Revista Figuras e Negócios n° 147

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CARTA DO EDITOR

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osé Maria Neves, Primeiro-Ministro de Cabo Verde, um país com quem Angola mantém excelentes relações há dezenas de décadas, continua a fazer-nos surpresas agradáveis.Como governante, vai avisando que abandonará o cargo daqui a dois anos, depois de ter cumprido três mandatos, com alguns problemas , é verdade, mas não menos verdade é o facto de, o também presidente do maior partido do arquipélago encravado no Oceano Atlântico (o Partido Africano para Independência de Cabo Verde- PAICV) tem privilegiado uma cooperação exemplar quer a nível da CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com a CEDEAO, Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental, com os PALOP, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, e com a União Europeia, sem esquecer a relação mimada q.b. que mantém com os Estados

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Unidos da América onde tem uma comunidade de mais de trezentos mil emigrantes, saídos do país mesmo antes deste de ter conquistado a sua independência. José Maria Neves tem o futuro traçado. Apenas como militante, tentará dar o seu contributo para que o partido consolide as suas posições no panorama político. Afirma que abandona os cargos com o sentimento do dever cumprido. Foi com este dirigente que a revista manteve uma conversa amena no seu gabinete no passado mês de Março, altura em que o nosso enviado especial encontrou um país em franco desenvolvimento, com projectos auspiciosos estrategicamente postos à mesa com "tudo e todos", sustentados no respeito mútuo, sempre na tentativa de tirar rapidamente da pobreza um dos países do mundo até então com poucos recursos naturais capazes de ombrear com os estados africanos mais ricos da região. Os esforços do governo cabover-

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deano têm colhido bons frutos de uma governação boa e muito referenciada pela União Europeia. Hoje, a pobreza está a ser fortemente combatida no quadro do cumprimento dos Objectivos do Milênio. Optimista, considera que o nível de endividamento é um ``processo consciente do governo para aproveitar as oportunidades que existem para infraestruturar o país e constituir factores de competitividade. Por outro lado, nesta edição damos espaço de destaque ao que vai pelo mundo em termos de preocupação legítima sobre a Educação Ambiental que se requer e se exige a todo o momento. O mês de março dedicámo-lo igualmente a matérias de reportagem sobre a trigésima sexta realização daquela que é considerada a maior manifestação cultural de Angola – o Carnaval, para além das habituaus rubricas sobre o Economia, Desporto, Sociedade e o nosso mundo político e cultural.Boa leitura neste mês de Março-Mulher!


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7. EDITORIAL PAZ SEM CINISMOS! 16. LEITORES POLÍCIAS TUGAS PÕEM ORELHAS DO GOVERNO A ARDER 19. PONTO DE ORDEM DISCRIMINAÇÃO E RACISMO 28. FIGURA DO MÊS UM JOVEM LUTADOR E PERSISTENTE 31. MUNDO REAL UMA AMEAÇA A PAZ MUNDIAL

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VOU DEIXAR O PODER EM 2016 COM O SENTIMENTO DO DEVER CUMPRIDO

32. FIGURAS DE CÁ 36. DESTAQUE ... E FEZ-SE A MAIOR FESTA POPULAR DOS ANGOLANOS 50. ECONOMIA & NEGÓCIOS BANCA ANGOLANA À PROCURA DE UM ROSTO 64. REPORTAGEM OS ORFÃOS DE PAIS VIVOS 68. CONJUNTURA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 76. MUNDO RÚSSIA ANEXA A CRIMEIRA E NÃO AVANÇA MAIS 89. FIGURAS DE JOGO O AVISO DO PRESIDENTE

CAPA: BRUNO SENNA

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PAÍS

CENSO GERAL DA POPULAÇÃO PRONTO A ARRANCAR

92. CULTURA

WALDEMAR BASTOS PREPARA DIGRESSÃO

96. VIDA SOCIAL

CASAMENTO DA JANET E CARLOS Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014


72 ÁFRICA

A PAZ AINDA TARDA A CHEGAR

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DESPORTO

"FALTA DE JOGO LIMPO" NA CONTRATAÇÃO DE ESTRANGEIROS

100. FIGURAS DE LÁ 104. RECADO SOCIAL

DESCULPE! AONDE FICA A AVENIDA "NELSON MANDELA"! Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

Publicação mensal de economia, negócios e sociedade Ano 14 - n. º 147, Março – 2014 N. º de registo 13/B/97 Director Geral: Victor Aleixo Redacção: Carlos Miranda, Júlia Mbumba, Mário Beirolas, Sebastião Félix, Suzana Mendes e Venceslau Mateus Fotografia: Nsimba George e Adão Tenda Colaboradores: Juliana Evangelista, Crisa Santos, Rita Simões, João Barbosa, Manuel Muanza e Shift Digital (Portugal), Wallace Nunes (Brasil) Design e Paginação: Humberto Zage e Sebastião Miguel Publicidade: Paulo Medina (chefe) Portugal: Assinatura e Publicidade Ana Vasconcelos Telefone: (351) 914271552 Secretariado e Assinaturas: Katila Garcia Revisão: Baptista Neto Distribuição: Urbanos Press S.A. Rua 1º de Maio, Centro Empresarial da Granja Junqueira 2625 - 717 Vialonga Londres: Diogo Júnior E16-1LD - tel: 00447944096312 Tlm: 07752619551 Email: todiogojr@hotmail.com Brasil: Wallace Nunes Móvel: (55 11) 9522-1373 e-mail: nunewallace@gmail.com Produção Gráfica: Cor Acabada, Lda Tiragem: 10.000 exemplares Direcção e Redacção: Edifício Mutamba-Luanda 2º andar - Porta S. Tel: 222 397 185/ 222 335 866 Fax: 222 393 020 Caixa Postal - 6375 E-mails: figurasnegocios@hotmail.com artimagem@snet.co.ao Site: www. figurasenegocios.com

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PAZ SEM CINISMOS!

A EDITORIAL

Cimeira Presidencial do Comité da Conferência da Região dos Grandes Lagos, que se realizou em Luanda no dia 24 de Março, para analizar a situação prevalecente no leste da República Democrática do Congo, veio demonstrar o quanto é importante para a Paz cuidar da segurança nos países e criar um clima de cooperação saudável para o desenvolvimento entre eles. Os Grandes Lagos constituem, hoje, na África uma zona fulcral pelo valor das riquezas que os países dentro dela possuem, onde a água é a sua matriz principal e, por isso, também a região onde se concentram a maior parte das tensões e problemas crónicos que se arrastam de há longas décadas a esta parte. Curiosamente, no acirrar das contradições entre os países que integram os Grandes Lagos está não só as relações cinicas que se cultivam entre os líderes mas também a ingerência, de potencias ocidentais na mira de melhor dividirem os países. A República Democrática do Congo é um exemplo evidente do quanto a ingerência externa não permite que políticas de reconciliação entre os congoleses se tornem eficazes e cada vez mais grupos rebeldes são organizados e armados para atentar contra um poder legitimamente constituido. Na verdade, o recrudescimento recente de acções condenáveis, na parte leste do Congo, alimentadas por grupos armados denominados ADF e FDRL, só vinga porque existe apoio externo, o que coloca o Rwanda e o Uganda em papel muito complicado para justificarem a sua inocência. Está, aliás, mais do que provado que as relações entre os governantes da RDC com os dos dois países nunca foram cristalinas pelo que não se torna nem dificil nem complicado acreditar que a instabilidade na RDC tem o beneplácito dos dois países vizinhos, mesmo que formalmente os presidentes Paul Kagame, do Ruanda e Youeri Museveni do Uganda, diplomaticamente neguem esse facto. Desenha-se no leste do Congo um cenário de crise perigosa para o continente africano com a generalização da instabilidade, pelo que Angola não pode ficar indiferente até pela dimensão geográfica existente en-

tre os nossos dois países. Na verdade, com a continuidade da guerra étnico tribal e religiosa na República Centro Africana, esse facto pode permitir que se produza um fluxo de islamistas radicais para a República Democrática do Congo e, conhecendo-se as fragilidades das nossas fronteiras, coloquem Angola numa posição complicada que possa mesmo ameaçar a soberania e integridade territorial do País. Ademais, num passado recente assistiu-se a isso, quando um anterior recrudescimento das acções armadas no leste da RDC levou a uma "invasão silenciosa" das províncias fronteiriças angolanas de milhares de expatriados africanos do norte de África que se concentraram precisamente em locais da exploração diamantifera. Isso obrigou as autoridades angolanas a uma diplomacia envolvente e dinâmica capaz de repor a legalidade sem que a acção passasse a ser considerada como um gesto inamistoso e anti-africano de Angola. É essa diplomacia que Angola continua a não descurar, agora até com responsabilidades acrescidas quando o País, na pessoa do seu Presidente, Eduardo dos Santos, responde pela presidência da Conferência dos Grandes Lagos, um mandato de dois anos que teve o seu início em Janeiro último. A Cimeira recente de Luanda advogou que tem de ser permanente a acção conciliadora desde que haja uma cooperação saudável e honesta entre os líderes dos países que integram os Grandes Lagos. Infelizmente, ainda não é esse o caso, o que levou os responsáveis máximos de Angola, Rwanda, RDC, República do Congo, Africa do Sul e Tanzânia a colocarem em evidência a vontade de, caso a linguagem diplomatica não resulte, a componente militar entrar em acção para fazer valer o respeito da integridade territórial de um País independente e membro da comunidade das nações. Caricato alguns dos instigadores da instabilidade na RDC estão dentro da própria Comissão dos Grandes Lagos, mas é o tal jogo de cinismo nas relações entre os países que Angola quer ajudar a acabar cultivando uma diplomacia pela cooperação vertical na mira de um desenvolvimento real e benéfico para os povos da região dos Grandes Lagos.

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VOU DEIXAR O PODER COM O SENTIMENTO D José Maria Neves, Primeiro-Ministro de Cabo Verde

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José Maria Neves é o actual Primeiro Ministro de Cabo Verde, chefia o governo desde 2001 e o seu terceiro e último mandato termina em 2016. Com 53 anos (completa 54 em 28 do corrente), José Maria Neves já prometeu abandonar em Dezembro a liderança do PAICV, actual partido dirigente, vai se assumir como um militante normal ao serviço do seu País mas avisa que não se reformará da política. Cordato, de bom porte e dono de um discurso fluido, José Maria Neves acredita que o seu Partido, o PAICV pode continuar a ser a força dirigente do arquipelago, mas avisa que isso so será possível se continuar a existir a coesão dos militantes, bom desempenho na governação e um espírito de sacrifício para a melhoria do País que os cidadãos cabo-verdianos reconheçam. A entrevista decorreu no seu gabinete de trabalho,na Praia, o Palácio do Governo, um edifício construido pela cooperação chinesa Por: Victor Aleixo, Enviado Especial Fotos: Agência Green Studio

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iguras&Negócios - Senhor Primeiro Ministro, como caracteriza as relações entre Angola e Cabo Verde? José Maria Neves (JMN) - Eu diria que entre Cabo Verde e Angola há uma relação histórica e afectiva muito forte. Muitos cabo-verdianos que vieram de Angola há muito tempo, existem muitas relações de parentesco entre cabo-verdianos e angolanos, e, no fundo, os cabo-verdianos amam Angola. E

Eu não alinho neste discurso catastrofista da oposição, sou muito mais optimista, mais positivo e estamos a trabalhar, por um lado, para mitigar os efeitos da crise e, por outro lado, para garantir que o País continue a crescer, a construir os factores de competitividade, a gerar riquezas e a construir o progresso e o bem estar dos caboverdeanos”

esta afectividade constitui uma ponte importante para o relacionamento entre os nossos dois países. F&N - E tem sido aproveitado essa afectividade? JMN - Podemos dizer que sim. Nesse momento as relações entre Cabo Verde e Angola são excelentes, há investimentos angolanos já importantes em Cabo Verde, veja-se a participação na Enacol, há a Sonangol Cabo Verde, há também o BAI

que é um dos maiores bancos aqui do País, há o investimento da Unitel que temos agora a Unitel T+, a Taag já faz duas ligações por semana entre Luanda e Praia, está-se a perspectivar a vinda de novos voos entre Luanda e Mindelo e, também, há visitas frequentes de empresários com intenções de ampliar os seus investimentos aquí em Cabo Verde. Temos agora é de continuar a elevar o patamar destas relações e devo dizer, também, que há uma presença muito forte de quadros cabo-verdianos em Angola. F&N - Falou mais de investimentos angolanos em Cabo Verde. Concretamente, que tipo de investimentos cabo-verdianos existem em Angola, atendendo que em tempos falou-se da ida de agricultores cabo-verdianos para se instalarem em províncias de Angola? JMN - Há possibilidades no domínio da agricultura e no das pescas. Não temos conseguido encontrar as vias para a operacionalização destas propostas, mas eu acho que doravante devemos trabalhar para operacionalizar as propostas que existem tanto no domínio das pescas como no domínio da agricultura. F&N - O que se perspectiva para os próximos tempos? JMN - Há a possibilidade de elevarmos a nossa cooperação no domínio das energias renováveis, das tecnologias informacionais, no domínio do turismo, particularmente da imobiliária turística mas também da area da hotelaria, no domínio industrial e também na possiblidade de empresários angolanos participarem na gestão do nosso Centro Internacional de Negócios, que tem uma dimensão industrial, comercial e de serviços que terá o epicentro na Ilha

EM 2016 DO DEVER CUMPRIDO Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

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PÁGINA ABERTA de S.Vicente. Há também a possibilidade de empresas angolanas se instalarem em Cabo Verde para desenvolverem os seus negócios a nível da CEDEAO, nos mais diferentes domínios, desde as pescas, industria, no domínio dos transportes marítimos e aéreos e, também, como eu já disse, nas energias renováveis e nas tecnologias de informação e comunicação. F&N - Em polos diferentes, é possível falar-se numa cooperação não só bilateral mas multilareal, sobretudo a nível dos Palops? JMN - Eu acho que sim. Acho que nós doravante deveremos trabalhar para reforçar as relações económico- empresariais entre os países africanos de expressão portuguesa. É fundamental que trabalhemos para aproveitarmos as possiblidades e oportunidades de negócios que existem entre os nossos países. Refiro-me a Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e S.Tomé, e as perspectivas são muito boas. F&N - Quais são os grandes desafios de Cabo Verde agora? JMN - Cabo Verde vai cumprir os objectivos do desenvolvimentos do milénio no horizonte 2015 e agora já estamos a pensar na agenda pós 2015.Cabo Verde tem uma proposta ambiciosa de ser um país desenvolvido no horizonte de 2030 e os nossos grandes desafios, neste momento, têm a ver com a aceleração do ritmo de crescimento da nossa economia, construção de factores de competitividade e uma inserção competitiva de Cabo Verde na economia global. F&N - Li num jornal aqui em Cabo Verde que o País tem neste momento três graves problemas: alta taxa de desemprego, baixo crescimento económico e desemprego elevado aumento da pobreza, da insegurança e falta de segurança no futuro. Isto é verdade? JMN - Nós temos que entender a oposição. Devo dizer que há um forte impacto da crise internacional em Cabo Verde, a taxa de desemprego é efectivamente elevada e devo dizer, também, que houve uma redução do ritmo de crescimento da nossa economia, mas nos últimos anos a pobre-

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za está a recuar. Nós tínhamos uma taxa de pobreza de cerca de 37% da população em 2000 e neste momento é de cerca de 25% Já cumprimos, em relação à pobreza, os objectivos de desenvolvimento do milénio mas ainda temos taxas significativas de pobreza. O nível de endividamento é um processo consciente do governo para aproveitar as oportunidades que existem para infra-estruturar o País e constituir factores de competitividade; é, também, uma política contracíclica para fazer face aos impactos

da crise internacional, mas é uma dívida de longo prazo, uma dívida concessional, que está dentro do perímetro da sustentatibilidade. E não tivessemos desenvolvido esta política, hoje a situação de Cabo Verde estaria muito pior. Portanto, eu não alinho neste discurso catastrofista da oposição, sou muito mais optimista, mais positivo e estamos a trabalhar, por um lado, para mitigar os efeitos da crise e, por outro lado, para garantir que o País continue a crescer, a construir os factores de competitividade, a gerar riquezas e a construir o progresso e o bem estar dos cabo-verdeanos. F&N - Fala-se também numa falência de sistema. Ouvi dizer que o actual já cumpriu o seu papel e que agora seria preciso revitalizar o pensamento em termos de mudanças. Concorda?

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JMN - Veja, isto nós fizemos desde 2003, quando fizemos um grande fórum nacional para a construção de consensos sobre a transformação de Cabo Verde. Na altura dissemos claramente que o modelo está esgotado, um modelo de desenvolvimento estribado na ajuda pública ao desenvolvimento e na reciclagem das remessas dos emigrantes e que teríamos de dar o salto, transformar o País num centro internacional de prestação de serviços, transformando as nossas vantagens comparativas em fontes de vantagens competitivas para podermos gerar riquezas e transformar o País num País moderno, mais justo, mais inclusivo e mais competitivo. É isto que nós estamos a fazer, sendo certo que este período de transição não será concerteza muito fácil e leva algum tempo, sobretudo para um País desprovido de recursos naturais tradicionais, como é o caso de Cabo Verde. F&N - Senti no pouco tempo que estou aquí que a discussão política do momento é em torno de quem o substituirá, atendendo que se comenta que o senhor não continuará no governo por muito mais tempo. Justifica-se isso? JMN - Acho que é uma fase inicial da disputa interna no seio do partido que está no poder mas com

O nosso grande desafio para os próximos anos é conseguir canalizar todos esses talentos, toda essa disponibilidade para o mercado de trabalho, e só com o crescimento da economia, com mais investimentos privados podemos chegar lá e é este o trabalho que nós estamos a fazer neste momento, reconhecendo alguma frustração, algum descontentamento desses jovens”


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Contactos: Etnia - Comunicação, Edifício Mutamba - Luanda 2º andar - Porta S. Tel: 222 397 185 / Fax: 222 393 020 / E-mail: gurasnegocios@hotmail.com

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O Primeiro-Ministro José Maria Neves ao ser entrevistado por Victor Aleixo

o tempo todo debate político interno vai ser moderado, arbitrado de modo que não estou muito preocupado em relação a esta questão. É importante que a maioria governamental se reforce neste momento para fazer face aos desafios do País, que não são poucos, sobretudo neste momento em que Cabo Verde ascende a País de rendimento médio e sofre os efeitos desta grave crise internacional. F&N - Definitivamente o senhor não continuará no poder por muito mais tempo? JMN - Eu penso cumprir este mandato enquanto chefe do governo, portanto até 2016 e no quadro do Partido haverá a eleição do novo líder do PAICV em Dezembro de 2014 e eu vou continuar a participar activamente na vida política nacional, através do meu Partido que é o PAICV. F&N - Não entrará para a reforma política? JMN - Não, eu não penso reformar-me até porque ainda sou muito jovem. Vou para as estruturas de base do meu partido e continuarei a dar o meu contributo ao País, lá onde fôr necessário. F&N - Ou é um recuo estratégico para aparecer depois como Presidente da República ? JMN - (risos) Eu ainda não posso falar da Presidência da República, até para não condicionar o novo líder

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do partido que vai ser eleito; o Partido depois definirá o perfil do seu candidato a Presidente da República, e até lá muita água ainda passará por debaixo da ponte. F&N - Hoje em África fala-se muito em falências de sistema, como

Penso cumprir este mandato enquanto chefe do governo, portanto até 2016ˮ

aliás já nos referimos, onde agora está muito forte a tendência para o presidencialismo. Poderá ser este o caso de Cabo Verde nos próximos tempos? JMN - Cabo Verde tem um sistema que funciona, é um sistema semi-presidencialista, mais parlamentar do que presidencial e que tem funcionado, garantido a estabilidade governativa, o crescimento e o desenvolvimento do País. Acho que é um sistema de governo com que os cabo-verdianos se identificam e não tem havido problemas de maior relativamente ao funcionamento global do sistema político e temos tido boas condições de governabilidade do País. F&N - Mas comenta-se que as

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relações actuais entre o Primeiro Ministro e o Presidente da República não são boas. JMN - As relações são boas, nesses sistemas de governo as fronteiras são muito ténues em determinados domínios, sobretudo no dominio da politica externa, e aquí devo confessar que há algumas tensões mas que são geridas no quadro das relações institucionais entre o governo e a presidência da República. F&N - Como estão as vossas relações com a Guiné Bissau? JMN - As nossas relações com a Guiné-Bissau passaram por alguma tensão, sobretudo depois do último golpe de Estado, mas nós estamos a trabalhar para normalizar essas relações, estamos a dar todo nosso apoio politico no quadro da CEDEAO e da CPLP para a realização das próximas eleições de Abril, para que a Guiné Bissau reeencontre os caminhos da paz, da estabilidade e da democracia e possa lançar os alicerces para o seu desenvolvimento futuro. F&N - Proximamente deixa o poder. Sai com o sentimento do dever cumprido? JMN - Eu saio com o sentimento do dever cumprido. Devo dizer-lhe que relativamente ao início do meu mandato, em 2001-e já estou no terceiro mandato como Primeiro Ministro de Cabo Verde - em eleições muito renhidas com uma avaliação muito positiva dos cabo-verdianos, devo dizer-lhe, que ultrapassou as minhas expectativas o que conseguimos fazer nos últimos anos. Cabo Verde, hoje, é um País muito mais livre, o Estado de direito e democrático consolidou-se, nós estamos nos primeiros lugares em todos os rankings das liberdades civis e políticas, liberdades económicas, liberdade de imprensa e boa governação, rigor e transparência na gestão da coisa pública e conseguimos modernizar do ponto de vista económico e social o País de modo que eu hoje sinto-me recompensado, somos um País de rendimento médio que está em condições de realizar todos os objectivos de desenvolvimento do milénio no horizonte de 2015 um País estável onde houve uma grande melhoria da qualidade de vida de todos os cabo-verdianos.


PÁGINA ABERTA Sinto-me recompensado por ter contado com o apoio dos cabo-verdianos e por termos conseguido realizar essa grande mudança a nível do País. F&N - Não se apercebe de uma certa frustração da juventude, sobretudo quando os níveis de desemprego são altos? Sente que ela, a juventude, está engajada para esses desafios do desenvolvimento? JMN - Esse é o maior desafio que nós temos neste momento. As sondagens relativamente ao governo são muito positivas, cerca de 70% dos cabo-verdianos avaliam positivamente o Primeiro-Ministro e o governo, mas consideramos que há problemas, que há tensões, designadamente o desemprego juvenil, que tem uma natureza especial, porque são jovens altamente qualificados que saiem das universidades e que não conseguem emprego. E o nosso grande desafio para os próximos anos é conseguir canalizar todos esses talentos, toda essa disponibilidade para o mercado de trabalho, e só com o crescimento da economia, com mais investimentos privados podemos chegar lá, e é este o trabalho que nós estamos a fazer neste momento, reconhecendo alguma frustração, algum descontentamento desses jovens. F&N-Vamos falar de duas experiências que são muito referenciadas em Cabo Verde,a educação e saúde. Primeiro, a educação. JMN - Veja, nós aquí tivemos um ganho muito grande. Neste momento temos a universalização do ensino básico, temos o ensino secundário em todas as ilhas e municípios temos mais de 50 escolas do ensino secundário espalhadas por todas as ilhas do País e nos últimos dez anos desenvolvemos o sistema de ensino superior e hoje temos uma taxa de penetração do ensino superior das mais elevadas do continente africano, de modo que posso dizer-lhe que no domínio da educação realizamos já todos os objectivos do desenvolvimento do milénio e considero que foi o maior investimento que desde a independência nós fizemos e constituiu um instrumento de mobilidade social e de transformação económica e social do País. Portanto, aqui considero que foi um grande ganho para Cabo Verde e

o maior investimento dos cabo-verdianos nos últimos 40 anos. F&N - E no domínio da Saúde? JMN - A saúde também. Neste momento, os indicadores são muito elevados, os cabo-verdianos, mais de 80%, avaliam muito positivamente o desempenho do governo no sector da saúde; temos centros de saúde e postos de saúde, hospitais regionais, hospitais centrais e um sistema nacional de saúde que funciona, um sistema de segurança social que também funciona e que garante assistência médica e medicamentosa. Para além das prestações referidas, temos uma taxa de cobertura de 37%, que é das maiores do continente africano e estamos a trabalhar

Cabo Verde tem um sistema que tem funcionado, é um sistema semi-presidencialista, mais parlamentar do que presidencial e que tem funcionado, garantido a estabilidade governativa, o crescimento e o desenvolvimento do País”

para a universalização do sistema de segurança social.Em termos de saúde e segurança social, também desenvolveu-se extraordinariamente nos últimos anos e constitui um pilar fundamental da coesão social e da estabilidade social que nós temos neste momento em Cabo Verde. F&N - Acredita que o PAICV vai continuar a ser poder durante muito tempo? JMN - O PAICV é muito bem avaliado em Cabo Verde e se trabalharmos, garantirmos a unidade e a coesão do partido tivermos um bom balanço governativo em 2016 conseguirmos mostrar aos cabo-verdianos que não há alternativas neste momento, para além das críticas da oposição, que tem criticado algum desempenho do governo, umas ou outra falha do governo não tem apresentado alternativas, - quem tem

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elaborado ideias, apresentado propostas sobre o futuro tem sido esta maioria, o PAICV e, portanto, se conseguirmos levar tudo isto aos cabo-verdianos estou certo que teremos condições de ganhar as eleições em 2016. F&N - Acredito que tem poder para influenciar o seu Partido. Quem será o seu substituto? JMN - Não tenho candidatos, quero que seja um debate democrático de ideias para que todos os militantes escolham livremente o novo líder do Partido e quando o Partido escolher eu darei todo apoio, absolutamente todo o apoio para o reforço do Partido e para termos os melhores resultados nas próximas eleições legislativas de 2016. F&N - Para terminar: sabe que o vosso treinador da selecção nacional agora é treinador de uma equipa de Angola. Isso não vai contribuir para manchar relações? JMN - Não. Até é muito bom levar a experiência dos Tubarões Azuis. O Lucio Antunes é um grande treinador, um líder que fez um grande sucesso à frente da selecção cabo-verdiana de futebol e espero que o Progresso do Sambizanga possa tirar todo proveito do talento, da capacidade de criar, da capacidade de liderança do Lúcio Antunes e a sua presença em Angola sirva para reforçar as relações entre Cabo Verde e Angola.

