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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA Curso de Comunicação Social
Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de Souza
"QUEM SOU EU? QUEM VEM LÁ?": o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional
Cabo Frio 2012
Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de Souza
,
"QUEM SOU EU? QUEM VEM LA?": o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Prof. Me. Heloiza Beatriz Cruz dos Reis
Cabo Frio 2012
Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de Souza
,
"QUEM SOU EU? QUEM VEM LA?": o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Publicidade e Propaganda.
Aprovada em 5 de dezembro de 2012.
Banca Examinadora :
Profa. Me. Heloiza Beatriz Cruz dos Reis (Orientadora) Universidade Veiga de Almeida
Profa. Me. Vânia Oliveira Fortuna Universidade Veiga de Almeida
Profa. Me. Mônica Christina Pereira de Sousa Universidade Veiga de Almeida
Aos meus pais, Antônio e Lúcia, e em memória de Paulo, Ismael e tantos outros que, arduamente, criaram o genuíno carnaval carioca
AGRADECIMENTOS
E' estranho começar os agradecimentos de um trabalho como este. Poderia passar as próximas páginas apenas contando histórias desse tempo, mas seria injusto de minha parte, pois tenho certeza que esqueceria pontos importantes. Primeiramente agradeço a Deus e à Nossa Senhora de Nazaré. Que me desculpem os outros, mas não acredito em Deus como um velho senhor, sentado nas nuvens e comandando o vai e vem do mundo, mas como a força que todos carregamos dentro de nós mesmos, que nos faz sempre seguir em frente. Aos meus pais, Antônio e Lúcia, por existirem, por acreditar em mim, pelo amor e por sempre me apoiarem, por mais incoerentes que meus projetos pareçam. ' A que1ida professora Heloiza Reis pela orientação, paciência e conselhos nas horas
' em que esse trabalho me enlouqueceu (que não foram poucas). A professora Vanessa Ribeiro,
pelas oportunidades, risos e conversas no facebook, aos professores que se dedicaram nesse quase quatro anos a nos ensinar e especialmente às professoras Vânia Fortuna e Mônica Sousa, por se aceitarem participar da minha banca de aprovação da forma mais solícita possível. Tenho que agradecer especialmente ao amigo Luan Borges, que esteve sempre comigo nas maiores loucuras que propus, pelas longas e chatas revisões e por me ouvir falar sobre carnaval por quase um ano sem reclamar (tá bom, ele reclamou, mas como é um momento jubiloso, a gente finge que foi tudo sempre lindo). Ao longo desses quase quatro anos conheci pessoas incríveis: Max Goes, Natália Branco, Fernanda Mel!o, Neto Pereira (pode deixar que dessa vez não te chamarei de Orlando, ops), Carol, Flora, Cam.illa e tantos outros. Obrigado por me fazerem aguentar todo o pesado fardo dessa caminhada e por me mostrarem que, mesmo a universidade não sendo o que todos sonhamos, os amigos valem as horas gastas em pé no ônibus, o acordar cedo e os trabalhos feitos na véspera da entrega. ' A minha familia paraense, minha segunda mãe Cláudia e minha irmã de alma
Marina, à @sta_ignorancia por me mostrar que tudo pode (e vai) piorar, minha marida linda Tainá Nascimento e ao meu Alce preferido. Para finalizar, ao professor que na 4• série disse para a sala inteira que eu era tão disperso que nunca terrninatia a faculdade, apenas um recado: eu consegui, viu? Eu disse que seria breve. Evohé!
Portela Eu, às vezes, meditando Quase acabo até chorando Que nem posso me lembrar Seus livros têm tantas páginas belas Se for falar da Portela, hoje não vou terminar A Mangueira de Cartola, velhos tempos de apogeu O Estácio de Ismael, dizendo que o samba era seu Em Oswaldo Cruz, bem perto de Madureira Todos só falavam "Paulo Benjamin de Oliveira" Paulo e Claudionor quando chegavam Na roda do samba abafavam Todos corriam pra ver Se não me falha a memória No livro da nossa história tem conquistas a valer Juro que nem posso me lembrar Se for falar da Portela, hoje não vou terminar Passado de glória (Monarco)
RESUMO
SOUZA, Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de. "Quem sou eu? Quem vem lá ?": o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional. 106f. Monografia (Bacharelado em Publicidade e Propaganda)- Curso de Comunicação Social, Universidade Veiga de Almeidacampus Cabo Frio, Rio de Janeiro, 2012. Sete semanas antes do Domingo de Páscoa a cidade se e1úeita. Foliões e mascarados abandonam a censura da vida diária para se divertir em uma época do ano historicamente dada aos exageros. O carnaval, festa que ganhou seus contornos na Paris do século XIII, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Por meio delas, também vieram costumes e crenças que se replicaram pela "nova tena". Somos tun Brasil neo-lusitano ou uma mistura sem fim de várias culturas? As reflexões aqui apresentadas orbitam em torno de uma criação genuinamente nacional: o samba-enredo. Parte do cancioneiro carnavalesco, teve sua origem nas rodas de samba da casa de Tia Ciata, na Praça XI, e embala desde o começo do século XX os desfiles das Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro. No caso desta monografia, o objetivo é analisar como o carnaval, pela figura do samba-enredo, foi utilizado como ferramenta de propaganda ufanista e de uma posterior crítica nacional, após seu primeiro estatuto, criado pela União das Escolas de Samba em 1934, onde se exigiu temas nacionais nas composições a partir de então. Para tal proposta, além do tradicional embasamento teórico, foram analisadas as letras de 110 (cento e dez) sambas-enredos do período de 1943 a 1989, de forma qualitativa, para se comprovarem seus usos. Essa utilização, do povo e para o povo, ganhou força e foi fomentada durante o Estado Novo, período ditatorial comandado por Getúlio Vargas. Ao mesmo tempo, começava a Segunda Guerra Mundial, que inundou o carnaval do patriotismo exacerbado, parte do plano do governo estado-novista. Com o fim da guerra e do Estado Novo, o Brasil já tinha se acostumado ao "novo" carnaval, tanto que foi "importada" pelos militares, depois do golpe de Estado de 1964. Com o tempo, porém, o carnaval que brindou ao poder se transformou em voz dissidente, criticando a situação econômica e social do país. Seja como propaganda nacional ou crítica da vida diária, o samba-enredo ajudou a criar uma sociedade na qual pierrôs, arlequins e colombinas pudessem se sentir, enfim, brasileiros. Palavras-chave: Identidade; Representação; Carnaval carioca; Samba-enredo; Propaganda
nacional.
ABSTRACT
SOUZA, Carlos Raphael Ferreira Gonçalves. "Who am I? Who comes there? ": the Rio Camival from vainglorious propaganda to national criticism. 106p. Monograph - Social Communication Course, Universidade Veiga de Almeida- campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, 2012. Seven weeks before Easter Sunday the city is adorned. Party goer and masked abandon censorship of daily life to have fun at a time of year historically given to exaggeration. The Carnival emerged in tbe eighteenth century from Patis arrived in Brazil through the portuguese cara veis. Thereafter, also carne news habits and beliefs that were replicated by the "new eatth". Is Brazil a neo-lusitan or a mix of various cultures without end? The reflections presented revolve around the creation of a genuinely national: samba-song. Part of the Cat11ival's songbook had its origin in samba' s circles in Tia Ciata's house in Praça XI and guide from the beginning of the twentieth century Samba Schools Parades of tbe city of Rio de Janeiro. ln this thesis the aim is to analyze how the Carnival was used as a propaganda too! by the vainglorious figure of the samba-song and a subsequent national criticism after its first statute, created by the Union of Samba Schools in 1934, where it demanded national themes in compositions from then. For this proposal, besides the traditional theoretical foundation, we analyzed the lyrics of 110 (one hundred and ten) samba-song of the period from 1943 to 1989, in a qualitative way to prove its uses. This use of the people and for the people, gained strength and was fostered during the Estado Novo, dictatorial period led by Getúlio Vargas. At the sarne time, started the Second World War which flooded the Carnival exacerbated patriotism reaching part of the govenunent' s plan estado-novista. With the end ofWar and the Estado Novo, Brazil had already grown accustomed to the " new" Canlival, so it was "impmted" by the military after the coup of 1964. Over time, however, the Carnival that toasted to power became dissenting voice, criticizing the social and economic situation of the country. Be as national propaganda or criticism of everyday life, samba-song helped create a society where pierrots, harlequins and columbines could feel finally brazilians.
Keywords: Identity; Representation; Rio Carnival; Samba-song; National propaganda.
SUMÁRIO
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' I MEMORIA E IDENTIDADE: SENTIMENTOS COMO MAR CA DE UM POVO ... 12
1.1 Identidade nacional e representação .................................................................................. 13
1.2 Da lendária Hy Brazil ao país do futuro ............................................................................ 16 1.3 "E o que o Brasil não quer ser?"........................................................................................ 20 2 PROFANO OU UFANO ? A PROPAGANDA E O SAMBA-ENREDO ....................... 24
2.1 "Lembrança é herança dos antigos camavais" .................................................................. 26 . . . , e a propaganda nacwn . al .................................................................. . 30 2 .2 O " mago JUSbceuo 2.3 Sambistas com pés de chttmbo ... ... ............................. ...... .. ........................ ......... ... ...... ..... 35
3 A UF ANIA E O PROTESTO EM UM CARNAVAL MULTI COR .............................. 40
3.1 Brasil ufanista .................................................................................................................... 41 3.2 Os vários Brasis ......... .. .... .. ...... ... ......... .................... ... ................................ ... ...... ... ........... 49 3.3 Car·naval da crítica ....................................................................... ............... ....................... 55
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INTRODUÇÃO
"E' de novo camaval e para o samba este é o maior prêmio". Assim começava o samba-enredo O grande decênio 1, levado pra Avenida Presidente Antônio Carlos na manhã de 10 de fevereiro de 1975 pela Beija-Flor de Nilópolis. Muito mais do que simples festejo popular, o camaval cruioca teve mn papel fundrunental no sentido de "nação" (grifo nosso) que foi criado no brasileiro, como veremos no próximo capítulo. Há muito se discute de onde nasceu nosso sentimento nacionalista. Um dos poucos países do mundo que teve sua independência proclamada por um estrangeiro (o português Pedro I) e com quase nenhum apoio popular, a união nacional não nasceu daí. De Caminha aos viajantes, a Europa descobria os delírios tropicais da Terra dos Papagaios por cartas que nem sempre contavam toda a verdade. Nossa identidade foi construída sobre alicerces "podres" (grifo nosso), levando em consideração as teorias raciais que faziam sucesso na Europa, o que nos custou anos de inferiorização nacional. Construído ou natural, o mais importante era que a colônia percebesse a importância dos áureos louros portugueses para nosso sucesso. Sendo assim, nosso país replicava insistentemente crenças e costumes lusitanos, sem se preocupru· se isso faria diferenças nos nossos sentimentos nacionais. E' errado afirmar que o Brasil nunca lutou por sua liberdade nacionalista. Durante nossa história, ocorreram diversas revoltas, principalmente regionais, que desejavam a liberdade de escolher nosso próprio futuro. Porém, como defendia Francisco Adolfo de Varnhagen, o Brasil queria continuar a ser português. Mesmo com nossa independência, a ruptura seria apenas política, não ideológica. Controvérsias a parte, mn dos costmnes lusitanos "importados" (grifo nosso) pelos brasileiros foi o Entrudo. Em nosso país, porém, a brincadeira perdeu o costume da realização do casamento de bonecos de palha. Com o bota-abaixo, nome popular da reforma urbanística promovida pelo prefeito Pereira Passos, com a volta dos soldados que lutaram na Guerra de Canudos e o surgimento das favelas, o Rio de Janeiro teve contato com um novo ritmo negro: o samba. Isso criou uma nova face do carnaval no Brasil. Das rodas de samba na Praça XI ao estrelato da Apoteose, o carnaval carioca se viu em um patamar muito além de simples festejo carnavalesco, mas símbolo nacional de um país bipolar, como ressalta Leandro Nru·loch (2009, p.l31 ). Com o fomento público aos ranchos e
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Acesse http://bit.ly/beijaflorl975 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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blocos promovido pelo prefeito Pedro Ernesto e a oficialização da folia, o país encontraria uma nova forma de utilização da festa. Quando Getúlio Vargas chegou à presidência da república, em 1930, vw no carnaval carioca uma forma de unificar o país. O samba-enredo, um dos meandros das canções carnavalescas, nasceu no começo do século XX e só foi eternizado pela primeira vez em 1968, em um long play encomendado pelo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O disco, intitulado As dez grandes escolas cantam para a posteridade seus sambas-enrêdo de 1968, abriu as portas para a popularização de uma festa que antes era tida como marginal. A partir daí, o registro fonográfico dos sambas-enredos cariocas nunca mais parou. Em 1934, com a criação da União das Escolas de Samba veio o primeiro estatuto, visando oficializar e regulamentar definitivamente os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, tido por muitos como "o maior espetáculo a céu aberto do mundo". Por meio da propaganda nacional imposta na obrigação de temas nacionais nos desfiles das Escolas de Samba, pretendia "ensinar" (giifo nosso) ao Brasil o valor do orgulho nacional, seja por meio de vultos históricos, sonhos, índios entre tantos outros temas. E' nesse ponto que este trabalho se sustenta. O samba-enredo carioca é o objeto de estudo dessa monografia. Além da importância para o campo da Comunicação Social, em especial para a propaganda, a relevância do trabalho encontra-se na contribuição da revisão da literatura sobre o tema, pela reunião de conceitos e fundamentos correlatos e pelo cruzamento de pontos de vistas de sociólogos, historiadores e teóricos do carnaval. Supondo que o carnaval carioca, e a obrigação legal de letras de sambas de enredo com temáticas nacionalistas à partir do primeiro estatuto das Escolas de Samba do Rio de Janeiro em 1934, moldou nossos alicerces nacionais, podemos apontar como principal hipótese dessa construção os aspectos da utilização de uma festa popular já amplamente conhecida na sociedade carioca como arma de disseminação da ideologia nacionalista por meio da ampla utilização da propaganda nacional, saída encontrada pelo então governo como arma frente a questão de se criar algo que integrasse o Brasil. O objetivo geral dessa monografia é demonstrar a relação entre o carnaval carioca e a propaganda nacional, no período de 1943 a 1989, verificando em que pontos essa obrigação legal mudou o sentimento ufanista no Brasil. Como complemento à hipótese defendida, há o contraponto, quando o mesmo samba-enredo, anteriormente mola propulsora da propaganda nacionalista, passa a porta-voz de uma sociedade cansada dos rumos poüticos e econômicos do país, transformando-se em pilar da crítica nacional.
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Para que tais objetivos sejam satisfatoriamente atingidos, a metodologia de trabalho adotada foi o tradicional recolhimento de material bibliográfico para compor os pressupostos teóricos que irão fundamentar a pesquisa científica em si. Além disso, serão analisados qualitativamente a letra de 1 IO (cento e dez) composições de sambas-de-enredo no período pesquisado. De tal modo, este trabalho monográfico é organizado em três partes: no primeiro capítulo, intitulado Memória e identidade: sentimentos como marca de um povo, pretende-se resgatar, historicamente, pontos relevantes sobre a criação da identidade nacional brasileira, por meio do embasamento teórico de autores como Peter Burke, Michel Pollak, Sandra Jatahy Pesavento, José Carlos Reis, Lilia Katti Moritz Schwarcz, entre outros. No segundo capítulo desse estudo, sob o título Profano ou ufano? A propaganda e o samba-enredo, há, em ordem cronológica, a histó1ia do carnaval, sua oficialização e uso
propagandista durante o período do Estado Novo e sua posterior mudança ideológica para a crítica nacional, tudo com apoio bibliográfico de teóricos como Eneida de Moraes, Leandro Narloch, José Adriano Fenerick, Nelson da Nobrega Fernandes, Sérgio Cabral, Hermano Vianna, entre outros. No terceiro capítulo, intitulado A ufan.ia e o protesto em um carnaval multicor, há a análise qualitativa dos sambas-enredos do período, pretendo demonstrar como essa propaganda nacional proposta no primeiro estatuto, em 1934, se aplicou nas composições carnavalescas a partir de então, entrelaçado por comentários de autores como Rubim Santos Leão de Aquino e Luiz Sérgio Dias, Luiz Antonio Simas e Alberto Mussa, Mara Natércia Nogueira, entre outros, finalizando o tt·abalho com as considerações finais sobre o tema, e possíveis desdobramentos dessa monografia. Entendendo que o conhecimento constitui o motor das mudanças, a cellula mater da vida acadêmica, o projeto se valida na importância multidisciplinar à medida que pretende enriquecer a literatura científica sobre o tema e oferecer aos profissionais da área e interessados no assunto uma nova plataforma de reflexão e elucidações. Estudar o passado é de fundamental importância para entendermos o que somos hoje, pois o presente é reflexo de escolhas feitos no passado, assim como ressaltou a Portela no inesquecível samba-enredo do carnaval de 1985: "recordar é viver".
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1 MEMÓRIA E IDENTIDADE: SENTIMENTOS COMO MARCA DE UM POVO
Se levarmos em consideração diversos conceitos usados frequentemente na história mundial, uma das designações mais controversas em determinados períodos são os fatos relacionados à memória. Primeiramente, a memória é algo individual , íntimo de cada indivíduo constituinte de uma sociedade. Michael Pollak ressalta que Maurice Halbwacbs já defendia que "a memória deve ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações , transformações, mudanças constantes." (POLLAK, 1992, p.201). Destacando-se as características inerentes à memória - flutuante, mutável, tanto individuai como coletivamente - , devemos levar em conta que na maioria das memórias, existem pontos invariantes, marcos imutáveis da vida individual. Além desses acontecimentos, a memória é constituída de personagens, partes integrantes de um meio maior, a história. Pollak mostra que entre os diferentes elementos da memória vivida, a primeira e ptincipal caractetização dela é o fenômeno das projeções e transferências: "A memótia é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado" (POLLAK, 1992, p.203). Sendo assim, é nessa premissa da construção da memória e das transferências que a identidade se instaura. Nessa construção, três elementos são essenciais: a unidade física, a continuidade e o sentimento de coerência. Há a unidade física, ou seja, o sentimento de ter fronteiras físicas , no caso do corpo da pessoa, ou fronteiras de pertencimento ao grupo, no caso de um coletivo; há a continuidade dentro do tempo, no sentido físico da palavra, mas também no sentido moral e psicológico; finalmente, há o sentimento de coerência, ou seja, de que os diferentes elementos que f01mam um indivíduo são efetivamente mrificados. [ ... ] a memória é mn elemento constituinte elo sentimento de identidade. (POLLAK, 1992, p. 204)
No momento em que memória e identidade estão suficientemente alicerçadas e construídas, os questionamentos provenientes de grupos externos ao meio não chegam a provocar grande preocupação. Quando isso acontece, adentramos períodos de calmaria, em que se diminui a necessidade de reorganizar a história. Sem esse temor, a identidade pode ser criada ou fortalecida, visto que a ela depende a vontade da memória. Memória esta que foi importante para a perpetuação de um termo tão controverso na história brasileira: a identidade nacional brasileira.
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O que une os indivíduos e cria em nós um sentimento de pertencimento pode ser explicado por esse conceito. Construção teórica, ponto em comum do pensamento de uma nação ou pura ilusão de uma mente criativa, a identidade moldou a sociedade ao construir algo em que todos pudessem ser considerados "irmãos" (grifo nosso). Foi uma identidade baseada na raça -e não pela vitória, força do povo ou no passado glorioso, como em alguns países -que moldou toda a história do Brasil-nação.
1.1 Identidade nacional e representação Diversos autores se indagaram durante a história, sobre o que levaria as pessoas a acreditarem que pertenciam a um mesmo grupo. De todas as posições - sejam elas por raça, vitória, legitimidade histórica, imposição divina, etc., a mais dogmática pertence ao filósofo alemão Johann Gottfried von Herder, em sua obra Ideias para a filosofia da história da humanidade (1784). Nela, Herder mostra que nacionalidade supõe afinidade de um grupo, a
cultura comum de um ambiente em comum. Sobre a obra de Herder, José Carlos Reis nos mostra que: Uma nação descende de si mesma, torna-se o que já é, assim como a árvore cresce da semente. [... ] Se cada mna dessas nações tivesse ficado em seu ambiente natmal, a Tena podetia ser considerada tun como "jardim", onde
cada planta nacional floresce com a sua própria forma, cor, cheiro. As floresnações são singulares, nascem em um território determinado, têm a sua própria natureza e o seu próprio ritmo de evolução. (REIS, 2008, p.2) No século XIX, devido ao pensamento, até então, ímpar de Herder, nascem fortes reações à teoria hercleriana sobre o caráter nacionalista. Robin George Collingwood, fi lósofo britânico, ressalta que a teoria hercleriana pode ter consequências perigosas: "Ela legitima o orgulho e o ódio nacionais, o patriotismo xenófobo 1 e o expansionismo imperialista" (REIS, 2008, p.2). Na mesma época, Isaiah Berlin defendia que a le.itura de Collingwood da obra de Herder era incorreta. A nação nunca é imperialista e o nacionalismo defendido por Herder é estritamente cultural, não político.
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Segundo o jornalista e filósofo italiano Guido Bolaffi no Dictional)' of race, ethnicity and culture (2003), a xenofobia pode manifestar-se de várias formas, entre elas o medo da perda da identidade, seguido por um desejo de eliminar a presença do outro para assegurar uma suposta pureza. Ela pode também assumir a forma de uma "exaltação aclitica de outra cultura" à qual se atribui "uma qualidade ineal, estereotipada e exótica".
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O significado do termo identidade nacional é recente, visto que começou a ser discutido somente a partir do século XIX, e definido como estritamente vinculado a uma ideia de reconhecimento. Para Maria Stella Martins Bresciani, a identidade nacional são lugares comuns, um fundo compartilhado de ideais, onde as pessoas compartilham de mesmas ideias e
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. . optmoes. Os grupos que conseguem se ver no espelho da cultura, que conseguem construir a própria figura, em uma linguagem própria, identificam-se isto é, criticam-se, reconhecem o próp1io desejo e tornam-se competentes até na ação econômico-social. [... ] Aquele que mruúpul.a os sinais de tuna identidade vencedora para obter vantagens, manipulará a identidade daquele que o reconhece e se deixa manipular. (REIS apud ANDRADE, 2010, p.2). Reis entende que a identidade é uma realidade tão profunda, que "envolve as mais viscerais paixões de um indivíduo" (REIS apud ANDRADE, 201 O, p.2). Foi essa realidade que, segundo A.nderson, "tornou possível nestes dois séculos (XVIT e XIX), tantos milhões de pessoas tenham-se dado não tanto a matar, mas, sobretudo a moner por criações imaginárias limitadas" (ANDERSON apud ANDRADE, 2010, p.2). Para entender como esse sentimento é criado em uma determinada sociedade, precisamos antes compreender o conceito de representação social. Segundo Roger Chartier, "as representações não são discursos neutros: elas produzem estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade, uma deferência, e mesmo a legitimar escolhas" (CHARTIER apud ANDRADE, 2010, p.2). Sendo assim, a identidade nacional é uma representação construída por grupos que, notoriamente, possuem interesses em impor a sua visão ideológica dos fatos . "As representações são vatiáveis segcmdo as disposições dos grupos ou classes sociais. Aspiram à universalidade, mas são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as foljam. O poder e a dominação estão sempre presentes." (CARVALHO apud ANDRADE, 20 I O, p.3). Outra característica da representação é seu nível de abrangência. Ao contrário do folclore 2, que se mantém vivo em um determinado grupo, uma determinada sociedade, com hábitos e costumes restritos, a identidade nacional, sendo como tal uma representação, tende a ser universabsta, ou seja, necessita abranger o máximo de sociedades possíveis, expandindo-se por toda população para ser legitimada pelo povo em geral. Se tais propostas não forem assimiladas por todos, esta não exercerá poder algum sobre os atos, pensamentos e sentimentos
2 Termo criado artificialmente pelo inglês William John Thoms em
I846. A palavra folclore, grafada originalmente como folk-lore, é formada a partir das antigas raízes saxônicas folk, que significa povo e /ore, saber. Assim, para o autor, a nova palavra significaria a sabedoria do povo.
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dos indivíduos desse grupo, invalidando-se uma das principais funções da representação, que é a legitimidade de uma ordem pelo entendimento e não pela força3 . A concepção objetiva do termo identidade nacional se mostra extremamente fechado. Primeiro existem diversos tipos de identidade diferentes inseridas em um mesmo espaço, o que demonstra uma transformação de ideais e não uma imutabilidade. Segundo porque não existe absolutamente nada que nos torne completamente iguais, logo, tal homogeneização proposta não pode ser construída. Se a identidade nacional não pode ser construída, já que não há nenhum ponto que nos tornem homogêneos, como o conceito pode ser utilizado? Sandra Jatahy Pesavento explica que o fato de a identidade nacional ser uma representação, não significa que ela seja irreal. [ ... ] matizes geradoras de condutas e práticas sociais, dotadas de força integradora e coesiva [... ]. Tal pressuposto implica eliminar do campo de análise a tradicional clivagem entre o real e o não-real, uma vez que a representação tem a capacidade de substituir a realidade que representa, construindo um mundo paralelo de sinais no qual as pessoas vivem. (PESA VENTO, 2008, p.39-4l).
Diversos foram os modelos utilizados na formação de um sentimento de pertencimento de um povo a determinada sociedade. Segundo Renato Ortiz, a identidade pressupõe um componente que torne homogênea a população e um outro componente que os diferencie das demais sociedades: Toda identidade se define em relação a algo que lhe é exterior, ela é uma diferença [ ... ] porém, a identidade possui tuna outra dimensão, que é inte1na. Dizer que somos diferentes não basta, é necessário mostrar em que nos identificamos. (ORTIZ apud ANDRADE, 2010, p.8).
Se o que nos torna diferentes das demais sociedades é visível, as semelhanças que nos unem não são tão explícitas. Esses fatores de igualdade foram construídos, moldados e imaginados, fato que gerará conflitos entre os teóricos sobre a existência do termo identidade. Assim, como pressuposto que as identidades são imagens construídas, cada nação criará seu modelo, buscando sempre a união de seu povo, a homogeneização de culturas, línguas e passado histórico muitas vezes divergentes. A criação desse sentimento foi importantíssimo na construção e na formação das nações. Na obra Nações e nacionalismo desde 1780 (2008), Eric
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Chartier chama atenção nesse ponto para o crescimento da chamada violência simbólica, que é quando há um aumento na violência consentida por quem a sofre.
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Hobsbawm conclui que não foram as nações que nasceram antes do nacionalismo, mas o contrário, pois era preciso criar um sentimento de pertencimento a um povo, para que os fizesse amar e lutar por algo que considerassem importante.
1.2 Da lendária Hy Brazi/4 ao país do futuro5
Ao observarmos apenas aspectos jurídicos, geográficos ou diplomáticos, toma-se claro a existência de uma nação brasileira. Assim, seria simples definir a identidade nacional brasileira como a etiqueta populacional dos indivíduos que vivem dentro desse quadro formal. Porém, os conceitos de nação e identidade exigem algo mais, como o consenso em torno de certos valores anterionnente citados que, juntos, dão validade a um sentimento de unidade entre os indivíduos. Desde o fim do século XIX, estudiosos e teóricos vêm discutindo a coesão brasileira. Não por coincidência foi no auge do Segundo Império (de 1850 à 1870) que o país, enriquecido pelo café, voltou os olhos para a própria história. Por detenninação de D. Pedro II, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, foi incumbido de desvendar a real história e os mistérios por trás do descobrimento do Brasil. A nação recém-independente precisava de um passado do qual pudesse se orgulhar e que lhe permitisse avançar com confiança para o futuro. Era preciso encontrar no passado referências luso-brasileiras: os grandes vultos, os varões preclaros, as efemérides do país, os filhos distintos pelo saber e brilhantes qualidades, enfim, os luso-brasileiros exemplares, cujas ações pudessem tornar-se modelos para as futuras gerações. (REIS, 2006, p.25). O primeiro passo foi o ressurgimento da carta escrita por Pero Vaz de Caminha.
A
Carta a El Rei D. Manuel, que ficara perdida quase três séculos entre arquivos empoeirados,
havia sido redescoberta em 1773 pelo guarda-mor dos arquivos da Torre do Tombo, José Seabra
A Uha do Brasil (ou Ilha de São Brandão) é uma lenda que percorreu toda a cartografia do século XI à Idade Média. Segundo ela, Hy Brazil foi descobet1a e colonizada pelo monge irlandês São Brandão em 565 d.C., e seu nome significa "ten·a abençoada" (grifo nosso). "Desde 1351 até pelo menos 1721 o nome Hy Brazi/ podia ser visto em mapas e globos europeus, sempre indicando uma ilha localizada no oceano Atlântico. Até 1624, expedições ainda eram enviadas à sua procura." (BUENO, 1998, p.13). 5 O tenno "país do futuro" (grifo nosso) foi criado pelo escritor austríaco Stefan Zweig no ensaio Brasil. país do futuro , publicado em 194l. 4
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da Silva, que mandou copiá-la. O documento foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1817, pelo Padre Manuel Aires de Casal6. ' Caminha não era o escrivão oficial da frota de Pedro Alvares Cabral, cargo que era
ocupado por Gonçalo Gil Barbosa, mas ao "pegar na pena" (grifo nosso) e sentar-se a bordo da nau Capitânia, redigiu o primeiro registro oficial da nova terra7. Os navegadores portugueses há mais de meio século já afinavam a arte de registrar os fatos mais importantes ocorridos em suas viagens marítimas e com o Brasil não seria diferente. A carta foi levada a Portugal por Gaspar de Lemos. Na carta, Caminha conta ao rei de Portugal, Dom Manuel I, toda a aventura da esquadra portuguesa, da travessia do Cabo da Boa Esperança- vencido por Vasco da Gama anos antes - ao desembarque nas águas calmas da Baia de Cabrália. E' dele o primeiro registro sobre a população que já habitava o Brasil, no primeiro contato dos portugueses com os nativos brasileiros. E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. [... ] Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobtisse suas vergonhas. [... ] A feição deles é serem [ .. . ] um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes. [... ] Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele tun osso verdadeiro. [ ... ] Os cabelos deles são conedios. E ar1davat11 tosquiados[ ... ], rapados todavia por cima das orelhas. E tun deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. (CAMINHA, 1963, p.2-3)8 Esse foi o primeiro registro de um povo que possuía sua própria "identidade" (grifo nosso), via-se incluso numa sociedade com regras e regimes próprios e diferenças que os distanciavam de outras tribos vizinhas. Para os portugueses, assim como escreveu Caminha em sua carta, a colonização portuguesa seria "o melhor fiuto que dela se pode tirar" (CAMINHA, 1963, p.l2). A visão portuguesa era a de um novo povo sem costumes e crenças, que deveria
deglutir e seguir as regras europeias vigentes. Além do registro de Caminha, houve também o registro do bacharel em artes e medicina, físico, astrônomo e astrólogo conhecido como Mestre
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Acarta foi publicada no livro Corografia Brasílica. Porém, a versão impressa pelo Padre Manuel Aires de Casal era incompleta: ele achou de bom tom eliminar do documento as partes que não condiziam com a moral e o decoro da época. 7 É importante ressaltar que Caminha tinha segundas intenções para dirigir-se ao rei, o que fica claro nas últimas linhas de sua carta. Ele desejava que O. Manuel perdoasse seu genro Jorge Osouro, que fora condenado ao degredo na ilha de São Tomé, na costa africana 8 A Carta n El Rei D. Manuel foi escrita por Pero Vaz de Caminha em 1° de maio de 1500. Acarta utilizada como referência nesse trabalho foi retirada de uma reimpressão de 1963.
