oRGULHO
NA PONTA DO LÁPIS RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
No ano em que a Beija-Flor de Nilópolis leva para a Avenida seu enredo sobre Comunicação, nós, da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida”, completamos 13 anos de realização de um importante projeto de comunicação entre a agremiação e o público. Um projeto que tem dado a todos nós, que temos trabalhado na sua produção, muita alegria e orgulho, porque sabemos que também levamos importantes resultados à agremiação dentro e fora da Avenida. Obviamente, não em pontuação, mas como um instrumento de apresentação e revelação da agremiação nilopolitana e de todos aqueles que dão o melhor de si para fazer um desfile especial. Não temos nenhuma dúvida de que a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” é de grande importância para o engrandecimento desse complexo espetáculo chamado “Carnaval” e para a valorização da Beija-Flor de Nilópolis e de seus componentes que, nos bastidores e na Avenida, protagonizam os desfiles mais belos da Sapucaí. A prova do que falamos está na repercussão da revista junto aos leitores, que a cada ano nos enviam mensagens otimistas, de agradecimento pelas informações que apresentamos e reconhecimento pelos nossos esforços. Está, também, no reconhecimento não declarado de comentaristas que citam em seus comentários, em programas de rádio e TV, informações que obtiveram através da leitura da revista. E tudo isso nos envaidece e nos enche de orgulho porque evidencia que a nossa proposta e os objetivos que traçamos - focados na valorização do samba carioca e da agremiação nilopolitana como mananciais de arte e cultura e, também, no espetáculo de cores e sons realizado na cidade do Rio de Janeiro como mais uma demonstração de excelência e vocação turística da região - estão dando resultado. Mas para alcançar esses resultados, há muito trabalho sendo realizado e muita gente colaborando, selecionando, escrevendo, fotografando, revisando, pensando, produzindo.
Afinal, a revista que pretendemos sempre oferecer aos nossos leitores, com conteúdo inédito e informativo, não pode ser feita da noite para o dia. Por isso, a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” não pode ser lida em uma noite. E essa é a política que nos norteia: fazer uma publicação não descartável, que possa acrescentar conhecimentos ao leitor. E podemos afirmar, sem receio de errar, que a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” é a única revista de samba e carnaval não descartável, produzida para o leitor levá-la para sua casa e, na tranquilidade do seu lar, folheá-la com carinho e cuidado, degustando calmamente cada assunto tratado, cada texto produzido. Temos, em todos esses anos, buscado equilibrar conteúdo jornalístico com imagens, e seguindo o senso crítico que sempre nos norteou, e a repercussão da publicação, concluímos que alcançamos êxito. Um êxito que é grande não apenas pela repercussão, mas, talvez, pelos resultados: pudemos apresentar ao público interessantes histórias de integrantes da agremiação, homenageamos personalidades em vida, mostramos de perto imagens da Avenida que são pura arte, demos visibilidade a histórias de bastidores, desvendamos o lado social da agremiação, que através dos serviços da Creche, do Educandário e do CAC deu o exemplo às demais agremiações. Ultrapassando o âmbito da Beija-Flor de Nilópolis, fomos exitosos também com a repercussão que a nossa peculiar forma de fazer revista e jornalismo gerou, influenciando a maneira de fazer das poucas revistas do carnaval que existiam, e que seguiram os conceitos da nossa revista. Fomos também os grandes incentivadores para que outras escolas de samba produzissem e colocassem suas revistas na Avenida. Neste carnaval, completamos 13 anos à frente da revista da Beija-Flor de Nilópolis, e enquanto estivermos aqui não abriremos mão do nosso dever de produzir para a maior escola de samba da atualidade novas edições da principal revista de escola de samba do mundo. Março 2014
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Revista Beija-Flor de Nilรณpolis
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ANIZIO ABRÃO DAVID
O Rio de Janeiro será, neste ano, palco de um dos eventos esportivos mais importantes da era moderna, a Copa do Mundo de Futebol, um evento de repercussão mundial e que gira em torno de si cifras milionárias. Mas a Copa do Mundo não é só uma competição esportiva, cujo objetivo principal é a vitória. Através da Copa do Mundo, povos e nações se encontram e confraternizam na pessoa de cada torcedor que vai ao estádio vibrar por sua seleção. Um torcedor quer mais do que ver seu time vencer. Ele espera fazer parte desse espetáculo mágico e inesquecível. Através desse espetáculo mágico, a economia local ganha fôlego e dinamismo. E isso é algo que não se pode deixar de considerar. Afinal, vivemos em uma sociedade onde não cabe ao Estado sustentar o cidadão. É ele que, através de uma atividade profissional, deve levar o sustento para sua família e apoiar a educação aos seus filhos. E quando um homem ou uma mulher – pai ou mãe de família – realiza essa missão de sustentar seus filhos e sua família, um enorme orgulho e uma forte autoestima toma conta de si. Sim, grandes eventos populares são instrumentos de felicidade muito além do divertimento do momento. E hoje a sociedade começa a entender melhor essa realidade. Muitos já dispensam os
discursos sonhadores de igualdade ou de desejo de superproteção do Estado para agirem, trabalharem e conquistarem seus sonhos – econômicos, de consumo e até mesmo espirituais -, contribuindo para o crescimento próprio e da sociedade brasileira como um todo. Nesse sentido, o Carnaval do Rio de Janeiro, que também protagoniza um espetáculo mágico e inesquecível, sempre foi um importante vetor para distribuição de oportunidades de trabalho e renda, tanto para o cidadão empreendedor com poucos recursos para investir como para as empresas de pequeno, médio e grande porte. Alegria, divertimento, magia e trabalho. Por que não? Se fomos abençoados por uma cidade tão especial e cheia de atrativos, com um povo criativo e festeiro, por que não aproveitar essa vocação para enchermos nossas vidas de alegria e trabalho? Nós, da Beija-Flor de Nilópolis, pensamos assim. E assim nos divertimos e levamos nossas vidas de uma forma alegre e feliz. Juntem-se a nós! Vamos fazer desse Carnaval um palco de alegria e felicidade onde o que ficarão são as lembranças e um desejo insistente de “quero mais”. Juntem-se a nós! Com muita alegria, juntem-se a nós! Março 2014
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Produção WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA www.widebrasil.com Editores Ricardo Da Fonseca Hilton Abi-Rihan Jornalista Responsável Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR Redação Hilton Abi-Rihan, Felipe Lucena, Leonardo Legey, Miro Lopes e Ricardo Da Fonseca Transcrição de áudio Felipe Lucena Projeto Gráfico R. Gatto Leonardo Legey Edição e Tratamento de Imagens R. Gatto Leonardo Legey Agradecimentos Carlinhos Madrugada, Christina Leite, Bianca Behrends, Felipe Ferreira, Hélio Turco, Hiram Araújo, Isabela Dantas, Jorge Castanheira, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, José Maria da Beija-Flor, Luciano Carvalho do Nascimento, Maria Augusta Rodrigues, Paulo Senise, Ubiratan Guedes, Ubiratan Silva e Vicente Dattoli. Revisão de Texto Marco Antonio Nicolau Fotografia Cristina Granato, Diogo Mendes, Felipe Lucena, Henrique Matos, Humberto Souza, Leonardo Legey e Ricardo Da Fonseca. Esclarecimento A escolha e seleção das fotografias que ilustram a edição 2014 da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, seguem critérios estritamente artísticos e jornalísticos (transmissão de uma determinada mensagem), ainda que de modo subjetivo, e não indicam, direta ou indiretamente, preferências específicas do GRES Beija-Flor de Nilópolis (ou de sua diretoria) e/ ou da WideBrasil Comunicação Integrada por pessoas ou alas. A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e produzida pela WideBrasil Comunicação Integrada Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte.
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS Diretoria Executiva: Presidente Executivo - Farid Abrão Vice Presidente Executivo - Ricardo Martins David Presidente do Conselho Deliberativo Vice Presidente de Finanças - Jose Antonio Gonçalves Pinto Diretor de Finanças - Pedro Cardoso de Almeida Diretor de Finanças - Horácio Silva Bernardo Diretor de Finanças - José Renato Granado Ferreira Vice Presidente de Administração e Marketing Diretor de Administração - Pedro Paulo Bastos de Mello Diretor Administrativo / Secretária - Eliza Maria Rodrigues Gondin Diretor Administrativo - Moacyr Jorge Mexias Abdala Vice Presidente de Patrimônio - Jorge da Cunha Velloso Diretor de Patrimônio - Rodrigo Dias Duarte Diretor de Patrimônio - Aroldo Carlos da Silva Diretor de Patrimônio - Alexandre do Nascimento Fernandes Vice Presidente Social e Recreativo - Abraão David Neto Diretor Social e Recreativo - Marcos Antônio Ribeiro Lima Diretor Social e Recreativo - Marcelo Romeiro da Costa Vice Presidente Jurídico - Carlos Alberto Diogo de Souza Diretor Jurídico - Gilson de Castro Diretor Jurídico - Bruno Cabral Pereira Vice Presidente de Esportes - Paulo Roberto Moraes Diretor de Esportes - Marcos Fernandes C. da Silva Diretor de Esportes - Greyce Fonseca Valle Vice Presidente de Comunicação e Divulgação - Argemiro Lopes Nascimento Vice Presidente Cultural e Artistico - Fran-Sergio de Oliveira Santos Diretor Cultural e Artistico - Antonio Carlos da Costa Diretor Cultural e Artistico - Marcos Antonio Escaleira Diretor Cultural e Artistico - José Carlos de Oliveira Silva Vice Presidente de Carnaval - Luiz Fernando Ribeiro do Carmo Diretor de Carnaval - Valber da Silva Furtuoso Vice Presidente Depto. Feminino e Assistência Social - Selma de Mattos Rocha Diretora Depto. Feminino Assistência Social - Debora Rosa Santos Cruz Costa Diretora Depto. Feminino Assistência Social - Leila Meira David
Março de 2014 - Tiragem: 60 mil exemplares
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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FARID ABRÃO
Mais uma vez nos encontramos aqui – público e agremiação -, cruzando a Marquês de Sapucaí, na busca de mais um título para nossa querida e amada Beija-Flor de Nilópolis, número um do ranking da LIESA e preferida do folião segundo diversas pesquisas relacionadas a carnaval e escolas de samba. Essas conquistas – na avenida e fora dela – nos deixam confiantes para entrar na Sapucaí com olhar altivo e o coração batendo forte, certos de que a caminhada para a conquista do título de campeão do carnaval 2014 teve início ainda em 2013, quando ajustamos falhas, fortalecemos e aprimoramos acertos e escolhemos mais um enredo especial, forte e contagiante. Até hoje, Boni vivia na vida de cada brasileiro de maneira oculta, sem que eles soubessem. O mago da comunicação é um gênio no que faz e com sua competência, dedicação e simplicidade criou um padrão de qualidade que deu dignidade ao brasileiro através de programas informativos e de altíssima qualidade.
Essa determinação em ser o melhor – e o Boni o é – se afina com a determinação que a Beija-Flor de Nilópolis – sua escola, também – se propõe em tudo que realiza. Na Avenida, nos barracões, nas obras sociais e esportivas, nas publicações e nos espetáculos realizados nos mais variados cantos do planeta a força, a garra e a determinação do nilopolitano e da Baixada Fluminense invadem todos os espaços, mostrando ao Brasil e ao mundo do que realmente é feito o povo brasileiro: força, paixão, alegria e arte. Na função de Presidente da Beija-Flor de Nilópolis não poderia estar mais emocionado e confiante: toda essa força que alimenta, motiva e movimenta nossa comunidade vai contagiar o público na Marquês de Sapucaí com um lindo e único espetáculo de cores, sons e movimentos. E tenha certeza, folião, hoje vai dar samba! Convido a todos, então, a deixarem qualquer ideia preconcebida lá fora, abram seu coração e suas mentes e deixem que essa escola maravilhosa e soberana - de fato nilopolitana -, leve a sua alma para testemunhar momentos inesquecíveis. Bom carnaval a todos. Março 2014
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RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
“O PROBLEMA DA PROGRAMAÇÃO DEFICIENTE É TRABALHAR COM EXTREMOS E FICAR A MERCÊ DO MERCADO. VOCÊ NÃO PODE SÓ COLOCAR SERTANEJO OU SÓ COLOCAR ROCK PROGRESSIVO. A EMISSORA TEM QUE SABER DOSAR.“
Boni é daqueles gênios cuja obra aparece mais que o criador. Por não ser uma pessoa dada a muitas aparições públicas, muita gente desconhece que as ideias desse empresário fizeram ou ainda fazem parte de suas vidas. Depois de atuar em diversas rádios, emissoras de TV e agências de publicidade e revolucionar nesses mercados, Boni chegou a TV Globo, onde pôde colocar em prática, com sucesso, o sonho de uma rede nacional de televisão. Na Globo, implantou uma grade ideal de programação. Exercendo uma liderança forte, lançou uma programação imbatível em todo o Brasil, com projetos como o “Jornal Nacional” e o “Fantástico”, por exemplo, que existem como líderes de audiência até hoje e que foram determinantes para colocar a Globo entre uma das três maiores emissoras de televisão do mundo. A genialidade desse verdadeiro artista da comunicação segue presente na TV feita no Brasil e no mundo até os dias atuais.
Homenageado pela Beija-Flor de Nilópolis com o enredo “O Astro Iluminado da Comunicação”, o paulista José Bonifácio de Oliveira Sobrinho concedeu mais uma interessante entrevista à revista da Beija-Flor, contando-nos um pouco da sua brilhante história de vida. Revista Beija-Flor de Nilópolis (RBFN) – Boni, como foi o início de sua vida profissional na área da comunicação? Boni – Desde pequeno sonhava em trabalhar no rádio. Essa minha paixão pelo rádio remonta os tempos de criança. Meu pai, Orlando de Oliveira, era músico e gostava de cantar também. Só que cantar não era uma das maiores qualidades dele. Um dia, após uma conversa com seu amigo e músico Zé Carioca (José do Patrocínio Oliveira), meu pai decidiu tocar violão em um conjunto regional, em um programa de rádio de Nicolau Tuma. Nicolau tinha um programa de calouros na Rádio Cultura, onde meu pai foi acompanhar Março 2014
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“Junto com o Walter, Boni é o responsável pela grandeza da TV - A paixão o move. Ele conhece tudo do trabalho de uma televisão. Inclusive, ele faz questão de tratar todos os funcionários pelo nome. Desde o pessoal da limpeza até o mais importante diretor.” Ney Latorraca
cantores calouros. E nessas idas à rádio para trabalhar, meu pai me levava e fui ficando encantado com aquilo tudo – equipamentos de som, roteiros... Lembro que minha principal diversão, aos 5 anos de idade, era fingir que eu estava programando uma emissora de rádio e operando uma mesa de som. Meu primeiro emprego, com contrato certinho e carteira assinada, foi aos 15 anos para uma agência de publicidade que tinha um programa juvenil na Rádio Nacional. RBFN – Como foi esse início em uma rádio do porte da Rádio Nacional? Boni – Nascido e educado em São Paulo, aos 14 anos resolvi vir morar na capital carioca. Tinha uma tia que morava aqui, Sandra Branco, que cantava na Rádio Continental. Seu marido, José Pontes de Medeiros, era compositor e violonista do conjunto Quatro Ases e um Coringa. Um
outro tio tinha uma editora que descobriu, na época, dois grandes autores: Nelson Rodrigues e Dias Gomes. Um dia, esse meu tio Zé me levou ao Dias Gomes, diretor artístico da Rádio Clube do Brasil na ocasião, e disse a ele: “Dias, meu so10
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brinho quer aprender sobre rádio”. Aí o Dias me perguntou: “o que você quer aprender em rádio?” E eu, sem pestanejar, disse: “quero aprender a ser diretor de rádio”. E acredite, o Dias me chamou para trabalhar lá. Aprendi muito com Dias Gomes, mas queria sempre aprender mais e, jovem e obstinado, me tornei insistente demais e até um certo incômodo para o Dias – não dava colher de chá para ele. O Dias subia para o auditório, eu ia atrás dele. Ele ia atender o telefone, eu ia atrás dele. Ele ia para a estúdio... eu ia atrás dele. Queria muito aprender, e aonde o Dias ia, eu ia atrás. Um dia o Dias me contou que estava caminhando pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, e de repente virou para trás e disse: “sai daí, Boni!”. Mas eu não estava lá. Já era a imaginação dele (risos). Até que, um pouco insatisfeito com a minha insistência, o Dias me mandou estudar produção na escola de rádio da Prefeitura – a Roquete Pinto, no Rio de Janeiro. Gostei da ideia e fui estudar na Roquete Pinto, colocado por ele. Comecei como redator, escrevendo textos que iam para o ar. Eram bons tempos, mas um dia apareceu a publicidade na minha vida: um grupo de pessoas de paletó e gravata me procurou para conversarmos. Eram do departamento de propaganda da Toddy e queriam me contratar para escrever um programa para pessoas da minha idade na Rádio Nacional do Rio de Janeiro – o programa “Clube Juvenil Toddy”. Foi um convite inesperado, mas que me agradava, porque eu estava sendo pago pela primeira vez. RBFN – E foi graças ao programa “Clube Juvenil Toddy” que você foi para a Nacional de São Paulo? Boni – Comecei a fazer os programas para o “Clube Juvenil Toddy” na Nacional, até que um dia me falaram que o Manoel de Nóbrega ia inaugurar uma Rádio Nacional em São Paulo e www.beija-flor.com.br
“Dos amigos que eu tenho, Boni é o mais talentoso e generoso – o que é muito, particularmente para mim, que tenho uma porção de amigos talentosos e generosos. Boni é, sem dúvida nenhuma, o maior profissional da história da comunicação brasileira em todos os tempos. E um dos maiores do mundo. O enredo com o Boni é a apoteose da Beija-Flor.” Washington Olivetto
o Cassiano perguntou se eu tinha televisão em casa. Eu disse que não. Ele, então, me mandou passar no almoxarifado para pegar um aparelho de TV. Já fechado com a TV Tupi, fui falar com o Nóbrega. Ele não entendeu minha situação e, muito contrariado, me botou para fora de sua casa. É compreensível esse sentimento do Manoel da Nóbrega. Mas minha decisão também era compreensível. Apesar de dever um enorme favor a ele, trabalhar na TV Tupi seria uma oportunidade de ajeitar a minha vida, morar em um bom apartamento e adquirir tantas outras coisas importantes para minha estabilidade e bem estar pessoal. Por isso, não demorou e acabamos nos tornando muito amigos, deixando para trás o passado e todo stress que a situação causou. Depois disso trabalhei na TV Paulista, levado pelo Roberto Corte Real. Porque
estava precisando de gente nova para sua equipe. Procurei o Nóbrega e conversamos bastante. Ele me falou que morava na Vila Pompéia (SP) e eu falei que minha tia tinha um instituto de beleza lá. Ele contou que a mulher dele, Dona Dalila, fazia cabelo lá. Não deu outra: pedi para minha tia conversar com a mulher do Nóbrega para ver se arrumava algo para mim. Deu certo. Ele me levou para a Rádio Nacional de São Paulo e passei a trabalhar como redator de humorismo e secretário dele. Já me sentia um profissional de rádio aos 16 anos, mas de olho na televisão. Para encurtar a história, um dia recebi uma ligação da TV Tupi me pedindo para ligar para o Teófilo de Barros Filho, mas me avisaram que eu não podia falar nada para ninguém. Eu pensei que era trote de algum amigo, mas liguei de volta, e na ligação a surpresa: não era trote, era da TV Tupi mesmo e marcamos o encontro para às 18h do dia seguinte. A reunião foi com o Teófilo e o Cassiano Gabus Mendes, que se tornou meu grande amigo depois. Na reunião eles falaram que queriam me contratar. Naquele momento, meu padrão de vida era limitado. O dinheiro que ganhava dava para comprar uma lata de feijoada por semana. Tinha uma promessa da Rádio Nacional de São Paulo para ganhar melhor, mas essa promessa nunca se cumpria. Aí o Cassiano falou assim: “Temos uma proposta, mas você tem que assinar aqui, agora, e não pode voltar para a Rádio Nacional. É pegar ou largar”. Eu pensei: “O Nóbrega foi tão legal comigo... Mas, por outro lado, as coisas na Nacional de São Paulo não andavam como eu planejava e eu poderia ajudar minha mãe se ganhasse melhor – seis vezes o valor que a Nacional me pagava. Para me seduzir ainda mais, o Teófilo e o Cassiano assumiram um compromisso comigo de que eu eu tinha uma facilidade natural para ver as coiteria liberdade para fazer o que quisesse na TV. sas sob um ponto de vista diferente dos outros, Aí eu assinei o contrato. Ao assinar o contrato, acabei entrando no mercado da publicidade,
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trabalhando em agências de propaganda, entre elas a Lintas e a Alcântara Machado. Cheguei, inclusive, a montar a minha própria agência, a Proeme. RBFN – Pelo que disse, na sua trajetória profissional você sempre teve a ajuda de pessoas influentes nos respectivos meios. É possível obter os resultados que teve sem “pistolão”? Boni – Meu caso é de viração, não de pistolão. Eu não tive pistolão, mas sempre tive um atrevimento muito grande, isso sim. Assumi responsabilidades que não sei se poderia assumir na época. Era uma época de conhecimentos limitados em comunicação e mídia – estava tudo começando. E não havia muitas pessoas para executar essas tarefas, tão necessárias. As que estavam no mercado não tinham tanto conhecimento, e eu tinha algum, o suficiente para me 12
Revista Beija-Flor de Nilópolis
destacar pelos resultados que propiciava aos meus contratantes. Além disso, grande parte não tinha a coragem de encarar esse universo grandioso que surgia. É aquela história: em terra de cego, quem tem um olho é rei. RBFN – Você era produtor de comercias também. É verdade que num determinado momento o Rubem Berta, que era o dono da Varig, prendeu você e mais um companheiro dentro de uma sala e só permitiu que você saísse depois que um comercial estivesse pronto, esse que fala da Varig o céu está azul? Boni – Não é o comercial da Varig o céu está azul. Era mais que um comercial. O Berta me chamou na sala dele porque precisava de um trabalho para a TV sobre o zoneamento das companhias aéreas do Brasil. Ele me chamou lá na sala e falou que precisava de um trabalho www.beija-flor.com.br
“O meu encontro com o boni foi em 1974, logo que cheguei ao brasil. O Boni não só me permitiu, mas incentivou levar o visual da globo em forma de exposições e palestras para os quatro cantos do mundo. Assim encontrei e conheci os “poderosos” das maiores televisões dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Cheguei a conclusão de que o Boni é o mais brilhante de todos, capaz de comandar e tomar decisões literalmente em todas as áreas de comunicação como dramaturgia, humor, jornalismo, esporte, comercial, instalações técnicas, enfim tudo sobre áudio e vídeo.” Hans Donner
para ser entregue no mesmo dia. Eu estava com um companheiro, o Laerte Agnelli, um diretor de arte muito bom. Ele falou para ficarmos lá, deixou o briefing, e falou que ia lá fora para resolver outras coisas e que voltaria para discutir. E ele não voltou mais. Uma hora bateu uma fome e meti a mão na porta para sair e ir comer alguma coisa. A porta estava trancada! Do outro lado da porta nos avisaram que o Berta tinha ido embora e levado a chave, e que o que a gente precisasse – lápis, papel, qualquer coisa – seria passado pela janela. E que na geladeira tinha sanduiche. Aí ficamos a tarde toda lá e terminamos. Ele chegou lá e gostou. Aí eu perguntei para ele: trancou a gente aqui, não confia na gente? Ele disse: confio. Só para não perderem tempo. Aí ele disse que gostou, mas que não havíamos feito a última frase do trabalho que era: “Santos Dumont inventou a aviação e o DAC inventou o desastre de aviação”. Fizemos o cartaz na hora e ele ficou feliz. Ele conseguiu acabar com a tentativa de zoneamento. Em 1960, existia um projeto de que cada companhia viajava até determinado lugar, Varig no Sul, a Vasp em São Paulo, depois tinha que entregar o passageiro para outra companhia. Se não fosse o Berta teria sido mesmo um desastre. RBFN – O Telecentro surgiu nessa época? Boni – O telecentro foi uma experiência importantíssima para o futuro da televisão no Brasil. Hoje, o termo tem outro significado, mas a ideia era fazer algo que já existia nos EUA: uma rede nacional de televisão. Era um sonho meu e do Walter Clark no tempo de TV Rio implantar esse modelo de televisão. Tentamos fazer na Record, mas não quiseram, tentamos na Excelsior, mas houve um conflito entre a Excelsior do Rio e a de São Paulo. Tentamos na TV Rio e na Excelsior, mas não deu certo. Então chegamos nas Emissoras Associadas – emissoras de um núcleo só. Imaginamos, então, que lá seria possível implantar o Telecentro. Como disse, o Telecentro foi uma experiência importantíssima para o futuro da televisão no Brasil. Se não fosse o Telecentro ter sido montado, não teríamos feito a TV Globo. O principal defeito da Telecentro foi o
que nos ajudou a montar a Globo. No Telecentro nós produzíamos os programas, novelas, shows e mandávamos para as emissoras que pagavam, com um rateio, o custo. Mas 70% não pagava, então o projeto desmoronou. Tudo estava perfeito, funcionando, era um sucesso danado, mas não tinha dinheiro para bancar as produções. Então o Telecentro acabou no auge do sucesso. Na Globo, eu e o Walter retomamos o sonho de montar uma rede nacional de televisão. Começamos montando igualzinho o sistema do Telecentro, aí eu falei: “Não. Vamos parar já. Isso já não deu certo”. Aí juntos invertemos o processo: primeiro recebemos o dinheiro dos afiliados, juntamos uma caixinha, depois fizemos a produção. Isso foi possível com um sistema centralizado de venda de comerciais. Foi o que salvou a Globo e o que a mantém até hoje. Eu, o Walter e o Joe Wallach tínhamos um projeto muito claro na cabeça e nunca nos afastamos dele. RBFN – Você considera que o consumidor baixou o nível de exigência em relação ao conteúdo da programação da TV? Boni – No passado, o consumidor era, sim, mais exigente. Mas essa mudança é natural, e faz parte de um processo contínuo cheio de variáveis. Você imagina que quando começou a TV, o Assis Chateaubriand colocou 200 aparelhos no mercado. Que tipo de programação ele tinha que montar para atender esses telespectadores? Erudita, óbvio. 200 aparelhos para 200 famílias ricas, cultas... Era essencial ter uma programação desse nível. À medida que o mercado foi expandindo, os aparelhos de televisão se tornando mais acessíveis à classe média e, depois, à classe mais pobre, as emissoras tinham que atender essas camadas da sociedade. Foi necessário, então, implantar uma programação mais próxima à cultura e ao conhecimento dessas pessoas para atingir esse mercado nascente – e crescente. E talvez seja esse o principal desafio das emissoras de televisão no Brasil: planejar uma grade de programação que atenda um público tão variado e de gostos e culturas tão diferenciadas. Março 2014
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É um desafio difícil de se encontrar o ponto de equilíbrio, e a solução que as emissoras de TV paga têm encontrado é a segmentação do canal e da sua programação. Para as emissoras de canal aberto essa solução é um pouco mais complicada, porque ela não pode abrir mão de nenhuma parte do público, nem para a TV paga e nem para os desligados. A audiência é um importante vetor de alavancagem da publicidade, mas tem que ser uma audiência qualificada. RBFN – Mas a programação que as emissoras de TV aberta estão colocando tem afastado muita gente desses canais. Estamos sendo obrigados a engolir uma programação que empurra um modelo sem variedade, como, por exemplo, na música. Determinados gêneros musicais são insistentemente empurrados goela abaixo em detrimento de outros, que o telespectador praticamente nem conhece, como o rock progressivo, por exemplo. Boni – O problema da programação deficiente é trabalhar com extremos e ficar a mercê do mercado. Você não pode só colocar sertanejo ou só colocar rock progressivo. A emissora tem que saber dosar. Se em uma novela a audiência é construída com a soma de diferentes públicos e de diversas classes sociais, não acontece a mesma coisa no jornalismo ou nos programas de variedades. Nesses programas todos os assuntos têm que interessar a maioria da audiência. Se tiver um assunto que seja segmentado ou interesse apenas a uma minoria a audiência despenca e não volta mais. Qualidade não é pecado. Na Globo, eu coloquei no ar mais de 200 autores clássicos – duas ou três obras de cada um deles. Mas tratados de forma accessível. Se o telespectador gostar de uma dramaturgia, se ela o emocionar, ele não vai querer saber quem escreveu. Ele quer saber se interessa a ele ou não. Muitas vezes, os dramas daqui se parecem com os de fora. Você não vai fazer TV só com autores daqui. Temos ótimos autores no Brasil, mas tem que ter coisas de fora também. Se explorarmos apenas os nossos, vai faltar texto. O mesmo acontece com a música. Somente música ruim e brega não dá. Tem que ter boa música popular 14
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daqui, mas boa música e música de fora. Jazz, música clássica... Enfim, em todos os gêneros é necessário um equilíbrio para atrair o público sem espantá-lo.
