É... O Carnaval não surgiu do nada. RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
Enfim, mais um Carnaval! Após meses de espera, aqui estamos nós, participando da mais colorida e animada festa popular do planeta. Uma festa que, como disse o Mestre Anizio, “não surgiu do nada”. Se hoje podemos nos vangloriar de sermos o mais importante evento cultural do país - em termos de atrativo turístico -, isso se deve a grandes homens que tomaram para si esse desafio e persistiram em fazê-lo viável, a despeito das dificuldades e obstáculos. Lideranças que em suas comunidades mobilizaram e ainda mobilizam cidadãos e trabalhadores para estarem o ano inteiro envolvidos em realizações e ensaios buscando oferecer ao público um espetáculo ímpar. Um espetáculo que leva aos quatro cantos do planeta a imagem do Brasil que dá certo - organizado, disciplinado e eficaz. Mas quando o Anizio fala que o Carnaval “não surgiu do nada”, ele não fala apenas dos esforços de articulação social e política e dos investimentos que os patronos fizeram em suas comunidades. O Carnaval carioca não surgiu do nada porque suas origens não são o resultado de decisões políticas e sim da força das comunidades, que explodiam sua criatividade através das rodas de samba e dos blocos de rua. O que Anizio e outras lideranças fizeram foi fortalecer e incentivar economicamente esse manancial de arte e cultura. É lógico que seus méritos são imensos, mas queremos destacar, também, que o Carnaval não é como alguns desatentos dizem, apenas um produto cultural para gringos. O Carnaval é, inegavelmente, a mais densa, intensa e poderosa manifestação do sambista fluminense e deve ser defendido até as últimas forças por todo cidadão que preza a arte popular. É nesse palco, do Carnaval, que presenciamos momentos emocionantes e inesquecíveis de superação humana. É... O Carnaval “não surgiu do nada”. O Carnaval carioca é, e sempre será, o resultado glorioso dos sonhos e das realizações do cidadão brasileiro colocados na avenida com muito amor e arte, sempre a serviço de um mundo mais bonito e feliz.
Fevereiro 2013
1
SEMPRE POR PAIXร O!
2
Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
www.beija-flor.com.br
O Desfile de Carnaval, como hoje é conhecido mundialmente, não surgiu assim da noite para o dia e nem foi obra do acaso. Foram muitos os dedicados colaboradores que trabalharam para a construção do Maior Espetáculo Popular da Terra na cidade do Rio de Janeiro. Contribuíram com trabalho, dinheiro, ideias e negociações, sempre em favor da arte e do espetáculo - e com muita, muita paixão. Lutei muito, enquanto alguns desistiram, para fazermos o Desfile de Carnaval como é hoje, e me orgulho muito de fazer parte dessa linda e grandiosa história. Isso ninguém nunca irá tirar de mim.
Anizio
Fevereiro 2013
3
www.widebrasil.com e-mail: ricardo@widebrasil.com
Produção WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA www.widebrasil.com Editores Ricardo Da Fonseca Hilton Abi-Rihan Jornalista Responsável Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR Redação Hilton Abi-Rihan, Marcela Josuá, Miro Lopes, Ricardo Da Fonseca Transcrição de áudio Marcela Josuá Projeto Gráfico R. Gatto Leonardo Legey Edição e Tratamento de Imagens R. Gatto Leonardo Legey Agradecimentos Ary Rodrigues, Bianca Behrends, Felipe Ferreira, Hiram Araújo, Isabela Dantas, Jorge Castanheira, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Luís Carlos “Toro”, Luís Fernando Vieira, Maria Augusta Rodrigues, Pináh Ayoub, Ruy Ayres “Tecnocrata”, Ubiratan Guedes, Ubiratan Silva, Vicente Dattoli e Zeza Mendonça. Revisão de Texto Marco Antonio Nicolau Fotografia Henrique Matos, Humberto Souza, Leonardo Legey e Ricardo Da Fonseca. Esclarecimento A escolha e seleção das fotografias que ilustram a edição 2013 da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, seguem critérios estritamente artísticos e jornalísticos (transmissão de uma determinada mensagem), ainda que de modo subjetivo, e não indicam, direta ou indiretamente, preferências específicas do GRES Beija-Flor de Nilópolis (ou de sua diretoria) e/ ou da WideBrasil Comunicação Integrada por pessoas ou alas. A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e produzida pela WideBrasil Comunicação Integrada. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Fevereiro de 2013 - Tiragem: 60 mil exemplares
4
Revista Beija-Flor de Nilópolis
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS Diretoria Executiva: Presidente Executivo - Nelson Alexandre Sennas David Vice Presidente Executivo - Ricardo Martins David Presidente do Conselho Deliberativo - Ary Jose Rodrigues Vice Presidente de Finanças - Jose Antonio Gonçalves Pinto Diretor de Finanças - Pedro Cardoso de Almeida Diretor de Finanças - Horácio Silva Bernardo Diretor de Finanças - José Renato Granado Ferreira Vice Presidente de Administração e Marketing Diretor de Administração - Pedro Paulo Bastos de Mello Diretor Administrativo / Secretária - Eliza Maria Rodrigues Gondin Diretor Administrativo - Moacyr Jorge Mexias Abdala Vice Presidente de Patrimônio - Jorge da Cunha Velloso Diretor de Patrimônio - Rodrigo Dias Duarte Diretor de Patrimônio - Aroldo Carlos da Silva Diretor de Patrimônio - Alexandre do Nascimento Fernandes Vice Presidente Social e Recreativo - Abraão David Neto Diretor Social e Recreativo - Marcos Antônio Ribeiro Lima Diretor Social e Recreativo - Marcelo Romeiro da Costa Vice Presidente Jurídico - Carlos Alberto Diogo de Souza Diretor Jurídico - Gilson de Castro Diretor Jurídico - Bruno Cabral Pereira Vice Presidente de Esportes - Paulo Roberto Moraes Diretor de Esportes - Marcos Fernandes C. da Silva Diretor de Esportes - Greyce Fonseca Valle Vice Presidente de Comunicação e Divulgação - Argemiro Lopes Nascimento Vice Presidente Cultural e Artistico - Fran-Sergio de Oliveira Santos Diretor Cultural e Artistico - Antonio Carlos da Costa Diretor Cultural e Artistico - Marcos Antonio Escaleira Diretor Cultural e Artistico - José Carlos de Oliveira Silva Vice Presidente de Carnaval - Luiz Fernando Ribeiro do Carmo Diretor de Carnaval - Valber da Silva Furtuoso Vice Presidente Departamento Feminino e Assistência Social - Selma de Mattos Rocha Diretora Departamento Feminino Assistência Social - Debora Rosa Santos Cruz Costa Diretora Departamento Feminino Assistência Social - Leila Meira David
www.beija-flor.com.br
REVERÊNCIA Iniciamos mais um Carnaval com muita garra e alegria! O clima que envolveu nos últimos meses o barracão e a quadra finalmente chegará à Marquês de Sapucaí através da Beija-Flor de Nilópolis, liderada pelo experiente Laíla e “puxada” pelo nosso Neguinho da Beija-Flor, ao som da bateria dos mestres Rodnei e Plínio. Isso sem falar no nosso primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, que darão o tom de graça e de leveza ao desfile. Tenho certeza de que essa energia que cada componente da azul e branco levará para o desfile irá contagiar o público presente – um público que sempre nos recebeu com o coração aberto. É para esse público que montamos esse espetáculo! E sempre foi assim. A comunidade nilopolitana sempre se dedicou com carinho e esmero para levar ao público presente tudo o que de melhor ela tem: alegria, harmonia, emoção, beleza, vida... A sinceridade dessa comunidade, que acompanho praticamente desde que nasci, é que me faz ter orgulho de ser nilopolitano e azul e branco. Um orgulho que aprendi com meus pais – Nelson e Marlene – e que é um dos grandes tesouros que eles deixaram como legado para mim. Não poderia, por essa razão, deixar de agradecê-los e de fazer uma homenagem especial a minha querida mãe, que nos deixou em 2012 para reencontrar meu pai e meu avô José Sennas em uma nova dimensão espiritual. Marlene me faz muita falta. Com seu jeito carinhoso, mas durão, muitas vezes ela foi capaz de me mostrar o melhor caminho a seguir quando, distraído, pensava em seguir pequenos atalhos. Com papai, Da. Marlene também foi um apoio emocional importante. Quando papai sofria pela solidão da liderança e seus filhos pequenos não entendiam as suas angústias, era minha mãe o esteio e o porto seguro, a presença que realimentava a alma do meu pai – esse líder, que ao lado de quem considero hoje meu segundo pai (tio Anizio), adotou a comunidade nilopolitana e fez dela a sua razão de viver. Por isso, Marlene fará falta. Nesse instante de reflexão, quero pedir a todos vocês, leitores da revista, que por um momento se lembrem dela, de Da. Marlene Sennas David, com respeito e alegria, porque “a mãe” está agora ao lado do grande amor de sua vida, nos protegendo e velando por todos nós.
Nelsinho David presidente administrativo
Fevereiro 2013
5
UMA VIDA CHAMADA BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS RICARDO DA FONSECA
A cultura de uma nação é feita pelo retalho independente das manifestações de seu povo. Por essa razão, não se deve esperar que uma nação seja representada culturalmente por uma única, homogênea e ortodoxa manifestação. Não. A cultura verdadeira, filha dos costumes e das tradições dos Homens em suas tribos, grupos e regiões, é multifacetada, dispersa e não pode ser tratada como um produto de prateleira, ajustada a regras e definições acadêmicas para uma “melhor compreensão”. A cultura não pode, também, ser valorizada como cultura somente quando o Poder Público assim a reconhece. Afinal, cultura é, talvez, uma das manifestações humanas mais complexas de ser identificada e classificada. Ainda hoje, por essa dificuldade de identificação e compreensão, diversas manifestações culturais são ignoradas pelo Poder
6
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Público e pela sociedade e acabam se restringindo ao anonimato em pequenas localidades. Outras são reconhecidas apenas depois de anos de seu surgimento e consolidação. As escolas de samba e seus desfiles fazem parte de um caso desses: durante anos refletiram os hábitos e os costumes de um povo em uma localidade sem que tenham obtido qualquer apoio ou reconhecimento como manifestação cultural. O principal prejuízo, sob a perspectiva da história, foi o desinteresse pela sua documentação e registro. Foi necessário o espetáculo alcançar um nível de grandiosidade mundial - carregando consigo as cifras de um mundo globalizado - para que lideranças da sociedade, especialmente os chamados “intelectuais” (?) e os governantes voltassem seus olhares para essas importantes instituições culturais, que sempre foram protegidas e amparadas pelos seus “patronos” locais. Hoje, pesquisadores e estudio-
www.beija-flor.com.br
sos olham o Carnaval e o desfile das escolas de samba sob uma nova perspectiva, buscando encontrar indícios de uma história vivida e não documentada.
2013 - O ANO DA SERPENTE E DA BEIJA-FLOR Para a equipe da revista Beija-Flor de Nilópolis, 2013 é um ano especial porque marca os 65 anos de fundação da agremiação nilopolitana. Uma agremiação batalhadora, de origem humilde, mas que com muito trabalho e dedicação digna dos grandes homens e mulheres alcançou os mais altos patamares de evolução e sucesso no Carnaval. Uma escola de samba e de vida, com histórias recheadas de emoções e significados.
ORIGENS É comum ouvirmos que as melhores ideias surgem quando menos se espera. Foi dessa maneira que, em 1948, em um bate papo informal entre amigos, surgiu a semente do que viria a ser a mais importante agremiação de samba do século XXI – a nossa querida Beija-Flor de Nilópolis. Parecia um dia como qualquer outro onde, reunidos em um costumeiro ponto de encontro de sambistas de Nilópolis, Milton de Oliveira (Negão da Cuíca), Helles Ferreira da Silva, Walter da Silva, Edson Vieira Rodrigues (Edinho do Ferro-Velho), José Fernandes da Silva e Hamilton Floriano batucavam na mesa de um bar, entre copos de cerveja e conhaque, quando um deles teve a grande ideia. E que ideia! O objetivo inicial era preencher o espaço vazio com o fim dos blocos do Irineu Perna-de-Pau e dos Teixeira. Com o consentimento de todos, estava sendo fundado, então, o mais novo bloco carnavalesco da Baixada Fluminense: a Associação Carnavalesca Beija-Flor. Não se sabe ao certo a verdadeira origem do nome da associação. A mais confiável é relacionada à mãe de um dos integrantes, Milton de Oliveira, dona Eulália. Conta-se que ela adorava pássaros e possuía na varanda de casa inúmeros bebedouros para beija-flores. Outra versão
seria a de que um rancho carnavalesco que desfilava pelas ruas da Baixada Fluminense teria servido como fonte de inspiração. As especulações, no entanto, não param por aí. Uma última versão garantiria que, enquanto os sambistas discutiam o nome do bloco, um beija-flor resolvera dar o ar de sua graça, iluminando suas mentes. Enfim, não importa de onde o nome veio e sim a trajetória desse bloco carnavalesco, recheada de histórias emocionantes e que culminou no surgimento da principal agremiação de Carnaval do planeta, amada, reverenciada e respeitada pelo que realizou e permanece realizando dentro e fora da avenida.
O BLOCO NA RUA O primeiro desfile da Associação Carnavalesca Beija-Flor aconteceu em Nilópolis no Carnaval do ano seguinte à sua fundação, isto é, em 1949, quando aproximadamente 40 foliões, acompanhados de instrumentos adquiridos em blocos anteriores, foram às ruas. Neste ano não desfilaram com fantasia, mas com muita alegria. Já no ano seguinte, as cores azul e branco foram inseridas no bloco e caíram nas graças dos foliões. Integrantes mais antigos da Beija-Flor de Nilópolis, que também participaram do bloco em 1949, contam que o desfile foi um sucesso, não houve ninguém que não quisesse participar. Entretanto, engana-se quem pensa que qualquer pessoa poderia fazer parte desta animada festa. Para pertencer ao grupo, tinha que ser de família conhecida. Era uma iniciativa muito organizada. Com todo o sucesso, não demorou para que o bloco de Carnaval Beija-Flor se transformasse em uma agremiação de samba. Foi assim que, quatro anos depois e por iniciativa própria, o compositor Silvestre David dos Santos (mais conhecido como Cabana) inscreveu a associação na Confederação das Escolas de Samba como Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor para o desfile do ano seguinte no Grupo II. Para assumir a presidência dessa nova fase que a escola vivia foi eleito José Rodrigues Senna, que seria, no futuro, a ligação da agremiação com a família Abrão David. Sua filha, Marlene Sennas David, em depoimento dado à nossa equipe há alguns anos, era só elogios ao pai: “Meu pai era uma pessoa muito séria, responsável. Tinha um currículo invejável como militar da Marinha, com uma grande experiência em administração e muito bem relacionado com todos”. Naquela época, conta Marlene, “as escolas de samba não tinham a grandiosidade e o suporte financeiro que atualmente possuem e foi com muita luta e garra
Fevereiro 2013
7
que a Beija-Flor foi adquirindo seu espaço no mundo do Carnaval. A Beija-Flor, semelhantemente a outras escolas pequenas, só conseguia colocar o pé na avenida porque seus representantes, como meu pai, criaram um livro de ouro que percorria todo o comércio da região”.
Em conversas realizadas entre a equipe de produção da revista com integrantes da Velha Guarda nilopolitana, muitos foram os relatos emocionados confirmando a dedicação da dupla para dar uma melhor qualidade de vida aos moradores do município.
ENSAIOS PARA A VITÓRIA
REENCONTRO COM A ELITE DO CARNAVAL
Chega 1954 e a estreia da Beija-Flor no Carnaval carioca prenuncia a força dos tempos que estavam sendo construídos. De autoria do próprio Cabana, o enredo “O caçador de esmeraldas”, que falava sobre o movimento bandeirante, consagra-se campeão do 2º Grupo conquistando o direito de desfilar no Grupo I no ano seguinte. Era a Beija-Flor de Nilópolis chegando à elite do Carnaval da Guanabara, levando ao delírio a nação nilopolitana e da Baixada Fluminense. Disputando com poderosas agremiações como Estação Primeira de Mangueira, Império Serrano, Portela e Acadêmicos do Salgueiro, aquele pequeno bloco, agora agremiação de Carnaval, que despontou em um barzinho na Baixada Fluminense, permaneceu no Grupo I durante oito anos (só 29 anos depois surgiria o Grupo Especial). Infelizmente, ou talvez como parte de um processo necessário de aprendizagem e amadurecimento - os ensaios para a vitória -, a agremiação enfrentou momentos difíceis, que culminaram no rebaixamento para o Grupo II e um ano depois para o Grupo III.
NOVOS TEMPOS SE APROXIMAM Mas fortes rajadas de ventos renovadores se aproximavam da Beija-Flor. Era a chegada dos filhos de Da. Júlia Abrão e de seu Abrão David à frente da escola de samba nilopolitana. Apaixonados por samba, nascidos e criados em Nilópolis, Anizio Abrão David e seu irmão Nelson Abrão David começaram a criar laços mais estreitos com a escola, os quais nunca mais foram desfeitos. Felizmente. Em 1967, Anizio e Nelson deram todo o apoio possível ao presidente da escola, Heitor Silva, fazendo com que a agremiação voltasse a desfilar em 1968 no Grupo II. Nesse ano, Anizio assume a presidência da escola e juntamente com Nelson iniciam um consistente trabalho dentro e fora da agremiação, por entenderem que a sua escola de samba do coração poderia oferecer ao nilopolitano e ao morador da Baixada Fluminense muito mais do que desfiles e títulos. Foi assim que os irmãos David iniciaram um trabalho filantrópico na área da educação básica e fundamental que até hoje beneficia os moradores da região.
8
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Em 1973 foi a vez de Nelson assumir a presidência da escola. Já focados em fazer da Beija-Flor de Nilópolis uma grande agremiação de Carnaval, Anizio e Nelson começaram a investir recursos próprios em favor dessa transformação. O primeiro resultado importante foi também um passaporte para desfilar no ano seguinte no Grupo I. A Beija-Flor de Nilópolis conquistou o 2º lugar no desfile realizado em 1973 na Avenida Presidente Antonio Carlos. E foi assim que a escola voltou a aparecer de forma definitiva no extinto Grupo I. Em 1974, com o enredo “Brasil ano 2000”, conquistou o sétimo lugar, disputando colocações com tradicionais escolas de samba. Um sinal de que o sonho era possível.
SONHO REALIZADO Cientes de que o sonho de colocar a agremiação no rol das principais escolas de samba do Carnaval era realizável, os irmãos David não economizaram. A “peso de ouro” contrataram três grandes nomes do Carnaval carioca – João Trinta, Laíla e Viriato –, os quais, cada um em sua área, prepararam um desfile magistral para 1976. Foi a grande reviravolta do Carnaval. Com um enredo abordando um dos principais passatempos do carioca na época – o jogo do bicho –, a Beija-Flor de Nilópolis ousa e revoluciona, levando à avenida o enredo “Sonhar com Rei dá Leão”. É claro que o resultado não poderia ser diferente. A escola surpreendeu, encantou e conquistou a todos com o seu desfile – dos torcedores aos jurados –, o que resultou em um merecido título que mudaria sua história e a do Carnaval carioca.
BAMBAS NA AVENIDA Mas não se pode falar na história da Beija-Flor de Nilópolis sem falar em alguns bambas que lideraram essa revolução estética e conceitual levada para a avenida: João Jorge Trinta, Luiz Fernando do Carmo (Laíla) e Viriato Ferreira.
www.beija-flor.com.br
Essa trinca chegou para revolucionar a Beija-Flor de Nilópolis e o Carnaval, sendo os grandes responsáveis pela introdução na avenida de carros alegóricos mais altos e grandiosos, como o que levou o público ao delírio no desfile de 1976: “Com as arquibancadas cada vez mais altas, já havíamos observado que os carros não ficavam bem visíveis aos olhos do público. Por isso, resolvemos crescer verticalmente nosso desfile, especialmente com carros alegóricos maiores e bem adereçados de cima a baixo. Sobre o carro que conquistou o público, me lembro muito bem dele. Era uma enorme alegoria com casal de negros adormecidos e rodeados de figuras alegóricas – elefantes, cobras, gatos, borboletas – que simbolizam os sonhos. Na alegoria, incluímos folhas prateadas representando o dinheiro da época. Acho que eram réis.”, relembra com orgulho Laíla.
Outra importante figura da escola surge, também, nesta época: Luís Antônio Feliciano Marcondes, que futuramente viria a ser conhecido como Neguinho da Beija-Flor. Luís Antônio foi um dos compositores do samba vitorioso “Sonhar com Rei dá Leão”. Com sua voz notável e simpatia, ao lado do puxador Zambia, ganhou o carinho do público tornando-se o intérprete oficial da agremiação, onde permanece soberano há 37 anos.
Fevereiro 2013
9
REVOLUÇÕES NA AVENIDA Desde que deu início a essa revolução estética, os desfiles da Beija-Flor são marcados pelo luxo, pela beleza e pela criatividade. Para se ter uma ideia da força criativa da agremiação, hoje se fala que uma inovação é colocar na avenida duas baterias, mas já em 1977, há 36 anos, a nilopolitana colocou em seu desfile duas baterias. É o próprio Laíla, um dos idealizadores e condutores dessa inovação, que nos lembra: “Nesse ano, ao montar a escola na avenida – desfilamos da Praça XI para a Praça da Bandeira –, eu botei duas baterias, a oficial na frente da escola e também peguei um grupo que trabalhava comigo no Renascença e no Bola Preta, que eram músicos do Canarinho das Laranjeiras, e fiz uma bateria de apoio com 90 pessoas. O desempenho deles foi perfeito porque, além da competência que tinham, eu soube posicioná-las do modo correto. As duas baterias começaram a tocar juntas, mas a segunda seguia uma dinâmica menor
10
Revista Beija-Flor de Nilópolis
que a principal , que ia se afastando. Até que eu dava a ordem para a bateria de apoio tocar dentro da pulsação normal.” O ano de 1977 também foi o ano do primeiro bicampeonato da escola, que reservaria mais surpresas, inovações, arte e emoção para o Carnaval carioca. Foi assim que, em 1989, com o enredo “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia”, a escola novamente renovou e fez da Marquês de Sapucaí o palco do mais vibrante e emocionante desfile de Carnaval de todos os tempos. Abrindo o desfile com a diretoria vestida com uniformes de gari, componentes fantasiados de mendigos e uma enorme escultura - o Cristo Mendigo - para coroar o que seria um belíssimo desfile, a Beija-Flor de Nilópolis atingiu o ápice de conexão com o público. Tendo a escultura da sua principal alegoria – o Cristo Mendigo – proibida de entrar na avenida por uma decisão judicial movida por re p re s e n tantes da Igreja Católica, o carnavalesco Joãosinho
www.beija-flor.com.br
Trinta contornou essa abusiva decisão envolvendo o Cristo Mendigo em plásticos pretos e em uma faixa onde se lia a antológica frase: “Mesmo proibido, olhai por nós”. A Rainha dos Destaques, Isabela Dantas, estava na avenida em “Ratos e Urubus” no carro abre-alas – “a nobreza do lixo” –, que tinha também a presença do destaque Jésus Henrique no papel de urubu e Isidoro Santos que, fazendo o papel de rei, fazia par com Isabela. Segundo ela, “o enredo foi desenvolvido com muita inteligência, e todo o desfile estava lindo. Minha roupa, envelhecida em razão do enredo, parece que tinha sido tirada do lixo e guardada dentro do baú. Estava maravilhosa. Me lembro da atriz e cantora Zezé Motta, que desfilava como mendiga. Estava tudo lindo, e não tinha dúvida de que o título seria nosso. Mas o grande momento do desfile foi quando, por ordem de Joãosinho, os desfilantes retiraram os plásticos negros desse Cristo Mendigo e proibido, que não era propriedade da Igreja. Desse Cristo que estava ao lado de todos, inclusive dos menos favorecidos e dos menos afortunados”, lembra emocionada. E as lembranças de Isabela são tão verdadeiras, e aquele momento foi tão único que um dos baluartes do Carnaval carioca, o carnavalesco Fernando Pamplona, visivelmente emocionado, dá uma comovente declaração ao vivo na TV Manchete durante a transmissão: “Esse é um momento glorioso... glorioso, glorioso, gente. O povo aplaude quem tem coragem. Estão tirando o plástico negro de cima do Cristo Mendigo. Acompanhem pelo amor de Deus. Acompanhem o povo em êxtase. Vocês jamais vão ver um espetáculo tão bonito, gente..”. Apesar da apresentação épica a escola acabou não conquistando o título, mas esse desfile sempre será lembrado como um dos mais emocionantes protagonizados na Sapucaí.
