JoÃOSINHO TRINTA
Diretor: José Ricardo Marques Supervisão Editorial: Renato Riella Editor: Eduardo Monteiro Redação: Roberto Almeida Programação Gráfica: Jan Riella
Produção: Nomes Assessoria Editorial Foto da Capa: Newton Sinelson Fotos Históricas: Centro de Memória do Carnaval - Liesa
• Cidadão de Brasília e do Mundo A revista Cultura-DF afirma-se por destacar nas suas capas personalidades marcantes da vida brasiliense, como aconteceu com o arquiteto Oscar Niemyer no primeiro número e o cineasta Afonso Brazza no segundo. Agora, um novo e muito prestigiado brasiliense, de fama internacional, merece a nossa homenagem. Joãosinho Trinta está fixado em Brasília, cidade que lhe concedeu, numa iniciativa da Câmara Legislativa, o título de Cidadão Honorário. Mesmo assim, não perde a ligação com o Rio de Janeiro, nem com Nilópolis, onde a Escola de Samba BeijaFlor, ao completar 60 anos, decidiu condecorá-lo, pela participação marcante que teve ao longo dos anos na história dessa agremiação carnavalesca.
EXPEDIENTE
Conviver com Joãosinho Trinta é um privilégio que Deus está concedendo aos brasilienses, ora organizando um evento comunitário ou beneficente, em outro momento projetando um presépio na Esplanada do Ministério, e sempre e sempre interferindo de maneira genial no Carnaval, agora com cores brasilienses. Na Capital Federal, Joãosinho sonha com um projeto chamado Samba das Nações, que vai levar a diferentes países a cultura e a beleza das escolas de samba.
marques@ambientdf.com.br
Pessoalmente, tenho a honra de estar produzindo com ele o livro "O Executivo e o Carnavalesco". Estas e outras produções darão ainda mais visibilidade e sucesso ao grande brasileiro chamado Joãosinho. JOSÉ RICARDO MARQUES Diretor
C LI AA
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carnavalesco Joãosinho Trinta é um dos mais novos Cidadãos Honorários de Brasília. A cerimônia de entrega do título reuniu várias personalidades, autoridades locais e ainda uma escola de samba.
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O Conjunto Cultural da República tremeu ao som das baterias, zabumbas e pandeiros. Isso porque a Câmara Legislativa realizou no Museu Nacional uma sessão em homenagem ao mestre do Carnaval
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ao brasileiro, João Clemente Jorge Trinta, o Joãosinho Trinta. · O ambiente reuniu painéis que remontavam uma trajetória de 40 anos de folia e extremo requinte, tendo como música de fundo, claro, o mais puro samba. Antes da sessão começar, o clima nos bastidores do Museu Nacional era de pura festa. O Grupo Coisa Nossa, que há 20 anos interpreta sambas e pagodes nos diversos palcos
da cidade, ilustrava através das marchinhas o Carnaval antigo, a Escola Mocidade do Valparaíso e a Aruc ensaiavam animadamente, estilo Joãosinho Trinta.
E L I ANA A autora da indicação foi a deputada distrital licenciada e secretária de Desenvolvimento Social, Eliana Pedrosa, que orgulhava-se por sugerir a outorga do título de Cidadão Honorário de Brasí-
e lia ao artista, e afirmou que o vínculo de Joãosinho com o DF não pára por aí. "Ele está procurando dar uma grande contribuição ao Distrito federal, não só pensando na beleza e na alegria, mas também no social, como resgatar pessoas e famílias para que tenham uma vida digna, se sustentem e sejam exemplos de superação. Por isso, o título é mais que merecido", complementou Eliana. O deputado Wilson Lima também falou da importância da homenagem: "Joãosinho Trinta tem muitos valores e isso é inegável. Dessa forma, a Câmara Legislativa o reconhece como Cidadão de Brasília".
amo. E aceitando o convite do governador José Roberto Arruda, irei iniciar na cidade um Curso de Evolução da Cadeia Produtiva do Carnaval", disse Joãosinho.
EMOÇAO A expectativa era grande para a chegada do homenageado, que foi recebido por amigos, autoridades e admiradores. Joãosinho emocionou-se com o assédio dos fãs. Com a humildade de sempre, cumprimentou um a um. "É muito emocionante estar recebendo o certificado de Cidadão Honorário de Brasília. Eu decidi vir morar em Brasília porque a
As escolas Mocidade do Vaiparaíso e Aruc estavam à espera do carnavalesco, que se dirigiu à mesa e foi recebido pelo charme das rainhas de bateria, porta-bandeiras e um enredo inspirado em sua carreira. Pouco depois, o momento mais importante da noite, o certificado do mais novo cidadão brasiliense, foi entregue a Joãosinho Trinta, agora brasiliense de fato.
CULIURA
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CARNAVAL DO EUJ.URO EM BRASÍLI.A Artigo Joãosinho Trinta e José Ricardo Marques Carnaval, maior mapopular nifestação do Brasil, é uma das molas impulsionadoras do desenvolvimento econômico. Trata-se de importante manifestação sócio-cultural, possibilitando a participação das populações nos desfiles e em todas as outras atividades da festa, sem qualquer tipo de discriminação. É uma promoção que contribui com a cadeia produtiva da área de lazer, eventos e turismo, além de proporcionar implemento de renda e emprego. Gera também desenvolvimento técnico e profissionalizante, criando condições para o desenvolvimento turístico e econômico de cidades e capitais onde está consolidado, como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, entre outras.
