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O JORNAL QUE VOCÊ LÊ
Em São Paulo, a beleza e o glamour tomaram conta dos desfiles. No Rio, escolas estreiam hoje
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
DIVULGAÇÃO
ANO XXVI – N.º 8.283 – DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO
Carnaval de Manaus também teve desfile das escolas de samba, encerrado na noite de ontem
PÂNICO NO CARNAVAL DESFILES NO SAMBÓDROMO DO ANHEMBI, NA ZONA NORTE DE SÃO PAULO, PROVOCOU PÂNICO E FERIMENTOS EM DEZ PESSOAS. O ACIDENTE OCORREU À MEIA-NOITE, BEM
NA HORA EM QUE A ESCOLA LEANDRO DE ITAQUERA FINALIZAVA A PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DO DESFILE DE ESCOLAS DO GRUPO ESPECIAL. ÚLTIMA HORA A2
Brasileiros aprovam a maconha
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
A QUEDA DE ESTRUTURA EM UM DOS CAMAROTES MONTADOS NO PARQUE DE MATERIAL AERONÁUTICO DO AEROPORTO DO CAMPO DE MARTE, PARA ACOMPANHAMENTO DOS
OSCAR Com uma das edições mais disputadas dos últimos anos, o Oscar 2014 não tem favorito entre os cinco indicados na categoria melhor filme.
Segundo pesquisa da Expertise, a legalização da venda da maconha para fins medicinais é aprovada por 57% dos brasileiros. País B6
Amy Adams, Cate Blanchett, Sandra Bullock, Judi Dench e Meryl Streep concorrem na categoria melhor atriz. Chiwetel Ejiofor, Leonardo DiCaprio, Christian Bale, Bruce Dern e Matthew McConaughey disputam a estatueta de melhor ator. David O. Russell, Alfonso Cuarón, Alexander Payne, Steve McQueen e Martin Scorsese. Um deles será o melhor diretor. Plateia D3
Bento 16 antecipou renúncia Antecipação da Jornada Mundial da Juventude de 2014 para 2013 precipitou a renúncia de Bento 16. Mundo B7 Vendedores tentaram comercializar produtos nas ruas do centro da cidade, mas foram impedidos
RESISTÊNCIA
8177-2096
Vendedores de churrasco, lanches e verduras que insistiam em instalar bancas nas avenidas Eduardo Ribeiro, 7 de Setembro e na praça da Matriz, mesmo após a saída dos camelôs, foram orientados a se retirar, por fiscais da prefeitura, na manhã de ontem. Última Hora A2
DENÚNCIAS • FLAGRANTES
ANTIOXIDANTE
MODA
O benefício da uva na sua saúde
Fashion na folia de Momo
Substâncias presentes na casca e na semente da uva são 20 vezes mais potentes que a vitamina C. Saúde F2
Carnaval pede um visual especial que reúna conforto e siga as atuais tendências da moda. Elenco 20 e 21
FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700 ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELENCO E CONCURSOS.
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HOJE É DOMINGO ESCRAVIDÃO
Um filme que remete ao Brasil Narrativa que inspirou “12 Anos de Escravidão” lembra as condições da escravatura no Brasil. Ilustríssima G4
TEMPO EM MANAUS
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Última Hora
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MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Camarote da Prefeitura de SP desaba e deixa feridos Desfile O primeiro dia de desfiles das escolas de samba do grupo especial de São Paulo foi marcado pela chuva, pela nostalgia de algumas agremiações e a superação da Tom Maior, que apesar de um carro quebrado conseguiu cruzar a reta final do sambódromo dentro do tempo limite. Mesmo com o mau tempo, o público não arredou o pé da avenida. Quando a última escola passou pelo sambódromo, às 6h, as arquibancadas ainda estavam repletas de foliões empolgados. Os destaques do dia foram: a Vai-Vai, que trouxe a cidade de Paulínia, no interior de São Paulo, para sambar na capital, a Rosas de Ouro, com seu enredo sobre “Momentos Inesquecíveis”, e a Dragões da Real, que pautada pela nostalgia, trouxe para a avenida os “Anos Dourados”. Os destaques das escolas de samba também deram um show à parte. A Acadêmicos do Tucuruvi se destacou como sendo a escola que trouxe o desfile mais colorido do dia, com muitas crianças e a presença da primeira-dama de São Paulo, Ana Estela Haddad.
Mesmo com forte chuva, agremiações do Carnaval de São Paulo empolgaram foliões que assistiram aos desfiles no Sambódromo
Escolas do Rio vão homenagear famosos Quando passarem hoje e segunda-feira pela Sapucaí, as escolas de samba do Rio de Janeiro farão um desfile de homenagens neste Carnaval, com personalidades que vão de Boni, ex-todo poderoso da
Globo e tema da Beija-Flor, a Ayrton Senna, enredo da Unidos da Tijuca. Nem o que não era para ser virou uma homenagem. Com árido enredo sobre Maricá, a Grande Rio “colou” a figura da
Coronel da PM se mata dentro do Ciops de Manaus ALBERTO CÉAAR ARAÚJO
Fiscalização inibe retorno de camelôs
Mesmo com proibição, vendedores tentaram comercializar produtos nas ruas do centro da cidade, mas foram impedidos
Em torno de 15 agentes da Secretaria Municipal de Feiras, Mercados, Produção e Abastecimento (Sempab) realizaram, ontem, uma fiscalização nas avenidas Eduardo Ribeiro, 7 de Setembro e na praça da Matriz, para garantir a ausência de ambulantes nas calçadas do Centro da cidade. A ação que visa inibir o retorno dos camelôs está sendo feita desde a retirada dos 650 comerciantes das vias, na última semana. Além de verificar o cumprimento da medida da prefeitura, que realocou os vendedores em camelódromos espalhados na área central de Manaus, os agentes também orientaram vendedores de
de, cujo tema é Pernambuco sob o olhar do ex-carnavalesco Fernando Pinto, campeão pela agremiação. Ou seja, cinco das 12 agremiações do Grupo Especial terão uma figura ilustre como enredo.
TIRO NA CABEÇA
CENTRO
JULIANA GERALDO Equipe EM TEMPO
cantora Maysa para torná-lo mais “palatável”. Além dessas três, outras duas escolas a fazerem homenagens são a Imperatriz, que aproveitou o ano da Copa para falar de Zico, e a Mocida-
churrascos, lanches e verduras que insistiam em circular nas ruas fiscalizadas. De acordo com um dos controladores de mercados e feiras responsável pela área da praça da Matriz, Edivilson Pinto Neto, a vistoria não visa punir nem multar os ambulantes, mas sim orientá-los a sair da área onde a remoção foi feita. “Estamos dizendo a eles para saírem dessa área. Até agora não enfrentamos nenhuma resistência”, contou. O fiscal reforçou que a retirada dos camelôs está sendo realizada pela prefeitura em etapas. “Queremos nos certificar de que nesta área onde a ação já foi feita, não haja retorno dos vendedores fixos e nem a circulação de lanches móveis. Conforme a retirada for avançando para
outras áreas, a fiscalização será mais intensa”, explicou. Os ambulantes retirados pela ação conjunta entre governo e prefeitura foram transferidos para três galerias provisórias nas ruas Epaminondas, Floriano Peixoto e Miranda Leão. Eles vão receber uma bolsa de R$ 1 mil, durante o tempo em que permanecerem nos camelódromos. Compras Com as calçadas desobstruídas, o consumidor amazonense foi às compras. O foco de ontem, foi a compra de fantasias e acessórios carnavalescos. Os “foliões” que deixaram para adquirir os itens na última hora movimentaram as lojas do segmento. A industriária Niziane de
Souza, 19, procurava junto com uma amiga uma fantasia para usar no Bloco das Piranhas, tradicional banda carnavalesca que se realiza hoje, no Centro de Convenções (Sambódromo). “Estamos procurando algo criativo, mas devido à rotina de trabalho só pudemos vir às compras hoje”, contou. A gerente da Tropical Multilojas, Nara Santos, comemorou o fluxo de clientes. “O movimento está bom desde a última terça-feira, mas sempre tem os atrasadinhos que deixaram para comprar as fantasias no dia da festa”, comentou a gerente que estima incremento de 10% no faturamento da loja em relação ao mesmo período do ano passado.
O coronel da Polícia Militar do Amazonas, Fernando Lobão, cometeu suicídio no Centro Integrado de Operações (Ciops), na Zona Centro-Sul de Manaus. Ele desferiu um tiro na própria cabeça na frente de colegas de trabalho por volta das 9h da manhã de ontem. Segundo o titular da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (Seseg-AM), coronel Paulo Roberto Vital, em torno de 12 colegas de trabalho foram surpreendidos com a morte do coronel. “Ele chegou normalmente, sentou em sua mesa de trabalho e minutos depois teria efetuado o disparo. Os outros policiais ficaram abalados”, contou. Lobão era policial de reserva remunerada e atualmente trabalhava na Secretaria de Segurança Integrada para Grandes Eventos (Seasge) ao lado do coronel Dan Câmara. “Eles atuariam juntos hoje
(ontem) durante o Carnaval e o oficial deveria chegar somente pela parte da tarde, mas veio pela manhã”, completou Vital. Um bilhete foi encontrado junto ao corpo do coronel. O papel continha uma mensagem direcionada à sua esposa com a frase “Amei-te sempre minha esposa”. De acordo com Vital, a perícia está avaliando o teor do bilhete e depois entrará em contato com a família para investigar os motivos do incidente. Uma viatura do Instituto Médico Legal (IML) removeu o corpo do oficial. Uma ambulância do Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser chamada para atender os funcionários do Ciops que teriam passado mal após presenciar a cena. A perícia técnica da Polícia Civil do Amazonas também foi chamada no local. (JG) REPRODUÇÃO
U
ma estrutura montada no interior do Campo de Marte para receber convidados da Prefeitura de São Paulo para o Carnaval desabou na madrugada de ontem e deixou pelo menos dez feridos. O local foi isolado. Todos tiveram ferimentos leves. A dona de casa Regiane Chagas, 45, aguardava para pegar sua camiseta para acesso ao camarote da prefeitura quando a parede desabou sobre ela e outras cerca de 150 pessoas. “Choveu muito. Veio tudo abaixo. Várias pessoas ficaram debaixo dos escombros. Levei oito pontos”, disse. O local era um ponto de apoio aos convidados do camarote no Anhembi onde estavam prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Naquele ponto, as pessoas estacionavam seus carros e pegavam as camisas no galpão. Dali, partiam ao Anhembi em vans. Regiane disse que o vento forte e a chuva, segundo ela, de granizo, derrubaram a estrutura de madeira e metal montada dentro de um hangar para ser o ponto de apoio aos convidados. O acidente ocorreu por volta de 1h.
REINALDO CANATTA/UOL
Ao menos dez pessoas tiveram ferimentos causados pelo desabamento da estrutura que abrigava convidados “VIPs”
Fernando Lobão deixou bilhete para esposa antes de morrer
Opinião
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Contexto 3090-1017/8115-1149
A3
Editorial
marioadolfo@emtempo.com.br
opiniao@emtempo.com.br
Faltou a ata de fundação O problema da Justiça é que não se tem notícia de que a formação de quadrilha seja registrada em ata, com um estatuto em apêndice, normatizando os procedimentos da diretoria e dos sócios. Quem faz isso são entidades não governamentais e partidos políticos, entre outros setores da sociedade civil organizada. Al Capone, o notório gângster glamourizado pelo cinema americano, não tinha uma agenda com o horário dos assaltos às destilarias clandestinas, das cobranças de “dízimo” pela segurança de bares e cassinos, da exploração dos pontos de prostituição e outros pecados menos mortais. Mas como nem mesmo um bandido com uma intensa e extensa capilaridade de ação na sociedade, inclusive dentro da polícia e do Judiciário, consegue o dom da onipresença e da autossuficiência, Capone tinha um contador com um livro codificado, onde se registravam todos os seus negócios e seus parceiros no crime. Foi esse Deve&Haver que bastou à Justiça dos Estados Unidos para levá-lo à prisão por 11 anos. Não porque matou, estuprou, chantageou, mas porque sonegou. Isto é, não foi condenado por ter cometido crimes contra a condição humana, física e espiritual, mas por cometêlos contra o Estado, o suposto guardião da sociedade, ao menos como era concebido no princípio do século 20. Ao sul do Equador, no entanto, os procedimentos da Justiça acompanham a concepção de que “não existe pecado do lado debaixo” dessa linha imaginária. O Supremo Tribunal Federal que condenou, por formação de quadrilha um elenco de oito estrelas da novela do mensalão, e com base em cadernos de Deve&Haver, voltou atrás em sua decisão e liberou geral. Não havia ata nem estatuto da tal quadrilha que teria sido formada durante três anos de atividades plenamente confirmadas. E fim.
Ex-vegetariano, pero no mucho!
Regi regi@emtempo.com.br
O cineasta Fernando Meirelles tuitou que, no mundo publicitário, fala-se que Roberto Carlos recebeu R$ 25 milhões para dizer que não é mais vegetariano e fazer propaganda de uma marca de carnes. Segundo Meirelles, “a turma que participou da filmagem” disse que o Rei sequer tocou no bife. Vegetariano A marca não comentou o valor do cachê do Rei. E advertiu que só o cantor pode responder pela sua “mudança de comportamento”. Roberto não vai se pronunciar. Petróleo Petrobras iniciou há pouco mais de uma semana atividades de prospecção de gás e petróleo entre os rios Tapauá e Cuniuá, afluentes do rio Purus, município de Tapauá (a 448 quilômetros de Manaus), no sul do Amazonas. Terra de índio Só tem um problema. A região da pesquisa está no entorno de sete terras indígenas, sendo que em duas, vivem índios isolados e semi-isolados. Convenção 169 A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do qual o Brasil é signatário, garante aos povos indígenas a consulta sobre decisões e empreendimentos que causem impactos sociais e ambientais em seus territórios. Autorizado O Ipaam, órgão do governo do Amazonas, confirmou que concedeu licença de instalação à Petrobras
para realização de prospecção de gás ou petróleo até julho de 2014. Dá-lhe, Manaus! A cidade de Manaus foi a terceira que mais gerou empregos em 2013. A garantia é da Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), baseada em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged). Superou 2012 Ao todo, foram 22,8 mil novos postos de trabalho e, segundo a senadora. — Esse número foi três vezes maior do que o registrado em 2012 e evidencia que a situação econômica do Brasil está melhor do que a oposição anuncia. Bombando na Copa A senadora comunista lembrou que às vésperas da Copa do Mundo, as famílias brasileiras procuram trocar os aparelhos de televisores, trocar para uma maior, de uma qualidade de imagem melhor. — E isso tudo tem ajudado muito o Polo Industrial de Manaus – disse Grazziotin. É de fazer chorar Vai longe o tempo em que as bem-humoradas marchinhas e as românticas marchas-rancho empolgavam o Carnaval. No Carnaval de 2014, os hits que estão embalando a folia
APLAUSOS
são “Lepo Lepo”, o axé da banda Psirico, e “Beijinho no Ombro”, da Valesca Popozuda. Gosto para tudo Levantamento do YouTube confirma que as duas músicas (?) foram as mais procuradas no mês de fevereiro dentro desse nicho carnavalesco-pop. Explode “Lepo Lepo” Para se ter uma ideia da “preferência nacional” no carnaval, o vídeo de “Lepo Lepo” já tem quase 2,5 milhões de visualizações. “Beijinho no Ombro” atingiu a marca de 9,5 milhões. Carnaval da Dilma Após desembarcar na Bahia nesta tarde, a presidente Dilma Rousseff desejou um “ótimo Carnaval para todos” e pediu prudência nas estradas. Dilma e sua família vão passar o feriado descansando na Base Naval de Aratu, que fica na Baía de Todos os Santos, em Salvador. Carnaval da Dilma 2 Segundo a presidente, “a festa mais alegre do planeta não precisa ser marcada por tragédia”. Ela recomendou responsabilidade nos festejos e pediu que quem beber, não dirija. “Aproveitem o Carnaval. Para aqueles que vão festejar e para os que vão descansar, desejo um momento de alegria”, escreveu há pouco em sua conta no Twitter.
VAIAS
Insistência de uma minoria
Soldados expulsos da PM
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
ARQUIVO EM TEMPO
Para a determinação dos funcionários da Sempab que estão trabalhando duro para afastar os camelôs que ainda insistem em retornar para o centro. Insistir em retornar para a avenida Eduardo Ribeiro é querer enfrentar a cidade inteira.
Para os soldados da Polícia Militar Ivan Coutinho Vieira e Eliezer Braga Coelho, que foram expulsos da PM depois do escândalo das fotos de mulheres em viaturas do programa Ronda no Bairro.
João Bosco Araújo opiniao@emtempo.com.br
A humanidade mais pobre O artista, não pela sua humanidade e nem pela sua individualidade e idiossincrasias, mas exclusivamente por aquilo que ele produz, ou seja, pela sua arte, pois a arte transcende o espaço e o tempo, não se esgota e nem se prende a nenhuma nacionalidade, época ou cultura. Por isso se diz que o artista pertence, engrandece e enriquece a toda a humanidade, mesmo àquela com a qual jamais se encontrou ou teve qualquer contato físico. Não sei como era Gauguin, se baixo ou alto, se gordo ou magro, se gostava mais de peixe ou de carne, quais as mulheres que o atraiam e, mesmo assim, ele toca a minha afetividade e com ele me identifiquei como ser humano, tudo em função da arte que produziu e eternizou nas suas esplendorosas telas, que falam do Taiti com mais riqueza do que qualquer marqueteiro do turismo. Isso é verdade e vale para qualquer artista e não apenas para os que exerceram artes plásticas, desde que sua arte seja autêntica e digna desse nome. Também pouco sei e é claro que nenhum contato físico mantive com Fernando Pessoa, embora dele guarde a imagem que me foi passada por retrato e caricatura. Entretanto, a força da sua poesia, o verbo da sua criatividade, garante a sua manutenção fora do espaço e do tempo. Mais distante ainda e envolta na névoa da imprecisão que a grande distância histórica costuma gerar, está a figura gigantesca, não por si mesma, mas pela criação de uma das maiores obras literárias legadas à humanidade: Miguel de Cervantes e o seu “Don Quixote de La Mancha”. Em síntese, quando desaparece um artista ou se perde uma grande
obra de arte, é a própria humanidade que se torna irremediavelmente mais pobre. Esta é uma afirmação, contudo, que somente será válida se sustentada pelo intrínseco e insubstituível valor estético da obra e do criador. A crônica do universo artístico está cheia de casos de “artistas” e de “obras de arte” criados artificialmente pelo marketing que se vincula ao mundo dos negócios que rolam entre produtores e consumidores, como em quaisquer relações comerciais. Esses são os artistas e as obras fugazes, frequentes, sobretudo, no ramo musical, onde surgem, “estouram” e logo desaparecem com a mesma prodigalidade com que apareceram. Este momento não poderia ser mais oportuno para o tratamento do tema aqui desenvolvido. Acabou de morrer Paco de Lucia e assim se repete um fenômeno que não é novo na história da arte: desapareceu o artista, mas a sua arte é tão qualificada e encerra tamanho valor estético que vai permanecer e será, no futuro, também conhecida e reconhecida por gerações que estarão para ela, no que diz respeito ao momento da criação, como estamos nós, hoje, em relação ao “Quixote”, ao “Hamlet”, à “Nona Sinfonia de Beethoven”. A guitarra de Paco de Lucia, enquanto som e como música, tem personalidade própria e é insubstituível. Felizmente a criatividade humana nos deu a tecnologia capaz de assegurar a sua preservação e, assim, chegar aos ouvidos das futuras gerações. Foi assim, fazendo uso dos recursos tecnológicos disponíveis que ainda contemplamos a arte de Michelangelo, possuímos o registro da música dos grandes mestres, reproduzimos indefinidamente as grandes obras literárias.
João Bosco Araújo Diretor Executivo do Amazonas EM TEMPO
Acabou de morrer Paco de Lucia e assim se repete um fenômeno que não é novo na história da arte: desapareceu o artista, mas a sua arte é tão qualificada e encerra tamanho valor estético que vai permanecer e será, no futuro, também conhecida e reconhecida por gerações”
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Opinião
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Frase
Painel VERA MAGALHÃES
Dublê de candidato
Os médicos cubanos passarão, a partir de março, a receber um aumento efetivamente importante. O líquido que ficará disponível passará a ser equivalente a US$ 1.245, sem contar os valores que são pagos pelas prefeituras para alimentação, hospedagem, transporte e a manutenção dos benefícios que os médicos têm por serem funcionários do governo de Cuba
Com a presidente Dilma Rousseff impedida legalmente de fazer campanha até junho, Lula deve assumir a linha de frente. O ex-presidente está montando uma estrutura para gravação de vídeos em seu instituto para aumentar o número de mensagens a serem bombardeadas nas redes sociais. O petista pretende intensificar também as viagens pelo país até o meio do ano, quando a sucessora poderá participar oficialmente dos eventos da candidatura. Metralhadora Entre dirigentes petistas, é esperado que o ex-presidente suba o tom nos vídeos e nos eventos contra candidaturas dos rivais Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). Pulga No Palácio do Planalto, a estratégia foi vista com ressalvas, por receio de que alimente ainda mais o “Volta, Lula” entre petistas. Quaresma Lula deve se reunir com Dilma em Brasília na tarde de Quarta-Feira de Cinzas. O ex-presidente disse a aliados que pretende conversar com a sucessora sobre o estremecimento da relação entre governo e Congresso. Blocão De um dirigente petista, quando questionado quais expoentes do partido estariam envolvidos na movimentação interna pela troca da presidente pelo antecessor: “Eu estou, mas você não pode publicar”. Senha A campanha pelo retorno de Lula é alimentada por políticos que perderam acesso ao Palácio do Planalto. Um deles diz que o expresidente só voltaria se a própria Dilma disser que o projeto petista está em risco.
Sotaque O colegiado de marqueteiros que Aécio Neves (PSDB) está montando para a campanha presidencial deve contar com a participação de José Maria Andrade, jornalista que fez todas as campanhas do senador Cássio Cunha Lima, na Paraíba. Sotaque 2 Andrade e outros profissionais da região serão os responsáveis pelos textos referentes ao Nordeste na propaganda tucana. Pauta... Michel Temer disse a peemedebistas que tentou puxar conversa com Dilma sobre a reforma ministerial na reunião de quinta-feira no Palácio da Alvorada, mas a presidente o cortou. Só quis falar de alianças entre PT e PMDB nos Estados. ... única Mesmo assim, o PMDB diz que os dois assuntos estão intimamente ligados: se Vital do Rêgo não ganhasse um ministério, o partido ameaçava pular no colo do PSDB na eleição da Paraíba e subir no palanque de Aécio Neves. A reforma também pode acalmar os ânimos do PMDB mineiro, que hoje ocupa a Agricultura. Solução Integrantes do governo já admitem que agora Dilma deve
trabalhar para manter dois palanques no Ceará, após o fracasso das negociações para tirar Eunício Oliveira (PMDB) da corrida para o governo. A presidente apoiaria o peemedebista e o candidato do governador Cid Gomes (Pros). Buchada Um auxiliar da presidente reconhece que ela teria evitado dissabores com a Câmara se tivesse acatado logo de cara o pleito do PMDB para que Vital do Rego virasse ministro: “Pusemos o bode na sala, mas perdemos o controle do bode”.
Arthur Chioro, ministro da Saúde anuncia que os profissionais cubanos do Mais Médicos passarão a receber, no Brasil, remuneração de US$ 1.245 (cerca de R$ 3 mil). Até então, eles recebiam US$ 1 mil (US$ 400 no Brasil e US$ 600 depositados em uma conta em Cuba).
