Imagens norte-sul do carnaval: estudo de um fenômeno brasileiro de folkmídia 1 North-south images of the carnival: study of a Brazilian folkmedia phenomenon Imágenes norte-sur del carnaval: estudio de un fenómeno brasileño de folkmedia AUTORES PRINCIPAIS 2 JOSÉ MARQUES DE MELO JOSEPH LUYTEN SAMANTHA CASTELO BRANCO CO-AUTORES3 ERICK TORRICO (BOLÍVIA); GUSTAVO CIMADEVILLA (ARGENTINA); LUCÍA CASTELLÓN (CHILE); MYRIAM VILHENA DE MORAES (MÉXICO); MONICA RECTOR (ESTADOS UNIDOS); OSCAR LUCIEN (VENEZUELA); ROQUE FARAONE (URUGUAI)
1. Comunicação fundamentada na pesquisa promovida pela Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento Regional durante o ano de 2000, com a participação de quase uma centena de pesquisadores voluntários que constituíram a Rede Internacional de Mídia Comparada. Os resultados detalhados dessa pesquisa integram os Anais da III Conferência Brasileira de Folkcomunicação (João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba, 2001). Resumo desse texto foi apresentado no Colóquio Pan-americano “As indústrias culturais e o diálogo entre civilizações nas Américas”, em Montreal (Canadá), em abril de 2002. 2. Os autores principais são os coordenadores do projeto científico e da rede internacional que permitiram a concretização desta pesquisa. São docentes vinculadas à Universidade Metodista de São Paulo, onde está sediada a Cátedra Unesco de Comunicação do Brasil. E.mail: catedra.unesco@metodista.br 3. Esta lista corresponde aos coordenadores de equipes responsáveis pela pesquisa nos países incluídos na amostra. A relação completa dos co-autores está reproduzida integralmente em anexo, onde constam os nomes e as instituições de todos os participantes das equipes nacionais. Trata-se daqueles responsáveis pela coleta dos dados e pela análise preliminar das tendências observadas, inclusive dos países não destacados neste trabalho.
51
MARQUES DE MELO, José et al. Imagens norte-sul do carnaval: estudo de um fenômeno brasileiro de folkmídia. Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: PósCom-Umesp, a. 23, n. 37, p. 61-104, 1o. sem. 2002.
Resumo As comemorações do descobrimento do Brasil pelos navegadores portugueses (1500) compreenderam solenidades oficiais, patrocinadas pelo governo, durante o ano 2000. Mas incluíram também atos populares, respaldados pela sociedade civil, entre eles o carnaval. Para conhecer o tratamento dado pela mídia impressa a esse evento cultural foi realizada uma pesquisa em jornais e revistas do Brasil, bem como de países da Europa Ocidental e das Américas, com propósitos comparativos. Esta comunicação pretende apresentar e analisar os resultados do referido estudo, enfocando particularmente as evidências constatadas em países da América do Norte (Estados Unidos e México) e da América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Venezuela). Palavras-chave: Folkmídia – Carnaval – Brasil – América do Norte – América do Sul.
Abstract The commemorations of the discovery of Brazil by Portuguese navigators (1500) had government-sponsored official solemnities during the year 2000. But they also included popular acts, endorsed br the civilian society; between them was carnival. To come to know the treatment given by the printed media to this cultural event, a research was carried through in periodicals and magazines from Brazil as well as from countries of Western Europe and Americas, with comparative intentions. This communication intends to present and analyze the results of the study quoted, focussing particularly the evidences found in North American countries (United States and Mexico) and of South America (Argentina, Bolivia, Chile, Uruguay and Venezuela). Keywords: Folkmedia – Carnival – Brazil – North America – South America.
Resumen Las celebraciones del descubrimiento de Brasil por los navegantes portugueses (1500) han comprendido solemnidades oficiales, realizadas por el gobierno, durante el año de 2000. Sin embargo incluyeron también manifestaciones populares, organizadas por la sociedad civil, entre ellas el carnaval. Para conocer el tratamiento dado por los medios de comunicación de la imprenta a ese evento cultural, se realizó una investigación en periódicos y revistas de Brasil, así como de los países de Europa Occidental y de las Américas, con propósitos comparativos. Esta comunicación pretende presentar y analizar los resultados del referido estudio, poniendo énfasis en las evidencias constatadas en países de América del Norte (Estados Unidos y México) y de América del Sur (Argentina, Bolivia, Chile, Uruguay y Venezuela). Palabras-clave: Folkmedia – Carnaval – Brasil – América del Norte – América del Sur.
52 • Comunicação e Sociedade 37
Introdução A mais significativa contribuição brasileira às Ciências Comunicação é sem dúvida a teoria da folkcomunicação, formulada por Luiz Beltrão na tese de doutorado que defendeu em 1967 na Universidade de Brasília (Marques de Melo, 1998, p. 185-201). Na época, suas idéias foram acolhidas com entusiasmo por estudiosos da estatura de Umberto Eco (Itália), Juan Beneyto (Espanha), Hod Horton (Estados Unidos). Depois, elas ganharam legitimidade acadêmica, suscitando o interesse das novas gerações de comunicólogos e comunicadores (Benjamin, 1998). O cerne da hipótese lançada por Luiz Beltrão, comprovada e demonstrada empiricamente por vários pesquisadores, fundamenta-se na intermediação de agentes populares de informações – os folkcomunicadores – posicionados em territórios fronteiriços entre a mídia massiva e as comunidades de base, especialmente nas sociedades configuradas pela hegemonia da cultura oral (Beltrão, 2001). Eles protagonizam ações permanentes de mediação simbólica, decodificando e recodificando mensagens e conteúdos disseminados pela imprensa, pelo rádio ou pela televisão. Sua intenção é participar e influir no processo de atribuição de sentido que vai marcar a assimilação dos conteúdos midiáticos pelos contingentes populacionais situados nas periferias urbanas ou encravados nos aglomerados rurais. A teoria da folkcomunicação deu conta historicamente dos fluxos de difusão das mensagens massivas e da sua recepção crítica por parte das comunidades ágrafas ou desescolarizadas. Mais recentemente, discípulos de Beltrão deram continuidade aos seus estudos (Tarsitano, 1996), 53
observando que a pujança das culturas populares nas sociedades latinoamericanas vem acarretando fluxos folkcomunicacionais em direção inversa (Benjamin, 2000). Ou seja, os estrategistas das políticas de comunicação das indústrias midiáticas, reconhecendo a prevalência de valores tradicionais nos hábitos de consumo cultural das classes populares, trataram de observar, identificar e recolher signos e estruturas capazes de monitorar a geração de novos produtos midiáticos. Desta forma, apropriam-se da cultura popular, dando-lhe tratamento massivo, de forma a preservar e ampliar suas audiências e lucros. Denominado folkmídia, esse novo segmento das indústrias culturais assume papel de relevo na América Latina, ocupando espaços substanciosos no entretenimento dos maiores contingentes populacionais da região (Marques de Melo, 2001). As festas populares, como é o caso do Carnaval, convertem-se freqüentemente em conteúdos midiáticos de natureza diversional, retroalimentando a própria agenda da mídia informativa ou educativa. Mais que isso. Na medida em que catalisam elementos peculiares das identidades nacionais, regionais ou locais, eles passam a nutrir processos de resistência cultural, numa conjuntura em que a homogeneização globalizante ameaça a preservação das tradições populares (Marques de Melo, 1996). Nesse sentido, as potencialidades das novas tecnologias de reprodução simbólica permitem que identidades culturais preservadas historicamente, mas estereotipadas pelos produtos midiáticos suscetíveis de difusão internacional, venham a projetar traços nacionais ou valores locais no mosaico multicultural da sociedade em rede (Castels, 1996). Um dos elementos emblemáticos da sociedade brasileira é inegavelmente o Carnaval, daí o interesse em estudar como ele vem sendo apropriado pela indústria cultural (mídia e turismo) e, em conseqüência disso, de que forma penetra na agenda informativa dos veículos formadores da opinião pública, especialmente os jornais e as revistas. O carnaval brasileiro como evento folkmidiático O carnaval é um evento que integra o ciclo das nossas festas do solstício de verão (Maynard Araújo, 1973, p. 32). Durante o período colonial reproduziu os padrões do entrudo europeu, assumindo somente no século passado a feição de grande festa popular brasileira. O moderno carnaval 54 • Comunicação e Sociedade 37
caracteriza-se pelos “desfiles de cortejos e numerosos conjuntos, e que, hoje, nas escolas de samba, no frevo (...), se perdeu muito do seu caráter folclórico, ganhou em espetacularidade e grandeza” (Almeida, 1973, p. 206). De tal modo o carnaval se abrasileirou que a festa, tanto no País quanto no estrangeiro, se converteu numa das “marcas da brasilidade” (Queiroz, 1992, p. 159). Isso explica a “definição do Brasil”, no imaginário global contemporâneo, “como um país cuja invenção tem como referente o carnaval” (Da Matta, 1973, p. 122). Esse processo de abrasileiramento do carnaval teve muito a ver com a apropriação dessa festa de origem européia pelos descendentes dos negros africanos, que aqui chegaram como escravos e foram historicamente assimilados pela cultura luso-brasileira. Perseguido pelo branco, o negro no Brasil escondeu as suas crenças. (...) O folclore foi a válvula pela qual ele se comunicou com a civilização branca, impregnando-a de maneira definitiva. (...) O negro aproveitou as instituições aqui encontradas e por elas canalizou o seu inconsciente ancestral... (...) Principalmente no carnaval. Todos os anos a Praça Onze, no Rio de Janeiro, recebe a avalancha dessa catarse coletiva. Ali, o carnaval é apenas um pretexto. Porque todo um mundo de sentimento e desejos, não tolerados na vida comum, despertam de um trabalho surdo de recalques contínuos. O carnaval é uma visão espectral da cultura de um grupo humano. Os civilizados eclodem a sua vida instintiva reprimida. Mas o primitivo apenas se mostra na sua espontaneidade de origem. É o caso da Praça Onze, conglomerado de todo um inconsciente ancestral. Ali se reúnem, periodicamente, velhas imagens do continente negro que foram transplantadas para o Brasil: o monarca das selvas africanas, reis, rainhas e embaixadores, totens feiticeiros e shamanes, homens-tigres e homens-panteras, griots, menestréis e bardos negros, pais-de-santo, antepassados, pais-grandes e adolescentes em iniciação ritual. (...) A Praça Onze é a fronteira entre a cultura negra e a branco-européia, fronteira sem limites precisos, onde se interpenetram instituições e se revezam culturas. Mas a Praça Onze, por sua vez, já um símbolo de todas as Praças Onze disseminadas pelos focos de cultura negra, no Brasil. O negro evadido dos engenhos e das plantações, e das minas, e dos trabalhos domésticos das cidades, e dos mocambos, e das favelas, e dos morros... vai mostrar nas Praças Onze o seu inconsciente folclórico (Ramos, 1954, p. 257-258).
Mobilizando expressivos segmentos da nossa sociedade, o carnaval já não mais é uma celebração restrita ao período situado entre o Advento 55
e a Quaresma, para assumir a fisionomia de festa do ano todo, invadindo o calendário lúdico brasileiro. Para os clubes carnavalescos, o carnaval começa em setembro com os primeiros ensaios da agremiação. (...) Mesmo depois do carnaval, a alegria e a festividade não param. Há as festas e bailes da vitória, as eleições das novas diretorias; e, para alguns tipos de clubes, os preparativos para a última saída do grupo no Domingo de Páscoa. Logo depois, os clubes carnavalescos aguardam com animação o São João, quando aproveitarão quadrilhas, cocos e outras brincadeiras juninas nas suas sedes (Real, 1967, p. 19-20).
