dos casos onde o projeto pode vir a ser tornar algo muito importante na infraestrutura da região (DAVIS, 1980). A flexibilidade dos espaços e a possibilidade de articulação dos elementos construtivos também são características importantes, mexendo com a questão programática dos projetos, nos processos construtivos e nos arranjos dos objetos na sua implantação. Outro ponto a ser pensado é a relação dos materiais e das técnicas construtivas locais ou simplificadas com o projeto que será proposto para a região afetada. A utilização dos meios de construir simples, como com a produção e a montagem de kits, ou de alguns já conhecidos pelos habitantes de uma determinada região pode significar o ganho de velocidade e uma maior participação da população nos processos de autoconstrução por conta de evitar a dependência tecnológica na construção e nas futuras manutenções. Isso, no caso dos abrigos nos campos de refugiados sírios, pode fazer com que uma boa parte da população auxilie nos processos, não apenas aqueles com experiência prévia em obras.
A disponibilidade de matéria prima para se trabalhar nas proximidades de um local afetado ajuda a manter estoques e baixos custos de transporte que serão refletidos diretamente no valor das construções. Nesses casos as parcerias com organizações que já estejam participando de projetos de ajuda humanitária
Conjunto de fotografias mostrando abrigos improvisados na região do Vale Bekka Fonte: Diego Ibarra
em uma região e também o aproveitamento de materiais recicláveis são de extrema importância para o processo. Trazendo isso para o Líbano, parcerias com órgãos como a UNHCR, que doa abrigos prontos e cede materiais como lonas e estruturas em madeira para que refugiados possam reforçar suas moradas, e os processos de reciclagem de plástico, que estão até empregando refugiados sírios para o trabalho (UNHCR, 2016), podem ser fontes de algumas matérias primas para um projeto na região estudada.
tipos e casos
A arquitetura emergencial pode gerar diversos tipos de tipologias dependendo de qual emergência, quais suas causas, pelas estratégias escolhidas para enfrentá-la e de um conjunto de variáveis que são apresentadas. Sobre as estratégias ou os modos mais eficazes de atuar no território com os recursos disponíveis, dependendo do dano sofrido pelas edificações do local afetado é possível dar sequência com a ajuda de formas diferentes, como realizando reparos leves nos casos onde as construções tenham ficado quase intactas, iniciando a construção de abrigos e equipamentos temporários quando as construções tenham ficado destruídas, ou até iniciar a reconstrução da cidade logo após um desastre evitando a necessidade de adotar projetos provisórios no local.
O local implantado é um fator importante devido as diferentes topografias, solos e situações em que se encontram as áreas de implantação. E o meio como a região afetada começou a ser construída também afeta na escolha de como será feita a abordagem, com projetos temporários ou a reconstrução das edificações, vendo qual a carência da população, se a cidade era bem ou mal construídas avaliando os danos e as possibilidades de reparos, ou até se as construções começaram em locais mal
situados, com solo inapropriado para esse tipo de edificação.
Para citar alguns tipos de projetos que podem ser propostos, os pensados para o curto prazo são mais comuns. São feitos geralmente utilizando materiais mais leves para facilitar a montagem da estrutura e utilizam sistemas mais simples de fixação, como encaixes ou elementos rosqueáveis. A facilidade no transporte das peças para montagem desta estrutura também é algo levado em conta, pensando que na maioria dos casos esses elementos são fabricados em outros lugares e enviados para onde são necessários, sendo, posteriormente, montados pelos próprios refugiados e/ou por agentes humanitários, sem a presença de mão de obra especializada, quase sempre sem instalações hidráulicas e fazendo uso de instalações elétricas muito simplificadas, quando existentes.
Em muitos casos, os abrigos temporários acabam sendo feitos de forma improvisada, reaproveitando materiais obtidos dos destroços de antigas edificações que vieram abaixo com os eventos passados ou de materiais mais simples, como lonas. Quando feitos dessa forma, acabam não sendo seguros para os moradores devido a instabilidade das estruturas levantadas, além de não terem soluções
Diagrama apresentando os tipos de refúgio. Fonte: Ian Davis
Gráficos com a proporção, por província, de refugiados em cada tipo de abrigo. Fonte: UNHCR, 2020.
Abrigo Better Shelter sendo utilizado em campo em Lesbos, na Grécia.
Fonte: The Guardian
Refugiados sírios recémchegados em Bekka, Líbano, construindo seu abrigo.
Fonte: Andrew McConnell
adequadas para o conforto térmico (lidando com verões quentes e invernos rigorosos em muitos países) ou proteção contra eventos ligados ao clima, como tempestades e enchentes. Com a análise de imagens de satélite e de fotografias é possível ver que esse tipo de abrigo é bem comum entre os refugiados sírios no Líbano que acabam montando com os materiais que conseguem, formando os assentamentos informais que são encontrados por todo o país, mas com algumas maiores concentrações em áreas próximas da fronteira com a Síria. Abrigos ou módulos pré-fabricados também são uma solução para o enfrentamento de emergências. Neles, as peças são produzidas em processos industrializados para uma maior tiragem e são formados pacotes com as unidades inteiras desmontadas. Assim, os módulos pré-fabricados podem ser enviados por organizações de ajuda humanitária com o auxílio de diversos meios de transporte, como caminhões ou até helicópteros, a lugares onde estão oferecendo apoio. Para facilitar o processo de implantação nos territórios onde são necessários, os módulos são montados de forma simples, sem precisar de mão de obra especializadas ou ferramentas pesadas. Isso para que os próprios usuários possam realizar essa montagem em um curto espaço de tempo e já fazer uso do abrigo. Diversas soluções desse tipo são utilizadas e uma delas é o módulo chamado Better Shelter, desenvolvido pela empresa de móveis domésticos IKEA, sendo uma
alternativa rápida para uma situação mais urgente. Quando é pensado no médio a longo prazo, outro tipo de construção passa a ser utilizada. Materiais mais resistentes e duradouros passam a ser utilizados, aliados a estruturas mais robustas que formam equipamentos de apoio à refugiados e à população local, além de habitações na região que podem ficar no local mesmo depois de ter a situação de emergência resolvida, se tornando parte da cidade que está se reerguendo. Esses equipamentos construídos podem ser voltados à saúde com hospitais ou postos de saúde, na educação com escolas e espaços para execução de oficina, lazer com espaços para o brincar das crianças, cultura com espaços de leitura e de incentivo a música e arte, e até produção de alimento com hortas e espaços para cozinhas coletivas.
Interior do abrigo Better Shelter
Fonte: IKEA
Apresentamos aqui um conjunto de exemplos onde a produção da arquitetura emergencial atuou no auxílio de pessoas em situação de emergência pelo mundo:
maidan tent
Este projeto foi feito pelos arquitetos Bonaventura Visconti di Modrone e Leo Battini Oberkamsteiner e tem como alvo os campos de refugiados em Ritsona, na Grécia, sendo um espaço público, coberto e que poderá auxiliar no enfrentamento dos traumas, dos problemas psicológicos que muitos refugiados adquiriram com a guerra, perseguições e a migração forçada. O projeto foi desenvolvido em 2017 com a sua primeira unidade construída em 2018, e as diversas atividades propostas para esse espaço são: um lugar de permanência agradável para mulheres e crianças, um playground seguro para as crianças, um espaço para refeições, para ensinar, para o atendimento médico e psicológico, para orações e ser um ponto de encontro que incentive a interação social. Sobre a construção do projeto, ela foi pensada de forma que sua montagem e desmontagem sejam fáceis e com componentes padronizados para simplificar as manutenções. A estrutura utilizada
é a de alumínio, e ela dá forma aos oito espaços modulares que podem ser adaptados dependendo do uso desejado. O alumínio foi escolhido para que a estrutura fosse mais resistente a água e ventos e a cobertura é feita utilizando um tecido tensionado à prova de fogo que segue a curvatura dos elementos metálicos, formando beirais em todo o entorno do projeto (Maidan Tent, 2017).
Maidan Tent implantado
Fonte: ArchDaily
Maidan Tent no meio de um campo de refugiados
Fonte: ArchDaily
Vista superior com cobertura cortada e diagrama mostrando a ventilação cruzada Fonte: ArchDaily
Detalhe da cobertura
Fonte: ArchDaily
Imagem interna do modelo
Fonte: ArchDaily
pop-up places of worship
Este projeto foi produzido para um concurso chamado Laka Competition em 2016 com o tema “Architecture that Reacts” (Arquitetura que Reage) pelos arquitetos, então estudantes da Yale School of Architecture, Lucas Boyd e Chad Greenlee. A ideia que tiveram foi a de criar um projeto de espaços religiosos (capela, mesquita e sinagoga) que fossem simples de serem construídos, com preços acessíveis e de fácil transporte. Para eles:
Os espaços serão montados com peças leves e enviadas como um pacote para construção que chegarão ao local de implantação junto com um guia de montagem com todas as instruções para o processo. Fazendo o projeto dessa forma, o uso de mão de obra com experiência prévia em construção passa a ser desnecessária e isso permite a inserção de mais unidades de forma simplificada em muitos campos de refugiados (ArchDaily, 2016).
“Embora [os locais de culto] não forneçam uma necessidade básica para a sobrevivência biológica de um indivíduo, eles representam um aspecto fundamental, não apenas da vida de um indivíduo além da utilidade, mas uma identidade dentro do coletivo, um lugar familiar de ser - e isso é algo que consideramos sinônimo de ser humano - um requisito para a persistência da cultura.” (Lucas Boyd e Chad Greenlee, ArchDaily, 2016)
Lucas Boyd e Chad Greenlee, ArchDaily, 2016
Módulo capela implantado em assentamento
Fonte: ArchDaily
Módulo mesquita implantado em um campo de refugiados
Fonte: ArchDaily
Modelo físico do protótipo de mesquita.