Boni e Anizio: uma amizade antiga, baseada no respeito e admiração mútua.
RBFN – Isso que você falou, relacionado à programação, é realmente muito importante. Mas quando você já tem um programa consolidado, o desafio passa a ser a forma como você o transmite ou apresenta, não? Digo isso porque em uma entrevista que o Aloysio Legey deu para a revista Beija-Flor de Nilópolis, ele comenta com destaque as inovações que você dirigiu – e ele executou – para a transmissão da Fórmula 1. Conte-nos um pouco dessa história. Boni - Costumo dizer que fazer televisão é fácil. Difícil é comunicar. Nosso processo de criação é comunicar. A comunicação está ligada, basicamente, a uma estrutura emocional. Transmitir uma corrida à distância, sem envolver o espectador com as emoções da corrida, não tem sentiwww.beija-flor.com.br
“Conheci o Boni em Paris nos anos 1970. Ele já era o chefão da Globo e vinha muito para a Europa em curtas escapadas principalmente para comer e beber vinhos, uma paixão que só aumentou com o passar dos anos. Foi com ele que eu conheci os melhores restaurantes de Paris e bebi, e ainda bebo, os melhores vinhos. Uma das muitas características da complexa personalidade do Boni é a de ser generoso. Os seus melhores amigos estão sempre sendo protegidos por ele, seja para o que for. Sendo um perfeccionista ele criou o padrão de qualidade da rede Globo e este mesmo padrão ele aplica em tudo o que faz na vida. O seu olhar para tudo é extremamente diferenciado, e sem duvida ele é a pessoa que mais conhece comunicação no Brasil. Boni possui uma energia incomum e acompanha-lo em qualquer circunstancia não é tarefa fácil. Ele é um romântico inveterado, adora musica, cinema e teatro, e tudo que se refere a cultura. Conhece com profundidade o mundo do samba e das Escolas, e tenho certeza que neste carnaval ele vai viver um dos momentos mais emocionantes e felizes da sua vida com essa linda homenagem que lhe presta a Beija-Flor. Olha ele aí na Avenida!” Roberto D’Ávila
do. O Legey foi um grande parceiro: inventamos juntos maneiras de emocionar – para superar as dificuldades. A necessidade é a mãe da criação. Nós começamos a fazer a Fórmula 1 e naquele tempo cada país fazia a sua transmissão. O problema de sempre era o do telespectador não ver o segundo pelotão, onde ocorriam espetaculares cenas e ultrapassagens que ele não via. Então fizemos essa inovação, que eu imaginei, de ter o segundo corte e a câmera de recuperação. O segundo corte é o seguinte: o primeiro corte, para não perder nada da corrida, segue com o primeiro pelotão o tempo todo. O segundo corte vai mudando de acordo com as disputas e os pegas que aconteciam em outros pontos da corrida. E umas algumas câmeras isoladas (de recuperação) pegavam outras coisas para colocar no ar. Nenhum país do mundo fazia o segundo corte. Câmera de recuperação existia, mas a introdução do segundo corte pela Globo mudou a cabeça de todo mundo. A Fórmula 1 hoje, que tem sua própria transmissão, usa o segundo corte. Eu bolei essa ideia, apresentei para o Legey, e ele falou: “olha, é difícil, quem vai fazer o segundo corte?”. Mas botamos em prática e funcionou. O ideal era ter uma câmera em cada carro. Hoje é assim.
ter essa renovação, porque se não a Era fica velha, gasta. Do ponto de vista de uma emissora menor, na TV Vanguarda já estamos projetando uma nova Era. Estamos há 10 anos no ar e já fizemos duas ou três Eras – boa enquanto for concisa. É preciso uma maneira de falar com o público, por isso algumas coisas como o Fantástico, o Plim-Plim, precisam ser mantidas. No ano passado dispensamos os locutores. Eu não quero convencer as pessoas, “assista isso”, quero que o cara conclua o raciocínio dele. Determinei que todas as aberturas de programa não podem ter mais que cinco segundos. Não é compatível com o mundo moderno. É preciso se renovar. Tem que ter paixão. Sem paixão não faz. Tem que ter emoção, nossa matéria prima é essa. Se não, não tem vida. E com paixão e vida as soluções vão sendo construídas, as ideias vão surgindo e a gente consegue criar novas Eras, que em breve darão lugar a uma nova Era. É essa que deve ser a dinâmica da televisão: viva, veloz e eficiente. Acho que esse espírito está renascendo na Globo. O Octavio Florisbal recompôs o espírito de corpo da emissora. E sinto que o Carlos Schroder e o Willy Haas vão criar essa nova era que falamos.
RBFN – Como você vê o Carnaval carioca? Você RBFN – Era Boni. Você faria a TV que está sendo acha que o Poder Público dá a devida atenção a feita hoje? esse atrativo turístico? Boni – Vamos olhar para a natureza: todas as Boni – O governo tem que entender que o CarnaEras terminam. Houve a Era Boni, porque eu lutei muito por isso. Para fazer uma TV de quali“Conheci o Boni como chefe, em 1974. Mais dade para o Brasil e para o mundo. Outras Eras tarde, tornou-se um amigo querido. Boni é poderiam ter sido feitas. O que é preciso é que um gênio, tem uma intuição para fazer televisão que eu nunca vi. Além de outras inúexistam mais Eras. Falam em Era da internet, meras qualidades.” mas a forma pouco importa, estou falando de conteúdo. É preciso que exista uma nova Era. Gilberto Braga A Era Boni já era. (risos) Acabou. É obrigatório Março 2014
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val é um espetáculo mundial, o maior da Terra, e deve encarar isso como verdade, não como slogan, e investir nisso. E outra coisa é fazer uma escola, faculdade de carnaval. Eu falo que o talento é que importa, mas tem que ter estudo. Para formar toda a mão de obra que faz o Carnaval. O Carnaval hoje é fruto de um esforço de poucos. O poder público deveria olhar com mais respeito esse espetáculo. Assim teremos algo ainda melhor. RBFN– E como recebeu a ideia do Anizio de fazer um enredo em sua homenagem? Boni – Eu estou no carnaval desde 1963, trabalhando nas rádios, na televisão, fazendo coberturas, mas nunca pensei em ser enredo de carnaval. Ainda mais da Beija-Flor de Nilópolis, a melhor das escolas. Tenho certeza de que “Boni” não dá samba, mas aceitei feliz porque o Anizio me explicou que é algo mais ligado à história da comunicação, e sob essa ótica há muito que falar. Por isso, estou esperando que a Beija-Flor faça um grande carnaval. É lógico que estou muito agradecido ao Anizio e ao pessoal da Beija-Flor pela homenagem, porque sei que é, também, o reconhecimento público por tudo que fizemos em favor da comunicação no Brasil. Nosso grupo trabalhou muito para construir uma emissora líder e de padrão internacional. Sou grato por esse reconhecimento a todos os que fizeram a televisão brasileira. O enredo vai contar a história da comunicação mundial e a televisão brasileira tem um papel importantíssimo na exportação da nossa cultura. RBFN – Gostaria de deixar uma mensagem final para o leitor? Boni – Sim. Eu conheço muito o trabalho que a Beija-Flor de Nilópolis e o Anizio fazem para a comunidade, além daquele que fazem em favor de um belo espetáculo no Carnaval. Admiro muito essa responsabilidade social e o coração grande que o Anizio tem, sempre aberto para a comunidade de Nilópolis. E eu me sinto muito feliz em fazer parte disso tudo.
“Há personagens que são verdadeiros sinônimos. Pelé é futebol, Roberto Carlos é MPB. Luiz Carlos Barreto é cinema. Chacrinha é comunicação popular. Boni é televisão. Pensar na televisão brasileira é pensar em Boni. É pensar em padrão de qualidade.” Ricardo Amaral
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
“Certa vez o maior poeta americano, Walt Whitman, escreveu que se contradizia em alguns momentos, e a razão para isso é que ele era imenso; ele continha multidões. Eu acho que o Boni se encaixa bem nessas palavras: em todas as dimensões da vida ele se caracteriza por ter multidões dentro de si, tanto como chefe de família, como profissional, pai, amigo, como amante do vinho, do carnaval, e por aí vai... Vou-me ater à sua dimensão como homem de comunicação. Sem repetir conceitos já bastante conhecidos da sua ação nessa área, gostaria de enfatizar uma convicção que tenho a respeito das pessoas que nascem para uma vocação e, mais ainda, aquelas que conseguem realizar a sua vocação. São os “happy few”. Esse é o Boni. Nasceu para a comunicação e realizou uma das mais belas histórias nessa área.” Miguel Pires Gonçalves
Rede vanguarda Em 1980, Boni assumiu a vice-presidência de operações da Globo, função que exerceu até 1997. Nesse período, além de continuar com seu trabalho de qualidade à frente da emissora, o homenageado do enredo da Beija-Flor deste ano transferiu seu talento para outro canal: a TV Vanguarda. Tudo começou em 1988, quando as Organizações Globo fundaram, em São José dos Campos, a TV Globo Vale do Paraíba, primeira emissora de TV instalada na região, tendo Boni como homem forte dessa operação. Quando completou dez anos de existência, a emissora passou a ser chamada Vanguarda Paulista. Em 2001, o canal assumiu a marca TV Vanguarda - sem o complemento “Paulista”. Em 2003, um novo grupo de empresários adquiriu o controle acionário da TV Globo Vale do Paraíba e já detinha a concessão para instalar a geradora de Taubaté. Da união dessas duas emissoras, nasceu a Rede Vanguarda, novamente com o Astro Iluminado da Comunicação inovando com novas técnicas e repetindo o sonho de criar uma grande cadeia de televisão, a exemplo do que fizera na Globo, décadas antes. Com a nova formação, toda a identidade visual da emissora foi alterada para fortalecer sua presença regional. O que deu muito certo. Por sua contribuição ao desenvolvimento e aos negócios da região, a Rede Vanguarda foi premiada três vezes como a melhor TV Regional do Brasil, em 2004, em 2008 e em 2012. www.beija-flor.com.br
RICARDO DA FONSECA FELIPE LUCENA
“DILUIR O PODER DO CARNAVALESCO NO CARNAVAL EM UMA ÉPOCA QUE ELES TINHAM UMA FORÇA MUITO GRANDE, NÃO SÓ NAS ESCOLAS, MAS DENTRO DA PRÓPRIA IMPRENSA, FOI UM DESAFIO QUE ENFRENTAMOS SEM MEDO, ATÉ PORQUE SEMPRE TIVEMOS O APOIO DA DIRETORIA DA BEIJA-FLOR.”
Todo profissional rende melhor quando tem seu trabalho reconhecido. Partindo dessa ideia, Anizio resolver criar, em 1997, uma comissão de carnaval na Beija-Flor, extinguindo a figura centralizadora do carnavalesco na escola de Nilópolis. Embora tenha causado um estranhamento na época, a ideia de uma comissão não era nova. Anizio já havia observado os resultados de uma gerência descentralizada utilizada no Salgueiro na década de 1960, quando nomes como Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães ganharam força no carnaval carioca. Sob o guarda-chuva de Anizio, a batuta dessa comissão foi dada ao Laíla, que se tornou diretor geral da comissão. A ideia rendeu excelentes frutos para a agremiação nilopolitana. Nesses quase 20 anos de belos desfiles, foram sete títulos – inclusive o de 1998, primeiro carnaval da equipe – e seis vice-campeonatos. 18
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Desde sua criação, a comissão de carnaval já teve muitos membros que acabaram deixando a escola, seguindo outros rumos. Bira, um dos remanescentes da primeira formação, destaca que a organização possibilita um melhor trabalho: “Desde o momento de criação inicial do projeto do ano, trabalhamos em conjunto. Isso faz com que tudo flua muito bem. Há uma importante interação entre cada um de nós e as ideias e soluções que cada um apresenta, que acabam encontrando complementação na observação de cada integrante da Comissão”, declara. André Cezari, membro mais recente da equipe, frisa que o mais importante da comissão é dar voz a quem faz o carnaval, que nunca foi feito por um só carnavalesco: “Nós conseguimos aqui fazer um carnaval em conjunto. Há uma harmonia. O mais importante é que todo mundo cria, mas quando tem que decidir o que vai para www.beija-flor.com.br
a avenida, isso é uma decisão da comissão. Às vezes usamos um pedaço de ideia de cada um. Somos quatro artistas e uma pesquisadora comandados pela maior figura viva do carnaval e apoiados por uma presidência fantástica. É isso que faz tudo dar certo. E o objetivo principal é dar cara e voz a quem realizava as ideias de um carnaval”, destaca. Líder dessa verdadeira trupe de artistas, Laíla conta que no começo não foi tão simples e que algumas dificuldades tiveram que ser superadas: “A comissão de carnaval surgiu, dentro do universo do carnaval, contra a vontade de muitos. Não faltou quem torcesse para ela dar errado. Sofremos pressão, eu e a comissão, mas fui
Atualmente, a comissão de carnavalescos da Beija-Flor conta com André Cezari, Bianca Behrends, Ubiratan Silva (Bira), Fran-Sergio, Victor Santos e Laíla – esse no comando. No suporte aos carnavalescos está a designer Adriane Lins, que atua em conjunto com o grupo atuando na parte de design e comunicação visual. Ela, que no passado integrou a equipe da administração do barracão da Beija-Flor, é responsável pelo desenvolvimento das ilustrações das logos, banners e camisetas da Beija-Flor. Na Beija-Flor, a união faz a força. Afinal, uma casa não se ergue com uma só coluna. Tampouco uma escola – escola de samba e de vida.
encarregado de formar esse grupo e nada iria me impedir. Quem me conhece sabe que eu dou um boi para não entrar em uma boa briga, mas dou uma boiada para não sair. Diluir o poder do carnavalesco no carnaval em uma época em que eles tinham uma força muito grande, não só nas escolas, mas dentro da própria imprensa, foi um desafio que enfrentamos sem medo, até porque sempre tivemos o apoio da diretoria da Beija-Flor. É óbvio que no começo tivemos uns problemas por vaidades pessoais, mas eu, com meu tato, fui acertando as coisas. Esse projeto deu certo, e os resultados estão aí”, garante.
Laíla cercado pela Comissão de Carnaval, formada por Bianca Behrends, Ubiratan Silva, André Cezari, Vitor Santos e Fran Sérgio.
PERFIS Após passar por sete escolas, André Cezari fez, há cinco carnavais, da Beija-Flor seu porto seguro. Extremante envolvido com as manifestações culturais brasileiras, desde quando chegou à escola André somou muito à comissão. Formando em processamento de dados, Bira é o mais tecnológico da comissão. Entretanto, ele exala arte. Teve aulas de jazz e expressão corporal. Estudava teatro com Milton Cunha, que Março 2014
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o levou para a Beija-Flor em 1993, onde Bira se encontrou, definitivamente, como artista. Bianca Behrends entrou para a Beija-Flor em 2003 querendo fazer um estágio de 15 dias para pegar o diploma da faculdade de ciências sociais e não saiu mais. Responsável por pesquisar e levantar informações sobre os enredos, Bianca acaba dando o pontapé inicial de todo o trabalho do carnaval da agremiação. Desenhista - é técnico em edificações -, Victor Santos sempre pintou com cores fortes o seu amor pela Beija-Flor. Após participar da primeira comissão, deixou a escola no ano seguinte (1998), mas depois de poucos anos no carnaval de São Paulo voltou para a agremiação de Nilópolis. Arquiteto, Fran-Sérgio nasceu em Nilópolis. Como sempre amou os desfiles de carnaval e desde criança queria trabalhar na Beija-Flor, vislumbrou no carnaval uma esquina entre sua
formação acadêmica e sua paixão de infância, agregando muito valor à comissão de carnaval com suas técnicas de desenho. Não dá para dizer que Laíla entrou para o carnaval em determinada data. O maior espetáculo da terra está na essência do diretor geral da 20
Revista Beija-Flor de Nilópolis
comissão de carnaval da Beija-Flor. Entretanto, aos oito anos criou uma escola mirim (Independentes da Ladeira), e aos 13 anos, em 1953, defendeu um samba de Duduca no Salgueiro, ficando em segundo lugar. Sete anos depois, fez seu primeiro desfile, ainda na Av. Rio Branco. Laíla fazia parte da harmonia do Salgueiro e lá permaneceu até 1975, quando passou a integrar a equipe da Beija-Flor. Logo de cara foi tricampeão (1976, 77 e 78). Na sequência foi determinante para os títulos seguintes da Azul e Branco de Nilópolis, que se agigantou nos últimos anos sob sua valiosa coordenação. Entre os muitos presentes que Laíla deu ao carnaval estão a competente coordenação da comissão da Beija-Flor e a produção dos CDs de sambas-enredos das escolas. Por essas e outras é impossível resumir a maior personalidade viva do carnaval em poucas linhas.
O grande homenageado do Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, Boni, afetuosamente recebido por Ricardo Abrão, Claudinho, Farid Abrão, Laíla e Selminha Sorriso.
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RICARDO DA FONSECA
“DECIDI VOLTAR, ENTÃO, POR DIVERSAS RAZÕES, ENTRE ELAS PORQUE O ENREDO DESSE ANO É UMA HOMENAGEM A UM AMIGO MUITO QUERIDO E QUE RESPEITAMOS MUITO: O BONI. E É COM ESSE AMOR E CARINHO QUE EU VOU PRA AVENIDA.”
Uma escola de samba vencedora é o somatório de muitos detalhes – pequenos que se tornam grandes, ocultos que se tornam visíveis aos que têm o olhar atento. Para muitos admiradores dessa grandiosa celebração popular pode parecer que somente ações e iniciativas grandiosas e mirabolantes fazem a diferença na busca de um título. Mas quem visita o barracão da Beija-Flor de Nilópolis e acompanha os detalhes nos carros e nas fantasias sabe que não é bem assim: uma escola de samba vencedora, antes de mais nada, se faz com espírito de campeã, onde seus componentes são alimentados por uma energia que é transmitida em pequenos detalhes. Carros alegóricos e fantasias bem feitas, desenvolvidas com cuidado e carinho, repleta de enfeites de material de qualidade transmitem para os componentes um 22
Revista Beija-Flor de Nilópolis
nível de confiança que repercute na avenida, anda que esses detalhes se façam invisíveis pela distância dos foliões nas arquibancadas, frisas e camarotes. Mas é assim que o carnaval carioca funciona: detalhes aparentemente imperceptíveis transformam. Contagiam. E vencem campeonatos. Detalhes como a presença de sorriso iluminado da Destaque principal do carro abre-alas, Fabíola David, que contagia e ilumina a avenida pedindo passagem para a agremiação nilopolitana. Para quem desfila pela Azul e Branco nilopolitana sabe o que significa ter Fabíola à frente do desfile como Destaque no abre-alas. Sua energia e animação – e sua disposição para sambar incansavelmente com graça e leveza durante o tempo de apresentação – não só contagiam os componentes como, com sua presença de sorwww.beija-flor.com.br
riso largo, envolve com simpatia o público presente nas arquibancadas e nos camarotes. E um detalhe interessante pode ser notado por quem busca observar os detalhes de um desfile: essa simpatia de Fabíola ao receber e reverenciar o público tem um efeito interessante. Os que gostam da agremiação se sentem envolvidos e reconhecidos numa troca de sorrisos e energia. E os que, carregando ideias preconcebidas, não gostam da Azul e Branco de Nilópolis se sentem desconfortáveis ao serem cumprimentados com a simpatia da Destaque. E acabam despertando, em segundos, para o fato de que a Beija-Flor não é uma inimiga a se torcer contra e sim mais uma escola de samba, formada de pessoas do bem e que busca dar o melhor de si para apresentar um espetáculo de beleza a harmonia a todo esse público. E essa recepção simpática e afetuosa dá certo: a cada ano o público se aproxima mais da Beija-Flor de Nilópolis e torce para que a agremiação faça um belíssimo espetáculo. E porque identificamos esse papel único e fundamental que Fabíola David exerce à frente da agremiação nilopolitana, a revista Beija-Flor de Nilópolis foi à sua casa, em Copacabana, para um conversa rápida onde ela pôde contar um pouco de sua vida e de como se sente tendo esse privilégio de ser a estrela-norte da maior escola de samba do planeta. RBFN — Como foi seu início no Carnaval? Fabíola David — Sempre gostei de carnaval, e em 1989 fiz o meu primeiro desfile na Beija-Flor com o enredo “Ratos e urubus larguem minha fantasia”. Foi uma emoção muito grande porque não tinha ideia de como é mágico estar na avenida. Todas aquelas vozes cantando em uníssono “Xepá, de lá pra cá xepei. Sou na vida um mendigo. Da folia eu sou rei”. Foi muito emocionante e tive a certeza de que estava vivendo um momento que deveria se repetir. E se repetiu. Até que em 1992, com o enredo “Um Ponto de Luz na 24
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Imensidão”, desfilei como Destaque principal no carro abre-alas com a fantasia “um ponto de luz”. RBFN — Nos últimos anos você reinou absoluta como Destaque do abre-alas. Mas em alguns anos, por razões variadas, você não desfilou. Sentiu que faz falta para a Beija-Flor?
FD — Eu não tinha noção de como era importante eu desfilar. Quando me afastei do desfile, as pessoas falavam que eu tinha que voltar, que o abre-alas sem mim não era abre-alas, coisas do tipo. Era comum eu ir à quadra da escola e ouvir dos componentes ou de pessoas da comunidade que sentiam muito a minha ausência no abre-alas e que eu devia voltar. O próprio Anizio ficou triste quando parei de desfilar, mas ele estava em um momento muito difícil em sua vida, e preferi não desfilar. RBFN — Mas você voltou. Com sua simpatia e classe, você voltou para o abre-alas. Alguma razão especial? FD — Eu sinto muito falta do carnaval, mas mesmo não desfilando estava participando e assisti os desfile da Beija-Flor. Não desfilei no abre-alas porque tinhas minhas razões. Hoje, depois de refletir sobre muita coisa e avaliar muito, achei que era hora de voltar. Minhas decisões repercutem mais do que imaginava, inclusive na vida de meus filhos Gabriel e Micaela. Decidi voltar, então, por diversas razões, entre elas porque o enredo desse ano é uma homenagem a um amigo muito querido e que respeitamos muito: o Boni. E é com esse amor e carinho que
eu vou pra avenida. Esse enredo é mais que merecido. Mas vou desfilar também pela comunidade nilopolitana e pelo Anizio. Quando eu falei que estaria no abre-alas, ele ficou muito feliz. E quando vi essa alegria do Anizio, contando para todo mundo que eu ia voltar a desfilar no abre-alas, eu fiquei muito feliz. E vi que meus filhos também ficaram felizes. E você sabe, tudo isso acabou me deixando mais feliz e confiante. RBFN — Nesse ano, o abre-alas terá outra figura ilustre chamada Micaela David. É verdade? FD — Sim, é verdade. Minha filha vem no abre-alas. E sua participação no desfile foi um dos motivos para eu voltar. Ela pediu para sair no abre-alas e achei ótimo, porque esse amor ao Carnaval e à Beija-Flor é uma coisa que queremos cultivar e manter em nossos filhos. No carro abre-alas vou estar em um plano mais acima e ela mais abaixo de mim, ao lado da Marina, neta do Farid Abrão, e da Sophia, filha da Cláudia Raia e do Edson Celulari. Atrás de mim, mais alto, vai estar a minha sobrinha, a Manuela, filha da minha irmã Alessandra. Vamos estar todas em família, misturadas, e isso me animou também. No enredo serei a Rainha Fenícia e elas as minhas princesas. Estou muito feliz.