RPD - REVOLUÇÕES POR DESFILE E as revoluções não pararam por aí. Apesar de “Ratos e Urubus” ter sido um desfile incomparável, único e emblemático para a nação do Carnaval, outros desfiles da azul e branco levaram para a avenida inovação e criatividade. Dessa vez, o novo marco apresentado pela Beija-Flor de Nilópolis surgiu através do competente trabalho desenvolvido pela bailarina e coreógrafa Ghislaine Cavalcanti. Pela primeira vez na história do Carnaval uma escola de samba leva para o desfile uma Comissão de Frente composta por bailarinas: “Preparei 15 bailarinas de dança clássica para abrir o desfile da Beija-Flor. Ensaiamos exaustivamente para alcançar o nível de qualidade que pretendia impor ao desfile. E o sucesso foi enorme. O público reconheceu o trabalho pioneiro realizado com bailarinas na Comissão de Frente desfilando com graça e beleza do início ao fim. Uma outra inovação que propusemos e depois foi seguida por outras escolas foi referente à indumentária das integrantes da Comissão. Colocamos roupas leves, com os braços e os corpos soltos, que permitiam às componentes maior leveza e agilidade nos movimentos. As Comissões de Frente passaram a levar para a avenida performances próprias e não tenho dúvida que dei minha contribuição. A partir daquela apresentação, no carnaval de 1997, as escolas começaram a discutir possibilidades para as suas Comissões de Frente. E isso me gratifica muito. Contribuímos para a evolução do espetáculo e meus esforços foram recompensados com seis títulos de campeã“, destaca orgulhosa. Apesar de desfiles desenvolvidos sempre com cuidado, qualidade e criatividade, os resultados não vieram. Foi então que, com a saída de Milton Cunha, a agremiação nilopolitana novamente protagonizou inovações conceituais no Carnaval. “Os resultados não estavam chegando e achei que estava faltando uma ligação mais forte da escola e do barracão com o carnavalesco. A figura de um carnavalesco único estava criando estrelismos demasiados, quando, na verdade, a grande estrela do Carnaval é o desfile, com suas alegorias e seus desfilantes. Queria criar o Carnaval dentro do barracão. Chamei o Laíla e disse que para o Carnaval de 1998 a Beija-Flor não teria mais carnavalescos”, lembra Anizio. Laíla, então, deu andamento a essa ideia e a figura do carnavalesco passou a ser representada por uma comissão de carnaval, com sete integrantes. A direção desta comissão ficou por conta de Laíla, que apoiou incondicionalmente a proposta de Anizio. “A iniciativa deu certo. No ano seguinte da montagem da comissão de carnaval, conquistamos o primeiro lugar no Grupo Especial
Fevereiro 2013
11
com o enredo ‘O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu’. Foi o fim de um jejum de quase 15 anos. A partir daquele ano, fomos vice-campeões 5 vezes e 7 vezes campeões. Hoje, temos uma equipe fortíssima que nos permite entrar na avenida para vencer, com a certeza de termos realizado um trabalho sério e competente. E os resultados nos dão a certeza de que criamos o caminho certo para trilhar”, reforça Laíla. Outras importantes inovações foram levadas para o Carnaval carioca, algumas pouco percebidas pelo público, outras bem evidentes e que marcaram ainda mais os compromissos sociais e culturais da Beija-Flor de Nilópolis. É o caso da valorização dos componentes da comunidade
“A Beija-Flor de Nilópolis tem uma história muito significativa, de superação. Não só dos componentes, mas da escola como um todo. As pessoas falam hoje da Beija-Flor com respeito, mas isso é resultado de uma conquista. Conquistamos o respeito das outras escolas, que já chegaram a debochar da escola chamando de “escola da roça”. Hoje essas escolas nos copiam, porque sabem que nós somos vanguarda. Outras escolas se esforçam para ocupar o posto que conquistamos de escola criativa. Permanecem, então, se mirando no que fazemos. Somos referência no carnaval. E sempre seremos, porque uma vez conquistado esse espaço, a nação nilopolitana não vai ceder ele com facilidade. Tenho muito orgulho de ter dado início, junto com o Anizio, Nelson, João Trinta e Viriato, a essa história. Tenho muito orgulho dessa minha comunidade que faz sermos o que somos”.
na composição das alas e, consequentemente, dos desfiles. Um conceito desenvolvido pelo diretor de Carnaval da azul e branco, Laíla, e que tem feito uma enorme diferença na avenida: “Desde quando instituí, com apoio e aprovação do Sr. Anizio, que as alas de comunidade seriam compostas realmente de pessoas da comunidade e com controle de presença aos ensaios, os desfiles da Beija-Flor ganharam em volume, qualidade e força. Uma energia que contagia o público pela emoção e sinceridade. O público presente na Sapucaí e os telespectadores veem claramente o amor com que os componentes da escola desfilam”, conclui Laíla.
MARCAS NO CAMINHO Histórias e momentos construídos e vividos pela agremiação nilopolitana que foram divididos com centenas de milhares de brasileiros através de desfiles memoráveis, esteticamente perfeitos e encharcados de amor pelo samba e pelo Carnaval. Oxalá essa escola de samba vitoriosa e seus componentes tenham muita saúde e energia para continuarem fazendo parte essencial da história do samba e do Carnaval carioca.
Laíla
12
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
13
1954 / 2013 UMA ESCOLA DE SAMBA E DE GUERREIROS Em 2013 a Beija-Flor de Nilópolis completará 65 anos de fundação. Em homenagem à agremiação e aos seus componentes, que construíram uma história de garra, amor, alegria e criatividade, a revista Beija-Flor de Nilópolis apresenta os desfiles da escola e os sambas-enredos, que emocionaram o folião ao longo desses anos.
14
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
15
DESFILE 1954
O caçador de esmeraldas Colocação: 1º lugar - Grupo II Local do desfile: Praça XI Autor: Cabana Compositor: Osório de Lima Presidente da Escola: José Rodrigues Senna Apresentamos neste carnaval Uma história importante Na qual mencionamos Fernão Dias Paes Este grande bandeirante Que cuja vida dedicou em prol De esmeraldas no sertão E após tornar-se feito seu grande ideal Tombou junto ao rio das Velhas o imortal Pela riqueza da nossa nação
Bartolomeu Bueno da Silva, Borba Gato, Antônio Arzão Os heróis aventureiros Que no Brasil inteiro Deixaram fama, glória e tradição La la laia la la ia... Samba-enredo sobre o movimento bandeirante, iniciado em meados do século XVII. Os bandeirantes foram uma espécie de desbravadores do Brasil. O objetivo era buscar riquezas naturais. Na letra da música são destacados os principais nomes desse movimento: Fernão Dias Paes, Manuel da Borba Gato, Bartolomeu Bueno da Silva e Antônio Raposo Tavares.
Foi que durante sete anos Explorou alguns sertões Seus feitos rutilantes Refletem radiantes Dentro em nossos corações
16
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
DESFILEs
BEIJA-FLOR 1955
Páginas de ouro da poesia brasileira Colocação: 6º lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Presidente Vargas Autor: Nilo Compositor: Osório de Lima Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1959 Copa do Mundo
Colocação: 9° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Augusto de Almeida Compositor: Pardal Presidente da Escola: José Rodrigues Senna
1956 O gaúcho
Colocação: 10° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Presidente Vargas Autor: Nilo Compositor: Cabana Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1957
Riquezas áureas do Brasil Colocação: 7° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Augusto de Almeida Compositor: Cabana Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1958
Exaltação às forças armadas Colocação: 10° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Benedito dos Santos Compositor: Vacele Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
Fevereiro 2013
17
DESFILEs
BEIJA-FLOR
1960 Regência Trina
Colocação: 6° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Augusto de Almeida Compositor: Cabana Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1961
Homenagem a Brasília Colocação: 8° lugar - Grupo I Local de Desfile: Praça XI Autor: Josefá Compositor: Cabana Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1962 Dia do Fico
Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Presidente Vargas Autor: Cabana Compositor: Cabana Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1963 O Guarani
Colocação: 10° lugar- Grupo I Local de Desfile: Candelária Autor: Josefá Compositor: Cabana Presidente da Escola: Alberto Emiliano da Silva
18
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
1964
Café, riqueza do Brasil Colocação: 12° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Cabana Compositor: Cabana Presidente da Escola: Helles Ferreira da Silva
1965 Lei do Ventre Livre
Colocação: 3° lugar - Grupo III Local de Desfile: Praça XI Autor: Cabana Compositor: Nicanor de Oliveira E Timbó Presidente da Escola: Arthur Severiano Pinto
1969 Paquete do exílio
Colocação: 9° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Cabana Compositor: Ivancué Presidente da Escola: Heitor Silva
1970
:
Rio, quatro séculos de glória Colocação: 6° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Abílio Compositor: Walter de Oliveira Presidente da Escola: Heitor Silva
1966
Fatos que culminaram com a Independência do Brasil Colocação: 3° lugar - Grupo III Local de Desfile: Praça XI Autor: Augusto de Almeida Compositores: Timbó e Jair. Presidente da Escola: Heitor Silva
1967
A queda da monarquia Colocação: 2° lugar - Grupo III Local de Desfile: Praça XI Autor: Augusto de Almeida Compositor: Anézio Presidente da Escola: Heitor Silva
1968
Exaltação a José de Alencar Colocação: 9° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Rio Branco Autor: Anézio Compositor: Anézio Presidente da Escola: Anizio Abrão David
Fevereiro 2013
19
1971
Carnaval, sublime ilusão Colocação: 7° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Abílio Compositor: Walter de Oliveira Presidente da Escola: Heitor Silva
1974
1972
Colocação: 7° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Manuel Antônio Barroso Compositores: Walter de Oliveira e João Rosa Intérprete: Zamba Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Bahia dos meus amores Colocação: 6° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Abílio Compositores: Isaias Pereira e Sebastião Adilson Intérprete: Sílvio Presidente da Escola: Heitor Silva
1973
Educação para o desenvolvimento
:
Brasil ano 2000
1975
O grande decênio Colocação: 7° lugar - Grupo I Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Manuel Antônio Barroso Compositor: Bira Quininho Intérprete: Bira Quininho Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Colocação: 2° lugar - Grupo II Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos Autor: Manuel Antônio Barroso Compositores: César e Darvin. Presidente da Escola: Nelson Abrão David
20
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
21
DESFILE 1976
Sonhar com rei dá leão Colocação: 1º lugar - Grupo I Local do desfile: Mangue Autor: Joãosinho Trinta Compositor: Neguinho da Beija-flor Intérpretes: Neguinho da Beija-flor e Zamba Presidente: Nelson Abrão David Sonhar com anjo é borboleta Sem contemplação Sonhar com rei dá leão Mas nesta festa de real valor, não erre não O palpite certo é Beija-flor (Beija-flor) Cantando e lembrando em cores Meu Rio querido, dos jogos de flores Quando o Barão de Drummond criou Um jardim repleto de animais Então lançou... Um sorteio popular E para ganhar Vinte mil réis com dez tostões O povo começou a imaginar... Buscando... no belo reino dos sonhos Inspiração para um dia acertar Sonhar com filharada... é o coelhinho Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho E com rapaz todo enfeitado O resultado pessoal... É pavão ou é veado Desta brincadeira Quem tomou conta em Madureira Foi Natal, o bom Natal Consagrando sua Escola Na tradição do Carnaval Sua alma hoje é águia branca Envolta no azul de um véu Saudado pela majestade, o samba E sua brejeira corte Que lhe vê no céu
22
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
“Sonhar com rei da Leão” foi o marco de ascensão da Beija-Flor de Nilópolis, uma escola de samba da baixada fluminense desconhecida do grande público. Segundo Anizio, “estávamos dando início a um projeto de transformação da Beija-Flor de Nilópolis. O primeiro passo foi contratar profissionais de qualidade reconhecida, como o João Trinta, o Laíla e o Viriato. Sabíamos da competência deles e entendíamos que bastava um bom investimento para a escola fazer um belo carnaval.“ E foi o que aconteceu. Valendo-se de uma arraigada tradição carioca, João Trinta e sua equipe desenvolveram um enredo bem popular, sobre o Jogo do Bicho e o universo onírico e de divertimento que o envolve. O desfile foi um sucesso porque foi capaz de unir com qualidade e bom gosto diversos ingredientes: primeiro, era um enredo que falava diretamente ao povo da fluminense, que se identificava com o que via na Avenida, já que o Jogo do Bicho era uma modalidade de jogo amplamente praticada pelo carioca. Segundo, porque a Beija-Flor de Nilópolis levou para o desfile de 1976 componentes em fantasias bem feitas e cuidadosamente adornadas, carros alegóricos luxuosos, imponentes e verticalizados para atender o público presente nas arquibancadas, cada vez mais altas. E terceiro, porque foi um desfile solto, alegre, brincalhão. Tudo que o público queria ver. Viu e se emocionou. O presidentre do Conselho Consultivo, Ary Rodrigues lembra que em todo período que antecedeu o desfile, os colegas e amigos das quatro principais escolas de samba da época brincavam e debochavam da Beija-Flor, chamando-a de “escola da roça”. Inegavelmente, “a escola da roça” e seu desfile deram início a uma revolução no carnaval carioca.
Fevereiro 2013
23
DESFILE 1977
Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana Colocação: 1º lugar - Grupo I Local do desfile: Av. Presidente Vargas Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Savinho e Luciano Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente da Escola: Nelson Abrão David Caiu dos olhos da vovó (Lalaiá, laiá) Uma lágrima sentida Lembrando imagens de criança Do velho tempo que passou O seu pranto é colorido Nas vivas cores da televisão Que hoje assiste recordando Formosos ranchos e grandes sociedades No esplendor da noite Como era lindo a presença do dia A corte egipciana Enredos de nostalgia Não chore não vovó Não chore não Veja quanta alegria dentro da recordação Relembre a graça do entrudo E o fascínio do baile de Veneza Lá em Roma Pagã Para festejar a primavera Colhiam frutos e faziam orgia Que começavam ao romper do dia E vinha um rei Num belo carro naval Alegrando a saturnália Inventando o carnaval
24
Revista Beija-Flor de Nilópolis
(De lá pra cá) De lá pra cá Tudo se transformou Mas a vitória da folia ficou No encanto do meu povo que brinca Sambando quando samba a Beija-Flor (Vovó) A Saturnália era um festival romano em honra ao deus Saturno que ocorria no mês de dezembro, no solstício de inverno. As festas duravam quatro dias onde ninguém trabalhava, banquetes eram servidos e presentes oferecidos. Subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam temporariamente como homens livres. Era escolhido um rei que fazia o papel de Saturno. Quando soube que a Beija-Flor havia conquistado o título, Anizio foi entrevistado pelas rádios disse que haveria chope para todos em Nilópolis, acenando para a plateia e foi carregado até a rua. A comemoração maior ocorreu na Rua Mirandela, lotada pela multidão, enfeitada com gambiarras e até um palanque. “Quando souberam da vitória da escola, os integrantes começaram a cantar o samba-enredo e a suspender nos ombros, Nelson. Da cidade até Nilópolis, Anizio fez um cortejo, aonde ia acenando de pé para quem encontrasse no caminho e gritando “Olha o bi da roça”, ironizando outras escolas e se defendendo de que Nilópolis é interior do Rio. Usava uma faixa de bicampeão antes mesmo de saber o resultado. O cortejo contornou a Praça Paulo de Frontin com a multidão em delírio. As pessoas cantavam o samba-enredo e gritavam: “Nilópolis, a capital do samba!”. Na praça, uma faixa dizia: “Beija-flor, bicampeã do povo”.
www.beija-flor.com.br
DESFILE 1978
A criação do mundo na tradição nagô Colocação: 1º lugar - Grupo I Local do desfile: sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Neguinho da Beija-flor, Gilson Doutor e Mazinho Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente: Nelson Abrão David Bailou no ar O ecoar de um canto de alegria Três princesas africanas Na sagrada Bahia Iyá Kalá, Iyá Detá, Iyá Nassô Cantaram assim a tradição Nagô (Olurun) Olurun! Senhor do infinito! Ordena que Obatalá Faça a criação do mundo Ele partiu, desprezando Bará E no caminho, adormecido, se perdeu Odudua A divina senhora chegou E ornada de grande oferenda Ela transfigurou Cinco galinhas d’Angola e fez a terra Pombos brancos criou o ar Um camaleão dourado Transformou em fogo E caracóis do mar Ela desceu, em cadeia de prata Em viagem iluminada Esperando Obatalá chegar Ela é rainha Ele é rei e vem lutar (Ierê) Iererê, ierê, ierê, ô ô ô ô
Travam um duelo de amor E surge a vida com seu esplendor É considerado um dos melhores sambas da escola. O tema sobre a África e africanidades sempre se fez presente nos desfiles da Beija-Flor de Nilópolis. No início do desfile de 1978, Laíla discursa no auto-falante, mexendo nos brios da nação nilopolitana e conclamando-a para a vitória: “Atenção componentes da Beija-Flor! Quando ganhamos o carnaval em 76 disseram que foi por acaso. Ganhamos novamente em 77 e disseram que foi por acaso. Agora contamos com vocês para ganhar no gogó. No gogó”. O resultado não podia ser outro: a escola passou garantindo assombro, canto e alegria. De acordo com relatos de especialistas da época a agremiação fez um desfile perfeito, “Sustentou na bateria, não atravessou, não errou, deslumbrou”. Nos jornais da época lia-se, com ênfase, que a presença de Anizio deu um gás a mais para a escola, relatando que “por volta das 20h, o povo na quadra gritava ‘Anizio cadê você, estou aqui só para te ver’ ”.
Fevereiro 2013
25
DESFILEs
BEIJA-FLOR 1979
O paraíso da loucura Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Savinho, Luciano e Walter de Oliveira Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Nelson Abrão David
26
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
DESFILE 1980
O sol da meia-noite:
uma viagem ao país das maravilhas Colocação: 1º lugar - grupo I Local do desfile: sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Zé do Maranhão, Wilson Bombeiro e Aluizio Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente: Nelson Abrão David Preta velha imaginou uma estória e vai contar Preta velha já falou que nós vamos viajar (Galopando) Galopando em cavalos alados Chegamos ao país das maravilhas Iluminado pelo sol da meia-noite Bela fantasia infantil Recebidos por soldadinhos de chumbo Entramos na floresta encantada Brincamos com cata-ventos, pipas e piões No enlace da barata e dom ratão Jogar xadrez, pique-bandeira Pular carniça tudo é brincadeira Um gênio cria fogos de artifício Os animais falam e as flores cantam Neste lindo encanto eis o resplendor E a magia das mil e uma noites Chapeuzinho, lobo, Cinderela a gata Branca de neve e os sete anões A chita correndo com o saci pererê E todos falando a lingua do P P B P ru P xa} Levantando a poeira} Até a bruxa vem brincar} Olha ciranda vamos todos cirandar E na terra dos brinquedos Todo mundo recordar Índio, malandro, a baianinha, oriental Outra vez eu sou criança e Beija-Flor no carnaval
O samba-enredo falava sobre o sonho infantil. O carrossel, que trazia as mulatas de Nilópolis e uma iluminação impactante, era de deixar todos surpresos. O refrão, que acompanha a língua do P, fez toda a arquibancada sacudir. O tema foi mostrado através de alas muito bem planejadas, com cores e tons predominantes no azul e branco sempre combinados ao prata. Pela primeira vez, o desfile foi realizado no sentido Presidente Vargas-Catumbi, que vigora até hoje. A grande polêmica foi o não julgamento dos quesitos “comissão de frente” e “mestre-sala e porta-bandeira”. O tempo do desfile diminuiu de 80 para 70 minutos.
Fevereiro 2013
27
DESFILEs
BEIJA-FLOR 1981
Carnaval do Brasil, a oitava das sete maravilhas do mundo Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Neguinho da Beija-Flor, Dicró e Picolé. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Nelson Abrão David
28
Revista Beija-Flor de Nilópolis
1982
O olho azul da serpente Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Wilson Bombeiro, Carlinhos Bagunça e Joel Menezes. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Nelson Abrão David
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
29
DESFILE 1983
Colocação: 1º lugar - Grupo I Local do desfile: SAMBÓDROMO Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Neguinho da Beija-flor e Nego Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente: Nelson Abrão David Ô ô ô Yaôs quanto amor As pretas velhas Yaôs Vêm cantando em seu louvor
30
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A constelação De estrelas negras que reluz Clementina de Jesus Eleva o seu cantar feliz A Ganga-Zumba Que lutou e foi raiz Do negro que é arte, é cultura É desenvoltura deste meu país Êh ! Luana O trono de França será seu baiana
www.beija-flor.com.br
A grande constelação das estrelas negras
Pinah êêê Pinah A Cinderela negra Que ao príncipe encantou No carnaval com o seu esplendor Grande Otelo homem show Em talento dá olé E o mundo inteiro gritou, Gol! (É gol) Gol do grande Rei Pelé Ô Yaôs
O objetivo do enredo era homenagear personalidades negras de destaque como Pelé, Grande Otelo, Clementina de Jesus, Ganga Zumba e a passista da escola Pinah – que sambou com o príncipe Charles em uma apresentação no Palácio da Cidade. Comparado ao desfile anterior, nesse ano a Beija-Flor de Nilópolis teve mais liberdade, já que a Riotur decidiu abolir as restrições como a proibição de figuras vivas em cima de alegorias e a limitação de quatro carros alegóricos. A agremiação, nesse ano, desfilou com quase três mil componentes. Às 11h15 da manhã. O público chegou a gritar o “Já ganhou!” tamanho o impacto da entrada da escola. Comissão de frente formada por negros altos vestidos de branco foi um sucesso. Destaque, também, para o carro Abre-alas que era todo espelhado. Pela sua perfeita performance, o Mestre-Sala Élcio PV ganhou o Estandarte de Ouro. Pinah, a cinderela negra, lembra muito bem do desfile: “Nesse ano, só tinha gente fera sendo homenageada. E foi um momento lindo, porque eu já vinha me destacando na escola, graças ao Joãozinho e ao Anízio, que me deram uma grande oportunidade. Eu desfilava em uma Carruagem do Palácio de Buckingham e me lembro da emoção que foi ao passar na avenida e ouvir as pessoas cantando e gritando o meu nome, no ponto alto do samba. Neguinho foi muito feliz nesse samba. Mas o que considero mais importante do que um desfile lindo e o título, foi a ousadia do Anizio e da Beija-Flor em fazer um enredo dando ao negro um papel de destaque, afinal, naquela época ser negra não era fácil, e um enredo valorizando o negro, reconhecendo seu valor, causou um enorme impacto no público e na imprensa”.
Fevereiro 2013
31
DESFILEs
BEIJA-FLOR Um gigante em berço esplêndido
As mágicas luzes da ribalta
Colocação: 3° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Neguinho da Beija-Flor e Nego Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 4° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Mazinho e Gilson Doutor. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Anizio Abrão David
1985
1988
A Lapa de Adão e Eva
Sou negro, do Egito à liberdade
Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Zé do Cavaco, Carlinhos Bagunça, Carnaval, H.O. e Patrício Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 3° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Ivancué, Claúdio Inspiração, Marcelo Guimarães e Aluízio Santos. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Anizio Abrão David
1986
Ratos e urubus, larguem minha fantasia
O mundo é uma bola Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Betinho e Jorge Canuto. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
32
1987
1984
Revista Beija-Flor de Nilópolis
1989
Colocação: 2° lugar - Grupo I Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e Osmar. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Anizio Abrão David
www.beija-flor.com.br
1990
1994
Todo mundo nasce nu
Margaret Mee, a dama das bromélias
Colocação: 2° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Betinho, Jorginho, Bira e Aparecida. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Anizio Abrão David
Colocação: 5° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Milton Cunha Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Compositores: Arnaldo Matheus, J. Santos e Almir Moreira. Presidente da Escola: Farid Abrão David
Alice no Brasil das maravilhas
1991
Bidu Sayão e o canto cristal
Colocação: 4° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Pelé, Cláudio Inspiração, Tonho Magrinho e Paulo Roberto Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Colocação: 3° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Milton Cunha Compositores: Bira, Zé Carlos do Cavaco, Tião Barbudo, Dequinha Pottiêr e Jorginho. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
1992
1996
1995
Há um ponto de luz na imensidão
Aurora do povo brasileiro
Colocação: 7° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Joãosinho Trinta Compositores: Dinoel Sampaio, Itinho e Neguinho da Beija-Flor. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Luiz Carlos D. Baptista
Colocação: 3° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Milton Cunha Compositor: Miro Barbosa Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
1993
Uni-Duni-Tê, a Beija-Flor escolheu você Colocação: 3° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Maria AugustA RODRIGUES Compositores: Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Luiz Carlos D. Baptista
1997
A Beija-Flor é festa na Sapucaí Colocação: 4° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Milton Cunha Compositores: Wilson Bombeiro, J. Santos, Arnaldo Matheus e Almir Sereno Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Fevereiro 2013
33
DESFILE 1998
O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu Anu Colocação: 1º lugar - Grupo Especial Local do desfile: Sambódromo Autor: COMISSÃO DE CARNAVAL (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Caralho, Nelson Ricardo, Amarildo Mello, Vitor Santos e Paulo Fuhro). Compositores: Alencar de Oliveira, Wilsinho Paz, Noel Costa, Baby e Marcão Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente: Farid Abrão David Beija-flor E o mundo místico dos Caruanas Nas águas do Patu-Anu Mostra a força do teu samba Contam que no início do mundo Somente água existia aqui Assim surgiu o girador, ser criador Das sete cidades governadas por Auí Em sua curiosidade, aliada à coragem Com seu povo ao fundo foi tragado O que lá existia aflorou, o criador semeou Surgindo os seres viventes em geral E de Auí se deu a flora, fauna e mineral Sou Caruana eu sou Patu-Anu nasceu do girador, obá Eu trago a paz, sabedoria e proteção Curar o mundo é minha missão Pajé, a pajelança está formada Eu vou na barca encantada Anhangá representa o mal Evoque a energia de Auí Pra vida sempre existir Oferenda ao mar pra isentar a dor Com a proteção dos caruanas Beija-flor
34
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A pajelança hoje é cabocla Na Ilha de Marajó, vou dançar o carimbó Lundu e siriá, marujada e vaquejada Minha escola vem mostrar O folclore que encanta O estado do Pará O G.R.E.S. Beija-Flor mostra ao mudo uma cultura milenar trazendo para a avenida esse samba-enredo. Teve como base o livro “O mundo místico dos Caruanas e a revolta de sua ave”, escrito pela Pajé Zeneida Lima, da Ilha de Marajó. O tema foi a “Pajelança Cabocla”, herança das tribos que lá habitavam e que foram sendo dizimadas. Hoje, em vez de índios, a Ilha abriga caboclos que continuam a “Pajelança”. O pajé caboclo evoca o Caruana Beija-Flor, energia guardiã do culto e da doutrina. Auí, líder do povo do Girador, e seu povo são transformados em Caruanas, energias encantadas auxiliadoras do mundo dos vivos. E do Girador nasceu o “Patu-Anu”, o grande mistério das águas onde lhe foram delegados os poderes de criação de vários elementos que compunham o mundo da encantaria.