Fonte: ArchDaily
Vista interna do módulo sinagoga
Fonte: ArchDaily
Manual de montagem da capela Fonte: ArchDaily
Manual de montagem da sinagona Fonte: ArchDaily
hex house
O projeto foi produzido pelo Architects for Society, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo melhorar o ambiente construído de comunidades desfavorecidas por meio da arquitetura e do design, pensando numa opção de abrigo para refugiados com longa duração após verificarem que a média de permanência em diversos campos é de mais de 10 anos (TRIEU, 2021) e participar de um trabalho com a Chalmers University, na Suécia, para o desenvolvimento de um protótipo de abrigo para os refugiados sírios em um campo na Jordânia. O abrigo apresenta baixo custo, construção sustentável e rápida, podendo ser enviada desmontado para o local onde será implantada. Outro ponto a ser destacado é a forma hexagonal que traz alguns benefícios para o projeto. Pensando na implantação, as unidades podem ser organizadas de diversas maneiras criando espaços internos maiores, mas também dando novas dinâmicas ao exterior com uma flexibilidade maior na questão urbana com diferentes arranjos e a formação de pátios e vias para veículos e pedestres. A estrutura também é influenciada pela forma, se tornando mais estável sem a adição de novas peças. Sobre os elementos do projeto, ele apresenta estrutura metálica em sua base, painéis estruturais insulados para paredes, pisos e cobertura, além de permitir a customização de certos materiais e a instalação
de painéis solares, coleta de águas pluviais, vasos sanitários com peças para compostagem ou coleta de biogás. A respeito da base da Hex House, ela faz uso de peças de apoio metálicas posicionadas diretamente no solo. Essas peças elevam a construção do solo, evitando alguns problemas, como a entrada de água da chuva ou infiltrações, caso o piso fosse apoiado diretamente no solo (HEX HOUSE, 2022).
União de mais módulos formando uma unidade maior.
Fonte: Dezzen
Módulos formando um assentamento.
Fonte: Hex House
Modelo explodido na casa Fonte: Dezzen
Planta da Hex House
Fonte: Dezzen
Corte da Hex House
Fonte: Dezzen
questões tecnológicas
A respeito das questões tecnológicas ligadas à arquitetura emergencial, diversas técnicas e materiais são utilizados, conforme explicado anteriormente. Um abrigo instalado de forma urgente apresenta diferenças no processo de conceituação, como na abordagem com o usuário final, o agregar de fatores sociais no desenvolvimento da proposta, na fabricação e implantação do que um equipamento a ser instalado de forma permanente em uma região, demandando até maquinários especializados para a construção de certos elementos. No caso da montagem/construção de projetos para o socorro imediato, vários elementos devem ser planejados, como já comentado, pensando na otimização, facilidade de transporte, simplificação da montagem e custo relativamente baixo do conjunto para poder fazer a produção em escalas maiores, atingindo um número grande de pessoas.
1 - Estrutura: Em projetos dessa natureza é mais comum a utilização de um sistema que use peças mais esbeltas ou com um peso menor, aliado em muitos casos a técnicas com cabos tensionados, como aplicado no projeto proposto neste trabalho. Esse tipo de estrutura acaba sendo mais adequado para todo o processo de montagem simples e rápida e pode ser feita com materiais como madeira, bambu, metálicos ou até de papelão, desde que o material
seja leve, mas continue apresentando a performance estrutural esperada para esse tipo de obra.
As conexões entre as peças precisam ser seguras e simples para que possam ser encaixadas, rosqueadas ou presas sem a utilização de ferramentas complexas ou necessidade de uso de materiais para fixação como colas com tempo grande de cura ou adesivos específicos para construção. Isso deixa todo o processo mais acessível e permite que a própria população local possa montá-la sem especialistas dando o auxílio.
2 - Base: Este é outro elemento importantíssimo que acaba passando por uma adequação dependendo de cada tipo de projeto e do solo do local onde será implantado, fazendo uso de fundações mais simples ou apoios sobre o solo. Abrigos mais simples acabam tendo sua estrutura fixada diretamente no solo e não fazem uso de qualquer tipo de fundação profunda, evitando atrasos na implantação por conta das perfuração na terra, mas deixando o conjunto mais frágil e desprotegido contra tempestades ou ventos quando o evento começa a se tornar mais agressivo. Aumentando um pouco a complexidade da construção é possível fazer alguns tipos de bases com apoios mais sofisticados ou até com formas e materiais improvisados, como fazer o uso de caixotes e engradados de bebidas
Estrutura de tubos de papelão e base feita com engradados para o projeto Paper Log House, feito por Shigeru Ban Fonte: Roca Gallery
Conexões entre a estrutura da Paper Log House para montagem da cobertura.
Fonte: Divisare
Abrigo para vítimas do terremoto no Nepal, em 2015, feitos pelos arquitetos Charles Lai e Takehiko Suzuki. A construção utiliza estruturas de bambou para fixar e soltar ela do solo Fonte: Divisare
como base mais sólidas, ou com a utilização de blocos de concreto ou suportes metálicos que permitam a adaptação a um terreno irregular. Com essas bases é feita a elevação da estrutura, elevando ela do solo, tornando independente do local de implantação, evitando a entrada de água no caso de fortes chuvas ou inundações e auxiliando no combate a proliferação de doenças.
3 - Fechamentos: Eles podem ser feitos utilizando materiais diversos, desde elementos mais rígidos, como compensados de madeira, ou mais maleáveis, como lonas resistentes. O importante é que sejam leves, não só para montagem, mas também para não sobrecarregar a estrutura, e que tenham um custo mais acessível para maior produção e reposição mais fácil no caso de avarias com as intempéries. A fixação desses elementos deve ser rápida, tanto pensando na montagem, quanto na desmontagem, e podem utilizar de materiais encontrados no local, caso ofereçam um bom desempenho, como o uso de palha, folhas e outras fibras encontradas na vegetação local. Pensando nas questões que envolvem o clima, como temperaturas muito baixas, soluções de fechamentos laterais em camadas podem ser adotadas. Isso possiblita a utilização de materiais isolantes entre as camadas ou mesmo um espaço para o ar, que também auxilia
4 - Aberturas: Pensando no uso da iluminação natural em obras desse tipo, a utilização de fechamentos com materiais alternativos, como vinil,
ráfia ou até plástico bolha pode ser uma alternativa. Apesar deles não demonstrarem grande resistência, eles são baratos e de fácil reposição no caso de avarias.
Já no caso de um projeto pensado para os próximos períodos, os de reabilitação e depois os de reconstrução, é possível utilizar materiais mais robustos, resistentes e duradouros, cogitando que essa obra possa ficar implantada de forma permanente na região. A estrutura pode fazer uso de materiais como a madeira ou aço, deixando-a mais resistente com a utilização de peças mais robustas ou com maior número de apoios. Assim ela pode passar a precisar de um processo de montagem mais complexo e que necessite ferramentas mais específicas e mão de obra que já possua experiência prévia com construção. A fundação pode continuar sendo rasa, com peças maiores e / ou mais pesadas, ou começar a fazer algumas perfurações para ter apoios mais profundos, estabilizando o projeto que passa a ter, na maioria dos casos, uma escala maior e, consequentemente, um peso maior. As peças que formam os apoios para o projeto podem ser articuladas, permitindo a implantação em terrenos diversos, com topografias acidentadas, próximos de cursos d’água, como é o caso do local de intervenção da ação proposta, e em locais planos. Além disso, os apoios aliados à estrutura mais resistente permitem que vãos maiores comecem a aparecer nos projetos.
Para os fechamentos é possível utilizar para as partes externas painéis mais robustos ou até
alvenaria, no caso das obras para reconstrução do local. Com essas vedações mais elaboradas podese discutir mais alternativas para o conforto térmico no seu interior, como uso de materiais isolantes mais tradicionais ou também a utilização de elementos reciclados, como o PolyFloss. Esse produto está sendo desenvolvido pelo projeto Waste for Warmth, onde reciclam os resíduos plásticos encontrados em campos de refugiados para transformá-los em um material na forma de fios que pode ser usado como isolamento. O PolyFloss é colocado dentro de bolsões que são colocados dentro dos abrigos, juntos aos fechamentos laterais (sobre eles ou entre eles), controlando melhor a temperatura no interior (Waste for Warmth, 2021). Esse projeto pode ser muito bem aproveitado no caso dos refugiados sírios que estão vivendo no Líbano e passando por dificuldade nos invernos rigorosos, não só pela performance térmica do material, mas também pelo fato de muitos estarem começando a trabalhar com a coleta seletiva de plástico no país, o que pode auxiliar no projeto com a questão de acesso ao material nos assentamentos.
Outros materiais mais rígidos, como o policarbonato e o vidro podem ser utilizados para a entrada de luz natural e criar novas vistas para os refugiados que estiverem usufruindo dos projetos.
PolyFloss, material gerado a partir do plástico reciclado.
Fonte: Field Ready
Material pode ser utilizado como enchimento para isolamento térmico
Fonte: Field Ready
transição
Na arquitetura emergencial, o conceito de transitoriedade é um excelente recurso para alguns projetos, quando estes podem ser pensados para prazos maiores ou para possíveis expansões em projetos menores, como em abrigos familiares. Essa característica apresenta um certo equilíbrio entre o tempo de implantação e o processo para passar a ser algo de caráter mais permanente na região, fazendo com que todo o projeto esteja sempre em evolução. Algumas estratégias para lidar com a progresso de uma arquitetura de transição em situações de emergência podem ser: a melhoria da estrutura, que antes era mais temporária, para se tornar uma edificação permanente; a reutilização desta estrutura para outra função, podendo ser até aproveitada em outro lugar; a realocação do equipamento temporário para um local onde ficará de forma permanente, seja ambiente externo ou interno; a venda desta estrutura como um conjunto ou até mesmo das suas peças separadas para arrecadação de capital que será reinvestido na ajuda humanitária; ou também a passagem por um processo de reciclagem das peças, como metais ou vidros, para utilização na construção de outras obras.
Um ponto bom da arquitetura de transição no caso de emergências é que ela seguirá o ritmo das
pessoas que estão utilizando daquele equipamento, evitando uma evolução forçada que pode acabar prejudicando aquelas pessoas e a própria região. O processo pode dar suporte para pessoas que estão refugiadas, mas também da população local, assim tendo processos transitórios de formação de assentamentos ou de reconstrução de uma cidade. Assim, o processo avança em ambos no ritmo adequado, controlando os custos e fazendo um caminho de incremento gradual dessas construções (Shelter Centre, 2012).