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LEITORES

POLÍCIAS TUGAS PÕEM ORELHAS DO GOVERNO A ARDER

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PROTESTARAM PELA SEGUNDA VEZ EM QUATRO MESES... ode ser que a minha análise sobre a actualidade sócio-política e económica portuguesa seja por alguns considerada ridícula, mas arrisco mesmo em dizer que, mesmo sendo ridícula, penso que deve ser respeitada, mesmo discordando-se dela. Acho que numa coisa estaremos quase todos de acordo, ou seja, Portugal está de cócoras depois de ter sido confrontado com uma crise que o obrigou a sentar-se diante de uma "comissão" de doadores internacionais, designada "Tróika", que, mesmo odiada pelas condições impostas no pagamento da dívida astronómica, lá vai dando uma ajudinha para que Portugal saia do fosso em que se meteu por conta própria e, finalmente, daqui a algumas décadas suspire de alívio e o seu povo livre dos "abutres" que são os grandes banqueiros, especuladores financeiros e alguns políticos, donos de um esquema corrupto que abalou todos os brandos costumes do bom povo português. As manifestações de protesto sucedem-se e algumas obtêm contornos violentos. Vi manifestações de milhares de

As escadas da Assembleia da República têm sido alvos dos principais protestos

membros das forças de segurança, maioritariamente polícias da ordem pública, defronte à Assembleia da República, primeiro no dia 21 de Novembro do ano passado e mais recentemente em Março. O primeiro protesto teve razões mais do que suficientes para descambar em consequências drásticas para o sistema democrático, civilizado e muito brando. Houve violência extrema. No segundo, o clima de desconforto, de frustração e de inconformismo dian-

TIRADAS DA IMPRENSA "Milhares de profissionais das forças de segurança provenientes de todo o País juntaram-se (no mês passado) em Lisboa. Foi a "maior manifestação de sempre de policias desde o 25 de Abril", repetiram os líderes das associações do sector que se mobilizou para participar num protesto que terminou em torno das 22h30. Paulo Rodrigues, presidente do maior sindicato dos polícias (Associação de Sindicatos dos Profissionais de Polícia), "satisfeito com a forte mobilização", estimou em 15 mil os manifestantes, acima da previsão inicial (de 12 mil pessoas)" - In Jornal de Negócios.

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"A palavra de ordem lançada repetidamente ao longo do trajecto deixava antever a repetição do sucedido a 21 de Novembro de 2013. Mas desta feita, os apelos à "invasão" da escadaria do Parlamento acabaram por só parcialmente ganharam adeptos entre os 15 mil polícias e guardas que a organização estima terem estado no protesto contra a degradação das condições de vida dos profissionais de segurança. Foi uma noite em que subiu a tensão entre os manifestantes e o corpo de intervenção que impedia o acesso à Assembleia" - Ídem.

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te do quadro de miséria que reina em alguns lares do país, nomeadamente de polícias, esteve bem patente e criou a expectativa de que, mais cedo do que tarde, o mesmo "filme" dramático do primeiro irá repetir-se. ...Quando a política de austeridade decretada pelo governo atinge uma classe, que protege o Estado e os cidadãos, de forma tão violenta, de nada valerão os argumentos apresentados ultimamente pelo go-

"Um turista alemão que se perdeu em meados de Fevereiro numa zona remota do nordeste da Austrália foi resgatado com vida depois de sobreviver alimentando-se de moscas, revelaram fontes policiais. O turista, identificado como Daniel Dudzisz, de 26 anos, foi encontrado em março por um condutor perto da localidade de Windorah, a cerca de 1.883 quilómetros a oeste da cidade de Brisbane. Mark Henderson, inspector da polícia australiana, referiu que Daniel Dudzisz ainda brincou ao salientar que "nunca poderia ficar com fome" na zona onde estava devido à quantidade de moscas, ricas em proteínas" - In Jornal de Notícias.


LEITORES

BOCAS SOLTAS verno de Passos Coelho. Todos eles vão no sentido de que a situação está a melhorar em todos os sectores da sociedade,com os níveis de desemprego a baixarem, aumento das exportações razoáveis para o momento, e que as perspectivas são boas, numa altura em que o país está prestes a sair da alçada da gestão da crise no âmbito da Zona Euro. "Tirámos dinheiro do nosso próprio salário para pagar o fardamento. O nossos rendimentos são baixos e comparam-se aos dos funcionários públicos, alguns dos quais vivem em condições míseras, sem terem grandes hipóteses de pagar os estudos dos seus filhos, as rendas de casa, a saúde e outros meios para que vivam de forma digna. Ora, nós não somos cidadãos típicos da nossa sociedade, somos cidadãos que merecemos um estatuto especial, porque somos nós que garantimos a segurança do país. Sofremos os mesmos cortes nos salários e continuamos numa situação social muito difícil com a degradação generalizada dos nossos subsídios", desabafo de um membro das forças de segurança, depois de ter estado na luta pela conquista do escadaria do edifício da Assembleia da República. Essa segunda manifestação das forças de segurança é um sinal de que as coisas não vão bem e pelo que se passa em alguns países na Europa, penso que o governo não terá muita margem de manobra para que não caia na armadilha que ele próprio está a montar com a implementação da política de austeridade. O que virá do terceiro protesto dos polícias tugas é que ninguém sabe, mas já se sabe que o governo vai continuar a sua estratégia de cortes, cortes e mais cortes nas pensões, mais impostos porque "há cada vez mais pensionistas e não há dinheiro para pagar". Alcides M. Tavares Castro - Lisboa

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ais de quarenta lojas de registos serão abertos no país, ainda este ano. Nos próximos dois meses, a província de Luanda terá nove destes estabelecimentos onde serão prestados serviços de registo criminal, civil, predial, comercial, automóvel, actos notariais e de emissão de Bilhete de Identidade.A boa notícia foi dada pelo ministro da Justiça e Direitos Humanos, José Mangueira, que tem em mão um auspicioso programa de modernização do sector, com vista a aproximar os serviços de justiça aos cidadãos, num sistema integrado. Com a inauguração destas lojas, pode-se, desde já, aferir que várias makas serão resolvidas no sector da justiça, uma vez que se sabe que, apesar do esforço que se fez ao longo dos últimos anos pelo Ministério da Justiça, continua-se a assistir um clima de suspeição no tratamento destes documentos importantes para os cidadãos, com o envolvimento de supostos esquemas de corrupção e suborno na primeira linha de actuação dos criminosos "entrincheirados" no próprio sector da Justiça. Num primeiro momento, os cidadãos vêem nas inaugurações das lojas de registos como um projecto do Estado que vai resolver os seus problemas, mas nem todos acreditam que os vícios instalados terminem... ..................................................... "Acho que o Ministério da Justiça tem dado sinais mais do que evidentes que é um dos "braços" do Executivo que mais está a funcionar.Sente-se isto nestas lojas espalhadas em Luanda e nas notícias que nos chegam num sentido muito positivo. Que Deus ajude ao ministro para que se saia bem neste projecto". ..................................................... "Já era sem tempo!Há milhares de pessoas, senão milhões, sem documentos que as façam sentir como cidadãos livres e com direito a viver como tais. Ainda não percebi porquê que não se implementou este projecto, passados que são dez anos de paz, pois sabemos que antes era praticamente impossível fazê-lo. Mas, como se tem dito, "mais vale tarde que nunca". ..................................................... "Eu não acredito que se possa instalar essa quantidade de lojas de registos em todo o país em apenas um ano e em locais onde realmente elas possam funcionar, nomeadamente naquelas de difícil acesso e sem abastecimento regular de energia eléctrica. Penso que ainda vai durar mais algum tempo para que todos os cidadãos angolanos possam ver os seus problemas resolvidos. Portanto, não vale a pena fazer promessas sem que se arranjem condições para as cumprir". ..................................................... "Os esquemas de corrupção estão à vista de todos e o que mais dói é o facto de milhares de estrangeiros conseguirem obter Bilhetes de Identidade de um dia para outro. Os angolanos sofrem nas bichas, não têm dinheiro para pagar os emolumentos, deslocam-se das suas localidades para tratar o que pretendem e não conseguem.Acho que está na hora de acabar com esses abusos. Que venham, pois, estas lojas de registo para vermos se o quadro muda".

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DISCRIMINAÇÃO E RACISMO

U PONTO DE ORDEM

Victor Aleixo victoraleixo12@gmail.com

ma carta dos trabalhadores de uma importantes e muito conhecida instituição bancária do País que circula nas redes sociais denuncia uma irregularidade grave no interior do banco que pode ser conformada como um acto de racismo primário ou discriminação básica que, por isso, não deve ser tolerada. Diz a carta que na sede central da instituição bancária foi baixada uma determinação sobre as pessoas que têm direito a beber água mineral e, para ilustrar, apresentam o mapa onde está bem evidente as quantidades de garrafas a que os privilegiados têm direito,-em aquisição suportada pelo banco. Na sua maioria, os beneficiados do privilégio de beber água mineral são trabalhadores expatriados, oriundos de Portugal, contando-se os angolanos cujo número, dizem os denunciantes, ficam pelos dedos de uma mão. O grosso de trabalhadores angolanos não está proibido de beber água mineral mas se assim quiser, tem de a comprar com o dinheiro do seu bolso. Outra solução é beber água da torneira que todos sabemos não ser boa para consumo, o que obriga, aliás, o Ministério da Saúde a apelar por medidas de prevenção, como ferver a água ou colocar gotas de lixivia. Ora bem, o referido banco, não tendo água canalizada para oferecer aos seus trabalhadores, o que não deixa de ser uma exigência no quadro de oferecimento de melhores condições sociais, tem a obrigação de suprir essa falha com a aquisição de água tratada em condições para todos os trabalhadores e clientes que diáriamente acorrem aos seus balcões, sem qualquer espécie de discriminação. E é nessa discriminação que fazem, onde reside a falha gravissima que pode ser conformada como um acto consciente de racismo. Dividir os trabalhadores em categorias de privilegiados e não privilegiados para consumir água mineral, à partida poderá parecer um acto trivial que não mereceria um comentário condenatório. Analizando com profundidade a acção não estarei muito longe da verdade que se está naquele banco diante de acções que discriminam os trabalhadores nacionais e por isso mesmo atentam contra as leis de Angola. Na carta, os trabalhadores denunciam outras irregularidades e questionam os critérios de qualificação de muitos trabalhadores expatriados contratados para virem desempenhar o mesmo trabalho que fazem os nacionais mas são compensados salarialmente com o dobro ou triplo de salário criando um fosso significativo entre uns e outros. Não duvido porque situações dessas, não só naquela instituição como noutras e de outros ramos de actividade, têm sido denunciadas não se conhecendo, em contrapartida, o que os poderes instituidos fazem quando os casos são tornados públicos, como esse agora. A criação da harmonia laboral é uma condição sine-qua-non para uma perfeita relação de trabalho numa instituição, mais importante ainda quando ela emprega centenas de trabalhadores de nacionalidades diferentes. Existindo sinais como esse, de discriminação, se não vigorosamente combatidos, podem criar um quadro nada abonatório que calmamente evolue para acções de xenofobia. Não me parece ser uma boa pratica a que adopta a instituição bancária, de, diante de grave acusação que a denigre, fecha-se em copas como se de nada de anormal se tratasse. Também não entendo como as autoridades responsáveis do País, no caso o Ministério do Emprego, Administração Pública e Segurança Social diante de uma acção que penaliza o trabalhador também não se pronuncia, deixando a entender que este é assunto interno da instituição e só ela é que tem de encontrar os antidotos para o resolver. Urge fazer valer as leis da República para que elas, as leis, que pugnam pela dignificação do trabalhador não tenham leituras a duas velocidades. Não pode haver categoria de trabalhadores intocáveis, nacionais ou estrangeiros. Não é a cor da pele que dignifica a pessoa e no trabalho os trabalhadores devem ser avalizados pela sua competência, empenho e dedicação. Acho que a sociedade não se pode calar enquanto não tiver conhecimento de tomadas de medidas energicas que ponham cobro imediatamente a essa manifestação autêntica de discriminação e racismo.

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PAÍS

Esta tarefa gigantesca do Executivo vai mobilizar mais de 100 mil voluntários que serão pagos durante e depois do Censo Geral.

CENSO GERAL DA POPULAÇÃO

PRONTO PARA ARRANCAR

RESULTADOS PRELIMINARES DO CENSO SERÃO ANUNCIADOS APÓS TRÊS MESES DO RECENSEAMENTO E OS FINAIS 18 MESES DEPOIS O dia "D" para que uma das maiores empreitadas que o governo angolano lançou para este ano está a chegar e da forma tão célere como o virar das páginas do calendário está a correr, em toda a extensão do território nacional acumulam-se mais certezas do que dúvidas de que será, sim, possível realizar-se o primeiro censo geral da população e habitação entre os dias 16 e 31 de Maio. Duzentos milhões de dólares é o montante que o Orçamento Geral do Estado dispõe para que se saiba, com algum rigor, quantos angolanos existem e como vivem num país com um território estimado em 1.246.700 km quadrados Por: Carlos Miranda (Texto) / Fotos: F&N

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e facto, trata-se de uma missão que,nas condições do passado, seria impossível de ser cumprida, uma vez que Angola esteve durante mais de uma década em permanente conflito armado,com uma economia fragilizada e, sobretudo, com uma parte considerável das terras do interior ocupadas pelas forças armadas da oposição. A história encarregou-se de inverter o quadro e novos desafios para o desenvolvimento do país continuam a ser encarados com maior optimismo desde que foi conquistada a paz em Abril de 2002, com todas as partes envolvidas no conflito armado a cumprir os acordos assinados na base de um Memorando de Entendimento assumido. É o primeiro censo geral da popu-

lação que o país regista desde 1970, mas cálculos muito pouco convincentes indicam que neste momento Angola terá entre 15 a 20 milhões de habitantes, com a capital do país a albergar o maior número, seguida por outras capitais provinciais como as do Huambo, Benguela e Huíla das 18 que o território comporta. Para a além do cheque com milhões de cifrões disponibilizado, o executivo angolano afinou uma máquina técnica, organizativa e humana coordenada superiormente pelos ministérios da Administração do Território, do Planeamento e Administração local, o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Gabinete Central do Censo, que têm representações implantadas em todas as províncias do país. A "máquina do recenseamento" começou a mover-se com a realiza-

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ção do Censo Piloto nas províncias do Kuando Kubango, Cunene, Uíge, Namibe, Luanda, Kwanza Norte e Huambo. Tratou-se de um teste da estrutura organizativa proposta desde a altura em que se pensou nesta empreitada de importância vital para o desenvolvimento dos projectos em curso no país. Antes, várias acções formativas, metodológico-admnistrativas, operativas e logísticas foram levadas a cabo, para além do recrutamento de milhares de pessoas que vão percorrer o país durante quinze dias e noites. Entretanto, uma ampla campanha de informação sobre o processo preparatório do recenseamento geral da população e habitação em Angola continua a ser feita, quer a nível interno como externo.Uma das que teve maior impacto internacional realizou-

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Recenseadores durante o censo-piloto. Um bom ensaio ...

-se no passado mês de Março,em Nova York, durante a 45ª Sessão da Comissão de Estatística da ONU. Responsáveis do Instituto Nacional de Estatística (INE)realçaram que a gigantesca operação está avaliada em 200 milhões de dólares americanos a serem suportados exclusivamente pelo Governo angolano, e envolve uma comissão inter-ministerial integrada por 11 ministérios, o INE, centenas de cartógrafos e milhares de agentes, estimando-se cobrir 21 milhões de pessoas. Como qualquer desafio desta importância, não só para o país, como para o universo dos estados-membros da ONU, Angola conta com a parceria estratégica do Fundo das Nações Unidas para a População e de instituições vocacionadas para a estatística de países como o Brasil, África do Sul, Portugal, Moçambique, entre outros, bem como de consultores internacionais. E acordo com a Angop, ao longo da apresentação do processo, efectuada durante um evento paralelo à realização 45ª Sessão da Comissão de Estatística da ONU, intitulado "Rumo ao fim do Programa Mundial de Censo para a década 2010", a comitiva angolana apontou algumas dificuldades no processo, como a pouca experiência técnica institucional, a existência de algumas áreas isoladas ou de difícil acesso e a concentração de recursos humanos qualificados em certas regiões do país. "Os apresentadores salientaram

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que as lições aprendidas durante o Censo Piloto de Maio de 2013 ajudarão a corrigir alguns aspectos da operação do Censo Geral da População e Habitação, cujos resultados preliminares serão anunciados após três meses do recenseamento e os finais até 18 meses", afirma a fonte noticiosa, realçando que a apresentação de Angola despertou grande interesse por parte dos estados membros das Nações Unidas, de organizações não-governamentais e da sociedade civil presentes no evento, que além de elogiarem o esforço até aqui desenvolvido, encorajaram as autoridades angolanas a apostarem numa estratégia de comunicação eficiente com a população, nos diversos níveis de extratos sociais, a fim de assegurar a realização exitosa do processo. Segundo o director geral do INE,

Camilo Ceita, antes do momento censitário, muitas etapas foram cumpridas, tais com a alaboração de questionários,manuais, formulários, cartografia,impressão de mapas,formação de pessoal e recrutamento de mais de cem mil pessoas. Note-se que o INE já seleccionou 21 assistentes técnicos provinciais (um em cada uma das 17 províncias e quatro em Luanda, que foi subdividida em quatro áreas censitárias). De acordo com o Jornal do Censo, a campanha de recrutamento de assistentes técnicos comunais e locais (trabalhadores) foi intensificada em Dezembro de 2013 e ampliada no primeiro trimestre deste ano para receber as candidaturas dos candidatos técnicos e de motoristas. Camilo Ceita, que também coordena o Gabinete Central do Censo, assegura que, na prática, a operação permitirá saber quantos somos, como vivemos e onde vivemos. "Quando soubermos quantos somos, conhecermos a estrutura da força de trabalho, se somos mais jovens ou mais velhos", disse, acrescentando que "saber onde vivermos significa conhecer a distribuição da população na área geográfica, se vivemos maioritariamente na área urbana ou rural, em vivendas ou em cabanas.Tudo será respondido", garante Note-se que o Censo 2014 vai utilizar dois tipos de questionários: o de Habitação e Agregado Familiar e o questionário das habitações colectivas.

Edíficio-sede do Instituto Nacional de Estatística Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014


Beba com moderação.

Edição limitada.

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Uma homenagem da Cuca à arte angolana. Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

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DIVERSIFICAÇÃO DA ECO BELARMINO JELEMBI É DIRECTOR GERAL DA ADRA DEFENDE

ATRAVÉS DA AGRIC

Discutir a situação ambiental não se pode resumir na plantação de árvores. Plantar árvores é uma visão mais complexa de desenvolvimentoˮ

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Por: Norberto Abias Sateco (Texto e Fotos)

elarmino Jelembi é Director Geral da Organização não Governamental Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), há cerca de dois anos. Um homem de trato facíl e com uma vasta expêriencia em questões ambientais e de projectos de desenvolvimento sustentável nas comunidades, aborda aspectos ligados à produção nacional, a diversificação da economia através da agricultura. Jelembi faz igualmente uma análise do actual momento da perservação e conservação ambiental no País Figuras & Negócios (F&N): Como caracteriza o estado actual quanto à promoçao e perservação do meio ambiente no País? Belarmino Jelembi (B.J) - Repare. Discutir a situação ambiental não se pode resumir na plantação de árvores. Plantar árvores é uma visão mais complexa de desenvolvimento. Esta concentração populacional que se regista em Luanda é um dos grandes problemas, que pode ser mitigada com o alargamento da oferta habitacional. Mas na ausência desta oferta, a questão é as pessoas terem opções de desenvolvimento económico e a realização profissional nas suas localidades, mas com atractivos. Na condição de Angola, em termos de capital humano de desenvolvimento económico, a agricultura é o principal caminho para gerar emprego. Do ponto de vista teórico, nós vamos ouvindo algumas referências relativamente a isto. Mas do ponto de vista prático, são muito tímidos os sinais de diversificação da economia, porque a diversificação da economia através da indústria e da agricultura é que faz com que as pessoas possam realizar-se do ponto de vista social, cultural... etc., nas suas zonas de origem. A questão ambiental está interligada às opções de desenvolvimento. Esta concentração que estamos a ter aqui, de uma série de edifícios quase na mesma zona, com problemas de infra-estruturas nomeadamente: água, luz, saneamento básico, vias de acesso; são opções Belarmino Gelembi, Director Geral da ADRA 26

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ONOMIA

CULTURA de desenvolvimento com implicações ambientais. Não é arranjarmos um espaço verde e plantarmos duas mil árvores, mas a questão fundamental é que deve ser discutida. F&N - Qual é a opção que entende ser fundamental? BJ.- Estamos a falar de uma agricultura que permite que as populações mais pobres tenham acesso à terra. Uma opção que permite o desenvolvimento da agricultura familiar, porque o ambiente - e na recente cimeira realizada no Brasil, um dos pontos colocados em cima da mesa foi a abordagem ambiental- não pode ser separada da questão da pobreza. Há o fenómeno das queimadas, que a senhora ministra do Ambiente referiu-se recentemente, em combater o banditismo. Não! Esta é uma prática, que em determinadas regiões resulta também de três factores que nós podemos analisar: incapacidade de preparar novas terras, não tem, e queimar o capim torna-se mais fácil; em segundo lugar é a questão da segurança alimentar; há zonas em que a queimada facilita a queima de pequenos ruminantes, como ratos. É isto que temos que discutir. (...) este é um problema que está associada à questão ambiental. Não quer dizer que vamos parar a queimada, porque não conseguimos. A situação é de segurança alimentar. Este é um ponto que deve ser abordado com alguma profundidade. Outro aspecto que tem afectado algumas províncias é a questão da produção de carvão. Há várias províncias em que nós vemos camiões e camiões na indústria do carvão. Isso tem que ser tratado. Temos de ter alternativas. A produção do gás seria uma forma de permitir às pessoas terem acesso à energia?! Deve parecer algo muito complicado.