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
35
DESFILEs
BEIJA-FLOR 1999
Araxá, lugar alto onde primeiro se avista o sol Colocação: 2° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e Shangai) Compositores: Wilsinho Paz e Noel Costa Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
A saga de Agotime- Maria Mineira Naê Colocação: 2º lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e Shangai) Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Compositores: Déo, Caruso, Cleber e Osmar Presidente da Escola: Farid Abrão David
2002
2000
O Brasil dá o ar de sua graça. De Ícaro a Rubem Berta, o ímpeto de voar
Colocação: 2° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e Shangai) Compositores: Igor Leal e Amendoim da Beija-Flor Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 2º lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Victor santos e Shangai) Compositores: Wilsinho Paz, Elcy, Gil das Flores, Alexandre Moraes, Tamir, Tom-Tom e Igor Leal Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Brasil, um coração que pulsa forte. Pátria de todos ou terra de ninguém?
36
2001
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
DESFILE 2003
O povo conta sua história:
saco vazio não para em pé. A mão que faz a guerra faz a paz Colocação: 1º lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo AUTOR: COMISSÃO DE CARNAVAL (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai) COMPOSITORES: Betinho, J. C. Coelho, Ribeirinho, Glyvaldo, Luis Otávio, Manoel do Cavaco, Serginho Sumaré e Vinícius. Intérprete: Neguinho da Beija-flor Presidente: FARID Abrão David
Oh!!! meu Brasil (bis) Overdose de amor nos traz Se espelha, na família “beija-flor” Lutando eternamente pela paz Luz divina luz que me conduz Clareia meu caminhar clareia Nas veredas da verdade: cadê a felicidade Aportei, num santuário de ambição E o índio muito forte resistiu A tortura implacável assistiu Enquanto o negro cantava saudade Da terra mãe de liberdade Na frança é tomada a Bastilha O povo mostra a indignação Revoltado com o diabo Que amassou o nosso pão Grito forte dos palmares... Zumbi Herói da inconfidência... Tiradentes Nas caatingas do nordeste... Lampião Todos lutaram contra força da opressão
Nasce então Poderosa, guerreira E desenvolve seu trabalho social Cultural aos pobres, abrigou maltrapilhos Fraternidade, de modo geral Brava gente sofrida da baixada Soltando a voz no planeta carnaval Eu quero: liberdade, dignidade e união Fui lata, hoje sou pirata Lixo ouro da região Chega de ganhar tão pouco Tô no sufoco: vou desabafar Pare com essa ganância, pois a tolerância Pode se acabar... O enredo era uma crítica social às injustiças que o povo brasileiro sempre sofreu: fome e miséria. “A mão que faz a guerra faz a paz” aborda os erros e acertos que ajudaram a formar a humanidade. A ideia inicial era falar sobre a fartura de comida, mas depois de pensar que nesse país onde muita gente morre pela falta dela, o diretor de harmonia, Laíla, decidiu o tema. A proposta da comissão de carnaval era mostrar a situação social em que vive o Brasil; apontar a origem das diferenças sociais; sensibilizar as pessoas e, principalmente, os governantes do país. O desfile aborda alguns dos principais “heróis” da população, que à sua maneira lutaram pelo nosso país: Lampião, Zumbi dos Palmares e Tiradentes.
Fevereiro 2013
37
DESFILE 2004
ManÔA, Manaus, Amazônia.
Terra santa, que alimento o corpo equilibra a alma e transmite a paz Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai) CompositorES: Cláudio Russo, Zé Luís, Marquinhos, Jessi e Leleco Intérprete: Neguinho da Beija-flor PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID A ambição cruzou o mar Trazida pelo invasor A Espanha veio explorar Pilhar e semear a dor Amazônia Terra Santa Dos igarapés, mananciais Alimenta o corpo, equilibra a alma Transmite a paz Brilhou o Eldorado no coração da mata as guerreiras Belezas naturais, riquezas minerais O reino de Tupã ergue a bandeira Êh! Manôa Minha canoa vai cruzar o Rio Mar Verde paraíso é onde Iara me seduz com seu cantar Força, mistério e magia Fruto da energia o meu guaraná A lágrima que o trovão derramou A terra guardou semente no olhar Maués, Anauê cultura milenar Anauê, Manaus, Mamirauá Viva a Paris Tropical Água que lava minh´alma Ao matar a sede da população
38
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Caboclo ê a homenagem hoje é A todo povo da floresta um canto de fé Se Deus me deu vou preservar Meus filhos vão se orgulhar A Amazônia é Brasil, é luz do criador Avante com a tribo Beija-Flor Considerado o melhor samba-enredo de 2005 pela crítica especializada, mostra a Amazônia como o verdadeiro Eldorado do séc. XXI. Desperta a consciência sobre a importância de se preservar a região chamada de “pulmão do mundo”. A mensagem que a escola buscou passar aos jurados e ao público foi a de que dias melhores virão, desde que sejam respeitados e preservados corretamente a mata e os rios. Os oitos setores contaram a história da fauna, flora e da abundância do maior reservatório de água potável do mundo que estão sendo desmatados e prejudicados pela invasão do homem. O desfile contou também com a lenda dos guardiões que protegem a floresta. A ideia do enredo partiu de Laíla, quando o mesmo visitou Parintins para assistir a festa local.
www.beija-flor.com.br
DESFILE 2005
O vento corta as terras dos pampas.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani.
Sete povos na fé e na dor. Sete missões de amor. Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: SAMBÓDROMO Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai) CompositorES: j.c. coelho, ribeirinha, adilson, china, serginho sumaré, domingos p.s., sidnei de pilares, zequinha do cavaco, wanderley novidade, jorginho moreira, paulinho rocha e walnei rocha. Intérprete: Neguinho da Beija-flor PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID Em nome do pai,do filho A beija-flor é guarani Sete povos na fé na dor Sete missões de amor Clareou... Anunciando um novo dia Clareou... Abençoada Estrela-guia Traz do céu a luz menino Em mensagem do divino Unir as raças pelo amor, fraternizar Acompanhia de Jesus Restaura a fé e a paz vai semear Os jesuítas vieram de além-mar Com a força da fé catequizar... E civilizar Na liberdade dos campos e aldeias Em lua cheia, canta e dança o guarani Com tubichá e o feitiço de crué Na yvy maraey, aiê...Povo de fé
Surgiu Nas mãos da redução a evolução Oásis para a vida em comunhão O paraíso Santuário de riquezas naturais Onde ergueram monumentos Imensas catedrais Mas a ganância Alimentada nos palácios de Madri Com o tratado assinado A traição estava ali Oh Pai, olhai por nós! Ouvi a voz desse missioneiro O vento cortando os pampas Bordando a esperança Nesse rincão brasileiro Nesse ano, a Beija-flor apresentou na avenida histórias das ações dos jesuítas no sul do Brasil, fundamental para o desenvolvimento da região. O começo do enredo fala sobre Jesus Cristo, que deu nome a chamada ‘Companhia de Jesus’ – criada para alcançar fiéis em tempos de crise do catolicismo - . O desfile também abordava o ‘Sete Povos das Missões’, região de instrumento de preservação da vida e cultura dos índios onde os jesuítas, os capacitavam para ganhar a vida, seja na agricultura, na pesca ou em trabalhos manuais. A ideia, conta Laíla , “surgiu quando em 99 visitei Porto Alegre e fui convidado a conhecer as sete cidades das Missões. Fiquei bem impressionado com a cidade de São Miguel”. Naquele ano, a escola se apresentou mais leve, colorida e com cores mais suaves.
Fevereiro 2013
39
DESFILEs
BEIJA-FLOR 2006
Poços de Caldas derrama sobre a Terra suas águas milagrosas: do caos inicial à explosão da vida, Água... a nave mãe da existência Colocação: 5° lugar - Grupo Especial Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai) Compositores: Wilsinho Paz, Noel Costa, Alexandre Moraes E Silvio Romai Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
40
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
DESFILE 2007
Áfricas. Do berço real à corte brasiliana Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: SAMBÓDROMO Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva E Cid Carvalho) CompositorES: Claudio Russo, J. Velloso, Carlinhos do Detran e Gilson Dr. Intérprete: Neguinho da Beija-Flor PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID Sou quilombola Beija-Flor Sangue de Rei, comunidade Obatalá anunciou Já raiou o sol da liberdade Olodumarê, o deus maior, o rei senhor Olorum derrama a sua alteza na Beija-Flor Oh! Majestade negra, oh! Mãe da liberdade África: o baobá da vida ilê ifé Áfricas: realidade e realeza, axé Calunga cruzou o mar Nobreza a desembarcar na Bahia A fé nagô yorubá Um canto pro meu orixá tem magia Machado de Xangô, cajado de Oxalá Ogun yê, o Onirê, ele é odara É Jeje, é Jeje, é Querebentã A luz que bem de Daomé, reino de Dan Arte e cultura, Casa da Mina Quanta bravura, negra divina
Gamboa, a Pequena África de Obá Da Pedra do Sal, viu despontar a Cidade do Samba Então dobre o Run Pra Ciata d`Oxum, imortal Soberana do meu carnaval, na princesa nilopolitana Agoyê, o mundo deve o perdão A quem sangrou pela história Áfricas de lutas e de glórias
Resgatar a importância do negro na construção da identidade brasileira. Esse foi o objetivo do enredo escolhido pela escola de Nilópolis. Ele buscou fugir do estigma de que a África é sinônimo de miséria e pobreza, visando ressaltar a beleza e a coragem do povo africano na época da escravidão. É exposta a África real e as Áfricas existentes no Brasil: quilombos, terreiros de candomblés e de magia, as festas folclóricas como o maracatu, maculelê e o afoxé. A Comissão de Frente foi formada por jovens negros da comunidade. A ideia do enredo é antiga. O carnavalesco iniciante na Beija-flor, Alexandre Louzada, conta que desde a época que trabalhava na Porto da Pedra (2003) tinha vontade de fazer um tema voltado ao negro.
Zumbi é rei Jamais se entregou, rei guardião Palmares, hei de ver pulsando em cada coração Galanga, pó de ouro e a remição, enfim Maracatu, chegou rainha Ginga
Fevereiro 2013
41
DESFILE 2008
Macapaba – Equinócio solar: viagens fantásticas ao meio do mundo Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: SAMBÓDROMO Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva E ALEXANDRE LOUZADA) Compositores: Cláudio Russo, J. Veloso, Carlinhos do Detran e Gilson Doutor Intérprete: Neguinho da Beija-flor PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID O meu valor me faz brilhar Iluminar o meu estado de amor Comunidade impõe respeito Bate no peito eu sou Beija-Flor É manhã Brilho de fogo sob o sol do novo dia Meu talismã, a minha fonte de energia Oh deusa do meu samba, a flor de Macapá No manto azul da fantasia Me faz mais forte, extremo Norte A luz solar, ilumina meu interior Vou viajar na Linha do Equador Emana ao meio do mundo a beleza A força da Mãe Natureza, é Macapaba O rio beijando o mar, encontro das águas Marejando meu olhar Quem foi meu Deus que fez do barro poema Quem fez meu Criador se orgulhar Os Cunanis, Aristés, Maracás, Foram dez, foram mais, pelo Amapá Um dia, navegando em rios de Tupã A viagem fantasia, dos filhos de Canaã
42
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A mágica da terra, a cobiça atraiu Ibéria se enleva no Brasil A mão de Ianejar Na fortaleza pela proteção da vida Em São José de Macapá Brilha Mairi a minha estrela preferida Herança moura em Mazagão Retiro meu chapéu de bamba e assim O marabaixo ao marco zero cai no samba Soam tambores no tocar do tamborim
“O enredo de 2008 surgiu ocasionalmente”, diz Alexandre Louzada. Em um encontro não combinado com o secretário de cultura de Macapá, Sérgio Lemos, Louzada foi convidado para ministrar lá um workshop sobre carnaval. Quando chegou, Louzada ficou impressionado com a riqueza do local, as histórias e a cultura. Macapaba tem várias histórias interessantes como ter pertencido à França, à Espanha, mas nunca chegou a ser conquistada porque a população sempre batalhou. O enredo foca na chegada de pessoas à região; não fala sobre botos, sereias e outras lendas. A fim de adotar um desfile mais solto, a Comissão de Carnavalescos resolveu diminuir o número de alas, facilitando a mensagem que a escola quer passar para o público. A grandiosidade das fantasias permaneceu, a escola veio mais colorida, com mais cores e energia.
www.beija-flor.com.br
DESFILEs
BEIJA-FLOR 2009
No chuveiro da alegria, quem banha o corpo lava a alma na folia Colocação: 2° lugar - GRUPO ESPECIAL Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva e ALEXANDRE LOUZADA) CompositorES: TOM-TOM, MARCELO GUIMARÃES, LOPITA, JORGE AUGUSTO E VENI VIEIRA Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
2010
Brilhante Ao Sol Do Novo Mundo, Brasília: Do Sonho à Realidade, A Capital da Esperança Colocação: 3° lugar - GRUPO ESPECIAL Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva e ALEXANDRE LOUZADA) CompositorES: PICOLÉ DA BEIJA-FLOR, SERGIONHO SUMARÉ, SAMIR TRINDADE, SERGINHO AGUIAR, DISON MARIMBA E ANDRÉ DO CAVACO Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Presidente da Escola: Farid Abrão David
Fevereiro 2013
43
DESFILE 2011
A simplicidade de um rei Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: SAMBÓDROMO Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, VICTOR CAMPOS E ALEXANDRE LOUZADA) Compositores: Samir Trindade, Serginho Aguiar, JR. Beija-Flor, Sidney de Pilares, Jorginho Moreira, Théo M. Netto, Mourão e Cleber do SindicaTO Intérprete: Neguinho da Beija-flor PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID Meu Beija-Flor chegou a hora De botar pra fora a felicidade Da alegria de falar do Rei E mostrar pro mundo essa simplicidade A saudade Vem pra reviver o tempo que passou Ah! Essa lembrança que ficou Momentos que não esqueci Eu cheio de fantasias na luz
do Rei menino Lá no seu Cachoeiro E lá vou eu... De calhambeque a onda me levar Na jovem guarda o rock a embalar... Vivendo a paixão Amigos de fé guardei no coração Quando o amor invade a alma... É magia É inspiração pra nossa canção... Poesia O beijo na flor é só pra dizer Como é grande o meu amor por você! Nas curvas dessa estrada a vida em canções Chora viola! Nas veredas dos sertões Lindo é ver a natureza Por sua beleza clamou em seus versos No mar navegam emoções Sonhar faz bem aos corações Na fé com o meu Rei seguindo Outra vez estou aqui vivendo esse momento lindo De todas as Marias vêm as bênçãos lá do céu Do samba faço oração, poema, emoção!
O tema de 2011 conta a história de Roberto Carlos, o Rei. Fatos de sua vida e curiosidades serão levados ao público que só conhece sua vida profissional. Divididos em 54 alas.
44
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
DESFILEs
BEIJA-FLOR 2012
São Luís - O Poema Encantado do Maranhão Colocação: 4° lugar - Grupo ESPECIAL Local de Desfile: Sambódromo Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, VICTOR SANTOS E ANDRÉ CEZARI) Compositores: J. Veloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Samir Trindade, Serginho Aguiar, JR Beija-Flor, Silvio Romai, Hugo Leal, Gilberto Oliveira, Ricardo Lucena, Thiago Alves e Romulo Intérprete: Neguinho da Beija-flor PRESIDENTE DA ESCOLA: NELSON SENNAS DAVID
Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão O homem nativo da terra Resiste em bravura A dor da invasão Do mar vêm três coroas Irmaão seu olhar mareja No balanço da maré A maldade não tem fé sangrando os mares Mensageiro da dor Liberdade roubou dos meus lugares Rompendo grilhões, em busca da paz A força dos meus ancestrais Na casa nagô a luz de Xangô Axé Mina Jêje um ritual de fé Chegou de Daomé, chegou de Abeokutá Toda magia do vodun e do orixá Ê rainha o bumba-meu-boi vem de lá Eu quero ver o cazumbá, sem a serpente acordar Hoje a minha lágrima transborda todo mar Fonte que a saudade não secou Ó Ana assombração na carruagem Os casarões são a imagem Da história que o tempo guardou No rádio o reggae do bom Marrom é o tom da canção Na terra da encantaria a arte do gênio João Meu São Luís do Maranhão Poema encantado de amor Onde canta o sabiá Hoje canta a Beija-Flor
Fevereiro 2013
45
46
Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
47
A BEIJA-FLOR PEDE PASSAGEM
E EXIGE RESPEITO AO CARNAVAL José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni)
Carnaval e futebol são duas paixões do povo brasileiro assim como a televisão no Brasil. Desconhecer esses pilares da cultura popular brasileira e atribuir a eles a pecha de “panis et circenses” é manifestação fascista, autoritária, ditatorial e uma perigosa ameaça à liberdade democrática. Quem quer controlar o que é do povo, quer, na verdade, controlar o povo. As Escolas de Samba, que nasceram nos morros e nas comunidades mais humildes, são vítimas preferidas desse desejo de tutela e de controle. É uma pena que as autoridades pensem pequeno e entendam o Carnaval apenas como um evento turístico. Não é: o Carnaval é uma manifestação cultural popular e legítima. E as Escolas de Samba, em especial, precisam de investimentos. O desfile das Escolas, em si, é tão somente o fecho de um esforço
48
Revista Beija-Flor de Nilópolis
humano brutal e de um amor descomunal pelo evento. Não sou chovinista e não tenho preconceito contra artistas internacionais. Mas escorre grana grossa dos cofres públicos e dos anunciantes para pagar “shows” milionários de invasores culturais, enquanto se ouve besteiras do calibre de que “o dinheiro da subvenção doado às Escolas de Samba dá para fazer um razoável desfile”. Dá para fazer??? Que é isso? Tem que haver verba para fazer, de verdade, o maior espetáculo da Terra e as Escolas já provaram que têm capacidade para isso. Nada contra um “Rock in Rio”, do competente e empreendedor Medina, um Steve Wonder, Lady Gaga, Madonna ou qualquer grupo e cantores de fora. Mas são espetáculos sem qualquer cunho de cultura local, absolutamente inferiores e apagados perto da criatividade, da importância, da magnitude e do brilho das Escolas de Sam-
www.beija-flor.com.br
ba. Para fazer o que precisa ser feito e não para “o que dá para fazer” é necessário que o poder público reavalie a sua política de investimentos e passe a priorizar o nosso Carnaval. Vamos acabar com a conversa fiada e, em detrimento do lixo cultural estrangeiro, vamos dar prioridade ao que é bom e autenticamente brasileiro. Atualmente, as Escolas estão correndo atrás dos enredos vendidos para patrocinadores, para garantir a produção do desfile e a sobrevivência do Carnaval. É um risco incrível para a degeneração do espetáculo. Em alguns anos, essa prática autofágica levará as Escolas de Samba a consumir o restante da carne magra e da pele seca que esconde seus problemas. Sem os patronos, já teriam virado pó ou retornariam aos primórdios do amadorismo que antecederam os reformadores Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãozinho Trinta e Laila. É preciso lembrar como eram os desfiles antigamente. Uma das melhores formas de constatar isso é pegar o primeiro desfile de João Trinta, na Beija-Flor, em 1976, e ver o que o Anízio Abrão David fez na agremiação de Nilópolis. Tenho um vídeo editado para quem quiser ver e posso enviá-lo a quem solicitar. A Beija-Flor cresceu aos saltos e foi com investimento, paixão e amor. A Beija-Flor é um “case” para ser estudado, matéria rica para compreensão da evolução das Escolas de Samba. Documento importante de como o Carnaval é Cultura e não reles instrumento de arrecadação turística. É uma atividade particular,
do povo e não instrumento político. É a prova cabal de que apaixonados como Anizio Abrão David têm que ser reconhecidos pelo que fizeram para o nosso Carnaval e para as comunidades que dele participam. Salve o Anízio! Do alto de seus 12 campeonatos, a Beija-Flor pede passagem e exige respeito ao Carnaval.
Fevereiro 2013
49
Lazer
Transporte
Criar cavalo Mangalarga Marchador não é um bicho de sete cabeças!!! Lida com gado
50
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Ecoturismo
Esporte
www.beija-flor.com.br
Sabe por que?
Porque ele é dócil, confortável, rústico e econômico. Um cavalo popular, para todas as idades.
Mangalarga Marchador, do tamanho do seu sonho, ao alcance de qualquer um. Um amigo fiel! Equoterapia
Você também pode ter um! Docilidade
Av. Amazonas, 6.020 Parque da Gameleira Cep 30.510-000 Belo Horizonte/MG 31. 3379.6100. www.abccmm.org.br abccmm@abccmm.org.br
Fevereiro 2013
51
AMIGO FIEL
do cavalo do amanhecer ao Mangalarga Marchador Inicia-se mais um espetáculo de cores, imagens e alegria, apresentado ao público presente no Sambódromo e a milhares de lares, no Brasil e no mundo: é o Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial. Abrilhantando e valorizando o momento, vem a principal agremiação de Carnaval da atualidade com um desfile sobre a trajetória do cavalo no tempo, destacando a raça Mangalarga Marchador, uma raça genuinamente brasileira e que por seus atributos e qualidades tem despertado o interesse cada vez maior de criadores e usuários comuns. Mas como surgiu a ideia de um enredo sobre cavalos e a raça Mangalarga Marchador?
O INÍCIO Desde que surgiu essa ideia de enredos patrocinados, pela sua posição no universo do Carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis tem recebido muitas propostas de enredos institucionais, sejam estatais ou privados. Isso porque empresários e governantes compreenderam a força de alavancagem que o desfile de uma agremiação do porte e credibilidade da Beija-Flor de Nilópolis pode oferecer aos seus negócios, o que tem tornado o Carnaval carioca um dos centros de atenção dos departamentos de marketing das grandes empresas e instituições – e dos governos. Essa nova postura fica evidente na afirmação de Magdi Shaat, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador (ABCCMM), entidade patrocinadora do desfile da Beija-Flor de Nilópolis: “No Carnaval de 2012 participamos como observadores, e ao constatarmos a grandeza, a magia e o esplendor do evento não tivemos dúvida de que seria uma excelente oportunidade de divulgação da raça. Temos inúmeros criadores e associados no Rio de Janeiro que há tempos vinham trabalhando a ideia de o cavalo Mangalarga Marchador estar de alguma forma presente no Carnaval.” Assim como a Associação, outros interessados procuraram a Beija-Flor de Nilópolis na busca para dar início a uma parceria de qualidade. Como sempre, as propostas são avaliadas pela presidência da agremiação e pelos carnavalescos, que dão seus pareceres. “No início, a gente ficou um pouco preocupado, porque não sabíamos se dava um enredo bonito”, confessa Fran Sérgio, carnavalesco da comissão há 16 anos e que já contabiliza sete campeonatos na Azul e Branco. “Aí aprofundamos a pesquisa sobre o tema e descobrimos que daria um enredo maravilhoso falar desse que é um dos mais belos animais, que conduziu o ser humano através da sua evolução e de eras da Humanidade. Afinal, foi no dorso do cavalo que o homem se tornou um rei”, conta Fran. O carnavalesco Victor Santos, que retornou à Comissão de
52
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Carnaval há 4 anos e já tem um campeonato nesta nova fase, concorda com Fran e confessa que “no início achei que não teríamos condições de fazer um Carnaval só falando de cavalos em uma escola do tamanho da Beija-Flor. Achei que chegaria um momento que não teríamos mais opções de coisas para serem apresentadas em alegorias e fantasias. Mas tem muito mais e é até difícil fazer um Carnaval contando tudo a respeito do cavalo. É muita coisa.” A escolha do tema gerou inquietação também na nação beija-florense, como bem lembra André Cezari, que completa seu quarto Carnaval na Beija-Flor e o segundo na Comissão de Carnaval: ”No início passamos por um pouco de dificuldades perante a aceitação do enredo. A comunidade não entendia como seria possível desenvolver um enredo como este sem ‘forçar a barra’, mas como ela confia muito na escola, gradualmente foram relaxando e vendo que estávamos sim com um grande enredo”.
PESQUISA – A CHAVE DO BAÚ DE TESOURO Em um ambiente que é visitado pela insegurança, por menor que seja, pode-se avaliar a importância do conhecimento mais aprofundado. Foi nessa hora que a pesquisa se fez o grande elo conciliador entre os interesses do patrocinador e da direção da agremiação, comprometida em produzir um espetáculo com a qualidade da marca Beija-Flor de Nilópolis. Para essa essencial missão, a agremiação nilopolitana contou com uma das suas grandes estrelas anônimas, disfarçada sobre um largo sorriso: a carnavalesca Bianca Behrends. Acumulando uma grande experiência em pesquisa e documentação, Bianca apresentou à equipe importantes subsídios para o desenvolvimento de um enredo atraente e de qualidade. “Nós analisamos o que é possível ou não de ser realizado no Carnaval dentro do tema proposto,
www.beija-flor.com.br
porque às vezes quem está de fora tem uma ideia muito diferente de como é desenvolver um Carnaval na avenida, com seus carros alegóricos, suas alas. Por isso, nos obrigamos a fazer uma profunda e cuidadosa pesquisa, que nos permitiu identificar pontos que seriam denominadores comuns aos interesses do patrocinador e da escola – que é realizar um belo e inesquecível espetáculo”, esclarece Bianca. Ubiratan Silva, o Bira, que integra a comissão desde sua formação, ressalta que “a escola desenvolve uma pesquisa muito aprofundada das coisas, e graças a Deus acaba descobrindo ramificações da história que rendem plasticamente belíssimas fantasias e grandiosas alegorias. Conseguimos reunir informações históricas que supriram as necessidades dos patrocinadores. Coisas importantes que a gente espalhou pela escola inteira. É claro que a gente tem uma coerência. Fantástica é a própria historia do cavalo que o povo não sabe, mas vai conhecer na Passarela do Samba”.