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Tudo começou na Grécia
O Carnaval originário tem como marco inicial a criação dos cultos agrários e, como ponto de consolidação, a oficialização das festas de Dionísio, durante o reinado de Pisistrato, na Grécia, de 605 a 527 a.C. Historiadores e pesquisadores relatam que o primeiro centro de excelência do Carnaval se localizava no Egito. Constava de danças e
cânticos em torno de fogueiras. Máscaras e adereços eram incorporados aos festejos, ligando-se a totens e deuses. Logo depois, o Carnaval passaria pela Roma antiga e pagã, espalhandose em seguida pela Europa medieval e se manifestando em Portugal com o nome de Entrudo. O Carnaval (não só o do Brasil) é considerado hoje uma das festas populares mais animadas e representativas do mundo. Na forma atual, tem sua origem localizada no Entrudo português, onde, no passado, as pessoas jogavam água, ovos e farinha, umas nas outras. O Entrudo acontecia num período anterior à Quaresma e, portanto, tinha significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje. A festa chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciada pelas manifestações carnavalescas que aconteciam na Europa. países como Em Itália e França, o Carnaval ocorria em forma de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens da época, como a colombina, o pierrô e o Rei Momo, acabaram incorporadas ao Carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia.
"Corsos", no Brasil, no Século XIX
No Brasil, no final do Século XIX, apareceram os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos "corsos". Estes últimos tornaram-se mais populares no começo do Século XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está ai a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. No século passado, o Carnaval brasileiro foi crescendo, tornando-se cada vez mais uma festa popular. Esse crescimento ocorreu com a ajuda das marchinhas carnavalescas. As músicas deixavam o Carnaval cada vez mais animado e de alcance nacional. A primeira escola de samba surgiu no Rio de Janeiro e chamava-se Deixa Falar. Foi criada pelo sambista carioca Ismael Silva. Anos mais tarde, a Deixa Falar transformou-se na Escola de Samba Estácio de Sá. A partir daí, o Carnaval de rua começou a ganhar um novo formato, surgindo novas escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo, organizadas em ligas de escolas de samba. Começaram, então, os primeiros campeonatos, para verificar qual escola de samba era a mais bonita e a mais animada.
O Carnaval de rua manteve suas tradições originais no Nordeste do Brasil. Em cidades como Recife e Olinda, as pessoas saem às ruas, durante o Carnaval atual, no ritmo do trevo e do maracatu. Em Salvador, existem os trios elétricos, criados na década de 50, que circulam embalados por músicas dançantes de cantores e grupos da região, mas também ostentando grandes nomes da música nacional como convidados. Na capital baiana, mantém-se, com sucesso, os blocos negros, como Olodum e lleyaê, além dos blocos de rua, assim como o Afoxé Filhos de Gandhi. História do Carnaval de Brasília A história do Carnaval de Brasília não se resume ao bloco Pacotão, criado por jornalistas na década de 70 e hoje mantido por outros grupos de foliões. No DF, atualmente, há 17 escolas de samba, sete blocos de embalo e três blocos de samba de acesso. Como se vê, como são 29 as regiões administrativas que compõem o Distrito Federal, há ainda bastante espaço para o crescimento desse contingente de organizações carnavalescas. Há mais de 40 anos, foliões oriundos do Rio de Janeiro, com a transferência dos órgãos públicos para a nova capital federal, trouxeram em suas bagagens a alegria do Carnaval , promovendo em Brasília as primeiras manifestações populares.
Com o passar do tempo, consolidaram-se lideranças nessa área. O Carnaval de Brasília evoluiu bastante na sua organização e hoje conta com ligas independentes e com desfiles de médio porte, premiando as melhores agremiações inscritas. Os desfiles dos três últimos anos aconteceram na cidade de Ceilândia, a mais populacional do DF, com mais de 400 mil habitantes. Com o aumento da sua densidade demográfica, contando com mais de 2,4 milhões de habitantes, Brasília carece de maior estrutura para o seu Carnaval. Afinal, devemos levar em conta que mais de 50% dos moradores do DF já são brasilienses de nascimento. É uma situação que muda o modo de se ver a população local, agora não mais formada somente por forasteiros. Intelectuais, jornalistas, amantes da cultura e do Carnaval se mobilizam para uma maior discussão, pois querem e vêem a necessidade de planejamento e organização nessa área. É preciso estruturar e capacitar as ligas, as escolas de samba e as outras agremiações, visto que o Carnaval de Brasília tem público e criou condições para gerar empregos e renda, como qualquer outro evento cultural ou turístico. Precisa ser tratado com a devida dignidade e com visão econômica por parte de todos os agentes envolvidos nesse processo.
Premissas, objetivos, sugestões e considerações Como premissa, o Carnaval terá de se apresentar em local de ampla visibilidade, de fácil acesso, onde oportunamente haja condições de atrair público local, regional e até nacional, desde que seja adotada a necessária estratégia de marketing em busca desse tipo de resultado. O desfile, portanto, deve estar próximo de ampla rodoviária, com fácil acesso ao Metrô. Além disso, outros itens são fundamentais, como estacionamento, rede hoteleira próxima e disponibilidade de amplos serviços, como restaurantes, táxis, bancos, hospitais, etc. Em diversos estados, a exemplo de Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina e até Amapá, os eventos de massa, em especial o Carnaval, acontecem no centro, e nunca na periferia, mesmo com contingente populacional suficiente para, aparentemente, garantir público. Nesse enfoque, imaginemos realizar o carnaval do Rio de Janeiro, reconhecidamente o "Maior Espetáculo da Terra" , em Duque de Caxias, São Gonçalo ou Nilópolis, cidades com população suficiente para alcançar público, mas sem alcance universal. É claro que haveria grande perda. Uma frase utilizada no histórico Carnaval "Ratos e Urubus", da Beija-Flor, exprime de forma paradoxal a filosofia do espetáculo ofereci-
CULIUM
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do pelas grandes escolas de samba: - "Quem gosta de mtsena é intelectual. Pobre gosta é de luxo." (Joãosinho Trinta) Vê-se, portanto, que o melhor local do DF para construir uma passarela para o desfile de escolas carnavalescas deve ser buscado no Plano Piloto. Sugere-se, inclusive, que seja considerado o Setor de Diversões Norte, local denominado "Caldeirão da Folia", no Eixo Monumental. Essa localização central poderá permitir o uso do sambódromo para outros eventos, a exemplo do Rio de Janeiro, com a instalação de centros de capacitação e de qualificação, além do desenvolvimento de atividades educacionais e técnicas inseridas na cadeia produtiva do Carnaval. A capacitação e qualificação de todo o pessoal envolvido com o Carnaval é mesmo uma questão de alta relevância, não somente para assegurar qualidade crescente na festa, mas também para proporcionar a ascensão social e econômica das lideranças e de todos os participantes das escolas e blocos Com a estruturação e o desenvolvimento do Carnaval no DF, criando-se ampla visibilidade para a festa, pode-se estabelecer como meta uma super apresentação em 201 O, com o tema: "Brasília 50 anos, do Cerrado ao Apogeu, centro das decisões, do empreendedorismo e do sonho".
