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O JORNAL QUE VOCÊ LÊ ANO XXVII – N.º 8.628 – DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO
CARNAVAL
2015
CARNAVAL
DA CRISE
O CARNAVAL TAMBÉM SENTE OS EFEITOS DA TURBULÊNCIA ECONÔMICA. TANTO É VERDADE QUE ATÉ AS ESCOLAS DE SAMBA INVESTIRAM MENOS NO GLAMOUR OU MESMO ADERIRAM A ENREDOS QUE HOMENAGEIAM INSTITUIÇÕES OU PERSONALIDADES, NA TENTATIVA DE ATRAIR MAIS RECURSOS. SEM DINHEIRO, TRÊS MUNICÍPIOS DO AMAZONAS CANCELARAM AS FESTAS CARNAVALESCAS. PARA AQUELES QUE INSISTEM EM NÃO DEIXAR O PERÍODO MOMESCO PASSAR EM BRANCO, A ÚNICA SAÍDA É USAR A CRIATIVIDADE PARA DRIBLAR A CRISE. POLÍTICA A7, ECONOMIA B4 E B5 E DIA A DIA C4 E C5
Embarque no ‘portão’ da folia
Alguns cuidados básicos com a saúde são fundamentais para curtir o Carnaval sem contratempos. Um deles é a hidratação com água e sucos naturais, principalmente para quem exagerar no álcool. Saúde F6
CURUMIM
RIO 40 GRAUS
Uma das capitais do Carnaval Carnaval, o Rio de Janeiro é palco, hoje, do desfile das escolas de samba do grupo especial. Viradouro, Mangueira, Mocidade, Vila Isabel, Salgueiro e Grande Rio invadem o sambódromo logo mais. Última Hora A2
FAITH NO MORE
De volta ao palco do rock
O Curumim resgata o verdadeiro espírito do Carnaval brasileiro, as marchinhas, com destaque para o genial Lamartine Babo, o rei da folia.
As bandas americanas Faith No More (foto), que se apresentou em 1991, e Hollywood Vampires, serão atrações do Rock in Rio 2015. O festival, que comemora 30 anos, ocorre entre os dias 18 e 27 de setembro. Plateia D4
FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700 ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELENCO E CURUMIM.
Tem pupunha no salgadinho
RICARDO OLIVEIRA
Hidrate-se nas festas momescas
RICARDO OLIVEIRA
Vai viajar para curtir os últimos dias de Carnaval? Então, aproveite as dicas dos consultores para organizar a bagagem e não esquecer itens essenciais na hora de embarcar na folia. Elenco 22 e 23
Pupunha e açaí, há muito, já atingem outros nichos e podem ser consumidos de diversas formas. Depois de sorvete, geleia, doce e suco, a vez agora é do salgadinho e do cereal com sabor dessas frutas. Economia B3 TEMPO EM MANAUS
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Última Hora
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
Desfile da 1ª noite em SP teve sensação de ‘déjà-vu’
CARNAVAL
2015
Sete escolas de samba apresentaram suas estórias e sambas na passarela do Anhembi, encantando o público que foi prestigiar
H
omenagem ao centenário de um clube de futebol, marchinhas que pontuaram a origem do samba no Brasil, truques de magia, viagem no tempo de antigas civilizações, caveiras, dragões, acrobatas em carros alegóricos, ícones da imigração japonesa e, claro, clássicas referências à Mãe África... A primeira noite dos desfiles das escolas de samba do grupo especial de São Paulo foi marcada por uma sensação de déjà-vu, com direito à reciclagem de vários registros rítmicos, coreográficos e cênicos de outros Carnavais. Na falta de uma apresentação que arrebatasse o público, ou ao menos de uma ideia absolutamente inovadora, a festa terminou, já com a luz do dia, com a suspeita de que o campeão ainda não passou pela avenida. Só quem pode furar esse prognóstico é a Rosas de Ouro, que misturou emoção, luxo, técnica e ousadia numa estudada estratégia para acabar com a maldição do vicecampeonato, que a persegue nos últimos três anos. A Mancha Verde abriu a festa com o samba-exaltação ao Palmeiras, reafirmando a tese de que escolas que brotam de torcidas uniformizadas têm
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certa dificuldade de dissociar o Carnaval do futebol. A Acadêmicos do Tucuruvi, segunda escola a se exibir, fez um desfile divertido, escorado principalmente na força melódica do samba-enredo, uma colagem de frases de célebres marchinhas de Carnaval. A letra fácil e repleta de citações de antigos sucessos caiu nas graças da plateia e ajudou na evolução da escola. O drama de ter o carro abrealas quebrado no ano passado inspirou o enredo da Tom Maior, terceira escola a pisar na avenida neste Carnaval. Pena que a boa ideia de resgatar as sensações provocadas pela adrenalina daquele momento de tensão acabou se diluindo na dificuldade que o carnavalesco Mauro Quintaes encontrou para contar essa história. A Dragões da Real, quarta escola, apostou na ficção de uma história infantil para mostrar que é possível acreditar no sonho de ser campeã. Ainda que este desejo não se realize pela suprema decisão dos jurados, a escola pode se orgulhar de ter feito um desfile acima das expectativas para quem estreou no grupo especial apenas em 2012. O momento mais aguardado da noite era o desfile da Rosas de Ouro, quinta a pisar
no sambódromo. E ela não decepcionou quem esperava um desfile de encanto e magia, marcado por um enredo que também se apoiava em contos de fadas e histórias de superação, como a da própria Roseira. Não custa lembrar que enquanto se preparava para entrar na avenida em 2014, a escola teve que enfrentar uma chuva de granizo que acabou tirando o brilho de algumas fantasias, e prejudicando o resultado final do desfile. Sushi, judô, origami, ritual do chá, sumo, samurais, trem-bala, mangás, Buda, Zico... Por mais que tentasse cumprir a promessa de apresentar um Japão hitech, diferente de tudo o que já foi mostrado em outros desfiles que teve a imigração oriental como enredo, a Águia de Ouro não conseguiu se livrar dos velhos clichês para desenvolver o enredo “120 anos do Tratado da Amizade Brasil e Japão”. Sétima e última escola, já com público reduzido nas arquibancadas e a cidade amanhecendo, a tradicional Nenê de Vila Matilde fechou a primeira noite dos desfiles em São Paulo apostando na receita que a torna uma escola única: grande participação da comunidade, garra e muito samba no pé.
NESTE CARNAVAL DIVULGAÇÃO/ASSESSORIA
Destaque da Rosas de Ouro, que agitou os presentes e trouxe muito luxo e técnica para a avenida
FOLIÕES
ROUBO
PM prende homens no Tarumã LUANA DÁVILA Equipe EM TEMPO Online
Campanha quer chamar atenção para a proteção da criança e adolescente neste Carnaval
Ação para proteção das crianças SILANE SOUZA Equipe EM TEMPO
Uma ação a fim de alertar a população quanto à prevenção e proteção das crianças e adolescentes da violência sexual, abuso, tráfico para fins de exploração, entre outros tipos de violação de seus direitos neste Carnaval, foi realizada ontem durante a manhã entre as avenidas Pedro Teixeira e Constantino Nery, em Manaus. A iniciativa foi idealizada pela Comissão de Jovens, Crianças e Adolescentes da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), presidida pelo deputado estadual Carlos Alberto (PRB). De acordo com dados da comissão, somente no ano passado mais de 2,6 mil denúncias de violência contra criança e adolescentes foram registradas no período de Carnaval, no Amazonas. Os dados colocaram o Estado no
ranking de 5° lugar entre os mais violentos da Federação. “Nossa intenção é diminuir esse índice, para isso, pretendemos chamar ainda mais a atenção da população e das autoridades para o combate a este mal”, afirmou o Carlos Alberto (PRB). O parlamentar lembrou que quando chega nessa época de Carnaval, as crianças, os adolescentes e os jovens ficam ainda mais vulneráveis a todo tipo de violência e que a população, em geral, não pode fechar os olhos e permitir que sejam roubados os sonhos das crianças. “É preciso combater essa prática. Estamos fazendo a nossa parte dando a nossa contribuição para tentar impedir que mais e mais crianças venham ser vitima de tal situação”, frisou. Carlos Alberto destacou ainda a decisão judicial 002/2014 do juiz da Infância
e da Juventude, Bismark Gonçalves, que proíbe a criança menor de cinco anos desfilar no Carnaval, mesmo acompanhada pelos pais. “Essa decisão traz uma esperança para cada um de nós que tem alguma preocupação com o futuro deste Estado: as crianças”, concluiu. Combater exploração A comerciante Ana Beatriz Souza, 51, destacou a importância da ação para o combate à exploração infantil, em Manaus, uma vez que a cidade é carente desse tipo de atuação. Ainda mais nesta época, em que há aumento da violência contra os menores. Para ela, o combate deve ser feito por todos. “Tem que sensibilizar os pais, pois eles próprios vestem as crianças de forma inadequada. A criança tem que brincar, mas de forma diferente dos adultos”, observou.
Dois homens que não tiveram as identidades reveladas pela polícia foram presos na noite de anteontem, ao tentarem roubar uma caminhonete de modelo Hylux, de placa também não revelada. O caso ocorreu na avenida Santos Dumont, no bairro Tarumã, Zona Norte de Manaus. De acordo com policias militares da 20ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), a vítima, que não quis ser identificada, foi abordada por quatro homens armados que levaram o veículo, por volta de 23h30. Os policiais militares perseguiram o veículo, que trafegava em direção à Comunidade Cristo Rei, quando os infratores colidiram com uma árvore e atiraram várias vezes contra a guarnição. O veículo foi recuperado, mas dois ladrões ainda conseguiram fugir. O caso foi registrado no 12º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
Bloco Bola Preta arrasta multidões pelas ruas do Rio Rio de Janeiro - O Cordão do Bola Preta, um dos maiores e mais tradicionais blocos de Carnaval do Rio, iniciou seu desfile às 10h14 de ontem, tendo a cantora Maria Rita como madrinha, Neguinho da Beija-Flor como padrinho e a atriz Leandra Leal como a porta-estandarte. Neste ano, o bloco desfila pela primeira vez pela avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro, já que a avenida Rio Branco, que tradicionalmente recebe o Bola Preta, está interditada para obras. Segundo o diretor do bloco, Luiz Henrique Bentes, o Henrique Mancha, o bloco reuniu 2,5 milhões de foliões. O Bola Preta desfilou pela avenida Presidente Carlos com a dispersão às 14h30, na rua Araújo Porto Alegre. A estação de metrô da Cinelândia está fechada. Os foliões que tiveram duas
opções: desceram na estação Carioca e na Glória e fizeram o último trecho do percurso a pé. Grupo especial E hoje é a primeira grande noite dos desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. Passarão pela famosa Marquês de Sapucaí as agremiações Viradouro, Mangueira, Mocidade, Vila Isabel, Salgueiro e Grande Rio. O Carnaval mais badalado do planeta promete trazer muito luxo, celebridades, histórias e homenagens aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro – que se completam no próximo 1º de março – e, claro, muito samba no pé. Amanhã, o Rio encerra seus desfiles do grupo especial com a segunda noite de apresentações com as agremiações São Clemente, Portela, Beija-Flor, União da Ilha, Imperatriz Leopoldinense e Unidos da Tijuca. DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Dupla foi presa quando tentava roubar veículo na estrada do aeroporto Bloco arrastou 2,5 milhões de foliões pelas ruas do Rio
Opinião
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
Contexto 3090-1017/8115-1149
A3
Editorial
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Uma questão de segurança
Bate na madeira três vezes! Algumas notícias, mesmo quando desmentidas, provocam um frio na espinha. Isto é, dá medo até pensar. Esta é uma delas: O Ministério da Fazenda divulgou comunicado na sexta-feira, em plena folia carnavalesca, garantindo que não há qualquer risco de confisco da poupança. O comunicado foi feito no intuito de apaziguar o medo de poupadores de que acontecesse algum confisco semelhante ao que ocorreu no início da década de 1990, no governo do ex-presidente Fernando Collor. “Não procedem as informações que estão circulando nas mídias sociais de que haveria risco da poupança ou outras aplicações financeiras” –, afirma a nota do ministério. Sem fundamento A nota afirma ainda que estas informações “são desprovidas de fundamentos e não estão em conformidade com a política econômica de transparência e a valorização do aumento da taxa de poupança de nossa sociedade promovida pelo governo, através do Ministério da Fazenda”. Ainda é cedo Ex-líder da bancada do PSDB no Senado, o atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, disse nesta quinta, no Rio, que “é muito cedo para se falar de impeachment da presidente Dilma Rousseff ” em razão dos casos de corrupção na Petrobras. Ele defende, no momento, rigor nas investigações para apurar todas as denúncias. Coerência Arthur foi coerente ao dizer que há, sim, uma crise muito aguda no Brasil, mas “não estamos vivendo um caos”. — É preciso prudência até para não desrespeitar a vontade de parte da população na eleição recente –, ponderou o tucano. Vendendo o peixe No Rio para participar de evento sobre as Olimpíadas 2016, Arthur marcou presença para defender a candidatura de Manaus como uma das subsedes do torneio de futebol durante os jogos. Virgílio foi um dos maiores críticos adversários dos dois governos de Lula (2002-2010) e mantém o status de uma das principais lideranças do PSDB. Punição já Para ele, os escândalos na
Petrobras têm de resultar em punições severas. — O mais importante agora é saber quem são os responsáveis e puni-los. É legítimo Antes, os senadores tucanos Cássio Cunha Lima (PB) e Aécio Neves (MG) disseram que acham legítima a discussão sobre o impeachment da presidente Dilma. Segundão Virgílio é o segundo tucano de peso em nível nacional a descartar um eventual impeachment da petista. O governador de Goiás, Marconi Perillo, também havia rechaçado tal possibilidade. — Acho que a Dilma precisa ter condições de governabilidade, precisa tomar muitas medidas que só ela pode tomar, mas ela tem o direito de governar. Ela ganhou —, disse o governador. O mais novo O deputado federal Arthur Virgílio Bisneto (PSDB) é o mais novo primeiro vice-líder da minoria na Câmara Federal. Com isso, o tucano deverá ganhar mais espaço na tribuna para defender os interesses do Amazonas Açúcar, perigo Projeto de Lei (PL) do senador José Medeiros (PPS-MT), se aprovado, vai controlar a quantidade de açúcar em bebidas. Segundo a proposta, as embalagens das bebidas açucaradas deverão não só informar o teor calórico como também alertar sobre os males causados por seu consumo
APLAUSOS
Regi regi@emtempo.com.br
excessivo. Alerta no rótulo O Ministério da Saúde ficará responsável por elaborar frases de advertência. Essas frases serão impressas nos rótulos de forma simultânea ou rotativa e acompanhadas de imagens ou figuras ilustrativas. Consumo cresceu 400% O senador Medeiros advertiu que, em trinta anos, o consumo brasileiro de refrigerantes cresceu 400%. — Um excesso diário de apenas 120 calorias (um copo de refrigerante comum) é capaz de produzir, em dez anos, um acréscimo de peso superior a 50 quilos –, observou Medeiros. Dívida dos clubes Um dos nomes de oposição ao governo de Dilma Rousseff (PT), o senador eleito Romário Farias (PSB-RJ) elogiou o veto da presidente ao artigo 141 da Medida Provisória (MP) 656/14, que previa regras para a renegociação das dívidas dos clubes com a União. Parcelado De acordo com o artigo vetado, os clubes poderiam parcelar suas dívidas em até 240 vezes, com descontos de até 50% em juros e 70% nas multas. Sem responsabilidade Isso sem precisar cumprir medidas de responsabilidade financeira e de gestão, que estão no projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE), que tramita no Congresso.
VAIAS
Alerta sobre o açúcar
Uma ação desencontrada, há poucos dias, na Assembleia Legislativa, fez a Segurança Pública do Amazonas perder uma excelente oportunidade de começar a recuperar sua credibilidade diante da população. Ao votar contra o videomonitoramento das ações policiais, os parlamentares também deixaram a população sem a possibilidade de “provar” eventuais excessos dos agentes, criando o constrangimento da palavra de um contra a de outro. O mesmo erro cometeu o governador do Rio de Janeiro, em 2010, quando vetou proposta igual, recuperando-a, no entanto, em 2013, quando as primeiras viaturas foram equipadas. O secretário de Segurança fluminense, José Mariano Beltrame, comemorou a decisão do governo: “Não vão pairar dúvidas sobre o que acontece durante as ações policiais”. Empenhado em costurar uma reforma administrativa, o governador José Melo poderia seguir o exemplo do governo do Estado do Rio de Janeiro e assumir a decisão de equipar a polícia com esse dispositivo. Não é possível negar que a segurança pública amazonense vive – ou continua a viver – um momento crítico. Em março de 2010, o então vereador Marcelo Ramos apresentou projeto de lei que dispunha sobre a obrigatoriedade de as viaturas policiais serem equipadas com câmeras ou microcâmeras de áudio e vídeo. Não vingou. No Amazonas, se for de oposição (se só por isso) os argumentos perdem a razão. É uma atitude estúpida. Em 2014, apenas cerca de oito deputados votaram a favor da obrigatoriedade do videomonitoramento. A maioria desmontou o projeto. Falou-se que o serviço sairia caro. A credibilidade das polícias Civil e Militar tem que preço para esses poupadores? Não pode haver segurança pública nem privada (nem a sensação de) se a polícia não inspira confiança. Eis um assunto que precisa ser retomado. Urgente.
Bloco do Eu Sozinho DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Para o projeto do senador José Medeiros (PPS-MT), que vai controlar a quantidade de açúcar em bebidas, alertando o consumidor por meio das embalagens das bebidas açucaradas, que passarão a informar o teor calórico e os males causados pelo consumo excessivo.
Para a falta de apoio às escolas do grupo de acesso, que fazem um desfile solitário, com arquibancadas vazias, sem transmissão, sem público e, em alguns itens, sem jurado para avaliar seu trabalho.
João Bosco Araújo opiniao@emtempo.com.br
Livre, mas nem tanto Intrigou-me sempre o fato de aquele velho amigo, nascido na Inglaterra, precisamente em Liverpool, para alguns a mais atraente e agradável das cidades inglesas e que, como o personagem do “Porto de Lenha” do Aldisio e do Zeca Torres (Torrinho), exibe como documentos as sardas e os olhos azuis, tivesse livremente escolhido viver em Manaus. Afinal, mesmo com a Zona Franca e outras mudanças, Manaus ainda guarda os traços do porto de lenha de onde surgiu, juntados à impertinência e ao exibicionismo típicos do provincianismo que leva às edificações supérfluas e inúteis que tomam o lugar de tudo aquilo que lhe falta e que seria o essencial e fundamental. Pavulagem não é uma exclusividade da pávula Parintins. É também notório traço que atinge e se espalha entre nós, manauenses. Mas voltando ao meu amigo, àquele que tem até nome de roqueiro inglês, daqueles legítimos, do mais autêntico “heavy metal”. Num dia de mais coragem e liberdade, perguntei-lhe sobre a razão, ou as razões, que poderiam ter levado um inglês, de apurada formação acadêmica, a trocar, por arbítrio próprio, a Liverpool dos Beatles pela Manaus do Nunes Filho, sem nenhum preconceito, mas apenas sendo fiel aos fatos. A resposta foi direta e compatível com a argúcia e a sagacidade do seu espírito: “Lembras-te do tempo em que ser homossexual na Inglaterra era crime e, por isso, Oscar Wilde foi levado à prisão? Lembras-te de que, mais tarde, deixou de ser crime e passou a ser tolerado? E depois, não chegou praticamente a ser oficializado, quando se reconheceu até o direito ao acasalamento de pessoas do mesmo sexo? Pois é! Aí vim para o Brasil, precisamente para Manaus, antes que se tornasse obrigatório
em toda a velha Álbion”. Esta é a história que, se não aconteceu literalmente na Grã-Bretanha, pelo menos como “moral da história”, lá como cá, houve e está a haver. No fundo, assim como há a moda para as roupas, bijuterias, utensílios de uso e pertences, assim também os costumes e a moral (ou a precariedade dela) nas sociedades costumam variar e, o que é pior, têm a pretensão de impor-se a todos, seja aos que concordam como aos que discordam. Hoje, a moral social indica e adota o caminho da liberalidade ampla e irrestrita. Tudo o que for ou parecer cerceador e restritivo recebe o selo, geralmente inapropriado, de “preconceito”. Pôr-se contra qualquer prática ou julgamento da moda social é o suficiente para receber inexoravelmente o rótulo de preconceituoso. Assim, não é “de bom tom” rejeitar ou mesmo censurar a liberdade sexual absoluta, mesmo que ao fim ela conduza à libertinagem e à promiscuidade. Aos filhos é devida uma educação que os liberte dos “tabus” como dos “preconceitos” que, na plena liberalidade social, são vistos como frutos do arbítrio e apenas servem para impedi-los de alcançar a felicidade. Mesmo que eles resolvam transformar as casas dos pais em motéis de rotatividade proporcional à rotatividade dos seus relacionamentos. Opor-se à liberação da prática do abortamento significa interferir nos direitos da mulher, mas apoiá-la não molesta os direitos do nascituro. Afinal, depois de ouvir sua resposta anedótica, continuei sem conhecer as razões ou as motivações que trouxeram o meu amigo para Manaus. Mas, depois de ouvi-lo, lamentei que para Oscar Wilde não tivesse havido a mesma oportunidade de para cá vir. Lamentei por ele e mais ainda por nós.
João Bosco Araújo Diretor executivo do Amazonas EM TEMPO
Aos filhos é devida uma educação que os liberte dos “tabus” como dos “preconceitos” que, na plena liberalidade social, são vistos como frutos do arbítrio e apenas servem para impedi-los de alcançar a felicidade. Mesmo que eles resolvam transformar as casas dos pais em motéis de rotatividade”
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Opinião
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Frase
Painel VERA MAGALHÃES
Pé atrás
O nosso ajuste tem um ponto de vista e é equacionar as questões para que a gente possa ter fundamentos sólidos na nossa economia e dar sequência a este processo. A gente tem que deixar claro que esse é o nosso objetivo, nós não temos nenhum objetivo de recuar, de retirar direitos, muito antes pelo contrário, mesmo que eventualmente tenhamos que fazer determinadas correções em alguns benefícios que são direitos dos trabalhadores
A decisão do governo de São Paulo de adiar, por ora, o rodízio de água se deve a dois motivos. O primeiro é que a Sabesp não apresentou um plano de logística confiável para operar o desligamento de forma segura. Além disso, não há um estudo definitivo de que o sistema representaria economia maior que o atual, que reduz a pressão da água. Geraldo Alckmin não quer adotar a medida, que causará sacrifícios à população e desgaste de imagem, sem um ganho expressivo. Gota em gota O governo conta, ainda, com as “descobertas” de água para suprir a necessidade de consumo até o fim do ano. O cálculo é que o volume incorporado ao sistema em três meses já chega a 5 mil litros/segundo. Só que... Para que o cálculo otimista do governo paulista funcione, no entanto, é necessário que as obras não atrasem. “Vão ser obras feias, um monte de cano”, ilustra um auxiliar de Alckmin. Cadeira vazia O governo paulista segue com dificuldade para encontrar um nome para a presidência da CPTM. Há mais de dois meses, em 9 de dezembro, Alckmin admitiu que trocaria o comando da companhia, mas, desde então, todos os nomes sondados recusaram a indicação. Retiro No aeroporto de Brasília lotado de passageiros em busca de destinos mais carnavalescos, Marina Silva desembarcava na noite de sexta-feira para passar o feriado na capital. Parada a cada poucos passos, posou pacientemente para selfies. Apego Eduardo Paes quer continuar tratando da segurança dos Jogos Olímpicos de 2016 direta-
mente com o general Fernando Azevedo e Silva, que deixou a APO (Autoridade Pública Olímpica) na semana passada. Apego 2 O prefeito do Rio resistiu à substituição do militar por Edinho Silva (PT), ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, no órgão. Nova sala O Planalto nomeou Paulo Maldos, que estava na Secretaria-Geral da Presidência, para a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. Desafeto No ano passado, Maldos teve uma discussão pública com a ministra Kátia Abreu (Agricultura) sobre a ocupação de terras indígenas e acusou produtores rurais de plantarem maconha. Selinho Aliados de Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Jaques Wagner (Defesa) insistem que não há disputa de espaço entre os dois no governo. “A relação deles é tão boa que só falta beijo na boca”, diz um assessor. Aliás Na conversa que teve com Dilma Rousseff, Lula disse que a presidente deve manter unido seu núcleo de conselheiros políticos, minimizando divergências. Lem-
brou das disputas de poder entre José Dirceu e Antonio Palocci em seu governo. Telemarketing Nelson Barbosa (Planejamento) e Carlos Gabas (Previdência) já começaram a telefonar para deputados e senadores do PT para sensibilizá-los da necessidade de aprovação do ajuste econômico no Congresso.
Pepe Vargas, ministro das Relações Institucionais, correndo da sala para a cozinha para explicar que o governo não vai fazer o que já está fazendo.
Olho da Rua opiniao@emtempo.com.br ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
Fantasmas O governo monitorou desde quinta-feira boatos que circulavam nas redes sociais de que haveria confisco de cadernetas de poupança em março. Viral A Fazenda decidiu reagir publicamente no dia seguinte, negando o plano, ao se surpreender com a explosão rápida da circulação do rumor em 24 horas. Janela Teori Zavascki indicou a auxiliares que está inclinado a amenizar o sigilo imposto a inquéritos e processos contra políticos no âmbito da operação Lava Jato que correrão no Supremo. Janela 2 Pelo menos as iniciais dos acusados e a tramitação devem se tornar públicos, de acordo com a proposta do relator do caso.
Tiroteio
“Assim como o galo canta, o burro rincha, o sino toca, a cabra berra, assim tu São Cipriano hás de trazer muito dinheiro, riqueza e fortuna para mim. Assim como o sol aparece, a chuva cai, faça São Cipriano. Que os inimigos não nos vejam, não nos enxerguem, assim seja, assim será, assim está feito. Ó, São Cipriano e as três almas pretas que vigiam São Cipriano, atendam este pedido”
Dom Sérgio Eduardo Castriani opiniao@emtempo.com.br
O governo anda tão lento que, quando enviar o tão prometido ‘pacote anticorrupção’, verá que todas as suas propostas já tramitam”
Carnavais
DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), que diz que a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção listou mais de cem projetos de lei e PECs sobre o tema.
Gosto de Carnaval, embora não seja um folião. É claro que não me atraem e nem posso aprovar os excessos, o pior deles o consumo de bebida alcoólica que em qualquer ocasião é causa de violência, de morte, de degradação dos costumes e de dependência química. Como qualquer outra atividade humana, o Carnaval é cheio de ambiguidades e possibilidades. Mas, me encantam as fantasias. Gostaria muito de conhecer Veneza nesta época, pois lá as pessoas desfilam com fantasias que mais parecem obras de arte ambulantes. Não devemos nada em termos de criatividade neste quesito. Aliás, já os nossos povos indígenas eram exímios produtores de máscaras que os identificava aos animais da floresta. Fantasiar-se, mudar por um lapso de tempo de personalidade, romper barreiras, realizar sonhos, tudo isto com arte e beleza. Uma arte efêmera que se desfaz nas cinzas da quaresma, não invadindo a vida quotidiana, mas deixando um gosto de saudade e de expectativa de que no ano que vem haverá mais sonho e mais Carnaval. Gosto do ritmo de Carnaval, das baterias das escolas de samba que fazem tremer asfalto e arquibancada, que unificam sensações numa louvação natural que aponta para enlevos espirituais. Gosto das marchinhas de Carnaval que, excetuando algumas de mau gosto, são fáceis de cantar, atravessam gerações e trazem à memória cenas de uma infância já perdida no tempo que passou inexorável. Não me canso de ver os dançarinos de frevo com suas sombrinhas coloridas. Os desfiles das escolas de samba, verdadeiras óperas populares, são
Contraponto
Sempre um passo à frente Na semana passada, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, recebeu para uma audiência o deputado estadual Campos Machado (PTB), logo depois de ter participado de uma reunião sobre as ações do Estado para conter a crise de abastecimento de água. Com o assunto ainda fresco na cabeça, Alckmin repetiu ao petebista toda a exposição que acabara de fazer na reunião anterior. Campos se animou: – Governador, do jeito que o senhor está entendendo de meio ambiente, acho melhor esquecermos o projeto político para 2018 e nós dois abrirmos um escritório de consultoria ambiental! Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”
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sempre um espetáculo à parte, e suas alegorias e fantasias são sempre surpresas agradáveis. A vida precisa de fantasia e humor. Rir de si mesmo e sonhar faz bem, e pessoas sisudas incapazes de sorrir, de fazer festa e de dançar são um peso para si e para os outros. Mas também me encantam os retiros de Carnaval. Com nomes que lembram a experiência de salvação se multiplicam nestes dias dando opção aos que preferem a fantasia da fé, os cânticos de louvor e a alegria que brota da certeza da presença de Deus. Maranatha, Shalom, Despertai, Carna Cristo, são alguns dos nomes destes eventos religiosos. Neles se reza, se anuncia a Palavra, se ouvem testemunhos, se canta muito. Há ainda os que, fugindo de tudo, preferem viver esses dias na solidão, ou de uma praia deserta, ou de uma chácara, e até mesmo ficando em casa, e curtindo o espaço doméstico tão pouco ocupado em dias de correria normal. Há também os que estão nos hospitais, nas casas de detenção, em trabalhos essenciais e que só podem ouvir à distância o som dos tambores. São muitos Carnavais, mas todos eles têm algo em comum. Na vida, que passa rápido, quase tudo é relativo, e por isso é preciso criar ritualmente espaços de gratuidade, de fantasia e de festa, para que a realidade dura e cruel não nos esmague. A arte, a festa, a religião, a fantasia e o êxtase são surreais, uma realidade num outro nível, mas tão necessária quanto a que chamamos de realidade nua e crua. Carnavais há para todos os gostos, e no país do Carnaval cada um encontrará o seu lugar.