QUEM VIVER VERÁ A Comissão de Carnavalescos (André, Bianca, Bira, Fran e Victor) é unânime em afirmar que o desfile da Azul e Branco de Nilópolis tem tudo para conquistar o público e os jurados. Apostam no desfile como um todo, no conjunto, na harmonia e na alma que os componentes soltam através de suas vozes na avenida. Mas não abrem mão de chamar a atenção para aspectos pontuais do desfile: “A Beija-Flor é uma escola muito constante. Nós trabalhamos para que o desfile seja uma constante de picos altos, mas eu acho que neste ano o ponto alto será o verso do samba, que fala ‘Sou puro samba azul e branco’. A arquibancada vai responder de acordo com o que ela estiver cantando e vendo, não só pelo desfile em si, mas pelo samba. O nosso Carnaval está belíssimo, e este ano o ponto forte é o samba da escola”, diz, convicta, Bianca. Para André Cezari, o “gran finale” será o clímax do desfile: ”Na verdade, o gran finale é uma grande ópera, como se todas as raças estivessem fazendo reverências ao Mangalarga Marchador. É, realmente, a nossa apoteose”, afirma. Já Victor Santos, Fran e Bira apostam nas novidades da Comissão de Frente: “Eu aposto minhas fichas todas na Comissão de Frente. Ela vai surpreender na própria figura do São Jorge. É o primeiro cavalo a entrar e o quadro é fantástico”, revela Victor Santos. Mas ele também conta com uma carta na ‘manga justa’: “Sempre que se puxa essa paixão do componente pela escola, se tem um grande resultado no samba”. “Preparamos uma Comissão de Frente muito especial em todos os sentidos”, declara Fran Sérgio. “Especialmente no que representa dentro do enredo, na nossa fé e na nossa devoção. Então a Beija-Flor vai entrar emocionando as pessoas com a história que vai ser contada inicialmente pela Comissão de Frente”. Para Bira, “a escola vem com uma Comissão de Frente grandiosíssima, talvez a maior que tenha sido vista na Passarela do Samba, em termos de elementos alegóricos e quantidade de artistas. São 25 atores, bailarinos, ‘performances’, – e isso já no início do desfile. Temos uma tecnologia de movimentos que é totalmente nova. Uma tecnologia mais realística unida à de Parintins, que a gente conseguiu utilizando látex em algumas esculturas que terão textura mais suave e movimentos mais naturais. Isso é uma grande novidade”. Todos os integrantes da Comissão de Carnaval estão confiantes, afirmando que a escola está com tudo preparado para disputar e levar esse título para a comunidade de Nilópolis. Segundo eles, a Beija-Flor vai pra avenida como um rolo compressor. Quem viver, verá.
Fevereiro 2013
53
AMIGO FIEL O desenvolvimento do enredo “Amigo Fiel - Do cavalo do amanhecer ao Mangalarga Marchador” não só vem possibilitando à Beija-Flor de Nilópolis brigar pelo título de campeã abordando uma temática que oferece diversas possibilidades, como também transformou-se em um importante canal de promoção e divulgação da raça. Com o objetivo de conhecer um pouco mais a respeito do Mangalarga Marchador, a revista Beija-Flor de Nilópolis entrevistou o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador, Magdi Shaat, um criador apaixonado.
O cidadão comum é bem receptivo ao assunto cavalo, mas muitos não se veem como potenciais criadores. Especialmente em relação à raça Mangalarga Marchador, é possível uma pessoa comum e sem muitos recursos se tornar um criador? Magdi Shaat - É perfeitamente possível uma pessoa se tornar criador da raça. Mas é preciso antes definir o conceito de criador. Ser criador é ter um ou mais matrizes e delas produzir e comercializar seus produtos. Para tanto, é preciso viabilizar uma logística racional, com pastagem de boa qualidade e instalações rústicas e funcionais, já que a criação de animais confinados em cocheiras é onerosa e de difícil economicidade. Na impossibilidade de não ter a estrutura mencionada anteriormente, o interessado, que nós chamamos de usuário, seja ele do meio urbano ou rural, e não necessariamente rico, pode ter em um pequeno espaço um ou mais cavalos castrados ou fêmeas, que poderão ser usados de várias formas: para o lazer, esporte, lida com o gado, e até mesmo com a possibilidade de estabelecer atividades de compra e venda, aluguel para passeios ou entretenimento, como já fazem hoje inúmeras
54
Revista Beija-Flor de Nilópolis
pousadas e hotéis rurais pelo país afora, que oferecem a seus hóspedes este tipo de serviço. A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) valoriza muita a figura do sócio-usuário (que é a que mais tem atraído novos adeptos para a raça), constituída de pessoas de todas as camadas sociais, que moram no campo ou na cidade. Esta categoria, inclusive, está contemplada no Estatuto da instituição. Nos Estados Unidos e Europa, este conceito, de que criar cavalos é uma atividade para pessoas abastadas, é uma mentalidade do passado. A maioria dos criadores e usuários de raças de equinos criam seus animais nos quintais de suas casas, em pequenas propriedades. Eles não são ricos e nem possuem áreas extensas de terra. É preciso desmistificar este conceito no Brasil. Nossa expectativa é que com esta parceria estabelecida entre a ABCCMM e a Beija-Flor nós possamos explicar e difundir, cada vez mais, a ideia de que nosso cavalo é popular e que também pode ser criado numa chácara, num sítio ou numa pequena propriedade.
www.beija-flor.com.br
Que tipo de retorno financeiro um criador de Mangalarga Marchador pode obter com uma criação desse animal? Magdi Shaat - Apesar de ter respondido parte desta pergunta acima, é importante frisar que, para conseguir resultado financeiro positivo, é necessário ter custo baixo. Isto implica em adquirir animais qualificados, ter planejamento e manejo corretos. Para se ter uma ideia , o custo de manutenção de um cavalo/ mês vai de R$100,00 (cavalo criado em regime de pasto) até um salário mínimo (gasto com baia, treinamento e ração). O que poucos sabem é que o custo de um cavalo popular é o mesmo de uma moto, tendo ainda como diferencial e vantagem o fato de que a sua manutenção é mais barata e a vida útil é muito maior, porque um cavalo vive em média 23 anos. Se o cavalo é um bem de capital isto significa dizer que ele é comercializável, podendo ser vendido para fins de lazer, transporte, lida, aluguel, além de ser utilizado em tratamentos de Equoterapia, cujos resultados têm sido muito promissores. Evidentemente que o retorno financeiro está inserido nestes itens. Como presidente da ABCCMM, como avalia o mercado nacional e internacional para o Mangalarga Marchador? Magdi Shaat - A raça Mangalarga Marchador cresceu muito nos últimos anos e hoje temos números que comprovam a grandeza do nosso setor e sua posição de destaque no país, seja nos aspectos econômico, social, ambiental, cultural e político. A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) possui 7 mil sócios e mais de 30 mil criadores da raça Mangalarga Marchador, 58 núcleos nos principais estados brasileiros, sendo 4 no exterior: Alemanha, Itália, Estados Unidos e Argentina. Realiza anualmente, desde 1982, uma das maiores exposições de uma mesma raça da América
Latina, se não for a maior: a Exposição Nacional, que em 2013 completará a sua 32ª edição. Quais são as principais utilizações do Mangalarga Marchador? Magdi Shaat - As principais utilizações do cavalo Mangalarga Marchador são: 1 – Produção de animais para melhorar o rebanho nacional e exportação para o mercado europeu; 2 – Produção de animais qualificados para competir nos eventos oficiais da raça; 3 – Produção de animais para atender a demanda de esportistas, lida nas fazendas, transporte de pessoal, provas funcionais, setor de turismo, lazer e cavalgadas, atividades de Equoterapia; e 4 – Bem de capital. E por que um desfile sobre Mangalarga Marchador? Magdi Shaat - Se você traduzir o Carnaval em números terá a resposta. A Rede Globo de Televisão transmite a cobertura internacional para 115 países dos cinco continentes com público estimado de 580 mil assinantes. Isso sem falar na cobertura nacional que atinge milhões de espectadores potenciais, e que é replicada nas revistas, sites especializados, rádios, entre os formadores de opinião do país. Visualizamos o Carnaval não só como a maior festa popular do Brasil, mas como um grande canal de divulgação da raça, cuja dimensão ainda não temos condições de mensurar porque trata-se de uma experiência única. Nunca na história da raça foi feito um trabalho de marketing deste vulto. Queremos com o desfile mostrar que o Mangalarga Marchador faz parte da cultura brasileira, é um patrimônio nacional de grande riqueza sob vários aspectos. Todo o trabalho de pesquisa desenvolvido pela Beija-Flor, que culminou com a criação do enredo, das alegorias e fantasias, e que nós acompanhamos de perto, foi feito com base em informações e fontes históricas fidedignas, oficiais e técnicas.
Fevereiro 2013
55
56
Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
www.beija-flor.com.br
SEMPRE MAIS. É esse o lema do 1o. Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso. Empenhados em fazer uma apresentação perfeita, com leveza e alegria, o casal teve seu desempenho reconhecido pelos jurados do Desfile de 2012, que os deu uma bonificação de nota 0,2. Parabéns, Claudinho! Parabéns, Selminha! Parabéns Beija-Flor de Nilópolis! 57 Fevereiro 2013
Amigo Fiel Do Cavalo do Amanhecer ao Mangalarga MarchadoR
SETOR 01 “Origem Primitiva - O Cavalo do Amanhecer e a Evolução”
DESFILE 2013
São Jorge, Cavaleiro Corajoso, Guerreiro da Capadócia... Abre e Ilumina os Nossos Caminhos! Comissão de Frente A relação de amizade e cumplicidade entre o Homem e o cavalo é milenar. Quando pensamos no belo elo entre cavalos e cavaleiros, é inevitável visualizarmos a clássica imagem do guerreiro da Capadócia montado em seu cavalo branco. Imortalizado no conto em que mata o monstruoso dragão e salva a princesa, sob a luz da lua, São Jorge – talvez o mais exímio cavaleiro de todos os tempos – e seus fiéis soldados, saúdam o público e pedem passagem para a Agremiação, deixando ao longo da Passarela do Samba, um rastro de fé, devoção, bênçãos e proteção. A Lenda do Dragão e a Princesa 1º casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Segundo um conto, Jorge foi informado que em certo lugar, existia um enorme dragão, cujo hálito venenoso podia
58
Revista Beija-Flor de Nilópolis
matar toda uma cidade, e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lanças e nem por espadas. Todos os dias, ele exigia o sacrifício de uma bela donzela, mas todas as meninas da cidade já haviam sido mortas, só restando a filha do Rei, que seria sacrificada no dia seguinte, ou concedida em casamento ao valente guerreiro que matasse o dragão. Determinado a salvar a princesa, Jorge depara-se com a fera, rosnando tão alto quanto o som de trovões; mas não se intimida, e enterra sua lança no monstro, matando-o. Por sua bravura e grandioso feito, enfim casa-se com a Princesa, vivendo a cortejá-la. Pintura Rupestre Na Terra Primitiva, tanto as atividades cotidianas, como os fatos importantes, eram registrados pelos Homens das Cavernas, através das pinturas rupestres, assim como a existência de algumas espécies animais, onde o cavalo já se destacava; sinalizando que, desde os primórdios, o cavalo é o mais belo elo de ligação entre o Homem e a natureza.
www.beija-flor.com.br
SETOR 02 “O Fiel Amigo dos Viajantes (Transporte, Comércio e Agricultura)” Terras Pantanosas Há milhões de anos atrás, uma pequena criatura semelhante a uma lebre, possuindo quatro dedos nas patas dianteiras e três em cada pata traseira, corria através de terras pantanosas, densas e úmidas vegetações rasteiras, alimentando-se de suculentas plantas e pastagens. Pelo fato de poder fugir e esconder-se de seus predadores, o pequeno mamífero conseguiu prosperar. Esse animal era o Hyracohterium ou Eohippus, antepassado do cavalo moderno. Vegetação Rasteira / Relva Verde – As Novas Pastagens 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Através do estudo da história do cavalo, tem-se conhecimento dos efeitos causados pelas crescentes mudanças do meio-ambiente, na batalha do animal por sobrevivência, e das adaptações que se fizeram necessárias durante o processo de sua evolução. A mudança das pastagens de arbustos e musgos dos pântanos para grama, contribuiu enormemente para as futuras mutações da espécie. Vegetação Rasteira / Extensas Planícies Gramadas Com a mudança gradual do clima, a Terra se tornou mais seca, e os pântanos foram cedendo lugar a extensas planícies gramadas. De Eohippus, passados milhões de anos, o cavalo evoluiu para Mesohippus, maior e mais musculoso, possuindo três dedos e patas mais longas. Sendo os seus dentes, ligeiramente modificados, mais adequados para puxar a grama do que para pastar nos arbustos e musgos dos pântanos.
O Animal Evoluído - Equus Depois de algumas mutações ocorridas ao longo de períodos distintos da Pré-História, surgiu o Equus, o cavalo moderno, o mais semelhante ao cavalo tal qual conhecemos atualmente. Pequeno, mais robusto e fértil, era capaz de suportar os mais rudes climas, e por essa razão conseguiu espalhar-se pelo mundo. A Era Glacial - O Mundo Branco Em tempos remotos, cavalos selvagens se difundiram pela Ásia e pela Europa; todavia, as vastas manadas foram se esgotando, em função de caçadas e capturas para domesticação. Acredita-se que o Tarpan (cavalo selvagem da Tartária) seja o antecessor do cavalo Árabe e de outros puros-sangues, e que tenha evoluído durante a Idade do Gelo, quando os cavalos que viviam em florestas foram forçados a se deslocar para no sentido Sul, onde enfim cruzaram com animais locais que viviam nas planícies, assegurando a perpetuação da espécie. O Arado da Terra - Agricultura O processo evolutivo da Terra e das espécies deu origem à grande uma diversidade de raças, tamanhos, formas e pelagens, a qual pode ser apreciada nos tempos atuais. E o cavalo que durante muito tempo teve um papel importante no transporte e nos trabalhos agrícolas, na Idade Média passou a ser utilizado também enquanto instrumento que ajudou o homem a lavrar os campos, um animal apto para a arar a terra, assim como o boi.
Fevereiro 2013
59
SETOR 03
“O Florescer das Grandes Civilizações” O Conquistador do Mundo Antigo - Alexandre o Grande Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, era jovem, bonito, musculoso e extremamente carismático. Também chamado de “O “Senhor da Guerra”, por ser implacável, determinado, perspicaz e temido, era um general de extraordinária habilidade e sagacidade, um dos maiores combatentes militares que o mundo já viu. Montado em seu fiel cavalo Bucéfalo, foi o célebre conquistador da Babilônia, proporcionando uma das maiores expansões territoriais já registradas em um curto período de tempo. As Cruzadas - Os Cavaleiros da Ordem do Templo As cruzadas foram expedições medievais realizadas em nome de Deus, onde os cavaleiros da Ordem do Templo, que compunham cavalaria medieval, eram enviados à Palestina para recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém, na Guerra pela Terra Santa.
60
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Presente de Grego - O Cavalo de Tróia Ao longo da História, os homens travaram guerras. Uns por poder, outros por terras, por glória, por honra... e mesmo por amor. Na Grécia Antiga, a paixão entre Páris, filho do Rei Príamo, Príncipe de Tróia, e Helena, a Rainha de Esparta, desencadeou uma guerra que devastou toda uma civilização. Tudo começou quando o príncipe troiano foi à Esparta, em missão diplomática, e acabou se apaixonando por Helena. Páris roubou Helena de seu marido, o Rei Menelau, e este foi um insulto considerado intolerável. Em defesa da honra da família, a afronta a Menelau foi considerada também uma afronta a seu irmão, Agamenon, o então poderoso Rei de Micenas, que rapidamente reuniu todas as tribos da Grécia para trazer Helena de volta, resguardando a dignidade e a reputação de seu irmão. Na verdade, a busca de Agamenon por honra foi suplantada por sua ganância, visto que ele precisava controlar Tróia para garantir a supremacia de seu vasto império.
www.beija-flor.com.br
Aquiles, jovem rebelde e com sua fama de guerreiro aparentemente invencível, impulsionado por sua sede insaciável por glória e reconhecimento, concorda em atacar os portões de Tróia sob a bandeira de Agamenon. Tróia, a cidade cercada de muralhas, comandada pelo Rei Príamo e defendida pelo poderoso príncipe Heitor, era uma fortaleza que até então nenhum exército jamais conseguira invadir. Dois mundos entraram em guerra por honra e poder. O cerco grego à Tróia durou cerca de uma década, e milhares pereceram em busca de glória. Cansados da batalha exaustiva, sangrenta e infrutífera, os gregos têm a brilhante ideia de presentar os troianos com um grande cavalo de madeira. Disseram aos inimigos que estavam desistindo da guerra, e que o cavalo era um presente para selar a paz. Os troianos aceitaram a oferta, e deixaram o enorme cavalo ser conduzido para dentro de seus muros protetores. Com o povo em festa, e após muita comemoração, os troianos foram dormir exaustos. O que eles não sabiam, é que o cavalo de madeira estava recheado com centenas de soldados gregos, e o tal presente de grego, que grande ironia, não era um agrado, e sim o meio encontrado pelos gregos para invadir e atacar a cidade de Tróia até a sua destruição.
Os Cavaleiros da Távola Redonda - Símbolos de Glória Os cavalos montados pelos Cavaleiros da Távola Redonda – homens premiados com a mais alta ordem da Cavalaria da Corte do Rei Artur – certamente também eram considerados heróis, por contribuírem diretamente para as múltiplas vitórias dos lendários guerreiros, verdadeiros símbolos de glória. O Mongol - Imperador das Estepes - Gengis Khan Gengis Khan, foi um conquistador e imperador mongol que unificou os povos mongóis sob seu comando, utilizando a cavalaria de forma inédita, como atualmente se usam os carros blindados. Gênio militar, introduziu ainda a estratégia de cercar as cidades a partir dos campos. O Exército de Terracota do Imperador - Os Guerreiros de Xian 3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira O Exército de Terracota, Guerreiros de Xian ou ainda Exército do Imperador Qin Shihuang, é uma coleção chinesa de mais de oito mil figuras de guerreiros e cavalos esculpidos em terracota (uma espécie argila), em tamanho natural, e encontradas próximas ao mausoléu do primeiro imperador da China. Os guerreiros, cujas expressões são individualizadas, e as cavalarias foram descobertos em 1974.
Fevereiro 2013
61
SETOR 04
“O Fogo Cigano da Purificação”
O Poder do Encantamento - Os Unicórnios O Unicórnio é um animal mitológico que tem a forma de um cavalo com um único chifre na testa, em forma de espiral. Sua imagem está associada à pureza e à força e, segundo a lenda, são seres dóceis, sendo as donzelas, moçasdotadas de pureza, aquelas que têm maior facilidade para tocá-los. Homens-Cavalos - Os Centauros Na mitologia grega, os centauros – “matador de touros” – são seres com o torso e cabeça de humanos e o corpo de cavalo, que viviam na região da Tessáilia. Na cultura popular, são retratados como criaturas sábias, nobres, inteligentes, orgulhosas e festeiras, e ainda como uma raça feroz e valente. Com Asas Surgiu no Infinito - Pégasus Pégasus ou Pégaso, “o cavalo voador”, é um cavalo alado,
símbolo da imortalidade. Figura originária da mitologia grega, presente no mito de Perseu e Medusa, Pégasus era o cavalo de Zeus, o amo do céu e da terra. Xamanismo - Liberdade de Espírito, Força e Clarividência Para os xamãs, o cavalo simboliza poder interior, liberdade de espírito, viagem xamânica, força e clarividência. Sendo ainda considerado um veículo seguro para a realização de viagens tanto no mundo físico, quanto no mundo espiritual. Magia do Cavalo Hindu Para a religião hindu, o cavalo é um animal divino. Os hinduístas acreditam que Kalki - o décimo e último grande Avatar de Vishnu, um popular e venerado deus hindusurgiria montado em um cavalo, para anunciar o fim da escuridão, eliminando o mal e possibilitando o início de um novo ciclo; demonstrando assim, que o cavalo sempre teve um papel muito importante na cultura indiana. A Magia Cigana Musa das Passistas: Charlene Costa A Magia Cigana (Passistas) Os ciganos são um conjunto de comunidades alegres, festeiras e nômades que, de tempos em tempos, migram com seus acapamentos transportados por cavalos e carroças. Para o povo cigano, a sua identidade cultural se mantém viva principalmente através das festas e rituais, cujas celebrações são fartas de música, dança, brilho, maquiagem e sensualidade. A Aventura se Torna Canção Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Tesouro Cigano Rainha de Bateria: Raíssa de Oliveira
62
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
O Poder Cigano (Bateria) “Embaixo do céu límpido, no meio de um vale, um acampamento cigano. Suas barracas, seus cavalos e uma fogueira ao centro, servindo a todo o acampamento”. O silêncio da tarde e a solidão da noite são quebrados com o som de diversos instrumentos musicais, indispensáveis para garantir a animação das múltiplas e alegres festas ciganas.
A Dança Cigana A relação do povo cigano com o cavalo é extrema cumplicidade e misticismo. Por serem um povo alegre e festeiro, giros, rodopios e violeiros são abundantes nessas festanças, que podem durar até três dias inteiros, sempre com muita beleza, ornamentação e fartura, que retratam bem a sua imensa vivacidade.
Matriarcas Ciganas (Baianas) O cavalo e o povo cigano têm uma relação de extrema cumplicidade e misticismo. Na época das caravanas, quando morria o chefe do acampamento, seu cavalo era sacrificado e queimado, pois existia a crença de que, reduzindo-o à cinzas, ele estaria purificado (pois para o cigano o fogo tudo purifica), e dessa forma poderia conduzir a alma de seu dono ao reino do céu.
A Força dos Ciganos Os Ciganos são populações que vivem em comunidades que possuem seus próprios códigos de conduta, e cuja a vida em sociedade é determinada pela convivência entre grupos familiares. Por serem nômades, consideram o cavalo o melhor amigo do Homem, pois poupa-lhes as forças, os conduz pelos caminhos, puxa as suas carroças e, por muito tempo, foram a principal fonte de comércio cigano.
Fevereiro 2013
63
samba de volume na avenida MIRO LOPES
Desfile de Carnaval é soma de ingredientes: é cor, é alegria, é ritmo, é harmonia. Sem esses elementos evoluindo equilibradamente na avenida, impossível se ter um desfile campeão. Um som ritmado, afinado, harmonioso, limpo e encorpado são elementos essenciais de um desfile, e seu manuseio inadequado pode arremessar os componentes aos umbrais do descompasso na avenida. Ou alçá-los aos céus da arte plena e do êxtase. Pensando nisso, a agremiação nilopolitana decidiu reorganizar a dinâmica de trabalho das vozes e dos instrumentos que acompanham e dão sustentação à liderança musical do intérprete oficial da escola, Neguinho da Beija-Flor, na avenida. Dividir para multiplicar. Foi essa a solução técnica definida, na qual cada grupo de quatro cantores se revezam a cada cinco passagens durante o desfile. Para Neguinho, “as vozes de apoio dos meus cantores encorpa mais o samba, fica mais gostoso, fica mais potente, mais encorpado. Hoje entro na avenida tranquilo e seguro, porque sei que Jorginho, Gilson Bacana, Marcelo Guimarães, Nego Lindo, Bacaninha, Nino Milênio e Cacau Caldas seguram a peteca com competência, emoção e muito profissionalismo. O resultado é o que o público ouve na Marquês de Sapucaí”. O mais antigo componente do grupo de vozes junto ao carro de som da Beija-Flor é Jorginho, na pia batismal Jorge Elias Franques Leite, nilopolitano. Desde criança frequentava a quadra levado pela mãe. Aos 14 anos começou a trabalhar no barracão e em 1983 passou a participar efetivamente dos ensaios e eventos da escola. Indicado pelo padrasto, que era compositor do bloco Cem, onde exerci-
64
Revista Beija-Flor de Nilópolis
tava seu dom vocal, Jorginho fez um teste e foi admitido no grupo. São 30 anos de estrada, onde não faltaram momentos inesquecíveis e memoráveis, como ao cantar “As mágicas luzes da ribalta”. “É inesquecível porque foi a minha estreia”, afirma. Gilsineide Freitas Moreira, 42 anos, itaboraiense, é Nego Lindo. Foi da Viradouro e da São Clemente, mas ele revela: “Um sonho que eu tinha era cantar ao lado do Neguinho. Falei diretamente com ele desse meu sonho”. Diante da possibilidade dessa ideia se tornar realidade, Nego Lindo deu um tempo para aprimorar seu canto. “Tive um inesquecível começo porque a Beija-Flor conquistou seu segundo bicampeonato, com “Macapaba” (2008). Participar do grupo de vozes que dá apoio ao intérprete oficial é o lugar onde eu sempre quis estar. Eu quero é fazer parte do time”, acentua Nego Lindo. Um dos mais novos componentes do carro de som é Nino Milênio, batizado Cristiano Nunes Gonçalves, 23
www.beija-flor.com.br
anos, nascido em Duque de Caxias. Aos 11 anos descobriu que bateria oficial para apresentações fora do Carnaval, Bacaseu caminho era cantar e foi fazer aulas com o professor Ja- ninha também era intérprete. Há 4 anos, escalado pelo ckson Martins. Em 2005, Nino decidiu participar das disputas diretor Laíla, fez teste para atuar no carro de som. “Eu via de enredo como intérprete. Chegou à Beija-Flor na disputa o Neguinho e meu pai pela TV cantando na avenida, não de “Macapaba”, e ficou seduzido “pelo brilho e pelos belos sabia se cantava junto ou chorava de alegria, e acabei fasambas da azul e branco”. Ano passado, Laíla o chamou para zendo disso meu sonho. Por isso, cantar com eles na aveser um dos cantores de apoio. “Entrar na avenida cantando nida é muito importante pra mim”. com Neguinho da Beija-Flor é inesquecível para qualquer in. vação o térprete” – e para o novato Nino não foi diferente. n re sta na oda essa Cacau Caldas é a única cantora do grupo de vozes o ap r o de apoio e está há apenas 5 meses na azul e branco. “A BEIJA-fl que t er v go na em mi d o Chegou ano passado para defender um samba cono c p cês e está eração de u corrente e ficou, indicada pelo então diretor Walber Vo q a d Frutuoso. Na certidão, Cacau foi registrada como Eu- molec a ova g n a d é dóxia Perpétuo Caldas há 36 anos. É funcionária públivenida otada ca, mas o dom de cantar é um bônus de Deus. “Sempre a ar g . os gostei de cantar e o samba é o gênero com o qual eu me músic e suas rque essa o p iz l samba e identifico muito. Meu melhor momento é o atual, esse o Fico f ando v que estou vivendo agora na Beija-Flor, minha escola de está preser. coração”, diz, convicta. Com um acervo de 65 músicas gravadas na voz de diver- tradições rtante. o lor imp sos artistas, além de suas próprias gravações, o carioca Beija-F ito a u d o m h é Marcelo Guimarães começou sua carreira na ala de com- E isso Neguin positores da Beija-Flor levado por Dicró, em 1986. “Era o início de uma paixão, que me deu a honra de ganhar dois sambas-enredos. Após a vitória do nosso samba em 2009 (“No chuveiro da alegria”), recebi o convite de Neguinho da Beija-Flor para ser um dos intérpretes de apoio no carro de som. É impossível descrever a emoção e a alegria que senti ao ouvir todo aquele povo cantando a nossa obra na avenida, quando pela primeira vez tive a honra de cantar ao lado do nosso intérprete oficial”, enfatiza Marcelo, que está preparando um novo CD, com produção de Neném Chama e repertório de diversos autores consagrados. Bacaninha, Gilson Carlos Esperança Conceição, 21 anos, é cria da casa. Herdou nome, apelido e o talento do pai, Gilson Bacana, para o projeto de bateria mirim, dirigido por Douglas Botelho. Aprendeu a tocar instrumentos de percussão. Adotado pela
Fevereiro 2013
65
66
Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
www.beija-flor.com.br
SETOR 05
“A Estrela que Voa - O Alter Real na Corte Lusitana” Germânicos – A Influência Genética Os cavalos Germânicos (Rússia, Ucrânia etc.) integram uma das raças da tríade equina que originou a raça Andaluza, juntamente com os cavalos Berberes e da Península Ibérica (Portugal e Espanha), estando presentes na genética do Mangalarga Marchador. O Cavaleiro Andante O cavalo Andaluz(a), originário da região de Andaluzia, na Espanha, e do Alentejo, em Portugal, é representado pelo famoso cavalo Rocinante, o companheiro inseparável de Dom Quixote de La Mancha. As éguas Andaluzas foram aquisições da Coudelaria de Alter do Chão para a formação do Alter Real, estando presentes no DNA do Mangalarga Marchador. A Joia Rara de Alah – O Beduíno Os cavalos Berberes (Norte da África – Líbia e Marrocos), amplamente utilizados pelos beduínos, os “homens do deserto”, compõem uma das raças da tríade equina que originaram a raça Andaluza, contribuindo também para a origem da raça Alter Real, uma vez que uma preciosa égua Berbere foi introduzida na Coudelaria de Alter do Chão. Dessa forma, os cavalos Berberes estão presentes ainda, no código genético do Mangalarga Marchador. Jorge III do Reino Unido Durante o Reinado de Jorge III do Reino Unido – rei da Grã-Bretanha, foram introduzidas dezenas de éguas inglesas na Coudelaria de Alter do Chão, as quais contribuíram para a formação genética do cavalo Alter Real e, consequentemente, estão presentes no gene do Mangalarga Marchador. Real Montaria O cavalo Alter Real, que tem origem na raça Andaluz(a), é uma raça portuguesa desenvolvida com o objetivo de servir à nobreza. Estimado pela Coroa lusitana, é inteligente, dócil, sensível, corajoso e detentor de um caráter próprio inconfundível; além de possuir aparência deveras vistosa, o que torna o alazão da Coroa – raça estimada para os serviços e regalos de príncipes e nobres europeus – evidente por sua beleza e funcionalidade.