O enredo de 2014 da Beija-Flor de Nilópolis aborda a história da comunicação, considerando as necessidades da humanidade — desde os mais remotos estágios da civilização, até os dias atuais. Seu ápice é uma homenagem ao multimídia José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni - ‘O Astro Iluminado da Comunicação Brasileira’. A ideia do enredo partiu do patrono da agremiação de Nilópolis, Anizio Abrão David, que é muito amigo de Boni e enxergou ali a possiblidade de oferecer ao público um belíssimo carnaval. A principio, Boni se esquivou e disse que a história dele por si só não daria samba. Entretanto, como ficou definido que o enredo seria baseado na história da comunicação e que ele seria tratado como um paralelo importante de todo esse processo, o empresário aceitou. A fusão de um grande nome da comunicação mundial com a grandeza da Beija-Flor deu um belo samba! Só nos resta esperar o espetáculo que veremos na Sapucaí.
BONI
O ASTRO ILUMINADO DA COMUNICACAÇÃO BRASILEIRA
SETOR 01
Os Povos da Mesopotâmia e o Dom da Palavra Escrita e Falada
DESFILE 2014
Fantasia: A Mensagem de Um Beija-Flor Ala: Madrinha da Escola Presidente: Cláudia Raia Fantasia: Estratégia – O Xeque-Mate da Comunicação Ala: Comissão de Frente Presidente: Marcelo Misailidis Quantidade: 15 Fantasia: Símbolos Valiosos Ala: 1º Casal MS & PB Presidente: Selminha Sorriso & Claudinho Quantidade: 2 Descrição: É de máxima importância entender que este trabalho apresenta o Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira como parte da Comissão de Frente, personagens principais na íntegra da apresentação da mesma, e individualmente na defesa de seu quesito
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específico. Este é o princípio de uma fusão cênica de apresentações simultâneas em personagens que atuam no mesmo quadro. A apresentação da Comissão de Frente da Beija-Flor de Nilópolis propõe uma abertura na qual estabelece uma relação do homenageado com elementos de livre associação, e com o princípio histórico da comunicação. Boni afirma que a comunicação tem como fundamento principal a estratégia, esta seria, para ele, uma característica indispensável para se atingir resultado entre a relação da mensagem do locutor ao espectador. Para traduzir esta afirmativa em imagem, sintetizemos estas informações na representação de um jogo de xadrez, que tem por essência o resultado a partir da estratégia, na relação direta de como atingir ,de algum modo, o outro; e ao mesmo tempo, a versatilidade de adaptação estética e temática de suas peças. Assim sendo, estes personagens ou peças do www.beija-flor.com.br
xadrez estão caracterizados em representação temática mesopotâmica, período histórico a qual se atribui o início da escrita, prática indispensável na comunicação. Esta ação ocorre de modo atemporal, como se a comunicação estivesse sendo revisitada através do olhar do nosso grande homenageado, na qual o primeiro elemento visível é um set de filmagem, através do qual a Comissão de Frente inicia o desfile, e insinua, ao mesmo tempo, que tudo passaria por ele como um filme ou transmissão que se produz ao vivo. No bojo desta estratégia do jogo de xadrez, o Rei e a Rainha tem como personagens principais a referência mais importante e delicada da Escola, o próprio casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, numa alusão clara à importância de sua representatividade tanto para a Escola, quanto para o próprio jogo e, ao mesmo tempo, como própria estratégia de desfile, na fusão de quesitos que coadunam
de características similares entre si, como apresentar o pavilhão e consequentemente a própria Escola. O jogo propõe ao fim de sua apresentação que tudo pode ser e significar, símbolo de comunicação e de estratégia ao estabelecer paralelo entre guerreiros mesopotâmicos e os pássaros, símbolo da Agremiação Beija-Flor de Nilópolis, a mais nobre representação possível para a Comissão de Frente saudar e apresentar sua Escola. Esta fusão na apresentação, contudo, salvaguarda a característica de cada quesito, e entende que num enredo que trata da comunicação, do seu principio histórico aos dias de hoje, a agilidade e versatilidade são atribuições indispensáveis, sem ferir, em tempo, algum a importância de cada quesito apresentado, possibilitando ao julgador percebê-los na sua íntegra, tanto de modo associado à sua proposta cênica, como individual ao mesmo tempo.
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MIRO LOPES
“O GRANDE DESAFIO É QUE A BEIJA-FLOR É UMA ESCOLA QUE TEM UMA PREDESTINAÇÃO PARA LUTAR DIRETAMENTE PELO TÍTULO. ELA TEM FORTES ADVERSÁRIOS? TEM. MAS É UMA ESCOLA TEMIDA POR TODOS. ISSO É UMA COISA QUE TENHO MUITO CLARO DA VIVÊNCIA QUE EU TENHO POR TER TRABALHADO EM OUTRAS ESCOLAS.”
O novo nome da comissão de frente da Beija-Flor é Marcelo Misailidis. Primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Misailidis dispensa apresentações, uma vez que é inegável o reconhecimento pelo seu trabalho, especialmente no Carnaval. Se a dança clássica nem passava pela cabeça daquele garoto de cinco anos quando chegou ao Brasil com os pais – a doutora em Direito Mirta Lerena e o químico Sérgio Misailidis Martinez –, também coreografar para escola de samba era impensável. O destino, senhor de todas as decisões, logo colocou no caminho do já adolescente – disfarçada em primeira namorada – uma bailarina, e Marcelo mergulhou nas águas do mesmo lago onde aquele cisne branco deslizava sua leveza e sua arte. “Aí me apaixonei por tudo aquilo, pela namorada, por aquilo que ela fazia, por todo aquele universo lúdico...”, revela. 30
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RBF – Marcelo Misailidis (MM), qual é sua especialização? MM - Sou de formação de dança clássica, ocupei as posições mais importantes dentro do Brasil, fui o primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, fui diretor artístico da companhia, dancei ao lado das principais bailarinas nacionais e internacionais – como Ana Botafogo, Cecilia Kerche, Nora Esteves, Áurea Hammelli, Beatriz Almeida e por aí vai. Então minha carreira foi estruturada dentro do Theatro Municipal. Minha especialização foi orientada exclusivamente por grandes mestres que eu tive – desde Tatiana Leskova à mestra Eugênia Feodora e Aldo Lotufo. Tive um treinamento particular individualizado já voltado para eu me tornar um primeiro bailarino. Um treinamento muito puxado durante anos para estar na posição que eu cheguei. Paralelamente, surgiu
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um convite para trabalhar no Carnaval. Inicialmente, achei algo muito distante do meu foco e do meu universo, mas aceitei o desafio porque percebi o quanto o Carnaval começava a se desenvolver e apostar em ideias novas e ousadias. Então isso vai muito ao encontro dessa carreira que eu tinha desenvolvido parcialmente. Balé clássico é uma dança calcada em uma tradição muito rígida. E na ideia de se levar isso à perfeição. Então, acho que eram fatores disciplinares que eu adquiri que ajudavam muito a desenvolver um bom trabalho no Carnaval, que também precisava dessas características de ousadia e disciplina para poder fazer um espetáculo. Como a música tem no ritmo seu fio condutor, a dança tem na coreografia sua espinha dorsal. Ambas, música e coreografia são, hoje, elementos indispensáveis na apresentação da comissão de frente, que é responsável pela apresentação da agremiação e pela introdução do enredo.
das francas favoritas. E nunca fica fora desse páreo. Então, há uma responsabilidade em você vir para somar, quando já se tem uma equipe extremamente competitiva. Às vezes, têm trabalhos que se destacam muito numa escola porque se estabelece uma distancia muito grande entre um trabalho que você faz e outras coisas que acontecem. Mas o fato – não dizendo que isso tenha sido a tônica pelo que já passei – é que a Beija-Flor tem uma equipe de qualidade muito bem treinada e muito disciplinada e uma máquina extremamente profissional no sentido de dar condições para que essa produção aconteça da melhor m a neira
RBF – Qual é o grande desafio para você participar de um carnaval com a Beija-Flor? MM – O grande desafio é que a Beija-Flor é uma escola que tem uma predestinação para lutar diretamente pelo título. Ela tem fortes adversários? Tem. Mas é uma escola temida por todos. Isso é uma coisa que tenho muito claro da vivência que eu tenho por ter trabalhado em outras escolas. A Beija-Flor sempre entra como uma
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possível. É logico que não existe receita alguma para o sucesso, não existe nada que diga que você, colocando determinados ingredientes, tenha o resultado de uma escola campeã. O sucesso de um espetáculo só se vislumbra quando as cortinas se abrem, quando as luzes se acendem. Esses sinais também se aplicam para o desfile de uma escola de samba: somente ao tocar aquela sirene, abrirem os portões e a escola entrar com todo seu potencial para defender seu trabalho, seu enredo, é que vamos saber se os resultados pelos esforços empreendidos serão alcançados. Então, a Beija-Flor tem todas essas características de alta competitividade, mas como sempre a gente tem que se esforçar muito para render o máximo possível. RBF – Quantas pessoas participam da comissão de frente? Alguma peculiaridade em termos de formação da comissão deste ano? MM – Os componentes são simples, de comunidade, que gostam, amam e que têm uma experiência com o Carnaval. Não há uma especificidade. Poderiam dizer, ah, são bailarinos, são sambistas... Não. Tem de tudo. São pessoas que têm disposição para trabalhar em cima de uma ideia artística e doar seu tempo para fazer da melhor forma possível. O Carnaval tem um braço nessa questão que se defende de forma popular. Então, não acredito que fazendo um espetáculo extremamente técnico se consiga um bom resultado. Pode se ter um resultado muito pasteurizado. Então, eu acho importante ter pessoas simples, ter uma estética natural, uma comunicação direta com o povo também. Acho que a gente tem que tentar trabalhar o máximo possível essa ciência do espetáculo, essa ciência de produzir um grande momento, mas, ao mesmo tempo, ele tem que ter uma comunicação clara e um espetáculo que é feito do povo para o povo. RBF – Qual a grande novidade que você reserva para o desfile? MM – Eu acho que a surpresa se tornou muito convencional – uma forma de procurar um resultado em cima de um momento de efeito mágico, de uma solução preconcebida.
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Acho que são fenômenos de momento. Mas eu aposto minhas fichas no que o enredo me pede. O enredo da comunicação. E para isso, a gente aposta no belo, a gente aposta numa visão poética. Numa visão daquilo que tem identidade também com a escola. Com o sentido do que é uma comissão de frente, no sentido do que sempre busquei, de uma coisa atualizada, uma coisa nova, de um produto inédito para a avenida, e não um produto que a gente já tenha uma noção de resultado. A gente não tem a menor noção de que efeito, ou de que forma esse espetáculo vai chegar, vai atingir o público. É um trabalho feito com extremo cuidado, com muito carinho e muita dedicação. A gente aposta numa coisa que também é importante. É que é bom! Existem determinadas coisas que são modas, que têm efeito momentâneo, e com o tempo ninguém lembra mais. Tem aquilo que é muito que bom, e que depois de se passarem muitos anos ainda continua tendo valor, continua tendo importância. Hoje em dia, no meu trabalho, as pessoas se lembram justamente disso, das coisas que marcaram sua época pelo diferencial que tinham. Por uma coisa que não tinha uma procedência de conceito de ideia, pelo fato de serem trabalhos inéditos, e eu não saber exatamente que resultados eles iriam gerar na avenida, mas a gente trabalha para que acima de tudo sejam trabalhos bem apresentados, tenham um nível de profissionalismo e que, minimamente, sejam aceitos pela qualidade daquilo que foi trabalhado e apresentado. RBF – Isto significa que a Beija-Flor vai comemorar seu aniversário com a vitória? MM - Eu torço por isso porque, conhecendo a escola, acho que esse favoritismo não é mera casualidade. É fruto de trabalho. Fruto de dedicação de uma equipe que é comandada pelo Laíla brilhantemente, que tem a seriedade de comando do seu Anizio e de toda equipe que participa da escola, o presidente Farid, enfim, toda uma grande estrutura por trás de uma grande equipe de Carnaval. É isso, parabenizar a todos, inclusive a equipe de barracão que é maravilhosa, no sentido da seriedade, do resultado que se busca a cada dia de trabalho.
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Fantasia: A Escrita Milenar dos Sumérios Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Valéria Brito Quantidade: 100 Descrição: Os sumérios desenvolveram sua
civilização na região situada entre os rios Tigre e Eufrates, conhecida como Suméria, no sul da Mesopotâmia. Uma enorme contribuição cultural dos sumérios foi o a criação, por volta de 4000 a.C., de uma forma de escrita onde os sinais representavam ideias e objetos. Usavam placas de argila para imprimir esta escrita, e muito do que sabemos atualmente, sobre este período da História, deve-se à essas placas de barro com os registros cotidianos, econômicos, administrativos e políticos deste período. Alegoria 01 – Abre-Alas “Os Povos da Mesopotâmia, o Dom das Palavras Escrita e Falada e a Fábula da Torre de Babel”
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China – Registros de uma Cultura Milenar Fantasia: Babilônia – Comunicação com o Céu Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Beto & Vanda Dir. Harmonia e Desfile: Celso Quantidade: 80 Descrição: A astrologia é uma pseudociência que defende a ideia de que a posição dos astros e dos corpos celestes é capaz de influenciar na personalidade das pessoas, além de prover informações sobre as relações humanas. Tal diagnóstico seria possível através da comunicação com o céu, viabilizada pela observação e leitura do mapa astral e dos signos do zodíaco. Uma das referências mais antigas da astrologia, que tem importante papel na formação das culturas, foi encontrada na Babilônia, na biblioteca de Assurbanipal. Fantasia: Papiros Egípcios Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Jorge André, Leandro Figueiredo Quantidade: 80 Descrição: Originalmente, o papiro é uma planta, a Cyperus papyrus. No entanto, por volta de 2500 a.C., os egípcios desenvolveram uma técnica para fabricar folhas de papiro, considerado o precursor do papel. O papiro pronto era, então, enrolado a uma vareta de madeira ou marfim, para criar o rolo que seria usado para que se fizesse o registro da escrita. Apesar da fragilidade do papiro, importantes documentos resistiram até os dias atuais. Fantasia: Índia – Antigas Formas de se Comunicar Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Marcos Gomes Quantidade: 80 Descrição: A história do mundo e da humanidade é o conjunto de registros feitos pelo Homem desde que ele passou a ter a capacidade e as condições necessárias para efetuar
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tais registros. Antes da invenção do papel, alguns papiros eram era feitos com fibras de bananeiras e coqueiros; além disso, na Antiguidade, na Índia, o Homem fazia os seus registros através das folhas de bananeiras (e palmeiras), se comunicando através de hieróglifos. Fantasia: Pombos Correios no Azul do Céu Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Oswaldo Quantidade: 80 Descrição: Os pombos-correios são uma variedade domesticada dos pombos comuns que cruzavam o céu e venciam longas distâncias para entregar com sucesso as mensagens, precursores valorosos dos modernos meios de comunicação. Foram usados para carregar mensagens escritas e então enroladas em papeis colocados em pequenos tubos anilhados aos pés das aves adestradas, daí o nome pombo-correio. Fantasia: Rei Salomão e suas Aves-Correios Ala: Tom & Jerry Presidente: Rogério Coutinho Quantidade: 60 Ala: Tudo por Amor Presidente: Élcio Chaves Quantidade: 60 Descrição: É difícil precisar a data exata em que se iniciou o transporte de mensagens com a utilização de pombos-correios. No entanto, a História apresenta, por exemplo, registros longínquos de que mesmo o Rei Salomão já se utilizava de tais aves para se comunicar com os governadores de seu vasto império, transmitindo assim, suas ordens a respeito das províncias. Fantasia: No Ar Sinais de Fumaça Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Edson Reis Quantidade: 80 Descrição: Os sinais de fumaça eram sistemas de mensagens simples, usados principalmente pelos índios nativos americanos para transmissões básicas de longas distâncias. Não existia um código único para essas transmissões, e cada tribo tinha seu próprio sistema,
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sendo que o significado da mensagem era pré-determinado, e conhecido somente pelo remetente e pelo destinatário do sinal. Fantasia: A Invenção do Papel Ala: Cabulosos Presidente: Dora Quantidade: 60 Ala: É Nessa Que Eu Vou Presidente: Hélio Malveira Quantidade: 60 Descrição: O papel foi inventado na China cerca de 3.000 anos depois que os antigos egípcios usaram o papiro para a escrita. Foi um oficial do governo chinês que conseguiu produzir papel ao misturar fibras vegetais, embora descobertas recentes de papeis em túmulos chineses muito antigos, apontem que a China fabrica papel desde os últimos séculos antes da Era Cristã. A invenção do papel e a impressão dos caracteres chineses, possibilitou a difusão do conhecimento entre a elite alfabetizada chinesa e a aristocracia. Fantasia: O Papel da China Ala: Baianinhas Diretor de Desfile: Patrícia Bento Quantidade: 80 Descrição: Desde os tempos antigos, a incrível e colorida cultura chinesa enfatiza um profundo senso histórico e uma forte perspectiva nacional, vislumbrados, por exemplo, através da caligrafia – considerada uma forma superior de arte que teve seu desenvolvimento possibilitado graças à invenção do papel – e de símbolos clássicos, como o dragão chinês, símbolo da sabedoria. Alegoria 02 “China – Registros de uma Cultura Milenar”
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Hermes – O Mensageiro dos Deuses Fantasia: Telégrafo Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Wanderson & Marcelo Dir. Harmonia e Desfile: Sérgio Sá Quantidade: 80 Descrição: O telégrafo foi um sistema concebido para transmitir mensagens de um ponto para outro vencendo grandes distâncias e utilizando códigos que assegurassem uma transmissão rápida e confiável. Inventado em 1830 pelo estadunidense Samuel Morse, foi o principal sistema de comunicação a longa distância do século XIX e início do século XX. Surgiu no Brasil em 1857, sendo o chamado Código Morse, o principal código utilizado pelos telégrafos. Fantasia: 1a. Edição do Jornal Alemão Ala: 1001 Noites Presidente: Luiz Figueira Quantidade: 60 Ala: Vamos Nessa Presidente: Tuninho Quantidade: 60 Descrição: Jornal é um meio de comunicação impresso e de massas, cujas as características principais são o uso de “papel de imprensa”, a linguagem própria, dita jornalística, e a abordagem tanto de assuntos diversos como de conteúdo especializado. O primeiro jornal em papel foi publicado em 713 d. C., no entanto, apartir do século XVII, começaram a surgir as primeiras publicações periódicas e frequentes em países da Europa, como a Alemanha, que produziu o primeiro jornal impresso diário no mundo. Nessa época, os jornais traziam principalmente notícias da Europa, e de vez em quando, informações vindas da América ou Ásia. Fantasia: Telefone Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Rosângela Quantidade: 80 Descrição: O telefone é um dispositivo de telecomunicações desenhado para transmitir
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sons por meio de sinais elétricos nas vias telefônicas, permitindo a troca de informações (falada e ouvida) entre dois ou mais assinantes. O verdadeiro inventor do “telégrafo falante” foi Antonio Meucci, que criou o telefone em virtude da necessidade de facilitar a comunicação com sua esposa doente, que ficava acamada no andar superior, enquanto o seu laboratório se localizava no térreo. Meucci vendeu a patente do aparelho para Alexander Graham Bell após a transmissão oficial da primeira mensagem. Fantasia: Acta Diurna Romana Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Iara e Sérgio Quantidade: 80 Descrição: Acta Diurna é o título do primeiro jornal conhecido, e sua criação foi uma iniciativa do líder e general romano Júlio César, no ano de 69 a.C.. Esculpida em metal ou pedra, o boletim de anúncios do governo tinha por objetivo divulgar e tornar públicos os principais acontecimentos da então República, através de tábuas fixadas nos muros das principais localidades, incluindo a residência do pontífice, cargo político-religioso exercido por Júlio César. Fantasia: O Discurso e a Retórica Gregos Ala: Signus Presidente: Débora Rosa Quantidade: 60 Ala: Jovem Flu Presidente: Sérgo Ayub Quantidade: 60 Descrição: A retórica é a arte ou a técnica de bem falar, a arte de usar uma linguagem para se comunicar de forma eficaz e persuasiva. Os discursos e a retórica foram desenvolvidos nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga, especialmente na cidade de Atenas. Inicialmente, a intenção era treinar oradores e escritores para convencer a quem fosse necessário nas audiências, mediante a elucidação de seus argumentos. Todavia, a contribuição grega no desenvolvimento da arte de bem falar foi tamanha, que influencia a lógica, a dialética e a capacidade de argumentação e persuasão nas oratórias mesmo nos dias atuais.
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Alegoria 03 “Hermes – O Mensageiro dos Deuses”
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A Sagrada Família – Arquitetura Também é Comunicação Fantasia: Vinhos – Um Brinde à Sofisticação Ala: Barracão Diretor de Desfile: Léo Mídia Dir. Harmonia e Desfile: Chopp e Enio Quantidade: 80 Descrição: Boni é um apaixonado e conhecedor emérito de vinhos. Grande apreciador dos melhores e mais sofisticados produtos disponíveis no mercado mundial, Boni detém especial predileção por vinhos italianos, e gosta de degustá-los apreciando um bom polpetonne. Isaías, seu avô espanhol, foi um intelectual que importou vinhos quando ninguém bebia vinho no Brasil, mas infelizmente acabou bebendo o próprio negócio. Fantasia: O Requinte da Gastronomia Presidente: Christina Leite Quantidade: 100 Descrição: A gastronomia nasceu do prazer proporcionado pela comida, e constituiu-se como a arte de cozinhar e associar os alimentos para deles retirar o máximo sabor e benefício. Desde a incansácel busca por especiarias , até a invenção de diversos utensílios e acessórios de cozinha, o prazer de cozinhar e comer bem continua estimulando o requinte da gastronomia e os aspectos culturais à ela associados. Um gastrônomo (ou gourmet, em francês) pode ser um cozinheiro especializado ou ainda uma pessoa que aprecia o refinamento da alimentação, como é o caso de Boni, que conhecedor e apaixonado pelo tema, se aventurou até a escrever um livro fornecendo
roteiros gastronômicos. Fantasia: A Emoção Projetada em Branco e Preto Ala: 2º Casal de MS & PB Presidente: David Sabiá & Fernanda Love Quantidade: 2 Ala: 3º Casal de MS & PB Presidente: Yurii Hallss & Emanuelle Martins Quantidade: 2 Ala: 4º Casal de MS & PB Presidente: Hugo César & Naninha Fidellys Quantidade: 2 Descrição: Oficialmente nascido em dezembro de 1895, cinema é a técnica e a arte de fixar e de reproduzir imagens que suscitam a impressão de movimento, bem como a indústria que produz estas imagens. É a imagem animada que confere aos filmes o seu poder de comunicação universal, e dada a grande diversidade de idiomas existentes, é pela dublagem e/ou pelas legendas, que os diálogos são traduzidos em outras línguas, tornando os filmes mundialmente populares. Arte apaixonante e que encanta multidões, é agradável fonte de entretenimento, capaz de exercer influência sobre as pessoas e formar opiniões. A sétima arte é uma das paixões e fonte de inspiração do Boni. Fantasia: Fina Película Ala: Musa das Passistas Presidente: Charlene Costa Quantidade: 1 Fantasia: Artistas do Cinema Mudo Ala: Passistas Diretor de Desfile: Patick Carvalho Quantidade: 150 Descrição: Nos primórdios da história do cinema, os filmes não eram seguidos por uma sonoridade condizente com as imagens em desfile nas telas, mas isso não significa que eles eram partidários do silêncio absoluto. Um filme mudo é um filme que não possui a trilha sonora de acompanhamento que corresponde diretamente às imagens exibidas, sendo esta lacuna substituída normalmente por músicas ou rudimentares efeitos so-
noros executados no momento da exibição. Nos filmes mudos para o entretenimento, o diálogo dos garbosos artistas é transmitido através de gestos suaves, mímica e letreiros explicativos. Ala: Intérprete Presidente: Neguinho da Beija-Flor Quantidade: 1 Descrição: Fantasia: Carlitos e a Violeteira Ala: Personalidades Presidente: Boni e Esposa Quantidade: 2 Descrição: Boni é um exímio líder em comunicação. E liderança é comunicação humana na sua própria essência, visto que é impossível liderar sem se comunicar; é a liderança que legitima o comando, por meio do consentimento. Boni, uma personalidade inspiradora, um gênio multimídia, considerado o astro iluminado da comunicação brasileira, representará um personagem genial imortalizado nas telas e nos nossos corações, o inigualável Carlitos, com quem tem em comum, as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro; enquanto sua esposa, Lou de Oliveira, representará La Violetera. “Chaplin não foi apenas ‘grande’, ele foi giganteso”. Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da sétima arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelos governos britânico e francês. Boni, que também é grandioso na sua colaboração para a história da comunicação no Brasil, receberá honrarias da Corte do Carnaval na Avenida Marquês de Sapucaí, sendo nomeado nobre folião. Fantasia: Diva do Cinema Ala: Rainha de Bateria Presidente: Raíssa Oliveira Quantidade: 1 Descrição: Fantasia: Chaplin é um Espetáculo! Ala: Bateria Presidente: Mestres Rodney & Plínio Quantidade: 260
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Descrição: Sir Charles Spencer Chaplin, mais conhecido como Charlie Chaplin, foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Um dos atores mais famosos da Era do Cinema Mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da comédia gênero pastelão, ficou bastante conhecido pelos seus filmes no mundo inteiro, e é considerado por alguns críticos o maior artista cinematográfico de todos os tempos, e ainda um dos “pais do cinema”. Ao longo de uma carreira que durou mais de 75 anos, Chaplin atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo o seu principal e mais famoso personagem o The Tramp, conhecido Carlitos ou “O Vagabundo” no Brasil; um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro (gentleman), e usava um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número e um chapéu-coco, além de sua marca pessoal: um bigodinho característico, denominado pequeno bigode-de-broxa. Nem mesmo o advento do som ofuscou ou apagou da história este período inesquecível da trajetória do Cinema, que revelou atores do gabarito de Charlie Chaplin. Na Era do Cinema Mudo, é a Bateria que garante uma trilha sonora contagiante, ratificando que
Chaplin, por si só, é um espetáculo! Fantasia: A Sétima Arte Desperta Paixão Ala: Baianas Diretor de Desfile: Luizinho Cabulosos, Márcio e Rodrigo Quantidade: 80 Descrição: Cinema é a técnica e a arte de fixar e de reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento, bem como a indústria que produz estas imagens. A origem da palavra “cinema” deve-se à circunstância de ter sido o cinematógrafo o primeiro equipamento utilizado para filmar e projetar. Por metonímia, a palavra também se refere à sala onde são projetadas as obras cinematográficas. Devido ao fato de seu avô Isaís ter sido dono de cinema durante certo tempo, e por ter tido uma namoradinha na juventude cujo o pai era um dos donos do único cinema local, Boni tinha passe livre para todas as sessões, com o direito de ver as montagens dos filmes na cabine de projeção. Fantasia: A Elegância Cinematográfica da Plateia Ala: Damas Diretor de Desfile: Francinete, Ricardo & Shirleise Quantidade: 80
Descrição: O cinema é uma arte poderosa, e uma fonte de entretenimento popular que muitas vezes se propõe a exercitar a capacidade de reflexão, a educar ou doutrinar, podendo se tornar um método eficaz de influenciar os cidadãos e formar opinião. É a imagem animada que confere aos filmes o seu poder de comunicação universal, e diferentemente dos dias atuais, onde as pessoas frequentam as salas de exibição com vestes mais despojadas, há décadas atrás, o público que ia ao cinema era mais seleto, e justamente por isso, usava uma indumentária mais distinta e elegante. Fantasia: A Origem Espanhola de um Ilustre Brasileiro Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Alessandra Oliveira Quantidade: 80 Descrição: A família de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, é, em grande parte, de origem espanhola: por parte de mãe, é toda espanhola (mistura dos Fernandes Prado), e por parte de pai, metade espanhola e metade portuguesa (Os Toledo e Oliveira). Conduzidos pela tradição espanhola, toureiros e dançarinos flamencos, ícones culturais, representam as características familiares tão intrínsecas ao comportamento e ao modo de ser espanhol, herdadas por Boni, tais como a educação, a intelectualidade, a coragem, o gosto pelas artes, a fibra e a determinação para o trabalho. Alegoria 04 “A Sagrada Família – Arquitetura Também é Comunicação”
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Publicidade – Histórias e Estórias da Comunicação Fantasia: Pinturas em Volantes Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Rosana & Marcos Dir. Harmonia e Desfile: Marcelo e Waldemir Quantidade: 80 Descrição: Com relação à história da publicidade no mundo, pintura em muros ou rochas, utilizadas como propagandas,também eram formas de publicidade encontradas no tempo antigo, e utilizadas até hoje, em várias partes do mundo, destacando-se as pinturas desenvolvidas nos séculos XV e XVI, que auxiliavam a divulgação de volantes na época. Fantasia: Jingles – O Sucesso dos Anúncios Comerciais Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Luciana Quantidade: 80 Descrição: Quando ainda era um menino e tomava conta de uma agência funerária, Boni vendia anúncios fúnebres para rádios e jornais da época, o que comprova que seu talento na área de publicidade e propaganda vem de cedo, sendo posteriormente revelado através da criação de jingles; mensagens publicitárias musicadas e elaboradas normalmente com viés emotivo, rimas, refrão simples e de curta duração (o que facilita a memorização). Os jingles são elaborados exclusivamente para um produto ou empresa, e seu sucesso enquanto anúncios comerciais dependem de basicamente de inspiração e criatividade. No Brasil, também é conhecido como vinheta.