Tem o seu nível de complexidade, mas uma aposta séria ajudaria, por um lado, a questão do emprego. Muitos jovens nas aldeias engajam-se na produção de carvão por necessidade de emprego. Logo, a questão não está simplesmente em proibir o abate das árvores, mas em criar políticas para dissuadir a prática. F&N - O senhor dirige a organização Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente ( ADRA), que lida com a componente ambiental e comunitária. Na qualidade de parceiro do governo, qual tem sido a vossa intervenção na resolução dos problemas que acaba de levantar? BJ. - A ADRA tem vários projectos na linha da gestão sustentável de recursos naturais. Uma questão tão sensível do ponto de vista ambiental é a preservação da terra. Há uma série de práticas agrícolas que podem ser favoráveis à erosão dos solos e à degradação da terra. Temos projectos na área do repovoamento florestal. Temos duas vias, nomeadamente a criação de polígonos florestais e

Á ADRA tem vários projectos na linha da gestão sustentável de recursos naturais. Uma questão tão sensível do ponto de vista ambiental é a preservação da terra. Há uma série de práticas agrícolas que podem ser favoráveis à erosão dos solos e a degradação da terraˮ

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o envolvimento da própria comunidade na instalação de viveiros, com fruteiras e outros. Os projectos económicos podem estar associados ao repovoamento florestal, tendo uma iniciativa de crédito, mas que ao mesmo tempo nas aldeias se pode ir instalando o sistema de viveiros. Num prazo de 5 a 10 anos teremos várias e largas áreas repovoadas. Este é um dos planos que temos estado a desenvolver na área ambiental. Depois temos a partilha de experiências. Colocar as famílias junto de outras pode ser também uma via. F&N - A FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentção) revelou recentemente, em Addis Abeba, que Angola está entre os 11 países, que em 2015 irão atingir os objectivos do milénio. Até que ponto isto se faz sentir no dia-a-dia das comunidades rurais? BJ.- A mudança estrutural fez mudar o ritmo do país. Quer de acções dos governos como dos produtores. É preciso sublinhar um programa desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, em 2004, que foi importante: o programa de extensão rural que foi desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário, e se revelou importante para prover as famílias que não tinham meios de produção. Agora as evidências existentes faz-me constatar que temos desafios muito grandes. Temos problemas de acesso à água, seca prolongada na região sul, quase que estavamos perante uma catástrofe. Houve avanço e nós não temos que escamotear. Se, por um lado desde 2002 houve o crescimento do PIB, uma série de infra-estruturas a serem erguidas, exposição cada vez maior de riqueza, ao mesmo tempo vamos tendo de

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PAÍS Simão Paulo, antigo governador de Luanda

lado situações de pobreza preocupante. F&N - A seca na região sul é um fenómeno natural. Como lidar com o problema? BJ.- Se o investimento público não observar uma inversão da lógica, isto significa aumentar o investimento ao nível local, é claro que as coisas vão continuar a acontecer. As administrações não têm recursos para lidar com o problema; tem que se criar estruturas para resolver o problema da água. A parte do sul da Namíbia com o mesmo micro clima conseguiu resolver; nós enquanto país que tem mais recursos financeiros poderia solucionar de maneira diferente. Aí, um sistema de modo de vida que precisa ser compreendido, como é que o programa merenda escolar deve ser encarado naquela zona. Estes programas públicos devem ser postos à prova naquela região. Temos o “programa água para todos”, que várias vezes estamos a veicular que é um programa de sucesso, mas temos uma região sem água para beber. O Brasil teve um programa famoso, o de um milhão de cisternas. Nós também podemos estudar qual é a via para fazer chegar a água a alguns pontos essenciais. Na zona do Cunene temos rios, as soluções devem ser desenvolvidas ao nível local com o envolvimento dos administradores municipais, pois são eles que ficam no confronto com a população. F&N - Há três anos foi lançado pelo governo o crédito agrícola de campanha para facilitar o acesso a

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finaciamento aos pequenos e médios agricultores. O que pensa que estará na base da sua paralisação abrupta? BJ.- Um dos principais pontos de estrangulamento deste programa foi o acompanhamento. Nós sabemos que as Estações de Desenvolvimento Agrário, em vários municípios estão fragilizadas. A motorizada para ir à compra do pneu, não tem combustível. Não tem como acompanhar?! Tem de se envolver outros actores com experiência na ligação de agricultores com os bancos, enventualmente isto poderia ajudar. Um sistema eficiente de monitoria do reembolso que se poderia optar numa nova versão. Para programas grandes desta natureza temos que ter coragem em dizer não existe condições para arrancar para o país todo. Esta imagem de grandeza, que o país apresenta não facilita! Temos limitações como país e é preciso desenvolver uma nova experiência. Politicamente, às vezes não é bem assim,

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sobretudo quando estes programas ocorrem próximo do período de campanha eleitoral, que só prejudica a virtude do programa. Uma coisa é crédito outra são doações. Quando são feitas declarações públicas que acabam por desencorajar o negócio, isto não ajuda (risos). F&N - O que deve ser feito para reactivá-lo? BJ.- A nossa experiência mostra que o pequeno agricultor rembolsa, mas deve haver acompanhamento. Mas aí entra a componente dos bancos. Dar o crédito a mim ou a si para compra de uma viatura, para abrir um negócio de venda de cerveja; uma lanchonete é uma coisa. Dar crédito a quem vai cultivar couves, repolho, batata, exige outro tipo de capacidade do agente que negoceia com o agricultor. Porque tem que saber o ciclo produtivo, pois o atraso de um mês na cedência do crédito pode comprometer todo o processo. Temos que ter consciência de que a nossa agricultura, aqui ainda depende da chuva, A rega é uma questão excepcional. A componente da organização comunitária, as cooperativas, enfim... F&N - A nova pauta aduaneira entra em vigor no mês de Março e certos produtos importados terão taxas agravadas. Acha que o país está preparado para que, por esta via, a produção local esteja mais protegida? BJ.- Se nós quisermos dar um salto, significa aumentar os níveis de produtividade. Isto quer dizer que esta evolução, este salto tecnológico se faça com as pessoas. Nós às vezes nos pronunciamos em proteger a produção local, isto por vezes acaba por ser uma falácia. Deve haver um investimento visível de diversificação da economia, aumentar a produção em face à competividade. Você diz que temos de proteger, então os produtos ficam caros! Mas ao mesmo tempo deve haver estratégia agressiva da nossa competividade. Olhamos para o OGE e vemos que os recursos atribuídos à agricultura estão sempre a descer. Muitos técnicos agrários estão a fugir do sector.


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FIGURA DO MÊS MOISÉS RODRIGUES

UM JOVEM LUTADOR E PERSISTENTE

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Por: Júlia Mbumba (Texto e Fotos)

oisés Rodrigues é um jovem sonhador, ambicioso e persistente, que vem lutando com a vida desde os seus 16 anos de idade, quando se estreou como mecânico de motorizadas, posteriormente como lavador pintor de automóveis e como Disco Jockey. Encontrei Moisés em plena rua, e pediu-me ajuda para escolher brinquedos para meninas e rapazes. Fiquei muito desconfiada, mas ainda assim aceitei o desafio, porque neste dias estava sem nada para fazer. A certa altura, senti-me cansada e descarada como sou, reclamei com o homem: “Não acredito que sejam todos para os seus filhos". A resposta foi o silêncio... Mas consegui convencer o rapaz, depois de uma horita e meia, quando nos sentamos num Bar para comer alguma coisa, e ele me contou a sua história de vida. Uma história comovente que me deixou com muita lágrima nos olhos. O que me comoveu de verdade foi a parte final. Moisés diz que com a história que teve na sua vida, aprendeu apenas que, “nenhuma criança deve sofrer e nem sentir necessidade de seja lá o que for.” Este jovem, de tempos em tempos, viaja à procura de brinquedos, roupas e outros materiais para doar à crianças necessitadas e como me disse “tentar fazê-las felizes por pelo menos alguns instantes” Moisés Rodrigues é um jovem empresário, conta hoje com duas empresas angolanas no ramo de Prestação de Serviços. Diz que nada lhe vale ser um empresário de sucesso, se não poder ajudar a quem precisa e fazer do

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seu país um lugar melhor para se viver “Tudo o que quero é contribuir para ver o meu país mais desenvolvido, e nada me deixa mais feliz do que o sorriso no rosto de uma criança. Estes são os seres mais indefesos, mas expressivos que conheço.” Foi então que achei um grande exemplo de Homem integro, e trago-o a vocês para que conheçam mais sobre este pequeno empresário angolano, que logo se negou a “aparecer”, mas achei que muito mais do que isso, podia comover-vos, tal como aconteceu comigo e, convencendo-o uma vez mais, acedeu conceder-me a entrevista que se segue: Figuras & Negócios: Em que áreas profissionais actua? Moisés Rodrigues: Prestação de

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serviços,fornecimento e montagem de acessórios auto. F&N- A quanto tempo montou sua própria empresa? MR. -A primeira (JÁ XTÁ Limitada) há seis anos; e a segunda (Bastandar Películas), há três. F&N- Que apoios teve para criar o seu próprio negócio? MR.- Como todo início é difícil, sem apoios, e não fugindo a regra, com ajuda de amigos e familiares. F&N: Hoje, considera ter já uma grande empresa? Quantos funcionários tem e o que falta para que a sua empresa se torne num grande negócio? MR.- Uma empresa, nunca é grande o suficiente. Tenho o total de dez funcionários, sentre efectivos, pontuais


FIGURA DO MÊS e eficientes. Falta efectuar mais algumas parcerias mais, e depois pensar em expandi-las pelas demais províncias do país. F&N- Em que outras áreas pensa se estrear como empresário? MR.- Sem grandes ambições. Importante para mim, é solidificar as que já funcionam e surgindo oportunidades, analizar e avançar com planos e projectos bem estruturados. F&N- E o Moisés Rodrigues, como pessoa, como se define a si próprio? MR.- (Confuso) Um verdadeiro amigo e irmão, que tem a família como base fundamental. F&N- De onde vem tanta determinação? M.R.- Primeiro, das dificuldades da vida. Depois, da visão e ambição natural do homem. F&N- O facto de ter mais conforto e dinheiro hoje, mudou algo dentro de si como pessoa? MR.- Estar bem é o argumento que encontro para ajudar mais a minha família, amigos e todos aqueles que necessitam. F&N- Você acreditou tanto no seu potencial, quanto no potencial de Luanda, pois foi aí que você investiu. Como você vê o mercado luandense? MR.- Um mercado onde se podem encontrar várias latitudes e espaços de investimento, por ter carências e qualidade de serviços. F&N: Sabemos que a maior parte dos negócios está centralizada na capital do país. Na sua modesta opinião, como empresário, porque não se investe primeiramente nas outras províncias? como podia ser o seu caso?... MR.- Devemos investir primeiramente no lugar onde estamos baseados, e apartir daí, e havendo condições e parcerias funcionais, podemos, sim, avançar para outros lugares. Sendo Luanda a capital e com o mercado maior em termos de população e potenciais clientes e consumidores, faz a diferença. F&N- Para si, o que é um exemplo de um Homem digno para a sociedade e que principalmente pode

inspirar os jovens, para que também sejam empresários de sucesso? MR.- Um homem com princípios firmes e que procura sempre fazer tudo e bem feito, facilitando o máximo a vida dos trabalhadores e clientes. Só assim se pode garantir a fidelidade dos mesmos aos seus serviços. O negócio bem estruturado e planeado, funciona em qualquer lugar, havendo algumas especificidades para cada provincia F&N- Em termos de ramos empresariais, o que pensa que a nossa sociedade precisa com urgência? MR.- Não sinto que falte assim tanto em que investir. O importante para mim, é fornecer serviços com qualidade e dar a prioridade nas áreas de

Uma empresa, nunca é grande o suficiente. Tenho o total de dez funcionários, sendo os quais efectivos, pontuais e eficientesˮ saúde e educação. Só com formação e tratamento garantidos, estaremos a preparer bons homens para o garante do futuro do nosso país. F&N- E que areas de investimento considera terem maior potencial? MR.- Precisamente a Educação, Saúde e Serviços. F&N: Que conselhos daria a um jovem que pretende criar o seu próprio negócio? MR.- Identificar uma área em que tenham conhecimento e domínio, fazer

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o estudo de Mercado, criar um plano eficiente e seguir até ao pleno funcionamento do mesmo. F&N- Hoje em dia você é um homem de sucesso na sua profissão, e em relação ao coração, como está a situação? MR.- Ainda ontém fiz um electrocardiograma e parece estar a funcionar muito bem. F&N- Moisés, você já foi casado, e sabe que os casamentos de hoje em dia têm sido conturbados e pouco duradouros. Você tem uma visão a respeito desse assunto? MR.- A falta de comunicação e amizade entre os casais têm estado a prejudicar em grande as relações. F&N- E quanto a fidelidade, pra você ela é importante? MR.- Não é apenas importante. Fidelidade, é tudo!!! F&N- Pra finalizar, como é um empresário bem sucedido, qual a base para o sucesso? MR.- Trabalho, dedicação e uma boa base familiar. FICHA: Moisés Rodrigues, de 40 anos de idade, nasceu "ocasionalmente" em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, a 2 de Novembro de 1974. Logo após o nascimento, veio para Angola, Nambuangongo (Uíge) terra dos seus pais, onde viveu até os 10 anos, começou com 17 anos de idade a trabalhar. Para além da actividade empresarial, actua no ramo da Gestão e Administração de negócios de outrém. Tem como sonhos pessoais e profissionais, nada mais do que a conquista de conforto qualidade de vida, considera Angola um país em franco desenvolvimento e tem a grande ambição de se firmar e tornar-se melhor na gestão. Considera ter tido uma infância e adolescência felizes pois na sua numerosa família o que não faltaram foram brincadeiras de todo tipo e a qualquer hora. Sonha para os mais necessitados a revira-volta, especialmente as crianças, que considera merecerem tudo de bom e melhor, por serem o grande futuro de qualquer Nação.

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FIGURA DO MÊS

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CRISE NA UCRÁNIA:

UMA AMEAÇA A PAZ MUNDIAL

A

Por: Susana Mendes

MUNDO REAL

Ucránia está sob tensão após a zona da Crimeia, parte do seu território ter sido ocupada pela Rússia com base num referendo em que a população eleitora votou sob pressão militar. Com este passo fica claro o apetite expansionista do Presidente russo, Vladmir Putin que acorda conflitos "adormecidos" após o desmantelamento da União Soviética, em 1991 Após um mês de intensos protestos contra o regime ucraniano, o Presidente Viktor Yanukovych (próximo a Rússia) abandonou o país. Pouco tempo depois começou a crise na Crimeia e tropas russas avançaram para a região. Aqueles que se manifestavam a favor da manutenção do território na Ucránia foram reprimidos. Para institucionalizar a ocupação, o Parlamento local da Crimeia votou pela anexação do território a Rússia, o que veio a consumar-se com a realização de um referendo em que a maioria da população local votou pela incorporação da península na Rússia, num ambiente já de ocupação e em que os interesses da minoria Tartara (12%) e dos cidadãos de origem ucraniana não foram tidos em conta. De acordo com dados das autoridades locais, 96% da população votou a favor da incorporação na Rússia, mas a votação não foi alvo de observação independente e a própria marcação do referendo atropelou a Constituição ucraniana. Poucos dias depois forças russas e as forças pró-Moscovo ocuparam várias bases militares da Crimeia e assumiram o controle de vários navios da frota de guerra da Ucrânia. Com este acto fica clara a política expansionista de Vladmir Putin, que atropelou várias normas e tratados internacionais ao agir em território ucraniano. Desde que ele chegou ao poder, em 2000, parece claro que o actual presidente russo (que foi indicado este ano para Prémio Nobel da Paz) quer desequilibrar a ordem política e militar a nível do mundo. Até aí tudo bem, porque a hegemonia americana também já cometeu muitos atropelos, mas as acções russas na Crimeia são preocupantes e podem desembocar num conflito a escala mundial. A tomada de posição russa pode parecer uma acção isolada mas importa lembrar os casos da Ossétia do Sul e a Abkházia, cuja independência é apoiada pela Rússia, territórios reivindicados pela Geórgia. Em 2008, a Rússia usou a maioria russa na Ossétia como justificativa para atacar as tropas da Geórgia, que tentavam recuperar o controle da região separatista. Acções como a da Rússia chocam com o direito internacional e abrem precedentes para que situações do género possam ocorrer um pouco pelo mundo. É verdade que os Estados Unidos enquanto superpotência também atacou o Iraque sem mandato na Organização das Nações Unidas (ONU), mas os dois casos são condenáveis. As iniciativas expansionistas da Rússia ameaçam a paz mundial tendo em conta os interesses que imperam naquela região. Nesta altura o que mais se teme é uma possível invasão russa a outros territórios da Ucránia. Estão em curso vários esforços para alcançar um entendimento e a grande expectativa é que a mesa de negociações possa evitar um conflito com consequências imprevisíveis. Um eventual conflito na região terá implicações sérias na região e a nível mundial, pelo que a via do diálogo deverá ser a melhor opção, mas, para tal é necessário que haja vontade política por parte da Rússia. Atropelar o direito internacional é perigoso, independentemente de quem seja o actor invasões a nações independentes são acções condenáveis e devem merecer pronta reacção no plano político. Os tempos da “guerra fria” já se foram mas actualmente o mundo regista altas temperaturas.

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FIGURAS DE CÁ

DAUTO FAQUIRÁ

PESADELOS

Quem não deve estar a ter sonos tranquilos é o treinador do 1º de Agosto, Dauto Faquirá, a julgar pelo arranque cem por cento negativo da equipa militar. Eliminado das competições africanas logo no primeiro jogo, o 1º de Agosto também começou o Girabola com derrota o que coloca os seus adeptos com os nervos à flor da pele. Se rapidamente o 1º de Agosto não dá a volta aos resultados, Faquirá terá os dias contados à frente do conjunto militar. Tem sido assim a história dos treinadores!

ANSELMO RALPH AGENDA CHEIA

Anselmo Ralph é neste momento o artista angolano com a agenda mais preenchida para shows em Angola e no estrangeiro, um facto que confirma a popularidade que granjeou com a sua música sobretudo no seio da camada juvenil. Romântico, Anselmo Ralph é também dos artistas com maiores tiragens de discos e que cobra os cachets mais altos que o colocam ao nível dos artistas mais bem sucedidos de África.

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RIQUINHO

SENTIMENTO PATRIÓTICO Irreverente homem de cultura que se auto-proclama como o dono da maior empresa de espectáculos de África, Riquinho não perde uma oportunidade para, onde estiver presente, deixar bem patente a sua imagem de marca. No carnaval deste ano, Riquinho fez valer o seu sentimento patriótico, e lá estava o homem a fazer a campanha pelo éxito do Censo Geral da População e Habitação que ocorrerá em Maio, em todo o País. Sem dúvidas, um gesto bonito de Riquinho que agora também, sem ser jornalista de profissão, abraça a comunicação social, como proprietário de um semanário.


FIGURAS DE CÁ MANTORRAS FUTEBOL NAS VEIAS

Mantorras abandonou prematuramente os campos de futebol mas não esquece a modalidade que muito contribuiu para a sua valorização como homem e como profissional. No Benfica de Portugal, seu último clube,ele desempenha o papel de embaixador, fazendo a promoção de imagem do clube pelo mundo. E é nessa vertente que não esqueceu o seu País e decidiu apostar na formação de novos talentos. Apadrinhou o surgimento de uma escola de futebol na Província do Kuanza Sul e Mantorras acredita que dalí sairão valorosos talentos que se destacarão nos estádios de futebol de Angola e do mundo.

Ao ter sido recebido em audiência, no mês de Março, pelo Presidente da República, Lucas Ngonda, Presidente da FNLA poderá ter capitalizado forças para conseguir, se não eliminar, pelo menos atenuar as discrepâncias que fazem daquele partido histórico uma força sem desempenho saliente no panorama político da actualidade nacional. Lucas Ngonda disse que apresentou ao Chefe do Executivo preocupações atinentes à vida dos antigos combatentes do ELNA, antigo braço armado da FNLA que hoje desmobilizados, grande parte deles velhos ainda não beneficiam da reforma social.Um tema pertinente que pode sensibilizar todos aqueles que lutam pelo rejuvenescimento da FNLA, traduzido numa maior acção na vida política do País como um passo que possa levar à reconciliação das partes desavindas. Se ainda for possível, à bem do Partido e da democracia.

LUCAS NGONDA

TRUNFOS

MILUCHA ABRANTES RECONHECIMENTO

Ao ser incluída numa lista das 20 mulheres africanas influentes pelo peso dos cargos que ocupam, Milucha Abrantes vê no gesto o reconhecimento do seu valor profissional e intelectual, o que dignifica as mulheres angolanas. Dona de um curriculum saliente, Milucha Abrantes, formada em Direito e com algumas especializações pelo meio dentro e fora do País, é actualmente a directora da ANIP, Agência Angolana para o Investimento, a estrutura que peneira os interesses de quem pretende investir no nosso País.

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FIGURAS DE CÁ BENTO BENTO MAL NA FOTO

Governador Provincial de Luanda, Bento Bento, não ficou bem na fotografia quando reconheceu publicamente que foi preciso a intervenção directa do PR para conter a fúria dos homens da fiscalização do GPL contra as zungueiras. Então, ele como governador não estava ao corrente dessa acção altamente negativa e penalizante dos fiscais? Bater e apoderar-se dos bens das zungueiras que circulam pelas ruas de Luanda, o Governador não se apercebeu que é um mal que mancha o seu consulado? Nessa conduta, onde até para pregar um botão da calça tem de se esperar a orientação vertical, o País não vai a sítio nenhum.

INGA VAN-DÚNEM

POSICIONAMENTOS

Inga Van-Dunem é a Secretária Geral da OMA, a organização feminina do MPLA. Deputada no Parlamento Nacional, Inga, mulher discreta e de poucas palavras, sabe, no entanto, como conquistar a simpatia e adesão das mulheres que diariamente aderem à causa da OMA na luta por uma melhor e maior dignificação das mulheres angolanas. Por esse esforço Angola é hoje um dos países que melhor materializa a política da igualdade do género, com um número considerável de mulheres em lugares cimeiros de decisão, cargos conseguidos pela sua competência e destreza.

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FILOMENA DELGADO BATALHAS Muitas etapas foram conseguidas na luta pela dignificação da mulher em Angola, mas Filomena Delgado, Ministra da Família e Promoção da Mulher ainda não se sente tranquila, sobretudo quando se debruça sobre a violência doméstica que, já não sendo exagerada, continua a ser sentida. O combate, diz ela, tem de ser permanente e tanto os homens como as mulheres devem se compenetrar que nas relações entre as pessoas não é a violência que deve imperar, mas sim o diálogo, para dirimir consequências e obstáculos que possam surgir no relacionamento do dia a dia.

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FIGURAS DE CÁ LUNGUINHA CHORO

O Kabuscorp do Palanca foi afastado da maior competição africana de clubes logo na primeira eliminatória, comprometendo o investimento feito e que apontava para chegar mais longe na competição. Lunguinha, no final do jogo com o Zamalek do Egipto, que ditou a eliminação, em Luanda,do Kabuscorp, não conseguiu esconder a sua dor e chorou amargamente pelo sucedido. Agora, so resta esperar pela próxima oportunidade, que passa, necessáriamente, por uma conquista do Girabola deste ano.

TITICA CAMINHOS

Titica é uma das vozes femininas que no nosso meio musical que faz tudo para dar cartas. Extravagante ao seu jeito, Titica lançou em meados de Março o segundo disco da sua ainda curta carreira musical, contando para o efeito com a participação de alguns artistas já consagrados da música nacional. No mês dedicado às mulheres,Titica não queria ficar de fora.

WALDEMAR ALEXANDRE RESPOSTAS CERTAS

Ministro da Construção, Waldemar Alexandre tem estado a imprimir uma nova dinamica nesse importante sector da vida do País apostando fundamentalmente na manutenção daquelas infra-estruturas que ao longo dos últimos anos foram surgindo como as estradas que hoje ligam Luanda, a quase todas as províncias do País. Sem dúvidas um esforço louvável, lamentavelmente nada compreendido pelos seus detractores, engendram campanhas que visam arredar da cadeira o novo ministro. Consciente do seu papel e responsabilidade enquanto servidor público, Waldemar não pode parar e deve dar corpo de forma generalizada a esse programa de manutenção do muito que já se fez até agora de forma que o País se beneficia durante muito tempo dos esforços da reconstrução que custaram muitos milhões de dólares.

