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Figura 28: Detalhe do adereço de cabeça da fantasia

Os croquis (Fig. 23 - vinte e três e 26 - vinte e seis), os desenhos (Fig. 24 - vinte e quatro e 27 – vinte e sete) e os produtos finais (Fig. 25 - vinte e cinco e 28 - vinte e oito) dos adereços de cabeças foram elaborados para os componentes de alas da Escola de Samba da Unidos da Tijuca. Embora não tenham relação com a temática, os adereços de cabeças do casal de mestre-sala e porta-bandeira oferecem parte da dinâmica do processo de construção da narrativa dos elementos visuais do enredo proposto para o desfile de carnaval do ano de 2020.

O adereço de cabeça de número 25 (vinte cinco) denominada “Morada da vida eterna” concebe a arte do croqui e o desenho das figuras 23 (vinte e três) e 24 (vinte e quatro) trazem uma armação com formato piramidal, linhas retas em equilíbrio que convergem verticalmente, e pontiaguda, que aumenta a sensação de direcionamento para dar a sensação de altura, traço característico das pirâmides egípcias.

De acordo com Gomes Filho (2004, p. 41), “a forma nos informa sobre a natureza da aparência externa do objeto”. Para isso, a escolha da estrutura e seu formato é um exercício de grande importância dentro do processo de criação. A estrutura de arames de forma criativa com revestimentos na cor dourada, simbolizando as riquezas dos Faraós que construíam suas pirâmides para suas moradas eternas, remete às pedras que sustentam as paredes das grandes construções do antigo Egito. Os acabamentos para adereçaria nas cores ouro e azul royal finalizaram o adereço.

O adereço de cabeça de número 28 (vinte e oito), produto final dos estudos, e os desenho 26 (vinte e seis) e 27 (vinte e sete), nomeados por “Faraó Queóps”, contam com uma armação de arames com linhas simétricas e contínuas para dar o volume necessário ao adorno de cabeça, utilizado pelo referido Faraó. São seguidas de um revestimento externo de tecido na cor azul turquesa e acetato ouro para decorar o topo do adereço, remetendo ao nobre metal muito retratado na cultura do Egito na antiguidade.

Esses adereços possuem um forte contraste provocado pelas cores azul, dourado, prata e lilás, que vai ao encontro com as aduções de Gomes Filho (2004, p. 63): “o contraste, como estratégia visual para aguçar o significado, não só excita e atrai a atenção do observador, como também é capaz de dramatizar esse significado para fazêlo mais importante e mais dinâmico”. A alegórica cobra naja, projetada em vacuum

forming27 na cor dourada, foi acompanhada de materiais que remetem as texturas de metais nas cores ouro e prata, além das simbólicas pedras preciosas ostentadas pelos faraós egípcios, todos esses materiais compuseram a materialização do adorno de cabeça. As ataduras, artisticamente envelhecidas, que remontam os processos de mumificação dos faraós em busca da eternidade, finalizam o adereço de cabeça.

Ainda segundo o autor, “manifestações visuais bem organizadas, unificadas e, por tanto, harmoniosas e equilibradas, apresentam uma tal ordem que se traduz em clareza, do ponto de vista de decodificação e compreensão imediata do todo”. Como exposto nos designs finais dos adereços de cabeças exibidos nas figuras 25 (vinte e cinco) e 28 (vinte e oito). Apesar de o todo conter diferentes composições a clareza das imagens, fica evidente nos seus significados, ordem, equilíbrio e harmonia visual.

Conforme esquematizado, para demonstrar nas seis figuras acima, os adereços de cabeças foram estudados, desenhados e confeccionados para serem localizadas no 1° setor, intitulado “Em busca da eternidade” do enredo “Onde moram os sonhos” da Escola de Samba Unidos da Tijuca. O setor em questão tratava das grandes construções eternizadas pela humanidade. Em cada obra arquitetônica, em que residia uma parte importante da história, trazia narrativas de devoção e poder do Mundo Antigo para Passarela do Samba carioca.

O adereço de cabeça, que aparece nas figuras de número 23 (vinte e três), 24 (vinte e quatro) e 25 (vinte e cinco), foi pensado e executado com o título “Morada da vida eterna”, a Grande Pirâmide de Gizé, uma das maravilhas arquitetônicas do Mundo Antigo. Construído entre o deserto e o rio Nilo, para ser a morada da vida eterna do faraó Queóps, a Grande Pirâmide de Gizé resiste ao tempo e perpetua o grandioso legado da civilização egípcia com a precisão de suas formas geométricas (LIESA, 2020, p. 229).