Nesse sentido é que o carnaval brasileiro deixou de ser mero “rito de passagem”, como ocorre em outras sociedades, protagonizando o “mundo como teatro e como prazer”. Assume a fisionomia de um “universo social onde a regra é praticar sistematicamente todos os excessos” (Da Matta 1984, p. 73). Esta festa permite, em setenta e duas horas, a eclosão do recalque represado durante trezentos e setenta e três dias, através da musica ou do canto, do alarido, dos trejeitos, do trajar indumentária diversa, do afrouxamento das normas morais. Aqueles que vivem contidos em trajes masculinos, com tendências feminis, nesses dias, trajam-se de mulheres. O inverso fazem as mulheres, é a troca de papéis: a grande festa dos sentimentos desenfreados. Carnaval é folclore: nele permanecem ritmo, instrumental, fantasia, máscaras, figuras desgarradas de autos populares. Só não é folclore no carnaval o transitório: letras, músicas olvidadas já no carnaval vindouro (Maynard Araújo, 1967, p. 186).
É compreensível, portanto, que seja um evento cultural cuja permanência e inovatividade dependem da adesão coletiva, para a qual contribuem decisivamente os meios de comunicação de massa. Eles constroem imagens que seduzem indivíduos e multidões, induzindo-os à prática de atos diversionais no interior das residências ou nas praças, nos clubes ou no meio das ruas. Mas também influíram para dar-lhe uma fisionomia, consentânea com a natureza da sociedade capitalista, homogeneizando-o e ao mesmo tempo mercantilizando-o. É (...) no âmbito do carnaval que vamos buscar os exemplos desse processo de transformação cultural sob a égide do capitalismo. A partir dos anos sessenta, a escola de samba, maneira de brincar no carnaval, criada na dé-
56 • Comunicação e Sociedade 37
cada de 1930, pelas camadas populares de origem africana, habitantes dos morros e dos subúrbios cariocas, a qual já havia sido incentivada pelo setor comercial e pelos poderes públicos, passa a ser encarada como uma mercadoria passível de ser comercializada não somente junto a turistas estrangeiros e nacionais, mas junto aos próprios meios de comunicação de massa, principalmente a televisão. Assim um folguedo carnavalesco típico de uma parte da população de determinada sociedade é veiculado via televisão, para todo o território nacional e, agora, sob a forma de uma manifestação cultural altamente valorizada pela sociedade, vai: 1. No Rio de Janeiro atrair e englobar participantes oriundos das camadas mais elevadas da população que, buscando relevância pessoal a nível local e nacional, trazem, por outro lado, certo status ao folguedo popular. 2. Influenciar o carnaval de outras cidades brasileiras: - em Recife vão desaparecendo muitos dos folguedos tradicionais do carnaval pernambucano, que são substituídos pelas escolas de samba, segundo o modelo carioca; - em São Paulo, os cordões carnavalescos, a maneira típica de se divertir no carnaval, dos contingentes de descendência africana das camadas populares paulistanas, se transformam, sob os auspícios de prefeitura, em escolas de samba; segundo os moldes cariocas. Mas recentemente, essas escolas passaram também a englobar contingentes das classes médias paulistanas; - em várias cidades do interior paulistano vão surgindo escolas de samba organizadas por elementos das classes médias brancas ou da burguesia de tais localidades, além das de origem popular. Tal fenômeno pode ser observado em Guaratinguetá, Piracicaba e outras localidades. Mas, como essa manifestação da criatividade popular pode ser aceita e transformada numa mercadoria que tanta influência vem exercendo, via meios de comunicação? Isso só se deu por meio de uma intensificação do processo de enriquecimento do folguedo, através do qual os traços “perigosos” foram sendo depurados e imposições de gosto da classe média branca foram sendo feitas, para que o resultado tivesse aceitação unânime na sociedade brasileira (Von Simonsen, 1983, p. 14-15).
Identificar e analisar as imagens que a mídia constrói sobre o carnaval pode conduzir a uma melhor percepção do etos brasileiro ou de sua idealização em sociedades abastecidas simbolicamente pelo fluxo noticioso da indústria da informação de atualidades. Ou, melhor, pode conduzir à percepção da nossa identidade cultural nessa conjuntura globalizante. 57
Qual o grau de fidelidade com que o carnaval celebrado nas ruas, praças e clubes é retratado pela mídia? Quais as singularidades que o caraterizam como evento cultural? Qual a presença de signos que reforçam as identidades culturais regionais ou locais? Em que medida o modelo do carnaval carioca (ou mais recentemente do baiano) influencia a festa que se faz no restante do País? Numa outra perspectiva: sendo um evento que se projeta mundialmente, potencializado pela mídia, funciona como correia de transmissão da identidade brasileira no exterior. Como se projeta essa identidade? Como a percebem e reproduzem os meios de comunicação que formam a opinião pública em outros países? Mas, por outro lado, a transmissão dos festejos via satélite e a presença crescente de turistas estrangeiros nas cidades brasileiras, nesse período, o transformam num evento global. Em que medida tais fatores determinam a sua paulatina desnacionalização, induzindo os organizadores da festa a dar-lhe roupagem hollywoodiana ? São respostas que esta pesquisa pretendia obter e interpretar comparativamente. Estratégias metodológicas O estudo consistiu no resgate das imagens projetadas pela mídia durante as celebrações do Carnaval dos 500 anos. 4 Trabalhamos com duas amostras midiáticas: a) Jornais diários de informação geral, que circulam em diferentes espaços da geografia nacional. O período estudado foi o compreendido 4. A história consagrou o dia 22 de abril de 1500 como efeméride da nossa fundação. Nessa data, a frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil, ou seja, ancorou em território brasileiro. Esse episódio está assim descrito: ”Não sabemos se o nascimento do Brasil se deu por acaso, mas não há dúvida de que foi cercado de grande pompa. (...) (...) a 9 de março de 1500, partia do Rio Tejo em Lisboa, uma frota de treze navios, a mais aparatosa que até então tinha deixado o reino, aparentemente com destino às Índias, sob o comando de um fidalgo de pouco mais de trinta anos, Pedro Álvares Cabral. A frota, após passar as Ilhas de Cabo Verde, tomou rumo oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria a terra brasileira a 21 de abril. Nessa data, houve apenas uma breve descida à terra e só no dia seguinte a frota ancoraria no litoral da Bahia, em Porto Seguro” (Fausto, 1995, p. 30).
58 • Comunicação e Sociedade 37
entre 27 de fevereiro e 11 de março do ano 2000. Tratava-se de corte temporal suficiente para apreender as imagens carnavalescas, tanto as que precederam, quanto as que sucederam a festa, incluindo naturalmente as celebrações principais do tríduo momesco. A escolha dos jornais se fez pela combinação dos critérios de circulação (maior tiragem e/ou amplitude de distribuição) e impacto (veículo formador de opinião pública).5 b) Jornais diários de outros países onde o carnaval brasileiro tem ampla difusão, justamente pela sua característica de evento integrante da agenda midiática globalizada. Essa amostra permitiu compreender a ótica através da qual os correspondentes estrangeiros aqui sediados ou os enviados especiais designados para cobrir o carnaval retrataram o evento que simboliza um dos traços da personalidade brasileira no mosaico da cultura global. Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal, Japão, Estados Unidos, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Venezuela foram países cujos veículos noticiosos compuseram a amostra. Para a realização da pesquisa, todos os pesquisadores participantes receberam orientação precisa, compartilhando parâmetros homogêneos, não apenas com a finalidade de garantir a qualidade do trabalho. A intenção era a de que houvesse uma uniformização dos procedimentos, assegurando a comparatividade inter-regional. Assim, cada edição foi lida cuidadosamente para permitir a identificação das matérias que trouxessem imagens carnavalescas. Somente estas matérias foram destacadas para a pesquisa. Todas as demais foram automaticamente descartadas, evitando-se o acúmulo de material impresso desnecessário. O conceito de imagem não se limitou aos registros gráficos (fotografias, desenhos, filmes), incluindo necessariamente os registros verbais. Na verdade, tais registros aparecem de forma articulada, quase sempre interligando texto/ilustração (Marques de Melo, 1998b). As matérias selecionadas foram classificadas por categorias comunicacionais. Trabalhou-se, desta forma, com as duas categorias 5. As fontes utilizadas para a definição dos jornais integrantes da amostra foram: ANJ - Jornais Brasileiros, 95/96, Brasília, 1996; e Imprensa/Mídia - O mapa da mídia, a. 2, n. 23/24, 1996.
59
comunicacionais básicas – jornalística e publicitária. Isso significou pesquisar a totalidade do espaço dedicado às imagens carnavalescas em cada veículo.6 Assim sendo, foram adotadas as seguintes definições das categorias comunicacionais já registradas em estudo anterior sobre a imprensa paulista (Marques de Melo, 1998a): a) Jornalismo – registro de fatos da atualidade (informativos, opinativos ou eventualmente interpretativos); b) Publicidade – anúncios (também denominados matérias-pagas) sobre produtos, serviços, instituições, eventos etc. Feita a identificação das matérias, realizou-se primeiramente a sua quantificação. Usou-se o cm/col (centímetro por coluna) na análise dos jornais (Marques de Melo, 1972). Anotou-se diariamente a proporção do espaço editorial dedicado ao carnaval, relacionando-o com a superfície impressa de toda a publicação. Ou seja, o pesquisador registrou a porcentagem das matérias sobre o carnaval no bojo de cada publicação. 7 Deste modo, foi possível verificar a importância dos registros sobre esse evento popular na agenda midiática do período estudado. Os recortes foram guardados em pastas separadas por categorias (anotando-se as datas de publicação) para facilitar o trabalho posterior de análise do conteúdo. A maioria dos pesquisadores elaborou uma agenda de trabalho e fez diariamente a identificação/o recorte/a decupagem das matérias, seguida da mensuração do espaço ocupado por categorias comunicacionais, para, imediatamente, passar à análise do conteúdo. Mas alguns preferiram separar as duas tarefas, efetuando a identificação/o
6. Não obstante a categoria Entretenimento venha conquistando hegemonia na mídia audiovisual (rádio, televisão, cinema), sua vigência na mídia impressa ibero-americana é ainda residual. Por esta razão ela foi desconsiderada no desenvolvimento desta pesquisa. 7. Infelizmente, alguns pesquisadores que trabalharam com a amostra da imprensa estrangeira não puderam seguir rigorosamente esta diretriz, limitando-se a analisar as unidades informativas disponíveis, muitas delas selecionadas por colaboradores situados nos respectivos países, os quais se limitaram a recortar as matérias e enviá-las à equipe central, sediada em São Paulo.