Considerações Finais Brasília consome 5,8% do seu PIB em cultura, lazer e turismo local. Trata-se do dobro da média nacional, que é de 2,24%, conforme noticiado no Correio Brasiliense, apontando dados sócios-econômicos do IBGE. Com o aperfeiçoamento e a capacitação dos membros efetivos ligados ao Carnaval em todas as nossas cidades e no Entorno, ganharemos notoriedade. Poderemos estabelecer convênios com os Carnavais de Recife, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, intercambiando públicos e preparando pacotes turísticos, estabelendo meta de atrair no primeiro momento grandes levas de visitantes. Um novo projeto de Oscar Niemayer, em pleno Plano Piloto, também será fator de atração de público externo, na qualidade de mais um monumento na cidade tombada. Além disso, sempre haverá a curiosidade de ver o diferencial do sambódromo de Brasília em relação ao do Rio de Janeiro, ambos produzidos pelo mesmo arquiteto. Como visto, há ângulos surpreendentes nessa questão do Carnaval brasiliense. A iniciativa privada e os grandes investidores certamente estarão presentes, diante da visibilidade que o novo projeto proporcionará. A Ceilândia, mesmo concentrando grande público na sua área de influência, não garante o resultado almejado num projeto de tão amplo alcance. O fato é que até as escolas de samba e
suas lideranças, em manifestações explicitas, preferem que o Carnaval fique instalado em local isento, de melhor acesso, onde possam projetar melhor seus estilos e seus valores. Uma das motivações para promover os desfiles de Carnaval em uma cidade-satélite seria o desenvolvimento de um corredor cultural no eixo Taguatinga/Samambaia/Ceilândia. No entanto, acreditamos que esse anseio pode se configurar com outras expressões artísticas, culturais e musicais consolidadas, como o rock, o forró, o hip-hop e muitos outros estilos culturais. No entanto, para o desfile de Carnaval, o correto é a máxima visibilidade e a acessibilidade a todos, num palco isento, como ocorre nas festividades de Natal e Ano Novo. Acreditamos firmemente que, em 201 O, o tema focado nos 50 anos de Brasília poderá consolidar um Carnaval local que, a partir de então, será reconhecido no País pelo seu estilo e pela sua qualidade. Para isso, basta que comecemos a trabalhar desde já, com planejamento e concentração de esforços, sem dispersão. Brasília é uma cidade sem chaminés. Por que não transformá-la na cidade do samba moderno? Este é o sonho que estamos dispostos a viver junto com todos os que lutam por um Distrito Federal mais respeitado e mais valorizado por todos os brasileiros.
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PRESÉPIO
População aplaudiu a obra de a rte na Esplanada s festejos natalinos têm do-se, principalmente, em altasido valorizados pelo res de pequenas igrejas, bem GDF nos últimos temcomo nas popu lares "casinhas pos, com apoio também à festa de santo" presentes nos lares do Reveillon, mantendo a popubrasileiros, onde a singileza das lação em Brasília no fim de ano formas contrasta com a riqueza e atraindo turistas. Este ano, a de detalhes Brasiliatur inovou, contratando o Foram criadas estruturas artista plástico Joãosinho Trinta, totalmente desmontáveis, sendo com toda a sua experiência bem a base composta por andaimes sucedida em alegorias carnava- · dimensionais com 20 metros de lescas, para criar um presépio. altura X 30 metros de largura. As instalações ficaram à Viam-se esculturas artedisposição do público na Esplasanais entre os arcos, esculpinada dos Ministérios, nas duas das em isopor, com armação de últimas semanas de dezembro metal em cores variadas, simbolizando a Sagrada Família e os do ano passado e na primeira semana deste ano, montadas no anjos que anunciaram o nascigramado central, surpreendendo mento de Jesus. Noutro estágio, a população tanto quanto outras estavam os Reis Magos. criações imortais de Joãosinho. Foi grande o sucesso O projeto foi inspirado na desse projeto, visitado por milhaarte barroca brasileira, baseanres de pessoas, nos três turnos
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do dia. Brasília iguala-se, dessa forma, a muitas outras cidades brasileiras, onde a decoração de Natal e as festas de Révei llon têm grande importância, vistas como alternativas para a geração de emprego e renda, além do desenvolvimento do turismo. O exemplo do Rio de Janeiro deve mesmo ser seguido, com suas queimas de fogos, que atraem à praia de Copacabana mais de dois milhões de pessoas, de toda parte do Brasil e do mundo. Cidades como Florianópolis, São Paulo, Natal, Recife, Salvador e tantas outras também preparam magníficos eventos, com shows e decorações exclusivas, como a de Gramado, que nessa época do ano esgota suas capacidade hoteleira.