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João -figura misteriosa, que três séculos mais tarde foi identificado como sendo João Faras, cirurgião do rei D. Manuel. E' dele o primeiro registro do céu brasileiro, nos dias em que a frota ficou ancorada na baía de Cabrália. Senhor: ontem, segunda-feira, que foram 27 de abril, descemos em terra, eu e o piloto do capitão-mor e o piloto de Sancho de Tovar; tomamos a altura do sol ao meio-dia e achamos 56 graus, e a sombra era setenuional, pelo que, segundo as regras do astrolábio, julgamos estar afastados da equinocial por 17°, e por conseguinte ter a altura do poJo antártico em 17°, segundo é manifesto na esfera. [ ... ] Somente mando a Vossa Alteza como estão situadas as estrelas do (sul), mas em que grau está cada uma não o pude saber, antes me parece ser impossível, no mar, tomar-se altura de nenhuma estrela, porque eu trabalhei muito nisso e, por pouco que o navio balance, se erram quau·o ou cinco graus, de modo que se não pode fazer, senão em terra. [...]ao propósito, estas Guardas nunca se escondem, antes sempre andam ao derredor sobre o horizonte, e ainda estou em dúvida que não sei qual de aquelas duas mais baixas seja o polo antártico, e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são grandes quase como as do Carro, e a estrela do poJo antártico, ou Sul, é pequena como a da Norte e muito clara, e a estrela que está em cima de toda a Cruz é muito pequena. (FARAS, !999, p.l-2) 9
A "identidade brasileira" (gJ.ifo nosso) começou a ser moldada a cada registro, a cada carta escrita por um navegador ou viajante que tenha passado pela nossa costa ou pisado em nosso solo: Caminha, Mestre João Faras, Diego de Lepe, Vicente Pinzón, Américo Vespúcio, Binot Paulmier, entre tantos outros 10 . Era pelas mãos deles que o velho mundo conhecia o Brasil, e foram eles os responsáveis por criar a primeira versão de uma identidade brasileira, construída aos moldes da comparação com a cultura europeia. Francisco Adolfo de Varnhagen 11 , considerado o fundador da história do Brasil, em sua obra História geral do Brasil (1854), pinta um quadro sombrio do futuro brasileiro. Porém, ao mesmo tempo em que elenca a degeneração de nossa cultura, deixa claro pensamentos que agradaram - e muito - a Pedro II, imperador do Brasil. Para Vamhagen, o brasileiro queria ser um neo-lusitano, dando continuidade aos costumes implantados pelos portugueses. Reis explica esse pensamento de Varnhagen: O que o Brasil quelia ser? [ ... ] o Brasil quelia continuar a histó1ia que os portugueses fizeram na colônia. A identidade da nova nação não se assentaria 9 A carta utilizada como referência nesse trabalho foi retirada de uma reimpressão de 1999.
°Caminha e Mestre João Faras esti veram na frota de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em abril de
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1500. Diego de Lepe e Vicente Pinzón circundaram a costa brasileira antes dos portugueses (Pinzón em janeiro de 1500 e De Lepe em março do mesmo ano), mas nunca reivindicaram os atos para si. Vespúcio chegou à Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1502. Binot Pau lmier, navegador francês, chegou ao sul do Brasil em janeiro de 1504. 11 Varnhagen foi eru·edo do carnaval da Mocidade lndependente de Padre Miguel em 1969.
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sobre a ruptura com a civilização portuguesa; a ruptura seria somente política. [ ... ] o que o Brasil não quer ser? [ ... ] o Brasil não que1ia ser indígena, negro, republicano, latino-americano e não católico. O que isso significa dizer: o Brasil queria continuar a ser português e para isso não hesitará em recusar ou reprimir o seu lado brasileiro. (REIS, 2006, p. 31-32)
Esse Brasil neo-lusitano será defendido e produzido pelas elites brancas, pela Coroa portuguesa e pelo Estado. O novo país, recém-independente, será uma continuidade da colônia, mas a Coroa deixa de ser exterior e passa a ter raízes interiores. Varnhagen defendia a ideia que: O Brasil independente queria, portanto, continuar a obra de Portugal, pois a colonização portuguesa era vista como bem-sucedida, trouxera a civilização europeia, a religião cristã e tornara produtiva uma região abandonada e desconhecida. Po1tugal integrou o Brasil na rota da "grande histólia" . O Brasil, portanto, foi, e deverá continuar a ser português. (REIS, 2006, p.32)
Em 1840, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro estabeleceu um prêmio para quem melhor elaborasse um plano de escrita para a história do Brasil. Como anteriormente dito, foi no auge do Segundo Império que a sociedade brasileira viu necessidade de voltar os olhos para próp1ia lústó1ia, pois, como se falava abertamente nas páginas da revista do Instituto, "não há pais sem lústória" (RIHGB, 1844). O resultado desse concurso foi um tanto inesperado. O vencedor, o botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, em sua monografia intitulada Como se deve escrever a história do Brasil, defendia a tese de que a nossa história era, na realidade, miscigenada:
Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas, que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma manei.ra desconhecida na história antiga, e que devem servir-se mutuamente de meio e fim. (MARTIUS apud SCHWARCZ, 1994, p.3).
Von Martius definiu as linhas mestras da primeira interpretação do Brasil, que se entranhou profundamente nos intelectuais do Brasil. Era um não-brasileiro que inaugurava o conhecido mito das três raças 12, que se revelava como uma boa bengala para pensar a nacionalidade e a história do Brasil-nação: "O gênio da história [ ... ] não poucas vezes lança mão de cruzar raças para alcançar os fins mais sublimes na ordem do mundo[ .. . ]. Jamais nos
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O mito das três raças foi enredo do carnaval da Imperatriz Leopoldinense em 1969.
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será pennitido duvidar que a vontade da providência predestinou ao Brasil esta mescla" (MARTIUS apud SCHWARCZ, 1994, p.3). Nesse sentido, a "fábula das três raças", essa ladainha que desde os tempos coloniais reconta nossa história a partir do papel formador dos negros, índios e brancos, parece relevante para se pensar em como a assim chamada cultura nacional sempre se constituiu por meio de um processo de tradução, seleção, cópia, alteração e atualização. A ideia é, poxtanto, menos indagar sobre a "falta de identidade" ou desconstruir essa fábula e transfonná-la em mito. [... ] Na pista de M. Sahlins, pensar como a "história vira metáfora e o mito realidade". (SCHWARCZ, 1994, p.2) O fato de essa teoria ter vencido o concurso e ser operante e persuasiva no interior dos institutos históricos nacionais, não implica que tenha sido a única e mais influente teoria racial adotada no país. O naturalista suíço Louis Agassiz condenava claramente a miscigenação local, dizendo que ela só atrasava uma nação. Em 1853, quando esteve no Brasil em sua missão oficial, o conde A.rthur de Gobineau afinnou: "Os brasileiros só tem em particular uma excessiva depravação. São todos mulatos, a ralé do gênero humano, com costumes condizentes" (GOBINEAU apud SCHWARCZ, 1994, p.4). Gustave Aimard, que visitou o Brasil em 1887, concluiu: "J'ai remarqué un fait singulier que }e n 'ai observé qu 'au Brésil: cést /e changement que s 'est opéré dans la population par les croisernent eles races, ils son.t les fils du soleii 13"
(AIMARD apud SCHWARCZ, 1994, p.4).
1.3 "E o que o Brasil não quer ser?"
Outras teorias nasceram com o decorrer da história. João Capistrano de Abreu será um dos precursores da corrente de pensamento histórico brasileiro que tentará redescobrir o Brasil, val01izando seu povo, sua luta, a flora e fauna nacional, o clima tropical, seus costumes e miscigenação. (Capistrano) Atribuirá a este povo a condição de sujeito da sua própria história, que não deveria vir mais nem de cima e nem de fora, mas dele próprio. O futuro do Brasil torna-se tarefa do povo brasileiro [ ... ]. Capistrano foi pioneiro na procura das identidades do povo brasileiro, contra o português e o Estado imperial e as elites luso-brasileiras. (REIS, 2006, p.95)
13 "Notei
um fato singular que tenho observado no Brasil: é a mudança que ocorreu na população pelo cruzamento de raças, eles são filhos do sol." (tradução nossa).
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Para ele, o conceito de "cultura" (grifo nosso) passa a substituir o de "raça" (grifo nosso). Sendo assim, ele é precursor de Gilberto Freyre e de Sérgio Buru·que de Holanda. Capistrano pensa em um Brasil mais mameluco que mulato, mais sertanejo que litorâneo: "O fhturo do Brasil será brasileiro, descontinuando o passado português" (REIS, 2006, p.ll4). E é nos Capítulos de história colonial (1907), sua principal obra, que ele discorre sobre seus pontos de vista. Capistrano esforça-se por definir uma "brasilidade" , apesar da donúnação p01tuguesa e contra ela. "Brasilidade" que começa com a ftmdação de São Vicente e Piratininga, que cresceu com as bandeiras, com a ocupação da Amazônia 14, com o gado e as nlinas. "Brasilidade" que se exaltou durante o século xvm e se expressou através de rebeliões diversas, sangrentas. "Brasilidade" de uma população munerosa, mestiça, com os seus modos próprios de viver e pensar, com as suas atividades econômicas específicas, adaptadas a regiões diversas. (REIS, 2006, p.lll) Enquanto em outros países a identidade nacional foi construída com referência na superioridade, o passado grandioso do povo ou a língua, no Brasil, o principal modelo formulado pra identificação pressupunha a raça - que na época era considerada inferior - e o clima- que gerava indivíduos pouco propensos ao trabalho e à racionalidade. Nossa identidade fora construída em bases negativas, o que gerara em nós, segundo Darcy Ribeiro, o sentimento de incompletude, assim como diz Bresciani: "[ ... ] o povo brasileiro seria ainda um por vir a ser, sempre colocado no futuro, um projeto, [ ... ] homens e mulheres inacabados" (BRESCIANI apud ANDRADE, 2010, p.2).
Essa concepção da mistura de raças foi profundamente pesquisada na década de 1920 por homens como Sérgio Buru·que de Holanda, Sílvio Romero e, posteriormente, por Gilberto Freyre. Sobre a obra de Sérgio Buarque de Holanda, Maria Yeda Linhares declara: Casa Grande e Senzala [ ... ] foi mn passo decisivo para o reconhecimento do país como plurirracial. A mestiçagem, até então escondida e disfarçada, passou a ser parte integrante de uma brasilidade orgulhosa de suas origens. (UNHARES apud ANDRADE, 20 IO, p.5). Freyre, contrariando Oliveira Vianna, admitia a integração nacional mantendo a diferença regional, exaltando, portanto, a qualidade das raças e o bom relacionamento entre
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Diferente de alguns historiadores de sua época, Capistrano não via como algo ruim o domínio espanhol do trono português no século XVI. Ele acreditava que isso tinha favorecido a Coroa portuguesa e, consequentemente, suas colônias. Foi com o apoio espanhol que os portugueses ocuparam a Amazônia e expulsaram os franceses e holandeses do norte e nordeste do Brasil.
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elas. Os projetos formulados por Vianna entravam em conflito com as novas concepções da década. Ele propunha um desenvolvimento nacional baseado no estudo das raças e na ação do Estado frente a esse povo mestiço porque, para o autor, essa população seria incapaz de se a1ticular se não houvesse mn gmpo de intelectuais os govemando. Vianna afinna: "A realização de um grande ideal nunca é obra coletiva da massa, mas sim de uma elite, de um grupo, de uma classe, que com ele se identifica, que por ele peleja. 15 " (PÉCAULT apud ANDRADE, 2010, p.5). Ao analisar a proposta ideológica de Oliveira Vianna sobre a identidade nacional, Bresciani conclui:
[ .. . ] em seu manifesto politico de 1922- O idealismo na evolução política do Império e da República - (Oliveira Vianna) desenvolve uma concepção voluntarista de integração nacional na proposta de ser mediante conhecimento do povo, sua estrutura, sua economia íntima e sua psique que se projetaria o modelo político adequado a forjar essa unidade pela ação centralizada no estado autoritário. (BRESCIANl apud ANDRADE, 2010, p.5)
Saindo do eixo racial, alguns intelectuais brasileiros se referem a uma certa carência de cultural nacional. Silvio Romero lamentava a "pouca oxiginalidade da cultura brasileira" e apontava a "cópia" como um sinal revelador do nosso maior mal: "Essa mania de passar pelo que não somos." (ROMERO apud SCHWARCZ, 1994, p.2) Roberto Schwarz chamou de "mal-estar da cópia" esse sentimento negativo que o brasileiro tem em relação à produção nacional e à necessidade de cobrar a originalidade local, ou seja, é como se cada geração intelectual necessitasse reinventar e recomeçar tudo o que foi feito no passado ou, como disse Ivan Lessa, "a cada dez anos esquecer o que se passou na última década." (LESSA apud SCHWARCZ, 1994, p.2). Quase que como tun desdobramento incômodo, ao lado do "mal-estar da cópia" encontramos quase paralelamente outro tipo de desconforto: a questão da identidade nacional. Sobre isso, Schwarcz nos diz que: [ ... ] o tema da identidade mais se parece commna " obsessão local" , surgindo nos momentos mais inesperados, nas horas mais reveladoras; ora como elogio, ora como demérito e acusação. Toda boa ocasião parece pretexto suficiente para que se rearticule um velho e conhecido jogo de construção e reconstrução da identidade nacional. Em meio aos novos planos de governo, nos famosos pacotes econôrnicos, no esporte - sobretudo quando saímos vitoriosos -, é
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Apesar de reconhecer a diversidade regional, Vianna propunha apagar as diferenças para se alcançar a unidade, que se daria através da mistura de raças pré-selecionadas. "O processo civilizatório, por seu turno, era um atributo da raça branca que mesmo quando se misturava com os negros e outras raças inferiores arianizava-os." (MOURA apud ANDRADE, 2010).
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sempre a identidade nacional que parece estar em pauta. (SCHW ARCZ, 1994, p.2)
Reis se propôs a reestudar o que os grandes teóricos da identidade nacional tinham discutido e afuma, que "[ ... ] é preciso que o povo se conheça para que se veja como capaz de realizações grandiosas" (REIS apud ANDRADE, 2010, p.2). Para o autor, a construção de uma identidade embasada na figura de um povo vitorioso seria de uma importância extrema para o futuro da nação. O nosso "problema social" chama-se "Brasil" . [ ... ] Para nós, a nação brasileira não é o resultado da "astúcia da razão" do Estado. [ ... ] Para nós, há uma cultura nacional , popular, que tem um sentimento espontâneo e sincero de pextencer a um "nnmdo histórico singulax" . [ ... ] Talvez, a identidade nacional populax· seja tun " sonho coletivo", tuna "imaginação compaxtilhada", tuna " cliação coletiva" . (REIS, 2008, p.4)
A identidade nacional é criada por linguagens nacionais em comum: a vida cotidiana, os conflitos locais, os valores que aparecem na música, na história, na política. Alguns discursos historicamente construídos, vivos e sinceros, expressam o sentimento de pertencimento à identidade nacional brasileira. Essa identidade não é nem natural nem antológica, é criada por múltiplas linguagens, em muitos pontos divergentes, mas, sobretudo, interligadas umas das outras. Se essa identidade brasileira é compartilhada, nossa tarefa como peças-chave nessa engrenagem é mergulhar nas diversas linguagens que expressam a "alma brasileira" (REIS, 2008, p.S), das artes aos documentos históricos. Uma das peças dessa engrenagem é o carnaval, mais importante festa popular e responsável por momentos primorosos na história do Brasil. Além de simples momento onde todos podem largar a censurada da vida diária, se divertindo sem preocupações, ele foi utilizado como ferramenta de propaganda para a criação de uma imagem brasileira, ligada a identidade nacional. Isso foi responsável por um novo capítulo na histó1ia brasileira, deixando marcas na vida do espírito da nossa nação.
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2 PROFANO OU UFANO? A PROPAGANDA E O SAMBA-ENREDO
As origens do carnaval se confundem com a própria origem do homem: lO mil anos a.C. já se realizavam alguns festejos com traços carnavalescos, mas somente nos primeiros séculos da Era Cristã surgem relatos mais detalhados dos divertimentos populares envolvendo máscaras, desfiles e fantasias. Na antiguidade, o período do carnaval era marcado por homenagens aos Deuses e havia o costume de incorporar a esses festejos charretes em formatos de navios. Foi a presença desses pequenos barcos com rodas que fez com que alguns historiadores considerassem que o nome "carnaval" (glifo nosso) nascera de ca.rrus na.valis (caiTo em forma de navio). Essa hipótese foi descartada anos mais tarde, pela te01ia de que a palavra "carnaval" (grifo nosso) derivava de carne vale (adeus à carne) 1• O adeus à carne era um período de festas compreendido após a quaresma2. Foi o
carnaval medieval que marcou a batalha entre o carnaval e a quaresma. O uso de fantasias e a troca de papéis eram a saída para uma sociedade oprimida. Apesar de constantemente criticadas pela Igreja, as festas eram muitas vezes apoiadas pelos governos locais o que acabou por transformar as brincadeiras em eventos cada vez mais organizados. Com o Renascimento3, a festa de Momo começa a ganhar novos rumos. Sem a opressão rotineira dos feudos, a cultura renascentista realizava uma maior aproximação entre o povo e a elite. Como a Itália era rota de comércio de produtos orientais para o resto do continente, a ideia do Renascimento se espalhou pelos principais centros urbanos da Europa e da própria região, como Veneza e Roma. Com ele, o propósito de que o carnaval era um ótimo período para que os poderosos mostrassem seu poder e influência sobre o povo com festas cada vez maiores. O carnaval de Roma foi um bom exemplo desse diálogo: era ao mesmo tempo refinado e colérico, tudo supervisionado diretamente pelo próprio Papa. No século XIX, Paris despontava como principal centro cultural do mundo. Durante o período revolucionário (de 1789 a 1804), o carnaval foi considerado prejudicial ao povo 1
Essa origem ainda levanta discussões. Câmara Cascudo acredita que a palavra deriva do milanês carnelevale, visto que em italiano não existe a palavra vale. Para mais, ver MORAES, 1987, p.l6-17. 2 A quaresma foi criada pelo papa Gregório I em 604 d.C. como um período que compreendi a 40 dias antes do Domingo de Páscoa, destinado à reflexão da fé cristã, jejum e penitência. De acordo com João Bastos, foi ela a grande responsável pela reviravolta na festa carnavalesca. 3 Ocorrido principalmente nas cidades italianas, o Renascimento é um termo usado para identificar o período da história europeia compreendido entre o fim do século xrn e meados do século XVll, marcado por transformações nas ciências, artes e diversas outras áreas do conhecimento humano, que assinalaram o final da Idade Média. O termo foi empregado pela primeira vez no século XVI por Giorgio Vasari, mas a noção de como o entendemos hoje surgiu a partir da publicação em 1860 do livro Die kultur der Renaissance in ltalien (A cultura do Renascimento na Itália) do historiador suíço Jacob Burckhardt.
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francês. Com medo de complôs e rebeliões, as autoridades começaram a editar medidas cada vez mais restritivas contra a festa carnavalesca, como a imposição do toque de recolher nos dias de folia e a proibição do uso de máscaras e o aluguel de fantasias. Em 1804, com o fim do período revolução e a instauração do Império Napoleónico, o carnaval saiu da marginalidade e voltou aos salões em forma de refinados bailes à fantasia. Após a queda de Napoleão e a consolidação da nova burguesia francesa, a elite parisiense começou a dar um novo estilo à festa carnavalesca, que apesar de pouco perceptível, moldaria as bases do carnaval contemporâneo. O importante é perceber que na França, pela primeira vez, o carnaval será tratado como uma festividade com seu próprio formato, ao invés de uma época do ano onde aconteciam diversas comemorações de naturezas distintas. Em tenitório português, troças são relatadas desde o século XVID. Eram comuns desfiles onde se realizavam o casamento de dois bonecos de palha. Mesmo recebendo nomes diferentes de acordo com a região onde se realizava a festa, todos eram chamados de Entrudo, gíria portuguesa que significa uma pessoa muito gorda, ridícula. A generalização acabou por se confundir com o nome da própria brincadeira e os Entrudos tornaram-se marca registrada do carnaval lusitano. Junto com os portugueses, vieram para o Brasil seus costumes e crenças. Feriados, lutos e afins eram fielmente replicados na "nova tena" (grifo nosso), pois era importante que a colônia "copiasse" (grifo nosso) os festejos de sua metrópole. Na introdução da obra Antologia do carnaval do Recife (J 991 ), Leonardo Dan tas Dias diz ter encontrado nas Denunciações do Santo Ofício, em Pernambuco, o primeiro registro do Entrudo no Brasil. Ele data de novembro
de 1593 e afirma que, em 1553, o casal Diogo Fernandes e Branca Dias, moradores do Engenho Camaragibe, perto de Olinda, "dera de comer algumas tainhas secas a seus trabalhadores, 'numa terça-feira de Entrudo'. " (FERREIRA, 2004, p.79). A partir daí, a festa do Entrudo se espalhou por todo o Brasil. Moldado pelos escravos, os bonecos no Entrudo brasileiro foram trocados por cinzas e pós de todos os tipos, líquidos fétidos, águas coloridas, limões-de-cheiro ou qualquer coisa que tivesse a característica para que os escravos zombassem de seus senhores. Isso penetrou na sociedade, fazendo com que a troça, anteriormente escravista, virasse um festejo público. Em 1641 aconteceu o que podemos considerar como o primeiro carnaval na cidade do Rio de Janeiro. No domingo de Páscoa daquele ano, o governador da capitania, Salvador Coneia de Sá e Benevides, desfilou pelas ruas da cidade acompanhado de 166 cavaleiros com capas em comemoração à reestruturação do trono português e a coroação de Dom João IV. Dias após a festa, ocon·eram corridas de touros, jogos de argolas e uma representação de comédia na
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casa de Correia de Sá, um dos primeiros espetáculos teatrais da futura capital da colônia. Curiosamente, o primeiro carnaval carioca não foi festejado com os moldes do Entrudo, mas isso não significa que ele não tenha aportado em terras cariocas. Até a Família Imperial se divertia no Entrudo: Dom Pedro I adorava a festa e parece ter passado o entusiasmo a seu filho 4 . Viriato Corrêa nos conta: "[ ... ] apesar de toda a austeridade, D. Pedro II servia-se dos limões-de-cheiro e das bacias d' água para "brincai" o Entmdo na Qtúnta da Boa Vista. ". Conêa continua sua nauativa citando Herui Raffaid: "nos primeiros dias da maioridade, nosso segundo Imperador molhava tanto as irmãs, que certa vez, D. Maria Antônia lhe pediu que não continuasse a brincadeira para que as princesas não ~
adoecessem.". (CORREA apud MORAES, 1987, p.23). O tempo passou, o novo século trouxe consigo uma nova mentalidade e o Entrudo porco e brutal foi desaparecendo lentamente, até ser substituído por outras brincadeiras carnavalescas.
2.1 "Lembrança é heiança dos antigos camavais"5
Em 1902, Pereira Passos transformou a aparência da cidade do Rio ele Janeiro. Nomeado prefeito pelo presidente Rodrigues Alves, e inspirado na reforma urbanística parisiense de Haussmann, Pereira Passos contou com a ajuda do político e diplomata Lauro Müller e dos engenheiros Paulo de Frontin e Francisco Bicalho para promover a maior reforma urbanística até então. Era preciso civilizar o Rio, pintá-lo com "retratos de Paris''Ó. Não era aceitável que o mundo moderno convivesse com epidemias e ruelas estreitas e esburacadas. As "picaretas regeneradoras" (BILAC apud FENERICK, 2005, p.30) construíram toda uma nova cidade: os cortiços e becos escuros e lamacentos deram lugar a largas avenidas com imponentes edifícios, dignos de representar a capital federal. Com a desapropriação dos cortiços e o consequente aumento a política do botaabaixo de Pereira Passos, os habitantes mais ricos do Rio de Janeiro passaram a trocar os bairros portuários pela zona sul carioca. Os grandes casarões, outrora ocupados pela alta sociedade da
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Apesar da aparente liberalidade dos monarcas brasileiros, Lafa iette Silva conta na obra História do Teatro Brasileiro (1938) um caso curioso: no carnaval de 1825 a atriz portuguesa Beatriz Sezefredo, que anos mais tarde se casaria com o ator João Caetano, atirou um limão-de-cheiro numa das pessoas do cortej o do Imperador Pedro I. Foi presa e fichada por sua brincadeira. 5 Trecho do samba-enredo G.R.E.S. Saudade, composição de Silvio da Ponte e Zoinho da Ponte, apresentado pela Unidos da Ponte no carnaval de 1987. 6 Trecho do samba-enredo Cidade Maravilhosa, o sonho de Pereira Passos, composição de Bujão, Carlinhos Fuzil e Wanderlei Novidade, apresentado pela União da Ilha do Governador no carnaval de 1997.
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capital federal, passaram a abrigar novos moradores: tias baianas, migrantes nordestinos e moradores expulsos de suas casas durante a reforma urbanística. Começava ai a ser desenhado um novo cenário sociocultural na cidade. No Centro do Rio e arredores, morava uma , população pobre, predominante negra (por isso, era chamada de Pequena Africa), sob precárias condições de vida, sem acesso a saneamento básico e sujeito a iníuneras doenças. [... ] Além disso, a Guerra de Canudos provocou uma intensa migração da população baiana para o Rio de Janeiro. Ao chegar, esses imigrantes passaram a ocupar os morros, inicialmente na própria região central. O primeiro deles, o da Providência, foi chamado de Morro da Favela, pois achava-se que se assemell1ava ao "mono da favela:·, localizado na Bahia. [... ] Além da Providência, outros morros foram ocupados, como o do Castelo7 e o de Santo Antônio. (BASTOS, 201 O, p.l7)
No centro do Rio morava uma figura chave para a história do samba 8 carioca: Hilária Batista de Almeida. Conhecida pela alcunha de Tia Ciata, levou o samba da Bahia para o Rio de Janeiro aos 22 anos. Sua casa- na Rua Visconde de ltaúna, próximo a Praça Onzeera reduto de sambistas de toda a parte, e sua hospitalidade (e de diversas outras tias baianas) foi responsável para que os compositores pudessem se desenvolver na cidade. Até então, o samba tinha um ritmo mais "amaxixado" (grifo nosso), diretamente ligado ao sucesso da primeira gravação (Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida). Foram os sambistas do bairro do Estácio, e de outros redutos negros, que mudaram esse cenário, criando um novo jeito de compor e cantá-lo, com mais ginga e maleabilidade. "Este novo 1itmo permitiria cantar, dançar e desfilar ao mesmo tempo." (CUNHA, 2002, p.3). O Estácio também é responsável por outro capítulo importante na história do carnaval carioca: é lá que nasceram as Escolas de Samba9 . Originadas dos antigos ranchos, as Escolas de Samba mudariam completamente o cenário da folia carnavalesca a ponto de, com o tempo, "engolirem" (g1ifo nosso) e acabarem com o que as deu otigem. Assim, em 1927, nascia
7 O Morro do Castelo era considerado prejudicial à saúde do carioca desde o começo do século XIX, pois dificultava a circulação dos ventos e o escoamento das águas da cidade. Foi demolido em 1921 pelo prefeito Carlos Sampaio, com o argumento de ser um local cheio de antigos casarões e cortiços, ocupando um espaço necessário para a montagem da exposição comemoraliva do Centenário da Independência. Suas terras foram usadas para aterrar parte da Urca e outras áreas baixas ao redor da Baía de Guanabara. 8 A palavra "samba" (grifo nisso) tem origem africana, na etnia banta. Entre os quiocos angolanos significa " brinca1, (grifo nosso), já entre os bacongos congoleses é um tipo de dança onde o dançarino bate contra o peito do outro. As duas formas "se originam da raiz metalinguística semba - rejeitar, separar, que deu origem ao quimbundo di-semba, umbigada [ ... )." (LOPES apud BASTOS, 20 lO, p.L6). Inicialmente, a palavra era usada , como sinônimo de danças brasileiras vindas da Africa. Com o tempo passou a designar o gênero musical, significado que possui atualmente. 9 A título de curiosidade, enb·e 1929 e 1932 se escrevia "Escola de Samba", enn·e as aspas, pois estas ainda eram consideradas blocos, porém com marcação diferenciada.
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a Deixa Falar (que só receberia esse nome em agosto de 1928), a primeira Escola de Samba. Tinha entre seus membros fundadores nomes importantes como Ismael Silva; Nilton Bastos Sílvio Fernandes, mais conhecido pelo apelido de Brancura; Osvaldo Vasques, o Baiaco, entre tantos outros. Segundo Ismael Silva, o nome "Escola de Samba" (grifo nosso) nasceu do fato de nas proximidades do Largo do Estácio funcionar uma Escola Normal. Além disso, o novo grupo posstúa o inttúto de "ensinar" (grifo nosso) como fazer o gemúno samba cruioca. Para Sérgio Cabral, o pioneirismo da Deixa Falar é questionável, pois em suas pesquisas nunca encontrou nenhuma menção à Escola de Samba Deixa Falar, somente ao bloco carnavalesco e posterior Rancho Carnavalesco Deixa Falar. Que falem os rivais e que fiquem roucos, pois samba mesmo era o do Estácio de Sá, seria tradução de Deixa Falar. Na verdade, fundaram um bloco e não uma Escola de Samba. Não houve uma decisão de criar um novo tipo de grupo carnavalesco chamado Escola de Samba. Fundaram mesmo um bloco que recebeu o título de Escola de Samba, uma espécie de agnome do Deixa Falar. O nome Escola de Samba só viiia se impor anos mais tarde quando outros blocos carnavalescos (como a Estação Primeira de Mangueira, por exemplo) foram substituindo aos poucos a expressão bloco carnavalesco por Escola de Samba. (CABRAL, 1974, p.22)
Sob a presidência de Osvaldo da Papoula, ex-integrante do Rancho da Papoula, a Deixa Falar desfilou pela primeira vez em 1929, deixando de ser um bloco e tornando-se um rancho, manifestações que ocupavam um local de destaque no carnaval carioca. Essa mudança explica a ausência da Deixa Falar no primeiro concurso de Escolas de Samba, ocorrido em 1932. Essa ideia, porém, não durou muito tempo: como rancho a Deixa Falar foi um completo
fracasso, sendo extinta quatro anos depois, ao se fundir com a União das Cores e dar origem ao Bloco Carnavalesco Unidos do Estácio de Sá. Mesmo com seu pioneirismo questionável, estava plantada a semente. Logo surgiriam outras Escolas de Samba, elevando o carnaval carioca a uma potência incalculável. O novo samba inspirou outras regiões da cidade. No Morro da Mangueira, reduto de manifestações carnavalescas, nasceu a segunda Escola de Samba do Rio de Janeiro. Criada em 1929, a partir da fusão de diversos blocos carnavalescos que pintavam o morro nas festas de Morno, a Estação Primeira de Mangueira seria imbatível se não encontrasse pela frente uma gigante: a Portela. Criada em 1923 como Bloco Carnavalesco Conjunto Oswaldo Cruz, bairro carioca onde foi fundada, só alcançaria o patamar de Escola de Samba em 1935. E' a única Escola 21 vezes campeã do carnaval carioca, tendo, entre suas vitórias, um heptacampeonato
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(1941 a 1947). Foi a primeira Escola a introduzir uma alegoria no desfile (um globo terrestre idealizado por Antônio Caetano, no carnaval de 1935) e a primeira a possuir uma comissão de frente. Essas e tantas outras inovações contaminaram todas as outras agremiações e ajudaram a moldar o carnaval carioca como tal. Junto com a Deixa Falar e a Estação Primeira de Mangueira, a Portela forma a tríade das Escolas fundadoras do genuíno carnaval carioca. A década de 20 ainda reservava mais uma surpresa. Em 1929 ocorreu o primeiro concurso de samba do Rio de Janeiro, organizado pelo jornalista e pai-de-santo Zé Espinguela, apelido de José Gomes da Costa, também chamado Zé Spinel1i. Tinha o objetivo de escolher o melhor grupo de sambistas da cidade e foi realizado no Engenho de Dentro, na casa do próprio Zé. O encontro reuniu três grupos de sambistas -o Bloco Carnavalesco Conjunto Oswaldo Cruz, a Estação Primeira de Mangueira e a Deixa Falar - , e quem saiu vitorioso da competição foi o Conjunto Oswaldo Cruz, com um samba de Heitor dos Prazeres. A Deixa Falar fora desclassifica, pois o samba composto por Ismael Silva foi apresentado com um conjunto musical, onde havia a flauta de Benedito Lacerda 10 . Mário Filho era dono do jornal Mundo Sportivo. Como no começo do século XX o esporte ainda era pouco difundido no Brasil, durante alguns meses do ano o periódico não tinha o que cobrir e pôr em suas páginas. Veio então a decisão de entrevistar alguns sambistas, tarefa que foi destinada ao jornalista Carlos Pimentel. Após algumas entrevistas, Mário teve uma ideia que mudaria completamente e para sempre o carnaval carioca. Criou então um duelo, uma competição entre as Escolas de seus entrevistados. Ficou para Pimentel o trabalho de definir os critérios de avaliação. O local escolhido para o desfile foi a Praça Onze, local que viu o samba nascer. Cada Escola tinha direito de levar até três sambas inéditos. A Mangueira cantou dois: Pudesse meu ideal, composição de Cartola e Carlos Cachaça e Sorri, de Lauro dos Santos.
Ambos faziam parte do enredo A floresta, que consagrou a verde e rosa como a primeira campeã dos desfiles cariocas 11 . Após o enorme sucesso do desfile de 1932, as Escolas de Samba cresceram consideravelmente de importância, diminuindo o abismo que existia entre elas e os ranchos, que ainda gozavam de maior popularidade entre os foliões. Em I933, o jornal O Globo assumiu a condição de patrocinador da folia e ajudou a elaborar o regulamento, que previa a obrigatoriedade de as escolas trazerem baianas e a proibição de instrumentos de sopro na bateria. [ ... ] Mais uma vez, 10
Os instrumentos de sopro foram proibidos no carnaval pelo fato de tais instrumentos terem ori gem europeia. Isso ia de encontro ao ideal nacionalista proposto na oficialização do samba carioca, como veremos mais adiante. 11 Em 1932 desfilaram 23 agremiações com cerca de I 00 integrantes cada, quantidade modesta frente aos números atuais. A Vai Como Pode, que anos mais tarde se tornaria a Portela, foi a vice-campeã. A Deixa Falar não participou, pois resolveu se inscrever no desfile oficial dos ranchos. Do primeiro concurso, apenas três Escolas de Samba existem até hoje: Mangueira, Portela e Unidos da Tijuca.