Dom Sérgio Eduardo Castriani Arcebispo metropolitano de Manaus
Também me encantam os retiros de Carnaval. Com nomes que lembram a experiência de salvação se multiplicam nestes dias dando opção aos que preferem a fantasia da fé, os cânticos de louvor e a alegria que brota da certeza da presença de Deus”
Com a palavra
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
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Márlon REIS
‘Sistema ELEITORAL não PERMITE descobrir a vontade DO ELEITOR’
FOTOS: RAIMUNDO VALENTIM
SÍNTIA MACIEL Equipe EM TEMPO
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O eleitor brasileiro precisa ter o espaço para poder votar. O problema é que o sistema eleitoral atual não permite que se descubra validamente qual é a vontade do eleitor. Uma pessoa vota em um, mas esse voto vai beneficiar outro candidato, que o eleitor não imaginava”
m dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa - que impede a candidatura de políticos condenados pela Justiça em segunda instância - e o principal relator da mesma, o juiz eleitoral Márlon Reis, 43, esteve na última semana em Manaus, onde lançou o seu mais recente livro, “O Nobre Deputado”, além de palestrar para acadêmicos de vários cursos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Intitulada “Reforma Política – Necessidade, Aspectos Jurídicos e Políticos”, a palestra, promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE/Ufam), abordou entre outros assuntos as possíveis mudanças no sistema eleitoral brasileiro – e por extensão na política nacional. Em meio à agenda de compromissos na capital amazonense, o fundador e coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) falou ao EM TEMPO sobre reforma política e a necessidade da mesma. EM TEMPO - Como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) pode auxiliar o cidadão a enxergar política como algo essencial para a sua vida, frente ao atual quadro político? Márlon Reis - Vivemos em um país democrático, onde, lamentavelmente, a validade das eleições é muitas vezes colocada em cheque, sobre o questionamento da presença constante da corrupção política. Compram-se votos no Brasil, compram-se mandatos no Brasil, por meio do abuso do poder político e econômico. E é justamente isso que o movimento busca combater. O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral surgiu em 2002, justamente para buscar o aprimoramento das eleições brasileiras. EM TEMPO - O brasileiro é consciente a respeito do poder do voto dele ou em alguns momentos se faz de conivente com a qualidade dos candidatos por ele eleitos?
MR - O brasileiro é crítico, gostaria de ver melhoras, mas é atrapalhado pelo sistema eleitoral que foi orquestradamente montado para impedir que o resultado das urnas reflita o rosto do eleitorado. Um exemplo disso é a atual composição da Câmara dos Deputados. Os eleitos obtiveram uma minoria dos votos e foram aqueles que tiveram campanhas multimilionárias, bancadas por empreiteiras, o que desequilibra o jogo. A população não é culpada do resultado, da maneira como são compostos os parlamentos no Brasil. EM TEMPO - Então ao contrário do que se fala, o brasileiro sabe votar? MR – O eleitor brasileiro precisa ter o espaço para poder votar. O problema é que o sistema eleitoral atual não permite que se descubra validamente qual é a vontade do eleitor. Uma pessoa vota em um, mas esse voto vai beneficiar outro candidato, que o eleitor não imaginava. Por outro lado, o número de candidatos é muito grande, e os partidos escolhem uns poucos para serem devidamente financiados. Tudo isso leva a termos um resultado de uma eleição que não permite que nós digamos que foi realmente essa a vontade popular. EM TEMPO - O senhor é um dos idealizadores e redator da Lei da Ficha Limpa. Em um país democrático é necessário uma lei semelhante ou é mais um instrumento para alertar o eleitor sobre quem ele está escolhendo para representá-lo? MR - A Lei da Ficha Limpa é fruto de uma luta da sociedade brasileira pela melhora do perfil dos candidatos, objetivando impedir a participação eleitoral de pessoas condenadas por práticas de crimes ou por atos de improbidade, atos de abuso de poder e também pessoas envolvidas em casos de contas rejeitadas. É extremamente democrático estabelecer por lei quais são as balizas, qual o perfil esperado de um candidato, especialmente quando se faz essa lei, da maneira como nós fizemos, conquistando-a
pela via pacífica da participação popular. Convidando a população a refletir, sobre aquilo que ela espera dos candidatos, e, portanto, que perfil ela deve definir, antes de emitir o seu voto. EM TEMPO - Em 2013, uma nova campanha, também de mobilização popular e com o engajamento de várias entidades, foi lançada, tendo como objetivo a reforma política e eleições limpas. O que se pode esperar da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas? MR –Precisamos nos mobilizar assim com fizemos com a Lei da Ficha Limpa. Estamos em uma campanha aberta, na qual defendemos ideias básicas, por exemplo, a proibição de doações empresariais. Hoje nós estamos vendo o Brasil às voltas com um grave escândalo, que remonta à figura de quem doa para as campanhas. Os maiores doadores das campanhas eleitorais brasileiras são também os que mais mantêm contratos com o governo. Isso precisa acabar! As eleições precisam ser baratas, sob pena de um cidadão simplesmente não poder ser candidato. É o que acontece hoje. Um cidadão qualquer, por mais bem intencionado que esteja, não tem a menor chance de disputar, mas deveria ter as mesmas chances daqueles que recebem dinheiro de megas empreiteiras e desequilibram o resultado. É impossível concorrer com pessoas assim. O projeto também pode ser conhecido pelo site www.reformapoliticademocratica.org.br. EM TEMPO - O bordão “rouba, mas faz” já está incutido no inconsciente do eleitor brasileiro ou muitos são conscientes de que eleger um candidato desonesto é não saber utilizar o voto? MR – Não existe nada prédefinido ou arraigado. O brasileiro não está condenado a nada, pelo contrário. Muitas e muitas vezes, o povo brasileiro já se mobilizou, já se organizou, já lutou contra ditaduras, lutou por Diretas Já, foi às ruas em 2013, para
cobrar uma série de mudanças, das quais algumas delas deram certo. Por exemplo, a conquista do voto aberto. Dois deputados foram cassados por conta do voto aberto, que foi conquistado pelas mobilizações de 2013. Outro resultado dos protestos foi a preservação dos poderes investigatórios do Ministério Público, que estavam prestes a serem retirados e, com as mobilizações nas ruas, eles [Congresso Nacional] retiraram da discussão e deixaram o Ministério Público investigar os casos de corrupção. O brasileiro não pode ser responsabilizado por coisas que não são da sua alçada, como, por exemplo, esse sistema eleitoral pérfido, baseado no dinheiro das grandes empreiteiras e também em um sistema eleitoral traiçoeiro, que não permite ao eleitor ter conhecimento do destino exato do seu voto. Isso não é culpa do povo brasileiro. EM TEMPO – Há pouco tempo, o senhor lançou um livro, “O Nobre Deputado”, que traça o perfil de um político, ainda que fictício, corrupto. É possível fazer política no Brasil, sem ser corrupto? MR – A minha preocupação não é com pessoas, mas com o sistema eleitoral. Precisamos de um sistema eleitoral que seja transparente, barato, igualitário, que permita a pessoas de todas as etnias, classes sociais e gênero concorrerem em igualdade de condições. Assim nós teremos condições de ter vários bons políticos chegando ao poder. Hoje o sistema eleitoral constitui praticamente um obstáculo a ser superado pelas pessoas honradas, e é um trampolim para o poder, para as pessoas desonestas. É plenamente possível e existem várias pessoas honradas, em vários partidos. Receio que elas não sejam mais a maioria. Quando falamos em política, temos que falar de probidade, porque praticar abuso de poder, desviar verbas públicas, comprar apoio político, isso não é política. Isso é crime. Política é gerir os interesses da sociedade, em proveito da sociedade. Fora disso está o crime.
Os maiores doadores das campanhas eleitorais brasileiras são também os que mais mantém contratos com o governo. Isso precisa acabar!”
É plenamente possível fazer política no país, e existem várias pessoas honradas, em vários partidos. Receio que elas não sejam mais a maioria”
Política
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
Cláudio Humberto COM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS
www.claudiohumberto.com.br
O dinheiro servia para pagamentos da Camargo Corrêa… ao PT”
Jornalista
MEGADOLEIRO ALBERTO YOUSSEF, em delação premiada no âmbito da operação Lava Jato
Cunha mudou eixo do poder para o Congresso Dilma entrou em pânico, e correu para pedir arrego a Lula, após concluir que o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dez dias após assumir o cargo, mudou o “eixo do poder” para o Legislativo, retirando do Executivo a primazia de iniciativas políticas importantes. De Lula, ela ouviu queixas sobre várias suas escolhas e principalmente de sua desarticulada área de “articulação política”. Sem perigo de dar certo Na conversa com Dilma, Lula detonou Aloizio Mercadante, que para ele sequestrou o governo, e disse achar inútil Pepe Vargas na Articulação. Os três patetas Papeando com políticos aliados, Lula usou até mímica para ridicularizar o trio de “articuladores” Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas. Queixas As criticas de Lula ao governo foram reiteradas a Dilma na conversa entre os dois. Como ter sido alijado da escolha dos novos ministros. Portas abertas Cunha ordenou que nenhum deputado seja barrado no seu gabinete. Quer portas abertas para governistas e oposicionistas, sem distinções. Briga por cargos no PCdoB deixa deputados mal Assessores de campanhas do PCdoB estão revoltados com deputados federais que ajudaram a eleger. A cúpula do Partido Comunista do Brasil exigiu para militantes 30% dos cargos na Câmara,
agora, ricas boquinhas. Os deputados haviam prometido recompensar o pessoal de campanha com os cargos, mas agora dizem que a promessa dependia da vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidente da Câmara. Só ‘comuna’ A ordem da Executiva Nacional é que os cargos cobrados de cada gabinete sejam preenchidos “pela militância” comunista. Governador em campo Até o governador Flávio Dino (MA) entrou na briga. Deu a Márcio Jerry, seu braço direito, a missão de tentar apaziguar os ânimos. Toc toc O problema não é só do PCdoB. Com o início da legislatura, gabinetes do PR e do PDT também tiveram filas cobrando o cargo prometido. Tá explicado O PMDB não tem interesse num impeachment de Dilma. Michel Temer só poderia assumir o cargo se o “bota fora” ocorresse após metade do mandato. Caso contrário, haveria nova eleição. Dignidade Suplente de Vital do Rêgo, hoje no TCU, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) tem a dignidade de defender o fim do suplentes sem votos. Para ele, o titular deve ser substituído pelo segundo mais votado. Perdeu O presidente do Senado, Renan Calheiros, perdeu visibilidade para o deputado Eduardo Cunha, na cena política de Brasília. O carioca substitui o alagoano como personagem central
Antídoto para mentirosos Candidato a vice de Serra em 2010, Índio da Costa (PSD-RJ) vai propor o Código de Defesa do Eleitor para proibir reeleição de quem promete na campanha e não cumpre: “Dilma é exemplo escancarado”. Balcão de negócios Líderes pressionam o Planalto para – tão logo termine o Carnaval – distribuir boquinhas do segundo escalão para deputados governistas. Ou pode amargar novas derrota, incluindo a PEC da Bengala. Quem se importa? Só dois ministros do PT telefonaram para cumprimentar o deputado Leonardo Picciani (RJ) pela eleição a líder do PMDB: Pepe Vargas (Articulação) e Arthur Chioro (Saúde). Aloizio Mercadante ignorou. Tiro certeiro O “distritão”, eleição majoritária para deputados e prefeitos, é duro golpe em siglas como PT, PDT, PPS, Psol e PV. Neste sistema, saem beneficiadas aquelas com mais caciques, como PMDB, PTB e PSDB. Tudo dominado Os deputados Marco Antônio Cabral, filho do exgovernador Sérgio Cabral, e Pedro Paulo pediram exoneração de suas secretarias no Rio para votar em Leonardo Picciani (RJ), novo líder do PMDB na Câmara. Isolamento Isolado na Câmara, o DEM não obteve espaço em qualquer bloco. Tenta se livrar da pecha de “coronelista” e de estar em extinção. Sem sucesso.
Deus no céu, ACM... ACM detestava Fernando Henrique e tinha lá suas razões. Quando presidente, FHC costumava contar uma piada ocorrida após a morte do babalaô. No Inferno, ACM tirou do sério o Diabo, que telefonou a Deus pedindo socorro: - Não agüento mais! ACM dá palpite em tudo, quer saber as maldades, sugere aperfeiçoamentos. Não dá. Leve ele aí pra cima. Deus aceitou ACM. Tempos depois, intrigado, o Demo ligou para o Céu: - Deus?... - Qual dos dois? – responderam do outro lado da linha.
PASADENA
Costa confirma ter recebido propina menores foram pagos no Brasil. Costa afirmou que Soares foi apresentado a ele pelo ex-diretor da Área Internacional da estatal Nestor Cerveró. Costa também confirmou que recebeu propina do ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo, pelos contratos da Petrobras com a empresa. Segundo ele, Camargo tinha um “bom relacionamento e conhecia bastante” o doleiro Alberto Youssef. Sobre Cerveró, o ex-diretor disse que não sabe se ele recebeu propina do doleiro. O advogado Nélio Machado, que representa Fernando Soares, participou da
Desde sua eleição à presidência da Câmara dos Deputados, o desafeto da presidente Dilma Rousseff, Eduardo Cunha, vem travando uma guerra entre os poderes
das aflições de Dilma.
PODER SEM PUDOR
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmou, em depoimento na Justiça Federal, em Curitiba, que recebeu propina do empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Segundo Costa, os pagamentos ocorreram no contrato de compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e em contratos da Andrade Gutierrez, que, segundo ele, também participava do cartel de empreiteiras. De acordo com ele, grande parte dos pagamentos foi feita em contas no exterior e valores
Duelo de poderes CUNHA X DILMA
audiência e negou que o empresário tenha feito os pagamentos indevidos. Em nota enviada à Agência Brasil, a empreiteira rebateu as declarações de Paulo Roberto Costa. “A Andrade Gutierrez nega e repudia as acusações, baseadas em ilações e não fatos concretos, e afirma, como vem fazendo desde o início das investigações, que nunca fez parte de qualquer acordo de favorecimento envolvendo a empresa e a Petrobras. A Andrade Gutierrez reitera, mais uma vez, que não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos”.
O
acirramento entre os discusos da presidente Dilma Rousseff (PT) e o novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), começaram logo após a escolha do peemedebista para ocupar o assento de presidente do Legislativo. De lá para cá, os ânimos apenas dilataram um contexto político já combalido entre as duas siglas. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu à presidente Dilma que o Palácio do Planalto levante uma “bandeira branca” e acerte suas diferenças “o mais rápido possível” com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A recomendação ocorreu em encontro entre os dois, em São Paulo. Após a viagem, Dilma conversou à noite com auxiliares no Palácio do Alvorada. Na avaliação de Lula, segundo relatos de assessores presidenciais obtidos pela reportagem, o governo tem a difícil tarefa de estabilizar a inflação e fazer o ajuste fiscal e, por isso, não pode viver em “guerra” com o Congresso. Lula criticou a condução da articulação política do governo, especialmente na derrota de Arlindo
Chinaglia (PT-SP). Dilma e Lula avaliaram a queda na aprovação do governo, que seria ligada ao pessimismo na economia e à corrupção na Petrobras. A presidente afirmou que pretende iniciar uma série de viagens semanais pelo país depois do Carnaval, especialmente para os Estados onde venceu a eleição de outubro.
GUERRA
Na avaliação do expresidente Lula, o governo tem a difícil tarefa de estabilizar a inflação e fazer o ajuste fiscal e, por isso, não pode viver em “guerra” com o Congresso PMDB Para tentar melhorar a relação do Planalto com o PMDB, o ex-presidente Lula esteve com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e com o exgovernador Sérgio Cabral. Os dois são peemedebistas e conterrâneos de Eduardo Cunha, que se elegeu presidente da Câmara dos Deputados à revelia da presidente Dilma Rousseff. Segundo
seus aliados, ele busca uma reaproximação com os partidos contra quais o PT concorreu no ano passado. Só Cunha resolve Responsável por avaliar se um pedido de impeachment de um presidente da República é arquivado ou encaminhado aos parlamentares, Cunha disse ontem que “não há espaço” para discutir a saída de Dilma Rousseff. “Eu sempre fui muito claro em relação a esse assunto (pedido de impeachment de Dilma) e vou continuar sendo. Não vejo espaço para isso. Não concordo com esse tipo de discussão e não terá meu apoiamento”, afirmou o peemedebista. Cunha, um dos principais líderes do PMDB que tem o vice-presidente, Michel Temer, defendeu a legitimidade do governo da petista. Ele afirmou que dificuldades iniciais de um mandato não podem justificar uma saída pelo comando do país. “Existe diferença muito grande de você ter qualquer tipo de divergência ou forma de atuar com independência. O governo está legitimamente eleito. Não dá para você no início do mandato ter esse tipo de tratamento desse processo”, afirmou.
Medidas impopulares atrapalham Nos últimos dias, líderes oposicionistas têm defendido que as medidas impopulares adotadas pela petista, como aumento da gasolina e a alterações em direitos trabalhistas e previdenciários, o escândalo de corrupção na Petrobras e a queda significativa da popularidade da presidente, registrada pelo Datafolha no fim de semana, justificam o debate sobre o impeachment. Trâmite Para ser aprovado na Câmara, um pedido de impeachment tem que passar por comissão e ainda receber o apoio de 342 dos 513 deputados.
Na sequência, o processo segue para o Senado, onde precisará de apoio de 54 dos 81 senadores. Após chegar ao Senado, o pedido precisa ocorrer em até 180 dias, período pelo qual o presidente fica afastado do cargo. Ministros convidados Sob o comando de Cunha, o plenário da Câmara aprovou um convite em bloco para que cada um dos 39 ministros de Dilma Rousseff compareçam ao Congresso para prestar esclarecimentos aos deputados. A votação foi simbólica, sem registro nominal dos votos. Idealizada por Cunha, que foi eleito presidente da Câ-
mara derrotando Dilma e o PT, a medida tem o objetivo de levar um ministro ao plenário da Câmara a cada quinta-feira. O peemedebista já deixou claro que caso haja recusa ao convite, a Câmara pode aprovar a convocação do ministro, o que torna a presença obrigatória no teste de que tem mais força no poder. No texto do convite, a atual situação de aperto econômica é usada como justificativa para o encontro entre os ministros e os deputados. O objetivo é que o primeiro escalão de Dilma compareça à Câmara para dizer quais são as prioridades de cada pasta.
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Política
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‘Tradição’ obriga
governos a bancar o Carnaval Sem ter o peso da obrigação de ajudar as agremiações, governos transferem verbas por questões de tradição e cultura
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MOARA CABRAL Equipe EM TEMPO
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esmo não havendo nenhuma determinação legal para repasses dos governos estadual e municipal a eventos culturais do Estado do Amazonas ou de Manaus, os governantes têm, por tradição, gastado milhões com eventos culturais na cidade e no interior. Este ano, por exemplo, o valor destinado ao Carnaval pelo governo do Estado é R$ 2,5 milhões. Para o deputado estadual e ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), que já viveu na pele as atribulações que períodos como o Carnaval oferecem tanto ao gestor
população. “Apesar de não haver obrigatoriedade, os governos atendem essa demanda, porque são expressões culturais às quais é necessário dar apoio. Faz parte da demanda da sociedade que o governo tem que atender”, explicou Noronha, acrescentando que isso também é uma continuidade da tradição. Para o deputado José Ricardo Wendling (PT), os governos realizam o repasse por uma questão política e cultural, pois em caso de não ajudarem, as atitudes seriam criticadas por todos. No entanto, ele chama a atenção para um gasto que muitas vezes não é citado, não apenas aquele valor que é destinado à cada liga ou organização cultural, mas os valores com infraestrutura, equipes, entre outros. “Os governos ajudam também com infraestrutura, viabilizando palcos, sonorização, local, limpeza do local, entre outros. Se for somar tudo isso, os valores são bem maiores do que os que
são destinados às agremiações”, pontuou. O petista lembrou também das responsabilidades de quem recebe a verba e a falta de transparência, já mencionada por Serafim. “Como é dinheiro público, as agremiações que recebem os recursos precisam prestar contas, mas nem sempre isso é feito de forma transparente, o que leva a outro problema que depois é jogado para os governos”, disse, explicando que a instituição que deixou de prestar contas fica proibida de realizar convênio com o governo. No entanto, José Ricardo acredita que esse assunto deveria ter uma discussão maior, uma vez que não há obrigatoriedade e, com isso, algumas ligas e organizações culturais acabam sendo prejudicadas. “Como não há uma obrigatoriedade, algumas instituições culturais acabam ficando de fora, pois somente as maiores e mais tradicionais recebem uma quantia maior de verba. É preciso levar esse assunto para uma discussão mais aprofundada”, disse.
José Melo enxuga repasses A política de contenção de custos, anunciada pelo governo do Estado, por ocasião da crise econômica brasileira atual, envolveu também todos os eventos apoiados, promovidos e realizados a respeito do Carnaval 2015, por meio da Secretaria de Cultura. Os custos foram reduzidos este ano em R$ 2,5 milhões e envolvem tanto apoio a diversas bandas carnavalescas da capital e do interior quanto à infraestrutura para o desfile das escolas de samba de Manaus.
De acordo com o governador do Amazonas, José Melo (Pros), é preciso que os foliões entendam a real situação pela qual passa o país diante da crise econômica. “Teremos um grande Carnaval, com toda criatividade e alegria de nosso povo, e o governo está dispondo de verba para que isso ocorra, mas com contenção. Não podemos fazer o que não dá. Há vários Estados que não farão Carnaval nas suas cidades”, declarou. FOTOS: DIVULGAÇÃO
CARNAVAL
estadual como ao municipal, a coisa não é fácil, mas é necessária. “Não existe obrigatoriedade. Se os Executivos não quiserem repassar não acontecerá nada com eles, a não ser o dissabor do povo falando mal deles”, disse, acrescentando, no entanto, que sempre houve boa vontade por parte dos chefes do Executivo. Ele lembrou ainda que há pelo menos 30 anos acontece os mesmo problemas: falta de organização das agremiações que recebem a verba e a falta de transparência. “No caso de escolas de samba, por exemplo, no ano seguinte não prestam contas, aí depois jogam para cima do governo. O nível de organização dessas entidades é precária”, criticou o parlamentar, alegando que apesar de todos esses percalços, os governos acabam fazendo uma previsão no orçamento para eventos de cultura popular. O chefe da Casa Civil do município, Márcio Noronha, também justificou o repasse como uma forma de atender uma necessidade da
Governo reduziu, este ano, verbas para as escolas de samba
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MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
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Carnaval em Manaus não atrai turistas Economia B4 e B5
Ramo de planejados dribla a concorrência acirrada
FOTOS: ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
Empreendedores de móveis planejados e sob medida crescem, mesmo com altos investimentos de lojas de departamento
Mesmo com móveis até três vezes mais caros que os modulados, o segmento de planejados comemora o início do ano de boas vendas com entrega de novas unidades residenciais em Manaus SILANE SOUZA Equipe EM TEMPO
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entrega de unidades residenciais em Manaus, depois da Copa do Mundo, estimulou o crescimento do mercado de móveis planejados e sob medida. O segmento busca espaço frente à forte concorrência criada pelos investimentos de grandes lojas de departamento, que em sua maioria oferecem preços mais em conta que os pequenos empreendedores. Sócio-proprietário da pequena empresa W. R. Modulados e Móveis, o marceneiro Francisco Márcio Amorim comemora a recuperação das vendas dos móveis planejados, após um mês de dezembro em baixa por conta das festas de final de ano e da falta de entregas por parte do setor imobiliário. Segundo ele, todo ano os serviços e também o faturamento da empresa dobram. E mesmo com a construção civil em baixa, Márcio acredita que neste ano não será diferente. Com a empresa instalada no bairro Coroado, Zona Leste, Márcio emprega apenas uma pessoa, mas terceiriza outros serviços. E com a demanda crescente, ele pensa em ampliar a marcenaria. O plano, conforme o marceneiro, é comprar pelo menos mais duas máquinas de usinagem e contratar no mínimo outras cinco pessoas. “Quando estávamos trabalhando em outro bairro quase ninguém nos visitava, aqui a pessoa passa na frente da marcenaria, para o carro e já contrata os serviços”, conta. Outro empreendedor que apostou nesse mercado foi o marceneiro Lauriney Germano Góes. Há seis anos ele trabalha em parceria com um primo numa marcenaria situada no bairro Monte Pascoal, Zona
Norte. Ele, assim como Márcio, diz que o segmento tem sempre uma boa procura. Quanto à expectativa de crescimento para este ano, ele espera algo em torno de 80%. “Todos os anos as vendas crescem nessa média. Acredito que em 2015 não será diferente”, avalia. Segundo Germano, nem a crise econômica que o país vive desde o ano passado afetou as vendas de móveis planejados. Conforme ele, até houve uma pequena retração nas vendas, no final do ano passado, devido às festas, mas assim como ocorre todos os anos, deve voltar a crescer novamente neste mês de fevereiro. “As vendas sempre caem no final do ano mesmo”, observa o marceneiro. Indicação O projetista Carlos Racca, que trabalha na loja Cies, bairro Parque Dez de Novembro, Zona Centro-Sul, afirma que não falta cliente à procura de móveis planejados. Segundo ele, quando há entregas de novos condomínios a demanda é melhor ainda. “Quando nós fazemos um quarto ou uma cozinha planejada em um dos apartamentos surge a oportunidade de ampliarmos os serviços, pois as pessoas acabam nos indicando para os vizinhos e conhecidos”, ressalta. Racca revela que a expectativa para este ano é de um crescimento em torno de 40% em relação ao ano passado. O volume, conforme o projetista, é esperado em virtude da alta procura de móveis planejados tanto pelas classes A e B quanto pelas C, D e E. “Hoje em dia, qualquer pessoa pode comprar um móvel planejado. Tem lojas que parcelam em até dez vezes sem juros por meio de cartão. Essa facilidade está fazendo com que haja um aumento significativo de vendas para as classes baixa e média”, aponta.
Material encarece o produto
Projetista Carlos Racca estima crescimento de 40% neste ano
Final de ano foi de retração Assim como todo setor econômico, o segmento de mobiliário planejado saiu de um período no qual as vendas registram queda. O marceneiro Francisco Márcio Amorim relata que, geralmente, a época ruim inicia em dezembro e segue até meados de fevereiro. Segundo ele, a partir do dia 20 de dezembro as vendas já começam a apresentar retração. Para ele, a queda ocorre por conta das festas de final de ano. “Em janeiro, o pessoal está se estabelecendo, mas tem o Carnaval. Porém, não é nada tão significativo. De-
pois disso as vendas são sempre boas”, afirma. O projetista Carlos Racca também concorda. Segundo ele, no final de 2014 houve uma pequena queda nas vendas, mas nada tão relativo. Ele também acredita que as festas de final de ano impactam no desempenho do setor. “As pessoas se preparam para o Natal e o Ano-Novo. Por conta disso, houve uma pequena oscilação, mas é bom destacar que muitas pessoas procuram fazer modificação em sua casa justamente nesse período”, lembra Racca.
Os móveis planejados são em média duas a três vezes mais caros que os móveis modulados, aquele modelo padrão encontrado nos departamentos da maioria das lojas comerciais. Segundo o projetista Carlos Racca, diversos fatores influenciam no preço final. “Não é pelo fato de ser planejado, é por causa do material utilizado, principalmente o MDF, que é superior ao que é usado no móvel padrão”, revela. Além disso, Racca aponta que ainda contam no custo final a forma, o tamanho e as cores do móvel. Mas ele destaca a possibilidade de se ter um móvel único, que não será encontrado em outra loja. “A pessoa terá o móvel do jeito que quiser e não um padrão. E o material é feito para durar anos”, comenta. O marceneiro Francisco Márcio Amorim, por sua vez, também destaca que a alta qualidade da matéria-prima utilizada na construção dos
móveis planejados encarece o produto. Outro ponto, segundo ele, é a falta de material. “Em dezembro, por exemplo, faltou um produto que custa em média R$ 45 na loja, que sempre compramos e tivemos que comprar em outra loja por R$ 120. Esse aumento acaba influenciando no preço do móvel”, explica. Segundo ele, as marcenarias cobram em média de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil por metro quadrado. Ele, por sua vez, cobra R$ 800. As lojas de móveis planejados e sob medida, geralmente, entregam o pacote completo para o cliente. O serviço inclui o projeto do mobiliário, a confecção das peças e a montagem. “A pessoa vem, nós fazemos o projeto - seja de móveis para cozinha, quarto, escritório, dentre outros - de acordo com a sua vontade, e quando está tudo definido começa a parte de fabricação. É tudo muito simples”, frisa o projetista Racca.