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JOAOSINHO TRINTA O carnavalesco e artista plástico Joãosinho Trinta, que ao longo de suas 41 participações em desfiles colecionou 17 títulos de campeão do Carnaval, sendo 12 como carnavalesco principal e outros cinco em parcerias, ou como membro de comissões de carnavais - tornando-se o maior vencedor de todos os tempos-, está afastado dos desfiles oficiais, mas não do mundo do samba e do Carnaval
P
ara falar de seus proje-
les de alguma escola de samba
percorrer o Brasil e o mundo,
tas e, sobretudo, para
do Rio de Janeiro.
como uma espécie de Seleção
Joãosinho
conhecer de perto a es-
viajou
em
Brasileira de Carnaval. Os dois
Ri-
estiveram com o Presidente da
trutura, organização e as pesso-
companhia do empresário
as que conduzem o progressis-
cardo
Marques (ex-Secretário
São Paulo Turismo, Caio Luiz de
ta e inovador Carnaval de São
de Cultura do DF), com quem
Carvalho, realizaram visita técni-
Paulo, Joãosinho Trinta aceitou
desenvolve alguns propostas,
ca ao Sambódromo Paulistano e
o convite e foi conferir o sucesso
especialmente, o Samba das
mantiveram entendimentos pre-
do evento, coisa que não pôde
Nações. Trata-se de projeto con-
liminares, com vistas ao lança-
realizar antes por estar sempre
ceituado como uma grande com-
mento do projeto em São Pau lo,
à frente da condução dos desfi-
panhia de ópera popular, para
em uma possível parceria entre
NO CARNAVAL 2008 Samba das Nações, Prefeitura ~
de São Paulo, Liga das Escolas de Samba -SP e iniciativa priva-
MINITURNE
da. À
noite,
no
primeiro
dia de desfiles, no Camarote da Prefeitura de São Paulo, Joãosinho Trinta e Ricardo Marques tiveram a oportunidade de expor o projeto, ao governador de São Paulo, José Serra, e ao prefeito Gilberto Kassab. Ambos demonstraram bastante entusiasmo e incentivaram o avanço das conversações. Já no Rio de Janeiro, cidade que o consagrou para o mundo e com a qual mantém
Governador José Serra recepcionando Marques e Joãosinho
uma relação especial de carinho, Joãosinho Trinta reviu amigos, falou de negócios e, principalmente, atualizou-se do que se passa nos bastidores da Sapucaí. E sobrou fôlego para voltar a tempo de prestigiar o desfile das escolas de samba do grupo I do DF. Afinal, além de morador e cidadão honorário, Joãosinho encontrou em Brasília o local ideal para viver e desenvolver os seus projetas socioculturais. Joãosinho com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab
CULtuRA
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O Carnaval de Brasília em 2009 terá Joãosinho Trinta como destaque no desfile da Associação Recreativa e Cultural Unidos do Cruzeiro (ARUC). O tema-enredo, criado por Moacyr de Oliveira Filho (Moa) e Hélio dos Santos, é "O gavião abre as asas para Joãosinho Trinta, o Mestre do Carnaval"
TEMA-ENREDO DAARUC Moacyr de Oliveira Filho (Moa) & Hélio dos Santos
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oãosinho Trinta, um dos maiores nomes da história do Carnaval brasileiro, está morando em Brasília. Nada mais justo que a ARUC, a mais antiga e campeoníssima escola de samba de Brasília, preste no Carnaval de 2009 Uma homenagem a essa campeoníssima personalidade do carnaval brasileiro.
Joãosinho Trinta, do Rio de Janeiro, cidade que escolheu para viver e traba lhar e onde se projetou, e de Brasília, cidade que adotou para se recuperar de um grave problema de saúde. Vamos falar do Joãosinho Trinta bailarino, coreógrafo e carnavalesco. Vamos mostrar suas obras no palco e na avenida. Seus trabalhos comunitários. Suas declarações e
atitu des polêmi cas. Vamos apresentar suas vitórias, mas mostrar também suas derrotas. Seus títu los de campeão e suas contribu ições inovadoras e polêmicas, mesmo as que não levaram o título. Enfim, será o encontro da ARUC, soberana do Carnaval de Brasília, com um dos soberanos do Carnaval brasileiro. Um encontro de campeões.
Nosso enredo vai mostrar o gavião símbolo da ARUC de asas abertas para homenagear Joãosinho Trinta, contando a sua história e mostrando os aspectos mais importantes, expressivos e significativos de seu trabalho no balé, no teatro e, é claro, no Carnaval. Vamos falar de São Luís do Maranhão, terra natal de
Moa vibra com visita àAruc do carnavalesco que será tema da Escola no Carnaval brasiliense de 2009
SAMBA DAS NAÇÕES De Brasília para o mundo projeto sócio-cultural Samba das Nações foi idealizado em Brasília pelo carnavalesco Joãosinho Trinta e pelo empresário e exsecretário de Cultura do DF, José Ricardo Marques. O objetivo do projeto é desenvolver, através da cadeia produtiva inserida no Carnaval , enredos e temas mostrando situações que afetam e aflig em a humanidade. O Sa mba das Nações procurará desperta r a consciência , em dife rentes pontos do planeta, pa ra essas questões. Ao mesmo tempo, levará ao mundo a beleza do espetáculo proporcionado por uma escola de sa mba, como produto cultural bras il eiro. O primeiro en redo será ~obre o Meio Amb iente, destacando a importância da preservação das reservas naturais, o aquecimento global, devastações e degradações em nossas florestas, riscos às bacias hidrográficas, entre ou tros fatores de ameaça ecológica . Enfim, o projeto Samba das Nações despertará reflexão sobre fatos e situações que podem ameaçar a humanidade da forma que a vemos hoje. O segundo enredo tratará da fome, da miséria e da diferença no desenvolvimento sócio-econômico entre países de Primeiro e Terceiro Mundo. Será reeditado , nessa fase do trabalho , o famoso carnaval de Joãosinho Trinta, "Ratos e Urubus".