60 • Comunicação e Sociedade 37
recorte/a decupagem num momento e a análise de conteúdo ao final da semana, da quinzena ou do mês. A análise das imagens carnavalescas foi feita metodologicamente a partir da morfologia e dos eixos temáticos construídos no estudo sobre as imagens natalinas (Marques de Melo, 1996). Preliminarmente, os pesquisadores elaboraram fichas-resumo para cada matéria selecionada, apreendendo o conteúdo das mensagens e descrevendo sumariamente as imagens carnavalescas. Depois, agregaram os dados da análise temática no verso da mesma ficha ou construíram quadros comparativos, de acordo com o volume e a complexidade do material pesquisado. Trabalhamos, assim, com três níveis de conteúdo: eixos temáticos, estratégias comunicacionais e referente culturais. 1. Eixos temáticos a) tradição/inovação: a1. celebração (ritos e motivações); a2. simbologia (cenários e personagens); a3. natureza da festa (estruturas e elementos); b) espaço/tempo: b1. territorialidade (global, nacional, regional, local); b2. Temporalidade (passado, presente, futuro); c) público/privado: c1. ambientação (locais, funções, limites, figurações); c2. atores sociais (instituições, classes, comunidades, pessoas). 2. Estratégias comunicacionais a) informação/persuasão: a1. noticiário (relatos, intenções, argumentos); a2. anúncios (produtos, patrocinadores, público-alvo); b) texto/ilustração: b1. codificação (linguagem, retórica); b2. evidenciação (natureza dos recursos usados: fotos, gráficos, caricaturas etc.). 3. Referentes culturais a) natureza da celebração carnavalesca do ano 2000 (descrição construída a partir das observações e conclusões do próprio pesquisador); b) significação comunitária do carnaval (análise dos usos sociais, políticos, econômicos da festa carnavalesca no interior da comunidade em que está inserido o pesquisador); c) o lugar do Brasil no imaginário carnavalesco (análise especial destinada aos pesquisadores situados em outros países, mas também aberta à participação dos outros pesquisadores hoje localizados em ter61
ritório brasileiro, mas que vivenciaram carnavais fora do país; nesse caso, deve-se precisar o tempo e o espaço das experiências reconstruídas). Evidências denotadas na imprensa nacional A pesquisa “Imagens midiáticas do carnaval brasileiro: a celebração popular dos 500 anos do Brasil”, no que diz respeito à imprensa nacional, contou com a participação de quarenta pesquisadores, que analisaram 38 jornais do país (Tabela 1), incluindo quase todos os estados brasileiros, num total de 22.8 JORNAIS
BRASILEIROS, POR REGIÃO
Sudeste Nordeste
Centro-Oeste
Sul
Norte
Total
Amostra
13
10
06
05
04
38
%
34
26
16
13
11
100
Em termos quantitativos, a primeira observação a ser feita é que o tema carnaval foi prioridade, no período estudado, para os diários analisados. Sem exceção, todos os jornais brasileiros noticiaram as comemorações do “período momesco”9 , com ênfase no local, no regional ou no nacional. Em alguns casos, a exemplo do Diário do Nordeste (Ceará), do Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), de O Globo (Rio de Janeiro) e da Folha de S. Paulo, foi criado um caderno especial para tratar especificamente do carnaval 2000, tendência não seguida por diários como a Gazeta de Sergipe. Somando-se duas semanas de coleta de material, detectou-se que o carnaval se configurou como assunto importante na pauta das redações dos veículos que compuseram a pesquisa. O espaço ocupado pelo tema, entre jornalismo e publicidade, girou em torno de 20%, chegando, em 8. A República Federativa do Brasil contava no período de realização da pesquisa com 27 Estados. Ficaram ausentes pequenos Estados onde não existem ainda atividades acadêmicas no campo da Comunicação, tornando-se inviável a adesão de pesquisadores universitários como ocorreu na grande maioria das unidades federativas. 9. Momesco, na linguagem popular brasileira, é expressão adjetiva consagrada a momo (pequena farsa popular) ou ao carnaval. É sinônimo de carnavalesco (Holanda, 1975, p. 945).
62 • Comunicação e Sociedade 37
alguns casos, a superar esse percentual. Para se ter uma idéia, O Estado de S. Paulo apresentou 341 registros sobre o assunto, sendo 240 jornalísticos (70,38%) e 101 publicitários (29,62%). Nesse contexto, não se pode esquecer, como afirma Erbolato (1991, p. 157), que os jornalistas costumam trabalhar com uma “agenda de acontecimentos”, incluindo-se aí as datas comemorativas de todo o ano, como o Dia das Mães, Dia da Pátria, Dia dos Namorados, Natal e, é claro, o Carnaval. Sendo assim, pautar esse assunto em um país que oficializou os dias de folia carnavalesca constitui procedimento usual nas redações de qualquer veículo de comunicação de massa. Surpresa seria encontrar um jornal que ignorasse totalmente as comemorações desse período. Quanto às categorias comunicacionais, o jornalismo sobressaiu em todos os diários analisados, ocupando um espaço maior do que aquele dedicado à publicidade. No caso da Folha do Paraná, o jornalismo chegou a ocupar 90%, contra 10% de publicidade referente ao carnaval. A tendência foi a mesma na Gazeta de Alagoas (92% de jornalismo e 8% de publicidade), além do Jornal de Tocantins (99% de jornalismo e 1% de publicidade). No entanto, é possível verificar que, embora esteja oficializado como feriado em todo o País, o carnaval representa uma oportunidade de vendas e negócios. Concessionárias, supermercados, hotéis e até laboratórios farmacêuticos procuram vincular seus produtos a tudo aquilo que, normalmente, lembra carnaval: folia, diversão, alegria e muito mais. Para isso, os anúncios costumam utilizar os símbolos da época: passistas de samba, pandeiros, tamborins, confetes, serpentinas, entre outros. Especialmente nos estados onde a folia carnavalesca é mais intensa, como Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e, mais recentemente, São Paulo, os anúncios publicitários são, em grande parte, dedicados ao turismo. Trata-se de propaganda de hotéis, pacotes de viagens, praias etc. Aliado a isto, encontra-se a publicidade institucional, veiculada pelo governo do Estado, por prefeituras e órgãos de incentivo ao turismo. Ainda no que diz respeito aos anúncios institucionais, também são destaque aqueles que se referem ao uso de camisinha nos dias de carnaval, ligados a campanhas de prevenção à aids. As campanhas se justificam numa época considerada de excessos – “(...) uma onda irresistível 63
que nos domina, controla e, melhor ainda, seduz inapelavelmente” (Da Matta, 1997, p. 73). Discutidos itens estabelecidos como prioritários na análise da cobertura carnavalesca pelos jornais nacionais, abordam-se agora algumas das questões que nortearam a pesquisa. Quanto aos eixos temáticos, há uma predominância da tradição, que aparece na cobertura de matérias sobre os enfoques tradicionais do carnaval: desfiles das escolas de samba, comemorações nas ruas, movimento do comércio local no tocante aos produtos carnavalescos, entre outros. Genericamente, os jornais parecem orientados pela mesma pauta, oferecendo uma cobertura semelhante no que diz respeito aos temas. A celebração é apresentada de forma a conferir ao carnaval, propositadamente, uma dimensão espetacular. É clara a tendência à espetacularização exercida pelos jornais nas mensagens carnavalescas. De fato, o Brasil parece parar. Há uma apatia nas editorias de política e economia, o noticiário volta-se à maior festa popular do País. O lugar desse espetáculo é, normalmente a rua, o espaço público, onde são destacados as celebridades e os famosos, que exibem um carnaval esteticamente bonito, sem espaço para os problemas sociais, políticos e econômicos nacionais. Procura-se dar uma idéia de unidade no espaço público (mais significativo que o privado), onde as várias classes e raças se unem para curtir a grande festa popular brasileira. Ainda assim, as separações ou distinções aparecem de forma clara, quando artistas, cantores, políticos e famosos são noticiados em lugares privilegiados, como os camarotes, os trios elétricos, os carros alegóricos. Há pouco destaque para as minorias, que ganham pequenos espaços em raríssimos títulos, a exemplo desses retirados do jornal A Crítica (Amazonas): “Idosos caem no ritmo do carnaval” e “Idosos caem na folia ao som de antigas marchinhas”. As singularidades de cada região são retratadas pelos veículos, os quais priorizam as notícias locais, mas nunca deixam de noticiar aquele considerado o modelo do carnaval brasileiro, a festa do Rio de Janeiro, numa perspectiva nacional. Algumas publicações também dão destaque a Salvador, São Paulo, Olinda e Recife, mas nada comparável à cobertura em torno dos desfiles da Marquês de Sapucaí, abrilhantados pela presen64 • Comunicação e Sociedade 37
ça de estrelas como Joana Prado (“Feiticeira”) e Thiago Lacerda (ator da novela Terra Nostra). Nesse contexto, importa o presente. As notícias dão conta do aqui-e-agora, enquanto o passado assume uma tendência saudosista e o futuro praticamente inexiste. Além dos famosos, que aparecem como os principais personagens da festa, há outros atores sociais e instituições que merecem destaque, a exemplo de poderes públicos municipais e estaduais, secretarias de Cultura, polícias militar, civil e rodoviária, além das entidades ligadas diretamente ao carnaval – agremiações, direção de escolas de samba etc. As estratégias comunicacionais, quanto à parte noticiosa, centralizam-se no jornalismo informativo, enquanto os anúncios publicitários utilizam as estratégias persuasivas. Em geral, os textos das notícias procuram seguir os pressupostos básicos do jornalismo (objetividade, clareza, concisão...), embora acompanhados de títulos que reforcem a espetacularização do carnaval. A utilização de ilustrações, especialmente de fotos, é freqüentemente acatada pelos veículos. Os referentes culturais prevalecentes no carnaval dos Estados brasileiros revelam, na maioria das vezes, a falta de uma identidade própria, com adoção dos padrões cariocas e soteropolitanos10 . Os jornais atestam o que grande parte dos brasileiros tem presenciado ultimamente. Os estados estão seguindo as duas grandes tendências do carnaval brasileiro: os trios elétricos de Salvador (também presentes nos sacudidos carnavais fora de época) e as escolas de samba do Rio de Janeiro (imitadas de norte a sul do País). Com algumas exceções e priorizando determinados assuntos e enfoques, pode-se dizer que os jornais analisados procuram, de certa forma, retratar com fidelidade os acontecimentos do período carnavalesco, que, por si só, já encobre determinados problemas do dia-a-dia da população. Buscam as orientações do jornalismo praticado pela grande imprensa, que prima pela veracidade das informações. A notícia, nesse contexto, deve ser recente, se possível inédita, cobrindo o “aqui e o agora”.