Material de planejados tem qualidade superior aos comuns
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Economia
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
Segmento de franquias ‘mira’ cidades do interior Hoje, uma em cada quatro franquias brasileiras está fora das capitais e das regiões metropolitanas, segundo a ABF
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Rede de fast food Habib’s está presente em vários municípios do interior do Brasil, confirmando tendência dos empresários de buscarem mercado fora das capitais e regiões metropolitanas
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alta imobiliária nos grandes centros, associada ao aumento da renda da classe C e ao potencial de consumo dos moradores das cidades fora das regiões metropolitanas, tem acarretado na migração do franchising para o interior do país. Hoje, uma em cada quatro franquias brasileiras está fora das capitais e das regiões metropolitanas, o que faz dessa região um expressivo mercado a ser explorado por empreendedores. Segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) levantados com exclusi-
vidade para o Sebrae, 75% das marcas associadas à instituição estão nas capitais e nas regiões metropolitanas e apenas 25% nas cidades do interior do país. No entanto, pesquisa do Sebrae mostra o alto potencial de consumo no interior. Para incentivar o processo de interiorização de franquias e capacitar empreendedores fora das capitais, o Sebrae e a ABF firmaram um convênio que vai levar cursos sobre franchising para 120 cidades brasileiras em 2015 e 2016. Serão realizados 337 cursos Entendendo Franchising em 19 Estados para capacitar poten-
ciais franqueados e franqueadores. O conteúdo inclui conceitos de franquia, vantagens e desvantagens do sistema, mitos e verdades e aspectos legais do franchising. O Sebrae também vai orientar os empreendedores sobre como escolher uma franquia e analisar o investimento necessário para a abertura do negócio. A meta é atender pelo menos 25 mil pessoas. Potencial Existe um enorme potencial de consumo nas cidades do interior do país e, por isso, o Sebrae está preocupado em RICARDO OLIVEIRA
levar capacitação para esses empreendedores. Levantamento realizado pela instituição mostra que o consumo fora das capitais e regiões metropolitanas soma R$ 827 bilhões ao ano, o equivalente a 38% do total do consumo no país. “De cada R$ 10 gastos no Brasil, R$ 4 correspondem ao consumo efetuado no interior. Esse cenário confirma a existência de um ambiente promissor para os pequenos negócios, na medida em que metade da população brasileira vive nessas cidades e essas regiões vêm apresentando um crescente desenvolvimento
econômico”, ressalta o presidente nacional do Sebrae, Luiz Barretto. Para a presidente da ABF, Cristina Franco, o trabalho conjunto refletirá em avanços econômico-sociais relevantes para o país. “A interiorização do franchising e a educação são dois dos pilares da atuação da ABF, daí a importância de unirmos a nossa expertise à do Sebrae para levarmos o conhecimento sobre o franchising e o empreendedorismo a todo o Brasil”, declara. A expansão dos cursos é uma oportunidade de capacitar quem tem interesse e quem já
abriu uma franquia, mas ainda precisa de orientação, e empresários que têm um negócio e querem se transformar em franqueados. “O setor de franchising é um dos menos arriscados para quem está iniciando suas atividades como empreendedor na medida em que ele aproveita marcas já consagradas no mercado e recebe o know how do franqueador em gestão e operação”, ressalta Barretto. “A expansão das franquias pelo interior também traz novas oportunidades de emprego, gerando mais renda para a população”, completa o presidente do Sebrae.
TECNOLOGIA
Aplicativos ‘evitam’ desperdícios
Febraban lançou o aplicativo “Nossa Água” para auxiliar consumidor a economizar água
Os aplicativos de consumo consciente lançados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Instituto Akatu já alcançaram a marca de 44 mil downloads. Esse dado mostra que a população está preocupada com o consumo dos recursos naturais e busca informações para ajudar na mudança de hábitos em função de um novo cenário que o país enfrenta: escassez de água, de energia e efeitos na produção de alimentos. O aplicativo “Nossa Água”, lançado em setembro do ano passado, ajuda o brasileiro a economizar água e já alcançou mais de 22,5 mil downloads no período. O app, desenvolvido para orientar as pessoas em relação ao consumo consciente da água, oferece uma calculadora que contabiliza em litros o total
gasto em um banho. Há também dicas para um consumo consciente do recurso, essenciais no contexto da crise hídrica, e um jogo que aborda a questão dos vazamentos. Em novembro passado também foi lançado o aplicativo “Nossa Energia”. A ferramenta já alcançou mais de 15,5 mil downloads. O app foi desenvolvido para orientar as pessoas em relação ao consumo eficiente da energia e oferece aos usuários uma calculadora que identifica os gastos de energia de acordo com o consumo dos eletrodomésticos de uma casa. Tem ainda o jogo “Apagão” e dicas práticas para economizar a energia no dia a dia. Alimentos Outra ferramenta que foi lançada em dezembro de
2014 aborda o desperdício de alimentos, trata-se do aplicativo “Nossa Alimentação”. Dados do Instituto Akatu mostram que um terço dos alimentos comprados pelas famílias vai direto para o lixo, uma estatística que mensura o impacto do desperdício. A ferramenta possibilita a criação de listas de compras, que permite ao consumidor realizar um acompanhamento dos preços e avaliar a variação de itens específicos. Há também dicas práticas para uma alimentação mais saudável e o jogo “Come bem”, que estimula os participantes a cortar os alimentos prejudiciais à saúde. Todos os aplicativos são gratuitos e estão disponíveis para download no Google Play em aparelhos smartphones na versão Android.
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Economia
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Cereal matinal e snacks à base de pupunha e açaí enriquecer os já existentes. “Produzido a partir do processo de extrusão, é feita uma mistura da farinha de pupunha com a de milho, e uma mistura de farinha de açaí, também, com a de milho, que é a base de todo cereal e snacks, e com um tratamento térmico o produto se torna mais leve”, explica Aguiar. Conforme explica a líder do Grupo de Pesquisas em Alimentos e Nutrição na Amazonas, da CSAS/Inpa, Francisca Souza, as frutas regionais
Produtos são ricos em fibras e minerais, com alto teor de potássio e baixo teor de sódio
PREME
Hoje, produtos amazônicos como, por exemplo, o açaí são oferecidos no cardápio de crianças e adolescentes da rede pública de educação por meio do Programa de Regionalização da Merenda Escolar (Preme) são ricas em nutrientes e isso garante ao cereal matinal e ao snacks um valor muito maior que os feitos à base de milho. “Os snacks de açaí e o cereal matinal de pupunha foram produzidos com valor nutricional superior aos tradicionais, feitos à base de milho”, afirma. Segundo a pesquisadora Francisca, os novos produtos são ricos em fibras, minerais e vitaminas, além de conter alto teor de potássio e baixo teor de sódio.
RICARDO OLIVEIRA
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rutas regionais de grande valor na alimentação das comunidades tradicionais do Amazonas e que começam a atingir outros mercados, o açaí e a pupunha são dois frutos amazônicos bastante conhecidos na região e podem ser consumidos de diversas formas. Entre elas: sucos, doces, sorvetes e geleias. A variedade é grande e agora mais duas opções entram para a lista. Pesquisas realizadas no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI) resultaram em snacks (uma espécie de salgadinhos em pacote) e cereal matinal feito com essas frutas regionais. Os pesquisadores do Instituto, Francisca Souza e Jaime Paiva Lopes Aguiar, foram os responsáveis pela criação dos produtos, juntamente com os estudantes de mestrado em ciências de alimentos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ivone Lima Santos e José Carlos de Sales Ferreira. As pesquisas duraram, em média, dois anos e foram realizadas no Laboratório de Físico-Química de Alimentos, vinculado à Coordenação de Sociedade, Meio Ambiente e Saúde (CSAS/Inpa), e também no Laboratório de Cereais da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP). De acordo com os pesquisadores, a ideia partiu da necessidade de aproveitar os frutos amazônicos na elaboração de novos produtos, ou
Empresas poderão produzir Francisca, que é doutora em biotecnologia, diz que estes produtos podem tornarse alternativa complementar à alimentação infantil, inclusive, nas escolas. “Poderia sem nenhum problema ser adicionado aos lanches escolares, pois os snacks têm uma aparência e sabor que agradam às crianças”, explica Souza, acrescentando que conseguiram ajustar o sabor ao gosto de todos sem interferir nos valores nutricionais. As invenções fazem parte dos seis depósitos de pedidos de patente solicitados pelo Inpa ao Instituto Nacional de Proteção Industrial (Inpi), em 2014. Com a patente solicitada, os pesquisadores aguardam o interesse de empresas para a produção dos cereais a fim de que sejam comercializados.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Resultado de pesquisas realizadas no Inpa, os novos produtos podem ganhar mercado no cardápio da merenda escolar
Conforme a coordenadora de Extensão de Tecnologia e Inovação (Ceti/Inpa), Rosangela Bentes, o empreendedor interessado nessa tecnologia pode entrar em contato pelo telefone (92) 99146-6604 ou pelo email robentes@inpa. gov.br para as tratativas de apresentação da tecnologia e negociação para licença de exploração.
Açaí é um produto que já ganhou mercado internacional
A pupunha é um dos produtos mais consumidos na mesa das populações tradicionais da região
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Economia
Carnaval de Manaus n EMERSON QUARESMA Equipe EM TEMPO
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pesar dos investimentos públicos e privados nos desfile de escolas de samba, blocos e bandas, na ordem de milhões de reais, sem a força da tradição de cidades como Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, o feriado de Carnaval em Manaus não é para turista ver. A avaliação é dos setor hoteleiro e o de bares e restaurantes. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Amazonas (Abih-AM), Roberto Bulbol, não há em Manaus um trabalho voltado para o turismo no período. “A cidade perde força até mesmo quando é trabalhado um ritmo diferente do samba, como o ‘Carnaboi’”, comenta. De acordo com Bulbol, somente por meio de navios, mais de 700 mil pessoas chegarão a Salvador e 1,9 milhão ao Rio de Janeiro. Essas cidades somadas a outras oito com tradição de Carnaval como, por exemplo, Recife, São Paulo e Fortaleza, reunirão aproximadamente 6,8 milhões neste período de festas. “No Amazonas, não vamos pegar nem 10% desse total de turistas durante o ano. Não temos tradição de Carnaval para atrair turistas. Não há nenhum trabalho para esse foco”, aponta.
Bulbol lembra que há aproximadamente 10 ou 12 anos, o poder público e a iniciativa privada somaram forças a fim de trazer o turista para Manaus, a começar pelos Estados vizinhos. Naquele tempo, a iniciativa deu resultado, contudo, sem continuidade, o trabalho perdeu força. “Naquele ano, fizemos pacotes para assistir ao Carnaval aqui. Até recebemos visitantes de cidades vizinhas como Boa Vista, Santarém e
Carnaval não é motivo de ocupação da rede hoteleira. A ocupação está muito baixa pelo momento econômico e por conta do Carnaval Roberto Bulbol, presidente da Abih-AM
Belém, por exemplo. Era um embrião. Mas, no outro ano, não teve continuidade”, observa. Para atrair o turista, o presidente da Abih-AM aponta que os setores precisam voltar a trabalhar juntos, caso queiram conquistar resultados com oportunidades comerciais como a temporada de Carnaval.
IONE MORENO
Setor hoteleiro e o de bares e restaurantes perdem clientes neste período, apesar dos investimentos voltados à folia
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“Tem que trabalhar em cima de preço, divulgação, atrativos, pacotes com companhias aéreas. A iniciativa privada sozinha não faz nada. A prefeitura e o Estado têm que fazer a capitação juntos, não só para o Carnaval, mas também para o resto do ano, com a realização de feiras e convenções que movimentam todos os setores”, diz. Bulbol diz que, atualmente, o turismo representa apenas 22% da ocupação da rede hoteleira, durante o ano. O grande cliente do setor, segundo ele, é o hóspede de negócios, com 78% da ocupação, no ano. No período de dezembro a fevereiro, o presidente da Abhin-AM observa que a ocupação dos hotéis chega próximo a 30%, um patamar considerado baixo para o setor. Ainda sem dados fechados, ele afirma que a ocupação de janeiro e fevereiro deste ano já foi pior que em 2014. “A provável recuperação do setor é para o mês de março”, avalia.
Este ano, somente a prefeitura destinou recurso na ordem de R$ 1,4 milhão às escolas de samba
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não serve ao turismo A presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Amazonas (Abrasel-AM), Janete Fernandes, afirma que o setor, ao contrário de crescer no Carnaval, com a presença de turistas na capital amazonense, perde clientes residentes que optam por deixar a cidade para brincar Carnaval em outros lugares mais tradicionais do país ou descansar nos municípios do interior do Estado. “A influência do Carnaval para nós é negativa, porque os nossos clientes residentes habituais de todos os dias viajam para outros Estados ou mesmo vão visitar familiares no interior do Amazonas e fazer turismo de natureza”, explica Janete. Para ela, sem os investimentos e atrativos no período, não somente o setor de bares e restaurantes, mas o governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas (Sefaz-AM), e a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Finanças (Semef), deixam de arrecadar, haja vista que, se o setor de turismo ga-
nha, todos os demais ganham. “Onde há um ganho relativo é nas companhias aéreas e nos transportes fluviais. O fato é que há uma evasão do residente para outros lugares e, com isso, deixamos de arrecadar”, avalia. Mesmo com a evasão do consumidor local, a presidente da Abrasel-AM es-
PESQUISA Pesquisa realizada pela PiniOn - plataforma mobile - com duas mil pessoas aponta que 43% viajarão no Carnaval, sendo 97% para destinos nacionais e 3% para internacionais tima que o movimento do setor, neste período, seja pelo menos igual ao do ano passado. “A nossa expectativa é que seja sempre melhor, porém, o fato é que não há nenhum tipo de movimento que possa fortalecê-la. O mínimo que se espera é que seja igual ao ano passado, não menos”, encerra.
Prefeitura reconhece que falta tradição Responsável por estimular o turismo na capital amazonense, a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), por meio da assessoria, avalia que nos últimos anos Manaus vem se consolidando como potencial turístico nacional e internacional. O reconhecimento veio em novembro de 2014, por meio do site Trip Advisor, que elegeu a cidade como um dos dez novos destinos com grande potencial turístico.
A fundação lembra que, para este Carnaval, a prefeitura investiu R$ 1,4 milhão nas escolas de samba, mas reconhece que, durante o feriado, muitas pessoas assumem cidades como Salvador e Rio de Janeiro como capitais carnavalescas, por conta de suas raízes e tradições. Entretanto, observa que Manaus carrega forte identidade cultural que atrai turistas nacionais e internacionais que buscam conhecer suas riquezas.
Além do investimento na apresentação das escolas de samba e do apoio aos 116 blocos da cidade, para atrair mais brincantes à capital amazonense, a Manauscult diz que a prefeitura e o governo do Amazonas realizam ações com intuito de despolarizar os tradicionais centros carnavalescos estabelecidos no imaginário popular. Uma das tentativas se dá com o “Carnaboi”, que neste ano será realizado em vários pontos da cidade.
Entre as políticas públicas do setor para atrair turistas, a fundação afirma que realiza campanhas on-line para divulgação dos eventos realizados na cidade de Manaus, além de campanhas como #ConheçaManaus, que divulgam pontos culturais de forte tradição. A Manauscult cita também o GuiaTur, um guia on-line lançado durante a Copa do Mundo de 2014, em que o indivíduo fica sabendo em primeira mão dos eventos a serem realizados. AGECOM/ALFREDO FERNANDES
Evasão de clientes residentes
O Carnaboi ainda é avaliado como um atrativo para o turismo na avaliação da Manauscult por se tratar de um ritmo regional
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País
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Fim da reeleição ganha força na Câmara Federal LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Enquete feita com membros da comissão da reforma política mostra que metade é favorável à abolição deste método eleitoral
O presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (no centro da mesa), conseguiu instalar na semana passada a comissão especial da reforma política, e já avisou que o tema vai ser votado
gos, de cinco anos. Monti é a favor da realização de eleições em uma data única: “Desse modo, certamente teríamos possibilidades de desenvolver um trabalho melhor, seria mais útil para o Brasil. Hoje, na época da eleição, o governo e o Congresso Nacional param, as forças políticas acabam se voltando para as campanhas”, ressaltou.O deputado Antonio Bulhões (PRB-SP), por sua vez, é contra o fim da reeleição. Coincidência dos pleitos Os deputados Chico Alencar (Psol-RJ), Esperidião Amin (PPSC), Indio da Costa (PSD-RJ) e Valtenir Pereira (Pros-MT),
PRIVADO Os deputados federais Milton Monti (PR-SP), Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Indio da Costa (PSD-RJ) defendem o financiamento exclusivamente privado das campanhas eleitorais no Brasil por exemplo, são contra a coincidência das eleições. “A eleição de dois em dois anos é importante porque o debate é frequente”, argumenta Pereira. “Acho saudável, apenas separando as datas da eleição para cargos do Poder Executivo e para o Parlamento”, acrescentou o parlamentar. Na visão do deputado do Pros, da forma como é hoje – eleições para o Congresso Nacional e para presidente e governadores na mesma data – “os legislativos são coadjuvantes em suas propostas” e “o protagonismo fica com os cargos do Executivo”. Já o deputado Rubens Otoni (PT-GO) acredita que esses
dois pontos – fim da reeleição e coincidência das eleições – são temas menores na discussão da reforma política. “Tenho abertura para discutir essas propostas, desde que o debate inclua temas mais importantes e estruturantes, como o financiamento das campanhas”, ressalta. Fim do voto obrigatório A PEC 352/13, apresentada por um grupo de trabalho da Câmara, também prevê o fim do voto obrigatório, instituindo o voto facultativo. Esse ponto é rejeitado por 15 integrantes da comissão especial, como os petistas Rubens Otoni e Henrique Fontana, os deputados do PP Espiridião Amin e Renato Molling (RS) e Marcelo Castro (PMDB-PI), que acreditam que o voto deve continuar sendo uma obrigação do cidadão. “Por enquanto, o país não está preparado para o voto facultativo; ainda precisamos melhorar o ensino, a nossa cultura”, argumenta Molling. “O voto obrigatório ainda faz parte de mecanismos importantes para fortalecer a democracia, a participação popular no debate das propostas”, reitera Otoni. Enquanto deputados como Marcus Pestana (PSDB-MG), Silvio Torres (PSDB-SP), Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Moema Gramacho (PT-BA) são a favor do voto facultativo, outros têm dúvida em relação a esse ponto da proposta, como Benito Gama (PTB-BA), Chico Alencar e Tadeu Alencar (PSB-PE). “A discussão ainda merece um aprofundamento”, opina Tadeu Alencar. Já o deputado Edmar Arruda (PSC-PR) é favorável ao fim do voto obrigatório, mas não para a próxima eleição, apenas a partir de 2020 ou 2022.
Financiamento divide opiniões O tema financiamento de campanha divide opiniões entre integrantes da comissão especial da reforma política, instalada no último dia 10. Sete parlamentares dos 28 entrevistados defenderam o financiamento público exclusivo, como os deputados Rubens Otoni (PT-GO) e Valtenir Pereira (Pros-MT). “Esse, para mim, é o ponto principal da reforma política”, diz Otoni. “Não podemos mais conviver com a realidade em que os representantes sejam escolhidos mais pelo dinheiro da campanha do que pelos compromissos com a comunidade”. Valtenir destaca que devem ser adotados mecanismos para o controle do financiamento público. “Hoje, no horário de tele-
visão, os candidatos contratam um marqueteiro. A Justiça Eleitoral poderia determinar um formato igual para todos, dentro de um custo mínimo bancado pelo poder público”. Outros parlamentares, como Henrique Fontana (PT-RS), Chico Alencar (Psol-RJ), Marcelo Castro (PMDB-PI), Tadeu Alencar (PSB-PE) e Moema Gramacho (PT-BA), propõem um limite para as doações de pessoas físicas. Nesse ponto, Fontana e Alencar são favoráveis à proposta de reforma política conhecida como “Eleições Limpas” (PL 6316/13), elaborada por entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
que limita as doações individuais em R$ 700. Misto Alguns deputados defendem o financiamento misto (público e privado). É o caso do deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos autores da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 352/13, que será a base de discussão na comissão especial. Pestana é favorável ao modelo previsto na PEC: pelo texto, cada partido poderá optar pelo modo de financiamento, se privado, misto ou exclusivamente público. A proposta prevê um teto de despesa para a campanha eleitoral e um valor máximo para as doações de pessoas físicas e jurídicas, fixados em lei. MARRI NOGUEIRA/AGÊNCIA SENADO
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rasília - Dos 34 deputados federais titulares integrantes da recém-instalada comissão especial sobre a reforma política, pelo menos 23 são favoráveis ao fim da reeleição do presidente da República, dos governadores e dos prefeitos. A maioria (22) também é favorável à coincidência da data das eleições, conforme enquete realizada pela Agência Câmara, que mostra a tendência anterior ao início dos debates da comissão. Responderam ao questionário 28 dos 34 membros titulares. O fim da reeleição e a coincidência das eleições municipais com as eleições estaduais e federal a partir de 2018 estão previstos na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 352/13, que será a base do início dos debates da comissão especial. “Acredito que o fim da reeleição é um ponto de convergência de quase todos os parlamentares”, opina o deputado Victor Mendes (PV-MA). O deputado Henrique Fontana (PT-RS), que foi relator da reforma política na legislatura passada, destaca que só é a favor do fim da reeleição se forem instituídos mandatos mais longos, de cinco anos. Sobre a coincidência das eleições, Fontana observa que é a favor de que todos os pleitos sejam realizados no mesmo ano, mas não no mesmo dia. “Por exemplo, as eleições municipais poderiam ocorrer no início de agosto, e no início de outubro poderia haver a eleição presidencial”, afirma. Favoráveis ao fim da reeleição, o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA), e os deputados Benito Gama (PTB-BA) e Milton Monti (PR-SP) também defendem mandatos mais lon-
A proposta de adoção do voto facultativo foi rejeitada por 15 deputados desta comissão
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Crise financeira de Brasília preocupa senadores de GO B
rasília - Sem dinheiro em caixa, o governo do Distrito Federal (GDF) atrasa salários, corta cargos, renegocia contratos, cancela investimentos, reduz compras e aumenta impostos. A crise mobiliza a bancada de Brasília no Senado e também preocupa os senadores por Goiás, pois gravitam em torno da economia da capital quase duas dezenas de municípios goianos. Todos reconhecem a gravidade da situação e a amplitude das dificuldades financeiras enfrentadas pelo governador, o ex-senador Rodrigo Rollemberg, forçado a assumir desde sua posse, em janeiro, uma crise financeira sem precedentes deixada por seu antecessor, Agnelo Queiroz. “O Distrito Federal enfrenta uma calamidade financeira, o governo está paralisado, sem dinheiro para pagar salário, para fazer obras. Serão necessárias medidas duras e eu vou apoiar, porque prefiro isso a não pagar os salários ou parar a cidade. A cidade não pode parar”, resume o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). As medidas duras foram propostas pelo governador no chamado Pacto por Brasília,
MARCELO CAMARGO/ABR
Parlamentares do Distrito Federal também andam tensos com a dura realidade por qual passa o governo brasiliense que inclui renegociação de dívidas com empresas contratadas pelo GDF e aumentos de impostos, como IPVA e IPTU. Propostas Cristovam quer discutir as propostas, mas considera prioritário identificar as causas da crise e seus responsáveis. “Precisamos entender como deixamos chegar a isso, para que não volte a acontecer. O governador anterior é o principal responsável, mas não é o único. Ele não estava sozinho. Tinha o vice-governador a seu lado, tinha o PT apoiando e também outros partidos”, disse. O parlamentar aponta uma “aliança terrível” entre corporativismo, manifestado em exigências dos sindicatos que ultrapassaram a capacidade financeira do GDF, e o “eleitoralismo”, que fez com que os governantes anteriores oferecessem benesses para ganhar votos. Para evitar esse tipo de prática, ele sugere o envolvimento sistemático da sociedade. “A única maneira é fazer com que, na hora de discutir os gastos do governo, não fique só a cargo do governador e dos sindicatos. A sociedade precisa se envolver, definir limites, possibilidades”, opinou.
Manifestação recente de professores da rede pública do Distrito Federal contra o atraso dos salários paralisou Brasília mês passado
Críticas ao aumento de impostos dos impostos dos remédios, por meio do programa Nota Legal, e a redução de 60% dos cargos comissionados, para acabar com o inchaço da máquina pública. O aumento de impostos também foi criticado pelo senador Hélio José (PSDDF), suplente de Rodrigo Rollemberg, que renunciou ao mandato de senador ao ser eleito governador. Hélio José ressalta a gravidade da crise herdada pela atual gestão do GDF, em especial o déficit estimado em R$ 5 bilhões e os atrasos de salários de servidores, além do não cumprimento de contratos de conservação, limpeza e segurança. Conforme afirmou, ele e outros integrantes de seu partido buscam facilitar o diálogo entre Rollemberg e o governo federal, para viabilizar medidas propostas no Pacto por Brasília, como a antecipação de receitas orçamentárias. Mas o parla-
mentar é contra a elevação da carga tributária. “Como defensor do setor produtivo, grande gerador de emprego e oportunidades, não posso concordar com o aumento de tributos, que penaliza quem já paga imposto. O que precisamos é fazer uma brigada na arrecadação, sobre os que não vêm pagando impostos”, frisou. Entorno A contenção de despesas do GDF, especialmente a redução de compras públicas e cortes de investimentos, também preocupa os senadores por Goiás. Parte importante da população dos 19 municípios goianos do entorno de Brasília trabalha na capital federal. Ronaldo Caiado (DEM-GO) lembra que as condições de vida e trabalho são precárias na maioria dos municípios do entorno, o que torna ainda mais grave o desemprego resultante da crise no DF. MARCELO CAMARGO/ABR
Colega de partido de Cristovam, o senador Reguffe (PDT-DF) é contra o aumento de impostos. Reguffe e Rollemberg dividiram o palanque na campanha eleitoral e, conforme o senador, assumiram juntos o compromisso da não elevação de tributos acima da inflação. Do pacote apresentado pelo GDF, ele discorda, por exemplo, da proposta de aumento de IPTU em 100%, mesmo que de forma escalonada, com elevação de 20% no primeiro ano. Isso, ressalta, já corresponderia ao triplo da inflação anual. “Se o governo anterior foi irresponsável, e foi muito, isso não pode servir de motivo para que o novo governo não cumpra os compromissos que assumiu com a população”, cobrou Reguffe, em plenário. O senador também cobrou do governador dois outros compromissos assumidos na campanha: a devolução
O senador Ronaldo Caiado disse que as condições de vida no entorno do DF são precárias
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Mundo
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Oposição da Venezuela está dividida e governo em crise S
ão Paulo - Os protestos convocados pela oposição venezuelana no início de 2014 tiveram um saldo de 43 mortos, 878 pessoas feridas e 3.351 detidos. Um ano após o ato convocado em 12 de fevereiro, que, por ter deixado três mortos, deu início à onda de manifestações violentas - as chamadas guarimbas -, a oposição encontra-se dividida e o governo enfrenta uma crise de popularidade, agravada pela situação econômica que afeta a nação bolivariana. Atualmente, 41 pessoas continuam detidas por conta dos protestos, sendo 27 civis e 14 agentes de segurança - tanto policiais, quanto membros da FANB (Força Armada Nacional Bolivariana) - como informou a promotora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, durante uma coletiva de imprensa concedida no início da semana. Entre os mortos em protestos ao longo do ano, 33 eram civis e dez policiais. Tais manifestações expuseram o racha na oposição reunida em torno da MUD (Mesa da Unidade Democrática), que hoje tenta se reagrupar para ter condições de fazer frente ao governista PSUV (Partido
AGÊNCIA EFE
Um ano após onda de protestos no país, nada mudou. Até hoje, 43 pessoas estão presas, entre elas o líder Leopoldo López Socialista Unido da Venezuela), que venceu as nove eleições que disputou desde que o ex-presidente Hugo Chávez chegou ao poder em 1999. Má avaliação O governo, por sua vez, encontra-se em meio a uma crise de ordem político-econômica que se reflete na popularidade do presidente Nicolás Maduro, hoje em torno de 22%, de acordo com pesquisa do instituto Datanalisis, publicada em janeiro deste ano. A metodologia da pesquisa, entretanto, publiciza apenas a porcentagem de venezuelanos que apoiam o governo - deixando de lado tanto os que o consideram “regular” quanto os que o julgam como “ruim/péssimo”. Fato é que a avaliação do mandatário vem caindo desde março de 2014, quando o mesmo instituto indicava que sua popularidade estava em 37%, índice também inferior aos 51% que aprovavam o governo em dezembro de 2013. Além da reprovação pelo uso de força por parte da polícia venezuelana para conter os protestos, o agravamento da situação econômica também contribuiu para este cenário.