Como demonstrado nas figuras de número 26 (vinte e seis) a 28 (vinte e oito), o adereço de cabeça, nomeado “Faraó Queóps”, retrata, dentro do setor, o mandante que ordenou a construção da grande pirâmide de Gizé para ser sua morada da vida eterna e

27 O Vacuum Forming é um processo de termoformagem que transforma chapas de acetato, borrachas de EVA e outros polímeros termoplásticos em produtos tridimensionais, por meio de sistemas de sucção a vácuo. Disponivel em: http://sulplast.com.br/pt_BR/tecnologia-e-processos/termoplastico/vacuumforming. Acesso em: 20/01/2021.

abrigar seu corpo embalsamado. O imponente túmulo de pedra continua a surpreender pela longevidade, e ainda revela o poder de um império e a ancestral busca pela imortalidade (LIESA, 2020, p. 229).

O desenho é apenas um entre os vários terrenos de diálogo entre o Carnavalesco e demais pessoas envolvidas na criação. Essa construção de imagem se exibe como um índice no processo de preparo de ideias à espera dos vários atores que o receptarão e intervirão em sua organização primaria proposta pelo Carnavalesco (LUDERER (2006).

Todo esse contexto alimenta o imaginário do Carnavalesco na construção do figurino de carnaval do casal de mestre-sala e porta-bandeira. Na concepção de quem os julgam, o adereço de cabeça, calçado, roupa concebem parte da história do enredo. No julgamento do casal a avaliação é subdividida em indumentária (figurino de carnaval) e a dança, sendo cinco (5) para cada, por isso, deve haver um equilíbrio entre o significado dos figurinos de carnaval, a estética (materiais, acabamentos, formas, entre outros) e a dança. Os julgadores, geralmente, são bailarinos ou coreógrafos que examinam detalhadamente os movimentos e a articulação com o figurino desse casal.

No final de todo esse processo, essa criação não deve comprometer o bailado do casal, que complementa o conjunto da obra, e, consequentemente, os pontos a serem recebidos pelo corpo de jurados do quesito mestre-sala e porta-bandeira. Assim, no momento da elaboração do desenho, alguns detalhes precisam ser levados em consideração, como o peso, a altura, a roda, o tecido, as ferragens, entre outros.

2.2 Desenvolvimento dos adereços de cabeças do casal de mestre-sala e portabandeira da Acadêmicos da Rocinha do carnaval de 2020

A maioria da solução de problema na produção dos desfiles de escolas de samba exige raciocínio criativo, seguido por um período considerável de esforço mental concentrado, que, como afirma Norman (2008), é otimizado pelo lado emocional de reconhecimento por imagens e proximidades culturais, no caso de nosso objeto, o carnaval carioca. Afinal, ele passa pelo crivo da avaliação dos jurados.

Submeter-se a uma avaliação, eventualmente, bloqueia o processo de demonstração. Leva o criador, durante o processo de criação, sentir necessidade de uma técnica de

exibição que simule a realidade na busca por uma exatidão daquilo que ainda está em elaboração mental.

Entretanto, o criador deveria estar atento, nesta fase do processo de criação, à importância de se externar aquilo processado em sua mente. E, desta forma, ordenar e estabelecer uma relação com a sua própria obra em criação, formatada conforme os símbolos de uma linguagem que faça parte de um repertório coletivo (MARTINO, 2006, p. 46).

Uma das ferramentas utilizadas é a escolha de imagens que tragam proximidade e fácil reconhecimento para quem assiste ao desfile, de forma que garanta a atenção desse público. Outro fator é que o produto final dessas imagens precisa mostrar uma relação com todo desenvolvimento do setor em que se encontra situado, a fim de que dos elementos expressivos, como resultado, pode despertar no próprio casal, no público que acompanha o desfile e no corpo de jurados maior envolvimento com o cortejo da Escola de Samba. Essas emoções causadas pelo produto final, muitas vezes ocorrem de dentro do criador, sem que ele tenha clareza do que está acontecendo. Tal fato prova que nem todas as escolhas são conscientes (OLIVEIRA, 2018; NORMAN, 2008).

Norman (2008) afirma que alguns objetos evocam emoções fortes e positivas, tais como amor, apego e felicidade, que vai ao encontro com o princípio fundamental, que é o tema a ser expresso através da criação artística de um desfile carnavalesco. E esse princípio busca a pregnância dos elementos visuais e auditivos, que compõem a narrativa do enredo para um bom julgamento na competição e, assim, incorporado aos métodos de trabalho.