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O terceiro enredo abordará a violência urbana e o terrorismo, usando como exemplo a ser lembrado a queda do World Trade Center, nos EUA, fato histórico da humanidade. Joãosinho Trinta é considerado o maior carnavalesco de todos os tempos, inovador e
criativo. Transformou o Carnaval brasileiro, em especial o do Rio de Janeiro, dando-lhe característica de "Opera de Rua" e atraindo a atenção do mundo inteiro. Hoje, o Carnaval carioca é transmitido para mais de 160 países e, como o futebol, se constitui em identidade marcante do Brasil.
TURISMO E DIVISAS O Samba das Nações terá sua sede em Brasília, pela proximidade do centro do poder e das representações internacionais. A estratégia do projeto prevê apresentações em diferentes cidades do mundo, levando a beleza do Carnaval brasileiro associada a causas edificantes. O projeto, entre outros benefícios, atrairá turismo e divisas para o Brasil, fortalecendo marcas e valorizando propostas de vanguarda, como o desenvolvimento de carros movidos a etanol e biodiesel com tecnologia brasileira, exemplo de iniciativa ecologicamente correta. O Samba das Nações está sendo produzido para apresentações também em locais fechados, como teatros ou espaços de cultura, e ainda como espetáculo para
participação em eventos empresariais e políticos. Poderá, por exemplo, integrar comitivas empresariais ou governamentais que queiram estreitar relações com paises e mercados externos. Como subprodutos, o Samba das Nações instalará bares temáticos, com apresentações de música brasileira, nos locais onde se apresentar, destacando ritmos como samba, chorinho, pagode, samba-de-corda e roda, canção e outros que consagram a nossa cultura. Produtos como bonés, sandálias, camisas, bonecos estilizados, biquínis, sungas, artefatos de praia e diversos equipamentos desenvolvidos com a marca do Samba das Nações também compõem o projeto que está sendo criado por Joãosinho Trinta e Ricardo Marques em Brasília. DF
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De São L 1z ao Os primeiros passos de Joãosinho Trinta oão Clemente Jorge Trinta, o Joãosinho Trinta, nasceu em São Luis do Maranhão, no dia 23 de novembro de 1933. Nascido numa família pobre, João Jorge Trinta desde cedo fabricava seus próprios brinquedos, de onde surgiu sua criatividade e seu gosto pelas formas, cores e materiais. Sua imaginação também foi estimulada pelas fantásticas histórias contadas por Nhá Vita, uma velha negra, que lhe abriu
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os caminhos e o interesse pelo folclore e os mistérios das terras encantadas do Maranhão. Para ganhar a vida trabalhou como escriturário em São Luís até os 18 anos, quando, em 1951, conseguiu na empresa em que trabalhava uma transferência para o Rio de Janeiro. Ainda em sua terra natal, pertencia a um grupo de amigos e intelectuais que reunia Ferreira Gullar e José Sarney, entre outros, e começou a tomar contato com as manifestações da
cultura maranhense, expressas na arquitetura de São Luís, da qual os azulejos portugueses são a maior referência, e nas manifestações folclóricas, como o Bumba Meu Boi e o Tambor de Crioula, entre outras. Joãosinho Trinta chegou ao Rio de Janeiro, em 1951, num sábado de Carnaval, para estudar dança clássica. Estudou balé na academia de Eduardo Sena e em 1956 ingressou por concurso público no Corpo de Baile do Teatro Municipal do
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Rio de Janeiro, com o qual participou de inúmeras montagens de óperas e balés. Durante 25 anos, integrou o Corpo de Baile do Teatro Municipal e, como coreógrafo, montou várias óperas, entre elas, "O Guarani", de Carlos Gomes, "Aída", de Giuseppe Verdi, e "Tosca", de Giacomo Puccini. Nessa época, conheceu os cenógrafos Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona, que além de trabalharem na cenografia do teatro, decoravam os bailes e as ruas da cidade para o Carnaval, e acabaram abrindo as portas do mundo do Carnaval para Joãosinho Trinta.
Joãosinho Trinta encontra o Carnaval e encanta ri indo Rodrigues e Pamplona Fernando assumiram o Carnaval do Salgueiro em 1960 e, em 1963, convidaram Joãosinho Trinta para integrar a equipe de carnavalescos na criação das fantasias e alegorias para o enredo "Xica da Silva", com o qual a escola foi campeã do Carnaval. Foi sua estréia no mundo do Carnaval de onde nunca mais saiu. E uma estréia campeã. Joãosinho Trinta fez parte da equipe de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona no Salgueiro nos carnavais de 1963 a 1972 e foi campeão em 1965 ("História do Carnaval Ca-
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rioca - Eneida"), 1969 ("Bahia de Todos os Deuses") e 1971 ("Festa Para Um Rei Negro"), quando, pela primeira vez, assinou o Carnaval junto com Arlindo Rodrigues, Fernando Pamplona e Maria Augusta. Em 1973, com a saída de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona, foi promovido a carnavalesco principal do Salgueiro, assinando junto com a artista plástica Maria Augusta, os carnavais de 1973 e de 1974, quando foi campeão com "O Rei de França na Ilha da Assombração". Como único carnavalesco do Salgueiro, conquistou o bi-campeonato em 1975, com "As minas do Rei Salomão".