seu tio, Reynaldo de Oliveira – um apaixonado por política, e o homem que o ensinou a ler e escrever – por vezes o arrastou durante as madrugadas para colocar cartazes de propaganda em postes e muros ao longo das ruas da cidade. Fantasia: Galo – Simbolo da Comunicação, Publicidade e Propaganda Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Robson Quantidade: 80 Descrição: O galo é o macho da galinha, sendo que a ave possui cristas maiores, e penas brilhantes no pescoço, asas e costas. É considerado o símbolo da Comunicação, Publicidade e Propaganda , visto que o animal acorda bem cedo, e canta para fazer alarde, anunciando o amanhecer e a chegada de um novo dia. Representa a figura do comunicador por ser ele o grande comunicador, o grande propagandista do raiar do dia, e a publicidade pela comparação de que deve-se anunciar com antecedência e de forma mais eficiente que os concorrentes. Alegoria 05 “Publicidade – Histórias e Estórias da Comunicação”
Fantasia: Cartazes em Postes Ala: Borboletas Presidente: Néia Nocciole Quantidade: 60 Ala: Dá Mais Vida Presidente: Ana Mascarenhas Quantidade: 60 Descrição: Quando Boni ainda era garoto,
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A Era do Rádio – Em Sintonia Seja Onde For Fantasia: Cabine de Controle das Rádios Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Kátia Dir. Harmonia e Desfile: Fábio Francisca e Saulo Quantidade: 80 Descrição: A afeição e o envolvimento de Boni com o rádio começou quando ele ainda era criança. Seu pai era bom de violão e ganhava algum dinheiro como acompanhante de calouros na Rádio Cultura de São Paulo. Muitas vezes Boni o levava para assistir aos programas, e ele ficava ali sentadinho na cabine de controle, fascinado com os botões e com os roteiros dos programas que, então, começou a colecionar. Foi nesse momento que o rádio entrou direto na sua veia. Fantasia: 1a. Transmissão de Rádio no Mundo Ala: Dos Cem Presidente: Terezinha Simões Quantidade: 60
Ala: Amar é Viver Presidente: Terezinha Alves Quantidade: 60 Descrição: Em 1896, Guglielmo Marconi, baseando-se nas descobertas feitas por esses cientistas, conseguiu realizar a transmissão e recepção de sinais a uma curta distância. Esse feito o fez ser reconhecido como o inventor do rádio. Porém, em 1893, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura já havia construído e apresentado ao público vários aparelhos de comunicação a distância, recebendo do governo brasileiro, em 1900, a carta patente no. 3279, que reconhecia o pioneirismo de seus inventos, sendo reconhecido como o responsável pela 1ª transmissão civil brasileira. Fantasia: Escola de Rádio – A Busca pelo Conhecimento Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Rosimere & Cláudia Quantidade: 80 Descrição: Em 1934, Edgard Roquette-Pinto fundou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, emissora de caráter estritamente educacional atuando nos vários níveis de ensino, que posteriormente passou a se denominar Rádio Roquette-Pinto, homena-
geando seu fundador e idealizador. Quando Boni ainda era rapaz, Dias Gomes o encaminhou para a escola de rádio da prefeitura do Rio de Janeiro, então instalada na Rádio Roquette Pinto. Lá, Boni teve a oportunidade de fazer de tudo um pouco: foi locutor, apresentador, escreveu textos, operou a mesa de controle e até selecionou músicas para a sonoplastia. Embora não fosse exatamente o que ele queria, Boni sabia que se tratava de um importante aprendizado. Fantasia: Redator – O Dom de Criar e Informar Ala: Amigos do Rei Presidente: Presidência Quantidade: 120 Descrição: Fundada 12 de setembro de 1936, a Rádio Nacional é uma das mais importan-
tes emissoras da história do rádio brasileiro, sendo que por volta de 1950, era o mais importante veículo de comunicação do país. Emissora diferenciada e líder de audiência, em matéria de popularidade, a Rádio Nacional era o máximo! O convite inesperado feito à Boni por publicitários, para trabalhar na Rádio Nacional, trouxe felicidade e a oportunidade de conhecer o Mestre Manoel de Nóbrega, um dos pilares da Rádio Nacional, de quem se tornou assistente, para aprender a escrever com ele. Lá Boni trabalhou como redator, escrevendo textos e quadrinhos humorísticos para o Programa Manoel de Nóbrega. Alegoria 06 “A Era do Rádio – Em Sintonia Seja Onde For”
O ESCULTOR DO TURBANTE O empregado mais antigo do barracão da Beija-Flor em atividade é Seu Jaime Bahia. O segundo é Jorge “Turbante” Costa. Aquele na carpintaria, completa 60 anos na Azul e Branco; este na escultura desde 1969. Seus conhecimentos com a escultura são vocacionais, mas exercidos amadoristicamente. Jorge chegou trazido pelo irmão, incentivador e mestre nessa arte, o escultor Antônio, que acreditava no seu talento, e ao surgiu a oportunidade de lhe abrir as portas do antigo barracão para se profissionalizar não titubeou. São 45 anos fazendo escultura para a Beija-Flor. E naqueles primeiros dias, Jorge passou usar o turbante que virou marca registrada. “Ele me traz sorte”, afirma convicto. Não sabe bem como surgiu essa ideia, nem como aprendeu a arte de armá-
-lo com tanta habilidade. Agilidade nas mãos e perfeição da montagem sem auxílio do espelho. Quando está na Passarela até o público grita pelo “Olha o Turbante, minha gente!” sem imaginar que esse seja seu apelido. Amante do futebol, flamenguista, Turbante é goleiro nas peladas de Ricardo de Albuquerque, onde mora. Amante dos livros, tem em “Negras Raízes”, de Alex Haley, sua leitura preferida, que inspirou o nome da filha Kisse Bel, que é universitária. São também de personagens da literatura os nomes de Simmon, o primogênito e oficial dos Bombeiros, e Karl Joshua, o caçula que está se alfabetizando. Casado com Valéria Deusa, atualmente Turbante curte a aposentadoria como oficial militar e o prazer de fazer esculturas para a Princesa da Passarela.
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Televisão – A Emoção Está no Ar Fantasia: TV Chuvisco Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Simone Dir. Harmonia e Desfile: Helinho e Luiz Grande Quantidade: 80 Descrição: Antigamente, quando as tecnologias ligadas à comunicação não eram muito avançadas e eram frequentes os problemas de falha de sinal na transmissão da programação dos canais de TV, as telas dos aparelhos televisores ficavam repletas de chuviscos, uma espécie de “pontinhos espaçados”, em rápido movimento, o que deixava a imagem da tela absolutamente gris (cinzenta). Fantasia: TV TUPI Ala: Crianças Diretor de Desfile: Lucy, Márcia, Guisela e Luciana Araújo Quantidade: 100 Descrição: A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão do Brasil, da América do Sul e a quarta do mundo. Fundada em 18 de setembro de 1950, em São Paulo, por Assis Chateaudbriand, fez parte do Grupo Diários
Associados, um conglomerado de empresas de mídia do Brasil. “Chatô” adorava índios, daí o logotipo da TV Tupi ser um curumim tupiniquim (pertencente à nação Tupi) com uma antena na cabeça, no lugar do penacho. Na década de 1980, devido à vários problemas administrativos e financeiros, a concessão foi cassada pelo governo brasileiro e a emissora saiu do ar. Fantasia: Televisão – O Show em Preto e Branco Ala: Casarão das Artes Presidente: Graça Oliveira Quantidade: 120 Descrição: A televisão, do grego tele – distante, e do latim visione – visão, é um sistema eletrônico de reprodução de imagens e som de forma instantânea. Foi Assis Chateaubriand o responsável pela introdução da televisão no Brasil, fundando, na década de 1950, o primeiro canal de TV no país, daí a ser chamado de “o pai da televisão brasileira”. Desde então, a televisão, que naquela época ainda era transmitida em preto e branco, cresceu e se desenvolveu muito, e hoje representa um fator importante na cultura popular moderna da sociedade brasileira.
Fantasia: Não Me Leve a Mal... Hoje é Carnaval Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Vitor, Luiz (Pai de Santo) e André Messias Quantidade: 80 Descrição: Há relatos de uma passagem curiosa envolvendo o Boni e a festa popular do carnaval: Quando Boni estava se transferindo do Telecentro (que estava se desmantelando) para a Rede Globo, teve um encontro com o Sr. João Calmon na manhã do sábado de carnaval. Como o carnaval não era uma produção do Telecentro, mas sim da TV Tupi do Rio, a reunião pôde ser realizar sem problemas. As coisas estavam complicadas no Telecentro e não haviam encontrado nenhum caminho para solucionar a situação, e com isso, Boni comunicou que, ao término de seu contrato, iria para a Rede Globo, sem mais discussão. Insatisfeito com a decisão
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de Boni, Calmon fez uma citação maldosa, a qual foi prontamente respondida por Boni, que aproveitou o refrão da marcha-rancho “Máscara Negra”, que havia utilizado no programa Black and White, hino do carnaval de 1967, e deu uma de Chacrinha, proferindo a seguinte frase: “Dr. Calmon, não me leve a mal... hoje é Carnaval. A sua careca... é raspada ou é natural?” Fantasia: Na Mira da Censura Ala: Comunidade Quantidade: 20 Descrição: As chacretes eram as assistentes de palco do programa do Chacrinha. A presença delas causava furor nas gravações do programa e por onde passavam, sendo que devido ao figurino sensual e às coreografias provacantes, estavam sempre na mira da censura. Dentre as diversas moças que ocuparam a vaga
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ao longo de vários anos de programa, Rita Cadillac até hoje é a dançarina mais conhecidas de todas. Após o fim do programa, a vida das ex-chacretes já foi retratada tanto em documentários quanto na ficção (telenovelas). Fantasia: Televisão em Cores Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Jonathan Maciel & André Balga Quantidade: 80 Descrição: A Televisão em cores ou televisão a cores, se refere à tecnologia de radiodifusão de sinal de televisão, e à reprodução de imagens em movimento a cores. José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, grande comunicador da televisão brasileira, também chamado de Velho Guerreiro, fez enorme sucesso como apresentador de programas de calouros com a presença de auditório, dos anos 1950 aos 1980. Dono de um humor de-
bochado e autor da frase célebre: “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”, tornou-se referência nacional de popularidade, sendo o personagem escolhido para representar a TV em cores. Se apresentava sempre com roupas coloridas, engraçadas e espalhafatosas, empregando bordões e expressões que se tornaram uma febre, e acionando uma buzina de mão para desclassificar os calouros desprovidos de talento. Fantasia: Ao Vivo e a Cores Ala: Musa Presidente: Jaque Faria Fantasia: Diretor de Televisão Ala: Destaque de Chão Presidente: Jorge Fernando Alegoria 07 “Televisão – A Emoção Está no Ar”
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O Mundo na Rede em Tempo Real – O Futuro da Comunicação Fantasia: Fábrica de Sonhos – Novelas Conquistando o Mundo Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Mariza Dir. Harmonia e Desfile: Cláudio e Binho Quantidade: 80 Descrição: As origens da novela, enquanto gênero literário, remontam aos primórdios do Renascimento. Já a telenovela, é uma história de ficção desenvolvida para ser veiculada na televisão, onde a trama é dividida em capítulos, sendo que o capítulo seguinte é sempre a continuação do anterior. A exibição dura em média de seis a dez meses, apresentada em episódios diários, com cerca de uma hora de duração. O sentido geral da estória é introduzido logo no primeiro capítulo. As novelas brasileiras – que abriram um importante espaço no mercado de trabalho para os artistas e demais profissionais de televisão – são sucesso absoluto, a ponto das obras terem se transformando em importante produto de exportação, sendo traduzidas para diversos idiomas e levando o nome do Brasil aos quatro cantos do mundo, processo que teve início com a trama “Escrava Isaura” (1976). Fantasia: O Fantástico Show da Vida Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Baixinho & Norma Quantidade: 80 Descrição: Os programas jornalísticos são essenciais na programação televisiva, ofertando entretenimento, informação e prestação de serviço público à população, funcionando como uma janela para o mundo. Dentre eles, destaca-se o programa Fantástico, (inicialmente chamado de Fantástico, O Show da Vida), um programa da televisão brasileira exibido aos domingos. Criado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, estreou em 1973, estando no ar há 40 anos. Diversos apresentadores já passaram pelo programa, cuja música de abertura é de autoria de Guto Graça Mello, com letra de Boni. As tradicionais vinhetas de abertura escreveram um
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capítulo à parte na história da TV brasileira, numa apresentação onde a música, as coreografias e os elementos gráficos (desde o palco até os grafismos em 3D) pontuavam a evolução do show da vida, com a apresentação de figurinos futuristas e muita ousadia. Fantasia: TV e Redes Sociais – A Integração Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Ivone Quantidade: 80 Descrição: O aperfeiçoamento progressivo das tecnologias da informação e dos processos de comunicação entre os homens faz com que seja dado um valor imenso à notícia imediata, já que, cada vez mais, as pessoas precisam de uma maior quantidade de informações, num menor espaço de tempo. Com isso, a interação entre a televisão e as redes sociais é uma relação que se tornou vital para a disseminação da informação. Muitas vezes a notícia é divulgada na televisão ao vivo e na internet ao mesmo, mantendo as pessoas informadas e conectadas on-line, full time. Fantasia: Imagem em Nova Dimensão Ala: Comunidade Diretor de Desfile: Mangueira Quantidade: 80 Descrição: Atualmente, no mundo globalizado em que vivemos, é cada vez mais frenético o processo de urgência em aderir o novo. Compreendido isso, é salutar que os avanços das tecnologias da informação também sejam cada vez mais rápidos e eficazes, para que sejam possibilitadas e desenvolvidas novas plataformas de comunicação, tais como satélites, as tecnologias HD (high-definition), 4K, 8K, as telas transparentes, as telas flexíveis e tudo o mais que ainda está por vir; visto que, a instantaneidade na superação tecnológica é tamanha, que o que ontem era novidade, hoje já nos parece ultrapassado. Fantasia: Memória Digital Ala: Velha-Guarda Presidente: Débora Rosa Quantidade: 78 Descrição: Memória Digital é a possibili-
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dade assegurada, através do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e da informação, de guardar, em forma digital, qualquer tipo de documento, sendo que o arquivo pode ser um texto, uma foto, um desenho, um vídeo, ou mesmo algo puramente virtual, como uma home page, por exemplo. Os dados, que em outrora eram armazenados em disquetes, atualmente podem ser armazenados em um computador, em pen drives, CD’s, DVD’s, HD’s e na própria internet; e é por causa da memória digital que asseguramos a perpetuação de nossos arquivos e temos acessos a preciosidades produzidas em tempos passados. A Velha
Guarda, que é a memória viva da Escola, vem representando a memória digital no processo de evolução da tecnologia da informação. Fantasia: Cibernético Passista Destaque Presidente: Cássio Dias Quantidade: 1 Alegoria 08 “O Mundo na Rede em Tempo Real – O Futuro da Comunicação”
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FELIPE LUCENA
“Eu ESTOU NA BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS. ESTAR AQUI EXIGE QUE SEJAMOS CRIATIVOS E QUE SEJAMOS CAPAZES DE CRIAR NOVOS FORMATOS E NOVOS MEIOS DE NOS COMUNICARMOS COM O PÚBLICO.” O Carnaval, considerado o maior espetáculo da terra, ganhou há pouco mais de seis meses um novo palco para brilhar: o teatro. O projeto ‘A deusa da passarela e suas magias, a história da Beija-Flor’, coreografado por Patrick Carvalho e coordenado por Laíla, consiste em transpor para a dança os enredos dos 12 títulos que a escola de Nilópolis conquistou na Avenida. Convocado para integrar a equipe da Beija-Flor após se destacar fazendo a Comissão de Frente do GRES Inocentes de Belford Roxo, Patrick conta como o espetáculo se desenha diante do público: “Temos uma abertura e depois entra um saxofone 50
Revista Beija-Flor de Nilópolis
e um piano tocando ‘A Deusa da Passarela’. Então, entra a Selminha e o Claudinho em uma cena muito bonita. Na sequência, vêm os carnavais da escola encenados em dança. O que a Beija-Flor fez na Avenida com carros e fantasias, fazemos com dança nos palcos”, explica. Sua aproximação na Azul e Branco de Nilópolis se deu através do amigo e coordenador do projeto de jiu-jitsu na agremiação: “O Elan é muito meu amigo e conhece bem os trabalhos que desenvolvo na dança e nas artes em geral. Um dia o Elan procurou o Laíla e falou com ele a meu respeito e de como eu poderia contribuir www.beija-flor.com.br
com novas ideias e realizações dentro da Beija-Flor. O Laíla me chamou e conversamos bastante, me passando uma ideia do que ele queria fazer: levar a Beija-Flor para o teatro. Na hora a cabeça deu um giro de 360 graus – era o momento certo e sabia que, juntos, e com a força daquela comunidade maravilhosa, teríamos muito a realizar. Fiquei super motivado porque já se desenrolava na minha mente algumas ideias. Não tinha dúvida: dizer sim para o convite do Laíla era a única coisa a fazer – o cara é uma enciclopédia de carnaval. Saí do nosso encontro bem focado e depois de dar asas a minha criatividade, bolei esse espetáculo que é lindo e tem agradado a todos que o assistem.” Devido ao pouco tempo de atuação e à correria que antecede os desfiles deste ano, o projeto ‘A deusa da passarela e suas magias, a história da Beija-Flor’ teve apenas uma apresentação completa, realizada no teatro da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). As demais apresentações estão sendo realizadas em uma versão pocket nos eventos promovidos pela Beija-Flor. O próximo passo, terminado o Carnaval 2014, é dar andamento às negociações com teatros para que o projeto possa ser visto por grandes públicos. Enquanto isso, Patrick segue ensaiando sua trupe, que conta com a participação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, de Nilópolis e das imediações. Sem disfarçar o sentimento de euforia e orgulho, Patrick faz uma previsão: “Estou na Beija-Flor de Nilópolis. Estar aqui exige que sejamos criativos e que sejamos capazes de criar novos formatos e novos meios de nos comunicarmos com o público. E pela repercussão do espetáculo, não tenho dúvida que mais uma vez a Beija-Flor saiu na frente, dando as cartas do jogo. Não tenho dúvida que em breve outras escolas seguirão nossa proposta. Mais um ponto para a princesa nilopolitana”.
MIRO LOPES
“SOB O COMANDO DO PRESIDENTE ADMINISTRATIVO, A ESCOLA, O BARRACÃO E QUADRA FICAM EM ESTADO DE ALERTA. PARA ISSO, O PRESIDENTE FARID ABRÃO CONTA COM UMA EQUIPE DE DIRETORES E AUXILIARES INDISPENSÁVEIS A CADA ÁREA.”
O ‘rolo compressor’ não pode parar. A cada ano, logo após o desfile das campeãs, já começam os preparativos para o carnaval seguinte. Nesse primeiro momento, a maioria dos empregados temporários fica no aguardo de nova chamada, os empregados fixos entram em férias e a ‘locomotiva’ entra em recesso por uma quinzena, sem na verdade desligar totalmente seu funcionamento, pois é chegada a hora do desmonte dos carros alegóricos, do recolhimento das fantasias da comunidade e de se projetar uma nova estrada por onde vai se construir o sonho do carnaval vindouro. Em decorrência da escolha do enredo que se pretende apresentar, a estrutura, a produção, as finanças, os recursos – humanos e materiais –, as normas e funcionalidade da escola, barracão e quadra, sempre ficam sujeitas a uma reorganização e a definição das formas
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
adequadas ao novo trabalho para se atingir o objetivo. É também a hora de a administração lubrificar essa máquina para enfrentar o novo desafio. É um setor que não para. Sob o comando do presidente administrativo, a escola, o barracão e quadra ficam em estado de alerta. Para isso, o presidente Farid Abrão conta com uma equipe de diretores e auxiliares indispensáveis a cada área. Na fábrica de carnaval instalada na Cidade do Samba, a presidência conta com uma equipe de competentes e dedicados profissionais, que inclui diretores e vários auxiliares, entre os quais destacamos: José Antônio de Gonçalves Pinto é vice-presidente de finanças. Destaca como uma de suas maiores responsabilidades a elaboração do cronograma de recebimento das verbas e o levantamento dos custos envolvidos no processo
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de produção do carnaval. Também supervisiona e fiscaliza a aplicação desses recursos, além de promover as negociações e pagamento dos fornecedores. É analista de sistemas e está na Beija-Flor desde 1980. Morador de Niterói, tem a música, herança paterna, nas veias. Estudou piston durante oito anos e, ainda jovem, além do seu próprio grupo musical, também participou de eventos culturais e artísticos de entretenimento, entre outros como integrante da banda do Colégio Salesiano de Niterói. Hoje é um deleite que só se permite raramente. Tem uma filha, Lilian, de 25 anos. Marcos Reis Fernandes foi chamado para implantar o sistema de informatização no almoxarifado em 2003, e ficou. Passou para a administração, atuando no setor de compras e
eu só atravessava a avenida chupando picolé”. Casado com Suzana, tem uma filha de três anos, Ana Clara. Alexandre da Silva Esposito é o mais novo integrante da equipe. Começou há cinco anos como porteiro. Com o início dos trabalhos no barracão, que ocorre em meados do ano, passou a trabalhar como motorista para agilizar a aquisição e o transporte de material e, paralelamente, auxiliar no pagamento dos empregados e outros serviços gerais, atividades para as quais se mantém em permanente plantão. No carnaval faz parte da equipe que orienta a saída dos carros e o acompanhamento até a concentração, supervisiona a alimentação dos ajudantes e outros serviços eventuais. Carioca de Olaria, casado com Lucélia, tem três filhos: Alexandre Jr. (18), Sthefany (13)
auxiliando na funcionalidade do barracão, procurando facilitar o trabalho de todos os setores. Também produz a folha de pagamento. Nasceu em Nilópolis e praticamente foi criado na quadra da escola. Seu pai Ramilton, ex-ritmista e diretor, o levava em todos os eventos da escola, mesmo antes de Marquinhos integrar a ala mirim. “Ele contava que sempre me levou para desfilar. Como eu era muito pequeno e ele tinha que trabalhar, destinava uma pessoa para tomar conta de mim e deixava dinheiro com ela porque
Alexandre Giló e Marquinhos integram a equipe de feras da Administração da Beija-Flor de NIlópolis.
e João (4 anos), com quem divide os finais de semana entre o churrasco e a pescaria. Também outros auxiliares de administração, telefonistas, copeiras, auxiliares de limpeza e serviços gerais dão suporte a essa equipe de gestão, que, com a garantia dos presidentes Anizio e Farid, sedimentam a base para que esse rolo compressor que é a Beija-Flor de Nilópolis alcance seus objetivos na Passarela do Samba. Março 2014
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REDAÇÃO
“SR. ANIZIO ABRÃO ESTAVA LÁ PARA FAZER UMA VISITA DE CORTESIA À IMPERATRIZ. FOMOS APRESENTADOS. QUANDO ESTAVA INDO EMBORA, O SR. ANIZIO ME CHAMOU PARA IR COM ELE ATÉ O BARRACÃO DA BEIJA-FLOR, E CHEGANDO LÁ ELE CHAMOU O LAÍLA E FALOU: “LAÍLA, ESTE RAPAZ, À PARTIR DE HOJE, VAI FAZER AS CAMISAS DA BEIJA-FLOR.”