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DESTAQUE

União Sagrada Esperança do Município do Rangel foi o vencedor

... E FEZ-SE A MAIOR FESTA POPULAR DOS ANGOLANOS TRIGÉSIMA-SEXTA EDIÇÃO DO CARNAVAL FEZ DANÇAR MILHÕES DE FOLIÕES EM TODO O PAÍS

Mais um capítulo da história da maior manifestação cultural de Angola fechou-se com a realização da trigésima-sexta edição do Carnaval, um evento que ocorreu num clima de paz, muitos ritmos e danças,que , segundo opinião geral, saíram melhor valorizadas durante os quatro dias consecutivos do entrudo em toda a extensão do território nacional.A população fez-se presente em massa, numa realização que,por enquanto, surge ainda sob a cobertura do cheque chorudo do Estado, aguardando-se, pacientemente, que certos sectores da sociedade civil considerada "elitista" se envolva para que, também ela, se reveja na maior riqueza que o país tem;o seu povo, a sua história, a sua cultura. De todo modo, o que interessa mesmo é que o Carnaval das grandes massas populares voltou a sair à rua, fez-se a festa do povo e, por alguns momentos, esqueceram-se as etapas mais difíceis que o país vive Por: Carlos Miranda (Texto) / Fotos: Adão Tenda

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DESTAQUE

L

amentavelmente, a estrutura montada para a organização de mais uma edição do Carnaval não tem meios suficientes para saber, com alguma razoabilidade, o número de pessoas que pelo país inteiro fez-se às ruas, praças e largos, para, uma vez mais, fazer valer o quanto é rica a nossa cultura.Todavia, pode-se arriscar que não foram milhares de cidadãos, mas milhões os que souberam vincar os valores das danças, músicas, enfim, das nossas tradições. Durante o entrudo, tentou-se esquecer as agruras da vida, lembraram-se as palavras sábias do Poeta Maior que, muito antes de Angola conquistar a independência, garantiu, numa das suas mais brilhantes obras literárias, que, sim "(...) À frescura da mulemba/às nossas tradições/aos ritmos e às fogueiras/havemos de voltar;À marimba e ao quissange/ao

nosso carnaval/havemos de voltar". E, hoje, o povo volta a dançar o seu carnaval pela trigésima-sexta vez, apenas forçado a não fazê-lo devido ao conflito armado que se registou em 1993. Repetiu-se a história triste de 1975,76 e 77.Mas a verdade é que o carnaval angolano arrancou em 1978 e já vai na sua trigésima sexta edição, desta feita com o sabor da paz, e o juntar das vontades de bem fazer. Com maior investimento financeiro, técnico e material, um nível organizacional mais profissional, pouco faltará para que se abram boas perspectivas no sentido desta festa popular seja melhor reconhecida a nível internacional. Em termos de organização e mobilização,para além da espontaneidade natural de muito boa gente do povo, ano após ano, o maior evento cultural do país mostra evolução. Luanda,a capital do país e cidade-cosmopolita, tem o privilégio de albergar o palco central do acontecimento.A sua marginal, uma das maiores e mais belas de África, acolheu milhares de pessoas num movimento de massas que aglutinou, de forma algo tímida, as que são consideradas "pessoas de salão e espelho". Diante do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que demonstrou sinais de muita vitalidade e vontade de descer da tribuna de honra,pois já se sabe que morre de amores pelo ritmo das nossas danças tradicionais, pois as viveu desde os tempos de menino no musseque Sambizanga ( não se sabe ao certo se será especificamente, adepto do Kiela, do Kabocomeu ou da Cidrália), diante de Dos Santos, escrevíamos, desfilaram doze grupos que evoluí-

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ram, maioritariamente, dançando o Semba durante mais de cinco horas. Outros rítmos e estilos de dança também foram interpretados, nomeadamente a dizanda, a kazucuta, a cabecinha/kabetula, entre outros, no decorrer de uma tarde com uma temperatura bastante alta (36 graus), em que se destacou , para além do espectáculo em si, a organização nos serviços de emergências médicas, dos órgãos policiais e o envolvimento de brigadas de limpeza. Todavia, deve servir como sinal de alerta o facto de a Nova Marginal de Luanda, pelo menos daqui a alguns anos, não puder suportar tanta gente para assistir o despique dos grupos que, na sua generalidade, comportam mais de duzentos integrantes, para além das claques acompanhantes.Não será tarefa fácil encontrar-se um outro local que sirva como palco central da manifestação cultural do país...

Houve criactividade... 39


União Njinga Mbandi foi o segundo classificado

De resto, à semelhança do que ocorreu nas edições passadas, a organização dos grupos infantis, que geralmente desfilam antes dos adultos, demostraram querer preservar os traços culturais da história dos seus ancestrais. Tal facto mereceu elogios rasgados da ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, que expressou a sua gratidão pelo esforço de todas as equipas envolvidas na organização do Carnaval, com destaque para a massa juvenil que aderiu a proposta dos grupos do Entrudo. "Vocês vão ter que se dedicar à cultura durante todo o ano. Têm que ter acesso à literatura angolana, conhecer os grandes escritores e contos nacionais", aconselhou. Com as atenções viradas para o grande desfile de Luanda, que, aliás é transmitido em directo pelas estação televisiva estatal angolana para todo o mundo, o carnaval deste ano contou igualmente com a intervenção, sem qualquer carácter competitivo, dos blocos de animação, alguns

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Presidente dos Santos e a Primeira-dama na tribuna do desfile central Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014


DESTAQUE dos quais evoluirão para grupos carnavalescos. De salientar que o União Sagrada Esperança do distrito urbano do Rangel foi o vencedor da classe A, com 892 pontos. Em segundo lugar ficou o União Njinga Mbandi, vencedor da edição 2013, com 808 pontos; uma classificação que, na generalidade, não mereceu muita contestação. Na classe infantil, o grupo carnavalesco Cassules Sagrada Esperança seguiu o rítmo dos mais-velhos. Ganhou a competição com 870 pontos. O segundo lugar foi conquistado pelos Cassules Mundo da Ilha, com 809 pontos. Para infelicidade dos seus milhares de adeptos, um dos grupos mais populares do carnaval de Luanda, que, aliás, no passado representou o país além-fronteiras, foi atirado para um patamar nunca registado na sua

União Jovens da Cacimba

Cronologia dos vencedores Edição Ano

Grupo

1978

União Operário Kabocomeu

2ª 3ª

1979 1980

Feijoeiros do N Gola kimbanda União Mundo da Ilha

4ª 1981 5ª 1982 6ª 1984 7ª 1985 8ª 1986 9ª 1987 10ª 1988 11ª 1989 12ª 1990 13ª 1991 14ª 1992 15ª 1994 16ª 1995 17ª 1996 18ª 1997 19ª 1998 20ª 1999 21ª 2000 22ª 2001 23ª 2002 24ª 2003 25ª 2004 26ª 2005 27ª 2006 28ª 2007 29ª 2008 30ª 2009 31ª 2010 32ª 2011 33ª 2012 34ª 2013 35ª 2014

Feijoeiros do NGola União Mundo da Ilha União Mundo da Ilha União Kiela União Kiela União Mundo da Ilha União Mundo da Ilha União Kiela União Kiela União 10 de Dezembro União Amazonas do Prenda União Angola Independente União Angola Independente União Angola Independente União Mundo da Ilha União 54 União 10 de Dezembro União Mundo da Ilha União Kazukuta União 10 de Dezembro União Mundo da Ilha União Mundo da Ilha Unidos de Caxinde União 10 de Dezembro União Mundo da Ilha União Mundo da Ilha União Kiela Unidos do Caxinde União Sagrada Esperança União Jovens da Cacimba União Njinga Mbandi União Sagrada Esperança

Município/Distrito

Dança

Sambizanga

Kazukuta

Samba Ingombota Samba Ingombota Ingombota Sambizanga Sambizanga Ingombota Ingombota Sambizanga Sambizanga Maianga Maianga Kilamba Kiaxi Kilamba Kiaxi Kilamba Kiaxi Ingombota Maianga Maianga Ingombota Sambizanga Maianga Ingombota Ingombota Ingombota Maianga Ingombota Ingombota Sambizanga Ingombota Rangel Maianga Viana Rangel

Cidrália Semba Cidália Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Kazukuta Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba Semba

história de mais de quarenta anos de existência. Trata-se do União Kiela, que, ao lado do célebre Kabocomeu e União Kazucuta, são os "embaixadores" mais credenciados do distrito do Sambizanga. O Kiela tem um histórico de conquistas assinalável (venceu as edições de 1985, 1986, 1989, 1990 e 2009), mas está muito longe de alcançar os feitos do seu arqui-rival da Ilha: o União Mundo,que possui 12 títulos conquistados nas edições de 1980, 1982, 1983, 1984, 1987, 1988, 1997, 2000, 2003, 2004, 2007 e 2008 . O "União Amazonas do Prenda", do distrito urbano da Maianga, vencedor da edição de 1992, seguiu o mesmo destino.Desceu de divisão. No próximo ano, teremos

Cabecinha/Kabetula

Semba

A edição de 1993 não foi realizada devido à eclosão do conflito armado, após a divulgação dos resultados das eleições legislativas e presidenciais de Setembro de 1992.

Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva

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a exibir-se novos grupos da classe A do Carnaval, nomeadamente o "Dimba dya Ngola", "União 54", "Etu Mudietu", "Domant" e "Twanfudumuca". Entretanto, com a interpretação do tema "Do União Operário Kabocomeu", o "Kabocomeu", do distrito do Sambizanga, conquistou o Prémio "BAI-canção", arrecadando 1 milhão de Kwanzas na categoria da classe A (adultos). Na classe B foi galardoado o grupo "União Dimba Dya Ngola", que interpretou "O Kwanza agora é novo". Note-se que com este prémio, o BAI, instituição bancária de reconhecidos méritos também fora dos balcões, pretende incentivar os artistas, compositores e produtores musicais, no sentido de se envolverem sistematicamente na criação de obras relacionadas com o carnaval -sem dúvidas, um dos símbolos mais representativos da cultura nacional. Ao contrário do que era exigível, não será tão cedo que o carnaval deixará de ser superiormente organizado pelas estruturas do Estado e das edilididades municipais e comunais que serão sempre chamadas a desembolsar somas de dinheiro e meios materiais para que, cada uma com a sua estratégica, obter a melhor qualificação possível nos desfiles. Durante quase todo o ano, os grupos carnavalescos lutam com enormes dificuldades para conseguirem reunir centenas de pessoas num espaço em condições para ensaios regulares. De uma forma geral, estes são efectuados quando faltam poucos

meses para a realização dos desfiles centrais. Uns mais ou menos organizados que outros, as centenas de grupos espalhados um pouco por todo o país, desde muito cedo começam por reclamar dos prémios colocados à disposição quer pelas administrações como pelas comissões organizadoras criadas especialmente para o efeito.E estas mesmas funcionam quase sempre a meio gás, com os responsáveis a tentar fazer milagres com o que dispõem dos cofres do Estado para iludir os vencedores do entrudo nos mais diversos escalões e localidades. No desfile que tem maior visibilidade mediática, o Carnaval da Marginal de Luanda, o conjunto dos prémios não atinge os cinco milhões de dólares, uma cifra que, segundo os experts na matéria, não chegaria para despoletar maior concorrência e entrega dos grupos carnavalescos, alguns dos quais apresentam-se de forma sofrível para a importância do evento. No interior do país é um "Deus nos acuda" no momento da entrega dos prémios pecuniários e troféus.Gente com cara de poucos amigos é vista nas cerimónias geralmente feitas com muita bebida e pouca criatividade em termos de organização.Depois da entrega dos prémios e da famosa quarta-feira das Mabangas, de facto surge o "varrer das cinzas" para se esquecer literalmente o que se passou.Seguem-se longos meses em que os planos organizativos são engavetados.

União Dimba Dya Ngola é o vencedor Tabela geral e prémios para os primeiros cinco classificados da classe B

Grupos 1º União Dimba dya Ngola 2º União- 54 3º União Etu Mudietu 4ºUnião Domant 5ºUnião Twanfundumuca 6º Nova Geração do Mar 7º Juventude do Kapalanca 8º Unidos do Kilamba Kiaxi 9º Estrela do Pita 10º Café de Angola 11º União Jiza 12º 17 de Setembro 13º União Tonesa 14º União Kwanza

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Valor em KZ 1.500.000.00 Kz 1.000.000.00 Kz 600.000.00 Kz 500.000.00 Kz 250.000.00 Kz ---------

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Figuras&Negócios - NºKazukuta 147 - MARÇO 2014 União do Sambizanga


União Mundo da Ilha

No ar, fica sempre a sensação que o carnaval de Fevereiro começa a ser pensado e colocado na ordem do dia apenas em Janeiro do msmo ano, um facto que começa a arreliar o Estado que quer fazer do Carnaval a maior manifestação popular à escala

de todo o país, ao contrário do que acontece em certas províncias em que a dita ``festa do povo`` é atirada para os fundos dos quintais fechados ou bolsas de uma elite escolhida a dedo por algumas produtoras de espectáculos.

União "Sagrada Esperança" Limpou dudo

Por exemplo,em termos de preparação para defesa dos títulos conquistados na trigésima sexta edição e contribuir na valorização, preservação, divulgação e revitalização do Carnaval, o comandante do grupo União Sagrada Esperança, Gelson Rocha, que venceu as duas categoriais em Luanda, anunciou que começam a preparar a

Classificação e respectivos prémios dos cinco primeiros classificados da Classe A do carnaval de Luanda

Grupos 1º União Sagrada Esperança 2º União Njinga Mbandi 3º Jovens da Cacimba 4º União Kazukuta do Sambizanga 5º União Mundo da Ilha 6º União Operário Kabocomeu 7º União 10 de Dezembro 8º União Kiela 9º UniãoTwabixila 10º União Amazonas do Prenda 11º União Jiza 12º União Nova Geração Sagrada

Valor em KZ 3.000.000.00 Kz 2.000.000.00 Kz 1.200.000.00 Kz 1.000.000.00 Kz 800.000.00 Kz ---------------

NOTA: Os cinco últimos classificados descem para a classe B do Carnaval de Luanda de 2015

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próxima edição em Junho, com os riscos de planificação decorrentes da organização estrutural dos próprios grupos carnavalescos. Note-se que este grupo, fundado a 20 de Março de 2005, contou igualmente com o apoio do Centro Recreativo Cultural "Kilamba" para além do prestado pelo Estado, cujo peso financeiro fica quase sempre fechado a quinhentas chaves… Importa reter o que disse o director artístico do grupo carnavalesco Ouro Negro da Tundavala, vencedor do Entrudo na província da Huíla, quanto a necessidade de haver um aumento do valor dos prémios, no sentido de que os grupos apareçam com melhor apresentação e organização. Ele considerou a quantia insuficiente, uma vez que os valores que os grupos gastam para aquisição de adereços e outros meios são maiores em relação ao que recebem, pois os grupos têm os seus próprios integrantes que necessariamente tem de ser remunerados. “Nós sabemos que o carnaval é cultura e as pessoas devem participar de livre vontade e com alegria, mas é preciso também que haja incentivos para que tenhamos um carnaval à altura, como de outros países, e dignificar as nossas raízes” sublinhou em entrevista à Angop.

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Figuras&Negรณcios - Nยบ 147 - MARร O 2014


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Fotos de Levy Ribeiro

DESTAQUE

A comissão de frente da Unidos da Tijuca

CARNAVAL

DO RIO DE JANEIRO 2014 Após uma apuração emocionante, a Unidos da Tijuca sagrou-se campeã do carnaval carioca 2014 e conquistou o seu tetracampeonato. (Os títulos anteriores foram em 1936, 2010 e 2012) Por: Dany D (Texto)

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uma disputa acirrada, a Tijuca saiu à frente da Académicos do Salgueiro e venceu por um décimo de diferença. Em seguida vieram a Portela, União da Ilha, Imperatriz Leopoldinense e Grande Rio. O Império da Tijuca caiu para a Série A e a Unidos do Viradouro voltou à elite das escolas de samba

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do Rio de Janeiro. Neste carnaval de 2014, os jurados estiveram mais rigorosos, com menos distribuição de notas 10, aderindo à campanha da Liga Independente das Escolas de Samba de “valorizar o dez”. No quesito enredo, predominaram as referências à brasilidade, à diversidade cultural, às manifestações folclóricas e as homenagens a personalida-

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des como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni), Ayrton Senna e Zico. Passaram pelo Sambódromo do Rio alegorias deslumbrantes, novos truques que surpreenderam, corpos esculturais, muita tecnologia, alguns equívocos e poucos sambas que funcionaram. Primeiro lugar - Unidos da Tijuca - O enredo "Acelera, Tijuca" da escola do morro do Borel, em homenagem ao piloto Ayrton Senna, morto há 20 anos, esbanjou a criatividade que já é a sua marca registada e conseguiu surpreender mais uma vez. Este foi o terceiro título conquistado na era do carnavalesco Paulo Barros, cuja fama começou com a alegoria


DESTAQUE humana do DNA, que mesmerizou a Sapucaí há exactos dez anos. Com notas 10 nos quesitos enredo, mestre-sala e porta-bandeira (Julinho e Rute), evolução, conjunto e bateria, a escola provou que, além da originalidade, foca o seu desfile de olho nos quesitos e nos jurados. E a fórmula tem dado certo, assim como fazia a Imperatriz anos atrás, com os seus desfiles técnicos impecáveis. A escola entrou segura e foi bem no quesito harmonia, com os componentes animados cantando do começo ao fim da Avenida. Com boa evolução, não houve "buracos” nem correria dos integrantes. A comissão de frente, com uma pegada de humor, trouxe personagens velozes emblemáticos de desenhos animados como Speed Racer, Penélope Charmosa, Sonic The Hedgehog, Dick Vigarista, além do próprio Ayrton Senna. Seguindo uma tendência inovadora deste ano entre algumas escolas, houve a interação de um membro da comissão com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. O abre-alas com dois carros acoplados veio com diversos Sennas coreografados e 95 capacetes. Ao todo, foram usados 295 no desfile. Um dos grandes destaques foi a terceira alegoria do "pitstop", com a perspectiva virada para o público, como se a pista do Grand Prix estivesse a ser vista de uma transmissão de TV. As alas vieram caracterizadas de personagens como Papa-léguas, Mutley e desportistas como Usain Bolt, ciclistas, motociclistas e remadores. O enredo desenvolvido por Paulo Barros trouxe ainda fantasias representando a velocidade da luz e animais velozes como o beija-flor, que bate as asas com a maior rapidez, guepardos e falcões. O samba da Tijuca prometia empolgar, mas, acelerado e sem conseguir levantar a platéia, não ganhou nenhuma nota 10. Já a bateria do mestre Casagrande, introduzida pela rainha Juliana Alves, com os seus ritmistas vestidos de mecânicos, foi considerada perfeita

A Shiva Levitante do Salgueiro

e levou quatro notas 10. Apesar do abuso de referências cartoon/pop de Paulo Barros, a modernidade venceu mais uma vez o tradicionalismo. Segundo lugar - Salgueiro - Na briga pelo título desde o começo, o Salgueiro ficou em segundo lugar,

fez as arquibancadas cantarem da concentração à dispersão como não se via há muito tempo. O abre-alas moderno e colossal, o uso abundante de caríssimas penas de faisão e cores predominantes de madeira, marrom, palha e vermelho deram um ar luxuoso à escola. A comissão de frente representava os quatro eleApesar do abuso de referências car- mentos, com o truque de toon/pop de Paulo Barros, a moder- uma Shiva levitante, que nidade venceu mais uma vez o tradicio- intrigou os espectadores. A vermelho-e-branco nalismo” da Tijuca, cujo último campeonato foi concom o enredo "Gaia, a Vida em Nosquistado em 2009 com o enredo sas Mãos", que abordou a susten"Tambor", também conquistou o Estabilidade e a preservação da Terra. tandarte de Ouro- prêmio concediEm tom de alerta e conciencialização do pelo Jornal O Globo- de Melhor o enredo de Renato Lage e Márcia Escola, Melhor Bateria (A "Furiosa Lage estava coerente e eficiente. Só Bateria" do Mestre Marcão) e Melhor não ficou em primeiro lugar pois a Samba-Enredo (dos compositores escola foi prejudicada nos quesitos Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miuconjunto (que abrange a totalidade dinho, Betinho de Pilares, Rodrigo do desfile, do visual e das cores) e Raposo e Jassa). alegorias e adereços, no qual teve Terceiro lugar - Portela Depois problemas com a iluminação de um de superar uma crise administrativa, dos seus carros. a troca de directoria no ano passaCom um dos sambas que mais do e uma dívida de 14 milhões de cresceram na Avenida, a “Academia” Reais, o terceiro lugar conquistado

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DESTAQUE pela Portela teve sabor de vitória. A escola de Oswaldo Cruz e Madureira, maior campeã do carnaval carioca, sem vencer desde 1984, mostrou garra e capacidade de renovação, que trouxe um sopro de alegria aos seus fiéis torcedores. Com a empolgação dos membros da comunidade, já entrou na Sapucaí como uma das favoritas. O coeso enredo ''Um Rio de Mar a Mar: do Valongo à Glória de São Sebastião'' falou sobre a escravidão, a chegada ao Cais do Valongo e a evolução da área desde as manifestações históricas da Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro até os protestos recentes de 2013. O abre-alas teve na sua composição 22 águias, 21 representando cada um dos seus títulos e a 22ª simbolizando a esperança de um novo campeonato. Riquíssima e formando um belíssimo mar azul, a escola só perdeu pontos significativos nos quesitos enredo, alegorias e adereços e um incompreensível 9,5 na comissão de frente. A “ala das damas” venceu o Estandarte de Ouro de melhor ala, apresentada por Tia Dodô, a eterna porta-bandeira de 1935. Quarto lugar - União da Ilha O enredo lúdico e irreverente "É brinquedo, é brincadeira: a Ilha vai levantar poeira", que conquistou jurados e público, fez com que a União da Ilha retornasse à elite das campeãs. Com muita diversão, alegria nostálgica e leveza, o carnavalesco Alex de Souza transportou todos de volta aos tempos de infância. Reviveu, com cores vibrantes e acabamentos impecáveis, brinquedos clássicos como bonecas, soldadinhos de chumbo, jogos de varetas, cubos mágicos e trouxe até uma ala de componentes sobre patins e um carro com Chucky, o brinquedo assassino. Houve também a óptima ala do jogo de videogame Pacman e a comissão de frente do coreógrafo Jayme Arouxa impressionou com os seus duendes, fadas e dois bailarinos australianos que se equilibravam em hastes flexíveis. Mesmo evocando o enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel “Marraio Feridô Sou Rei”, de

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A águia da Portela

Juliana Alves, Rainha de Bateria da Unidos da Tijuca

2003, que também falava sobre jogos, a Ilha conseguiu fazer uma abordagem original e irresistível do tema. Evoluiu bem com o samba que mais empolgou a Sapucaí, integrantes animados, com a “Baterilha” e o inconfundível intérprete Ito Melodia. Quinto lugar - Imperatriz Leo-

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poldinense Oito vezes campeã do carnaval carioca, a escola verde-e-branco rendeu homenagem ao maior ídolo rubro-negro Zico, que veio no último carro, o da Coroa de Ramos, de onde esbanjou simpatia, cantando o samba e acenando para os seus fãs durante todo o desfile. O enredo “Artur X – O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz” contou a trajetória do jogador e chegou a empolgar. Mereceram destaque o deslumbrante carro do carrossel, a comissão de frente coreografada por Deborah Colker, com meninos de projetos sociais craques em embaixadinhas, e o casal de mestre-sala (Phelipe Lemos, vencedor do Estandarte de Ouro) e porta-bandeira (Rafaela Teodoro). A escola, que nos seus tempos áureos tinha como tradição desfiles técnicos bonitos e perfeitos, porém frios e burocráticos, desta vez teve problemas com a entrada do abre-alas na concentração, que ficou retido por nove minutos, e com o carro de Zico, que também atrasou para entrar, provocando buracos e prejudicando a evolução da escola. Sexto lugar - Grande Rio O enredo da sexta colocada era difícil, mas acabou por ser bem pes-


