Coração mimeografado

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CORAÇÃO MIMEOGRAFADO

MARCELO BIZAR

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CORAÇÃO MIMEOGRAFADO

MARCELO BIZAR

Marcelo Carneiro da Silva

Coração mimeografado

1ª edição

Rio de Janeiro Edição do autor 2015

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MARCELO BIZAR

Catalogação na publicação (CIP) Ficha catalográfica feita pelo autor _______________________________________________________________ SI586a Silva, Marcelo Carneiro da, 1971Coração Mimeografado / Marcelo Carneiro da Silva. – Rio de janeiro: M. Carneiro da Silva, 2015. 77 p. ISBN 978-85-917888-3-5 1. Literatura Brasileira – Poesia. I. Título.

CDD: B869 CDU: 82-1/47 _____________________________________________________________

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA............................08 PREFÁCIO...............................09 CORAÇÃO MIMEOGRAFADO...................11 EM NOVE DE ABRIL.......................12 A SOLIDÃO..............................13 JANELA DE NARCISO......................14 VOCÊ TRAPACEOU.........................15 A MEDIDA DO SER........................16 CANTIGA ENFADONHA DE(PARA)UM POETA.....17 FACES..................................19 ALGUNS SENÕES..........................21 O TEMPO................................22 O CÃO..................................23 AS ESTRELAS............................24 MORTE..................................25 4


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MÚSICA.................................26 BEM-TE-VI..............................27 AUTO-BIOGRAFIA DESINTERESSADA..........28 UM SER QUE DESACONSELHO................29 HOMEM..................................30 CONCRETO ARMADO........................31 DIANTE.................................32 MAS, POR QUÊ? .........................33 VEMNDO.................................34 VENTO II...............................35 O MAR..................................36 O PORÉM................................37 O RESTO................................38 MAIS UM POUCO E EU NÃO ME ESQUEÇO......39 TUA CARNE DARIA UM LIVRO...............40 PLENA EM SI............................41 À LUZ DO DIA...........................42 ESTRANHAS COISAS.......................43 5


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NADA É ASSIM...........................44 SE PERCA...............................45 PELE...................................46 NOSSAS CONVERSAS INACABADAS............47 QUANDO MEUS OLHOS SE FECHAM............48 REFÚGIO................................49 DIA DO FATO............................50 FACEIRA................................51 AUSÊNCIA...............................52 VOLTEI.................................53 ANIMAL.................................54 SOBRE O QUE ÉS.........................55 VIDA CURTA.............................56 RIO....................................57 GALÁXIAS...............................58 SERÁ FATO? ............................59 CARNE..................................60 COLO ..................................61 6


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QUASE SONETO...........................62 A ALGUM DISTANTE.......................63 UM DIA.................................64 QUEM?..................................65 NARCISO................................66 KANT...................................67 VOZES..................................68 HORAS IMPRECISAS.......................69 ONDE TU PROCURAS.......................70 PERDÃO.................................71 ÉS QUASARES............................72 TARDE..................................73 ELETROAKÚSTICO.........................74 OUTROS CARNAVAIS E OS MESMOS...........75 HOJE EU QUERO UM BLUES.................76 AO CHEGAR EM LISBOA....................77

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DEDICATÓRIA

Àquela que tem cuidado muito bem desse meu coração mimeografado, minha esposa: Kátia!

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PREFÁCIO

Advogado - autor de três livros versando sobre Direito do Trabalho; Músico - toca vários instrumentos de sopros e de cordas; Compositor – sua versatilidade musical passeia com elegância por vários ritmos e atalhos; Cantor – voz melodiosa, um timbre no qual a afinação transborda; Poeta - autor de Aquarele, uma coletânea de poesias; Meu parceiro de projetos musicais e cantorias. Apresento-lhes o multimídia Marcelo Bizar: Um ser plural e de personalidade singular, Cujas virtudes fazem sombras aos atributos mencionados, Pois ele pertence a uma casta seleta Onde primam os sentimentos bem intencionados. Mas vou me ater somente ao Marcelo poeta: Cedo, compelido por um desejo voraz 9