Olho da Rua opiniao@emtempo.com.br DIEGO JANATÃ
Xepa Pelo desenho do Planalto, uma vez resolvida a sucessão no Turismo, sobram Integração e Embratur para acomodar PTB e Pros. Por... O esforço de dirigentes do PSB para pavimentar a candidatura de Miro Teixeira ao governo do Rio tem como pano de fundo a esperança de ainda atrair o Pros para a aliança presidencial de Eduardo Campos. ... tabela Os pessebistas dizem que a cúpula do novo partido está insatisfeita com o tratamento dado pelo Planalto, que mantém linha direta apenas com os irmãos Cid e Ciro Gomes.
Tiroteio
O Japão (com o apoio do Polo Industrial de Manaus) é o maior produtor de motocicletas. Isso não é tudo sobre aquela civilização que ajudou a varrer o fordismo da economia. Alguém, empenhado em defender o mototaxismo, deveria investigar qual é o conceito de motociclista que se dá do outro lado do mundo. Aprenderia muito sobre respeito à vida
Dom Sérgio Eduardo Castriani opiniao@emtempo.com.br
Se um juiz admite que elevou as penas para dar exemplo, fugir da prescrição e mudar o regime, é motivo para impeachment.
Carnaval
DO ADVOGADO ANTONIO CARLOS ALMEIDA CASTRO, sobre a discussão entre Joaquim Barbosa e Luís Roberto Barroso na análise dos embargos infringentes.
Uma das características mais marcantes do ser humano é a capacidade de rir e de achar graça, uma capacidade que não pode ser perdida, sob o risco de nos embrutecermos e nos tornarmos violentos. O humor e os humoristas fazem bem a saúde mental e espiritual quando nos fazem achar graça. Graça é uma palavra engraçada, pois descreve a ação e a presença de Deus no mundo, tendo um profundo significado teológico e ao mesmo tempo, descreve aquilo que nos faz rir. A pior coisa que nos pode acontecer é uma vida sem graça. Isto quer dizer que no fundo somos todos um pouco ridículos, sobretudo quando nos levamos muito a sério, sendo ranzinzas e rancorosos. Em geral são os outros que riem de nós, sobretudo as crianças que ainda não se envergonham nem de chorar e nem de rir em público. Mas até o salmista imagina Deus olhando lá de cima e rindo das loucuras de suas criaturas, em particular da mais amada de todas, a humana. Imaginar um mundo sem humor, cinzento, com todo mundo de cara amarrada é um verdadeiro pesadelo. No entanto a vida é pesada e o passar dos anos nos faz assistir e viver dramas e tragédias que vão endurecendo o nosso coração. As razões para chorar são muitas. Por isso, nada mais natural que de vez em quando façamos um Carnaval, invertendo papéis, expondo ao ridículo figuras e personagens que se julgam donos da verdade e investidos de poderes duradouros. Ocasiões em que nos fantasiamos e colocamos máscaras para viver fantasias e liberar comportamentos que em geral não temos coragem de expor. Nos tornamos ridículos e
Contraponto
Bagagem de mão O ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) viajaram lado a lado, de Brasília para o Rio, na última quinta-feira. Qualquer problema de atraso do voo ou no aeroporto, já reclamo com o chefe – brincou o parlamentar. Os dois perceberam que estão lendo o mesmo livro, “O homem que amava os cachorros”, do cubano Leonardo Padura, romance inspirado nas vidas de Leon Trótski e de Ramón Mercader, seu assassino. Relembrando seu passado trostskista, Wellington? Você sabe que não. Na ação popular eu era da turma papa hóstia, da esquerda católica, como você... Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”
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permitimos que riam de nós porque também estamos rindo de todos. Todas as culturas e todas as raças e em todos os tempos têm seus períodos de folia. Não os tiveram nos tempos de pesadelo coletivo, quando regimes ferozes a desumanos destruíram a dignidade e a vida em campos de concentração e provocando genocídios que sempre mancharam a história humana. O que faz com que o Carnaval seja às vezes tão destruidor da vida? Os excessos, o uso abusivo do álcool e outras substâncias que tiram ou adormecem a consciência fazendo com que a dignidade seja perdida e a folia tenha consequências desastrosas para a sociedade e para as famílias. Por isso mesmo, muitos grupos preferem se retirar durante o Carnaval para rezar, meditar, ou simplesmente descansar. É difícil imaginar Carnaval sem álcool, mas é possível sonhar, afinal somos livres e podemos fazer escolhas. O importante é que não nos roubem a alegria e não se passe a impressão de que a única alegria possível é a do prazer sem limite e desregrado. Alegrai-vos sempre no Senhor. Não há por que deixar de ser coerente com a nossa fé durante o Carnaval. Tudo é nosso, nós somos de Cristo e Cristo é de Deus. Somos livres para sermos livres e não para nos escravizarmos, e muito menos para abusarmos dos outros que não podem ser reduzidos a corpos, fonte de prazer e objetos de concupiscência desenfreada. Hoje é domingo de Carnaval. Tenhamos a coragem de rir de nós mesmos. Quem sabe a vida ficará mais leve para nós e para quem nos suporta no dia a dia.
Dom Sérgio Eduardo Castriani Arcebispo Metropolitano de Manaus
O importante é que não nos roubem a alegria e não se passe a impressão de que a única alegria possível é a do prazer sem limite e desregrado. Alegrai-vos sempre no Senhor. Não há porque deixar de ser coerente com a nossa fé durante o Carnaval. Tudo é nosso, nós somos de Cristo”
Política
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
A5
Movimento estudantil, antessala para a política O
al Marcelo Ramos, classifica suas passagens pelo grêmio estudantil Lassalista, onde foi presidente em 1991, e pelo DCE da Ufam, que assumiu o posto mais alto em 1993, como fundamental para sua vida e formação. Segundo ele, esse tipo de entidade forja na juventude um compromisso na luta pela mudança coletiva. “Aprendi muita coisa no banco da universidade. Mas aprendi mais ainda na luta do movimento estudantil. O compromisso com a coletividade, exercitar o diálogo, aprender a construir acordos até mesmo enfrentamentos, foi fundamental para chegar aonde cheguei”, aponta o deputado, deixando claro que o importante mesmo são os jovens estarem vinculados a organizações que lutam por causas coletivas. Sobre os dias atuais, Marcelo Ramos não acredita no DCE como celeiro de novas lideranças políticas. De acordo com ele, falta identidade nos diretórios, que na maioria das vezes, são vinculados a partidos políticos. A senadora Vanessa Grazziotin, que em 1982 se tornou a primeira mulher a assumir a presidência do DCE da Ufam, considera o movimento estudantil uma frente de luta capaz de revelar novas lideranças políticas para o Estado. Contudo, segundo a senadora, a situação atual é bem diferente da época em que ela atuava.
BANDEIRA
Vanessa Grazziotin frisou que antes, o movimento estudantil se caracterizava como uma frente de resistência à ditadura e hoje é difícil distinguir os reais motivos pelos quais os estudantes brigam da universidade, lutando por melhorias para os estudantes da instituição”, afirma Morais, que buscará maneiras efetivas para despertar o interesse de jovens que perderam a esperança no diretório estudantil do Campus. Para ele, a principal função da entidade é criar nos acadêmicos uma conscientização política que possibilite uma maior participação dos alunos em discussões na academia. Oriundo da militância estudantil, o deputado estaduMOREIRA MARIZ/AGÊNCIA SENADO
s Centros Acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) já revelou grandes nomes para o cenário político local. Desde a época da ditadura militar até meados da década de 90, nomes como o da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), do governador do Estado, Omar Aziz (PSD), do secretário de Estado de Produção Rural (Sepror), Eron Bezerra (PCdoB) e do deputado estadual Marcelo Ramos (PSB), iniciaram suas trajetórias na vida política por meio do DCE e do movimento estudantil da Ufam. E a renovação dos quadros das lideranças estudantis na academia aconteceu nesta última semana, quando universitários da Ufam elegeram a Chapa 10, encabeçada por André Morais, 21, aluno do quarto período da faculdade de Administração, como o novo presidente do diretório dos estudantes da instituição. A vitória sobre a Chapa 20, que tinha como candidata à presidente, a acadêmica de química Priscila Duarte, 21, foi por uma diferença de 25 votos. O mandato é de um ano. O que chama a atenção na disputa, é que os dois jovens líderes estudantis já vestem a camisa de partidos políticos. O vencedor milita desde o ano
passado pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Já Priscila faz parte do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Legendas antagônicas, os dois levaram para os bancos da academia a disputa que vêm travando nos bastidores da política. “Enquanto eu estiver à frente do DCE da Ufam, não será levantada qualquer tipo de bandeira partidária. O partido que defendemos hoje é o
Vanessa Grazziontin começou a luta ainda na Universidade
Integrantes da Chapa 10 que ganharam a eleição no DCE da Ufam são ligados ao PSDB-AM ALBERTO CÉSAR ARAÚJO/ALEAM
ANDRÉ TOBIAS Especial EM TEMPO
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
Personagens da política local tiveram nos centros acadêmicos da Universidade Federal do Amazonas o aprendizado
DCE também nas particulares Não são somente nas universidades públicas que os diretórios estudantis estão presentes. No Centro Universitário do Norte (Uninorte), o DCE, presidido por Janaina Chagas, mostra-se com um dos mais atuantes dentre todos os diretórios estudantis do Estado. Na opinião da advogada, além de motivar os jovens a participar das discussões para melhorias da instituição e da educação, outras atividades devem ser fomentadas. Mesmo estando formada, ela continua militando no movimento estudantil. “Realizamos quase que semanalmente eventos de cunho social, esportivo, cultural, acadêmico, filan-
trópico”, salienta Janaina, que lamenta as dificuldades enfrentadas pelo diretório estudantil dentro da instituição privada, já que realizar manifestações se torna quase impossível. Ela faz questão de deixar claro que, no momento, não tem a pretensão de alçar voos maiores na política partidária. Janaina partilha da opinião do deputado Marcelo Ramos, no que diz respeito à participação dos jovens em entidades organizadas que lutam pelo bem coletivo. “A formação de novos líderes é consequência da participação dos jovens em instituições que buscam reivindicar direitos coletivos”, acrescenta a presidente. Deputado Marcelo Ramos militou no movimento estudantil
Política
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Lei mais severa para punir casos de racismo
Cláudio Humberto COM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS
www.claudiohumberto.com.br
A legislação brasileira não permite fracionamento de salário” DEPUTADO MENDONÇA FILHO (DEM-PE) e a exploração dos cubanos no “Mais Médicos”
Temer admite que aliança com PT está em risco Em meio ao fogo cruzado entre o PMDB e o governo federal, o vice-presidente Michel Temer já admite que terá dificuldades para garantir o apoio à reeleição da presidente Dilma na convenção nacional do partido. Em conversa com deputados de Minas, Temer confidenciou que o “descontentamento na bancada federal e nos diretórios estaduais já foge do controle” e que a rebelião coloca em risco a aliança nacional. Tudo ou nada A bancada do PMDB coordena o “blocão” na Câmara, de partidos da base aliada, para atacar e chantagear o governo nas votações. Ou dá ou desce O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO) até já desabafou: “Ou a relação com governo melhora ou é melhor romper de vez”. Vai ou racha Deputados pressionam o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), a sair do jogo duplo e ajudar a criar comissão para investigar a Petrobras. Assédio O presidenciável Aécio Neves (PSDB) aumentou as investidas para obter apoio do PV, que insiste em lançar Eduardo Jorge ao Planalto. Vacilo jurídico da Petrobras custa R$ 40 milhões Um “vacilo” jurídico pode levar a Petrobras a pagar R$ 40 milhões em honorários a um escritório de advogados cujo CNPJ teve baixa cadastral em dezembro de 2008, no Ministério da Fazenda. Ao invés de questionar a inexis-
tência do Fichtner & Fichtner, fechado em 2008, a estatal faz defesa de “mentirinha” ao interpelar o valor dos honorários, fato que não permite recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tô fora A coluna procurou o novo escritório, rebatizado de Andrade & Fichtner, em Brasília e no Rio de Janeiro, mas não obteve retorno. Um já disse Em decisão monocrática, a Petrobras já teve o primeiro recurso negado e aguarda nova decisão. O relator é o ministro Antônio Carlos Ferreira. Bola de neve O valor original era US$ 4 milhões, mas correções em dólar, mais honorários, elevam a dívida da Petrobras para cerca de R$ 40 milhões. Noves fora, ele Lula negociou pessoalmente com os irmãos ditadores Castro a redução do vergonhoso butim do “Mais Médicos”, concedendo mais R$ 600 aos cubanos do programa para Dilma ficar bem na foto. Porre de feijoada Primeiro foi o mensaleiro João Paulo Cunha, agora é Delúbio Soares que se compara no Twitter a Nelson Mandela: “Podem nos tirar tudo, menos nossa mente e nosso coração”. A barba dele já tiraram. O ‘xerife’ da Papuda Em 6 de janeiro, o mensaleiro José Dirceu recebeu na Papuda Gisclan Silva, chefe da Defensoria Pública da União. Não havia previsão de visita, mas a regalia ocorreu
Jornalista
sob a benção da administração carcerária. Onde há fumaça... Um problema no lastro quase adernou a plataforma na Bacia de Campos (RJ). É o segundo acidente em menos de três meses com empresas dos EUA. Em dezembro, ameaça de bomba esvaziou Frade. Negociação Provável aliado do presidenciável Eduardo Campos (PSB), o PPS tenta costurar apoio dos socialistas aos seus candidatos a governador Eliziane Gama (MA), Eliana Pedrosa (DF) e Hissa Abrahão (AM). Bem na foto Favorito nas pesquisas ao governo de Goiás, Íris Rezende (PMDB) iniciou o ano de 2014 se dedicando a receber uma romaria de políticos em escritório que montou dentro da própria casa, em Goiânia. Estratégico De olho em obter votos de evangélicos, que hoje representam 30% da população de Pernambuco, o PP decidiu apostar em voo solo e lançou a missionária Michelle Collins ao governo. O objetivo é dobrar bancada. Missões impossíveis Após fracassar na tentativa de convencer Eunicio Oliveira (PMDB) a abrir mão de disputar o governo do Ceará, o ex-presidente Lula tenta dobrar o governador Cid Gomes (PROS) em favor do peemedebista. Pensando bem... ...em breve, formar quadrilha exigirá CPF, identidade, título de eleitor e foto tamanho 171 X 171.
PODER SEM PUDOR
Dutra, o catedrático Comandante do Exército que derrubou o ditador Getúlio Vargas, o general Eurico Gaspar Dutra tinha um defeito de dicção, trocava o c pelo x, como lembra o jornalista Pedro Rogério Moreira em seu livro “Jornal Amoroso” (ed. Thesaurus, Brasília, 356 pp.): em vez de “você sabia”, falava “voxê xabia”. Evitava falar em público, para evitar gozações. Os jornalistas não perdoaram, sapecando-lhe o apelido de “O Catedrático do Silêncio”.
PELO FACEBOOK
TSE convida jovens a votar Com o hashtag “vempraurna” e o mote “Seu voto vale o Brasil inteiro”, a fanpage oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Facebook quer dar um recado aos eleitores brasileiros, especialmente aos jovens: votar é um exercício de cidadania e é por meio do voto que os brasileiros podem se fazer ouvir. Na página, os internautas ficam por dentro das principais dicas sobre as
eleições, o recadastramento biométrico e a história e características da urna eletrônica. Com postagens diárias, os eleitores também se informam sobre os serviços eleitorais e as principais datas do calendário eleitoral, como o dia 7 de maio, prazo para tirar o primeiro título e poder votar em 2014. Reativada em 30 de janeiro, a fanpage do TSE no Facebook já reúne em torno de 5,6 mil fãs, tendo suas
Proposta que altera legislação vigente deve ser votada brevemente, impulsionada por fatos recentes de preconceito LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
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publicações alcançado, somente na última semana, mais de 5,5 mil pessoas. Levantamento gerado pela própria rede social para o mesmo período mostra o envolvimento (curtidas, comentários e compartilhamentos) de 556 usuários, tendo sido registradas mais de 5,6 mil curtidas. Além disso, algumas postagens já foram visualizadas por mais de três mil pessoas desde a reativação da página.
Plenário da Câmara deve votar proposta de nova lei contra o racismo e outros de preconceito
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tor negro permanece preso por duas semanas no Rio de Janeiro após ser acusado erroneamente de roubo. Manicure negra em Brasília é ofendida por cliente que se recusa a ser atendida por ela. Cobradora de ônibus negra é xingada na capital federal. São casos recentes de racismo que viraram manchete e reacenderam a discussão sobre a legislação brasileira a respeito do tema. Há 25 anos, o país definiu o crime de racismo, indicado na Constituição, como inafiançável e imprescritível (Lei 7.716/89). Ao longo dos anos, a norma passou por modificações, ampliando as possibilidades de enquadramento na prática criminosa, caracterizada, por exemplo, pelo impedimento de acesso de alguém a algum serviço ou estabelecimento ou, ainda, pela incitação à discriminação por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Na Câmara dos Deputados, está pronta para votação em plenário, proposta que pretende instituir uma nova lei contra o racismo e outros casos de preconceito, mais severa (PL 6418/05 e apensados). Pelo relatório do deputado Henrique Afonso (PV-AC) aprovado em dezembro de 2013 pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ficaria revogado tam-
bém o artigo do Código Penal sobre injúria racial, cuja prática, diferentemente do crime de racismo, não é inafiançável e imprescritível. A ideia é que tanto a injúria quanto a apologia ao racismo passem a ser enquadradas como discriminação resultante de preconceito de raça, cor, religião, sexo, aparência, condição social, descendência, origem nacional ou étnica, idade ou condição de pessoa com
MUDANÇA
Para o coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial, deputado Luiz Alberto (PT-BA), há a necessidade de mudança de postura nas instituições brasileiras, que muitas vezes estimula a prática deficiência. A pena é de reclusão de um a três anos, passível de acréscimo de um terço. Para Henrique Afonso, a lei atual não atingiu a eficácia esperada. Opinião compartilhada pelo presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous. “A lei atual foi uma grande conquista na época em que
foi editada. Pela primeira vez, aprovou-se uma lei que reprovava a prática de atos racistas. Infelizmente, as manifestações de racismo – inclusive manifestações acirradas – recrudesceram ao longo desses anos ao invés de diminuírem. De forma que a constatação é de que a lei não atende mais aos reclamos de uma reprimenda mais forte a manifestações racistas”, ressalta. Postura firme O coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombolas, deputado Luiz Alberto (PT-BA), não vê, contudo, necessidade de mudança da lei, mas, sim, de postura nas instituições brasileiras. “Esse conjunto de eventos que vem ocorrendo no Brasil demonstra que a legislação só precisa ser aplicada conforme foi aprovada. Por exemplo: para um preso em flagrante delito por crime de racismo, não cabe fiança. É imprescritível. É inafiançável. Mas o juiz trata de outra maneira, concede fiança, abre outro tipo de ação penal. Portanto, destoa do objetivo da legislação atual”. Luiz Alberto argumenta que o sistema racial brasileiro é de tal forma complexo que o próprio Estado, muitas vezes, estimula práticas racistas, ao invés de coibi-las.
Comissão aprova ampliação Em 18 de dezembro do ano passado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias aprovou proposta que amplia as hipóteses de crimes de preconceito. O texto define os crimes resultantes de discriminação e preconceito de raça, cor, sexo, religião, aparência, condição social, descendência, origem nacional ou étnica, de idade ou condição de pessoa com deficiência. O texto aprovado é um substitutivo do relator, deputado Henrique Afonso
(PV-AC), ao projeto de lei 6418/05, do Senado, e a outras propostas que tramitam em conjunto. A proposta revoga a lei atual sobre crimes de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (lei 7.716/89). Essa lei estabelece penas por discriminação para quem restringir o acesso em transportes ou proibir a entrada em locais como escolas, hotéis e restaurantes. “Apesar de ter representado um esforço legislativo
para reprimir a discriminação racial, a lei referida não atingiu a eficácia esperada e pouco contribuiu para reprimir a discriminação”, disse o relator. A proposta inclui ainda quem pratica, difunde, induz ou incita a discriminação ou preconceito, ou injuria alguém, ofendendo a dignidade e o decoro, com a utilização de elementos próprios da pessoa, também cometerá o mesmo crime. E a pena prevista pode aumentar em 1/3 em alguns casos.
Com a palavra
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Rafael ROMANO
‘Julgo COM celeridade. É uma MANIA!’
FOTOS: IONE MORENO
VALÉRIA COSTA Equipe EM TEMPO
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A celeridade nos processos que julgo é uma mania que me acompanha desde que eu entrei na Justiça, na minha primeira comarca, em Canutama. Por onde passo eu não deixo nenhum processo com problemas de morosidade. Isso é mania!”
um ano e meio da aposentadoria, o vice-presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), desembargador Rafael Romano, afirma que uma de suas qualidades – ou mania como faz questão de frisar – é a celeridade no julgamento de seus processos. Ele, que ao longo de mais de três décadas na magistratura, colecionou casos “problemáticos” tem nas mãos outro processo espinhoso: julgar 19 acusados envolvidos com crimes de pedofilia denunciados à Justiça, fruto das investigações da Operação Estocolmo. E, para não fugir à regra que imprimiu em sua rotina de trabalho, Romano garantiu que até o fim deste semestre, o processo estará instruído para que entre em julgamento no segundo semestre do ano. Com discurso que oscila entre cauteloso e escancarado, Rafael Romano afirma ser contra a morosidade da Justiça, lentidão de processos e diz não temer represálias por julgar processos envolvendo pessoas poderosas. Ele, que antes de iniciar sua trajetória no Direito foi jogador de futebol, se orgulha em ter exercido quase todas as funções da carreira jurídica, como delegado de polícia, juiz, corregedor de Justiça e agora integrar a corte máxima do Judiciário amazonense. Aos 68 anos, ele afirma que se aposentará ciente de ter cumprido a sua missão.