10. Expressão vigente na Bahia para designar os habitantes da capital estadual, a cidade de Salvador.
65
Divulgado como o carnaval dos 500 anos do descobrimento do Brasil, a festa seguiu essa tendência impulsionada, principalmente, pela exigência feita às escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo na utilização dessa temática em seus desfiles. O que podia se configurar como um período para publicação de matérias reflexivas e de retrospectiva histórica desses quinhentos anos acabou privilegiando o presente, o relato da festa em si, com dimensão espetacular, “onde a regra é praticar sistematicamente todos os excessos” (Da Matta, 1997, p. 73). Evidências conotadas pela imprensa estrangeira É possível dizer-se que a palavra “carnaval” suscita para os brasileiros uma série de situações que giram em torno de palavras como: folia, dança, samba, bebida, sexo, calor, alegria e aventura. De norte a sul do país aceita-se unanimemente que o carnaval é um momento de intercalação das atividades habituais, de mudança total de atitudes, de uma pausa, enfim, na monotonia diária, sendo que, após este período, a vida retomará o seu rumo normal como se nada de excepcional tivesse acontecido. Ao contrário de outras festas populares, o carnaval permite a participação de todos, ricos e pobres, jovens e velhos, até de membros de minorias sociais. Por essa razão, é facilmente compreensível que a visão pelos meios de comunicação social do País seja a de uma aceitação do fato em si, de uma eventual crítica a abusos ou excessos mas, em momento algum, o carnaval deixará de ser notícia, especialmente nos dias que antecedem o evento e no período de sua duração. A mesma coisa não se pode dizer dos países estrangeiros em geral, embora cada um tenha uma visão particularizadora quanto ao carnaval. Apesar de se notar nos últimos anos uma atenção e dedicação crescentes com referência ao carnaval em países norte-europeus, no Japão e nos Estados Unidos, a cobertura do fenômeno pela mídia fica muito a dever em relação àquilo que se observa no Brasil. A época em que ocorre o carnaval (fevereiro/março) não costuma ser muito rica em acontecimentos políticos e sociais nos países hegemônicos. Quase todos situados em regiões de clima temperado ou continental, seus habitantes lutam contra um inverno mais ou menos rigoroso. Suas pró66 • Comunicação e Sociedade 37
prias manifestações carnavalescas, quando as há, são acalentadas por marchinhas de um ou mais séculos de idade e as fantasias preferidas são roupas de palhaço ou peles de urso, muito apropriadas para o frio que costuma reinar na época. Por isso mesmo, chama a atenção um tipo de festival em plenas terras tropicais, com pessoas sumariamente vestidas, dançando ao rufar de imensos tambores. A alegria visível em todos os semblantes contrasta com as informações de cunho político-econômico que os estrangeiros costumam receber a partir do Brasil. Pode-se dizer, em termos gerais, que as notícias veiculadas pelos jornais estrangeiros analisados refletem, geralmente, o tipo de informações que normalmente são apresentadas ao público fora do Brasil. Desta forma, muitas dessas notícias são de cunho estereotipado e preconceituoso e isso se deve, a nosso ver, em grande parte à ação das agências noticiosas internacionais ou, então, aos correspondentes internacionais sediados no Brasil. Há ainda outros casos, como os da França e da Itália, em que existe um interesse em prestigiar os seus próprios festejos carnavalescos. Por esta razão, nem todas as matérias analisadas sobre o carnaval do ano 2000, que apareceram em jornais estrangeiros, refletem aquilo que os brasileiros gostariam de ver publicado. Para uma melhor análise, dividimos as imagens midiáticas do carnaval brasileiro de 2000 – visão estrangeira – em três partes. A primeira abrange a Europa Ocidental, com os países Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Portugal. A segunda trata dos Estados Unidos; e a terceira, da América Latina, englobando os seguintes países: Argentina, Bolívia, Chile, México, Uruguai e Venezuela. O total de jornais pesquisados foi de 49, sendo 21 da Europa Ocidental, 9 dos EUA e 19 da América Latina. Participaram, ao todo, 30 pesquisadores. Dos 49 jornais em questão, 8 não apresentaram notícia alguma a respeito do carnaval brasileiro, fato que em si já nos apresenta alguma informação, isto é, estes jornais acharam que não valia a pena noticiar algo sobre a nossa maior festa popular. Com exceção dos países da América Latina, onde muitas das notícias demonstram entusiasmo pelas festividades do país-irmão (só um desses jornais deixou de mencionar o carnaval brasileiro), os outros países consultados primaram pela brevidade e, em alguns casos, ressaltando aspectos negativos ou não-airosos. 67
Em nenhum jornal estrangeiro houve inclusão de matérias de cunho publicitário, assim como geralmente ocorreu nos periódicos nacionais. Em geral, países de maioria não-católica, como a Holanda, a Inglaterra e os Estados Unidos, fizeram menos e menores referências ao carnaval, o que era de se esperar, já que esta festa faz parte dos festejos de origem católica, não obstante a tradicional reserva por parte da Igreja. A maior parte dos jornais estrangeiros representa órgãos de prestígio nacional, havendo, porém, alguns casos de análise restrita a periódicos locais ou regionais. Essa subdivisão será mais bem apresentada ao tratarmos do assunto individualmente por países. Acreditamos, porém, que estes periódicos, no seu conjunto, representem o imaginário sobre o carnaval do Brasil. E isto quer dizer a publicação de notícias sem o contexto que representam. As notícias que falam, por exemplo, de um número maior de mortes ocorridas durante o período do carnaval do que no ano anterior não levam em consideração nem o aumento da população de um ano para o outro nem o número de habitantes das megalópoles brasileiras. Só as cidades-tipo São Paulo ou Rio de Janeiro têm uma população igual ou superior à de países como Bélgica, Holanda ou Portugal. Não houve também nenhuma matéria que tratasse sobre campanhas de saúde como a prevenção de aids. Salvo alguns correspondentes especiais enviados para cobrir o carnaval de 2000, a maioria dos jornais estrangeiros utilizaram os boletins das agências noticiosas internacionais, americanas ou européias. E o carnaval ainda fica como sinônimo de sensacionalismo. Tivemos, ao todo, 25 jornais de circulação nacional e 27 de circulação regional. Como há outras possibilidades de interpretação, especialmente falando-se dos Estados Unidos (onde mesmo os jornais regionais têm tiragens altas) e a Bolívia (onde acontece o oposto). Desta maneira, na prática, as duas categorias se equivalem. O que mais importa, entretanto, é a opinião generalizante que os diversos blocos de países apresentam e, neste caso, mais uma vez, destacamos os Estados Unidos, que, embora constituindo um país só, pelo seu tamanho geográfico e populacional, além de sua imprensa volumosa, equivalem, sozinhos, a um bloco.
68 • Comunicação e Sociedade 37
Não existe uma fórmula perfeita de se fazer uma análise condigna de conteúdo, mas procuramos fazer as observações da maneira mais cuidadosa possível. Um dos empecilhos, por exemplo, é a religião predominante em determinados países. O carnaval não deixa de ser uma celebração que tem por origem moderna a introdução dos praticantes do catolicismo na Quaresma. Assim, os católicos preparavam-se espiritualmente durante os quarenta dias que antecedem a maior celebração de sua religião, a Páscoa. A maneira visível era abster-se de álcool e de carne durante este período que se inicia com a quarta-feira de cinzas, dia geral de penitência e de perdão. Daí a festejada “terça-feira gorda” (mardi gras) ou, então, o “carnevale” (viva a carne! ou “adeus, carne!”) de origem, respectivamente, francesa e latina. Nos países de predomínio protestante, como os aqui analisados Holanda, Inglaterra e Estados Unidos, se tende a considerar o carnaval como o avesso de tudo o que podem recomendar os bons costumes. Este aspecto será ainda avaliado quando tratarmos especificamente destes lugares. A seguir, vejamos comparativamente as imagens midiáticas do carnaval brasileiro do ano 2000 nos jornais da América do Norte e, em seguida, nos jornais da América do Sul. América do Norte Estados Unidos Os Estados Unidos possuem seu próprio carnaval, mas este é restrito à cidade de New Orleans, que já pertenceu à antiga colônia francesa, a Nova França. Por isso mesmo se mantém aí o “mardi gras”, atualmente festejado com os alegres tons do Dixieland jazz. A tendência geral nos Estados Unidos é de puritanismo e, assim, espera-se ver o carnaval, sobretudo o brasileiro, como sinônimo de pecado e má conduta. No entanto, as notícias apresentadas para esta pesquisa mostram o contrário: apenas uma das matérias fala de assassinato. Trata-se de um cidadão norte-americano de Chicago que foi morto em um assalto durante o carnaval no Recife (“Chicago man working in Brazil killed”). The New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, dá uma 69
matéria de página inteira com o título “Carnival is a good idea for all of us” (“O carnaval é uma boa idéia para todos nós”). As coisas devem estar mudando na terra do Tio Sam. A pesquisa nos Estados Unidos foi feita por Monica Rector, professora da Universidade da Carolina do Norte. Ela é co-autora de um importante estudo sobre o carnaval, publicado sob a organização de Umberto Eco, chamado “El código y el mensage del carnaval: escolas-desamba” (1984, p. 37-165). A autora ressalta ainda que foram publicas mais quatro matérias sobre o carnaval brasileiro, porém fora do âmbito temporal da pesquisa. São elas: • Los Angeles Times (13 de março) • Miami Herald (17 de fevereiro) • Chicago Tribune (14 de fevereiro) • New York Times (26 de fevereiro) Como se pode notar, quase todos jornais de grande prestígio nacional registraram o maior evento folkmidiático do Brasil. O levantamento regular, dentro do espaço temporal previsto, foi a partir dos seguintes jornais: • Atlanta Journal-Constitution (Atlanta, Georgia) • L.A. Times (Los Angeles, California) • Miami Herald (Miami, Florida) • Chicago Tribune (Chicago, Illinois) • Boston Globe (Boston, Massachussetts) • New York Times (New York, NY) • Denver Post (Denver, Colorado) • Washington Post (Washington DC) • News And Observer (Releigh, North Carolina) Alguns dos jornais citados estão entre os mais prestigiosos do país, como L.A.Times, Chicago Tribune, New York Times e Washington Post. Os outros são de grande importância regional. Registros Vejamos os registros carnavalescos feitos separadamente nesses jornais: • Atlanta Journal-Constitution – Nenhuma ocorrência. 70 • Comunicação e Sociedade 37