DESTAQUE quisado e muito bem elaborado pelo carnavalesco Fabio Ricardo. “Verdes Olhos de Maysa Sobre o Mar, no Caminho: Maricá” celebrou os 200 anos da cidade de Maricá (Rio de Janeiro) e homenageou a cantora Maysa, que morou lá. A homenagem dupla conseguiu ainda encaixar, com coerência, os estudos do naturalista Charles Darwin, que também esteve por lá por nove dias colhendo exemplares da fauna e da flora local. Tripés criativos, a luxuosa ala das baianas vestidas de Nossa Senhora do Amparo e uma das mais criativas comissões de frente deste ano, que não veio no chão e sim em cima de um carro alegórico, com um homem-bala sendo arremessado de um canhão, marcaram o desfile da tricolor de Duque de Caxias. Grandiosa e opulente com materiais caros, a escola utilizou muitas luzes de LED e investiu na interatividade com fotos de internautas. À frente dos ritmistas vestidos de vaga-lumes de Darwin da “Bateria Invocada" de Mestre Ciça, estava a rainha de bateria, a atriz Cristiane Torloni. O figurino da porta-bandeira Veronica tinha 15 mil penas de faisões albinos e o do mestre-sala Fabricio era banhado a ouro. Apesar da já habitual imensa quota de celebridades, os 4000 integrantes e o samba-enredo empolgante garantiram um desfile bom e alegre. Sétimo lugar - Beija-Flor - “O Astro Iluminado da Comunicação Brasileira”, enredo deste ano da escola de Nilópolis, não teve muito apelo entre os jurados. A divisão do tema entre a homenagem ao ex-diretor geral da Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e a história das diversas formas de comunicação não foi bem amarrado, e a escola, que há anos era presença garantida entre as seis maiores, nem sequer desfilou no Sábado das Campeãs. Mesmo com muitos efeitos visuais, tecnologia, as famosas alegorias gigantescas e suntuosas e o seu know-how de espetacularização, a escola perdeu muitos pontos em enredo, samba-enredo, conjunto

e comissão de frente. Até mesmo o consagrado casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, com vinte anos dedicados à escola levaram uma nota 9.7. Assim como na Unidos da Tijuca, também houve o novo recurso de integração da comissão de frente com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Cantando o fraquíssimo samba-enredo, Boni veio à frente da bateria, caracterizado de Chaplin, assim como os ritmistas. Oitavo lugar - Mangueira - A expectativa era grande com a chegada à verde-e-rosa da carnavalesca campeã de títulos pela Imperatriz, Rosa Magalhães, que trouxe o seu luxo e explosão cromática. Os 4500 componentes levantaram as massas. O enredo “A Festança Brasileira Cai No Samba da Mangueira", ainda que pouco original, cantou com orgulho a diversidade das festas típicas populares. Mas o resultado final não foi o esperado. Apesar da riqueza das fantasias e adereços, do gigante e coloridíssimo abre-alas, chamado "A Festa do Descobrimento" e do esplendoroso carro de Iemanjá, a escola pecou em evolução e em fantasias e adereços. O cocar do pajé de um carro não passou numa das torres de televisão e quebrou em frente à comissão de julgadores. A escola enfrentou ainda problemas com o tempo e teve de correr no final do desfile e por pouco não estourou o

tempo-limite de 82 minutos. A ousadia da bateria do mestre Ailton em mudar o seu tradicional Surdo Um para uma bateria com tamborins que se acendiam com luzes de LED e que realizou duas "paradonas" cativou o público, mas só recebeu uma nota 10. A comissão de frente teatralizada de índios e colonizadores portugueses com diversas trocas de figurinos de Carlinhos de Jesus ganhou o Estandarte de Ouro. Nono lugar - Mocidade Independente De Padre Miguel - A menos de um mês do carnaval, a Mocidade vivia uma crise político-financeira e chegou a correr o risco de não desfilar. Foi formado então um mutirão de trabalho com os membros da comunidade, que conseguiram dar a volta por cima e realizar um desfile digno e com muita garra. A escola veio com o enredo “Pernambucópolis” e homenageou o carnavalesco Fernando Pinto, morto em 1987, e o folclore do Estado natal dele, Pernambuco. O carnavalesco Paulo Menezes falou sobre as manifestações culturais e o tropicalismo, mesclando referências aos enredos “Ziriguidum 2001- Carnaval nas Estrelas” e “Tupinicópolis”, de carnavais passados. O bom samba de autoria de Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau com sanfonas na bateria de mestre Andrezinho con-

A bailarina equilibrista da União da Ilha Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

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DESTAQUE

Zico na Imperatriz Leopoldinense

tribuiu para um desfile leve e descontraído. A divertida comissão de frente apresentou Xuxas espaciais e uma nave prateada. A escola, que não obtinha a nota máxima de mestre-sala e porta-bandeira desde 1996, finalmente conquistou duas notas 10 com o casal Rogerinho e Lucinha Nobre, que retornaram à escola depois de um período na Unidos da Tijuca. Décimo lugar - Vila IsabelCampeã do carnaval de 2013, a escola de Noel Rosa amargou o péssimo resultado em função de uma sucessão de erros, que já era anunciada pelo atraso no cronograma do seu barracão. Além do desfalque de dez alas no desfile, os integrantes do abre-alas entraram somente com as ombreiras, sem as partes de baixo das fantasias, que não chegaram a tempo e fez com que desfilassem de calças jeans e lingerie, falha gravíssima no grupo especial. Outras alas desfilaram só com macacões de malhas azuis e sem chapéus, com cabelos aparentes. Os diretores alegaram que o atraso se deveu à confecção das fantasias em ateliês terceirizados. Mesmo com os percalços, a Vila não foi muito afetada no quesito fantasias, ficando com notas 9.8, 9.9, 9.7 e 9.8 nos seus respec-

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tivos módulos. Os componentes, que têm tradição de bom desempenho de chão e harmonia, não perderam a animação e vibraram com o enredo “Retratos de um Brasil Plural", com enfoque na biodiversidade brasileira e na importância da preservação do ambiente e alas de consciencialização sobre a poluição das águas, queimadas e a devastação do cerrado brasileiro. Os pontos altos foram o imponente abre-alas de duas composições acopladas de navio negreiros da África e a comissão de frente de tripés com 4400 pinos cada um que

O homem-bala da Grande Rio Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

marcavam as figuras dos dançarinos. Décimo primeiro lugar - São Clemente - Num desfile morno mas bem-humorado, a escola levou à Avenida o enredo “Favela”, falando sobre as comunidades cariocas, desde as origens no Morro da Providência até os dias de hoje, e também reproduziu a vida nas favelas de outros países. A dança da Umbigada também foi homenageada pela escola. A comissão de carnaval comandada por Max Lopes apresentou uma divertida comissão de frente com um tripé no qual acontecia a transformação de figurinos dos personagens das favelas de antigamente nos dos tipos atuais, como funkeiros e mototaxistas. Décimo segundo lugar - Império da Tijuca - Egressa da Série A, a escola veio com o enredo afro “Batuk”, que destacou as danças e os ritmos africanos e homenageou também o sincretismo religioso. O samba-enredo foi um dos mais fortes e animados deste ano, com o refrão “Vai tremer/ o chão vai tremer”. A comissão de frente encenou coreografias de guerreiros africanos e o bonito carro Kizombadas mostrou a "festa entre amigos". Vestida de “Congada”, a bateria do Mestre Capoeira mostrou a garra com a bossa dos seus atabaques.


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DE UM ROSTO “ “O sector financeiro em Angola vive um período de expansão e se assume como mola propulsora no relançamento da economia. A intervenção dos últimos governos no âmbito das políticas de regulação e macroeconómica permitiu a alteração do quadro jurídico-legal, criando assim, uma maior actuação das instituições de regulação, aprofundamento e alargamento do sistema financeiro angolanoˮ

Por: Juliana Evangelista de Jesus (Texto) / Foto: Arquivo F&N

O

s bancos têm contribuído de forma decisiva para o desenvolvimento da actividade económica e empresarial do país uma vez que participam na intermediação financeira, isto é, recolhem a poupança de quem possui recursos excedentários e disponibilizam esses recursos aos agentes económicos que necessitam. Entretanto, um longo caminho há ainda que percorrer no tocante à consolidação do sector financeiro designadamente no mercado de capitais e bolsa de valores, uma vez que o sector financeiro angolano esta excessivamente ancorado no sector bancário e segurador, faltando desenvolver uma componente de financiamento essencial que é a que deriva do mercado de capitais. Em 2013 segundo a Africa Report, num ranking dominado por instituições bancárias da África do Sul, com o Standard Bank Group, First Rand Banking Holdings, ABSA Group, Nedbank Group e Investec Bank a deterem os cinco primeiros lugares deste ranking, apenas três bancos angola-

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nos figuram entre os 50 maiores bancos africanos, no tocante aos capitais próprios. O Banco BAI na 25ª posição é o primeiro banco angolano, seguido do Banco BESA, na 30ª, e o BFA, 35ª posição. Considerando os paises de língua official portuguesa apenas o BIM de Moçambique, na 67ª posição, consta na lista dos 100 maiores bancos do continente. No entanto, os bancos em actividade registaram um total de activos de 2.9 milhões de AOA em 2003, para 5,6 milhões em 2012. Com esta carteira de activos o sector bancário angolano é o terceiro maior da África subsariana depois da Nigéria e da África do Sul. Os rácios de bancarização têm vindo a aumentar de forma a servirem empresas e cidadãos residentes sobretudo em localidades longínquas, que apresentam baixos indices de bancarização.Face a falta de cultura de utilização de produtos financeiros é ainda usual existirem planos de comunicação dirigidos para segmentos menos esclarecidos da população, com o objectivo de formar e informar a opinião pública para uma melhor utilização de produtos bancários.

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A banca comercial está em crescimento e com um desenvolvimento considerável, analisando a tendência de crescimento que se apresenta e que tem sido consistente nos últimos cinco anos. Actuam no mercado angolano pela sua natureza jurídica dois tipos de bancos. Bancos com capital inteiramente nacional, e os bancos de direito angolano, que se resume aos bancos com capital estrangeiro a operar no país. Nesta perspectiva existem 24 bancos comerciais activos que actuam nos variados segmentos bancários desde a banca de investimento e banca universal.


ECONOMIA & NEGÓCIOS de juros, estabilidade cambial) vivida, em que o kwanza se assume cada vez mais como uma moeda de reserva de valor.

Fonte: BNA

Angola é um país que vive um período de reconstrução e ainda apresenta inúmeras necessidades que urge desenvolver. A actividade creditícia se revela como uma importante ferramenta de aceleração da vida económica, de realização e satisfação das necessidades que ainda se verificam em vários domínios.Por conseguinte, dados obtidos dos vários bancos em actividade pode-se extrair que houve um crescimento significativo do crédito na ordem de 25% em 2012.

Lista dos Bancos em Angola

Fonte: BNA

Um indicador importante de produtividade do sector bancário prende-se com o indice de depósitos bancários. O ano de 2012 registou um crescimento de 7,9% face ao ano de 2011. De referir que o aumento dos depósitos demonstra o reforço da confiança do cliente bancário, e esta confiança é também influenciada pela estabilidade macro-económica (queda da inflação, descida da taxa

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Fonte: BNA

O país parte agora para uma fase de diversificação da sua base económica, alargando o espectro a um conjunto de áreas prioritárias, designadamente, agricultura, com particular enfoque na produção de cereais, pecuária, a agro-indústria, a indústria transformadora e o restabelecimento da rede de logística e de distribuição. Nesta perspectiva a banca exerce um papel fundamental através da sua função financiadora de empresas existentes e projectos estruturantes. Daí que a ampliação das fontes de financiamento é um aspecto crucial no processo de diversificação da eco-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS nomia nacional. No ano de 2012 a distribuição de crédito compreendeu os seguintes sectores. Cabe realçar em 2012 um aspecto negativo Crédito por Sector de Actividade

Expansão de mais agências bancárias, precisa-se! Fonte: BNA

para a banca nacional, que se prende com o crescimento de 83,5% do crédito vencido face ao ano de 2011. Cabe ressaltar que deve ser dada atenção a melhoria da qualidade de crédito concedido a economia.O desafio da banca nacional residirá na capacidade do sistema financiar a economia, aumentando as disponibilidades e condições de crédito às empresas, reduzindo os constrangimentos que ainda subsistem em relação ao custo do crédito. O volume de depósitos registados em 2012

cas, houve um crescimento de 24% em 2012 face a 2011. Já a nível de terminais de pagamento automático registou um crescimento de 29% em 2012 face ao ano anterior. As perspectivas de crescimento do sector bancário são optimisTransações em TPA`s (Milhões de KZ)

Fonte: BNA

Evoluções das Caixas Automáticas (ATM)

Fonte: BNA

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Fonte: BNA

Evolução dos Terminais de Pagamento (ATM)

Fonte: BNA

refletem a alteração do comportamento do cidadão que, com o efeito de expansão da rede bancária e da melhoria do sistema de pagamentos, recorre cada vez mais aos produtos e serviços bancários. Em 2012 os bancos em actividade registaram transações em Automatic Teller Machines (ATM's) no valor de 110 mil milhões de AOA, o que representa uma expansão do volume de 35% face a 2011. Por outro lado, o volume de transações em Terminais de Pagamento Automático (TPA's) em 2012 regista o valor de 16 mil milhões de AOA, o que prova maior utilização dos instrumentos pelos agentes económicos. Em relação ao número de caixas automáti-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

tas, os bancos que actuam no mercado nacional têm visto aumentar os seus lucros e melhorar os principais indicadores de actividade ano após ano, semestre após semestre. De acordo com os dados históricos,foram registados os seguintes resul-

ram em Angola têm as suas operações estendidas a todas as províncias do país. Este aspecto mostra também a capacidade do sector descentralizar-se, uma vez que no passado a actividade bancária desenvolvia-se preferencialmente nas cidades do litoral com grande incidência em Luanda. Nesta perspectiva, houve um crescimento na abertuta de agências bancárias no pais de 10,5% face a 2011. Assim o sector bancário a nível nacional empregou em 2012 cerca de 16 mil pessoas. As necessidades de investimento que a economia angolana apresenta hoje exigem uma capacidade de res-

posta do sector financeiro. Existem já sinais de consolidação do sistema, sinais esses que podem ser observados na recente fusão entre o Banco Privado Atlântico e o Banco VTB- África, de capitais russos, e a Rostec, holding industrial russa, que passará a deter 20% do banco angolano BPA. Esta operação de fusão entre o Banco Privado Atlântico e os seus parceiros VTB Capital e Rostec vai potenciar a capacidade do banco intervir em mercados estratégicos da África sub-sahariana, mantendo Angola como centro de decisão. As operações de fusão e aquisições poderão ser boas estratégias

Filas nas agências: uma arrelias.

Fonte: BNA

tados líquido dos bancos no período de 2011 e 2012. Por outro lado, totalizaram em 2012 cerca de 87 milhões de AOA. Grande parte dos bancos que ope-

Fonte: BNA

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para expansão da rede e crescimento dos bancos e espera-se que esta primeira fusão seja o início de leque de fusões que se espera acontecer na economia angolana nos próximos anos. A banca angolana cresce, se afirma e é justo que se peça que ela configure um rosto mais angolano, contribuindo decisivamente como suporte da economia nacional em todos os seus segmentos.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

PRODUÇÃO DO "OURO NEGRO" CAÍU MAS SONANGOL FALA ALTO NO TESOURO MAIOR EMPRESA PÚBLICA ANGOLANA FEZ TRINTA E OITO ANOS DE EXISTÊNCIA Milhões, milhões e mais milhões foi o que mais se ouviu durante um encontro que a Sociadade Nacional de Combustíveis, Sonangol, promoveu com a imprensa, a propósito da comemoração dos seus trinta e oito anos de existência. Apesar dos cifrões, a maior empresa estatal angolana não terá sido feliz nos resultados alcançados pela sua produção petrolífera em 2013, comparativamente ao ano anterior, altura em que lucrou cerca de três biliões de dólares (usd 2.962.53. 674) como reflexo dos 626 milhões

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176 mil e 468 barris produzidos, contra os 633 milhões 149 mil e 741 barris de 2012. Em 2012, registou-se 4.4 %,ao contrário do que aconteceu em 2013 (1,1% resultando em termos de produção uma quebra acentuada nos seus cofres, que, ainda assim, foram capazes de sustentar os mais importantes projectos de desenvolvimento em curso em todo o paísa

Por: Carlos Miranda (Texto) / Fotos: George Nsimba iante de funcionários seniores da empresa, Francisco de Lemos Maria alimentou esperanças de dias melhores, mas reconheceu que em Novembro de 2013 registou-se a produção mais baixa de todo o ano, pois neste mês produziram-se apenas 47 milhões 545 mil e 207 barris que foram inferiores a 4 milhões 948 mil e 244 barris em relação ao mês de Outubro. "Esta quebra de produção no mês de Novembro, em 71% da produção anual, acabou por ser responsável pela redução em cerca de um por cento da produção nacional", disse. Franscisco de Lemos Maria lançou um repto às concessionárias petrolíferas, nomeadamente a Chevron que opera no Bloco 0, a Esso (Bloco 15) a Total (Bloco 17), a British Petroleum,que opera no Bloco 18, no sentido de explicarem mais detalhadamente esta redução substancial da produção, que acabou por ter um embate muito forte nas contas da multinacional angolana. "A Sonangol é uma empresa pública, é uma empresa que está inserida no parque da indústria de petróleo e gás e, sendo assim, em qualquer

país esta indústria é estratégica, de modo que as contribuições para o tesouro público normalmente são substanciais``, disse o PCA da multinacional, anunciando que em 2013 manteve-se a tendência dos anos anteriores. Segundo ele, cerca de 86% de todas as vendas efectuadas pela Sonangol foram entregues ao Tesouro Nacional nas mais diferentes modalidades de impostos ( produção, transacção, rendimento de petróleo, receitas das concessões petrolíferas e imposto de consumo, para além das obrigações aduaneiras). Quanto ao endividamento da companhia, uma vez que, na palavra de Francisco Lemos, a Sonangol possui um programa de investimentos "agressivo", e porque precisa, neste contexto, de fazer recurso ao mercado internacional, a multinacional teve um stock de endividamento, até 31 de Dezembro de Francisco de Lemos Maria, PCA da Sonangol

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ECONOMIA & NEGÓCIOS Em termos de actividade externa, fez-se saber que a Sonangol exportou 285 milhões 681 mil e 33 barris de petróleo que foram inferiores em 28 milhões 148 mil e 278 barris em relação a 2012, um facto que causou igualmente outro impacto muito forte na arrecadação de receitas da empresa, aliás, tal como fez questão de salientar o PCA, para além de outras baixas nas exportações, nomeadamente do gás e produtos refinados , fruto do aumento do consumo interno, principalmente.Ainda neste contexto, note-se que a firma registou um aumento das exportações em nafta, da gasolina e do gasóleo (20%) bem como do fuel oil (em 24%). Cinco milhões de toneladas de Quadros séniores da multinacional angolana presente no encontro com a imprensa produtos refinados diversos foram vendidos pela Sonangol a nível do 3013, valorizado em 13 mil 491 milhões um acréscimo de 145 em relação ao mercado interno, facto que reprede dólares, dos quais 25 % vencíveis ano de 2012.Neste mesmo ano, ainda sentou uma diminuição em cerca de no curto prazo, em 31 de Dezembro de na Refinaria de Luanda e através do 20% relativamente a 2012; os produ2014, e 75% no longo prazo até ao ano processamento do petróleo bruto, a tos mais vendidos foram o gás buta2032. Sonangol produziu 2 milhões e 83 mil no, numa variação de 5%,a gasolina "Este endividamento representou toneladas de produtos designados divendeu menos 25% e registou-se o 28% em relação a 2012, fruto da conversos, representando um aumento de aumento nas vendas de jet, em cerca tratação de novos créditos e em 2013 11% em relação ao ano anterior,disse, de 35% e do gasóleo (8%), equivaascendeu a 6 mil milhões de dólares", acentuando na mesma linha que os lente a 3 milhões e 107 mil toneladas disse. aumentos mais significativos foram métricas, um aumento considerado Quanto ao desempenho da Soobservados na produção de nafta "modesto" por Francisco Maria de nangol, que se reporta Lemos, em relação a a 2013 ( note-se que a Franscisco de Lemos Maria lançou um repto às 2012. Para fechar em produção nacional petrolífera caíu em 1 %), concessionárias petrolíferas, nomeadamente a baixa as vendas, recordou-se que quanto o Presidente do ConChevron que opera no Bloco 0, a Esso (Bloco 15) a ao petróleo iluminante selho de Administração Total (Bloco 17), a British Petroleum, que opera no Bloco registou-se uma dimiafirmou que "a quota-parte da produção e 18, no sentido de explicarem mais detalhadamente esta nuição nas vendas em 40%. direitos da companhia redução substancial da produçãoˮ Longe do distante manteve-se virtual25 de Fevereiro de 1978, mente estacionária, a Sonangol continua , quer em terra (31%), do fuel,do petróleo iluminante tendo o Bloco 31, onde detém 41%, como no mar, a consolidar-se e, tam(17%) e na produção combinada do prestado uma enorme contribuição bém na área da transportação começa Jeta 1 e Jeta D em 24%. para atenuar as reduções verificadas a abrir trilhos da auto-sustentabilidade "Em virtude de a oferta interna, a em outras concessões. em várias rotas. Assim, no ano de partir da Refinaria de Luanda, seguir Em 2013, a empresa produziu 1 mi2013, a sua frota de navios transporsatisfazendo em 15 % da necessidade lhão 208 mil 809 barris equivalentes de tou 3 milhões e 900 mil barris de pedo plano de combustíveis, a Sonangol LPG, inclui gás de cozinha,tendo pratitróleo (aumento de 50%, comparado procedeu à importação de 4 milhões camente duplicado o seu desempenho a 2012, por consequência da entrada 555 mil e 56 toneladas de produtos neste segmento, a partir da concessão em funcionamento de unidades recenrefinados, no que representou uma do Bolco 0, da Refinaria de Luanda temente construídas), e 421 mil metros avaliação marginal inferior a 2% em e da unidade industrial do Soyo. De cúbicos de LNG (...), bem como 8 mirelação a 2012. Os produtos mais imacordo com Francisco de Lemos Malhões e 211 mil toneladas métricas de portados foram o gasóleo, com três ria, a empresa que dirige conseguiu produtos refinados, que constitui mais milhões e 226 mil toneladas, e a gasoaumentar a capacidade da Refinaria ou menos um número comparável a lina com 1 milhão e 20 mil toneladas", de Luanda, tendo processado 45 mil 833 barris por dia, o que representou assegurou. 2012.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

BRASIL SURPREENDE E CRESCE

ACIMA DO ESPERADO Mercado doméstico voraz e consolidação da classe C, altamente consumidora podem ser a explicação para o crescimento que ficou na média mundial

Por: Wallace Nunes (Texto e Fotos) / S. Paulo - Brasil

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economia brasileira cresceu 2,3% em 2013 em relação ao ano anterior, totalizando US$ 2,84 trilhões (total de riquezas produzidas pelo país), informa o IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.O resultado veio acima das expectativas dos analistas de mercado, maior até do que o desempenho apresentado por países desenvolvidos. O crescimento do PIB brasileiro foi superior ao dos Estados Unidos e

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do Reino Unido, que cresceram 1,9% em 2013; maior do que o crescimento do PIB da Alemanha, que ficou em 0,4%, maior do que o do Japão, que cresceu 1,6%, e bem melhor do que o PIB dos países da Zona do Euro, onde a economia, na verdade, andou para trás, com a riqueza encolhendo 0,4%. Apesar de todas as dificuldades externas, de um mundo ainda muito conturbado pela crise de 2008, o desempenho do País mais uma vez demonstra que os fundamentos da política econômica são sólidos e tem

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Guido Mantega, Ministro da Fazenda

um rumo: a garantia do bem estar dos brasileiros, com elevação de renda e pleno emprego. E, depois de uma retração no terceiro trimestre do ano passado, o crescimento de 0,7% no último trimestre surpreendeu positivamente e impediu que o Brasil entrasse em recessão técnica (que acontece quando o país tem seis meses seguidos de crescimento negativo). Esse era um dos temores do mercado. E a indústria, apesar de ter crescido 1,3% ao longo do ano, teve um último trimestre ruim - retraiu 0,2%. O setor que mais cresceu no ano passado foi a agricultura, com expansão de 7%. O crescimento total do PIB (Produto Interno Bruto) foi maior do que no ano anterior - quando a economia avançou 1% -, mas a sequência de