Após divergências com a diretoria salgueirense, transferiu-se, em 1976, para a então pouco expressiva escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, onde ficou durante 17 anos e, auxiliado pelo figurinista Viriato Ferreira, deu seu toque de genialidade com enredos ousados e luxuosos que deram à agremiação os títulos de 1976 ("Sonhar com Rei Dá Leão"), 1977 ("Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egípcia"), 1978 ("A Criação do Mundo Segundo a Tradição Nagô"), 1980 ("O Sol da Meia-noite - Uma viagem ao País das Maravilhas"), título dividido com a Imperatriz Leopoldinense e a Portela, e 1983 ("A grande constelação
CILI liiA
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das E_strelas Negras"), além de vários vice-campeonatos. Ainda em 1976, no ano em que estreiava na BeijaFlor de Nilópolis, foi campeão, também, no Império da Tijuca, escola que desfilava no então Grupo 2 das escolas de samba cariocas, com o enredo Guerreiro das Alagoas. Em 1993 não participou do Carnaval, voltando em 1994, na Unidos do Viradouro, uma escola de samba de Niterói, que não figurava entre as grandes do Carnaval carioca, onde ficou até 2000 e foi campeão em 1997 com um enredo e um desfile impactantes - ""Trevas! Luz! A explosão do Universo". Em 1996, sofreu um derrame que deixou seqüelas, paralisando um dos lados de seu corpo. Mesmo assim continuou trabalhando na Viradouro e sua presença na Marquês de Sapucaí fazia o público delirar. Em 2001 foi para a Acadêmicos do Grande Rio, de Duque de Caxias, onde ficou até 2004 e conquistou um inédito 3.o lugar para a escola, em 2003 , com o enredo "O nosso Brasil que Vale". No Carnaval de 2004, Joãosinho Trinta foi homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, que elegeu como tema sua vida e sua obra, num desfile que foi considerado um tributo ao grande mestre. Afinal, Joãosinho Trinta foi carnavalesco da Rocinha em 1989 ("O Esplendor dos Divinos Orixás"), 1990 ("Um Coração Chamado Brasil") e 1991 ("Do Esplendor de Roma Pagã ao Despontar da Rocinha"), sendo tri-campeão.
.Joãosinho Trinta, ousado, polêmico e inovador m dos ícones do Carnaval carioca, sua criatividade sempre trouxe mudanças radicais. Uma delas foi a criação de grandes carros alegóricos. Na época, acusado de descaracterizar as raízes do carnaval, declarou: "Eu não mexi nas raízes, apenas arrumei vasos mais bonitos para elas". Outra frase de sua autoria e causadora de grande impacto foi a polêmica "Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual", em resposta aos ricos carros alegóricos criados para a Beija-Flor.
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Na sua passagem pela Beija-Flor de Nilópolis criou e organizou diversos programas sociais de inclusão da população carente, principalmente as crianças, o que se tornaria sua marca registrada. Em 1989, Joãosinho Trinta surpreenderia mais uma vez na Beija-Flor, com o enredo "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia", num desfile arrebatador e revolucionário, recheado de mendigos, que gerou uma grande polêmica com a Igreja Católica, ao tentar levar para a avenida uma carro alegórico com a imagem do Cristo Redentor. O carro foi proibido, mas acabou desfilando coberto por um plástico preto com a impactante frase escrita no
A irreverência da Beija-Flor em 1989
plástico: "Mesmo proibido, olhai por nós". A ousadia entrou para a história como um dos momentos mais marcantes do carnaval carioca. Em 2003 foi o primeiro carnavalesco a aceitar a merchandising e o patrocínio de grande empresas para uma escola de samba. Com o enredo "O nosso Brasil que Vale", obteve o patrocínio da Vale do Rio Doce, inaugurando um comportamento que acabaria sendo seguido por todas as demais escolas de samba. Em 2004, Joãosinho Trinta se envolveria em mais uma polêmica, ao propor um enredo ousado para a Grande Rio - "Vamos vestir a camisinha, meu amor". Na sinopse do enredo, Joãosinho Trinta escreveu:
"Vamos proteger as crianças! Vamos preservar a saúde e o vigor físico! Praticar Esportes e cuidar da Alimentação! Vamos festejar o milagre da vida! Vamos cantar e dançar com alegria! Na folia do carnava l da Grande Rio . Comandada pe la Sabedoria do Velho Guerre iro Chacrinha que dizia: Bota a camisinha meu amor... " Mas não seria, ainda, a sua despedida do Carnaval carioca. No ano seguinte, em 2005, fez o Carnaval da Vi la Isabel, assinando junto com Martinho da Vila o enredo "S ingrando em mares bravios ... Construindo o futuro" . Foi seu último traba lho como carnavalesco no Rio de Janeiro. Em 42 anos de carreira, atuando em sete escolas de
CULtURA
samba , conquistou 16 títu los de campeão, sendo 12 como carnavalesco principal e 4 como integrante da equipe de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona , e nove vice-campeonatos. Ninguém, individualmente, foi tantas vezes campeão . Aliando criatividade, verve, liderança e ousadia, Joãosinho Trinta revolucionou e modernizou o carnaval carioca, criando uma visualidade de grande impacto para diferentes enredos. Viajou por vários lugares do mundo levando grupos de show de escolas de samba e foi, também , palestante em empresas e universidades sobre o universo do carnaval.