EM TEMPO – Como relator do processo oriundo da Operação Estocolmo, deflagrada pela Polícia Civil em 2012, o senhor tem afirmado que ainda este semestre vai apresentar a instrução para julgamento. Está mantido este prazo? Rafael Romano – Sim. A celeridade nos processos que julgo é uma mania, que me acompanha desde que eu entrei na Justiça, na minha primeira comarca, em Canutama. Por onde passo eu não deixo nenhum processo com problemas de morosidade. Isso é mania! Advogado nunca me procurou para pedir para processo andar, isso pouca gente sabe. Pelo contrário, os advogados têm contribuído para que os processos sejam mais céleres comigo. O Ministério Público do Estado (MPE) também. Ah, porque o MP demora? Demora. Mas comigo não pode dizer isso não, porque eu cobro do MP e ele sabe disso. Dou prazos para o MP por isso que os processos andam comigo. Agora, não foi o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como estão dizendo, que acelerou o
andamento dos processos. O CNJ quando veio para cá veio para dar um apoio logístico para o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) fazer as coisas certas. Se na inspeção encontrou alguma irregularidade - porque existem irregularidades - elas serão todas sanadas porque não são tão graves assim. EM TEMPO – O processo da Operação Estocolmo corre em segredo de Justiça. Na qualidade de relator, até que ponto o senhor pode antecipar ou emitir qualquer informação sobre seu relatório? RR - Eu acho que isso (segredo de Justiça) tem que acabar. A lei protege determinada pessoa, retirando o caso de crianças e adolescentes, mas eu sou radicalmente contra essa história de voto secreto, segredo de justiça e outros mecanismos que só vêm fortalecer a impunidade. A “Estocolmo” veio para as minhas mãos (sic)... acho que foi a primeira operação no Brasil a ter essa celeridade. Eu a recebi em 2013. Neste semestre devo instruir todo o processo e no segundo semestre, a decisão sai. EM TEMPO – Palavra recorrente hoje é a “morosidade da Justiça”. O que a faz ser tão lenta no país? RR - A Justiça vive de exemplos. A morosidade maior está no Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Não somente na província de Manaus. Tem causas no STF que estão há 20 anos. A lei pune juízes, promotores, ministros. Pune juiz e desembargador omisso e negligente também. O Código de Processo Civil permite isso, mas muitos advogados não têm coragem de processar. Nós (magistrados) somos multados e punidos quando somos omissos, segundo a lei. Não sei se é por respeito ou medo, mas nunca vi ninguém processar um magistrado. Estou com mais de 30 anos no Poder Judiciário local e nunca vi juiz ou desembargador ser chamado ou punido porque deixou de terminar um processo no tempo oportuno. Esse tempo que estão dizendo aí de 8 a 10 anos, não admito isso. Não sei como é que o juiz consegue segurar um processo por mais de 5 anos. Não sei, não entendo. Mas, a culpa da morosidade da Justiça é do advogado, do defensor público, do MPE e, inclusive da polícia que, se é um órgão que ainda funciona é a polícia, que prende e faz o inquérito. Se é perfeito ou imperfeito, compete ao promotor de Justiça, que não depende nem de processo, apresentar a denúncia. EM TEMPO – O senhor foi
juiz titular da Vara da Infância e Juventude de Manaus numa época em que crimes contra crianças não eram tão expostos quanto agora. O que está acontecendo? O que se vê hoje é uma sucessão de crimes contra a infância... RR - Nós temos as melhores leis do mundo, em termos de improbidade administrativa, responsabilidade fiscal (sic). Essa da criança e adolescente (ECA) é um espetáculo, não existe melhor. Agora, o maior problema que nós temos é de fazer cumprir tudo isso. Leis, não adianta mais criar. Não tem mais onde colocar artigo. Se todo mundo lesse o artigo 5º da Constituição Federal, não precisava mais ler nenhum outro código. Só a Bíblia. Eu só tiro o artigo 5º com a Bíblia. Nestes dois pontos estão os direitos fundamentais do cidadão, que é igual para todos e não tem rótulo. EM TEMPO – Mas, quanto aos crimes contra as nossas crianças? RR - Crimes contra a infância e juventude existem desde o rascunho da Bíblia. Porquê? Todo tipo de crime praticado contra criança e adolescente tem início onde? Na própria família, na vizinhança, ao redor, no círculo onde você mora. E essa história de que pedofilia, exploração sexual, favorecimento à prostituição, para mim é um bolo só. Criam coisas para dificultar e retardar julgamentos. Está tudo na lei velha. Qual é a moda hoje? É tráfico de drogas. Aí, você hoje nas delegacias, chegam cinco papeletas de drogas, vai para penitenciária. Dez quilos de drogas, vai para a penitenciária. Eu quero saber daqui a 5 anos onde vão colocar tanto preso. Ainda bem que estão criando estádios bonitos, grandes, vão precisar para colocar presos só de entorpecentes. Hoje, de cada dez crimes praticados, oito são de drogas, em qualquer lugar do Brasil. EM TEMPO – Com uma carreira de mais de 30 anos na magistratura, o que o senhor tem a falar sobre a sua trajetória? RR - Dava para fazer um livro, porque todos os grandes problemas, geralmente (eu tenho uma sorte) caem nas minhas mãos. Eu tenho um imã, só vem coisa ruim. Mas, graças a Deus tenho me saído muito bem. EM TEMPO – O senhor citaria algum julgamento que mais lhe impactou? RR - A gente ter que julgar pessoas de dentro do próprio sistema da Justiça e outras autoridades. Isso é ruim porque são pessoas que deveriam cumprir com essas obrigações
para fazer valer a Justiça em benefício da sociedade. Não compete aqui reprovar o seu caráter e comportamento, o porquê optou por jogar uma carreira toda no lixo e nós termos, infelizmente, que julgar. Eu não julgo em cima de pessoas, eu não julgo em cima de quem eu não gosto. Eu julgo o que está nos autos. Julgo proporcionalmente a cada um da forma como ele cometeu o crime. EM TEMPO – Por ter nas mãos processos problemáticos, como o senhor falou antes e, inclusive envolvendo pessoas poderosas, o senhor não tem receio de sofrer algum tipo de represália? RR - Eu sou uma pessoa que nunca usei segurança. A minha sorte é que antes de eu ser magistrado, fui desportista, joguei no Nacional e fui pentacampeão de futebol de salão, fui delegado de polícia, onde exerci quase todos os cargos. Então, fui toda essa parafernália de atividade que isso não me intimida. Ando tranquilamente pelas ruas e isso para mim é um conforto, porque as próprias pessoas condenadas por mim aceitaram a condenação e acharam que foi justa. EM TEMPO – No próximo ano o senhor deve se aposentar compulsoriamente, quais são seus planos pósJudiciário? RR – Sim me aposento no final de 2015 para a alegria desse pessoal todo (risos) e para minha alegria também, de ter cumprido a minha missão. Sobre meus planos? Se o presidente do STF, que falam que quer se candidatar à Presidência da República, eu saio na vice dele (risos). Vou ficar à disposição da sociedade. EM TEMPO – Com passagem pela Justiça Eleitoral, como o senhor avalia esta esfera? RR - Olha, eu acho que é a elite do Judiciário brasileiro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e todos os tribunais, com todos os defeitos que têm, a Justiça Eleitoral é a mais célere e com uma credibilidade muito boa. EM TEMPO – E quanto à eficácia do CNJ, é importante? RR - Peço a Deus que o Conselho não se torne daqui para frente um órgão político. Não se afina política com conselho. Acredito muito no CNJ e não imagino a nossa Justiça sem o CNJ, que serviu de divisor. Porque, se não tem esse conselho, com todos os defeitos, austeridade e até injustiça em alguns casos, mas o CNJ tem ajudado muito a nossa Justiça, tem dado apoio direto.
Nunca vi ninguém processar um magistrado. Estou com mais de 30 anos no Judiciário e nunca vi juiz ou desembargador ser punido porque não terminou um processo no tempo oportuno”
Peço a Deus que o CNJ não se torne daqui para frente um órgão político. Não se afina política com conselho. Acredito muito no CNJ e não imagino a nossa Justiça sem o Conselho”
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Política
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Judiciário estará presente nas festas de Carnaval À
espera de cerca de 2,1 milhões de turistas para o Carnaval, as cidades do Rio de Janeiro, Recife e Salvador contarão com a presença do Poder Judiciário nos circuitos de folia. Pelo sétimo ano seguido, juízes designados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE) estiveram atendendo pessoas envolvidas em delitos de menor potencial ofensivo, durante o bloco carnavalesco Galo da Madrugada, que ocorreu ontem. Agressões, atos obscenos, brigas, danos ao patrimônio público e provocação de tumulto são alguns dos delitos de menor potencial ofensivo. O Juizado do Folião funcionará das 13h às 21h, em duas unidades: no Fórum Thomaz de Aquino e na Estação Central do Metrô. No Sambódromo do Rio de Janeiro, o Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos funcionará para o atendimento de casos de desacato, agressões, atos de violência e ações envolvendo consumo, como a compra de ingressos. Um juiz, um promotor de Justiça, um defensor público e serventuá-
rios auxiliarão os foliões em um ônibus estacionado no Setor 11, atrás da praça de alimentação. O serviço será realizado a partir das 19h, todos os dias do Carnaval e no dia 8, quando ocorrerá o desfile das escolas de samba campeãs. Em Salvador, a 1ª Vara da Infância e da Juventude esta-
APOIO
Justiça prepara infraestrutura para atender foliões nas principais capitais brasileiras durante o período carnavalesco até a quartafeira de Cinzas. Cidades beneficiadas são Rio, Salvador e Recife rá aberta 24 horas durante o período de Carnaval, com postos de atendimento no circuito do Carnaval baiano – Pelourinho, Campo Grande – e na estação rodoviária, aeroporto e na sede da Vara, na avenida Garibaldi. Expediente Nas três cidades, o expediente do Poder Judiciário es-
tadual (tribunais de Justiça e Varas de primeira instância) será suspenso até a quartafeira de Cinzas. Mas haverá plantão para atendimento de ações previstas na Resolução n. 71/2009, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tais como pedidos de habeas corpus, prisão preventiva e de busca e apreensão de pessoas, bens ou valores. No Rio de Janeiro, o Fórum Central, localizado na Praça XV, funcionará no atendimento do Plantão Judiciário, durante 24 horas. Em Salvador, os atendimentos urgentes serão realizados no Fórum das Famílias, localizado na rua do Tinguí, em Nazaré, ao lado do Fórum Ruy Barbosa. O Plantão Judiciário de 2º Grau funcionará na sede do Tribunal de Justiça, na 5ª avenida do Centro Administrativo da Bahia. Em Recife, o plantão funcionará das 13h às 17h no térreo do Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha de Joana Bezerra. Já o plantão do segundo grau ocorrerá no Palácio da Justiça. Devido ao desfile do Galo da Madrugada, nas proximidades do tribunal, o atendimento será realizado no Fórum Rodolfo Aureliano.
DIVULGAÇÃO/CNJ
Pelo menos três grandes circuitos carnavalescos, Rio, Recife e Salvador, contarão com apoio de juizados especiais
Proposta do Poder Judiciário é levar sensação de Justiça aos foliões das grandes cidades
Caderno B
Economia nomia economia@emtempo.com.br
Economia B4 e B5
(92) 3090-1045
DIEGO JANATÃ
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Chuva derruba produção de sorvetes
Chefe José Mota prepara pratos requintados nas cozinhas do seu quadro de clientes há seis anos
‘Em casa é bem melhor’ LUANA GOMES Especial EM TEMPO
N
o tempo em que a correria impera na rotina social, os serviços em domicílio surgem como opções para quem mantém a agenda lotada por conta das tarefas profissionais e domésticas. No catálogo de atividades a lista é ampla. Nela aparecem fisioterapeutas, psicólogos, dentistas e até mesmo chefes dispostos a levar o produto até a casa do consumidor. Apesar de trabalhar em um estúdio de pilates, a fisioterapeuta Edna Cristiane Farias, 40, não abre mão da prestação de serviços no lar do cliente. Ela trabalha tanto com a fisioterapia quanto com o pilates solo – por meio do qual é trabalhada a coordenação e a respiração usando apenas o corpo –, que também pode contar com auxílio de acessórios, como bola, círculo e faixa elástica. “É muito bom fazer atividades no consultório, mas, existem pessoas que não tem tempo e preferem em domicílio”, ressalta. Edna explica que as consultas de fisioterapia estão tabeladas em R$ 70, mas, geralmente os clientes fecham pacote de até duas sessões por semana, o que resulta num investimento mensal na saúde de R$ 450 a R$ 500. No caso do pilates solo, a profissional fecha pacotes com valor na ordem de R$ 270, o que garante o mesmo número de aulas da fisioterapia ao mês (oito aulas). Para rechear ainda mais o leque de funções realizadas em casa, a fisioterapeuta também elabora massagens relaxantes em seus clientes, com valores que variam de R$ 50 a R$ 60, conforme as necessidades deles. Edna acrescenta que a massagem é também um extra para o término dos exercícios de pilates, como forma de relaxar os alunos. A dona-de-casa Paula Soa-
GIOVANNA CONSENTINE
Serviços profissionais realizados em domicílio é um nicho de mercado que em Manaus vai além do tradicional manicure e pedicure, com uma lista crescente que vai do atendimento médico até mesmo a realização de um “jantar dos sonhos” res, 38, é mãe de quatro filhos. Solteira, ela diz que cuidar do lar e das tarefas maternas toma todo o seu tempo, o que a impedem de sair à procura de serviço de profissionais que precisa. “Falta tempo até mesmo para cuidar das minhas vaidades”, observa. Por conta das circunstâncias, e na falta de tempo para ir até um salão de beleza, por exemplo, ela afirma que prefere agendar muitos serviços em domicílio. “É bem melhor marcar com a manicure em casa. Se não precisar sair eu ganho tempo para cuidar melhor das crianças”, apontuou. Se alguém pensou que os serviços prestados em casa se resumiam somente aos cuidados pessoais é porque
O serviço em domicílio também é uma opção adotada pelos profissionais da área de saúde. Diante da falta de formalização da experiência, o psicólogo Amon Alencar comenta que encontrou dificuldades para encontrar vagas no mercado do setor e teve que adotar uma estratégia para atuar na área da qual é formado desde 2005. A assistência domiciliar, também conhecida como home care, nasceu para Amon em um grupo de três amigos. Com o serviço eles conseguiram manter-se no mercado até que cada conseguiu emprego e decidiram trilhar por outros caminhos. Ao contrário dos demais, Amon continuo com o home care, mesmo atuando em clínica de doenças renais. As consultas na casa dos pacientes, segundo ele, estão faixa de R$ 80 a R$ 250. De acordo com o psicólogo, a procura pelo seu atendimento domiciliar cresceu até 80% quando o Plano de Saúde dos Servidores Federais deu base ao serviço, bem como o específico para militares. “As duas modalidades aderiram ao atendimento home care, e mostraram que o mercado é bom, por isso continuei atendendo o cliente no seu lar”, salienta.
DENTISTA
A odontóloga Denise Machado lançou o serviço “Dentista em Casa”, amparada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para atender até mesmo em hotel, em caso de turista. ainda não foi atendido por um chefe de cozinha. Especializado em gastronomia há pouco mais de 40 anos, o chefe José Carlos Mota trabalha em Manaus com a elaboração de cardápios para interessados em um jantar especial, sem se preocupar com a cozinha. Há seis anos atendendo em domicílio, Mota explica que o cliente deve fazer o pedido com dois dias de antecedência do “jantar dos sonhos”. A diversidade dos pratos do cardápio oferecido pelo chefe não é problema. Em caso recente, ele serviu jantar com um cardápio de pratos árabes, por exemplo. O preço de um jantar em domicílio, segundo o chefe, depende do número de pessoas, do prato escolhido e das combinações.
Profissional na clínica e no lar do cliente
Sem tempo para ir a um salão, a dona de casa Paula Soares prefere agendar serviços em casa
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Economia
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
País receberá 7,2 milhões de estrangeiros em 2014 A
umentar para 7,2 milhões a entrada de turistas estrangeiros, para US$ 9,2 bilhões a receita com o turismo internacional e para 226,4 milhões o número de viagens domésticas pelo país. Estas são algumas das metas do Plano de Ação 2014 do Ministério do Turismo, apresentado esta semana em um seminário. O propósito do plano é alcançar as metas estabelecidas pelo Plano Nacional do Turismo (2013-2016), entre elas, o de posicionar o Brasil como a terceira maior economia turística do mundo até 2022. Hoje, o país é o sexto colocado, com uma receita de US$ 76,1 bilhões. Com destinos competitivos, o grau de atratividade cresce. Do mesmo modo, aumenta o número de turistas que visita o país. No ano passado, o Brasil recebeu quase 6 milhões de estrangeiros, o que representa uma receita internacional de em torno US$ 6 bilhões. Também foram realizadas quase 215 milhões de viagens internas pelo país. Publicado no Diário Oficial da União, no último dia 14 de fevereiro, o plano apresenta 47 iniciativas para desenvol-
ver o turismo nacional neste ano, especialmente no que diz respeito à estruturação, fomento e promoção do turismo. Hotelaria As hospedagens alternativas sempre agradaram os turistas estrangeiros que
PROGRAMA
A nova versão lançada do Sistema de Monitoramento de Desempenho do MTur, usado para controle interno das ações nas áreas técnicas, vai dar maior transparência na administração pública visitam o Brasil. Do total de visitantes internacionais (5,67 milhões) que estiveram no país em 2012, estima-se que quase a metade deles (44,2%), ou seja, 2,5 milhões escolheram esse tipo de hospedagem durante sua estada no país. Os albergues e camping (4,9%) abrigaram 278,1 mil estrangeiros, as casas alugadas (11,9%) outros 675,4 mil e as casas de amigos e parentes (27,9%) mais 1,58 milhões
de visitantes. As razões que explicam a preferência pelos meios alternativos são o interesse em se aproximar da cultura local e a economia de dinheiro. Soma-se a isso a oferta crescente de hospedagens alternativas pelas cidadessede da Copa: são 3.491 leitos em pensões, com cama e café; 3.804 albergues; 22.478 leitos em imóveis para aluguel e 29.940 em motéis, segundo pesquisa de serviço de hospedagem, do IBGE, e dados levantados pelo MTur. Mas há um número bem superior nas cidades vizinhas às sedes da Copa. A partir de junho, a Copa do Mundo deve atrair cerca de 600 mil turistas estrangeiros para o país. Ao estimular as hospedagens alternativas, o Ministério do Turismo (MTur) contribui para o aumento da oferta de leitos a preços acessíveis a turistas brasileiros e estrangeiros - e ainda ajuda a conter o preço abusivo de parte dos meios tradicionais. “Queremos estimular o mercado a oferecer hospedagens adequadas para os diversos perfis de turistas que a Copa do Mundo atrai sem prejuízo dos meios tradicionais”, explicou o ministro do Turismo, Gastão Vieira.
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
Expectativa projetada pelo Ministério do Turismo representa acréscimo de 20% no número de turistas do ano passado
Visitantes estrangeiros viajarão pelas cidades-sede da Copa, incluindo, a capital amazonense
Alfredo MR Lopes alfredo.lopes@uol.com.br
ZFM 47 anos: melancolia e meditação Há um clima de melancolia na celebração dos 47 anos do Decreto 188/67, que criou a Zona Franca de Manaus. Sem ninguém para encomendar o bolo, a Suframa, a autarquia que gerencia os incentivos fiscais, está em greve e na linha de fogo do questionamento e provocação. Em vez de festa, portanto, o momento recomenda profunda meditação. Sem folias nem euforia, já se passou quase meio século de ensaios da integração e imperativo da transformação, com avanços em algumas áreas, retrocesso em outras e bons motivos para analisar a extraordinária metamorfose vivida por Manaus e, a partir daqui, múltiplos reflexos para a região e para o Brasil. É incontestável a irradiação de negócios e oportunidades nos Estados e regiões vizinhas que interagem com a sexta economia do país. Os números traduzem os indicadores das transformações a partir do impulso e ebulição econômica do modelo ZFM. Para quem viveu Manaus nos anos 60 - a cidade que já foi chamada de Paris dos Trópicos – a paisagem urbana tinha fama de sorridente e ordeira, porém pobre e desfalcada dos avanços e benefícios que a civilização pode propiciar. Daí a reflexão para valorizar os avanços objetivos, entender as contradições e retrocessos imanentes e ter claro o caminho para onde, como e com
quem esta socioeconomia pretende seguir. O Ciclo da Borracha durou três décadas e até hoje não fomos lá muito hábeis em meditar objetivamente - para aprender e utilizar as lições – sobre o que se passou nesse período. Para confirmar a regra, uma iniciativa excepcional se deu a partir de Belém, em 2013, com a publicação dos anais do 6º Encontro Nacional de Entidades de Economia da Amazônia, denominada 1912 2012 Cem anos da crise da borracha: do retrospecto ao prospecto. A Amazônia em doze ensaios - Coletânea do 6º Enam, coordenada pelo Conselho Regional de Economia do Pará. Trata-se de um material riquíssimo de informações e questionamentos com metodologias e enfoques epistemológicos consistentes, que resgata a memória desse crescimento econômico regional e algumas similaridades e reprises de expansão e distorção econômica representada pela Zona Franca de Manaus, entre outras iniciativas desenvolvimentistas. Já tivemos oportunidade de destacar o “Federalismo Brasileiro” e a “Economia Amazônica”, de José Raimundo Vergolino, doutor em economia pela Universidade de Ilinnois. Estribado em metodologia histórica que recupera os primórdios da geração regional de riqueza no início do Século 19, o autor demonstra que
não haverá desenvolvimento e distribuição de riquezas sem investimento robusto em Educação e qualificação em Ciência, Tecnologia e Inovação. E mais: o Amazonas, em seu perfil socioeconômico, comparativamente, é o Estado que menos cresceu de 1994 a 2008. Este é um dado que obriga a rever os motivos e alcance da euforia na celebração do modelo, sua contribuição fiscal entre os Estados amazônicos, e o perfil de desenvolvimento humano de sua população ribeirinha, onde estão 11 dos piores municípios do país. De nada, portanto, valerá a pirotecnia publicitária que calca a intocabilidade do maior projeto mundial de preservação com esses humilhantes indicadores de promoção da cidadania e exclusão social. Sem recursos para honrar compromissos ordinários e funcionais, nem autoridade para conduzir negociações trabalhistas, e impotente para cumprir, entre outras, suas atribuições de promoção do desenvolvimento junto às prefeituras da Amazônia Ocidental, a Suframa caminha para um desfecho melancólico e institucionalmente pálido rumo ao tapetão de debate e defesa de mais meio século de benefícios fiscais do seu modelo de desenvolvimento. Depois de um início avassalador em 2003, que descreve a última prorrogação constitucional
dos incentivos, as grandes articulações em favor do crescimento regional, o orçamento e a autonomia da autarquia minguaram no limite da penúria de quem precisa vender a mala por motivo de viagem. É como num jogo de time pré-classificado, com todos seus armadores e atacantes no estaleiro, a quem só resta chutar para os lados e recuar a bola à espera do messiânico e eleitoreiro apito final. Por isso, esgotou-se o direito da ZFM permanecer vitaminada com a energia vulnerável dos incentivos - que outros biomas de intocabilidade ambiental poderiam, com toda justeza, reivindicar. Sem repensar nem promover novas matrizes econômicas, a ZFM jamais alcançará o patamar objetivo da competitividade nem a inserção clara de sua economia na lógica produtiva nacional, incluindo a revisão e o entendimento de uma nova política tributária. Desintegrada e privilegiada desse contexto, na dependência de emendas, canetas e canetadas, o modelo ZFM desembarcará, inevitavelmente, na desconstrução industrial. É emergencial, pois, definir o modelo ZFM como um capítulo articulado da política industrial nacional, onde se entabulam e se integram as políticas ambientais, de Ciência, Tecnologia e Inovação, com a definição de um projeto nacional e regional para a região que permita
e justifique a manutenção e prorrogação de incentivos, com prazos e detalhamento de seu acompanhamento e evolução. São esses mecanismos que permitirão maior enraizamento econômico e ecológico dos fatores de produção da ZFM, onde não há mais justificativa para protelar a operacionalização do Centro de Biotecnologia da Amazônia e sua inserção como parte das opções para enraizar regionalmente a produção e agregar valor via inovação e uso inteligente e não-predatório, da biodiversidade. Não faz sentido avançar nesse segmento sem a presença respeitável da Embrapa e Embrapi, a vertente industrial dos bionegócios dessa empresa reconhecida por seus resultados e excelência. É nesse contexto que faz sentido a adoção de medidas que estimulem e monitorem a competitividade, tanto da Zona Franca de Manaus como da produção nacional de bens de alta tecnologia, especialmente na área de informática e da tecnologia da informação. Para viabilizar, entretanto, as premissas e condições dessa caminhada impõem-se estabelecer medidas concretas para fortalecimento da Suframa e legitimação, enfim, de seu papel de agência regional e autônoma de desenvolvimento. Eis os ingredientes e as premissas da prorrogação e de uma verdadeira celebração!