Fevereiro 2013
67
SETOR 06
“Estrada Real e o Barão de Alfenas O Amigo do Rei” Governador Geral do Brasil – Tomé de Souza Os primeiros cavalos chegaram ao Brasil principalmente com Tomé de Souza, o primeiro Governador-Geral, no século XVI, e foram os animais melhor aportados. A princípio, o interesse dos portugueses na colônia era apenas extrativo, não tendo eles se preocupado em estabelecer uma seleção dos animais, mas apenas uma criação rudimentar que atendesse às necessidades imediatas. Esta criação cresceu tanto numericamente, que daqui foram exportados cavalos para outras colônias portuguesas. O Luxo do Café A utilização dos cavalos para transportar os grãos de café pelos caminhos da Estrada Real, de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, contribuiu enormemente para a prosperidade do Brasil-colônia, e também para ostentar todo o luxo que Ciclo do Café proporcionou à Corte Portuguesa. A Riqueza da Mineração Chama-se Ciclo do Ouro ou Ciclo da Mineração o período da História do Brasil em que a extração do ouro encontrado nas minas, e a exportação desse metal precioso, dominavam a dinâmica econômica da colônia, ocorrendo do final do século XVII – com a descoberta em Minas Gerais – até o final do século XVIII. Cavalos galoparam a riqueza da mineração ao longo da Estrada Real, provendo a Corte Portuguesa sediada no Rio de Janeiro e levando prosperidade para as cidades e famílias mineiras que viviam da extração. O Celeiro Real - As Minas Gerais do Brasil A fartura e a prosperidade de Minas Gerais foram essenciais para o sustento e sobrevivência da Família Real no Brasil, então sediada no Rio de Janeiro, onde muitos produtos e mantimentos eram escassos e só chegavam trazidos de Minas, através da Estrada Real, fazendo do Estado, o grande provedor da nobreza.
68
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Tropeiros Os tropeiros são os condutores das tropas de cavalos e das comitivas de muares que realizavam viagens entre as regiões de produção e os centros consumidores, utilizando-se, principalmente da Estrada Real. Além de seu importante papel na economia, o tropeiro teve importância cultural relevante, enquanto veiculador de ideias e notícias entre as aldeias e as comunidades distantes entre si, principalmente numa época em que as estradas eram escassas no Brasil.
www.beija-flor.com.br
SETOR 07
“A Capital da Realeza no Brasil” Cavalgadas Nesse Mundo de Meu Deus Devido à sua rusticidade, comodismo e docilidade, as viagens de longa distância, conhecidas como Cavalgadas, eram feitas sobre o dorso do cavalo Mangalarga Marchador. Tal aptidão foi um dos três aspectos considerados imprescindíveis para a formação, seleção e determinação da raça. A Agilidade na Lida no Campo A utilização do cavalo Mangalarga Marchador no campeio, devido à sua agilidade superior à do gado, foi um dos três aspectos considerados essenciais para a formação, seleção determinação da raça. O Teste Aristocrata Rural - As Caçadas A valentia, a inteligência e a habilidade para saltos são características que fizeram do Mangalarga Marchador a raça preferida para a realização de caçadas, atualmente denominadas provas funcionais. Esta atividade foi um dos três aspectos relevantes para a formação, seleção e determinação da raça.
guinho, que foi dado como herança do Barão de Alfenas à sua neta Gabriela. A Era de Ouro da Beleza - Belle Époque Quando a Família Real se transferiu para a colônia, o Rio de Janeiro – que era abastecido com os produtos procedentes das Minas Gerais e trazidos para cá através da Estrada Real – ficou sendo a capital da realeza no Brasil. Junto com seus pertences, os nobres portugueses trouxeram consigo todo o luxo, o requinte, o glamour, o bom gosto e a sofisticação tão intrínsecos à fidalguia, os quais se estenderam aos seus descendentes, além da influência da chamada Belle Époque, a “bela época” de profundas transformações culturais. Tais membros da nobreza frequentemente realizavam passeios elegantes no Rio Antigo, montados ou utilizando bondes puxados por cavalos da raça Mangalarga Marchador. Realeza Brasileira Destaque de Chão: Jaqueline Farias
O Garanhão Brasileiro - Mangalarga Marchador O Mangalarga Marchador é uma raça nacional de grande beleza morfológica, que se destacou pelo andamento cômodo e pelo temperamento dócil, e que apresenta ainda, como principal característica, a marcha batida ou picada. É um cavalo rústico, funcional e com temperamento de cela, sendo que os melhores exemplares do garanhão brasileiro são criteriosamente selecionados, objetivando manter o alto padrão de reprodução da espécie. O Sonho em Brinquedos de Pau O cavalinho-de-pau é um brinquedo clássico da infância, muito desejado pelas crianças, o qual desenvolve a coordenação motora e explora o imaginário infantil. Em documentos regionais, há registros da existência de um pôtro de nome Mangalar-
Fevereiro 2013
69
SETOR 08
“A Raça Mangalarga Marchador - O Cavalo sem Fronteiras “ Peão Os peões são os empregados das fazendas e das estâncias, responsáveis pelas tarefas de manejo do gado e no trato com os cavalos, incluindo a doma e a higiene dos animais. Os Ferrageadores O universo que envolve a criação do Mangalarga Marchador é um fenômenos na economia brasileira, o qual implica no emprego de variados e múltiplos profissionais, como o ferrageador, pessoa responsável pela colocação e manutenção da ferradura nos cavalos, peça utilizada para proteger os cascos do animal. Assim como o trevo de quatro folhas, há registros de que esse objeto já era considerado um amuleto poderoso desde a Grécia antiga. Primeiro, porque era feito de ferro, elemento que os gregos acreditavam proteger contra todo mal. Além disso, seu formato lembrava a Lua Crescente, símbolo que afastava a infertilidade e a má-sorte. Prova Funcional – A Arte da Montaria A montaria é uma arte que exige concentração e habilidade por parte do cavaleiro e também do cavalo, visto que o sincronismo entre ambos é imprescindível. Devido à sua velocidade constante, o Mangalarga Marchador é utilizado na realização de provas funcionais.
70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
O Tratamento e a Cura - Equoterapia O cavalo Mangalarga Marchador é utilizado na Equoterapia, um método terapêutico e educacional que busca o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais. A raça foi escolhida para esta finalidade devido à sua docilidade e marcha macia e cômoda, caracterizada pelo denominado tríplice apoio. A Expansão da Raça Brasileira - Exportação O cavalo Mangalarga Marchador se tornou um cavalo sem fronteiras ao ser exportado para o mundo inteiro, mantendo inalteradas as suas múltiplas qualidades. Almejando aumentar ainda mais os índices de exportação, um canal de televisão e diversos eventos promovem essa raça verdadeiramente nacional, que tem o céu como limite. Criadores de Cavalos (Velha Guarda) Cresce a cada ano a admiração pelo Mangalarga Marchador, e já são quase 6.000 associados à Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador, e cerca de 400.000 animais espalhados pelo país. Os apaixonados criadores, admiradores e profundos conhecedores de cavalos da raça Mangalarga Marchador a fazem brilhar, provando junto com a Beija-Flor, que sem sombra de dúvidas, ele é um Amigo Fiel. Puro Sangue Azul e 1° Passista: Cássio Dias
Branco
www.beija-flor.com.br
Ecoturismo
Esporte
Transporte
Docilidade
Lazer
Criar cavalo Mangalarga Marchador não é um bicho de sete cabeças!!! Sabe por que?
Porque ele é dócil, confortável, rústico e econômico. Um cavalo popular, para todas as idades.
Mangalarga Marchador, do tamanho do seu sonho, ao alcance de qualquer um. Um amigo fiel!
Você também pode ter um! Lida com gado Equoterapia
Av. Amazonas, 6.020 Parque da Gameleira Cep 30.510-000 Belo Horizonte/MG 31. 3379.6100. www.abccmm.org.br abccmm@abccmm.org.br
Fevereiro 2013
71
RAISSA DE OLIVEIRA
O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial é um acontecimento de proporção global. Não é somente transmitido para todos os estados brasileiros como também para mais de 120 países ao redor do planeta. Um evento com tamanha repercussão acaba sendo, também, um poderoso meio de divulgação e promoção, seja de temas que viram enredos, seja de pessoas que se promovem nas mais variadas mídias. Por essa razão, o posto de Rainha de Bateria é muito cobiçado por grandes estrelas e personalidades que vivem de sua imagem pública, nem sempre integrantes da comunidade. Na Beija-Flor de Nilópolis a história é outra. Em uma escola eminentemente de comunidade, o posto de Rainha de Bateria sempre foi de pessoas ligadas à comunidade, por ordem e determinação do seu patrono, Anizio, que não abaixa a guarda se o assunto é preservar a Beija-Flor de influências que alterem suas características populares. Aqui, ser Rainha de Bateria é o coroamento de uma vida ligada ao samba, à Beija-Flor de Nilópolis e a sua comunidade. Em reconhecimento ao que vem fazendo pela agremiação, conversamos com a Rainha de Bateria da agremiação, Raíssa de Oliveira, que assumiu o posto que durante anos foi da simpática Sonia Capeta.
A Beija-Flor é a única escola do Grupo Especial que mantém como Rainha de Bateria uma integrante da própria comunidade. O que significa para você ser a Rainha de Bateria de uma agremiação do porte da Beija-Flor? Raíssa – A característica da Beija-Flor é a própria comunidade. Então eu me sinto privilegiada em fazer parte dessa escola e vir apresentando a azul e branco à frente da bateria. Para mim, é uma honra enorme. A Beija-Flor inovou não só ao dar o título de Rainha de Bateria a uma menina de 12 anos da comunidade, mas inovou também na maneira como essa escolha se deu. A escola promoveu um concurso com diversas passistas, todas elas muito talentosas. Várias delas poderiam representar a escola, mas Deus me deu esse prêmio, e conquistei esse privilégio. É um orgulho muito grande representar a minha escola, que eu amo de coração. Você é a Rainha de Bateria que está há mais tempo à frente de uma bateria de escola de samba. A que você credita este sucesso e esta constância? Raíssa – Em primeiro lugar, eu devo essa constância e o sucesso que tenho como Rainha de Bateria à forma como a Beija-Flor de Nilópolis é conduzida, valorizando pessoas simples e da comunidade como eu. Me refiro especialmente ao Laíla e ao seu Anizio, porque eles acreditaram em mim e na sua comunidade. E a comunidade também confia em mim e me prestigia, o que me dá respaldo na escola. É lógico que acima de todos eles está o meu Deus, a quem respeito e sou agradecida. Ser escolhida com tão pouca idade para ser Rainha de Bateria atrapalhou, de alguma forma, seus estudos? Sente que perdeu um pouco esta fase da vida? Raíssa – De maneira alguma, isso nunca me atrapalhou. Pelo contrário, os integrantes da escola
72
Revista Beija-Flor de Nilópolis
sempre me incentivaram e me cobraram estudo e conhecimento. Para você ter uma ideia, a minha faculdade é paga pelo seu Anizio, porque se dependesse das minhas condições financeiras não teria oportunidade para fazer uma. O que eu sou e o que eu serei eu devo ao seu Anizio. Quais são as características primordiais para ser uma Rainha de Bateria como você? Inspira-se em alguém? Raíssa – Acima de tudo, precisa ter samba no pé, ter carisma, e humildade. Porque através dessas qualidades você vai conquistando as pessoas. Em relação à admiração, respeito muito a Luiza Brunet e a Juliana Paes. Elas são fantásticas. Qual o desfile da Beija-Flor que mais te marcou? Por quê? Raíssa – O primeiro ano como passista, porque sempre tive o sonho de sair na Beija-Flor, e também o primeiro ano como Rainha de Bateria, no ano de 2003 com o enredo “O povo conta a sua história: saco vazio não pára em pé. A mão que faz a guerra faz a paz “. O que você espera do Desfile das Escolas de Samba neste ano? Raíssa – A comunidade está muito radiante, a escola trabalhou o ano inteiro. O Carnaval acaba para as outras pessoas, mas para a Beija-Flor não. O pessoal do barracão continua a todo vapor trabalhando. E eu tenho certeza que a escola irá se apresentar maravilhosamente bem, até porque a nossa comunidade está com o samba na ponta do pé e na ponta da língua. E tenho fé que ela conquistará o título. Com muita garra, com muito suor e com muito samba no pé seremos campeões. E eu só espero a vitória. O que a Beija-Flor representa para você? Raíssa – Ela é minha família. Não tenho palavras para dizer o que ela significa para mim. Tudo o que eu sou atualmente e serei no futuro eu devo a ela. www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
73
PRATA DA CASA MARCELA JOSUÁ
82 anos. Uma vida. Este é o tempo que, juntas, Aline, Charlene, Elaine e Jaqueline estão na Beija-Flor. Consideradas, entre tantas outras, “pratas da casa” pela agremiação, essas passistas têm muita história boa para contar. Elaine, por exemplo, já desfilou com água nos joelhos quando era pequena. Charlene não entendia o que era a expressão “chora cavaco” e achava que era “chora cavalo”. Algumas das histórias por uma escola que tem muito o que mostrar.
ALINE SOUZA
Podemos dizer que Aline Souza é a prata das pratas. Com 34 anos, está na escola há 27: “Desfilo desde os 7 anos na ala mirim. Com 12 anos, fui para a ala de passistas com o Milton Cunha. E estou lá até hoje. Nunca tive outra escola. Minha vida é e sempre foi a Beija-Flor.” Mãe de cinco filhos, Aline nos conta que mora em uma das casas da escola e que a Beija-Flor está presente na sua vida todos os dias. “Meus filhos estudam através da Beija-Flor, o que representa uma economia muito grande nas despesas de casa. Ela é tudo para nós”. Trabalhando atualmente no projeto “O Sonho de um Beija-Flor” como diretora da ala de passistas, Aline conta que ele é sua única fonte de rendimento. Sobre o futuro dessas crianças como passistas e bateristas, ela não desanima: “Estamos batalhando para que novos passistas e bateristas abrilhantem a avenida, como os antigos fizeram”. Do pai, Jorge Damur, falecido em 1997, Aline conta que ele não poderia ter deixado herança melhor. Com seu bom humor, ela brinca dizendo que ele não deixou nenhum bem material: “eu costumo dizer que meu pai não deixou nenhuma herança física como casa, apartamento ou barco. Ele me deixou a Beija-Flor de Nilópolis. E isso não tem preço.” Aos leitores e torcedores da escola, ela agradece o carinho e o amor. Manda um beijo especial para a nossa porta-bandeira Selminha Sorriso e para nosso diretor de Carnaval, Laíla, falando o quanto Selminha é especial na sua vida.
74
Revista Beija-Flor de Nilópolis
CHARLENE COSTA
À primeira vista, Charlene Costa parece ser uma mulher tímida e de pouca fala. No entanto, quando ela começa a falar, não para mais. Foi preciso apenas duas perguntas para que ela contasse sua trajetória de 18 anos de Beija-Flor. De carnaval, Charlene tem 24. E isso, não é uma crítica, mas um elogio a uma menina que fala bem, com qualidade e inteligência. Nascida em Duque de Caxias, começou no mundo do samba aos 7 anos na Acadêmicos do Grande Rio, quando conheceu Laíla. Sua paixão, conta, sempre foi a Beija-Flor, mas como nasceu no município de Caxias, frequentava a agremiação. Em 94, sua mãe realizou seu grande sonho levando-a para assistir ao desfile da Azul e Branco no setor 5 da avenida. “Me lembro muito bem, pois na época eu ouvia os discos de vinil e não entendia o que era ‘chora cavaco’; eu entendia ‘chora cavalo’. Eu falava pra minha mãe: “Quando eu crescer, me leva para essa escola?”. Até que, num sábado, 29 de novembro, ela participou de um concurso de passistas na escola. “Naquela época, só dava mulherão alta, e eu, toda mirradinha, com 12 anos. Quando cheguei ao camarim e vi todas elas falei: ‘Tô frita, o que eu vim fazer aqui?’ Mas, graças a Deus, sem conhecer ninguém, eu ganhei. Todos os jurados votaram em mim.”
Charlene
Elaine
www.beija-flor.com.br
Ao falar do pai, falecido em 2001, Charlene, emotiva, lembra: “Tenho uma dívida de gratidão com a Beija-Flor pelo resto da vida. Quando Laíla ficou sabendo do ocorrido, me chamou para vir ao barracão e me levou ao Anízio. Na época, meu pai era aposentado. Passamos por uma situação complicada, onde não tínhamos dinheiro. Quando cheguei ao barracão, seu Anizio me deu o dinheiro para que a gente pudesse suportar os meses que viriam, e pediu para eu escolher o curso que eu quisesse fazer de graduação que ele arcaria com os estudos. Eu escolhi Letras (Português-literatura) e a única coisa que ele cobrava eram as notas, queria saber como eu estava indo.” Após fazer uma pós graduação em Língua Portuguesa, Charlene atualmente cursa o quinto período de Direito. À Beija-Flor, Charlene só tem a agradecer: “No momento em que eu mais precisei, ela me acolheu e deu todo o suporte necessário, tanto financeiro quanto psicológico, e nunca vou me esquecer dessa dívida de gratidão.” Aos leitores e torcedores da Beija-Flor, Charlene agradece a todos que torcem por ela, e diz que cada palavra de carinho é um incentivo para que ela faça o melhor possível na avenida para que sua escola de coração conquiste o campeonato.
JAQUELINE FARIA
Modelo e dançarina, com 29 anos, está presente na Azul e Branco desde os 14. Sua relação com o samba é, podemos dizer, hereditária: seus pais eram ligados ao Acadêmicos do Salgueiro. Na Beija-Flor começou com o seu tio, Alexandre, que tocava na bateria da agremiação. Até que, conhecendo a ala de passistas conheceu Edinho Passista, a quem ela credita tudo o que sabe até hoje. “Entrei aos 14 como passista e em 2007 já me consagrei como Rainha do Carnaval. Depois ganhei destaque como musa”.
Jaqueline
Toda mulher gosta de se sentir bonita. E Jaqueline sabe muito bem disso. Só que, ao contrário de muitas, ela prefere ser destaque de chão a ser destaque de carro. “No chão, podemos sentir mais o carinho do público, que é muito especial e gostoso. Além de ver tudo mais de perto, né?” Antes de encerrar a entrevista, Jaqueline faz uma crítica àquelas “que querem aparecer:”. “Eu costumo dizer que samba é um dom. Você tem que desfilar porque você ama. E tem gente que está aí apenas para divulgar a imagem. Já eu, gosto e cresci no samba. Pra mim é amor de verdade.” Deixando um beijo e agradecendo o carinho de todos, Jaqueline mais uma vez reforça seu amor pela escola ao dizer que “representar a agremiação na avenida é inexplicável e maravilhoso.”
ELAINE LIMA
Quem vê Elaine Lima pela primeira vez não imagina que por trás de seu rosto delicado há uma mulher determinada e forte. “Minha principal característica é a sinceridade, e eu percebo que muita gente não gosta disso, prefere ser paparicada”. E assim começamos a entrevista com esta guerreira que atualmente cursa Publicidade e trabalha na ONG Espaço Cultural Rayd, na qual é madrinha. Conduzida por Diego David e Raissa de Oliveira, a ONG é voltada para a área de saúde, atendendo pessoas da terceira idade e crianças carentes. Mas vamos falar do que realmente importa. A relação de Elaine com o samba começou muito cedo. Foi por meio de sua mãe, Jurema, que ela se apaixonou pela escola: “O sonho da minha mãe era que eu me tornasse passista da Beija-Flor, e não de outra escola. Aos 10 anos idade, ela me levava aos ensaios e me encantei. Comecei a desfilar em 83, com 11 anos, no enredo ‘O mundo é uma bola’. Na ocasião e eu vim na ala das crianças, e como eu era pequena, desfilava com a água no joelho. Mas o amor pela escola falava mais alto e encarei de Aline frente o resto do desfile”. Sobre o que a Beija-Flor representa para ela, diz, enfática: “Ela é a minha vida. Tenho muito amor pela agremiação e pelo o que ela representa para mim e para as outras pessoas”. E se você pensa que a relação com o samba na vida de Elaine acaba por aí, está muito enganado. Sua filha Laiza, 13 anos, desfilou pela primeira vez aos 10 anos na bateria e é apaixonada por música. Para os leitores e para quem gosta dela, Elaine deixa um agradecimento e um beijo muito grande. “E pra quem não gosta?”, perguntamos. E com uma irônica sinceridade, Elaine responde: “Deixo dois beijos”.
Fevereiro 2013
75
J. Velloso
campeão da ponte-aérea
RIO – A vitória, às vezes, conspira contra. Depois cansa. E J. Velloso, com dois ll, apostou nesse cansaço e, depois de chegar a onze finais do concurso de samba-enredo na Beija-Flor de Nilópolis, viu vitorioso o samba que compôs em parceria com Claúdio Russo, Gilson Dr. e Carlinhos Detran. Era o hino para o enredo “Áfricas, do berço real à corte brasiliana”, de 2007. O êxito foi além: levou a Beija-Flor ao seu 11º campeonato no Carnaval carioca. Definitivamente, os louros resolveram mais uma vez descansar sobre o inspirado samba que falava das muitas “Áfricas” em que se transformou o Rio colonial com o tráfico de escravos a partir de 1630, e Velloso e seus parceiros ganharam o Estandarte de Ouro, laurel concedido pelo O Globo aos melhores do Carnaval carioca. Três vitórias de uma só tacada! “Ganhar, sempre, sempre é muito satisfatório”, festeja J. Velloso, que este ano está novamente entre os vencedores do samba-enredo para o tema “Amigo Fiel, do Cavalo do Amanhecer ao Mangalarga Marchador”, em parceria com Cláudio Russo, Marquinho Beija-Flor, Ribeirinho, Gilberto Oliveira e Dilson Marimba. Velloso começou no mundo do samba como ritmista na União da Ilha, em 1970. Dez anos depois, foi para Nilópolis, cidade onde nasceu e vive até hoje com a mulher, Rosemary, companheira de luta, de vida e desfile – e seus filhos Danilo, Allan, Igor e Irving. Ingressou na bateria tocando tamborim. Com determinação e teimosia, durante 17 anos participou dos concursos de samba-enredo. “Graças a Deus, sempre fui contemplado como finalista, mas perdendo nas finais. Dava uma tristeza e eu ia embora”. Onze vezes bateu na trave, até que fez as pazes com a vitória, que decidiu fazê-lo uma cabeça coroada, e no ano seguinte garantiu para Velloso e seus parceiros Cláudio Russo, Marquinho Beija-Flor, Ribeirinho, J.Coelho mais um campeonato e, para a Beija-Flor, o bicampeonato com “Macapaba – Equinócio Solar: Viagens Fantásticas ao Meio do Mundo”, com o inesquecível grito de guerra/refrão: “O meu valor me faz brilhar / Iluminar o meu estado de amor / Comunidade impõe respeito / Bate no peito, eu sou Beija-Flor”. “Interessante é que foi a última coisa que a gente fez no samba. Até então, o refrão não saia”, revela Velloso.