Protestos solitários em Caracas Conhecido como “La Salida” (a saída), as manifestações convocadas pela ex-deputada María Corina Machado, Leopoldo López e Antonio Ledezma ocupavam vias públicas, colocando obstáculos - entulhos, galhos de árvore e pneus - para impedir a circulação de pessoas. O objetivo era pressionar Caracas e forçar Maduro a ver-se obrigado a renunciar. Duas vezes excandidato a presidente, Henrique Capriles, por sua vez, se posicionou contra o movimento, defendendo vias legais para chegar ao poder. O opositor participou, inclusive, do diálogo de paz convocado pelo mandatário para tentar pôr fim os protestos violentos.
Para tentar conter violência, Maduro ordenou a ida das forças de segurança para as ruas
Caderno C
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Dia a dia
Psicologia é arma eficaz contra drogas Dia a dia C6
‘Carnailha’ começa neste domingo e espera 50 mil FOTOS: REPRODUÇÃO
Mesmo com volume de recursos menor que o de 2014, Carnaval de Parintins espera bom público na ilha este ano
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Uma tradição da Ilha Tupinambarana, junto com o festival folclórico de junho, o “Carnailha” deve receber aproximadamente 50 mil turistas a partir deste domingo, segundo estimativa da prefeitura
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Prefeitura de Parintins, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo, estima que aproximadamente 50 mil pessoas participem da programação do “Carnailha” 2015. O evento, que faz parte do calendário turístico do município, acontece a partir deste domingo e vai até terça-feira (17). Em 2015, a programação será promovida na praça dos Bois, local onde foi realizado o Réveillon da cidade. No domingo desfilam os blocos irreverentes, na segunda-feira os da chave A, e na terça-feira as agremiações da chave especial. De acordo com o prefeito Alexandre da Carbrás, o “Carnailha” de 2015 será realizado com volume menor de recursos, porém será tão festivo quanto nos anos anteriores. O governo do Estado firmou convênio para liberação de R$ 300 mil e a Prefeitura de Parintins entrará com pelo menos mais R$ 170 mil para realização do evento. ‘Inesquecível’ Segundo o prefeito, a atuação do poder público, aliada aos blocos e à animação do folião parintinense farão
do “Carnailha” deste ano um evento inesquecível. “Eu tenho certeza de que a criatividade e a vontade de brincar Carnaval serão aliados no nosso ‘Carnailha’. Eu convido a todos a participar. Estamos montando uma estrutura considerada e todos os órgãos estarão a postos para garantir segurança e tranquilidade”, destacou Alexandre.
RECURSOS
O “Carnailha” será realizado com volume menor de recursos. O governo do Estado firmou convênio para liberação de R$ 300 mil e a prefeitura entrará com pelo menos mais R$ 170 mil Viagens O prefeito de Parintins disse ainda que várias lanchas rápidas e outras embarcações farão viagens extras para atender a demanda de público que virá ao “Carnailha”. “Temos informações de que a ocupação dos voos está bem acima da normalidade e não temos dúvida que
além dos parintinenses que moram em outras cidades, visitantes também virão conhecer o melhor Carnaval de rua do Amazonas”, disse. A estrutura de camarotes de ferro e palco começou a ser montada na segundafeira por cerca de 25 operários e até sexta-feira (13) tudo deve estar concluído. Ao todo, serão 46 camarotes, sendo que a maioria foi entregue aos blocos para comercialização. Programação No domingo de Carnaval, se apresentam os blocos irreverentes: As Panteras Cor de Rosa, seguido por As Tiazinhas, Entre Tapas e Beijos Quarto, Chitara da Chapada, Lagarto Salgado, Os Belezuras, Invasão na Folia, Nós Somos o que Vocês já Sabem, Os Hippies, Amor e Cana, finalizando com Os Piratas. Na chave A, segunda-feira, disputam Cruz de Malta, seguido por Mocidade Unida do São Benedito, Os Metralhas e Fax Club. E na chave especial, terça-feira, buscam o título os Titãs, Império dos Palmares, Bad Boy, Unidos do Itaúna, Rubro-Negro e Ursos Polares.
Equipes envolvidas em campanhas A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) vai atuar nas três noites de realização do “Carnailha” 2015 com um grupo de mais de cem profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e equipe de apoio. Além das equipes volantes, que farão a
campanha de orientação e prevenção com a distribuição de folders explicativos sobre DST/Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, uma equipe de 30 pessoas, a cada noite, estará de plantão na base médica que irá funcionar no Centro de Saúde Dom Arcângelo
Cérqua, no bumbódromo. Na segurança, outros 200 homens atuarão por noite, entre policiais militares e civis, bombeiros civis e militares e guardas municipais. A rede de proteção contra exploração do trabalho e exploração de menores contará com 300 integrantes.
Reuniões definiram as estratégias a serem executadas durante os três dias do evento
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Primeiro trecho de cic FOTOS: IONE MORENO
Até o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Amazonas (Iphan-AM) entrou na discussão. Questionamentos tratam da divisão do calçadão central do boulevard Álvaro Maia em áreas para pedestres e ciclistas
Trecho da ciclovia da avenida Senador Álvaro Maia, concluída esta semana: opiniões se dividem quanto ao espaço utilizado no canteiro central do boulevard, que não seria o ideal para o projeto ISABELLE VALOIS Equipe EM TEMPO
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primeira parte da ciclovia que deverá interligar as zonas Centro-Sul e Oeste de Manaus, entregue esta semana, já criou polêmica. O projeto, anunciado em julho de 2013, seria um meio de mobilidade urbana com vistas à Copa do Mundo, e a obra teve início em março do ano passado, mas logo foi paralisada. O trecho da ciclovia, desde então, se tornou alvo de comentários de ciclistas, pedestres e especialistas em mobilidade. A questão toda gira em torno da divisão do espaço do canteiro central da avenida Senador Álvaro Maia, o popular boulevard, em espaço para bicicletas e pedestres. Para grupos de ciclistas, a ciclovia, estando de forma adequada ou não, é um avanço para a capital, que nunca executou um projeto cicloviário. A princípio, não havia cré-
dito de que o projeto da ciclovia saísse do papel, pois não se vislumbrava uma interligação das calçadas e nem rampas de acesso. A construção acabou sendo questionada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Amazonas. O órgão informou que o trecho do calçadão localizado em frente ao cemitério São João Batista está listado no instituto como parte do entorno do Reservatório do Mocó, na esquina da rua Belém com a avenida Maceió, Nossa Senhoa das Graças, considerado patrimônio histórico de Manaus. A portaria de número 421 que detalha o patrimônio foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 24 de novembro de 2011. Proibições A coordenadora técnica do Iphan no Amazonas, Camyla Torres, explicou que, com base nesta portaria, naquele calçadão é proibida a aposi-
ção de elementos estranhos que possam descaracterizar ou dificultar a visibilidade do reservatório, tais como placas, cartazes, faixas ou quaisquer elementos de caráter decorativo. A técnica garantiu que até
OPINIÕES
A questão gira em torno da divisão do espaço do canteiro central da avenida Senador Álvaro Maia. Para grupos de ciclistas, a ciclovia, estando de forma adequada ou não, é um avanço a última quinta-feira (12), a prefeitura não tinha protocolizado no instituto nenhum projeto sobre a ciclovia. “Sabemos da importância da mobilidade urbana para a cidade de Manaus, mas infelizmente o projeto necessitava passar por uma análise nossa”, reforçou.
Segundo Camyla, a ciclovia não poderia ter a cor vermelha, pois não transmite harmonia com o bem. Conforme a portaria 420, publicada em dezembro de 2010, todas as áreas tombadas estão sob a responsabilidade do Iphan, que fiscaliza os patrimônios e tem a liberdade de expedir um auto de infração, caso ocorram danos. Visita Após uma reunião com a superintendente substituta do Iphan, Eloíza Helena Araújo Martins, a técnica informou que na próxima segunda-feira (16) uma equipe deve visitar as obras da ciclovia para identificar possíveis danos cometidos ao patrimônio. Um auto de infração pode ser gerado para a prefeitura se for identificada irregularidade. “Neste caso, a obra da ciclovia pode ser embargada até que eles apresentem o projeto e o adaptem conforme a portaria do Reservatório do Mocó”, afirmou.
Discordâncias surgem em outras cidades O sócio-fundador e coordenador geral da TC Urbes, formado em arquitetura e urbanismo e mestre em planejamento urbano e regional, Ricardo Corrêa, explicou que problemas na construção das ciclovias ocorrem em outras cidades do país. Para ele, o principal problema está na formação acadêmica dos arquitetos. “As faculdades lecionam mais a prática da arquitetura e esquecem o urbanismo. Precisamos de
profissionais preparados para planejar obras que envolvem a sociedade”, disse. Segundo Ricardo, as ciclovias em geral deveriam ser construídas na direita, no sentido da via, na forma mais prática para os ciclistas se deslocarem. “Se chamamos de ciclovia, logo deve ser na via, pois calçada foi feita para o pedestre. Quando criamos ciclovias no centro das vias, pensamos em lazer e não como mobilidade urba-
na. Uma ciclovia adequada deve levar até mais de 20 anos para ser estudada e planejada”, explicou. Ricardo disse que o jeito mais prático seria retirar os estacionamentos laterais e destinar o espaço para o projeto cicloviário. Segundo Ricardo, o arquiteto precisa observar todo o trânsito e delimitar o espaço do pedestre, ciclistas motociclistas e motoristas de carro, ônibus e caminhões.
“O pedestre precisa do seu espaço, e não devemos colocar a vida de qualquer homem em risco. Quando há ciclovias, os ciclistas vão continuar a utilizar a via correta e a ciclovia deve continuar para o lazer. Antes que o dinheiro público seja gasto é preciso que os governantes tenham a consciência que a obra está bem projetada e estruturada, e sobre a ciclovia, ver se realmente o projeto está destinado à mobilidade urbana”, explicou.
Sem espaço para a mobilidade O coordenador do Ciclo Urbano Manaus, Keyce Jhones, quando soube do projeto para ciclovia, pediu para colaborar. “Desde o início, quando a prefeitura lançou esse projeto no boulevard, eu fui contra. Posicionei-me alertando sobre a forma equivocada do planejamento de uma ciclovia no canteiro central”, afirmou. “Ela nada mais é que uma ciclofaixa pintada no calçadão e não oferece mobilidade a quem quer pedalar pela cidade, oferece segurança por estar isolando o ciclista da faixa de rolamento, onde os carros passam, mas não há continuidade segura, pois a cada interseção, o risco é maior com barreiras, desníveis e cruzamentos perigosos com os carros”, explicou. Segundo Keyce, a ciclovia feita no boulevard Álvaro Maia não se conecta com o restante da malha urbana da capital amazonense e acaba sendo uma ciclovia de lazer, em um espaço tradicional de práticas esportivas, como corridas e caminhadas, podendo gerar conflitos com os praticantes das modalidades com o crescimento da demanda em pedalar por lazer nesse trecho. Equívocos “O planejamento é tão equivocado que a ciclovia começa em um dos pontos mais críticos e perigosos para quem pedala nessa
área da Zona Centro-Sul, que é o conturbado trecho do final e início da avenida Álvaro Maia com as avenidas Paraíba e Duque de Caxias”, detalhou Jhones. “Como eu não pedalo na calçada, eu não concordo com a implementação de uma ‘ciclofarsa’ ou ciclofaixa pintada no boulevard. Eu acredito que as obras que estiveram paradas não seriam concluídas por motivos lógicos, mas como alguns ciclistas pressionaram e têm aliança com o poder público, e ainda mais com a demanda da banda
Não sou conformista, por isso não concordo com esse planejamento equivocado, e como sigo as regras coerentes, eu não pedalo na calçada Keyce Jhones, coordenador do Ciclo Urbano
de Carnaval, a ciclovia foi implementada às pressas nesses últimos dias. Não sou conformista, por isso não concordo com esse planejamento equivocado, e como sigo as regras coerentes, eu não pedalo na calçada e vou continuar a pedalar na rua, me mantendo seguro na faixa que tenho por direito para pedalar”, desabafou.
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iclovia cria polêmica Moradores apontam problemas na área Alguns moradores das proximidades do boulevard e até mesmo ciclistas têm suas reclamações. O vigilante e pedreiro Geraldo de Oliveira Nogueira, 41, que sempre utilizou a bicicleta como transporte para o trabalho, disse que ao passar pela ciclovia teve dificuldades de sair de uma calçada e passar para outra por
causa do nivelamento. “Os pedestres continuam usando a parte destinada à ciclovia e o ciclista precisa ter mais cuidado para evitar acidentes”, detalhou. O pedreiro contou que foi vítima de acidente no trânsito quando era mais novo. Segundo ele, um carro que não aceitava compartilhar a via acabou jogando-o no
chão. “Espero que com a ciclovia a população que dirige tenha mais consciência. Se não fosse esse problema, não iríamos precisar dela, bastava cada um respeitar a via compartilhada”, explicou. A aposentada Zélia da Silva, 71, contou que sempre utilizou o calçadão do boulevard para caminhar
Assunto para muita discussão
e criar poesias, mas agora vai evitar o ato. Ela reforçou que quando chove, partes do boulevard ficam completamente alagadas e sem utilização. “Quero ver agora com a ciclovia. Primeiro deveriam consertar os problemas constantes e depois analisarem se o local é apropriado para receber uma ciclovia”, explicou.
Pedestres e ciclistas terão que aprender a dividir espaço
Zélia da Silva, aposentada que mora nas proximidades da ciclovia: perda de espaço para caminhadas e de segurança
A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) explicou que a construção da ciclovia no trecho do boulevard Álvaro Maia está inserida no lote 4 do Quadrilátero da Copa, licitado em 2013. Nesse lote estão inclusos o recapeamento total das avenidas Brasil, Ipase, Compensa, São Jorge e Senador Álvaro Maia, com requalificação de calçada e serviços de meio-fio e sarjeta. O lote 4 teve contrato no valor de R$ 22.868.143,60. Após replanilhamento, o valor ficou em 17.881.652,86. Deste valor, foram repassados para a empresa contratada R$ 10.403.078,27, com R$ 440 mil destinados à adaptação da ciclovia no boulevard Álvaro Maia.
No último dia 7 de fevereiro, o trecho da ciclovia que compreende a avenida Duque de Caxias e a Major Gabriel foi liberado. A secretaria explicou que continua trabalhando na ciclovia do Boulevard para concluir as rampas de acesso à rua para a liberação total. O trecho da ciclovia conta com pisos em concreto com nível regularizado e esquinas rampeadas. A ciclovia terá 14,6 quilômetros de extensão, com início no encontro das avenidas Duque de Caxias e Álvaro Botelho Maia, seguindo pelas avenidas Brasil (bairro Compensa) e Coronel Teixeira (bairros Lírio do Vale e Ponta Negra) até chegar à Marina do Davi, na Zona Oeste. Estes outros trechos
paço, e nesta semana o instituto deve implantar placas informativas para o pedestre e realizar uma campanha educativa de adaptação da sociedade com a ciclovia. Na semana passada, na Câmara Municipal de Manaus, o vereador Bibiano protocolizou requerimento solicitando a convocação de Paulo Martins para prestar informações sobre a construção e sinalização da ciclovia, além de apresentar metas físicas executadas na lei orçamentária. A reportagem tentou contato com o engenheiro responsável pela obra, mas até o fechamento desta edição, o telefone celular permanecia desligado.
Projetos anunciados para breve REPRODUÇÃO
Etapa inicial custou R$ 440 mil
O integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Antônio Carlos Rodrigues, disse que como a obra gerou polêmica, nesta semana o órgão deve solicitar da prefeitura o projeto para poder se pronunciar. O diretor-presidente do Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito (Manaustrns), Paulo Henrique Martins, explicou que vê os comentários sobre a ciclovia como uma boa discussão envolvendo a sociedade sobre algo novo e garante que novas ciclovias devem ser implantadas em Manaus. Sobre a ciclovia do boulevard, Martins disse que o pedestre não perdeu seu es-
ainda serão licitados. Durante o percurso, a área destinada aos ciclistas terá trechos adaptáveis às condições da via, podendo ser ciclovia, ciclofaixa ou até área compartilhada, de acordo com a necessidade. No boulevard Álvaro Maia, por exemplo, o fluxo de carros é grande e em horário de pico o congestionamento fica enorme. Em vista disso, o planejamento desenvolvido pelo Implurb, Manaustrans e Seminf contemplou a ciclovia por cima de um lado da calçada do canteiro central do Boulevard, a exemplo de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. O outro lado continua sendo exclusivamente para tráfego de pedestres.
Projeto exposto pela Prefeitura Municipal de Manaus para a implantação da ciclovia
A Seminf informou que Manaus contava apenas com uma ciclofaixa de seis quilômetros na avenida Nathan Xavier até chegar à avenida das Torres.
A faixa destinada aos ciclistas divide espaço antes usado exclusivamente pelos pedestres
Projetos futuros A avenida das Torres possuirá ciclovia, assim como o bairro Paque Dez de Novembro, até chegar à Bola do Mindu. Segundo a Seminf, os projetos estão em estudo. Futuramente, as avenidas Paraíba e Perimetral também deverão contar com ciclofaixa, além da
EXPLICAÇÃO
Segundo a Seminf, existia a possibilidade de criar uma ciclofaixa na rua, entretanto, retiraria uma faixa de veículos da avenida Senador Álvaro Maia, prejudicando o trânsito construção de mais seis quilômetros de ciclovia na área pública cedida pelo condomínio Alphaville, no Tarumã, Zona Oeste.
No final, todos os espaços destinados aos ciclistas serão interligados. Segundo a Seminf, existia a possibilidade de criar uma ciclofaixa na rua, entretanto retiraria uma faixa de veículos da avenida Senador Álvaro Maia, prejudicando o trânsito. Dessa forma, os pedestres ainda possuem três calçadas - duas nas laterais da avenida e uma ao centro -, os veículos podem circular por quatro faixas e os ciclistas ganham uma pista exclusiva.
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Dia a dia
Carnaval 2015: folia Com a crise econômica do país, as escolas de samba de Manaus tiveram que buscar alternativas para manter a qualidade das apresentações na avenida IVE RYLO Equipe EM TEMPO
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Atraso no repasse Há um dia do desfile, das 24 escolas de samba apenas 17 tinham o repasse público
CRIATIVIDADE
Apesar de mantido o patrocínio repassado pela prefeitura e governo para as 24 agremiações, as escolas de samba de Manaus tiveram que usar a criatividade para superar a crise depositado em conta. Para o presidente da Cesma, Reginei Rodrigues, a situação poderia ser resolvida se o edital fosse liberado no ano anterior, ao do desfile. “Não sei o motivo do atraso. Cada um tem sua desculpa na ponta da língua. Por que o edital não é emitido em outubro ou novembro, para as escolas terem tempo de organizar? Neste ano ele saiu 23 de janeiro”, questionou o presidente. Em um período de recessão, com tudo aumentando de valor, o atraso no repasse influenciou o desempenho das escolas. “As escolas es-
CARNAVAL
tão precisando de dinheiro para ir à avenida. E, este ano esta tudo mais caro. Cada um sente no bolso. Por isso, que todos vão atrás de patrocínio”, ressaltou. A assessoria de comunicação da SEC informou que o atraso de algumas escolas no acesso a verba se deu em pendências na apresentação de documentações pelas agremiações.
2015
Desfile As primeiras escolas a pisarem a passarela do samba foram as das agremiações do Grupo de Acesso C, na última quinta-feira. Já os grupos A e B desfilaram na última Sexta Gorda de Carnaval. No sábado e na madruagada de hoje foi a vez das Escolas de Samba do Grupo Especial. De acordo com a SEC, o evento estava estimado em um público de 150 mil pessoas. Cancelamentos Diferentemente de Manaus, onde a falta de recursos foi aparentemente driblada, outras cidades brasileiras tiveram que cancelar a festa para conter as despesas. A crise hídrica, dívidas e o surto de dengue cancelaram a folia de 15 municípios paulistas, entre eles Barreto, Ribeirão Preto, Ibirá e Catanduva. Assim como 14 cidades de Minas Gerais. A redução do repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e a seca no interior do Ceará também acabou com o agito carnavalesco em alguns municípios.
Embora tenha mantindo o mesmo valor do ano passado, no patrocínio para as escolas de samba, o g DIVULGAÇÃO
eduzir a quantidade de adereços e reutilizar estruturas de ferro, ou ainda, aderir a enredos que homenageiem instituições, cidades ou personalidades na tentativa de atrair mais recursos. Apesar de mantido o patrocínio repassado pela prefeitura e governo para as 24 agremiações credenciadas, as escolas de samba de Manaus tiveram que usar a criatividade para superar a crise e fazer bonito na avenida. O governo do Amazonas pagou R$ 264.113,00 para cada escola do Grupo Especial; R$ 124.156,00 para cada escola do Grupo de Acesso A; R$ 62.078,00 para cada escola do Grupo de Acesso B, e R$ 22.574,00 para cada escola do Grupo de Acesso C. Já a Prefeitura de Manaus – de acordo com informações repassadas pela Comissão Executiva das Escolas de Samba do Grupo Especial (Cesma) – aumentou em 5,6% o patrocínio. O valor passou de R$ 125 mil por escola em 2014 para R$ 132 mil por escola em 2015. De acordo com Secretaria de Estado da Cultura (SEC), o governo segue com a política de contenção de despesas também no Carnaval 2015. Contudo, o governador José Melo, reduziu R$2,5 milhões da infraestrutura do evento carnavalesco. Ainda não foi determinado
se outros eventos culturais patrocinados pela esfera estadual terão cortes no orçamento ao longo do ano, como o tradicional Festival dos Bumbás de Parintins. Até o fechamento desta edição, a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) não se pronunciou sobre o assunto.
Além da crise, a cheia do rio foi um dos motivos para o cancelamento da folia no interior
Folias canceladas no interior No interior do Amazonas três municípios cancelaram as festas carnavalescas: Juruá, Itamarati e Carauari tiveram as folias canceladas. Os prefeitos das cidades atribuíram o cancelamento à falta de recursos e também às enchentes dos rios que atingem diversas comunidades. “Por conta da crise não foi possível captar recursos para a festa. Além disso, a enchente tem se aproximado da nossa zona rural. Em tempos de escassez temos que priorizar a saúde, educação, infraestrutura. O administrador tem que ter consciência e não gastar
mais do que recebe”, afirmou o prefeito de Juruá, Tabira Ferreira. Ele apontou que a captação de recursos não foi como o esperado e a verba será destinada à folha de pagamento de outras prioridades. “O FPM aumentou só 16% e a previsão de queda para março será de 32%. Estamos com a luz vermelha acesa”, disse. Custos O cancelamento da festa gerou aos cofres públicos uma economia de aproximadamente R$ 250 mil. “Não existe muita tradição de festa de Carnaval no
interior. No Juruá nunca foi tradição. A população gosta mais de forró. Mas nosso festival folclórico, na segunda quinzena de agosto, faremos”, decretou. Em Itamarati, que teve o estado de emergência decretado, o Carnaval também foi cancelado. Lá, mais de mil famílias foram atingidas com a cheia tanto da cidade quanto da zona rural. Esta é a mesma situação do município de Carauari, que começa a ter terras da área rural tomadas pela enchente e a prefeitura tem investido os recursos para atender a demanda.
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ALBERTOCÉSARARAÚJO
da crise financeira
Enredos patrocinados e cortes
Trocas inteligentes de materiais e redução de quantidades foi a solução encontrada pela direção do Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S) Mocidade Independente de Aparecida para surpreender na avenida sem comprometer demais o orçamento. O presidente da Aparecida, Luiz Pacheco, observou que triplicou os preços das estruturas de ferros e das plumas. “Principalmente as ferragens e as penas, que em dólar. Agora que a moeda esta praticamente 3 para 1, fica muito complicado. Tivemos um aumento significativo de três vezes na parte das ferragens e plumas. Por isso, tivemos que adequar o Carnaval a realidade, se você recebe 10 e gasta 20, vai fazer como? Diminuímos a quantidade, sem perder o brilho e a função”, revelou. Neste ano, a escola investiu R$ 850 mil na homenagem ao estado do Acre com o enredo “Aquiri – Orgulho do Brasil”. Além de patrocínio público, a escola recorreu ao apoio de empresas privadas, além de eventos e para arrecadar a verba. Para o presidente, apesar de mantidos os patrocínios das esferas governamentais, a crise atingiu com o encarecimento dos artigos. “Com certeza influenciou não só o Carnaval, mas o bolso de toda a população e o Carnaval faz parte deste contexto”, disse. Ele defendeu que a festa oportuniza o aquecimento da
economia e geração de empregos. “As pessoas confundem muito, associam Carnaval a brincadeira. As escolas de samba consideram cultura. Fora a geração de renda, que movimenta o comércio a indústria”, defendeu. Enredos patrocinados Outra saída é compor enredos que homenageiem cidades, instituições ou personalidades. Assim fez o G.R.E.S. Balaku Blaku que misturou a Ciranda de Manacapuru para dar samba,
ENREDOS
Outra saída adotada pelas escolas para driblar a crise e conquistar de vez o coração dos patrocinadores é compor enredos que homenageiem cidades, instituições ou personalidades com enredo “Canta alto Cirandeira, com orgulho e amor, conta a história de Manacapuru, o sonho que se realizou” que homenageou o município de Manacapuru (distante a 70 quilômetros de Manaus). “Apesar da crise, a prefeitura de lá e alguns empresários do município consiguiram patrocinar nosso enredo, o que ajudou muito”, revelou o presidente da escola Roberto de Souza Simonetti Filho. A estratégia, que já é velha conhecida de outros carnavais, também foi
adotada por outras agremiações. Ontem mesmo, no desfile das especiais, a Aparecida homenageou o estado do Acre e a VitóriaRégia, o Pará com o enredo “De Nazaré a Conceição nos caminhos das águas”. “É a única saída que o Carnaval tem, se não for, escola nenhuma faz Carnaval”, deu o veredicto. Estimado inicialmente em R$ 1,100 milhão, os orçamento teve que ser enxuto para R$ 890 mil, em virtude da crise. “Foram recursos de diretores, pedidos de socorro para patrocinadores, se não, não faríamos”, disse. Para não ultrapassar o estimado, a escola também teve que reduzir a quantidade de materiais para composição dos adereços e fazer várias substituições de produtos mais caros, por outros mais em conta. “Tivemos que reduzir o número de carros, antes eram cinco mais a comissão de frente e agora são quatro”, explicou. Com as dificuldades em conseguir patrocínio em tempo de vacas magras, a escola definitivamente colocou em prática a idéia defendida pelo samba enredo mostrando que os sonhos são possíveis. “O Carnaval ficou difícil para todas as escolas. Não se faz carnaval sem dinheiro. Só doido encara fazer carnaval num país em crise, em recessão. Ficou complicado para nós, e as escolas de Manaus não são diferentes do resto do país”, finalizou.
ALBERTO CÉSAR ARAÚJO
overno do Amazonas cortou R$ 2,5 milhões da infraestrutura dos eventos carnavalesco de 2015
Criatividade e material barato para fazer as alegorias
Planejamento para equilibrar o orçamento Uma gestão equilibrada e planejamento para atrair de patrocinadores são as maneiras encontradas pelo G.R.E.S Alvorada para se gerenciar a crise e levar para avenida uma agremiação competitiva. Neste ano foram investidos R$ 750 mil na apresentação do enredo “Saúde, alegria e paz, o resto a gente corre atrás” – que mais pareceu uma espécie de mantra da agremiação, durante a odisseia da captação de verba. “O patrocínio da prefeitura e do governo chegou a arcar com metade dos custos, mas o restante tivemos que
buscar por fora, se não, não faço um Carnaval para ser campeão”, explicou o presidente Heroldo Linhares. Eventos Para isso, a direção articulou uma gama de eventos pré-desfile, como as famosas feijoadas na comunidade. Além da venda de fantasias e do apoio dos patrocinadores. “Depende de quem esta negociando (sobre conseguir verba com enredos que fazem homenagem). Geralmente se busca ajuda de pessoas ou entidades para acrescentar. Contar somente com a prefeitura ou com
o governo fica apertado. Se tiver uma entidade que ajude e a venda de fantasias já auxilia para se fazer carnaval”, ressaltou. Sorte Contudo, em tempos de crise, ele acredita que o elemento “sorte” conta bastante. “Mesmo com crise, conseguimos o dinheiro. Não só o estado, mas o país todo vive a situação. Mas acredito que a gente teve ajuda financeira na sorte em ter carnaval na nossa cidade. Alguns estados não haverá carnaval”, pontuou. Ele apontou que o pré-planejamento evitaria inclusive
atropelos por conta do atraso na liberação da verba advinda da administração pública – tão tradicional quanto o carnaval de Manaus. “ Na realidade, quando conseguimos receber a verba, as vezes falta 48h para o desfile. Não que prejudique, mas faz falta (receber com antecedência), já que se trabalha sempre aperreado. Acredito que no próximo carnaval, possamos sentar junto a Cesma, governo e escolas de samba para se programar e em novembro já ter a verba liberada, para as escolas darem prosseguimento aos trabalhos”, faz votos o presidente da escola de samba.