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E insaciável no consumo das palavras, Tornou-se um devorador de livros contumaz, Experimentando frutos de muitas lavras Com grande prazer e espantosa profusão. Com isto absorveu diversas influências, E talvez por este motivo, suas poesias, na minha opinião, Sejam condimentadas com ingredientes de variadas tendências, E tenham um paladar característico. Um tempero de quem muito experimentou No efervescente caldeirão linguístico Para, um dia, nos servir os manjares que sua verve criou. Eu, assolado por uma gula irrefreável, Degusto cada verso de seus poemas com avidez, Tal qual um faminto de apetite insaciável Que não sabe quando se alimentará outra vez.

Kaju Filho 10


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CORAÇÃO MIMEOGRAFADO Meu coração mimeografado Meu coração carbonalizado Impresso em jatos de tinta, em matriciais Postado na rede, tuitado Anda cansado de tanta exposição Quer ir pra Pasárgada, lá onde o Rei mora Meu coração mimeografado É um impresso efêmero Não se presta aos historiadores Não tem função entre os literatos Funciona quando desejo Marcado em azuis, cheirando a álcool Borrando seus papéis, apagando vestígios de vida Não se incomodando com estéticas Não se comunicando com as artes É mimeografado em seu tempo Hoje, ontem, amanhã e ele assim Coração mimeografado Deixado de lado, empoeirado Trocado por palavras que não borram, Palavras que voam nas nuvens de bits Que nem sequer são palavras: Composições de uns e zeros Lógica e virtualmente existentes Enquanto meu coração Nada contra a corrente E sempre será um coração mimeografado 11


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EM NOVE DE ABRIL Gosto de lágrima, sem nada pra se falar Agora entendo o que apavora: participar do jogo Depois de tantos olhos fechados sem milagres Quem me pudera descrever, não sou mais tolo Essa é a sua história: Um pouco de alegria e nada mais Sirenes, gabinetes, vontade de partir Sabendo que ninguém virá comigo Depois de tantos sonhos perdidos pelo tempo O que em troca vão querer, não sou mais tolo Essa é a sua história: um pouco de alegria e nada mais

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A SOLIDÃO A solidão é um abutre dentro da minha sala fumando cigarros bebendo cachaça durante toda a madrugada A solidão é um abutre filmando a minha carcaça fumando cigarros, bebendo cachaça pronto pra me devorar Estou no Rio de Janeiro perdido num quarto do meu pesadelo Estou no Rio de Janeiro perdido num quarto do meu pesadelo

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JANELA DE NARCISO Vejo o Corcovado Vejo o Redentor Vejo o relógio da Central do Brasil Vejo a Baía de Guanabara Vejo a Ponte Rio-Niterói Tanta paisagem assim me sói Do quarto de Narciso Um espelho refletindo Da janela toca um sino Acordando o menino Que num papagaio o grito Sai em forma de gemido No lugar mais lindo O Rio de Janeiro num domingo

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VOCÊ TRAPACEOU

Não precisa de cara ou coroa Blefar é sua sina Sabe bem o jogo da vida Não se importa com o que diz os astros Escreve a própria sorte E sempre quer chegar na frente, ser a primeira

Sua máscara guarda na imagem do espelho seus passos refletem as dúvidas Não se importa com o que diz os búzios Escreve a própria sorte E sempre quer ser a primeira a chegar Você ultrapassou os limites Você trapaceou

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A MEDIDA DO SER

Tento esquecer Esse meu jeito de ser Sendo eu mesmo Assim quem sabe me esqueça Como sou de aparência E no espelho eu desapareça Mas longe de minha miragem Se eu me sentir saudade E de novo queira eu ser O que fui mesmo às pressas Tomarei uma fita métrica Que meça o que de mim Ainda se acessa