Trabalhar com algo que se ama é o sonho de muita gente. André das Camisas (como é conhecido no meio carnavalesco) pode se considerar um privilegiado. Ele é o responsável pela criação das camisetas da Beija-Flor e sua história de vida mostra que, se tivermos dedicação e amor em tudo o que fizermos, podemos ir muito além. André iniciou sua carreira profissional pintando cangas de praia, que ele mesmo vendia na orla do Rio de Janeiro. O ilustrador lembra que era bastante cansativo, mas que nunca deixou de correr atrás de seus sonhos: “Eu ia para Ipanema e Leblon, pintava as cangas em casa. Era ‘osso’. Muito calor e rodando a praia de ponta a ponta, mas nunca deixava de vender. Também fiz muitas feirinhas em clubes”, relembra ele. Até que em 1992, através do Sérgio Marimba, que era assistente de Chico Spinoza na Estácio 54
Revista Beija-Flor de Nilópolis
de Sá, foi chamado para pintar as fantasias do abre alas da escola do centro da Cidade Maravilhosa. Um belo começo, pois a Estácio foi campeã no ano seguinte. Com isso, começou a fazer as camisas para a agremiação e logo foi indicado para a Unidos da Ponte. Dois anos depois da estreia no carnaval, André das Camisas foi levado por Chico Spinoza para a União da Ilha, onde permaneceu até 1997. Nesse ano, Milton Cunha foi contratado para ser o carnavalesco da escola, e como ele já tinha em sua equipe um ilustrador de confiança, André perdeu espaço. Mas não perdeu a vontade de batalhar para alcançar seus objetivos. Foi aí que a Beija-Flor entrou na vida dele: “Fiquei chateado na época, mas não desanimei. Sai de casa com uma pasta cheia de desenhos, disposto a arrumar um novo trabalho. Fui primeiro na Imwww.beija-flor.com.br
peratriz, e chegando lá fui muito bem recebido, pois havia meu amigo, Clécio Régis, que trabalhava com as esculturas e me deu a maior força junto à direção. Quando entrei na sala do presidente da Verde e Branco, o Sr. Anizio Abrão estava lá para fazer uma visita de cortesia à coirmã. Fomos apresentados. Quando estava indo embora, o Sr. Anizio me chamou para ir com ele até o barracão da Beija-Flor, e chegando lá ele chamou o Laíla e falou: “Laíla, este rapaz, à partir de hoje, vai fazer as camisas da Beija-Flor.”, relembra o ilustrador, com orgulho.
O ilustrador, que também presta serviços para empresas privadas – ilustrando campanhas para o Supermercado Guanabara e para a loja Leroy Merlin -, já atuou no carnaval de São Paulo, desenhando para as escolas Império da Casa Verde, Mocidade Alegre, Peruche e Vai-Vai. Este ano, André vai fazer camisas para Beija-Flor, Vila Isabel, Salgueiro, Grande Rio e Banda da Barra. Com muito trabalho pela frente, o desenhista pontua a importância do Carnaval na sua vida: “O Carnaval me deu condições de
André comentou que o início na Beija-Flor foi bastante intenso. No entanto, a mudança lhe rendeu excelentes frutos, que ele colhe até hoje. Não só no carnaval, mas no ano inteiro: “Faltava um mês para o Carnaval de 1998 e naquele mesmo dia foi me passado a produção das camisas do desfile. Comecei ali mesmo minha melhor trajetória nas confecções de camisas. Atendi a Beija-Flor, a Imperatriz e também consegui fechar um pedido com a Mangueira, através de Dona Célia. Fui campeão em duas escolas (Mangueira e Beija-Flor dividiram o título daquele ano). Ali eu tive a certeza: era a minha hora e tinha tudo para dar certo, e deu. Estou até hoje na Beija-Flor, onde tenho trabalho todos os meses do ano”, afirma.
trabalhar com o que sempre gostei. Eu adorava aulas de artes, pois sempre gostei de desenhar. Através do que eu conquistei com o carnaval, tive a oportunidade de dar bons estudos para minha amada filha Carolina, enquanto esteve junto a nós, e espero continuar a dar ao meu “neto-filho”, Daniel, toda estrutura para ser uma pessoa íntegra. Temos sempre a oportunidade de viajar e conhecer lugares bonitos, importantes e culturais, sempre após o Carnaval, quando tenho um tempinho de descanso”, declara. Poucas pessoas enxergam dessa forma, mas a moda é uma forma de arte. Afirmando essa ideia, André é um artista de mãos cheias e sua obra veste - com muita qualidade, dedicação e amor - o coração dos amantes do Carnaval. Março 2014
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FELIPE LUCENA E ZÉ MARIA BEIJA-FLOR
A IDEIA DE TER UM SAMBA-ENREDO SÓ FOI POSSÍVEL PORQUE NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1930 TORNOU-SE OBRIGATÓRIO QUE AS ESCOLAS APRESENTASSEM UM TEMA PARA O DESFILE. ANTES DISSO, AS AGREMIAÇÕES MAIS PARECIAM COM O QUE CONHECEMOS COMO BLOCOS DE RUA ATUALMENTE.
Hoje em dia, já no fim do ano anterior ao desfile das escolas, temos em mãos o CD ou o MP3 com as gravações dos sambas-enredos. No entanto, décadas atrás essa facilidade não existia. A história começou a mudar há 46 anos, em 1968, quando foi gravado o “Festival de Samba”, o primeiro disco com os sambas de enredo (assim eram chamados) do carnaval daquele ano. Anteriormente, cada agremiação gravava suas músicas separadamente, como podia. Incomodada com a desvalorização do samba em uma época repleta de festivais musicais nas rádios e TVs do Brasil, a gravadora Discnews Relevo RV-201, com o auxilio do agitador cultural Albino Pinheiro - um grande defensor das manifestações populares no Rio de Janeiro, criador do bloco Banda de Ipanema - lançou o LP com os sambas de 1968, que foram gravados ao vivo 58
Revista Beija-Flor de Nilópolis
nos terreiros – antigas quadras das escolas com uma aparelhagem especial para a época, utilizada em discos ao vivo. Albino escreveu o encarte do disco, que além do texto em português tinha uma versão em espanhol e inglês (uma tática da gravadora para deixar o trabalho mais abrangente). Nesse texto, o agitador cultural afirma que os sambas-enredos são como hinos para as escolas - que se renovam a cada ano - por isso a importância de registrá-los em conjunto. Mas nem tudo é interesse em cultura. No ano anterior, o samba-enredo da Mangueira “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, que havia dado à escola verde e rosa o título do carnaval de 1967, ganhou as rádios na voz de Eliana Pittman, tornando-se um sucesso nacional. Esse fato fez os executivos da Discnews enxergarem www.beija-flor.com.br
para a posteridade, visando até um futuro museu do carnaval. A distribuição p a r a vendagem ao público ficou restrita apenas às quadras das escolas e a algumas lojas da cidade do Rio de Janeiro, não sendo, portanto, de âmbito nacional. Por conta dessa baixa distribuição, u m potencial comercial naquele estilo musical, hoje esse registro é considerado uma raridade. É que ainda era marginalizado. importante também frisar um detalhe: o disco No mesmo ano, o Museu da Imagem e do Som foi lançado com duas capas diferentes, uma de (MIS) também lançou um disco com os sambas forma e estilo padrão, e outra com formato de de enredo de 1968, intitulado “As dez grandes álbum, o que o valoriza ainda mais para coleescolas cantam para a posteridade seus sam- cionadores. bas de enredo de 1968”, tendo a gravação de Voltando a um passado ainda mais longínquo, mais três escolas como diferencial. A Discnews vale destacar que a ideia de ter um samba-endecidiu gravar o LP com sete sambas: Dona redo só foi possível porque no início da década Beja, Feiticeira de Araxá – Salgueiro, Sublime de 1930 tornou-se obrigatório que as escolas Pergaminho – Unidos de Lucas, Viagem Pitores- apresentassem um tema para o desfile. Antes ca Através do Brasil – Mocidade Independente, disso, as agremiações mais pareciam com o que Pernambuco: “O Leão do Norte” – Império Ser- conhecemos como blocos de rua atualmente. rano, Tronco do Ipê – Portela, Samba, Festa de Apesar dessa decisão, os sambas ainda não um Povo – Mangueira, Quatro Séculos de Modas eram tão definidos como ouvimos hoje em dia. e Costumes – Unidos de Vila Isabel. O trabalho Era comum as escolas criarem um refrão e o feito pelo MIS conta com essas músicas citadas, restante da canção, muitas das vezes, era canalém de: Uma Visita ao Museu Imperial – Unidos tada de improviso, durante os nada pomposos do São Carlos, Aspecto do Rio e Vida Carioca no desfiles. Às vezes, outras músicas, que não tiséculo XVIII – Independente do Leblon e Home- nham necessariamente ligação com o enredo, nagem a Portinari – Império da Tijuca. eram entoadas. Esse cenário só mudou em O encarte desse disco, escrito por Aroldo Boni- 1946, quando a instituição que comandava o fácio, além de elogiar particularidades de cada carnaval carioca proibiu as improvisações, forescola, como “a batuta de André”, mestre de çando assim desfiles mais organizados para o bateria da Mocidade, “os violões de Cartola e público assistir. Dercy”, se referindo à Mangueira e a “harmonia Os desfiles de carnaval são uma manifestação de conjunto” da Vila Isabel, frisa que “os ritmos cultural que evoluíram sem perder o que há de e as cores” das agremiações falam por si só, dis- melhor em sua essência: no caso, a alegria. Que pensando comentários mais prolixos e mostran- isso sempre sirva de lição para todos nós. Mudar do a necessidade de uma gravação que ficasse sem perder o que existe de bom. Março 2014
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HILTON ABI-RIHAN
Se uma escola de samba precisa de um reino, não há dúvida de ele só sobrevive com qualidade se tiver o respaldo de forças políticas e administrativas. Por sorte – ou merecimento – o berço da Beija-Flor de Nilópolis e regiões próximas podem contar com a participação de lideranças políticas engajadas em proporcionar qualidade e progresso à região. Ciente da importância de uma atuação legislativa comprometida, a revista Beija-Flor de Nilópolis foi ouvir o que tem a dizer o deputado estadual Ricardo Abrão, Beija-Flor de nascença, a respeito da sua atuação legislativa em favor do Estado do Rio de Janeiro. RBFN — Ricardo, você está em seu segundo mandato. Como começou sua vida pública? Ricardo Abrão — Ingressei como chefe de gabinete do prefeito Farid Abrão, em 2001. Na Prefeitura de Nilópolis, fui aprendendo com meu pai, que já estava na vida pública desde 1986, a arte da boa política. Aos poucos fui entendendo como a atuação política é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Fui tomando gosto pelo assunto até que me candidatei a deputado estadual e me elegi, assumindo o mandato em 2003. Hoje estou em meu segundo mandato. RBFN — Sabemos que o deputado estadual atua em todo o estado. No entanto, nossa revista focaliza, especialmente, as questões da Baixada Fluminense. Poderia, então, nos contar algumas das suas contribuições para a melhoria de vida do morador dessa região? RA — No que se refere à Nilópolis, tivemos um enorme avanço e importantes conquistas foram obtidas. Uma delas, e que teve impacto direto na vida do morador de Nilópolis, Mesquita e região, foi a inauguração do novo viaduto, que liga parte da Nova Cidade, perto da Vila Olímpica, até o outro lado da cidade, na divisa de Nilópolis com Mesquita e atendendo os dois municípios. Foi um projeto de minha autoria que exigiu bastante esforço e articulação para que saísse do papel. Há muito trabalho e muita gente competente e comprometida trabalhando nessas ações. RBFN — No passado reclamava-se muito do engarrafamento naquela região. Com o viaduto houve realmente uma melhora? RA — O viaduto ajudou muito, com certeza. Quando o relógio marcava quatro ou cinco horas da tarde, todo 60
Revista Beija-Flor de Nilópolis
o trânsito de Nilópolis ficava parado. Ficava-se mais de uma hora para atravessar de um lado para o outro do município. Hoje temos muito mais carros, não só em Nilópolis, mas em todo o estado do Rio de Janeiro. Por isso, ter a questão da mobilidade urbana como uma prioridade é, antes de qualquer coisa, retribuir com respeito o voto que o eleitor nos confiou. RBFN — Você fala em respeito ao eleitor. Nesse sentido, a saúde é uma prioridade também, não é? RA — Sim. É lógico que é. E em nosso mandato estamos atentos, realizando importantes ações na área de saúde como, por exemplo, a destinação de uma parte do orçamento do estado para a aquisição de três ambulâncias novas para Nilópolis, duas para Mesquita, além de outras tantas para a região do Paraíba do Sul e Sapucaia. Ainda na questão saúde e saneamento básico, reformamos com muita qualidade um reservatório de água abandonado que existia no município. É lógico que não vai acabar com o problema da falta de água em Mesquita, mas vai melhorar muito. Na verdade, as demandas da sociedade são sempre crescentes. Então, nunca o que fizermos será o suficiente. Mas temos que batalhar para oferecer sempre melhores condições de vida para as pessoas. É isso que faço. RBFN — E na educação? Alguma ação digna de nota? RA — Sim. Eu cresci em um ambiente onde se valorizava muito a educação escolar. Meus pais sempre me incentivaram e cobraram de mim esforços e resultados. Além disso, acompanho de perto as atividades que meu Tio Anizio realiza na Creche, no Educandário e no CAC relacionadas à educação e capacitação. Educação de qualidade é a base de uma nação forte e de um povo feliz. Por isso, dar uma contribuição legislativa na área www.beija-flor.com.br
da educação é uma das minhas prioridades. No meu mandato conseguimos viabilizar ônibus escolares para algumas cidades, o que irá contribuir em muito para a redução da evasão escolar. Criamos, também, o projeto para que o estado passasse a instalar salas de música em toda a rede estadual de ensino.
Enfim, a grande reforma da Quadra da Beija-Flor... Através de esforços concentrados, tivemos a felicidade de realizar a reforma da quadra da nossa amada Beija-Flor. Agora, estamos fazendo a obra nos camarotes, isto é, o segundo lance. Estamos convictos que teremos, novamente, a maior e melhor quadra de escola de samba do Brasil, sendo um motivo de grande orgulho para a toda a comunidade. Sem dúvidas a quadra ficou simplesmente linda e maravilhosa. Ricardo Abrão
Vice-Presidente Executivo Administrativo
RBFN — No esporte, você teve alguma atuação concreta? RA — Tio Anizio montou uma academia gratuita perto do parque aquático da Beija-Flor de Nilópolis voltada para a terceira idade. Para que as senhoras e os senhores interessados em praticar esportes tivessem a segurança e o cuidado que essas academias exigem, conseguimos através do projeto Rio 2016, empregar profissionais com carteira assinada – um professor, um agente da área de saúde, um técnico e um ajudante – para ajudar às pessoas praticantes de ginástica na academia da terceira idade e incentivar a prática do esporte com responsabilidade. É um projeto do governo para motivar a prática esportiva inspirado nas Olimpíadas. Estou trabalhando para conseguir mais academias da terceira idade para Nilópolis também. RBFN — Entendemos que são diversos os focos de um legislador. No entanto, quais são suas prioridades? RA — Minha prioridade é viabilizar meios de oferecer melhores condições de vida ao cidadão fluminense. Nesse sentido, através da criação de leis e de emendas, faço o que entendo ser o melhor para meus eleitores e para a população fluminense. Um
exemplo disso foi minha atuação como presidente da comissão de trabalho, que exerci por dois anos, na qual tive uma participação muito importante da definição do piso salarial do estado. Hoje, estou na comissão de minas e energia, e nela busco cobrar das empresas de energia, através do diálogo respeitoso, que prestem bons serviços à sociedade. RBFN — Além da atuação legislativa, você é vice-presidente da Beija-Flor. Dá para conciliar e ainda dar uma contribuição à escola? RA — A Beija-flor tem uma história muito bonita. Era um bloco que cresceu e se tornou essa potência. Nossos tios ingressaram na agremiação e realizaram importantes mudanças que a tornaram a principal escola de samba do mundo. Tio Nelson, Tio Anizio – um apaixonado pelo carnaval -, meu pai, o Farid. Todos amando a agremiação e fazendo o que podiam e podem para que esteja sempre no topo, oferecendo à sua comunidade os espaços que ela merece. Hoje, a minha geração – eu e meus primos Nelsinho e Abraãozinho – tem a responsabilidade de dar continuidade ao que a família Abrão David tem realizado. Hoje sou vice-presidente da escola e me empenho em ser útil, como no caso da reforma da quadra. A quadra da Beija-Flor já estava precisando de uma melhoria e consegui, com ajuda de empresários e parceiros, reformar a quadra. Ver a comunidade sambando e cantando naquele espaço remodelado me deixou muito feliz. Março 2014
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MIRO LOPES
O LEGADO QUE CADA UM CONSTRÓI É QUE PODE TORNÁ-LO ETERNO. ASSIM A VIDA TRANSCENDE A MORTE. VAI-SE O CONSTRUTOR E FICA A HERANÇA: SUA OBRA, IMAGEM E HISTÓRIA. CERTAMENTE POR ISSO CERTAS TRIBOS E RELIGIÕES CELEBREM MAIS O QUE FOI CONSTRUÍDO EM VIDA, COM MUITA REZA, FESTA E CANTORIA, DO QUE DERRAMANDO LÁGRIMAS.
E cada povo promove o gurufim a sua maneira. Uma delas é através da celebração e exaltação do legado com o qual todos são beneficiários, herdeiros ou não: uma história, um exemplo. Uma vida em azul e branco.
ZEZA mendonça o esplendor do Carnaval
Há 61 anos, em Paudalho-PE, nasceu Zeza. No registro civil era Maria José Mendonça da Silva. Mas o nome artístico de Zeza Mendonça é que imortalizou essa pernambucana como um ícone do Carnaval, nos palcos dos principais teatros e clubes do Brasil ao lado de nomes que escreveram um capítulo de luxo, beleza e encantamento do Carnaval 62
Revista Beija-Flor de Nilópolis
carioca, participando dos Concursos de Fantasias de Luxo e Originalidade. Conquistou vários títulos, exibindo fantasias de Jésus Henrique. Depois conheceu Joãosinho Trinta. “Cheguei e disse para o João que queria ser destaque”. Começou desfilando no chão. A primeira participação como destaque foi em “A criação do mundo na tradição Nagô”, em 1978. “Quando me vi no carro, você não tem noção da emoção que foi”, disse à Revista Beija-Flor. Juntos – Zeza e João – organizaram vários eventos internacionais, desde uma escola de samba com barracão e tudo, tudo até oficina de fantasias no centro de Paris. Sucesso total. Empresária em sentido amplo, Zeza produzia, com recursos próprios, suas fantasias e era sua própria agente artística. Fechando contratos nacionais e internacionais, www.beija-flor.com.br
esteve em Paris, Mônaco, Hungria, Indonésia, Tailândia, Filipinas, México, Tchecoslováquia, Alemanha, Itália, Hong Kong, Japão, Canadá e Bolívia, exibindo seus figurinos com leveza e fidalguia. Maria do Carmo, sua filha única, que desfilou na ala das Baianinhas, conta que a mãe “tinha um amor sem medidas pela Beija-Flor e levava à sério seu compromisso de desfilar como destaque. Fazia de tudo para que sua fantasia estivesse à altura da escola. Durante os 38 anos de Beija-Flor, acompanhou, de avião ou ônibus, as apresentações da escola, sempre integrada com os grupos do passado e do presente. Carminha acrescenta: “só tenho a dizer que minha mãe era uma pessoa maravilhosa, amiga das pessoas, com um coração enorme e uma predisposição absoluta para ajudar as pessoas. Lembrava sempre dos amigos, datas de aniversário e adorava enviar cartões a todos. Ajudava as pessoas e sempre incentivava os iniciantes do universo do carnaval. Tinha três papagaios. Um deles, o Gordinho, pertenceu ao Joãosinho Trinta. Eram seus amores, com os quais dividia seu apartamento em Ipanema.”
Ary Rodrigues no camarote do céu
Há pessoas que se identificam integralmente com o universo em que vivem, embora aparentemente não nos remetam a ele no primeiro instante. O senhor Ary Rodrigues é uma dessas pessoas. Uma grandeza maior do que aparentava. Diariamente assinava o ponto na quadra, que percorria canto a canto com seus passos lentos, olhar observador, cabelos enluarados, sempre vestindo uma imaculada camisa da Beija-Flor, incontestavelmente sua segunda ‘pele’ e prova de uma de suas maiores paixões e muito mais importante do que o cargo que lhe coube durante muitos anos: o de presidente do Conselho Deliberativo. Na rotina de ir à quadra, diariamente, se repetiam as reverências de todos os empregados aos quais ele sempre retribuiu com um gesto ou uma palavra gentil. ‘Seu’ Ary se tornara patrimônio da instituição muito antes que os cabelos enluarados denunciassem sua segunda maioridade. Nos mais antigos, via-se a admiração dos que acompanharam sua trajetória desde que Março 2014
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selou seu compromisso de fidelidade a Azul e Branco, onde foi ‘puxador de corda’ (tarefa que cabia aos peões para manter os integrantes da escola separados da população que queria ver o desfile). Esse foi seu batismo na escola nilopolitana. Batizado que se concretizou em lealdade à família Abrão David. E muito especialmente ao presidente de honra, Anizio, que tinha como “meu amigo, meu irmão”, como fazia questão de frisar e repetir. Seis décadas se foram... Com a mudança do barracão para a Cidade do Samba, as visitas de Seu Ary ao barracão passaram a ser regulares. Das amplas janelas ele
Era um leão na defesa da prole, e – no que pese sua estatura média, seus cabelos prateados e a calma assimilada pelos seus 80 anos de vida – um gigante que se ‘alevanta’ a qualquer tempo e hora em defesa da “Princesa da Passarela”. Acima de qualquer dúvida, Seu Ary é Beija-Flor. Desses beija-florenses ‘azulaço’ ferrenho, azulão apaixonado, ou simplesmente um Beija-Flor azul da cor do céu, este céu que agora, certamente, abriga um dos mais verdadeiros escudeiros da “Maravilhosa e Soberana”, um amigo dos seus amigos, desses que a canção recomenda “guardar do lado esquerdo do peito”.
vislumbrava o bairro da Gamboa, o Morro do Livramento, parte da Providência. Olhar perdido no infinito azul da manhã ensolarada e seu pensamento viaja no emaranhado de lembranças. Pesca na memória algumas vivências, ali onde sua criancice jogou bola e soltou pipa antes de a família se mudar de alma e bagagem para Nilópolis. Ali sua criancice conheceu o berço do samba. Seu Ary cita alguns blocos, corsos, sociedades e escolas de samba que enrolaram a bandeira. Pausa. E retoma as peraltices de moleque, sem melancolia. Mas a Beija-Flor é seu bem maior. Dedicação que se confunde com seu amor pela família Dona Nilza Aparecida (com quem desfilava, integrando a “Ala Amigos do Rei”), os filhos Ari José, Jorge Luís (Doda), Marta, Fernando (falecido) e Miriam, os doze netos e treze bisnetos.
Márcio dos Santos o maestro da disciplina
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Marcio Silva dos Santos, 47 anos, despontou como atuante presidente das alas da comunidade nilopolitana. Escolhido por Laíla, Márcio se transformou num importante elo entre os componentes e a diretoria de carnaval, promovendo a total integração entre esses dois segmentos – base e topo. Cabia a ele a tarefa de coordenar, orientar, disciplinar e motivar a comunidade para o bom desempenho do conjunto de ponta a ponta da passarela do samba. E para que líderes e componentes estivessem afinados, Márcio promovia reuniões todas as semanas para trocar informações, resolver impasses e fortalecer www.beija-flor.com.br
os laços, ora com todas as alas da comunidade, ora com suas lideranças. Márcio entendia que “está na comunidade a força e a raça de toda e qualquer manifestação popular e expressão da tradição e cultura de qualquer escola”. Não surpreende que Márcio, absorvendo bem o espírito da coisa, tenha se tornado um respeitado e admirável líder de todos, de quem exigia o cumprimento das determinações da diretoria, entre elas a frequência e o interesse por um grande desfile. O filho da Dona Maria Rita Silva dos Santos dedicou mais de duas décadas a tarefa de preparar várias alas e centenas de componentes (em número cada vez maior de ano para ano), com zelo por todos e empenho extraordinário.
O samba e, muito especialmente, a Beija-Flor conquistaram lugar cativo em seu coração desde a infância. À escola ele veio se chegando ainda moleque, pulando o muro para assistir aos ensaios. Aos poucos, graças ao seu jeito simples e educado. Deixou seu emprego de auxiliar de escritório para ser aderecista ainda adolescente. Dona Maria Rita ressalta o “bom filho que sempre foi e homem de fé”. Era responsável pelo Centro Espírita São Sebastião, devoto de Ogum, depositário de sua crença. Os irmãos Flávio, José Francisco e Márcia atestam sua lealdade à família, aos amigos e à Beija-Flor, e Simone, sua auxiliar direta nessa empreitada, confirma o maior apreço que Márcio tinha pelas sobrinhas, Stefanny (12 anos), que levou para a ala mirim e Marcelly (2 anos).