ECONOMIA & NEGÓCIOS anos com crescimento mais modesque a inflação deverá ultrapassar, ainsendo o mais relevante o aumento da em março, o teto da meta de 6,5% to reflete, segundo analistas, um modos custos com fretes e mão de obra perseguida pelo Banco Central (BC) mento de esfriamento econômico e qualificada. “O custo de contratação para o ano. Tampouco estão preocude maior instabilidade nos mercados encareceu muito nos últimos anos. padas com a previsão pouco favorável emergentes. Então, quem tinha possibilidade de reao consumo, também divulgada onMas o Ministro da Fazenda, Guipassar preços o fez sem muita dificultem, de que os juros básicos devem do Mantega, comemorou os resultadade, como o setor de serviços, que subir 1 ponto percentual em 2013, dos divulgados nesta quinta, defencomercializa bens que não podem ser segundo acreditam analistas ouvidos dendo que "o crescimento de 2013 importados. Já a indústria, que é presa pelo BC na pesquisa Focus. foi de qualidade, puxado, entre oufácil de mercados estrangeiros, sofreu Nesse caso, dizem técnicos do tras coisas, pelos investimentos". bastante”, ponderou. governo, mesmo com a Selic sendo A respeito do resultado pouco exO Instituto de Estudos para o Deelevada para 8,25% ao ano, é pouco pressivo da indústria, o ministro afirsenvolvimento Industrial (Iedi) tem avaprovável que o consumidor que hoje mou que o setor "sofreu por falta de liação semelhante. “É preciso observar está disposto a abrir a carteira deixe de dinamismo do mercado mundial, não que o varejo tem sido um ponto alto da fazê-lo apenas por esse fator, algo que apenas do brasileiro. O setor podeeconomia brasileira”, disse um comujá não aconteceu nos últimos anos, rá crescer mais, aumentando as exnicado da entidade divulgado ontem. portações, em razão do “Em certos momentos, câmbio mais favorável". Em 2009, o Brasil reagiu à crise internacional essa elevada performanPanorama da ecoce do varejo se deveu ao apoiados pelo mercado doméstico. A eco- crédito mais farto, mas, nomia brasileira: nomia brasileira, em 2009, tropeçou, mas não de um ponto de vista Crescimento do PIB de 2013: 2,3%; Indúscaiu em profunda recessão tal como diversos mais geral, sua base de tria: 1,3%; Agropecuápaíses com economias relevantes. Portanto, o Brasil sustentação decorreu de ria: 7%; Serviços: 2% uma extraordinária evoluconquistou algum grau de imunidadeˮ e crescimento do quarção do rendimento médio to trimestre de 2013: da população, especial0,7%. mente das camadas de mais baixo quando a taxa era bem maior do que Apesar de números que sugerem rendimento, favorecidas pelas polítios atuais 7,25% ao ano. “São poucos cautela com a retomada da indústria e cas de renda do governo”, continuou os que se importam com os preços dos investimentos produtivos, para um a nota. ou com a qualidade. O que as pessooutro Brasil, o do cidadão médio assaCom baixo crescimento produtias buscam hoje são prazos maiores e lariado, o país tem ido muito bem, obrivo e escalada do consumo, o que leprestações que cabem no bolso”, diz gado. Com dinheiro no bolso, emprego vou à inflação, o Brasil entrou no que a empresária Teresa Cristina Machado, garantido e farto acesso a crédito para a economista Alessandra Ribeiro, da 41 anos. parcelar compras a perder de vista, miconsultoria Tendências, classificou de Emprego - Para economistas, é um lhões de brasileiros têm aberto a car“armadilha do baixo crescimento”. “E contrassenso que um país com crédito teira e garantido polpudos lucros aos isso se traduziu em recuperação lenta farto e pleno emprego tenha um seempresários do comércio e de outros e muitos paradoxos que não inspiram tor produtivo tão frágil e uma taxa de segmentos ligados ao consumo, como confiança nos empresários”, disse. investimentos em patamar abaixo de salões de beleza, shopping centers e Os motivos - Sem dúvida que em 20% do PIB. Para a economista Zeisupermercados. 2013 o crescimento do Brasil foi sena Latif, sócia da Gibraltar Consulting, São pessoas que parecem não se melhante ao crescimento mundial, a importar com os temerosos alertas de excetuar o crescimento chinês, muito isso se deve a uma série de fatores,

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ECONOMIA & NEGÓCIOS superior. Mas isto foi apenas uma coincidência. O crescimento mundial não é causa determinante da alta do Brasil e nem deve ser motivo para conformismo. Afinal, a economia brasileira conquistou certo grau de autonomia em relação à dinâmica mundial. é possível perceber um montante bastante elevado das reservas internacionais, mas mais importante: foi possível construir nos últimos anos um enorme mercado de consumo de massas com mais de 130 milhões de brasileiros. Em 2009, o Brasil reagiu à crise internacional apoiados pelo mercado doméstico. A economia brasileira, em 2009, tropeçou, mas não caiu em profunda recessão tal como diversos países com economias relevantes. Portanto, o Brasil conquistou algum grau de imunidade. Então, se este argumento valeu para 2009, deveria valer para 2013. Há influência do preço internacional das commodities e do modesto crescimento mundial sobre o desempenho da economia brasileira. Isto não pode ser descartado da análise, mas o ponto relevante está no Brasil, está na política econômica que foi adotada em 2011. Naquele ano decidiu-se derrubar a trajetória impetuosa de 2010, de crescimento de 7,5%, que assustou os economistas que optam por decisões conservadoras em nome da gestão rotulada de responsável. Política monetária e fiscal restritivas com câmbio em valorização foi a direção adotada em 2011. A crise internacional somente emergiu no 4º trimestre daquele ano. O resultado foi uma que-

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da da economia que ingressou na trajetória de crescimento dos 2%. A trajetória de 2007-2010, a despeito da leve recessão de 2009, estava no patamar de 4,5%. O redirecionamento de 2011 não foi responsável apenas pelo resultado de 2011, crescimento de 2,7%. O que houve foi a mudança de patamar para uma nova trajetória de crescimento (saímos da trajetória de 4,5% e ingressamos na trajetória dos 2%). O choque conservador de política econômica de 2011 desmontou o cenário de expectativas positivas que emergiu do período 2007-2010. Redução e aumento dos juros Quando a economia ingressou no patamar de modesto crescimento, optou-se pela política de redução de juros e isenções tributárias variadas. Buscou-se incentivar uma economia que tentava se proteger da falta de demanda esperada por seus produtos. Foi inócuo: é o mesmo que dizer para os empresários investirem somente porque o crédito está mais barato e houve aumento do vo-

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lume de recursos para o autofinanciamento. A questão mais importante é que faltava motivação devido ao clima geral de desaquecimento internacional e nacional provocado pela própria política econômica de 2011. Há condições de retomar o patamar de trajetória de crescimento do período 2007-2010. Afinal, a realidade econômica não se deteriorou - apesar da nova trajetória de crescimento modesto. O desemprego continua baixo. O investimento voltou a crescer. A inflação é moderada e está controlada. O endividamento público está em nível saudável. Basta ousadia, autonomia e responsabilidade para mudar a política econômica. A economia brasileira precisa de uma política fiscal anticíclica, uma política monetária de juros baixos e um câmbio equilibrado para que a indústria tenha produtos competitivos nos mercados doméstico e internacional. O caminho atual de uma política econômica em zigue-zague, varejista, coloca os investimentos, variável-chave do crescimento continuado, em situação crítica de stop-and-go.


ECONOMIA & NEGÓCIOS

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ECONOMIA & NEGÓCIOS UNIÃO BANCÁRIA NA EUROPA

FINALMENTE

O ACORDO! “

Uma boa notícia veio de Bruxelas. O Parlamento Europeu e os países da UE chegaram a acordo, a 20 de Março, para a criação dum mecanismo de liquidação dos bancos, que cruze todo os espaços do blocoˮ

Por: João Barbosa (Texto) / Foto: Arquivo F&N

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União Europeia (UE) alcançou a união bancária, ponto polémico que se arrastou por anos, dividindo países, nomeadamente ricos e pobres, e demonstrando que os tempos da Europa solidária, lembrada dos tempos da guerra, já foram esquecidos. Foram muitas horas de debate, com cedências mútuas. Uma surpresa é a aceitação da Alemanha e de França entrarem no mecanismo de apoio aos bancos em crise. Mas nem só bons ventos sopraram no «velho continente». Com eleições europeias à porta, a preparação da substituição de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, a crise entre a Rússia e a Ucrânia vieram pôr a nu a falta de força e união do bloco. Uma boa notícia veio de Bruxelas. O Parlamento Europeu e os países da UE chegaram a acordo, a 20 de Março, para a criação dum mecanismo de liquidação dos bancos, que cruze todo os espaços do bloco. Os responsáveis europeus estiveram reunidos durante 16 horas. O texto, segundo a eurodeputada portuguesa, relatora do texto, Elisa Ferreira (PS), este «é um acordo que salvaguarda os contribuintes, que garante que o mecanismo será financiado pelos bancos e que as decisões não vão ser tomadas em fun-

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ção de pressões políticas deste ou daquele Estado». Os bancos europeus vão ter de contribuir, durante oito anos (pretendia-se que fossem dez) para a constituição dum fundo de 500 mil milhões de euros. Este pacote financeiro servirá para ser usado na resolução de situações com instituições dos 28. O Banco Central Europeu será o supervisor e fica responsável pelo início da intervenção, quando um banco estiver em risco de ruína. No entanto, a instituição poderá receber pedidos para início do processo de intervenção. O acordo estabelece que o fundo só será accionado quando se chegar aos 8% do montante necessário. Até lá, a responsabilidade cabe aos accionistas, aos titulares de obrigações das instituições em causa e aos depositantes com contas acima dos 100 mil euros. A duração da discussão teve razões objectivas, sobretudo entraves criados por países ricos, nomeadamente Alemanha e França. O Conselho Europeu pretendia que as contribuições ficassem, por dez anos, em gavetas nacionais e só depois passassem para o cofre do fundo. Já a Alemanha e a França queriam que as suas contribuições não servissem para reestruturar bancos doutros países. Graças aos parlamentares euro-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS peus, 66,6% do montante do fundo está mutualizado em três anos. No primeiro ano serão transferidos 40%, 20% no segundo, continuando pelos anos seguintes. «Não fazia qualquer sentido que as contribuições ficassem retidas, pois não são impostos e funcionam como se os bancos estivessem a pagar um seguro», afirmou Elisa Ferreira. Ao mesmo tempo, o fundo fica responsável pela criação duma linha de crédito, para salvaguardar o sucesso duma resposta em caso de problema. «Será o próprio fundo a negociar esta linha de crédito, que será paga pelas contribuições futuras dos bancos» – realçou a mesma eurodeputada. OCDE pede reformas - já a organização para a cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) quer que os países se precavenham para que, em caso de crise, melhor poderem acudir aos cidadãos. No seu relatório de indicadores sociais, a instituição pede aos Governos que dêem prioridade a políticas sociais «à prova de crise», que possam enfrentar o pior dos cenários da economia. Um pedido que vem na senda e com raspanete ao sucedido com a crise de 2007/8. Angel Gurria, secretário-geral da OCDE, recomenda que a despesa e o investimento social sejam «melhor direccionados para responder às necessidades mais urgentes do tecido social». Lançou ainda o pedido para que os organismos de segurança social devam dar prioridade à adaptação ao «mercado laboral e à evolução demográfica, gastando o menos possível na administração e na burocracia». Devido à recuperação económica em vários países, Angel Gurria apela a que não se adiem reformas, pois isso será «um erro». Formada por 34 países, considerados como os mais ricos do mundo e com estrutura política democrática, a OCDE conta com cerca de 48 milhões de pessoas desempregadas, dos quais 15 milhões desde Setembro de 2007), além de vários milhões em dificuldades financeiras.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS PORTUGAL

OS QUATRO MAGNÍFICOS Por: João Barbosa (Texto) Fotos: Arquivo F&N

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questão que se vai pôr, após 25 de Maio (Europeias), depois da Troika sair (17 de Maio), é o que fazer. Como se sai. Um segundo resgate está fora do horizonte, mas até que ponto Portugal vai precisar do amparo e do cuidado da UE. Maria João Luís, ministra das Finanças, garante que a dívida é «naturalmente muito elevada», mas continua a negar a renegociação da dívida justificando que a dívida pública é sustentável. Seja como for, a decisão de apoio caberá a um grupo de países... onde manda a Alemanha. Pedro Passos Coelho foi a Berlim. Dizem alguns que trouxe um cheque em branco e outros que não trouxe nada nas mãos. Há mais países em dificuldades e a crise russo-ucraniana são, certamente, mais importantes do que um apoio suplementar a Portugal. Segundo o presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, a saída de Portugal do programa de assistência vai começar a ser dis-

Teixeira dos Santos 64

Victor Gaspar

cutida pelos ministros, numa reunião informal que decorrerá em Atenas durante Abril. Nos dias de fecho desta edição, dois episódios marcam o estado de espírito que se vive em Lisboa, entre tendências várias, dentro dos partidos do chamado «arco da governação». Vítor Gaspar (que primeiro liderou as Finanças de Pedro Passos Coelho), Teixeira dos Santos (ministro socialista que chamou a ajuda externa), António Bagão Félix (responsável pelas Finanças durante o período de Pedro Santana Lopes) e Manuela Ferreira Leite (ministra das Finanças de Durão Barroso) juntaram-se num debate e concluíram que o regresso de Portugal aos mercados deve ter a garantia da UE. Ou seja, Portugal vai aos mercados, mas ajudado pelos restantes membros do bloco de Estados. A expressão saída do encontro no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Lisboa) foi de «rede de segurança». Estes titulares da pasta das Finanças, entre 2002 e 2013, reconhecem a fragilidade do país. Dados, lançados pela OCDE,

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mostram que as remunerações dos portugueses, no final de 2013, foram as que registaram maior quebra no seio do conjunto do organismo. Os números da OCDE revelam uma descida de 6,6% no quarto trimestre do ano passado, face ao período precedente. Os custos unitários de trabalho, em Portugal, tiveram também a maior quebra no seio da OCDE: 6,5%. No encontro que reuniu os quatro ex-ministros das Finanças, Manuela Ferreira Leite afirmou que as medidas de combate à crise, adoptadas pelo actual Governo, acabaram com a classe média em Portugal. Manuela Ferreira Leite concorda com a necessidade de austeridade, mas pensa que «esta» tornou o país «pobre, sem jovens e sem futuro, apesar de ter cumprido o acordado no memorando de entendimento com a Troika». Usando uma metáfora: «É a mesma coisa que dizerem que vai fazer uma cirurgia, mas o paciente também quer saber qual a sua qualidade de vida depois da operação». Embora não negue os sinais felizes da economia, Teixeira dos Santos alerta para o perigo «de alguma euforia», que pode «mascarar algumas dificuldades» que há pela frente. Porém, há sempre um «mas». E o «mas» é a Alemanha, muito ciosa dos contribuintes do seu país, egocêntrica face a tempos históricos e a braços com o problema russo-ucraniano, que deverá implicar desembolsar dinheiro, para apoiar o segundo maior país do continente e que sofre das penalizações do gigante seu vizinho, grande credor e parceiro económico: a Rússia. O outro episódio, dir-se-ia caricato, deu-se com uma clara pressão do Governo sobre o presidente da República... que lhe está acima hierarquicamente. Um manifesto pela reestruturação da dívida (assinado por dezenas de individualidades líderes de opinião, peso académico,


ECONOMIA & NEGÓCIOS político e mediático, da esquerda à em 2014%, sendo que a recuperacaricaturável que o seu antecessor ção deverá continuar nos anos sedireita – conhecido pelo «Manifesto nas Finanças portuguesas, Maria guintes. Já a empresa de notação dos 70») englobou dois ex-ministros João Luís não deixou de dar notífinanceira norte-americana Moody’s do PSD, Armando Sevinate Pinto e cias que os portugueses não queconsidera muito cedo para grandes Vítor Martins. Acontece que ambos rem ouvir. A austeridade vai ter de faziam parte do grucontinuar, mesmo po de consultores do depois da saída Vítor Gaspar (que primeiro liderou as Finanças de chefe do Estado. da Troika. Pedro Passos Coelho), Teixeira dos Santos (minisConsta que AníEm declaratro socialista que chamou a ajuda externa), António ções durante uma bal Cavaco Silva nada sabia sobre a audiência na CoBagão Félix (responsável pelas Finanças durante participação destes missão Parlameno período de Pedro Santana Lopes) e Manuela seus dois colaboratar de Economia e Ferreira Leite (ministra das Finanças de Durão Barroso) dores, mas é difícil Finanças, a minisjuntaram-se num debate e concluíram que o regresso de de acreditar que nos tra garantiu que Portugal aos mercados deve ter a garantia da UEˮ dias que levaram a não há alternatipreparar o documenva à austeridade, to nenhum tivesse pois não se deu festejos, pelo que não prevê para já informado o residente do Palácio de nenhum milagre em fosse encontramelhoria do rating, exigindo mais reBelém. Além do mais, disseram na do petróleo em Portugal. formas. oposição, que consultores políticos E lembrando que há resultados De figura e modo de falar menos não são Governo nem definem a popositivos na economia são necessição de quem chefia o Estado. sários consensos: «as crises não se Vai-se a Troika, mas fica a ausresolvem em dois ou três anos». Asteridade - O Governo está confiante sim, afirmou, que «duma trajectória numa boa análise da Troika na sua de recessão para crescimento, de um última visita, garantindo que o Pachistórico de indisciplina orçamental to Orçamental será cumprido nos para disciplina orçamental é preciso seus compromissos. A ministra das manter esse esforço. Um cenário alFinanças afirma que o saldo primário ternativo é seguramente mais gravoso previsto para 2015 é de 1,9% (Pedro para os portugueses». Passos Coelho falara em 1,8%). Lisboa tornou-se num manifesJá o PS acusa o Executivo de estródomo. Quase não há semana em tar «mais suave» do que a meta acerque alguém não desfile pelas ruas da tada com a Troika, que passa pela recapital, normalmente para parar frente dução, em duas décadas, da dívida ao Parlamento. A central sindical (de pública para 60% do Produto Interno tendência de esquerda, onde o PCP Bruto (PIB). Actualmente, segundo domina) movimenta regularmente os números do Governo, encontra-se seus sindicalistas para os protestos Manuela Ferreira Leite em 120% do PIB. de rua. Em declarações públicas, Passos Sempre do contra, seja qual for o Coelho afirmou que se for conseguigoverno do chamado «arco da goverda uma média anual, nos próximos nação», a CGTP tem sido «informada» anos, dum excedente primário de que a política não vai mudar. Maria 1,8%, não será irrealista alcançar o João Luís, na mesma audiência no acordado. O primeiro-ministro disParlamento foi peremptória: os cortes se ainda: «Se juntarmos um nível salariais dos trabalhadores do Estado de inflação não superior a 1% e um são para manter e não é possível volcrescimento anual entre 1,5% e 2%, tar ao patamar existente em 2011. temos a possibilidade de exibir o reInexistente fica, sem dúvida, a sultado que pretendemos: sustentapromessa de reforma do Estado, que bilidade da dívida pública com redufazia parte do conjunto de exigências ção da dívida». e promessas do actual Governo. E Para a agência Bloomberg, seque nem a chegada de Paulo Porgundo um grupo de especialistas tas, conhecido habilidoso mediático, Christine Lagarde, por si consultados, aponta para que conseguiu disfarçar. Tudo como dandirectora-geral do FMI a economia portuguesa cresça 1% tes.

António Bagão Félix

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REPORTAGEM

OS ORFÃOS

DE PAIS VIVOS

“No Relatório de Seguimento das Metas da Cimeira Mundial da Infância, realizado em Dezembro de 2010, pelo Governo de Unidade e Reconciliação Nacional de Angola, está descrito que um estudo elaborado em 1993 constatava que mais de 15% das crianças, em Luanda, não viviam com nenhum dos seus pais, ainda que estes estivessem vivosˮ

Por: Rita Simões (Texto) Fotos: Arquivo F&N

Sei que tenho pai, mas ele tem outra família” “Um dia entrei na sala de aula e pedi que os alunos escrevessem numa folha de papel um episódio da sua vida. Qualquer coisa que precisassem de dizer de forma anónima, para desabafar, para libertar fantasmas. Alguns minutos depois passamos à leitura, em voz alta, das histórias. Foi nesse dia que percebi as dezenas de jovens, só ali dentro daquela sala de aula, que tinham o destino traçado pela diferença, pelo desprezo, pelo abandono. Todos aqueles olhos deixaram correr para os dedos a emoção das palavras para descrever o que sofreram, e alguns continuam a sofrer, por serem órfãos de pais vivos”: [“Sou uma pessoa muito triste porque passo por muitas dificuldades no meu dia-a-dia. Vivo com a minha mãe e com os meus 3 irmãos. Sei que tenho pai, mas ele tem outra família, que não o deixa aproximar-se de nós. Tenho mais irmãos que vivem numa casa grande, bonita. Nós

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REPORTAGEM ção digna. É a função de um lar, em tável. Em muitos casos, de temporário, não. Nós vivemos numa barraca, Luanda, que acolhe meninas órfãs, ou passou a uma situação definitiva para onde chove. Passamos muito calor muitas delas, através de adopções esperdidas dos pais, ou apanhadas nas no verão e muito frio no inverno. A pontâneas que, não sendo, na maior minha mãe trabalha sozinha para ruas, sem casa, sem rumo. parte dos casos controladas ou sannos sustentar. Por isso me diz que “Muitas destas meninas até têm cionadas pelas autoridades competenho que arranjar um tio que gosfamília, mas só a partir de certa idade tentes, proporcionam muitos casos de te de mim para poder continuar a é que as procuram no lar, pois sabem exploração de trabalho infantil. pagar as propinas. Mas eu sei que que podem ajudar na família, com Na Cimeira Mundial da Infância os tios são mais velhos e eu aintrabalho, a tomar conta dos mais peforam determinadas duas categorias da sou muito nova. Só tenho 19 quenos. Até elas aprenderem a lida da de crianças que vivem fora do seu amanos. Mas também sei que se não casa, poucos são os que as visitam”, biente familiar: As que se encontram arranjar um tio que goste de mim confidenciou uma das responsáveis involuntariamente fora do ambiente não vou poder tirar o meu curso e pelo lar. familiar e as que lá se encontram voser advogada. Quero ser advogada Em cada esquina ouvimos a hisluntariamente. No primeiro caso, há repara poder ajudar as mães e os fitória da outra, “daquelas que todos ferências a crianças detidas, perdidas lhos a ter ajuda dos pais. Pois se condenam”. Aquela que teve um filho ou que tenham sido alvo de abusos o meu pai nos desse comida não numa relação mas que essa relação por parte dos seus tutores e que são precisava de pedir ao tio. A casa afinal só existia na sua cabeça. “Porcolocadas em lares e orfanatos. No onde moramos foi o meu pai que que quando descobri que estava grávisegundo caso, esta decisão pode não arranjou mas a mulher dele já avida ele me disse que tinha família e que ser apenas por vonsou que quando ele tade da criança mas morrer que ela nos tira sim dos seus pais ou a casa”]. Anónimo Até 1997, cerca de 8,000 crianças viviam outros familiares que, Órfãos de pais vivos fora do seu ambiente familiar em Angola. A por razões de pobreza, - África é reconhecidagrande maioria foi identificada em lares de assim preferem. Neste mente um dos continencampo, enquadram-se tes com as mais elevadas infância geridos pelo Ministério Assistência também as crianças taxas de natalidade, eme Reinserção Social, algumas organizações encontradas e recolhibora tenha também elevanão-governamentais e igrejas. Sendo ainda contabidas das ruas. das taxas de mortalidade lizadas as crianças que viviam nas ruas, em cenAté 1997, cerca de infantil, principalmente até tros de recuperação de menores ou em famílias de 8,000 crianças viviam aos cinco anos de idade. fora do seu ambienÉ a perder de vista o acolhimento temporárioˮ te familiar em Angola. número de filhos órfãos A grande maioria foi de pais vivos em Angola, não podia abandonar a sua esposa e identificada em lares de infância gericomo aliás um pouco por todo o gloos seus filhos. Mas garantiu que pagados pelo Ministério Assistência e Reinbo. Pais que rejeitam assumir os seus ria a educação e a saúde do meu filho. serção Social, algumas organizações filhos, devido a questões relacionadas Hoje ele tem três anos e não vê o pai não-governamentais e igrejas. Sendo com cultura ou família. Pais que se perhá mais de um. Não sabemos nada ainda contabilizadas as crianças que deram dos seus filhos durante a fuga dele, nunca mais atendeu o telefone viviam nas ruas, em centros de recuà guerra. E perdem-lhes o rasto para nem mandou dinheiro”, conta a jovem peração de menores ou em famílias de sempre. mãe de 22 anos. acolhimento temporário. São milhares as crianças nascidas No Relatório de Seguimento das Lei ou cultura? - “De repente, fora dos casamentos, em relações exMetas da Cimeira Mundial da Infância, olho em redor da minha secretária e traconjugais, ou apenas numa aventurealizado em Dezembro de 2010, pelo começo a contar o número de mães ra. Muitos são até hoje apelidados de Governo de Unidade e Reconciliação solteiras, cujos progenitores dos filhos da guerra, cuja passagem de coNacional de Angola, está descrito que seus filhos não aceitaram registálunas militares, durante mais de trinta um estudo elaborado em 1993 cons-los com o nome da família. Lembroanos, foi deixando um rasto de criantatava que mais de 15% das crianças, -me de cada história contada na ças, filhas e filhos de pais incógnitos, em Luanda, não viviam com nenhum mesa de refeições, sobre aqueles nacionais e estrangeiros. E, nos dias dos seus pais, ainda que estes estivesque nunca viram os seus filhos, os que correm, este flagelo continua. sem vivos. que não quiseram ou puderam darSem pai, muitas vezes sem mãe Revela o mesmo estudo que a -lhes um nome de pai, os que nem também, estas crianças e jovens são sequer cumprem com o pagamento maioria dessas crianças vivia com faencaminhados para centros religiosos de uma pensão de alimentos. E são ou de solidariedade social a fim de miliares próximos porque, devido à tantos, tantos os casos, aqui diante terem um crescimento e uma educaguerra esta separação tinha sido inevi-