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Dia a dia
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Mulheres conseguem com psicologia superar o vício O
conselho amigo tem se mostrado como um diferencial na luta contra as drogas. No Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz, o aconselhamento psicológico tem sido primordial no tratamento e acompanhamento das pacientes do sexo feminino. Entre as várias opções de atividades terapêuticas ofertadas no centro de reabilitação está uma boa conversa entre pacientes e psicólogos. As próprias residentes passam horas conversando com as profissionais do centro para se manterem fortes contra os efeitos da abstinência das drogas. Os ensinamentos e conselhos fazem parte do tratamento terapêutico. Essas atividades são apontadas pelas residentes como o principal fator que as leva a não desistir do tratamento e sempre procurar vencer um duelo contra o inimaginável: o “prazer” proporcionado pelas drogas. “A ajuda psicológica foi fundamental para a minha vida. Graças a ela estou conseguindo dar prosseguimento na luta contra a dependência química e a cada dia me sinto fortalecida”,
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Apoio de psicóloga faz a diferença no tratamento de dependentes químicas no Centro de Reabilitação Ismael Abdel Aziz disse a residente Ana Paula Cavalcante Gomes, 30. A psicóloga do centro, Ilzemar Socorro Freitas de Farias, ressalta a importância do auxílio de um profissional para que o residente consiga lidar com as questões relacionadas à emoção, sentimento que leva o indivíduo a cometer ações que podem ser irreversíveis
TRATAMENTO
As residentes passam horas conversando com as profissionais do Centro de Reabilitação Ismael Abdel Aziz para se manterem fortes contra os efeitos da abstinência das drogas em sua vida. “Costumo sempre trabalhar as emoções de cada paciente individualmente, pois é por conta de valorizar o sentimento que esquecemos a razão e agimos pela emoção. Depois percebemos que é tarde para reverter determinado problema e acabamos por piorar a situação”, diz a especialista.
A psicóloga Ilzemar Socorro Freitas de Farias entre as internas Ana Paula (à esq.) e Patrícia: um apoio mais do que essencial
Uma receita para a autoestima
Técnicas utilizadas na terapia no centro auxiliam na recuperação e libertação da abstinência
Médico psiquiatra e diretor do centro de reabilitação, Pablo Gnutzmann afirma que a psicologia é um alicerce que tem ajudado no tratamento da dependência química, pois une a questão do convencimento e o trabalho para melhorar a autoestima de cada paciente, fortalecendo-os na luta contra as drogas. “Temos uma equipe multiprofissional que dedica esforços diários para ajudar nossos pacientes a se manterem firmes no tratamento. A psicologia está inserida nesse processo, por conta de seu poder de convencimento por meio da razão”, disse. O Centro de Reabilitação em Dependência Química, órgão do governo do Estado do Amazonas, está localizado no quilômetro 53 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara), em Rio Preto da Eva. A unidade de tratamento é gerenciada pelo Instituto Novos Caminhos, em Parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (Susam).
Tratamento Para lidar com o desespero que acomete as residentes em várias etapas do tratamento, a psicóloga Ilzemar utiliza diversas “ferramentas” de trabalho. Dentre as técnicas mais usadas pela profissional estão a música, arte terapia, relaxamento e meditação. Vale ressaltar que, apesar de ter maior adesão entre as residentes do sexo feminino, este tratamento também é aplicado aos residentes do sexo masculino da unidade de saúde. Todas as residentes passam por uma técnica elaborada por Ilzemar e a preferida dela é a motivação, pois quando a paciente entra em estado de abstinência sua vontade de desistir do tratamento aflora. “Quando percebo que as pacientes estão sofrendo com a abstinência dou uma injeção de ânimo. Eu as encorajo para vencer esse duelo desigual contra o prazer das drogas. Faço uso de técnicas que vêm
dando certo no tratamento com dependentes químicos. A mais utilizada no centro de reabilitação é a músicoterapia, pois quem canta os males espanta”, finaliza a psicóloga. Além disso, as pacientes do centro de reabilitação solicitam um tempo para conversar a sós com as profissionais. Os conselhos dados pelas profissionais são acatados pelas residentes como uma ordem materna. “A psicóloga Ilzes será a minha eterna mãe. Várias vezes pensei em abandonar o tratamento, mas em poucos minutos de conversa com ela recebo um choque de ânimo e percebo que obedecê-la será meu melhor caminho. Toda a equipe do centro de reabilitação quer meu bem”, frisou a residente Patrícia Matos da Silva, 30, que se tornou dependente química quando atingiu a maioridade e, desde então, convive em uma luta diária para se libertar do vício.
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Saúde é foco de campanha para a semana de folia O
s cuidados com a saúde merecem uma atenção redobrada neste período de Carnaval. Baseado nesse princípio, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, localizada no bairro Tarumã, Zona Oeste, iniciou neste sábado (14) uma campanha de orientações e bons cuidados com a saúde. Dentre os temas abordados estão as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e Aids; a importância do uso de preservativos; álcool e direção, gravidez na adolescência e drogas ilícitas. Também será feita distribuição de informativos sobre os temas abordados e aproximadamente 1,5 mil preservativos masculinos. A campanha se estende até o próximo sábado (21). A atividade será realizada na recepção principal e nas enfermarias. Serão realizadas palestras para os pacientes, que poderão tirar suas dúvidas com os palestrantes. O objetivo é que os ensinamentos sirvam como parâmetros para ajudar os pacientes durante o período de Carnaval. “Nesse período, muitas pessoas acabam exagerando com bebidas, o que pode causar prejuízos irreversíveis à saúde, como é o caso das doenças sexualmente transmissíveis. Muitas das vezes esse descuido acontece por conta da ingestão desregrada de bebida alcoólica”, disse a enfermeira e coordenadora da campanha, Suellen Barbosa. A campanha é resultado de uma parceria entre a equipe multiprofissional da UPA Campos Sales e a Unidade Básica de Saúde (UBS) Lindalva Damasceno, esta última pertencente à rede municipal de saúde. Enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais da UPA Campos Sales, além do diretor da UBS Lindalva Damasceno, Luiz Urrutia, participarão das atividades durante a semana. “Vamos trabalhar de forma incessante para orientar a população sobre os riscos à saúde durante o Carnaval. Por conta disso, nos sentimos na obrigação de alertar as pessoas sobre
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UPA Campos Sales realiza até o próximo sábado trabalho de orientação sobre DSTs, com distribuição de preservativos os riscos à saúde neste período”, afirma a diretora da UPA Campos Sales, Márcia Alessandra Nascimento. A diretora informa ainda que a UPA Campos Sales mantém cronograma mensal de exposições e palestras voltadas para a saúde bucal, prevenção da influenza AH1N1, alcoolismo e outras drogas, saúde do homem e da mulher, doenças transmitidas pela água, dengue e chikungunya. A UPA Campos Sales atende casos de média complexidade em regime de 24 horas. A UPA faz parte da rede estadual de saúde e é gerenciada pelo Instituto Novos Caminhos e Secretaria de Estado da Saúde (Susam). Hemoam Na segunda-feira (16), a Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), órgão do governo estadual, atenderá para coleta de sangue das 7h30 às 12h. Na terça-feira (17), não haverá coleta, devido ao feriado. Na quarta-feira (18), o atendimento será realizado a partir das 12h. A campanha de doação de sangue promovida pela Fundação Hemoam recebeu a adesão do Conselho Regional de Farmácia (CRFAM), na última quinta-feira (12), quando um grupo de profissionais de farmácia, tendo à frente a presidente da entidade, Ednilza Guedes, visitou a Fundação Hemoam. O grupo foi recebido pela coordenadora do Ciclo de Sangue, Socorro Viga. A presidente do CRF-AM explicou que o Conselho local se integrou aos demais conselhos estaduais para incentivar nacionalmente todos os profissionais de enfermagem para a importância da doação de sangue nesta época do ano, devido ao fato de o Carnaval ser o período em que aumenta a demanda por estoques de sangue em decorrência de acidentes, principalmente de trânsito. O objetivo, de acordo com a titular do CRF-AM, é reunir o maior número de pessoas para doação em todos os hemocentros do país.
CARNAVAL
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Unidade de Pronto Atendimento Campos Sales, na Zona Oeste de Manaus, fará no decorrer da semana campanha de orientação
Hemoam busca doadores para seu estoque A Fundação Hemoam lançou a campanha da manutenção dos estoques de sangue no Carnaval no dia 31 de janeiro, com a meta de conseguir 1.250 bolsas de sangue doadas por semana, quantidade considerada ideal para manter o atendimento normalizado. Durante o período carnavales-
PARQUE DEZ
Fla Manaus promove baile local Na segunda-feira (16), a Embaixada Oficial Fla Manaus vai promover a primeira edição do “Baile Vermelho e Preto - o Baile Oficial do Mengão” na capital amazonense. A festa consagrada do Clube de Regatas do Flamengo no Rio de Janeiro passa a fazer parte do calendário de eventos da Embaixada Fla Manaus. O evento acontecerá na sede da embaixada, no bairro Parque Dez, perto do parque do Mindu, a partir das 18h. As atrações serão grupo Vai Garotão, banda Os Especiais, bateria da escola Unidos do Alvorada e bateria da Fla
PARCERIA
O “Baile Vermelho e Preto - Baile Oficial do Mengão”, realizado pela primeira vez em Manaus, terá 15% de sua renda bruta desinado ao Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro Manaus. Os ritmos serão samba, axé, swingueira, pagode, machinhas, sucessos do momento e músicas clássicas do Flamengo. A parceria reúne aproximadamente 1,5 mil rubro-
negro na segunda-feira gorda de Carnaval, em clima harmonioso, familiar e seguro, dando oportunidade ao torcedor de contribuir com seu clube, pois 15% de toda a renda bruta será destinado ao Clube de Regatas do Flamengo. O abadá, que vale como entrada, está sendo vendido nas lojas oficiais do Flamengo na avenida Djalma Batista, quiosque no Amazonas Shopping Center e no DB Ponta Negra. A cerveja será vendida a preço de custo durante todo o evento (R$ 1,50). Maiores informações podem ser obtidas pelo telfone 3307-2132.
co, a fundação também está realizando coletas externas utilizando a sua unidade móvel, o “Vampirão”. Além das coletas externas, o órgão está realizando a convocação dos doadores cadastrados no sistema e a chamada para novos doadores por meio de campanhas.
Qualquer pessoa com boa saúde, com idade entre 18 e 65 anos e peso a partir de 50 quilos, pode doar sangue. O candidato à doação deve estar bem alimentado e munido de documento de identidade. Não podem doar sangue pessoas que tiveram hepatite depois dos dez anos
de idade; que tenham comportamento sexual de risco; usuário de drogas; que tenham tido malária, recebido transfusão sanguínea ou que tenham tido doenças sexualmente transmissíveis nos últimos 12 meses, e pessoas que apresentaram febre nos últimos 30 dias.
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Dia a dia
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Etacom indeniza famílias do acidente com caçamba IVE RYLO Equipe EM TEMPO
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ais de R$ 2,5 milhões foram pagos para os sobreviventes e familiares dos passageiros que morreram no acidente de trânsito entre um microônibus da linha 825 e uma caçamba, na avenida Djalma Batista, Zona Centro-Sul. A colisão ocorreu na noite de 28 de março de 2014, e 15 pessoas morreram. Até agora, 11 dos quinze óbitos foram indenizados, mediante acordo das famílias com a empresa da caçamba, Consórcio Manaus Etacom. Três sobreviventes do acidente também optaram em firmar acordo. “Entre indenizações e despesas médicas e cirúrgicas já foi pago R$ 2,5 milhões”, explicou o advogado da empresa, Francisco Figueira. Acordos Ainda falta fechar acordo com quatro familiares dos passageiros que morreram. “O objetivo da empresa é fazer acordo com todas as famílias, depende delas aceitarem ou não. Eles estão
pensando, analisando as propostas”, disse o advogado da empresa Etacom, Francisco Figueira. O caso O acidente ocorreu quando o motorista da caçamba, Ozaias Costa de Almeida, 36, que transitava no sen-
O objetivo da empresa é fazer acordo com todas as famílias, depende delas aceitarem ou não. Eles estão pensando nas propostas Francisco Figueira, advogado
tido bairro-Centro, avançou a pista contrária e atingiu a frente do microônibus que fazia o percurso inverso. O laudo do Instituto de Criminalística (IC) atestou que o veículo – que prestava serviço para a Prefeitura de Manaus - trafegava a cerca de 80 quilômetros por hora no momento do acidente.
ALBERTOCÉSARARAÚJO
Colisão ocorreu no dia 28 de março, embaixo do viaduto, na avenida Djalma Batista, Chapada, e matou 15 pessoas Com o impacto, 16 morreram e outras 17 pessoas ficaram feridas, sendo encaminhadas aos hospitais e prontos-docorros 28 de Agosto, Zona Centro-Sul, João Lúcio, Zona Leste, e os Serviços de Pronto Atendimento (SPA) do São Raimundo, Alvorada e Redenção, Zona Oeste e Centro-Oeste, respectivamente. Vítimas Dentre os mortos estava o condutor da caçamba, Ozaias Costa de Almeida, 36, o motorista do coletivo, Robert da Cunha Moraes, 26. Além deles, morreram também os passageiros do micro-ônibus Rosângela Cardoso Costa, 39, Adriane da Silva Fernandes, 20, Lincoln Oliveira de Souza, 21, Quézia Guedes de Souza, 24, Clarice Gomes Pires, 58, Luís Miguel Guedes de Souza, de 1 ano e 6 meses, João Jorge Duarte Pires, 56, Carlos Alberto da Silva Silveira, 50, Gabriela Teles Messias, 26, Davi (bebê morto),Tânia Maria da Rocha, 50, Sebastião Alves de Araújo, 50, Domingos Messias de Souza, 60, e Ricardo Oliveira dos Santos, 34.
Até agora, familiares de onze dos quinze mortos foram indenizados pela empresa Etacom
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(92) 3090-1010
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1
Um filho da Atenas brasileira
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Pedro Duarte e a palavra modernista
Carlos Alberto Nunes e sua ‘Eneida’. Pág. 2
Frederico Coelho analisa livro sobre o legado de 22. Pág. 3
Princesa russa conta bastidores da Segunda Guerra Marie Vassiltchikov cresceu no exílio e fez história. Págs. 4 e 5
4
Elefantes e Kim Gordon
5
Enredos eletrônicos
6
Diário de Los Angeles. Pág. 6
As novas narrativas do mundo dos videogames. Pág. 7
Fragmentos em prosa e poesia
A imaginação de Leda Cartum. Pág. 8
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Literatura
1 Um tradutor para Eneias O Virgílio de um grande maranhense
RESUMO Carlos Alberto Nunes (1897-1990) dedicou a vida à tradução de clássicos latinos e helênicos, como Homero e Platão, embora seu trabalho seja pouco reconhecido. Sua versão para o português da “Eneida”, de Virgílio, que até então passara despercebida, é reeditada, ensejando reflexão sobre importância do tradutor.
JORGE HENRIQUE BASTOS
Virgílio criou um poema que narrava o mito fundador do império milenar romano. Sua presença estendeu-se para além dos séculos e permanece evidente na obra e na vida dos mais diversos autores. No texto de abertura do livro “Kritische Essays zur europäischen Literatur” (Ensaios críticos sobre literatura europeia, 1950), a respeito do poeta, o ensaísta alemão Ernst Robert Curtius chama a atenção para o fascínio que a “Eneida” despertara em Agostinho – a ponto de leválo às lágrimas ao ler o relato que Eneias faz a Dido de suas aventuras e deriva, até o fim trágico da rainha de Cartago, que se suicida ao vê-lo partir, recusando seu amor. É sintomático que Dante tenha escolhido como guia não Homero, mas precisamente Virgílio. Camões abre “Os Lusíadas” com uma paráfrase explícita: “As armas e os barões assinalados”, fazendo ressoar o verso inicial virgiliano: “As armas canto e o varão que, fugindo das plagas de Troia”. Sua presença superou o tempo e as línguas. Virgílio domina a apreensão de Ludovico Ariosto de “Orlando Furioso” e comanda as hostes de Milton no “Paraíso Perdido”. Em pleno século 20, naquele que é um dos maiores romances alemães, “A Morte de Virgílio”, Hermann Broch ficcionou as 18 derradeiras horas do poeta que, imerso em dúvida, queria destruir a “Eneida”. São apenas alguns exemplos do magnetismo despertado ao longo dos séculos por esse poema máximo, que, na visão de Curtius, é condicionado por um percurso definitivo: “Como fenômeno histórico, Virgílio é romano e suprarromano. Domina os milênios como gênio espiri-
tual do Ocidente”. A assertiva continua atual, sem perder sua legitimidade crítica. Na tradição literária de língua portuguesa, tal fascínio dominou gerações desde Camões, até surgirem as primeiras traduções feitas em Portugal e no Brasil. No século 19 foram publicadas duas: a do maranhense Odorico Mendes, em 1854, (hoje disponível pelas editoras Unicamp e Ateliê), em decassílabo heroico, e a dos portugueses José Victorino Barreto Feio e José Maria da Costa e Silva, de 1845 (Martins Fontes). Silva traduziu os quatro cantos finais, já que seu amigo morrera antes de concluir a empreitada. No século 20 surgem outras – no Brasil, a de Tassilo Orpheu Spalding (Cultrix, esgotado) e, em Portugal, a de Agostinho da Silva (Temas e Debates). Por fim, em 1981, vem à luz aquela que era porventura a mais desconhecida de todas as edições do poema de Virgílio em português, traduzida por Carlos Alberto Nunes, tendo em conta a circulação restrita que marcou o lançamento, pela editora A Montanha. Permaneceu esquecida desde então, raramente aparecendo nos sebos, ao contrário de outras traduções de sua autoria disponíveis e reimpressas até hoje, como a “Odisseia” e a “Ilíada” (Ediouro, 2001). A editora 34 encerrou essa lacuna republicando a tradução no ano passado. Maranhão Uma coincidência esclarecedora aponta para um pormenor curioso. Dois dos nossos maiores tradutores nasceram no Maranhão, e ambos legaram um rol de traduções cuja relevância aumenta com o passar dos anos. De certa maneira, Odorico Mendes e Carlos Alberto Nunes acabam corroborando o apodo que o Estado numa época ganhou, o de “Atenas brasileira”, o que pelo menos daria mais orgulho a seus habitantes, pensando nas manchetes em que surge na mídia do país com chacinas regulares em seus presídios ou escândalos ardilosos de cunho político. Pertenciam, de fato, a uma tradição literária norteada por figuras como Gonçalves Dias – seu poema “Timbiras” assombra o poema “Os Brasileidas” de Nunes – ou Sousândrade, que fora professor de grego em São Luís, daí a helenização de seu verdadeiro nome, Joaquim de Sousa Andrade. Estavam distantes no tempo, mas próximos no que toca à dedicação ao exercício tradutório. Dir-se-ia que estabeleceram como meta trazer à luz em nossa língua textos
centrais da cultura clássica. Além do distanciamento temporal, convém ressaltar o modo de encarar a tradução. Basta fazer um paralelo entre as traduções homéricas realizadas por ambos, ou entre as do poema de Virgílio. A versão de Odorico Mendes, como era típico do seu estilo, utiliza um léxico rebuscado, a sintaxe peculiar e a profusão de neologismos que interrompe a compreensão do leitor a todo instante. Assinale-se que tais pressupostos foram já analisados por diversos autores. Carlos Alberto Nunes, por seu turno, explorou o verso de 16 sílabas poéticas, aproximando-se da tendência narrativa dos hexâmetros do original. Essa maneira de traduzir, que os mais precipitados taxariam de conservadora e excessivamente prosaica, investia-se de um aspecto narrativo cujo fim era exprimir com absoluta objetividade o sentido do poema, sem se socorrer de malabarismos vocabulares ou fogos de artifícios estilísticos que vedam, na maior parte das vezes, a expressividade genuína. Desde que suas traduções apareceram, revelaram essa convergência, procurando aproximar-se do original. Vida Carlos Alberto Nunes nasceu em 1897, formou-se na faculdade de medicina da Bahia, exerceu funções no Acre e mudou-se para São Paulo, onde estreou, em 1938, com a tentativa malograda de criar um épico nacional, o já citado “Os Brasileidas”. Como poeta, Nunes não teve grande importância, mas o seu trabalho como tradutor lhe garantiu a projeção que ansiara. Suas traduções abrangem um leque variado de clássicos literários, demonstrando o autodidatismo versátil de quem conhecia os meandros de línguas como o alemão, o inglês, o grego e o latim. Traduziu o teatro completo de Shakespeare, que circulou durante muito tempo, esgotando sucessivas edições; verteu “Clavigo” e “Ifigênia em Táuride”, de Goethe; e tragédias como “Judith”, de Friedrich Hebbel. Resultou dessa atenção descomunal o intento em consagrar-se às obras nucleares da “paideia” helênica: os poemas homéricos e a obra filosófica platônica. Carlos Alberto Nunes resolve então aplicar-se durante uma década só a traduzir Platão. Seguia um plano sistemático de trabalho que consistia primeiro numa versão manuscrita; depois datilografava e encadernava o volume. Após a recusa de uma edito-
ra, decidiu doar os direitos à Universidade Federal do Pará, mediante a respectiva publicação da obra. A negociação efetuou-se por meio de seu sobrinho, o crítico e filósofo paraense Benedito Nunes, que morreu em 2011. Tudo se concretizou em julho de 1973, quando Carlos Alberto Nunes se deslocou a Belém para receber uma homenagem e efetivar a doação do manuscrito da tradução. O trabalho era composto por 2.425 folhas e 70 volumes de uma platônica particular. O espólio está à guarda da biblioteca central da UFPA. Reveste-se este trabalho – 14 volumes e uma “Marginália Platônica” que o tradutor escreveu para servir de roteiro – de uma importância indiscutível, reeditada em versão bilíngue grego/português de maneira exemplar e editorialmente criteriosa pela Editora da Universidade do Pará, tendo como editor convidado Plínio Martins Filho. Casal Após essa genuína pletora da tradução, Carlos Alberto Nunes começou a se preparar para enfrentar a “Eneida”. Sua mulher, Filomena Turelli, filha de um paciente seu, latinista respeitada na capital paulista, era a principal incentivadora e colaboradora do tradutor. Dedicavam-se à leitura e pesquisa de literatura clássica. É lícito supor que ela tenha contribuído nessa tradução, ajudando-o
a superar as dificuldades inerentes do texto. Contudo, os hexâmetros que cunhou para reproduzir os dramas, aventuras e errância de Eneias expõem o estilo característico de Carlos Alberto Nunes, sem nenhuma dúvida. Finalmente, em 1981, volvidos dez homéricos anos, publica a tradução do poeta mantuano. Carlos Alberto Nunes completara 86 anos e pusera um ponto final no seu trabalho como tradutor. Morreu em 1990, e foi enterrado no cemitério de Angatuba, interior de São Paulo, relativamente esquecido, sem lhe ter sido dada a devida consagração como um dos tradutores mais produtivos do Brasil. Leitor das suas traduções, colecionei quase todas, comparando-as com outras que descobri em livrarias e sebos de Lisboa, Madri e Paris. Ao regressar ao Brasil, comecei a conceber a estratégia para reeditar a “Eneida”, por acreditar que o trabalho merecia ser conhecido pelas novas gerações. O passo a seguir era inquirir e pesquisar na APL (Academia Paulista de Letras) o que ele havia deixado lá, sabendo de antemão que pertencera à instituição. Depois de procurar alguns meses na biblioteca da APL, consultando os arquivos volumosos que vários acadêmicos costumam oferecer à casa, consegui detectar o original datilografado, que se encontrava num envelope pardo, sob outros tantos que
RAFAEL CAMPOS ROCHA/ Ogro
o ocultavam. O volume apresenta apenas anotações e alterações do punho do tradutor. Nada mais. Nenhum texto sobre a tradução, nenhuma referência bibliográfica. Consultei ainda a homeriana que legou à Academia e observei várias vezes o busto de Homero, também por ele doado, disposto num dos corredores. O que restou do seu trabalho resume-se às traduções que conhecemos e agora a esta que regressa ao leitor num trabalho admirável de João Ângelo Oliva Neto e da Editora 34. Memória Existem inúmeros textos acessíveis sobre Odorico Mendes, grupos de pesquisa que estudam e divulgam suas traduções; suas obras são reeditadas e há referências contínuas sobre seu prestígio como tradutor. Mas sobre Carlos Alberto Nunes paira o desconhecimento ou a omissão tácita que só esta recente edição pode alterar. Torna-se imperativo reavaliar o seu projeto tradutório, submetê-lo a uma análise lúcida e descomprometida, a fim de acolher a sua elegância expressiva, a narratividade equilibrada e objetiva, o apuro formal do verso que forjou, para receber, sem condicionamentos extemporâneos, o impacto das traduções deste senhor franzino, de olhar vivaz, que nos deixou uma das maiores heranças literárias que se pode cobiçar.
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Modernismo
A ESTRATÉGIA DA PALAVRA
2 Um compromisso com a alegria A voz dos manifestos modernistas
RESUMO No livro “A Palavra Modernista - Vanguarda e Manifesto”, Pedro Duarte investiga os manifestos do movimento modernista como textos que articulam estética, filosofia e política. O autor dedica um capítulo ao enunciado “a alegria é a prova dos nove”, que contrasta com a ideia de “povo triste”, de Paulo Prado.