FELIPE FERREIRA
DEDICO ESTE TEXTO AOS COLEGAS JORNALISTAS DE CARNAVAL E SUA PAIXÃO POR UMA FESTA TÃO IMPORTANTE PARA NOSSA IDENTIDADE CULTURAL
Não se pode falar em carnaval no Brasil sem se destacar a importância dos meios de comunicação. No início do século XIX, os primeiros jornais do país já tinham papel de destaque na verdadeira batalha travada entre o antigo Entrudo (de origem portuguesa e considerado brutal, grosseiro e indigno de um país civilizado) e o novo Carnaval (festa sofisticada, importada da França, consistindo basicamente de bailes e passeios de carruagem). Lá pelos anos 1840, é nestes mesmos jornais que começam a aparecer os primeiros elogios aos bailes parisienses, incentivando a transformação das antigas sociedades musicais em “sociedades carnavalescas” dedicadas a promover e frequentar os bailes mascarados que começavam a se organizar no período momesco. 66
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A transformação das sociedades carnavalescas em grupos organizados especialmente para desfilar pela cidade tem seu momento fundador no desfile do Congresso das Summidades Carnavalescas, em 1855, cuja importância para a história da folia reside, em grande parte, na enorme divulgação que o fato obteve nos jornais da época. A partir de então, e durante toda a segunda metade do século XIX, páginas inteiras eram publicadas descrevendo com detalhes os roteiros, as alegorias e os temas de cada um desses grupos. Alguns dos quais se tornariam as chamadas Grandes Sociedades. O interesse da imprensa pelo carnaval se refletiria no aumento de comentaristas especializados, conhecidos como cronistas carnavalescos, que teriam importante papel na estruturação do carnaval www.beija-flor.com.br
na primeira década do século XX a partir da organização de concursos entre os grupos populares que povoavam as ruas cariocas nos dias de folia. São estes concursos, aliados às matérias e reportagens tratando do tema carnavalesco, que iram ajudar os múltiplos grupos que se reuniam sob o nome de Pequeno Carnaval a se organizar nas três categorias que a historiografia carnavalesca consagrou: ranchos, cordões e blocos. O papel da imprensa na formação das escolas de samba é igualmente notável. São os jornais que irão promover e difundir os valores, formatos e conceitos desses grupos carnavalescos recém-formados destacando sua tradicionalidade e musicalidade. Aliada a difusão nacional do ritmo samba pelas rádios, a explosão de popularidade das escolas de samba nos anos 50 estaria relacionada à divulgação maciça dos novos espaços de lazer (as quadras de ensaio) e da imagem (em fotos e ilustrações) dos personagens que tomavam conta do imaginário brasileiro: a passista, o ritmista e o sambista, entre outros. A partir dos anos 70, a disseminação televisiva dos desfiles das escolas de samba cariocas transformaria esses grupos carnavalescos em
verdadeiros símbolos nacionais, envolvendo todo o país na torcida por sua agremiação de coração, fazendo desaparecer antigos grupos e abrindo espaço para novas escolas. No final do século XX, a tecnologia da transmissão ao vivo propiciaria a difusão dos desfiles cariocas em escala planetária, impondo novas temáticas e estéticas às escolas de samba. O século XXI, marcado, já em seus primeiros anos, pela explosão da Internet, traria toda uma leva de mídias eletrônicas para o desfile no Sambódromo. Listas e fóruns de discussão, mídias sociais, jornalismo on-line e interação com o leitor incentivariam a reunião de interessados no tema carnavalesco e ampliariam a discussão sobre os caminhos do carnaval. Novas perspectivas se abrem, como aquelas propostas pelos blocos que ocupam o Rio de Janeiro semanas antes do carnaval oficial e que tiveram na imprensa um de seus principais incentivadores. Em suma, não é possível falar em carnaval no Rio de Janeiro sem se destacar o papel da mídia. Esta, para o bem ou para o mal, está intrinsecamente ligada aos caminhos da folia em nossa cidade. Negar sua importância é negar a própria dinâmica do carnaval. E negar o carnaval é negar a própria vida. ____________ Felipe Ferreira é jornalista, coordenador do Centro de Referência do Carnaval (Rio de Janeiro), professor do Instituto de Artes e do Programa de Pós-graduação em Artes da Uerj e autor de diversos livros sobre carnaval, entre eles Escritos carnavalescos, Inventando carnavais e O livro de ouro do carnaval brasileiro. Março 2014
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LEONARDO LEGEY
NÃO HÁ COMO ESQUECER O RECONHECIMENTO AO CLÁSSICO SAMBA-ENREDO DA UNIDOS DE LUCAS, “SUBLIME PERGAMINHO”, QUE, MAJESTOSAMENTE, CONTA O FIM DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL, DESDE A PRIMEIRA LEI, DE POUCO EFEITO, ATÉ A ÚLTIMA E DEFINITIVA LEI ÁUREA, QUE PÔS UM FIM DEFINITIVO.
É comum ouvirmos falar que o brasileiro tem memória curta, principalmente quando o assunto é cultura. Diga lá quando o assunto é samba-enredo, que tem um espaço reduzido na programação das rádios e emissoras de TV. Essa sazonalidade que os meios de comunicação dão aos assuntos de carnaval – entre eles o samba-enredo – torna natural e digno de preocupação que, com o passar dos anos, muitas obras-primas que se firmaram como clássicos caiam no esquecimento. Isso sem falar no público mais jovem, que muitas vezes não teve a oportunidade de ser apresentado a esses clássicos. Essa atual distância do público com as grandes composições de samba-enredo foi o principal fator que levou o radialista Hilton Abi-Rihan a reunir no livro “Sambas Enredos que Marcaram o Brasil” as principais pérolas desse estilo musical que encanta o mundo anualmente. 68
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Hilton Abi-Rihan, que como radialista já trabalha com carnaval há mais de quatro décadas, fez um apanhado de sambas, após consultar grandes amigos e conhecedores do assunto, para assim criar uma lista, na medida do possível, justa. Maria Augusta Rodrigues, Osmar Frazão, Hiram Araújo, Adeozon Alves, Rubens Confete, Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Ricardo Cravo Albin, Luiz Leite, Dalila Vilanova, Manoel Alves, Aydano André, Jorge Coutinho, Ubiratan Guedes, Anizio David e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, foram alguns dos amigos, e conhecedores de carnaval, que deram suas opiniões para a produção da obra. De acardo como o advogado e presidente do Conselho Deliberativo da Liesa, Ubiratan Guedes, “o livro foi muito bem feito, com um trabalho de pesquisa bem interessante. Ao ler a obra, relembrei importantes momentos da minha vida www.beija-flor.com.br
Hélio Turco e Carlinhos Madrugada contam histórias que viveram. em tantos anos como compositores, sendo ouvidos atentamente pelo jornalista José Maria Souza e pelo advogado Ubiratan Guedes.
no samba e no carnaval. Só por isso o livro já vale muito. Mas vejo que essa obra pode, também, ser um poderoso aliado no resgate da nossa história — algo fundamental e necessário. Tenho certeza de que esse livro irá motivar intérpretes a gravarem sambas que estão registrados nessas páginas. E será sucesso na certa” A publicação é aberta com uma composição de Penteado, Mano Décio e Estanilau Silva, do ano de 1949. O samba, “Exaltação a Tiradentes”, que deu a Império Serrano o título desse carnaval, fala do herói nacional, principal nome da Inconfidência Mineira, que lutou contra os abusos do imperador brasileiro e terminou enforcado e esquartejado. Na sequência do livro, o autor lembra outros sambas-enredos das décadas de 1950 e 60, até chegar ao ano de 1964. A Império Serrano não foi campeã desse lendário carnaval, mas a música que embalou a escola na avenida é considerada por muitos o maior samba da história. “Aquarela do Brasil” dificilmente será esquecida, porém, é sempre bom lembrar que essa bela letra foi escrita por Silas de Oliveira, consagrado compositor tupiniquim, que quando criança frequentava as rodas de bambas escondido do pai, um pastor de uma igreja protestante que achava que samba era coisa do diabo. Não há como esquecer o reconhecimento ao clássico samba-enredo da Unidos de Lucas, “Sublime Pergaminho”, que, majestosamente, conta o fim da escravidão no Brasil, desde a primeira lei, de pouco efeito, até a última e definitiva Lei Áurea, que pôs um fim definitivo. Os mais antigos confortam-se ao relembrar dessa bela poesia, enquanto os mais novos podem ter contato com uma narração alegórica e poética desse período tão importante para a história do Brasil. “Sambas Enredos que Marcaram o Brasil” é uma obra que pretende imortalizar nas suas páginas os nomes de grandes gênios da nossa cultura popular na eterna guerra para não deixar o samba morrer. Março 2014
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FELIPE LUCENA
A MALANDRAGEM É UM RECURSO DE ESPERTEZA UTILIZADO POR INDIVÍDUOS DE POUCA INFLUÊNCIA SOCIAL, OU SOCIALMENTE DESFAVORECIDOS. POR CONTA DISSO ESSE COMPORTAMENTO MUITAS VEZES É VISTO COM SIMPATIA. AO MALANDRO CABE MUITAS VEZES O PAPEL DE HERÓI.
Adorado ou odiado, legal ou ilegal, certo ou errado, malandro que se preze tem uma peça de roupa única em seu armário. Alheio ao que se pensa a seu respeito, esse personagem da cultura popular brasileira sempre leva em cima da cabeça o bom e velho chapéu Panamá. Essa relação malandro e chapéu surgiu na primeira metade do século XX quando, além desse lendário assessório, a clássica malandragem, que vivia perambulando pelas ruas dos ensolarados grandes centros do Brasil (principalmente Rio de Janeiro), trajava camisas listradas e calças e sapatos brancos. Historicamente, os malandros vivem de pequenos golpes e não acreditam no trabalho como um modo de vida confiável. Em contrapartida, são sujeitos sensíveis e sentimentais, galantes, cavalheiros e invejáveis amantes. 70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A malandragem é descrita no imaginário popular brasileiro como uma ferramenta de justiça individual, embora os malandros, muitas vezes, sejam chamados de “vagabundos”. Perante a força das instituições opressoras, o malandro se vira como pode. A malandragem é um recurso de esperteza utilizado por indivíduos de pouca influência social, ou socialmente desfavorecidos. Por conta disso esse comportamento muitas vezes é visto com simpatia. Ao malandro cabe muitas vezes o papel de herói, ainda que se aproxime mais de um anti-herói. DUELO DE “FERAS” Boêmio e frequentador assíduo de rodas de samba, o malandro foi diversas vezes imortalizado em canções. Uma dessas músicas mais simbólicas é “Lenço no Pescoço”, escrita por www.beija-flor.com.br
Wilson Batista e gravada por Sílvio Caldas, em 1933. Nos versos, Wilson descreveu o comportamento da malandragem em frases como “Meu chapéu do lado / Tamanco arrastando / Lenço no pescoço / Navalha no bolso / Eu passo gingando / Provoco e desafio / Eu tenho orgulho / Em ser tão vadio. / Sei que eles falam / Deste meu proceder / Eu vejo quem trabalha / Andar no ‘miserê’ / Eu sou vadio / Porque tive inclinação / Eu me lembro, era criança / Tirava samba-canção”. Dando uma de “caxias” - sujeito trabalhador e “certinho”, o aparente oposto do malandro -, Noel Rosa escreveu “Rapaz Folgado”, em resposta ao samba de Wilson: “Deixa de arrastar o teu tamanco/ Pois tamanco nunca foi sandália/E tira do pescoço o lenço branco/Compra sapato e gravata/Joga fora esta navalha que te atrapalha/Com chapéu do lado deste rata/Da polícia quero que escapes/Fazendo um samba-canção/Já te dei papel e lápis/Arranja um amor e um violão”. SINAL DOS TEMPOS Apesar de toda a história da malandragem, atualmente não é tão comum ver um malandro trajado de forma clássica, com camisas com listras, calças e sapatos brancos e, é claro, chapéu Panamá. Exceto no carnaval, quando até o mais caxias dos homens quer viver quatro dias de malandro. De acordo com Vanuza, gerente da loja Chapelaria do Porto, especializada em chapéus, nessa época do ano cerca de 100 Panamás são vendidos por dia. “É uma peça que vende muito um pouco antes e durante os dias de folia. Lucramos bastante com isso, as vendas sobem cerca de 80% nesse período. É engraçado que todo tipo de gente compra, homens, mulheres, crianças, todos usam o chapéu Panamá”, disse a gerente. Há também uma relação entre os malandros clássicos de chapéus e os jogos de azar. Bons no carteado, nos dados e no jogo, no Brasil muitos membros da malandragem fizeram riqueza com essas práticas. Esses indivíduos praticaram caridade e investiram parte dos seus ganhos em diversas atividades culturais, como no samba, o que lhes conferiu uma imagem romântica de benfeitores e defensores dos mais pobres.
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MADE IN BRAZIL Extremamente popular, o assessório indispensável do malandro brasileiro foi gravado também no mundo dos desenhos. Zé Carioca, personagem criado por Walt Disney na década de 1940, se veste como a clássica malandragem e não larga seu pandeiro, tampouco tira seu chapéu Panamá da cabeça. O chapéu também se faz presente nas religiões. Zé Pelintra, personagem folclórico e espiritual das mitologias afro-brasileiras e regionais da umbanda e do catimbó, sempre é representado com o Panamá na cabeça e trajando roupas de malandro. Uma contradição histórica é o fato de o ex-presidente brasileiro Getúlio Vargas gostar de usar chapéu Panamá. Lembrado pelas leis em prol dos trabalhadores e por ter sido um estadista de pulso firme, Getúlio estava bem longe dos malandros que corriam do trabalho para marcar presença em uma boa roda de samba. Santos Dumont foi outro brasileiro conhecido, e que não tinha nada de malandro, mas que costumava aparecer com um Panamá na cabeça. Em quase todas as fotos históricas do inventor do 14 Bis lá está ele, com o chapéu como indispensável assessório. Apesar de seu nome, o chapéu Panamá é fabricado no Equador e é conhecido por lá como “El fino”. O apelido que virou nome se deu em 1906 quando, em visita ao Panamá, Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos na época, desfilou pelo famoso canal panamense utilizando o chapéu em questão. Em razão deste episódio o assessório passou a ser denominado com a atual alcunha. Com ou sem a clássica malandragem, no Brasil, no Equador ou no Panamá, o mais importante é que as tradições da cultura nacional não saiam nunca de nossas memórias, ou cabeças, como o chapéu Panamá.
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Lenço no Pescoço Wilson Batista Meu chapéu do lado Tamanco arrastando Lenço no pescoço Navalha no bolso Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho Em ser tão vadio Sei que eles falam Deste meu proceder Eu vejo quem trabalha Andar no “miserê” Eu sou vadio Porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão E eles tocam E você canta E eu não dou
Rapaz Folgado Noel Rosa Deixa de arrastar o teu tamanco Pois tamanco nunca foi sandália E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata Joga fora esta navalha que te atrapalha Com chapéu do lado deste rata Da polícia quero que escapes Fazendo um samba-canção Já te dei papel e lápis Arranja um amor e um violão Malandro é palavra derrotista Que só serve pra tirar Todo o valor do sambista Proponho ao povo civilizado Não te chamar de malandro E sim de rapaz folgado
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REDAÇÃO
“Quando adentro o sambódromo, uma parte de mim vai ao infinito enquanto a outra tenta compreender que sentimento é esse. É isso. Algo que não se explica. Se sente” Alessandra Pirotelli é a prova de que a Beija-Flor é uma escola familiar. Irmã de Fabíola David, esposa do patrono da agremiação nilopolitana, ela foi o destaque principal da Azul e Branco de Nilópolis, quando sua irmã não pôde executar a tarefa. Neste ano, Alessandra será destaque do carro que fala sobre o papel da China na história da comunicação. Além de desfilar seu talento na avenida, Pirotelli é diretora da Camarote Brasil, uma empresa que promove o nome da Beija-Flor de Nilópolis para o resto do mundo. Com mais de 15 anos de existência, a Camarote Brasil Produções e Eventos promove shows e eventos corporativos no Brasil e no exterior. Recentemente, a empresa passou a realizar um trabalho de promoção da cultura brasileira em outros países, especialmente com a Beija-Flor: “A aceitação da escola no exterior é formidável. Antes de iniciarmos essa promoção, não podíamos imaginar o quão a Beija-Flor é querida no restante do mundo, por um segmento de brasileiros que vivem lá fora. Estivemos na China por três anos seguidos, em 2013 realizamos uma turnê por várias cidades chinesas. Depois Gabão e Macau também estiveram no nosso roteiro”, conta Alessandra. Entretanto, a ótima impressão causada pela Azul e Branco de Nilópolis não contagia só brasileiros que vivem no exterior. Os gringos, em suas terras natais, também caem no samba ao som da Beija: “Ao longo desses anos, a Camarote Brasil desenvolveu com a Beija-Flor um roteiro e uma maneira de apresentar um show de música de samba, cantado em uma língua tão diferente como o português que é um ritmo que parece estar na memória afetiva desses estrangeiros, embalados por uma dança com uma energia que eles não conseguem explicar, mas que marcam a alma como poucas outras no planeta. É uma experiência incrível. Ver outras nações emocionando-se com nossa cultura. E a Beija-Flor é muito especial nesse ponto”, afirmou.
Alessandra Pirotelli no carro Abre-Alas durante o Carnaval de 2013. Se por um lado Alessandra leva para o resto do mundo o encantamento do samba, por outro, esse ritmo musical fascinante mexe muito com ela: “Desfilar na Beija-Flor para mim é abrir um espaço na alma para a catarse – essa que é inerente ao ser humano –, essa que não se explica mas que se sente no fundo da não consciência. Quando adentro o sambódromo, uma parte de mim vai ao infinito enquanto a outra tenta compreender que sentimento é esse. É isso. Algo que não se explica. Se sente” garante. A família Beija-Flor é enorme em tamanho e amor e se depender de pessoas como Alessandra esses são quesitos que só vão crescer e fazer da agremiação cada vez mais uma escola nota 10, dentro e fora da avenida. Março 2014
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PAULO SENISE
A CIDADE MARAVILHOSA SE PREPARA PARA RECEBER COM MAIS CONFORTO E QUALIDADE OS SEUS VISITANTES COM UMA NOVA SINALIZAÇÃO TURÍSTICA. A IDENTIDADE VISUAL A SER ADOTADA TERÁ CONCEITO SEMELHANTE AO UTILIZADO NOS PRINCIPAIS DESTINOS TURÍSTICOS DO MUNDO, COMO LONDRES E NOVA YORK.
Com o desembarque da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas de 2016, somos a bola da vez. Diversas oportunidades em toda a cadeia produtiva, que envolve vários setores, estão sendo geradas em todo o Brasil. O turismo, em especial, será um dos mercados mais beneficiados. A expectativa do setor turístico carioca, por exemplo, é ver o fluxo de turistas subir cerca de 20% nos próximos anos. Já estimativas do Ministério do Turismo (MTur) projetam a criação de 170 mil empregos em função desses grandes eventos, além da visita de 500 mil turistas. A cidade tem recebido novos investimentos nas áreas de turismo e cultura, como o projeto de revitalização da Zona Portuária, a reforma do Maracanã, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Amanhã e o Museu da Imagem e do Som (MIS). 74
Revista Beija-Flor de Nilópolis
O projeto de revitalização da Zona Portuária, que promete modificar a cara do mercado imobiliário do Rio de Janeiro, inclui importantes transformações no sistema viário da região, cuja população deve quintuplicar segundo estimativas, alcançando 100 mil habitantes. A principal mudança, já em andamento, é a demolição do Elevado da Perimetral. Ela faz parte de uma nova lógica para o trânsito da região, com a Avenida Rodrigues Alves passando a ser uma via expressa e o surgimento da Avenida Binário do Porto. Com três pistas de ida e volta, a Avenida Binário do Porto vai dividir espaço com o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – sistema de transporte que terá interligações com ônibus, metrô, trens, barcas, BRTs e o aeroporto Santos Dumont - terá www.beija-flor.com.br
investimento superior a R$ 1 bilhão. Quase metade deste valor receberá recursos aportados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A Cidade Maravilhosa também se prepara para receber com mais conforto e qualidade os seus visitantes, com uma nova sinalização turística. A identidade visual a ser adotada terá conceito semelhante ao utilizado nos principais destinos turísticos do mundo, como Londres e Nova York. O projeto está em fase de licitação e a assinatura do contrato e a implantação da sinalização estão previstos para acontecer ainda este ano, com investimentos de cerca de R$ 15 milhões, através de parceria da Secretaria Municipal de Turismo com o Ministério do Turismo. O projeto permitirá que o turista consiga se orientar com autonomia. Para isso, serão contemplados os locais da cidade que recebem maior número de visitantes, assim como as regiões que servirão de infraestrutura de apoio para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas. As peças (como placas, totens e mobiliários urbanos) serão distribuídas nas seguintes áreas: Zona Sul, Centro, Maracanã e adjacências, e Barra da Tijuca - Zona Oeste. O parque hoteleiro também conta com um significativo crescimento. A cidade do Rio de Janeiro conta com cerca de 33.500 mil quartos, em todas as categorias. Desses, cerca de 22 mil são quartos de hotelaria convencional. Os demais são albergues, pousadas, cama e café, entre outras.
Cerca de 5 mil novos quartos já estão em processo de construção, e outros 5 mil já estão licenciados pela Prefeitura. A Associação de Hotéis do Rio (ABIH-RJ) estima que até 2016 entrem em operação cerca de 15 mil novos quartos. Em relação à hotelaria, de acordo com dados da ABIH-RJ, estima-se que cada novo quarto de hotel gera cerca de quatro empregos, sendo um direto e três no setor de receptivo turístico. Até o momento, estima-se que a ocupação hoteleira para o período da Copa do Mundo seja de 90%. Sem dúvida, essas conquistas proporcionam à cidade não apenas melhorias na sua infraestrutura, mas dão maior credibilidade, motivando investimentos e fortalecendo a imagem positiva da Cidade Maravilhosa, gerando cada vez mais negócios. Com isto, não há dúvidas de que, embora a Copa e as Olimpíadas sejam as meninas dos olhos, inúmeros outros eventos virão ao longo dos próximos anos, desencadeando novas oportunidades para os brasileiros e criando novos palcos para os produtos culturais que tão bem representam a nossa miscigenação. Dificilmente outra cidade do mundo terá um calendário de eventos como o do Rio neste momento. Que venham os turistas! ___________ Paulo Senise é Diretor Comercial do Rio Convention & Visitors Bureau, graduado em Hotelaria e Turismo pela Faculdade de Turismo Centro Unificado Profissional no Rio de Janeiro com especialização em Gestão de Investimento e Financiamento em Hotelaria pela Universidade de Cornell – Distrito de Ithaca, Nova Iorque, EUA.
REDAÇÃO
“Temos a Selminha Sorriso como nossa madrinha e grande incentivadora. Atualmente, somos mais de 100 integrantes, de várias partes do país e do mundo,”.
De acordo com seus organizadores, o Grupo O Beija-Flor pode ser somente uma lista de discussão, um fã-clube ou apenas um website com informações e notícias ligadas à Beija-Flor. O fato é que amor e amizade não se explicam e são esses sentimentos que movem essa iniciativa que no ano 2000 motivou a criação de um website para que o nome da Escola de Nilópolis pudesse ganhar ainda mais força na internet e que hoje em dia soma cada vez mais seguidores no Facebook. A ideia para a página na web partiu de três pessoas que participavam de fóruns de debate sobre a Beija-Flor na rede mundial de computadores. Hoje, o Grupo O Beija-Flor tem mais de 13 mil curtidas no Facebook, a rede social mais popular do Brasil. “Tudo começou quando Eugenio (que morava na época no Ceará), Luciane (carioca) e Leandro (que morava em Minas) se 76
Revista Beija-Flor de Nilópolis
conheceram na Internet e resolveram criar um website sobre a agremiação”, frisa Alan Diniz, jornalista de 37 anos, que entrou para o grupo logo após a criação por intermédio da amizade que tinha com Eugenio. No início, o Grupo O Beija-Flor era um website que continha até reportagens sobre os componentes e questões ligadas à agremiação de Nilópolis. Entretanto, ele foi desativado, o que não enfraqueceu nem a amizade nem o projeto. Membros do grupo contam que o principal legado da iniciativa é a união que se formou entre seus componentes, que venceram a barreira do mundo virtual e passaram a organizar encontros e reuniões constantes entre os seguidores do projeto de todo o Brasil. “Alguns de nós se encontraram no Carnaval de 2001 e aos poucos os encontros foram aumentando. O nosso ápice foi no Carnaval de 2004, quando se www.beija-flor.com.br
juntaram os mais antigos e os mais novos, do país inteiro, e passamos o Carnaval todos juntos. Nos infiltramos em uma ala em que alguns desfilariam e curtimos bastante o último ensaio na quadra e o teste de luz e som na Sapucaí. Após isso, nos tornamos uma família com encontros praticamente mensais”, lembrou Felipe Andrade, geógrafo de 30 anos. Esse sentimento de carinho é tão grande que se espalha por membros da escola e até por pessoas de fora do Brasil: “Temos a Selminha Sorriso como nossa madrinha e grande incentivadora. Atualmente, somos mais de 100 integrantes, de várias partes do país e do mundo, contando até mesmo com torcedores que nasceram fora do Brasil, mas que se apaixonaram pela escola, como Carlos Alonzo, que nasceu em El Salvador e atualmente mora nos Estados Unidos”, ressaltou Alan Diniz. Essa relação agremiação/fã-clube também acontece na via inversa. Se por um lado Selminha tem uma relação direta com o grupo, por outro Ivson Monteiro de Gusmão, hoteleiro de 44 anos, é um dos instrutores do Projeto Sonho do Beija-Flor. “Eu faço parte do quadro de instrutores do Projeto Sonho do Beija-Flor. Em 2006, quando criou a escolinha de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Mirins, a Selminha me convidou para auxiliá-la com as crianças e lá estou até os dias de hoje. E também sou a pessoa que acompanha o primeiro casal na avenida”, revela Ivson.
A equipe do fã-clube O Beija-Flor em dia de ensaio na quadra da Beija-Flor de Nilópolis.
Luciane, uma das fundadoras do grupo, destaca que a interação direta com a escola fica um pouco prejudicada por conta da vida pessoal que os principais membros do grupo têm. No entanto, ela pontua que sempre que podem eles estão lá, em alguma atividade promovida pela agremiação de Nilópolis. “No Carnaval de 2001 tivemos uma relação bem próxima com o barracão através do Bira, carnavalesco. Tínhamos acesso ao barracão e éramos presença constante nos ensaios. Criamos um website, que infelizmente foi desativado, fizemos entrevistas com Laíla, Sonia Capeta, Neguinho... e por conta de nossos compromissos profissionais nos distanciamos das pessoas na escola, mas não da escola em si, pois sempre um ou outro do grupo participava dos ensaios, disputa de samba e até mesmo desfile oficial”, diz Luciane Barbosa, empresária de 35 anos. Amizade e amor são sentimentos difíceis de definir, mas que não devem nunca morrer. Essa é, sem dúvida, a grande mensagem que Adriana Machado, Alan Diniz, Felipe Andrade, Ivson Monteiro, Luciane Barbosa e os outros membros do Grupo O Beija-Flor deixam para o mundo. O amor dessas pessoas pela Beija-Flor é tão grande que transbordou e regou a linda história desse grupo de amigos. Março 2014
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RICARDO DA FONSECA E FELIPE LUCENA
“COM O APOIO DAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS MANTIDAS PELO PRESIDENTE DE HONRA DA BEIJA-FLOR, COMO A CRECHE JULIA ABRÃO E O EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID, HOMENS E MULHERES DE BEM CONSEGUIRAM CONSTRUIR UM FUTURO MUITO MELHOR QUE SEU PASSADO.”