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REPORTAGEM dos meus olhos e das minhas lembranças. Paro e penso: mas onde vai parar a sociedade, com tantos filhos gerados fora do casamento? Como viverá a sociedade no futuro sem os alicerces da família. Mas qual família? Como fica então o conceito de família. Aí, vem à minha memória mais uma mirabolante história de orfandade… [sabe? Um português, no tempo da guerra civil, fez-me um filho. Foi embora. Nunca deu nada ao meu filho, acho até que só o viu uma vez! Hoje, 15 anos depois, tenho alguém que cuida de mim e dele. Sustenta-nos! Ao meu filho não falta nada! Apenas o pai que o gerou mas tem tudo o que precisa e estuda num bom colégio. O que é que companhia de pai, sabe que só pode ter à terça e à quinta, pois este senhor que nos ajuda tem a sua família. A primeira, sim! Porque nós somos a segunda!], contou Jandyra. Em muitos países a Lei é clara. Se não pagar a pensão de alimentos e não der assistência aos seus filhos, quer seja o pai ou a mãe incorre numa pena de prisão. Em Julho de 2009, um dos mais sonantes nomes do futebol mundial, o brasileiro Romário foi preso por faltar ao acordo com a ex-mulher no pagamento da pensão de alimentos dos filhos. Só depois de pagar toda a dívida, é que foi libertado. Na realidade a Lei existe em Angola, mas a percentagem de casos de incumprimento é muito superior ao desejado, e uma das principais causas é, precisamente o facto de existirem tantos filhos fora do casamento, em que, por vergonha ou ameaça, as mães solteiras não recorrem aos tribunais para fazer valer os direitos dos seus filhos. Como em tantas outras situações o que é Lei vira cultura e esta torna-se viral. Ninguém paga, ninguém assume culpa, ninguém vai preso. Quem sofre é sempre o mesmo – as crianças. Que nem sequer pediram para nascer, mas vivem uma vida inteira no meio de uma guerra que não é sua. “Tenho dois filhos, um de cada pai. O pai da minha filha, não cumpre, nem nunca pagou absolutamente nada para

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a minha filha. Vi-a duas vezes em seis anos. Praticamente a minha é órfã de pai. O pai do meu filho, assumiu desde sempre todas as responsabilidades e divide todas as despesas comigo. Até as viagens ele paga metade. Não sei se tem alguma influência mas o pai da minha filha é angolano e o do meu filho é português”, desabafou Soraya. Bola de neve social - São vários os motivos que levam à separação de

Risco de passar para o lado errado. Risco de entrar pelo caminho da violência, da criminalidade, do vício, da doença. Segundo o Ministério da Assistência e Reinserção Social de Angola (MINARS), existem dados que confirma que a morte dos pais, a pobreza e vários factores relacionados com a guerra são as principais causas do afastamento das crianças do seu am-

pais e filhos. Muitas crianças são acolhidas por familiares, outros vão para orfanatos ou lares. Alguns conseguem ser adoptados ou permanecem em famílias de acolhimento temporário mas, há laços que ficam, definitivamente cortados. As crianças órfãs de pai ou mãe, ou de ambos, cujo paradeiro, desconhecem na maior parte dos casos, ficam privadas de um ambiente familiar saudável, que condiciona o seu desenvolvimento social, enquanto pessoa, intelectual, com diminuição do desempenho escolar e com poucas perspectivas de futuro. Os filhos órfãos, fugidos da guerra, sem olhar para trás, vivem nas ruas, deambulando nas bermas de estrada, aguardando um aceno, uma atenção, uma palavra ou um pedaço de pão. Recusam-se a estar “presos” nas instituições ou em casa de desconhecidos. São marginalizados pela sociedade e correm sérios riscos.

biente familiar. Num estudo realizado pelo MINARS, a 378 crianças de lares em Benguela e Malange, 37,6%, estavam lá devido à morte das pessoas que normalmente cuidavam delas, 20,1% devido aos seus pais ou parentes serem demasiado pobres para cuidarem delas e 19,3% porque tinham sido separadas “enquanto fugiam de um ataque”. Este conclui outros dados como o de crianças que perderam pelo menos um dos pais. 15% das crianças entre os 0 e os 18 anos, (1 milhão de crianças), perderam o pai ou a mãe. 2%, (100.000 crianças), perderam os dois progenitores e a maioria delas foi acolhida espontaneamente por familiares. Cerca de três quartos das crianças separadas dos pais e, que vivem nas ruas são do sexo masculino, embora também exista registos de crianças do

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sexo feminino. No entanto, a disparidade de números entre os dois sexos deve-se ao facto de as meninas serem mais facilmente aceites pelos familiares ou em instituições ou se integrarem em famílias através do casamento ou outro tipo de relacionamento. Enquanto, que, no sexo masculino, existem maiores probabilidades de fuga. Luanda, Benguela, Lobito, Lubango e Malange são as cidades que registam um maior número de meninos de rua, que vivem geralmente em pequenos grupos ou comunidades que fazem do comércio informal a sua actividade de sobrevivência. No ano 2000, estavam contabilizados mais de 23 mil. Muitos deles até podem ter pai, mãe ou outro familiar, mas ou desconhecem o seu paradeiro, ou recusam-se a viver com estes. Existem, no mundo, cerca de 16 milhões de crianças órfãs por causa da SIDA, sendo que mais de 14 milhões se encontram na África Subsaariana. Segundo dados da UNICEF, a

A bola de neve gira em torno de uma sociedade meio preocupada, meio por preocupar. É alarmante constatar que até início do ano 2000, aconteciam 274 mortes por cada mil nados vivos, em Áfricaˮ cada 15 segundos, uma criança em África perde um dos seus progenitores devido ao vírus da Sida. Esta estatística é uma das maiores consequências do aumento de órfãos que, sofrem as consequências da perda, do abandono, do afastamento e da sua própria fragilidade futura, devido à contracção, por parte dos pais desta e de outras doenças. E, ao que parece, este ritmo tendo a aumentar. Estes órfãos perdem os pais por

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REPORTAGEM doenças infecto-contagiosas mas, também lhes são retirados pelos mesmos motivos. Este afastamento arrasta todos os ensinamentos que só os pais podem transmitir aos seus filhos. Bases que preparam para enfrentar problemas sociais, a vida em família, a educação, a luta pela sobrevivência. A bola de neve gira em torno de uma sociedade meio preocupada, meio por preocupar. É alarmante constatar que até início do ano 2000, aconteciam 274 mortes por cada mil nados vivos, em África. Um quarto das crianças morre antes de completar cinco anos não só por doenças e devido aos movimentos migratórios provocados pela guerra mas também por viver em ambientes familiares pouco recomendáveis. *Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, Relatório de Seguimento das Metas da Cimeira Mundial da Infância (Dezembro de 2010).

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CONJUNTURA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EGOÍSMO OU MUDANÇA DE HÁBITOS Por: Mário Beirolas (Texto e Fotos)

U

m dos paradigmas da sociedade moderna, evidencia o distanciamento e separação do homem da realidade social, que de forma egoísta, reduz a compreensão da realidade, limitando o seu entendimento sobre o meio ambiente e a sua complexidade, à forma que mais lhe interessa. Esta compreensão fragmentada do Mundo, torna-o cego, não querendo perceber a necessidade de criar uma relação equilibrada entre o indivíduo a sociedade e a natureza, com consequências graves para a actual crise ambiental. As necessidades humanas na satisfação das suas necessidades em termos de alimentação, urbanização, industrialização entre outras, têm sido uma grande causa de degradação do ambiente global, tendo em conta os métodos e as formas insustentáveis de exploração dos recursos naturais, causando problemas ambientais com impacto directo na vida dos seres vivos e na saúde humana como, a poluição, erosão dos solos, extinção e redução da quantidade das espécies, a produção excessiva dos resíduos e o seu deficiente tratamento entre outros. Fizemos um conjunto de perguntas, a diferentes elementos da população angolana, sobre o seu conhecimento sobre as questões ambientais. Constatámos quatro tipo de comportamentos, curiosamente distribuídos em função das faixas etárias, as crianças que ouvem falar sobre o tema, mas não são ensinadas, os adolescentes que dizem que não se sentem obrigados a ter cuidados ambientais porque não têm o exemplo dos mais velhos, os adultos entre os 25 e os 40 anos, que consideram

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É urgente perceber a necessidade urgente da criação de uma relação equilibrada entre o homem e a natureza.

importante a preservação ambiental, mas sentem que o primeiro exemplo deve vir das organizações governamentais e os mais velhos, que consideram que de facto essa educação deverá começar na escola. (Quadro I) No contraste de opiniões, pudemos concluir, que nenhuma das ge-

rações tem como prioridade os cuidados ambientais. Basta ver como em algumas zonas das cidades, se acumula lixo deitado fora sem critérios de selecção, apenas deixando essa responsabilidade para quem faz a recolha. Verificamos no entanto, a preocu-

PREOCUPAÇÃO COM CUIDADOS AMBIENTAIS Crianças (entre os 8 e os 12 anos) - ouviram falar sobre os cuidados a ter com o lixo e a importância de poupar luz e água, para elas um bem escasso, na escola não ouviram falar de ambiente; Adolescentes - sabem que é importante preservar o ambiente, mas não sabem como, pois consideram existir falta de exemplo e esclarecimento dos mais velhos; Adultos (entre os 25 e os 40 anos) - estão preocupados com os aspectos ambientais, mas entendem que o primeiro exemplo deve sair das entidades públicas e governamentais; Adultos (mais de 40 anos) - Sentem que há muito para fazer e que só será possível mudar a realidade actual, começando pela educação dos mais jovens, com educação ambiental nas escolas. Quadro I. Existe um claro distanciamento das populações em relação às boas práticas e sensibilização ambiental. A Educação Ambiental alargada a toda a população Angolana, é uma necessidade imperiosa!

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CONJUNTURA pação actual do governo, na pessoa da Ministra do Ambiente, sobre as questões ambientais. Poderemos ter assim uma esperança, de que o contexto político actual é favorável ao tratamento destas questões, sobre a preservação do ambiente em Angola. Tudo indica, que estão criadas as condições técnicas e materiais, para após um longo período de conflito armado que assolou o país, tendo causado a desmotivação em relação a estes cuidados e paralisado todos os sectores, com forte impacto sobre o ambiente, se restabeleça a abordagem à realidade ambiental, num clima de paz e tranquilidade, em que quer as gerações mais recentes, quer as gerações futuras, estarão mais preparadas e disponíveis por este desafio inevitável. As questões ambientais inserem-se como prioritárias no dia a dia das populações, na medida em que a sua importância, começa a ser cada vez mais evidente. Pois as suas componentes, são o garante da vida dos seres vivos e dos seres humanos no planeta. Significa isto, que as questões relacionadas com a Educação Ambiental, associadas à introdução de meios e medidas de preservação, são estrategicamente importantes e uma necessidade imediata. Por forma a aprofundar um pouco mais este tema, tão importante para todos, enquadramos esta Educação Ambiental, num conjunto de megatendência, que por sua vez, permitem criar matrizes de construção de programas sociais de Educação Ambiental. De igual modo, estas megatendências, provam quanto é urgente, provocar uma mudança de atitudes e mentalidades, que considerem que o ambiente está primeiro. São seis as megatendências, das quais podemos retirar os nossos desafios. (Quadro II) Concluímos assim que, o futuro nos pede um desafio de mudança, revelado, na consciência e respeito pelo ambiente, no exemplo e na partilha de boas práticas, sabendo que o ar, a água e a terra são os nossos maiores aliados, pelo que devemos respeitá-los. Mas, já que falamos de Educação Ambiental, gostaríamos que fizesse um pequeno teste, que revele a sua “Pegada Ambiental”, ou seja a forma como se comporta em relação às práticas de preservação ambiental.(Quadro de

Diagnóstico de Pegadas Ambientais) De igual modo questionámos um conjunto de pessoas sobre , quais em seu entender os aspectos mais críticos da preservação ambiental em Angola, tendo obtido com percentagens mais elevadas, a poluição dos MEGATENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. Somos parte integrante de um Mundo, onde a adesão às boas práticas

ambientais é inevitável. No futuro se não mudarmos de atitude, seremos as vítimas da nossa inconsciência ambiental!

2. Olhemos à nossa volta, onde falta ao ser humano a capacidade de se inte-

grar na sociedade, não apenas por si, mas pela sua participação nos desafios globais. O homem será forçado a ser mais responsável e terá inevitavelmente de aderir a uma natureza que lhe impõe o respeito pelo medo!

3. A educação começa na família e na escola pelo exemplo em que cada respon-

sável pela educação deve levar a cada criança. Pais e professores, são os grandes responsáveis pela mudança de atitudes e comportamentos em prol de uma educação ambiental consciente!

4. O ensino não pode ser banal e básico, tendo um papel fundamental na

mudança de mentalidades. Na escola a educação ambiental terá de se tornar inevitavelmente uma disciplina “obrigatória”!

5. O confronto de gerações é um fenómeno que preocupa a realidade social.

No futuro uma geração irá aprende com a outra, revendo-se em boas práticas!

6. Todos pensamos que podemos fazer o que queremos sem respeito. Tal atitude já provoca danos consideráveis no ambiente e na sociedade. É urgente introduzir em cada um de nós o fenómeno de consciencialização ambiental!

Quadro II. Há que mudar de atitude, tratando o ambiente tal como cuidamos a nossa respiração. Uma geração deverá aprender com a outra, no esforço pela criação de um ar mais saudável e de uma natureza duradoura!

rios, as doenças provocadas pelo mau uso da água, as lixeiras sem controle, a falta de saneamento básico, e o uso indiscriminado de agro-tóxicos nas lavouras. Constatamos assim, que é necessário actuar urgen-

EDUCAÇÃO AMBIENTAL / PAINEL DE MUDANÇA Hábitos e comportamentos – que estão relacionados com a sua personalidade, necessidade de afirmação, comportamento social, com implicações directas na atitude, aceitação de regras, reacção a mensagens, afectividade, sentimento de segurança, sentido de responsabilidade e até o sentimento de culpa; Ser um bom exemplo não é crime, crime é ser inconsciente e viver prejudicando os outros numa prática ambiental egoista. Tendências, soluções, regras e orientações – componente mais associada a estudos, tecnologias, actuação preventiva com base em experiências, soluções de remediação, normas vinculativas. É importante tomarmos consciência que existem leis e normas de preservação ambiental. No futuro viremos com certeza a ser punidos sempre que não as estejamos a cumprir. O ideal é evitar estas situações, sendo o exemplo.

Quadro IV. Será a mudança de hábitos e comportamentos, que garantirá um maior equilíbrio ambiental do futuro para isso, será necessário fazer as populações da zona de conforto para a zona de desafio.

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Estão criadas as condições para que Angola entre na rota dos Países com projectos e preocupações sobre a preservação e educação ambiental

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CONJUNTURA CONCIÊNCIA E HÁBITOS AMBIENTAIS CONSCIENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL TOMO CONSCIÊNCIA DAS MINHAS REPONSABILIDADES E PARTILHO-AS COM TODOS QUANTOS ESTÃO À MINHA VOLTA! - Ar - respiro dele e partilho com os outros; - Água - quero-a pura e poupo-a para que não nos falte; - Terra - preciso dela para comer, quero-a limpa e fértil; - Vida saudável - quero fazer parte dela, o futuro está aqui; RESPONSABILIDADE AMBIENTAL SEI QUAIS OS ERROS QUE COMETO NO DIA A DIA, VOU COMEÇAR JÁ HOJE A CONTRARIAR AS MINHAS ROTINAS NEGATIVAS, DANDO O EXEMPLO! - Valores ambientais e de vida, são o meu slogan; - Atitudes perante a sociedade e o futuro de responsabilidade e partilha de boas práticas; - Comportamentos saudáveis que influenciam a mudança, provocam a imitação e criam uma cadeia de valor;

Quadro V. À medida que as pessoas forem tomando consciência sobre o impacto provocado pelos seus desperdícios, será possível incutir- lhes hábitos de consumo e de vida, que considerem a água, o ar e a terra um bem indispensável e que se esgotam se não os aproveitarmos adequadamente.

temente no que respeita a mudança de hábitos e promover a educação ambiental, considerando as rotinas actuais negativas e promovendo uma mudança de comportamentos centrada nas megatendências, provando que ou mudam os comportamentos e as rotinas negativas, ou sofremos consequências graves. Basta olhar para as alterações climatéricas que já nos afectam. (Quadro IV) Numa linguagem simples, acessível e motivadora, será necessário desenvolver esta consciência ambiental segundo, um conjunto de conceitos, que de forma rápida provoquem a adesão das populações. (Quadro V) Estamos assim, perante um desafio de mudança, que implica a adesão de todas as faixas etárias e níveis sociais, no entanto e desde já esta educação deverá começar nas escolas, pois as gerações mais jovens, estando mais atentas e sendo mais críticas, percebem e sentem mais facilmente esta realidade. Perguntámos ainda a alguns professores, a sua opinião sobre educação ambiental, tendo recebido em geral a indicação, de que têm conhecimento dos riscos ambientais

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A adesão a práticas ambientais positivas, será tanto maior, quanto mais demonstrarmos às populações que qualquer sementeira cresce tanto mais quanto mais cuidarmos dela.

existentes, da importância de mudar hábitos, mas não têm informação suficiente, nem se sentem preparados para promover a educação ambiental junto dos seus alunos. PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Informação e reconhecimento: promover a informação sobre as questões ambientais, seu impacto global e local; NÃO POSSO DIZER, NÃO SEI OU NÃO CONHEÇO PORQUE ESTOU INFORMADO (A) E RESPONSABILIZADO (A)! Consciencialização: Fazer as populações compreender e reconhecer as consequências de uma má relação com os sistemas naturais; PERCEBI CLARAMENTE QUE A MUDANÇA PARA HÁBITOS SAUDÁVEIS É INEVITÁVEL! Atitude: mudar atitudes através da evidenciação das melhorias resultantes e da responsabilização sobre os problemas causados caso essa mudança não ocorra; COM A MINHA MUDANÇA DE ATITUDE, VOU PROVOCAR A MUDANÇA DE OUTROS! Aptidões: demostração de competências para fazer face aos problemas ambientais e ajudar na sua resolução; SINTO-ME APTO (A) PARA INFORMAR E EDUCAR TODOS QUANTOS ME ESTÃO MAIS PRÓXIMOS! Participação: Promover um exercício de cidadania, levando a uma participação directa e responsável nas acções de preservação do ambiente. SINTO-ME RESPONSABILIZADO E VOU PARTICIPAR NESTE PROCESSO DE MELHORIA QUE BENEFICIA TODOS!

Quadro VI. É urgente o lançamento de acções de Educação Ambiental, que informem, sensibilizem e provoquem a adesão das populações de todas as faixas etárias, ao tratamento das questões ambientais de forma natural e preventiva.

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Percebemos desta forma, que existe um percurso a fazer, desde a sensibilização em âmbito familiar e doméstico, passando pelas empresas e principalmente nas escolas, onde o ensino das boas práticas ambientais deve ser integrado no ensino em geral. Um programa de Educação Ambiental deve considerar por isso, aspectos como, a informação e comunicação, a sensibilização, o ensino sobre as boas práticas e o envolvimento e participação em iniciativas locais.( Quadro VI ) Fez o seu teste de sensibilidade ambiental e percebeu os riscos que corremos com o nosso desleixo, sugiro-lhe por isso que comece já hoje a mudar de atitude, começando na forma como guarda e entrega o lixo, passando pela sua relação com o consumo da água ou mesmo a forma como utiliza os


transportes, entre outros. E não esqueça, o seu egoísmo e despreocupação como o de tantos outros, já estão a ter consequências graves, nomeadamente nas altera-

ções climáticas e no comportamento dos solos. E já agora, para quê darmos maus exemplos às nossas crianças. Sejamos capazes de as ensinar, a ser os

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adultos conscientes do futuro. Torne-se aliado (a) das boas práticas ambientais, vale a pena cuidar do seu futuro, por uma Angola limpa e saudável. Colabore!

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ÁFRICA REPÚBLICA CENTRO AFRICANA:

A PAZ AINDA TARDA A CHEGAR

Por:Manuel Muanza (Texto) Fotos: Arquivo F&N

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Milhares de refugiados procuram outros ares para sobreviver 74

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alívio da tensão social após o pagamento de salários aos funcionários públicos, em atraso desde Setembro de 2013, mostra-se insuficiente para afastar os sinais de insegurança geral que contrariam o plano do governo de transição da presidente centroafricana, Catherine Samba-Panza. Privada de recursos financeiros, a autoridade de transição viu-se, nos últimos meses, confrontada com uma crescente onda de insatisfação dos altos funcionários e do pessoal de outras categorias das instituições públicas. A permanecer, tal fenómeno concorria para agravar a já incontrolável situação de violência marcada por reencontros opondo rebeldes seleka e milícias anti-balaka. Os primeiros, maioritariamente muçulmanos, haviam tomado o poder em Março de 2013. O diário Journal de Bangui estabelece uma ligação entre o pagamento de salários e o anúncio pelas autoridades angolanas de uma ajuda financeira de 10 milhões de dólares à República Centroafricana. A notícia qualifica de “ajuda substancial” o gesto de Luanda tornado público no termo de uma recente visita de Catherine Panza. A exaltação pelo Journal de Bangui da ajuda monetária dos países da região parece dever-se ao facto de o desconforto dos funcionários propender para produzir o risco de contestação da liderança de Catherine Panza, o que conduziria à derrapagem do processo de transição.


ÁFRICA

Presidente da RCA, Catherine Samba-Panza e Dos Santos

A título de exemplo, pode apontar-se a agitação de ânimos em Bangui, onde o pagamento de salários aos funcionários produziu um efeito inesperado, pois milhares de estudantes da universidade pública exprimiram a cólera queimando pneus nas ruas asfaltadas para reclamar bolsas em atraso. Esta perspectiva de análise da questão pode explicar a crescente oferta de fundos, como é o caso dos 5 mil milhões de francos CFA doados por Brazzaville, além de um empréstimo de 25 mil milhões de francos CFA concedido pelo presidente Denis Sassou Nguessou. A União Europeia, por sua vez, injectou 81 milhões de euros ao tesouro centroafricano. O fundo será consagrado à saúde, segurança alimentar e à reanimação do sistema de ensino. As declarações do comissário europeu para o Desenvolvimento, Andris Piebalgs, segundo as quais o mundo deve agir agora para «lançar as bases para a estabilidade » traduzem bem os receios sobre a possibilidade de recuos para a exacerbação da violência caso a solidariedade com a República Centroafricana não se traduza em actos. O avolumar das iniciativas de amparo a Catherine Panza contrasta com a tendência para o agravar da insegurança no país. Exemplo típico do temor pelo crescendo da instabilidade vem expresso na decisão da CEMAC (Comunidade Económica

e Monetária da África Central). Ela própria promotora da campanha de apoio financeiro à RCA, a organização regional decidiu abandonar Bangui e transferiu a sua sede para Libreville, invocando insegurança pela voz de Pierre Moussa, seu presidente. A retirada da CEMAC é sintomática, já que acontece no momento da materialização do apelo lançado aos doadores com vista à colecta de 50

gurança”. Ela tenciona definir linhas mestras que devem guiar todas as operações tendentes a estancar a violência e garantir a protecção dos cidadãos. Apesar das medidas, o conflito armado continua fustigar o país desde a eleição, em Janeiro último, de Catherine Panza, na sequência da renúncia forçada do chefe da rebelião seleka, Michel Djotodia. O recolher obrigatório está ainda em vigor e multiplicam-se acusações sobre actos de hostilidades contra populações civis. Além de grupos rebeldes já tradicionais, a estação comunitária Radio Ndekeluka reportou assaltos às aldeias, no norte da RCA, atribuídos à presença de homens armados identificados como sendo rebeldes tchadianos liderados por Baba-Ladé. Tais grupos, de matiz muçulmana, foram acusados de vandalizar edifícios sagrados da igreja católica. O ciclo de hostilidade pode ser medido pelas informações referentes ao fluxo de refugiados que procuram paz nos países vizinhos. A norte dos Camarões calculam-se às centenas os refugiados que, de acordo com a Rádio Ndekeluka,

O diário Journal de Bangui estabelece uma ligação entre o pagamento de salários e o anúncio pelas autoridades angolanas de uma ajuda financeira de 10 milhões de dólares à República Centroafricana. A notícia qualifica de “ajuda substancial” o gesto de Luanda tornado público no termo de uma recente visita de Catherine Panzaˮ mil milhões de francos CFA para a ajuda à RCA. Na visão do quotidiano francófono Journal de Bangui, a deslocalização dos escritórios da CEMAC pode ser interpretada pelos adversários de Catherine Panza como «prova de desconfiança por parte dos parceiros da região », que a deixam só por temerem a degradação do clima na RCA. Na tentativa de controlar a situação, Catherine Samba-Panza constituiu um “Conselho Nacional de Se-

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não recebem ajuda humanitária das autoridades nem das organizações internacionais. Além das incursões de grupos organizados, o êxodo de civis tem também por causa a proliferação de armas que acabam nas mãos de vários actores. A missão africana de apoio (MISCA) à RCA afirmou ter desmantelado, apenas numa noite, em Bangui, o que qualifica de “considerável arsenal de armas” ligeiras e pesadas. O anúncio da MISCA, por si só, ajuda a avaliar o estado actual do clima na República Centroafricana.