• L. A. Times – Nenhuma ocorrência durante o período previsto, mas houve publicação de uma matéria no dia 13 de março. • Miami Herald – Nenhuma ocorrência durante o período indicado para a pesquisa, mas houve uma no dia 17 de fevereiro. • Chicago Tribune – Houve uma matéria publicada no dia 05.03.2000, de 302 palavras, com o título “Chicago man working in Brazil killed” (“Morto homem de Chicago que trabalhava no Brasil”). Tratava-se de um estudante de medicina que terminara sua residência num hospital brasileiro e decidira passar o carnaval no Recife. Ao dirigir seu carro, com mais dois amigos, foi morto por assaltantes, que conseguiram fugir. Registrou-se outra notícia, fora do tempo prescrito, no dia 14 de fevereiro. • Boston Globe – Uma notícia no dia 07.03.2000, de 589 palavras. O título: “Feathers, flash, end flesh: Rio pulsates to carnival” (“Plumas, flash e carne: Rio se agita para o carnaval”). Há uma descrição de turistas entusiasmados com as mulheres semi- ou inteiramente nuas. A seguir, um relato de como funciona um desfile de escolas e, ao término, informações sobre os 300 mil turistas estrangeiros que “invadiram” o Rio de Janeiro e os 36 mil policiais que cuidaram da segurança. • New York Times – Com uma ocorrência de 1.799 palavras, no dia 05.03.2000. A matéria ocupa toda uma página e tem títulos como “Spring music / Carnival” (Música da primavera / Carnaval), “Carnival is a good idea for all of us” (“O carnaval é uma boa idéia para todos nós”), “Taking the music to the street” (“Levando a música para a rua”). “O carnaval é uma boa idéia” é uma explicação genérica do carnaval, inclusive o de New Orleans. “Levando a música para a rua” é uma extensa reportagem sobre o carnaval de Salvador, com seus trios elétricos e escolas locais. A euforia carnavalesca reverbera até no modo de se escrever a respeito. • O mesmo jornal ainda apresenta outra matéria fora do tempo previsto (em 25 de fevereiro e que, por isso, não será aqui analisada). • Denver Post – também apresenta uma notícia no dia 27 de fevereiro. São 1.547 palavras no caderno de Turismo. Chama-se “Salvador’s carnival reverberates with music, dance, revelry” (“O Carnaval de Salvador reverbera com música, dança e folia”). Como o título já indica, trata-se 71
do carnaval soteropolitano e há uma vívida descrição do carnaval de rua. Há fotos com a banda feminina, o Elevador Lacerda e um trio elétrico seguido por uma multidão de foliões. • The Washington Post – apresenta uma matéria dupla: “Rio poor’s day in the sun” e “Once a year, spotlight shines on Rio’s poor” (“O dia do pobre do Rio no sol” e “Uma vez ao ano os refletores focalizam o pobre do Rio”). Esta notícia trata do longo e custoso preparo de carros alegóricos e fantasias por parte da população pobre do Rio de Janeiro. A matéria tem 1.073 palavras e foi publicada no dia 05.03.2000. • News and Observer – publica apenas um texto-legenda mostrando um cidadão preparando um carro alegórico, com o título “Getting ready for the party” (“Aprontando-se para a festa”). Data: 02.03.2000. Categorias comunicacionais a) Jornalismo: 06 b) Publicidade: 00 Eixos temáticos a) Tradição 03 – Inovação 03; a1. Celebração: ritos 04 – motivações 02; a2. Simbologia: cenários 05 – personagens 01; a3. Natureza da festa: estruturas 05 – elementos 01. b) Espaço/tempo: b1. Territorialidade: global 00 – nacional 01 – regional 03 – local 02; b2. Temporalidade: passado 00 – presente 05 – futuro 00 c) Público 05 – Privado 01; c1. Ambientação: locais 01 – funções 02 – limites 01 – figurações 02; c2. Atores sociais: instituições 03 – classes 01 – comunidades 01 – pessoas 01. Estratégias comunicacionais a) Informação 06 – Persuasão 00; a1. Noticiário: relatos 06 – intenções 00 – argumentos 00; a2. Anúncios: produtos 00 – patrocinadores 00 – público-alvo 00. b) Texto 06 – Ilustração 05; b1. Codificação: linguagem 06 – retórica 00; b2. Evidenciação: fotos 05 – gráficos 00 – caricaturas 00 – outros 01. 72 • Comunicação e Sociedade 37
Tendências Algo muito positivo é a matéria do New York Times (um dos maiores jornais dos Estados Unidos). Há uma matéria introdutória. “Carnival is a good idea for all of us” (“O carnaval é uma boa idéia para todos nós”), em que se dá um histórico do carnaval em si e em particular sobre o dos Estados Unidos, ressaltando a influência católica e africana. Em seguida, o jornal traz uma matéria, “Taking the music to the street” (“Levando a música para a rua”), em que trata especificamente do carnaval – com seus trios elétricos – de Salvador. Lembra, também, a grande influência africana na Bahia, com muitos detalhes. Outro jornal que dá muito destaque ao carnaval brasileiro – em particular, o de Salvador – é The Denver Post, que, além de descrever detalhadamente os festejos de Salvador, apresenta um mapa e dá indicações detalhadas de como chegar lá. Outro jornal de grande prestígio nacional norte-americano, o Washington Post, fala da sina dos pobres do Brasil e de como eles têm uma grande alegria anual para a qual não medem sacrifícios financeiros. Apesar da frieza de um país notoriamente protestante e puritano, os jornais norte-americanos estão, pouco a pouco, dando maior importância àquilo que se passa na América Latina em geral e no Brasil em particular. Em tempo: não se engane o leitor brasileiro assinante de revistas estadunidenses como Times e Newsweek, pois estas mantêm edições especiais para a América Latina (assim como o fazem para a Europa e a Ásia). Para se saber o que estes órgãos realmente publicam sobre nós, é preciso obter a edição nacional americana. Em todo caso, a vantagem de uma pesquisa como “Imagens midiáticas do carnaval brasileiro – visão estrangeira” está no fato de se poder verificar com maior acuidade o que os jornais dos países analisados realmente publicam sobre uma faceta da cultura brasileira. E é por isso que podemos concluir que um público essencialmente preocupado por notícias locais, regionais e nacionais e que raramente é confrontado com eventos internacionais (com exceção de guerras e cataclismos) recebeu até material considerável sobre o nosso carnaval. Além disso, nota-se bem menos ênfase nos aspectos negativos, geralmente atribuídos a um país como o Brasil, do que se pode notar em alguns países europeus. 73
México A pesquisadora Myriam Vilhena de Moraes estudou dois jornais diários da Cidade do México: o tradicional diário El Universal e o novo jornal La Jornada, que nasceu como alternativa à imprensa oficialista, ainda durante o regime liderado pelo PRI - Partido Revolucionário Institucional.. O periódico El Universal não menciona o carnaval brasileiro. Por outro lado, La Jornada trouxe quatro reportagens sobre o assunto. São espaços pequenos que o maior carnaval do século ocupa em La Jornada. Todo o material colhido é de cunho jornalístico. Mostra a tradição da festa, seus ritos, cenários e personagens. Mas diz respeito apenas ao carnaval do Rio de Janeiro, que celebrou no sambódromo os quinhentos anos do descobrimento do Brasil. De cunho global, o material é de agências de notícias como a Reuters. O tempo é sempre em relação ao presente da festa, que apresenta um perfil público, onde os atores sociais são as instituições. Em geral, são pequenos relatos com destaque para fotos. Datas e títulos 04.03.2000 – “La tradición en Río”; 05.03.2000 – “Tres formas de celebrar”; 06.03.2000 – “Vaivén carioca”; 07.03.2000 – “Ya ya ya, ya ya ya yaaa! Categorias comunicacionais a) Jornalismo: 04 b) Publicidade: 00 Eixos temáticos a) Tradição 04 – Inovação 00; a1. Celebração: ritos 04 – motivações 00; a2. Simbologia: cenários 03 – personagens 01; a3. Natureza da festa: estruturas 03 – elementos 01. b) Espaço/tempo: b1. Territorialidade: global 04 – nacional 00 – regional 00 – local 00; b2. Temporalidade: passado 00 – presente 04 – futuro 00 c) Público 04 – Privado 00; c1. Ambientação: locais 00 – funções 00 – limites 00 – figurações 00; c2. Atores sociais: instituições 03 – classes 00 – comunidades 00 – pessoas 01.
74 • Comunicação e Sociedade 37
Estratégias comunicacionais a) Informação 04 – Persuasão 00; a1. Noticiário: relatos 01 – intenções 00 – argumentos 00; a2. Anúncios: produtos 00 – patrocinadores 00 – público-alvo 00 b) Texto 04 – Ilustração 04; b1. Codificação: linguagem 04 – retórica 00; b2. Evidenciação: fotos 04 – gráficos 00 – caricaturas 00 – outros 00. Tendências O que chama a atenção nesta análise do México é a quase unanimidade de respostas.Vejamos: “jornalismo” – 4; “ritos” – 4; pequena mudança em “simbologia” –3 x 1; idem em “natureza da festa”. “Espaço e tempo”: igual, menos em “atores sociais”: 3 x 1. Também tudo igual em “estratégias comunicacionais”. Isso significa para nós que os mexicanos consideram o carnaval brasileiro apenas uma tradição, onde dominam os ritos, os cenários e as estruturas. Portanto, tudo o que tende a ser fixo. Não se interessam pelas inovações. Nem há menção alguma a respeito do Carnaval dos 500 anos. Apenas umas breves palavras sobre a proibição da Igreja Católica do uso de objetos religiosos no desfile. Todas as ilustrações mostram mulheres sumariamente vestidas e nada mais. América do Sul Uma das grandes características dos países sul-americanos, especialmente durante os últimos anos e, em particular, desde a organização do Mercosul, é o aumento de interesse nas notícias de uns pelos outros. O carnaval parece não fazer exceção, aqui. Entre os países que participaram da pesquisa do carnaval de 2000 são notáveis os muitos relatos sobre a grande manifestação popular oriunda do Brasil. Em geral, os países da região, através de sua mídia, demonstram ter mais contato com o carnaval. Embora cada nação ibero-americana tenha seu próprio carnaval, todos dão inequivocamente sinais de conhecer e apreciar o grande festival popular brasileiro. Argentina A República Argentina tem um carnaval mais tranqüilo, não tão aparatoso como o brasileiro. A análise da mídia do país foi feita por 75
Gustavo Cimadevilla, da Universidade Nacional de Río Cuarto. Sua pesquisa tomou como base quatro jornais: El Clarín e La Nación, ambos de Buenos Aires e de circulação nacional; La Voz del Interior, jornal provincial de Córdoba; e Puntal, órgão regional da cidade de Río Cuarto. A análise foi feita levando-se em consideração todas as matérias jornalísticas sobre o carnaval em geral, isto é, do argentino e do brasileiro. Por isso, os eixos temáticos aparecem com dados de enfoque diverso. Reproduzimos, a seguir, somente as informações de Cimadevilla que se referem ao Brasil. Nas seis matérias estudadas que explicitamente fazem referência ao carnaval brasileiro – número praticamente insignificante se considerarmos que se trata de quatro diários conhecidos e de um período de duas semanas –, a impressão geral é a de que seja o verdadeiro carnaval ou, ao menos, de que seja o lugar onde por princípio reside o carnaval tal qual é e como deve ser. As notícias se referem às escolas e aos carros alegóricos, praticamente não existentes na Argentina – a não ser na província de Corrientes, vizinha ao Brasil. No entanto, a informação é pobre, dáse tudo por subentendido, como se falar sobre o fenômeno já implicasse conhecer o seu significado e seus rituais. O carnaval na Argentina passou desapercebido diante de outras notícias do cotidiano, que, quando citaram o Brasil, o fizeram para considerá-lo como sócio forte no Mercosul e quanto à sua política diante da cota de autopeças que regem os intercâmbios da indústria automobilística. Se houve citação do carnaval, foi na página de espetáculos, não a citação principal, mas bem subsidiária. É lugar obrigatório porque assim o indica o calendário da imprensa, mas não porque é a gente exija essas páginas com notícias sobre o modo de ser e de viver essa festividade. É carioca ou é européia? É brasileira ou veneziana? É claro que o carnaval seja evocado quando as instituições pensam como homenageá-lo a fim de tirar proveito para a política ou para a economia da indústria cultural. Mas o carnaval já foi maior, sentenciam os dois únicos artigos que dão maior projeção interpretativa às escassas matérias publicadas. A política, então, nessa diminuição de viver o modo em que se administra a realidade, parece haver arrebatado a alegria à cultura.