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prevaleceu a Mangueira, bicampeã com o enredo Urna segunda-feira do Bonfim na Ribeira. (BASTOS, 2010, p.21-22)
Mesmo com toda a alegria dos desfiles, o que todos buscavam e ansiavam era a oficialização. Houve um tempo na história carioca que, assim como no período revolucionário francês, o carnaval era ilegal. Era necessária autorização policial para que ranchos e Escolas pudessem sair, autorização esta que nem sempre era dada. No início dos anos 30 uma conente já defendia a oficialização da folia carnavalesca, e as agremiações encontravam na imprensa seu maior aliado. Em fevereiro de 1932, ano do primeiro desfile, o Jornal do Brasil já estampava sem suas páginas uma matéria onde parabenizada o Interventor Federal pela iniciativa de oficializar a festa. "[ ... ] tamanho enthusiasmo serve para mostrar como o Sr. Interventor andou acertadamente, dando amparo official ao Carnaval. Vê-se assim que a Prefeitura é capaz de realizar, com brilho insuperável, mna grande festa." [sic] 12.
2.2. O "mago justiceiro" 13 e a propaganda nacional Em 1934 é criada a UES (União das Escolas de Samba), peça fundamental para a real oficialização do carnaval carioca. Tinha 28 filiadas no seu início e Flávio de Paula Costa, da União da Floresta e, logo depois, da Deixa Malhar, como primeiro presidente. De acordo com Sérgio Cabral ( 1996), o movimento para a criação da UES começou antes do carnaval de 1933, mas somente no ano seguinte, e depois de várias reuniões e discussões os sambistas chegaram a um consenso sobre os estatutos da UES. No primeiro artigo de seu estatuto, ficou definido que a finalidade da UES seria "organizar programas de festejos camavalescos e exibições públicas, entender-se diretamente com as autoridades federais e municipais para a obtenção de favores e outros interesses que revertam em benefício de suas filiadas" (UES apud FERNANDES, 2001, p.86). A parte mais importante desse estatuto, e que pauta este trabalho, foi a obtigação de as Escolas de Samba apresentarem em seus enredos apenas motivos nacionais. Essa decisão foi enoneamente por muito tempo considerada uma imposição da ditadura estado-novista, mas como visto, partiu dos próprios sambistas. Na realidade [... ] a mobilização para a adoção dos temas nacionais nos desfiles carnavalescos principiou na década de 20, quando foi sugerida aos 12
A matéria completa se encontra para consulta no Anexo A. do samba-enredo Anos tri111a, vemo sul- Vargas, composição de Bala, Jorge Melodia e Jorge Moreira, apresentado pelo Acadêmicos do Salgueiro no carnaval de 1985. 13 Trecho
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ranchos por Coelho Neto 14• Mas não apenas os ranchos foram incentivados ou envolvidos com os temas nacionais. [ ... ] Em fevereiro de 1923, o jornalista Nóbrega da Cunha esteve envolvido na promoção de um evento com o desfile do Bloco do Bam-bam-bam [ ... ]. De forma premonitória, o jornaljsta chegou a afumar que " o samba é mais nacional do que a Câmara e o Conselho Mmucipal" e que havia chegado a hora de levar adiante a "pattiótica tarefa de arrancar (o samba) da obscmidade dos monos". (FERNANDES, 200 I, p.87)
Após a criação as UES, a Prefeitura do Distrito Federal começou um programa de expansão do turismo, principalmente nos países platines. Foi a primeira vez em que a festa foi utilizada com outro fim, que não apenas a diversão. Para isso, o prefeito Pedro Ernesto criou a Diretoria Geral do Turismo, que além de incluir os desfiles no calendário oficial do carnaval carioca, distribuiu folhetos promocionais onde as Escolas apareciam ao lado de outras atrações da folia. "Venicl, pues, a Rio de Janeiro para asistir a los bailes populares, a las expansiones en.las calles, al desfile de los grandes clubes y caravanas de las peque fias sociedades e escuelas de 'samba '. " 15 (CABRAL apud FERNANDES, 2001, p.87).
Flávio Costa, presidente da UES, passou a negociar a oficialização da festa com Alfredo Pessoa, diretor de turismo da Prefeitura. Dessa negociação nasceu uma carta de Flávio Costa para o prefeito Pedro Emesto. Nela, Costa afumava que a UES vinha "[ ... ] norteando os núcleos onde se cultiva a verdadeira música nacional, imprimindo em suas diretrizes o cunho essencial de brasilidade, para que a nossa máxima festa possa parecer aos olhos dos que nos visitam em todo o esplendor de sua oliginalidade [ ... ]" (COSTA apud FERNANDES, 2001, p.87) e terminava pedindo apoio da prefeitura para a continuação da festa. Pedro Ernesto respondeu a carta de Flávio Costa com um decreto, onde autorizava a concessão de auxílios às Escolas de Samba, sujeita à fiscalização da Diretoria Geral de Turismo. Depois, liberou 2:000$500 (dois contos e quinhentos réis) do erário da cidade para a UES dividir entre suas federadas, mas para tal, exigiu registro policial das Escolas. Isso ajudou, como diz Monique Augras, para a "construção mútua de nova modalidade de expressão popular." (AUGRAS apud FERNANDES, 200 l, p.88). Estava aberta uma nova fase no carnaval do Rio de Janeiro. Assim como as Escolas de Samba, algumas regras do carnaval demoraram mais de uma década para se firmarem no cenário carioca. E' o caso da adoção obiigatória de temas nacionais. Em 1935 o jornal A Nação resolveu promover o concurso, e os representantes das 25 Escolas inscritas se reuniram na redação do jornal para definir as regras daquele ano. Além 1
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Coelho Neto, escritor e político brasileiro, era padrinho do Ameno Resedá, mais famoso rancho carnavalesco da história da cidade do Rio de Janeiro. O primeiro enredo de cunho nacionalista foi apresentado pelo próprio Ameno, ao sair no carnaval de 1924 ao som do Hino Nacional Brasileiro. 15 "Venha, então, para o Rio de Janeiro para assistir aos bailes populares, a alegria nas ruas, o desfile dos grandes clubes e caravanas das pequenas sociedades e Escolas de Samba." (tradução nossa).
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da definição do tema A vitória do samba, dada sua oficialização no ano anterior, resolveram também proibir o uso de estandartes e alegorias, talvez visando se diferenciar, definitivamente, dos ranchos e grandes sociedades. O primeiro desfile oficial aconteceu no dia 2 de março, tendo a Portela (ainda como Vai como pode) campeã com o enredo O samba dominando o mundo. [ ... ] não podemos deixar de obsetvar que a legalização, ou oficialização das Escolas de Samba, e a concessão de subvenções para a realização dos desfiles, ao mesmo tempo em que aponta para um reconhecimento social do samba, é também uma forma de controle social expresso pela premiação do sambista "bem comp01tado", o sambista que não foge às regras. (FENERICK, 2005, p.L26)
Para entender em sua plenitude como essa oficialização agiu diretamente na história da folia carnavalesca no Rio de Janeiro, é preciso voltar um pouco no tempo. Após a Revolução de 30, que pôs fim a República Velha, a Junta Militar Provisória indicou para o cargo de presidente da república um gaúcho de São Botja que se tornaria a maior figura política brasileira do século XX: Getúlio Domelles Vargas. Depois do Governo Provisório (1930- 1934) e do Governo Constitucional (1934 - 1937), Vargas implantou, após um golpe de Estado, o Estado Novo. Alegando "proteger" (grifo nosso) o país de uma revolução comunista 16, ele encontrou na ditadura uma forma de se perpetuar na presidência do país. Uma das ações do Estado Novo era promover o aumento do nacionalismo. Para tal, contou com o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Criado em 1939, controlava e coordenava a propaganda durante o período ditatorial, abrangendo imprensa, literatura, teatro, a radiodifusão e quaisquer outras manifestações culturais. Apesar da centralização do poder, da corrida anticomunista e do autoritarismo, o Estado Novo foi o momento crucial para a afirmação do carnaval não apenas como festa, mas também como representação da cultura ,
nacional. Era preciso largar a clandestinidade e o amadorismo. E importante ressaltar que a intervenção do Estado no carnaval não nasceu na época de Getúlio. Ela sempre existiu, desde a colônia, quando o Entrudo foi proibido. 16
Em 30 de setembro de l 937 o governo Vargas denunciou a existência de um suposto plano comunista para tomar o poder. Escrito pelo capitão integralista Olímpio Mourão Filho, membro do Serviço Secreto, a pedido de João Salgado Filho, líder da Ação Integralista Brasileira, o documento tinha a intenção de simular uma revolução comunista no Brasil. Esse plano ficou conhecido como Plano Cohen, e foi utilizado pelo governo com o objetivo de aterrorizar a população e justificar um provável golpe de Estado. Ele recebeu esse nome porque, para dar maior autenticidade, os autores acrescentaram no final a assinatura do comunista húngaro Bela Kun, modificando-a depois para Bela Cohen. Com a comoção popular causada pelo Plano Cohen, o receio de uma revolução comunista e as seguidas vezes em que foi decretado estado de sítio no Brasil, Getúlio Vargas, sem resistência e através de um pronunciamento transmitido por rádio a todo o país, deu um golpe de Estado e instaurou uma ditadura em I O de novembro de 1937. Após o golpe, as eleições presidenciais de 1938 foram canceladas e entrou em vigor a Constituição de I 937, redigida pelo jurista Francisco Campos.
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Mas suponha que, de repente, um ditador bem metódico, militar e fascista, um ditador como o italiano Beruto Mussolini, [ ... ]tivesse o direito de regular essa bagunça (o carnaval) para torná-la orgulho da nação. Como seria o carnaval organizado por Mussolini? Imagino que não haveria personagens trocados, anemessos de bolas de cera ou gueninhas d' água. Como em um desfile patriótico, os carnavalescos marchariam em linha reta, com te mpo metodicamente marcado para cada evolução. Passariam diante das autoridades do governo e de jurados, que avaliariam a disciplina, o figurino e a média de acertos dos grupos, dando notas até dez. A orga1úzação do carnaval permitiria apenas músicas edificantes e pat:Iióticas. [ ...] Foi mais ou menos assim que nasceu o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Seu formato atual deve muito a costumes e ideologias fascistas da década de 1930, além do interesse do presidente Getúlio Vargas de misturar sua imagem à cultura nacional e popular, exatamente como Mussolini fazia na Itália. (NARLOCH, 2009, p.124- 125)
O carnaval disciplinado não foi apenas imposição do governo. As Escolas também
aderiram espontaneamente, talvez como uma forma de agilizarem suas oficializações. Vargas conseguirá, de certa fonna, "educar" (gTifo nosso) os consmnidores do "novo samba" (grifo nosso). Se valendo, por meio do DIP, da censura 17, dos sambas celebrando o trabalho, das canções ufanistas, dos grandes concertos realizados em parceria com o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos 18 e dos concursos carnavalescos, Vargas mudou o cenário cultural do Brasil. O projeto de construção de uma identidade nacional que visava apenas o erudito passou a voltar seus olhos para o popular. "O mesmo patriotismo que deu um empunão ao desfile de camaval provocou a folclorização do samba." (NARLOCH, 2009, p. 126). O alvorecer da nova década trouxe consigo a dor da guena. Iniciada em setembro de 1939 após a invasão da Polónia pela Alemanha nazista de Hitler, a Segunda Guerra Mundial abalou o ainda frágil carnaval carioca. O medo de que Va.rgas apoiasse a Alemanha, estreitou os laços de amizade entre Estados Unidos e Brasil. De longas-metragens a animações, a política da boa vizinhança reforçou ainda mais a figura do samba como ícone nacional com a influência de dois personagens: Pato Donald e Zé Carioca 19• Em 1941 , o e mpresário Walt Disney20, no papel de " embaixador da boa vizinhança", viaja pela Amélica Latina com o pretexto de c1iar novos personagens, procurar novos talentos e buscar inspiração para futuras
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Entre vários itens censurados pelo DJP, os sambas que anteriormente exaltavam a ma landragem natural dos morros cariocas passaram a ser proibidos. O samba transforma-se para "sobrevivei" (grifo nosso) a esse embargo. Nasce, então, o que Claudia Matos chama de samba do malandro regenerado, dessa vez exaltando o trabalho e a unidade nacional. IS Vi lia-Lobos foi enredo do carnaval da Estação Primeira de Mangueira em 1966. t9 Pato Donald, criado por Disney em I 934, contracena com o papagaio Zé Carioca em dois longas-metragens de an imação: Alô, amigos ( 1942) e Você já foi à Bahia? ( 1944). 20 Além de Walt Disney, outras personalidades também estiveram no Brasil para fortalecer essa aproximação Estados Unidos-Brasil. Orson Welles, cineasta norte-americano famoso pelo filme Citizen Kane ( 194 1), foi um deles. Para mais, ver FERNANDES, 2001, p. 12 1.
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produções. No Brasil, ele é recepcionado por Paulo da Portela em sua visita à quadra da Escola de Samba, onde possivelmente surgiu o primeiro embrião do que viria a ser, no ano seguinte, o papagaio Zé Carioca. Os cartunistas J. Carlos e Luis Sá iniciaram, então, o desenvolvimento da personagem-símbolo da amizade entre os Estados Unidos e o Brasil. [ .. . ] Em reunião com o presidente Vargas, Disney falou dos princípios que norteavam a boa vizinhança e a disposição das autoridades americanas em estreitar os laços de amizade com o Brasil. (MAC CORD, 2007, p.16) O Brasil declarou apoio aos Estados Unidos em maio de 1942. A entrada brasileira na Segunda Guerra Mundial dividiu a população quanto à conveniência de realizar-se ou não o carnaval de 1943. Ao mesmo tempo, a Praça Onze, que sediava os desfiles, havia sido demolida para a construção da Avenida Presidente Vargas. Era a hora certa de fortalecer o sentimento nacionalista brasileiro, e a oportunidade não foi perdida. Ao contrário de outros festejos carnavalescos - como ranchos e grandes sociedades, que não saíram nos anos de guerra - as Escolas de Samba continuaram a comemorar o carnaval. Os Carnavais de Guerra, como ficaram conhecidos, foram primordiais para a popularização das Escolas. Apesar da pressão da imprensa para a sua não realização, e do corte da subvenção dada as Escolas, em 1943 aconteceram dois desfiles. O primeiro foi beneficente e realizado no Estádio de São Januário, até então maior estádio da cidade. Organizado pela primeira-dama Darcy Vargas, pretendia arrecadar fundos para a cantina dos soldados. O segundo, desta vez competitivo, foi realizado na Avenida Presidente Vargas. Organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Liga de Defesa Nacional, teve a Portela como campeã com o sambaenredo Carnaval e Guerra. O patriotismo exagerado percorreu todos os Carnavais de Guerra. As Escolas de Samba serviram como porta-voz da sociedade, num intuito de elevar a nação e encorajar os brasileiros a torcerem pelos pracinhas nas batalhas europeias. O carnaval de 1945 foi novamente realizado em São J anuário. Nesse ano, os festejos voltaram a ocupar as páginas de jornal, mas dessa vez nos cadernos policiais. Após uma briga, o sambista José Matinadas, integrante da bateria do Acadêmicos do Salgueiro, foi morto. A imprensa começou uma cruzada, juntamente com algllilS grupos populares, "[ ... ] tentavam provar com o episódio que essa gente do samba continuava adepta de violências, justificando assim suas recomendações quanto à censura, ao controle e à repressão que os sambistas mereciam. " (FERNANDES, 2001 , p. 126). Felizmente, nem toda a imprensa concordou com isso e personalidades, como o já consagrado Paulo da Portela, partiram em sua defesa. Com o fim da guerra, veio o fim do Estado Novo. Em 29 de outubro de 1945, após um movimento militar, Getúlio foi expulso do poder. O cargo de presidente da república coube ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), porque na Constituição de 1937 não existia
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o papel de vice-presidente. Três meses depois, a função passou para as mãos do eleito Eurico Gaspar Outra. Entretanto, o "retrato do velho"21 não demorou muito para voltar pro mesmo lugar.
2.3 Sambistas com pés de chumbo Mesmo com a saída de Vargas, o nacionalismo já estava impregnado no samba e no brasileiro. A propaganda nacional e o sentimento ufanista nas letras de samba-enredo apresentando um Brasil "maravilhoso" (grifo nosso) percorreriam, a partir de então, todos os carnavais. Hermano Vianna lembra que uma das verdades que possibilitaram ao samba possuir esse papel, deve-se a presetvação de sua "alma" (grifo nosso). [ ... ] a ideia da presetvação do samba tem mna força considerável. Tanque esse é talvez o único gênero da música afro-americana (ao contrário do merengue da República Dominicana, do calipso de Trinidad e Tobago, do són cubano, da cadence da Martinica) que não se misturou, em sua maioria quase absoluta, ao funk norte-americano ou que não adotou instrumentos eletrônicos em suas bandas. (VIANNA, 2010, p.l23-l24)
Vianna completa seu raciocínio, afirmando que a luta pela preservação do autêntico samba carioca só nasceu após o fortalecimento das Escolas de Samba. E que foi essa "autenticidade" (grifo do autor) que conquistou apoio oficial Esse apoio conquistou até os políticos. Muitos usaram o samba como ritmo de seus jingles políticos, incluindo Vargas, que voltou ao poder, dessa vez democraticamente, em 1951. André Diniz (2006) afirma que, diferentemente do que muitos pesquisadores relatam, Vargas gostava de ser retratado como malandro, o que permitiu essa mistura da festa com o poder. Uma mudança aparentemente banal no regulamento das Escolas de Samba aprofundou ainda mais a perspectiva nacionalista nos sambas-enredo. Os enredos passariam a versar não apenas sobre motivos nacionais, mas deveriam obedecer a finalidades ufanistas. Os desfiles caminhavam para a sua definição completa. Os regulamentos dos anos 40 não incluem mais a liberdade que as Escolas de Samba teriam de se exibir cantando mais de um samba durante o desfile. A nova proposta - um carnaval com finalidades pedagógicas - exigia que os 21 Trecho
da marchinha Retrato do velho, composição de Haroldo Lobo e Marino Pinto, que embalou a campanha de Getúlio Vargas à presidência da república em 1950.
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enredos nacionalistas fossem devidamente ilustrados com sambas de enredo adequados ao discurso visual proposto. Samba e enredo começam definitivamente a andar juntos. (SIMAS e MUSSA, 2010, p.53) Após a Segunda Guerra Mundial, o clima anticomunista imperava no país, fato esse que não poupou nem o carnaval. Em 1946 um jornal do Partido Comunista Brasileiro (PCB ), o Tribuna Popular, promoveu um desfile que contou com o apoio da União Geral das Escolas de
Samba (sucessora da UES). Por essa aproximação, a UGES foi acusada de comunismo. Em represália, setores políticos ligados à direita e ao governo, liderados pelo prefeito Hildebrando de Góis, resolveram financiar a criação de uma nova associação22 . É interessante perceber que, mesmo sendo ferramenta estatal da pedagogia nacionalista, as Escolas de Samba sempre estiveram diretamente ligadas a anseios políticos, sofrendo influências diretas do meio dominante. Depois dessa mudança, o carnaval carioca ganharia mais um aliado nesse trabalho hercúleo de levar o Brasil que o Brasil não conhece para a avenida: a TV. Essa "amizade" (grifo nosso) começou no ano de 1960 quando, liderada pelo âncora Carlos Pallut e o repórter Saulo Gomes, aconteceu a primeira transmissão do desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Por meio de flashes, o que antes era exclusividade dos espectadores e turistas, foi transmitido para o resto da cidade pelas câmeras da extinta TV Continental. E, desde então, não parou mais: outrora pelas lentes das extintas TV Tupi, TV Rio, TV Excelsior e TV Manchete e, atualmente, da TV Globo, se permitiu que a pedagogia proposta, a de "criar" (g1ifo nosso) e exaltar ufanamente o país, chegasse a todos os cantos do Brasil. Embora a primeira exibição do desfile pela TV tenha sido realizada em 1960, apenas a partir da década de 1970 ela passou a ser feita de forma constante, quando então o quesito cronometragem fora restabelecido e as emissoras de TV obtidos os recursos técnicos necessários. Desde meados da década de 1960, a televisão havia se consolidado como meio de comunicação de massa no Brasil, e, no ano de 1970, existiam 4,5 milhões de domicílios com aparel110 de TV no país, significando que 56% da população era atingida por esse veículo. (PRESTES FILHO, 2009, p.54) Os dias de liberdade, entretanto, estavam contados. Após a renúncia de Jânio Quadros da presidência da república em 1961, os militares legalistas tentam impedir a posse do vice, João Goulart. Alegando que Jango era de esquerda, encontram a saída adotando o
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Para viabilizar a criação da FBES (Federação Brasileira das Escolas de Samba), a federação listou entre suas associadas Escolas de Samba extintas, ranchos e até grupos carnavalescos que nem se enquadravam como Escolas de Samba.
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parlamentarismo, sistema que diminui o poder do presidente. Em 1963, a população brasileira decide em um plebiscito pela volta do presidencialismo e Jango recupera plenos poderes. Após uma série de desentendimentos, oficiais graduados veem na figura do presidente uma ameaça à hierarquia militar e a tranquilidade da nação. Na madrugada de 31 de março de 1964, após um golpe de Estado iniciado em Minas Gerais, Jango é deposto pelas Forças Armadas, que tomaram o poder e instauraram uma ditadura militar. Junto com os Anos de Chumbo, expressão pela qual a nova ditadura ficou conhecida, vieram diversas restrições: do exercício da cidadania aos movimentos de oposição. No campo da economia, o governo pôs em prática um projeto desenvolvimentista arrojado, mas ao mesmo tempo controverso: enquanto a industrialização no Brasil crescia vettiginosamente, a classe trabalhadora não encontrava benefícios nessa aceleração económica. Outra restrição presente na ditadura era a de expressão. A aprovação pelos órgãos de censura era obrigatória para todas as produções culturais do país, até para o carnaval. Entretanto, durante as mais de duas décadas de ditadura militar, há apenas um caso questionável de "censura" (glifo nosso) a um samba-enredo, fato que será melhor explicado no próximo capítulo. Durante o governo de Ernesto Geisel ( 1974 - 1979) foi criado a Política Nacional de Cultura (PNC). O lançamento desse plano concretizou o reconhecimento oficial de inclusão da cultura nos planos de desenvolvimento do Estado. O que antes não ultrapassava o patamar de projetos e planos circunstanciais, começa a ocupar um lugar de destaque no governo. Chama a atenção, que a transferência da capital federal para Brasília (ocorrida em 1960, no governo de Juscelino Kubitschek) não significou o fim da relação Estado-carnaval. Pelo contrário, o alcance federal das Escolas continuou a ser significativo. Desse modo, as Escolas de Samba continuaram a ocupar seu papel de destaque. Entretanto, foi aconselhado às agremiações que deixassem de lado o passado glorioso e passassem a focar seus sambas-enredos no progresso atual do país. Inicia-se então, uma nova fase no carnaval, motivada pelo milagre econômico23 . O Grande Brasil construído pelos sambas enredo tem por base o deslocamento do tempo do discurso do passado histórico para o futuro próximo. Mais exatamente, o discurso alude ao presente, mas se situa no futuro próximo, numa ambivalência latente na expressão progresso atttal. Ou seja, fala-se do progresso ensejado pela atualidade, não da própria atualidade e de suas contradições imediatas. [... ] o deslocamento do discurso para o futuro próximo não redunda na saída de fatos e personagens da história oficial da pauta dos enredos e dos sambas-enredos das Escolas de Samba. Há, isto sim, um novo enfoque no tratamento desses temas. Nos sambas-enredos ainda 23
O "milagre econômico brasileiro" é a denominação dada à época de excepcional crescimento econômico ocorrido durante o regime militar no Brasil, especialmente no governo Médici ( 1969- 1973). Nesse período áureo do desenvolvimento brasileiro, instaurou-se o pensamento ufanista do "Brasil potência".
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caraterizados pelo nacionalismo ufanista, as Escolas expressavam uma espécie de respaldo popular à oficialidade, em um contexto de centralização política, o nde o nacionalismo catalisava variadas forças sociais a ponto de estabelecer alguns eixos de consenso. Esse nacionalismo era sustentado, em boa parte, pela exaltação de passagens da história brasileira. (SILVA, 2007, p. 62-63)
Essa nova inflação, em seu sentido literal, do nacionalismo ufanista no samba percorreu apenas o período do milagre econôrnico. No fim dos anos 1970, as Escolas de Samba começaram a arrumar novas fontes de arrecadação (uma delas foi o jogo do bicho24), incrementando suas receitas. Isso acabou transferindo a organização do carnaval, que anteriormente era do Estado, para a mão das próprias agremiações, lhes concedendo uma maior autonomia. Esse fato contribuiu para o começo de uma nova onda de sambas-enredos, onde o ufano dá lugar a c1itica, sempre disfarçada em temas negros, lendas, sonhos, entre outros, dado que os enredos ainda passavam pela aprovação da censura. Um antigo sonho dos sambistas cariocas vira realidade em 1984: é inaugurado o Sambódromo. Cansados das mudanças frequentes de locais pro desfile e criado para ser o "palco"
(g~.ifo
nosso) das Escolas de Samba, seu projeto visava acabar com o delírio logístico
que arrebatava o Rio em todo carnaval, ao terem que remanejar toda a cidade para que os desfiles acontecessem.
Se tivesse que ser escolhido um ano como o mais revolucionário da história do carnaval do Rio, 1984 seria um dos primeiros colocados. Projetada por Oscar Niemeyer e aprovada pelo então governador Leonel Brizola, a Passarela Professor Darcy Ribeiro, conhecida também como Sambódromo, [ ... ] foi o palco da festa. (BASTOS, 2010, p.35)
A felicidade, entretanto, não foi eterna. Logo, o país começa a abandonar o crescimento e amargar uma imensa crise econômica. A hiperinflação dominou o Brasil, empreiteiras abandonaram as construções, máquinas e equipamentos, e grandes obras simplesmente pararam no interior do país por causa da recessão (um exemplo é a construção da Transamazônica, rodovia que liga Cabedelo, na Paraíba à Lábrea, no Amazonas, cortando sete estados brasileiros). Até que, em 8 de maio de 1985, o Congresso Nacional aprovou uma
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O jogo do bicho foi inventado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador e proprietário do jardim zoológico do Rio de Janeiro. A intensão, inicialmente, era de arrecadar fundos para manter o local, mas logo se popularizou, enriquecendo rapidamente os "bicheiros" (grifo nosso), como são conhecidos os donos das bancas de aposta. Atualmente é considerado um jogo de azar, e como tal, contravenção. "Dizia o Bari'ío do Rio Branco que existem, regularmente organizadas no Brasil, duas coisas: a desordem e o carnaval. Eu diria que são três, porque nelas incluiria o sempre perseguido e jamais extinto jogo do bicho." (MORAES, 1987, p.l50).
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emenda a constituição que acabava com os vestígios da ditadura. A nova constituição somente ficaria pronta em 1988. Com o fim da ditadura, a crítica, antes velada, passa a ser direta. E' interessante perceber que o carnaval de 1986, o primeiro após o fim da ditadura, tem o mesmo valor de catarse que os festejos carnavalescos possuíam na Idade Média: a população possui novamente a liberdade de questionar o governo, se divertindo sem restrições, sem medo de represálias. Os anos finais da década de 1980 reservaram uma safra de sambas-enredos críticos, caminhando paralelamente aos sambas-enredos nacionalistas, em menor quantidade, mas que nunca foram deixados de lado. Depois de uma década de ouro do samba-enredo carioca, o carnaval de 1989 trouxe consigo uma aura de adeus. Por influência da TV, e na preocupação em agradar ao público cada vez maior, o carnaval entraria na era plástica a partir do ano seguinte. Como lembra Prestes Filho, "enquanto fantasias e adereços tomaram-se mais luxuosos e cresceram em dimensão, ganhando importância como quesitos de julgamento do desfile, elementos mais ligados à tradição do samba, como o canto, a dança, a harmonia e o próprio samba caíram em segundoplano." (PRESTES FILHO, 2009, p.54). Na manhã de 7 de fevereiro de 1989, Momo chorou: o carnaval carioca se despedia definitivamente da era dos grandes carnavais.
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3 A UFANIA E O PROTESTO EM UM CARNAVAL MULTICOR
Criado no começo do século XX, os sambas-enredos foram marca-registrada de um "novo" (grifo nosso) camaval que nasceu no Rio de Janeiro. Começaram a ser utilizados como fenamenta da pedagogia nacionalista a partir do primeiro estatuto da União das Escolas de Samba (UES), em 1934. Era preciso "disciplinar" (grifo nosso) o país, e nada melhor do que a utilização de uma festa popular para isso. Com o tempo, porém, a propaganda nacional e o "maravilhoso Brasil" (glifo nosso), deu lugar a crítica: o país atravessava um momento econômico e político ruim e, novamente, os sambas-enredos e o carnaval serviram como catarse do povo. Escritos persas são considerados as primeiras manifestações da propaganda entre os humanos. Tratados políticos indianos do começo do século 4 a.C. já a discutiam em detalhes, definindo como divulgá-la e seus usos na guena. O tenno "propaganda" (grifo nosso) deriva do gerúndio latino propagare, significando o ato de difundir algo, originalmente referindo-se à prática agrícola usada para propagar plantas como a vinha. O sentido atual foi cunhado pelos ingleses no século XVIII, a partir da abreviação de Congregatio de Propaganda Fide. Criado pelo papa Gregório XV, em 1622, o dicastério 1 tinha como objetivo a propagação da fé católica nas missões estrangeiras. Seu "novo" (grifo nosso) significado remonta a I Guena Mundial, e possui o valor da propagação de ideias. Aurélio Buarque de Holanda Feneira definiu ufanismo como "atitude, posição ou sentimentos dos que, influenciados pelo potencial das riquezas brasileiras, pelas belezas naturais do país, etc., dele se vanglorian1, desmedidamente." (1986, p.l424). O termo possui esse significado no Brasil- diferente do adjetivo da língua espanhola- por alusão ao título do livro Porque me ufano do meu país (1900), obra de Conde Afonso Celso, escritor mineiro. No ufanismo extrapolam-se os limites do mero orgulho, vaidade, contentamento, e passa-se ao patamar de jactância, exagero. Nos últimos anos da ditadura militar, esse ufanismo foi se transformando em jUlgamento da vida diária. O país enfrentava o "monstro" (gtifo nosso) da recessão e o brasileiro não estava contente com isso. As letras, anterionnente jubilosas, passaram a apontar os enos e defeitos da sociedade nacional, tudo submetido à liberação da censura. Com o fim do período
1
Dicastério é o nome dado para os departamentos do governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana. Seu nome deriva do grego dikastérion , tribunais de dez varas utilizados na antiga Atenas. Entre os dicastérios, estão a Secretaria de Estado, as congregações, os tribunais eclesiásticos, entre outros. O Papa delega a cada dicastério uma função do governo católico.
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ditatorial, essa crítica deixou as sombras para adentrar o atrevimento, sem medo de tocar em assuntos difíceis e polêmicos. Após uma vasta pesquisa em mais de 600 horas de audições de long plays e CDs, que incluiu de gravações oficiais e registros posteriores, foram selecionados li O (cento e dez) sambas-enredos2, tantos de Escolas da elite do desfile quanto dos grupos de acesso, para demonstrar como esses conceitos de propaganda e crítica foram usados pelos compositores em suas letras. Para facilitar a compreensão, as letras escolhidas foram divididas em três categorias: Brasil ufanista, os vários Brasis e carnaval da crítica 3 . Na categoria Brasil ufanista foram incluídos os sambas-enredos de exaltação nacional, de seu povo e de sua raça. Na segunda, os vários Brasis, a propaganda se apresenta numa forma mais branda e indireta, sai o furor do nacionalismo exagerado e entram os sambas de júbilo (nacionais e regionais), contextos históricos, biografias e festas regionais, mostrando um Brasil que o Brasil não '
conhece. A última categoria couberam os sambas-enredos críticos, tanto anteriores ao período da ditadura núlitar (como críticas à seca e à escravidão) quanto aos posteriores, com críticas ao sistema político e monetário, à repressão, entre outros. Apesar de a quantidade final corresponder a quase 18% dos sambas-enredos do período estudado (1933 - 1989), dificilmente se conseguiria demonstrar completamente seus usos visto que, durante a história do carnaval carioca, muita coisa foi perdida. Esse é o motivo pelo qual, apesar de a decisão pela exigência de temas nacionais ser no ano de 1934, o primeiro item estudado é de 1943. Além de coincidir com o primeiro Carnaval de Guerra, época que ampliou o uso do samba como ferramenta da pedagogia nacionalista, os sambas-enredos anteriores a esse ano (1943) possuem poucos registros e não trazem em sua essência o "sentimento" (gtifo nosso) criado no pós-guerra.