Alguns exemplos de processos de transição que podem acontecer em situações de emergência são:
Abrigos temporários evoluindo para habitações permanentes
Equipamentos temporários evoluindo para infraestrutura permanente da região Módulos temporários se tornando ambientes internos de espaços permanentes Neste trabalho, a ação arquitetônica proposta faz o uso do recurso da transição trabalhando com dois tipos diferentes de equipamentos: o primeiro para uma implantação mais urgente e transitória, e o segundo que é implantado no território de forma permanente, se tornando parte da infraestrutura local.
A transição vai acontecer não apenas na passagem de um equipamento temporário para um permanente, mas também com a reutilização de peças do primeiro para montagem de elementos no segundo.
Processo de transição em relação aos custos.
Fonte: Shelter Centre.
Tradução: Marcelo Baydoun
Assentamento informal de refugiados sírios na região do Vale Bekaa
Fonte: Diego IbarraMesquita de Al-Aqsa em Jerusalém Fonte: Zamzam
ARQUITETURA ISLÂMICA
A arquitetura islâmica teve seu início a séculos atrás com a sua origem baseada na materialização física dos princípios do Islã. Com o passar dos anos ela foi absorvendo traços estilísticos e outras influências de diversos povos que eram conquistados pelos muçulmanos por volta dos séculos VII e VIII, como os romanos, bizantinos, persas, entre outros, se adaptando, mas ainda mantendo a sua essência e as limitações que eram impostas pela religião, como as restrições para representações de imagens nas construções.
Ela foi se espalhando pelo Oriente Médio e, posteriormente, para outros países da África, Ásia e Europa. É possível ver obras da arquitetura islâmica em todos os cantos do mundo e ela mantém atualmente muitos dos elementos e conceitos incorporados neste estilo no milênio passado. Ela é mais associada com as mesquitas, que é o local de culto para os seguidores da fé islâmica, como a Mesquita Al-Aqsa construída em Jerusalém no século VII e depois reconstruída no século XI por conta de um sismo que destruiu a edificação. Novas construções podem ser vistas, apresentando soluções construtivas modernas e ainda seguindo certas características das obras mais antigas, como é visto na Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash projetada pelo escritório
Dabbagh Architects em 2021. Mas esta arquitetura não se limita a edificações religiosas, ao longo dos anos ela esteve presente em fortes, palácios, tumbas, escolas e mesmo em construções menores, como fontes e banhos públicos.
Por estar muito presente no cotidiano da sociedade em países árabes, a arquitetura islâmica acaba tendo uma grande importância por estar muito relacionada à religião muçulmana, à cultura de vários povos conquistados que foram englobadas na cultura árabe, à história de um povo com todos os seus costumes e tradições sendo mantidos até hoje, tudo isso fazendo com que ela se tornasse um símbolo da cultura islâmica (COLE, 2011).
No Líbano e na Síria a arquitetura islâmica tem uma presença notável, pois em ambos ela esteve presente no seu momento inicial e também nos séculos seguintes com influências de outros povos. Mesquitas e fortes podem ser vistos juntos de templos romanos que influenciaram posteriormente o próprio estilo islâmico. Na Síria algumas edificações importantes foram construídas no século VII e se mantiveram com os mesmo usos até recentemente, como foi o caso da Grande Mesquita de Aleppo que é situada dentro de uma Área Patrimônio Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura). Infelizmente, a mesquita acabou sendo destruída durante a atual Guerra Civil Síria, quando foi utilizada como um campo de batalha, e agora passa por um processo de restauração. Esse é apenas um dos casos que ilustram como a história do povo sírio, os seus marcos e seus símbolos, acabaram destruídos e perdidos por conta dos confrontos. A arquitetura islâmica pode surgir para essa população como uma lembrança do que sua terra natal já foi antes de toda destruição e também uma esperança de reconstrução e de volta à tradição e aos costumes daquele local.
A arquitetura islâmica apresenta diversas características, como o uso de cúpulas em templos religiosos islâmicos, abóbodas e arcos. Mas algumas outras acabam tendo uma relação maior com a arquitetura emergencial, que pode adotar soluções e realizar a adaptação de elementos nos projetos que são aplicados em situações de crises. Um dos principais pontos encontrados nesse estilo que pode ser relacionado à produção da arquitetura emergencial é a questão do desenho geométrico dentro do raciocínio de projeto. Por conta das restrições com o uso de arte figurativa, a geometria se fazia muito presente nos projetos, desde as plantas, cortes e elevações com a configuração dos ambientes, até nos detalhes com ornamentos em pisos, paredes e tetos utilizando os arabescos, formas complexas compostas por diferentes formas geométricas mais simples, linhas e cores. muitas vezes trabalhadas com a simetria em mente. Desta forma, a arquitetura pode utilizar o
pensamento geométrico para produção de abrigos e outras estruturas para uso dos refugiados com formas mais simples e peças que formam combinações mais complexas, todas baseadas nos desenhos base e noções matemáticas, auxiliando na produção dessas peças e na futura montagem. Outras características vistas nas construções que podem ser relacionadas à produção aplicada em situações extremas é o uso de elementos vazados, chamados de muxarabis, que permitem a ventilação natural dos ambientes, além da entrada de luz no interior, variando na intensidade com mudanças nas tramas ou espessura do elemento. Além disso, ele atribui privacidade ao local onde é aplicado ao bloquear parte da visão do ambiente interno (CALAZANS; SOUZA). Pensando no clima quente e seco no Líbano, principalmente na região foco deste estudo, a utilização desse tipo de elemento ou de estratégias que usem do mesmo conceito de painéis vazados acaba sendo bem aproveitada em projetos como os aplicados em situações de emergência. Isso por conta de melhorarem o conforto térmico e lumínico, mas também de ser um método passivo, sem a utilização de energia elétrica para funcionar. Outro ponto encontrado em obras da arquitetura islâmica é a presença de pátios internos que pode ter o conceito relacionado com a organização de abrigos ou módulos nos assentamentos de refugiados, formando naquele local espaços para a convivência, para o encontro, trazendo a ideia, que será trabalhada posteriormente, de ter o vazio como uma potência no território.
Grande Mesquita de Aleppo após os confronto onde foi utilizada como campo de batalha
Fonte: ArchDaily
Fachada da Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash
Fonte: Gerry O’Leary
Detalhe dos ornamentos nas paredes internas e elementos vazados no Palácio de Comares em Alhambra, Espanha (2017).
Fonte: Marcelo Baydoun.
Detalhe dos ornamentos nas paredes internas e elementos vazados no Palácio de Comares em Alhambra, Espanha (2017).
Fonte: Marcelo Baydoun.
Detalhe dos ornamentos nas paredes internas e elementos vazados no Palácio de Comares em Alhambra, Espanha (2017).
Fonte: Marcelo Baydoun.
Com tudo isso, a proximidade que a população passa a ter com um equipamento que foi construído pode se tornar mais comum às pessoas que ali já habitavam, favorecendo na utilização do mesmo pelas famílias. Para as crianças isso pode, muitas vezes, se tornar um atrativo para que utilizem daquele espaço e mais um motivo para não terem medo ou receio de utilizar algo novo que será implantado próximo da região onde moram. Apesar de poder auxiliar no desenvolvimento dos projetos de arquitetura emergencial, poucas dessas características podem ser vistas no que está sendo produzido hoje. A maioria faz o uso do desenho geométrico pensando na simplificação e facilidade na produção das peças de um equipamento temporário ou na modulação de um estrutura, mas outros pontos como as soluções encontradas para o conforto térmico e para o uso de iluminação natural também trazem benefícios na performance das propostas arquitetônicas. Além disso, a proximidade que acaba trazendo para o lado dos costumes, do social e do religioso, remetendo a elementos tradicionais da cultura islâmica, afeta de forma positiva no bem-estar pretendido pelas ações projetuais produzidas para atuar com os refugiados sírios..
Detalhes do interior do Palácio de Comares em Alhambra, Espanha (2017).
Fonte: Marcelo Baydoun.
Detalhe dos ornamentos no teto utilizando a geometria em Alhambra, Espanha (2017).
Fonte: Marcelo Baydoun.
Espaço Indefinido / O Vazio
Crianças se apropriando de um espaço para práticas de atividades, como brincar.
Fonte: CatalyticAction.
ESPAÇO INDEFINIDO / O VAZIO
Os espaços indefinidos ou os vazios têm na arquitetura um papel importante, um protagonismo, em relação aos elementos construídos. Eles possuem a capacidade de moldar um território e realizar grandes transformações no mesmo e nas dinâmicas que ali acontecem, como as noções de referenciais, as questões de mobilidade, na forma de morar e na interação entre os indivíduos que usufruem daquele espaço. A arquitetura, por meio da experiência dos usuários, prova não ser apenas algo visual, plástico e escultórico, mas sim um conjunto que engloba aspectos estéticos, funcionais, como toda a discussão sobre os espaços contidos ou determinados por aquela construção, e principalmente o que é vivido ali. Esse conceito faz uma relação com o que foi apresentado no capítulo anterior a respeito da arquitetura islâmica, com as percepções culturais de uma sociedade afetando diretamente na utilização do espaço e nas relações dos usuários com o vazio criado.
As experiências pelas quais as pessoas ali passam, as memórias criadas sobre momentos importantes em suas vidas ou mesmo de cenas do cotidiano, os valores que certos elementos ou o próprio ambiente trazem para aqueles que se apropriam daquele local de alguma forma. Isso é o que torna o espaço em uma verdadeira potência e a arquitetura
em algo belo e que nos atrai, ideia reforçada pela fala do arquiteto, urbanista e escritor italiano Bruno Zevi no seu livro Saber Ver a Arquitetura (2009) onde discute as relações e representações do espaço, além das interpretações da arquitetura.
“Se pensarmos um pouco a respeito, o fato de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, porque a arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.”