76 • Comunicação e Sociedade 37
Neste âmbito, perguntar-se sobre a projeção que tem o Brasil através de seu carnaval e o modo pelo qual se transmite e constrói seu ethos cultural tem pouco sentido, porque a própria audiência leitora parece terse guardado dos significados que o decodificam como se fossem figuras de coleção para compor a história do passado. Nessa apresentação, o Brasil parece continuar a se ver como sinônimo do carnaval que continua ano após ano sem supor alteração. No entanto, se for parâmetro, já não importa, porque não há no carnaval argentino muito a comparar. Vemos, assim, que das 25 matérias que saíram nos jornais consultados, seis se referiam ao carnaval brasileiro, sendo uma delas de cunho publicitário. Segundo Cimadevilla, a matéria de cunho publicitário saiu no jornal La Voz del Interior, enquanto que matérias específicas sobre o carnaval brasileiro foram publicadas no Puntal (1) e La Voz del Interior (2), sendo de supor-se que tenha saído uma em cada um dos jornais de âmbito nacional, La Nación e El Clarín. Bolívia A Bolívia apresentou o maior número de matérias: nada menos do que 73. Desse conjunto, 72 foram de cunho noticioso e, assim, houve somente uma de conteúdo publicitário. Os pesquisadores foram Erick Torrico Villanueva, assistido por Karina Herrera Miller, do Cibec - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (La Paz). Compuseram uma equipe formada por pesquisadores de várias cidades, que.consultaram nove jornais – cinco de La Paz, dois de Cochabamba e dois de Santa Cruz de la Sierra. Os periódicos foram os seguintes, com as quantidades de matérias publicadas: • La Razón (La Paz) – 18 • Presencia (La Paz) – 8 • La Prensa (La Paz) – 2 • El Diario (La Paz) – 10 • Última Hora (La Paz) – 8 • El Nuevo Día (Santa Cruz de la Sierra) – 5 • El Deber – (Santa Cruz de la Sierra) – 8 • Opinión (Cochabamba) – 9 • Los Tiempos (Cochabamba) – 5 77
O que chamou a atenção é que os periódicos de Santa Cruz de la Sierra, cidade situada no lado oriental da Bolívia e vizinha do Brasil, teve uma cobertura escassa nos dois matutinos estudados, ao passo que a cidade de La Paz, mais distante do Brasil, deu a maior importância ao carnaval brasileiro, em particular o jornal La Razón, um dos mais destacados no âmbito nacional. Na Bolívia, o carnaval é uma festa herdada da tradição importada pelos colonizadores espanhóis, embora na parte ocidental do país – povoado por habitantes de origem aimara – esta manifestação se vincule a uma festividade agrícola antiga (La Anatas) ligada ao período do semeio. Atualmente, o que predomina nos carnavais são as denominadas “entradas folclóricas”, que são desfiles de grupos de dançarinos acompanhados de bandas de música e que acontecem nas ruas de quase todas as cidades principais e de povoados importantes. Nestes desfiles podem-se apreciar tanto a multiplicidade das expressões folclóricas como as peculiaridades regionais. A Bolívia possui três áreas: o altiplano, os vales e o trópico. Nas duas primeiras, a celebração é parecida em sua organização, composição e realização, ao passo que na terceira há uma clara diferenciação e uma certa influência do carnaval brasileiro. A propósito do lugar ocupado pelo imaginário carnavalesco da Bolívia, registraram os colaboradores do Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación o que segue. “Al menos desde hace unos 25 años el Brasil es un referente obligado cuando de carnavales se trata. Los informes de la prensa, las fotografías, los viajes organizados y, más recientemente, las transmisiones televisivas en directo han situado al Brasil quizá como la expresión culminante del carnaval en América Latina. Es posible afirmar, en este sentido, que una imagen identificatoria del Brasil y de lo brasileño es el carnaval y, además, el carnaval de Rio de Janeiro, que despierta gran interés principalmente por los niveles de espectacularidad y permisividad que alcanza. Pero, aparte de ello, y en especial desde la década de 1980, la música de origen brasileño está presente en las fiestas carnavaleras bolivianas, tanto en los hogares como en las discotecas públicas. Las “entradas” se caracterizan más bien por utilizar casi en exclusiva música nacional boliviana.
78 • Comunicação e Sociedade 37
En cuanto a la influencia brasileña en el imaginario carnavalesco, donde se puede decir que existe es en el carnaval de Santa Cruz y algo también en el del Beni, ambos departamentos fronterizos con Brasil. Sobre todo en el primero se advierte un intento de asemejarse en vestuario y ritmo a las prácticas brasileñas.” Chile Foram investigados dois dos mais importantes diários do Chile, ambos de Santiago: El Mercurio e La Tercera. É das pesquisadoras, Lucía Castellón e Varinia Cuello Riveros, o relato que segue. A essência da celebração do carnaval foi noticiada como uma festa percebida como uma alegoria sobre a história do Brasil, dando-se ênfase aos quinhentos anos do descobrimento deste país. Reproduziram-se as circunstâncias da chegada dos portugueses ao Novo Continente. Também se deu ênfase a vivências históricas traumáticas como a repressão vivida pelos escravos negros e, também, pelos opositores da ditadura militar que viveu esta nação. Considera-se a cidade do Rio de Janeiro como o epicentro do carnaval, onde se reúnem milhares de pessoas, entre elas, muitas mulheres bonitas. Destaca-se o brilho, o glamour e a cor apresentados em toda a celebração, especialmente o desfile das escolas. No entanto, o que mais impressiona é a alegria na dança dos cariocas. É uma celebração muito popular – faz parte de todo o Brasil e de todo o mundo – que, nestes anos, também faz parte da informação, uma vez que a tecnologia também não está fora desta festa. Existem muitas páginas na web criadas para a difusão deste evento. Trata-se de um momento de euforia antes da Quaresma, uma vez que está inserido num contexto cultural cristão. E se julga comumente que muitas pessoas participam deste evento, pois querem aproveitar a folga que se oferece antes do jejum e da abstinência do período da Quaresma. Neste mesmo cenário registraram-se muitos fatos de violência. Estes estão sempre presentes nesta celebração, tanto os acidentes nas estradas como as brigas e os assaltos. Pode-se dizer que é uma festa brasileira onde há muitos excessos, onde se passa muito bem, mas o ambiente é perigoso, especialmente no Rio de Janeiro, uma vez que há muitos assaltos, acidentes e mortes. 79
Trata-se de um evento polêmico, que sempre gera problemas sem se importar com a natureza; há sempre um espaço para gerar conflito social. Na celebração podem-se ver muitas mulheres bonitas e que usam pouca roupa. Também costumam participar modelos de televisão ou de passarelas e, pelo fato de estarem participando do desfile, têm a possibilidade de ficarem famosos (se já não o são). Os brasileiros que participam são pessoas muito alegres e que vão bem fantasiadas. Supõe-se que o mais importante para eles seja o concurso das escolas de samba. A paixão pelo desfile em si ultrapassa os aspectos técnicos. Percebe-se que o carnaval é perigoso, uma vez que põe em risco a segurança das pessoas que participam dele. Acontecem muitas mortes por acidente e, em geral, os prejudicados não são os brasileiros, mas, sim, os turistas. Qual o lugar do Brasil no imaginário carnavalesco? Sob esta perspectiva, o Brasil é um país onde seus habitantes vivem com muita alegria e a música tem um lugar muito importante em suas vidas, especialmente a dança. São pessoas desinibidas; as mulheres e os homens não têm vergonha de mostrar o seu corpo. Os brasileiros se fantasiam para o carnaval e a maior parte do tempo demonstram alegria tanto nesta festa como em outras ocasiões. Pode-se reconhecer que o carnaval é um evento muito importante ao qual dedicam muito tempo. O Brasil brilha pelo seu carnaval. Neste sentido, pode-se ver o Brasil como um país cujos habitantes são bons para os folguedos e para as festas, sempre estão prontos, quando se trata de celebrar, de irem para as ruas. Com sua forma de festejar, influenciam o mundo através do meios de comunicação de massas e as tecnologias digitais. É um país que, em geral, está cheio de turistas, mas que, nestas datas, é visitado por maior número. O Brasil também se transforma num lugar contraditório, já que tem, por um lado, alegria, dança e paixão e, por outro, violência, acidentes e morte. Com referência aos eixos temáticos, podemos concluir que no Chile somente se informa acerca do carnaval, não existindo nenhum tipo de análise mais profunda deste tipo de informação. Isto significa que este tipo de notícia não cala fundo na realidade nacional, mas que faz parte da situação do nosso continente, uma vez que a distância da origem da notícia faz destacar e desenvolver menos estes tópicos. 80 • Comunicação e Sociedade 37
Em geral, a expressão do carnaval está mais vinculada à tradição do povo brasileiro que se transmitiu de geração em geração e que alcançou grande magnitude. Devido ao avanço dos meios de comunicação, esta festa pode ser observada ao vivo de distantes pontos do planeta. A celebração do carnaval é vivenciada por todos os brasileiros como um todo onde cada parte tem o seu papel. São as motivações das pessoas, a alegria e a euforia que os levam a dançar e a se expressarem. Este evento na sociedade brasileira tem um impacto importante, moldando as atividades dos brasileiros em função desta celebração. O Rio de Janeiro é o centro da festa e é lá onde tudo acontece, isto porque o concurso das escolas de samba se desenvolveu nesta cidade. Esta situação leva a pensar que seja um lugar cobiçado pelos estrangeiros para ser visitado nas férias. Com referência às estratégias comunicacionais: apesar de o gênero informativo ser o mais desenvolvido nas notícias sobre o carnaval, pode-se encontrar persuasão na forma de comunicar. Devido à natureza visual do carnaval brasileiro, não é estranho que todas as notícias relativas ao evento tenham fotografias e que, em mais da metade delas, seja a foto o que comunica e informa mais do que o texto. O que faz ressaltar as características da festa: muito visual e colorida. Com referência aos aspectos culturais, através dos carros alegóricos no desfile do carnaval os brasileiros refletem sua história, sua vida, aquilo que eles vêem e sentem que devem mostrar aos outros. Devido à alegria que os brasileiros refletem nesta festa, se generaliza a imagem de que eles sempre sejam alegres, sejam bons para freqüentar festas, para beber algo, para o uso de drogas e para dançar. Isto devido à imagem de que no carnaval ocorram muitos excessos. Apesar disto não se apaga a sensação do Brasil como sendo um país alegre. Os brasileiros são pessoas que não têm problemas em mostrar o corpo, utilizando trajes que assim o manifestem. Neste mesmo sentido têm mais consciência do espaço público e o ocupam; vão às ruas para celebrar. Podemos então concluir que somente uma parte da vivência do carnaval brasileiro seja retratada pelos meios de comunicação chilenos aqui estudados, devido ao fato de que só se resgata o vivido em uma cidade, Rio de Janeiro, que, em um país tão grande, constitui somente uma pequena parcela de sua realidade. Não se resgata a vivência do carnaval em pequenas cidades onde se comemora esta festa. 81
Esta apresentação do carnaval, por sua natureza, celebrando os quinhentos anos do Brasil, reforça muito a identidade cultural brasileira, já que vincula o desfile à própria história do país. E este processo é uma auto-afirmação do Brasil como nação com sua cultura particular. Uruguai O jornal consultado foi El País, um dos órgãos de maior prestígio do Uruguai. O pesquisador foi Roque Faraone, tendo sido analisadas ao todo seis matérias jornalísticas e três publicitárias. Como um todo, pode-se concluir que praticamente todas as informações a respeito do carnaval brasileiro são de cunho favorável. Tudo parece paz e alegria do ponto de vista do jornal El País. Transcrevemos, a seguir, o resumo feito pelo próprio Roque Faraone. Em geral, o jornal traz boas notícias sobre o carnaval brasileiro, apesar de o enfoque ser praticamente da festa do Rio de Janeiro e da cobertura do Canal 12 sobre o carnaval. A cobertura começa no dia 4 de março com duas reportagens e um anúncio publicitário. A primeira reportagem fala da tradicional cobertura que o Canal 12 de televisão faz do carnaval, onde o apresentador Julio Alonso traz as impressões da maior festa de carnaval do mundo, que acontece no Brasil. Destaca o tema dos quinhentos anos. A segunda reportagem fala da participação dos uruguaios no carnaval do Rio, salientando novamente a cobertura do canal de televisão e da participação de Carolina González como condutora estética da Escola de Samba BeijaFlor. O anúncio é do Canal 12 de televisão, que iria estar transmitindo o carnaval do Rio de Janeiro, intitulado “Amanhã será um dia muito gostoso”. Traz uma grande foto do Rio de Janeiro. A cobertura do dia 5 de março traz uma reportagem e um anúncio. O anúncio dessa vez ganha página inteira e é novamente sobre a cobertura que o Canal 12 está fazendo. A reportagem dá um deferimento todo especial ao carnaval do Rio de Janeiro, dizendo no título que é o maior. A matéria diz que o carnaval do Rio de Janeiro é uma convocatória mundial que começa com um desfile que traz polêmica por causa do uso das imagens sagradas no desfile. 82 • Comunicação e Sociedade 37