76
Revista Beija-Flor de Nilópolis
São Paulo, Seja aqui , seja em ? né , m bo to ui m ria é você “Ganhar é Mas a maior vitó . o çã fa tis sa E conseé uma ENORM tisfeito quando sa a fic e nt ge r saber perder . A maior vencedo trabalho, mas o o ss no eu o no tr ito gue êx ota . Qua administrar a derr te, passava é aquele que sabe se . No dia guin o nã ras ut o S eu era o ganhei, MUITA e dali pra frente e nt me a nh mi . um apagador na me comporto assim ou. Até hoje eu nh e ga nt ra ue q du samba mpositores que exijo dos co cê tem que Essa é a postura u perdendo, vo o do an nh Ga . o concurso nhou”. respeitar quem ga
SÃO PAULO – Em 2009, J. Velloso foi convidado pela diretoria do GRES Nenê da Vila Matilde para se inscrever na disputa do enredo “60 Anos – Coração Guerreiro, a Grande Refazenda do Samba”. Chamou o poeta Cláudio Russo e o sambista Marquinho Beija-Flor para a parceria. O samba ganhou todas as notas 10 e, de quebra, o Diário de S. Paulo conferiu o prêmio de melhor samba do ano. Com o samba “A Água Nossa de Cada Dia.” vitorioso no ano seguinte, Velloso e seus parceiros recolocaram a Nenê no grupo especial e ganharam mais um prêmio do Diário. Em 2011, venceu com “Salis Sapientiae – uma História do Mundo”. Foram todos notas DEZ. “Independente da escola cair ou não, a parte do samba-enredo ganhou quatro notas DEZ em todos os sambas”, festeja Velloso. Para o Carnaval de 2013, Velloso, Cláudio Russo, Marquinhos Beija-Flor e seus parceiros paulistas emplacaram
o samba-enredo sobre “Da Revolta dos Búzios à Atualidade. A Nenê canta a Igualdade”.
www.beija-flor.com.br
A emoção está de volta LUÍS FERNANDO VIEIRA
Hoje o samba está em alta na mídia e na sociedade, mas quando começou era discriminado, proibido, e dava prisão para seus participantes, a ponto de sair nota em jornal comentando que fulano de tal, pardo, foi preso no Largo da Carioca portando violão. Vejam só, navalha podia, mas violão... Quando não dava cadeia, os sambistas iam para o sal, embarcavam o dito cujo para fora da baía, e o colocavam no mar, limpando cascos de navios. O povo que não tinha condições de morar em casa grande para se abrigar junto ao piano, fazer um sarau, se reunia próximo a sua comunidade depois de um jogo de futebol para, em grupo, comemorar, vencedores e vencidos, um bom “rango”, regado a “cerva”, onde não faltava uma boa batucada. Com o tempo esses grupos foram se organizando e, próximo ao Carnaval, faziam almoços bem servidos pelas tias baianas e, baianas e matriarcas das famílias, verdadeiros banquetes com comidas de “sustança” (feijoada, mocotó, angu e coisa e tal), tudo regado a cerveja e uma cachaça pura, ou a batidas (limão, maracujá, amendoim, etc.). Nessas festanças eram sorteados brindes, faziam-se bingos e rifas, passava-se o livro de ouro no comércio, enfim, tudo que pudesse reverter em dinheiro para a compra de fantasias, instrumentos, adereços, colocando literalmente o bloco na rua. Os blocos se organizavam em agremiações, logo chamadas pelos sambistas de escolas de samba, e o objetivo era crescer para se tornar rancho, na época a mais importante organização carnavalesca. Nas escolas de samba, o compositor é o que tinha maior importância na comunidade, era ele seu principal dirigente e o objetivo maior do sambista. Para ser compositor tinha que se fazer samba de improviso, versar, musicar e tocar um instrumento de percussão para ter a aprovação dos compositores mais antigos. Na década de 20, até meados da década de 30, não havia samba de enredo, porque simplesmente não havia enredo. A escola escolhia fantasias aleatórias, e com sambas cantados nas quadras saíam para as ruas com a primeira estrofe pronta. Os versadores, os mestres de canto, faziam durante o desfile o restante dos sambas, improvisados na rua, seguidos pelo coro das pastoras que o repetiam até toda a escola cantar. O desfile não tinha tempo estipulado, e dava para se cantar dois ou mais sambas. Durante o resto do ano, nas reuniões festivas, antes e depois dos comes-e-bebes, o samba comia solto, sempre usando um tema do cotidiano, humor, amor, tudo era en-
focado, nas mais diversas formas, do lírico ao satírico, mas com muita arte, expressão maior da emoção. Nesse começo do samba, as gravadoras estavam surgindo, e com o disco, o rádio ganhou uma importância muito grande. Com os artistas se apresentando nos auditórios e excursionando Brasil afora, os cantores do rádio precisavam se munir com boas músicas, e as quadras de samba eram o local certo para se escutar as novidades, e muitas vezes entravam outras pessoas (cantores, produtores, divulgadores etc.) na parceria das músicas que seriam gravadas. Surge o “comprositor”, que comprava parte da música ou ela toda para depois ganhar dinheiro na venda dos discos e nos direitos autorais. Com o sucesso das escolas de samba, os autores dos sambas de enredo, o sambista, ficou direcionado para esta vertente do samba. Com isso, sambas de quadra ficaram relegados a espaços menores, fora das escolas, participando nas rodas de samba dos botecos ou nos pagodes de praças e clubes, e o sambista passou a gravar diretamente suas músicas e valorizá-las ainda mais. Na virada deste século, os dirigentes das escolas de samba voltaram seu olhar para o potencial que o sambista tem, e com o seu poder de comunicação o samba tenta recuperar o tempo perdido com concursos de samba de terreiro nas festas em suas quadras durante todo o ano. É a retomada das tias e suas comidas caseiras em volta de um bom samba de terreiro, onde o compositor pode novamente mostrar suas poesias, falando do cotidiano através do coração, exercendo toda sua criatividade, toda sua emoção.
_______________ Sobre o autor:
Luis Fernando Vieira é pesquisador da cultura popular, escritor, poeta, letrista, produtor musical e pesquisador do Instituto Cravo Albin, bacharel em administração na Faculdade Estácio de Sá e pós-graduado na Universidade Simonsen. Professor na Faculdade Hélio Alonso (FACHA). É fundador e membro da “Associação dos Escritores, Pesquisadores e Divulgadores da MPB” (AESP-MPB) e membro da “Sociedade de Amigos da Rádio MEC” (SOARMEC). Fundou com Hiran Araújo o Instituto do Carnaval, na Universidade do Carnaval, primeira faculdade a estudar o Carnaval. Membro da Academia Brasileira da Cachaça, na qual ocupa a cadeira número 21, tendo como patrono o compositor mangueirense Padeirinho. Fez diversas palestras sobre a MPB no Brasil e no exterior (Argentina, Alemanha e Portugal).
Fevereiro 2013
77
UM CARNAVAL DE EXCELÊNCIA Jorge Castanheira, presidente da Liesa
Planejar, produzir e apresentar, todos os anos, o desfile das Escolas de Samba é sempre um grande desafio. Um desafio que se torna ainda mais difícil quando as apresentações acontecem no início do mês de fevereiro, como em 2013. O tempo é mais curto, as atividades precisam ser executadas de forma mais rápida e, claro, não são admitidos erros. O Carnaval deste ano terá esta característica. No segundo domingo de fevereiro as agremiações que compõem o Grupo Especial já estarão se exibindo para o público que mais uma vez irá lotar o Sambódromo e também para todos os milhões de telespectadores que acompanharão, por meio das imagens geradas pela TV Globo, o nosso Carnaval em todo o Brasil e pelo mundo afora. As Escolas, cada vez mais empenhadas em conquistar o título de campeã, realizaram, ao longo do ano, tudo que lhes foi possível para alcançar a glória do primeiro lugar. Com grandes enredos, belos sambas-enredos, belíssimas alegorias e fantasias, todos buscaram fazer o seu melhor, em cada um dos dez quesitos em julgamento. Com a Beija-Flor de Nilópolis não é diferente, pois todos os seus segmentos se empenham ao máximo. Quando falamos das Escolas de Samba e todas as suas dificuldades, falamos, também, dos desafios que a Liga enfrenta para que toda a estrutura necessária para este grande evento esteja pronta. E nesse sentido o Carnaval de 2013 terá muitas características novas. Serão quatro dias de grandes espetáculos. Ou melhor, cinco. Começaremos na sexta-feira de Carnaval com a recém-criada Série A, cujos desfiles se prolongarão para o sábado. Domingo e segunda-feira, sabemos todos, vêm as 12 grandes Escolas do Grupo Especial. Encerrando o período de competição dos desfiles nos dias de Carnaval, terça-feira será a vez das crianças com os Desfiles das Escolas Mirins. No sábado seguinte, no Desfile das Campeãs, teremos mais uma noite de espetáculo com um brinde que as nossas seis Escolas primeiras colocadas oferecerão aos apaixonados pela folia. E todos estes desafios só estão sendo possíveis de serem superados porque a LIESA e as Escolas contam, a cada ano, com novos e entusiasmados parceiros que, confiando na qualidade do espetáculo que é apresentado por todas as agremiações, vêm fazer parte desta grande família do Carnaval carioca, tornando possível a manutenção do título de maior espetáculo da Terra. Que tenhamos todos um grande Carnaval e que os melhores e que mais se esforçaram durante todo o ano se consagrem como os verdadeiros vencedores.
78
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
79
Pode chegar... É samba de raiz. MIRO LOPES E RUY TECNOCRATA
Além dos poucos blocos carnavalescos que promovem roda de samba regularmente, são raros os ‘terreiros’ onde se pode ouvir um bom samba de raiz. Os aficionados desde gênero autêntico, também conhecido como samba de quadra e de terreiro, procuram abrir espaço para mostrar suas criações, como os encontros realizados periodicamente no Unidos do Ponto, novo refúgio dos compositores radicados em Nilópolis e no bar do Alje Bar, no bairro Caonze, em Nova Iguaçu, onde o samba rola solto, sempre com convidados do mais alto nível. Afora isso, esses artistas da letra e da melodia mostram suas composições em rodas de samba na Pedra do Sal, na Lapa, e nas escolas de samba em geral. A revista Beija-Flor de Nilópolis faz uma homenagem a esses sambistas que não deixam a peteca cair, e conta um pouco da produção musical de alguns desses baluartes da Baixada Fluminense.
Pinga começou no samba aos 27 anos com a música ainda inédita O Culpado Foi Você: “O culpado foi você por tua nega te deixar, porque mulher se trata com jeitinho, com muito amor e carinho para não lhe magoar”. O amigo compositor Chocolate, conhecedor de algumas de suas letras musicais, o convidou para escrever samba-enredo. Foi campeão dos sambas-enredos na BC Mocidade Unida de Miguel Couto (73), GRES Arrastão de Cascadura (79), GRES Império da Tijuca (85), entre tantos outros. Nos anos 80/90 começou a ter algumas músicas gravadas por intérpretes conhecidos da mídia, entre eles Mestre Marçal que gravou Temporal. Mas o principal intérprete das composições de Pinga foi Bezerra da Silva, que gravou O Malandro era Forte, Quem Usa Antena É Televisão, Vai Pagar Caro Informante, Meu Samba é Duro na Queda, Sou Cadeado, Jornal da Pedra, Preço da Glória, A Vida do Povo, Um Comédia nas Paradas, Cachorrinho de Polícia, Foi o Dr. Delegado que Disse, Ele Cagueta com o Dedão do Pé, Nunca Vi Ninguém dar Dois em Nada, Eu Andava nas Trevas e Conselho de Luz. Menílson, cidadão do samba com composições como Batuque envolvente... “Reluz no rosto da massa, felicidade que passa por gerações, inspirado em grilhões e correntes. Taí o Samba, Taí o Samba, mantendo a sua raiz. Taí o Samba fazendo o povo feliz. Na igualdade das raças, com a divina graça consciente/ ele vai, pelas veredas do mundo semeando amor profundo, levando a paz. Guerreiro valente seu bom ambiente é meu bem estar, taí o Samba com a proteção de Oxalá”. Aviso de Xangô (Genário no LP Bebeto de São João), Nunca Vi Ninguém Dar Dois em Nada e Ele Andava nas Trevas – essas duas últimas músicas gravadas por Bezerra da Silva. Menilson compôs, também, diversos sambas-enredos para escolas de samba e blocos de Car-
80
Revista Beija-Flor de Nilópolis
naval, entre eles Acadêmicos de Miguel Couto, BC Passo do Ganso, Imperatriz Iguaçuana, Arrastão de Cascadura e Leão de Nova Iguaçu. Roxinho é Mesquitense de Santa Elias. Filho de família de sambistas, já aos 12 anos compôs sua primeira música, Carta Fora do Baralho... “caí do galho nesse tal jogo do amor, sou carta fora do baralho...”; aos 18 anos compõe para João Conga gravar Maria Gasolina. Tem suas músicas eternizadas na discografia de Bezerra da Silva: Minha Sogra Parece Sapatão, Fui Obrigado a Chorar, Povo da Colina e A Semente. Gravou com a Ala dos Compositores da GRES Beija Flor de Nilópolis – Nossa Devoção Vol. 1 e Vol. 2 com as músicas: Meu Samba e Minha Devoção, Vovô Cantou pra Subir, Bíblia, Enfeitiçado e Taí O Samba...taí o Samba de melhor qualidade, Samba de Raiz de primeira, carrego essa bandeira pra manter a tradição. Valmir da Purificação, oriundo de Salvador, Mesquitense há 35 anos, começou no samba aos 24 anos através do amigo compositor Tieres Carnaval. Sua primeira composição foi Não vou chorar (GRES Amizade de Banco de Areia, anos 80). Daí foi um pulo para ter algumas músicas gravadas por Bezerra da Silva, como Língua de Tamanduá, A Semente, Povo da Colina... ”que mal lhe fez o meu povo humilde da colina, que mora lá em cima vivendo uma vida de cão...Povo da Rua...se quiser dar comida pro povo da rua comer, não é da minha conta, mas eles estão sem trabalhar...”, Crocodilo de Dois Pés (Cesar Dicró) e AS DP´s da Baixada. Adelzonilton é um verdadeiro malandro carioca, morador do bairro da Chatuba, hoje município de Mesquita. Aos 9 anos foi apresentado ao Nelson do Cavaquinho, e a partir deste momento passou a ser o carregador oficial de
www.beija-flor.com.br
seu instrumento musical. Mais tarde e através dele entrou para o mundo artístico. Compôs sua primeira música Pode Acreditar em Mim - em 1984, gravada por Bezerra da Silva. A partir daí começou a escrever com exclusividade para Bezerra: Defunto Caguete, Batina do Padre, Eu Não Sou Santo, Malandragem Dá Um Tempo, Deixa Uma Palha Pro Véio Queimar, Pobre Aposentado, Dois Venenos Juntos, Sujou Sujou, Cabeça De Malandro Esperto, A Fumaça Já Subiu Pra Cuca. E também mais tarde na fase Bezerra Gospel: Achei A Vida, Teu Sangue É Meu Nome, Casa Santa, A Vida Que Deus Me Deu, entre outras. Jairo Bráulio é um menestrel do samba de roda como cantor e compositor. Sua vida de sambista começou como compositor de músicas para os saudosos blocos carnavalescos BC Bafo da Cobra e BC Xuxu, nos anos 60. Ingressou na Ala de Compositores do então BC Leão de Iguaçu, hoje GRES Leão de Nova Iguaçu, tendo em sua galeria de títulos cinco campeonatos de sambas-enredos: E eles vieram de além mar; Canto, encantos e recantos da Bahia; Oba oba ziriguidum skindo; O que é que a baixada tem; Quem te viu Quem TV. Foi compositor da GRES Unidos da Ponte e GRES Mocidade Independente de Padre Miguel. Participou ativamente de vários projetos musicais, como o Seis e Meia no Teatro João Caetano e Sombra da Terra , no SESC, com Noca da Portela. O Cantor Jairo Bráulio já teve passagem por alguns grupos de samba, como Sambalaço Show, Lá Vem Samba, Nova Safra e Fino do Samba. No CD Sambaixada, interpretou Saudades de Mim e Vou Morar na Roça. Jorginho do Pandeiro, morador do Rancho Novo, Nova Iguaçu, começou sua carreira de músico há mais de 40 anos na Bateria Mirim da Mangueira tocando repique, aos 13 anos. Aos 16 fez parte do Grupo os Batuqueiros de Caxias, depois Grupo Lá Vem Samba e posteriormente Grupo Pirraça. Compôs sua primeira música aos 40 anos – Sonhando Acordado - e ganhou alguns prêmios: Melhor Intérprete de Samba (93), Disco de Ouro (com Me Leva pra Casa), Pandeiro de Ouro (Quatro anos). Participando de todas as formações do Grupo Pirraça durante 17 anos, gra-
vou 3 LPs – Força Maior (89), Eterna Procura (91), Quem de Nós (93), e 3 CDs – Tentação, Me Leva pra Casa, Ao Som do Amor. Atualmente integra o Grupo Panela de Barro. “O canto do negro é um lamento na senzala do senhor... chibata comia a toda hora, sem água, sem roupa, sem alimento...” Com esses versos da música “Lamento do Negro”, gravada e imortalizada por Dona Ivone Lara, mais um bamba se apresenta: Caboré. A música citada anteriormente tem como parceiros Fumaça do Salgueiro e Heitor dos Prazeres Filho. Caboré também tem músicas na discografia de Bezerra da Silva: Nunca Vi Ninguém Dá Dois
em Nada, Foi o Dr. Delegado Que Disse e Preço da Glória. Compôs, ainda, com seu parceiro Roxinho a inédita Morena: “Morena me empresta teu sorriso, me empresta tua boca, que Eu quero provar teu sabor; me dê um pouquinho do teu carinho, para aliviar minha dor”. Sempre polêmico, mas conhecedor do que faz, é um cidadão do samba sempre pronto para participar de uma boa roda de samba. Como cantor, Caboré tem um repertório amplo e diversificado, mas tem suas preferências: Nelson Cavaquinho/ Guilherme de Brito (“Amor Perfeito”, ”Gotas de Luar”, “A Vida”, “Não é só Você”, ”Quando eu me chamar saudade”, ”A Flor e o Espinho”), Candeia (“Pintura sem Arte”, ”Filosofia do Samba”) Wilson Bombeiro/Anésio (“Silêncio Tamborim”), Léo (“Lágrimas”) e Barbado/Jorge Portela/Manteiga da Portela (“Sorriso Negro”) Carlinhos Cachambi, 65 anos, é um poeta e compositor com samba na veia. Literalmente. Primo de Beto sem Braço, amigo de Guará, é filho e sobrinho de sambista. Conhece muitos baluartes e aprendeu muita coisa com eles. Sua primeira gravação foi “Papo informal”, com Jair Rodrigues. Em 2001, Flávio Oliveira lançou o disco “Tem-
Fevereiro 2013
81
po de recomeçar”, destacando seu samba “Pagode do Boulevard”. Em “O samba descontraído de Capri”, primeiro LP de Capri, está incluído seu “Cambono bom”. Neguinho da Beija-Flor gravou “Ousadia” e, em 2002, Leci Brandão regravou “Pomba rolou”, que foi lançada, anteriormente, por Jovelina Pérola Negra. Gravou oito composições com a sambista paulista Julia Poti, entre elas “Deixa clarear”. Com o conjunto Nosso Samba também gravou “Tem que aprender a lutar pela sobrevivência / Tem que saber o que vai na sua consciência...”. Depois de dar um tempo no Nordeste, onde aproveitou para preparar um novo CD com sambas de quadra intitulado “Semente do meu chão”, Cachambi está de volta à Nilópolis, onde frequenta o Lisboa, clube que promove rodadas de samba. Pelé da Beija-Flor, tem uma especial admiração por Cartola. A influência vai além do gosto pelo samba. A mãe era mangueirense. “Aliás, tenho muitos parentes na Mangueira”, revela. Sempre compôs sambas de raiz, mas somente duas músicas foram gravadas: “Inspiração do Poeta”, no primeiro CD da Ala de Compositores da Beija-Flor e “Desejo de amar”. Pelé começou moleque no Unidos do Cabral do Cachambi, e depois que foi para Nilópolis se integrou aos blocos “Baixada do Sapo” e “Deixa comigo”, participando com Jacy Inspiração de concursos de sambas de quadra. Foi quando Ramildo o viu e o convidou Pelé para integrar a ala de Compositores da Beija-Flor. Na época, para concretizar a inclusão de novos componentes, era necessário fazer três sambas de quadra, com tema ditado pelo compositor Cabana. Superado esse obstáculo, viveu seu desfile de glória em 1991 com o enredo “Alice no Brasil das Maravilhas”. Pelé frequenta as rodas de samba dos blocos da Baixada Fluminense, como o Unidos do Ponto, criado por Wilson Bombeiro e outros sambistas, que reúnem seus componentes para trocarem ideias e mostrarem suas novas composições na Praça Benedito Vaz. Wilson 70, do alto do seu 1 metro e noventa de altura e 76 anos, lembra que saía para cantar seus sambas com Cabana (Silvestre David dos Santos), Osório Lima e mais dois ou três compositores: “A gente parava em qualquer bar da vida e o couro comia”. “70” nasceu no berço tijucano do samba. Foi mascote da comissão de frente da Império da Tijuca, onde a mãe, Dona Maria Rosa, era diretora da ala das baianas. Viúvo de Marluce, que desfilava na ala “8 ou 80”, hoje “70” curte a tranquilidade de sua aposentadoria, às vezes compondo, outras vezes lembrando os sambas de terreiro, como aqueles que Cabana gravou, “Colombina” e “Denúncia vazia”: “Meu coração está vazio/ Não tem ninguém morando, agora não/A inquilina que eu tinha/ enganou-me, eu mandei embora/ Quem quiser ocupar tem que pagar grande fiança/Quero sinceridade e compreensão/ para ser a locatária do meu coração...”