3.1 Brasil ufanista
Durante a Segunda Guerra Mundial, o carnaval carioca sofreu com a incerteza de sua realização. Após uma grande discussão entre a sociedade e os sambistas, o carnaval venceu.
2 As
letras completas dos sambas-enredos estudados neste capít11lo encontram-se no Anexo B. Em sua maioria, os sambas possuem registros fonográficos que, quando disponíveis, serão destacados por notas de rodapé com /inks que direcionarão para o site http:l/quemsoueuquemvemla.blogspot.com.br , um local criado exclusivamente para o trabalho, onde poderão ser apreciados. Tsso visa criar a melhor compreensão, do contexto e da ideia, possíveis. 3 A tabela com a divisão completa encontra-se disponível no Apêndice A.
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Como dito no capítulo anterior, foi durante os Carnavais de Guerra que o a folia carioca começou a consolidar sua forma e quando o nacionalismo começou sua caminhada nas letras dos sambas-enredos.
Durante a Segunda Guerra Mundial a história do samba-enredo começaria a mudar de maneira mais perceptível. Os carnavais passaram a ser temáticos, as Escolas de Samba tinham que falar da guerra, ou melhor, da participação do Brasil na guerra. E, obviamente, de maneira ufanista. (SIMAS e MUSSA, 201 O, p.38-39)
Em 1943, ano em que aconteceram dois carnavais, a Portela foi campeã com o enredo Carnaval e guerra4 , composição de Nilson e Alvaiade.
Brasil, terra da liberdade Brasil, não usou de falsidade [ ... ] Meu Brasil precisando eu vou Ser mais um defensor Vou pra linha de frente travar um duelo Em defesa do pendão verde e amarelo Embora tenha que ser a sentinela perdida Honrarei minha pátria querida (Carnaval e guerra, G.R.E.S. Portela, 1943)
Nele, não há apenas o orgulho nacional (expresso no verso "Brasil, terra da liberdade"), mas também a exaltação pela participação do pais na guena. O autor afirma nos versos "Embora tenha que ser a sentinela perdida I Homarei minha pátria querida" que, não importa o que aconteça, honrará o Brasil nas batalhas que acontecerem. O patriotismo e a honra se repetiram em 1944 no enredo da Portela (Motivos
patrióticos5 , de Zé Barriga Dutra e Nilton Batatinha) e no ano seguinte na Mangueira (Nossa história6, de José Ramos e Geraldo da Pedra). Em 1945, a guerra deu lugar a um enredo essencialmente ufanista e a Portela trouxe nos versos de Brasil Glorioso1 a primeira grande homenagem ao Brasil.
Oh! Meu Brasil glorioso ' Es belo, és forte, um colosso ' Es rico pela natureza 4
Acesse http://bit.ly/portela 1943 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. Acesse http://bit.ly/portelal944 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 6 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/mangueira 1945 7 Acesse http://bit.ly/portela 1945 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 5
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Eu nunca vi tanta beleza [ ... ] Nessas mal traçadas rimas Quero homenagear Este meu torrão natal És rico, és belo, és forte E por isso és varonil Oh! Pátria amada, terra adorada, viva o Brasil! (Brasil glorioso, G.RE.S. Portela, 1945)
Com o fim da Segtmda Guena Mtmdial, a vitória passou a "reinar" (gtifo nosso) nos sambas-enredos. Em 1946, a Portela desfilou com o samba Alvorada do novo mundo8, comemorando o fim dos tempos de guerra. Por outro lado, a Prazer da Serrinha (que anos mais tarde, após uma rixa, daria origem ao Império Serrano) levou para Avenida Presidente Vru·gas a criação da Organização das Nações Unidas (ONU). No enredo Conferência de São Francisco (Paz universa/;9, a Escola chama o Brasil de "gigante da América Latina" e ressalta a
importância da ONU para a união entre os países. Observe que, mesmo sendo um enredo sobre as Nações Unidas, em momento algum Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola citam a ONU
-
. na compostçao.
Restabeleceu a paz universal Depois da guerra mundial [ ... ] Nosso Brasil sempre teve interferências Nas grandes conferências Da paz universal E' o gigante da América Latina Uruguai e Paraguai, Bolívia, Chile e Argentina (Conferência de São Francisco (Paz universal), G.R.E.S. Império Serrano,
1946)
Simas e Mussa ressaltam que há uma característica importante no samba-enredo da Prazer da Serrinha: ele é essencialmente nruntivo, com uma diminuição do sentimentalismo, ou seja, "a poesia começa a abandonar o lirismo [ ... ] e assmne um tom mais épico, reforçado pela densidade da melodia que passaria a caracterizru· o samba-emedo." (SIMAS e MUSSA, 2010, p.42-43).
Em 1948 a Mangueira trouxe o enredo Brasil, tesouro invejado (Vale do São Francisco) 10 , exaltando as maravilhas naturais que permeiam o vale do rio São Francisco, que
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A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse hnp:/lbit.Jy/portelal946 9 Acesse http://bit.ly/serrinha 1946 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 10 Acesse http://bit.ly/mangueiral948 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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nasce em Minas Gerais e desemboca em Alagoas. Esse tema se repetiria muitas vezes no carnaval carioca: em 1964 com Brasil de Norte a Sul 11 , da Unidos de Cabuçu; em 1970 com Um cântico à n.atureza 12 , da Mangueira; em 1976 com Riquezas áureas de nossa bandeira 13 ,
da Tupy de Brás de Pina; em 1982 com Brasil, verde e amarelo 14 , da Arrastão de Cascadura e em 1983 com Obrigado, Brasil 15 , da Unidos de Bangu. Silas de Oliveira compôs o que é, por muitos autores, considerado o maior samba-enredo de todos os tempos. Ao som de Aquarela brasileira 16 , o Império Serrano não conquistou o campeonato de 1964 (ficou em 4° lugar), mas
marcou para sempre os anais do carnaval carioca. Vejam esta maravilha de cenário E' um episódio relicário Que o artista num sonho genial Escolheu para este carnaval E o asfalto como passarela Será a tela Do Brasil em forma de aquarela [ .. ] Brasil, essas nossas verdes matas Cachoeiras e cascatas De colorido sutil E este lindo céu azul de anil Emolduram em aquarela o meu Brasil (Aquarela brasileira, G.R.E.S. Império Serrano, 1964)
Além das belezas naturais do Brasil, as produções agrícola e mineral também tiveram seu espaço na passarela. Em 1950 a Portela desfilou com o enredo Riquezas do Brasil 11, exaltando do petróleo ao ouro e prata. O tema apareceu novamente em 1956 na azul e branco de Oswaldo Cruz, com Riquezas do Brasil (Tesouros do Brasil ou Gigante pela própria natureza) 18 ; em 1961 na Imperatriz Leopoldinense, com Riquezas e maravilhas do Brasi/ 19 e
na União do Centenário, em 1970, com Brasil, berço de riquezas20 . O mar foi o tema da Unidos de Lucas em 1972. Brasil das 200 milhas21 versava sobre o limite do mar brasileiro e sua importância para a indústria pesqueira nacional.
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A letra completa encontra-se para consulta no Anexo B ou acesse http://bit.ly/cabuçul964 Acesse http://bit.ly/mangueiral970 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 13 Acesse http://bit.ly/tupyl976 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 14 Acesse http://bit.ly/cascadura 1982 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 15 Acesse http://bit.ly/bangul983 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 16 Acesse http://bit.ly/iserrano 1964 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 17 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/portela 1950 18 Acesse http://bit.ly/portelal 956 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. J9 Acesse http://bit.ly/imperatrizl96l para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 20 Acesse http://bit.ly/centenario 1970 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 21 Acesse http://bit.ly/lucasl972 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se para consulta no Anexo B. 12
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A política teve seu local garantido na festa máxima de Morno. Em 1951, ano em que Getúlio Vargas voltou a presidência da república de forma democrática, a Mangueira desfilou com o enredo Unidade nacionaz2 2• Já em 1957, levou Emancipação nacional (Rumo ao progressoP 3, destacando os recentes progresso do país. Durante o governo JK, a União de
Jacarepaguá saiu com o enredo Brasil, gigante que desperta24 (1960), afirmando que o país já não era mais mn "gigante ad01mecido" por apoio do govemo, lista orgulhos nacionais e profetiza que o Brasil será "[ .. . ] futmamente, o orgulho do universo". Com a revolução militar de 1964, vieram sambas-enredos que exaltavam o novo regime político. Controvérsias à parte, a Caprichosos de Pilares levou em 1972 o enredo Brasil, a .flor que desabrocha25 , exaltando a cultura e as grandes obras. Cultura, ciência e arquitetura E' o ptincípio base de uma nação Ordem, paz e progresso E o plano de expansão Brasil, flor que desabrocha No campo da civilização Olhando o futuro, vejo O despertar deste lindo rincão ( .. . ] A voz do povo diz Ninguém segura mais este país (Brasil, a flor que desabrocha, G.R.E.S. Caprichosos de Pilares, 1972)
O orgulho do milagre econômico durante a ditadura se repetiu em 1973 com Brasil, explosão de progresso26 , da Império da Tijuca; em 1975 com Brasil, glória e integração 27 , da
Tupy de Brás de Pina e em 1980 com Brasil, terra do amo?8, da Império do Marangá. Em 1974, em Aruanã-açu29 , a Vila Isabel se utilizou da figura do índio para exaltar esse momento do país. Se o tema é a ditadura, a passagem mais curiosa do carnaval foi protagonizada pela Beija-Flor. Por três anos consecutivos ela trouxe enredos que exaltavam o regime militar. Em 1973, quando ainda desfilava pelo grupo 2, a Beija-Flor cantou Educaçêio para o
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A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/mangueiral951 23 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/mangueiral957 24 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/jacarepagua 1960 25 Acesse http://bit.ly/caprichosos 1972 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 26 Acesse http://bit.ly/ituj ucal 973 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 27 Acesse http://bit.ly/tupy 1975 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 28 Acesse http://bit.ly/maranga 1980 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 29 Acesse http://bit.ly/vilal974 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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desenvolvimento 30 onde o principal homenageado era o Mobral 31. No ano seguinte, já na elite
dos desfiles, foi a vez das maravilhas económicas com Brasil ano 200032 . Nele, Walter de Oliveira e João Rosa tentam prever como será o país 25 anos depois, caso a ditadura ainda esteja no poder, e ressaltam que "Quem viver verá I Nossa tena diferente I A ordem do progresso I Empuna o Brasil pra frente". O 'l:tltimo, em 1975, comemorou os dez anos do golpe de Estado com O grande decênio 33 . Após esse desfile, a diretoria da Beija-Flor recebeu telegramas de felicitações dos ministérios e órgãos públicos citados no enredo.
[ ]
E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia O grande decênio Do nosso Brasil que segue avante Pelo céu, mar e terra Nas asas do progresso constante Onde tanta riqueza se encerra Lembrando PIS e PASEP E também o FUNRURAL Que ampara o homem do campo Com segurança total (O grande decênio, G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis, 1975) Na proposta do carnaval ufanista, coube até o passado histórico. Assim, a Mocidade Independente de Padre Miguel desfilou em 1978 com Brasiliana34 e repetiu o tema no ano seguinte, com o samba-emedo O descobrimento do Brasiz35, de Tôco e Djalma Crill. Trazia em seu refrão ("De peito aberto é que eu falo I Ao mundo inteiro I Eu me orgt:tlho de ser brasileiro") versos que resumiam perfeitamente o ideal nacionalista. Rubim Santos Leão Aquino e Luiz Sérgio Dias destacam que no imaginário popular, o momento do descobrimento do Brasil ocupa um destaque e evocam sentimentos como coragem, disposição, aventura, entre tantos outros. Por mais que sejam criticadas como ingênuas e alienadas, essas manifestações poéticas expressam um orgulho na exaltação da forma como o Brasil surgiu: filho da bravura e da fé. Dessa forma, elas não devem ser entendidas como 30
Acesse http://bit.ly/beijaflor 1973 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 31 O Movimento brasileiro de alfabetização (Mobral) foi um projeto criado em 1967 pelo governo militar brasileiro. Propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando conduzi-los a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-los a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida. 32 Acesse http://bit.ly/beijaflorl974 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 33 Acesse http://bit.ly/beijaflorl975 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 34 Acesse http://bit.ly/mocidade 1978 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 35 Acesse http://bit.ly/mocidadel979 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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provas ou expressões de infantilidade ideológica ou de servidão política de mentes colonizadas. Elas, em suma, representam uma leitura histórica, e assim devem ser julgadas. (AQUINO e DIAS, 2009, p. 12-13)
O passado glorioso do Brasil também foi exaltado em outros sambas-enredos como 61 anos de República36 , do Império Serrano em 1951; Na terra do Pau-Brasil nem tudo
Caminha, viu?37 , do mesmo Império em 1981 e Uma andorinha só não faz verão 38 , da
Acadêmicos de Santa Cruz em 1983. A Imperatriz Leopoldinense relembrou no carnaval de 1969 o famoso mito das três raças, do botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius. Com a composição Brasil, flor amorosa de três raças 39, aJém de destacar a importância dessa teoria para a unidade nacional, a Escola glorifica toda a grandeza da miscigenação brasileira. Vejam de um poema deslumbrante Germinam fatos marcantes Deste maravilhoso Brasil Que a lusa prece descobria Botão em flor crescendo um dia Nesta mistura tão sutil [ ... ] Dos garimpeiros aos canaviais Somos todos sempre iguais Nesta miscigenação Oh! Meu Brasil Flor amorosa de três raças ' Es tão sublime quando passas Na mais perfeita integração (Brasil, flor amorosa de três raças, G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense, 1969)
Em 1977, a Unidos do Cabuçu levou o samba-enredo Sete Povos das Missões40 , contando a história do conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis na província do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul. Sobre ele, Aquino e Dias nos dizem: ' exceção da historiografia especializada, a existência glorioso e, ao mesmo A tempo, trágica, dos Sete Povos das Missões tem merecido um destaque quase tímido nas narrativas da História do Brasil. Esse empreendimento jesuítico fazia parte de um grandioso projeto criado no século XVII, que chegou a despeitar a atenção de pensadores renomados, como, por exemplo, [... ] D'Alambe1t, Montesquieu e Voltaire. [ ... ) A composição da U1údos do 36
Acesse http://bit.ly/iserranol951 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 37 Acesse http://bit.ly/iserrano 1981 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 38 Acesse http://bit.ly/santacruzl983 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 39 Acesse http://bit.ly/imperatrizl969 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 40 Acesse http://bit.ly/cabuçu 1977 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Cabuçu [ ... ] ao destacar o trabalho comum de religiosos e indígenas, não hesitou em quaJjficar os bandeirantes como cruéis, costumeiramente exaltados como heróis desbravadores do se1tão brasileiro. Alegando que " ... antes queriam morrer em seus Povos do que ir-se a estes desertos e perder-se como animais [ ... ]", os indígenas missioneiros rejeitaram as imposições do Tratado de Madri, sendo massacrados por forças militares luso-espanholas em 1756. [ ... ] Com a denota indígena e a destntição dos Sete Povos, começava a agonia de um sonho comunitátio na América colonial, como acentuaram dois dos versos do samba-emedo: "Estava desfeito o sonho I De mna nação guarani". (AQUINO e DIAS, 2009, p.41-43) A função dos temas nacionalistas não era de apenas exaltar o Brasil, seu passado ou os regimes dominantes, mas também seu povo e grandes vultos da história nacional 41. As artes tiveram seu lugar em 1956 com Brasil, fonte das artes42 , do Salgueiro. É interessante perceber que em nenhum momento a composição de Djalma Sabiá, Caxiné e Nilo Moreira cita nomes. Em 1958 foi a vez de a Portela levar uma linha histórica, do descobrimento à república, em Vultos e efemérides do Brasitn . No ano seguinte, a mesma Portela desfilou com Brasil, pantheon de glórias44 , exaltando grandes nomes da história nacional. A mulher teve seu espaço
em Bravura, amor e beleza na mulher brasileira45 , da Acadênúcos de Santa Cruz em 1970. Em
1977 foi a vez dos inúgrantes, em Brasil, berço dos imigrantes46 , do Império Senano. E' tempo de Carnaval Hoje as cores do Império Vem saudar a imigração Numa doirada alegria Neste dia de folia O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular (Brasil, berço dos imigrantes, G.R.E.S. Império Serrano, 1977) As empresas estatais também tiveram seus 15 minutos de fama no carnaval carioca. Após a campanha do "O petróleo é nosso" e a luta pela nacionalizaçã.o das reservas de petróleo do Brasil, em 1953 é fundada a Petróleo Brasileiro S.A., mais conhecida como Petrobras. Ela, inclusive, apareceu em dois sambas-enredos de cunho essencialmente ufano-nacionalista:
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Os sambas-enredos biográficos não serão incluídos nessa categoria, apenas os que englobem mais de uma personalidade, sem levar em conta sua história pessoal. 42 Acesse http://bit.ly/salgueiro 1956 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 43 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/portela 1958 44 Acesse http://bit.ly/portela 1959 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 45 Acesse http://bit.ly/santacruzl970 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 46 Acesse http://bit.ly/iserrano 1977 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Epopeia do petróleo 41 , da União da Ilha do Governador em 1956 e Coisas nossas48 , da
Mangueira em 1980. O caso mais interessante aconteceu em 1971, quando a Mangueira desfilou com o samba-enredo Os modernos ban.deirantes49 , onde associou o trabalho do Correio Aéreo Nacional, serviço postal militar brasileiro criado em 1931, à importância dos bandeirantes do início do século XVI no trabalho de derrubar fronteiras e integrar o país. Assim, percebe-se que o cunho ufanista não percorreu apenas o âmbito histórico ou do povo, mas qualquer ponto onde o orgulho de ser brasileiro pudesse ser elevado.
3.2 Os vários Brasis Não apenas do ufanismo viveu a pedagogia nacionalista. Como diz Mara Natércia Nogueira, "o samba, tll11 gênero musical brasileiro, é capaz de contar a história do Brasil, por meio de mn viés mais original, mais ciiativo e mais autêntico." (2006, p.l). Sendo como tal, capítulos da história do Brasil, dessa vez menos engalanados, foram cantados diversas vezes no carnaval carioca. Em 1949, a Portela levou o descobrimento do Brasil para a Praça XI em Despertar do gigante 50 . Diferentemente dos sambas-enredos de mesmo tema já citados neste
capítulo, dessa vez a composição de Manacéia trata do momento de modo Estencialmente histórico. O "descobtimento histórico" (grifo nosso) também foi tema da Portela em 1969, com Treze naus51 e em 1976 com Por mares nunca dantes navegados52, da Imperatriz
Leopoldi nense. O Império Serrano relembrou em 1950 um dos momentos mais importante da Guerra do Paraguai no samba-enredo Batalha Naval do Riachuelo 53 . As seis datas magna~4 • da Portela em 1953, lembrou episódios importantes na história do Brasil. O Dia do Fico, episódio da história brasileira quando Dom Pedro I se negou a voltar a Portugal, desobedecendo à ordem de Dom João VI, foi retratado por Cabana em Dia do fico 55 , para a Beija-Flor em 1962.
Contando as escolhas e mudanças das três capitais que o Brasil teve durante sua história, a
47
Acesse http://bit.ly/ilha 1956 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 48 Acesse http://bit.ly/mangueira l980 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 4 9 Acesse http://bit.ly/mangueira 1971 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 50 Acesse http://bit.ly/portela 1949 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 51 Acesse http://bit.ly/portelal969 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 52 Acesse http://bit.ly/i mperatriz 1976 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 53 Acesse http://bit.ly/iserrano 1950 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 54 Acesse http://bit.ly/portela 1953 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 55 Acesse http://bit.ly/beijaflor 1962 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Imperatriz Leopoldinense cantou As três capitais 56 no carnaval de 1963. Um dos sambasenredos mais lembrados de todos os tempos também é da Escola de Ramos. Em 1989, último ano da era dos grandes carnavais, a Imperatriz levou o centenário da proclamação da República para o Sambódromo com Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós! 51 . Vem ver Vem reviver comigo amor O centenário em poesia Nesta pátria-mãe querida O Império decadente Muito rico, incoerente Era fidalguia [ ... ]
Da guerra nunca mais Esqueceremos do patrono O duque imortal A imigração floriu de cultura o Brasil A música encanta e o povo canta assim [ .. .]
Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós E que a voz da igualdade Seja sempre a nossa voz (Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós!, G.R.E.S. Imperatriz
Leopoldinense, 1989) Outros temas, um pouco mais abstratos, também apareceram nos desfiles do carnaval carioca. O folclore passou pela Unidos de Lucas, em 1969, com Rapsódiafolclórica58. Um fato interessante desse samba-enredo, levado em pleno auge da ditadura militar, é que alguns autores questionam se os últimos versos da primeira estrofe da composição ("Esclarecendo em alto som I Que a liberdade é o lado bom"), que destoam completamente da linha histórica do samba, setiam uma crítica à repressão. Isso, porém, nunca foi comprovado. A mitologia nacional também apareceu em Viagem encantada Pindorama aden.tro 59 , do lmpétio Serrano em 1973 e em Uruçumirim, paraíso Tupinambá60 , da Caprichosos de Pilares em 1979. A industrialização do Brasil, por meio da expansão da malha ferroviária, foi tema da Arrastão de Cascadura em 1978, com Talaque-talaque, o romance da Maria-Fumaça61 • O turismo apareceu na São Carlos em 1971, com Brasil turístico 62 e a gastronomia nacional em 56
Acesse http://bit.ly/imperatrizl963 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 57 Acesse http://bit.ly/imperatrizl989 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. ss Acesse http://bit.ly/lucas1969 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 59 Acesse http://bit.ly/iserrano 1973 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 60 Acesse http://bit.ly/caprichosos 1979 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 61 Acesse http://bit.ly/cascadura 1978 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 62 Acesse http://bit.ly/saocarlos 1971 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Um cardápio à brasileira63, na Caprichosos de Pilares de 1983. Abstratos ou históricos, os
sambas-enredos serviram como porta-vozes em sua proposta de nacionalização cultural.
Retratando os acontecimentos de nossa história de uma forma a um só tempo criativa e original, o samba canta mna " outra" história, por meio da qual é possível conhecer o modo de vida de cada povo que aqui se fixou , seus costumes e valores, suas tradições, sua maneira própria de buscar a garantia da liberdade e de se fazer respeitar a pa.tir de características de pertencimento que constituem a identidade cultural própria dos grupos responsáveis pela formação do povo brasileiro. (NOGUEIRA, 2006, p.2) As diversas regiões do país também apareceram nos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Procuravam, assim, aumentar o sentimento de orgulho, mostrando um Brasil gigante e culturalmente rico. O Império Senano fez esse "trabalho" (grifo nosso) por três vezes: em 1967 cantou as belezas de São Paulo no samba-enredo São Paulo, chapadão de glórias64 ; no ano seguinte, foi a vez de levar a história de Pernambuco para a avenida com Pernambuco, Leão do Norté5 e, em 1971, o tema foi o nordeste, com Nordeste: seu povo, seu canto e sua glóría 66 .
O Pará tem um capítulo à parte nesse tema. Em 1975, a Avenida Presidente Antônio Carlos foi invadida pela fé. A Unidos de São Carlos levou o Círio de Nazaré - manifestação religiosa católica mais importante do Brasil, realizada desde 1793 em Belém do Pará- com a composição Festa do Círio de Nazar~7 . O pórtico da hileia68 monumental ainda apareceu por mais duas vezes: em 1980 a Unidos da Ponte cantou os encantos da llha de Marajó em Maravilhosa Marajó 69 e em 1981 foi a vez do Engenho da Rainha levar o Ver-o-Peso,
considerado a maior feira a céu aberto da América Latina, no esquecido O curioso mercado de Ver-o-Peso 70 . O samba-enredo explica a origem do nome Ver-o-Peso e termina enaltecendo e
agradecendo à Belém pele existência do mercado. Essas composições se ajustam ao modelo patriótico proposto, em particular nas ênfases à exaltação regional.
Chegando palhas, botes e veleiros Montarias, canoeiros 63
Acesse http://bit.ly/caprichosos 1983 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 64 Acesse http://bit.ly/iserranol967 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 65 Acesse http://bit.ly/iserrano 1968 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 66 Acesse http://bit.ly/iserrano 1971 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 67 Acesse http://bit.ly/saocarlos 1975 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 68 Hileia (do alemão antigo Hylaa, que significa " da floresta", " selvagem") foi o primeiro nome dado à Floresta Amazônica pelos naturalistas Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland, após suas expedições pela região do Orinoco e do Rio Amazonas no começo elo século XIX. 69 Acesse http://bit.ly/ponte 1980 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 70 Acesse http://bit.ly/engenho 1981 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Iguarias e coisas mais Com um vozerio alucinante Muita gente e fervilhante De manhã desperta o cais "Vamos ver o peso verdadeim" Dizia o nativo canoeiro Indo pra Repartição Fiscal Pra ver o peso no Brasil Colonial [".] Hoje, o Engenho o enaltece E à Belém agradece As suas vendas capitais Levando pra pessoa rica e pobre Do plebeu até o nobre E todas classes sociais Um mercado variado de alimentos Frutas frescas, ornamentos Utensílios e animais (O curioso mercado de Ver-o-Peso, G.R.E.S. Acadêmicos do Engenho da Rainha, 1981)
No exercício da pedagogia nacionalista, nada mais "justo" (grifo nosso) do que homenagens aos vultos que se destacaram na história do Brasil. Em 1947, a Portela levou um tributo a Santos Dumont no samba-enredo Honra ao mérito11 • No mesmo ano, a Mangueira cantou a arte de Pedro Américo e a ciência de César Lattes em Brasil, ciências e artes12. Em 1949 foi a vez de Oswaldo Cruz, Miguel Couto, Ruy Barbosa e Ana Neri desfilarem na
Mangueira, com Apologia aos mestres13. A volta democrática de Getúlio Vargas foi o tema do carnaval da Portela em 1951, em A volta do filho pródigo14 . A Cartolinhas de Caxias, extinta Escola da Baixada Fluminense, enumerou notáveis personagens da sociedade brasileira em Benfeitores do universo15 , de 1953.
Os bandeirantes tiveram seu espaço na Beija-Flor de 1954, com O caçador de esmeraldas16 . Anos depois, em 1958, foi a vez de o Salgueiro homenagear o Corpo de Fuzileiros
Navais no samba-enredo Um século e meio de progresso a serviço do Brasi/17• As Forças Armadas voltaram a ser homenageados no carnaval cadoca com Medalhas e brasões18, de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola pro Império Serrano em 1960. As escritoras nacionais foram
71
A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/portela 1947 72 Acesse http://bit.ly/mangueira 1947 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 73 Acesse http://bit.ly/rnangueira 1949 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 74 A letra completa encontra-se no Anexo B ou acesse http://bit.ly/portela 1951 75 Acesse http://bit.ly/cartol inhas 1953 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 76 Acesse http://bit.ly/beijaflorl954 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 77 Acesse http://bit.ly/salgueiro 1958 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 78 Acesse http://bit.ly/iserrano 1960 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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tema em 1974 do samba Heroínas do romance brasileiro79 , da Unidos de São Carlos. Sobre essas homenagens no carnaval carioca, Elsa Maria Nitsche Ortiz afirma:
(A homenagem) é uma representação muito comum na esfera carnavalesca [ ... ]. Tem, todavia, mn percmso temporal bastante peculiar: nos anos em que desfilam dez escolas de samba (1965-1974), tem-se uma média de três "homenagens" como elemento temático do samba-enredo; a partir de 1975, quando o número de escolas participantes aumentou, oscilando de doze a dezoito, a média de ocorrências se manteve a mesma - isto é, houve um decréscimo percentual de "homenagens". O perfil do homenageado também se modificou [ ... ]. Intradiscursivamente o sujeito do samba-enredo não se explicita, já que, praticamente em todas as ocorrências, há o emprego da 3". pessoa do singular, estratégia que coloca o sujeito fora do discurso. Nas raras ocasiões em que há a clara inscrição do sujeito do samba-enredo, esta se faz através do "nós" representativo da Escola que presta a homenagem. (ORTIZ, 1998, p.l24)
As homenagens também possuíram seu viés biográfico. Exaltar a vida e obra de uma grande personalidadé0 poderia ser espelho para que a população lutasse por um futuro pessoal condizente com o do "ídolo histórico" (grifo nosso). Esse tema teve seu expoente nas décadas de 1950 e 1960, mas é utilizado até hoje pelas Escolas de Samba. O Império Seuano levou em 1955 a vida de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, no samba-enredo Exaltação a Caxias 81 • Em 1956, dois anos após sua morte, Vargas foi tema do carnaval da Mangueira, em O grande presidente82 . A vida e obra da poetisa mineira Bárbara Heliodora, esposa do inconfidente Alvarenga Peixoto, apareceu em Exaltação à Bárbara Heliodora 83 , no carnaval de 1958 do Império Serrano. No ano seguinte, o mesmo Império levou Maurício de Nassau para a avenida em Brasil holandês84 . Em 1962 foi a vez de outro estrangeiro estrelar a festa máxima do carnaval carioca. A Portela levou a história do pintor alemão Johann Moritz Rugendas 85 em Rugendas, viagem pitoresca através do Brasi/86 . O compositor carioca Heitor Villa-Lobos, responsável pelos grandes concertos realizador por Vargas durante o Estado Novo, teve sua vida cantada pela
79 Acesse http://bit.ly/saocarlosl974 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo 80
8.
Não necessariamente apenas personagens brasileiros foram exaltados, mas também estrangeiros que tenham sido importantes no caminhar da nossa história. 81 Acesse http://bit.ly/iserrano 1955 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 82 Acesse http://bit.ly/mangueiral956 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 83 Acesse http://bit.ly/iserrano 1958 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 84 Acesse http://bit.ly/iserranol959 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 85 É interessante perceber que Zé Keti, Batatinha, Carlos Elias e Marques Balbino, autores do samba-enredo da Portela em 1962, até aportuguesaram o nome do pintor, para João Maurício Rugendas, na tentativa de se adequar perfeitamente ao ideal nacionalista proposto. 86 Acesse http://bit.ly/portelal962 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Mangueira em 1966 no samba-enredo Exaltação a Villa-Lobos81 . A mesma Mangueira levou para a avenida, no ano seguinte, a história do escritor Monteiro Lobato em O mundo encantado de Monteiro Lobato 88 . O pai da historiografia nacional marcou presença em 1969 no desfile da
Mocidade Independente de Padre Miguel em Vida e glória de Francisco Adolfo de Varnhagen89 . Já durante a ditadura militar, a vida do ex-presidente Juscelino Kubitschek foi o
terna do samba De Nonô a JJ(Y0 , da Mangueira em 1981. Em 1985, Vargas voltou ao carnaval carioca, dessa vez nas mãos do Salgueiro, em Anos trinta, vento sul - Vargas91 • Talvez o episódio mais inusitado dessa safra de biografias, tenha acontecido com Caçador de esmera/das 92 , do Império Serrano em 1956. Como ressaltam Simas e Mussa,
normalmente as figuras históricas eram enquadradas em quatro grupos principais: a história política, a histó1ia núlitar, a ciência e a rute. "Talvez uma exceção notável seja Femão Dias Paes, provavelmente o p1imeiro vulto histó1ico que mesmo denotado é tido como herói." (SIMAS e MUSSA, 2010, p.57). Paes Leme, o desbravador Cuja famosa expedição chefiou [...)
Nas jornadas fulgurantes dos bandeirantes Herói se revelou Mas o sonho das ricas esmeraldas Não realizou Não importa que as pedras verdes Tivessem sido um sonho vão [ ... )
Glórias ao sertanejo Que em plena mata do bravio sertão Deu a própria vida Ao progresso de nossa nação (Caçador de esmeraldas, G.R.E.S. Império Senano, 1956) O amadurecimento da arte de escrever sambas-enredos permitiu que, até mesmo os temas mais distantes dos sambistas, fossem usados no carnaval. A melhor representação disso foram os enredos monográficos, que recriam textos literários. Em 1962 a Mangueira levou Casa-grande e sen.zata93 , baseado na obra homônima de Gilberto Freyre. Paulinho da Viola
87
Acesse http://bit.ly/mangueira 1966 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 88 Acesse http://bit.ly/rnangueira 1967 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 89 Acesse http://bit.ly/mocidadel969 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 90 Acesse http://bit.ly/mangueira 1981 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 9J Acesse http://bit.ly/salgueiro 1985 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 92 Acesse http://bit.ly/iserrano 1956 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 93 Acesse http://bit.ly/mangueiral962 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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compôs Memórias de um sargento de milfcias94 , da obra de Manuel Antônio de Almeida, para o carnaval da Portela em 1966. Em 1968 a Portela levou José de Alencar e o romance O tronco do ipê (1871), no samba-enredo Tronco do ipê95 . A Imperatriz Leopoldinense defendeu o
paraíso racial em 1972, com o samba Martim Cererê96, baseando na obra homônima do modernista Cassiano Ricardo. Uma das obras-primas de todos os tempos é Os sertões97 , composição de Edeor de Paula para a Em Cima da Hora em 1976. Para Simas e Mussa, esse samba-enredo é também importante "[ .. . ] pelo poder de síntese do autor, que conseguiu a proeza de resumir o livro homônimo de Euclides da Cunha. " (SIMAS e MUSSA, 2010, p.97).