ZEVI, 2009, p.28
Mais um produção arquitetônica que lida com os vazios como parte importante do espaço é a feita pelo escritório português Aires Mateus, mais especificamente na instalação chamada “Voids”, produzida para a Bienal de Veneza de 2010. Nela os arquitetos buscaram explorar uma metodologia arquitetônica e trazer o vazio para discussão como uma possibilidade de desenvolvimento, um ponto de partida e de organização espacial em projetos. A instalação foi constituída de modelos físicos brancos iluminados em uma sala escura, permitindo a análise dos vazios criados além da questão plástica.
relações do ser com o vazio e percepções culturais
“O espaço é um vazio, um bolso de ar que deve ser contido para definir um limite. Essa precisão coincide com uma existência indispensável em torno dela, que confere identidade. Projetar espaços é projetar as possibilidades de vida, com limites se tornando materiais. O espaço é definido pela forma, textura, temperatura de cor, cheiro, luz. Também como um vazio, um processo mental de controle sobre a construção onde o espaço está no centro: adicionando subtração, construção de escavação. Ela muda o centro da experiência da forma para a vida. Na vanguarda, o espaço: quase autônomo, quase absoluto.” Aires Mateus arquitectos, VOIDS, Biennale di Venezia 2010.
cheio de expectativas de forte memória urbana, um novo cenário para experiências cotidianas e para ser aproveitado pelos que ali passam, um espaço para um futuro, para uma continuidade. Esses conceitos acabam sendo escolhidos para trabalhar o espaço e o vazio tomando parte da compreensão que o desenvolvimento deste trabalho levou a respeito do território eleito para o projeto.
Outro autor que discute a questão do vazio dos espaços subutilizados e sua relação com a cidade e a sociedade é o arquiteto, historiador e filósofo catalão Ignasi de Solà-Morales que produziu um texto para o livro Anyplace (1995) chamado “Terrain Vague”, onde argumenta sobre esses pontos, suas consequências negativas para cidade e possibilidade de conversão desses terrenos em algo benéfico. Terrenos vazios ou áreas que ficam abandonadas em projetos, ficando sem uso, sem atividades, sendo de difícil compreensão na percepção coletiva dos cidadãos no tecido urbano, se tornando locais inabitados e inseguros. Pontos que podem ser vistos como uma área disponível, um potencial, um lugar
“Hoje, a intervenção na cidade existente, nos espaços residuais, nos interstícios dobrados não pode mais ser nem confortável nem eficaz à maneira postulada pelo modelo eficiente da iluminada tradição do movimento moderno. Como a arquitetura pode atuar no terreno vago sem se tornar um instrumento agressivo de poder e razão abstrata? Sem dúvida, pela atenção à continuidade: não a continuidade da cidade planejada, eficiente e legitimada, mas dos fluxos, da energia, dos ritmos estabelecidos pela passagem do tempo e pela perda de limites.”
SOLÀ-MORALES, 1995
Pensando nos espaços indefinidos que são criados por um projeto ou por uma série de construções, para que eles façam sentido em todo o contexto urbano se tornando locais de referências para o entorno e para a população que ali habita, esses vazios não podem ser criados ou explorados de forma genérica ou isolado do complexo aglomerado que forma a região ou o assentamento. pois assim não é possível fazer com que ele adquira certa consistência e passe a mexer com as
Desenhos para análise de cheios e vazios nos projetos do escritório português Aires Mateus.
Fonte: Architecturality
Modelo físico com a subtração do projeto para estudo do vazio para instalação Voids, de Aires Mateus
Fonte: Appleton Blog
Modelo físico com a subtração do projeto para estudo do vazio para instalação Voids, de Aires Mateus
Fonte: Appleton Blog
Modelo físico com a subtração do projeto para estudo do vazio para instalação Voids, de Aires Mateus
Fonte: Appleton Blog
experiências e memórias daquele lugar. Experiências essas que vão envolver as questões do referencial simbólico em uma região guiando a população para novos equipamentos, percursos ou espaços para apropriação, do cuidado e proteção nas situações de risco ou desastres. Tudo isso gera a reunião de indivíduos que podem ser atraídos pela presença de outros, tornando essas porções do território, vistas por alguns como “um simples vazio”, em espaços de convivência, fortalecendo os sentimentos e os laços dos usuários entre si e para com o lugar, abrindo novas oportunidades para o diálogo e para a hospitalidade, no caso daqueles que chegam a uma nova localidade. É possível observar esse tema do vazio como uma potência na arquitetura sendo abordado em cenários diversos. Em espaços denominados dessa forma pela simples ausência de matéria ou que criam uma forma, um recinto delimitado. Pela relação entre volumes novos entre si em um lote ou seu vínculo com uma preexistência, deixando espaços residuais, sem uso, a serem aproveitados. Vazios utilizados para organização do espaço, seja interno ou externo, ou para criar vistas e trabalhar a ambiência do local. No caso de um assentamento, como os em que refugiados constroem seus abrigos, o aproveitamento do uso do vazio pode acontecer desde a escala do módulo, de um equipamento e a organização de seu espaço interno, com a criação de espaços de uso indefinido para que as famílias possam se apropriar do local para suas atividades do cotidiano. Ou pode
ser na escala do arranjo dos módulos com a criação de pátios, espaços contidos pelas construções, que serão ocupados para práticas mais simples como a própria reunião de pessoas, até o uso do espaço para eventos importantes.
As percepções das culturas locais, principalmente neste trabalho, são essenciais para a construção de um espaço que permita a vivência, permita o movimento e a interação entre as pessoas. Essas percepções auxiliam a tornar o vazio uma potência no local, pois só com o estudo mais aprofundado dos costumes, atividades cotidianas, eventos e outros fatores ligados à cultura, tanto das famílias que estão chegando a um novo lugar quanto das que ali já habitam, é possível propor esses espaços. Espaços que podem servir como pontos para o diálogo entre os refugiados e a população local. Assim, um pátio próximo de um equipamento de uso cultural ou educacional pode em certo momento ser utilizado para comemorar uma festividade de um povo, atraindo outro para conhecer melhor os costumes e participar daquilo. Ou um espaço residual entre volumes que pode se tornar um local para o brincar das crianças que começam a aprender mais sobre a cultura do próximo. Para fortalecer essa ideia, conceitos apresentados por dois autores são analisados.
Espaços residuais. Autoria: Marcelo Baydoun.
O primeiro autor é o arquiteto, urbanista e filósofo francês Paul Virilio que apresenta alguns conceitos em seu livro “O Espaço Crítico”, de 2014. Segundo o autor, é possível levantar associações entre áreas onde ocorreram implementações de ações projetuais com uma “membrana osmótica”, sendo ambas superfícies sem limites definidos onde as pessoas podem ter contato umas com as outras tornando os espaços, antes remanescentes, em locais para ocupação, gerando trocas para o bom caminhar da sociedade local e o entorno. Assim, o processo de implantação de projetos, a localização de cada ponto e o meio como o sistema vai funcionar são fatores agregadores para a ideia de uma maior participação dos indivíduos em discussões e atividades, transformando os vazios, e também fazendo uma conexão com as ideias discutidas por Marion Segaud (2016) de apropriação do espaço e atribuição de qualidades ao território, apresentadas anteriormente no trabalho.
A área trabalhada na ação projetual desta pesquisa fica na região apresentada anteriormente de Deir Zenoun e consiste em uma região onde o assentamento informal de refugiados foi crescendo, mas com pouco ou nenhuma interação com a cidade que já existia, como se houvesse uma fronteira imaterial que barrasse essas relações de troca entre os indivíduos. Trazendo os conceitos expostos por Virilio (2014) para esse território, a ação arquitetônica proposta trabalha com a implantação de módulos em locais específicos e em arranjos que delimitam espaços de uso indefinido para que sirvam como “membranas” para a ocupação. O segundo autor é o filósofo e professor italiano Massimo Cacciari que mostra uma discussão sobre a relação entre a polis grega e a civitas romana no seu livro “A Cidade” de 2010. Essa relação referida, principalmente a segunda, é comparada na pesquisa com a formação de assentamentos, como os estudados, em diversos locais onde a
mesma se dá pela chegada de pessoas buscando refúgio e que não possuem qualquer relação com a população que já habita na região, e a consequente formação de um território onde ambos os grupos irão conviver se dá depois do encontro de ambas as partes na mesma localidade. Com a formação do novo espaço é necessário trabalhar os vazios de forma que se tornem lugares atrativos e referenciais tanto para os refugiados quanto para a população local e, assim, buscar o chamado “delírio”, o ato de “borrar” as fronteiras, para um melhor relacionamento entre os povos em um local. Para fazer isso na região estudada, é proposta pela ação arquitetônica a utilização de áreas vazias ou subutilizadas localizadas nas porções do território que agem como uma zona de transição entre a sociedade local e o assentamento de refugiados. Nelas são implantados módulos com programas que sejam atrativos para ambos, como equipamentos culturais, educacionais ou de saúde, e são criados espaços para a apropriação, como pátios conformados pelo arranjo dos módulos ou pelo posicionamento dos equipamentos. Assim, a ação proposta passa a incentivar a interação entre as pessoas que habitam na região e a “borrar” as barreiras imateriais que existem nos assentamentos.
projetos de referência
vazio criado no arranjo de unidades
Este é um projeto feito pelo arquiteto italiano Bonaventura Visconti di Mondrone em 2015 na comuna de Anse-à-Pitres, Haiti. É um conjunto de habitações para crianças órfãs construído a pedido de uma organização não governamental. A construção foi feita pensando em fortalecer nos jovens o sentimento de convivência, de acolhimento, de se sentir novamente parte de uma família (EFFA, 2020). Para isso, além dos espaços construídos para o dormir e a prática de algumas atividades, como o estudar, o vazio criado pelo posicionamento afastado entre os blocos se torna muito importante. A cobertura do conjunto é construída como um elemento único que recobre todo o conjunto formado pelos três blocos de dormitórios, dando uma unidade ao todo e não o deixando como um aglomerado solto de volumes. Sendo assim, o espaço criado entre os dormitórios que, em um primeiro momento pode não ter um único uso definido, passa a ser o espaço de convívio e interação entre as crianças, o seu espaço de reunião.
Espaço criado entre.os blocos sendo utilizado pelos jovens.