Isabel Valença representa na Avenida a imortal Xica da Silva em 1973
Brasília e o Gavião recebem
Joãosinho Trinta
E
m novembro de 2004, Joãosinho Trinta sofreu novo derrame e foi internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, tendo alta poucos dias depois. Mas a sua saúde iria lhe pregar uma nova peça que acabaria por mudar radicalmente a sua vida. Em 11 de julho de 2006, após sofrer dois AVCs, foi internado no Rio de Janeiro e, vinte dias depois, transferido para o Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, de onde teve alta em 19 de outubro, mas recebeu a indicação de se submeter a um intensivo programa de reabilitação no Sarah. Decidiu então fixar residência em Brasília. E, como não podia deixar de ser, começou a ser solicitado para emprestar seu talento e criatividade para projetas culturais na cidade, como a decoração da tradicional Festa dos Estados e a montagem de um gigantesco presépio, na Esplanada dos Ministérios, no Natal de 2007. Além disso, apresentou ao GDF um projeto de modernização e capacitação do Carnaval de Brasília, onde atuaria como um consultor junto ao governo e às entidades carnavalescas. No Carnaval de 2008 visitou o barracão da ARUC, fez questão de assistir ao desfile das escolas de samba do Grupo Especial de Brasília, acreditando no potencial das entidades carnavalescas da cidade, e apre-
sentou várias sugestões para o fortalecimento do Carnaval da cidade, entre elas a volta dos desfiles para o Plano Piloto, como é a vontade da ampla maioria dos carnavalescos de Brasília. No final de fevereiro de 2008 recebeu da Câmara Le-. gislativa do Distrito Federal o título de Cidadão Honorário de Brasília. Mas sua menina dos olhos é o projeto Samba das Nações. Uma escola de samba de atuação internacional, que viajaria pelo mundo com temas que envolvem todos os povos, como meio ambiente, fome, violência e conflitos étnicos, formada com o apoio de embaixadas estrangeiras, com o objetivo de espalhar mensagens de otimismo no exterior ao som do samba brasileiro. Na escola, além de ensinar a arte e história do carnaval e do samba, Joãozinho Trinta pretende, por meio de parceria, desenvolver atividades que contribuam com o futuro de menores carentes. O projeto, no entanto, ainda não saiu do papel. Para transformar seu novo sonho em realidade, Joaõsinho Trinta busca o apoio da ONU,
da Unesco, de organizações não governamentais, empresários e das entidades carnavalescas. O gavião, símbolo da ARUC, abre as suas asas para homenagear Joãosinho Trinta e espera que sua presença em Brasília sirva de estímulo para que governo, empresários e entidades carnavalescas sigam seu exemplo e aproveitem suas idéias para consolidar definitivamente o nosso Carnaval, transformando-o efetivamente numa indústria capaz, entre outras coisas, de incrementar o turismo.
AEstética dos Desfiles das Escolas de Samba I
Artigo Hiram Araújo estética dos desfiles das Escolas de Samba se desenvolveu em duas etapas de sua evolução: a primeira etapa foi da década de 30 à década de 50, quando houve o predomínio da arte do samba; a segunda, da década de 50 até os tempos contemporâneos, quando as artes plásticas se sobressaíram. A espinha dorsal que permitiu a formação da identidade das Escolas de Samba , diferenciando-as de suas origens, os Blocos Carnavalescos, só se completou a partir de 1952, quando o Regulamento dos Desfiles exigiu a existência do samba de enredo, da fantasia e da alegoria e adereço, como parte integrante da Escola de Samba em desfile. A partir de 1957, com a ida dos desfiles das Escolas de Samba para o palco nobre do carnaval carioca, a Av. Rio Branco, substituindo as decadentes Grandes Sociedades e os Ranchos Carnavalescos, acelerouse o crescimento das Escolas de Samba. Quando Nelson de Andrade assumiu a presidência do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro em 1958, o artista plástico Hildebrando e, em 1959, Dirceu e Marie Louise Nery, deram início à revolução da estética nos desfiles, com propostas novas, logo acrescidas da entrada do professor da Escola de Belas Artes, Fernando Pamplona, com sua equipe formada por Arlindo Rodrigues, Nilton Sá, Dirceu
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e Marie Louise Nery e depois Rosa Magalhães, Maria Augusta, Max Lopes, João Trinta e outros, ditando os rumos das artes plásticas nos desfiles. Mas foi a partir de 1963, com a construção das arquibancadas tubulares na Av. Presidente Vargas à Candelária, ao mudar o olhar do espectador do plano horizontal para o plano vertical, que se acelerou o predomínio das artes plásticas sobre a arte do samba. As Escolas de Samba, que desfilavam dispersas, com o samba no pé em permanente evolução ao longo da avenida, sem preocupação com o tempo do desfile, começando o desfile à noite e terminando no dia seguinte à tarde, sob o sol escaldante, tiveram de se adaptar à nova realidade. Em 1970, foi introduzido o quesito Cronometragem, com bonificação de 1O pontos para a Escola que cumprisse o tempo de desfile. Acirrou-se o desfile. Devido às constantes brigas após a apuração, esta passou a ser feita no Regimento Caetano, na Polícia Militar. Esboçaram-se os desenhos coreográficos na avenida, com as criações das alas de passos marcados: na Portela e no Império Serrano, em 1957 e 1958 (Alados Impossíveis e os Três Pelés), para depois virar uma "coqueluche" na década de 70, atingindo seu máximo aperfeiçoamento em 1963, no Salgueiro, quando uma bailarina clássica, negra,
Mercedes Batista, no enredo Chica da Si lva, dançou um minueto na avenida. Em 1971 foi instituído o tempo para o desfile: 71 minutos para o Grupo I, 55 minutos para o Grupo 11 e 40 minutos para o Grupo III. Em 1973 o quesito Alegorias passou a se chamar Alegorias e Adereços. Nesse momento, a carpintaria da avenida, ao se sentir limitada em sua criação pelo nú-
mero máximo de carros alegóricos permitidos, se expande em complementações com os tripés e quadripés, que eram pequenas alegorias permitidas sem perdas de pontos, desde que os tripés fossem empurrados por uma pessoa, e o os quadripés por duas pessoas. Também em 1973 a pista da Candelária teve de ser desativada por causa das obras do metrô, iniciando uma peregrinação por várias pistas, sempre no Centro (uma exigência dos sambistas), até encontrar em 1978 a Rua Marquês de Sapucaí, estabelecendo-se definitivamente ali o desfile.