[ ... ]
Sertanejo é forte Supera miséria sem fim Sertanejo homem forte Dizia o poeta assim Foi no século passado No interior da Bahia O homem revoltado com a sorte Do mundo em que vivia Ocultou-se no sertão Espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia (Os sertões, G.R.E.S. Em Cima da Hora, 1976)
3.3 Carnaval da crítica
Não restam dúvidas que o carnaval carioca foi usado como ferramenta estatal da pedagogia nacionalista. Durante mais de quatro décadas, os sambas-enredos serviram de matriz-geradora, um tanto ilusória, de uma sociedade culturalmente perfeita e de propaganda ufanista de um país sem limites. E' interessante pensar, entretanto, que a mesma ferramenta outrora pró-sistema, foi utilizada para questionar e criticar os meandros políticos. Muito antes da "explosão" (grifo nosso) do camaval crítico durante a ditadura rnilitar, em dois momentos essa crítica, mesmo que em menor intensidade, pôde ser observada.
94
Acesse http://bit.ly/portelal 966 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 9S Acesse http://bit.ly/portela 1968 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 96 Acesse http://bit.ly/imperatriz.J 972 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 97 Acesse http://bit.ly/ecdhl976 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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Em 1961, a escolha de um simples enredo faria uma desconhecida Escola da zona norte carioca entrar para os anais do nosso carnaval. Pelas mãos de Gilberto de Andrade e Waldir de Oliveira, a Tupy de Brás de Pina levou um dos mais importantes sambas-enredos da história: Seca do Nordeste98 . Essa importância não se deve apenas por sua qualidade melódica, que é inegável, mas pela revolução que ele operou nos desfiles. Sol escaldante, terra poeirenta Dias e dias, meses e meses sem chover [ ... ] No auge do desespero Uns se revoltam contra Deus Outros rezam com fervor "Nosso gado está sedento, meu Senhor Nos livrai desta desgraça" O céu escurece As nuvens parecem Grandes rolos de fumaça Chove no coração do Brasil E o lavrador Retira o seu chapéu E olhando o f!fmamento Suas lágrimas se unem Com as dádivas do céu (Seca. do Nordeste, G.R.E.S. Tupy de Brás de Pina, 1961 )
O samba-enredo da Tupy mostrou para a população brasileira que o carnaval era muito mais do que uma simples festa, ele possuía um alcance maior, que transcendia a própria folia carnavalesca, algo que o governo já descobrira muito tempo antes. Talvez ninguém pudesse suspeitar de que uma pequena escola do subúrbio do Rio fosse optar por um enredo que fugia completamente da tendência ufanista dominante, [... ] para cantar a dor do povo humilde do Nordeste. O Brasil que a Tupy levou para a avenida em 1961 era um Brasil derrotado. A Tupy foi a primeira Escola de Samba a eleger um enredo de protesto, a falar de um problema brasileiro. [ ... ] Ficava, assim, cada vez mais claro que grandes sambas vinham de grandes enredos [... ]. A exaltação pura e o pattiotismo acrítico eram estéreis demais. (SIMAS e MUSSA, 20 IO, p.62-63)
Oito anos após o "Brasil denotado" (SIMAS e MUSSA, 2010, p.62) da Tupy, novamente o protesto voltou a figurar na avenida. Dessa vez, porém, de fonna muito mais conturbada. O cbma politico no país era dos piores. O AI-5 (Ato Institucional número 5) havia sido editado em dezembro de 1968, dois meses antes do carnaval. O regime militar se endurecia
9S
Acesse http://bit.ly/tupy 1961 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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cada vez mais, calando todas as vozes dissidentes. E' nesse cenário que o Império Serrano resolveu apresentar Heróis da liberdade99 , um samba-enredo um tanto sugestivo. A ideia de Silas de Oliveira, Manoel Feneira e Mano Décio da Viola era mostrar todos que lutaram pela liberdade no Brasil, do Movimento Nativista aos pracinhas da Segunda Guerra Mundial. Era um tema extremamente audacioso pros tempos de ditadura. Isso não soou bem aos ouvidos dos policiais do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social), que convocaram os autores a darem explicações sobre o samba-enredo 100. A censura, porém, não perdoou o Impélio. Depois de muita conversa, tiveram que retirar a palavra "revolução" (grifo nosso) no verso "E' a revolução, em sua legítima razão", substituindo-a pela palavra "evolução" (grifo nosso). Passava a noite, vinha dia O sangue do negro corria Dia a dia [ .. . ]
Esta brisa Que a juventude afaga Esta chama Que o ódio não apaga pelo universo E' a evolução, em sua legítima razão (Heróis da liberdade , G.R.E.S. Império Serrano, 1969) Naquele ano, o Império Serrano se tornou a Escola preferida dos opositores ao regime. Na manhã de 17 de fevereiro de 1969, enquanto a escola começava seu desfile, aviões da Força Aérea Brasileira começaram a sobrevoar a Candelária, dando rasantes e fazendo muito barulho, a fim de atrapalhar a evolução do Império. É inegável que a explicação de Silas de Oliveira não convenceu os militares. O recado, porém, já estava dado: o lamento oprimido do brasileiro passaria a estar presente na voz que, outrora, adulou o poder. A partir de Heróis da liberdade, a sociedade carnavalesca durante o regime militar percebeu seu poder de questionamento. A linha propagandista nacional não foi abandonada, mas críticas cada vez mais pesadas eram transformadas em lendas e histórias de menor importância. Isso acontecia porque, como visto anteriormente, todas as letras passavam pela aprovação da censura, "obxigando" (grifo nosso) os questionadores a velarem seus julgamentos.
99
Acesse http://bit.ly/iserrano 1969 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 100 O DOPS considerou o samba um tanto subversivo. Mano Décio da Viola, Manoel Ferreira e Silas de Oliveira foram explicar ao general Luis de França Oliveira, secretário de segurança do estado da Guanabara, porque fizeram uma letra com tanta louvação à liberdade. Quando questionado, Silas de Oliveira respondeu: "Eu não tenho culpa de retratar a história, não fui eu que a escrevi. Como eu fiz, o senhor poderia ter feito.". (SILVA e OLIVEIRA apud AQUINO e DIAS, 2009, p.3l)
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Em 1983, a Unidos de Lucas levou Senta que o leão é manso 101 • Nele, a Escola julgou a situação econômica do país, disfarçando isso nas Capitanias Hereditárias, o Quinto do ouro mineiro, entre outros. No ano seguinte, a Beija-Flor também fez esse questionamento em O gigante em berço esplêndido 102• Dessa vez, escondeu a crítica em lendas indígenas, mas fez
menção direta ao milagre econômico e a posterior hiperinflação nos versos "Mas na ânsia de crescer I Do berço fértil se afastou". Ainda em 1984, a Em Cima da Hora levou os lamentos do trabalhador brasileiro em 33 - Destino D. Pedro /1103. Em 1985, a Unidos de Lucas resolveu largar o véu e criticou diretamente a conjuntura nacional no samba-enredo Essa gente brasileira 104 , onde já deixava claro um sentimento que culminaria, dois meses depois, na
dissolução da ditadura militar. Seja como for, o fato é que movimentos sociais fortalecidos nesse momento de relativa abertura ganhariam força em razão inversa ao compasso de enfraquecimento do regime, auxiliados por discw·sos construídos sobre palavras de ordem que remetiam ao ideário liberal-democrático, todas associadas às liberdades individuais. Em linhas gerais, seria essa a filiação da noção de justiça social, cujo conteúdo é mais ou menos fluido, dependendo do contexto e de quem a utiliza, como é peculiar a toda palavra de ordem quando evocada a partir de determinada posição no quadro de forças políticas. (SILVA, 2007, p. 112) A aurora de 1986 trouxe de volta a catarse do carnaval democrático, há muito esquecida. Sem os empecilhos da censura e da restiição da liberdade de expressão, as lendas deram lugar, definitivamente, à crítica direta à situação social, econômica e política do Brasil. "O camaval de 1986 foi, sem dúvida, um momento em que desaguaram em plena passarela frusb:ações e esperanças." (AQUINO e DIAS, 2009, p.138). A propaganda ufanista teve seu módico espaço com E você, o que é que dá? 105 , da Acadêmicos de Santa Cruz. Esse tema, porém, foi deixado em segundo plano na maioria das Escolas. O Império Serrano trouxe o samba-enredo Eu quero 106, onde reivindicava os direitos individuais e torcia pelo futuro do país. A São Clemente, Escola tradicionalmente questionadora, "ressuscitou" (giifo nosso) a teoria do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire - onde ele defendia que ou Brasil acabava com a praga de formigas saúvas, ou elas acabariam com o país - e desfilou com Muita saúva, pouca
101
Acesse http://bit.ly/lucas 1983 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 102 Acesse http://bit.ly/beijaflor 1984 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 103 Acesse http://bit.ly/ecclh 1984 para ouvir a gravação. A letra completa encontra -se no Anexo B. 104 Acesse http://bit.ly/lucas 1985 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 105 Acesse http://bit.ly/santacruz 1986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 106 Acesse http://bit.ly/iserranol986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B.
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saúde, os males do Brasil são ... 107 , numa crítica efusiva ao sistema econômico nacional. Esse tema também apareceu em Terra Brasilis 108, da Em Cima da Hora. Utilizando a obra Manuscrito holandês (1959), de Manuel Cavalcanti Proença, como plano de fundo, a Independentes de Cordovil cantou o Brasil apático no Quem não discute, tem que engolir 109 , convocando toda a população a lutar por mudanças. A Caprichosos
de Pilares trouxe o "hino" (grifo nosso) do camaval de 1986. Em Bra:::il com "Z " mio seremos jamais, ou seremos? 110, questionou a ameiicanização da sociedade brasileira e decretava o fim
da influência norte-americana nos rumos políticos do Brasil.
[ .. . ] Brasil, meu Brasil Com "S" fica bem mais foxte No sul, no centro, no norte Na voz do nosso povo Ninguém vai me enganar de novo [ . .. ] Quem comeu, comeu Quem não comeu, não come mais Brasil com " Z" jamais (Brazil com "Z " nií.o seremos jamais, ou seremos?, G.R.E.S. Caprichosos de
Pilares, 1986) Os últimos anos da década de 1980 reservaram mais sambas-enredos de protesto. Em 1987, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou Tupin.icópolis 111 pro Sambódromo, onde questionou a metropolização das cidades. A Capiichosos, no mesmo ano, levou Eu prometo (Ajoelhou, tem que re=ar ...) 11 2, cantando o que o brasileiro esperava no futuro próximo de um país recém democrático. Em 1988, o Salgueiro atrelou lendas africanas à descoberta do petróleo e à desvaloiização do Cruzado, antiga moeda nacional, no samba-enredo Em busca do ouro 113 • A Mocidade cantou ao fim da corrupção nacional em Bei:jim, beijim, bye bye Brasi/ 114 • No sambaenredo Quem avisa amigo é 115, a São Clemente defendeu o papel da mulher na sociedade. A Unidos da Tijuca veio com Bar Brasil, templo do absurdo 116, transformando a avenida em um Acesse http://bit.ly/saoclemente 1986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. Acesse http://bit.ly/ecdhl986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 109 Acesse http://bit.ly/cordovill986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 110 Acesse http://bit.ly/caprichososl986 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 11 1 Acesse http://bit.ly/mocidade 1987 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 112 Acesse http://bit.ly/caprichososl987 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 1l3 Acesse http://bit.ly/salgueiro1988 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 114 Acesse http://bit.ly/mocidadel988 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 11 5 Acesse http://bit.ly/saoclemente 1988 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 116 Acesse http://bit.ly/utijuca 1988 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 107 108
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grande bar, onde todos teriam direito de reclamar da vida do dia a dia. Para finalizar a safra de críticas de 1988, a Tupy cantou E agora, José?111, onde afhmava que "O povo já está é P da vida I Procurando uma saída I Para um dia melhorar", mas no "país da utopia", tudo terminava na corrupção da política nacional. A São Clemente levou Made in Brazi/. Yes, nós temos banana 118 para o Sambódromo em 1989. O interessante desse samba-enredo, é que ele é ao mesmo tempo crítico e ufanista. Os autores da Escola de Botafogo conseguiram unir o questionamento da politica fiscal à propaganda nacionalista do começo do carnaval, quando o eu-lírico do enredo afirma que chora e grita, porque ama seu país. Com o fim da ditadura militar anos antes, "Tanto o país como os emedos ficariam menos nacionalistas e se abririam a novas influências." (SIM AS e MUSSA, 2010, p.l15). Não havia, porém, mais volta: a história já havia promovido o samba ao patamar de símbolo nacional. Para fechar com chave de ouro uma era no carnaval carioca, o ano de 1989 reservou mais um momento marcante do carnaval carioca. Com Ratos e urubus, larguem a minha fanta.sia 119 , a Beija-Flor levou o lixo e o luxo para a avenida.
Reluziu E' ouro ou lata? Formou a grande confusão Qual areia na farofa E o luxo e a pobreza No meu mundo de ilusão Xepá, de lá pra cá xepei Sou na vida um mendigo Da foba eu sou rei (Ratos e urubus, larguem a minha fantasia , G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis, 1989)
Muito mais do que isso: a Escola de Nilópolis significou a ruptura e o "distanciamento cultural entre o mundo do samba e o dos intelechtais do asfalto, marca de um país fragmentado, [ ... ] ignorante da sua própria história." (SIMAS e MUSSA, 201 O, p.116). A partir do ano seguinte, o samba-enredo carioca se veria cada vez mais longe de seu berço, até abandonar o utópico morro e se misturar definitivamente ao calor do asfalto. Isso, porém, já é outra história.
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Acesse http://bit.ly/tupy 1988 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. Acesse http://bit.ly/saoclemente 1989 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 11 9 Acesse http://bit.ly/beijaflor 1989 para ouvir a gravação. A letra completa encontra-se no Anexo B. 11 8
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CONSIDERAÇOES FINAIS
O anseio de pertencer a um mesmo grupo sempre norteou a sociedade, seja por limites físicos, pela continuidade ou pela simples coerência, como ressalta Michael Pollak. O homem tentou, arduamente, entender como essas variáveis interferiam na construção de um conceito por muito tempo questionável: a identidade. Essa discussão começou a ganhar força com o filósofo alemão Johann Gottfried von Herder. Em 1784, ele lançou sua principal obra, o controverso Ideias para a filosofia da história da humanidade. Herder passou a defender que o principal fator na criação do nacionalismo supunha afinidades de sentimentos comuns. Apesar de questionada pelo britânico Robin George Collingwood, a teoria herderiana foi a base da construção de todos os conceitos de identidade a partir de sua publicação. Para entendê-la, porém, é necessária a definição de um outro ponto: o de representação. Como diz Roger Chartier, "as representações [ ... ] produzem estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade" (CHARTIER apud ANDRADE, 2010, p.2), ou seja, identidade e representação andam atrelados, visto que à identidade cabem os interesses de grupos que tendem a impor suas visões ideológicas sobre os fatos. Para que esse sentimento seja permanente em um grupo, é importante que os atores sociais "enxerguem" (grifo nosso) nesses hábitos, costmnes, entre outros, pontos em comum, onde possam se sentir parte de um único casulo. A isso, se dá o principal fator para a perfeita "c1iação" (glifo nosso) de uma identidade: ela precisa ser assimilada e legitimada pelo entendimento da massa e não pela força. A dificuldade se apresenta na não-homogeneização de uma identidade. Não há um ponto onde ela se torne única, inegável. Isso, porém, não significa que, como não há um ponto em comum, ela não exista. Identidades denotam sentimentos em comum que diferenciem grupos sociais. O que os torna diferentes é visível, o que os une, não. Sendo assim, cada sociedade cuidará de criar seu modelo, buscando sempre pontos jubilosos, como a união do povo, o passado glorioso, a vasta cultura, entre outros. Isso gerou muitos conflitos entre os teóricos sobre se realmente existiria algo a ser chamado de identidade. Diferente das nações da Eurásia e os Estados Unidos, a identidade nacional brasileira foi criada e moldada por estrangeiros. E' inegável se afirmar a existência do Brasil se olharmos apenas aspectos jurídicos e políticos, mas ao olharmos o conceito de nação, no sentido mais sociológico do termo, essa existência passa a ser confusa. No começo do século XX, quando as teorias raciais europeias estavam em seu auge, o brasileiro tinha vergonha de ser o que é. Leandro Narloch tenta exemplificar esse momento
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de uma forma lúdica, imaginando como seria se os países pudessem participar de uma terapia de grupo. Haveria aquele país que mal notaria a existência dos outros, como a França, talvez os Estados Unidos. A Alemanha se seguraria calada, sofrendo de culpa, desconfortável consigo e com os colegas ao redor. Uma quarentona insone, em crise por não ser tão rica e atraente quanto no passado, representaria bem a Argentina. Claro que haveria também países menos problemáticos, como o Chile ou a Suíça, contentes com a sua pouca relevância. Não seria o caso do Brasil, paciente que sofreria de diversos males psicológicos. Bipolar, oscilaria entre considerações muito negativas e muito positivas sobre si próprio. Obcecado com sua identidade, em todas as sessões aborreceria os colegas pergtmtando " Quem sou eu?" , " Que imagem eu devo passar?", "O que me diferencia de vocês?". (NARLOCH, 2009, p.l30-131)
Enriquecido pelo ouro verde, foi no auge do Segundo Império que o Brasil começou a olhar seu próprio passado, procurando algo onde pudesse alicerçar sua própria identidade, "Era preciso encontrar no passado referências [ ... ], cujas ações pudessem tornar-se modelos para as futuras gerações. " (REIS, 2006, p.25). A primeira tentativa foi reeditar a Carta a El Rei D. Manuel, escrita por Pero Vaz de Caminha em abril de 1500. Acreditava-se que com o resgate
do descobrimento glorioso, a lusa prece "inundaria" (grifo nosso) os brasileüos de um furor ainda inerte. A identidade nacional brasileira foi nascendo a cada carta enviada por algum viajante que percorresse nossa costa, ou pisasse em nosso solo. Era por elas que o velho mundo descobtia as "maravilhas" (grifo nosso) e os "delírios tropicais" (grifo nosso) de uma nova tena. Mesmo os índios brasileiros possuindo sua própria cultura, os portugueses acreditavam que seria melhor para o Brasil ter sua identidade criada aos moldes europeus, o que nos custou anos de subserviência. Isso começou a mudar com o mito das três raças, criação do botânico alemão Carl Fiiediich Philipp von Martius. Ele acreditava que para se entender mais profundamente a história do Brasi l, e sua posterior identidade, era necessário ampliar os limites, e se observar que o Brasil era por si só um país miscigenado. Na tese de Von Martius, nosso país era resultado do encontro de três rios: um rio mais largo, da origem europeia; um rio sinuoso, dos escravos africanos e um pequeno riacho, do passado indígena. Essa teoria se tornou uma perfeita bengala pro entendimento da identidade nacional a partir de então. Com o tempo, outra teoria viJia a somar forças ao mito das três raças. Capistrano de Abreu defendia que o conceito de "cultura" (grifo nosso) deveria substituir o de "raça" (giifo nosso), ou seja, não se conseguiria criar uma ligação entre os brasileiros, se continuássemos a
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acreditar que éramos um povo menos evoluído por sermos miscigenados. A ideia de Capistrano ia de encontro ao ideal proposto por Francisco Adolfo de Varnhagen, pai da historiografia nacional. Para Varnhagen, o Brasil queria ser uma nova Portugal, enquanto para Capistrano, ele gostaria de ser visto como um país com sua própria cultura e costumes. Mesmo com a "nova" (grifo nosso) teoria de Capistrano de Abreu, a identidade do Brasil já havia sido construída com bases negativas, ao levar em consideração os poderes da raça na criação de uma massa social, por isso nosso eterno sentimento de incompletude. Muito mais do que em outras prutes do mundo, nossa identidade foi sempre tun "problema" (grifo nosso) crônico, fazendo com que oscilássemos entre extremos nossos sentimentos nacionalistas. Até a década de 1930, tudo o que achamos ser genuinamente nacionais, não eram considerados ícones da identidade nacional. O futebol era um estrangeirismo que muitos intelectuais reprovavam. Nas colônias de imigrantes, pouca gente falava português - algumas cidades sequer tinham um nome familiar, como a catarinense Dreizehnlinden, hoje Treze Tílias. Os brasileiros não se reconheciam como um povo alegre e cordial -e o mundo também não associava essa característica ao Brasil. A falta de identidade era considerada um problema desde os tempos do Império e se agravou com a República. Quando os militares derrubaram a monarquia, em 1889, acabaram com uma das poucas coisas em comum entre os brasileiros o fato de serem súditos de Dom Pedro ll. O Brasil, sem coroa, tinha ficado sem casa. (NARLOCH, 2009, p. l31-l32)
Esse cenário só começou a mudar depois que o gaúcho Getúlio Vargas subiu ao poder após a Revolução de 1930. O interessante é perceber que mesmo Vargas sendo gaúcho, povo que tem, por si só, um pensamento separatista (visto o episódio da Revolução Fanoupilha, quando o Rio Grande do Sul tentou, sem sucesso, se separar do Império do Brasil), foi o primeiro a pensar em um Brasil unido. As ideias integralistas de Vargas pretendiam levar, de um ponto a outro, o país a um único caminho, um lugar onde todos pudéssemos ser, definitivamente, brasileiros. O carnaval, festa com origens nos cultos agrários em 10 mil a.C., foi uma das vertentes utilizadas pelo governo Vargas. Em 1934, quando a União das Escolas de Srunba (UES) foi criada e exigiu, pelo seu estatuto, a apresentação de temas nacionais, o Departamento de Imprenso e Propaganda (DIP), criado por Getúlio Vargas para controlar as produções culturais do país, percebeu o ''poder" (gtifo nosso) que a folia carnavalesca teria nessa árdua tru·efa de "ensinar" (grifo nosso) ao Brasil o valor da unidade nacional. Após a oficialização apoiada pelo então prefeito Pedro Ernesto, o samba carioca foi elevado ao patamar de símbolo nacional. Era uma forma de difundir o sentimento nacionalista
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e propagar o Brasil de uma forma simples. Com os sambas-enredos nacionalistas, nasceu uma nova forma de se dar visibilidade e confirmação aos valores nacionais para o povo e pelo povo. Ao cantar esses valores, exaltando os orgulhos nacionais, essa identidade foi sendo legitimada com o passar do tempo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Carnavais ele Guerra foram responsáveis por duas importantes conquistas: legitimar o carnaval como festa popular e inflar o sentimento nacionalista. Em composições como Carnaval e guerra (G.R.E.S. Portela, 1943), Brasil glorioso (G.R.E.S. Portela, 1945) e Nossa história (G.R.E.S. Estação Primeira de mangueira,
1945), a folia carnavalesca setviu como "remédio" (gli.fo nosso) de um pais dividido entre a entrada ou não no conflito. Com o fim da guerra, o nacionalismo já havia se incrustraclo no carnaval carioca. Das maravilhas naturais ao Brasil que o Brasil não conhece, a festa de Morno passou de diversão perseguida à porta-voz da pedagogia nacionalista dos meios dominantes. Com o advento das transmissões na TV, o ideal proposto saiu de um círculo limitado e ganhou os quatro cantos do país. Mesmo quando a democracia deu lugar à ditadura militar, em 1964, isso não mudou. Os militares acabaram por "impot1ar" (glifo nosso) a ideia do nacionalismo de Vargas. Era preciso unir o país em torno de uma nova forma política. Com a criação do Plano Nacional de Cultura (PNC) no governo Geisel (1974- 1979), a cultura entrou diretamente nos planos do Estado, e o carnaval era uma boa alternativa nesse projeto. ,
E dessa época algumas obras-primas do cancioneiro carnavalesco. Aquarela brasileira (G.R.E.S. Império Serrano, 1964), Brasil das 200 milhas (G.R.E.S. Unidos de Lucas,
1972), Riquezas áureas de nossa bandeira (G.R.E.S. Tupy de Brás de Pina, 1976), entre tantas outras, mostram como levar o passado glorioso, as maravilhas naturais ou o milagre econômico foi importante no fortalecimento de uma propaganda ufanista e de um sentimento nacionalista no, enfim, país do carnaval. Com o tempo o Brasil já não era mais o ''gigante" (glifo nosso) dos áureos tempos. As "comportas" (giifo nosso) do protesto foram abertas pela Tupy de Brás de Pina em 1961 , quando a Escola do subúrbio cmioca levou o "Brasil denotado" (SIMAS e MUSSA, 2010, p.62) no samba-enredo Seca do nordeste. A censura obrigou que, em seu começo, a crítica fosse velada, visto a necessidade de autorização. Com o fim do período ditatorial, o brasileiro pôde cantar com todos as letras o que lhe afligia diariamente. A censma pode até ter tentado "apagar" (grifo nosso) as tentativas de dar voz aos dissidentes, mas como ressalta Mara Natércia Nogueira:
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[ ] calar o samba é apagar a histótia real, a "outra" histótia, de paixões e lutas, de conquistas e perdas, de derrotas e vitórias do povo brasileiro. Calar o samba, por outro lado, pode obstruir o processo de abertura por meio do qual o nosso país pode relacionar-se com outros e oferecer o que ele tem de melhor: sua arte, sua cultura, seu senso estético, sua ctiatividade, "expressão que não tem par" . (NOGUEIRA, 2006, p.l3)
Críticas ao sistema econôrnico, ao modelo político e à situação do Brasil explodiram nos últimos anos da década de 1980. O samba-enredo que anteriormente serviu de propaganda politica e nacional , passou a porta-voz de um povo inconformado com os rumos do país. Essa mudança não significou o fim do samba nacionalista. A propaganda nacional continuou, em menor parte, a ter seu espaço na festa máxima do carnaval carioca. ' guisa de conclusão e retomando o pensamento inicial, após a análise teórica dos A
autores e crítica dos 110 sambas-enredos, percebemos que o carnaval carioca foi sim utilizado como ferramenta da pedagogia nacionalista. Essa propaganda nacional criada a partir dos Carnavais de Guen·a, foi crescendo, em tamanho e em importância, com o decorrer dos anos até seu ápice nas décadas de 1960 e 1970, durante os anos da ditadura militar. A apreciação nos mostra também, que com o tempo, esse nacionalismo exacerbado foi se transf01mando em crítica da vida diária, um protesto contra os rumos políticos do Brasil. Com este trabalho, podemos perceber a importância de uma festa popular na afirmação de um país e, consequentemente, na criação de mecanismos de coesão da identidade nacional. Posteriormente é possível se analisar, nos mesmos critérios utilizados nessa pesquisa, os sambas-enredos da era plástica, como ficou conhecida a fase carnavalesca pós-1990. Como um organismo vivo, esse desdobramento é de vital importância, pois além de se sustentar individualmente por sua metodologia, servirá para uma comparação entre os usos do carnaval e suas diferentes eras, proporcionando um maior entendimento sobre o assunto. Nascido do caos da reforma urbanística, a maior festa popular do Brasil serviu de ferramenta política e porta-voz das minorias. Em sua trajetória, o carnaval carioca saiu ela ilegalidade dos becos lamacentos da antiga capital federal para o estrelato internacional da larga avenida construída exclusivamente para o samba, elevando os festejos populares a um novo e impensado patamar: a apoteose triunfal.
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HISTÓRIA das escolas de samba- volume 4: o maior mesmo era o Noel. Rio de Janeiro: Som Livre, 1975. 1 disco sonoro (22min). /
HISTORIA das escolas de samba - volume 5: os homens se vestiam de mulher e as mulheres de homem. Rio de Janeiro: Som Livre, 1975. l disco sonoro (17min). /
HISTORIA das escolas de samba- volume 6: Portela, sete anos de glória. Rio de Janeiro: Som Livre, 1975. 1 disco sonoro (19min). /
HISTORIA das escolas de samba- volume 7: surgem os Acadêmicos do Salgueiro. Rio de Janeiro: Som Livre, 1975. 1 disco sonoro (19min). /
HISTORIA das escolas de samba - volume 8: as campeãs dos últimos 10 anos. Rio de Janeiro: SomLivre, 1975.1 discosonoro(2 1min). /
HISTORIA do Brasil através dos sambas-de-enredo: o negro no Brasil. Rio de Janeiro: Som Livre, 1976. 1 disco sonoro (38min).
JAMELÃO. Escolas de samba. Rio de Janeiro: Continental, 1957. l disco sonoro (32min).
72
- Epopeia do petróleo. ln: Jamelão. Desfile de campeãs. Rio de Janeiro: JAMELAO. Continental, I961. I disco sonoro (34min). Lado A, faixa 5 (Omin5 Is). JAMELÃO. Casa-grande e senzala. ln: Jamelão. A voz do samba - volume 1. Rio de Janeiro: WarnerMusic, 1997.1 CD (41min).Faixa2(2min02s).
MANO DÉCIO DA VIOLA. O legendário Mano Décio da Viola. Rio de Janeiro: Polydor, 1976. 1 disco sonoro (44min).
MANO DÉCIO DA VIOLA E VELHA GUARD A DO IMPÉRIO SERRANO. Pot-pourri: Antônio Castro Alves I Exaltaçcio a Tiraden.tes I Batalha Naval do Riachuelo I 61 an.os de república I Exaltação a Caxias I Caçador de esmeraldas I Medalhas e brasões I Alô alô, Taí, Carmen Miranda. ln: Mano Décio da Viola e Velha Guarda do Império Senano. Man.o Décio apresenta a Velha Guarda do Império. Rio de Janeiro: CBS, 1980. 1 disco sonoro (31min). Lado B, faixa 1 (15rnin40s).
MESTRE MARÇAL. Sambas-enredo de todos os tempos. Rio de Janeiro: Velas, 1993. 1 disco sonoro (47min).
MINHA Portela querida- Sambas de terreiro I 1972. Rio de Janeiro: Odeon, 1972. I disco sonoro (32rnin).
MONARCO. Rugendas, viagem pitoresca através do Brasil. ln: 75 anos de samba: Zé Keti. Rio de Janeiro: Kuarup, 1996. 1 CD (51min). Faixa 8 (4min02s).
PASTORAS DA PORTELA. A vitoriosa escola de samba da Portela. Rio de Janeiro: Sinter, 1957. l disco sonoro (38min).
PORTELA de novo- Portela carnaval 71. Rio de Janeiro: Top Tape, 1971. I disco sonoro (32min).
SAMBAS-de -en.rêdo das escolas de samba do Tape, 1969. 1 disco sonoro (38min).
r grupo -
carn.aval1970. Rio de Janeiro: Top
SAMBAS-de -en.rêdo das escolas de samba do 2° grupo - camaval1970. Rio de Janeiro: Top Tape, 1969. 1 disco sonoro (39min).
SAMBAS enrêdo das escolas de samba do grupo 1- carnaval 1971. Rio de Janeiro: Top Tape, 1970. I disco sonoro (40rnin).
73
SAMBAS-de-enrêdo das escolas de samba do grupo 1- carnaval 1972. Rio de Janeiro: Top Tape, 1971. 1 disco sonoro (36min).
SAMBAS-de -enrêdo das escolas de samba do grupo 2 - carnava/1972. Rio de Janeiro: Top Tape, 197 L. I disco sonoro (33min).
SAMBAS-de-enrêdo das escolas de samba do grupo 1- carnava/1973. Rio de Janeiro: Top Tape, 1972. 1 disco sonoro (34min).
SAMBAS-de-enrêdo das escolas de samba do grupo 2- carnava/1973. Rio de Janeiro: Top Tape, 1972. 1 disco sonoro (36min).
SAMBAS-de -em·êdo das escolas de samba do grupo 1 - camava/1974. Rio de Janeiro: Top Tape, 1973. I disco sonoro (33min).
SAMBAS-de-enredo das escolas de samba do grupo 1- carnaval1975. Rio de Janeiro: Top Tape, 1974. 1 disco sonoro (42min).
SAMBAS-de-enredo das escolas de samba do grupo 2- carnava/1975. Rio de Janeiro: Top Tape, 1974. 1 disco sonoro (42min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 1 - carn.ava/1976. Rio de Janeiro: Top Tape, 1975. 1 disco sonoro (45min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 1- carnava/ 1977. Rio de Janeiro: Top Tape, 1976. 1 disco sonoro (42min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 1- carnaval 78. Rio de Janeiro: Top Tape, 1977. 1 disco sonoro (39min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 2 - carnaval 1978. Rio de Janeiro: Top Tape, 1977. 1 disco sonoro (37min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 1- carnaval 79. Rio de Janeiro: Top Tape, 1978. 1 disco sonoro (60min).
SA MBAS de enredo das escolas de samba do grupo lA - carnaval80. Rio de Janeiro: Top Tape, 1979. 1 disco sonoro (39min).
74
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo I B- carnaval80. Rio de Janeiro: Top Tape, 1979. 1 disco sonoro (4lmin).