FREDERICO COELHO
A partir de uma leitura original, aberta e renovadora, Pedro Duarte e o seu livro “A Palavra Modernista - Vanguarda e Manifesto” [Casa da Palavra, 224 págs., R$ 39] contribuem efetivamente para o debate crítico acerca do modernismo brasileiro. Mais especificamente, o autor propõe uma análise acurada dos diversos usos da palavra e de suas múltiplas formas no âmbito do movimento de 1922. Rico em possibilidades de leitura e desdobramentos para novos debates, o livro é parte do projeto “Modernismo + 90”, organizado pelo filósofo Eduardo Jardim e elaborado em 2012, em parceria com a editora Casa da Palavra. Trata-se de uma coleção dedicada a pensar novos pontos de vista, passados 90 anos da Semana de 22. Do total de nove volumes editados, “A Palavra Modernista” é o ultimo a ser lançado. O livro, portanto, se insere em um momento de revisitação do tema, potencializado pela homenagem que Mário de Andrade receberá na próxima Flip e pelo relançamento de trabalhos fundamentais, como “Pagu Vida-Obra” [Companhia das Letras, 472 págs. R$ 59,50; e-book, R$ 39,50], dedicado à escritora, ativista, dramaturga e pensadora paulista Patrícia Galvão, organizado com rigor e sensibilidade por Augusto de Campos. As chaves de análise sobre a elaboração de uma modernidade brasileira como espelho reluzente – ou como cópia defasada – da modernidade europeia precisam renovar os seus contornos para que essa “jovem tradição” não perca sua potência renovadora. Pois mesmo que nosso modernismo se insira em uma “tradição da ruptura” (termo consagrado pelo crítico mexicano Octavio Paz) por emular outros movimentos históricos de vanguarda e dar corpo à nossa sede pelo novo
como vetor histórico, não é tão simples nos encaixarmos nessa afirmação. Romantismo É a partir desses caminhos e descaminhos sobre o tema, aliás, que Pedro Duarte apresentará suas hipóteses e estruturará sua escrita. Professor do departamento de filosofia da PUC-Rio, o autor faz, nos primeiros capítulos, uma apresentação sucinta, porém esclarecedora, dos fundamentos críticos de sua leitura. Em um primeiro movimento, Duarte aproxima nosso modernismo de uma de suas especialidades como pesquisador: o romantismo alemão. Sua estratégia visa mostrar que, assim como no período de Novalis, Schlegel ou Hölderlin, o modernismo brasileiro tinha que, simultaneamente, dar conta de sua atualização frente à modernidade europeia e propor, por meio da arte e do pensamento crítico, uma perspectiva específica nas suas limitações históricas e nos seus dilemas locais. Citando Pedro Duarte, “a brasilidade, se existisse, seria tanto descoberta quanto criada”. Partindo desse mote de uma “brasilidade” como face estética e crítica do nosso modernismo, o autor propõe que pensemos o período, suas obras e seus participantes a partir dessa missão de duplo viés: a formação (e aí temos o romantismo alemão como um possível modelo comparativo) e a revolução (de acordo com os termos das vanguardas artísticas e políticas da época). Ambos servem como motores para entendermos os aspectos estéticos e críticos da atuação do grupo de artistas e intelectuais de São Paulo e, posteriormente, do Brasil. Claro que, como o próprio autor aponta, o debate não se esgota neste par, já que há também a dimensão da investigação de cunho sociológico e
antropológico (sobre o Brasil e sua sociedade, principalmente) como desdobramento incontornável da aposta modernista em reinventar um país tanto de fora para dentro (a influência cosmopolita internacional) quanto de dentro para fora (nossa contribuição para o mundo). Após definir sua abordagem na articulação produtiva desses dois vetores – formação (de uma “identidade nacional”, de um campo moderno da arte, de um perfil profissional do intelectual no país etc.) e revolução (de costumes, do uso da língua, das formas artísticas etc.) –, o livro amplia sua proposta ao destacar que o modernismo, em seus discursos e práticas, nos apresenta uma situação única até então, ao articular em sua história a estética (obras), a política (polêmicas) e a filosofia (teorias críticas sobre a arte e o país). Indo além, Pedro Duarte sugere que, no bojo do movimento, o espaço privilegiado em que todas essas dimensões funcionaram em conjunto foram os manifestos. O caráter híbrido desses textos procura articular, como poucos, um conteúdo e uma forma – e, de preferência, ambos transgressores do cânone em voga. É um suporte perfeito para que a formação e a revolução se imponham simultaneamente. Difusão profética de novas ideias, retórica impositiva e messiânica, transformação radical do estabelecido e uma escrita de invenção – estes são os aspectos quase sempre presentes nos manifestos das vanguardas que inspiraram o modernismo de 22 e os seus desdobramentos. O autor nos mostra, através de alguns dos principais manifestos do movimento, como a política, a estética e a filosofia pulsaram em toda sua potência. É nos manifestos – não só nos mais conhecidos “Pau Brasil” e “Antropófago”, de Oswald de Andrade mas em outros, publicados em revistas como “Klaxon”, “Verde”, “A Revista”, “Estética” – que temos as múltiplas dimensões da “Palavra Modernista” em questão. Aliás, para o autor, o manifesto é “a palavra modernista por excelência”. O livro, portanto, sugere uma série de caminhos de investigação a partir da escrita modernista. Se o manifesto seria a forma por excelência dessa escrita, Pedro Duarte também ressalta o papel mais amplo e fecundo dos modernistas na abertura da língua e de seus usos, na análise de poemas e obras decisivas para nossa história da arte. O autor também utiliza com destreza fontes centrais sobre o tema, como as correspondências de Mário de Andrade (sempre uma espécie de contrapeso privado do que ocorria em querelas públicas), os artigos em jornais da épo-
ca, a vasta fortuna crítica disponível e as dissonâncias críticas que atravessam a história do movimento. Frescor A obra consegue apresentar o modernismo como um tema fresco e contemporâneo, tornando a leitura convidativa para o leigo e instigante para o especialista. Através das páginas de “A Palavra Modernista”, percorremos um período denso de fatos, nomes e obras, porém sem a sensação de que estamos perdendo o fio das hipóteses centrais propostas pelo autor. A alegria modernista materializa-se, no fim das contas, no entusiasmo de uma leitura e de uma escrita que cativa, provoca e faz pensar. É para essa alegria, por fim, que o autor apresenta uma leitura original em seus últimos capítulos. Primeiro, situando o seu par negati-
vo, a “tristeza” – essa sim tematizada pelo clássico do ensaísta (e um dos atores principais do Modernismo de 1922) Paulo Prado. Em seu “Retrato do Brasil” (1928, contemporâneo, portanto, ao “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade), Prado faz sua célebre síntese da formação do brasileiro através de quatro eixos interpretativos: a luxúria, a cobiça, o romantismo e a tristeza. Pedro Dutra, ao escavar a máxima “a alegria é a prova dos nove”, presente no “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade e título do seu último (e talvez melhor) capítulo, nos mostra como ela não só contrasta a conclusão de Prado como encaminha também uma resposta enviesada à “Estética da Vida” (1921), texto referência de Graça Aranha. Na obra, o conferencista de abertura da Semana de 22 proclama a alegria como um dos resultados da arte moderna brasileira. O termo, retirado por sua vez de Spinoza, indica um “bom encontro” e nos leva, segundo Duarte, a pensar nossa relação com o mundo. A antropofagia seria essa ferramenta que, ao nos fazer buscar o mundo como alimento e matriz inventiva do que é “brasileiro”, proporciona os bons encontros e nos abre
para a vida estética, crítica e, por que não, delirante do mundo moderno. Talvez, nos dias atuais, reivindicar a alegria e o delírio como possibilidades de pesquisa e pensamento sobre nossa história soe fora de tom. Mas se, como canta um dos compositores citados por Pedro Duarte em seu livro, “amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria que se possa imaginar” (canção de Guilherme Arantes, famosa na voz de Caetano Veloso), não podemos esquecer que as promessas modernas (e modernistas) de futuro permanente deste país – e do mundo – sejam feitas também sob o signo dessa “louca alegria”. Afinal, já é hora de os modernistas merecerem ter, entre os legados de suas obras e trajetórias, a exaltação crítica do nosso “estado permanente de invenção”.
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Reportagem
3 Pelos olhos de Missie A princesa russa que viu e narrou o Reich RESUMO Nobre nascida na Rússia no ano da Revolução, Marie Vassiltchikov, ou Missie, cresceu no exílio. Trabalhando para o governo alemão, ela registrou, nos “Diários de Berlim 1940-1945”, que a Boitempo lança neste mês, os bastidores da Segunda Guerra, com destaque para a tentativa de matar Hitler na Operação Valquíria.
GEORGE VASSILTCHIKOV TRADUÇÃO FLÁVIO AGUIAR
A autora deste diário, Marie (“Missie”) Vassiltchikov, nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 11 de janeiro de 1917. Morreu de leucemia, em Londres, em 12 de agosto de 1978. Era a quarta criança (terceira filha) numa família de cinco. Seus pais, o príncipe Illarion e a princesa Lydia Vassiltchikov, deixaram a Rússia na primavera de 1919, e Missie cresceu, como refugiada, na Alemanha, na França, onde foi à escola, e na Lituânia (que entre 1918 e 1940 foi uma república independente), onde a família de seu pai tivera uma propriedade antes da Revolução e onde, ao final da década de 1930, ela trabalhou como secretária da Legação Britânica. O começo da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, encontrou-a na Alemanha, onde, com sua segunda irmã, Tatiana (agora princesa Metternich), passava o verão com uma amiga de infância de sua mãe, a condessa Olga Pückler, na casa de campo desta, o palácio Friedland, na Silésia. O resto da família achava-se espalhado: os pais e o irmão mais novo, George (“Georgie”), viviam na Lituânia; a irmã mais velha, Irena, em Roma. O irmão mais velho, Alexander, de 27 anos, morrera de tuberculose na Suíça, um pouco antes, naquele mesmo ano. Depois da depressão econômica do começo dos anos 1930, era praticamente impossível para um estrangeiro conseguir autorização para trabalhar em qualquer uma das democracias do Ocidente. Apenas na Itália fascista e (mais ainda) na Alemanha nazista o desemprego fora grandemente superado graças a programas públicos de trabalho e, é claro, pelo rearmamento. Possuindo as qualificações necessárias, somente nesses países seria possível para pessoas apátridas (como as garotas Vassiltchikov) ganharem a vida. Em janeiro de 1940, as duas
irmãs mudaram-se para Berlim, à procura de trabalho. O diário de Missie começa com a chegada de ambas à capital alemã, onde, durante o primeiro inverno da guerra, à parte os blecautes e o severo racionamento de comida, a vida ainda era surpreendentemente “normal”. Apenas com a invasão alemã da Dinamarca e da Noruega, em abril daquele ano, a guerra e seus esperados horrores, e logo seus desafios éticos, foram ascendendo ao primeiro plano, até dominarem tudo mais. Embora não fosse cidadã alemã, graças à falta de linguistas qualificados, Missie logo achou trabalho: primeiro, no Serviço de Rádio, depois no Departamento de Informações do Ministério do Exterior. Neste, ela trabalhou de perto com um dos núcleos duros dos resistentes antinazistas que viriam a se envolver ativamente no que passou para a história como Conspiração de 20 de Julho. A sua descrição dia a dia, às vezes hora a hora, da fracassada tentativa do conde Von Stauffenberg para matar Hitler e do reinado do terror que se seguiu (no qual muitos de seus amigos mais próximos ou conhecidos pereceriam) é o único diário conhecido que dá um testemunho ocular do que aconteceu. Tendo escapado afinal das ruínas da Berlim bombardeada, ela viria a passar os últimos meses da guerra trabalhando como enfermeira num hospital de Viena – de novo sob o bombardeio dos Aliados. Missie escrevia seu diário de modo compulsivo. Diariamente ela datilografava um sumário dos acontecimentos. Apenas as narrativas mais longas, como a dos bombardeios de Berlim em novembro de 1943, foram escritas “ex post facto”, embora imediatamente depois dos eventos. O diário foi escrito em inglês, língua com que tinha familiaridade desde criança. As páginas datilografadas eram guardadas num arquivo em seu escritório, escondidas entre relatórios oficiais. Quando o material se tornava volumoso demais, ela o levava para casa e o escondia por lá ou, às vezes, em casas de campo que estivesse visitando. No começo isso era feito tão ostensivamente que mais de uma vez algum de seus superiores disse: “Vamos lá, Missie, ponha seu diário de lado e trabalhe um pouco”. Ela tomou precauções mais sérias apenas quando começou a anotar o plano do 20 de Julho. A narrativa desse período era escrita numa taquigrafia pessoal que ela transcreveu somente depois da guerra. Embora ela tivesse de abandonar várias casas por causa dos bombardeios, e, mais para o fim da guerra, de fugir da Viena sitiada para salvar a vida, muito do diário sobreviveu, incluindo as passagens historicamente mais essenciais. Faltam apenas partes de 1941 e 1942, e do começo de 1943.
Estas foram deliberadamente destruídas ou se perderam – ou ainda se encontram fora de alcance no presente. Pouco depois do fim da guerra, Missie datilografou as partes em taquigrafia e redatilografou todo o restante. Essa segunda versão ficou intocada por mais de um quarto de século, até 1976, quando, depois de muita reflexão e muita insistência por parte de familiares e amigos, ela afinal se decidiu a tornar público seu diário. Assim mesmo, ela fez questão de cortar muito pouco do conteúdo e nada mudar de substancial. Todas as modificações se referiram à linguagem, ou ao trabalho comum de edição, ou ainda à troca de iniciais por nomes completos. Ela acreditava firmemente que qualquer valor que seu diário tivesse se deveria ao fato de ser completamente espontâneo, honesto e escrito sem reservas, uma vez que originalmente não se destinava à publicação. Seus testemunhos oculares, suas reações e emoções no calor da hora falavam por si mesmos: essa era sua impressão. Tudo perderia muito de seu interesse se algo fosse adulterado por um juízo posterior aos eventos, sem falar na possibilidade de (auto)censura para preservá-la de constrangimentos ou poupar os sentimentos de outras pessoas. Essa versão do diário – a terceira e definitiva – ficou pronta apenas algumas semanas antes de sua morte. O leitor poderá ficar estupefato diante da atitude algo ambígua de Missie com relação à guerra em geral, os contendores, os alemães, os Aliados, a Rússia, a União Soviética e seus compatriotas russo-soviéticos (que, a propósito, ela sempre considerou como tais). Mas sendo, como todos nós, uma sincera patriota russa, ela nunca sucumbiu à tentação de identificar a Rússia e os russos com a URSS e o regime bolchevique-soviético e seus representantes oficiais. Ela rejeitava enfaticamente o nazismo e também o comunismo, e pelas mesmas razões. Assim, por exemplo, quando se refere aos sofrimentos do povo russo ou a seu heroísmo, ela usa instintivamente o termo “russo”. Da mesma forma como escreve instintivamente o termo “soviético” ao se referir às ações mais iníquas da URSS. E sua rejeição de ambos os sistemas, o nazista e o comunista, tinha raízes mais arraigadas do que apenas políticas. Era profundamente moral e ética. Porque, se aquilo que os alemães estavam fazendo na Rússia provocava-lhe indignação – como a qualquer patriota russo –, o mesmo acontecia em relação à perseguição dos judeus praticada pelos próprios nazistas na Alemanha e por seus cúmplices nos territórios ocupados. E o mesmo acontecia diante dos atos de violência praticados pelo Exército Vermelho e o NKVD na Europa Oriental e nas zonas alemãs ocupadas
pelos soviéticos. O seu chefe no Ministério de Relações Exteriores, Adam von Trott (que seria enforcado pelos nazistas), escreveu numa carta à esposa o seguinte sobre Missie: “Há nela algo [...] que lhe permite pairar muito acima de tudo e de todos. Isso, claro, é um pouco trágico, até mesmo quase inquietante”. Trott identificava de modo correto o dilema de Missie na última guerra; apesar de sua sensibilidade em relação a tudo que fosse russo, para ela, que já vivera em vários países e tinha amigos de muitas nacionalidades, não valiam conceitos como “alemão”, “russo” ou “aliado”. Havia apenas “seres humanos”, “indivíduos”. Estes, ela os dividia em dois tipos: os “decentes”, que mereciam respeito, e os “não decentes”,
que não o mereciam. Ela confiava e se tornava amiga apenas dos primeiros, e reciprocamente. Isso explica por que, embora não fosse uma alemã, ela mereceu a confiança daqueles que planejavam o ultrassecreto atentado contra Hitler de 20 de julho de 1944. Também explica o contínuo sucesso que seu livro encontrou entre os leitores dos países onde foi publicado, bem como o fascínio incontornável por sua personalidade, até hoje, meio século depois dos eventos que ela descreve. Uma das recompensas mais afetuosas que recebi, enquanto preparava o original de minha irmã para publicação, foi a pronta resposta e a assistência em tudo (além de, ocasionalmente, a hospitalidade) de todos que procurei, atrás de
informações pessoais ou de fundo que se acrescentassem a ele. Isso se referiu ainda a esclarecimentos, fontes ou material fotográfico e tanto por parte de quem tinha conhecido Missie pessoalmente quanto por parte daqueles que não a conheceram. Em alguns dos casos, isso implicava avivar lembranças que as pessoas tinham tentado arrancar da mente, não importa quão admiráveis fossem suas atitudes políticas ou seus comportamentos pessoais naqueles dias de trevas; sua generosidade é digna do maior apreço. NOTA: Este prefácio foi escrito pelo irmão de Missie para a versão em livro dos diários. Por questão de espaço, as notas originais foram suprimidas ou adaptadas para esta edição da “Ilustríssima”.
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A russa Marie Vassiltchikov, ou Missie, na época em que escreveu os ‘Diários de Berlim’
Quinta-feira, 20 de julho MARIE VASSILTCHIKOV TRADUÇÃO FLÁVIO AGUIAR
Hoje à tarde eu e Loremarie Schönburg estávamos conversando, sentadas na escadaria do escritório, quando Gottfried Bismarck irrompeu, com as maçãs do rosto completamente afogueadas. Eu nunca o vira em tal estado de febril excitação. Primeiro ele puxou Loremarie à parte, e então me perguntou quais eram os meus planos. Disse-lhe que eles estavam em aberto, mas que eu gostaria de fato de sair do AA [sigla para Auswärtiges Amt, Ministério das Relações Exteriores] logo que possível. Ele me disse que eu não deveria me preocupar, que tudo se arranjaria dentro
de poucos dias e que todos nós ficaríamos sabendo o que aconteceria conosco. Logo depois de nos pedir que fôssemos para Potsdam assim que possível, ele voltou para o seu carro e se foi. Retornei ao escritório e liguei para Percy Frey, na Legação Suíça, para desmarcar o jantar que eu combinara com ele, já que eu preferia ir para Potsdam. Enquanto esperava [que a telefonista completasse a ligação], voltei-me para Loremarie, que estava ao pé da janela, e perguntei-lhe por que Gottfried estava tão alterado. Seria a Konspiration? (Tudo isso com o fone na minha mão!) Ela
sussurrou: “Sim! É isso! Está feito! Hoje de manhã!”. Nesse momento Percy atendeu. Ainda com o fone na mão, eu perguntei: “Morto?”. Ela me respondeu: “Sim, morto!”. Eu pus o fone no gancho, segurei-a pelos ombros e começamos a valsar pela sala. Lançamos mão de alguns papéis, enfiei-os numa gaveta, e gritando para o porteiro que estávamos “dienstlich unterwegs” [“saindo a serviço”], saímos correndo para a estação do Zoo. No caminho para Potsdam ela me contou, sussurrando, todos os detalhes e, embora o vagão estivesse lotado, nem tentamos ocultar a nossa excitação e alegria.
O conde Claus Schenk von Stauffenberg, um coronel do Estado-Maior, colocara uma bomba aos pés de Hitler durante uma conferência no QG de Rastenburg, na Prússia Oriental [hoje território polonês]. Ela explodira, e Hitler estava morto. Stauffenberg esperara do lado de fora pela explosão e, vendo Hitler carregado numa maca e coberto de sangue, correra para o seu carro, que ficara escondido em algum lugar, e com seu ajudante de campo, Werner von Haeſten, fora para o campo de aviação local e voara de volta para Berlim. Na comoção geral, ninguém notara a sua fuga. Chegando a Berlim, ele foi diretamente para o OKH [quartel-general do Exército], na Bendler- strasse, que fora tomado pelos conspiradores e para onde seguiram Gottfried Bismarck, Helldorf e muitos outros. (O QG fica do outro lado do canal, em frente à nossa Woyrschstrasse.) Nesta tarde, às seis horas, seria feito o anúncio pelo rádio de que Adolf estava morto e um novo governo fora formado. O novo chanceler do Reich seria [Carl Friedrich] Gördeler, o antigo prefeito de Leipzig. Com um background socialista, ele é considerado um economista brilhante. O nosso conde Schulenburg ou o embaixador Von Hassell ocuparia o Ministério de Relações Exteriores. Minha primeira impressão foi a de que seria talvez um erro colocar as melhores cabeças num governo que poderia ser apenas provisório. Stauffenberg, de 36 anos, era relativamente recém-chegado na Resistência antinazista, tendo sido recrutado apenas em 1943. Em sua juventude, como muitos patriotas alemães, ele acreditou que Hitler era o homem certo para salvar a Alemanha das consequências desastrosas e da desonra do Tratado de Versalhes. Enquanto lutava sob as ordens de Rommel na África, ele fora gravemente ferido, perdendo uma das vistas, o braço direito e dois dedos da mão esquerda – uma deficiência que se tornaria fatal quando a hora da verdade chegasse. Em junho de 1944 ele fora designado chefe do Estado-Maior do Exército de Reserva, o assim chamado Ersatzheer, cujo vicecomandante, o coronel-general Friedrich Olbricht, era um veterano conspirador antinazista. Nessa posição, Stauffenberg tinha de fazer relatórios periódicos para o Führer em pessoa. Como nenhum outro membro da Resistência que pertencia ao círculo mais próximo de Hitler seria capaz ou concordava em assassiná-lo, Stauffenberg tomou para si a tarefa, aguardando a melhor ocasião. Duas tentativas – em 11 e 15 de julho – foram canceladas na última hora. A essa altura já se multiplicavam as prisões, mesmo entre os militares. Era claro que a Gestapo estava apertando o cerco. Quando Stauffenberg foi chamado a se apresentar de novo perante Hitler em 20 de julho, ele decidiu que desta vez, acontecesse o que acontecesse, ele o faria.* Chegamos ao Regierung em Potsdam pouco depois das seis horas. Fui me lavar, Loremarie correu para cima. Uns poucos
minutos depois, eu ouvi passos se arrastando pela escada, e ela entrou: “Houve um anúncio no rádio: ‘um conde Stauffenberg tentou matar o Führer, mas a Providência o salvou...’”. Na verdade o primeiro anúncio no rádio, às 18h25, não citava nomes. Dizia apenas: “Hoje houve um atentado contra a vida do Führer com explosivos... O próprio Führer não sofreu ferimentos, a não ser algumas queimaduras e hematomas leves. Ele retomou suas funções imediatamente e, como programado, recebeu o Duce para uma longa conversa”. Apenas no comentário subsequente havia uma menção velada sobre a autoria (“ação do inimigo”). Naquele momento Hitler ainda não se dera conta de que a bomba era parte de um plano muito maior para derrubar o regime. Somente depois que ele tomou conhecimento das tentativas de tomar o poder, em Berlim, Viena e Paris, é que teve ideia da dimensão do que estava acontecendo. Eu tomei seu braço e corremos de novo para cima. Encontramos os Bismarck na sala de visitas. Melanie tinha o rosto em estado de choque, Gottfried caminhava de um lado para o outro sem cessar. Eu tinha medo de olhar para ele. Ele acabara de voltar da Bendlerstrasse e repetia sem parar: “Não é possível! É uma brincadeira! Stauffenberg o viu morto”. “Eles” tinham montado uma farsa e arranjado um dublê de Hitler para continuála. Ele entrou no seu escritório para telefonar para Helldorf. Loremarie foi atrás e eu fiquei sozinha com Melanie. Ela começou a se lamentar: Loremarie tinha arrastado Gottfried para isso; ela o doutrinara anos a fio; se ele morresse agora, ela, Melanie, é que ficaria sozinha com três crianças pequenas; talvez Loremarie pudesse se dar àquele luxo, mas que crianças ficariam órfãs de pai? Outras, não as dela... Era horrível, e não havia nada que eu pudesse dizer. Gottfried voltou para a sala onde estávamos. Ele não conseguira falar com Helldorf, mas tinha mais notícias: a principal estação de rádio fora perdida; os insurgentes a tomaram, mas não conseguiram fazê-la funcionar, e agora ela estava de volta às mãos da SS. Contudo, as escolas preparatórias de oficiais nos subúrbios tinham pegado em armas e agora marchavam sobre Berlim. E, de fato, uma hora depois ouvimos os blindados da escola de treinamento de Krampnitz atravessando Potsdam a caminho da capital. Nós ficamos com os olhos grudados nas janelas, vendo-os passar, e rezando. Ninguém nas ruas, que estavam praticamente vazias, parecia saber o que estava se passando. Gottfried insistia em dizer que ele não podia acreditar que Hitler não fora atingido, “eles” deviam estar escondendo algo... Um pouco depois o rádio anunciou que o Führer faria um pronunciamento para o povo alemão à meia-noite. Nós nos demos conta de que apenas nesse momento poderíamos saber ao certo se tudo aquilo era uma farsa ou não. Ainda
assim, Gottfried se recusava a perder a esperança. Segundo ele, mesmo que Hitler estivesse vivo, seu QG na Prússia Oriental ficava tão longe que, se as coisas corressem bem alhures, o regime poderia ser derrubado antes que ele pudesse recuperar o controle na Alemanha. Mas nós, os demais, estávamos nos sentindo muito mal. Desde 1943 havia no QG do Exército em Berlim, na Bendlerstrasse (o assim chamado OKH), um plano de emergência chamado Valquíria, que previa medidas a serem tomadas em caso de desordens internas ou sabotagem em larga escala praticada pelos milhões – nessa altura – de trabalhadores estrangeiros na Alemanha. O plano previa um papel-chave a ser exercido pelo Ersatzheer [Exército de Reserva] e pelas unidades aquarteladas ao redor da capital – o Batalhão da Guarda em Berlim e pelas escolas de preparação de oficiais na periferia. Ironicamente, o próprio Hitler aprovara essa Operação Valquíria. Olbricht, Stauffenberg e seus camaradas de conspiração tinham acrescentado secretamente um adendo que previa a execução do plano para derrubar o próprio regime nazista, depois do que um novo regime faria a paz. Desde o começo o plano era falho em vários pontos. Para começar, dentre os principais oficiais superiores que, segundo a Operação Valquíria, estariam tomando o poder através da Europa, apenas uns poucos conheciam as verdadeiras intenções dos conspiradores. Dos outros, a começar pelo General Friedrich Fromm*, GOC Ersatzheer, de quem quase tudo dependia, esperava-se que “eles entrassem no jogo”, depois que a morte do Führer os liberasse do juramento de fidelidade a ele; em outras palavras, tudo dependia da morte de Hitler. Também era essencial que fossem interrompidas todas as comunicações de Rastenburg com o resto do mundo – para impedir que ordens de reação chegassem a seus objetivos. Por último, mas não menos importante, o presumível assassino, o próprio Stauffenberg, tinha não só de matar Hitler, mas também de voltar são e salvo a Berlim para assegurar o sucesso da Operação Valquíria. Para engrossar o caldo, o soldado alemão médio estava agora doutrinado tão pesadamente sobre disciplina que era impossível avaliar que reações ele teria diante de uma ordem de tomar o controle de algumas das instituições-chave do país. NOTA: *O general Friedrich Fromm (1888-1945) teve uma atitude ambígua perante a conspiração. Sabia dela, mas resolveu nada fazer para denunciá-la, aparentemente porque esperava ter algum posto importante caso ela tivesse sucesso. Entretanto, quando a iniciativa de 15 de julho foi abortada, ele desistiu de tomar parte nela. Em 20 de julho foi preso pelos conspiradores e, logo depois de solto pelas tropas fiéis a Hitler, mandou fuzilar alguns deles, entre eles Stauffenberg, contrariando as ordens de Hitler. A sua “pressa em desfazer-se das testemunhas”, segundo o próprio Goebbels, levantou suspeitas, e ele foi preso no dia 22. Acabou julgado e executado em março de 1945.
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Diário de Los Angeles O MAPA DA CULTURA
Adeus à casa de Bradbury Elefantes e a biografia de Kim Gordon
FERNANDA EZABELLA
A charmosa casa amarela onde o autor de “Fahrenheit 451” morou por mais de 50 anos, no bairro de Cheviot Hills, foi vendida pelo equivalente a R$ 4,8 milhões ao arquiteto Tom Mayne, vencedor do Pritzker, no ano passado. Seis meses depois, a residência sumiu do mapa, demolida por escavadeiras, para desespero de fãs e historiadores. A casa de 1937 trazia diversos móveis embutidos e azulejos de época, espalhados por três quartos. Mayne ficou “chocado” com a reação e prometeu um tributo ao autor de ficção científica, morto aos 91 anos em 2012. Diz que a nova casa terá um muro com os nomes dos livros de Bradbury. Com a residência destruí-
da, se vão os sonhos de um museu local, e os fãs terão que esperar pela abertura do Bradbury Memorial Archive, na Universidade de Indiana. A instituição recebeu da família mais de 40 anos de correspondências, prateleiras inteiras de livros, manuscritos, gravações de voz e máquinas de escrever. O centro quer recriar o escritório que Bradbury tinha no porão da casa. “Sinto falta da velha casa amarela mais do que posso dizer publicamente”, disse Jonathan R. Eller, diretor do Center for Ray Bradbury Studies. “Mas ela nunca será perdida se trabalharmos juntos para preservar sua memória”. Bradbury era entendido de arquitetura. No livro recémlançado “Ray Bradbury: The Last Interview and Other Conversations” (Melville House), ele conta como foi consultor de dois shoppings em Los Angeles, um deles justamente onde acontece o Oscar.
Quando questionado sobre como reconstruir a decadente Hollywood, ele sugeriu “gigantes pilares com belos elefantes brancos no topo, como o set do filme ‘Intolerância’ (1916, de D.W. Griffith).” Os elefantes de cimento estão lá até hoje. Vendo estrelas Hollywood and Highland é o nome do shopping com os tais paquidermes e onde fica o Dolby Theater, ex-Kodak, um teatro que já recebeu shows do Cirque du Soleil e Bob Dylan, além de ser palco das cerimônias do Oscar desde 2002. O tapete vermelho é desenrolado na frente do shopping, onde passa um trecho da Calçada da Fama, lugar sem glamour algum nos outros dias do ano. É, na verdade, uma farofada de turistas, lojas de roupas genéricas e um bando de pedintes vestidos de super-heróis. No dia 22, tudo estará higienizado para a chegada das estrelas.
Para quem quiser vê-las de perto, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas organiza uma série de encontros com alguns dos indicados à estatueta, na semana que antecede o Oscar, em sua sede em Beverly Hills. Do dia 17 ao 21, serão convidados diretores dos documentários, animações e filmes estrangeiros, além dos concorrentes a melhor maquiagem (ingressos custam US$ 5, oscars.org/ events). Já os figurinos dos longas nomeados estarão numa exposição gratuita no Fashion Institute of Design & Merchandising, entre 10/2 e 25/4. Vuitton e Taschen Outra exposição fashion
na cidade vem dos bastidores da Louis Vuitton, que abre neste final de semana num espaço temporário em Hollywood. Será uma “experiência multimídia e interativa” para mostrar aos visitantes como é criada uma coleção e como seu desfile é organizado. O tema será a coleção de primavera 2015, apresentada em outubro em Paris. Não haverá produtos à venda, e a mostra termina em duas semanas. A editora de livros de arte Taschen também ganhou um espaço expositivo, mas fixo, num galpão na esquina das ruas Beverly Blvd. e Crescent Heights Blvd. A galeria abriu no final de 2014 com uma exposição de 100 fotografias raras dos Rolling Sto-
nes, tiradas por David Bailey, Anton Corbijn e outros. As imagens estão à venda, em cartaz até dia 15, e fazem parte de um novo livro de fotografias da banda. Mais histórias do rock Kim Gordon, do Sonic Youth, lança sua aguardada autobiografia no dia 24 e é entrevistada ao vivo num encontro do Live Talks, em 5/3 (ingressos a US$ 20 em livetalksla.org/events/kimgordon). Em “Girl in a Band” (Dey Street Books), ela fala sobre como foi crescer na Califórnia dos anos 60 e 70, a mudança para Nova York nos anos 80 e o relacionamento com os homens, como Thurston Moore, de quem se separou em 2011.