Alfredo MR Lopes Filósofo e ensaísta
Desintegrada e privilegiada desse contexto, na dependência de emendas, canetas e canetadas, o modelo ZFM desembarcará, inevitavelmente, na desconstrução industrial”
Economia
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
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Polo Industrial de Manaus busca eficiência logística ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
Especialista aponta a necessidade de estudos sobre custos empresariais para vencer barreiras geográficas e de infraestrutura
JULIANA GERALDO Equipe EM TEMPO
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s entraves logísticos do Polo Industrial de Manaus (PIM), como a falta de portos, aeroportos, hidrovias e ferrovias, além das falhas no abastecimento energético, na comunicação de dados e o excesso de burocracia na entrada e saída de produtos são apontados como os principais “culpados” pela menor competitividade dos produtos amazonenses. Entretanto, o conhecimento logístico que está sendo procurado pelas empresas do PIM surge como ponte para tornar as fábricas mais competitivas. De acordo com o consultor de soluções logísticas, professor do Departamento de Engenharia de Produção e coordenador do Laboratório de Desempenho Logístico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carlos Taboada, a identificação de problemas “micro”, dentro de cada fábrica funciona como um caminho alternativo, enquanto problemas “macros”, os quais dependem de força política, não se resolvem. Para o especialista, apesar da situação geográfica e de infraestrutura, o parque fabril amazonense pode repensar sua logística, a fim de alcançar eficiência, de forma econômica. “Defendo que, mesmo com cenário adverso, as fábricas do PIM podem identificar seus problemas internos para buscar soluções que estejam ao seu alcance”, avalia. Taboada diz que, para obter a eficácia, o primeiro passo é conhecer o custo logístico dentro das contas empresariais. O professor lembra que um levantamento feito em fábricas do setor moveleiro, em
MARCELL MOTA ARQUIVO EM TEMPO
Suframa, Fieam e empresários do PIM sinalizaram interesse sobre capacitação oferecida pela Federação da Indústria de Santa Catarina e formação deve começar pelo polo de componentes
parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), identificou quanto cada empresa gasta com logística. “Verificamos que para faturar R$ 1, as fábricas gastavam em média R$ 0,16. Conhecer este número é importante para tomar as medidas e diminuí-lo”, observa. No estudo, segundo Taboada, foi apontado que uma das empresas gastava R$ 0,25 para faturar R$ 1, ou seja, R$0,09 a mais na comparação com as outras do mesmo setor e que trabalhavam nas mesmas condições logísticas. “Descobriu-se que ela possuía grandes estoques, o que refletia em suas contas”, lembra. O estudioso que se prepara,
CÁLCULO
Curso para empresários do PIM está sendo formatado com o objetivo de ensinar a prática de calcular seus custos logísticos e com o diagnóstico do problema traçar suas próprias soluções Entre os entraves do PIM para se tornar competitivo estão: a falta de estrutura em portos, hidrovias, ferrovias e aeroportos
junto a Fiesc, para aplicar o levantamento em 800 empresas do Estado catarinense, diz que há chances de o mesmo estudo ser realizado para as fábricas amazonenses, em 2015. Segundo ele, o interesse já foi sinalizado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). O segmento de bens intermediários (polo de componentes) deverá ser o primeiro contemplado, devido às dificuldades de competir com os insumos importados.
Modernização de hidrovias somente no papel Apesar dos entraves que marcam o PIM, algumas soluções “macro”, dentro da logística amazonense começam a ser esboçadas. Uma delas é o plano do governo federal, anunciado em novembro do ano passado, de investir R$ 17 bilhões, a partir deste ano, para a modernização de hidrovias
na região amazônica. Outros R$ 9 bilhões devem ser aplicados pela iniciativa privada, com R$ 5 bilhões voltados para a reforma dos terminais hidroviários. “A ideia é buscar alternativas para o escoamento da produção, usando a infraestrutura do modal hidroviário”, afirmou na ocasião do anúncio, o coorde-
nador-geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes, Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro. Como mais uma alternativa, Ribeiro aponta o polo logístico que vai abrigar em uma mesma área o polo naval, um polo para o aproveitamento de riquezas minerais e um acesso estratégico para
o escoamento da produção dos itens fabricados no PIM. “Entretanto, a construção do polo (antigo polo naval), enfrenta dificuldades para sair do papel e ainda não tem data marcada para o início das obras”, relembrou o secretário de Estado de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos, Daniel Nava.
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Economia
Comercialização ‘boia’ com o perí Sorveterias sentem efeitos do inverno amazônico com queda no faturamento de 5% a 10%, mas esperam crescimento no verão com o clima da Copa do Mundo ANDRÉ TOBIAS Equipe EM TEMPO
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nquanto as regiões Sul e Sudeste enfrentam um verão rigoroso, com altas temperaturas, Manaus começa a sofrer as consequências do inverno amazônico, que em resumo é um longo período de chuvas. Quem também paga parcela da conta dos temporais que desabam sobre a capital amazonense são as sorveterias, que perdem na arrecadação com a queda nas vendas. Na sorveteria Glacial, uma das maiores redes de Manaus, os reflexos das chuvas começam a serem sentidos. “Atualmente nossa produção semanal é de cinco toneladas de sorvete. Na época do verão, chegamos a produzir de 10 a 15 toneladas”, diz o gerente geral da empresa, José Antônio. Comparada as vendas de hoje as do mesmo período do ano passado, a rede registrou queda de 5%. O segredo para o percentual pequeno, segundo Antônio, deve-se as constan-
tes novidades que a sorveteria apresenta aos seus clientes como, por exemplo, a linha regional de sorvetes com os sabores de pupunha e tucumã. As altas temperaturas são, de fato, o principal fator que impulsiona a venda de sorvetes em Manaus, segundo gerente comercial da Toya, Arlisson Alfon. A empresa que está localizada no bairro Compensa, Zona Oeste, sofreu queda de 10% nas vendas. “As vendas acalmaram um pouco. E é uma pena que no nosso país o costume é tomar sorvete somente no verão”, lamenta. Assim como sabores, os preços são dos mais variados e atendem a todas as classes sociais. Apesar da queda nas vendas, os valores são mantidos para o período chuvoso. A Glacial vende a bola do sorvete em média por R$ 3. Já na Toya, a bola custa R$ 1,50. Picolé Diferente das grandes sorveterias, as pequenas fábricas de picolés sofrem mais com o tempo de chuva, ao ponto de
algumas fecharem as portas para não vê o picolé “boiado” (termo comumente usado em Manaus). Seu Ademir Marques, 61, há dois anos trabalha com a fabricação e venda de picolés no bairro São José, Zona Leste. Ele ainda não conseguiu se estabelecer no mercado e luta para não trocar de ramo. “Só consigo sobreviver no mercado pela dedicação ao trabalho,. Eu mesmo fabrico, negocio e entrego os picolés”, destaca. O melhor período de vendas para o pequeno fabricante ocorre no verão de setembro e outubro, principalmente pelas festas em comemoração ao dia das crianças em escolas particulares, quando Marques alcança a meta de mais de trinta mil picolés, nos dois meses. Fora as encomendas, Marques vende até mil picolés em dias de sol. Contudo, no inverno o volume cai para apenas 50 picolés ao dia. “A partir do momento em que os estudantes entram de férias e o período da chuva se inicia, nossas vendas caem cerca de 50%”, afirma o picolezeiro.
Glacial produz, no inverno, até cinco toneladas de sorvete
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DIEGO JANATÃ
o de sorvetes ríodo chuvoso Ao sabor regional Apesar das quedas nas vendas dos doces gelados neste início de ano, o presidente da Associação dos Fabricantes de Sorvete do Estado do Amazonas (Afasa), Paulo Cesani, acredita que as vendas de 2014 irão superar as do ano passado, na mesma média de quando o mercado cresceu 20% comparado a 2012. Sinal de que o crescimento poderá se concretizar,
segundo ele, é o fato de o mês de janeiro desse ano já ter superado ao mesmo período do ano passado. Para Casani, a possível alta poderá ser estimulada pelo fenômeno Copa do Mundo, ao sabor dos sorvetes e picolés regionais que serão oferecidos aos turistas nacionais e estrangeiros. Com a proximidade do mundial, a curiosidade dos
turistas sobre os sabores regionais como açaí, cupuaçu, tucumã e buriti ajudará a aumentar o lucro. “E incentivar o aquecimento do mercado”, opina Cesani.
Pejuízo com quedas de energia As constantes quedas de energia tornaram-se comuns nos últimos meses em Manaus e os prejuízos causados à população são incalculáveis. As sorveterias, que dependem muito do abastecimento desse bem - já que a composição dos seus produtos faz uso de gorduras lácteas -, também são bastante prejudicadas pelo mau serviço prestado
pela concessionária Eletrobrás Amazonas Energia. José Antônio, da Glacial, diz que, pelo setor depender crucialmente de uma energia elétrica de qualidade para a conservação dos nossos produtos, as constantes quedas causam grandes prejuízos. “Vários equipamentos nossos já queimaram. O péssimo serviço elétrico tem nos causa-
do um prejuízo que gira em torno de R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês”, reclamou. Alfon preferiu não revelar valores, mas também se queixou das constantes quedas de energia na cidade, o que, segundo ele, são valores significativos que recaem sobre as costas das empresas, sem qualquer tipo de ressarcimento por parte da concessionária.
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Maconha: uso medicinal tem apoio de 57% dos brasileiros Venda para uso recreativo, como no Uruguai, é defendida por somente 19% dos brasileiros ouvidos por uma pesquisa
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legalização da venda da maconha para fins medicinais, com a apresentação de uma receita médica, é defendida por 57% dos brasileiros, segundo levantamento da empresa Expertise. Iniciativas mais radicais, como a legalização para uso recreativo, adotada pelo Uruguai, não têm apoio dos brasileiros. Segundo a pesquisa, apenas 19% dos entrevistados são favoráveis à liberação total da erva. A maconha deve continuar totalmente proibida para 37% dos entrevistados e 6% não têm opinião formada sobre o tema. Foram realizadas 1.259 entrevistas on-line nos dias 24 a 27/1/2014 e a margem de erro é de 2,8 pontos percentuais. Os entrevistados são selecionados a partir de uma base de dados da empresa com informações sobre endereço, idade e sexo e convidados a responder o questionário por e-mail, em troca de prêmios. O apoio à venda da Cannabis sativa apenas para fins medicinais está em sintonia com a experiência de 21 Estados norte-americanos que regulamentaram o comércio da substância nessas condições. Médicos afirmam que a erva pode aliviar sintomas de diversas doenças, como Aids, câncer e esclerose múltipla. O temor popular de que experimentar a maconha uma vez condena o usuário ao vício não se confirma, segundo a pesquisa. Entre os entrevistados, 26% disseram ter usado a erva pelo menos uma vez na vida, dos quais 83% não a fumam mais atualmente. Apenas 4% dos que já fuma-
AE
ram um baseado –ou 1% da população total – disseram fazer uso diário da droga. Estudos Em 2013, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou um estudo com resultados distintos dos apresentados pela Expertise. Segundo essa pesquisa, feita presencialmente com 4.607 indivíduos, 7% dos brasileiros afirmaram já ter usado maconha. O estudo da Unifesp também aponta que 75% dos brasileiros eram contrários à legalização da maconha, mas o questioná-
PROIBIÇÃO
A maconha deve continuar totalmente proibida para 37% dos entrevistados e 6% não têm opinião formada sobre o tema. Foram realizadas 1.259 entrevistas on-line nos dias 24 a 27 de janeiro Iniciativas mais radicais, como a legalização para uso recreativo, adotada pelo Uruguai, não têm o apoio dos brasileiros
rio não diferenciava o uso medicinal do recreativo. Há 2 semanas, o Senado começou a discutir uma proposta que legaliza o consumo da maconha para todas as finalidades. A iniciativa partiu de um gestor da área da saúde, que publicou o texto no site do Senado e obteve apoio de 20 mil pessoas. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator da proposta, disse não ter “simpatia” nem “preconceito” a respeito da legalização, mas afirma que o Congresso não pode se negar a discutir o tema.
Droga é prejuducial na opinião de não fumantes Os brasileiros que já experimentaram a maconha são mais otimistas em relação aos seus efeitos sobre a saúde do que os que nunca fumaram. Há um fosso entre as percepções dos 2 grupos, segundo a pesquisa da Expertise. A droga é “muito prejudicial, com total chance de vício” na opinião de 85%
CHEIAS DIVULGAÇÃO
dos que nunca fumaram maconha. Entre os que já usaram a droga, essa taxa cai para 15%. Entre os que nunca experimentaram a erva, 83% apoiam a sua criminalização total. No grupo dos que já fumaram um baseado, apenas 17% defendem que seu uso continue proibido. Considerando os brasilei-
ros que não usaram a erva, 40% a consideram menos prejudicial do que o álcool. Entre os que já a experimentaram, a taxa é de 60%. Percepção Os resultados da pesquisa da Expertise não devem ser entendidos como uma guinada liberal do brasileiro em relação a todas as
drogas. Segundo pesquisa Datafolha de 2013 sobre o perfil ideológico da população, 83% avaliam que o uso de drogas deve ser proibido, pois “prejudica toda a sociedade”. O levantamento da Expertise, contudo, identifica uma maior abertura ao debate sobre a legalização da maconha para uso medicinal.
LEVANTAMENTO
Dilema de municípios ricos e pobres Um levantamento da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) mostra que ainda existe grande desigualdade entre os municípios com mais de 80 mil habitantes no país. Segundo o estudo, a arrecadação das 100 cidades mais pobres e com piores indicadores sociais representa apenas 27,4% do que arrecada o restante dos 257 municípios de mesmo tamanho.
A desigualdade é percebida também quando analisada a renda per capita desses municípios mais pobres, que alcança 49% do restante dos municípios de mesmo porte. Os dados são do Anuário G100, que analisa as contas dos 100 municípios de mais de 80 mil habitantes com menor receita (isto é, o montante arrecadado regularmente pela prefeitura)
por habitante. Segundo o estudo, levaria um século para que esses municípios atingissem a renda per capita média dos demais. O estudo também analisa indicadores sociais, como a taxa de homicídios. Enquanto no G100 a taxa de assassinatos na faixa etária de 20 a 29 anos é 94,8 por 100 mil, nos demais, a taxa é 63,8 por 100 mil. ABR
Principais acessos às cidades acrianas estão interrompidos en razão das cheias no Estado
Mais de R$ 2 mi para ajudar o Acre O governo federal reconheceu a situação de emergência, por procedimento sumário, de municípios do Estado do Acre afetados por inundações. Também foi autorizada a transferência de R$ 2,2 milhões para ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento dos serviços essenciais no Estado. Considerando a natureza e o volume de ações a serem implementadas, a execução das obras e serviços tem prazo de um ano, a partir da
publicação da portaria. Hoje faz um mês que as primeiras famílias foram retiradas de bairros atingidos pela cheia do Rio Acre e levadas para o Parque de Exposições da capital, Rio Branco, onde 331 famílias estão abrigadas. O nível do rio Acre registrou, às 18h de ontem (27), 14,85 metros na capital. Segundo informações do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a BR-364, que liga os Estados do Acre e
Rondônia, teve o tráfego suspenso no trecho que corta o município de Jacy-Paraná, em Rondônia. O motivo da interdição foi a forte correnteza das águas do rio Madeira, que invadem a pista e tornam a passagem de veículos perigosa nas áreas alagadas. O governo acriano informou ainda que entrou em contato com o Consulado do Peru para verificar a possibilidade de o Acre comprar produtos do país vizinho.
Maioria das cidades em situações de extrema pobreza herdam problemas das grandes capitais
Mundo
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Venezuela não é um país de bárbaros, afirma chanceler
DEVIDO À COPA
Renúncia de Bento 16 foi antecipada, diz arcebispo “Minha reação espontânea foi de dizer ‘Não, Santo Padre, você não tem esse direito’. Mas essa seria uma reação afetiva, e muito rapidamente compreendi que ele me dizia isso porque já havia tomado sua decisão”, explicou o arcebispo.
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Só 4 sabiam O papa revelou sua decisão para apenas quatro pessoas. “Ele me fez prometer manter a notícia sob segredo papal. Você pode imaginar que não foi fácil e que houve situações em que eu estava quase rasgado internamente”, contou. Os cardeais presentes durante o anúncio feito pelo papa, feito em latim, levaram algum tempo para compreender o que estava acontecendo, acrescentou.
Bento 16 queria que sucessor participasse da JMJ, no Rio
chanceler venezuelano, Elías Jaua, afirmou esta semana, em Brasília, que a Venezuela “não é uma país de bárbaros” e que a maioria de sua população “deseja viver em paz”, apesar de haver “facções violentas” que pretendem semear o “caos” e “derrubar” o governo de Nicolás Maduro. Jaua chegou à capital brasileira procedente de Montevidéu, no marco da viagem que está fazendo pela América do Sul para apresentar a posição do governo frente à crise que o país vive. Em entrevista coletiva, Jaua explicou que foi recebido pelo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, que reiterou o respaldo do governo de Dilma Rousseff ao processo democrático venezuelano e mostrou sua condenação à violência suscitada nos protestos que ocorrem na Venezuela há mais de duas semanas. Segundo Jaua, Figueiredo também foi “receptivo” quanto à proposta venezuelana de convocar uma cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para debater a crise em que o país está imerso. Jaua indicou que formalizará essa proposta hoje mesmo no Suriname, que controla a Presidência rotativa da Unasul
AFP
Declaração é do chanceler venezuelano, Elías Jaua, em visita ao Brasil, onde busca apoio internacional para sustentação do governo de Nicolás Maduro
AFP
A antecipação da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro de 2014, para 2013, precipitou a decisão do papa emérito Bento 16 de anunciar sua renúncia, revelou seu secretário particular à imprensa alemã. A mudança de data foi feita para que não coincidisse com a Copa do Mundo no país. “Aconteceu exatamente dessa forma”, afirmou o arcebispo Georg Günswein ao jornal bávaro “Süddeutsche Zeitung”. O papa alemão Bento 16 tomou a decisão de renunciar ao posto, um ato histórico, em agosto de 2012 e comunicou ao seu secretário em dezembro do mesmo ano. Ele queria que seu sucessor participasse da JMJ na cidade do Rio de Janeiro.
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e para onde viajou após sua rápida visita a Brasília, que seguiu às realizadas nos últimos dois dias à Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. “A Unasul já demonstrou ser um mecanismo muito eficiente para a defesa da democracia”, afirmou Jaua, que citou a atuação desse organismo durante as crises políticas ocorridas nos últi-
RESPALDO
Jaua explicou que foi recebido pelo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, que reiterou o respaldo de Dilma Rousseff ao processo democrático venezuelano e mostrou sua condenação à violência mos anos no Equador, Bolívia e Paraguai. Como fez ao longo de seu tour, Jaua entregou a Figueiredo um relatório sobre “os antecedentes e as causas da agressão” que, segundo afirmou, nasceu de “facções violentas” da oposição vinculadas ao partido Vontade Popular e ao líder Leopoldo López, que foi detido na semana passada.
Jaua (à esq.) busca apoio internacional para o governo de Maduro
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Mundo
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Caderno C
Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
diadia@emtempo.com.br
(92) 3090-1041
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO/ARQUIVO EM TEMPO
Sistema prisional esquecido Dia a dia C4 e C5
Carnaboi institui desafio
FOTOS: ALFREDO FERNANDES/AGECOM/ARQUIVO
Maior evento de Carnaval no ritmo de boi do Estado terá dez desafios de toada com os maiores artistas do Amazonas
Décima quarta edição da festa que mistura Carnaval e o ritmo do boi-bumbá trará como inovação o encontro dos artistas das associações folclóricas em toadas de desafios nas duas noites
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Carnaboi chega à sua décima quarta edição com a expectativa de reunir mais de 100 mil pessoas por dia. O evento é aberto ao público e acontece no sambódromo, na Segunda e Terça-Feira Gorda, dias 3 e 4 de março, respectivamente, a partir de 21h, em um formato inovador. Promoção do governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), o evento nessa nova edição vai acirrar ainda mais a rixa entre os bumbás participantes, que incluem os bois rivais Caprichoso e Garantido, de Parintins, mas também Brilhante, Garanhão e Corre-Campo, de Manaus. O método escolhido será o “Desafio de Toada”, no qual dois trios elétricos terão times de itens dos bois a cada hora de apresentação, sendo um saindo de locais opostos, um da concentração e outro da ferradura, ao mesmo tempo, se encontrando no meio da pista. Lá começa o desafio com os cabeças-de-chave, os artistas principais do Azul e Vermelho, com amos do boi, levantadores de toada, apresentadores e suas respectivas Marujada de Guerra e Batucada. O sorteio da ordem de apresentação dos artistas aconteceu no Shopping do Tururi na noite de 25 de fevereiro. O primeiro duelo do Carnaboi 2014, na segunda (3), será entre a Banda Garantido Show e Rafael Jr. (ferradura) e Boi-Bumbá Brilhante e Itamar Benarrós (concentração), às 21h. Na sequência, o segundo embate reunirá Carrapicho e Renato Freitas, num trio saindo da ferradura, para enfrentar Márcia Siqueira e P.A. Chaves (concentração), às 22h10. Os itens entram no Sambódromo na Segunda Gorda às 23h20, com o Amo do Caprichoso Tony Medeiros
desafiando o Amo do Garantido Júnior Paulain, tendo em seguida a Marujada de Guerra saindo da ferradura, às 0h30, para fazer o “Desafio de Toada” com a Batucada do Garantido, que sairá da concentração. A primeira noite do Carnaboi encerra com os trios de Carlinhos do Boi e Boi-Bumbá Corre Campo (ferradura) topando o duelo com BoiBumbá Garanhão e Fabiano Neves (concentração). Explosão A segunda noite do Carnaboi promete ser explosiva para os torcedores caprichosos e garantidos. Os primeiros trios saem às 21h, com Klinger Araújo e Edmundo Oran (ferradura) pelo Azul, para pegar os Vermelhos da Banda Kamaiura e Tuãn (concentração). O próximo desafio da Terça-Feira Gorda acontece a partir de 22h10, com Hamiraldo da Mata e Robson Jr. (ferradura) fazendo embate de toadas com o Canto da Mata e Prince do Boi (concentração). Mas será às 23h20 que os cabeças-de-chave dos bumbás entrarão em cena, com os desafios mais esperados da festa. O trio com o “Imperador” David Assayag sairá da ferradura para se encontrar com o trio do “Uirapuru” Sebastião Júnior, que sairá da concentração. E no meio da pista eles prometem soltar os mais altos timbres e todo o poder das vozes dos Levantadores dos Bois. Em seguida, os apresentadores dos bumbas de Parintins, Israel Paulain e Arlindo Júnior, às 0h30, fazem mais uma rodada no Sambódromo, agitando as galeras Vermelha e Azul. E o maior duelo de toadas no Carnaval encerrará com Edilson Santana e Marcio do Boi contra Gaspar Medeiros e Caetano Medeiros, a partir de 1h40.
Megaestrutura para conforto e segurança De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Robério Braga, a ideia é movimentar ainda mais a festa. “Buscamos uma nova proposta que foi apresentada pelos bumbás e acreditamos que, dessa forma, o Carnaboi 2014 voltará a ser sucesso de público. A mudança será para melhor”, declarou. Este ano, a festa tradicional do calendário momesco, que reunirá 20 atrações em
trios elétricos, terá uma megaestrutura à disposição da população para seu maior conforto e segurança. Serão 260 policiais militares fazendo o policiamento no sambódromo, a fim de garantir uma brincadeira saudável, da qual participam milhares de famílias amazonenses e turistas. Estarão à disposição do público 60 banheiros químicos, instalados no espaço, e 120
pessoas ficarão responsáveis pela limpeza do Centro de Convenções. O lugar terá ainda toda a estrutura de barracas de bebidas, padronizadas, e a operação logística e de coordenação da festa é conduzida pela empresa Ativa Eventos. Tururis A Feirinha do Tururi, que faz os esquentas para o Carnaboi e é centro de vendas
dos tururis (a roupa oficial do Carnaboi) termina neste domingo no largo do Mestre Chico (da avenida Beira Rio até a rua Ipixuna, Centro). O projeto tem o mesmo objetivo das edições anteriores que é comercializar os tururis, espécie de abadás, dos artistas participantes do Carnaboi. O barracão tem 25 estandes, com horário de comercialização a partir das 18h.
Ao menos 100 mil pessoas são aguardadas por noite durante a festa que vai tomar conta do sambódromo, dias 3 e 4 de março
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Mobilidade a pass GERSON FREITAS Especial para o EM TEMPO
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agilidade à locomoção de pedestres e fluxo de trânsito. As obras começaram em julho de 2013. A primeira parte do transporte foi entregue recentemente e ainda está em fase de adaptação nas avenidas Constantino Nery e Torquato Tapajós, com 13 paradas. A previsão é que esteja em pleno funcionamento até o início da Copa, em junho próximo. Binário arquivado Anunciado ainda na gestão do ex-prefeito Amazonino Mendes, o sistema binário que traria um novo conceito de ordenamento no trânsito da capital e eliminaria os grandes congestionamentos nas principais avenidas foi descartado antes dos inícios da obras de mobilidade urbana. O sistema utilizaria semáforos inteligentes e usaria vias para mão única nas avenidas Djalma Batista e Constantino Nery. Em nota, a assessoria da Secretaria de Estado de Infraestrutura do Estado (Seinfra) informou que o governador anunciou que havia recursos para as obras de mobilidade, mas algumas não saíram do papel, outras foram substituídas e ainda estão em fase de acabamento de conclusão. O monotrilho, em razão principalmente de dificuldades na liberação de licenças juntos aos órgãos ambientais e de preservação do patrimônio, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), saiu da matriz de responsabilidade da Copa e passou para o PAC Mobilidade Urbana.