Em 1974 a cronometragem passou a ser avaliada por perda de pontos. Em 1975, objetivando uma melhor organização nos preparativos que antecedem o desfile, foi criado o quesito Concentração, com bonificação de 5 pontos para as Escolas de Samba que cumprissem as normas determinadas para o cumprimento de um bom desfile, no momento em que adentrassem na pista de desfile. Em 1976 Amaury Jório, Presidente da Associação das Escolas de Samba desde 1970, termina com a subvenção e cria o primeiro Contrato de Presta-
ção de Serviços, com a duração de tempo do governo, isto é, quatro anos. Nesse mesmo ano emerge no cenário dos desfiles uma Escola de Samba da Baixada Fluminense, chamada BeijaFlor de Nilópolis que, desde 1954 começou a desfilar no Rio de Janeiro, filiada à Confederação das Escolas de Samba e posteriormente, em obediência à legislação do Rio, teve de estabelecer sua sede na casa de Amaury Jório, em Ramos, que ao contratar o carnavalesco João Trinta, bi-campeão do Salgueiro (74/75), em 1976 lançou o show business.
João Trinta foi consolidador do estilo barroco no desfile das Escolas de Samba.
O Carnaval é uma festa barroca, como o torneio, o triunfo, a ópera, os fogos de artifícios. As arquibancadas verticais nas quais o público vislumbra carros alegóricos assemelham-se às grandes avenidas barrocas ao tempo do absolutismo, onde os espectadores, como agora, tinham uma visão global do conjunto, participando com aplausos do espetáculo que luta contra o vazio e tudo tem de ser com rapidez.
João Trinta percebeu que a forma de levar ao êxtase, ao enlevo e no encantamento o espectador, era preencher o alto como fazia a Igreja Cató· lica no teto, com uma ri· queza mística e esotérica. Dessa forma jogou ondas azuis e brancas, como chamas de fogo, sem contornos ou deflniç6es, com tecidos soltos ao vento e se movimentando permanentemente. Estava criado o barroco no desfile, logo Imitado por outras Escolas de Samba. Era a primazia do visual sobrepondo-se de vez sobre o samba no pé. A partir daí cada carnavalesco começou a impor seu estilo. Arlindo Rodrigues com o barroco rococó, hoje seguido pela Rosa Magalhães, e Fernando Pinto com o barroco tropicalista, que fizeram Escola, que atualmente tem sua máxima criação em Renato Lage, Max Lopes, Paulo Barros, Mário Borrielo, Alexandre Louzada, entre outros. Em 1978 a Portela iniciou o costume da queima de fogos de artifício antes do início do desfile.
Em 1980 foram suprimidos os quesitos Mestre-Sala e Porta-Bandeira e Comissão de Frente. Em 1981 houve, como uma reação , contra o crescente predomínio das artes plásticas pelas forças contrárias ao show business. As Escolas de Samba só podiam desfilar com um máximo de dois carros alegóricos e um abre-alas; também eram proibidas figuras humanas nos carros. Em 1982 a Imperatriz Leopoldinense e a Beija-Flor perderam 3 pontos por terem trazido figuras vivas nos carros alegóricos. Voltou a valer os mesmos pontos que os demais, o quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Também neste mesmo ano o GRES Império Serrano ganhou o título com um enredo contestatário do show business: "Bumbum Paticumbum Prugurundum". Em 1983 terminou o 2° Contrato de Prestação de Serviços, que era ajustado de 4 em 4 anos por um valor fixo, a UFERJ . Esse impasse resultou na construção da Passarela (definitiva) do Samba, uma iniciativa do novo governo Leonel Brizola, que pressionado para manter os desfiles das Escolas de Samba na cidade do Rio de Janeiro, não teve alternativa. O vice-governador Darcy Ribeiro assumiu a direção geral do Carnaval e fez um acordo com os sambistas, reajustando a verba de acordo com a inflação até o pagamento definitivo do Sambódromo. Ante o número exagerado de Escolas de Samba do Grupo I A, 12, foi acertado que não desceria nenhuma Escola, subindo 2 do Grupo O B, a Unidos de São Carlos e Império da Tijuca (campeã e vice-campeã). Os desfiles foram divididos em
2 dias, cada um com 7 Escolas desfilando, sendo proclamada uma campeã no domingo e outra na segunda-feira (a campeã de domingo foi a Portela e a de segunda-feira Mangueira). No sábado seguinte a Mangueira foi proclamada supercampeã. Desfilaram neste sábado as três primeiras colocadas de domingo e as três primeiras de segundafeira.
No dia 02 de março de 1984 foi inaugurado o Sambódromo, com o desfile das Escolas de Samba do Grupo I B; a primeira Escola a pisar no Sambódromo foi o Império de Marangá, com o enredo "Aguas Lendárias"; o primeiro sambista a pisar no Sambódromo, foi um menino chamado Leandro Chagas. Em 26 de julho foi criada a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - LIESA. Foram formados três corpos de julgadores diferentes. A partir de 1985 o Regulamento dos Desfiles modificou o lugar da Comissão de Frente no desfile, retirando-a de trás do carro abre-alas (o enredo só começava a ser desenvolvido a partir da Comissão de Frente), passando-a para frente do carro, abrindo o desfile. Neste momento a Comissão de Frente assume o papel de "abre-alas", dando o primeiro impacto visual do desfile (efeito halo), constituindo-se de alas coreográficas, em substituição aos clássicos senhores das Velhas-Guardas Monique Evans sai à frente da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel; foi a primeira mulher a ser Madrinha de Bateria.
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