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Tecnologia VIDEOGAME se embrenhando na produção de games. Autora do romance “A Vez de Morrer”, lançado no ano passado pela Companhia das Letras, ela aprendeu programação e trabalha na criação do próprio game, cujo título provisório é “Garota Promíscua”. Ela diz ser um desafio, como autora, criar uma história que também obedeça à mecânica de um jogo. “Como toda mídia, jogos contam histórias de um jeito muito próprio. Seu verdadeiro diferencial são as regras e como elas regem suas interações com a história. Além de serem um desafio, as regras espelham a vida por muitas vezes nos obrigar a escolher entre opções eticamente limitadas, racionar recursos com que gostaríamos de contar liberalmente... ou seja, a engolir sapos”.
RESUMO Histórias que conduzem videogames ultrapassam conceito de roteiro e aproximam-se de qualidade romanesca. Além de jogos ganharem mais texto, com tramas cujos rumos são decididos pelo jogador, também sua temática se aproxima do mundo literário, incorporando dilemas morais e aspectos cotidianos.
ALEXANDRE RODRIGUES
Anna acorda em um castelo numa ilha, sem a menor lembrança de como foi parar ali. Enquanto procura a saída, sua história vai ficando cada vez mais estranha. Enigmas revelam episódios da vida de Anna, e um homem misterioso aparece de vez em quando. Ao fim de seis capítulos, a trama se revela um bizarro quebra-cabeça com muito texto, como um romance. Exceto por um detalhe: “Device 6” é um videogame. Uma nova geração reinventou formatos e temas dos videogames, dotando-os de recursos mais comuns à literatura. Ao contrário das narrativas cinematográficas que tornaram os videogames grandiosos e colocam os jogadores dentro de verdadeiros filmes, a inspiração quase intimista de games como “Device 6”, “Dear Esther”, “The Walking Dead” e “The Novelist” está nos livros e nas possibilidades de contar uma história. “Eu não acho que existam limites”, diz Simon Flesser, sueco que é um dos criadores de “Device 6”, vendido apenas para iPad, iPod Touch e iPhone [Simogo, disponível na AppStore por US$ 3,99, aproximadamente R$ 10,70]. Para escrever o jogo, ganhador do Apple Design Award no ano passado, ele diz ter se inspirado em Franz Kafka, Agatha Christie e Lewis Carroll, além de na série clássica de TV “O Prisioneiro” e nos filmes de Alfred Hitchcock. A produtora sueca Simogo, formada por ele e Magnus Gordon, também é responsável por outro jogo inusitado: “Year Walk”, inspirado numa lenda do folclore do país. No caso de “Device 6”, o ato de jogar é mesmo muito semelhante ao de ler um livro. O game usa textos, imagens e sons para ajudar a protagonista a resolver o enigma e fugir da ilha. A diferença é que o texto vem de qualquer direção. Pode aparecer na horizontal, de cabeça para baixo, vindo de baixo ou do alto do cenário. Se Anna vira uma esquina, por exemplo, o texto a acompanha. O jogador precisa movimentar o aparelho para fazer o cenário se mexer. Pelas possibilidades inovadoras, a revista norte-americana “The Atlantic” saudou o jogo como uma possível revolução para a indústria editorial. Tramas A simbiose entre videogames e literatura não é nova. “Dante’s Inferno”, de 2010, foi inspirado na “Divina Comédia”. Há também dezenas de jogos, novos e antigos, baseados em tramas de Agatha Christie e em romances como “O Poderoso Chefão”, “Alice no País das Maravilhas” e “O Grande Gatsby”. No sentido contrário, jogos de suces-
Imagem para pôster do jogo ‘Device 6’
Invasores do 5 espaço literário As complexas narrativas da nova geração de jogos eletrônicos
so como “Assassin’s Creed” e “Halo”, entre outros, viraram livro. E há associações inusitadas. O primeiro “BioShock”, um sucesso de vendas e crítica de 2009, passado numa cidade submersa, é inspirado nos escritos da russo-americana Ayn Rand (1905-82) sobre a liberdade individual. Em geral, porém, adaptações para games costumam oferecer não mais do que tênues referências ao universo dos livros aos quais aludem. Em “O Grande Gatsby”, lançado em 2011, por exemplo, não há na trama nada que se refira a decadência, idealismo e revolta social – a diversão é fazer o personagem Nick Carraway atirar coquetéis nos garçons que passam carregando bandejas. O que distingue alguns jogos da nova geração é o fato de que suas tramas acedem a temas pouco usuais no universo dos games e mais comumente associados às narrativas literárias: dramas familiares, zonas cinzentas entre o bem e o mal, exploração da liberdade, moralidade, solidão, capitalismo selvagem e nostalgia, entre outros. Dilemas morais, por exemplo, são o tema principal de “The Walking Dead” [Telltale Games; de US$ 4,99 a US$ 19,99, de R$ 13,57 a R$ 54,38 aproximadamente, cada episódio, ou R$ 45 a temporada inteira, segundo a plataforma], inspirado na HQ do escritor Robert Kirkman e do ilustrador Tony Moore que deu origem
à série de TV. O videogame usa elementos de “adventure” (nome dado ao gênero de jogos centrados na história), mas gira em torno, principalmente, de tomadas de decisões. Algumas são fáceis, como praguejar ou não na frente de crianças. Outras, mais difíceis: discutir ou sacar logo a arma diante de um estranho ameaçador? Deixar um adolescente de caráter duvidoso morrer? Matar um filho, mordido pelos zumbis, na frente do pai? A fórmula não funciona somente com um apocalipse zumbi ou em jogos de mistério. Que tal o drama de um escritor estressado e os limites da criação literária? Em “The Novelist” [Orthogonal Games, US$ 14,99, aproximadamente R$ 40,85, no site do desenvolvedor], de 2013, o jogador é um fantasma que explora as memórias e sonhos da família de Dan Kaplan, o escritor que precisa terminar o romance mais importante da sua carreira. Algumas vezes não é agradável viver no jogo o dilema entre o trabalho e ser um pai e um marido melhor. É praticamente impossível não se afeiçoar à família Kaplan e sofrer com seus problemas. “Sem dúvida, há um espaço imenso para ser explorado nesta área. Games são interativos e podem criar uma experiência diferente para cada jogador”, diz Kent Hudson, criador de “The Novelist”. “Literatura e filmes podem, claro, criar experiências para as quais diferentes
espectadores dão diferentes interpretações; mas todas essas interpretações vêm de uma mesma fonte. Em ‘The Novelist’, os capítulos se sucedem de maneira aleatória e reagem às escolhas do jogador. Isso aprofunda a experiência, tornando-a mais pessoal”. No mesmo gênero de “The Novelist”, “Gone Home” [Fullbright, US$ 19,99, aproximadamente R$ 54, no site gonehomegame. com] é sobre uma escritora fracassada que tem de descobrir, após se deparar com o lar vazio, onde foi parar sua família disfuncional, enquanto a trama revela detalhes sobre sua personalidade. Mesmo “blockbusters” da geração anterior se mostram, em suas novas versões, afetados pelos aspectos inovadores dos games mais recentes. “BioShock Infinite”, de 2013, é uma história sobre autoconhecimento, que apresenta o que tem sido chamado convencionalmente de “narrativa madura” – aquela que não tem (muitos) tiros e traz especulações filosóficas. Já “Dear Esther” [The Chinese Room, US$ 9,99, aproximadamente R$ 27 no site dear-esther.com], lançado em 2008 e depois reformulado seguidas vezes até uma versão definitiva, de 2012, reduz o papel do jogador a um grau tão mínimo – não há missões a cumprir, vidas, barras de energia ou fases a conquistar – que alguns críticos ainda discutem se ele pode mesmo
ser classificado como um videogame. Sua narrativa epistolar e fragmentada é um romance visual ambientado numa ilha fictícia no litoral escocês, que o jogador precisa explorar, sendo obrigado às vezes a parar para ouvir a narração de um diário. A sensação, por vezes, é de estar dentro de um fluxo de consciência, recurso que marca uma parte importante da literatura moderna. Ofício As possibilidades literárias ainda não levam multidões de escritores de ofício às produtoras. Um dos poucos famosos a se unir à indústria foi Tom Bissell. Autor de “Extra Lives: Why Video Games Matter” (Vidas extras: por que videogames importam), ele colaborou com “Gears of War 2”, jogo cujos diálogos somam 250 mil caracteres. Bissell defendeu por anos a ideia de que escritores eram os mais indicados para desenvolver games. Mas mudou de ideia. “Eu pensava que os jogos eram potencialmente um grande meio de contar histórias, e que escritores idiotas estavam ferrando com tudo. Não acredito mais nisso. Qualquer que seja o propósito desse meio, não é contar histórias”, disse à revista “The New Yorker”. Contatado, ele declinou dar entrevistas, dizendo-se afastado no momento do mundo dos jogos. No Brasil, a carioca Simone Campos desponta como exemplo de escritor que vem
Narrativa Mas será que videogames algum dia poderão ser chamados de literatura? “Na verdade, a narrativa ‘literária’ foi um dos primeiros formatos dos games”, explica o escritor Daniel Pellizzari, autor de “Digam a Satã que o Recado foi Entendido” (Companhia das Letras), e ex-colunista de games da Folha. “Os ‘adventures’ em texto, um dos principais gêneros em termos de vendas na primeira metade dos anos 80, eram praticamente livros interativos. A qualidade do texto variava demais, mas há clássicos muito bons, especialmente da Infocom: o do ‘Hitchhiker’s Guide’ [‘Guia do Mochileiro das Galáxias’] foi escrito pelo próprio [autor do livro,] Douglas Adams.” No entanto, com o avanço dos gráficos, aos poucos a narrativa literária foi trocada pela tentativa de imitar o cinema. Uma evolução gigante para um gênero que nasceu com jogos como “Pac Man” e “Space Invaders”, em que a história, se existia, não importava. Para David Lemes, professor de tecnologia e jogos Digitais da PUC-SP e editor do GameReporter, primeiro blog brasileiro especializado em games, a sofisticação narrativa acompanha não só gráficos e processadores, que tornaram computadores e consoles mais potentes, mas também o contexto econômico. “’Pac Man’ e ‘Space Invaders’ surgiram em uma época onde os ‘arcades’ [conhecidos no Brasil como fliperamas] estavam se popularizando. Tinham que ser jogos nos quais o jogador não ficasse muito tempo jogando, deveria perder todas as suas ‘vidas’ rapidamente para comprar outra ficha e jogar outra partida. Era um modelo de negócio da época. Você jogava em pé, em um local público, por alguns minutos”. Contudo, acrescenta Lemes, depois que o videogame “tomou a sala de estar das famílias”, fase iniciada com o Atari, o tempo de uma partida pôde ser aumentado: o jogador estava, afinal, no “conforto do lar”. Novas categorias de jogos nasceram, com as grandes aventuras; partidas que poderiam levar dias e dias para acabar. “Hoje, a grande maioria dos games, por mais simples que seja, traz consigo uma estrutura narrativa complexa”, frisa. Na Grécia antiga, os épicos eram narrados na forma de canções. A história jamais era contada da mesma maneira, porque seus narradores tinham de recorrer apenas à memória. A experiência desses novos videogames, de certo modo, remonta à tradição oral na cultura ocidental. Como a trama se renova a cada partida, na Antiguidade cada narrativa era uma experiência pessoal do ouvinte. Só não tinha “game over”.
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Imaginação PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
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O porto
RESUMO Os trechos acima que formam uma pequena narrativa são fragmentos do mais recente livro da escritora e roteirista paulistana de 26 anos. A obra, que está entre prosa e poesia, busca brincar com gêneros.
LEDA CARTUM ILUSTRAÇÃO ALEXANDRE TELES
1. O dia todo tinha sido enorme – e a cidade ecoava no nosso corpo com suas cores mornas, os bustos e as galerias: parecia que dava para pegar com as mãos o que se formava no ar. Mas depois, quando nos calamos, de costas eu percebi um estranhamento crescer entre nós e se instalar perverso no escuro. Era como um bicho do mato que entrou sem avisos no quarto de hotel: enquanto deixávamos de nos olhar e nos afastávamos do contato, progressivamente também perdíamos o que tínhamos sido juntos e uma ignorância mútua ganhava lugar. Daí tomei coragem e acendi a luz do abajur do criado-mudo – numa curva dos pescoços voltamo-nos um para o outro: tudo aquilo que construímos se desfez em um segundo, e nos descobrimos completos desconhecidos. A intimidade que até então dispensava o cálculo e desmedia os gestos nessa noite desapareceu: e o que sobrou fomos nós dois sós. Encaramo-nos por muito tempo, mas apenas porque estávamos tão constrangidos que não sabíamos como desviar o olhar. Procurávamos algum traço familiar, qualquer expressão ou movimento que devolvesse o conhecimento perdido – e como não encontrávamos, nada surgia para dar conta da vergonha dos nossos corpos nus. Pude te ver naquela noite como se nunca tivesse te visto antes: como se te visse passando pela rua. Te vi de longe, de muito longe, e com a certeza de que esqueceria do teu rosto assim que te perdesse de vista. Mas somos pessoas longas. Foi algum tempo, foram minutos, até que o ar marrom avermelhado transbordasse da janela de Florença – e despertamos de um sono líquido, e chacoalhamos a cabeça: nos reconhecemos de pronto, nos deitamos e deixamos, entrançados e cansados.
2. Tudo se dispersa entre as horas seguintes àquelas que duram. Tudo o que dura depois derrama no escuro e encharca as roupas secas e a toalha do banheiro. Faz muito tempo que era ontem e estávamos em outro país: no intervalo de um dia inteiro e de um oceano chamado Atlântico voltamos para casa. Tudo chegou cheio de um cheiro forte que não estava aqui antes. À noite, quando a cama antiga nos recebeu, uma voz pouco a pouco cercou o sono e nunca mais foi embora. Procurei nas malas desfeitas e sob as fronhas dos travesseiros, mas não encontrei nada ainda.
3. O percurso de volta é muito mais curto do que o de ida: já se conhece o caminho traçado e não sobraram expectativas além daquelas que se cumpriram. No entanto voltar demanda tanto mais tempo do que a partida – é preciso enfrentar todos os monstros da memória para aportar de novo. É preciso encontrar o que se tinha sido e reconhecer o que se abandonou: é também necessário perder uma a uma todas as tardes daquela viagem, que ficarão espalhadas no meio da casa em constante desordem. A volta se costura minuciosamente e depois desmancha ponto por ponto, como a busca que ainda não sabe qual é o objeto que está perseguindo.
4. Uma viagem traça um arco no espaço. Como pode haver outro tempo além desse que me chama? Como pode ser diferente se escuto com o corpo a madrugada de hoje? O que é que segue correndo mesmo quando já não posso mais alcançar com os olhos? O que sobrou daquele pedaço de terra que deixei? Onde estão todos os dedos que se enroscavam na areia? Hoje não são mais que dez e da areia só sinto o cheiro impregnado no espaço. Amor é o que arrisca tudo em um chamado repetido e sem sentido.
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Banda Faith No More no Rock in Rio (92) 3090-1042
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PARA FUGIR DA FOLIA
Artistas e produtores culturais revelam suas estratégias para se afastar do Carnaval e encontrar outras formas de passar esse período, entre elas viajar, sair para jantar ou aproveitar um tempo em família ARQUIVO EM TEMPO
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
CARNAVAL
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O artista independente Francisco Rider prefere se divertir em casa SÉRGIO RODRIGUES Especial EM TEMPO
C
om a época de Carnaval, a programação cultural da cidade fica limitada aos blocos de rua e aos desfiles das escolas de samba. Porém, nem todos são amantes do samba-enredo, multidões e trios elétricos que tomam conta das avenidas. Há um público que prefere fugir da folia e encontrar sua própria tribo, ou aproveitar o feriado prolongado e realizar uma viagem. O DJ e produtor cultural Douglas Mandrake possui uma opinião definitiva sobre o assunto. “Não gosto de Carnaval”, diz. “Não saio para os blocos, nem para o sambódromo. Não curto a música, mas também não tenho nada contra quem é fã. Nessa época, gosto de procurar eventos que são mais a minha cara e, como sou produtor cultural, acabo eu mesmo planejando esses eventos”, explica. Para abrigar o público “anticarnaval”, Mandrake organizou a “Confraria dos Hereges”,
que tem foco no rock autoral da cidade. Neste ano, a sétima edição do evento aconteceu ontem e foi uma alternativa para o final de semana. “O público roqueiro de Manaus cresceu muito nos últimos anos, assim como o espaço para as bandas autorais que encontram espaço nas casas noturnas. Acho que, fora isso, o que eu consigo aproveitar é o feriado prolongado. É muita alegria para o meu gosto”, brinca o produtor. Buscar lazer em casa também não é uma opção a ser descartada. O artista independente Francisco Rider também compartilha das preferências de Mandrake e não se anima tanto com os eventos carnavalescos. “Manaus ainda não oferece opções muito diversificadas para eventos alternativos. Não há espaços como um cinema de arte, ou uma variedade de espetáculos que fujam mais do sentido comercial. As opções que a cidade oferece são mais relacionadas a barzinho, o que não gosto muito. Prefiro, então, procurar me divertir em casa”.
O cartunista Romahs aproveita o Carnaval para se reunir com a esposa e a filha
Filmes que não chegam aos circuitos locais, bons livros, um bom restaurante e até a visita de um amigo são as opções que o artista aconselha. “Eu até vejo um pouco dos desfiles das escolas pela TV, mas não fico entretido da primeira até a última alegoria. Acredito que
OPÇÃO
Douglas Mandrake revela que não gosta de Carnaval e opta por procurar eventos que têm a ver com ele. “E, como sou produtor cultural, acabo eu mesmo planejando esses eventos”
o carnaval tornou-se muito high-tech, tenho sempre o olhar crítico sobre o evento e ele não me agrada muito. Acho que é possível fugir um pouco disso mesmo estando em casa”. Para outros, o feriado de Carnaval é uma oportunidade de colocar a cabeça no lugar
e renovar as energias. Há dois anos, o diretor do Casarão de Ideias, João Fernandes, se ausenta da brincadeira para descansar em cidades litorâneas. “Eu emendo o ano trabalhando, organizando e planejando espetáculos, e o Carnaval me dá essa chance de dar um tempo e pensar o que vou fazer daqui pra frente. Neste ano vou para Fortaleza e fico até o final do feriado”, diz. Além do descanso, João também alega que os eventos de carnaval perderam um pouco da qualidade nos últimos anos. “Não tenho nada contra, já brinquei muito. Mas acho que hoje em dia, nas bandas e blocos de rua, toca tudo menos música de Carnaval. Particularmente, prefiro brincar de um jeito mais clássico, com as marchinhas tradicionais. De qualquer forma, viajar é uma ótima opção para quem deseja fugir do barulho e encontrar um tempo antes do ano realmente começar”, afirma. É possível também brincar carnaval de uma maneira mais tímida. O cartunista Romahs
Mascarenhas revela que gosta de usar o tempo de Carnaval para ficar mais próximo à família e encontrar os amigos. “Embora eu trabalhe em casa, como free-lancer e também contribuindo com o Maurício de Sousa, a minha esposa vai para a faculdade e minha filha para a escola, nem sempre estamos reunidos para nos divertir. Com o Carnaval podemos fazer isso”. Adepto ferrenho da banda do bar Caldeira, Mascarenhas acredita que a época de carnaval pode agradar a públicos variados. “Se você não tem nada contra a brincadeira, acaba achando algo para se encaixar. Também não gosto de multidões, mas acabo indo na banda do Caldeira porque faço parte do grupo de artistas que congregam lá. O local não propicia aglomerações e a brincadeira é mais clássica, com samba antigo e marchinhas. Além disso, gosto de me reunir na casa de amigos para conversarmos e brincarmos.O Carnaval também pode ser aproveitado do seu jeito”, indica. IONE MORENO
O diretor do Casarão de Ideias, João Fernandes, não curte o repertório dos blocos de rua de hoje em dia e prefere viajar para cidades litorâneas
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Estética militar inspira novas coleções de moda
Desfile de roupas esportivas do rapper Kanye West para a Adidas foi um dos destaques da Semana de Moda de Nova
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ova York, EUA – Faz -2°C em Nova York, mas a sensação térmica é de -25°C, tanto nas ruas cobertas de neve quanto nas passarelas montadas no prédio do Lincoln Center, onde ocorrem desde quinta (12) os primeiros desfiles da temporada outono-inverno 2015/2016 da semana de moda internacional. Pouca moda e muita ostentação foram o mote dos primeiros desfiles, que tiveram como destaque a aparição da atriz americana Katie Holmes (ex de Tom Cruise) e a nova coleção do rapper Kanye West para a grife alemã Adidas, com Beyoncé, Justin Bieber e a mulher do rapper, Kim Kardashian, na primeira fila. West criou roupas esportivas recheadas da estética militar que deve ser a base do próximo inverno no hemisfério Norte. Leggings, bermudas e casacos puídos são referências, diz o neoestilista, aos protestos de Londres em 2012. Na nova colaboração, o rapper, que enveredou por uma desastrada incursão na moda há três anos, parece querer provar que é multifuncional como seus colegas da música. Pharrell Williams, por exemplo,
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cria coleções que são sucesso de venda para grifes como a japonesa Comme des Garçons, a holandesa G-Star e a mesma Adidas que contratou West. Nesse contexto de protestos, guerras e ebulição social no hemisfério Norte, a grife Nicholas K pesquisou a estética do filme “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), de
Escapismo e peças mais alegres A semana de Nova York não costuma, porém, ser tão política quanto a de Paris e a de Milão, oferecendo doses de escapismo e uma moda alegre para dias amenos, de sol. A marca espanhola Desigual, nesse sentido, exaltou a relação da arte com a moda numa explosão de cores e estampas. Atenta aos consumidores dos trópicos, a grife catalã jogou cor em vestidos, blusinhas e saias midi influenciadas pelo sol do Mediterrâneo. Sob a batuta do estilista francês Christian Lacroix, a marca de jeanswear explora um prét-à-porter que mistura elementos das indumentárias africana e oriental com pinceladas da estética da tapeçaria barroca.
PRESENÇAS
Na primeira fila do desfile do rapper norte-americano para a grife alemã Adidas estavam a sua mulher, Kim Kardashian, e os cantores Beyoncé e Justin Bieber
Robert Wiene, para conceber sua coleção. Do longa, marco do expressionismo alemão, os estilistas Nicholas e Christopher Kunz pescaram referências góticas e a ambivalência do comportamento humano diante do terror. Como nômades, os modelos usaram proteção para os olhos, luvas de couro e roupas pesadas.
Leggings, bermudas e casacos puídos são referências aos protestos de Londres em 2012
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Canal de vídeos YouTube completa uma década
O site mudou totalmente a relação do público com a internet graças à popularização da comunicação em vídeo FOTOS: DIVULGAÇÃO
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ÃO PAULO, SP – No começo era só um site em que qualquer um podia subir seu vídeo. Três ex-funcionários do serviço de transferência digital de dinheiro PayPal apostaram no formato que permitia ao usuário divulgar conteúdo sem intermediários, num tempo em que o vídeo on-line era uma lentidão cheia de engasgos. Quando, no dia 14 de fevereiro de 2005, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim ativaram o domínio YouTube.com, eles não podiam imaginar que no final do ano seguinte estariam sendo comprados pelo Google por US$ 1,65 bilhão e teriam sua criação na capa da revista “Time”. O fato é que o YouTube mudou completamente a nossa relação com a internet graças à popularização da comunicação em vídeo. Se antes ela era oligopólio de poucos grupos de comunicação, emissoras de TV, produtoras de conteúdo e estúdios de cinema, a partir da explosão do site o mundo redefiniu o modo como consome e produz vídeos. Virais intencionais ou não, trailers e músicas que estreiam longe dos cinemas, das TVs ou das lojas de disco, anúncios políticos, diferentes formas de se contar uma história, protestos, esquetes de humor: o YouTube tornou-se um dos canais mais assistidos do mundo todo, nos acostumou a consumir conteúdo via streaming em vez de download e mudou completamente o planeta nos últimos dez anos. Por Alexandre Matias
Primeiro vídeo postado no site mostra um dos criadores, Jawed Karim, num zoológico
Chad Hurley e Steve Chen também elaboraram o YouTube
Fatos marcantes da história do site YouTube 2005 Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim ativam o domínio e o site YouTube.com no dia 14 de fevereiro. 1º vídeo,”Me at the Zoo”, 19 segundos com um dos fundadores no zoológico, é publicado em abril. 2006 O site começa a crescer exponencialmente durante o ano, atingindo número de 65 mil uploads e 100 milhões de visualizações por dia ainda no primeiro semestre. No dia 9 de outubro, o site é comprado pelo Goo-
gle por US$ 1,65 bilhão. É a primeira transação bilionária da web 2.0. No final do ano, a revista “Time” escolhe “você” como sendo a Pessoa do Ano, em referência à massiva participação gerada pela popularização da internet no século 21. A imagem da capa é um monitor de computador transformado em uma tela do YouTube. O ex-analista de finanças Salman Khan começa a perceber que o site é uma boa plataforma para ensino e investe em conteúdo em vídeo nessa área, criando a Khan Academy, que a
revista “Forbes” chamou de “a maior escola do mundo”. Uma garota olhando para a câmera do computador e falando sobre sua vida pessoal: LonelyGirl15 se tornou um dos primeiros sucessos do YouTube até que se descobriu que era uma obra de ficção. Era uma atriz de 19 anos que fazia parte de um universo de personagens no YouTube que foi posteriormente explorado por seus criadores. 2007 Nos dias 23 de julho e 28 de no-
vembro, a CNN e o YouTube transmitiram os debates dos candidatos à presidência dos Estados Unidos através do site. O empresário Scooter Braun descobre por acaso no YouTube o vídeo de um garoto cantor que ele achava que tinha futuro. Seu nome? Justin Bieber. “Charlie Bit My Finger”, em que uma criança morde o dedo de outra, foi o vídeo mais popular do YouTube por muito tempo e até hoje esta entre os dez mais vistos da plataforma.
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RESENHA
A qualidade da 00:00 DIVULGAÇÃO
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termo 00:00 é mais um símbolo do que propriamente um nome, permitindo que o público possa pronunciar o nome da banda da maneira que achar melhor ou na língua do seu próprio país (ex: meia-noite, zero hora, midnight, minuit). O grupo amazonense é formado por Moisés Martins, Elias Ferreira, Ediel Castro, Kiko Sanches, Alexandre Pedraça e Jean Rhoten, todos com PhD em qualidade e talento.
PERFIL
O vocalista da banda 00:00, Moisés Martins
Emir Fadul Radialista na Rádio EM TEMPO
Em 2011, a banda finalizou as gravações do seu primeiro videoclipe com a musica “Get Up”. A repercussão do público e da crítica foi positiva, sendo o clipe vencedor do concurso “My Band TV”, realizado pelo site Britânico “R&R World”. A mesma música sairá em 2015 como trilha de um seriado de televisão que será brevemente divulgado. Falar da 00:00 é muito fácil, um adolescente com “cabeça” de adulto, um prodígio. Acompanhei esta fantástica banda desde o início, quando faziam cover de Hellowen e outras bandas com este perfil. A evolução é visível na sonoridade, todos os detalhes são bem discutidos, visto que to-
dos os integrantes têm formação acadêmica na música. Transformar as ideias em músicas excelentes não é fácil, mas essa galera faz, capricha e se destaca no mercado. Todas as letras cantadas em inglês, que às vezes me pergunto o porquê, mas logo vem a resposta: mercado internacional. Destacar o talento dos músicos seria redundante, todos os integrantes andam no mesmo ritmo na qualidade. A harmonia das músicas chama a atenção no conjunto da 00:00. Os arranjos sempre bem trabalhados e bem inspirados, aliados a explosão vocal do Moisés, impressionam.