“Linha azul” que delimita a via exclusiva para ônibus na avenida Constantino Nery: teste do BRS já para a Copa do Mundo MANOEL VAZ/SEMCOM
poucos meses para o início dos jogos da Copa do Mundo de 2014, Manaus continua com o seu calendário atrasado nas entregas das obras, com muita coisa por fazer. Na área de mobilidade urbana, Manaus excluiu oficialmente três projetos e deixará de cumprir com algumas promessas que estavam inclusas no pacote de obras anunciado em 2010 pela prefeitura e governo do Estado. Projetos originais anunciados para o setor não saíram do papel e foram substituídos por outros emergenciais para que a cidade não ficasse fora das realizações dos jogos. Um dos principais projetos e o maior legado que a Copa deixaria para Manaus seria a construção do monotrilho e o BRT (Bus Rapid Transport), que ligariam o Centro à Zona Leste, passando pela Arena da Amazônia transportando por dia 170 mil usuários do transporte público. Orçado em R$ 1,3 bilhão, o projeto foi retirado do pacote de obras devido às diversas irregularidades encontradas no sistema, ficando agora o monotrilho no pacote do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de entrega apenas para 2020. Ele foi substituído pelo BRS (Bus Rapid Service), sistema que utilizará as plataformas do antigo expresso e contará com faixas preferenciais para ônibus, garantindo
DIEGO JANATÃ
Faltando pouco para o início dos jogos da Copa do Mundo, projetos de mobilidade urbana ainda estão saindo do papel, em meio a dificuldades
Obras na avenida Djalma Batista incluíram a reforma das calçadas e construção de baias
Para urbanista, BRS está errado O urbanista Kleyton Marinho comentou que o sistema utilizado para “maquiar” o transporte público em Manaus, o BRS, seria uma ótima opção, no entato não houve, por parte do poder público, um estudo mais específico para a avenida Constantino Nery. O resultado foi a saturação devido o isolamento de uma faixa e a não organização dos demais ônibus que circulam na via da direita, restando assim uma única via para a circulação de veículos leves. Segundo Marinho, a faixa exclusiva para o BRS deveria ter sido instalada na direita da via, integrando todas as linhas de ônibus que circulam no local. “A intenção de melhorar o fluxo não teve o resultado esperado, e provavelmente um estudo mais intenso deverá ser feito depois da Copa para a solução definitiva do problema”, afirmou o urbanista. Outras obras que já deveriam estar prontas no calendário da Copa seriam as restaurações dos meios-fios e calçadas das principais avenidas da cidade. Os trabalhos começaram em agosto do ano passado na avenida Djalma Batista com a proposta de melhorar a acessibilidade. O projeto que teria início na avenida Senador Álvaro Maia
e finalizaria no Amazonas Shopping Center ainda não tem data de entrega definida. Já na avenida Constantino Nery, onde fica a Arena da Amazônia, principal cartãopostal da Copa, as obras de restauro das calçadas começaram em janeiro passado, e segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, a previsão de conclusão das obras na localidade é em
PROBLEMA
De acordo com Kleyton Marinho, não houve por parte do poder público um estudo mais específico para implantar o BRS na avenida Constantino Nery, resultando em saturação da via maio próximo. Incluído no pacote de obras de mobilidades urbanas para a Copa, a tão sonhada ciclovia destinada para a turma das pedaladas saiu do papel na metade de fevereiro, e a conclusão da primeira etapa deve ser em maio. A ciclovia terá 14,6 quilômetros de extensão, começando no encontro das avenidas Duque de
Caxias e Álvaro Botelho Maia, na Zona Centro-Sul, passando pelas avenidas Brasil e Coronel Teixeira até chegar à Marina do Davi, na Ponta Negra, Zona Oeste. Para o segundo semestre ficaram as demais avenidas descritas no pacote de obras. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), foram investidos R$ 150 milhões nas ações de serviços de recapeamento em 50 quilômetros de ruas, via administração direta. Os dados são da Divisão de Acompanhamento de Serviços Básicos (Dasb), departamento vinculado à Subsecretaria de Serviços da Seminf. Ainda em nota a secretaria afirma que foram realizadas as obras de infraestrutura viária para as ações de revitalização urbana de acessibilidade, mobilidade e segurança, executadas pela Prefeitura de Manaus, por meio da Seminf, serviços de pavimentação completa de avenidas, incluindo requalificação de calçadas, projeto de mobilidade urbana, urbanismo e sinalização vertical e horizontal - com placas de identificação em português e inglês, para melhor orientação dos turistas -, e ciclovias – em algumas vias.
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sos de tartaruga Uma corrida contra o tempo
O recapeamento completo das vias licitadas foi concluído em janeiro. A meta é que, até a Copa, as principais avenidas do quadrilátero da Copa sejam requalificadas. O quadrilátero abrange quatro eixos mais importantes para o evento e compreende o aeroporto internacional Eduardo Gomes, a Ponta Negra, o Centro e a Arena da Amazônia. Com recursos do Tesouro Municipal e da Caixa Econômica Federal, a reestruturação completa de todas as vias está estimada em R$ 200 milhões. As avenidas estão divididas em cinco lotes. As obras do primeiro lote, em execução desde agosto, são realizadas pelo consórcio Manaus Etacom, cujo valor é de R$ 40,87 milhões. Ele compreende a avenida Djalma Batista, no trecho localizado entre as avenidas Álvaro Botelho Maia e Torquato Tapajós; rua Lóris Cordovil, no trecho entre Dom Pedro I e avenida Constantino Nery; avenida Pedro Teixeira, no trecho entre avenida Coronel Teixeira e Djalma Batista; avenida do Turismo, no trecho entre avenida
Coronel Teixeira e avenida Santos Dumont; e avenida Dom Pedro I, entre Abílio Alencar e Pedro Teixeira. Já estão em andamento os lotes 2 e 3: as avenidas Constantino Nery entre Leonardo Malcher e Desembargador João Machado, Torquato Tapajós entre Viaduto de Flores e Santos Dumont, Max Teixeira entre Torquato Ta-
PRIORIDADES
O quadrilátero da Copa abrange quatro eixos importantes para o evento esportivo e compreende o aeroporto Eduardo Gomes, a Ponta Negra, o Centro e a Arena da Amazônia pajós e Noel Nutels valor total é de R$ 65.722.215. As obras serão executadas pela Construtora Soma Ltda., vencedora do processo licitatório. A avenida Coronel Teixeira, uma das principais da Zona Oeste, faz parte do lote 3, também em andamento. O recapeamento da via ocorre em parceria
entre a Seminf e o Exército brasileiro, por meio do 2º Grupamento de Engenharia do Comando Militar da Amazônia (CMA). O lote 4, por sua vez, compreende as avenidas Álvaro Maia e Brasil, e com valor global de R$ 22.868.143. Ele contempla, entre as ações de revitalização, a construção da Ciclovia Boulevard-Ponta Negra, proposta por arquitetos, técnicos e designers do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb). As ações de revitalização urbana do lote 5, se estenderão às avenidas Autaz-Mirim, Paraíba e Recife, com valor de R$ 36.948.480,11. Com a previsão de entrega para dezembro de 2013, as obras de recapeamento não foram entregues na data prevista e com 98% de conclusão os recapeamentos estão acontecendo dia e noite em ritmo acelerado. Segundo a Seminf, houve um prorrogação no prazo, devido às chuvas, que têm interrompido o trabalho de recapeamento. A entrega das vias ficou para abril deste ano. As empresas deverão entregar os demais serviços até abril de 2014. Projeção da futura ciclovia Boulevard-Ponta Negra: mais espaço para usuários de bicicletas
IMPLURB/DIVULGAÇÃO
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Semiaberto par Regime no qual o presidiário tem mais vantagens ainda não tem o devido aproveitamento para realmente fazer valer o objetivo da ressocialização dos seus internos IVE RYLO Equipe EM TEMPO
O
direito do condenado à progressão, para o regime semiaberto com a assistência prevista em lei, tem sido menosprezado em vários Estados. O fato foi denunciado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que considerou como “pura ilusão” os moldes atuais do regime semiaberto. Ele justificou a falência do sistema prisional pela carência de estabelecimentos apropriados para receber os presos, como colônias agrícolas ou albergues, a superlotação e a falta de investimentos e comprometimento federativo. No Amazonas, segundo informações repassadas pela Vara de Execução Penal (VEP) do Tribunal de Justiça, existem 499 pessoas cumprindo pena no regime semiaberto, que ocupam a colônia agrícola localizada no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no quilômetro 8 da rodovia BR 174 (ManausBoa Vista). Contudo, o local tem capacidade para 192 presos. Do total de internos, apenas 140 conseguiram trabalho externo e 50 trabalham nas dependências da própria colônia, responsáveis pela manutenção do espaço. Na colônia, além do prédio da administração, há uma área destinada aos cultos e escola dos detentos, uma quadra, um campo de futebol, chapéu de palha, uma pocilga, uma área reservada à criação de patos e o espaço onde funcionava uma serraria, hoje desativada. Os
internos ficam distribuídos em três pavilhões. Cada cela tem capacidade para 12 homens, mas segundo informações repassadas pela vara, elas não têm estrutura adequada para comportar toda a comunidade. Numa tentativa de organizar o espaço, os próprios presos improvisam divisões com pedaços de tecidos. Segundo denúncias, haveria redes atadas sob árvores e nos chapéus de palha. Na muralha que isola a colônia, há oito guaritas, sendo que apenas uma possui policiamento, e de um policial militar. No portão principal, fica a maioria dos policiais, cerca de sete. A superlotação, combinada à ausência de estrutura e de programas mais incisivos de inclusão e ressocialização dos internos, fez o juiz da VEP, Luiz Carlos Valois, considerar a prisão como um local de abandono. “A colônia agrícola onde é o semiaberto é praticamente uma favela, é um barraco em cima do outro, os presos ficam atando rede nas árvores. Os presos não têm mais lugar para dormir, estão atando rede nas árvores do lado de fora, fazendo comida no chão”, revelou. Além da deficiente estrutura, o juiz apontou que medidas para aproveitar a mão de obra dos detentos, ocupando o tempo livre, são raras. “Às vezes tem, mas é muito cíclico”, disse. Ele explicou que a substituição das penas curtas por longas foi pensada para oferecer ao condenado tratamentos e condições de ressocialização. Por isso, as penas que na época do Brasil Imperial eram de 30 a 50 dias foram estendidas
para mais anos, quando foram implantados os regimes aberto e semiaberto, que nasceram nesta ideia de ressocialização. Porém, se não houver repasse de recursos e investimentos reais no atendimento aos detentos, a progressão da pena não surtirá o efeito planejado. “Hoje, a gente sabe que o semiaberto não ressocializa. É uma omissão geral, não tem apoio, não tem escola, não tem nada, a gente sabe que prisão é local de abandono. Também acho que o semiaberto e o aberto são ilusões de ressocialziação”, defendeu. Contudo, ele acredita que se forem extintos ambos os regimes, seria necessário ocorrer à redução de penas. “Só concordo de excluir o semiaberto e o aberto se diminuirem as penas, porque eles nasceram na ideia de aumentar a pena para recuperar a pessoa, o que não funciona”, apontou o juiz. A substituição dos regimes pelo controle das tornozeleiras eletrônicas é discutida em todo o país. A ferramenta já é utilizada em Porto Velho (RO), quando não há vagas na colônia agrícola. “Segundo o secretário, as tornozeleiras estão em processo de licitação. Seria uma boa principalmente para o regime fechado, onde os presos também têm direito a sair para trabalhar, desde que com escolta”, disse o juiz Valois. A equipe do EM TEMPO buscou o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejus), por meio da assessoria, mas até o fechamento da edição não conseguiu estabelecer contato.
Vista aérea do Complexo Anísio Jobim, onde funciona o semiaberto
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO/ARQUIVO EM TEMPO
Como funciona o regime prisional Quem é transferido para o semiaberto, pode deixar a colônia para trabalhar ou estudar. É permitido ao preso sair duas horas antes do início do compromisso e retornar até duas horas depois, tempo dado para o deslocamento. Três dias trabalhado, reduz um dia de pena. Ele também tem direito assegurado por lei a 35 dias de saída para visitar a família. A autorização para o detento sair para escola, tratamento médico ou trabalho é dada pela Vara de Execução Penal. O preso deve retornar ao complexo penitenciário no horário estipulado. O juiz Luiz Carlos Valois explicou que o descumprimento de horário do regulamento é considerado falta leve pelo estatuto penitenciário do Amazonas. “Não causa regressão, apenas advertência”, explicou. Dentro do presídio, os presos podem transitar pelo espaço e são recolhidos para as celas à noite. Lá, o uso de celular e o consumo de bebidas alcoólicas são proibidos. “Dentro do estabelecimento penal, não pode beber. Fora do estabelecimento penal se estiver solto, em Cursos profissionalizantes resultantes de pequenas parcerias têm apresentado bons resultados
liberdade, não há nada na lei que proíba. No direito penal é assim, tudo que não é proibido é permitido”, explicou Valois. Mudança O que vai definir a transferência do preso do regime fechado para o semiaberto é o cumprimento da pena. Segundo o juiz Luiz Carlos Valois, após cumprir um sexto da pena - para os crimes comuns - e, dois quintos para crimes hediondos, e ter bom comportamento, o detento pode partir para o semiaberto. Após o cumprimento, caberá ao juiz e ao Ministério Público acatar ou não a progressão. O critério “bom comportamento” é questionado por Valois. “Bom comportamento é uma certidão do diretor dizendo que ele teve bom comportamento, só isso. Como não tem trabalho, não tem estudo, não tem nada, o bom comportamento é o nada, quer dizer, se não se meteu em confusão, não tentou fugir, não brigou, tem bom comportamento. É o nada, infelizmente, porque o ‘bom comportamento’ devia ser outra coisa, o cara devia estar estudan-
do, trabalhando, mas não tem nada disso na penitenciária”, denunciou. Para o juiz, avaliar se o preso adota uma boa conduta, no modelo de sistema prisional que há hoje, é difícil. “Quando tem uma confusão, quem aparece como titular na agressão é outro que não estava envolvido, o mais fraco assume. O preso mais forte, o ‘bandidão’ acaba sempre tendo um bom comportamento porque a prisão é do jeito que é. Prefiro ver pelo direito do preso, sem colocar nenhum conceito moral sobre isso”, assegurou. Custo Um prisioneiro do regime semiaberto custa ao Estado em torno de R$ 1,2 mil por mês. Já, um aluno da rede pública estadual custa em média R$ 2.444 por ano para o Estado. Segundo dados enviados pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), o investimento salta para R$ 6.969 por ano, para os estudantes das escolas de tempo integral e para R$ 4.904 ao ano, ao aluno que estuda em zona rural, usufruindo do programa Ensino Mediado por Tecnologias - Centro de Mídias.
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ra quê?
RICARDO OLIVEIRA/ARQUIVO EM TEMPO
Uma ideia é o uso de detentos do regime semiaberto como mão de obra em atividades sociais
Exemplos vêm de outros locais RAPHAEL ALVES/TJAM
Juiz da VEP, Luiz Carlos Valois: ainda há falhas a serem resolvidas no regime semiaberto
Aproveitar a mão de obra dos presos em atividades voltadas à sociedade durante o cumprimento da pena é pratica em outros países e até em outros Estados brasileiros. No Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, é comum os presos realizarem serviços da administração, como limpar as ruas, ou mesmo higienizar aves sujas de petróleo. No município de Sinop, no Mato Grosso, os presos são empregados na limpeza da cidade e também fazem serviços de jardinagem para reduzir a pena. Em Minas Gerais, os detentos são escalados para limpar as ruas em casos de enchente. No Amazonas não há atualmente parcerias com o Estado ou a prefeitura que aproveite e invista na mão de obra barata e ociosa da comunidade carcerária. No semiaberto,
havia apenas uma parceria com uma empresa do Distrito Induistrial há anos foi cancelada. O quadro denuncia a falta de atenção para com os internos. “O que mais tem no semiaberto é pedreiro e ajudante de pedreiro. Eles poderiam ser usados na construção do presídio feminino, por exemplo, mas não são. Parece que não há interesse e comprometimento do governo. A verdade é que há muito preconceito com relação ao interno, de todos os lados”, desabafou uma fonte ouvida pela reportagem. Mesmo sem o incentivo esperado, segundo informações repassadas pela VEP, são feitas pequenas parcerias de cursos profissionalizantes e ações para envolver os internos. No ano passado, após parceria com o Serviço Nacional de Aprendiza-
gem Industrial (Senai), foram oferecidos na colônia cursos de construção, marcenaria e pintura. Também há parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) para emissão de documentação. Além da realização de eventos de esporte e lazer, nas datas comemorativas para envolver o preso seus familiares. Também são oferecidos cursos de ensino fundamental e médio, por unidade de escola estadual implantada na colônia. O apoio dado tem surtido efeito. Dos 267 presos que utilizaram o benefício da saída natalina em 2013, apenas dois não retornaram porque morreram. Os restantes se apresentaram no dia marcado. A reportagem buscou o títular da Sejus, por meio da assessoria, mas não conseguiu estabelecer contato.
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Dia a dia
Outra vitória pe A
última semana de fevereiro da gerência de fauna do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) foi marcada pela corrida contra o tempo e contra a geografia do Amazonas para resgatar dois filhotes de peixe-boi oriundos de Caapiranga e de Anamã, municípios a 134 e 162 quilômetros distantes de Manaus, respectivamente. O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) está classificado como espécie “vulnerável” na lista de 2000 da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), por isso a pressa da equipe do Ipaam em cumprir com os procedimentos para manter vivos os filhotes. A gerente de Fauna do instituto, Sonia Canto, relata que tudo começou na segundafeira (24) quando recebeu um telefonema do secretário de Meio Ambiente do município de Caapiranga, José Aderaldo, por meio do qual informava a ocorrência de um filhote de peixe-boi sob os cuidados de uma família da comunidade Dominguinhos, distante 4 horas da sede do município. O secretário também formalizou a solicitação do resgate ao Ipaam.
“Começava a corrida contra o tempo no sentido de preparar a logística para trazer o filhote para Manaus e as tratativas para entregá-lo ao projeto Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)”, declarou a gerente. Na quarta-feira (26), duas biólogas do Instituto, Manoela Jardim e Brenda Leite, saíram
ENCONTRO
As biólogas foram informadas que o primeiro filhote de peixe-boi foi encontrado por duas crianças na margem do rio na comunidade Dominguinhos, interior de Caapiranga, sendo levado pela família cedo no carro da Fauna com destino a Manacapuru, e de lá partiram de “ajato” para a sede de Caapiranga, onde já encontraram o filhote de peixe-boi trazido da comunidade Dominguinhos por ação da Secretaria de Meio Ambiente local, conforme combinado com o Ipaam. As biólogas chegaram ao Inpa à noite, onde eram es-
peradas pelo veterinário Anselmo Daffonseca, contabilizando 8 horas e meia de deslocamento do filhote, trazido em uma caixa de isopor e com uma toalha mantida umedecida para não desidratá-lo. “Como ele estava muito machucado, nós viemos parando para verificar se ele estava bem. É um macho recém-nascido, supomos com 15 dias de vida. Nós já o batizamos de Vivi porque ele é um vitorioso”, disse Brenda. As biólogas foram informadas que o animal foi encontrado por duas crianças na margem do rio na comunidade Dominguinhos, interior de Caapiranga, e o levaram para os cuidados da família, onde foi mantido em um tanque com água e alimentado por uma semana. “Não sabemos se a mãe foi morta para o consumo da carne ou se o filhote foi preso em alguma rede e por isso separado da mãe ou se ela era uma fêmea inexperiente e acabou por abandonar a primeira cria. Como não fomos na comunidade contactar direto com a família para ganhar tempo no resgate, não sabemos ao certo o que aconteceu com esse filhote”, lamentou Manoela.
FOTOS: IPAAM/DIVULGAÇÃO
Resgate de dois filhotes de peixe-boi no interior do Amazonas mostra o esforço conjunto de Ipaam e Inpa na luta contra a extinção da espécie ameaçada, principalmente, pela caça predatória e já na lista das espécies vulneráveis
O filhote de peixe-boi que foi resgatado em Caapiranga, já no tanque maior, em observação
Cuidados constantes no instituto Ao chegar ao Inpa, o peixeboi apresentava ferimentos no dorso e um mais grave em uma das nadadeiras. Ele foi levado para a sala veterinária do projeto Mamíferos Aquáticos e foi medicado, alimentado e transferido para um tanque mais espaçoso, com água, sob a inspeção do veterinário Anselmo e sua equipe. “Ele está se alimentando e isto é um bom sinal, mas inspira cuidados por causa da infecção”, diagnosticou o veterinário, adiantando que no dia seguinte o animal seria pesado, medido e novamente examinado para decidir se ficaria em um tanque separado dos outros indivíduos de peixe-boi assistidos pelo Projeto ou passaria para algum dos tanques maiores, em companhia de outros.
Bióloga do Ipaam, Manoela Jardim, mostra o ferimento mais grave na nadadeira do filhote
Outro caso Na quinta-feira (27), outro resgate, também de um filhote macho, aconteceu.
PARCERIA
No resgate dos filhotes, além do Ipaam, houve participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Associação Amigos do Peixe-Boi Ele foi entregue por um pescador na fazenda Seringal, em Manacapuru, a 70 quilômetros de Manaus, na última terça-feira (25), local onde seis peixes-bois, reabilitados pelo Inpa, es-
tão em semicativeiro para serem reintroduzidos na natureza. A partir daí, o Inpa solicitou a participação do Ipaam. Além do Ipaam, houve participação do analista do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de um representante da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa). O filhote chegou ao Inpa por volta das 14h em condição bem melhor que o filhote do dia anterior. “Ele é um pouco mais velho que o outro, não apresentava ferimentos e aparentava estar bem nutrido”, disse a bióloga do Ipaam, Manoela Jardim, acreditando que ele tenha passado menos tempo afastado da mãe do que o outro.