Nessa estrutura, as imagens são escolhidas de forma estratégica para que gerem elementos visuais de impacto (desenhos de figurinos de carnaval e alegorias e adereços) e que chamem a atenção para uma confecção perfeita e de leitura agradável para o julgamento e envolvimento dos que assistem ao desfile. De acordo com Guimarães, as imagens serão transformadas em figurinos pelo próprio Carnavalesco e/ou sua equipe:

A execução do figurino pode ficar a cargo exclusivamente do Carnavalesco quanto idealização e artefinalização, ou poderá ele contratar um Figurinista que faça este trabalho, enquanto ele supervisiona. Poderá ainda fazer esboços prévios, repassando-os para um Figurinista ou Desenhista, que seguindo a sua orientação, procederá à arte final do Figurino (GUIMARÃES, 1992, p. 171).

Os métodos de criação se assemelham ao processo de criação no design e, também, apresentam características similares às aplicadas ao processo de criação de figurinos para teatro. Segundo Abrantes (2001), é um processo construído com base em leituras e longas conversas com o diretor teatral, bem como a observação nos ensaios, para extração das ideias e elementos que darão as formas cores e volumes ao figurino. “É neste momento que o artista assimila o verbo e os substratos que irão intervir no processo de criação do figurino. Há uma construção gradativa”. Assim, os elementos surgem como pequenos vagos de luz, “insights” (ABRANTES, 2001. p. 13).

Segundo Abrantes (2001), o processo que ocorre no teatro é similar ao das escolas de samba, em que o Carnavalesco, em alguns casos, delega o risco do croqui ao desenhista, que passará para a execução pelas mãos dos profissionais, aderecistas que, nas escolas de samba, é quem tira do papel (desenho) e executa os adereços dos figurinos de carnaval, sendo as vezes ele mesmo quem executa toda a fantasia, e, também se encarrega da execução de alegorias e adereços.

em ateliers. Com o croqui também é estudado possibilidades de movimentos do casal em seu bailado e, por conta disso, acontecem discussões que, muitas vezes, inclui também o casal que vai usar as indumentárias e os adereços de cabeças.

No ano de 2020, na escola de samba Acadêmicos da Rocinha, ano que atuei como carnavalesco, fez-se necessário reuniões com os diretores e o presidente para discussão do enredo, denominado “A Guerreira Negra que Dominou os dois Mundos”. Esse enredo abordou a história da escrava Maria da Conceição, que nasceu no Congo, e foi tirada de sua nação para atravessar o Atlântico, como escrava, em terras brasileiras, especificamente em Salvador.

O enredo mostrou que Maria da Conceição, em sua vida adulta, ao vir para o Rio de Janeiro, sofreu perseguições, em virtude de sua luta pelos direitos e ideais de seus irmãos de pertença étnica negra. Essa luta culminou na fundação de um Quilombo de resistência e acolhimento, que, atualmente, é conhecido como Quilombo de Maria Conga, habitado por uma comunidade majoritariamente negra. Esse espaço, situado em Magé, foi à primeira comunidade quilombola reconhecida na Baixada Fluminense. E Maria Conga, criadora do Quilombo, no ano de 1988, centenário da abolição da escravatura, foi proclamada heroína da cidade de Magé.

O enredo também evidenciou a força de Maria Conga no mundo físico e sua magnitude no plano espiritual, em que se torna espírito de luz, consagrada por Oxalá e coroada por Zambi. Ela, hoje, é cultuada como a Preta Velha Maria Conga, que reza, benze e acalenta aqueles que necessitam e buscam seus cuidados, seja para necessidades da alma, física, espiritual e/ou social. E nesse meio, o casal de mestre-sala e portabandeira foi pensado em exibir a personagem em universo africano, cujo em seu nascimento recebeu o título de princesa congolesa (OLIVEIRA E SILVA, 2020).

Os estudos para criar os desenhos nos croquis apresentados nas figuras de 29 (vinte e nove) a 32 (trinta e dois), expostos abaixo, do casal da Acadêmicos da Rocinha, conceberam um dos processos de criação do pesquisador dessa investigação, no carnaval de 2020, como técnica de invenção. Os estudos se manifestaram através de traços e riscos que denotaram inicialmente a organização mental do pesquisador no momento da inspiração. Esses aspectos se deram sistematicamente até a execução do produto final, que se apresentaram com cores, formas, materiais de base, decoração e adereçaria. E assim, materializam-se.

Figura 29: Croqui para geração do desenho da porta-bandeira da Acadêmicos da Rocinha para o carnaval de 2020. Marcus Paulo. Arquivo Pessoal. 2019.

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