A cada show a banda arrebata mais fãs. Isso mostra que o caminha está trilhado. Percebe-se também a competência nas baladas, gênero bem difícil de causar impacto, não digo de executar, mas a balada tem sua peculiaridade que é mexer com o coração e até nisso a 00:00 acerta. O álbum promocional e homônimo vem com 5 faixas, todas cantadas em inglês. Este ano de 2015 parece ser o marco para a banda decolar de vez, com previsão para lançamento do álbum principal. O apelo visual é também um destaque, a escolha do símbolo “00:00” traduz e simplifica a universalidade da banda, pode ser conhe-
cido em qualquer lugar. A música “Get Up” encabeça o CD promo, mostrando um arranjo de alto nível, com backing vocals muito ilustres e as cordas dando o peso e suavidade na medida certa. Aposto todas as minhas fichas neste prodígio musical. A qualidade inclusive da gravação me impressionou. A banda faz um trabalho excelente nas mídias sociais e apresenta excelência no quesito divulgação. Sem esquecer desta palavra mágica para todas as bandas que é o clipe, a 00:00 lançou o segundo no YouTube, abordando objetivamente o tema levantado pela banda, teorias da conspiração, posicionando-se contra a
Nova Ordem Mundial. O clipe foi gravado em 7 diárias, sendo 6 em Manaus e uma na vila de Paricatuba, com o mesmo diretor do primeiro clipe, Silas Eustáquio, e com a produção inteiramente manauense. A música do clipe “Living One More Day” foi mixada em um dos melhores estúdios de Manaus, o Super Sônico, e masterizada pelo Abbey Road (Londres). A banda fez alguns contatos no Reino Unido quando premiada pelo site britânico, o que facilitou o intercâmbio para a masterização em Londres. Para o primeiro semestre de 2015 serão lançados singles periodicamente, ficando o próximo para o mês de março.
A cada show a banda arrebata mais fãs. Isso mostra que o caminho está trilhado. Percebe-se também a competência nas baladas, gênero bem difícil de causar impacto”
‘O IMPERADOR’
Filme tem roteiro arrastado SÃO PAULO, SP – O nome do ator Nicolas Cage no cartaz de um filme tornou-se garantia de porcaria. Trinta anos depois de despontar e duas décadas após ter vencido um Oscar, Cage parece ter desistido de atuar e em seus últimos trabalhos só consegue correr e gritar. Em “O Imperador”, ele vive um guerreiro medieval assombrado pelos demônios da cristandade. Mas logo depois da movimentada cena de abertura, da tomada de uma fortaleza em Bagdá, Cage desaparece e só ressurge para constrangedores momentos como um mestre de frases feitas. No seu lugar, Hayden
Christensen, estrela que se apagou antes de brilhar, desempenha a função de isca para o público que ainda se lembra dele como o jovem Darth Vader no “reboot” da saga “Star Wars”. Como um herói depois da queda, Christensen passa a proteger o pequeno herdeiro de um trono na antiga China das ameaças de um irmão mais velho ambicioso e patife. A trama nada mais é que um fiapo para a sucessão de lutas, fugas e astúcias entremeada com a esquemática jornada do herói. Narrativa Inspirado nos clássicos filmes de ação de Hong Kong,
“O Imperador” despreza a atenção à narrativa para se concentrar nos combates. Para isso, a produção escalou como diretor o dublê e coreógrafo Nick Powell, cujas habilidades não resolvem o problema de como contar a história. Entre um combate e outro, o filme se arrasta em torno de exemplos típicos de livros de autoajuda, ambientados numa China padronizada para o paladar global. Ou seja, mesmo quem apenas busca ação só a encontra se sobreviver aos longos minutos de sabedoria. Por Cássio Starling Carlos
ROCK IN RIO
Show de Faith No More anunciado SÃO PAULO, SP – As bandas americanas de rock Faith No More e Hollywood Vampires foram anunciadas como atrações do Rock in Rio nesta sexta (13). O festival, que comemora 30 anos de existência, ocorrerá nos dias 18, 19, 20, 24, 25, 26 e 27 de setembro no Rio. O Faith No More trará o seu disco novo, o primeiro de
inéditas do grupo em 18 anos. O álbum tem lançamento marcado para maio. A banda tocará na mesma noite do grupo de metal Slipknot, que também foi anunciado nesta semana. Já o Hollywood Vampires é o “supergrupo” formado pelo roqueiro Alice Cooper, pelo ator Johnny Depp e por Joe Perry, guitarrista do Aerosmith.
O show deles será na mesma noite em que se apresentam Queens of the Stone Age e System of a Down. Entre as atrações também já confirmadas para este Rock in Rio, estão a cantora pop Katy Perry e a banda A-Ha, que tocarão no palco Mundo. No palco Sunset, está escalado o cantor americano John Legend.
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Bate-rebate
TV Tudo Primeiros pilotos Depois de se reunirem para fotos, necessárias para o material de divulgação e do próprio programa, os integrantes do “CQC” se preparam agora para a gravação dos pilotos. Os primeiros serão feitos imediatamente após o carnaval. Quadros confirmados Ainda a propósito do novo “CQC”, dois quadros do “velho” “CQC” serão mantidos no programa: “Proteste Já”, agora com Juliano Dip, e o “CQTeste”, provavelmente com Rafael Cortez. Mas só eles. No mais, tudo novo. Bilhete cancelado Envolvida atualmente com as gravações finais de “Boogie Oogie” na Globo, Letícia Spiller, está confirmada também como vilã de “I Love Paraisópolis”, próxima novela das sete. Só que, ao contrário do que fora anunciado, ela não participará das gravações em Nova York, que terão início em 23 ou 24 de fevereiro. Estava tudo certo para isso, mas alguém deu o contra. Bilhete cancelado 2 Se dependesse apenas de Letícia Spiller, ela en-
Regi
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Protagonista O ator português Pedro Carvalho fará um dos protagonistas de “Escrava Mãe” na Record. Miguel será o seu personagem. Após assinar com a emissora, ele voltou para Portugal e aguarda chamado para o início de gravações. traria no voo e encararia tudo numa boa porque está apaixonada pela personagem da trama de Alcides Nogueira e Mário Teixeira. A Globo, no entanto, entende como necessário o descanso, ainda que muito rápido, para se desligar completamente de um trabalho e começar a pensar no outro Produção Ao mesmo tempo que o cenário do programa vai sendo remontado, a produ-
ção do “MasterChef” está trabalhando no casting da próxima edição. Já existe uma pré-seleção. Início das gravações em abril para estrear em maio. Demora um pouco A direção da Bandeirantes está sem pressa nenhuma para definir o elenco do próximo “A Liga”. O programa de acordo com o desenho da nova grade, só será exibido a partir de setembro. Até lá tem muito tempo.
• O Carnaval e a festa do “Oscar” na Globo mandaram o “Planeta Extremo” para o chuveirinho. Só volta em 1° de março... • ... Aliás, a equipe do programa comemorou muito o recorde de audiência do último domingo: 13 de média com 38% de share, em São Paulo. • Protagonista da novela “Alto Astral”, Sérgio Guizé, o Caíque, não vai ficar muito tempo parado após o encerramento desta novela... • ... O nome dele já aparece em várias listas da emissora, para futuros trabalhos. • Mauro Naves, em férias na Globo, foi viajar com os filhos. Depois das Bahamas, chegou a Orlando. • A propósito de repórter esportivo, é digno de destaque o trabalho do Felipe Diniz no SporTV... • ... Tem sempre se destacado nas transmissões e na cobertura do dia a dia.
Corpo fora O comando do novo “CQC” na Bandeirantes trabalha em ritmo forte nas mudanças que serão apresentadas no programa a partir de 9 de março. E o que se ouve por lá, até com certa surpresa, é que existe a intenção de não ter mais um repórter voltado principalmente para a cobertura política em Brasília, como era o caso do Noblat, por exemplo. Brasília não está animando nem o “CQC”.
Flávio Ricco Colaboração: José Carlos Nery
C’est fini Tiago Leifert vai participar da cobertura dos desfiles da Marquês de Sapucaí, na Globo, a exemplo do que aconteceu no ano passado. Apenas por isso é que o seu retorno, depois do “The Voice Brasil” e das férias ainda não aconteceu no “Globo Esporte” de São Paulo. Ficamos assim. Mas amanhã tem mais. Tchau!
Márcio Braz E-mail: mbrazsantana@gmail.com
A racionalização do mundo
Mario Adolfo
Elvis
Gilmal
Max Weber em “A ética protestante e o espírito do capitalismo” discute como o capitalismo ocidental foi moldado a partir da disposição dos homens e de sua capacidade em “adotar certos tipos de conduta racional”. O autor, na introdução da obra, de maneira esparsamas esclarecedora, busca situar o leitor no sentido de esclarecer que a humanidade sempre produziu algum tipo de capitalismo, desde a Índia até o Egito, mas que só o ocidente engendrou um tipo novo e definitivo de capitalismo a partir dos fatores que citamos acima. A separação do local de trabalho do ambiente doméstico e a criação de uma contabilidade racional também foram fatores determinantes para o surgimento do capitalismo ocidental.Quando o obstáculo espiritual é vencido pelo racionalismo é que se criam as condições,no plano econômico, para o desenvolvimento do capitalismo e é nisto que consiste o objeto da investigação de Max Weber e de sua teoria sobre a racionalização. Estudos empreendidos pelo autor como os relacionados à música racional são pouco estudados pelos cientistas sociais. Talvez, como nos disse Renan Freitas pinto, esta observação se dê pelo fato de que muitos não tenham ainda intimidade com as formas tradicionais de notação musical. A própria notação é a forma racional por excelência na música. Nada pode ser reproduzido sem a sua fatura, embora sabemos que diversos equipamentos de reprodução são auxiliares neste processo mas só a notação musical e sua precisão matemática podem definir o conjunto musical. Mas por que só o Ocidente foi, digamos, privilegiado para que fosse desenvolvido o tipo mais acabado de capitalismo? Weber responde fazen-
do pequenos apontamentos sobre o racionalismo no mundo. Cita, por exemplo, os casos da Índia, China, Babilônia e Egito, latitudes conhecedoras da astronomia mas para que fosse processado seu desenvolvimento, faltava a fundamentação matemática que lhes foi fornecida pelos gregos. O mesmo aconteceu às ciências naturais indianas cujo desenvolvimento no campo da observação se deu por conta do experimentalismodo Renascimento. Às teorias políticasasiáticas faltava um método racional de análise como o de Aristóteles, assim como à historiografia chinesa faltava o método de Tucídides. O capitalismo sempre existiu em diversas culturas no mundo, “inclusive com uma considerável dose de racionalização”. Mas o ocidente desenvolveu “tipos, formas e direções” que determinaram sua tez. Um tipo novo de racionalismo assentado “no trabalho livre (formalmente pelo menos).” Assim como o mundo não conheceu uma organização racional do trabalho fora do moderno Ocidente, Weber afirma que também não existiu antes nenhum “socialismo racional”. Existiram tipos primitivos de socialismo (abastecimento coletivo, política previdencial dos príncipes, racionamento etc), mas o conceito de “burguesia” só existira no moderno Ocidente. É neste sentido que as formas burocráticas também cumprem um papel decisivo no campo da racionalização no Ocidente. Os processos administrativos e de documentação de registro encontraram no mundo Ocidental parâmetros significativos que justificam o conceito de planejamento. Não que antes a elaboração de estratégias fossem ausentes, mas é no Ocidente que elas ganham contornos mais elaborados.
Márcio Braz ator, diretor, cientista social e membro do Conselho Municipal de Política Cultural.
A própria notação é a forma racional por excelência na música. Nada pode ser reproduzido sem a sua fatura, embora sabemos que diversos equipamentos de reprodução são auxiliares neste processo”
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Programação de TV
CAROL SOARES/SBT
SBT 3h45 Jornal da Semana SBT 5h Brasil Caminhoneiro 5h30 Planeta Turismo 6h30 Vrum 7h Chaves 9h Domingo Legal 13h Eliana 17h Roda A Roda Jequiti 17h45 Sorteio da Telesena 18h Programa Silvio Santos 22h De Frente com Gabi 23h SBT Folia 2015 0h Série: Rizzola & Isles 1h Série: Pessoa de Interesse 2h Big Bang 2h30 Série A piloto de Fórmula Truck Débora Rodrigues com Gabi, no SBT
ÁRIES - 21/3 a 19/4 A regeneração para você ocorre no âmbito profissional, e vem por meio da superação das adversidades presentes. Dia para lutar, seja corajoso e superar-se em direção ao futuro. TOURO - 20/4 a 20/5 Os novos projetos de vida são atrapalhados por velhos modelos que lhe atormentam. Elimine os velhos fantasmas e coloque seus melhores esforços no que tem futuro. GÊMEOS - 21/5 a 21/6 Imprima uma dinâmica mais forte em seu trabalho, pois os tempos estão para isso. Utilize bem os apoios recebidos. De usá-los bem dependem os resultados a que pode chegar.
6h Pequenas Empresas, Grandes Negócios 6h34 Globo Rural 7h28 Auto Esporte 8h Esporte Espetacular – (Mergulho Radical - Compacto) 11h Esquenta 12h30 Temperatura Máxima. Filme: A Lenda do Tesouro Perdido 14h43 Domingão do Faustão 18h Big Brother Brasil 18h45 Fantástico 20h45 Carnaval 2015: I Desfile do Grupo Especial - RJ (Abertura) 20h57 2ª Escala: Mangueira 22h25 3ª Escala: Mocidade Independente 23h53 4ª Escala: Vila Isabel 1h21 5ª Escala: Salgueiro 2h47 6ª Escala: Grande Rio 4h14 Vt - 1 ª Escala: Viradouro (Na Íntegra) 5h40 Série Americana
Cinema
RECORD
4h Power Rangers –
4h Santo Culto em Seu Lar
Na Galáxia Perdida 5h30 Santa Missa no Seu Lar
4h30 Desenhos Bíblicos
6h30 Sabadão do Baiano
7h30 Record Kids – Pica Pau
7h Power Rangers + Jimmy Neutron 8h30 Palavra Cantada
9h Domingo Show
9h30 Informercial – Polishop
13h30 Hora do Faro
9h45 Verdade e Vida
17h30 Domingo Espetacular
10h Irmão Caminhoneiro – Boletim
21h15 Repórter em Ação
10h05 Pé na Estrada 10h30 Os Simpsons – Maratona
22h15 Roberto Justus +
12h30 Band Esporte Clube
23h15 Programação IURD
14h Gol: O Grande Momento do Futebol 16h50 3º Tempo 19h Só Risos 20h Polícia 24h 21h Pânico na Band – Melhores Momentos 0h Canal Livre 1h Show Business – Reapresentação 2h25 Igreja Universal
Cruzadinhas
PRÉ-ESTREIA Sniper Americano: EUA. 10 anos. Membro das Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, Chris Kyle é enviado para o Iraque com uma única missão: proteger seus irmãos de armas. Sua precisão salva inúmeras vidas no campo de batalha e as histórias de suas corajosas façanhas se espalham até que ele receba o apelido de `Lenda´. No entanto, sua reputação também está crescendo por trás das linhas inimigas, colocando sua cabeça a prêmio e tornando-o alvo principal de insurgentes. Ele também está enfrentando um tipo de batalha diferente à frente de seu lar: se esforçando para ser um bom marido e bom pai mesmo estando do outro lado do mundo. Apesar do perigo e do preço pago pela sua família deixada em casa, Chris serve por quatro angustiantes vezes no Iraque, personificando-se no lema “não deixar ninguém para trás” nas Forças Especiais da Marinha. Mas ao retornar para sua esposa, Taya Renae Kyle (Sienna Miller), e para as crianças, Chris descobre que é a guerra que ele não pode deixar para trás. Cinépolis Millennium 6 – 21h30 (leg/somente quarta-feira); Cinépolis Ponta Negra 1 – 22h10 (leg/somente quarta-feira). DIVULGAÇÃO
Horóscopo
4h Igreja Universal
BAND
GLOBO
CÂNCER - 22/6 a 22/7 Uma nova luz se acende na vida a dois e nas parcerias. Uma dinâmica mais forte favorece hoje essas relações. Você encontra nelas um novo sentido, um novo futuro. LEÃO - 23/7 a 22/8 Seja resoluto e firme nas atividades com outras pessoas. Os trabalhos conjuntos exigem encontrar um bom equilíbrio nas relações. Pense nas relações, não só nos resultados.
ESTREIAS
VIRGEM - 23/8 a 22/9 Os sentimentos afetivos se acendem e se tornam incandescentes. Há pontos pelos quais lutar para regenerar suas relações. Seja claro e direto naquilo que quer realmente.
A Casa dos Mortos: EUA. 14 anos. Um massacre acontece numa casa abandonada deixando cinco estudantes mortos. Um policial (Frank Grillo) e uma psicóloga (Maria Bello) vão investigar o caso, que ocorreu enquanto os jovens tentavam evocar fantasmas. Cinemark 3 – 12h10, 14h20, 16h30, 18h50, 21h (dub/diariamente), 23h15 (dub/somente sábado); Cinépolis Millennium 6 – 17h, 19h15 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 8 – 14h, 16h05, 18h15, 20h25 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 6 – 17h, 19h20, 21h40 (leg/diariamente).
LIBRA - 23/9 a 22/10 Os assuntos domésticos recebem o fluxo benfazejo de forças regenerativas. Mas estas são poderosas e devem ser manipuladas com cautela e discernimento. ESCORPIÃO - 23/10 a 21/11 Suas palavras devem ser francas e diretas, objetivas e simples, em especial, nas conversas com a pessoa amada. Todavia, seja gentil, polido, respeitoso e bastante afável. SAGITÁRIO - 22/11 a 21/12 Você precisa ganhar confiança em sua capacidade, e a hora é para isso. Livre-se das velhas atitudes. É tempo de novas providências quanto ao patrimônio material. CAPRICÓRNIO - 22/12 a 19/1 Os conteúdos, sentimentos ou pensamentos, mesmo os mais perturbadores, precisam ser expressos com clareza e retidão. Não se esquive de dizer o que sente ou pensa. AQUÁRIO - 20/1 a 18/2 Momento favorável para estabelecer uma melhor comunicação entre o que está dentro e o que está fora de você. Não tenha receio de lidar com situações que lhe são tabus. PEIXES - 19/2 a 20/3 Incorpore em seu comportamento os grandes anseios que está acalentando. Deste modo tudo se transforma, e essa mudança descortina uma série de outras possibilidades.
O Imperador: ING/EUA. 14 anos. Quando o herdeiro do trono imperial torna-se alvo de assassinato por seu irmão mais velho, a única esperança do jovem príncipe é buscar proteção junto a sua irmã e do cavaleiro desacreditado Jacob (Hayden Christensen), que deverá superar seus próprios demônios e conseguir o apoio do lendário guerreiro Gallain (Nicolas Cage) conhecido como Fantasma Branco. Cinépolis Millennium 5 – 13h45, 16h15 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 6 – 19h15, 22h (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 8 – 19h40, 22h (leg/diariamente).
Annie: EUA. 12 anos. Originalmente deixada por seus pais ainda bebê com a promessa de que voltariam para buscá-la um dia, Annie vive uma vida dura com sua malvada tutora, a senhorita Hannigan (Cameron Diaz). Mas tudo está prestes a mudar quando o magnata intransigente e candidato a prefeito de Nova York, Will Stacks (Jamie Foxx) - aconselhado pela sua brilhante VP, Grace (Rose Byrne) e seu perspicaz planejador de campanha e conselheiro, Guy (Bobby Cannavale) – faz uma manobra de campanha arriscada e assume sua tutela.Stacks acredita que ele é seu anjo da guarda, mas a natureza brilhante e auto-confiante de Annie, junto com sua visão de que o “sol irá nascer amanhã” mostra a ele que é apenas o contrário. Cinemark 8 – 11h10, 13h50, 16h40 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 2 – 14h30 (dub/ diariamente); Cinépolis Plaza 7 – 13h, 15h45, 18h25 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 6 – 14h20 (dub/diariamente).
CONTINUAÇÕES Cinquenta Tons de Cinza: EUA. 18 anos. Cinemark 4 – 12h, 14h50, 17h40, 20h30 (dub/diariamente), 23h20 (dub/somente sábado), Cinemark 7 – 13h, 15h50, 18h40, 21h30 (dub/diariamente), 0h20 (dub/somente sábado), Cinemark 8 – 19h30, 22h20 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 1 – 13h30, 16h30, 19h30, 22h30 (leg/diariamente), Cinépolis Millennium 3 – 18h, 21h (dub/diariamente), Cinépolis Millennium 5 – 18h45, 21h45 (leg/diariamente), Cinépolis Millennium 8 – 17h30, 20h30 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 1 – 13h30, 16h30, 19h30, 22h30 (dub/diariamente), Cinépolis Plaza 2 – 18h, 21h (dub/diariamente), Cinépolis Plaza 3 – 18h45, 21h45 (dub/diariamente), Cinépolis Plaza 5 – 17h30, 20h30 (leg/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 2 – 18h45, 21h50 (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 4 – 18h, 21h (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 5 – 13h30, 16h30, 19h30, 22h30 (leg/ diariamente), Cinépolis Ponta Negra 7 – 14h30, 20h (dub/diariamente), 17h10 (leg/diariamente). Um Santo Vizinho: EUA. 12
anos. Cinemark 5 – 21h50 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 2 – 17h15 (leg/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 1 – 19h (leg/somente quarta-feira). O Destino de Júpiter: EUA. 12 anos. Cinemark 2 – 12h40 (dub/exceto domingo), 15h30, 18h20 (dub/ diariamente), 21h15 (dub/somente quarta-feira); Cinépolis Millennium 2 – 22h45 (leg/diariamente), Cinépolis Millennium 6 – 14h (dub/diariamente); Cinépolis Plaza 4 – 21h55 (3D/dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 10 – 18h30 (dub/diariamente), 15h30, 21h30 (leg/diariamente). Corações de Ferro: EUA. 16 anos. Cinemark 1 – 0h45 (dub/diariamente), 23h40 (dub/somente sábado); Cinépolis Millennium 4 – 21h15 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 7 – 21h30 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 3 – 17h30 (dub/diariamente), 14h, 20h45 (leg/diariamente). Bob Esponja – Um Herói Fora D’água: EUA. 12 anos. Cinemark 1 – 11h40, 14h, 16h15, 18h30 (dub/
diariamente), Cinemark 5 – 12h30 (3D/dub/exceto sábado e domingo), 14h40, 17h10, 19h20 (3D/dub/diariamente); Cinépolis Millennium 3 – 13h15, 15h45 (3D/dub/diariamente), Cinépolis Millennium 4 – 14h15, 16h45, 19h (3D/dub/diariamente); Cinépolis Millennium 8 – 12h45, 15h10 (3D/dub/diariamente); Cinépolis Plaza 2 – 13h45, 15h55 (3D/dub/diariamente), Cinépolis Plaza 3 – 14h05, 16h15 (3D/dub/diariamente), Cinépolis Plaza 4 – 15h05, 17h15, 19h25 (3D/dub/diariamente), Cinépolis Plaza 5 – 12h30, 14h35 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 1 – 13h, 16h (3D/dub/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 4 – 13h40, 15h50 (3d/dub/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 8 – 15h20, 17h40 (dub/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 9 – 14h40, 16h50, 19h10 (dub/diariamente). O Jogo da Imitação: EUA/ Reino Unido. 12 anos. Cinépolis Millennium 2 – 20h (leg/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 2 – 15h10 (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 9 – 21h20 (leg/diariamente).
Caminhos da Floresta: EUA. 12 anos. Cinépolis Millennium 4 – 18h30 (leg/diariamente). A Mulher de Preto 2 – O Anjo da Morte: ING-CAN. 14 anos. Cinemark 3 – 15h20, 18h10 (dub/diariamente), 20h30 (dub/exceto quarta-feira); Cinépolis Millennium 4 – 21h30 (dub/ diariamente). Minúsculos: FRA. Livre. Cinemark 3 – 11h (dub/diariamente). Busca Implacável 3: FRA. 14 anos. Cinemark 1 – 11h40 (dub/exceto domingo), 14h20, 16h50, 19h20, 21h50 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 2 – 21h (leg/diariamente). Os Pinguins de Madagascar: EUA. Livre. Cinemark 8 – 11h45, 14h, 16h15 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 4 – 13h45, 16h (3D/ dub/diariamente). Loucas Pra Casar: BRA. 14 anos. Cinépolis Plaza 6 – 14h15, 16h55 (diariamente).
Plateia
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
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Documentário sobre Nina Simone exibido em Berlim B
ERLIM, ALEMANHA - Quando fez 19 anos, Lisa Simone Kelly comunicou à mãe, a cantora Nina Simone, que se alistaria nas forças armadas. “Você pode imaginar o rosto dela quando falei isso? Os jovens encontram as formas mais loucas para atingir seus pais”, contou Lisa à plateia do documentário “What Happened, Miss Simone?”, um dos destaques da mostra Panorama do Festival de Berlim, exibido na quinta (12). Lisa fez carreira na aeronáutica por dez anos. Foi uma forma de contrariar a mãe e de se vingar da relação tortuosa que tiveram. “Minha mãe podia se tornar um monstro”, lembra-se Lisa, que hoje é cantora e acaba de lançar um álbum, “All Is Well”. Entre as forças armadas e a música, ela trabalhou na realização de um documentário que falasse “da glória e da tragédia” de sua mãe e de sua família. O filme foi dirigido por Liz Garbus e produzido pelo serviço de vídeo sob demanda Netflix. Com farto material de arquivo e poucas entrevistas, o documentário resume a trajetória de uma das maiores cantoras dos EUA desde sua infância, na cidade de Tyron, Carolina no Norte, ao
triste fim de vida na Europa. Ela morreu na França, em 2003, aos 70 anos, tomando medicamentos para depressão e amparada por poucos amigos. A menina Eunice Waymon (nome de batismo de Nina) começou a tocar piano nos cultos de sua mãe, pastora metodista que trabalhava como doméstica. Os patrões da mãe
CONTEÚDO
Resumo da trajetória de Nina Simone, o filme exibe farto material de arquivo e poucas entrevistas e se detém um bom tempo ao período em que a cantora se envolveu no movimento dos direitos civis
assistiram a um culto e, impressionados com a garota, resolveram pagar aulas de piano. Todos os sábados, dos quatro aos 18 anos, Eunice caminhava pela linha de trem até a “parte branca” da cidade, para tomar aulas. Sonhava em ser a primeira pianista clássica negra a tocar no Carnegie Hall. O sonho veio por água abaixo quando não passou no concur-
so para o renomado Curtis Institute, na Filadélfia, aos 19 anos. Foi difícil entender a rejeição, já que técnica e talento não lhe faltavam. Mais tarde, soube que não foi aceita porque era negra. Eunice não voltou para casa. Começou a tocar piano num bar e, como não queria que sua mãe soubesse disso, passou a usar o nome artístico de Nina (do espanhol “niña”, como um namorado a chamava) Simone (homenagem à atriz Simone Signoret). O filme se detém um bom tempo ao período em que a cantora se envolveu no movimento dos direitos civis. Depois que quatro meninas negras morreram na explosão de uma bomba, ela passou a defender o uso da violência na luta dos negros, o que complicou sua vida nos EUA. Resolveu se mudar com Lisa para a Libéria e depois para a Europa. Retomou a carreira sem a mesma constância e terminou a vida em Paris, num apartamento pequeno, fazendo shows em um clube a US$ 300 por noite. “Lá no sul dos EUA há um ditado que diz: ‘truth shall set you free’ (a verdade te libertará). Não foi nada fácil, mas agora que o documentário ficou pronto me sinto bem”, concluiu Lisa, bastante emocionada.
ENTRETENIMENTO
Lazer diferenciado para o Carnaval Conhecimentos sobre astronomia, atividades científicas e um baile infantil VIP são as atrações do Manauara Shopping para quem busca alternativas no feriado do Carnaval. O centro de compras abrirá em horários especiais durante os festejos. O Planetário e a Sala da Luz estão instalados no piso Castanheiras, com projeções sobre os astros na cúpula e a imagem de todo o sistema solar. No Planetário a entrada é gratuita para crianças menores de cinco anos e os demais visitantes pagam R$10. Outro destaque da programação é o ExperCiência, no piso Tucumã, com experimen-
DICAS
As atrações Planetário, Sala de Luz e ExperCiência são opções do Manauara Shopping para quem busca alternativas de diversão para o período carnavalesco
tos da física que geraram grandes descobertas para a humanidade. Todos os experimentos contam com um painel explicativo e monitores que acompanham os visitantes. Para os pequenos foliões, o
Teatro Manauara realiza a 5ª edição de seu tradicional Carnaval Infantil VIP, com marchinhas e atividades recreativas. Serão dois dias de folia. No domingo (15), acontece o “Bailinho de Máscaras”, e na segunda-feira (16), é a vez da “Segundinha Gorda de Carnaval”. O Manauara ainda tem a opção do Magic Games, com montanha-russa, brinquedos eletrônicos, vídeo games e o Kid Play, um castelo emborrachado com túneis, passagens secretas e piscina de bolinhas, além do Cinema 5D. Para os fãs de cinema, o Playarte Manauara também funcionará durante toda a semana de Carnaval. DIVULGAÇÃO
ExperCiência mostra experimentos da física que geraram grandes descobertas para a humanidade
FOTOS: DIVULGAÇÃO
‘What Happened, Miss Simone?’ foi apresentado no festival de cinema pela filha da cantora, Lisa Simone Kelly
Lisa contou à plateia do filme que sua mãe, Nina (no destaque), “poderia se tornar um monstro”
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Plateia
MANAUS, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015