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CANTIGA ENFADONHA (DE) PARA UM POETA Em busca do verso que se acomode no ninho incólume do contrassenso paisagens norteiam nortes, não-nortes e as bússolas falham com seus ponteiros o verso que antes cabia à monta hoje nada pode realizar verso por verso vida por vida verso que à vida pode esperar

O pesto à montada reclamava o Tejo das suas ideias do que não poderia mais versejar Encontra o vinho que lhe adormece e sonha com ninfas do entretanto parece uma peça 17


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de teatro mudo ourives das danças de entre-pestes cajado partido por imprudência o gajo disforme se estremece vinho por vinho morte por morte vinho que à morte quer celebrar O resto à parada revolta o mundo das suas madeixas de máculas imundas mas quer voar poeta ele diz que já lhe cabe mas não reconhece seu moribundo vivido por ele como um comparsa o gajo poeta descobre ao fundo o seu enfadar-se e então se cala

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FACES Leva um susto e nada diz o mundo ferve e ele anda nas nuvens seu olhar sem fúria, seus dentes alvos o andar reto, sem dúvidas, o carrega o homem da face congelada não queria lutar por nada o homem de uma só face tenta usar seu sorriso pra se esconder diante de suas duras faces que oculta Não há cara com face só há homem de faces de fases, de marcas de ódio e amor as frases que ditam verdades e mentiras dores e alegrias de noite e de dia na terra, no ar então lance a moeda e um dos lados lhe dirá a face que hoje o homem vai usar

O medo e a coragem de mãos dadas procuram nas faces do homem sem rosto as curvas fincadas na pele envelhecida o sorriso congelado ainda ele mostra 19


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o homem da face congelada não muda seu jeito por nada o homem de uma só face quebrou seus espelhos pra não se ver diante de suas duras faces que oculta

Não há cara com face só há homem de faces de fases, de marcas de ódio e amor as frases que ditam verdades e mentiras dores e alegrias de noite e de dia na terra, no ar então lance a moeda e um dos lados lhe dirá a face que hoje o homem vai usar

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ALGUNS SENÕES

1. A poesia nos dá a dimensão ideal do ser humano; 2. O olho do furacão é estrábico; 3. Poeta é aquele que não faz ideia diante da folha em branco; 4. Diz o poeta: matem a poesia, acabem com a neurose de versejar. A poesia responde: não sou feita de versos, mas de ações ao portador.

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O TEMPO Um único aviso Na porta de entrada Segue, sem retorno

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O CÃO Lançada a bola O cão corre atrás Passa atravessando Minha infância inteira

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AS ESTRELAS No laboratório da noite Não existem estrelas Cristais suspensos Nos visitam

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MORTE A terra geme O céu nubla Depois da chuva Flores mais belas

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MÚSICA Acordo cedo com Deus A única oração que me lembro É a música de um sonho Onde encontrei meus pais

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BEM-TE-VI Sou egípcio guiado Como no Livro dos Mortos Um bem-te-vi Encoraja meus passos

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AUTOBIO-GRAFIA DESINTERESSADA

porres homéricos trabalhos hercúleos sentimentos camonianos tempestades clarisselispectianas políticas castroalverianas mundos fernandopessoanos

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UM SER QUE DESACONSELHO

entre mim e o espelho um ser que desaconselho

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Homem como assim... de um lado a crença total: fraqueza doutro lado a racionalidade impera: certeza? quem está certo, o objeto, a plateia, Deus, Natureza? Religião, Ciência, Arte, Filosofia, Robô, Homem é todo, é erro, é parte é que, é nu, é arte é diante, consoante, desastre não menos destarte, cumpadi, e quando se ovula, amar-te o hino, destino, cão late, à tarde, quando o poema o Brasil invade

Todas as dezesseis asas ardem no colo do pássaro azul seus olhos mirando dez cores arrependendo-se de seu destino ave sem lar, sem paragem, sem mar que atravesse quando cessa o sol não vai do Norte ao Sul, não se evade mas seus quatro olhos miram toda paisagem e é o homem que lhe aponta a arma o homem 30