Fonte: ArchDaily
Cobertura dando a unidade ao todo
Fonte: ArchDaily
Conjunto Habitacional Ti Kay Là
Fonte: ArchDaily
Conjunto Habitacional Ti Kay Là Fonte: ArchDaily
espaços indefinidos e relações interno / externo
Este projeto do escritório C+A, feito pela dupla de arquitetos japoneses Kazuhiro Kojima e Kazuko Akamatsu, foi construído em 2011 na província de Kumamoto, Japão. Trata-se de uma escola chamada UTO e a proposta foi a de ter espaços para as atividades das crianças sempre próximas do verde (). Assim, foram utilizadas paredes internas em forma de L para criar espaços complexos e interessantes no interior sem que a atividade exercida naquele local fosse única, podendo ser adaptado para outros usos para ir contra a lógica rígida dos ambientes de escolas públicas no Japão. Os recintos criados por essas estruturas são conectados com as circulações sem a presença de portas para integrar melhor os dois, eliminando esse elemento tão comum que acabaria atuando como uma barreira. A criação de pátios na área externa do projeto dá às crianças lugares para se apropriarem, seja estudando, brincando ou como ponto de encontro para se reunir com seus colegas.
Pátios criados pela escola permitem a apropriação por parte das crianças na prática de diversas atividades, como o brincar
Fonte: UrbanNext
Salas de aula tendo uma forte relação com o exterior, com o verde, e diagrama apresentando as relações com o espaço utilizando as estruturas propostas para escola Fonte: UrbanNext
Salas de aula abertas para que relações de troca sejam mais forte e a adaptação do espaço para diversos usos seja possível.
Fonte: UrbanNext
Pátio com ligação direta para as salas de aula.
Fonte: UrbanNext
vazio criado no arranjo de unidades
Este projeto é obra do escritório americano MASS Design Group que produziu um centro para apoio à gestantes no Malawi e possui como proposta trabalhar com espaços monitorados para aumentar o acesso de gestantes a profissionais qualificados e instalações de saúde. A implantação foi feita com uma série de blocos pequenos posicionados no terreno de forma a se criar pátios, áreas abertas, espaços a serem compartilhados para a prática de atividades e aprendizado. Estratégias passivas para o conforto térmico, como ventilação natural e a escolha de certos materiais para construção, estão aliadas à iluminação natural. Tudo isso para facilitar a implantação, por conta de menores instalações sendo necessárias e redução de custos. Assim, o projeto pode ser expandido e adaptado em outros locais de maneira mais simples. Outro ponto que impactou a questão construtiva foi a utilização de elementos vernaculares dos vilarejos do Malawi (ABDEL, 2020).
Implantação apresentando os vazios criados pelo arranjo dos blocos que formam o projeto e imagem desses pátios sendo utilizados pela população local.
Fonte: MASS Design Group.
Pátios sendo utilizados pela população local.
Fonte: MASS Design Group.
Vista aérea do Centro para Gestantes em Kasungu.
Fonte: MASS Design Group.
espaço indefinido / vazio contido
Projeto feito pelo arquiteto bengalês Rizvi Hassan na região de Teknaf, Bangladesh, em 2019. A construção é um espaço feito para as mulheres e meninas refugiadas da etnia Rohingya que ficam em situação vulnerável no local onde estão morando, sofrendo diversos tipos de violência e essa obra acabou se tornando um meio para elas se isolarem desses problemas para fazer atividades simples do cotidiano, como tomar banho, estudar ou amamentar seus filhos. Foram utilizados materiais fáceis de serem encontrados na região e formam um volume e um desenho que buscam fazer a construção se camuflar na paisagem. Um pátio interno foi proposto conectando todos os ambientes do projeto e pode ser utilizado da forma que preferirem, como um espaço de convivência, de manifestação cultural, de estudo ou até de descanso.
Pátio criado para apropriação por parte das mulheres e meninas refugiadas.
Fonte: ArchDaily
Implantação apresentando a organização do espaço e vista externa mostrando como a obra se camulfla na paisagem.
Fonte: ArchDaily.
Ambientes cobertos podem ser utilizados de diversas formas, assim com o pátio que faz ligação direta com o ambiente. Fonte: ArchDaily.
Pátio central.
Fonte: ArchDaily.
Vista aérea do pátio no espaço seguro para mulheres e meninas em Bangladesh.
Fonte: ArchDaily.
AÇÃO ARQUITETÔNICA
informações gerais
Após a pesquisa sobre a situação de emergência em que os refugiados sírios no Líbano se encontram, foi possível fazer uma seleção com alguns deles para a formação da base sobre a qual o trabalho se debruçou para produção de uma proposta projetual. São eles Informações importantes que serão explicadas a seguir e auxiliaram na análise das necessidades, definição de programas, escolha do local de intervenção, abrangência da ação arquitetônica e na participação da população nas fases de desenvolvimento.
Retomando dados apresentados anteriormente, o número de refugiados que permanecem no Líbano em 2022 continua sendo muito grande em relação ao tamanho da população do país e a concentração de aproximadamente 17% dessas famílias na região do distrito de Zahle, por conta da proximidade da região com uma das principais fronteira de entrada dos refugiados no país (UNHCR, 2022), influenciou muito na escolha do lugar onde o trabalho focou .
Para pensar nos temas que o projeto aborda, foi estudado por meio de conceitos uma relação entre ações/verbos e os tópicos onde poderiam ser abordados. Aliando esse exercício com as análises desenvolvidas foram selecionados quatro temas
principais: cultura, trabalhando a memória do local; habitação, tanto para o momento urgente quanto para o futuro; saúde e educação. Com temas definidos, os programas passaram a ser discutidos e, para isso, levantamentos foram feitos. No primeiro momento foi notada a presença de um número grande de refugiados com idade entre 0 e 17 anos, correspondendo a mais de 50% das pessoas nessa situação, demandando um olhar mais cauteloso à vivência dessas crianças e adolescentes no país. Com isso foi possível observar diversos problemas de saúde crônicos presentes, tanto físicos quanto psicológicos, que afetaram as estratégias utilizadas neste projeto. Ainda na discussão sobre os jovens, a educação também foi abalada com toda a crise, resultando em muitos jovens abandonando o estudo por tempo indeterminado. Os motivos para esse abandono são diversos, desde a falta de dinheiro para compra de materiais ou gastos com transporte, até dificuldades no aprendizado que foram agravadas pelas condições de saúde.
Diagrama de ações e tópicos Autoria: Marcelo Baydoun
IDADE
3 a 5 anos (78%)
RAZÕES PARA NÃO ESTAR MATRICULADO EM ESCOLAS
GASTO COM MATERIAIS
GASTOS COM TRANSPORTE
6 a 14 anos (8%)
15 a 17 anos (0%)
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
3 a 5 anos (2%) 3 a 5 anos (0%)
6 a 14 anos (12%) 6 a 14 anos (5%)
15 a 17 anos (3%) 15 a 17 anos (20%)
3 a 5 anos (11%) 3 a 5 anos (0%)
15 a 17 anos (21%)
TRABALHO
15 a 17 anos (5%)
DIFICULDADES DE APRENDIZADO
15 a 17 anos (16%)
DIFICULDADES COM CURRÍCULO
3 a 5 anos (0%)
6 a 14 anos (30%) 6 a 14 anos (25%) 6 a 14 anos (3%)
6 a 14 anos (4%)
15 a 17 anos (8%)
CASAMENTO
3 a 5 anos (7%) 3 a 5 anos (0%)
6 a 14 anos (0%)
15 a 17 anos (10%)
Razões para crianças refugiadas sírias abandonarem os estudos Fonte: UNHCR. Imagem: Marcelo Baydoun.
COM 2 A 4 ANOS
Andar (3%)
PROBLEMAS ENFRENTADOS ACIMA DE 5 ANOS
Ansiedade (33%)
Comunicação (2%) Depressão (26%)
Pegar objetos pequenos (2%) Visão (7%)
Movimento Parte Supeior do Corpo (4%)
Andar (3%)
Audição (3%)
Problemas enfrentados pelas crianças refugiadas sírias Fonte: UNHCR. Imagem: Marcelo Baydoun.
Os problemas de saúde não ficam limitados aos mais novos e atingem os refugiados de todas as idades. Os feridos e os doentes que chegam ao Líbano muitas vezes não possuem meios de buscar tratamento, seja por questão financeira, de deslocamento ou mesmo de disponibilidade de leitos. As gestantes e as mulheres que acabaram de ter seus filhos passam, na questão da saúde delas e de seus bebês, por diversas dificuldades morando em assentamentos informais (UNHCR, 2021). Obstáculos na hora de realizar consultas, partos de emergência ou mesmo espaço mais privativo para o amamentar são comuns em assentamentos desse tipo e foram levados em conta nas decisões projetuais.
Assim, o local de intervenção escolhido para este trabalho se trata de um assentamento informal de refugiados localizado em Deir Zenoun, no distrito de Zahle, distrito esse que recebeu um fluxo de famílias sírias chegando desde o início dos conflitos em 2011
e que encerrou em 2021 com aproximadamente 150.000 refugiados abrigados. É uma área de aproximadamente 120.000 m² cortada pelo Rio Litani, um grande curso d’água que abastece a região do Vale Bekaa e foi utilizado por anos como fonte de irrigação, mas que se encontra atualmente muito poluído (BRITANNICA). A área contém cerca de 212 abrigos improvisados construídos basicamente de sarrafos de madeira e lonas que foram reaproveitadas ou providenciadas pela ACNUR, ato que ocorre em diversas localidades onde há a concentração de refugiados sírios, como no Líbano e na Turquia, e começou desde o agravamento dos confrontos entre a população e o governo, a pouco mais de uma década, que resultaram no aumento brusco do número de refugiados. O número de famílias sírias que vivem nesta região não foi calculado pela ACNUR, mas fazendo estimativas com base em informações do guia VASyR - Vulnerability Assessment of Syrian
MORADIAS COM PELO MENOS UM MEMBRO COM NECESSIDADES ESPECIAIS
Doenças Crônicas: 47% Gestante ou Lactante: 29% Pais Solteiros: 20%
Pessoas Mais Velhas Incapazes de Cuidar de Si: 3%
Pessoas Mais Velhas como Único Cuidador de uma Criança: 1%
Necessidades especiais dos refugiados sírios Fonte: UNHCR. Imagem: Marcelo Baydoun.