SAMBAS-de -enredo das escolas de samba do grupo 1A - carnaval 81. Rio de Janeiro: Top Tape, 1980. I disco sonoro (37min).
SAMBAS-de-enredo das escolas de samba do grupo 2A- carnaval 8I. Rio de Janeiro: Top Tape, 1980. 1 disco sonoro (41min).
SAMBAS-de-enredo das escolas de samba do grupo lA- carnaval82. Rio de Janeiro: Top Tape, 1981. 1 disco sonoro (43min).
SAMBAS-de -enredo das escolas de samba do grupo 1B - carnaval 82. Rio de Janeiro: Top Tape, 1981. I disco sonoro (44min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA- carnava/83. Rio de Janeiro: Top Tape, 1982. 1 disco sonoro (40min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo I B- carnaval83. Rio de Janeiro: Top Tape, 1982. 1 disco sonoro (48min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA - camaval84. Rio de Janeiro: Top Tape, 1983. 1 disco sonoro (39min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo I B- carnaval 84. Rio de Janeiro: Top Tape, 1983. 1 disco sonoro (39min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo lA- carnaval 85. Rio de Janeiro: Top Tape, 1984. 1 disco sonoro (40min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo 1B - carnaval 85. Rio de Janeiro: Som Livre, 1984. 1 disco sonoro (42min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA- carnava/86. Rio de Janeiro: Top Tape, 1985. 1 disco sonoro (40min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo lA- carnaval86. Rio de Janeiro: RCA, 1985. 1 disco sonoro (41min).
75
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo I B- carnaval86. Rio de Janeiro: Top Tape, 1985. 1 disco sonoro (39min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA - carnaval87. Rio de Janeiro: Top Tape, 1986. I disco sonoro (50min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA- carnava/87. Rio de Janeiro: RCA, 1986. 1 disco sonoro (40min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA- carnaval88. Rio de Janeiro: RCA, 1987. 2 discos sonoros (68min) .
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo I B - carnaval 88. Rio de Janeiro: RCA, 1987. 2 discos sonoros (66min).
SAMBAS de enredo das escolas de samba do grupo IA- carnava/89. Rio de Janeiro: RCA, 1988. 2 discos sonoros (74min).
SYNV AL SILVA. Brasil, explosão do progresso. ln: Sylval Silva. Synval Silva- Série Documento. Rio de Janeiro: RCA, 1973. 1 disco sonoro (30min). Lado B, faixa 6 (2min01s).
VELHA GUARDA DA PORTELA. Homenagem a Paulo da Portela. Rio de Janeiro: Nikita Music, 1989. 1 disco sonoro (33min). Lançado apenas no mercado japonês.
VELHA GUARDA DO SALGUEIRO. Aí vem o samba: Acadêmicos do Salgueiro. Rio de Janeiro: Musidisc, 1960. 1 disco sonoro (34min).
•
Sites
Academia do samba. http://www.academiadosamba.com.br. Acesso em: 03 abr. 2012.
Apoteose. com. http://www.apoteose.com. Acesso em: 22 jun. 2012. Dicionário Cravo Albin. da música popular brasileira- Escolas de Samba -As campeãs através dos anos. http://www.dicionariompb.com.br/escolas-de-samba---as-campeas-atravesdos-anos. Acesso em: 10 jun. 2012.
Estação Primeira. http://www.estacaoprimeira.org. Acesso em: lO mar. 2012.
76
Extra Online- Desfiles já passaram por vários palcos e se preparam para o novo Sambódromo. http://extra.globo.com/noticias/carnaval/80-anos-de-desfile/desfiles-japassaram-por-varios-palcos-se-preparam-para-novo-sambodromo-3718637 .html. Acesso em:
25 maio 2012.
Extra Online- Prefeitos com samba no pé: 80 anos separam Pedro Ernesto e Eduardo Paes.
http://extra.globo.com/noticias/carnavaV80-anos-de-desfile/prefeitos-com-samba-no-pe-80anos-separam-pedro-ernesto-eduardo-paes-3921604.html. Acesso em: 25 maio 2012.
Galeria do samba. http://www.galeriadosamba.com.br/V41/. Acesso em: 15 set. 2012.
Mundo Estranho- O que foi a "Revolução de 64 "?.
http:l/mundoestranho.abril.com.br/materia!o-que-foi-a-revolucao-de-64. Acesso em: 22 out. 2012.
NETVASCO- São Januário já sediou o desfile das escolas de samba.
http://www.netvasco.com.br/news/noticias15/62478.shtml. Acesso em: 21 out. 2012.
O batuque. http://www.obatuque.com. Acesso em: 03 mar. 2012.
PortelaWeb. http://www.portelaweb.com. Acesso em: 08 mar. 2012.
Receita de samba. http://www.receitadesamba.com.br. Acesso em: 30 ago. 20 12.
Sambaderaiz. http://www.sambaderaiz.net. Acesso em: 01 mar. 2012.
Samba de Terça - Heróis da Liberdade.
http://sambadeterca.galeriadosamba.com.br/BL.asp?kljjrl3119. Acesso em: 23 out. 2012. SAMBAR/O. http://www.sambariocarnaval.com. Acesso em: 10 set. 2012.
UOL- Breve história do regime militar. http://educacao.uol.com.br/historia-brasiJ/historia-
regime-militar.jhtm. Acesso em: 22 out. 2012.
UOL - Primeiro desfile das escolas de samba do Rio completa 80 anos. http ://camaval. uol.com. br/20 12/noti cias/redacao/20 12/02/07/primeiro-desfile-das-escolas-de-
samba-do-rio-completa-80-anos-data-sera-lembrada-com-shows-e-festa.htrn. Acesso em: 03 out. 2012.
77
h
APENDICE A- Tabela de divisão entre as categorias dos sambas-enredos estudados
Cruze Escolas e anos e confira a cor corresponde à categoria recebida no trabalho na legenda localizada abaixo da tabela. Caso a célula esteja em branco, significa que o samba apresentado nesse ano pela Escola não foi estudado. A tabela encontra-se na próxima página.
Exemplo:
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Em 1946 a Prazer da Serrinha apresentou um samba-enredo de cor verde, que corresponde à categoria Brasil ufanista.
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LEGENDA:
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Cartolinhas de Caxias G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis G.R.E.S. União da Ilha do Governador G. R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro G.R.E.S. União de Jncarcpaguá G. R.E.S. Tupy de B1'ás de Pina G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense S.E.R.E.S. Unidos do Cabuçu _G.R.E.S. Mocidade lndependent~ de Padre Migu~ G.R.E.S.- Unidos de Lucas G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cn1z G.R.E.S. União do Centenário G.R.E.S. Unidos de São Carlos G.R. E.S. Caprichosos de Pilares G.R.E.S.E. Impéri o da Tijuca G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel . G.R.E.S. Em Cima da Hora G.R.E.S. An'llstão de Cascadura G.R.E.S. Unidos da Ponte G. R.E.S. Império do Marangá G.R.E.S. Acadêmicos do Engenho da Rainha G.R.E.S. Un idos de Bangu G.R.E.S. São Clemente G.R.E.S. Independentes de Cordovil I G.R.E.S. Unidos da Tijuca -
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ANEXO A - Matéria do Jornal do Brasil sobre a oficialização do carnaval em 1932
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1 ~"'' · otrfcla.l íâo CAron\'a!. la.· IrVê-111! nurm que 3 Pre~-:ltur.. .p· é cnoaz l.le· r~alllar, C:•)m brhllo
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A transcrição da matéria encontra-se na próxima página.
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"A OFFJCJALISAÇÃO DO CARNAVAL O Sr. Interventor Federal na Prefeitura deve, neste momento, estar convencido de que a sua iniciativa officializan.do o Carnaval cmioca foi absolutamente feliz. Quem se detivesse a observar os ultimas carnavaes, certificar-se-ia, com tristeza, que elle estava em plena decadência. O proprio en.thusiasmo do povo cm·ioca começava a empalidecer rapidamente, dean.te do desinteresse quase geral.
Com a officialisação da festa de Morno, entra-se numa phase magnífica de alto interesse. O carnaval é de novo a nota empolgante do an.no, apaixonando toda a população. E os festejos assumem proporções de brilho e animação raramente attingidos nestes ultimas cincoenta annos.
Numa época de grave crise, como a que, infelizmente atravessamos, tal, tanto o tamanho en.thusiasmo serve para mostrar como o Sr. Interventor andou acertadamente, dando amparo official ao Cm·naval. Vê-se assim que a Prefeitura é capaz de realizar, com brilho insuperável, uma grande festa. Resta agora que saiba tirm· partido desse Carnaval, que está decorrendo este anno, ver inteiramente magnífico, e que no dizer dos entendidos, é o mais helio, o mais curioso e arrebatador do mundo inteiro. Um pouco de propaganda delle a veremos nos armos próximos por occasião das festas carnavalescas, os grandes transatlânticos apartarem ao Rio, superlotados de turistas avidos de admirar a festa maxima da cidade." [sic]
A OFFJCJAL/SAÇÃO do carnaval. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 07 de fevereiro de 1932, p.5. http://bit.ly/JB 1932. Acesso em: 27 ago. 2012.
81
ANEXO B- Letras dos sambas-enredo analisados no terceiro capítulo
1943
11
Oh! Pátria amada, terra [adorada, terra de luz
11
Conferência de São Francisco (Paz universal)
Prazer da Serrinha Carnavcd e guerra
Nessas mal traçadas rimas Quero homenagear Este meu torrão natal És rico, és belo, és forte E por isso és varonil Oh! Pátria amada, terra adorada, viva o Brasil
G.R.E.S. Portela (Nilson e Alvaiade)
Brasil terra da liberdade ' . Brasil, não usou de fa ls1dade Meu irmão foi pra guerra Defender esta grande terra Meu Brasil precisando eu vou Ser mais um defensor
1944
(José Ramos e Geraldo da Pedra)
A voz do Brasi I Nos chamou varonil Incontinente eu parti Pra defender o meu Brasil E foi com grande prazer Que eu ergui meu fuzil Sem tremer E eu farei tudo até morrer Pra ver meu Brasil vencer Hoje vejo içar a bandeira o símbolo, acabou-se a guerra Senti falta dos meus [companheiros Em campos de luta tombaram [por terra Em defesa da pátria de um [povo varoniI . Lutei pela vitória do meu Brasil
11
G.R.E.S. Portela (Zé Barriga Dura e Nilton Batalinha)
Somos todos brasileiros E por ti queremos segu ~r o clarim já tocou: reumr! Adeus minha querida que já [vou partir Em defesa do nosso país Verde, amarelo, branco e azul Cor de anil é o meu Brasil Oh! Meu torrão abençoado Por teus filhos adorados Seguiremos para fronteira Para defender a vida inteira Nossa querida bandeira
11
Brasil glorioso
G.R.E.S. Portela (Ventura)
Oh! Meu Brasil glorioso És belo, és forte, um colosso És rico pela natureza Eu nunca vi tanta beleza Foi denominado terra de Santa [Cruz
Nosso Brasil sempre teve [interferências ~ . Nas grandes conferencias J?a paz uni versai . . E 0 gigante da Aménca ~atma Uruguai e Paragum, Bohv1a, [Chile e Argentina
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
Motivos patrióticos
1945
Restabeleceu a paz universal Depois da guerra mundial A união entre as Américas do [Sul, Norte e Central Nunca existiu outra igual Na vida internacional
Nossa história
Vou pra linha de frente travar (um duelo Em defesa do pendão verde e [amarelo Embora tenha que ser a [sentinela perdida . . Honrarei minha pátna quenda
11
(Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola)
1946
11
Alvorada do novo mundo
G.R.E.S. Portela (Ventura)
I
1947 Honra ao mérito
G.R.E.S. Portela (Aivaiadc c Ventura)
I
Salve Alberto Santos Dumont Denominado Pai da Aviação Suas glórias imortais . Salve 0 filho de Minas Germs Nesse país glorioso Tudo encanta, tudo seduz Alberto Santos Dumont Com sua invenção primeira Asas, asas brasileiras
Brasil. ciêucias e artes
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Cartola e Carlos Cachaça)
11
O carnaval da vitória É 0 que a Portela revela Liberdade, progresso, justiça Que realiza o valor de um povo [herói Jamais poderei esquecer Essa data sagrada Que 0 mundo inteiro sempre [lembrará Esse carnaval, cheio de [encantos mi I Lá lá lá lá lá canta, canta meu Brasil
Tu és meu Brasil em toda parte Quer nas ciências ou na arte Portentoso e altaneiro os homens que escreveram tua [história . Conquistaram tuas glónas Epopeias triunfais E quero neste pobre enredo [revivê-los Glorificando os nomes teus Levá-los ao panteão Dos o<rrandes imortais . . Pois merecem mUlto ma1s
11
82
Na história da pátria amada Oswaldo Cruz Miguel Couto Ruy Barbosa Ana Neri A corajosa enfermeira [abnegada Estes vultos se destacaram Como herança entregaram Os seus esforços naturais Hoje na glorificação Os seus nomes hão de ser Para sempre imortais
Não querendo levá-los ao cume [da altura Cientista tu tens e tem cultura E nestes rudes poemas Destes pobres vates Há sábios como Pedro Américo [e César Lanes
1948 Brasil. tesouro in vejado (Vale do São Francisco)
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
Ruy Barbosa foi um mago [apologista Miguel Couto, especialista Ana Neri, símbolo da [paciência Oswaldo Cruz, mestre na [biologia Mostrou a sua galhardia Apóstolo da ciência
(Cartola e Curtos Cuchaça}
Não há neste mundo um [cenário Tão rico e tão vário E com tanto esplendor Nos montes Onde jorram as fontes Que quadro sublime De um santo pintor Pergunta o poeta esquecido "Quem fez esta tela de riqueza
I
1950 Batalha Naval do Riaclmelo
G.R.E.S. Império Serrano (Silas de Oli veira. Mano Décio da Viola e Penteado)
Hoje rendemos homenagem Aos defensores do Brasil [Imperial Pelo seu exemplo de coragem Na Batalha Naval Salve a Mari nha de Guerra Seu passado glórias mil encerra Tamandaré, Almirante Barroso Marcílio Dias, marinheiro Igarboso Salve esses heróis Filhos varonis Lutaram e tombaram Em defesa do nosso Brasil
Esses vultos reunidos Recebem do Brasil querido As glórias que fazem jus
RiqueZPS do Brasil
Miguel Couto Ruy Barbosa Ana Neri Oswaldo Cruz
Temos ouro e prata em Lquantidade Temos madeira de qualidade Vem ver com seus próprios [olhos A torre do nosso petróleo Vem ver, quem ainda não viu As riquezas do nosso Brasil Não são só estas As riquezas do Brasil São diversas Temos plantações, riquíssimas Lmeus irmãos Que são tesouros da nossa [nação Se você ainda não viu As riquezas do nosso Brasil Podem vir ver
G.R.E.S. Portela (Manacéa)
[mil?"
Responde soberbo o campestre Foi Deus, foi o mestre Quem fez meu Brasil Meu Brasil, o meu Brasil E se vires poeta, o vale O vale do rio Em noite invernosa Em noite de estio Como um chão de prata Riquezas estranhas Espraiando beleza Por entre montanhas Que ficam e que passam Em terras tão boas Pernambuco. Sergipe Majestosa Alagoas E a Bahia lendária Das mil catedrais Terra do ouro Berço de Tiradentes Que é Minas Gerais
Despertar do gigtmte
G.R.E.S. Portela (Manacéa)
Pedro Álv:u·es Cabral Descobriu o Brasil Foi casual Navegava em alto: mar Seu destino era a India Cabral não pode continuar Teve que se afastar Da calmaria do mar Foi assim que Cabral descobriu Um gigante adormecido Que hoje se chama Brasil Brasil... Brasil. ..
I
1951 6 1 anos de República
1949 Apologia aos mestres
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Nelson Sargento e Alfredo Português)
Glória aos nossos antepassados Com os seus nomes gravados
I
Pero Vaz de Caminha escreveu Uma carta a Dom Manuel Explicava que esta terra Que o Nosso Senhor nos deu Dava tudo que plantavam Relatava as riquezas Feitas pela natureza
G.R.E.S. Império Serrano (Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola)
Apresentamos A parte mais importante da [nossa história Se não nos falha a memória Foi aonde seus vultos notáveis Deixaram suas rubricas
I
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Através de 61 anos de [República Depois da sua vitória [proclamada A constituinte votada Foi a mesma promulgada Apesar do existente forte zum[zum-zum Em 1891, sem causa perca Era eleito Deodoro da Fonseca Cujo governo foi bem audaz Entregou a Floriano Peixoto E este a Prudente de Morais Que apesar de tudo Terminou com a Guerra de [Canudos Estabelecendo enfim a paz Terminando enfim todos os [males Em seguida veio Campos Sales Rodrigues Alves, Afonso Pena, [Nilo Peçanha Hermes da Fonseca e outros [mais Hoje a justiça Numa glória opulenta A 3 ele outubro de 1950 Nos trouxe aquele Que sempre socorreu a Pátria Em horas amargas O eminente estadista Getúlio Vargas Eleito pela soberania do povo Sua vitória imponente e (altaneira Marcará por certo um capítulo [novo Na história da República [brasileira
A volta do filho pródigo
G.R.E.S. Portela (Josias c Chatim)
"Trabalhadores do Brasil" Ele falou A lei trabalhista ele deixou Aquele que em 30 triunfou E se fez credor Desse povo justiceiro Foi Getúlio Dornelles Vargas Esse grande brasileiro O bom filho à casa torna Ao Catete ele voltou Relembrando os seus feitos Volta Redonda deixou Força Aérea Brasilei.ra Que corta esse céu de ani I Para orgulho e glória
Desse adorável Brasil
Pelo povo quando foi [desfraldada
Unidade nacional
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G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
Cartolinhas de Caxias
(Cícero e Pelado)
(Hélio Cabral)
Glória à unidade nacional Portentosa e altaneira Genuína, brasileira e [primordial Vinte e um estados reunidos Todos no mesmo sentido Dando a sua produção É fator de nossa economia Dar uma prova cabal Da nossa democracia A nossa polftica é altiva Irmanada e progressiva Produtiva e social Pela grandeza da pátria [coordenamos Todos com o mesmo ideal É o fator de equidade Trabalhando com vontade Para o progresso nacional Tudo isso é o meu bras il Isso é um orgulho De um povo forte, esbelto e (varonil
Acordem Benfeitores do universo Que vou render tributo aos meus heróis E nesta apoteose à grandeza Eu peço a presença de todos [vós Antônio Francisco Lisboa O maior vulto da arte colonial Pedro Américo, emérito pintor João Caetano, o nosso maior [ator Salve José do Patrocínio O denodado baluarte nacional Exaltemos Carlos Gomes Orgulho da nossa terra No cenário musical
1953 As seis datas magnas
G.R.E.S. Portela (Aitair Prego e Candeia)
Foi Tiradentes, o inconfidente Que foi condenado à morte Trinta anos depois o Brasil (tornou-se independente Era o ideal se formar um país [livre e f01te "Independência ou morte" O. Pedro l proferiu Mais uma nação livre era o [Brasil Foi em 1865 que a história nos (traz Riachuelo e Tuiuti foram duas [grandes vitórias reais Foram os marechais Deodoro e Floriano e outros vuhos mais Que proclamaram a República E quatro di as após Foram criados os símbolos da [pátria amada Nossa bandeira foi aclamada
Benfe itores do universo
Ruy Barbosa, símbolo da [inteligência Oswaldo Cruz, mártir da [ciência Santos Dumont, o pai da (aviação E Castro AJ ves, poeta da [abolição
I
I
1954 11
O caçador de esmeraldas
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (Osório Lima)
Apresentamos neste carnaval Urna história importante Na qual mencionamos Fernão Dias Paes Este grande bandeirante Que cuja vida dedicou em prol De esmeraldas no sertão E após tornar feito seu grande [ideal Tombou junto ao rio das (Velhas, o imortal Pela riqueza da nossa nação Foi quem durante sete anos Explorou alguns sertões Seus feitos rutilantes Retletem radiantes Dentro em nossos corações
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Bartolomeu Bueno da Silva Borba Gato, Antônio Arzão Os heróis aventureiros Que no Brasil inteiro Deixaram fama, glória e [tradição
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1955
Sua desejada paixão Glórias ao sertanejo Que em plena mata do bravio [sertão Deu a própria vida Ao progresso de nossa nação
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Exaltação a Caxias
G.R.E.S. Império Serrano
G.R.E.S. Portela
(Silas de Oliveira e Mano Déc io da Viola)
(Candeia e Waldir 59)
Brasil tu és uma dádiva divina Cacau, cana-de-açúcar e [algodão Borracha, mate e café Produtos desta imensa nação Tens os campos tão férteis em [matérias-primas E as lltas riquezas invejam o [mundo Jazidas tais e tamanhas Em teu solo tão fecundo Há em tuas entranhas ouro e [manganês E outros minerais És forte, belo e varonil Brasill Brasill Brasil!
A 25 de agosto de l 803 Data em que nasceu Caxias Soldado de opulenta galhardia Este bravo guerreiro Hoje patrono do Exército [brasileiro Com elevado espírito de [estadista Pacificou do Norte a Sul Os revolucionistas Seu gesto nobre de civismo E' um modelo magnífico de [patriotismo A sua casta primazia Está na maneira Pela qual se conduzia Homosamente sentimo-nos [orgulhosos Em apresentar Que este vulto encerra Na paz ou na guerra O ideal do Brasil militar
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1956 Caçador de esmeraldas
G.R.E.S. Império Serrano (Silas de Oliveira c Mano Décio da Viola)
Paes Leme, o desbravador Cuja famosa expedição chefiou Sua história é página de valor Foi o século XVU que nos [presenteou Nas jornadas fulgurantes dos [bandeirantes Herói se revelou Mas o sonho das ricas [esmeraldas Não realizou Não importa que as pedras [verdes Tivessem sido um sonho vão E a Serra da Prata
Riquezas do Brasil (Tesouros do Brasil ou Gigante pela própria natureza)
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Tuas gloriosas Forças Armadas Com desvelo zelam pelo teu [tesouro Em tua história consagrada Escreveram páginas de ouro Guias defensores do amanhã Futuros doutorandos do Brasil Estejam sempre alertas Tragam na lembrança o conselho do poeta "Criança, não verás país [nenhum como este: Imita na grandeza A ten·a em que nasceste." O grande presidente
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Padcirinho)
No ano de 1883 No dia 19 de abril Nascia Getúlio DorneiJes [Vargas Que mais tarde seria o governo [do nosso Brasil Ele foi eleito a deputado Para defender as causas do [nosso país
E na revolução de 30 ele aqui (chegava Como substituto de (Washington Luiz E do ano de 1930 pra cá Foi ele o presidente mais [popular Sempre em contato com o povo Construindo um Brasil novo Trabalhando sem cessar Como prova em Volta [Redonda, a cidade do aço Existe a grande Siderúrgica [Nacional Que tem o seu nome elevado [no grande espaço Na sua evolução industrial Candeias, a cidade petroleira Trabalha para o progresso [fabril Orgulho da indústria brasileira Na história do petróleo do (Brasil Salve o estadista, idealista e [realizador Getú I io Vargas O grande presidente de valor
Brasil, fonte das artes
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro (Djalma Sabiá. Caxiné e Nilo Moreira) ' Es Brasil Fonte das artes Cheio de riquezas mil Que em nossos selvagens Já se faziam notar Depois veio a civilização As academias dando nova [formação À filosofia rudimentar Hoje temos obras de talento Que vêm de longínquas eras Temos artes antigas e [modernas
Brasil! Brasil! Brasil! Fonte das musas ' Es tu, Brasl.l. O sonho, a glória e a vida Tesouro das artes reunidas Exaltamos nossos mestres [brasileiros Que até por outros mestres [estrangeiros Foram invejados
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Com apoteoses laureados Tiveram exaltado seu valor Imitados no produto do seu (labor
Ou da reprodução Oh! Meu brasil Seu progresso avança Sem oscilação
G.R.E.S. União da Ilha do Governador (Didi c Aurinho) Ontem era um sonho Hoje é real O Brasil será mais forte Com o ouro negro nacional Olhai Oh! Brasileiros Para o chão E vejam o tesouro De nossa nação
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G.R.E.S. Portela (Simeão e Jorge Porqueiro)
Monteiro Lobato e Arthur [Bernardes São na verdade Os dias da glória do nosso [Brasil Contra a ingratidão O tempo que é mãe da verdade Consegue provar que eles tinham razão
Emancipação nacional (Rumo ao progresso)
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Zagaia e l.eléo) Canto a canção Da emancipação da minha [nação Vencendo no terreno (educacional Marcha o meu país Para a soberania universal Oh! Que alegria incontida Em ver seus imensos trigais Suas planícies estremecidas Pelo gado que avança Ao caminho do abate
1958
I
Tudo sucedeu Quando veio a conspiração A morte preferia a atentar [contra a conjuração Mais tarde enlouquecia Pelas ruas vivia a vagar Heliodora A quem vimos hoje a exaltar ~
Vultos e efemérides do Brasil
Nós devemos Unidos erguer nossa voz Em nome dos grandes heróis Dessa epopeia varonil Salve o petróleo Que assegura um futuro melhor [pra a o Brasil
1957
Exaltamos a figura Virtuosa de Bárbara Heliodora Cuja cultura De um infinito cabedal Sua beleza e opulência Não havia outra igual
A Cachoeira do lguaçu No futuro será o ponto vital Da eletricidade nacional Altaneiro é o nosso transporte Que cortam rios e mares Estradas e o céu cor de anil Levando a toda parte O nome e os produtos do brasil O meu Brasil
Epopeia do petróleo
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Que exalta a raça brasileira
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Em vinte e dois de abri I de mi I (e quinhentos Nosso gigante vi cair Por diante com amor edificou Essa grande pátria varonil E Portugal ao mundo revelou Brasil, ô meu Brasil Tiradentes, o mártir [inconfidente O pioneiro do Brasil [independente Da Inconfidência Mineira Pela página brasileira Do exemplo de amor á (liberdade José Bonifácio mentor de [inteligência Influenciou Pedro I A dar o grito da independência A Princesa Isabel foi o anjo da [Abolição Deodoro, Rui Barbosa e [Quintino Bocaiúva Os baluartes da Proclamação
Exaltação à Bárbara. Heliodoro
G.R.E.S. Império Serrano (Ramon Russo, Mano Décio da Viola e Nilo Oliveira) No século XVTU Em Vila Rica Foi nos áureos tempos da [Coroa Que o notável vulto Da mulher mineira Personificou-se na varoa
Um século e meio de progresso a sen,iço do Brasil
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro (Djalma Sabiá. Carivaldo da Mota [Pindongal e Grnciano Campos [Gmcia]) Já vens exaltando em teu seio Há um século e meio O auriverde pendão do Brasil Ajudaste a Nação a crescer E dela hás de ser Sentinela varonil Por ela nunca fracassaste Oamais E ternos um exemplo em cada [dia Em teu garbo e valentia
Corpo de Fuzileiros Navais Tua força pioneira Da Marinha Brasileira E por isto neste aniversário Te felicitamos Homenagem aos teus bravos (prestamos Na tomada de Sebastopol E por ato de bravura sem escol No coração do Brasil repousa O nome imortal do Sargento Cosme de Souza
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~
1959
~
~
196o
Brasil, pantheon de glórias
Medalhas e brasões
G.R.E.S. Portela
G.R.E.S. Império Serrano
(Candeia. Waldir 59. Casquinha. Bubu c Picolino)
(Si las de Oliveira e Mano Décio da Viola)
Brasil, pantheon de glórias Salve os heróis da nossa [hlstória Há muitos anos atrás Felipe Camarão e outros vultos [mais Expulsaram os invasores Do território nacional Salve Caxias, imortal guerreiro Patrono do brioso Exército [Brasileiro Santos Dumont Pioneiro da aviação Ruy Barbosa Imortalizou a nação Com sua rara inteligência Naquela nobre conferência Salve a FEB, imponente e viril Nós saudamos as glórias do [Brasil
Esta brilhante página Da nossa história militar É um lindo cenário de [i lustrações Aonde desfilaram medalhas e [brasões Que glorificaram Seus filhos varonis São fatos da nossa história Que deram glórias ao nosso [país A coragem de Caxias O Exército glorificou A bravura de Marcílio Dias A Marinha consagrou Num predomínio de fé Exaltamos Barroso E o bravo Tamandaré
Brasil holandês
G.R.E.S. Império Serrano (Mano Décio da Viola. Abílio Martins c Chocolate)
Pernambuco teve a glória na história Divulgada v Do Brasil colonial Do governo altaneiro Para o povo bras iIe iro De João Maurício de Nassau O progresso foi marcado E por ele foi deixado Na expansão comercial Como governador Conseguiu incrementar A produção nacional João Maurício de Nassau Que desenvolveu no Brasil A indústria açucareira E o transporte de nossa madeira João Maurício de Nassau Culto e sereno, jovial Deu assistência social Ao grande Brasil colonial
Ao finalizar essa história Narramos as batalhas [meritórias Curuzu, Riachuelo e Paissandu Tiveram muita expressividade [em suas vitórias Sua Majestade Nosso querido Imperador Orgulhosamente Nossos heróis condecorou
Brasil, gigante que desperta
G.R.E.S. União de Jacarepaguá (Zé Linha e Chocolate)
Brasil, Brasil, Brasil. .. Já não és um gigante [adormecido Nesse sentido, o governo tem [contribuído Serás, futuramente, o orgulho [do uni verso É assombroso e esfuziante o [teu progresso Jamais dirão que esta nação Vive só de café, cacau e [algodão Breve, Brasília será centro [irradiador Firmaste, detinitivamente, no [mercado exterior De estarmos orgulhosos, creio, [é natural
I
Já é forte e gigante o teu parque
[industrial E a marinha acompanhando o [progresso Adquiriu um porta-aviões [possante Deu-lhe o nome de Minas [Gerais Que reforçará as costas de ti, [gigante
1
1961
Seca do Nordeste
G .R.E.S. Tupy de Brás de Pina (Gilberto de Andrade e Waldir de Oliveira)
Sol escaldante, terra poeirenta Dias e dias, meses e meses sem [chover E o pobre lavrador Com a ferramenta rude Dá forte no solo duro Em cada pancada parece gemer
Ôôôôôôôô Geme a terra de dor Ôôôô Não adianta meu lamento, meu [Senhor Ôôôôôôôô E a chuva não vem O chão continua seco e [poeirento No auge do desespero Uns se revoltam contra Deus Outros rezam com fervor " Nosso gado está sedento, meu [Senhor Nos livrai desta desgraça" O céu escurece As nuvens parecem Grandes rolos de fumaça Chove no coração do Brasil E o lavrador Retira o seu chapéu E olhando o firmamento Suas lágrimas se unem Com as dádivas do céu O gado muge de alegria Parece entoar urna linda [melodia
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Há de existir no Museu de [Munique Documentado em pintura As cenas tristes e alegres Das fazendas do Brasil Nos tempos idos da escravatura
Riquezas e maravilhas do Brasil
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (Raymundo dos San1os Martins)
Brasil É impossível calcular as tuas [riquezas Teu clima é sem igual A tua agricultura a todos [causam espanto e exaltação Borracha, cacau, café, cana-de(açúcar e algodão Em teu subsolo Preciosos metais tens em [grande quantidades Ouro em abundância, [manganês e carvão Petróleo que jorra por todos os [recantos Vitalizando o teu coração
Retratou vários tipos raciais As paisagens tradicionais Do nosso Brasil de outrora Catalogou os seus trabalhos e [embevecido Publicou-os, tornando [conhecido Um pouco do Brasil por este [mundo afora João Maurício Rugendas Para nós é uma glória Cantar e revi ver o seu passado Sua obra grandiosa e a sua [história
Tens imensas reservas [tlorestais As tuas quedas de água São mesmo colossais É tua a maior tlor do universo A linda Vitória-Régia Que é um grande sucesso E os heroicos garimpeiros Que retiraram do fundo dos [rios as preciosidades E a tua imponente arquitetura Que hoje o mundo inteiro Rende grandes homenagens Oh! Gigante Brasil
Casa-grande e senzala
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Jorge Zag:aia. Lcléo c Comprido)
Pretos. escravos e senhores Pelo mesmo ideal irmanados A desbravar Os vastos rincões não [conquistados Procurando evoluir Para unidos conseguir A sua emancipação Trabalhando nos canavi ais Mineração e cafezais
Gigante Brasil Gigante Brasil Laiá la la laiá Oh! Meu Brasil
1962 11
Rugell(/as, viagem pitoresca através do Brasil
G.R.E.S. Portela (Zé Kcli. Bmnlinhn. Carlos Elias c
Marques Balbino)
Achou tão maravilhoso os [costumes e a nossa natureza Que transportou para a tela Toda a imensa beleza Deixou tantas aquarelas Retratos a óleo, paisagens (diversas e composições A arte de desenhar Cresceu em suas mãos
Antes do amanhecer Já estavam de pé Nos engenhos de açúcar Ou peneirando café
Que ajudou a construir A riqueza do nosso Brasil
Dia do fico
G.R.E.S. Beija-Flor de Nílópolís (Cabana)
"Como é para o bem de todos [e felicidade geral da nação Diga ao povo que fico" Isso aconteceu No dia nove ele janeiro ele mil [oitocentos e vinte e dois Data que o brasileiro jamais I, esqueceu Data bonita e palavras bem lditas Que todo o povo aplaudiu Preconizando D. Pedro r O grande defensor perpétuo do [Brasil Foi uma data ele glória Exuberante em nossa história Esta marcante vitória desse [povo varonil Também exaltamos agora Homens que lutaram pelo Fico [no Brasil José Clemente Pereira e José 1Bonifácio Que entregaram no palácio a (petição Rogando a D. Pedro r Que permanecesse em nossa [nação
I
1963 As tr€s capiutis
11
Nos campos e nas fazendas Lutaram com galhardia Consolidando a sua soberania E esses bravos Com ternura e amor Esqueciam as lutas da vida Em festas de raro esplendor Nos salões elegantes Dançavam sinhás. donas e (senhores E nas senzalas os escravos Dançavam batucando seus [tambores Louvor A este povo varonil
G.R.E.S. Imperatriz Leopolclinense (M:mrrtio da Penha Aparecida e Silva)
Brasil Meu Brasil retumbante Um passado brilhante [resplandece em teus anais Tomé de Souza foi o fundador Da cidade de São Salvador A primeira das três capitais 214 anos então se passaram E pouco favoreceram Ao sistema econômico nacional Sabiamente Dom José I
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88
Ordenou ao Marquês de [Pombal Que transferisse Para o Rio de Janeiro a capital
Do leste por todo o centro[oeste Tudo é belo e têm Lindo matiz O Rio dos sambas e batucadas De malandros e mulatas De requebros febris Brasil, essas nossas verdes [matas Cachoeiras e cascatas De colorido sutil E este lindo céu azul de anil Emolduram em aquarela o meu [Brasil
Continuando o ciclo do vice[reinado O nobre Conde da Cunha foi [nomeado Verdadeira epopeia de fatos a [hlstória registrou Até que o presidente Juscelino [Kubitschek inaugurou Brasília no planalto de Goiás Suprema capital das capitais Monumento sublime da [arquitetura uni versa] Colossal
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1964 Aquarela brasileira
G.R.E.S. Império Serrano (Silas de Oliveira)
Vejam esta maravilha de [cenário É um episódio relicário Que o artista num sonho genial Escolheu para este carnaval E o asfalto como passarela Será a tela Do Brasil em forma de [aquarela Passeando pelas cercanias do [Amazonas Conheci vastos seringais No Pará, a Ilha de Marajó E a velha cabana do Timbó Caminhando ainda um pouco [mais Deparei com lindos coqueirais Estava no Ceará, terra de [Irapuã De Iracema e Tupã Fiquei radiante de alegria Quando cheguei na Bahia Bahia de Castro Alves e do [acarajé Das noites de magia e do [candomblé Depois de atravessar as matas [do Ipu Assisti em Pernambuco ' festa do frevo e do maracatu A Brasília tem o seu destaque Na arte, na beleza e arquitetura Feitiço de garoa pela serra São Paulo engrandece a nossa [terra
Brasil de norte a sul
S.E.R.E.S. Unidos do Cabuçu (lba Nunes e Jorival de Moraes)
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Brasil Oh! Meu Brasil Celeiro divinal De norte a sul e suntuoso Tens um relicário sem igual E um florestal primoroso Simbolizando a tradição Que tanta beleza encerra Jangadeiros e vaqueiros O terror daquelas terras Maracatu, maracatu Em Pernambuco é ritual E o frevo tradicional Bahia, de Maria Quitéria [gloriosa Símbolo da mulher corajosa Bahia, da capoeira e do [candomblé E da linda Praça da Sé Onde se sente o sabor Do vatapá e o acarajé Planalto da engalanada capital Campo de ação do progresso da [nação São Paulo, com seus parques [industriais Dos antepassados bandeirantes Rio, dos grandes carnavais Festa de um povo magistral Minas Gerais, das rancheiras Do ouro e pedras preciosas Rio Grande do Sul Da uva saborosa Do churrasco e chimarrita E ágil cavalheiro Eis aí a aquarela Invejada pelo mundo inteiro Oh! Meu Brasil
I
1966
Memórias de um sargemo de milícias
G.R.E.S. Portela (Paulinho da Viola)
Era no tempo do rei Quando aqui chegou Um modesto casal, feliz pelo [recente amor Leonardo, tornando-se [meirinho Deu a Maria Hortaliça um novo [lar Um pouco de conforto e de [carinho Dessa união nasceu um lindo [varão Que recebeu o mesmo nome de [seu pai Personagem central da história [que contamos neste carnaval Mas um dia Maria Fez a Leonardo uma ingratidão Mostrando que não era uma [boa companheira Provocou a separação Foi assim que o padrinho [passou A ser do menino tutor A quem deu-lhe toda dedicação Sofrendo uma grande desi lusão Outra figura importante de sua [vida Foi a comadre parteira popular Diziam que benzia de [quebranto A beata mais famosa do lugar Havia nesse tempo aqui no Rio Tipos que devemos mencionar Chico Juca era mestre em [valentia E por todos se fazia respeitar O reverendo, amante da cigana, [preso pelo Yidigal O justiceiro, homem de grande [autoridade Que à frente dos seus [granadeiros Era temido pelo povo da cidade Luizinha Primeiro amor que Leonardo [conheceu E que dona Maria A outro como esposa concedeu Somente foi feliz Quando José Manuel morreu
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Nosso herói novamente se [apaixonou Quando sua viola a mulata [Vidinha Esta singela modinha cantou: Se os meus suspiros pudessem Aos teus ouvidos chegar Verias que uma paixão tem [poder de assassinar
Exaltaçcio a Vil/a-Lobos
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Jurandir e Cláudio)
Relembrando As sublimes melodias Que o poeta escrev1a. . . Em lindas canções d!VInms Surgiram os acordes musicais De sonoras sinfonias Na beleza de poemas imortais Todo Lirismo que a arte gTavou Com poesia e esplendor Resplandecia como um sonho em fantasia o samba vibrou Com as glórias Que Villa-Lobos alcançou E as plateias o mundo inteiro deslumbrou Da natureza verdejante Ao som da brisa murmurante Nasceram com angelical fulgor As trovas que o poeta inspirou Da alma sonora e vibrante Da terra febril o grito das [danças Nascida da selva de nosso [Brasil Fasdnio colorido Em sua alma cantou E nas noites de festas Em lindas serestas pintou Sentiu ritmar se peito Com grande emoção A história lendária Do nosso sertão Brilham como os astros no céu Ao descortinar o véu numinando as passarelas (universais . . As mais lindas notas mus1ca1s
I
1967
I
o 1111mdo euccmtado de Monteiro Lobato
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira . .
(Hélio Turco. Darei. Jurandu·. Bat1st" c Luiz}
Quando uma luz divinal Iluminava a imaginação De um escritor genial Tudo era maravilha Tudo era sedução Quanta alegria E fascinação Relembro Aquele mundo encantado Fantasiado de dourado Oh! Doce ilusão Sublime relicário de criança Que ainda guardo como [herança No meu coração Glória a este grande sonhador Que o mundo inteiro (deslumbrou Com suas obras imortais Vejam quanta riqueza [exuberante Na escritura emocionante Com seus contos triunfais Os seus personagens (fascinantes Nas histórias tão vibrantes Da literatura infantil Enriquecem o cenário do Brasil E assim Neste cenário de real valor Eis o mundo encantado Que Monteiro Lobato criou
Seio Ptulio. chapadcio de glórias
G.R.E.S. Império Serrano (Silas de Oliveira c Joacir Santana)
Madrugada triste de garoa Na serra a brisa entoa No momento o pensamento voa Minha voz embarga, mas não [me calo Com lápis e pincel Risquei neste painel _ A singela homenagem a Sao [Pauto
São Paulo! Cantamos em seu louvor Povo ordeiro e triunfante Num afago delirante Te exaltamos com fervor Sendo descendentes de [Ramalho Se dedicam ao trabalho Com verdadeiro amor Num ideal triunfante os denodados bandeirantes Deixaram exemplos de [bravuras incessantes Gravaram lindas páginas na [história do Brasil Tu és poderoso gigante Terra dos desbravadores E dos grandes bandeirantes Oh! Povo dos povos Onde se deu a alegria de um rei Que não aceitou a ~oroa . Deixando a regêncaa na hnda (terra da garoa É quando a riqueza se engalana Na história ficou o cacho de [banana Outro fato de memorável [relevância Foi a consagrada altivez de um [patriota viril Do rio Jpiranga às margens [plácidas Num gesto sublime, num [impulso forte , . Deu 0 grito de Independencta [ou Morte A sua lavoura verdejante Floresta exuberante É um orgulho desta imensa (nação . Café, 0 seu maior mensage1ro Seus lavradores são os [principais pioneiros . _ Da nossa futura emanc1paçao Foi no seio desta terra, de raro (esplendor, Que nasceu o genial [compositor Iluminado por sua inspiração Fez vibrar as plateias do Scala (de Milão É fabuloso o desenvolvimento [industrial Elevar o pafs é o teu fator [comercial A tua engenharia enobrece a [nova era Demonstrando sua obra-prima o suntuoso Ibirapuera
90
I
1968 Pernambuco. ú:ão do Norte
G.R.E.S. Império Serrano (Si las de Oliveiro}
Esta admirável página Que o passado deixou Enaltece a nossa raça Disse um famoso escritor Que Maurfcio de Nassau Na verdade foi um invasor Muito genial Glória a Vida I de Negreiros E aos seus companheiros Que na luta contra os 1holandeses Em defesa ao Leão do Norte Arriscaram suas vidas Preferiram a morte Na trégua dos Guararapes Teatro triste da insurreição Houve estiagem, coragem, [abnegação Pernambuco hoje É orgulho da federação Evocando os Palmares Terra do Bamboriki Ainda ouço pelos ares O retumbante grito do Zumbi
Tronco do /pê
G.R.E.S. Portela (Cabana)
Apresentamos neste carnaval Esta história exuberante Cheia de trechos sensacionais E episódios eletrizantes Escrita por José de Alencar Grande vulto de valor [excepcional Orgulho da literatura nacional Tronco do lpê É o ponto culminante desta [história Onde o pai Benedito fazia [feitiçaria Reunia os escravos no local E lá fazia um batuque infernal Muito importante e também de [emoção Foi quando Alice caiu no [boqueirão Mário num esforço Lsobrenatural Consumou a sua salvação
I
Outro fato bem marcante Foi a carta-testamento do [Barão E a passagem mais bela Foi o casamento de Mário e [Alice na capela
Ele pedia O fim da tirania
Oh! Que maravilha! Na casa-grande Todos dançando a quadrilha
I
1969 Treze naus
G.R.E.S. Portela (Ari do Cavaco e Rubens)
Apesar de muitos séculos [passados Jamais o povo esquecerá Essas gloriosas páginas Que hoje tornamos a exaltar Saindo de Portugal Trazendo sob o seu comando [treze naus ' Com destino às lndias Seguia Pedro Álvares Cabral Mas ao se afastar das calmarias Novas terras descobria Criava assim um mundo novo E glorificava um grande povo Esse feito colossal Fez do nobre de Belmonte, [imortal O seu sangue de aventureiro Seu amor de marinheiro Ao seu Rei e a Portugal Sua bravura e coragem Cruzando os mares de [estranhas regiões Fizeram dele herói E orgulho de duas nações Ao finalizar esta epopeia [deslumbrante Com imenso orgulho exaltamos O nome desse nobre navegante
Heróis da liberdade
G.R.E.S. Império Serrano (Mano Décio da Viola. Manoel Ferreiro e Silas de Otiveiro)
Passava a noite, vinha dia O sangue do negro corria Dia a dia De lamento em lamento De agonia em agonia
I
Lá em Vila Rica Junto ao Largo da Bica Local da opressão A fiel maçonaria Com sabedoria Deu sua decisão Com flores e alegria veio a !abolição A Independência laureando o !seu brasão Ao longe, soldados e tambores Alunos e professores Acompanhados de clarins Cantavam assim: "Já raiou a liberdade A liberdade já raiou" Esta brisa Que a juventude afaga Esta chama Que o ódio não apaga pelo (universo É a evolução. em sua legítima [razão Samba Oh! Samba Tem a sua primazia De gozar de felicidade Samba Meu samba Presta esta homenagem Aos Heróis da liberdade Ôôôôôô Liberdade senhor
Vida e g/6ria de Francisco Adolfo de Vamilagen
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (Ciaudino Cosia)
São Paulo Terra dos bandeirantes Torrão natal De um artista tão brilhante Francisco Adolfo de [Varnhagem Ilustre personagem Este vulto imortal Exaltamos neste carnaval Glória Ao eminente historiador Assim cantamos
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Em seu louvor Apresentamos Nesta passarela Esta história tão bela De Visconde de Porto Seguro Este gênio do passado Foi honrado e agraciado Com justas distinções Por outras grandes nações Obras Li terárias Deste notável escritor São lidas até hoje Mostrando seu real valor
E na cadência febril das [moendas Batuque que vem das fazendas Eis a lição Dos garimpeiros aos canaviais Somos todos sempre iguais Nesta miscigenação Oh! Meu Brasil Flor amorosa de três raças ' Es tão sublime quando passas Na mais perfeita integração
Rapsódia folclórica
Existe no Largo da Glória O busto deste grande brasileiro Embelezando ainda mais O cenário do Rio de Janeiro
Brasil, flo r amorosa de três raças
G.R. E.S. Imperatriz Leopoldinense (Mathias de Freitas e Carlinhos Sideral)
Vejam de um poema [deslumbrante Germinam fatos marcantes Deste m;u·avilhoso Brasil Que a lusa prece descobria Botão em flor crescendo um [dia Nesta mistura tão sutil E assim, na corte os nossos [ancestrais Trescalam doces madrigais De um verde-ninho na l101·esta Ouçam na voz de um pássaro [cantor Um canto índio de amor Em bodas perfumando a festa Venham ver O sol doirar de novo esta flor Sonora tradição de um povo Samba de raro esplendor Vejam o luxo que tem a mulata Pisando brilhante, ouro e prata, [a domingar Ouçam o trio guerreiro das [matas Ecoando nas cascatas a desafiar Oh I Meu Brasil Berço de uma nova era Onde o pescador espera Proteção de Iemanjá, rainha do [mar
G.R.E.S. Unidos de Lucas (Herlito Fonseca [Toliro]. Nélson Pechincha e Z:1variz [Ruço))
Abrem-se as cortinas coloridas Mostrando os matizes da vida Num cenário espetacular Lendas, flores, lindas fantasias Contos que o poeta vem cantar Do céu, da terra e do mar Do sol, das noites de luar Esclarecendo em alto som Que a Iiberdade é o lado bom Em cortejo de grande alegria O vaqueiro anuncia a dança do [Boi-Bumbá O meu boi morreu, o meu Boi[Bumbá Manda buscar outro, ma ninha, [lá no Ceará Olê lê lê olê lê olá lá Maracatu é festa em Pernambuco e Ceará As valentes Amazonas e a [Rainha Canhori Guerreira de braço forte, que [lutou até a morte Na seita dos Canaraí No Rio Grande do Sul O lendário negrinho do [Pastoreio Foi surrado e arrastado e Uogado dentro de um [formigueiro E o Príncipe Obá, homem de [grande projeção Que lutou bravamente na [guerra Foi herói do seu batalhão E as Pastorinhas com seus [belos madri gais Entoavam Lindos cantos Que hoje não se ouve mais
Na Bahia tem, tem, tem Na Bahia tem Oh! Baiana ' . Agua de Vmtém
I
1970 Um cllntico à natureza
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Nei, AOton e Di lmo)
Brilhou no céu o sol Oh! Que beleza Vem contemplar a natureza Vem abrasar a imensidão, [imensidão Onde na pesca ou na plantação Pedras preciosas ou mineração Rios, cachoeiras e cascatas Frutos, pássaros e matas Enobrecem a nação Oh! Lugar. .. Oh' Lugar... Tudo que se plantar dá Terra igual a esta não há Imenso torrão de natureza [incomum Onde envaidece qualquer um Praias e flores Inspiram amores E o petróleo te deu mais vida Solo de vultos imortais Direi teu nome e não [esquecerão jamais Oh! Pátria querida De natureza tão sutil Tens belezas mil Isto é Brasil, isto é Brasil, isto é [Brasil
Bravura. amor e beleza na mulher brasileira
G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz (Rubens Fausto e Paulo Fernandes Lima)
Brasil ' Es um gigante encantado Representado por teu pavilhão Brasil Hoje exaltamos teu passado Simbolizando as glórias em [nossos anais Ao despontar desta história
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Com bravura, amor e glória Da mulher que o mundo criou
Dia a dia O peh·óleo jorra na Bahia Cuja beleza é o manancial E também dá o fabuloso cacau Como é maravilhoso ver No Rio Grande do Sul O gado a correr E o garimpo no Amazonas No longínquo rincão Muito enriquece e enobrece Nossa nação
Exuberância de Clara Camarão Que em Pernambuco Cumpriu sua missão Brasil Simbolismo de riqueza Desde a época colonial Com o heroísmo da mulher Houve transformação em geral Ao desbravar tua nobreza Com angústia e tristeza Nos campos, irmanadas para (lutar Anita Garibaldi, Bárbara [Heliodora Gênios imortais de nossa [história Ana Neri, a famosa enfermeira Que orgulhou todo torrão [brasileiro Independência e abolição Foram os fatos mais [importantes desta nação Quando os negros envaidecidos (de alegria Comemoravam a libertação Brasil simbolismo de riqueza Da beleza uni versai Do samba altaneiro E do patriotismo nacional
Brasil, berço de riquezas
G.R.E.S. União do Centenário (Jair Lobo. Otávio Lobo e Geraldo Santa Rita)
Tu és país de solo tão [fertilizante Brasil, a natureza te fez um [gigante Do Rio Grande do Sul Ao estado do Amazonas Suas riquezas, grandezas nos [traz e mais São minerais, são vegetais Seja na terra ou no mar Oh! Sublime natureza Fizestes do nosso Brasil um [país Verdadeiro berço de riqueza Em Minas Gerais, o ouro Um dos seus grandes tesouros Em São Paulo o café O algodão no Paraná Patrimônio singular
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1971 Nordeste: seu povo. seu canto e sua glória
G.R.E.S. Império Serrano (Heitor Achilcs. Mancco c Wilson Diabo)
Nordeste O canto de tua gente No Império está presente Para se comunicar No Fandango irradias alegrias Lendas, rezas, fantasias Tudo isto faz lembrar Dona Santa desfilou desde [menina O Pierrot e a Colombina São eternos foliões Pastorinhas, cirandeiras na [cidade Sai o Bloco da Saudade Entram em cena os cordões Eia, eia, eia, boiada Eia, eia, o vaqueiro canta assim Plantador colhe e semeia Suplicando pra chover Arrastão feliz na areia As rendeiras a tecer Olê olá olê olê Quando a lua se ai teia Cantador canta vitória Viola afinada ponteia O canto de um povo em glória No Nordeste
Os rnodemos bandeirantes
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Darcy da Mangueira. Hélio Turco e Jurandir)
Boa noite meu Brasil Saudações aos visitantes Trago neste enredo
Fatos bem marcantes Os modernos bandeirantes Do Oiapoque ao Chuí Até o sertão distante O progresso foi se alastrando Neste país gigante No céu azul de anil Orgulho do Brasil Nossos pássaros de aço Deixam o povo feliz Ninguém segura mais este país
I
Busquei na minha imaginação A mais sublime inspiração ara [exaltar Aqueles que deram asas ao [Brasil Para no espaço ingressar Ligando corações O Correio Aéreo Nacional Atravessando fronteiras Cruzando todo o continente E caminhando vai o meu Brasil Para frente Santos Dumont Hoje o mundo reconhece Que você também merece A glorificação
Brasil turístico
G.R.E.S. Unidos de São Carlos (Darei do Nascimento. Olivieli Oliveira e Jurandir)
Brilha sob este céu azul O que me faz sentir Orgulho e sedução Exaltando os bravos [bandeirantes Seus lindos campos floridos Suas florestas verdejantes As Cataratas do Iguaçu Gruta de Maquiné Terra do Batuquejê de Aruanda E do famoso candomblé Do frevo e maracat.u Salve Iracema Oh! Lugar Beleza suprema, poema Boi-Bumbá Turismo tem Em todos os recantos Tem no norte, tem no leste Tem no centro-oeste e sul Quem parte leva saudade de [alguém Do clima tropical
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Quem fica pelas cidades Desse país majestade Vai ficar lembrando o carnaval Vaquejadas e o mestre [Aleijadinho São riquezas que enobrecem Novos caminhos Pelos lindos cantos e recantos E' que eu canto: Venham ver o meu Brasil tri[campeão Pelos lindos cantos e recantos E' que eu canto: Venham ver o meu Brasil!
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1972
Oh! País de progresso [onipresente De notá veis recursos naturais É seu profundo mar azul Fértil em peixes, petróleo e [minerais Belezas tem de Norte a Sul Lindas praias ornando o seu [litoral Oh! Pescador ... Oh! Pescador .. Solta o barco e abra a vela Como se fosses um pintor Estendendo a sua tela
Lererê rê rê Corno rema o Saci-Pererê Lererê rê rê Só remava o Saci-Pererê
Oh! Duzentas milhas sagradas E por muitos outros cobiçadas Tem no povo heroico a defesa (varonil Guardião avançado da [soberania Do nosso Brasil Brasil
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Martim Cererê
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (Zé Catimba e Gibi) Vem cá, Brasil Deixa eu ler a sua mão, menino Que grande destino Reservaram pra você
Quando Jaci surgiu Enfeitiçando o rio-mar lara me levou Sob o clarão do luar Na lagoa dourada de beleza [sem par As flores conversavam Tudo era encantado Naquele lugar Foi assim que encontrei O reino encantado que procurei
Brasil. a flor que desabrocha
Fala Martim Cererê Lálálá lá lauê
G.R.E.S. Caprichosos de Pilares (Aimir N. Bastos (Pisca])
Tudo era dia O índio deu a terra grande O negro trouxe a noite na cor O branco a galhardia E todos traziam amor Tinham encontro marcado Pra fazer uma nação E o Brasil cresceu tanto Que virou interjeição
Cultura, ciência e arquitetura E' o principio base de urna [nação Ordem, paz e progresso E o plano de expansão Brasil, flor que desabrocha No campo da civilização Olhando o futuro, vejo O despertar deste li ndo rincão
Lá lá lá lá lauê Fala Martim Cererê
Na Guanabara, Corcovado Cristo de braços abertos [esperando você Transamazônica, todos hão de [ver Duzentas milhas-mar Para as nossas riquezas [proteger
Gigante pra frente a evoluir Milhões de gigantes a construir
Brasil das 200 milhas
G.R.E.S. Unidos de Lucas (Pedro Paulo. Jorginho de Caxias. Capixaba e Joãozinho) Brasil, Brasil, Brasil Do nascente ao poente Existe um céu cor de anil E o sol resplandecente numinando esta lena de [encantos mi I A passarada gorjeia contente Saudando o gigante Brasil
Venham ver No Império minha gente Um navegante procurando [Upabuçu Ansiosamente No pavão misterioso Vi a sereia do mar Em Pindorama coisas lindas Até o Boitatá Oxóssi, rei da mata Fez Coaraci aparecer Numa jangada segui o Saci[Pererê
Educação para o desenvolvimento
G .R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (Walter de Oliveira e João Rosa) Veja que beleza de nação O Brasil descobre a educação Graças ao desenvolvimento E a reforma do ensino O futuro, o amanhã Está nas mãos destes meninos Vamos exaltar Vamos exaltar As professoras Que ensinam o bê-á-bá
Brasília, a capital A voz do povo diz Ni nguém segura mais este país
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1973 Viagem encamada Pindorama adentro
G.R.E.S. Império Serrano (Wilson Diabo, Malaquias e Carlinhos)
I
E relembramos os jesuítas Os primeiros colégios criaram Para dar aos brasileiros Cultura e educação Brasil terra extraordinária Venham ver a nossa Cidade Un.iversitária Uni-duni-tê Olha o A-B-C
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Graças ao MOBRAL Todos aprendem a ler
Da passarela conhecer A ideia do artista Imaginando o que vai [acontecer No Brasil do ano 2000 Quem viver verá Nossa terra diferente A ordem do progresso Empurra o Brasil pra frente Com a miscigenação de várias [raças Somos um país promissor O homem e a máquina [alcançarão Obras de emérito valor
Brasil, explosão de progresso
G.R.E.S.E. Império da Tijuca (Synval Silva e Jorge Melodia)
Brasil Gigante do universo Sua explosão de progresso [ecoou Oh! Meu Brasil Fazendo sucesso sua posição [conquistou Cantemos seu passado de [glória De lutas, amor e vitória A união das raças, a [miscigenação A luz se fez no sol desta nação
'
E estrada cortando A mata em pleno sertão . E' petróleo JOrrando Com afluência do chão
Brasil, terra de campeões De norte a sul, um celeiro sem [fim De Dom Pedro e seus brasões Sinto n'alma a ressonância de [um clarim E' permanente o seu sorriso Quer tranquilo trabalhar Sabe, porém, quando é preciso Suas armas empunhar
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1974 Brasil ano 2000
G.R.E.S. Beija-Flor de NiJópolis (Walter de Oliveira e João Rosa)
E' estrada cortando A mata em pleno sertão E' petróleo jorrando Com afluência do chão Sim, chegou a hora
A
Aruanã-açu
G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel (Paulinho da Vi la c Rodolpho)
Na festa que Rei Momo [anuncia Com suprema alegria, carnaval São Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original Com arte, grandes mestres e [escritores Perpetuaram amores imortais Fixando na posteridade Damas ela socieclade nacional
Noite de festa na praça da faldeia Dançam em pares índios [Carajás E lá no céu brilha a lua cheia iluminando os mananciais Raça morena que desbrava a [mata Canta a beleza do alto Xingu Adora lendas, rios e cascatas Pois isso é Aruanã-açu
Na suntuosidade elos salões Ou nos agrestes, sertões e [saraus Um clima de romance se fazia Quando uma delas surgia Com seu porte escultural E com seus requintes e [maneiras Projetando a mulher brasileira No cenário mundial Músicos, poetas e pintores Inspirados em seus amores As fizeram imortais
Tem seringueiro Tem pescador Índio guerreiro que também é [caçador
G.R.E.S. Unidos de São Carlos
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Oôô Vamos cantar Com as heroínas neste tema [singular Oôô Vamos sambar Com as heroínas que viemos [exaltar
(Djalma das Mercês e Mancca)
Heroínas do romance brasileiro
No pregão das riquezas No seu solo candente No tabuleiro do mundo Brasil pra frente! Lá na Virgem de Candeias Tem petróleo e tinha cana Tem o canto da sereia Capoeira e baiana
A
A grande estrada que passa [reinante Por entre rochas, colinas e [serras Leva o progresso ao irmão [distante Na mata virgem que adorna a [terra O uirapuru, o sabiá, a fonte As borboletas, perfumadas [flores A esperança de um novo [horizonte Traduzem festa, integração e [amores
Na arte, na ciência e cultura Nossa terra será forte, sem [igual Turismo O folclore altaneiro Na comunicação alcançaremos O marco da potência mundial
Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá Boa terra cacaueira Duzentas milhas pra pescar
São conhecidas pelo mundo [inteiro As heroínas do romance [brasiIe iro
I
1975
O g rande decênio
G.R.E.S. Beija-Flor ele Nilópolis (Bira e Quininho)
E' de novo Carnaval
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Para o samba este é o maior [prêmio E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia O grande decênio Do nosso Brasil que segue (avante Pelo céu, mar e terra Nas asas do progresso [constante Onde tanta riqueza se encerra Lembrando PISe PASEP E também o FUNRURAL Que ampara o homem do (campo Com segurança total O comércio e a indústria Fortalecem nosso capital Que no setor da economia Alcançou projeção mundial Lembraremos também O MOBRAL, sua função Que para tantos brasileiros Abriu as portas da educação
Festa do Círio de Nazaré
G.R.E.S. Unidos de São Carlos (Aderbat Moreim. Dario Marciano e Nilo Esmero Mendes)
No mês de outu bro Em Belém do Pará São dias de alegria e muita fé Começa com extensa romaria [matinal O Círio de Nazaré Que maravilha a procissão E como é linda a Santa em sua [berlinda E o romeiro a implorar Pedindo à Dona em oração Para lhe aj udar Oh! Virgem Santa Olhai por nós Olhai por nós Oh! Virgem Santa Pois precisamos de paz Em torno da matriz As barraquinhas com seus [pregoeiros Moças e senhoras do lugar Três vestidos fazem pra se [apresentar Tem o circo dos horrores Berro-Boi, roda gigante As crianças se di vertem
Em seu mundo fascinante E o vendeiro de iguarias a [pronunciar Comidas típicas do estado do [Pará Tem pato no tucupi Muçuã e tacacá Maniçoba e tucumã Açaí e aluá
Brasil. glória e imegração
G.R.E.S. Tupy de Brás de Pina (Caciça)
Brasil, Brasil Em teu imenso céu ressoam as [glórias Florão nascente de três raças Bravos gigantes da nossa [história Brancos, colonizadores Aventureiros. mercadores Na mais doce união Com negros e índios Consagrou-se a miscigenação Com o seringueiro Tirando a borracha de lá Da verde Amazônia Para o país triunfar Os jangadeiros jogando a rede [no mar Enfrentando os mares O Brasil não podia parar E desbravando as nossas matas Os batedores do sertão Iam a procura de tesouro Para extrair o ouro E riquezas naturais Oh! Que beleza O carro de boi cantador Trabalhando nos canaviais Numa foina de raro esplendor Hoje Quando o novo sol brilhar no [horizonte Num panorama fascinante Surge a integração nacional Vejam que o Brasil se enobrece Dando o valor que merece Ao trabalhador rural
I
1976
Por mares nunca dantes na1•egados
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (Gigi. Sereno e Guga)
Eu vi mundos Nunca vistos nem sonhados Andei mares Nunca dantes navegados A história traz Feitos singulares Do heroísmo e da fé De outros mares De outras terras Que iluminaram poemas E a nossa história encerra Ao sabor das ondas vêm as [naus A bmnca espuma cortando E chego afinal À ilha verde sem fim Onde num belo dia A saudade se fez bonança Ao chegar na terra da [esperança Fundaram cidades Cwzaram raças Tornaram sonho em realidade Tantos heróis Tanta grandeza A nossa historia Oh ! Que beleza Nasceste grande Oh! Meu pafs ' soberano de um povo feli z Es
Riquezas áureas de nossa bandeira
G.R. E.S. Tupy de Brás de Pina (Caciça)
Ordem e progresso Neste lema genial Alma vibrante Do pavilhão nacional O verde Que envolve teu vulto sagrado (retrata Nossos lindos campos, nossas [matas
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Espelhando as grandezas das [serrarias floridas Tanto fulgor Quanta beleza Reproduz a natureza Nossos verdes vales, praias [coloridas Que maravilha! No esplendor das terras [brasileiras No amarelo da nossa bandeira Revelando os tesouros de um [solo rico e fecundo Divino véu Manto estrelado com seus raios [cor de prata E' este céu que o azul destaca Perpetuando serenatas ' Es triunfal Deslumbras, encantas, és [colossal A paz, o branco exalta Tua legenda é divinal
Os sertões
G.R.E.S. Em Cima da Hora (Edeor de Paula)
Marcados pela própria natureza O Nordeste do meu Brasil Oh I Solitário sertão De sofrimento e solidão A terra e seca Mal se pode cultivar Morrem as plantas e foge o ar A vida é triste nesse lugar Sertanejo é forte Supera miséria sem fim Sertanejo homem forte Dizia o poeta assim Foi no século passado No interior da Bahia O homem revoltado com a [sorte Do mundo em que vivia Ocultou-se no sertão Espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia Os jagunços lutaram Até o final Defendendo Canudos Naquela guerra fatal
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1977
I
Indígenas e jesuítas Deram combate aos cruéis bandeirantes Sangue dos dois lados Corria a todo instante
Brasil, berço dos imigrantes
G.R.E.S. Império Serrano (Roberto Ribeiro e Jorge Lucas)
E' tempo de Carnaval Hoje as cores do Império Vem saudar a imigração Numa doirada ale~tria .... Neste dia de folia O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular Brasil, berço dos imigrantes Sua raça é mistura Sem cessar O povo com seu sorriso Vem pra avenida festejar Violas e pássaros Clarins de vento O Arlequim Entoando um canto lento Num céu de serpentina Um Pierrot a desfi lar O dominó gan hou confete E ao imigrante foi saudar Olha o passo da mulata Esplendor da Colombina Cantem samba minha gente Nesta festa que domina
Sete Povos das Missões
S.E.R.E.S. Unidos do Cabuçu (Waldir Prateado)
Vamos cantar Os jesuítas e os índios do [Brasil Que com heroísmo fundaram Os Sete Povos das Missões Em terras férteis Não tardaram a tlorescer Grandes cidades, riqueza [cultura Onde irmanados Trabalhavam pra vencer Cobiçado pelos bandeirantes Desbravadores de terras A procura do ouro Chegaram à Tupã-Avaé E pelo Natal Atacaram as Missões
De pouco a pouco As Missões começaram a cair Estava desfeito um sonho De uma nação Guarani Lá no céu
Continua brilhando O valente cacique Sepé Tiaraju Que fulgor tem as estrelas Da constelação do Cruzeiro do (Sul O Boi Barroso Ninguém consegue laçar Tata Manha, a Mãe do Ouro E a guarda fiel De Tumbaé Avá
I
1978 Brasiliana
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (Domenil, Loiola c Djalma Santos)
' terra chão, terra chão E, Nosso céu azul de anil
Vem da alma brasileira Radiante e hospitaleira Arqui teta do Brasil Foi Dona Santa, Rainha do [Maracatu E o famoso Vitalino, na Feira [de Caruaru Bumba meu boi Meu Boi-Bumbá Cadê meu boi? Mateus onde é que está No lendário São Francisco Vem carrancas navegar E tecem rendas com beleza Rendeiras do Ceará Que sedução A Festa do Divino Cristãos na cavalhada Pelejando como é lindo Na Bahia tem romaria Tem, tem sim Flores e água de pote na lavagem do Bonfim
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Louvor a São Benedito O barco tão bonito segue a [procissão E o nosso Rio é um desafio Com seu Carnaval atração O boto se transforma em [namorado Bailarino encantado e sedutor [irreal E o sacristão guarda o tesouro Na famosa Salamanca do Jarau
Convocando o povo Para entoar um poema de amor Brasil, Brasil Avante meu Brasil Vem participar do festival Que a Mocidade Independente Apresenta neste carnaval
Olha o Saci-Pererê Cobra grande e Caipora Deslumbrando todo mundo A Mocidade mostra agora
Pattiu de Portugal com destino ' (às Lndias Cabral comandando as [caravelas Ia fazer a transação Com o cravo e canela E de repente o mar [transformou-se em calmaria Mas deus Netuno apareceu Dando aquele toque de magia E uma nova terra Cabral [descobria
De peito aberto é que eu falo Ao mundo inteiro Eu me orgulho de ser brasileiro
Ta/aque-talaque, o romance da Maria-Fumaça
G.R.E.S. Arrastão de Cascadura (Pc~tana
e Jorginho do Pandeiro)
Plantando cidades Em cada rincão Maria Fumaça Conquista o sertão
Vera Cruz, Santa Cruz Aquele navegante descobriu E depois se transformou Nesse gigante que hoje se [chama Brasil
Através dos campos e vales De rios e lagos Deste imenso Brasil Qual um bandeirante Com raça, valente A pretinha seguiu
Uruçumirim, paraíso Tupinambá
G.R.E.S. Caprichosos de Pilares
Lá vai o trem Lá vai subindo a serra Deixando e levando saudades Pra quem vive nesta terra
(Ferreira. Carlinhos de Pilares e Delso)
Auê auê auá Caprichosos de Pilares No mundo Tupinambá ln.icialmente o criador Da perfeita natureza Fazendo as primeiras criaturas Que povoaram a terra brasileira Também o sol e a lua E sua beleza sem fim Derramando os seus raios de [luz Na aldeia de Uruçumirim
Abertos os caminhos A primeira Maria passou Com afeto e carinho De Baronesa o povo a chamou Outras Marias vieram Zezé Leone, beleza sem par A Romana, Faustina Quantas estórias pra contar
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1979 O descobrimento do Brasil
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (Toco c Djalma Cri11)
A musa do poeta E a lira do compositor Estão aqui de novo
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Boitatá, Saci-Pererê Faziam medo aos índios Ao anoitecer Veio a confederação Confederação dos Tamoios Quando Cunhambebe [sucumbiu Aimberê, Aimberê
A frente das batalhas assumiu Contra caraíba Obajara No Brasil Campos do céu São a glorificação Aos índios guerreiros Que defenderam a nação
I
1980 Coisas Nossas
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Carlos Roberto. Ney da Mangueira e Aylton da Mangueira)
Excitando a mente à poesia O poeta descobria Momentos de raro prazer E nesta linda melodia Coisas nossas, dia a dia A Mangueira vem trazer Juruna, fantasia e frevo Petrobras sondando o mar Coisas que ora descrevo E ainda há mais para narrar Frutas de todas as cores Num pomar de pureza Os mais diversos sabores Obra da mãe natureza E no campinho a gurizada Atrás de uma bola a rolar Mata no peito, dá lençol, faz [embaixada Se torce o pé Vai à rezadeira curar Rosto colado a noite inteira Baila-se na gafieira Se há bebida, há comida e (violão Tem sempre um pagode do [bom Quem vai mais? Quem vai mais? Pode parar que o galho é valete [e ás
Maravilhosa Marajó
G.R.E.S. Unidos da Ponte (David Corrêa.l..uiz Piteira e Mazinbo)
A brisa faz contar No cantar alegre do meu povo A origem dos marajoaras Poema para um mundo novo
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Quatro irmãos casados com [quatro irmãs Na Amazônia, entre a flora [tropical Tinham por deus o sol. irmão [da lua Eis a semente da cultura [artesanal
Que maravilha é A natureza Eterna alteza Sua mulher
Maravilhosa Marajó A arte modelou-se em poesia Que a Ponte traz num canto só
Brasil, ferra do amor
G.R.E.S. Império do Marangá (Letey. Nelson do Piá c Paulinho)
Vou abrir o meu peito Do melhor jeito como eu [sempre quis Pra brindar o amor que sinto (pelo meu país Vou beijar a natureza. como a [brisa faz Fauna e flora, que beleza Brasil, eu te amo demais lnaí, mãe índia Um filhinho deu Da mãe branca e da mãe preta O carinho é meu Oh! Pátria amada querida A minha vida toda eu dedico a [você Tenho no meu coração Muito mais que a razão Pra querer te querer
G.R.E.S. Império Serrano (Jorge Lucas c Edson Paiva)
Maravilhosa terra De legendas que o passado não [contou Hoje o Império Serrano Vem com Pero Vaz de [Cnminha O célebre eminente precursor
Canto Em qualquer canto. eu canto Pois meu amor é tanto Quando chega o carnaval Canto A folia me afaga Amor com amor se paga Neste país tropical
A pororoca O rio-mar Os assustou pra depois Lhes (encantar As ceramistas quebravam As cangas ao perderem a [virgindade Na era do plantio dançavam Em honra à deusa da fertilidade Do Orinoco chegaram os [ferozes Aruãs Pondo em sacrifício as [donzelas Para os búfalos negros Deuses da guerra ou do mal Pensando que em retribuição Teriam para sempre a sua [proteção
Na terra do Pau-Brasilnem tudo Caminha, viu ?