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CONCRETO ARMADO Concreto armado apontando pro peito O sangue é figura de quadrinhos e sonhos Meus dedos percorrem os pontos dos muros Cimento armado e cuspe no escuro No meio da noite alguém reza e para Coragem, destino, sermão Sereno não pensa em quem cai e se torce no chão Navegas um porto, o ninho é a cidade onde habitas... é a cidade De cinemas imundos e um pouco de maldade Senões moribundos por toda a Metrópolis Concreto armado A cidade é um ninho de concreto armado

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DIANTE

Pensar, de repente, o mar e a canção Estados de espírito, que vêm e não sabem e se algum dia vão De frente pro crime, a arma na sua mão Quem foi? Quem sabe? Quem dirá? Vendo seu próprio ali flutuando no ar Pare, é agora o dia em que você saberá de tudo E querendo sorver um pouco de paz Um dia tranquilo como antigamente Quem eram aqueles que faziam fila E não se incomodavam com as nove estrelas Que brilham no ar, que brilham no ar Pare, é agora, finalmente o dia em que você saberá de tudo E no impacto de ninguém você se distrai Não saberá ver as luzes que do olho vieram sem nenhum problema Você não quer ser eterno, não pode ser, você não quer vencer Quer ser. E ser tem um problema: um custo

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MAS, POR QUÊ? A faca corta minha carne Quente como o sol, como o berço O relógio na parede Parece concordar O tempo lá fora arde Chove lava, granizo, pulmão E você se esconde Entre os cortes no braço Mas por que sofrer? Mas pra que sofrer? Mas por que sofrer? Mas pra que sofrer? Mas por quem sofrer? Mas por quem sofrer? Chamam isso de cura Outros acham que e vício, solução Eu não sei dizer não Mas o relógio na parede concorda

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VENTO

O vento leva A vingança dos dias Curvamo-nos bambuzais

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VENTO II

O vento suspira Enamorando-me de ideias Sou folha no ar

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O MAR O mar vindo Molhando areia Caranguejos Ensopados

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O PORÉM Ela me disse vem Depois um nem Não revelo O porém

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O RESTO

Notoriamente eu vejo e cego Não quero nada, só o instante Você é nós, mesmo sem mim E eu sem ti sou só restante

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MAIS UM POUCO E EU NÃO ME ESQUEÇO Beijo assim mesmo, no elevador O tal negócio do início E era um ponto a discutir E mais, e mais e mais queria Subir na mesa e se mostrar Sem tempo de se preocupar E quem diria, eu tô tentando Não vejo nada que possa medir A loucura que me vem Só a paixão destrói o mundo E o que fizemos já nem sei E dívidas e sofrimentos E eu quero queimar as minhas culpas No teu sorriso, no teu olhar Pois mais um pouco e eu não me esqueço Mais um pouco e eu não me esqueço

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TUA CARNE DARIA UM LIVRO Não mais o mesmo Não mais o óbvio Não o querer e o sofrimento Aquela força Que não sei quando Me apavorava E agora o tempo Me diz que é nada O tempo mente E eu não queria Não mais dos olhos O esquecimento Memórias plenas Cheiros morenos A tua carne Daria um livro Com reticências E interrogações

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PLENA EM SI O que me espanta é o teu sorriso O lábio solto dizendo coisas tão sins Naturalmente é o gosto De uma fruta estranha Que não conheço e já provei Não quero mais palavras Quero o pleno de olhos E línguas, e pinças raras Pra poder, quem sabe, te descobrir Você é plena em si Plena em si E aparentemente Não quer mais nada

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À LUZ DO DIA Pele de espelhos onde me perco Não via e já era o muito Para o meu perdão Mesmo se um erro brotasse a plenos poros Já me perdoaria por estar ali Se já foi eu sei que então me perco E as lembranças da tua cor na noite Eu distribuiria ao mundo um pouco Por não poder suportar