Refugees in Lebanon (UNHCR, 2021) é possível dizer que neste assentamento podem morar de 600 a aproximadamente 1500 pessoas. Utilizando dados do mesmo guia, pode-se dizer que desse número de pessoas 47% são homens (de 282 a 705 indivíduos) e 53% são mulheres (de 318 a 795 indivíduos), sendo que em quase metade das moradias (cerca de 48%) são encontrados 3 ou mais dependentes.
O local de intervenção se encontra em um ponto estratégico da região, estando em um eixo que liga o centro comercial do distrito que está localizado ao norte do assentamento e uma importante rodovia que faz a ligação das capitais do Líbano e da Síria (Beirute e Damasco, respectivamente), à oeste. Desta forma, a implantação de um projeto nesta localização poderia atingir a população de forma mais abrangente, beneficiando tanto os refugiados quanto os próprios locais. Atualmente, o território conta com a maior parte das edificações composta por sobrados ou edifícios com no máximo quatro pavimentos e grandes lotes verdes que são utilizados como plantações. Alguns terrenos dentro da área estudada estão sendo
subutilizados e serão utilizados no projeto. Com base nas informações sobre os refugiados e a área de intervenção, começou-se a desenvolver o estudo sobre como o projeto vai atuar na região. Pensando na condição de emergência que a crise traz para o problema, a urgência no prazo para implantação do projeto se tornou uma característica importante para que a resposta seja rápida e eficiente. Da mesma forma que, com o número de refugiados que voltam a sua terra natal sendo baixíssimo no ano de 2021, de menos de 1% do número total de refugiados que permanecem no país (UNHCR, 2021), ações que tenham impacto de forma permanente na região também se fazem necessárias para dar suporte a sociedade como um todo e ajudar na quebra das barreiras imateriais entre população local e refugiados que se tornam moradores fixos daquele território. Pensando nesses pontos, a ideia para a ação que este trabalho está estudando é que seja um projeto que passe por transições ao longo do tempo, seguindo o ritmo das mudanças que o assentamento e o entorno forem passando, partindo de um ponto de urgência e
indo em direção a um marco mais duradouro. O recurso da transição em projetos emergenciais é utilizado em muitos casos com abrigos que se tornam construções permanentes num território, mas a experiência de realizar o projeto da maneira que o trabalho propõe é de certa forma rara e deveria ser predominante para um melhor acompanhamento do ritmo dos assentamentos e assim ter uma maior aceitação e participação dos refugiados nos processos.
E sobre a forma como o projeto vai atuar, levando em consideração os tópicos escolhidos e, principalmente, a questão do tempo e transição, o desenvolvimento de um módulo emergencial que trabalha na situação de urgência logo após um desastre ou na chegada de um novo grupo de refugiados a um local abrigando equipamentos de suporte a essas pessoas apresentando um programa com a capacidade de ser alterado de acordo com a necessidade do assentamento onde será montado. Ele precisa passar por um processo de montagem rápida e sem a necessidade de mão de obra especializada para que as próprias famílias possam construir a estrutura e articular o mesmo com a adição de um novo volume para expansão do equipamento e facilitar a desmontagem quando ele precisar ser movido para outro ponto do assentamento ou quando não for mais necessário no território. Além deste módulo, é proposto um segundo de caráter mais permanente no local implantado, pensando no médio a longo prazo, e que serviria como uma evolução do primeiro com
a transição de peças do emergencial indo para o permanente.
A respeito dos programas que vão ser trabalhados: na saúde foi pensado o trabalho com equipamentos que servem como apoio médico com consultórios, enfermarias e postos de vacinação, como apoio psicológicos com consultórios e com espaços de apoio à gestante. Na parte da educação, ela é trabalhada com a alfabetização das crianças e adolescentes com módulos servindo como salas de aula e espaços para dinâmicas em grupo e oficinas. Ambos os tópicos são trabalhados no projeto do módulo emergencial e também do permanente. Para o cultural são propostos espaços com estrutura permanente e que realcem a memória do local, das famílias que passaram por ali e deixaram sua marca. Sendo assim, os programas para os equipamentos culturais são espaços de exposição, salas para oficinas, espaços para apresentações e espaços indefinidos para apropriação da população. Para a habitação, unidades de abrigos Better Shelter, providenciados pela ACNUR, são incorporados no projeto nas fases iniciais e edificações com habitações permanentes são implantadas nas fases finais, mas essas não têm o seu desenvolvimento aprofundado no trabalho. Pensando no processo que envolveria a implantação dos objetos em um assentamento, o início se daria com a implantação do módulo temporário para auxílio no curto prazo, expansão do módulo caso seja necessária, implantação do equipamento
Mapa do local de intervenção e rodovia fazendo a ligação Beirute-Damasco destacada.
Autoria: Marcelo Baydoun
PRAZOS
CURTO
LONGO módulo emergencial
MÉDIO
permanente módulo a módulo para auxílio no médio prazo e se tornar um elemento permanente naquele local a longo prazo. Ambos os objetos podem ser disseminados para outros assentamentos para auxílio da população, sendo sempre modificado com mais ou menos módulos, diferentes possibilidades de fechamentos e articulações pensando no melhor aproveitamento espacial com os arranjos formados e de usos com as adaptações possíveis.
A seguir são apresentadas algumas imagens que representam como os programas citados vão ser abordados no módulo emergencial:
módulo permanente
Prazos para implantação do projeto Autoria: Marcelo Baydoun.
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
EDUCAÇÃO
sala para oficinas (capacidade para 19 pessoas) sala de aula (capacidade para 16 pessoas)
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
EDUCAÇÃO
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
APOIO À GESTANTE
3 salas para amamentação
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
APOIO À GESTANTE
2 consultórios e 2 salas de parto
SAÚDE PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
sala para oficinas (capacidade para 19 pessoas) sala de aula (capacidade para 16 pessoas)
SAÚDE PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
sala para oficinas (capacidade para 19 pessoas) enfermaria (capacidade para 4 pessoas)
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
SAÚDE
enfermaria (capacidade para 16 pessoas)
PROGRAMAS - MÓDULO EMERGENCIAL
SAÚDE
4 consultórios e enfermaria (capacidade para 6 pessoas)
tecnologia
módulo emergencialA ideia por trás deste módulo é de ser algo que possa ser montado de forma fácil e em pouco tempo já estar funcionando como o equipamento designado para um determinado local. Para isso foi pensada uma estratégia para todo o processo que começa na fabricação das peças que compõem a estrutura e a seguinte montagem de pacotes com a maior parte delas enviadas ao assentamento informal junto de manuais que auxiliem os refugiados na montagem do equipamento. Antes do próprio envio, uma análise do local deve ser feita para avaliar a quantidade de pessoas necessitando ajuda, áreas livres disponíveis para implantação e a disponibilidade de alguns materiais que serão utilizados na construção que são ou providenciados por organizações de ajuda humanitária ou objetos descartados que serão reaproveitados.
Após esse processo e com os pacotes prontos e armazenados em um local próximo, eles serão coletados e transportados por via terrestre utilizando caminhonetes ou carretas-reboque, que podem ser puxadas por carros, ou por via aérea com auxílio de helicópteros para o assentamento onde logo após a chegada poderão ser montados por uma equipe de
pelo menos 8 pessoas, homens ou mulheres, que se dividem em diferentes etapas em um primeiro momento, mas que terminam a montagem juntas unindo todas as partes. A forma que o volume tem acaba impactando também o processo de montagem, pois foi escolhido o hexágono como base para que, com a necessidade de espaços maiores ou de um número maior de módulos no território, novos equipamentos podem ser implantados e/ou conectados aos montados anteriormente para uma possível expansão criando ligações interessantes e áreas de pátios. Isso vem da análise de como as famílias estão utilizando o espaço e o número de pessoas, se aumentou com o tempo ou se acabou diminuindo. Eventuais manutenções podem ser necessárias devido a prováveis avarias causadas pelas intempéries que atingem a região. Para que tudo isso possa funcionar foi proposta a utilização de uma estrutura leve e com fechamentos que serão encaixados, minimizando o problema da necessidade de ferramentas pesadas ou de difícil acesso no território.
Processo de montagem do módulo emergencial no local de intervenção
Autoria: Marcelo Baydoun.
Sobre as partes que constituem o módulo emergencial, ele pode ser dividido em três: base, corpo e cobertura; e a montagem deles deve ser feita em etapas e seguir uma sequência para que não haja problemas que impeçam a finalização sem a utilização de guindastes ou mini gruas. Sendo assim, a sequência
de montagem deve ser iniciada com a base, seguida da estrutura do corpo já sendo anexado à primeira parte. A cobertura deve ser montada separadamente para que seja erguida e adicionada ao restante das peças e, por fim, a finalização com as últimas peças com a estrutura pronta.
cobertura corpo base
base
A respeito da base, ela é composta por sete apoios feitos diretamente no solo com blocos que funcionam como fundação para ela. Os apoios são compostos de cinco partes principais: um pneu que está disponível na região e será reciclado formando uma base mais larga e uma proteção para que a água da chuva e das cheias do rio não atinjam diretamente as porções metálicas; duas telas metálicas, como as utilizadas em galinheiros na região, colocadas dentro
do pneu para que façam uma espécie de gabião com a inserção de brita e restos de blocos vindo de construções destruídas; uma peça em aço para o apoio da estrutura e um conector metálico que faz a ligação de oito tubos. É importante ressaltar que o recurso de montar os apoios elevando o módulo do solo foi adotado para que a água da chuva não invadisse o interior do módulo.
base
Com os apoios montados nas suas devidas posições, é iniciada a montagem da estrutura de suporte para o piso. Ela é feita com perfis tubulares de aço com dois comprimentos diferentes (3,10 m e 1,50 m) e ligados com conectores metálicos. Cabos de aço tensionados são utilizados nesta parte também para reforçar a estrutura do módulo e peças menores compostas por chapas metálicas e abraçadeiras são usadas para a fixação de placas formando o piso. O
piso em si é formado por placas compostas de uma chapa metálica na parte superior e uma estrutura com perfil metálico na parte inferior. Elas serão montadas no local para serem inseridas no módulo na sequência.