Técnicos do Ipaam e veterinário do Inpa comemoram o sucesso da operação de resgate
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ela preservação Filhotes tem mais vulnerabilidade O veterinário do Inpa explicou que o peixe-boi é ocorrente nos rios Amazonas, Purus e Madeira, onde as águas são mais claras e preferencialmente na várzea pela oferta de alimentos, pois são herbívoros (alimentam-se de plantas). O filhote torna-se uma presa fácil porque, para respirar, deixa toda sua cabeça para fora da água, diferente do adulto que coloca apenas as narinas fora d`água. “Pelo filhote, é fácil chegar à mãe para capturá-la”, disse o veterinário, ressaltando a vulnerabilidade da espécie. Apesar dos anos de esforços com o projeto Mamíferos Aquáticos, hoje com 50 indivíduos nos tanques da sede do Inpa, mais seis em semicativeiro em um lago de piscicultura em Manacapuru, a reintrodução à natureza ainda é um sonho e um caminho para a pesquisa. Daffonseca disse que há peixes-bois com 30 anos no projeto porque a reintrodução à natureza é um processo difícil, complicado, caro e nem sempre bem sucedido. “O risco de não dar certo é muito grande porque
além dos fatores ambientais, genéticos, há as variações de um indivíduo para outro”, disse o veterinário. O melhor mesmo é que o animal nunca saia da natureza, defende também o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas que prepara uma campanha para conscientizar sobre a importância da fauna silvestre ser protegida e promover uma reflexão sobre a necessidade de repensar os hábitos culturais e alimentares no Estado. Os filhotes de peixe-boi resgatados têm um futuro incerto. O tempo de permanência no ambiente oferecido pelo projeto Mamíferos Aquáticos do Inpa ou sua volta à natureza, esperam pelo avanço da ciência. Os técnicos dos dois Institutos recomendam que quando um filhote de peixeboi for avistado sozinho, que a pessoa possa observar por alguns minutos se a mãe está por perto. Se ele de fato estiver só, aí sim, as pessoas podem entrar em contato com os órgãos ligados ao meio ambiente para realizarem o resgate o mais rápido possível. Após medicado, o filhote foi alimentado pelo veterinário do Inpa em mamadeira desenvolvida para facilitar a amamentação
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plateia@emtempo.com.br
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Quem leva a estatueta dourada hoje? Plateia 3
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Na folia do ‘politicamente correto’ Jornalista e diretor de redação do EM TEMPO faz um passeio pelo universo das marchinhas de Carnaval e mostra panorama controverso de suas letras MÁRIO ADOLFO Equipe EM TEMPO
“O
que seria do Carnaval brasileiro não fossem as marchinhas?”, pergunta um folião que se recusa, na farra de Momo, a balançar o esqueleto ao som do axé baiano. E aí eu pergunto em cima da bucha: E o que seria das marchinhas de Carnaval se naqueles anos dourados já existisse o tal do “politicamente correto”? Simplesmente não haveria música de Carnaval porque qualquer palavrinha mal colocada pode ser interpretada como preconceituosa e tornar-se crime. Sem dúvida, os grandes compositores teriam sido denunciados, presos, processados por racismo, discriminação e homofobia. As marchinhas que surgiram de uma mistura rítmica da polca com o one-step o ragtime norte-americano, não teriam nenhum tantinho assim de sal. Sim, porque enquanto nas composições carnavalescas, os compositores preferem os temas sentimentais, românticos e até da dor de cotovelo; enquanto que os sambas de enredo atacam com uma salada geral de história do Brasil, as marchinhas são alegres, maliciosas e irônicas, chegando às vezes ao humor mais corrosivo. E é por isso que não seriam nem gravadas nos dias de hoje. Você já imaginou se o genial Lamartine Babo aparecesse para gravar “O Teu Cabelo não Nega”, sucesso do carnaval de 1931 que compôs em parceria com os Irmãos Valença? Com certeza sairia do estúdio preso porque em alguns trechos a marchinha sacaneia de tudo que é jeito com o cabelo, com a cor e com a própria mulata.
Vejam só: “O teu cabelo não nega mulata/ Porque és mulata na cor/ Mas como a cor não pega, mulata/ mulata eu quero o te amor...” Viu só? Quer dizer que, se a cor pegasse, o candidato ao coração da mulata não queria nem conversa, ia pular o carnaval na outra extremidade do salão. Em outro trecho, a marchinha do “Seo Lalá” também comete o politicamente incorreto na maior cara de pau: “tens o sabor/ bem do Brasil/ tens a alma cor de anil...” Já pensou, a mulata só é de outro planeta porque tem a alma azul. Juvenal Outra marchinha que talvez não fosse gravada hoje seria “Juvenal no Municipal”, porque seus autores, Ruthnaldo e Milton Oliveira seriam acusados de estar praticando a homofobia. A música, que estourou no carnaval de 1960 e até hoje toca nas bandas e bailes de salão, conta o sonho de um rapaz de desfilar no Municipal. “O sonho do Juvenal/ É desfilar no Muncipal/ O sonho, do Juvenal/ É desfilar no Municipal ...”, diz o refrão. Era uma referência ao baile de gala do Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, onde só entrava gente chique e artista famoso. A marchinha vai bem, até insinuar a preferência sexual do rapaz, carregando nos rótulos da época: “Mandou buscar em Paris/ uma peça de lamê/ pra fazer a fantasia/ bordada de paetê...” A discriminação começa aí, porque na época “macho que era macho” não usava lamê e paetê nem a pau, Juvenal! E aí vem o desfecho que ridicularizou o desfile do rapaz: “Chegou Juvenal na passarela/ ninguém sabe se é ele/ ninguém sabe se é ela...” Se Ruthnaldo e Milton Olivei-
ra estivessem vivos, com certeza seriam denunciados pelo Ministério Público e teriam que se explicar à GLBT. Não só eles, mas também a deslumbrante Ângela Maria – que gravou a marchinha –, seria vetada no programa do Faustão. Anda bem que naquele tempo ainda não existia o politicamente correto porque não teríamos conhecido marchinhas maravilhosas como a “Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal, gravada no carnaval de 1964 que também poderia ser enquadrada como crime de “homofobia”, se o Zezé resolvesse entrar com uma ação
SEM SAL
Jornalista expõe que seriam sem graça as marchinhas se não fossem os conteúdos recheados de alegria, malícia e ironia, colocando-as em contraponto aos temas românticos
por “danos morais” e caísse nas mãos de um procurador CDF. “Olha a cabeleira do Zezé/ Será que ele é?/ Será que ele é?” pergunta logo de saída a marchinha do Kelly. E depois ainda rotula o Zezé de tudo o que é jeito: “Será que ele é bossa nova?/ Será que ele é Maomé?/ Parece que é transviado/ Mas isso eu não sei se ele é”, tira da reta o compositor. Também responderia processo por danos morais os autores da marchinha “Coitado do Jacaré”, Dom Jorge e J. Nunes, além do intérprete, nada menos que Carlos Gonzaga (aquele de Diana). Na visão deturpada da patrulha
ideológica do politicamente correto, os caras extrapolaram todos os limites da ética: “Tiraram o coração da minha sogra/ Botaram o coração de um jacaré/ Sabe o que aconteceu? / A velha se mandou/ E o jacaré morreu!/ Coitado do jacaré”. Dom Jorge e J. Nunes seriam enquadrados na Lei Maria da Penha, por violência contra a mulher (sogra), e, de quebra, denunciado ao MPF por usar a palavra “velho” e não “representante da terceira idade”. Até mesmo o bonachão Chacrinha não escaparia da guilhotina. No ano de 1980, o Velho Guerreiro gravou a criação é de João Roberto Kelly, “Maria Sapatão”. A marchinha levaria à loucura os insanos da onda do politicamente correto: “Maria Sapatão/ Sapatão/ Sapatão/ De dia é Maria/ De noite é João/ O sapatão está na moda/ O mundo aplaudiu/ É um barato /É um sucesso/ Dentro e fora do Brasil”. Se tivéssemos que corrigir as letras das músicas do passado, o samba de Benito de Paula, por exemplo, teria que ser cantado assim: “Vou dar bolacha em quem mexer com a minha afrodescendente/ já deu colher demais agora chega/ há dez mulheres para cada homem no Rio de Janeiro/ a afrodescendente é minha ninguém tasca eu vi primeiro/ a afrodescendente é minha ninguém tasca eu vi primeiro”. E a veterana das marchinhas de carnaval, “O Pirata da Perna de Pau”, como deveria ficar? “Eu sou o pirata portador de necessidade especial?/ al, al/ do olho de vidro/ da cara de mau”. Como o folião pode comprovar, o “politicamente correto” não tem graça nenhuma.
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>> Nome
>> Agenda . A Segunda-Feira Gorda terá festa à fantasia no Tropical Hotel. É o “Manaus Fantasy”, que na versão 2014 dará um carro zero quilômetro como prêmio para a melhor fantasia. O tema deste ano é “Hollywood”. Se joguem! . É também amanhã, o Bloco de Carnaval do Bar Caldeira, tradicional reduto de artistas e intelectuais da cidade. . A rixa entre os bumbás de Parintins e de Manaus vai dar o tom da 14ª edição do Carnaboi, que acontece nos dias 3 e 4 de março - segunda e terça-feira de Carnaval, respectivamente. De acordo com a Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC-AM), o evento será realizado em formato de desafio para os participantes em 2014. O Carnaboi acontece no sambódromo de Manaus.
Fernando Coelho Jr. fernando.emtempo@hotmail.com - www.conteudochic.com.br
>> Ecos A elegante Jéssica Sabbá Tayah
. Ainda circulam os ótimos comentários sobre o “Feijão Top”, a grande e badalada feijoada de Carnaval assinada por esta coluna. . O Diamond foi vestido de cores por meio da ambientação do Bandeirão, com lindos centros de mesa assinados pelo paisagista Willys, da Bothânica. Um dos pontos altos da festa foi o bar da cerveja premium Stela Artois, que deu charme na festa. Tarde ótima que reuniu os nomes VIPs da cidade.
>>Griffes . Quem passar pelo novo terminal do aeroporto de voos internacionais de Guarulhos, em São Paulo, terá uma ótima distração na espera para entrar nas aeronaves. . O Terminal 3 contará com avenida com lojas de grifes renomadas como Victoria’s Secret, Burberry, Empório Armani, Armani Jeans, Michael Kors, Luxury Watches e Salvatore Ferragamo em um espaço restrito, chamado GRU Avenue. . Aliás, circula a notícia de que o aeroporto internacional Eduardo Gomes, de Manaus, passará a ter um free shop. Vamos torcer pela confirmação da notícia.
Carla Pacheco
FOTOS: MAURO SMITH
. O Copacabana Palace vai mudar de nome. . Vamos explicar: a Orient-Express, que controla esse e outros hotéis de luxo pelo mundo, agora passa a se chamar Belmond e decretou que seus estabelecimentos devem acrescentar a marca antes do nome. Então a partir de 10 de março é Belmond Copacabana Palace, viu? O mesmo vale para o hotel das Cataratas, também parte do grupo, em Foz do Iguaçu. Difícil vai ser fazer essa novidade pegar… . Em tempo: a troca do letreiro na fachada ainda está sendo analisada. O Copacabana Palace, por ser tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, não prevê alterações em seu edifício, de 1923.
A desembargadora Liana Mendonça de Souza
Adiene Vieiralves
Cristiane Aguiar
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Apostas
CINEMATOGRÁFICAS SXSXSXSXS
RelatoriaUtem nostravo, nintiamquam etidiu macia vis hilici condium in senatum oporsul vit L. Marteris. Es res vid consu imponlo ctant, Cat nonfica volica nos re in nenterum pulos bon viverfVales
Sérgio Andrade, Zeudi Souza, Tom Zé e Rafael Froner falam de suas preferências e adiantam os possíveis vencedores em Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Atriz BRUNO MAZIERI Especial EM TEMPO
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á 85 anos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem a missão de escolher os melhores do cinema em 24 categorias.
Hoje, a partir das 20h30, a apresentadora Ellen Degeneres terá a missão – pela segunda vez, vale ressaltar – de comandar a 86ª edição do Oscar. A transmissão será somente pelo canal fechado TNT, já que a Rede Globo estará na cobertura do Carnaval 2014 do Rio de Janeiro. E como
não poderia deixar de ser, as apostas para quem serão os vencedores fazer parte desse “ritual”. Por isso, o EM TEMPO foi buscar a opinião de quatro especialistas (Sérgio Andrade, Zeudi Souza, Tom Zé e Rafael Froner) que adiantaram quem serão os possíveis premiados e quais suas preferências.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
MELHOR FILME: “Gravidade” – “Na verdade gostaria muito que “Gravidade” saísse vencedor, mas creio que o vencedor será “12 Anos de Escravidão” por todo o seu contexto histórico. É uma história épica com um tema sensível sobre racismo, foi bastante premiado no “Globo de Ouro” e a academia gosta bastante de tudo isso. Já o filme do Cuarón (Alfonso) é mais voltado para a ficção, diferentemente do que vem sendo mostrado e premiado ao longo dos anos”. MELHOR DIRETOR: Alexander Payne – “Gostaria que ele fosse o grande campeão da noite por ser alguém bastante promissor. Essa categoria vai ser páreo duro porque conta, ainda, com Martin Scorsese e Steven McQueen. Porém, esse primeiro já ganhou um Oscar e creio que o segundo, se vencer como Melhor Filme (“12 Anos de Escravidão”), deverá ficar para uma outra oportunidade”. MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett – “Ela está dentro do meu coração. Deve vencer por questões mais práticas. Fez um belíssimo trabalho em “Blue Jasmine” e foi bastante elogiada. Mas gostaria que a Judi Dench pudesse ganhar também. Apesar do filme (“Philomena”), não ser lá grande coisa, mas a interpretação dela foi muita boa”. MELHOR ATOR: Leonardo DiCaprio – “Ele fez um papel incrível em “O Lobo de Wall Street”. Aliás, algo que vem sendo realizado por ele tem um certo tempo. Mas gostei bastante do Matthew McConaughey em “Clube de Compras Dallas”. Há muito tempo ele está aí, mas em poucas ocasiões foi possível vê-lo tão brilhante quanto nesse filme. O empate seria ideal”. SÉRGIO ANDRADE Cineasta
ARQUIVO EM TEMPO
MELHOR FILME: “Ela” – “Creio que é um longa muito novo, muito contemporâneo e a academia tem deixado mais espaço para esse tipo de filme atualmente. Mas não podemos esquecer de “O Lobo de Wall Street”. São três horas de história e que, quando acaba, você tem vontade de ver várias vezes. Apesar de conter muitas cenas de violência, sexo e drogas, mas é incrível”. MELHOR DIRETOR: Alfonso Cuarón – “Primeiramente porque ele é estrangeiro e conseguiu um “big hit” na sua carreira. Ele conduziu o “Gravidade” de uma forma incrível e que você dificilmente consegue perceber que tudo aquilo é efeito especial. Fico me questionando como ele tornou tudo aquilo realidade. Acho que ele será o grande vencedor”. MELHOR ATRIZ: Sandra Bullock – “Na verdade, ela ganhou o primeiro Oscar quando não deveria ter ganhado. Acho pouco provável que a academia dê esse segundo prêmio, mas tenho muita expectativa por ela estar realizando bons trabalhos ao longo dos últimos anos”. MELHOR ATOR: Matthew McConaughey – “Ele é, sem dúvida, o mais comentado nessa categoria, principalmente por sua transformação física. Ele sempre optou por fazer filmes mais comerciais, relacionados a comédias românticas e voltou com uma certa notoriedade se dando bem nesse lado dramático. O Leonardo DiCaprio teve atuações muito melhores que essa em “Prenda-me Se For Capaz” e “Aviador”, por exemplo. Porém, acho pouco provável que ele vença desta vez”. RAFAEL FRONER Publicitário com especialização na Academia Internacional de Cinema (SP)
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MELHOR FILME: “12 Anos de Escravidão” – “Ouvi bastantes comentários positivos sobre esse filme. Tem um tema muito forte e que mexe com a sensibilidade humana. A academia gosta desse roteiro que tem um herói que sofre durante toda a história e no final consegue a superação. Certamente será o vencedor”. MELHOR DIRETOR: Alfonso Cuarón – “Posso estar errado, mas creio que ele levará o Oscar. Ele transformou “Gravidade”, um filme aparentemente simples em algo espetacular. Na realidade, ele é sim complexo por ser totalmente cheio de efeitos especiais e conseguiu levar o público a ficar sufocado juntamente
MELHOR FILME: “Gravidade” – “Acho que ficará com “Gravidade”. Aparentemente é um filme fácil de fazer, mas é muito complicado. Creio que tenha atingido
com a protagonista e deixá-lo aliviado quando ela está
os objetivos que é colocar o espectador em um clima de terror e suspense sem que ele perceba que está
aliviada. Foi tudo feito com muita maestria”. MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett – “Antes de mais nada gostaria de deixar claro a minha paixão
passando por tudo isso. Os efeitos funcionaram de maneira certa e foram usados sob medida”. MELHOR DIRETOR: David Russel – “Ele conduziu
pela Meryl Streep. É magnífico perceber o quanto ela é camaleoa em cena e como tem melhorado com o passar do tempo. Porém, acho que esse prêmio deve
muito bem o “Trapaça” e tem feito outros filmes com bastante qualidade. Minha aposta é nele”.
ser da Cate Blanchett (“Blue Jasmine”). O Wood Allen escreveu um papel supercomplexo de uma mulher que
MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett – “A Cate se saiu muito bem no filme do Wood Allen. Conseguiu passar
se torna paranoica por ficar pobre e você sente uma relação de pena e ojeriza durante toda a história que
tudo aquilo que todos nós sempre esperamos dela. Viveu a personagem com bastante intensidade e de tal forma, que a veracidade é gritante”.
é incrível. É magnífico vê-la em cena”. MELHOR ATOR: Leonardo DiCaprio – “Acho que ele melhorou muito com o passar do tempo e foi injustiçado
MELHOR ATOR: Matthew McConaughey – “Acho que assim como o Christian Bale, ele provou que consegue passar por mutações físicas e, ao mesmo
inúmeras vezes pela academia, apesar de concorrer com grandes profissionais e que fizeram lindas atuações. Creio que seja a hora de fazer justiça”.
tempo, realizar uma brilhante interpretação em todos os sentidos”.
ZEUDI SOUZA Cineasta
TOM ZÉ Jornalista e coordenador do projeto “Cine & Vídeo Tarumã” da Universidade Federal do Amazonas
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RESENHA
O sinistro
charme da sugestão PERFIL
CÉSAR AUGUSTO Equipe EM TEMPO
S César Augusto Jornalista, editor
empre fui fã de filmes de terror. Posso dizer, sem medo de parecer exagerado, que gosto do gênero “desde pequenininho”. Isso inclui também os trash e gores que proliferaram na década de 1980 e acabaram perdendo a graça em um sem número de imitações ao longo dos anos. Acho ótimo, então, quando encontro obras que têm originalidade e uso eficiente das técnicas cinematográficas para criar um clima de tensão que faz a diferença entre um filme e outro. Nessa categoria passei a incluir “Absentia”, filme dirigido por Mike Flanagan em 2011. Cortes bruscos em momentos de tensão, sombras e muitas elipses tornam essa obra uma das mais arrepiantes que assisti. É o medo do desconhecido, do monstro sugerido nas penumbras, nos frames rápidos e propositalmente embaçados
de imagens chocantes como de um cadáver retorcido e, sobretudo, o enigma que perdura sobre uma lenda a respeito de um mundo subterrâneo onde pessoas são escravizadas e sofrem todos os tipos de abusos. Em um subúrbio de Los Angeles, Tricia (Courtney Bell), após muita relutância, finalmente decide, após sete anos do desaparecimento de seu marido Daniel (Morgan Peter Brown), declarar sua morte presumida. Com o passar do tempo, substituir os cartazes com a foto de Daniel pregados em vários locais acabou sendo um costume, uma maneira de acabar com todas as cópias que restaram, como confessa a sua irmã mais nova, Callie (Katie Parker), que aparece para visitá-la. É a aceitação do fato de que o esposo não voltará mais para casa. Além disso, Tricia espera um bebê, fruto de um relacionamento recente e ainda incerto com o detetive Ryan Mallory (Dave Levine), o apoio da jovem esposa
durante os anos de investigação sobre o desaparecimento de Daniel. Ao decidir-se pela certidão de óbito presumido do marido, Tricia começa a ter alucinações com Daniel, atribuídas por ela a um sentimento de culpa por declará-lo morto e ter a iniciativa de recomeçar a vida com Mallory. Mas Callie também começa a ter tais visões após o reaparecimento súbito de Daniel, machucado e em estado de perturbação, e para a jovem tudo indica que há algo de sobrenatural no desaparecimento do seu cunhado, podendo estar relacionado ainda a um túnel nas proximidades do subúrbio, uma passagem pichada e sombria onde a penumbra parece ter vida, e ainda a uma série de desaparecimentos similares de pessoas e animais das redondezas.
Se não houver por parte do espectador muita exigência de explicações óbvias (o que tem contribuido para desvalorização injusta do cinema independente, em qualquer gênero), “Absentia” é uma boa opção de filme para ser assistido na escuridão e no silêncio de seu quarto. É um filme para pensar, analisar e tirar suas próprias e angustiantes conclusões. É um estilo de narrativa que gosto, a exemplo de “O Bebê de Rosemary”, “A bruxa de Blair” e “O exorcismo de Emily Rose”, só para citar alguns: o clima da história em si assusta, por isso o surgimento de sombras e sons estranhos tem um efeito melhor que faces deformadas e corpos mutilados. É um sinal de que ainda é possível fazer bom cinema sem precisar ficar refém do (mau) gosto da indústria cultural.
Se não houver por parte do espectador muita exigência de explicações óbvias, Absentia é uma boa opção de filme para ser assistido na escuridão e no silêncio do quarto” REPRODUÇÃO
LITERATURA
Autor conta a história do pop Contar a história da música pop em um livro. Essa foi a missão do britânico Bob Stanley ao escrever “Yeah Yeah Yeah: The Story of Modern Pop”. Em uma época em que livros imensos são escritos sobre músicos desconhecidos e subgêneros musicais restritos a um pequeno número de fãs, é bom saber que ainda existe um autor interessado em grandes temas e com o talento necessário para ser, ao mesmo tempo, sintético e abrangente. O livro tem 800 páginas, divididas em 65 capítulos. Começa em 1952, com a criação da primeira parada
de sucessos na Grã-Bretanha, e termina nos anos 2000, com a derrocada da indústria do disco, vítima da tecnologia digital do CD, o cavalo de Troia que enriqueceu as gravadoras para depois derrubá-las com as trocas de arquivos. Stanley conta, em ordem cronológica, a história do pop, de Elvis Presley a Timbaland, passando por Beatles, Dylan, Stones, a Motown, a Stax, a discoteca, a new wave, o pop europeu do Abba, o britpop, o grunge e o hip-hop. É um trabalho monstruoso, que o autor executa com uma percepção rara das relações entre
gêneros e artistas. O capítulo sobre os Beatles tem dez páginas. É pouco para uma banda que já rendeu milhares de livros e estudos? Claro que é. Mas, a exemplo da melhor música pop, Stanley consegue resumir a história ao que ela tem de melhor e mais importante. O autor, que é também tecladista do grupo pop Saint Etienne, tem uma visão abrangente: “pop”, para ele, é toda música que chegou às paradas, independentemente de ser rock, soul, country, hip-hop ou heavy metal. O Black Sabbath é pop e deve ser analisado como
parte da mesma indústria que lançou os Bee Gees, por exemplo. O raciocínio vai contra uma visão ortodoxa de boa parte da crítica musical -que Stanley chama de “rockista”- e muito popular nos últimos 20 ou 30 anos, que considera pop apenas a música mais comercial, separando-a de gêneros “puros” e supostamente radicais, como o rock e o hip-hop. Stanley não vê distinção entre o Clash e Britney Spears, por exemplo. Ambos, na visão do autor, buscaram o sucesso comercial. Por André Barcinski
Livro traz conceito fora do convencional sobre o que é ser pop
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Canal 1 plateia@emtempo.com.br
Bate-rebate
TV Tudo Aquecimento Nas últimas semanas, houve uma intensa preparação de todos os profissionais do TNT para este momento, com a equipe assistindo aos filmes e se informando sobre as celebridades envolvidas no Oscar. O programa teve todas as suas cotas de patrocínio vendidas. Olha a situação 2 A propósito de Sérgio Guizé, ele já está escalado para “Buu”, uma das próximas da Globo no horário das 7. Papel de protagonista. Na história de Daniel Ortiz e Silvio de Abreu, ele viverá um médico renomado, cruel, frio e diabólico, dono de um hospital referência no interior de São Paulo. Olha a situação 3 É no cenário desse hospital que trabalha Conrado Caputto, como enfermeiro. Nas horas vagas, ele ajuda a vilã Monica Iozzi nas pilantragens dos dois. A princípio, Sérgio Guizé e a Mônica farão maldades por separado, só que ela sempre vai cair na comédia, enquanto ele será sempre o do mal.