Vejamos alguns detalhes da reportagem.“Esta noite começa o carnaval mais famoso do mundo.” (...) “O carnaval de 2000 é dedicado à recordação dos quinhentos anos da chegada dos portugueses.” (...) A história será explorada em suas mais ricas variedades, que vão das solenidades da corte real aos reis dos mendigos; da Guerra do Paraguai à ditadura militar e às lutas lideradas pelos artistas e estudantes.” (...) “Mas quem mais tem sentido o impacto das alegorias é o setor da Igreja Católica, que realizou protestos pelo tratamento que se iria dar à sua iconografia sagrada.” Até o dia 8 de março não aparecem mais informações sobre o carnaval. Neste dia surge uma reportagem intitulada “200.000 pessoas se divertiram no sambódromo do Rio de Janeiro”. Traz um panorama da festa e dos desfiles. Da participação dos jogadores de futebol e da polêmica da Vila Isabel. Detalhe da reportagem: “A modelo Angela Bismark foi uma das figuras mais destacadas no desfile da escola de Vila Isabel, já que pintou a bandeira brasileira sobre seu corpo completamente desnudo. Ao finalizar o desfile, a modelo foi encarada por dois efetivos da polícia que pretendiam detê-la por suposta afronta aos símbolos nacionais.” O dia 9 de março apresenta uma matéria sob o título “Carnaval: Rio coroou a Imperatriz Leopoldinense”. A notícia traz o resultado do carnaval consagrando pelo segundo ano consecutivo a Imperatriz Leopoldinense. Fala também da expectativa das escolas em acompanhar o resultado. O dia 11 de março apresenta uma nota sobre a cobertura do carnaval pela televisão uruguaia e um anúncio da transmissão dos melhores momentos da festa. Uma visão também acurada pode ser obtida pela análise dos questionários. Por ela, observa-se que os uruguaios consideram o carnaval brasileiro essencialmente um elemento de tradição, embora as motivações ultrapassem o ritual em si. Por outro lado, os cenários são mais convincentes do que os personagens, naturalmente, porque conhecem menos o “estrelato globalizado carioquês” que tanto embevece o público brasileiro. Quanto à natureza da festa, a parte variável chama mais a atenção do que a fica (elementos x estruturas). Os uruguaios vêem o carnaval brasileiro como um elemento totalizante – global, portanto, e pensam, ao contrário de todos os outros países, inclusive o próprio Brasil, em termos de futu83
ro. (Isso talvez seja devido a notícias antecipadoras do carnaval. Não se esperou a festa começar.) Não se levou em consideração o caráter privado; apenas o público (com nove citações). As instituições dominaram a festa (também nove citações), em detrimento de organizações menores ou de pessoas. Predominou o jornalismo informativo, assim como a persuasão simples, ao se tratar de matérias publicitárias. Pode-se concluir dizendo que, juntamente com a visão boliviana, a uruguaia é a que apresenta uma apreciação simpática e favorável do fenômeno carnavalesco carioca e só perde ao não mencionar nada do carnaval gaúcho, tão pertinho de suas fronteiras. Ve n e z u e l a O pesquisador Oscar Lucien consultou o diário El Nacional, impresso em Caracas, um dos órgãos de maior prestígio na Venezuela. Com tiragem de 250 mil exemplares, alcança todo o território.É de uma tradição familiar de longa data, marcando como linha editorial uma postura “liberal” frente ao corpus informativo da realidade venezuelana. O pesquisador baseia esta opinião em contraste com outro periódico de tendência mais conservadora, mas também de grande prestígio e de mais antigüidade – El Universal. Foram encontradas 32 registros baseados no modelo de pesquisa solicitado. O pesquisador constatou que, na atualidade, a tradição carnavalesca venezuelana não apresenta maiores qualidades para uma exploração como indústria cultural; coisa que aparece no carnaval brasileiro, que se constitui em uma citação obrigatória em nível mundial. A mídia venezuelana destacou essa evidência na ocasião, marco dos quinhentos anos de Brasil. O relato sobre de Lucien sobre o carnaval na cultura venezuelana é conciso, mas perspicaz, como se vê na seqüência. “De la tradición (marcada por el largo tránsito de la Colonia), quedaron expresiones típicas en algunos pueblos, ligadas al carnaval. Citaremos algunas: el encierro del gallo (en Mérida), la fiesta de los Locos (en Sanare), el entierro de la sardina, la burriquita (de la costa nororiental), pero no podemos extendernos más sobre este punto ampliamente registrado por una literatura relacionada. Por supuesto sin 84 • Comunicação e Sociedade 37
dejar de mencionar por su belleza y tradición los carnavales del oriente y sur del país, para ello dos perlas: el carnaval de Carúpano y el carnaval de El Callao, todo esto bajo una conexión subterránea con el mundo del Calipso e el Steel Band de Trinidad y el Caribe. Realmente a propósito de todo esto, sentimos que nos quedamos cortos de palabras frente a un imaginario y una realidad soterrada de nuestra cultura. Históricamente en nuestra vida como república, una fiesta que en cada uno de nuestros barrios, en donde lo primero que nos viene a la mente es el juego de bañar al vecino si se descuida, también ha sido paso obligado de nuestros caudillos de turno, entre ellos: El Ilustre Americano, (San) Cipriano Castro, la dictadura de Peréz Jiménez, donde afloran los carnavales impresionantes de nuestra historia, todos ellos llenos de grandes comparsas para las carnestolendas y majestuosos bailes venecianos.” “En realidad, es poco lo que tenemos que decir sobre la actualidad, en un mundo contrarreloj, surge un contingente humano desconectado de estos ritos, y que sólo le interesa, escaparse (aislarse) para buscar un poco de tranquilidad o simplemente olvidarse de su entorno. Y los disfraces sólo quedan para los más pequeños, donde los niños caraqueños aprovechan de encarnar personajes extraídos de la televisión y los medios, o donde promovemos eventuales concursos de belleza en caravanas públicas, como es el caso para hacer parodia de alguno que otro luciferino caudillo suramericano, o lo que da igual, algún boxeador de turno. Sin embargo, los mitos no mueren, sólo se transforman. Recientemente presencié la última realización cinematográfica de Polansky titulada La última puerta, donde justamente el personaje central para penetrar la última puerta, ya en las últimas escenas, posee una bella mujer, que sale mostrando el busto (el hombre acostado) en trance del éxtasis, casi danzando, diría. La imagen no es nada nuevo, y hasta podemos sacarle como equivalente venezolano la estatua ecuestre de Maríalionza, “La reina de Sorte”, fuertemente arraigada a nuestro imaginario venezolano. Reiteramos, las estructuras arquetípicas de nuestro inconsciente no son abandonadas, sin embargo cambia su modo de representación y materialización temporal.” O pesquisador, Oscar Lucien, não faz comparações entre o carnaval venezuelano e o brasileiro. Supomos, contudo, que a quantidade expres85
siva de matérias que foram publicadas por um só periódico mostra bem a importância que o carnaval brasileiro alcança na Venezuela. Conclusões As evidências coligidas e sistematizadas durante a pesquisa permitem concluir que efetivamente o carnaval brasileiro se converteu num evento folkmidiático de grande significação nacional, hibridizando as tradições populares e as expressões culturais da sociedade de massas. Coexistem em todo o País manifestações espontâneas da população, enraizadas nas cultura luso-afro-ameríndia, ao lado dos espetáculos promovidos pela indústria da diversão coletiva. As imagens de ambas os eventos são captadas, codificadas e difundidas pela imprensa nacional e estrangeira. Os resultados do estudo sobre a imprensa brasileira revelam que, sem exceção, os jornais diários do País pautam os movimentos carnavalescos e lhes dão cobertura singular durante todo o período festejado. Alguns deles extrapolam os registros contidos nas editoriais locais, publicando suplementos especiais durante as celebrações momescas. Apesar de emergente, o negócio carnavalesco começa a ter significação para a imprensa diária, onde são veiculados anúncios que promovem a venda de produtos destinados aos foliões ou aos ociosos que se retraem durante a grande festa nacional. Embora todos os jornais brasileiros façam a cobertura dos carnavais locais ou regionais, sem dúvida o símbolo do carnaval do Brasil situa-se no Rio de Janeiro, apesar da presença significativa das celebrações da Bahia e residualmente daquelas registradas em Pernambuco e em São Paulo. No que tange à cobertura da imprensa estrangeira, confirma-se o princípio da proximidade como determinante do agendamento informativo. Comparando a imprensa das Américas com a imprensa da Europa Ocidental, verifica-se que o maior volume de notícias sobre o carnaval brasileiro procede dos jornais sul-americanos, mostrando-se crescente a cobertura da imprensa dos Estados Unidos, em contraste com a pequena incidência observada no México. Se, no território americano, predominou o fator “proximidade geográfica”, no espaço europeu prevaleceu o fator “proximidade cultural”. A cobertura dos jornais ibérico-lusófonos (Portugal e Galícia) foi 86 • Comunicação e Sociedade 37
maior que a dos jornais anglo-saxões (Inglaterra e Holanda) e latinos (Bélgica, França e Itália). Apesar disso, a cobertura estrangeira, com exceção de países limítrofes (Bolívia e Uruguai), mostrou-se sensacionalista e preconceituosa, difundindo principalmente os estereótipos que compõem a imagem negativa do Brasil que circula na mídia internacional. A ênfase das matérias jornalísticas pautadas por agências noticiosas, correspondentes estrangeiros ou enviados especiais recai sobre o binômio violênciaerotismo, minimizando ou ignorando as outras facetas da maior festa popular brasileira. Trata-se, contudo, de evidências insuficientes para permitir maiores generalizações, que exigem naturalmente novos e mais acurados estudos da mesma natureza. Fontes bibliográficas ALMEIDA, Renato. A recreação popular, suas formas e expressões. In: DEGUES JUNIOR, Manuel. História da cultura brasileira. v. I. Rio de Janeiro: MEC, 1973. BENJAMIN, Roberto. Itinerário de Luiz Beltrão. Recife, AIP/Unicap, 1998. ________. Folkcomunicação no contexto de massa. João Pessoa: Editora da UFPB, 2000. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. CASTELS, Manuel. La era de la información: economía, sociedad y cultura. v. I La sociedad red. Madrid: Alianza Editorial, 1996. DA MATTA, Roberto. Ensaios de antropologia estrutural. v. 1. Petrópolis: Vozes: 1973. _________. O carnaval, ou o mundo como teatro e prazer. In: O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p. 65 – 78. ECO, Umberto (Org.). The code and message of carnival: escolas-de-samba . In: Sebeok, Thomas A. (Ed.). Carnival! Berlin, New York, Amsterdam: Mouton, 1984. p. 37-165. Tradução japonesa: Tokyo: Iwanami Shoten Publishers, 1987. Tradução espanhola: México: Fondo de Cultura Económica, 1989. ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jornalismo. São Paulo: Ática, 1991. FASTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
87
HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. KATZ, Elihu. Os acontecimentos mediáticos e o sentido de ocasião. In: TRAQUINA, N. (Org.). Jor nalismo: questões, teorias e “histórias”. Lisboa: Veja, 1993. p.12-60. MAYNARD ARAÚJO, Alceu. Cultura popular brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1973. ___________. Folclore nacional. v. I, São Paulo: Melhoramentos, 1967. MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1998. MARCOS, Luis. Humberto. O poder dos media e a imagem da América Latina em Portugal. In: ENCONTRO IBEROAMERICANO DE PESQUISADORES DA COMUNICAÇÃO, 3. 1993, Barcelona - Espanha. [Papers...]. Barcelona: CFJ, 1993. MARQUES DE MELO, José. Estudos de jor nalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1972 __________. Identidades culturais latino-americanas em tempo de comunicação global. São Bernardo do Campo: Cátedra Unesco-Umesp, 1996a. __________. A identidade cultural brasileira na sociedade globalizada: estudo exploratório das imagens do Natal na mídia paulistana. São Bernardo do Campo: Umesp, 1996b. 51p. ________. Teoria da comunicação: paradigmas latino-americanos, Petrópolis: Vozes, 1998 ________. Mídia e folclore. Maringá: Faculdades Maringá, 2001. MARQUES DE MELO, J.; QUEIROZ, Adolpho. Identidade da imprensa brasileira no final do século. São Bernardo do Campo. Cátedra Unesco-Umesp,1998a 277 p. MARQUES DE MELO, J.: KUNSCH, Waldemar L. De Belém a Bagé: imagens midiáticas do Natal Brasileiro. São Paulo: Cátedra Unesco-Umesp, 1998b. 448p. MARQUES DE MELO, J.; LUYTEN, Joseph; CASTELO BRANCO, Samantha et al. Imagens midiáticas do carnaval brasileiro: a celebração popular dos 500 anos do Brasil. [Documento-base]. São Bernardo do Campo: Cátedra Unesco-Umesp, 1999. 39 p. [Rede Internacional de Mídia Comparada]. MIRA, M. C. O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISADORES DA COMUNICAÇÃO, 17., 1994, Piracicaba - SP. [Papers...]. Piracicaba: Intercom / Unimep, 1994. 22 p.