corpo
Sobre o corpo, a estrutura segue utilizando os mesmos perfis da base e com o mesmo comprimento (3,10 m) para facilitar a fabricação dos pacotes de montagem, diminuindo a quantidade de peças diferentes. São encaixados nos conectores e travados utilizando pinos e porcas borboletas. Uma camada mais externa é feita utilizando placas de poliolefina,
um plástico utilizado em alguns projetos de abrigos emergenciais e que apresentam boa resistência a eventos climáticos, podem receber um tratamento para proteção UV e são recicláveis. Elas serão fixadas diretamente na estrutura utilizando peças metálicas leves que envolvem os perfis de estrutura e são travados com pinos apertados à mão. A próxima
corpo
camada é feita com bolsões feitos com lona e enchimento de PolyFloss, material feito através de um processo de reciclagem de garrafas PET e que, junto a camada de ar, auxiliam no isolamento térmico do interior do módulo. Por fim, a camada interna é feita com uma lona impermeável para conter a camada intermediária de isolante térmico. Tanto a intermediária
quanto a interna são fixadas com ganchos nas peças metálicas de fixação da camada externa.
lona impermeável
bolsões com polyfloss
placa de poliolefina
corpo
Para as aberturas, painéis especiais são fabricados e enviados no pacote, como um painel porta e um painel para janela. No caso da janela, ela é fixa e tem como função trazer a iluminação natural para dentro do módulo. Para facilitar a montagem e por conta das possíveis avarias com tempestades e nevascas, foi escolhido trabalhar com materiais
baratos e de fácil reposição para essa face translúcida.
O material escolhido foi o plástico bolha pelo seu custo, disponibilidade e simplicidade no momento de troca na manutenção.
cobertura
A cobertura é montada separadamente tendo a sua estrutura feita com perfis em aço, conectores metálicos e cabos de aço tensionados para reforço. Depois de encaixada, a estrutura é coberta com duas camadas de lona impermeável: uma interna servindo como uma espécie de forro e outra externa protegendo da chuva e da neve que atingem a região, principalmente no
começo do ano (AccuWeather, 2022). Desta forma é possível a criação de uma camada de ar, como nos fechamentos laterais, que melhora o isolamento térmico no interior com uma solução passiva.
expansão
Para a anexação de um novo módulo pensando na expansão do equipamento, os conectores da base e da cobertura já são confeccionados prevendo o encaixe de uma nova estrutura. Assim, os conectores que são compartilhados por dois módulos possuem espaços e travas para mais perfis metálicos. Para cobertura no caso de expansão, dois kits de expansão
são disponibilizados: o primeiro para ligação entre dois módulos e o segundo para uma ligação entre três módulos.
Como citado anteriormente, este módulo emergencial trabalha como equipamento voltado à educação e à saúde. Pensando na implantação de um módulo isolado, ele pode trabalhar com a educação sendo utilizado como salas de aula comportando até 15 crianças ou para dinâmicas em grupo com 18 crianças, e com a saúde sendo utilizado para dois consultórios, pronto socorro para atendimento de três pacientes simultaneamente ou enfermarias que podem comportar até seis pacientes.
Para a estrutura de banheiro está sendo utilizado neste projeto uma solução implementada pela ACNUR em campos de refugiados com uma latrina de emergência feita com uma estrutura leve de madeira e fechamentos laterais e cobertura feitos com uma lona impermeável. Ela é construída com uma fossa séptica e possui um pequeno espaço para higienização das mãos com pequenos barris plásticos que precisam ser abastecidos manualmente com água limpa. Com pequenas adaptações da estrutura feita pela Organização das Nações Unidas foi possível anexar este modelo de banheiro ao módulo emergencial. A escolha de adotar uma estrutura de banheiro pronta neste projeto e não uma produzida especificamente para este módulo emergencial foi por conta da simplificação do projeto e dos processos de fabricação das peças e pacotes para montagem. Além da questão do transporte que acabaria com custos mais elevados e processos mais trabalhosos com uma solução nova sendo adotada.
Essa estrutura produzida pela ACNUR já é aplicada em assentamentos informais no Líbano e os pacotes com peças para montagem podem estar disponíveis em locais mais próximos do território estudado.
O módulo emergencial conta com 40 tipos diferentes de peças que são utilizadas nas três partes de sua construção: na base são utilizados 18 tipos, no corpo também 18 e na cobertura 14, tendo peças que se repetem no processo de montagem de partes diferentes. Somando todas as peças necessárias para a montagem de um módulo emergencial completo o resultado obtido é de 1069 peças, onde muitas podem transitar para o módulo permanente.
PLANTAS
base - estrutura
PLANTAS base
TRANSPORTE
0.80 0.80 0.25
3.20 0.50
0.80 1.60 0.25
1.60 9.75 2.45
módulo 1
caixa para transporte kit expansão transporte dos pacotes
pacotes com peças para conexões de novas unidades
carreta reboque (9,75 x 2,45): 9x pacotes módulo 1 4x kits expansão para duas unidades 4x kits expansão para três unidades
PROCESSO DE MONTAGEM
módulo emergencial legendas
1 1 14X
#5 6X
passo da montagem sequência de montagem em cada passo ponto de inserção código da peça quantidade de peças número de repetições
MONTAGEM
parte C
cobertura parte B
corpo
parte A base
MONTAGEM
parte C
cobertura parte B
corpo
parte A base
MONTAGEM
parte C
cobertura parte B
corpo
parte A base
#11 e #12
#11 e #12
#11 e #12
#11 e #12
#11 e #12 #11 e #12
#11 e #12
#26* #26* #26*
#22 #22
módulo permanente
A respeito do módulo permanente, este necessita de uma mão de obra mais especializada para sua construção e uma estrutura mais robusta. Ele trabalha como uma evolução dos equipamentos implantados na região no primeiro momento, no período de urgência. Ele pode ter a sua implantação iniciada em paralelo com o funcionamento dos primeiros equipamentos, pensando na suave transição de uso de um para o outro ou mesmo na troca de programa que eles podem ter. Neste trabalho o módulo permanente é trabalhado com um foco menor no seu detalhamento construtivo. Isso se deu para que o módulo emergencial fosse levado até seu máximo detalhamento.
Sobre a construção deste equipamento, foi escolhido o formato trapezoidal de sua base para a criação de arranjos que tenham um melhor aproveitamento espacial, tanto no interior quanto no exterior, e para a apropriação do espaço quando a adição de mais unidades forem feitas, pois é possível a criação de diversos espaços como pátios internos ou pequenos novos percursos por dentro da área onde o projeto foi implantado e que podem ser utilizados para o uso mais relevante por parte da sociedade que usufrui daquele território. Espaços gerados podem ser utilizados como locais para festas, comemorações,
atividades ao ar livre, um espaço novo para o brincar das crianças ou mesmo espaços de convivência incentivando uma maior e melhor interação entre refugiados e moradores locais.
Para trazer o conceito de transição para a ação arquitetônica, a ideia para o projeto foi a de propor a passagem de peças constituintes do módulo emergencial para o permanente. Desta forma, elementos que não tiveram uma grande deterioração durante o período em que estavam sendo utilizados no primeiro módulo podem ser reutilizados no segundo adquirindo funções diferentes. Um apoio que no primeiro sustentava uma base pode se juntar e formar o novo bloco de fundação. Ou placas utilizadas como piso podem ser usadas na construção de rampas de acesso, permitindo uma maior acessibilidade para o equipamento permanente. Até mesmo as lonas utilizadas como revestimento interno podem ser utilizadas como divisórias para os ambientes. Com isso, aproximadamente 500 peças de um módulo emergencial podem ser reutilizadas na montagem de um módulo permanente.
Acerca do programa, este módulo trata de programas relacionados à saúde, cultura e educação. Para saúde o equipamento proposto trata de uma estrutura de posto de saúde com consultórios médicos,
Volume do módulo permanente com as peças do módulo emergencial sendo reaproveitadas
Autoria: Marcelo Baydoun.
psicológicos e para gestantes, espaço para vacinação e enfermaria. Para educação se trata de escolas com salas de aula, espaços para dinâmicas e pátios centrais para apropriação por parte das crianças. Para os equipamentos culturais, espaços para exposição e apresentações são propostos para aproximação das culturas de ambos os países, além de espaços para
CULTURAL
workshops e pontos de encontros. Um dos objetivos com esses equipamentos permanentes na região é de criar referenciais simbólicos no território, um lugar que seja usado por todos e transmita para as pessoas a sensação de segurança.
EDUCAÇÃOSAÚDE
implantação faseada
Para este projeto o processo de implantação tem uma importância muito grande, pois acompanha a evolução do próprio assentamento de refugiados com as mudanças no número de pessoas ou com o rumo a um estabelecimento daquelas pessoas no local. É necessário o estudo da situação em que se encontra o assentamento informal para determinar quais as prioridades no momento inicial da ação arquitetônica. Com a ideia de implantar os módulos em momentos diferentes do território seguindo o crescimento do número de refugiados ou as necessidades dos que habitam na região, somado com o conceito de transição, foi tomada a decisão de seguir com uma implantação faseada.
Ao pensar nas primeiras fases, a proximidade do território com a fronteira de Masnaa, citada anteriormente no trabalho, faz com que a região tenha a entrada de novas famílias no país na busca por sobrevivência com certa frequência e elas se estabelecem próximas de concentrações de abrigos já existentes. Desta forma, a implantação de novas unidades de abrigos emergenciais feitos pela ACNUR em áreas determinadas é a primeira ação tomada na estratégia de faseamento junto da montagem de módulos emergenciais que trabalham com a saúde e a educação. Com isso é possível tratar
do feridos recém chegados e doentes e também não interromper a alfabetização das crianças e adolescentes. Os locais indicados para implantação dos primeiros equipamentos foram planejados com o objetivo de facilitar o acesso dos refugiados de todo o assentamento às novas estruturas e a forma como os abrigos são posicionados tem o propósito de criar vazios entre as unidades para convivência entre as famílias e o brincar de forma mais segura para os jovens.