REGI
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Olha a situação Sérgio Guizé, em alta na Globo desde o João Gibão de “Saramandaia”, está de volta a São Paulo, e sempre de lá para cá de ônibus e metrô. Apesar da insistência dos mais próximos, ele ainda não se animou em tirar a carteira de habilitação, mesmo que isto custe gozações dos passageiros ao lado. Pauleira Devido ao fato de a Bandeirantes ter antecipado a estreia do “Agora é Tarde”, com Rafinha Bastos para quarta-feira, dia 5, acabou sobrando para o pessoal do programa. O Carnaval de muitos da sua equipe foi cancelado. Falando em Band... Diego Guebel, número 1 do Artístico e Programação
da emissora, revelou que nos seus 20 anos de carreira nunca presenciou situações como as de agora, como a saída do Danilo Gentili para o SBT com contrato ainda em vigência, e a cópia descarada do formato do “Sabe ou Não Sabe”, pela mesma emissora. Segundo ele, “a indústria deveria ser mais séria”. “[TV comercial] não funciona assim”, alfineta.
•Depois de Francisca Queiroz, Lu Grimaldi fará uma participação especial em “Pecado Mortal”. • Dulce é a personagem, mãe de Picasso, Victor Hugo. •Bianca Rinaldi não se cansa de receber convites para aparecer em capas de revistas. • E olha que mal começou seu trabalho em “Em Família”, novela de Manoel Carlos. • Manoel Carlos que está muito satisfeito com o trabalho de Tainá Muller na sua novela. • Uma escolha certeira, após a desistência de Alinne Moraes. •As férias de Débora Falabella ainda não terminaram na Globo. •Ela agora está a caminho da Índia e leva na bagagem os primeiros 18 capítulos de “Buu”, produção que vai marcar sua volta às novelas depois do sucesso de “Avenida Brasil”.
Destaques de domingo Os desfiles das escolas de samba e a 86ª cerimônia do Oscar, sem dúvida, estão entre os destaques da televisão, hoje. Mas, com o detalhe já conhecido, de que a festa do cinema não receberá atenção da Globo, porque houve a decisão de priorizar a transmissão do Carnaval. Ficou para amanhã, segundafeira, a exibição de um programa especial, comentando os melhores e piores momentos. Por outro lado, na TV paga, o canal TNT promete uma transmissão completa. Ao vivo.
Flávio Ricco Colaboração: José Carlos Nery
C’est fini Apesar da presença de Ricardo Waddington na direção de núcleo, a novela de Rui Vilhena, na fila das 18h, na Globo, ainda não tem elenco fechado. Admite-se até uma certa dificuldade para definir os protagonistas. A história está com dois títulos provisórios na praça – “Saber Viver” – é o nome impresso nos capítulos, e “Boogie Oogie”. Ficamos assim. Mas amanhã tem mais. Tchau!
Márcio Braz E-mail: plateia@emtempo.com.br
Estes e outros camelôs
MÁRIO ADOLFO
GILMAL
ELVIS
É certo que a notícia que mais circulou esta semana na imprensa local fora a alocação dos camelôs para outro ambiente da cidade devolvendo com isso as tradicionais calçadas do centro ao seu uso de destino: o passeio. Depois de mais de 20 anos, o prefeito Arthur Virgílio Neto tem procurado de maneira bastante cautelosa resolver o imbróglio e a primeira vitória pôde ser sentida já neste último domingo onde a cidade amanheceu com suas calçadas livres e onde se pôde observar e/ou rememorar fachadas, estilos arquitetônicos, traços, o gótico de alguns prédios e o art nouveau de outros, perdidos ao longo do processo. A Zona Franca de Manaus é a causa, sem exageros, dessa favelização do centro histórico. O projeto original desta Zona é um projeto bem mais humano e respeitoso às configurações espaciais do que o implantado em 1967. A prefeitura, portanto, presta contas com seu passado neste ato corajoso, emocionante e politicamente coerente. Mas o centro é apenas um dos problemas a serem enfrentados. Outros tipos de camelôs são determinantes para o agravamento do problema de trânsito, por exemplo. Na Av. Constantino Nery, por exemplo, a faculdade Fametro não tem conseguido dar solução ao constante número de veículos conduzidos por namorados, esposos, amantes, amigos e outros que aglomeram-se em filas duplas esmagando os demais motoristas numa faixa central, já que a outra servirá exclusivamente à circulação do sistema BRS. Em frente ao La Salle, ou-
tros camelôs motorizados, desta vez não só os descritos acima, mas também, empresários, advogados, comerciantes, industriários etc aglomeramse à porta do colégio e nos afrontam ao parar em fila dupla, sair do veículo, arrumar o filho, dar um beijinho na esposa, arrumar a lancheira e acompanha-los até a porta. Me senti em Bangladesh – o lado ruim dela, digo. O processo civilizatório de Manaus, encrustada anos a fio de um populismo aberrador e de uma falta de inteligência sem tamanho fora preponderante para a descivilização da cidade. Jorge Teixeira acabou com a Constantino Nery, depois teve a ideia brilhante de querer destruir o Teatro Amazonas e construir um estacionamento. Depois foi construído um “Minhocão” no centro em 1986 com o intuito de resolver o problema de trânsito em Manaus. Temos tido más heranças políticas, como vemos. Mas a atual gestão de Arthur Neto tem conseguido acertar. E muito. Trazer a dignidade para uma metrópole como Manaus, com seus planos de arborização, mobilidade urbana e reordenamento urbano, para, enfim, pararmos de ter inveja da vizinha Belém com suas calçadas largas, arborizadas e um centro antigo realmente merecedor de seu nome. O combate às práticas arbitrárias e hostis a Manaus devem ser intensificadas. Abutres e adoradores da favela – o pior da favela, digo – expurgados e reconduzidos à sua insignificância. É tempo de sonhar com uma cidade ambientada, moderna e culturalmente desenvolvida.
Márcio Braz
*ator, diretor, cientista social e membro do Conselho Municipal de Política Cultural de Manaus
O processo civilizatório de Manaus, encrustada anos a fio de um populismo aberrador e de uma falta de inteligência sem tamanho fora preponderante para a descivilização da cidade”
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MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
REPRODUÇÃO
Programação de TV SBT 5h JORNAL DA SEMANA 6h IGREJA UNIVERSAL 7h BRASIL CAMINHONEIRO 7h30 AVENTURA SELVAGEM 8h30 VRUM 9h SORTEIO AMAZONAS DA SORTE 10h DOMINGO LEGAL 14h ELIANA 18h RODA A RODA JEQUITI 18h45 SORTEIO DA TELESENA 19h PROGRAMA SILVIO SANTOS 23h DE FRENTE COM GABI 0h SBT FOLIA 2014 1h CRIMES GRAVES 2h ALCATRAZ 3h20 BIG BANG 4h IGREJA UNIVERSAL
GLOBO
A animação “Procurando Nemo” será exibida na “Temperatura Máxima”, da Rede Globo
Horóscopo
5H SANTA MISSA 6H AMAZÔNIA RURAL 6H30 PEQUENAS EMPRESAS, GRANDES NEGÓCIOS 7H GLOBO RURAL 7H55 AUTO ESPORTE
Cinema
8H30 ESPORTE ESPETACULAR 11H50 TEMPERATURA MÁXIMA 13H40 DIVERTICS 15H FUTEBOL 2014H FLUMINENSE X BOTAFOGO 17H DOMINGÃO DO FAUSTÃO 19H45 FANTÁSTICO 22H05 BIG BROTHER BRASIL 14 22H50 DOMINGO MAIOR 0H55 FLASH BIG BROTHER BRASIL 14 1H04 BOLETIM SACHI 2014 1H36 HINO OBRIGADO SENHOR 1H40 HINO NACIONAL 1H45 ENCERRAMENTO PREVISTO (MANUTENÇÃO MENSAL)
RECORD 4h45 BÍBLIA EM FOCO 5h SANTO CULTO EM SEU LAR 5h30 DESENHOS BÍBLICOS 8h30 RECORD KIDS 9h AMAZONAS DA SORTE 10h DOMINGO DA GENTE 14h15 O MELHOR DO BRASIL 18h20 DOMINGO ESPETACULAR 22h15 SPARTACUS 23h15 1h10
50 POR 1 PROGRAMAÇÃO IURD
BAND 5h – POWER RANGER – Dino Trovão 6h – DESENHO 6h30 – SANTA MISSA NO SEU LAR 7h30 – SABADÃO DO BAIANO 8h – DESENHO 9h30 – MACKENZIE EM MOVIMENTO 9h45 – INFOMERCIAL 10h15 – POWER RANGERS – SUPER PATRULHA DELTA 10h45 – VERDADE E VIDA 11h – IRMÃO CAMINHONEIRO 11h05 – MINUTO DA COPA 11h10 – PÉ NA ESTRADA 11h35 – DE OLHO NA COPA 11h40 – BAND FOLIA 2014 I 12h45 – BRASIL OPEN 16h55 – MINUTO DA COPA 17h – SESSÃO LIVRE 19h – SÓ RISOS 20h – POLÍCIA 24 HORAS 21h – PÂNICO NA BAND 0h – BAND FOLIA II 2h30 – IGREJA UNIVERSAL
Cruzadinhas
GREGÓRIO QUEIROZ ÁRIES - 21/3 a 19/4 Neste momento você pode se livrar de um grande estorvo, fazendo o esforço devido para se livrar por completo dele. Hoje é o que lhe cabe: ousar livrar-se dos estorvos. TOURO - 20/4 a 20/5 Sua vida precisa ser idealizada com grandeza por você. Nada de se escorar nas facilidades imediatas. Levante os olhos e, com coragem, olhe para onde deseja ir. GÊMEOS - 21/5 a 21/6 Os anseios por uma renovação profissional devem ser levados a cabo, com coragem e ousadia. Mas também com bom senso, dentro de um sentido acima de tudo construtivo. CÂNCER - 22/6 a 22/7 É tempo de acreditar no amor. Não em suas fantasias a respeito do amor. Mas no quanto uma vida pode se apoiar em sentimentos positivos, amorosos, para ser construída. LEÃO - 23/7 a 22/8 Mais do que todos os demais signos, para os leoninos é tempo de entrar em um mundo desconhecido e novo. É nele que encontrará uma nova base para viver e trabalhar. VIRGEM - 23/8 a 22/9 As relações humanas levam você a experimentar sensações e sentimentos antes desconhecidos. Experimente e vá ganhando uma nova segurança pessoal.
PRÉ-ESTREIA 300 – A Ascensão do Império: EUA. 18 anos. Baseado em Xerxes, quadrinhos de Frank Miller, e narrado no estilo visual de tirar o fôlego do megasucesso `300´, o novo capítulo da épica saga leva a ação a um inédito campo de batalha – o mar – à medida que o general grego Themistokles (Sullivan Stapleton) tenta unir a Grécia ao liderar o grupo que mudará o curso da guerra. `300: Rise of an Empire´ coloca Themistokles contra as enormes forças Persas, lideradas por Xerxes (Rodrigo Santoro), um mortal que virou deus, e por Artemesia (Eva Green), uma vingativa comandante da marinha persa. Cinemark 4 - 22h25 (dub/somente quinta-feira), Cinemark 6 – 18h30, 20h50 (3D/dub/somente quinta-feira); Cinemais Millennium 1 – 19h, 21h35 (3D/dub/somente quinta-feira); Cinépolis 5 – 22h15 (3D/leg/somente quinta-feira); Cinemais Plaza 2 – 21h10 (3D/dub/somente quinta-feira); Playarte 1 – 21h10 (3D/dub/somente quinta-feira). Tinker Bell - Fadas e Piratas: EUA. Livre. Nova aventura da fada Tinker Bell, após Tinker Bell e o Segredo das Fadas (2012). Cinépolis 10 – 13h20 (dub/somente sábado, domingo, segunda-feira e terça-feira).
As Aventuras de Peabody e Sherman: EUA. Livre. Um menino e seu cão, que passa a ter um QI de gênio, entram em grande aventura quando sua máquina do tempo é roubada e momentos da história começam a ser alterados. Cinemark 4 – 12h45, 17h30 (dub/diariamente), Cinemark 6 – 11h20 (dub/somente sexta-feira, quarta-feira e quinta-feira), 13h40, 16h (dub/diariamente), 18h30, 20h50 (dub/exceto quinta-feira), 23h20 (dub/somente sexta-feira e sábado); Cinemais Millennium 2 – 14h10, 16h10, 18h10 (dub/diariamente), Cinemais Millennium 3 - 14h50, 16h50, 18h50, 20h50 (3D/dub/diariamente); Cinemais Plaza 2 – 14h10, 16h10, 18h10 (dub/diariamente), Cinemais Plaza 7 – 14h50, 16h50, 18h50, 21h (dub/diariamente); Cinépolis 1 – 14h10, 19h55 (3D/dub/diariamente), Cinépolis 5 – 15h, 17h15 (3D/dub/diariamente), Cinépolis 6 – 13h45, 16h (dub/diariamente), Cinépolis 7 – 14h, 16h15 (dub/diariamente); Playarte 1 – 13h, 15h (3D/dub/somente sexta-feira e quinta-feira), 13h, 17h (3D/dub/sábado, domingo, segunda-feira, terça-feira e quarta-feira); Playarte 5 – 14h, 16h, 18h, 20h (dub/diariamente), 22h (dub/somente sexta-feira e sábado). Sem Escalas: EUA. Livre. Durante um voo transatlântico de Nova York a Londres, Bill Marks (Liam Neeson) recebe uma série de mensagens de texto criptografadas, demandando que ele instrua a companhia aérea a transferir US$150 milhões em uma conta fora do país. Até que ele garanta a transferência, um passageiro será assassinado a cada 20 minutos. A luta contra seus demônios pessoais tirou toda a paixão que Marks tinha pelo lado heroico de sua profissão. Ele passou a encarar suas importantes tarefas apenas como meras tarefas burocráticas em um escritório alado. De qualquer forma, um dia a mais no escritório torna-se uma crise sem precedentes, quando o voo no qual está fica sob ameaça. Cercado por poucas pessoas que ele inicialmente acredita serem confiáveis — incluindo sua vizinha de poltrona, Jen Summers (Juliane Moore) — o habilidoso almirante precisa usar cada detalhe de seu treinamento para tentar descobrir o assassino a bordo do avião. O que se segue é um jogo de gato e rato com a vida de centenas de passageiros cujas vidas estão em perigo iminente. Cinemark 8 – 13h10, 15h35, 18h, 20h40 (dub/diariamente), 23h10 (dub/ somente sexta-feira e sábado); Cinemais Millennium 6 – 14h30, 16h40h, 19h10, 21h30 (leg/diariamente); Cinemais Plaza 4 – 14h45, 17h10, 19h30, 21h50 (dub/diariamente); Cinépolis 9 – 13h30, 19h15 (dub/diariamente), 16h30, 21h50 (leg/diariamente); Playarte 3 – 13h50, 16h05, 18h20, 20h35 (dub/diariamente), 22h50 (dub/somente sexta-feira e sábado).
LIBRA - 23/9 a 22/10 O trabalho exige ingressar em áreas antes não ocupadas por você. É tempo de correr esse risco e ganhar um novo espaço. Inclusive porque isso pode lhe ser lucrativo.
Justin e a Espada da Coragem: EUA. 10 anos. Justin sempre quis ser um cavaleiro, mas seu pai, conselheiro-chefe da Rainha, quer que o filho siga seus passos e se torne um advogado. Em busca de ajuda, o garoto procura a avó e descobre que seu avô, Sir Roland, foi o mais nobre cavaleiro do reino e protetor do Rei, até que ambos foram traídos e mortos pelo terrível Sir Heraclio. Contra o desejo de seu pai, Justin decide ir em busca de seu sonho e começa uma jornada para tornar-se cavaleiro. Playarte 1 – 12h40, 14h40 (3D/dub/somente sábado e domingo), 15h (3D/dub/somente sábado, domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira). Tudo Por Um Furo: EUA. 14 anos. Sem emprego e separado da mulher Veronica (Christina Applegate), Ron Burgundy (Will Ferrell) trabalha como apresentador de shows no Sea World. Convidado para trabalhar como âncora em uma emissora que exibe notícias por 24 horas, ele decide reunir sua equipe. Brick (Steve Carell), Brian (Paul Rudd) e Champ (David Koechner) aceitam o convite de Ron e o quarteto parte para Nova York para integrar uma rede importante e competir num nível nacional. Cinemais Millennium – 15h, 17h20, 19h40, 22h (dub/diariamente); Cinemais Plaza 3 – 14h40, 17h, 19h20, 21h40 (dub/diariamente); Cinépolis 10 – 13h20 (dub/exceto sábado, domingo, segunda-feira e terça-feira), 16h10 (dub/diariamente), 19h, 21h40 (dub/diariamente).
ESCORPIÃO - 23/10 a 21/11 Os sentimentos amorosos estão em alta, ainda mais; continuarão assim por alguns dias. Os desejos e sentimentos o impulsionam, e é preciso fazer algo responsável com isso.
Tatuagem: BRA. 16 anos. Recife, 1978. Clécio Wanderley (Irandhir Santos) é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. A principal estrela da equipe é Paulete (Rodrigo Garcia), com quem Clécio mantém um relacionamento. Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem Fininha (Jesuíta Barbosa), que é militar. Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura. Playarte 2 – 23h15 (somente sexta-feira e sábado).
SAGITÁRIO - 22/11 a 21/12 Uma base, um porto seguro, um lar precisam criar segurança, para serem merecedores desses nomes. É isso o que deveria nortear a reorganização da casa e da família.
CONTINUAÇÕES
CAPRICÓRNIO - 22/12 a 19/1 É muito proveitoso encontrar-se com as pessoas neste dia. Mesmo que isso o leve a situações bastante fora de seu padrão. É tempo de se aproximar das pessoas e relações. AQUÁRIO - 20/1 a 18/2 Você precisaria firmar mais sua vida financeira e a lida com bens materiais - e este é o momento para fazêlo. As empreitadas devem ser feitas com ponderação e coragem. PEIXES - 19/2 a 20/3 Também para você este é momento de dar um grande passo em direção à renovação. Ouse ingressar em mundos novos, em situações nas quais antes você não estava.
Clube de Compras Dallas: EUA. 16 anos. Cinépolis 2 – 16h05, 21h45 (leg/ diariamenete). Rodência e o Dente da Princesa: EUA. Livre. Cinemark 3 – 12h55, 15h10 (dub/diariamente); Playarte 8 – 20h50 (leg/diariamente), 23h15 (leg/somente sexta-feira e sábado). Um Conto do Destino: EUA. 12 anos. Cinemark 2 – 14 (dub/diariamente); Cinemais Millennium 2 – 21h10 (leg/ diariamente); Cinépolis 3 – 18h/leg/diariaemnte). Pompeia: EUA. 12 anos. Cinemark 2 – 11h30 (dub/exceto sexta-feira, quartafeira e quinta-feira), Cinemark 3 – 17h20, 19h50, 22h20 (3D/dub/diariamente); Cinemais Millennium 1 – 19h, 21h35 (3D/dub/de sexta-feira a quarta-feira); Cinemais Plaza 2 – 21h10 (3D/dub/de sexta-feira a quarta-feira); Cinépolis 4 – 13h15, 18h45 (3D/dub/diariamente), 15h45, 21h15 (3D/leg/diariamente), Cinépolis 6 – 18h20, 21h (leg/diariamente);
Playarte 1 – 19h (3D/dub/somente quinta-feira), 19h, 21h10 (3D/dub/somente sexta-feira, sábado, domingo, segundafeira, terça-feira, quarta-feira), 23h20 (3D/leg/somente sexta-feira e sábado). Robocop: EUA. 14 anos. Cinemark 1 – 13h30, 16h20, 19h10, 21h50 (dub/diariamente), Cinemark 7 – 12h50, 15h20, 18h10, 21h10 (dub/diariamente), 23h50 (dub/somente sexta-feira e sábado); Cinemais Millennium 4 – 14h, 16h20, 18h40, 21h (leg/diariamente), Cinemais Millennium 8 – 14h40, 17h, 19h20, 21h40 (dub/ diariamente); Cinemais Plaza 1 – 15h, 17h20, 19h40, 22h (dub/diariamente), Cinemais Plaza 5 – 14h20, 16h40, 19h, 21h20 (dub/diariamente); Cinépolis 1 – 17h05, 22h25 (leg/diariamente), Cinépolis 2 – 13h10, 18h55 (leg/diariamente), Cinépolis 5 – 19h30 (leg/diariamente), 22h15 (leg/exceto quinta-feira), Cinépolis 8 – 14h15, 20h (dub/diariamente), 17h, 22h50 (leg/diariamente); Playarte 4 – 13h10, 15h30, 17h50, 20h10 (leg/diariamente), 23h40 (leg/somente sexta-feira e
sábado), Playarte 6 – 14h20, 16h40, 19h, 21h20 (dub/diariamente), 23h40 (dub/somente sexta-feira e sábado), Playarte 7 – 19h01, 21h21 (dub/diariamente).
16h45, 19h15, 21h50 (leg/diariamente); Cinemais Plaza 6 – 14h, 16h35, 19h10, 21h45 (dub/diariamente); Cinépolis 3 – 15h05 (leg/diariamente).
Caçadores de Obras-Primas: EUA. 12 anos. Playarte 9 – 17h55, 20h15 (dub/ diariamente), 22h40 (dub/somente sextafeira e sábado).
O Lobo de Wall Street: EUA. 16 anos. Cinépolis 3 – 20h55 (leg/diariamente).
Hércules: EUA. 14 anos. Cinemark 4 – 22h25 (3D/dub/exceto segunda-feira e quinta-feira); Playarte 2 – 13h15, 17h15, 19h15, 21h15 (dub/diariamente). Trapaça: EUA. 14 anos. Cinépolis 7 – 18h30, 21h30 (leg/diariamente). Uma Aventura Lego: EUA. Livre. Cinemark 5 – 13h, 15h30 (dub/diariamente); Cinemais Millennium 1 – 14h20, 16h30 (3D/dub/diariamente); Playarte 7 – 12h30, 14h40, 16h50 (dub/diariamente). A Menina Que Roubava Livros: EUA. 14 anos. Cinemais Millennium 7 – 14h15,
Frankstein – Entre Anjos e Demônios: EUA. 14 anos. Cinemark 5 – 17h45, 20h10, 22h30 (dub/diariamente); Playarte 10 – 13h, 15h, 17h, 19h, 21h (dub/diariamente), 23h05 (dub/somente sexta-feira e sábado). Frozen, Uma Aventura Congelante: EUA. Livre. Cinemais Plaza 8 – 14h30, 16h45 (dub/diariamente); Playarte 9 – 13h10, 15h35 (dub/diariamente). Até Que a Sorte Nos Separe 2: BRA. 10 anos. Playarte 8 – 14h20, 16h30, 18h40 (diariamente). Muita Calma Nessa Hora 2: BRA. 12 anos. Cinemais Plaza 8 – 19h15, 21h30 (diariamente).
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MANAUS,, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
Jander Vieira jandervieira@hotmail.com - www.jandervieira.com.br
::::: Bodas
Apesar dos ataques e de inúmeras tentativas de enfraquecer o modelo ZFM, o Polo Industrial de Manaus segue firme como modelo de desenvolvimento econômico. Por isso as comemorações dos 47 anos da Suframa são uma vitória para a classe empresarial do Amazonas. A coluna parabeniza a autarquia e todos que lutam pela bandeira do desenvolvimento regional.
::::: Na Bahia Ter artistas do circuito do boi-bumbá amazônico em algum trio elétrico já está virando tradição no Carnaval baiano. Nomes conhecidos do público local como Israel Paulain e Júnior Paulain entre outros, estiveram presentes como convidados de Daniela Mercury. A bola da vez serão os levantadores David Assayag e Sebastião Júnior. Juntos, eles dividiram o trio com o badalado Carlinhos Brown na fervida quadra carnavalesca de Salvador. Show.