Todos nos viam e era segredo Todos queriam viver como À luz do dia, Sem medos e sem perdões Sem erros e sem senões

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ESTRANHAS COISAS Só quero mais uma vez, vê se entende Nada poderia ser tão chato quanto continuar E o encanto estaria morto Não selaria nossa aventura Se eu tento te dizer coisas novas Elas parecem estranhas e você não quer saber Estranho é estar vestido na chuva E ver que a água nos molha as feridas Não pense desse jeito Sou só mais um homem sem destino Como os que você já viu no cinema E não se arrependeu de conhecer Se o que falo te apavora você não sabe Que guardei o melhor pra depois da chuva Guardei porque meus planos são ir adiante É mais, é conseguir do pouco o infinito

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NADA É ASSIM Do nosso jeito vamos nos E agora já é tanto que o Suas palavras sem gosto, É hora de pensar mais um Não há Que se Nada é Pois o

aproximando medo vem e diz mas por suposto pouco

regras ditas, há as outras escondem atrás dos olhos e dos sorrisos assim como a máquina eletrônica que hoje é tanto, amanhã será diferente

O exposto tem É ave, é céu, Será que como Será que como

sempre a é luz, é nós nada nós nada

contrarregra cor, é sonho é assim? é assim?

Viria em branco a história E nos faria refletir e ver Que nossos passos podem ser mais, Bem menos do que a força que nos faz continuar

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SE PERCA Sorria pra mim Devagarzinho Eu quero teu dente Na minha carne Teus olhos puxados São duas sementes Do vício sentido Do gosto do beijo Não saia assim Com essas manobras Se sabes poder Se sabes arder Se sabes ranger Por que não Se perder?

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PELE

Ávida pele de noite Cândida, nua e açoite Gosto do teu beijo no elevador Gosto do seu nome no diminutivo Não sei se há poesia Ou uma arapuca Quando te encontro de repente Sábia, presa e ardil Mágicas mas quem mente tanto? Mais uma semana e nada Você vara a noite com tua língua Calando minha boca com beijos-sorrisos E eu não me arrependo do abuso momento... Só sei dessa pele Metáfase de nós

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NOSSAS CONVERSAS INACABADAS

Eu te... Você então... eu já falei que... você também se.... mas não deu pra.... agora é.... faz pra... fala de... não se... se... se... Você...

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QUANDO MEUS OLHOS SE FECHAM Perto do teu olhar as minhas frases não se completam Você não saberá o que fazer com o que lhe digo Quando meus olhos se fecham

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REFÚGIO ‘Travesso o mundo, meu bem Só pra encontrar o seu sorriso quente E me canso, mas não importa o fato Sei que dentro dos teus braços Tenho refúgio para os meus cansaços

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DIA DO FATO Aguardo e um dia sei, será o melhor que eu já vivi De fato

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FACEIRA

Agora eu te procuro Qualquer canto da cidade... Vou te encontrar faceira Dentro de uma brincadeira Requebrando o samba à sua maneira Seu mar de cadeira Despejado à beira Que é pura maldade Se ouve besteira Hoje é bem-me-queira Só quem deu na telha Ou já tem idade

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AUSÊNCIA Que a pouca tolerância seja enfim um traço Pois nada mais carrego nesta ausência finda Que a vontade de ver-te e converter em abraço O vazio que outrora separou-nos ainda Não tardará o tempo de revê-la E assim tão breve soprará a brisa Que antes fria, longe, emudecera Agora canta melodia límpida Sem lugar de encontrar sua pessoa amada Sem endereço pra onde eu possa então guiar-me Fico cantando só e a solidão não tarda Espero ver-te já, antes que seja tarde Nessa canção, que guardarei comigo Revelarás como nasceu a Arte De versejar o coração partido Com sentimentos que me cabem à parte