Em um passado não muito distante, a Baixada Fluminense convivia diuturnamente com o descaso do governo do Estado e da União. As consequências dessa falta de presença do poder público gerou um ciclo que impediu que os municípios daquela área se desenvolvessem de forma mais intensa, limitando-os a um crescimento mínimo, insuficiente para as grandes demandas que a região e a sua população exigiam. Nessa época, a luz na escuridão vinha através de ações generosas de empresários da região, pessoas sensíveis que conheciam bem os desafios que o cidadão da baixada tinha que enfrentar para conquistar seu lugar ao sol. Anizio Abrão David foi um desses homens, e com seu comprometimento social pôde ajudar muita gente a driblar aquela dura realidade através dos estudos – e estudos de muita qualidade. 78
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Com o apoio das instituições educacionais mantidas pelo presidente de honra da Beija-Flor, como a Creche Julia Abrão e o Educandário Abrão David, homens e mulheres de bem conseguiram construir um futuro muito melhor que seu passado. Se o que se esperava de um morador da Baixada Fluminense era o pé preso ao chão, as histórias de Andréia e Ana Maria Quintanilha, Rosa Malena, Flávio Ferreira, Daniel Apolinário e Renato Pleno Ferreira, ex-alunos da Creche e do Educandário, nos mostram que, com o olhar voltado para as estrelas, um sonho verdadeiro e uma mão amiga, o céu é o limite. Por essa razão, a revista Beija-Flor de Nilópolis decidiu organizar um encontro especial entre alguns dos alunos da Creche e do Educandário, anos depois de terem estudado nas instituições mantidas www.beija-flor.com.br
por Anizio, para participarem de um emocionante to de nós nos estudos, a média sempre foi alta. café da manhã na Creche Julia Abrão, no qual pu- Isso me deu muita estrutura para que eu seguisderam lembrar um pouco desses importantes ca- se minha vida acadêmica”. pítulos de suas histórias de vida. “Meu nome é Rosa Malena Pleno Ferreira. Vim para cá com cinco anos. Eu peguei a Creche ainDepoimentos de ex-alunos “Sou Andréia Iara Quintanilha de Oliveira. Vim da lá no centro de Nilópolis, aí quando a Creche para a Creche com um ano, estudei no Edu- veio para cá, meus irmãos vieram comigo. Quancandário, depois fui para o ensino médio e fiz do deu a idade de sair, aos sete anos, fui estufaculdade. Eu me formei em ciências contábeis dar em uma escola perto da minha casa. Minha em 2005. Trabalho no lar Fabiano de Cristo, prima me deixava em casa, eu almoçava e ficava que também é uma empresa filantrópica, aten- sozinha. Minha mãe pediu para tia Lourdes (dide crianças e idosos no Brasil todo. Eu trabalho retora da creche) me deixar aqui meio período. na sede, no centro do Rio, na parte contável da Eu ficava ajudando as tias, eu gostava de ajuempresa. Sinto-me muito realizada e agradecida dar. Eu queria lavar as panelas maiores. Era um orgulho (risos). Era uma forma de ajudar. Cuipor todo esse trabalho feito pelo Seu Anizio”.
“Eu sou Ana Maria Quintanilha de Oliveira. Entrei aqui com seis meses em um momento desesperador na vida da minha mãe, que tinha que tomar conta de mim e da minha irmã e ainda precisava trabalhar. Da Creche fui para o Educandário. Eu e minha irmã participamos da inauguração do Educandário, foi uma festa grande, o Joãosinho Trinta veio, tinha muita gente. Saindo daqui, eu fiz ensino médio e depois entrei para a faculdade de contabilidade com minha irmã, nos formamos juntas. Não foi fácil. Foi muita luta. Hoje eu trabalho no setor tributário na Supergasbrás, que é uma multinacional holandesa. Atendemos o Brasil todo. Estou fazendo minha pós-graduação. É sempre bom se especializar. E essa consciência que eu tenho vem desde os tempos que estudava aqui, porque exigiam mui-
dava das crianças menores. A tia Lourdes sabia que eu queria ser professora e então me colocou para dar aula para as crianças pequenas. Fiquei dois anos fazendo isso. Quando fui para o ensino médio tive que fazer estágio, então foi minha despedida da Creche. Senti muita falta. Eu me formei professora, e depois fiz faculdade de pedagogia. Hoje sou professora no município de Mesquita e tenho uma matrícula como supervisora escolar. Sempre lembro da tia Lourdes quando tenho que tomar alguma medida especial nessa área. É um exemplo. Aqui na Creche e no Educandário, tudo serve de exemplo”. “Meu nome é Flávio Ferreira Alves, e tenho 36 anos. Estudei aqui na Creche, saí no limite máximo, terminei meus estudos na Nilo Peçanha Março 2014
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(não existia Educandário na época). Mesmo morando em Mesquita, minha vida sempre foi aqui em Nilópolis. Aqui eu descobri que queria fazer faculdade. Corri atrás. Estudei gestão ambiental, me formei em quatro anos sem reprovar nada. Hoje sou gerente de novos negócios de
“Eu me chamo Renato Pleno Ferreira, e sou irmão de Rosa Malena. Vim para cá com cinco meses. Minha mãe conta que eu tinha um problema de alergia, e que precisava tomar um leite especial, importado, que o Seu Anizio trazia do exterior para mim e para outras crian-
uma empresa chamada CSN, cuidamos do licenciamento ambiental de empresas poluidoras. Trabalho bastante e tenho uma boa vida, mas não esqueço que tudo começou aqui. Acredito que já nascemos com nosso caráter, mas o meu, certamente, foi moldado para melhor aqui na Creche”.
ças do Rio de Janeiro. Eu aprontei muito aqui na Creche, era bem levado. Hoje eu atuo como designer gráfico. Mesmo sendo crianças muito novas aqui, é o momento onde escolhemos o que vamos ser e eu me identifiquei com a área de comunicação. Mas eu era muito levado e fui reprovado. Aí minha mãe me colocou em outra escola, como castigo, e lá me interessei por teatro, que é minha outra formação: licenciatura em teatro. Tenho uma empresa de comunicação. Tenho muito orgulho de tudo o que vivi e aprendi aqui. Aqui, acima de tudo, adquiri disciplina. Disciplina que levo sempre para minha vida. Minha família deve muito a essa família, porque isso aqui é uma família”.
“Sou Daniel Elias Apolinário, estudei aqui da quinta a oitava série. Fiz parte da primeira oitava que se formou aqui. Como não tinha ensino médio aqui, eu tive a oportunidade de estudar na escola técnica de química, na época eles chamaram os melhores alunos das oitavas séries, e eu fui chamado. Eu me formei técnico em química, mas não cheguei a exercer a profissão. Passei para a Universidade Federal Fluminense (UFF), me graduei em engenharia química com muito sufoco, morando em Nilópolis e estudando em Niterói. Fiz uma especialização na área de petróleo e hoje trabalho para a empresa que é a primeira do mundo na área de exploração, parceira da Petrobrás. Sinto-me muito agradecido e realizado por tudo o que vivi, e muita coisa começou aqui, no Educandário”.
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As cartas na página ao lado, resumem e expressam bem o que significa o trabalho que a beija-flor de nilópolis vem desenvolvendo durante todos esse anos.
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REDAÇÃO
EM UM TRABALHO de assistência social, A BEIJA-FLOR ACOMPANHA COM MUITO CARINHO CRIANÇAS DESDE A PRIMEIRA INFÂNCIA ATÉ A FASE ADULTA. COMO RESPOSTA GANHA UM MUNICÍPIO MELHOR, COM MORADORES MAIS PREPARADOS E FELIZES.
Retrospectiva das obras sociais da Beija-Flor A ideia de responsabilidade social praticada por empresas no Brasil ganhou força nos últimos dez anos. Com isso, de certa forma, tornou-se comum grandes marcas praticarem ações que visam ajudar pessoas financeiramente menos
favorecidas. Entretanto, esse tipo de atitude já era tomada pela Beija-Flor há pelo menos três décadas. Em todo esse tempo de dedicação, Anizio criou uma creche, um uma escola, um centro preparatório para o mercado de trabalho e muitas outras ações sociais. Isso só prova que a escola de Nilópolis é (e sempre foi) um bom modelo a ser seguido.
Creche
Julia Abrão
A Creche Julia Abrão foi fundada em 1980 com o nome de Creche Beija-Flor. Alguns anos depois, em homenagem à sua mãe, dona Júlia, Anizio modificou o nome da creche para Creche Júlia Abrão David. A Creche é dirigida, desde sua fundação até os dias atuais, por Maria de Lourdes. No início, a instituição recebia cerca de 60 crianças. Hoje são mais de 280, entre 6 meses e 6 anos de idade. À frente de todo esse belo exemplo de ajuda ao próximo, Maria de Lourdes comenta com orgulho que se sente muito feliz por ser uma peça dessa engrenagem. A diretora frisa que a Creche é de suma importância porque é o primeiro contato efetivo e constante dessas crianças com um ambiente de grande convívio social: “Realizamos na creche as quatro refeições diárias. São 238 crianças matriculadas. Nosso trabalho é de amor. Graças a Deus e ao trabalho do Anizio, conseguimos suprir as necessidades dos que têm menos sorte no início da vida. Para a maioria dessas crianças esse é o primeiro lar. Aqui eles aprendem a ter uma boa alimentação, higiene. A demanda é muito grande. Como te disse, somos o primeiro lar e damos a essas crianças tudo o que elas precisam. E é sempre bom lembrar que temos uma ótima estrutura. Nós não somos um depósito de crianças. Aqui temos professoras, babás, psicólogas, porteiros, todos os funcionários disponíveis para essas crianças. Aqui cumprimos todas as leis. Muita gente que estudou aqui hoje matricula seus filhos. Tem gente que ganha mais de três salários mínimos (que é o limite para se matricular alunos na instituição) e ‘chora’ para que os filhos fiquem aqui. Dizem que só confiam em deixar as crianças aqui conosco. Eu fico muito feliz de ser uma gota desse oceano de amor. Agrade-
ço muito ao Anizio, que é um homem fantástico, por ter criado todo esse trabalho. Hoje, olho para trás com satisfação. Vim de outras obras sociais, mas só aqui consegui um trabalho lindo de respeito. Tudo graças ao Anizio”, declara Maria de Lourdes. Para atender com qualidade as crianças matriculadas na Creche, e seguindo as recomendações da Secretaria de Educação, as crianças de cada turma são divididas em dois grupos: no turno da manhã o primeiro grupo estuda na sala de aula, enquanto o segundo grupo fica no pátio com as recreadoras em atividades livres, mas educativas. No turno da tarde, a situação se inverte. O primeiro grupo fica no pátio, enquanto o segundo grupo estuda na sala de aula. “Esse sistema tem dado excelentes resultados, pois as crianças não ficam sobrecarregadas de estudo, nem de recreação. E, porque precisam passar o dia todo na Creche, essa diversificação faz com que a permanência delas não seja cansativa ou traumática, já que são crianças de apenas 4 a 6 anos de idade”, disse Maria de Lourdes. A gratidão da população de Nilópolis e adjacências é nítida. Os responsáveis pelo projeto são constantemente elogiados pelos pais das crianças matriculadas na Creche, que ficam gratos, pois conseguem trabalhar tranquilos para dar um futuro melhor para seus filhos, sabendo que, no presente, eles estão protegidos. “O seu Anizio é um pai para todos nós em Nilópolis. E isso não é de hoje. A creche do seu Anizio existe há mais de 30 anos. Sem ele, eu e meu marido estaríamos passando dificuldades para educar nossas crianças. Ele é um anjo que dona Júlia deu a Nilópolis”, declara, emocionada, a mãe de um dos pequenos alunos.
Com uma equipe composta por nutricionistas, cozinheiras, auxiliares de cozinha, babás, recreadoras, professoras, faxineiras, auxiliares de serviços gerais, lavadeiras, atendentes, motoristas e vigias, a Creche Júlia Abrão David é referência tanto no município de Nilópolis como na Baixada Fluminense. E até para o Brasil.
crianças estudam até a oitava série”, relembra Anizio. A iniciativa da Beija-Flor impressiona até quem é acostumado a ajudar o próximo. O ex-jogador Zico, que tem trabalhos sociais na área esportiva, pontua que a ideia do Anizio deve ser valorizada: “Fazer com que tantos jovens participem de projetos que possam enriquecê-los como seres humanos e como profissionais é fantástico. Todos devem aplaudir e incentivar o pioneirismo do Anizio e da Beija-Flor”, afirmou o Galinho de Quintino. Engrossando o coro pró-Beija-Flor, o radialista Antônio Carlos parabeniza a forma como acontece o trabalho na escola de Nilópolis: “A Beija-Flor está de parabéns por manter essas crianças de maneira saudável, dando educação, escola e alimentação. A obra merece todos os elogios”.
Educandário Abrão David O Educandário foi fundado em 1987. Essa instituição surgiu a partir da preocupação de Anizio em dar continuidade às atividades sociais e educativas da Creche. Hoje em dia, 1.260 alunos, de 6 aos 18 anos, são atendidos no espaço que conta com três prédios: “Acompanhava o desenvolvimento das atividades da Creche, quando vi que, passados os anos, as crianças que estudavam lá desde pequenas estavam ameaçadas de ver seu desenvolvimento educacional suspenso. Até aquele momento, o futuro delas era sair da Creche e serem ‘jogadas’ na rede pública de ensino, que na época era bastante ruim. Para que o trabalho da Creche tivesse uma continuidade, criamos o Educandário. Lá (no Educandário), as
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No mesmo tom, Boni, tema do enredo da escola neste carnaval, enaltece que as iniciativas de Anizio para ajudar as crianças carentes têm como consequência um futuro melhor para muito mais gente: “Os projetos sociais da Beija-Flor são muito importantes porque dão oportunidades às crianças e aos jovens de terem um futuro melhor, para eles e para os familiares deles”, garantiu Boni. Os elogios têm fundamento. O Educandário conta com um ensino de alta qualidade, que atrai estudantes de outros municípios da Baixada Fluminense e até da capital, de regiões mais distantes como Campo Grande e Realengo. “Todos conhecem o nível de ensino do Educandário. Ele possui um nível pedagógico do mesmo nível das escolas privadas. Nossos professores são muito bem preparados, e seguimos o programa educacional que o estado exige. O resultado do alto nível pedagógico do Educandário é que as www.beija-flor.com.br
crianças, quando saem daqui, estão muito bem outros lugares, as pessoas também fizessem o preparadas para enfrentar qualquer outra reali- que ele faz. Acho que teríamos um Brasil muito dade”, ressaltou Maria de Lourdes. diferente desse que vemos hoje”. Em um trabalho de assistência social, a Beija-Flor acompanha com muito carinho crianças desde a primeira infância até a fase adulta. Como resposta ganha um município melhor, com moradores mais preparados e felizes.
CAC
Moradores de Nilópolis enxergam de perto o resultado do Educandário e de outras obras da escola. Como não poderia ser diferente, o sentimento é de satisfação, agradecimento e muita felicidade. Relembramos as palavras do saudoso Ary Rodrigues, presidente do Conselho Deliberativo da escola, em depoimento para a revista da Beija-Flor de Nilópolis: “Vivo aqui há muito tempo e fico pensando como não teria sido diferente o futuro de muitas das crianças que vi crescer aqui em Nilópolis. Hoje, com o trabalho que o Anizio patrocina, muitas das crianças que
não tinham futuro podem voltar a ter fé em dias melhores. Eu mesmo vi muitos desses meninos e meninas que estudaram no Educandário crescerem e se tornarem pessoas trabalhadoras. São jovens médicos, advogados, policiais... E isso é uma coisa que deve deixar o Anizio muito feliz. Mas fico pensando, também, como seria se, em
No dia 3 de agosto de 1991, foi inaugurado o Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David, conhecido como CAC/NAD. Esse projeto surgiu de uma ideia de Anizio e seu irmão Nelsinho, figuras muito conhecidas e queridas em Nilópolis. O CAC é uma instituição que oferece cursos profissionalizantes (em diversas áreas) a moradores de Nilópolis e de outras regiões. “Como você pode ver, o seu Anizio pensa em tudo. Começou com a Creche, depois veio o Edu-
candário e para que esses jovens recém-saídos do ensino fundamental possam ter um porto seguro para a qualificação profissional, ele criou o CAC,” disse Aroldo Carlos, diretor do Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David. Em um país onde as oportunidades de empregos estão cada vez mais associadas à capacitação profissional, a atuação do CAC/NAD é muito necessária – essencial. Isso porque oferece oportunidade para que os alunos possam se qualificar e, com isso, futuramente essas pessoas poderão ter uma vida melhor, fazer planos para seu futuro, construir família e ajudar seus familiares. “Ministramos diversos cursos, cada um com um foco específico e para um determinado público. Março 2014
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Na área comercial, temos cursos de telemarketing, inglês, espanhol, informática, técnica de vendas, atendimento ao cliente, turismo, fotografia, estilismo, cabeleireiro, corte e costura, auxiliar de creche, culinária e acompanhante de idosos. Na área industrial, temos cursos de refrigeração, elétrica residencial, marcenaria, hidráulica, mecânica de motocicletas e concerto de eletrodomésticos. Além disso, temos cursos de artesanato, fantasias, adereços, ginástica para terceira idade, karatê, capoeira, decoração artística para bolos, doces finos e salgados para festas, além de cursos de dança de salão, aerodança e dança do ventre. Por fim, prestamos alguns serviços para a comunidade, como orientação nutricional, clínica médica, psicologia, jurídico, pediatria, angiologia, odontologia e laboratório. Com essa gama de cursos e serviços, o cidadão de Nilópolis e da Baixada Fluminense, jovem ou não, sempre encontra um curso que o agrade e afinado com as necessidades de contratação do mercado de trabalho”, comentou Aroldo, na ocasião em que foi entrevistado pela revista.
de qualquer pessoa sem uma profissão definida poder se tornar um profissional pronto para um determinado nicho do competitivo mercado de trabalho: “Às vezes, o aluno é iletrado, mas se forma em bombeiro hidráulico, eletricista, e consegue, dessa maneira, recuperar a autoestima que muitas vezes foi perdida quando teve que largar os estudos ou nem mesmo pôde começá-los”, afirmou o presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis.
Projeto Sonho de um Beija-Flor O Sonho de um Beija-Flor também é uma atividade de inserção social e educativa realizada pela escola de samba. Nessa iniciativa, os alunos recebem aulas de Jiu-Jitsu, tênis de mesa, futebol, natação, dança, dentre outras. O que o projeto propõe é valorizar o potencial dessas crianças e jovens, reconhecendo seus talentos e fazer que eles acreditem que seus sonhos são possíveis de se tornarem realidade, desde que se empenhem nisso.
Jiu-Jitsu
Patrono de toda a ideia, Anizio aponta que o As aulas de jiu-jitsu começaram em 2006 e chemais importante no trabalho do CAC é o fato garam a ter 200 alunos matriculados. Os alunos, 86
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que treinavam na quadra da escola em Nilópolis, tinham como professor Elan Santiago, que já trabalhou com equipes dos EUA e da Coreia. Além dos ensinamentos de respeito, disciplina e equilíbrio, a escolinha do professor Elan obteve muitos prêmios. “Foram mais de 150 medalhas, entre ouro, prata e bronze. Em 2009, participamos de diversas disputas fora de casa. As mais importantes foram o campeonato brasileiro e o estadual de jiu-jitsu, além da competição organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No campeonato brasileiro, a equipe da Beija-Flor foi representada por 24 atletas, que conquistaram sete medalhas de ouro, doze de prata e uma de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. No campeonato estadual, 26 atletas nossos participaram, levando para casa nove medalhas de ouro, três de prata e três de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. Na competição organizada pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas de ouro, oito de prata e cinco de bronze, com a participação de 38 atletas. Nesse campeonato, onde todas as grandes academias de jiu-jitsu do Rio de Janeiro participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”, disse Elan.
Tênis de Mesa As aulas de tênis de mesa ajudaram cerca de 80 crianças a conhecer melhor um dos esportes mais populares do mundo em termos de número de jogadores, mas ainda em desenvolvimento no Brasil. O curso foi ministrado pelo presidente da confederação da modalidade na região leste, Pablo Ribeiro, que sempre frisou que a prática desse esporte contribui para os jovens terem um raciocínio mais rápido e maior nível de concentração. Para participar da atividade, o
aluno precisava ter entre 10 e 17 anos e está matriculado em uma escola. “Todos os esportes são importantes meios de desenvolvimento pessoal e social. Quando um aluno pratica um esporte com dedicação, ele conquista não apenas qualidades dentro do esporte. Por isso é que considero a prática esportiva essencial na formação do cidadão. E o que realizamos aqui na Beija-Flor de Nilópolis é isso: dar aos jovens da região esse importante instrumento de libertação. Quando damos aos jovens sem rumo um caminho, eles se agarram com afinco, pois veem no esporte uma oportunidade de construírem uma vida melhor. Mas nem todos que procuram a prática do esporte são jovens sem um rumo definido. Muitos, desde cedo e com o apoio dos seus pais, sabem o que podem fazer se aproveitarem as oportunidades. Essas oportunidades no tênis de mesa começam aqui na Beija-Flor e avançam para caminhos maiores. Esse ano, por exemplo, nossos alunos vão competir nos campeonatos estaduais. O nível de visibilidade aumenta, e as chances de melhorarem suas vidas também. Além disso, o tênis de mesa é um esporte olímpico, e por isso é natural que muitos desses jovens pretendam se preparar e competir para participarem das Olimpíadas de 2016. E nós estaremos aqui para dar todo o suporte para eles”, contou Pablo.
Futebol O projeto uniu as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados, a comunidade teve acesso às aulas de futebol society e de campo. Sucesso garantido. “Aqui na Beija-Flor de Nilópolis, o problema acaba sendo que existem tantas atividades que eu corro o risco das crianças preferirem entrar para as aulas de jiuMarço 2014
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-jitsu ou de tênis de mesa (risos). Sabemos que há alunos para todas as atividades esportivas. É lógico que a cultura do brasileiro privilegiará o futebol. Até porque as demais atividades são ainda recentes no próprio país. Mas um dia, tenho certeza de que teremos todas as atividades com procura cada vez maior. O fato é que hoje o futebol desperta o interesse da molecada, inclusive porque eles acreditam – e devem continuar acreditando – que o futebol é um dos esportes que melhor paga aos seus atletas. Além disso, o
Selminha Sorriso, Claudinnho e equipe do curso de Passistas e Mestre-Sala e Porta-Bandeira junto com seus alunos.
futebol está no sangue desses meninos. Eles não têm praticamente que aprender nada. Eles precisam mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros pequenos detalhes, porque saber jogar todos sabem. É do brasileiro”, comenta o professor.
Balé Ghislaine Cavalcanti, coreógrafa profissional, coordena o “Aprendendo com o balé”, que inclui as aulas de balé clássico, jazz e sapateado. Cerca de 150 alunos, entre 5 e 17 anos, aprendem um pouco mais sobre a história da dança e com a prática adquirem disciplina e concentração. “Convivi intensamente com a comunidade de Nilópolis e observei que eles careciam de ampliar algumas das suas condições artísticas. A arte é uma manifestação humana que deve estar sempre sendo provocada. Um artista, seja da 88
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pintura, da música ou da dança precisa estar a todo momento se desafiando. Em um ambiente onde o samba é um gênero de grande aceitação, nada mais natural que todos toquem e dancem samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do Anizio e da Beija-Flor de Nilópolis é contribuir para a formação de um ser humano mais integral, nada mais natural que busquemos ultrapassar os limites de cada um. Vi, então, nos cursos de balé clássico e jazz um importante meio para que essas crianças e jovens, que possuem uma enorme veia artística, pudessem alçar voos mais altos”, disse Ghislaine.
agremiação. A partir dos três anos de idade, os alunos podem ter aulas com o casal a dançar e muito mais. “Eles aprendem a interagir, a dividir, aprendem a viver em comunidade, ou seja, em sociedade, aprendem a ter disciplina, respeitar hierarquia, respeitar os amiguinhos”, afirma Selminha. Com as aulas, essas crianças e jovens aproveitam a oportunidade para despertar o potencial artístico que carregam e, melhor ainda, de crescer dentro da própria agremiação, perpetuando essa arte tão mágica, expressa no bailado do casal de mestre-sala e a porta-bandeira.
Passista Mirim, Mestre-Sala e Porta-Bandeira Atenta à importância da arte e sua preservação para as próximas gerações, a agremiação de Nilópolis não perde tempo. Por isso, não abre mão das aulas para formação de passistas, mestres-sala e porta-bandeiras. Os alunos do curso de passista mirim recebem semanalmente informações sobre conceitos e fundamentos dessa arte de sambar. Na prática, exercitam passos, coreografias e gingas, se igualando, em beleza e emoção, aos grandes passistas da agremiação que fizeram história no carnaval. Com aproximadamente 120 matriculados de diversas idades, os alunos precisam estudar e passar de ano para permanecer na atividade. Selminha Sorriso, ex-passista e coordenadora do projeto, passa sua experiência para as crianças. Iniciadas em julho de 2006, as aulas para formação de novos casais de mestre-sala e porta-bandeira são uma importante iniciativa para a preservação da mais importante figura do desfile de carnaval, e responsável por conduzir pela avenida, com graça e beleza, o pavilhão da
Através de todos esses projetos sociais, a Beija-Flor de Nilópolis ajuda não só o seu município de origem mas também regiões vizinhas. Se cada região do país tivesse uma obra desse porte, com o intuito de diminuir as diferenças sociais, certamente teríamos um Brasil melhor. Parabéns, Beija-Flor!
Bateria Mirim Todos os sábados, de 9h às 13h, cerca de 120 crianças e jovens de Nilópolis e adjacências se reúnem com Mestre Rodney, Mestre Plínio, Saú, Cléo e Pó de Mico para as aulas da bateria mirim da Beija-Flor. O projeto surgiu a partir de uma ideia do diretor de harmonia da agremiação, Laíla, que sentiu a necessidade de iniciar um trabalho que colaborasse na renovação da Beija-Flor na avenida. E vem dando certo. De acordo com Laíla, a bateria mirim, que funciona há pouco mais de três anos, já rendeu bons frutos para a Azul e Branco de Nilópolis nos últimos carnavais. Março 2014
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“Eu tenho uma bateria formada há menos de três anos, só com molecada da comunidade. Os moleques são fantásticos. Tocam demais. Saíram no enredo do Roberto e no ano passado, do cavalo mangalarga. Tocam com amor. Parecem que vão comer o instrumento. Temos um futuro longo de comunidade, graças a esse tipo de coisa”.