Em tempos idos Chegavam a uma vasta região Audazes descobridores Dando-se a integração Com os primitivos habitantes Deste imenso torrão
E' um tesouro O nosso mar Na grandeza deste solo Nasce tudo que plantar
I
1981 DeNonôaJK
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Jurandir. Comprido e Al"roz)
Em verde e rosa A Mangueira vem mostrar O fasc inante tema De Nonô àJK Juscelino Kubitschek de [Oliveira De uma lendária cidade [mineira O grande presidente popular Surgiu Nonô em Diamantina E uma chama divina Iluminou sua formação Subindo os degraus da glória Imortalizou-se na história Como chefe da nação Em sua marcha progressista O notável estadista O planalto desbravou Brasília, o sonho dourado Que ele tanto acalentou Juscelino descansa na fazenda E os acordes de um violão Levam ao povo a saudade Lembrados neste refrão Como pode um peixe vivo Viver fora d'água fria Como poderei viver Como poderei viver Sem a tua, sem a rua Sem a tua companhia
I
Canta gente Esta linda canção Exaltando o Brasil Em sua dimensão A beleza da mulata Enaltece a raça Com seu requebro febril Nossos rios, campos e florestas Emolduram a natureza O ouro e pedras preciosas São riquezas do solo deste [Brasil Que Pero Vaz de Caminha não [viu
O curioso mercado de Ver-oPeso
G.R.E.S. Acadêmicos do Engenho da Rainha (Áivnro Sobrinho, Vanit do Violão. Cnmmbola c Porrnnca)
Chegando palhas, botes e rveleiros Montarias, canoeiros Iguarias e coisas mais Com um vozerio alucinante Muita gente e fervi lhante De manhã desperta o cais "Vamos ver o peso verdadeiro" Dizia o nativo canoeiro Indo pra Repartição Fiscal Pra ver o peso no Bras iI [Colonial Guajará era ancoradouro E desde o tempo do colono e [do ouro O belo vale do igapó de nçaí
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Virou mercado junto a foz de [Pirí
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Um cardápio à brasileira
Hoje, o Engenho o enaltece E 11 Belém agradece As suas vendas capitais Levando pra pessoa rica e [pobre Do plebeu até o nobre E todas classes sociais Um mercado variado de [alimentos Frutas frescas, ornamentos Utensílios e animais
1982
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Brasil, verde e amarelo
G.R.E.S. Arrastão de Cascadura (Joacyr Inspiração. Amauri e Netinho)
Brasil Que lindo Emoldurar-te em poesia Num canto cheio de esperança Bordado em ouro E neste cenário de belezas mil Viajar aos quatro cantos Pra te decantar Brasil Lindos campos, verdes matas Quanta alegria nesta multidão Rios, cachoeiras e cascatas A passarada em forma de [canção Uê erê êê uê erá Neste solo fértil Jogue semente e deixe [germinar O livro da história nos revela Tantos feitos que orgulham [este torrão Na arte, na cultura e na ciência De tantos fi lhos deste chão Oh! Quantas riquezas Nas fontes desta imensidão Abençoado o povo E este gigante em expansão '
E canto, é dança E' bola no pé É, o povo na festa E a reza na fé
1983 G.R.E.S. Caprichosos de Pilares (Ratinho e Jorge Barbudo)
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Vamos passear pelo Brasil e [decantar A culinária desta terra tão sutil A começar pelo Pará Tem pato no tucupi e tacacá Mas jabá e farinha No Nordeste não pode faltar E aquela cachacinha Que nos é peculiar Arrepia, arrepia Vatapá com pimenta na Bahia Minas Gerais Feijão tropeiro é uma parada Meu Rio tem feijoada Angu à baiana e cerveja gelada São Paulo Tem viradinho no tempero E para o povo brasileiro O cafezinho é natural Que maravilha Comer peixe assado no Planalto Central Chegamos ao Sul O vaqueiro diz agora Meu amor, não vá embora Come barreado Que o churrasco não demora A Lili, a cozinheira Maldizendo a inflação Entoou ele brincadeira Na cozinha este refrão Ai meu Deus! Ai meu Deus! Matei a fome lá na feira Só de ver
Uma andorinha só nêio faz verêio
G.R.E.S. Unidos de Santa Cruz
I
Reúna o seu povo no pico da (serra Desenterre os tacapes e as [lanças de guerra Os invasores chegaram Como é linda A história da cultura nacional Onde um bravo navegante Fez seu porto principal Dos amores portugueses O caboclo aqui surgiu Enriquecendo o folclore do [Brasil Jangadeiros, boiadeiros Garimpeiros do sertão Arrancando deste solo As riquezas da nação Oh! Chico Rei Chica da Silva e Zumbi São vultos importantes das [senzalas Junto ao Quilombo dos [Palmares Bailam as mulatas tão faceiras Frutos de uma miscigenação Que a fidalguia acolheu Em seus luxuosos salões
Obrigado, Brasil
G.R.E.S. Unidos de Bangu (Arlindo Andrade. Dorado e Lucinho da Boina)
Bate sem parar feito um [pandeiro O coração brasileiro Pro mundo inteiro ouvir O samba é bem mais que a luz [no escuro . E' um gnto no futuro Com um verso assim Vem amor Espalhe alegria no meu coração Esqueça a tristeza, o dia a dia É carnaval, sou rei, sou folião
(Alexandre. Enoque. Helson e Netinho)
Falo da raça índia brasileira Pioneira deste imenso torrão Seu grito e seu choro ecoam no [ar Como pode uma andorinha só veranear Tupã Oh! Deus Tupã
No céu azul, o sol a iluminar de (norte a sul A praia, a fauna, a flora, o (futebol Ao bronze da mulata dá mais [vida Mais vida à riqueza natural Maravilhoso solo hospitaleiro [tropical Parte universal da imigração
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' Rumo às Indias e sonhando [com riquezas Caravelas portuguesas Os deuses, outros caminhos [destinaram Ecoou Terra à vista, um grito [emocionante Era o berço do Gigante Esbanjando esplendor
Oh! Musa inspiradora Eu agradeço ter nascido neste [berço E me inspirar nesse refrão Vou despertar o mundo Batucando meu pandeiro Obrigado, meu Brasil Canta povo brasileiro
' lndios, selvas, mitos E os negros com a força e [magia Fizeram pulsar com alegria o [coração De uma criança-nação
Senta que o leão é manso
G.R.E.S. Unidos de Lucas (Luis de Lima)
Tudo era maravilha Neste paraíso tropical Um dia acabou-se a ilusão Quando chegou o Leão Nas caravelas comandadas por [Cabral Criou-se as capitanias Era preciso navegar Terra forte, solo fértil Para se cultivar Mas o Leão deu jeito De cobrar seus direitos E assim se ai imentar Oh! Vasto empório das minas [douradas Um dia por mim falarás
Mas na ânsia de crescer Do berço férti I se afastou O seu olhar marejou o sofrer Em lágrimas que servem de [lições E o gigante é o nosso povo Reconstruindo um Brasil novo Cheio de vida, organizando [mutirões E tem fuzuê Alegrando o patropi No sambalelê Vamos cantar e sorrir
Era um lamento Em forma de poesia Contra a cruel covardia Do Leão lá nas Gerais
33- Destino D. Pedro li
G.R.E.S. Em Cima da Hora (Guará e Jorginho das Rosas)
Através dos tempos Em nada o Leão mudou No apogeu do Império (continuou E na República atual se [multiplicou lPl, IPE, ICM, IT Taxa pra taxa a pagar Sem ninguém saber pra quê
Vamos sublimar em poesia A razão do dia a dia Pra ganhar o pão Acordar de manhã cedo Caminhar pra estação E chegar lá em D. Pedro A tempo de bater cartão Não é mole não Com a inflação Almejar as regalias Do progresso da nação
Alegria minha gente Se aumentou a inflação Lucas vem pagar com samba Sua contribuição
1984
11
O gigante em berço esplêndido
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (Neguinho da Beija-Aor e Nego)
Navegando
11
O suburbano quando chega [atrasado O patrão mal-humorado Diz que mora logo ali Mas é porque não anda nesse [trem lotado Com o peito amargurado Baldeando por aí Imagine quem vem lá de Japeri
Olhando a menina de laços de [fita Batucando na marmita Pra não ver o tempo passar Esquecendo da tristeza quando [o trem avariar E na viagem, tem jogo de ronda De damas e reis Vendedores, cartomantes, (repent is tas Tiram onda de artista No famoso Trinta e Três O trombadinha quase sempre (se dá bem O paquera apanha quando [mexe com alguém Não é tão mole andar de [pingente no trem
I
1985
Anos trinta, vento sul- Vargas
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro (Bala. Jorge Melodia c Jorge Moreira)
Soprando forte do Sul Um ciclone feiticeiro Venta pelos anos trinta E traz Vargas, o mago Uusticeiro Veio cumprir nobre missão E mudar o destino da nossa [nação No Palácio das Águias foi o [senhor Levantando o povo trabalhador Do solo fez jorrar o negro ouro E a usina do aço Transformou em um tesouro Getú Iio Vargas O guerreiro vencedor Apagou a chama da rebeldia E atirmou a nossa soberania Deu vida à justiça social Criou leis trabalhistas E a tranquilidade nacional Com punho forte e decisão Esmagou a trama da traição Mandou nossos heróis além[mar Para as forças do mal derrotar Na fantasia Do folclore do nosso povo Festejava as vitórias no Estado [Novo
11
101 Pensando no progresso da [nação Fez a moeda subir de cotação Sucumbiu após a sanha [traiçoeira E da carla derradeira O povo fez sua bandeira
1
1986
Eu quero
G.R.E.S. Império Serrano (Aiufsio Machado. Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbn:ga)
Rufam os tambores Do Salgueiro Exaltando Vargas O grande estadista brasileiro
Eu quero, a bem da verdade A felicidade em sua extensão Encontrar o gênio em sua fonte E atravessar a ponte Dessa doce ilusão
Essa geme brasileira
Quero, quero, quero sim Quero que o meu amanhã Seja um hoje bem melhor Uma juvenntde sã Com ar puro ao redor
G.R.E.S. Unidos de Lucas (Cosminho Magnata Aliai r Cardoso e Zcbinho C. Barros)
Explode na ideia do artista O samba é a cultura nacional Sufocam a ciência sem [ninguém poder falar Desta maneira não dá mais pra [segurar
Quero nosso povo bem nutrido O país desenvolvido Quero paz na moradia Chega de ganhar tão pouco Chega de sufoco e de covard ia
Quem sou eu? Quem vem lá? Brasileiros reclamando o seu [direito de votar
Me dá, me dá Me dá o que é meu Foram vinte anos que alguém [comeu
Precisamos lutar por um dia [melhor Deste povo sofrido devemos ter [dó Crise do desemprego em nosso [dia a dia Já não como, não durmo, vivo [na agonia Na esperança de ver um Brasil [bem maior Sem a dívida extema pro povo [pagar
Quero me formar bem [informado E meu filho bem letrado Ser um grande bacharel Se por acaso alguma dor Que o doutor seja doutor E não passe de bedel Çessou a tempestade E tempo de bonança Dona Liberdade chegou junto lcom a esperança
Cantamos com o rosto banhado (em pranto Por esta gente do campo Sem reforma pra plantar E vejam nossos índios no [abandono Sendo os verdadeiros donos rdeste rico chão E hoje só impera a burguesia Esta tal democracia Enche o pobre de ilusão No cntzeiro vejo a grande rconstelação E o dólar massacrando o rprogresso da nação
Vem meu bem Sentir o meu astral Hoje estou cheio de desejo Quero lhe cobrir de beijos [etecetera e tal
BraziJ com "Z" n(J() seremos jamais. ou seremos?
G.R.E.S. Caprichosos de Pilares (Ahnir de Araújo. Balinha. Marquinhos Lessa. Hércu les Corrêa c Carlinhos de Pilares)
Tudo bem Novamente popular Um novo sol a brilhar
'
1
E isso aí vou caprichar Brasil, meu Brasil Com "S" fica bem mais fmte No sul, no centro, no norte Na voz do nosso povo Ninguém vai me enganar de [novo Num sorriso de criança A fé, a esperança a conquistar O que é da nossa terra Sem essa de americanizar Não enfie o pau Noutra bandeira Mas tira. tira E bota a nossa brasileira Sou canariquito, carioca a [cantar Águia não cala meu bico Meu ouvido não é penico Meu Sam é de sambar Unido aos heróis brasileiros Nos pagodes e nos terreiros Contra o que vem de lá Canto a liberdade Meu hino. minha verdade A feijoada e o vatapá Quem comeu, comeu Quem não comeu. não come [mais Brasil com "Z" jamais
Muita smiva. pouca satíde. os males do Brasil são ...
G.R.E.S. São Clemente (Helinho 107. Mais Velho e Nino)
Desperta Brasil Desse coma. entre vorazes (tubarões Vindo por terra ou por mares Poluindo nosso ares ' rexplorando nosso chão Impondo ordens em receitas restrangeiras No acoito das saúvas rbrasiIeiras De norte a sul, Brasillnvest rpor ar E outros males corno o FMI Mate a saúva antes dela te [matar O peso é muito para um morto [carregar
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Pouca saúde, pouca grana pra [gastar Oh! Seu ministro, onde a coisa [vai parar? Oh! Que tristeza A realidade brasileira A malária que era só do Norte No Sudeste chegou forte, [correu a nação inteira O Arlequim ficou biruta e ri à [toa Da Colombina tão bonita e tão [sacana Dona de um banco de sangue [tão bacana Que deixou o Pierrot [descascando uma banana Fila pra cá Briga pra lá Pra marcar a hora certa do (defunto desfilar Mas que saudade Dos tempos idos que não [voltam mais Vovó quando doente era curada Com elixir, biotônico e outros [chás Jeca Tatu, tão doente e [explorado Espera a salvação chegar Mais a diligência da saúde Vem puxada por saúvas Que a nova República deu fim [no Delfim Ai de mim É AIOS sim Paetês e silicones desfilando [por aí E os meus direitos humanos A São Clemente cobra na [Sapucaí
Quem não discute, /em que engolir
G.R.E.S. Independentes de Cordovil (Mazinho e Nabor Veneno)
Nasceu no seio da mata virgem O destemido guerreiro Mitavaí [Arandu Foi boia-fria e vaqueiro Falou com seu padroeiro Fez romaria a Caruaru Saiu do sertão distante
Veio pra cidade grande Contra um monstro lutar Teceu um puçá de renda Tão bonita e verdadeira Pro maldito apanhar E pensando ter vencido Nosso herói então banido Promete um dia voltar •
E povo, sai do marasmo E começa a discutir Bota a boca no trombone Pra não ter que engolir Porém o monstro não foi [derrotado Com filhos pra todo lado De colarinho engomado Mais uma vez o herói entra na [guerra Vem brigar por essa terra E defender nosso chão Nos deixa de legado o seguinte Fazer a Constituinte, organizar [mutirão Que é pra massa ficar acordada Com as mãos entrelaçadas Se unir, não dispersar Se pensam que a pátria-mãe é [leiteira Peguem sua mamadeira Vão mamar noutro lugar
Terra Brasilis
A mão do homem mata o [inseto O monstro mata o homem por [completo Isso é coisa multinacional Vou trepar, tirar um coco Onde o vento faz a curva Menina, larga o toco Pega o cacho de uva Do verde só restou a dívida [externa O negro pássaro estimula a [baderna As florestas quase viraram [papel Nossa fruta tornou-se suco[exportação E o jacaré sapateia na inflação Nossa cana ganhou Ganhou o que? Roupagem fina Minha cachaça mudou Agora é gasolina Mas chegou a nova República Para organizar a vida pública O pássaro branco anuncia Raiou enfim a Democracia Carnaval eu vou brincar Ver meu time campeão Mas na hora de pular Eu não tiro o pé do chão
G.R.E.S. Em Cima da Hora (lino. Fabricio, Walter Bastos e Marquinhos Pagodeiro)
Navegando Em busca de riquezas Caravelas portuguesas Aqui chegaram comandadas [por Cabral Deslumbrado com a terra Caminha escreve ao rei de [Portugal "Terra rica igual não há Se plantando tudo dá" O colonizador trouxe as [sementes Que brotaram vários frutos [diferentes Mas os insetos daninhos Foram destruindo a plantação Como aqui tudo é possível Surge um monstro invisível Criado pelo homem animal Enquanto
E você, o que é que dá ?
G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz (Aroldo Melodia. Bnocutu. Colored. Maya. Noé Ângelo. Nilson c Renato Nobre)
Eta terra boa é o meu Brasil Tudo que se planta dá São Paulo dá um gostoso café Pra gente saborear E na terra do Tancredo Eu bebo sem medo o leite que [tem lá É no Rio de Janeiro, meu amor Que o samba rola sem parar Mexe mulata Oba! Oba! Que bumbum Cafajestes empolgados Entram no ziriguidum Bahia
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rezar .. .) G.R.E.S. Caprichosos de Pilares (Evandro Boia. Nnldo do Cavaco e Toninho 70)
Estou cansado de ser enganado Papo fumdo e demagogia Não vão encher A minha barriga vazia Espero da Constituinte Em minha mesa muito pão Uma poupança cheia de [Cruzados E um carnaval com muita paz [no comção
Dou minha alegria Nesta festa que seduz Hoje sou a simpatia E meu nome é Santa Cruz
1
1987
1
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (Gibi. Chico Cabeleira. Nino e J. Muinhos)
Um dia na Bahia apareceu Cascatas de ouro negro Meu mano entregando o que é [seu Em troca, presente grego Interesses ocultos O sangue da terra sugou Baianas, Monteiro Lobato Herói Iiterato O petróleo salvou E hoje do ouro de fato O sonho dourado foi o que [restou Serra Pelada já está nua Mas min ha alegria continua
Vamos, meu povo Democracia é participar Vote, cante, grite É tempo de mudar Quem vive de promessa é santo E eu não sou santo, meu senhor Seu deputado, eu votei E agora posso exigir . Quero ver voce cumpnr Seu lero-lero, blá-blá-blá Conversa mole, isso aí É papo pra boi dormir
Vejam Quanta alegria vem aí E uma cidade a sorrir Parece que estou sonhando Com tanta felicidade Vendo a Mocidade desfilando Contagiando a cidade
Nem de ouro, nem de prata O Cruzado tanto fez que virou [lata
.
E a oca virou taba A 1aba vi rou metrópole Eis aqui a grande Tupinicópolis Boate Saci Shopping Boitatá Chá do Raoni Pó de guaraná
Beijim. beijim. bye bye Brasil
G.R.E.S. Mocidade independente de Padre Miguel
Ajoelhou tem que rezar Não quero mais viver de ilusão Você prometeu Agora vai ter que pagar Não vai me deixar na mão
~
1988 Em busca do ouro
Até o lixo é um luxo Quando é real Tupi Cacique Poder geral Minha cidade Minha vida Minha canção Faz mais verde meu coração
Bantô, D'angolo Crioulo, muito axé Eis o milagre do café
Vou deitar, rolar Pular feliz Essa é a vida Que eu sempre quis
Tupinicópolis
No comércio e na indústria No trabalho e na diversão É Tupi Amando este chão
Na festa da libertação A saga da lavoura do café É a viga mestra da falida (economia É festa, sinhazinha. vem dançar Os feitores vão chegar Juntos com a fidalguia
Eu prometo (Ajoelhou, tem que
Deu petróleo, Martha Rocha e [algo mais Um vinho no capricho é legal E a Festa da Uva é colossal Com o progresso se alastrando Surgiu ltaipu Si-Nacional Graças ao projeto Carajás O incentivo às indústrias [minerais
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro (Aiizão. Alaor M:occclo. Rolando Medeiros. Jorginho da Cadeira. Gilbeno Tobias. Buguinho. Henrique do Salgueiro. Mauro Torrão e Rixxa)
Minha fantasia vale ouro Meu tesouro se espalha na [avenida Vem de Midas o exemplo Esta ambição antiga Negros de offcio e artistas Fizeram do barroco opção Xangô todo banhado em ouro, (Chico Rei
(Ferreira. J. Muinhos e João das Rosas)
Bye bye Brasil Beijim, beijim. beijim Encanta a Mocidade assim
I
E canta a Mocidade A Constituinte independente Dividiu a nação naufragada Em sete brasileias encantadas O progresso despontou E o Cruzeiro se valorizou E hoje nem saudades Daquele Brasil devedor Tchau Cruzado, inflação Violência, marajás, corrupção Adeus à dengue. hiena, leão A era nuclear, usina Rio-Mar ltapoã, Iracema Iguarias de Itamaracá E bate-bate de maracujá Paulo Afonso. Juazeiro
104
Padim Ciço, Petrolina que reluz Pedras preciosas, mulatas, gol [gay Vinho enlatado e o gado [revoltado Chimarrão, como exportei O ouro de Serra Pelada O P.l. como gritava Rock outra vez Divinamente, o salvador surgiu Dando um toque diferente Alô, bye bye Brasil
Quem avisa amigo é
G.R.E.S. São Clemente (Chocolale. Helinho I07 e lzafas de Paula}
Desponta na avenida "nova [mente" Mais uma vez vou cantar com [altivez Ora! Tenha a santa paciência Por que tanta violência? Nosso mundo está sofrendo A fauna e a tlora em extinção Ainda temos a esperança De encontrar a solução Nosso índio perde a terra E é massacrado Negro sofreu com a escravidão Sonhava chegar o dia da [libertação Mulher Lute pelos seus direitos O tabu da virgindade Já foi desfeito Crianças encantadas com o He[Man Desconhecem as maldades Que em nossa terra tem O nordeste tão sofrido e sem [amparo Cidade grande, a polícia e o (ladrão Se defendem contra o monstro [da intlação Liberdade Quero mudar O meu canal para outro mundo Onde não existe guerra Nem tampouco marajás E a paz se faz reinar Se essa onda pega Vá pegar em outro lugar Quem avisa amigo é
São Clemente vai passar
Bar Brasil, templo do absurdo
G.R.E.S. Unidos da Tijuca (Belo do Pandeiro. Nego. Vaguinho. Momciro. Ivan Silva c Carlos do Pagode}
Brasil, bar Brasil Berço das grandes resoluções Pra quem se queixa que dá um [duro danado E é mal remunerado Pro revoltado com as broncas [do patrão Ai, quem me dera se eu fosse [um marajá Ganhasse a vida sem precisar [trabalhar Mas acontece que é só a [minoria Que desfruta a mordomia Nesta tal democracia
Era um país rico e bonito Tinha um povo bem nutrido Mas não opinava em nada Ai apareceu o Pai Cruzado Deixou tudo congelado Ficou todo poderoso Quá, quá, quá Eu vou sorri r Essa estória do José Eu já ouvi Solo fértil, não plantado Interesse do poder Tudo que se planta dá ' E, se plantar vamos colher Espero ver o meu povo Tupy Livre pra poder sobrevi ver E' só mistério E' controvérsia E' zum-zum-zum Entra e sai autoridades Mas é tudo um sete um
Apertaram o gatilho num [salário baleado Outra piada depois desse tal [Cruzado E segue o tormento Congelaument.os E' o preço da alimentação Que confusão O medo de sair, ser assaltado E o plano mal traçado A bomba que estourou em [nossas mãos As brigas com a patroa em casa E o time que só faz perder Não dá pra segurar Já chega de sofrer Quero poder bebemorar Êta papo pra rolar No templo do debate popular Pobres e ricos falam da dívida [externa Dos problemas desta terra E se perguntam onde a coisa [vai parar
E agora. José?
G.R.E.S. Tupy de Brás de Pina (Andrade. Aricl. Léo c Olacílio)
No calor da fantasia Hoje eu vou me divertir Vou contar uma piada E vocês vão morrer de rir
O povo já está é P da vida Procurando uma saída Para um dia melhorar Mas, no entanto, no país da [utopia Só se fala em ferrovia Assembleia e marajá
I
1989
Liberdade. liberdade! Abre as asas sobre nós!
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (Nillinho Trislcza. Prelo Jóia. Vicenlinho e Jurandir)
Vem ver Vem reviver comigo amor O centenário em poesia Nesta pátria-mãe querida O Império decadente Muito rico, incoerente Era fidalguia Surgem os tamborins, vem [emoção A bateria vem no pique da [canção E a nobreza enfeita o luxo do [salão Vem viver o sonho que sonhei Ao longe faz-se ouvir Tem verde e branco por aí
11
105
Brilhando na Sapucaí Da guerra nunca mais Esqueceremos do patrono O duque imortal A imigração tloriu de cultura o [Brasil A música encanta e o povo [canta assim Pra Isabel, a heroína Que assinou a lei divina Negro dançou Comemorou o fim da sina Na noite quinze reluzente Com a bravura, finalmente O marechal que proclamou Foi presidente Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós E que a voz da igualdade Seja sempre a nossa voz
Ratos e urubus, larguem a minha fantasia
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (Betinho. Glyvaldo. Zé Maria e Osmar)
Reluziu E' ouro ou lata? Formou a grande confusão gual areia na farofa E o luxo e a pobreza No meu mundo de ilusão Xepá, de lá pra cá xepei Sou na vida um mendigo Da folia eu sou rei Sai do lixo a nobreza Euforia que consome Se ficar o rato pega Se cair urubu come Vibra meu povo Embala o corpo A loucura é geral Larguem minha fantasia, que [agonia Deixem-me mostrar meu [carnaval Firme, belo perfil Alegria e manifestação Eis a Beija-Flor tão linda Derramando na avenida Frutos de uma imaginação
Leba larô ô ô ô ô ' Ebo lebará laiá laiá ô
Made in Brazi/. Yes, nós temos banana
G.R.E.S. São Clemente (João Carlos Grilo, Ricardo Goes. Ronaldo Soares e Sérgio Femandes)
Já é hora Do gigante adormecido [despertar Do jeito que a coisa anda Não pode continuar A serra que é pelada até no [nome Pelada há muito está Quero é saber de todo ouro Onde está nosso tesouro? Onde estará? Quero é saber de todo ouro Onde está nosso tesouro? Oh! Tesouro, onde estará? Parece brincadeira, mas não é O dólar valorizado O coitado do Cruzado Não pode se envolver na [transação O aço volta manufaturado Jacaré vira sapato Lembrando até piada de salão Exportam até nossa gasolina Por quantia pequenina E também nosso melhor café Os craques se mandando de [montão Já está faltando cobra Pra jogar na nossa seleção Eu choro, eu grito E falo porque amo meu país Só não podem exportar A esperança desse povo ser [feliz