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VOLTEI

Quanto tempo faz Não sei Você disse: vai Voltei

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ANIMAL

Tu és um animal de sangue quente A tradição do Oriente O linguajar dos arvoredos Que se movem ao sabor dos ventos As frutas que se extinguem entre os lábios A Alquimia, ouro, dos reis sábios O morenar do sol mediterrâneo A luz penetra seu órgão cutâneo E assim se instala um quadro colorido Entre os seus suores e os tons de tempero ardido

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SOBRE O QUE ÉS O que nem Freud explica O que retraído, estica O que ao deitar se espicha O que o dedo não indica O que Marx não materializa O que a Relatividade, a saudade, a maldade Não contabilizam

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VIDA CURTA

Curta é a vida como um surto um muro desabando Curta a vida, pouca num segundo explode Bomba de Pequim Rádios, ondas, moças O espetáculo das forças Sob os pés detidos Curta é a vida como um videoclipe água de piscina Curtos são os dias que passam e voltam à mesma monotonia...

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RIO Eh! Rio! Que desce a cordilheira Se impõe da ribanceira no mar

Dentro Deste destino incerto E sempre a descoberto no ar

Cai... E como folha agreste Dançando ao vento em teste Adeus... 57


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GALÁXIAS As Galáxias se afastam de nós! E ainda é só meio-dia Sei que repudiamos as estrelas E amamos as náuseas dos dias Cinzentos, carros e motocicletas As galáxias foram esquecidas num canto E continuam se afastando de nós

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SERÁ FATO? Todo conceito criado pode ser mudado Toda vontade, pecado podem ser provados Se o sonho é tudo a realidade nada o que foi ditado será fato? será fato?

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CARNE As torres, como línguas Roçam o líquido celeste, E brota, e sorve, sinta! A umidade e luxúria da peste Ah! Eu te exorcizo, Irmã, Fluido ocre de genitais Diria sobre todo seu afã O enfermo, possesso de ideais Que a carne acentue o Mito E se dilacere feito coisa incerta, Lasciva e indiferente ao dito: Mosca entra em boca aberta!

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COLO Estou deitado no colo do meu bem E o centro do universo se desloca causando terremotos, maremotos, vulcões e dentro de mim uns troços dentro do quarto astros, chuvas cometas, meteoros tudo despencando no momento colo do meu bem

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QUASE SONETO O doce dos vinhedos de Lião E a insustentável luz de Marguerita Se inspiram na fugidia escuridão Que brota entre os dois seios que incita As sinuosas curvas do pomar E a inanimada força que agita O corpo, o sexo do que é sonhar Inundam-me pelo próprio olor que imita Enlevo-me pelo antigo idioma Que de seus lábios saem: rubra paloma E o gosto do teu hálito romã A turba do teu vinho encharcando Seu líquido viscoso amornando Percebo-me no lar do teu afã.

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A ALGUM DISTANTE Viaje ao seu próprio interior Conheça-te Espere um pouco e então Companhia-te Verás velhos sonhos sobre o chão Medos, pequenos, prendendo-te a botões Os versos que queriam se atirar ao vento Mas guardados Comece a ver o seu próprio horror De outra maneira Suba num parapeito e então Observa-te Não há barreiras para se atirar Seu ímpeto contra o chão Como pequenos nãos presos no peito.

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UM DIA

Nascerá um dia dos seus olhos De uma luz que brilhará serena Formando novas galáxias, lendas Outra vez saberemos sonhar Novas faces mostrarão o riso Movimentos que veremos precisos E os navios que alcançarão as noites Sairão dos teus suores como quasares Nascerá um dia morno de teus olhos Sol, luz e pequeninas estrelas Acenando para o tempo.