88 • Comunicação e Sociedade 37
QUEIROZ, M. I. P. de. Atores, espectadores, serviços na festa carnavalesca. Cadernos Intercom. São Paulo, v. 2, n. 5, p. 19-27, jul. 1983. _________. Carnaval brasileiro: o vivido e o mito. São Paulo: Brasiliense, 1992. RAMOS, Arthur. O folclore negro do Brasil. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1954. SILVA, B. C. Polêmico na praia, topless é bem-vindo na Sapucaí. [Internet]. Disponível via http://www.mct.g ov.br./indc&t/indicadoresc&t97.htm; www.mct.br. Arquivo capturado em 15 maio 2000. TARGINO, M. das Graças; CARVALHO, C. P. de. Meio Norte, Teresina. In: MARQUES DE MELO, J.; KUNSCH, Waldemar Luiz. De Belém a Bagé: imagens midiáticas do Natal Brasileiro. São Paulo: Cátedra Unesco-Umesp, 1998. p. 257-278. TARSITANO, Paulo Rogério. Luiz Beltrão: vida e obra. Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: PósCom-Umesp, n. 25, p. 165-182, 1996. VON SIMPSON, O. R. de M. Transfor mações culturais do carnaval brasileiro: criatividade popular e comunicação de massa. Cadernos Intercom. São Paulo: Intercom, v. 2, n. 5, p. 7-18, jul. 1983.
ANEXOS Amostra pesquisada 1. Imprensa brasileira a) Jornais de pólos nacionais • Rio de Janeiro: O Globo e Jornal do Brasil • São Paulo: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Gazeta Mercantil b) Jornais de pólos macro-regionais • Belém: O Liberal • Recife: Jornal do Commercio • Brasília: Correio Braziliense • Porto Alegre: Zero Hora c) Jornais de pólos meso-regionais e pólos micro-regionais • Alagoas: A Gazeta de Alagoas, O Jornal e A Tribuna de Alagoas • Amapá: Diário do Amapá • Amazonas: A Crítica • Bahia: Correio da Bahia • Ceará: Diário do Nordeste e O Povo • Espírito Santo: A Gazeta e A Tribuna
89
• • • • • • • • • •
Goiás: O Popular Maranhão: O Estado do Maranhão Mato Grosso: A Gazeta do Mato Grosso Mato Grosso do Sul: O Progresso, Correio do Estado e Folha do Povo Minas Gerais: Diário do Rio Doce e O Correio Paraná: Folha do Paraná Piauí: Meio Norte Rio Grande do Sul: NH e VS Santa Catarina: Diário Catarinense São Paulo: Diário do Grande ABC, Jornal de Piracicaba, Diário do Litoral e A Tribuna de Santos • Sergipe: Gazeta de Sergipe • Tocantins: Jornal de Tocantins 2. Imprensa estrangeira a) Europa Ocidental a1) Bélgica • Circulação nacional: De Standaard; Le Matin • Circulação regional: Het Nieuwsblad; Het Belang van Limburg; Het Laatste Nieuws; La Dernière Heure; La Meuse a2) Espanha • Circulação regional: La Voz de Galicia; O Correo Galego; Faro de Vigo; Diario de Perrol; Diario de Pontevedra a3) França • Circulação nacional: Le Monde; Le Figaro; Libération • Circulação regional: Nice Matin a4) Holanda • Circulação nacional: De Volkskrant; NRC Handelsblad a5) Inglaterra • Circulação nacional: Financial Times a6) Itália • Circulação nacional: La Republica; Corriere Della Sera a7) Portugal • Circulação nacional: Expresso; Público b) América do Norte b1) Estados Unidos • Circulação nacional: Los Angeles Times; Chicago Tribune; New York Times; Washington Post • Circulação regional: Atlanta Journal; Miami Herald; Boston Globe; Denver Post; News and Observer
90 • Comunicação e Sociedade 37
c) América Hispânica c1) Argentina • Circulação nacional: Clarín; La Nación • Circulação regional: La Voz del Interior; Puntal c2) Bolívia • Circulação nacional: La Razón; La Prensa; Presencia; El Diario • Circulação regional: Última Hora; El Nuevo Día; El Deber; Opinión; Los Tiempos c3) Chile • Circulação nacional: El Mercurio • Circulação regional: La Tercera c4) México • Circulação nacional: El Universal; La Jornada c5) Uruguai • Circulação nacional: El País c6) Venezuela • Circulação nacional: El Nacional; El Universal
Rede Internacional de Mídia Comparada 1. Coordenadores • Prof. Dr. José Marques de Melo – Titular da Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento Regional • Prof. Dr. Joseph M. Luyten – Docente do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social e da disciplina de Folclore do Curso de Turismo da Faculdade de Publicidade e Propaganda e Turismo da Universidade Metodista de São Paulo • Profa. Samantha Castelo Branco – Doutoranda 11 do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social e docente da Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Metodista de São Paulo 2. Colaboradoras • Maria Cristina Gobbi – Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo • Eliane Basso – Mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo • Giselle Bessa – Mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo 11 Defendeu seu doutorado no final de 2001.
91
3. Pesquisadores a) Imprensa brasileira • Alexandra Antoneli - Centro Universitário Feevale • Ana Carolina Pessôa Temer - Universidade Federal de Uberlândia • Angela Cristina Dias do Rego Catonio - Universidade Federal de Uberlândia • Antonio Peres - Universidade Metodista de São Paulo • Antonio Teixeira de Barros - Centro Universitário de Brasília • Aparecida Ribeiro dos Santos - Universidade Metodista de São Paulo • Babette de Almeida Prado - Universidade Metodista de São Paulo • Cássio Inglês de Souza - Universidade de São Paulo • Caterina Dolores Miele Gonzalez - Universidade Metodista de São Paulo • Chris Benjamin Natal - Universidade Metodista de São Paulo • Cinthia Flores - Centro Universitário Feevale • Clara Corrêa - Universidade Católica de Santos • Conceição Sanches - Universidade Metodista de São Paulo • Cristiane Portela de Carvalho - Centro de Ensino Unificado de Teresina • Eliane Corti Basso - Universidade Metodista de São Paulo • Elisângela de Souza - Universidade Metodista de São Paulo • Enio Taniguti - Universidade Metodista de São Paulo • Eula Dantas Taveira - Universidade Metodista de São Paulo • Johnny Jefferson Telles - Universidade Metodista de São Paulo • José Carlos Silveira Duarte - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia • Juçara Brittes - Universidade Federal do Espírito Santo • Kênia Xavier Teodoro de Oliveira - Universidade Metodista de São Paulo • Luís Carlos Nunes - Universidade de São Paulo • Maurício Tadeu Bueloni - Universidade Metodista de São Paulo • Maria das Graças Targino - Universidade Federal do Piauí • Maria Erica de Oliveira - Faculdades Adamantinenses Integradas • Maria Salett Tauk Santos - Universidade Federal Rural de Pernambuco • Marlei Sigrist - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul • Mirtes Vitoriano - Universidade Metodista de São Paulo • Murilo Rodrigues Guimarães - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia • Paula Casari Cundari - Centro Universitário Feevale • Roberto Benjamin - Universidade Federal Rural de Pernambuco • Rúbia de Oliveira Vasques - Universidade Mont Serrat, Santos • Sebastião Breguez - Universidade do Vale do Rio Doce • Sebastião Guilherme Albano da Costa - Centro Universitário de Brasília • Silvia Manique de Castilhos - Centro Universitário Feevale • Valdenizio Petrolli - Universidade Metodista de São Paulo • Vanildo Stieg - Universidade Metodista de São Paulo • Waldemar Luiz Kunsch - Universidade Metodista de São Paulo • Wilson de Souza - Universidade Metodista de São Paulo
92 • Comunicação e Sociedade 37
b) Imprensa estrangeira • Aña Peñaranda – Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Antonio Gómez Mallea - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Benalva da Silva Vitorio - Pontifícia Universidade Católica de Santos (Brasil) • Berta García López - Universidad de Santiago de Compostela (Espanha) • Claudia de la Veja – Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicació, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Dirk Meevis - Rijksuniversiteit Limburg (Holanda) • Edgar Patzi – Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Eduardo Rojas - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Eliane Basso - Universidade Metodista de São Paulo (Brasil) • Enio Taniguti - Universidade Metodista de São Paulo (Brasil) • Erick Torrico Villanueva - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Eva Fernández Sandino - Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) • Giselle Bessa - Universidade Metodista de São Paulo (Brasil) • Gustavo Cimadevilla - Universidad Nacional de Cuarto (Argentina) • Jacques Vigneron - Universidade Metodista de São Paulo (Brasil) • José Miguel Túñez López - Universidad de Santiago de Compostela (Espanha) • Karina Herrera Miller - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Leen Michiels - Rijksuniversiteit Limburg (Holanda) • Lucía Castellón - Universidad Diego Portales (Chile) • Marcelo Guardia Crespo – Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • María del Carmen Túñez López - Universidad de Santiago de Compostela (Espanha) • Myriam Vilhena de Moraes - Instituto Politécnico Nacional (México) • Mônica Rector - University of North Carolina (EUA) • Nathalie C. B. Luyten - Rijksuniversiteit Limburg (Holanda) • Oscar Lucien - Diretor do Ininco - Universidad Central de Venezuela (Venezuela) • Paola Valverde Rojas - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Raquel Macías Kovacec - Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación, da Universidad Simón Bolívar (Bolívia) • Roque Faraone - Universidad de la República - Montevideo (Uruguai) • Varinia Cuello Riveros - Universidad Diego Portales (Chile) • Yuri Castelfranchi - Ex-bolsista da Cátedra Unesco-Umesp na Itália)
93
94 • Comunicação e Sociedade 37