::::: Homenagem
A mais popular escola de samba do Rio de Janeiro, a Mangueira, prepara para hoje, durante sua apresentação na Marquês de Sapucaí, um enredo que fala sobre as principais festas populares do Brasil. Como o Festival de Parintins se insere neste contexto, Garantido e Caprichoso estarão presentes no desfile da verde e rosa. O carro alegórico está sendo confeccionado pelo competente artista Rossy Amoedo, atual vice-presidente do Caprichoso.
Em agenda oficial na calha do Alto Rio Negro, o governador Omar Aziz e a primeira-dama, Nejmi Jomaa Aziz, também conferiram as belezas naturais do município de São Gabriel da Cachoeira. Na região, a população recebeu com muito carinho o casal, que levou novas oportunidades na área da educação
::::: Resultado Nem só de escândalos vive o mundo político. A iniciativa de CPI da Telefonia da Aleam está dando resultados. Entre os ganhos, a redução de 10% de ICMS no valor das contas de internet, valor este que já está sendo repassado para o consumidor pela NET. Outra boa notícia é que uma força-tarefa foi criada para liberar mais antenas de telefonia e com isso melhorar o sinal para quem paga por um serviço e recebe outro. Se é que me entendem...
::::: Madrinhas poderosas
A Expo Eventos Manaus 2014 transpira novidades. Explico: a nova edição contará com um baile para 15 debutantes de bairros carentes de Manaus. As aniversariantes – que foram indicadas pela primeira-dama de Manaus, Goreth Garcia – ganharão uma festa completa com todos os salamaleques de début chique e terão como madrinhas, as empresárias Tânia Castro, Gisele Alfaia, Jéssica Sabbá, Márcia Martins, Rosiane Lima, Dacy Venâncio, Eliane Sheneider, Carol Carvalho, Zenilda Castelo Branco, Lou Souza e Claudia Mendonça passando pela advogada Mary Tuma, as jornalistas Hermengarda Junqueira e Yolanda Oliveira e a juíza Lúcia Viana. Que tal? O evento será realizado de 25 a 27 de março, no Dulcila da Ponta Negra e promete agitar o cenário social da cidade.
::::: Sessão parabéns Dacy Venâncio e Anderson Farias estão trocando de idade hoje. Amanhã é dia de celebrar, Daniella Gioia, Renata Ruiz e Ricardinho Sá Peixoto – eles estão aniversariando. Os cumprimentos da coluna.
LIVRO
Brinquedos indígenas rendem obra LUIZ OTÁVIO MARTINS Especial EM TEMPO
A necessidade de contribuir com mais estudos no campo da museologia e do patrimônio e de estudar com mais profundidade artefatos dos povos de origem da Amazônia – que os museus de arqueologia e etnologia reúnem em seus acervos – motivou as pesquisadoras Arlete Sandra Baubier e Maria Amélia Reis a desenvolverem o estudo “O Museu e a Diversidade Cultural na Amazônia – O Brinquedo Indígena como Patrimônio e Objeto Educativo”. O livro, da editora Reggo, foi lançado no dia 25 de fevereiro com apoioda Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Os brinquedos indígenas de museus de arqueologia e etnologia localizados em Manaus foram o fio condutor da pesquisa. Mas, Arlete Sandra revela que, para a coleta de dados, informações mais precisas sobre a origem dos brinquedos foram buscadas junto aos seus produtores, ou seja, nas comunidades Tikuna. Para contextualizar a pesquisa, as autoras abordaram os aspectos históricos que retratam o período de fundação dos principais museus brasileiros. Um breve destaque foi reservado aos museus que abrigam objetos etnográficos, desde o Museu Nacional (RJ), Museu Paulista (SP) e Museu Paraense Emílio Goeldi (PA), até o Museu Maguta, em Benjamin Constant (AM), museu de origem dos Tikuna, que foi premiado como “Museu Símbolo”, em 1995, pelo International Council of
Museums Icom). “Para a temática optamos pela relação do museu com a diversidade cultural e como ponto de corte elegemos os objetos lúdicos infantis do Museu de Arqueologia e Etnologia, privilegiando neste contexto o Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas”, explica Arlete Sandra. “O foco de análise foi o estudo do brinquedo indígena como objeto educativo em uma perspectiva de educação intercultural”. Lacuna A professora Arlete Sandra conta que ela e Maria Amélia constataram que estudos dessa natureza ainda são poucos na literatura científica, principalmente os que envolvem museus dessa tipologia. “Existe um fosso de conhecimento neste sentido, especialmente referentes aos objetos lúdicos infantis de grupos indígenas”, afirma. “Além do registro da história oral dos produtores destes objetos, que de alguma vem descortinar a cultural imaterial, torna-se fundamental inventariar, catalogar e classificar, enfim, realizar a documentação museológica propriamente dita, para preservação do patrimônio e da memória das culturas tradicionais da região”.
SERVIÇO BRINQUEDO INDÍGENA COMO OBJETO EDUCATIVO Autoras: Arlete Sandra Mariano Alves Baubier e Maria Amélia Gomes de Souza Reis Editora: Reggo (320)
O livro apresenta uma reflexão sobre o papel do museu na difusão de conhecimentos
Reflexão da importância do museu O objetivo geral das autoras por meio da publicação da obra é refletir a respeito do papel do Museu de Arqueologia e Etnologia na difusão de conhecimentos sobre a diversidade cultural na Amazônia, a partir do estudo do brinquedo indígena como objeto educativo em museus de Manaus. “Ao finalizarmos a pesquisa, constatamos que além de preservar, o museu tem intensificado suas ações no sentido de estar a serviço da humanidade, salvaguardando a cultura material e imaterial produzida pelo homem”. A professora lembra que, depois do término do mestrado em Museologia e Patrimônio, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio/MEC) e Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast/ MCTI), a divulgação da pesquisa teve início em escolas públicas de Manaus, em 2011. O livro será divulgado em outras instituições de cultura, especialmente os museus, além de instituições de ensino.
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MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
opiniao@emtempo.com.br
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Capa
Foto de Arquivo/Folahpress
(92) 3090-1010
Restos literários de Clarice Lispector
Visita aos digitais e implacáveis aquivos de Susan Sontag. Págs. 2 e 3
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Postais antigos para turistas nostálgicos de NY
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História do Brasil reconhecida em Hollywood
A imaginação de Sérgio Medeiros. Pág. 3
Passado tupiniquim em “12 Anos de Escravidão”. Pág. 4
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RESUMO Biógrafo de Clarice Lispector relata visita aos arquivos da escritora Susan Sontag (1933-2004), conservados na Universidade da Califórnia. A partir da experiência, reflete não só sobre os “restos literários” de sua próxima biografada mas também sobre as peculiaridades do trabalho de pesquisador na era digital.
BENJAMIN MOSER TRADUÇÃO CLARA ALLAIN
Ao longo da vida, Susan Sontag encheu seus diários com listas de palavras (“tegumento”, “fedora de aba caída”, “mingau”, “mofa”) que encontrava em suas leituras e viagens. Essas listas e os diários que as contêm podem ser consultadas, em grande medida, do mesmo modo como pesquisadores sempre consultaram arquivos literários: indo à biblioteca onde estejam – no caso, o Departamento de Coleções Especiais da Biblioteca de Pesquisas Charles E. Young, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) –, preenchendo alguns formulários e aguardando enquanto o encarregado busca o desiderato nas estantes. Uma expressão brasileira faz logo sentido para qualquer um que já tenha pesquisado uma coleção tão vasta quanto a de Sontag: “arquivos implacáveis”. Quando cheguei a Los Angeles, no início de janeiro, para trabalhar na biografia de Sontag que estou escrevendo, imaginei que três meses seriam mais que suficientes. Ao longo dos dois últimos anos, li a obra dela e viajei, principalmente pela Europa e pela América Latina, a fim de encontrar as pessoas que possam me ajudar a reconstruir seu eu implacável. É difícil – impossível – pensar em um escritor norte-americano importante do século 20 com uma vida tão internacional quanto a de Susan Sontag. Mesmo os expatriados famosos de gerações anteriores tendiam a se fixar em destinos bastante comuns, como Londres, Paris ou Roma. Londres, Paris e Roma eram importantes para Sontag, mas São Paulo, Estocolmo e Sarajevo também. Na maioria desses lugares, alguns dias ou uma semana bastavam. O tempo de que eu dispunha em Los Angeles parecia um verdadeiro luxo. Mas os arquivos são tão vastos que já perdi a esperança de algum dia poder examinar tudo: centenas de caixas com pedaços de papel, fotos, diários, faturas de hotel, programas de ópera, cartas de amor, rascunhos de manuscritos (em muitos casos, inéditos) – materiais que emocionam quem os tem em mãos e que revelam coisas que às vezes só um documento original pode expressar. É possível ver na caligrafia de
1 Digitais e implacáveis Nos arquivos de Susan Sontag Sontag, de uma forma como nunca o permitiria uma carta datilografada, o modo febril com que ela, pouco após completar 40 anos, lidando com o diagnóstico que lhe apontou a finitude da própria vida, esboçou as meditações sobre o câncer que se tornariam “Doença como Metáfora”, e com que cuidado, entre as mesmas páginas, guardou as receitas que seu médico em Paris escreveu para um tratamento de quimio-
terapia então impensável nos Estados Unidos. Ela não tinha como saber, enquanto escrevia o livro, que os medicamentos nessas listas, rabiscadas entre seus escritos, a salvariam. Mesmo quando lemos sobre temas menos carregados, há algo de melancólico nessa proximidade com uma pessoa que existiu e não existe mais. Essas coleções eram conhecidas, em tempos passados, como “restos literários”: após uma vida escre-
vendo, o que resta é isso. Ou era. Um escritor da geração de Sontag – ela nasceu em 1933 – trabalhou a maior parte de sua vida sobre papel. As cartas de Sontag são cartas reais; seus livros foram escritos usando caneta e máquina de escrever. Mas, quando ela morreu, em 2004, esses papéis já estavam rapidamente se convertendo em “restos”. Hoje, enviar uma carta, diferentemente do que há
20 anos, quase equivale a fazer uma declaração de princípios: como os telegramas, as cartas em papel geralmente se reservam a ocasiões especiais e o mero fato de enviar uma carta já revela coisas sobre o remetente que em outra época não teria revelado. (Com frequência, sua idade avançada.) Guardiões A explosão de material digital nos últimos 25 anos cria um desafio especial para os guardiões dos restos literários. Recentemente penetrei nos recônditos da biblioteca de pesquisas da UCLA para conversar com Gloria Gonzalez, uma moça de 24 anos, natural do Mississippi. Gonzalez se viu na dianteira do movimento para preservar estes materiais desde que, ainda estudante, começou a lidar com os arquivos de Sontag. Enquanto eu conversava com ela, minhas anotações começaram a se parecer com as da própria Susan Sontag, linhas cheias de palavras pouco familiares, que definiam um mundo novo para mim; “bit rot”, “soſtware forense”, “write blocker”. “Na verdade, não é tão novo assim”, Gonzalez me disse.
“As pessoas usam e-mail há 20 anos. Mas é novo em arquivos. Não é comum universidades procurarem esse tipo de material”. O material, propriamente dito, consiste em dois pequenos discos rígidos, cada um rotulado com um post-it, que Gonzalez me mostrou em um cubículo localizado atrás da sala dedicada às coleções especiais. “São objetos físicos”, disse Gonzalez – e, nesse sentido, não são diferentes dos livros e manuscritos que bibliotecários sempre colecionaram e conservaram. Esses objetos, porém, são muito mais vulneráveis do que um livro tradicional. São ameaçados pelo “bit rot”, aquilo que acontece quando os zeros e uns em que os dados digitais são gravados se confundem misteriosamente; por certos equipamentos de armazenagem instáveis (drives USB, por exemplo); e pela ameaça mais grave da obsolescência tecnológica. Enquanto ela me mostrava, na Wikipedia, fotos dos computadores que Sontag usou – um PowerBook 5300, o mesmo computador que minha mãe me deu quando entrei na faculdade, um PowerMac G4 e um iBook
G5
XAXAX
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– tive sensação igual à de quando compramos um computador ou celular novo: aquele ligeiro encabulamento que nos alcança quando nos damos conta de que o objeto que alguns meses antes parecia ultramoderno ficou pateticamente ultrapassado. Mas as máquinas em si não estão na biblioteca: pesquisadores futuros vão poder consultar os materiais em um laptop na sala de leitura, usando um soſtware que os mostrará do modo como Sontag os teria visto. Isso é feito para proteger os arquivos físicos. “Cada vez que você abre um e-mail ou um arquivo do Word, o material é modificado”, disse Gonzalez. “Há atualizações automáticas, ou – por exemplo, em um arquivo do Word – a data muda para a data em que o arquivo foi consultado, e você não pode ver quando foi a última vez em que ela trabalhou nele.” (Em “Ensaios sobre a Fotografia”, Sontag escreveu que tão somente olhar para alguma coisa já significa modificá-la.) Para preservar os arquivos, Gonzalez recorre a técnicas desenvolvidas pelo setor policial, uma área conhecida como
análise forense computacional. A principal proteção dos metadados de um computador é um “write blocker”, que permite que o material seja visto sem deixar qualquer rastro do visitante. É uma intervenção técnica simples. A principal ameaça vem das pessoas que simplesmente descartam computadores velhos, desconhecendo seu valor. Mal-estar Sontag escreveu 17.198 mensagens de e-mail, que em breve estarão disponíveis para consulta num laptop especial. Eu tive a oportunidade especial de vê-los na biblioteca, e a experiência me provocou um mal-estar que eu nunca antes tinha sentido em anos de pesquisas históricas. Qualquer biógrafo conhece o constrangimento, que ocasionalmente beira a náusea, provocado pela pesquisa extensa sobre a vida de outra pessoa. Nunca conheci Sontag ou Clarice Lispector, tema de meu livro anterior. Mas, após anos de pesquisas, entrevistas, leituras e viagens, provavelmente sei mais sobre as duas que qualquer pessoa que não
tenha feito parte de seu círculo mais íntimo. Sei de sua vida sexual, de suas finanças, conheço seu prontuário médico e seus fracassos profissionais, as dificuldades que tinham com pais e filhos, os segredos dolorosos que elas tão desesperadamente queriam manter ocultos. Mesmo sem tais dificuldades, que fazem parte de toda e qualquer vida, também a forma impõe escolhas. Assim como a história não é o passado propriamente dito, mas um relato do passado, a biografia não é uma vida, mas a história de uma vida. Do mesmo modo como um romancista fica conhecendo seus personagens, também um biógrafo fica conhecendo os dele, e, diante do caos de uma vida inteira, sabe que qualquer coisa que possa contar sobre o sujeito é apenas uma seleção pequena que cabe em uma narrativa escolhida de acordo com seus próprios gostos e interesses. O biógrafo também tem a consciência, sempre, de que sua posição, a qual necessariamente envolve julgamentos acerca do caráter de sua personagem e das escolhas que fez, é profundamente injusta, pela simples
razão de que ela própria não pode ser consultada. Essas preocupações me são familiares e sempre as tenho em mente. Ainda assim, ler papéis e manuscritos é uma coisa. Vasculhar os e-mails de uma pessoa é outra coisa inteiramente diferente, e a sensação de estranheza e voyeurismo que me dominou quando eu estava sentado com Gonzalez disputou espaço com a curiosidade irrefreável que sinto com relação à vida de Sontag. Ler os e-mails de uma pessoa é vê-la pensando e falando em tempo real. Se a maioria dos e-mails não é interessante (“o carro a buscará às 7h30 se for ok beijos”), outros revelam qualidades inesperadas cuja descoberta é um deleite. (Quem poderia imaginar, por exemplo, que Sontag enviava e-mails com o título “E aí, o que rola?”). Vemos Sontag, que tinha tantos amigos, felicíssima por poder estar em contato com eles tão facilmente (“estou pegando a febre do e-mail!”); vemos a escritora insaciavelmente solitária buscando entrar em contato com pessoas que mal conhecia e convidando-as a fazer uma visita. Nas reações delas, percebemos sua perplexidade, como hesitavam em incomodar o ícone de reputação assustadora. Com os soſtwares hoje disponíveis, o biógrafo que se esforça para se colocar na posição de seu sujeito enfrenta novos dilemas. Uma das ferramentas mais interessantes usadas por Gonzalez é um programa chamado Muse, que pode fazer buscas em um banco de dados de e-mails e mapear os sentimentos do autor da correspondência com precisão espantosa. Podemos ver categorias como “médico”, “irada” e “parabéns”. Podemos ver, em um gráfico, a porcentagem de tempo em maio de 2001, por exemplo, em que Susan Sontag esteve feliz, triste ou incomodada. Enquanto eu me assombrava com essa tecnologia, me perguntei como me sentiria se alguém vasculhasse meus emails e revelasse que eu tinha proferido uma média de 321 observações mal-humoradas por ano e que meu índice semanal de tesão tinha variado entre 34,492% e 56,297%. Deveríamos realmente resumir e reduzir emoções e vidas humanas dessa maneira, simplesmente porque está a nosso alcance fazê-lo? Teria Susan Sontag desejado que sua vida fosse analisada desse jeito? Alguém o quereria? Sontag escreveu que as fotos dizem respeito ao que não mostram tanto quanto ao que mostram e que o que vemos depende de como o fotógrafo enquadra a cena. Seus diários revelam um apreço por estatísticas e fatos surpreendentes, mas o cerne moral de seus escritos (sobre a fotografia, a guerra, a política) está na insistência em afirmar que aquilo que vemos nem sempre é o que está ali. Hoje vivemos nossas vidas cada vez mais no computador. A quantidade de informação contida em nossos smartphones é muito maior do que Sontag poderia ter imaginado em sua vida, embora tenha morrido há menos de uma década. Quem acredita no valor da pesquisa histórica entende que cada vez mais “hard drives” como os preservados na biblioteca da UCLA serão onde essa pesquisa será feita. Mas revelarão mais sobre nossas vidas? Ou, ao mostrar demais, acabarão por revelar menos?
Imaginação PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
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A próxima viagem SÉRGIO MEDEIROS
[Eis alguns postais antigos: eu os ofereço aos turistas nostálgicos que irão em breve a Nova York.] - murcho na calçada o rato sorridente se levanta de repente aparecendo enorme acima dos carros estacionados e continua a se encher de ar enquanto mãos o amparam pelas costas até deixá-lo perfeitamente ereto - no totem escuro colado à parede pode-se introduzir o braço pois é inteiramente oco e não toca o chão apenas o teto - a mulher protege a bolsa e o braço esquerdo sob o guarda-chuva mas estica para fora dele o braço que segura o cigarro aceso batendo nele para fazer a cinza cair na calçada molhada pela garoa - em cada carro estacionado ao lado do parque é colocado sobre o capô um grande cone colorido como um chifre de unicórnio - passada a chuva o sol brilha ao meio-dia enquanto na calçada um funcionário limpa com um pano o corrimão dourado do departamento de polícia da cidade de Nova York - táxis amarelos passam juntos na sombra que as árvores do parque lançam amplamente na Avenue of the Americas
G4
MANAUS, DOMINGO, 2 DE MARÇO DE 2014
História
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Um pouquinho de Brasil Por que deveríamos nos reconhecer nas cenas de “12 Anos de Escravidão” RESUMO Narrativa de Solomon Northup, que inspirou filme concorrente ao Oscar, enseja ensaio sobre as condições da escravatura no Brasil e nos EUA. Ao contrário do que parecem supor as plateias, as sevícias impostas aos cativos eram tão ferozes aqui como nos EUA, assim como era comum a captura de homens livres por direito.
LILIA MORITZ SCHWARCZ MARIA HELENA P. T. MACHADO
Há situações que parecem estar além de qualquer racionalização: diante delas quem sabe a única resposta seja a
profunda indignação. Esse é o caso do sistema escravista recriado em bases mercantis a partir do século 16, que instituiu um modelo de trabalho pautado na naturalização da violência, na compra e no tráfico de viventes. Difícil descrever por meio de interpretações objetivas um cotidiano que invadia a todos e se esmerava na aplicação de uma cartografia de castigos, vexações e punições. “12 Anos de Escravidão” procura traduzir em imagens o que é praticamente indizível em palavras. O filme, que chegou há pouco às nossas telas, foi precedido por debates e críticas, aqui como no contexto norte-americano. Não foram poucos os que acusaram o diretor Steve McQueen de fazer um filme vocacionado para o Oscar – o longa concorre hoje a nove prêmios. Outros destacaram o exagero sentimental, cenas apelativas e o recurso a um fundo musical que tem por objetivo deixar ainda mais tenso um assunto já por si nervoso. Não por acaso a escravidão permaneceu por muito tempo
no silêncio, nos EUA e no Brasil, ou foi tratada como um não tema. Talvez este seja um bom momento para fazer do passado uma indagação. Por que tantos e por tanto tempo sustentaram tal sistema? O filme se baseia na narrativa de vida de Solomon Northup – negro livre de Nova York, sequestrado e vendido na década de 1840 como escravo para trabalhar nas fazendas nas fronteiras do sul do país. A publicação de sua história, em 1853, serviu como veículo para a difusão das novas ideias abolicionistas. Esquecido desde então, o relato de Northup voltou às livrarias propelido pelo lançamento do filme – no Brasil, saíram duas edições (pela Penguin/Companhia das Letras e pela Seoman). A reconstituição feita no cinema, minuciosa, realista e muito colada ao livro, se detém nos aspectos sombrios do funcionamento da escravidão no sul dos EUA, trazendo para a tela as engrenagens do tráfico interno e ilegal, a organização do trabalho compulsório nas
“plantations”, as políticas senhoriais de controle, punição e compensação de escravizados, as regras de submissão, as relações inter-raciais e, sobretudo, a violência de um sistema que supõe a posse de um homem por outro. Para completar a fatura, “12 Anos” ainda mostra como era frágil a situação civil dos negros livres e libertos – assim como a própria noção de liberdade. A sensação que fica é a de que nada era seguro no período anterior à Guerra Civil, com os negros livres norte-americanos contando apenas com direitos sociais limitados. Tal perfil valia até para o norte dos EUA, que exaltava valores republicanos e cidadãos. O direito ao voto para negros era um privilégio raro e a política de segregação já começava ser implantada em muitos lugares. Sem ter o direito de testemunhar contra brancos ou de a eles igualar-se constitucionalmente, o negro livre era entendido – como bem notou a historiadora Barbara Fields em ensaio clássico – quase como um estrangeiro. A fronteira entre cativeiro e
liberdade era mais fluida do que se podia esperar. No contexto norte-americano, existe uma considerável tradição de narrativas escritas por escravizados e libertos; no cinema, porém, é novidade apresentar a escravidão a partir do ângulo dos afro-americanos. O filme de McQueen, por economia de argumentos ou conservadorismo, optou por deixar a trama mais previsível, conferindo o papel de libertador a um homem branco, educado e canadense – certamente remetendo-se à tradição daquele país de acolher escravos fugidos. Reações O díptico livro-filme fez estourar nos Estados Unidos um debate volumoso. Voltando os olhos para a recepção que o longa de McQueen recebeu por aqui, podemos dizer que é no mínimo revelador observar as reações da plateia, que, entre entristecida e atônita diante da dureza das imagens, sai do cinema com questões do tipo: “Como era dura a escravidão nos Estados Unidos! Os senhores lá eram mesmo
cruéis – no Brasil não era assim, não é?”. Esse tipo de resposta denuncia uma espécie de política de compensação e certo “alívio” tentador: joga-se a sensação incômoda sempre para o lado do outro, para bem longe de nós. No entanto o que hoje se sabe é que a escravidão no Brasil não foi essencialmente diferente da retratada em “12 Anos de Escravidão”. Ao contrário, foi maior em número de africanos entrados no país, assim como tomou todo o território e por um período de tempo ainda mais extenso. As similaridades entre os regimes escravocratas de lá e de cá são muitas, a começar pela notável porosidade das fronteiras entre cativeiro e liberdade que são tema de “12 Anos” (o sequestro, aprisionamento, transporte, venda e revenda do protagonista se concretizam quase sem estorvo por parte das autoridades ou da população). Novos estudos nos EUA e no Brasil têm demonstrado a escandalosa ilegitimidade da escravidão.