TERCEIRA IDADE EM MOVIMENTO Atendendo a uma demanda identificada pela diretoria da Beija-Flor de Nilópolis, foi instalada, próximo ao Parque Aquático da agremiação, a “Academia da Terceira Idade da Beija-Flor de Nilópolis. Segundo Anzio, “lá as pessoas de idade mais avançada, mas que estão no auge das realizações, poderá fazer sua ginástica com tranquilidade e em um ambiente bem seguro.”
Mestre Rodney não perde o ritmo: ao lado da garotada que pratica aulas de bateria - muitos deles já participando da Bateria da agremiação - dá o andamento dos futuros ritmistas do Carnaval do futuro.
REDAÇÃO
A arte é sempre uma forma de melhorar de vida. Nem todos conseguimos viver de arte, no entanto, certamente seria impossível viver sem ela.
O balé é um estilo de dança que se originou nas cortes da Itália renascentista durante o século XV e na Inglaterra, Rússia e França se firmou como uma forma de dança de concerto, revolucionando as manifestações artísticas da época. Séculos e quilômetros depois, essa requintada arte modificou a vida de muitas meninas, no município de Nilópolis, no Rio de Janeiro, graças a um projeto social da Beija-Flor. Tudo começou em 2001, quando influenciada pelo jornalista Thales Batista, Ghislaine Cavalcante, que coreografava as comissões de frente da Beija-Flor, sugeriu à presidência da escola que aulas de balé fossem dadas na quadra da Azul e Branco de Nilópolis. Eles foram atendidos e Ghislaine se tornou coordenadora da iniciativa. “O Thales ficou admirado com o trabalho das bailarinas na comissão de frente que eu coreografei e me deu essa ideia de dar aulas de balé em Nilópolis. O patrono da escola gostou muito e nos possibilitou realizar esse sonho” lembrou Ghislaine. O projeto que começou com 150 crianças, hoje conta com mais 250. Entre as conquistas da iniciativa estão participações no festival de dança de Joinville (SC), um dos mais conceituados da América do Sul. Uma dessas meninas ligadas ao projeto, hoje é uma mulher de 27 anos, formada em nutrição e fazendo pós-graduação na área. Priscila Patrocínio, que faz aulas de balé na Beija-Flor desde 2009, garante que a iniciativa a ajudou a ter mais autoconfiança, o que ela leva para quase tudo em sua vida. “Quando comecei no balé, eu era muito tímida, hoje sou mais segura. Mais decidida para fazer escolhas no dia-dia. Além de ser muito bom termos um projeto por aqui que leva uma dança clássica para pessoas que antes nem sabiam o que era isso” afirmou.
Essa grande iniciativa não poderia ficar só sob o controle de Ghislaine. Ela conta com uma equipe de seis pessoas. Entre eles está o professor Douglas, que é sempre lembrado pelas alunas como um mestre que cobra muito, mas que só quer o melhor de todas. “Antes de começar a fazer as aulas de balé na escola, eu fazia em outro lugar, mas como lá já estava acabando, fui fazer na Beija-Flor, que tinha mais estrutura para as alunas. Temos o professor Douglas que é muito exigente, porém, eu prefiro que seja. Melhorei muito como dançarina graças a isso. Ele e a Ghislaine sempre estão fazendo de tudo por nós” contou Paula Souza, de 19 anos. Engana-se quem acha que as aulas são só um passatempo ou uma atividade esportiva para essas moças. Muitas delas pensam em melhorar de vida através da dança. Como conta Tassiane Albuquerque, de 20 anos: “Eu quero muito ser profissional do Balé. Seria um sonho” destacou. A arte é sempre uma forma de melhorar de vida. Nem todos conseguimos viver de arte, no entanto, certamente seria impossível viver sem ela. Que bom que essas meninas têm o balé para que os passos de suas trajetórias fiquem mais leves, como em uma delicada dança clássica. Março 2014
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Luciano Carvalho do Nascimento
MUITOS HOMENS SUCUMBIRAM À ESFINGE; ÉDIPO DECIFROU SEU ENIGMA, SE TORNOU REI. POUCOS ARRISCAM CANTAR DIANTE DO PAINEL COM A FOTO DE JAMELÃO, NA ENCRUZILHADA QUE TEM SEU NOME; A MAIORIA SE CALA, UNS SÃO CALADOS. HÁ QUEM O ENCANTE? A EXEMPLO DE TEBAS NA ANTIGUIDADE, HOJE O RIO, NO TEMPO E NO TEMPLO DO CARNAVAL, TEM UM REI (DA VOZ, É CLARO!)?
Nosso enredo sobre “A história da comunicação”, que tem como personagem central José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o “Boni”, é também uma ótima oportunidade para falarmos de outro modelo de “comunicador”: o nosso Neguinho. E, se o homenageado da Beija-Flor é “O astro da televisão”, podemos dizer que o porta-voz maior da escola de Nilópolis é uma espécie de “entidade”, uma (semi)divindade do mundo do carnaval. Exagero? Definitivamente não. Uma rápida olhada em narrativas míticas que ajudaram a formar nosso imaginário – boa parte do imaginário ocidental, na verdade – torna nítido um dado incontestável: a voz é um elemento distintivo, não raro marca de sobre-humanidade, tanto para os gregos da Antiguidade Clássica quanto para algumas nações negras trazidas para o Brasil, escravizadas, como os iorubás ou os fons. Na mitologia e na literatura clássica greco-romanas, há vários personagens cujas vozes se diferenciam. É o caso de Orfeu, filho de Apo94
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lo, e de Íon, o rapsodo de Éfeso, por exemplo. O primeiro, afamado músico, teve sua história contada oralmente por séculos até que Píndaro, Ovídio e Virgílio a registraram em poemas antológicos, que depois inspirariam peças teatrais, filmes, musicais e até enredo para desfile carnavalesco. O segundo grego (Íon, o maior declamador dos versos de Homero) teve suas façanhas narradas por Platão num dos “Diálogos”. Na mitologia iorubá e na fon, o “dono da voz”, a “boca do mundo” é um(a) só: o único orixá que fala aos homens, Exu/Legbá, – o senhor das encruzilhadas. A voz de Orfeu era capaz de amansar feras, amolecer rochedos e acalmar o fluxo das águas dos rios. Até Hades, deus do mundo dos mortos, se comoveu com a voz melodiosa do filho do deus da música e da poesia. Segundo Platão, a paixão de Íon pelos versos de Homero e sua entrega ao ofício de cantá-los eram maiores do que qualquer técnica declamatória; era isso que tornava Íon grande: a paixão e a entrega presentes em sua voz criavam dor ou alegria em quem ouvia www.beija-flor.com.br
seu canto. Exu, por sua vez, é o “mensageiro de Olorum” (o orixá maior, o criador), e nada se faz sem sua mediação. Ele é a fonte de todos os fluxos, todos os trânsitos, nada evolui sem ele, nenhuma energia circula. Em suma, “um lado a comunicar, o outro comunicou”: foi Exu quem deixou. Trocadilhos à parte, o que essas histórias têm a ver com o enredo da Beija-Flor para 2014 e com o intérprete da escola, Neguinho? Os pontos de contato são dois: em primeiro lugar, o indiscutível valor da voz para a comunicação humana; em segundo, o fato de o samba já ter sua voz reconhecida. “A voz do samba” é a de quem é considerado o maior intérprete de sambas-enredos da história, José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão. Em sua homenagem foi batiza-
do, no Sambódromo do Rio de Janeiro, o lugar onde primeiro soa o grito de guerra de todos os cantores, de todas as escolas, no início de suas apresentações. Coincidência ou não, o Espaço Jamelão é numa encruzilhada... E é ali que acontece a hora da verdade. Todo ano, desfile após desfile. Isso porque, não bastassem todas essas histórias e “coincidências” – que talvez passem despercebidas para muita gente –, foi colocado no Espaço Jamelão um painel com uma foto do falecido intérprete da Mangueira, já idoso, com um microfone na mão direita, próximo à boca, e com a mão esquerda em concha, perto da orelha esquerda, como se, prestes a cantar, ele se esfor-
çasse para ouvir melhor algo. Uma outra voz, talvez... a de um pretenso sucessor, quem sabe? Imagine o tamanho da responsabilidade de interpretar um samba-enredo tendo diante de si aquela foto! Sem esquecer que, além da escuta atenta de Jamelão, cada intérprete também deve conduzir o canto harmonioso de milhares de componentes de sua escola, e corresponder à expectativa de outros milhares de pessoas no sambódromo, e de mais alguns milhões pela TV, internet, etc. Por fim, crueldade maior: qualquer um em meio a esses milhões de pessoas pode, num momento de saudosismo, com poucos toques num celular, ouvir gravações da “voz do samba” ecoando eternizada pela Sapucaí. Afinal, as mídias, nosso enredo, diluem fronteiras de tempo e espaço. Então, a nada fácil missão dos intérpretes fica ainda mais difícil sob os olhos e ouvidos agudos daquela “esfinge bacante”. Sim, porque ali, naquela foto, Jamelão é outra Esfinge – a criatura meio mulher, meio leão que aterrorizava os habitantes de Tebas (pois é, caro leitor-folião; de novo a Grécia, Sófocles desta vez, com “Édipo rei”). O monstro grego ficava sentado no topo de uma montanha espreitando os viajantes que passavam pela estrada rumo à cidade; o eco visual da “voz do samba” paira sobre ritmistas, cantores e carros de som quando todos eles estão começando sua apresentação. “Decifra-me ou te devoro” era a antiga ameaça; “encanta-me ou te calo” é a sentença agora. Muitos homens sucumbiram à Esfinge; Édipo decifrou seu enigma, se tornou rei. Poucos arriscam cantar diante do painel com a foto de Jamelão, na encruzilhada que tem seu nome; a maioria se cala, uns são calados. Há quem o encante? A exemplo de Tebas na Antiguidade, hoje o Rio, no tempo e no templo do carnaval, tem um rei (da voz, é claro!)? Sem dúvida. Aquele que há quase quarenta anos guia o canto da escola de Nilópolis; que instituiu o grito de guerra entre os cantores de sambas-enredos; que tantas vezes fez dueto com Jamelão em apresentações ao vivo; e cujo profissionalismo e excelência vocal levaram o próprio Mestre a elegê-lo como continuador da luta política pelo respeito à figura do “intérprete” (“‘Puxador’ é de saco, de carro, de fumo... eu sou cantor!”, dizia o velho “Jamela”). Neguinho da Beija-Flor, misto de Édipo e Orfeu, encanta a “esfinge bacante” da encruzilhada. Por quê? 96
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Porque, para gregos e romanos antigos, os filhos de deuses com mortais eram os “semideuses”; eles viviam sob especial proteção de seus pais, e sempre tinham algum dom sobre-humano. Porque, para fons e iorubás, Legbá/Exu, o “Grande mensageiro”, é também quem protege os homens das doenças da boca, da garganta, dos ouvidos, de todos os orifícios do corpo (lugares por onde há fluxo, há comunicação entre o interior do corpo e o meio exterior). Porque a voz de Jamelão, que encantou a todos, tanto acompanhada por orquestras (exemplo de calma melodia apolínea), quanto seguida por baterias (signo máximo da efusiva harmonia dionisíaca), essa voz reconheceu o valor de outra, a ponto de passar para essa outra o cetro (o microfone) para a continuidade da luta, símbolo da preservação da linhagem de “intérpretes” (“‘Puxador’ não!”). No modelo greco-romano, Neguinho é mais um semideus (herdeiro de Apolo); no africano, ele – cantor, intérprete, porta-voz do enredo, da escola e da comunidade de Nilópolis – é um protegido de Exu. Foi Neguinho, aliás, quem cantou, no samba de 1989 – Ratos E Urubus... Larguem Minha Fantasia – a referência mais direta e famosa ao orixá já feita no carnaval carioca: “Legbá larô ôôô/ Ebó Legbará laiá laiá”. Pode ser que aquele painel do Espaço Jamelão seja bastante ameaçador – um tanto constrangedor, no mínimo – para a maioria dos cantores das escolas de samba. Para Neguinho certamente não. Para ele aquela é mais uma lembrança de seus antepassados míticos, que lhe abriram os caminhos e, de uma maneira ou de outra, permitiram e/ou estabeleceram o contato entre os homens e os deuses. Tudo por meio do canto, por meio da voz. “Olha a Beija-Flor aí, gente! Chora cavaco!” mais que um grito, é uma grife e um link. Há anos “a marca do carnaval [também] é ela”, a voz de Neguinho. E os integrantes da escola, os espectadores, todo mundo sabe que, materializadas especificamente por aquela voz, naquele espaço, durante o carnaval, tais palavras abrem a comunicação, colocam a realidade e um mundo mítico de sonho e fantasia “juntos na mesma frequência”. Resultado: “um show de audiência vamos reviver”. Por isso, abram os ouvidos: “OUVE a Beija-Flor aí, gente!” ___________ Luciano Carvalho do Nascimento é mestre em Letras vernáculas - Língua Portuguesa (URFJ), doutorando em Teoria Literária (UFSC) e professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro. www.beija-flor.com.br
Fala, neguinho! RBFN — Neguinho, todo mundo fala muito dessa sua lealdade à Beija-Flor, estando há tantos anos como intérprete da escola. É fácil ser leal? Neguinho da Beija-Flor — (risos) Interessante essa pergunta... (risos) Ninguém nunca tinha abordado a questão por esse lado. Para mim, de começo, a questão da lealdade tem a ver com educação e exemplos que você tem em casa. É lá onde a gente vai construindo valores. Independente disso, na vida também vamos fazendo escolhas. No meu caso em relação à Beija-Flor, não fico pensando em minha lealdade à escola e ao Anizio. Aqui é minha casa, eu me sinto bem aqui, reconhecido, amado, respeitado. Entendo qual é o meu papel na Beija-Flor e a importância de não desertar do meu posto. Para mim, então, ser leal à Beija-Flor é tranquilo. Simples como respirar. RBFN — Você é reconhecidamente a mais importante voz do carnaval carioca - e por que não dizer, do carnaval no mundo. Isso te envaidece? NBF — É o que sempre digo: somos seres humanos e, por isso, falíveis. Mas não vejo a vaidade como um defeito. Vejo como um problema o excesso de vaidade. Sentir-me orgulhoso pelo que faço, alegrar-me pelo reconhecimento que as pessoas e a imprensa dão a esse assunto é natural. Isso me envaidece. Mas outras coisas me envaidecem também, como ter a família que tenho, a mulher e os filhos que tenho, os amigos. Tenho orgulho de ser quem eu sou, um homem do bem que vem sendo lapidado pela vida, através de alegrias e de tristezas também. De vitórias e sofrimentos. Tenho orgulho de nunca desistir, de buscar ver sempre o lado bom das pessoas e de buscar ser bom com todas elas. Mas esse sentimento não me cega. Sei que Deus é o dono da vida e a ele sou resignado. Trabalho com amor, utilizando os dons que Deus me deu e busco ser uma pessoa melhor a cada dia. O reconhecimento do público é um resultado natural pelo que faço, como disse, com muito amor e respeito a todos.
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HILTON ABI-RIHAN
“HOJE O CARNAVAL ATRAI MULTIDÕES PORQUE É UM ESPETÁCULO QUE SE FEZ ORGANIZADO, SEGURO, DISCIPLINADO, COM HORÁRIOS RÍGIDOS EM FAVOR DO FOLIÃO E DO ESPETÁCULO. MAS A VERDADE É QUE HOJE DESFRUTAMOS De UMA AVANÇADA FASE DE UM PROCESSO QUE SE INICIOU EM 1984”.
Em 2014 a Liga Independente das Escolas de Samba – Liesa – completa trinta anos. Uma data que deve ser comemorada pelos foliões, já que as principais conquistas obtidas pelas escolas de samba, e que se refletem no seu fortalecimento e na melhoria da qualidade do espetáculo, foram resultados de muita luta e negociação da Liesa e seus presidentes. A revista Beija-Flor de Nilópolis mais uma vez foi ouvir quem entende de Liesa, seu presidente Jorge Castanheira, que tem a sua história de vida afetuosamente ligada à história da Instituição. Jorge colabora com a Liesa desde a sua fundação, quando, com apenas 20 anos de idade, saía do trabalho no final do expediente para ajudar o presidente Castor de Andrade nas diversas tarefas que fossem necessárias realizar. RBFN — Como surgiu a ideia de se fundar a Liesa? As escolas de samba já não tinham uma entidade que as coordenava? Jorge Castanheira — O sambódromo foi inaugurado em 1984. Depois disso houve um desentendimento na Associação dos Sambistas, no Méier, as escolas decidiram criar uma liga independente para as agremiações de samba do Rio de Janeiro. Assim surgiu a Liesa, uma entidade formada por algumas escolas de samba que tinha total independência em relação à Associação dos Sambistas, que cuidava de todas as escolas, de todos os grupos. A Liga Independente nasceu para coordenar as escolas do grupo 1A – o grupo principal, integrado por dez agremiações e hoje denominado Grupo Especial. 98
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RBFN — E o que a Liesa fez, concretamente? JC — A partir desse momento, essas dez escolas, em parceria com a RioTur, passaram a cuidar dos interesses do Carnaval. Ficaram à frente de tudo, elaboração de contratos, convênios, regulamentos, critérios de julgamentos, controle de horários, etc. O espetáculo “Carnaval” estava dando os primeiros passos – passos firmes – para se tornar esse evento de magnitude que todos conhecem. Hoje o Carnaval atrai multidões porque é um espetáculo que se fez organizado, seguro, disciplinado, com horários rígidos em favor do folião e do espetáculo. Mas a verdade é que hoje desfrutamos de uma avançada fase de um processo que se iniciou em 1984, onde o Seu Anizio David, Dr. Hiram Araújo, Dr. Castor de Andrade, Capitão Guimarães e outros trabalharam arduamente em prol do Carnaval que vislumbravam. RBFN — A Liesa tinha noção de que estava construindo esse grandioso Carnaval que conhecemos? JC — Em termos de reconhecimento do papel cultural do espetáculo, sim. Em termos de aprimoramento do aspecto gerencial, econômico, de imagens, isso foi feito ao longo dos anos, de acordo com cada mandato de determinada administração. Todo esse amplo processo de evolução foi construído aos poucos, com a parceria entre a Liga e as TVs Globo e Manchete, na época as duas emissoras que transmitiam o Carnaval. Isso gerou um grande ganho na cobertura dos direitos. No começo, os valores de venda dessas transmissões para o exterior eram baixos, mas com a Globo se expandindo mundo afora esses valores www.beija-flor.com.br
foram negociados e cresceram, o que passou a ser fundamental para o crescimento do espetáculo, impulsionando a imagem do Carnaval no exterior.
O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, durante entevista que concedeu ao radialista e editor da revista Beija-Flor, Hilton Abi-Rihan.
RBFN — Então a receita que advém da transmissão é um importante meio de desenvolvimento do Carnaval? JC — Sim. Essa questão dos valores foi se aprimorando e hoje o repasse da TV Globo ajuda muito as escolas em relação ao orçamento que elas têm para desenvolver enredos e desfiles. É importante que se entenda que cada agremiação coloca na Avenida o resultado de um trabalho artístico que é desenvolvido durante meses, e que todo esse trabalho demanda recursos para o pagamento de funcionários, carnavalescos, figurinos, fantasias, carros alegóricos, água, energia elétrica e tantas outras despesas, inclusive as advindas das inovações tecnológicas que são apresentadas para o público. E para cobrir as despesas desse produto cultural que é o Carnaval nada mais natural do que receber monetariamente de empresas que lucram honestamente com a transmissão do espetáculo.
RBFN — O Carnaval continua evoluindo? JC — O estágio que o Carnaval chegou é fruto de muito trabalho, de muita dedicação de muita gente que ajudou a construir esse formato de desfile. E todo esse trabalho foi focado para que o glamour, a característica não se perdesse. E as escolas ajudam porque buscaram sempre a perfeição. A Beija-Flor, por exemplo, só ficou fora do Desfile das Campeãs uma vez nesses últimos anos. As cabeças pensantes do Carnaval estão sempre trabalhando para oferecer um espetáculo melhor a cada ano, repleto da magia que encanta o mundo inteiro. A participação da Liesa, de seus dedicados colaboradores, das agremiações de samba e do poder público – cada qual atuando dentro do seu universo, transformam a cada ano esse espetáculo. Todos esses atores são peças fundamentais para o sucesso do Carnaval, mas quero dar um destaque especial à Liesa porque é a instituição que operacionaliza tudo isso e que faz a convergência de todas essas forças em favor de um espetáculo de alto padrão e qualidade.
RBFN — Qual a importância da transmissão do Carnaval pela Globo Internacional? JC — A Rede Globo tem convênios com muitos países – aproximadamente 130 - que assistem ao vivo ou em gravações o Desfile do Carnaval do Rio de Janeiro. Ela emite o sinal, inclusive, para uma emissora francesa que distribui para todos os cinco continentes. Isso significa que o mundo inteiro vê o espetáculo, e isso é muito importante para o turismo no Brasil. A Rede Globo é uma grande parceira nossa. Sempre nos ajudou na estruturação do Carnaval.
RBFN — Qual a mensagem final que gostaria de deixar para o nosso leitor? JC — Os leitores que vão para a avenida têm que ter em mente que é um momento de descontração. Eles têm que desfrutar da magia que vem da criação desse povo. Venham de peito aberto. O Carnaval é um espetáculo democrático. Essa é a grande mensagem que podemos passar: todos juntos, no mesmo espaço, uma do lado do outro e convivendo em paz. Março 2014
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VICENTE DATTOLI
“POR QUE ERGUER AQUELE GIGANTE DE CONCRETO, QUE HÁ POUCO TEMPO FOI ‘REBATIDO E COMPLETADO’? SIMPLES. PORQUE O SAMBISTA PRECISAVA DE UM LAR. OS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA NECESSITAVAM DA SUA CASA PRÓPRIA.”
O Sambódromo está completando 30 anos de inauguração. Datas redondas, como se costuma falar, sempre provocam recordações. Há quem faça pesquisas para mostrar como era o mundo quando houve a criação do motivo da comemoração. Outros falam da economia, do que se podia comprar naquela época e hoje não se pode mais. Há quem procure lembrar o que mudou, no caso do Sambódromo, como era o Carnaval em 1984. Tudo é válido. E é bom recordar. O que normalmente fica esquecido é a razão pela qual tudo isso aconteceu. Sim. Por exemplo, por que construíram o Maracanã em 1949/1950? Por causa da Copa do Mundo, que seria realizada no Brasil e necessitávamos de um estádio que abrigasse, com as 100
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devidas condições, a decisão daquele Mundial. No caso do Sambódromo... Por que erguer aquele gigante de concreto, que há pouco tempo foi “rebatido e completado”? Simples. Porque o sambista precisava de um lar. Os desfiles das escolas de samba necessitavam da sua casa própria. Pode parecer uma visão simplista ou romântica, mas essa é a verdade. Ainda nos tempos em que a Associação das Escolas de Samba comandava os desfiles no Rio de Janeiro, houve lá um visionário que não cansou de dizer isso. Seu nome? Amaury Jório. Ele fez o possível para que os desfiles tivessem sua “casa própria”. Ele se foi sem ver esse sonho realizado. Infelizmente. Quando o governador Leonel de Moura Brizola, sabe-se lá por que razão ou incentivado por quem, aceitou a ideia de seu vice, o antropólogo www.beija-flor.com.br
Darcy Ribeiro, e com um projeto de Oscar Niemeyer tocou em tempo recorde a construção, os sambistas viram ali o seu BNH particular – para quem não sabe, o Banco Nacional da Habitação por um bom tempo foi o porto seguro de quem desejava realizar o “sonho da casa própria”. Houve quem duvidasse que a obra ficasse pronta a tempo. Não faltava vontade política – e isso, no Brasil, é fundamental. Assim, quando a Passarela do Samba ficou pronta, em março de 1984, mesmo com todos os erros que pudessem ter sido cometidos (os sambistas não foram ouvidos, mas a alegria pelo fim do monta/desmonta era tanta que nem isso foi criticado), só havia espaço para a felicidade. Até mesmo a louca criação da Praça da Apoteose, que não possui qualquer tipo de ligação com o histórico dos desfiles, foi incorporada em seu primeiro ano de uso e, depois, devidamente esquecida. Coisas de gênios que acham que podem interferir no que sempre deu certo.
Desde então, os desfiles só fizeram crescer. E aí, para continuar a história, é necessário lembrar outro aniversário de 30 anos. Este daqui a pouco. A criação da Liga Independente das Escolas de Samba, em julho do mesmo 1984 do surgimento do Sambódromo. A administração consciente e profissionalizada da Liga, buscando proporcionar condições igualitárias para as escolas de samba competirem, era o segundo porto seguro para o qual as agremiações poderiam dirigir-se. As mudanças no espetáculo, proporcionadas pela criação do Sambódromo, só puderam se tornar realidade porque alguns administradores das escolas de então decidiram bancar todas as dificuldades e preconceitos e criar a nova entidade. Então, neste Carnaval, mesmo que por antecipação, duas grandes comemorações devem e podem ser comemoradas: os 30 anos do Sambódromo, que coincidem com os desfiles; e o trigésimo aniversário da Liga.
Carnaval. Energia que inspira a gente.
Mais do que uma festa, o Carnaval é uma tradição que conta a história do nosso país e da nossa gente. Por isso, nós patrocinamos o Samba Carioca, Patrimônio Cultural do Brasil. Gente. É o que inspira a gente.
Difícil não aprender algo sobre o Brasil em uma festa com tantas escolas. —
Autores: Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Junior Trindade, Adilson Brandão, Zé Carlos e Diogo Rosa.
BONI
O ASTRO ILUMINADO DA COMUNICACAÇÃO BRASILEIRA No ar, a mensagem de um Beija-Flor Sonhar, o sonho de um sonhador E viajar no tempo, no som um sentimento Ir mais além, tocar o céu Erguer a Torre de Babel Escrever seu nome num papel Eu e você, em sintonia seja onde for No infinito ao teu sinal eu vou Leva desejo divino, divino desejo me leva... A encontrar a arte no seu olhar A Deusa do samba na Passarela A marca do carnaval... É ela Um lado a comunicar, o outro comunicou Tá na mídia a Beija-Flor Quando a emoção chegar, a saudade vai bater Juntos na mesma frequência Um show de audiência, vamos reviver Espelho refletindo cada um de nós Por isso solte a sua voz, hoje o artista é você Clareou... E a gente vai se ver de novo (BIS) Clareou... De azul e branco nos braços do povo Boni, tu és o astro da televisão Fiz, da sua vida minha inspiração Vem, a festa é sua, a festa é nossa de quem quiser Mostra que “babado é esse” de samba no pé
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