Com o passar do tempo e as primeiras emergências sendo atendidas, o projeto evolui para as próximas fases buscando atender as posteriores demandas. Uma nova forma de atravessar o curso d’água que corta o assentamento passa a se tornar o objetivo. A maior parte das famílias mora na porção ao sul do rio e para chegar ao centro comercial da região necessitam caminhar pela rodovia que passa no sentido norte-sul. Essa é uma prática muito feita atualmente, mas é algo perigoso, principalmente quando acompanhados de crianças mais novas, de colo ou mesmo doentes. Com isso é implantado um módulo permanente como ponte para que todos, não apenas os refugiados, possam utilizar de um percurso já existente, mas que hoje se encontra interrompido pela Rio Litani.
Progredindo com o faseamento, se dá início a implantação dos módulos permanentes de saúde, educação e cultura ainda mantendo os emergenciais, pois esses passaram a ser utilizados como estruturas de apoio durante essa fase. Os pontos onde esses equipamentos são construídos ajudam a incentivar a maior interação entre os sírios e os libaneses que moram neste território. São posicionados em espaços que poderiam ser vistos como fronteiras, em um primeiro momento, mas que acabam funcionando como áreas de transição. Espaços onde fazem trocas e convivem, como o conceito de “membrana osmótica” discutido por Paul Virilio, apresentado previamente. Nas fases finais do faseamento deste processo é apontado como diretrizes de projeto a construção de edificações voltadas à habitação social com o foco nos refugiados. Assim, as famílias que permanecem no país podem ir deixando de morar nos abrigos temporários e transitando para moradias fixas, e as estruturas dos abrigos podem ser recicladas ou ter suas peças utilizadas para construção de novas estruturas para região. Novas pontes também são propostas nas últimas fases, quando as demais prioridades já tiverem sido trabalhadas. Logo, menores distâncias serão percorridas pela população local com a criação de novos percursos que passarão pelas novas habitações, pelos equipamentos e eixos importantes já existentes na região. A disseminação dos módulos emergenciais é a última atividade da ação arquitetônica com a desmontagem das
estruturas que não tiverem mais uso no assentamento, seja pela diminuição de pessoas vivendo ali ou pelos equipamentos permanentes estarem suprindo toda a demanda. Depois de desmontadas, elas podem ser levadas para outros assentamentos que carecem de uma estrutura de tal tipo ou mesmo movimentadas dentro da própria área onde foi utilizada originalmente para servir de suporte com outra função. No caso do retorno dos refugiados para sua terra natal, a região continuaria com os equipamentos permanentes implantados para serem utilizados pela população, mas a migração do povo sírio deixaria marcas mais importantes. A história desses mais de 10 anos em que milhares de famílias passaram pela região buscando a sua sobrevivência continuaria na região de Deir Zenoun como símbolo do que o próprio território passou. Os equipamentos implantados com o uso cultural trabalham com o foco na memória do local, para que libaneses e sírios possam compartilhar mais sobre os seus costumes e tradições uns com os outros e para que no futuro seja uma das muitas formas de lembrar de tudo que aconteceu ali durante esse período.
fase 0 - inicial
educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 1 - equipamentos temporários educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 2 - ponte
educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 3 - equipamentos permanentes educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 4 - habitação permanente
educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 5 - disseminação dos equipamentos temporários educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
fase 6 - final
educação cultura habitação saúde
fluxos vazios verde
Arranjo de módulos emergenciais atuando na saúde com o apoio à gestante e enfermarias
Chegada dos pacotes com as peças para montagem dos módulos emergenciais no assentamento informal
Abrigos da ACNUR implantados na primeira fase da ação arquitetônica organizando espaços de convívio entre as unidades
Pátio central no arranjo de módulos permanentes para educação
Equipamento ponte cruzando o Rio Litani
Implantação dos equipamentos em uma das zonas de transição, com o intuito de incentivar as trocas entre os refugiados e a população local
Arranjo de módulos permanentes trabalhando com a cultura, tendo espaços de exposição e salas para oficinas
Arranjo de módulos permanentes trabalhando com a saúde, tendo consultórios, enfermaria e posto de vacinação
experimentações
Ao longo deste trabalho foram desenvolvidos alguns experimentos para agregar novos pontos de vista sobre o território e a intervenção proposta pela ação arquitetônica, além de alguns testes a respeito das volumetrias, das relações com o entorno e também sobre o processo de montagem do módulo emergencial. Os ensaios elaborados foram desde análises em simulações computacionais até o exercício com modelos físicos feitos em escala, onde o trabalho se debruçou com mais ênfase.
Esses experimentos tiveram uma grande relevância no projetar e no estabelecimento das estratégias que foram utilizadas para atingir os objetivos da pesquisa. Ele trouxe novas percepções a alguns pontos que antes não ficavam tão claros e acabaram levando a certas mudanças.
O tipo de ensaio para experimentação que foi mais utilizado foram as maquetes feitas em diferentes escalas, tanto do assentamento quanto do módulo emergencial, tendo auxílio dos processos de fabricação digital. Sobre os modelos feitos da área de intervenção do projeto, os objetivos deles eram de entender melhor a relação dos módulos apresentados com o entorno construído, ter uma maior compreensão de como os fluxos estavam funcionando e ver por um novo ângulo o faseamento da ação projetual.
Já na escala do módulo emergencial, os objetivos eram de realizar testes em escala dos conectores propostos para verificar o funcionamento deles e o desenvolvimento da montagem da estrutura. Para o estudo do assentamento foram produzidos dois modelos físicos. O primeiro foi montado na escala 1:1000 utilizando como matériaprima o papel cartão Paraná com 1,0 mm de espessura e suas peças foram cortadas utilizando uma cortadora a laser. Com esse modelo foi possível ter uma visão diferente do caimento do rio que corta o assentamento, trazendo uma visão diferente da área de margem do que era visualizado nos modelos 3D que estavam sendo produzidos em paralelo.
Já o segundo modelo foi produzido na escala 1:750 utilizando como materiais o papel cartão couro de 2,8 mm de espessuras e chapas de MDF cru de 3,0 e de 6,0 mm. Todas as peças foram cortadas utilizando a cortadora a laser. Com esse modelo ficou mais clara a relação do projetado com o entorno construído e foi possível verificar alguns pontos que apresentavam fragilidade durante o desenvolvimento. Assim como a compreensão dos fluxos que ficou mais clara e causou alterações na proposta do faseamento com novas estruturas sendo adicionadas e outras sendo movidas para outras posições. Por conta desses pontos,
esse modelo acabou passando por mudanças para continuar os testes com as novas peças. A própria maquete sendo faseada, como a implantação do projeto, permitiu visualizar o processo como um todo e a movimentação dos módulos no território.
Para o estudo do módulo emergencial foi produzido um modelo físico na escala 1:10 e utilizou diversos materiais como papel cartão Kraft, papel cartão Horlle de 1,0 mm, varetas caxeta, lona, tela metálica e filamento PLA. Para produção das peças que compõem a maquete foi utilizada uma impressora 3D e parte delas foram feitas com corte a mão. Com a utilização dos processos de fabricação digital fazendo a modelagem em 3D dos conectores e posteriormente a impressão delas em plástico PLA, permitiu a realização de testes importantíssimos a respeito dos próprios encaixes e simulações de montagem da estrutura, verificando qual a melhor ordem para montagem do módulo.
MAQUETE 1/1000
MAQUETE 1/750
MAQUETE 1/750
MAQUETE 1/750
MAQUETE 1/750
MAQUETE 1/10
MAQUETE 1/10
MAQUETE 1/10
O desenvolvimento de um trabalho para um lugar distante, fora do contexto habitual, apresenta alguns obstáculos. Mas permite uma percepção nova e muito rica sobre um território ou uma situação. A busca por informações que ajudariam no processo de projeto também auxiliaram no entendimento de tópicos gerais sobre a Guerra Civil Síria e na assimilação da complexidade por trás de todo o conflito, inaugurando novos olhares a este caso e também a outros futuros que possam ser estudados.
As investigações realizadas a respeito das questões geográfica para um melhor entendimento sobre a localização e relações de fronteiras entre os dois países; com o estudo de assuntos ligados ao clima com os eventos comuns na região que levaram a propostas mais precisas no trabalho; nas questões culturais que permitiram um certo aprofundamento na vida das pessoas que estão passando pelas situações comentadas no trabalho sem deixar de lado seus costumes e tradições; tudo isso trouxe uma visão diferente sobre todo o assunto.
Compreende-se a arquitetura com a construção de uma pesquisa deste tipo como a realização do cruzamento de informações ligadas não apenas a questões técnicas, mas também a conceitos teóricos e a fatores sociais. E que ela não é a solução para um problema como o estudado, mas sim um dos fatores de um grande conjunto de ações que pode auxiliar na busca de uma vida melhor a todos. Apesar da ação arquitetônica proposta pelo
trabalho ser no Líbano e a mesma lidar com uma série de condicionantes específicas da região e do contexto onde é inserida, seria contraditório afirmar que ao trabalhar com um novo local tudo deve ser diferente. O que foi possível notar com esta experiência é que o que poderia ser encarado como algo exclusivo para aquela situação, poderia servir como uma base para análises, passar por adequações e ser aplicado em um novo cenário. Até mesmo no Brasil com desastres naturais atingindo diversas regiões, como o rompimento das barragens em Brumadinho (MG) em 2019 ou em Mariana (MG) em 2015, muitos pontos podem ser aplicados levando a novas reflexões sobre o tema e na busca de novas soluções para os problemas com o uso de um mesmo sistema, só que adaptado. Pensando no âmbito acadêmico, este trabalho foi uma chance de poder contribuir de alguma forma com as discussões e outros trabalhos que já foram ou que ainda serão feitos a respeito das diversas emergências que acontecem pelo mundo todos os anos, sendo um tema tão atual. As contribuições feitas podem auxiliar a levar novos pontos de vista para problemas até já superados em alguns casos, mas ajudar em outros que ainda estão sendo trabalhados. O assunto que este trabalho abordou ainda não está encerrado. Muitas dúvidas ainda perduram sobre o seguimento de toda a situação, mas ainda sim a pesquisa pôde fazer parte como uma colaboração de toda a produção que continua sendo feita.
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