82
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Com 13 anos, “70” veio morar no bairro nilopolitano de Olinda. Ainda moleque aprendeu a tocar surdo, caixa e batia tarol com uma só mão e logo passou a fazer parte do bloco Às de Ouro. Lá ficou conhecido por “Formiga”, referência ao morro onde viveu a infância. Formiga conta que, naquele tempo, também ia até o Centro para participar do bloco carnavalesco Beija-Flor, e quando foi elevado à condição de escola de samba, Formiga já integrava sua bateria. Paralelamente, exercitava sua vocação de compositor no bloco Centenário, também em Nilópolis. Aos 19 anos, já trabalhando como condutor de bonde com a placa 28-70 no boné, perde o codinome Formiga e passa a ser conhecido como “70”. Heitor Silva sugeriu que “70” participasse também da ala dos compositores da Azul e Branco, onde disputou diversos concursos de samba-enredo. Tom-Tom é compositor, maestro e produtor musical. Quis o destino que nascesse na terra de Noel, não bastassem duas gerações de sua família serem formadas por músicos. Aos 7 anos, começou a estudar música e acabou por se tornar um dos mais completos musicistas brasileiros. Bem antes, já tinha o apelido familiar que virou nome artístico. Tinha 4 anos quando aprendeu a solfejar o refrão de uma música da Beth Carvalho (ele solfeja para o repórter “tom-tom-tom-tom”) antes mesmo de aprender a letra. “Eu vivia cantando isso, aí meu pai me colocou o apelido de Tom-Tom. Aos 12, fui convidado para ir para ao conjunto mirim da Beija-Flor. Aí o Neguinho da Beija-Flor estava lançando um vinil, me viu tocando e disse pro Joãosinho Trinta: Vou levar ele pra tocar comigo”. O pai teve que dar uma autorização para ele acompanhar Neguinho nas viagens. “Foi ele quem abriu o caminho da música pra mim”, confessa Tom-Tom. Através do seu trabalho com Neguinho, conheceu muitos compositores de outras escolas. Como tinha muito conhecimento em música, volta e meia vinha um compositor pedindo pra Tom-Tom: “Dá uma ajeitadinha aqui pra mim”. “Depois que várias composições nas quais dei uma ‘ajeitadinha’ foram campeãs, comecei a notar que o que eu fazia tinha um certo valor no concurso de samba-enredo”. Foi vencedor dos sambas-enredos da Beija-Flor “O Brasil dá o ar de sua Graça, de Ícaro e Ruben Berta, o Ímpeto de Voar” e “No chuveiro da alegria, quem banha o corpo, lava a alma na folia”. “Eu gravei muita coisa aí. Fiz muita coisa de samba de raiz. Tem uma que diz assim: Quem não conhece a moça ali do canto / Derramando tanto pranto / O seu nome é Magali / Descabelada, embriagada mal vestida / Mas já foi a mais querida / Que existiu por aqui”. É “Magali”, gravada por Neguinho da Beija-Flor no LP “Bem Melhor que Você”.
www.beija-flor.com.br
Wilson Bombeiro vive em Nilópolis desde 1945. “Tive a felicidade de sair no primeiro desfile, que foi “O Caçador de Esmeraldas”, e de ganhar quatro sambas-enredos”, comemora. Esteve na Portela e na Mocidade por uma década, até fixar-se definitivamente na ala de compositores da Beija-Flor. É considerado seu mais antigo integrante. Em 1971, Candeia gravou de sua autoria “Silêncio tamborim”, no LP “Seguinte... Raiz”. Sônia Lemos interpretou de sua autoria “Voltei” no LP “Pérola de Agonitá” (1976). Neste mesmo ano, Leci Brandão, no disco “Questão de gosto”, interpretou “Epitáfio de um sambista”, no qual Bombeiro escreveu: “A pedra do meu epitáfio/Quero que seja no Estácio/Com a seguinte inscrição/Jaz aqui mais um sambista/Que morreu em plena pista/pela escola do seu coração”. No ano seguinte, Tião Motorista incluiu no disco Meu interior, “Apesar de tanto amor”, de Bombeiro. Zilá Machado gravou “Sonho na calçada”, no LP “Já se dança samba como antigamente” (1979). Em 1988, Alcione cantava “Te dei um tesouro / Apesar de pobre / Meu coração de ouro / Troquei pelo teu de cobre”, sua música-titulo do LP “Ouro e cobre”. Outra interpretação de Marrom: “É você partiu um dia /deixando comigo a dor / a nossa cama está vazia / refletindo nosso amor / mas você quer voltar / eu não lhe darei perdão...”, de “Impossível recomeçar”, também gravada por Mestre Marçal. Ano passado, Bombeiro gravou no CD da Ala dos Compositores, “Bicheiro Apaixonado”. Gilson Doutor, com seu conjunto de bailes, animava, na década de 60, os clubes do Rio e da Baixada. Mas sempre teve interesse especial em compor e cantar samba. Assim surgiram Madrugada de Samba na Vila, Mulher que Pas-
sa, Pranto que derrama, Bola de Vento, além de versos que revelam sua inspirada vocação de sambista: “Marquei com ela de sair na quarta-feira/Foi besteira, ela não apareceu/ Fui cantar samba na Portela e na Mangueira/E, no meio de cobra-criada, meu samba venceu!” Também em samba ele atribui à Beija-Flor suas concepções acerca de si e da vida, em “Você bateu forte no peito”, no qual canta: “Teu Azul e Branco me trouxe alegria/E fez nascer a minha filosofia”. Há quase duas décadas, é presidente da Ala de Compositores da Beija-Flor de Nilópolis e assíduo concorrente dos concursos de samba-enredo, tendo sido contemplado com três campeonatos: “A criação do mundo segundo a tradição Nagô” (1979), “Áfricas” (2007) e “Macapaba” (2008). O sambista romântico de Nilópolis Inspirado letrista e musicista de Nilópolis, onde nasceu e vive há sete décadas, Toso Gomes é um legado da música popular brasileira. Presença obrigatória nas chamadas “paradas de sucesso” da época de ouro do rádio, foi sucesso nacional com o “Ninguém é de ninguém”, lançado por Cauby Peixoto e que ganhou mais 25 gravações de famosos da época, como Ângela Maria e Elza Laranjeiras. Amigo de João do Vale, João Nogueira e Chico Buarque, se dizia “presente” nas domingueiras futebolísticas do Politeama na Barra da Tijuca. Mas seu elo com o samba também é anterior e faz parte do seu patrimônio musical, com destaque para “Nossa vez de amor” (parceria com Manoel da Conceição), lançada por Elizete Cardoso, “Bagaço’ e “Boatos”, gravados pela baiana Alice Gonzaga, e “Julga-me”, gravado por Walter Levita e pela sambista paulista Vera Lúcia. Teve, entre seus parceiros mais frequentes, Umberto Silva, Luiz Mergulhão e Antonio Correia.
Fevereiro 2013
83
FATOS QUE TRANSFORMARAM O CARNAVAL PARA SEMPRE RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
O radialista Hilton Abi-Rihan é um dos grandes amigos de Anizio. Há muitas décadas. Já se tornou tradição o encontro semanal onde eles se reúnem para um bate-papo descontraído, que também conta com a presença constante do amigo Ubiratan Guedes. Nesses encontros, os três discutem os mais variados assuntos, de futebol a Carnaval. De política internacional à culinária. É assim que fortalecem seus laços de afeto e amizade. No domingo, dia 2 de dezembro de 2012, Abi-Rihan deixou de ser apenas o amigo para exercer o papel de entrevistador, conduzindo uma agradável conversa sobre os tempos idos do Carnaval, quando a Beija-Flor de Nilópolis iniciou uma brilhante e colorida revolução no maior espetáculo a céu aberto do planeta. Estive na casa de Anizio naquele domingo e, exercendo o papel de editor da revista Beija-Flor, organizei e fiz pequenos ajustes no bate-papo daquele dia para adaptá-lo ao formato de entrevista. Aqui, na redação da revista, tive a valiosa colaboração da jornalista Marcela Josuá, que realizou a transcrição de toda a conversa.
Abi-Rihan – Anizio, você está no Carnaval há muito tempo, e todos sabem a revolução que você bancou ao abrir as portas da Beija-Flor para o João Trinta, o Laíla e o Viriato desenvolverem carnavais sensacionais na agremiação. Mas muita gente não sabe que você já foi Mangueira. É verdade, Anizio? Anizio – O Djalma dos Santos, da Mangueira, era meu amigo e me ajudou bastante no mundo do samba. Por causa da nossa amizade, acabava frequentando bastante a quadra. Nessa época, a Beija-Flor ainda estava no segundo grupo. Mas quando ela subiu, o coração bateu mais forte e fiquei com a Beija-Flor. Ubiratan – Isso que o Anizio falou era normal. E ainda é assim hoje em dia. Você tem uma escola de coração, de grande afinidade, mas, às vezes, essa escola faz parte da série A. Isso é muito comum nas comunidades. Se você mora, por exemplo, em Cascadura, pode torcer para o Arrastão, mas ainda assim você também tem uma escola para a qual torce no Grupo Especial. Se a sua escola da série A chega ao Grupo Especial, o natural é que você abandone a escola que torcia no Grupo Especial para torcer pela agremiação que estava com você e na sua comunidade desde o início. Abi-Rihan – É. E a Beija-Flor chegou ao Grupo I, que era a elite do Carnaval na época, e acabou se tornando a grande revelação no Carnaval de 1976. Você se lembra, Anizio? Anizio – Lembro-me muito bem daqueles dias, quando a Beija-Flor se preparou para ganhar o seu título no Carnaval da cidade do Rio de Janeiro. Foi um momento marcante na história da Beija-Flor, mas foi também 84
Revista Beija-Flor de Nilópolis
marcante para o Carnaval carioca, já que ele cresceu e se transformou a partir daquele desfile em 1976. Abi-Rihan – A ideia do enredo foi sua e do Nelson, seu irmão, não é mesmo? Anizio – Foi. A ideia do enredo era bem próxima do que o João Trinta desenvolveu para a avenida, mas nossa ideia inicial era chamar o enredo de “Natal – Homem de um braço só”, onde faríamos uma homenagem ao Natal, ídolo e benfeitor da Portela e da comunidade de Madureira. Chegamos a nos encontrar com a diretoria da Portela para que ela nos autorizasse. Foi em um almoço organizado pelo Hiram Araújo. A Portela autorizou, mas quando passamos para o João Trinta o enredo definido, ele nos pediu um tempo porque queria estudá-lo com mais cuidado. Quando terminou de ler e pensar no enredo, ele nos procurou e a primeira coisa que disse foi o seguinte: “Vai ser um desfile lindo! O público verá um desfile que nunca viu antes. Estou cheio de ideias, mas a primeira coisa que precisamos fazer é mudar o título do enredo. Sonhar com rei dá leão. O que vocês acham?” Nessa hora a gente teve a certeza de que o investimento que fizemos em trazer para a Beija-Flor o João Trinta traria os resultados que pretendíamos para a escola e para a comunidade. De lá pra cá, o Carnaval mudou completamente, e a Beija-Flor foi a grande responsável por isso. Ubiratan – Fui criado em uma comunidade carente no Andaraí e meu pai era ligado à escola de samba Floresta do Andaraí. Cresci, por isso, no samba e quando olho o Carnaval carioca da atualidade, não há como não fazer uma comparação do passado com o que www.beija-flor.com.br
vemos hoje na avenida. Faço, então, um retrospecto buscando pontuar algumas importantes mudanças que ocorreram através dos anos e me vem à cabeça a grande evolução promovida pelas Comissões de Frente, que antigamente vinham de cartola na mão, apresentando a escola. Era essa a função da Comissão de Frente: apresentar à escola ao público e aos jurados. Imaginem só: eles não tinham nenhuma ligação com o enredo e não contavam ponto, apesar de ser um item obrigatório. Para mim, as primeiras e consistentes mudanças na Comissão de Frente surgiram com o Salgueiro de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona, em 1965, com o enredo “História do Carnaval Carioca”, quando a agremiação levou para a avenida uma Comissão de Frente formada por 20 homens vestidos de burrinhas. A partir daquele ano, a Comissão de Frente passou a ter que estar interligada ao enredo. Hoje, a Comissão de Frente é parte integrante do enredo, conta ponto. Me lembro, também, que naquela época as escolas não podiam colocar figuras vivas em cima dos
Abi-Rihan – E o público reconhece a coragem e a ousadia da Beija-Flor, não é? Você sempre bancou, Anizio, as ideias revolucionárias dos carnavalescos. Não só com João Trinta. Recordo aqui o desfile em que a Beija-Flor homenageou a Diva da Ópera, a cantora lírica Bidu Sayão. Na época o carnavalesco era o Milton Cunha, e me lembro muito bem que você bancou inclusive a viagem dele para os Estados Unidos para propor o tema à homenageada, que morava em uma cidadezinha escondida dos Estados Unidos. Ubiratan – Tenho certeza de que uma das grandes forças da Beija-Flor é essa predisposição do Anizio para bancar grandes e desafiadoras ideias. Foi assim com a criação da Comissão de Carnaval. Uma ideia que hoje é replicada por diversas escolas.
carros alegóricos. A escola que colocasse perderia seis pontos. E a Beija-Flor foi lá e, arriscando, colocou pessoas sobre os carros e arrasou. Por incrível que pareça, o desfile de Carnaval já foi realizado com manequins sobre os carros alegóricos e foram a Beija-Flor e a Imperatriz que iniciaram essa mudança que o público
Anizio – O João Trinta foi dispensado por mim porque desrespeitou a diretoria da escola, colocando uma figura nua na avenida. Criatividade e inovação são bem-vindas, mas temos que respeitar alguns pensamentos. E o João sabia o que pensávamos a respeito desse assunto. Quando o dispensamos, o primeiro pensamento
presente gostou e aprovou plenamente. Quem não se recorda do Arlindo Rodrigues, que como carnavalesco do Salgueiro fazia até as unhas dos manequins? (risos) Anízio – Provamos que o Carnaval podia ser muito mais bonito com as figuras vivas.
Fevereiro 2013
85
foi: Quem será o substituto? Maria Augusta ficou na escola dois anos. Minha sogra, a Graça, que gostava muito do trabalho do Milton Cunha, me pediu para darmos uma oportunidade a ele, que se apresentava como um homem inteligente e culto, com várias ideias... Também ficou dois anos. Mas os resultados não estavam chegando e achei que estava faltando uma ligação mais forte da escola e do barracão com o carnavalesco. Queria criar o Carnaval dentro do barracão. Chamei o Laíla e disse que, a partir daquele momento, a Beija-Flor não teria mais carnavalescos. Montamos, então, o que todo mundo já conhece como Comissão de Carnaval. A partir da criação da Comissão, voltamos a ganhar vários títulos. Acho que foi uma decisão muito boa para a escola. Ubiratan – Anizio, quando você fala em boas decisões para a Beija-Flor, acredito que essas boas decisões acabaram sendo, também, boas para o Carnaval carioca porque influenciaram e lideraram importantes mudanças nessa maravilhosa festa. O papel transformador da Beija-Flor é inegável, e alguns momentos em que a escola ousou me vêm à cabeça. Mas acho que um dos mais emblemáticos foi você ter feito a estrela do espetáculo ser o integrante da comunidade nilopolitana. Você não trouxe artista de fora para abrilhantar os desfiles da escola: Pinah, Neguinho, Soninha Capeta, Edson Passista, Selminha, Neide Tamborim, Raíssa... E tantos outros. E isso foi uma sacada fundamental, porque quem é componente tem que amar a escola. E dar reconhecimento e oportunidades aos seus componentes é um importante instrumento de motivação e incentivo. Para mim, essa é uma das mais fortes razões para essa escola
86
Revista Beija-Flor de Nilópolis
ser grandiosa e ter componentes que cantam com o coração na mão. É um momento inesquecível estar na avenida e ouvir os componentes da Beija-Flor cantando o samba-enredo com emoção e garra. Mas eles fazem isso porque amam realmente essa escola. Anizio – Esse amor que o componente tem pela escola é muito grande. Você tem razão. E tenho certeza de que o componente vê que nós, da diretoria, fazemos mais do que o possível para que ele permaneça na escola. Oferecemos uma estrutura séria – a melhor das escolas de samba na atualidade. Oferecemos sambas-enredos de qualidade, fantasias e adereços da melhor origem. Além disso, nossa escola é a que leva os maiores carros alegóricos para a avenida – um carro que não quebra, pois temos uma equipe de ótimos profissionais. Nossos ferreiros e carpinteiros trabalham com muita seriedade e responsabilidade os carros alegóricos para que passem na avenida com força e segurança. E isso é importante para o nosso componente. Ele sabe que estamos juntos, trabalhando em todos os detalhes para fazer um desfile campeão. Na verdade, para fazer uma escola campeã em tudo que faz. Ubiratan – É verdade. Aproveito o que você falou, Anizio, e destaco o trabalho maravilhoso e competente que você e a Beija-Flor realizam no âmbito social e esportivo. É uma escola campeã em tudo o que faz. Isso sem falar na revista da Beija-Flor, feita pelos nossos amigos Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca. Se não me engano, estamos entrando na 12ª edição da revista e a cada ano ela se supera – em beleza plástica e em conteúdo. É como você disse, Anizio, a Beija-Flor é uma escola campeã em tudo que faz.
www.beija-flor.com.br
UMA ÁRVORE DE BONS FRUTOS VICENTE DATTOLI
Desde pequeno escuto dizer que ninguém atira pedras em árvores que não dão frutos. E esta frase sempre me vem à mente quando vejo as críticas que são feitas à atuação da Liga Independente das Escolas de Samba, pelos mais variados motivos. Não estou dizendo que a entidade não cometeu ou que não cometa erros. Nada disso. Mesmo porque o que é certo para alguns pode ser errado para outros, principalmente no que diz respeito à organização, decisões, estrutura. O que tenho certeza, e não há como negar tal fato, é de que os desfiles das Escolas de Samba ganharam uma nova dimensão, um formato de maior organização desde que a Liga, fundada em julho de 1984, passou a ser a coordenadora artística do espetáculo. Os primeiros anos, é claro, foram difíceis. Ninguém nasce sabendo. Mas o desejo de acertar, o empenho e o amor que os dirigentes sempre demonstraram, aliados ao comprometimento de todos, fez com que as coisas avançassem. Vejam, por exemplo, o caso dos compositores de samba-enredo. Foi graças à atuação do ex-presidente da Liga, Anizio Abrão David, que e l e s passaram a receber,
diretamente, os direitos autorais de suas obras executadas durante os desfiles do Grupo Especial. Sem intermediários e com rapidez. Se hoje isso parece não fazer diferença, basta lembrar que nosso país já teve meses de inflação superior a 40% para saber o quanto os valores eram corroídos. Mas há mais, muito mais. Hoje, todas as Escolas de Samba do Grupo Especial têm como realizar seus desfiles com dignidade, resultado de um trabalho exaustivo das direções que passaram pela Liga e sempre buscaram mais recursos e melhores condições para todos, sem distinção. As verbas são distribuídas de forma equitativa, com pequeno diferencial apenas no tocante ao montante dos ingressos, baseado na colocação do ano anterior. As apresentações começam nos horários estipulados. O regulamento é respeitado, sem “viradas de mesa”. As regras são estabelecidas em consenso entre as agremiações. Enfim, tudo é feito para que o desfile das Escolas de Samba se desenvolva e ganhe, a cada ano, mais importância e qualidade, trazendo mais turistas para nossa cidade e ajudando a divulgar nossa cultura no exterior. Talvez por isso tantas pedras sejam atiradas nesta árvore que tanto frutifica.
Fevereiro 2013
87
Velha Guarda Show canta a história da Beija-Flor em bom tom... MIRO LOPES
Sergio Continentino
Seja através de belíssimas apresentações da Comissão de Frente, como a apresentada pela coreógrafa Ghislaine Cavancanti no Desfile de 2004, ou da força e elegância dos casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, a Beija-Flor de Nilópolis não abre mão de levar ao público que a prestigia momentos de luxo, glamour e beleza ao cruzar a avenida. Mas o público sabe que Carnaval não é só luxo e glamour, que ele é um componente essencial, mas não é absoluto, e que a agremiação nilopolitana sabe bem temperar esse molho para fazer um grande Carnaval. E é aproximando-se do término do grandioso desfile da agremiação que se vê como a Beija-Flor de Nilópolis sabe, como poucos, cuidar dos seus “temperos”. É assim que, fechando com a apresentação da escola na Sapucaí, uma plêiade de heróis anônimos caminha na Avenida, cumprimentando a todos com carinho e muita humildade. Não precisam de brilho em suas indumentárias, porque o brilho que carregam é interior, fruto de uma vida digna e nobre, dedicada de corpo e alma à Beija-Flor. Estamos nos referindo aos baluartes da Beija-Flor de Nilópolis - os integrantes da Velha Guarda. Inegavelmente, a mais elegante ala de uma escola de samba. Formada por fundadores e celebridades forjadas pela vivência e dedicação à escola, a Velha Guarda da Beija-Flor é uma verdadeira galeria de nobres, que dispensam cetro e coroa. Eles representam a história do grêmio recreativo. Cada integrante tem a tradição vincada nos traços que o tempo lhe desenhou no rosto ao longo dos anos.
Débora
Wanderly 88
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
No passado, abria o desfile. Atualmente, fecha a travessia da agremiação nilopolitana pela Passarela do Samba. É fecho de ouro! Como se isto não bastasse, a Velha Guarda desenvolve outra importante atividade para exaltar o nome da agremiação nilopolitana fora do calendário momesco, tendo a música e o canto como os ingredientes principais dessa receita: “Seguimos um caminho já trilhado por outras coirmãs, e durante o ano todo realizamos apresentações públicas onde contamos a história da Beija-Flor através da interpretação de antológicos sambas-enredo. Cantamos a história da Beija-Flor e relembramos importantes nomes presentes na história da nossa querida escola. Nomes como Cabana e Osório...”, esclarece Débora Rosa Cruz. De acordo com seu idealizador e diretor geral, Márcio Andrade (Márcio Frigideira), “Estreamos, a convite de Jorge Aragão, no show “Samba de Bambas”, no Canecão – então, a maior casa de espetáculo do Rio de Janeiro. Em Poços de Caldas nos apresentamos no Palace Cassino, e fomos muito bem recebidos pelo público presente, formado por locais e turistas de todo o Brasil. Essa repercussão reforça a importância da Velha Guarda Show, afinal, nossas meninas e rapazes estão divulgando a Beija-Flor nos mais variados cantos do país. Um orgulho para todos nós.”, declara emocionado.
ra, Odracir Sisi e Paulo Magno Sapury (percussão), Gisele Figueira (flauta transversa), e os arranjos de Monica Maia. Para contratar o espetáculo da Velha Guarda Show, basta entrar em contato com Greyce Valle, responsável pelos shows da Beija-Flor de Nilópolis: (21) 7812-8789 ou greyce@beijaflorshows.com.br.
Antônio Januário
Tendo no vocal Débora Rosa Cruz, Marly Alvarenga, Celia Natalino, Wanderly de Oliveira, Neusa Celia, Sergio Continentino (Sebinho) e Antônio Januário (Tuninho), a Velha Guarda Show conta com a competência musical de Alvino (violão), Wellington (cavaco), Celso Paduana (surdo), Marcio Frigidei-
Celia
Marly
Fevereiro 2013
89
Mãos à obra! RICARDO DA FONSECA E MARCELA JOSUÁ
A República Federativa do Brasil, com seu sistema Presidencialista, tem sua estrutura dividida em três poderes independentes entre si: Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada um com sua função: o Executivo age na execução de programas e serviços públicos; o Legislativo elabora as leis e o Judiciário garante os direitos individuais, coletivos e sociais. Esses três poderes formam o chamado Poder Público, que tem sua eficácia posta em xeque todos os dias pelos cidadãos mais atentos. Quando a atual Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988, foi considerada o auge do processo de redemocratização brasileira. Sétima versão na história da República, é um conjunto de normas de governo que limita e enumera os poderes e funções de uma entidade política. É a lei fundamental e suprema do país. O artigo 3º dessa Constituição atribui como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: “I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. “ Infelizmente, o Estado na sua totalidade não vem conseguindo cumprir suas obrigações constitucionais como a sociedade esperava e, com isso, acaba deixando a população, que confia na sua eficácia, desamparada. Sob uma determinada perspectiva, podemos ver que essa incapacidade em realizar gera graves consequências para o cidadão brasileiro. Basta olhar ao redor que poderemos ver hospitais públicos desaparelhados e com uma descontrolada superlotação, incapazes de oferecer o alento e o cuidado esperado. Se olharmos para o sistema de educação, não teremos grandes surpresas: veremos crianças
90
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
e jovens em idade escolar fora do ambiente educacional ou, quando matriculadas no sistema de educação, vitimizadas por um ensino insuficiente, limitado e inadequado frente aos desafios do século da comunicação e da informatização. Ficaríamos horas abordando fatos que confirmam a incapacidade - intencional ou não - do Estado em oferecer a todo o povo que o constrói o mínimo de bem-estar social. Mas o aspecto que pretendemos tratar aqui ultrapassa esta abordagem. Na verdade, com o Estado não cumprindo e deixando de prover as condições básicas para a conservação do indivíduo na sociedade, os cidadãos mais esclarecidos e articulados, que possuam instrumentos próprios de sobrevivência, acabam construindo sua vida e de seus descendentes sem contar com o Estado. É uma questão de escolhas e possibilidades. E esses, que conseguem se manter fortes e protegidos por suas próprias forças, acabam não tendo olhos para a realidade que se debate ao seu lado - uma realidade não tão próxima, mas a seu lado. Nessa realidade, uma importante e considerável parcela da sociedade brasileira, sem poder contar com o Estado na sua plenitude e sem poder contar com a colaboração dos mais ricos são obrigados a se submeter ao que o Estado oferece. Sabem que não é o ideal de uma vida. Sabem que seus filhos não estarão nas melhores redes de ensino. Sabem que não terão disponíveis os melhores nem o mais ágeis sistema de saúde. Mas é o que têm.
GOTAS EM UM OCEANO. MAS O OCEANO NÃO É FEITO DE GOTAS D’ÁGUA? Mas a insatisfação que muitos brasileiros têm nutrido com a atuação do Poder Público em sua missão constitucional tem motivado o surgimento de importantes movimentos sociais que buscam oferecer ao cidadão – sem discriminação – bem-estar social nas diversas áreas, inclusive nas artes, saúde e educação. Não é um desafio fácil de empreender, mas a certeza que esses idealistas nutrem, de que podem
Fevereiro 2013
91
fazer a diferença, os tem levado à grandes realizações. As ações realizadas pela Beija-Flor de Nilópolis são, indiscutivelmente, uma delas.
OBRAS SOCIAIS DA BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS Sob o patrocínio de seu presidente de honra, Anizio Abrão David, a Creche Julia Abrão David, o Educandário Abrão David e o Centro de Atendimento Comunitário (CAC) são provas de que é possível, sim, com uma boa dose de vontade, articulação e recursos, oferecer alternativas de qualidade aos cidadãos menos favorecidos de recursos econômicos.
92
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Creche Júlia Abrão David Quando os pais matriculam seus filhos em uma creche, a principal preocupação é saber se as necessidades dos seus pequeninos serão atendidas – sejam nas questões relacionadas à educação e alimentação, sejam nas relacionadas aos cuidados do dia a dia. Pois bem. Quando a Creche Júlia Abrão David foi inaugurada, em 9 de maio de 1980, atendia inicialmente 60 crianças. Não era um número compatível com a forte estrutura do lugar, mas depois de ver que lá as crianças eram bem tratadas e recebiam ensino de qualidade, a demanda aumentou e a necessidade de atender um contingente maior foi crescendo até chegar a 280 crianças em 2012. Fundada com o nome de Creche Beija-Flor, mudou de nome anos mais tarde para ‘Júlia Abrão David’ em homenagem à mãe dos irmãos Anizio, Nelson e Farid A. David, a grande incentivadora da instalação da Creche. A faixa etária matriculada na Creche Júlia Abrão David varia entre seis meses e seis anos de idade em regime de semi-internato, e de acordo com a idade elas ficam no Berçário (de 6 meses a 2 anos),no Infantil (3 anos), no Infantil 2 (4 anos) e no Infantil 3 (5 anos). Quando completam 6 anos, elas seguem automaticamente para o Educandário - outra obra de suporte e assistência social criada pelos filhos de Da. Júlia. Na Creche, o atendimento dos pequenos é realizado com muito carinho e amor pelas professoras ou “tias”, como são chamadas. Os pequeninos
www.beija-flor.com.br
são tra- zidos pelos seus pais ou responsáveis às 07h40, permanecendo dentro da Creche até às 19h. Ao longo do dia são feitas quatro refeições: café da manhã, almoço, lanche e jantar, todas preparadas por nutricionistas que se comprometem em atender às necessidades nutricionais dos pequenos: alimentos frescos, ricos em proteína e com pouco carboidrato integram o cardápio. Tudo isso aliado à práticas que são essenciais ao desenvolvimento da inteligência e percepção de qualquer criança. Assim, eles têm energia de sobra para desfrutar de todos os benefícios que a Creche Júlia Abrão David oferece. A equipe de trabalho conta com profissionais altamente qualificados e preparados para receber e educar os pimpolhos: assistência médica, odontológica, auxiliares de serviços gerais e uniforme fazem parte do pacote. Tudo gratuito. Buscando dinamizar o dia dentro da Creche, e torná-lo sempre agradável, as crianças matriculadas são divididas em dois grupos: no turno da manhã o primeiro grupo estuda na sala de aula, enquanto o segundo fica no pátio com as recreadoras em atividades livres e educativas. No turno da tarde, a situação se inverte. Esse sistema tem dado certo, pois as crianças não ficam sobrecarregadas de estudos e nem de recreação e, por serem novas, a permanência na creche não torna-se cansativa. Quem não conhece e visita o lugar pela primeira vez fica surpreso com o que vê: crianças sorridentes e o bom preparo dos funcionários da casa ao atender o público só confirmam que lá todos são sempre bem-vindos. Nossa equipe teve essa comprovação. Fomos recebidos com simpatia pela diretora da instituição, Da. Maria de Lourdes Goulart - leal trabalhadora que permanece há mais de 33 anos à frente da Creche e que é, também, uma de suas fundadoras. Enquanto esperávamos para conhecer as instalações, Maria de Lourdes nos ofereceu um copo d’água gelada, amenizando o calorão que fazia lá fora. Quando acabamos, ela nos mostrou todas as instalações da Creche com atenção e paciência. Pedimos licença, entramos na sala do Infantil 2 e cumprimentamos as crianças. A receptividade delas foi indescritível. O semblante de cada uma era de uma felicidade e alegria tão grandes que não dava vontade de sair. E assim foi, cada lugar da creche que visitávamos era uma surpresa.