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QUEM? Quem dirá o que ficou calado O ato impensado O marco do tempero Como as farpas presas nas mãos Daquele que procurou sem medo Será que só teremos metáforas Em nossa voz Sem que ninguém compreenda? O ato é precioso Quando o olho vê mais longe Atirar-se ao mar É o que de fato conta Outras áreas inexploradas Várzeas, rios, luzes Quem brilhará solene Como estrelas Presas de cores Que ecoam existências passadas? Será que desta vez teremos De macular pretéritos Em nossa vida Sem que ninguém apareça? O olho é precioso Quando o ato vai mais longe Atirar-se ao mesmo lugar Será que conta? 65


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NARCISO Quem ama todos Ama também a si Quem ama somente a si A ninguém ama, nem a si Perde-se num lago Dentro de si...

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KANT Como se ao final Da Razão Pura de Kant Ficasse um porém Com o pé atrás E a mão estendida na frente Quem dirá o que sente?

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VOZES Ouço vozes que não calam Vejo mortes que não falam por si só Quem me dera não ter visto nada e poder dormir alguns segundos antes de ir embora...

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HORAS IMPRECISAS As horas tímidas Se escondem Atrás de relógios que fingem promessas de eternidades Balanças incessantes, como o passado e o futuro Se furtam do presente, nossa prisão As horas nos escapam pelos dedos São como sonhos, sentimentos São imprecisas, como ventos

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ONDE TU PROCURAS

Nesses olhos que me despem Nessa boca que me prova Nesse hálito que assopras Na orelha que te escuta Nesses dedos que me forçam Nessa pele que me queima Nesse rapto que estupras Com violência minha culpa Nessas frases que não dizes Nesse suor entre as pernas Nesse sangue que avermelha Teu olhar, tua pintura Nesse ar que já me falta Procuras...

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PERDÃO Me perdoa por te amar Sabendo que até agora me odeias Me perdoa por te olhar Querendo mudar essa condição

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ÉS QUASARES

És muito grande Incontível Vaza lavas luminosas e quasares de si mesma a força que advém das Revoluções amanhecem sob teus pés como o cheiro de manguezais em dezembro como gotas d’águas escorrendo sobre mármores criando novas cores que desconheço mas me surpreendem sonhando recomeços entre nós dois...

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TARDE

À tarde os voos são cheios De uma preguiça estranha Que de tão singular Nos impede de tentar alçar Voos verdadeiros

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ELETROAKÚSTICO Você pode até pensar Que meu coração acústico Hoje está se enganando Tentando ser elétrico Não se usam artifícios, No amor e na loucura, sem correr riscos Sei que a constância nos engana Com o som da sua cura

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OUTROS CARNAVAIS E OS MESMOS vim com os maracatus e o sambas cheguei com as marchas de rancho, os metais e seus sopros, cirandas renegados no cotidiano esperei outros carnavais e os mesmos os mesmos blocos de sujos, pierrots, colombinas, índios, palhaços e outras fantasias não tenho parabólica, aponto pro mundo um tufão sou pouco, mas sonho e sangro e já começo a desconfiar que não quero ser pouco livre, tenho a liberdade de ser e de estar quero viver outros carnavais e os mesmos aqueles carnavais diferentes dos outros e se os carnavais dos outros são os mesmos carnavais vividos por aqueles do povo

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HOJE EU QUERO UM BLUES hoje eu quero um blues já cansei do samba sincopado noutros tempos errava o compasso a cadência sem piso da esquina hoje eu quero um blues como um choro do mestre Callado uma viagem de Heitor dos Prazeres uma valsa do maior PISSINGUIM nem sei como acordei assim New Orleans nem sei como devo e pago blues de Chicago outrora veria um fim samba pra gente mas hoje não quero samba, estou doente hoje eu quero um blues não quero samba hoje eu quero um blues cansei de ser bamba

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AO CHEGAR EM LISBOA Você pensava seus velhos planos não amar e não ter paixão a vida é curta melhor viver cada momento com intensa emoção

Noite de sonho eu não pensava viver um amor assim te conheci faz pouco tempo mas me apliquei e tive a esperança de que seria para sempre

E quando o sol nascer você vai partir vai entrar num avião ao chegar em Lisboa vai chorar, vai sorrir com uma cara muito boa de quem soube curtir

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