Energia boa, rara de se encontrar em um estabelecimento de ensino. Depois de conhecer a Creche, encerramos nossa visita com um bate-papo animado, onde Maria de Lourdes nos deu a sua visão daquela realidade: “A creche não é só um elemento de preparo para o ensino fundamental, mas é uma verdadeira e importante extensão do lar. Nós apoiamos e damos suporte. Buscamos dar às crianças tudo aquilo que elas não podem ter em casa. Precisamos pensar aqui como um segundo lar para elas”. Quem pensa que a preocupação, a atenção e o cuidado são voltados apenas para as crianças de Nilópolis, se engana. Moradores de São João de Meriti, Belford Roxo, Paracambi, Mesquita, Queimados, Japeri, entre outras localidades da baixada fluminense, também são beneficiados pelo ótimo serviço e trabalho idealizados pelos irmãos David e colocados em prática cotidianamente pela equipe de Maria de Lourdes. Para matricular a criança, o critério para o ingresso é possuir uma renda familiar de até três salários mínimos. Caso o pai ou a mãe estejam desempregados, é oferecido
Fevereiro 2013
93
auxílio nessa hora tão difícil. A direção mantém vínculo com indústrias e comércios da região e, de acordo com a vocação de cada um, ajuda na indicação de um trabalho digno que seja capaz de sustentar a família. A mãe de um dos aluninhos reforça: “Sem essa creche, eu e meu marido estaríamos passando dificuldades para educar nossas crianças. Seu Anizio é um anjo que Da. Júlia deu a Nilópolis”. A Creche fez e continua fazendo história. Há 33 anos, não garante apenas abrigo, alimento e educação às crianças. Ela provê muito mais. Estabilidade emocional, proteção e carinho, formas encontradas de influenciar positivamente a vida de muita gente.
Educandário Abrão David Inaugurado em 19 de fevereiro de 1987, o Educandário Abrão David foi criado com o objetivo de dar continuidade à excelente educação e qualidade de ensino fornecidos na Creche. De que adiantaria as crianças terem uma ótima assistência se quando saíssem de lá fossem “jogadas” para um sistema educacional fraco e cheio de falhas? Anizio ressalta: “Essa preocupação fez com que eu resolvesse trabalhar para a construção de uma obra educacional mais ampla e completa. Uma obra que fosse capaz de oferecer um ensino de qualidade e, também, cuidar das crianças depois que elas terminassem o seu tempo de permanência na Creche, isto é, a partir dos 6 anos
94
Revista Beija-Flor de Nilópolis
até a sua adolescência”, relata o benfeitor. Matriculadas automaticamente no Educandário ao sair da Creche Júlia Abrão David, as crianças continuam a receber, além de uma educação qualificada, os mesmos benefícios obtidos na Creche, como as quatro refeições diárias, tratamento odontológico e assistência médica. O Educandário atende atualmente 1260 alunos, dos 6 aos 16 anos de idade. Com uma estrutura própria que conta com 13 salas de aula, laboratórios de ciências e informática, biblioteca, refeitório, dependências administrativas e cozinha industrial, a instituição impressiona pela grandiosidade. É considerada por pais e professores a melhor escola da baixada fluminense, ultrapassando, inclusive, o nível das particulares. Anderson Machado, 48 anos, coordenador e secretário do instituto, trabalha há 25 anos com a família Abrão David e comprova o sucesso do ensino: “Viramos referência no município. Nenhuma outra escola adota um livro didático antes de nós. Se a gente ainda não tem a relação dos que vão ser utilizados pelos alunos e professores, nenhuma outra tem”. Assim como na Creche, alunos de outras regiões também podem usufruir dos serviços realizados pela organização. A proposta é ensinar e preparar as crianças e os jovens para serem brasileiros de valor, transmitindo, além do conhecimento escolar, amor à cultura e o exemplo de bons comportamentos. Em datas comemorativas, por exemplo, são promovidos trabalhos, pesquisas e comemorações para que haja uma integração maior da comunidade com a cultura do país. Desde pequenos, os estudantes aprendem noções de civismo, como cantar o Hino Nacional e a ter postura de respeito com a pátria. O presidente do Conselho Deliberativo da escola Beija-Flor de Nilópolis e amigo de Anizio há 40 anos, Ary José Rodrigues, reflete sobre a importância do trabalho realizado pelo Educandário: “Todo mundo sabe que as escolas públicas atualmente
www.beija-flor.com.br
estão muito aquem do que queremos para nossos filhos e netos. Eu vivi uma época em que as melhores escolas eram as públicas. Hoje isso mudou. Querem que as famílias coloquem seus filhos nas escolas particulares. Mas isso custa dinheiro, e muitas vezes um dinheiro que os pais não podem pagar. Seus filhos então não merecem um estudo de qualidade? Uma ova! Merecem sim. E graças ao Anizio elas, aqui em Nilópolis, tem esse ensin o – o que gostaria que meus netos tivessem. Pena que nem sempre surjam no país homens como o Anizio, que divide a sua riqueza em forma de oportunidades para os mais pobres. Por isso acho ele um cara genial e que merece todas as coisas boas da vida. Ele não pensa só nele não. E é isso que muito figurão não entende. mas o que a gente pode fazer, não é? Cada um pensa - bem ou mal - com a sua cabeça. Eu, de minha parte, continuarei sempre defendendo o trabalho iniciado pelo Anizio, tendo a certeza de que muitos homens, trabalhadores e pais de família da atualidade, só conseguiram ultrapassar as dificuldades porque receberam carinho, educação e, acima de tudo, respeito de todos
os trabalhadores da Creche e do Educandário que o Anizio construiu. E só Deus poderá recompensá-lo por isso.”, conclui, sem-
Fevereiro 2013
95
Dessa maneira, podemos constatar que a Creche e o Educandário não apenas fornecem o aspecto material e básico para as crianças e jovens. Eles vão além. Colaboram no crescimento pessoal fazendo destes um ser humano melhor e mais feliz.
Centro de Atendimento Comunitário
pre emocionado, o velho amigo Ary Rodrigues. Maria de Lourdes Goulart, diretora também do Educandário, ressalta que a importância do instituto ultrapassa os limites físicos dele próprio. Lá, eles podem ser amparados e ouvidos pelos educadores: “Existe um trabalho importantíssimo desenvolvido aqui, que é servir de porto seguro para essas crianças e jovens que por vezes passam por problemas de relacionamento em suas casas. Aqui eles podem contar suas dificuldades e nós, no papel de pedagogos, podemos auxiliá-los com orientações ou simplesmente ouvindo esse momento de desabafo”. Com carinho, respeito, amor e atenção, ingredientes fundamentais na construção e no desenvolvimento dos homens, o Educandário auxilia na formação destes, tornando-os responsáveis, cultos, mais felizes e preparados para viver experiências enriquecedoras ao longo da vida.
96
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Anizio pensou mesmo em tudo. Muito antes do surgimento da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) em junho de 1997, criada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, Anizio já sabia que o desenvolvimento regional do estado - e da baixada fluminense - estava atrelado à possibilidade de os jovens ingressarem no mercado de trabalho já capacitados, especialmente através dos cursos de ensino técnico de qualidade gratuitos. Dando continuidade a essa verdadeira revolução educacional em Nilópolis, com a Creche Júlia Abrão David e o Educandário Abrão David, em 3 de agosto de 1991 surgia, então, o CAC/NAD (Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David), que se tornou um dos principais centros de educação profissional gratuito da baixada fluminense, e que vem fazendo história ao preparar jovens e adultos para o mercado de trabalho. Hoje, o CAC/NAD oferece aos interessados que desejem garantir seu lugar ao sol cursos técnicos dos mais variados, e a única condição que é impos-
www.beija-flor.com.br
ta ao pretendente pela direção do CAC/NAD, na pessoa do seu administrador Aroldo Carlos, é ser maior de 16 anos e comprovar estudar na rede pública. Vale lembrar que todos os cursos são gratuitos e que todos os jovens, até os que não estudaram nas obras sociais da Beija-Flor de Nilópolis, podem participar. Outra importante regra que é levada bem a sério é a que permite que cada aluno só faça um curso por vez. Como o intuito é formar mão-de-obra qualificada ao mercado de trabalho, o aluno só pode começar outro se tiver terminado o anterior. As aulas, ministradas por profissionais altamente preparados e qualificados, têm parceria com duas grandes empresas, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Na parceria com o SENAC, a iniciativa possui mais de 20 opções de cursos profissionalizantes, dentre eles fotografia, modelo e manequim, espanhol, informática e estilismo. Já no setor industrial, aulas de refrigeração, marcenaria e conserto de eletrodomésticos fazem parte do cardápio. Aroldo lembra que após o término do curso muitos jovens vão trabalhar na escola de samba de Nilópolis: “Muitos dos nossos alunos - especificamente os que fizeram parte das aulas de adereços, fantasias, serralheria e marcenaria - são aproveitados pela própria Beija-Flor de Nilópolis.” Outro fato que vale ser destacado é que o CAC/NAD, além de oferecer à população a chance de aprender uma
profissão, fornece aos alunos inscritos refeição (almoço e lanche) e transporte. “Entendemos que muitos desses jovens não têm condições econômicas para arcarem com as despesas de transporte e alimentação, que geralmente ultrapassam o orçamento da família. E como em sua maioria eles ainda não estão trabalhando, o principal risco de não terem esse subsídio oferecido pelo CAC/NAD é abandonarem o curso e não se qualificarem, engrossando as fileiras dos brasileiros sem qualificação profissional e que são obrigados a aceitar subempregos, com salários e condições de trabalho muito aquém do que merecem como cidadãos. O subsídio que o CAC/NAD oferece é, com certeza, um importante complemento do projeto”, comenta Aroldo. De acordo com estimativas, até 2012 foram beneficiadas mais de 50 mil pessoas, entre jovens e adultos. E é dessa maneira que o CAC/NAD, juntamente com a Creche e o Educandário, minimiza as desigualdades, tão gritantes na sociedade brasileira, desenvolvendo e formando cidadãos dispostos e cada vez mais qualificados para entrarem no mercado de trabalho, para que construam suas famílias e seus destinos com dignidade. A mesma dignidade que queremos para nossos filhos e para nós mesmos.
Fevereiro 2013
97
SONHO DO BEIJA-FLOR Projeto “Sonho de um Beija-Flor” É notável a importância do esporte na vida de uma pessoa, principalmente nas crianças. Recomendada por especialistas, a prática de exercícios físicos é fundamental para o desenvolvimento do corpo e da mente e o incentivo deve começar desde a infância. Pensando nisso, é que o presidente de honra da Beija-Flor, Anizio, concebeu o projeto “Sonho de um Beija-Flor”. Inaugurado em 2005 e realizado no complexo esportivo localizado ao lado da quadra da agremiação, as crianças e jovens da região recebem aulas de diversas atividades esportivas (capoeira, natação, jiu-jitsu entre outros) e artísticas (balé, dança de rua, música, etc). Até o final de 2012, mais de 2 mil alunos já haviam sido beneficiados com essas práticas. A proposta do projeto não é apenas elevar a qualidade de vida dessas crianças e jovens. Ele valoriza o potencial de cada uma, reconhecendo seus talentos e fazendo-os acreditar que seus sonhos podem se tornar realidade. E podem. Basta que tenham oportunidades para mostrar o potencial que carregam dentro de si.
PARCERIA DE PESO Em 2008, o projeto patrocinado pela Beija-Flor de Nilópolis ganhou uma importante parceria: a Petrobras. A área
98
Revista Beija-Flor de Nilópolis
de Responsabilidade Social da empresa assinou um acordo no qual presta apoio através de recursos financeiros para a implantação de um centro esportivo de excelência e para o pagamento de professores. Elan Santiago, professor e idealizador das aulas de jiu-jitsu, ressalta a importância da Petrobras na iniciativa. Segundo ele, a ajuda que ela oferece “dá um gás bem maior e é muito importante para todos nós”. A Petrobras é conhecida por patrocinar diversos outros projetos e ações sociais. A partir dessa parceria, o “Sonho de um Beija-Flor” ganhou uma nova dinâmica e um novo gás. Segundo Anizio, “A participação da Petrobras no projeto não só valoriza o trabalho que realizamos como, através da sua experiência em projetos semelhantes, nos ajuda a realizar as ações do projeto de um modo mais profissional. Atualmente, a equipe que administra o projeto aplica rotinas e processos que antes não conhecíamos. É uma parceria muito importante, onde todos saem ganhando.” Atualmente, o projeto desenvolve as seguintes atividades esportivas: futebol, basquetel, voleibol, futsal (masculino e feminino), jiu-jitsu, karatê, judô, capoeira, natação e tênis de mesa. E buscando oferecer às crianças e aos jovens da região uma abordagem mais completa, o “Sonho de um Beija-Flor” contempla, também, as seguintes atividades artísticas:
www.beija-flor.com.br
Balé O projeto “Aprendendo com o balé” é comandado há 11 anos pela coreógrafa e professora Ghislaine Cavalcanti. Em grupos de no máximo 25 alunos, crianças e jovens de 5 a 17 anos têm aulas de balé clássico, jazz e sapateado. Ghislaine é formada pela Escola de Dança do Theatro Municipal em 1973, trabalhou na Walt Disney Company e durante seis anos integrou a Companhia de Balé da Espanha. Para ela, o contato com a dança é imprescindível, ainda mais em uma comunidade onde a presença da veia artística é intensa como em Nilópolis: “A arte é uma manifestação humana que deve estar sempre sendo evocada, a dança auxilia no desenvolvimento da sensibilidade e da percepção auditiva, visual e emocional”. O sucesso do programa é tão grande que quem deseja matricular seu filho em uma aula, tem que aguardar na fila de espera.
Passista Mirim, Mestre-Sala e Porta-Bandeira Não tem como pensar na Beija-Flor de Nilópolis sem lembrar de carnaval. Com o objetivo de formar passistas, mestres-salas e porta-bandeiras, o curso surgiu. Os alunos recebem aulas práticas e teóricas. Nas práticas aprendem passos, molejos e coreografias; nas teóricas, fundamentos que explicam a história, conceitos e fundamentos da arte do samba. Os criadores são figuras carimbadas do carnaval carioca: o casal de mestre-sala, Claudinho, e a porta-bandeira, Selminha Sorriso. Com o objetivo de oferecer mais do que a comunidade vê nos desfiles, em 2006 resolveram abrir uma turma para ensinar e difundir todo o conhecimento que tinham na arte do bailado. Dessa forma, eles apresen-
taram o projeto para Anizio e ele, claro, deu carta branca. “Os alunos não aprendem só a dançar e a conquistar o público, mas também a interagir, a dividir e ter disciplina” diz Selminha. Como em todos os outros cursos oferecidos, a condição estabelecida para se manter na atividade é estar matriculado no colégio público e passar no ano.
Bateria mirim As aulas de percussão, coordenadas pelo Mestre Rodney juntamente com outros quatro integrantes (Mestre Plínio, Saú, Cléo e Pó de Mico), contam com a participação de 120 alunos. Durante todos os sábados, de 9h às 13h (dependendo do ritmo da aula, pode chegar até às 15h), crianças e jovens de oito a 17 anos aprendem como tocar a percussão de carnaval. A idéia, renovadora, do projeto teve início com o Diretor de Harmonia, Laíla, que sentiu a necessidade de complementar com mais uma aula/projeto o grandioso trabalho social da Beija-Flor de Nilópolis. Há mais de dois anos em vigor na quadra da escola, o projeto foi aplicado antes mesmo da parceria com a Petrobras, empresa sempre voltada às obras sociais, e que deposita não apenas recursos financeiros, mas força e confiança em um futuro melhor. A ela, não interessa o valor financeiro arrecadado por meio dessa parceria, e sim, o valor moral, estampado em um sorriso no rosto de cada um desses futuros cidadãos. Para o Mestre Rodney, o projeto não só ensina a tocar percussão de carnaval como auxilia na formação de um ser humano cada vez melhor: “Antes da aula prática, há o coleguismo, respeito ao próximo e companheirismo. Ensinamo-los a serem pessoas de bem.”
Fevereiro 2013
99
100
Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
101
S E R CO AVAL N R A DO C FELIPE FERREIRA
O Carnaval é azul!. E verde, vermelho, branco, amarelo, dourado, preto, prata... Enfim, basta olhar o desfile das escolas de samba no Sambódromo para a gente ver que o Carnaval não tem uma só cor, mas toda a gama cromática. Falo isso para poder introduzir um tema que, à primeira vista parece bem espinhoso. Como dizer que o Carnaval não é uma festa negra? Como negar a presença tão forte de um ritmo e de uma história nos quais a participação dos afrodescendentes é tão óbvia? Comecemos do começo. O Carnaval é uma espécie de resposta que o povo medieval deu à instauração do período da quaresma pela Igreja a partir do século XI. Em suma, o Carnaval é europeu. Ele chegou até nós junto com os portugueses que vieram colonizar nosso país. Mas chegou muito diferente do que é hoje. Tão diferente que, por aqui, nem se chamava Carnaval, mas entrudo. Tão diferente que não tinha desfiles, cantos, danças ou fantasias como agora. O entrudo era uma brincadeira que consistia em pregar peças nos amigos, vizinhos ou mesmo nos desconhecidos que passassem por perto durante os dias anteriores à quarta-feira de cinzas. Durante três séculos a brincadeira foi se aprimorando no Brasil e no início dos anos 1800 tinha virado uma verdadeira mania nacional. Todo mundo “jogava o entrudo”. Dentro das casas, senhores, senhoras, mocinhos e mocinhas das melhores famílias lançavam, uns sobre os outros, bolinhas de cera cheias de água, os famosos “limões de cheiro”. Era o “entrudo familiar”. Nas ruas a coisa era bem diferente. Dominadas pelos escravos que ocupavam os espaços públicos das cidades, as ruas do Rio de Janeiro e das principais cidades do país eram palco, no período de Carnaval (ou seja, nos dias de entrudo), de grandes batalhas de água jogada em baldes, bacias, gamelas ou o que mais pudesse servir para carregar líquidos. Este “entrudo popular” acontecia basicamente entre escravos, mas atingia também quem passasse por perto desavisadamente. Sem conhecer o costume, os turistas da época (conhecidos, então, como viajantes) eram alvos
102
Revista Beija-Flor de Nilópolis
de grandes banhos, tanto ao passar pelas ruas quanto ao visitar alguma família, e desancavam o entrudo em seus relatos de viagem. Para acabar com essa “bagunça”, as famílias abastadas trataram de implantar aqui as novas modas Carnavalescas trazida de Paris: os bailes à fantasia e os passeios de carruagem. Tudo muito elegante, bonito e civilizado, mas, convenhamos, pouco original visto que outras cidades, como Nice, na França, Nova Orleans, nos Estados Unidos ou Montreal, no Canadá, também copiaram este modelo. E é aí que entram os negros com sua cultura. Sabemos que na África daqueles tempos ainda não havia Carnaval, mas os escravos que aportaram no Brasil já gostavam de uma boa comemoração. Os congos ou congadas eram uma destas manifestações festivas incentivadas pela Igreja e consideradas como uma boa forma de aproximar os negros da fé católica. No Rio de Janeiro, estas danças se apresentavam como uma espécie de desfile, no qual um séquito, composto de rei, rainha e toda uma corte com duques, príncipes, barões e embaixadores, se deslocava pelas ruas ao som de tambores e chocalhos. Como precisavam de autorização especial para se apresentar, esses cucumbis, nome pelo qual a manifestação era conhecida no Rio de Janeiro, acabavam sendo presença constante durante os dias de Carnaval. Isso acontecia por que neste período havia certa “boa vontade” da polícia. Afinal, o Carnaval não é a época do relaxamento das regras sociais? Disputando espaço com as sociedades carnavalescas mais ligadas à elite que desfilavam pela cidade durante o período momesco da segunda metade do século XIX, os cucumbis rapidamente perceberam o valor da folia e muitos deles se transformaram em “cucumbis carnavalescos”, ou seja, grupos de negros organizados especialmente para sair durante os dias de Carnaval. Com suas danças, ritmos e instrumentos “selvagens”, é claro que esses grupos iriam chamar a atenção da população da cidade que saía às ruas para ver os blocos passarem e mesmo das sociedades carnavalescas que se encantavam com a alegria e esponta-
www.beija-flor.com.br
neidade dos cucumbis. Estes, por sua vez, se maravilhavam com a forma de organização, as fantasias e as alegorias das sociedades carnavalescas a ponto procurarem incorporar essas características a seus desfiles. Ou seja, em alguns anos, a interinfluência desses grupos faria surgir nas ruas do Rio de Janeiro, novas formas de brincadeiras carnavalescas que reuniam tudo de bom de cada uma das manifestações: os ritmos negros se casariam com as marchas europeias, o gosto pelas contas e cores dos escravos se reuniria aos tecidos e brilhos da alta moda, e por aí foi. Estava dado o primeiro passo para o surgimento de uma festa carnavalesca com o jeito, a bossa e o gosto pela mistura do povo brasileiro. Mas a contribuição negra à transformação do Carnaval europeu em festa brasileira não ficaria por aí. No início do século XX, nos morros da periferia do Rio de Janeiro, um novo ritmo iria surgir, reunindo toda a sabedoria musical africana às harmonias das modas populares luso-brasileiras. Era o samba que pedia passagem, mostrando que estava chegando a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor. Produto genuinamente carioca, o novo ritmo incentivaria o surgimento, nas favelas da cidade, dos chamados grupos de samba de morro. Estas turmas de sambistas maravilharam os intelectuais da época com o som de seus instrumentos e a harmonia de seu canto. É destes grupos que surgiram os primeiros “conjuntos” que se tornariam as escolas de samba.
Daí pra frente, a história é conhecida de todo brasileiro que se preze. Aquelas primeiras escolas, com sua beleza singela e sua rica musicalidade, souberam negociar com os desejos e anseios da sociedade, transformando-se, pouco a pouco, nas grandiosas agremiações de hoje. Sua grandiosidade, entretanto, não está só no luxo, na imponência ou na dimensão gigantesca dos desfiles. O que é grande nas escolas de samba, e falo de todas elas, sejam do Grupo Especial, sejam dos grupos de acesso, é sua capacidade de representar toda uma história de encontros e reuniões. Uma história que, sabemos, começou na Idade Média, na Europa, mas que aqui representa um momento de colaboração e de miscigenação sem igual no mundo. Uma história que é negra, sim, mas também azul, verde, vermelha, branca, ouro, e prata em toda pista, ecoando o som de um tambor.
_______________ Sobre o autor: Felipe Ferreira é coordenador do Centro de Referência do Carnaval na UERJ, editor da revista TECAP: Estudos de Carnaval e professor de Arte e Antropologia no Instituto de Artes da Uerj. Autor de diversos livros sobre o carnaval, está envolvido diretamente com o tema, seja como jurado do prêmio Estandarte de Ouro, cronista do Pasquim 21, formador de julgadores de escolas de samba ou organizador do prêmio Parangolé: arte e carnaval.
Fevereiro 2013
103
Eu vou cavalgar, pra encontrar A minha história nesse mundo de meu Deus! Venho de longe de uma era milenar, Fui coroado quando o dia amanheceu! Brilha, estrela guia... Um viajante, a sua sede a matar! Presente de grego, que grande ironia Herói das batalhas, real montaria! Com asas surgiu do infinito, tão claro mito.. A joia rara de Alah! Cigano... Buscando a purificação! Mostrando elegância e bravura, A minha aventura se torna canção! É o bonde que vai, carruagem que vem... Na viagem que trás, o amor de alguém! Indomável corcel, alazão da Coroa... Troféu da nobreza, estrela que voa! Amigo do Rei, pela estrada lá vai o Barão! Sul de Minas Gerais, galopei... A riqueza da mineração! Café me fez marchar... Ao Rio da corte a bailar! Acreditar... Que fui a raça escolhida! Sou um puro sangue azul e branco, Um acalanto... a mais sublime criação! Sou eu o seu cavalo de batalha, Se a memória não me falha... Chegou a hora de gritar é campeão! Sou Mangalarga Marchador! Um vencedor, meu limite é o céu! Eu vim brilhar com a Beija-Flor... Valente guerreiro, amigo fiel! 104
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Autores: J. Veloso, Ribeirinho, Marquinho Beija-Flor, Gilberto, Silvio Romai e Dilson Marimba. Participação: Claudio Russo e Miguel
Amigo Fiel, do cavalo do amanhecer ao Mangalarga Marchador