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ÁFRICA COOPERAÇÃO ANGOLA E CABO VERDE

O LIMITE É O CÉU Por: Olavo Correia (Texto) Foto: Arquivo F&N

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abo Verde nasceu insular e atlântico, lusófono e africano. Hoje, membro de pleno direito da União Africana e da CEDEAO. A sua costela atlântica, africana e lusófona retemperada pela conjuntura económica e financeira internacional, que por ora está a maltratar o norte, obriga-o a diversificar a sua diplomacia e sobretudo a sua diplomacia económica. Essa diversificação passa, necessariamente, pela edificação e consolidação de uma diplomacia económica e politica sul-sul assertiva e virada para o futuro e para a promoção da paz no mundo, do desenvolvimento global e do seu próprio desenvolvimento. A sua vocação insular, a sua localização estratégica em pleno atlântico médio, a parceria especial com a União Europeia, a convertibilidade da sua moeda e o seu regime cambial de pego fixo face ao Euro apenas potenciam a dimensão utilitária desta perspectiva. A sua diáspora global, diversificada e sedimentada em todos os continentes, emerge como um activo estratégico e de primeiro plano na operacionalização deste enquadramento. Um país com estas características e atributos só pode ser promotor da paz e da estabilidade política e social no plano interno e no mundo, protector da homogeneidade social e alavancado por uma forte identidade nacional e cultural. Só pode afirmar-se, à escala global, como confiável, previsível e útil ao mundo. Nesta perspectiva de afirmação da cooperação sul-sul para o desenvolvimento afirma-se como inevitável e necessária a participação de Cabo Verde no promissor palco e espaço

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africanos. Uma participação efectiva e comprometida e sobretudo voltada para o futuro e para o desenvolvimento. Ganha importância particular nesta circunferência estratégica e política as pontes aéreas, marítimas e terrestres, as estradas e túneis que Cabo-Verde deve estabelecer com os países com os quais mantém afinidades históricas e culturais. Desde logo com Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Com Angola, potência regional, líder dos PALOP´s e da lusofonia em África, existem janelas imensas e infinitas de oportunidades. Por aproveitar, é certo. Para serem colocadas ao serviço do desenvolvimento dos dois países e povos. Do mundo e em particular do nosso continente. Cabo Verde e Angola complementam-se. Nos atributos como a confiança, a estabilidade, a previsibilidade, por um lado, e como os recursos, por outro. Mas também nos domínios financeiro, das infra-estruturas, do turismo, das pescas, da agricultura e da

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agro-indústria, dos transportes, entre outros. Esses dois países devem construir já veículos económicos sólidos de penetração no continente africano e na CEDEAO. Seguramente com maior probabilidade de sucesso do que várias outras alternativas. Mesmo tratando-se do caso de Portugal. Os investimentos angolanos em Cabo Verde e para Cabo Verde já existem há mais de oito anos, através da Sonangol, do BAI Cabo Verde, do Banco Sul Atlântico, do BPN Cabo Verde, via accionista Banco BIC Angola, e da UNITEL, que controla a operadora móvel cabo-verdiana ‘T+’. O processo de privatização em curso em Cabo Verde, abrangendo em particular os sectores aéreo, financeiro e das infra-estruturas e a necessária capitalização dos bancos cabo-verdianos representam, seguramente, oportunidades para o reforço do papel do capital angolano no sistema empresarial e particularmente no financeiro cabo-verdiano. Estas operações precisam de internacionalizar-se. Para continu-


ÁFRICA arem a ser rentáveis e em direcção aos promissores mercados africanos e em particular ao do da CEDEAO. Este é o salto necessário. Este é o momento. E o sistema financeiro terá de suportar esta aventura necessária. Um sistema financeiro que aposte no reforço da autonomia e independência da entidade de regulação e supervisão, enquanto factor de promoção da confiança e do reforço da competitividade externa da economia de Cabo Verde, através do aperfeiçoamento da regulação dos mercados e apostando nas melhores práticas e nas especificidades do mercado cabo-verdiano. Prevenindo os excessos e evitando crises bancárias sistémicas; Um sistema financeiro assente na promoção da confiança e da melhoria das condições macroeconómicas que facilitem o aceso ao financiamento e ao mercado internacional de capitais, nomeadamente através de Parcerias Públicas e Privadas (PPP);

Com Angola, potência regional, líder dos PALOP´s e da lusofonia em África, existem janelas imensas e infinitas de oportunidades. Por aproveitar, é certo. Para serem colocadas ao serviço do desenvolvimento dos dois países e povos. Do mundo e em particular do nosso continenteˮ

Um sistema financeiro ancorado na melhoria progressiva do “rating” do país (risco país e risco soberano); Um sistema financeiro sustentado num ambiente de negócios altamente competitivo; Um sistema financeiro que repousa sobre o reforço da estabilidade macroeconómica através da sustentabilidade da dívida pública e de uma política rigorosa de despesas públicas; Um sistema financeiro que seja

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alimentado por projectos rentáveis e eficientes. É do interesse dos dois países. De Cabo Verde e de Angola. Defendemos igualmente um sistema financeiro que aposte na promoção do desenvolvimento do mercado de capitais e da sua internacionalização, visando a criação em Cabo Verde de um verdadeiro mercado de títulos de divida soberana africana. Angola emerge como um parceiro de destaque também nesta investida. A todos os títulos. As ferramentas estão aí e ali. As oportunidades infinitas e ilimitadas. Depende de nós. Angolanos e Cabo-Verdianos. E dos incentivos que as nossas autoridades têm de criar. O nosso limite é o nosso céu. Quando se trata de estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento. A nossa juventude tão merece. Afinal, o que todos nós queremos é o desenvolvimento dos nossos países. Que os nossos concidadãos sejam FELIZES. FELIZES até ao fim.

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MUNDO-ÁFRICA

RÚSSIA ANEXA A CRIMEIA

E NÃO AVANÇA MAIS Por: João Barbosa (Texto) Fotos: Arquivo F&N

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novela entre a Rússia e a Ucrânia, que envolve a Crimeia, não tem fim definido, para o Ocidente, mas para a Rússia é assunto encerrado, desde 18 de Março. Como em romances, cada lado elege uns os «maus» e outros os «bons», sendo que alguns outros cumprem um papel secundário, fingindo que têm protagonismo. Na verdade, quase que se conhece o final. A Ucrânia está dividida religiosamente entre Ocidente e Oriente. Está separada entre falantes de russo e de ucraniano, com misturas. Em que uns estão mais próximos da Rússia e outros duma autonomia bem vincada. Onde num lado está quem defende a aproximação à União Eu-

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ropeia e à NATO e no outro uma ligação ao antigo estado imperial... ou o país se divide, ou se aproxima duma federação muito mal resolvida ou se vira para a violência civil. Por agora fala-se em autonomia reforçada para as províncias com maior percentagem de falantes de russo. A 18 de Março as tropas russas avançaram para a Crimeia e, no dia seguinte, o presidente ucraniano (interino) Oleksandr Turchynov mandou as forças armadas ucranianas retirarem-se da Ucrânia – e doutras zonas fronteiriças – assumindo assim a transferência oficial da soberania da península. Os protestos ocidentais - A União Europeia brada e faz ameaças de sanções, fala grosso, mas... 60% dos gás que muitos países consomem vem da Rússia, sendo que no total possa somar perto de 20%. Os Estados Bálticos (que nas contas ge-

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rais pouco pesam) dependem quase a 100%. Há países que precisam mais e outros menos, mas a média andará pelos 60%. Muito do gás russo entra na União Europeia, cerca de 50%. Os Estados Unidos da América também colocam um tom denso na voz, defendem os valores democráticos do Ocidente... mas a Ucrânia não é o Kosovo nem o Iraque. Os EUA não querem uma guerra com a Rússia, nem sequer uma «Guerra Fria». A Rússia Não é a URSS, não haverá corrida aos armamentos e ameaças nucleares. Tem um grande arsenal nuclear, mas não é o urso russo, o outro Golias. Vladimir Putin conhece a sua força e até onde pode ir a sua ousadia. Talvez possa ir mais longe, mas afirma querer ficar pela Crimeia. Barack Obama tem outras prioridades e preocupações internas para se centrar – uma guerra agora não lhe


MUNDO daria votos, aumentaria a despesa e ízos, mas o tom é calmo, apesar dos importa 30,9% (dados de 2012). desviaria verbas que podem ser canafortes investimentos russos na bolsa Sabe que dum lado há democralizadas para as políticas sociais. e imobiliário. cia e um suposto território de riqueO presidente russo tem mostrado Em contraponto está o jogo que a za, prosperidade e liberdade e que do um tom de voz forte, demonstrando Rússia faz com a questão cipriota, a outro há um amante poderoso e que autoridade, mas o Ocidente também quem emprestou verbas para salvar o lhe paga as contas. Que namorado sabe que a Rússia não pode avançar país da bancarrota e que continua a escolher? para conflito armado ou posições definanciar. Durante o período soviético, a elite masiado extremas. O começo do filme - Como nos era brindada com férias na Crimeia, O peso das sanções - Barack romances há triângulos amorosos, em zona amena à beira mar. Passado o Obama excluiu publicamente qualque, nem sempre, alguém se ententempo da paz, finda a «Guerra Fria», e quer acção militar na Ucrânia, no de. Aqui há dois galãs, um que é uma com a Rússia novamente com poder, seguimento da anexação da Crimeia parelha (UE e os EUA), e outro que é a Península da Crimeia voltou a ser o pela Federação Russa. que sempre foi: um A «guerra» será ao diterritório estratéginheiro. A União Europeia brada e faz ameaças de sanções, co. Os EUA querem A Rússia, que fala grosso, mas... 60% dos gás que muitos países uma forte aliança de chegou a ser um consomem vem da Rússia, sendo que no total possa países contra a Rússia, país tricontinental, somar perto de 20%. Os Estados Bálticos (que nas conapelando a sanções. antes de vender o Washington começou tas gerais pouco pesam) dependem quase a 100%ˮ Alasca, tem saídas com o «ataque» a 11 marítimas para Noelementos russos e roeste, para o Exa Rússia. Porém, a noiva tem o coraucranianos pró-russos, dos quais sete tremo Oriente, para o Mar Cáspio cuja ção dividido. Religião, língua e histódo círculo próximo de Vladimir Putin. influência terrestre não lhe dá o peso ria, dividem o país. Recordem-se as Segundo Washington «as 19 estratégico doutras zonas, e para um purgas e os castigos de Estaline aos maiores fortunas russas já perderam «lago» em que a Crimeia se encontra. ucranianos, ainda antes de 1939, e o 13,2 mil milhões de euros, devido à O Mar de Azov e o Mar Negro juncolaboracionismo com os nazis duma volatilidade dos mercados», no dia 3 tos parecem um lago, mas têm saída parte da sociedade ucraniana. de Março. No dia anterior tinham frapara o Mediterrâneo, e daí para o OciA Ucrânia está à beira da bancarcassado reuniões, no âmbito da ONU. dente. A Rússia há séculos que luta rota, com necessidades de perto de A UE acusa a Rússia de se estar por ser uma grande potência e tem25,4 mil milhões de euros. Já antes a isolar e que vai sofrer sanções eco-no conseguido ser. A crise, nascida da crise surgir, a Rússia tinha injecnómicas. Os EUA alinham na solução. em Novembro em Kiev, deu-lhe o pretado 11 mil milhões, além de baixar Um dos castigos é a expulsão do país texto. em 30% o preço do gás que vende eslavo do G8, agremiação dos países Enfraquecida pela derrota na ao vizinho. mais ricos do mundo, cuja reunião esGuerra Fria, a Rússia (que eufemistiO nó económico também não é tava marcada para o início de Junho, camente se chamava União Soviética) fácil de desatar para escolher o parna cidade russa de Sochi, mas que, perdeu territórios, espaços de influênceiro; A Ucrânia exporta 25,7% da entretanto, passou para Haia, na Hocia, mas não a vontade imperial. Agosua produção para a Rússia e importa landa. ra está rica e a UE em crise... a Guerra Na City também se fala em preju32,4%. Para a UE exporta 24,9% e da Crimeia (1853 a 1856 – em que a Rússia combateu França, Reino Unido, Turquia e Reino da Sardenha) hoje dificilmente se pode repetir. Recuperada da derrota imposta pelo Ocidente, a Rússia fortalecida quer recuperar espaço de influência e vê com muito maus olhos uma aproximação da grande Ucrânia (o segundo mais vasto país europeu – logo após a parte europeia da Rússia) à UE e à NATO. Com a demonstração de força na Crimeia e capitulação da Ucrânia, a Rússia exige maior autonomia regional, a favor dos territórios, com maior

Russas e ucranianas numa discussão nervosa...

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MUNDO peso da comunidade russa, e o ensino do russo como segunda língua. Recorde-se que a Guerra da Crimeia, no século XIX, foi iniciada pela Rússia, que pretendia maior influência nos Balcãs, invadindo a Turquia. O Reino Unido temeu pela conquista de Istambul e avançou com tropas, afectando-lhe ligações com a Índia. França quis mostrar poderio e o Reino da Sardenha, que antecedeu Itá-

Há países que precisam mais e outros menos, mas a média andará pelos 60%. Muito do gás russo entra na União Europeia, cerca de 50%ˮ

lia, que não se entende muito bem o que ali fazia, certamente pelas ligações da família reinante ao imperador francês Napoleão III. Nos primórdios esteve a ocupação dos principados da Moldávia (hoje parte é independente mantendo a designação e a outra russa, sendo-lhe atribuído o nome de Moldova) e da Valáquia. Nessa guerra, a Rússia foi forçada a ceder territórios, nomeadamente nos Balcãs, e ficado proibida de ter bases junto ao Mar Negro. Em 1875, a Rússia iniciou novos confrontos. Findos os combates foram redesenhados mapas, nomeadamente nos Balcãs, Mediterrâneo e Cáucaso. Ao longo da história, a Crimeia foi ocupada por diversos povos, tendo sido os Tártaros os que mais tempo a detiveram (século XIII a XV). Passou a turca, sendo tomada pelos russos em 1777.

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ATÉ ONDE? A Ucrânia conta com 24 regiões e a área urbana de Kiev. Com vários pontos de separação, o motor da discórdia é a língua. Se na Europa existem estados-nação, com uma só língua, como Portugal, ou países multi-linguísticos cuja convivência histórica ou a abundância os mantém unidos, a Ucrânia é uma misturada, com ódios antigos. Descontando os outros povos, faça-se a contabilidade: 78% são ucranianos e 17% são russos. Mas a sua distribuição é complexa, com alguma «lógica», mas não óbvia. No entanto diga-se que há nuances de confusão: a província de Cherson, que faz fronteira a Norte com a Crimeia, é habitada por 82% de ucranianos e 14% de russos. Com o país a dividir-se, a comunidade russa da Crimeia decretou primeiro a independência e depois a sua integração na Federação Russa. Isto a par da cidade portuária de Sebastopol. Nestas manobras verificaram-se incidentes considerados graves, nas três unidades militares ucranianas. O receio é de ter uma nova Jugoslávia (iniciada com a declaração de independência da Eslovénia, em 1991, até à separação da Macedónia em 2001 e combates no Sul da Sérvia), em que a mais sangrenta foi a da Bósnia-Herzegovina, onde existe uma grande divisão étnica e religiosa. A tomada da Crimeia começou nas ruas, com bandeiras azuis e amarelas, símbolo nacional ucraniano, e hasteamento de bandeiras russas. Foi lançado o pretexto. Depois surgiram homens fardados com camuflados, mas não identificados, e que foram avançando no território, até que tropas russas entraram sem dificuldade na Crimeia, fazendo uma anexação tranquila. Houve ainda um referendo, que Kiev não reconheceu, em que 96,8% dos votos dos crimeanos votaram a união ao maior país do mundo. Põem-se questões: a Rússia vai forçar as fronteiras? O Ocidente irá ter coragem para intervir? Até onde irá a ambição do presidente russo, Vladimir

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Putin? Estarão outros Estados, nomeadamente no Cáucaso, onde há comunidades russas, ter tranquilidade? E os Estados bálticos, integrados na UE. Ao todo são 14 os países com comunidades russas, alguns deles em situação de conflito interno, sendo parte abastecida «secretamente» pela Rússia. Mas Vladimir Putin garante que vai ficar pela Crimeia. O discurso de Vladimir Putin é de sossego. A questão dos avanços fica-se pela Crimeia, a província que os russos sempre consideraram ser um erro histórico não estar integrada no «império». Vikyot Ianukovich (democrata sui generis) ocupava a cadeira do poder, apesar dos protestos na rua contra a sua aproximação a Moscovo, em Novembro . O fim do protocolo, que estabelecia aprofundamento das relações com a UE, em Fevereiro, «incendiou» a capital. O presidente, eleito com uma margem mínima e com acusações e suspeitas de fraude, prometeu novas eleições para 25 de Maio. Mas foi tarde. O chefe do Estado acabou a fugir, traído pelos seus correligionários, que no Parlamento votaram a favor do seu afastamento. Com muitas diferentes sensibilidades sentadas nas bancadas, a UE tem acabado por dar a mão também a partidos que considerara xenófobos e racistas. Deputados da extrema-direita não se coíbem de agredir outros parlamentares e forçar a aprovação de documentos. Ou seja, a UE, que deu mostras de mais uma vez acordar tarde para um problema – a dívida da Ucrânia, o seu papel charneira e via de abastecimento de energia – está agora com uma batata quente que dificilmente deixará de lhe queimar as mãos. O que começou como um simples protesto cresceu e tornou-se na grande dor de cabeça da UE. A contestação contra a aproximação a Moscovo, em Novembro, e o fim do relacionamento com a União Europeia.


MUNDO-ÁFRICA

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Na Venezuela, um barril de polvoras está prestes a explodir nas mãos do Presidente Maduro

O QUE SE PASSA

NA VENEZUELA?

Reportagem de Figuras&Negócios passou um fim de semana em Caracas, capital da Venezuela, e constatou o caos; falta de alimentos, gatunos a agir sem o maior pudor e uma crescente onda de insatisfação que gera manifestações; Presidente Maduro parece ter perdido o controle Por: Wallace Nunes (Texto e Fotos) / Caracas - Venezuela

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Venezuela é um país peculiar. Lembra o Brasil em alguns aspectos e muitos países da África em outras comparações. Na parte em que se assemelha ao Brasil é pela beleza. Na região do Caribe, praias, cuja beleza é uma dádiva divina. A comida é igualmente maravilhosa. O povo, hospitaleiro e galanteador. As mulheres, de todos os tipos e estilos são muito bonitas. Corpos esculturais e rostos que faz cada solteiro ficar literalmente apaixonado. Mas nos factos da vida cotidiana a realidade é outra. Para sobreviver é preciso ter trabalho. Trabalho para comprar roupas, para comprar


MUNDO às ruas para gritar palavras de ordem contra o presidente . Sua atitude durou apenas uma hora. Foi parada por uma bala na cabeça que a matou instantaneamente. A notícia de sua morte se tornou um choque e virou comoção nacional. "Imagine você perder um parente querido por nada" disse o presidente do instituto de estudos políticos da Universidade de Caracas, professor Irving Amaro Camarillo. Maduro questionado - Todos que estão nas ruas dizem que a morte da modelo e miss foram mais

dos nas prateleiras e ao decreto-lei “de preços justos” – que limita o lucro dos empresários locais a 30% sobre o valor da mercadoria – têm acirrado os ânimos no país. Os protestos na Venezuela, chamados 12F, são uma série de manifestações convocadas pelos líderes da oposição venezuelana María Corina Machado, Leopoldo López, e Henrique Caprilez juntamente com estudantes universitários contra o governo do bolivariano, herdeiro político de Hugo Chavéz. A principal motivação é a insatisfação com a violação

Nicólas Maduro Presidente da Venezuela

alimentos e, enfim, para enfrentar o cotidiano. Quando não há isso o descontentamento é geral e todos têm de culpar alguém pela falta de perspectivas. As críticas foram directas para o condutor do país, o presidente Nicolas Maduro. Numa dessas críticas, a população saiu às ruas para protestar. Uma dessas protestantes estava a modelo Génesis Carmona de 22 anos. Estudante de marketing na Universidade de Carabobo, Génesis fora eleita em 2013 miss Turismo da Província de Carabobo. De beleza escultural e conhecida de todos por onde passava em sua cidade - por causa de suas acção social de ajudar os mais necessitados- não teve medo de sair

uma ponta do grande descontentamento da metade da população que não apóia o governo Maduro. Uma onda de protestos tem levado às ruas da Venezuela opositores ao governo, entre eles muitos estudantes. Os manifestantes questionam a actuação do mandatário e a situação política do país. Ao mesmo tempo, representantes de movimentos que apoiam o governo também promovem marchas na capital Caracas e em outras cidades em defesa do representante chavista. Para agravar a situação, a movimentação social ocorre em meio a uma difícil situação económica na Venezuela. A crescente inflação, aliada à ausência de produtos industrializa-

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dos direitos civis, a escassez crónica de produtos e altos níveis de violência contra a população por grupos armados do regime. A reportagem de Figuras&Negócios presenciou um momento crítico. Um dia depois da chegada ao país, uma manifestação oposicionista ao governo, formada basicamente por estudantes, deixou o saldo de três mortes –dois estudantes e um líder comunitário governista –e mais de 20 pessoas feridas. Milhares criticavam o regime, grandes grupos protestavam a favor de Maduro aproveitando a comemoração do bicentenário da chamada Batalha da Vitória, considerada decisiva para a consolidação da independência do país.

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MUNDO lana exige uma autorização municipal para qualquer manifestação pública.. O que se viu após isso foi uma violenta onda de repressão do governo, que chegou a colocar tanques de guerra nas ruas e soltar um suposto “gás verde”. A repressão fez com que os manifestantes revidassem com mais força. O Twitter foi censurado e canais de TV tirados do ar. Com as informações sobre o país cada vez mais escassas, as únicas fontes de informação que restam são o Facebook, o YouTube e parcialmente o Twitter. O presidente Nicolás Maduro também Nicolas Maduro lembrou os meios de comunicação que a transmissão de imagens violentas está proibida pela Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Henrique Caprilez Leopoldo Lopes Televisão. Como consequência disso, o sinal da TV a cabo do canal internaeleitoral pela eleição de Maduro, em Acusações - A violência e as cional NTN24 foi bloqueado por estar 2013. mortes durante as manifestações le“enviando mensagens e imagens que Falta de produtos básicos varam governo e oposição a trocar incitam a violência” sem o conhecimenApós prosseguir com sua agenda duras acusações. Enquanto Maduro to do regime, o que foi confirmado pelo estatista, Nicolás Maduro causou afirma ter convocado a juventude próprio Maduro que também acusou uma onda de escassez de produtos socialista para uma marcha pacífica, a agência internacional AFP de estar à universitários oposicionistas postam básicos. A solução proposta foi ainda frente de uma manipulação da mídia. fotos de manifestantes feridos, sumais Estado, chegando a ordenar a Pela TV Nacional, durante a comepostamente por policiais a serviço do invasão de fábricas e controle de premoração do bicentenário da Batalha governo. ços. A inflação oficial do país passou de La Victoria, Os estudantes Maduro ordetêm apoio da oposição política, liderada Os protestos na Venezuela, chamados 12F, são uma série nou militarizar as principais cipelo governador do de manifestações convocadas pelos líderes da oposição dades do país e estado de Miranda, venezuelana María Corina Machado, Leopoldo López, e assegurou que Henrique Capriles. Henrique Caprilez juntamente com estudantes universitáos protestos No entanto, o líder eram parte de do partido de direi- rios contra o governo do bolivariano, herdeiro político de Hugo um “golpe de ta Vontade Popular, Chavézˮ estado” e proLeopoldo Lópes, é meteu justiça considerado pelo para os crimes que ocorreram. de 29% ao ano para inacreditáveis governo venezuelano como o menAté hoje acorrem marchas convo56% (índices não oficiais registram tor do movimento de oposição. A cadas por líderes políticos e estudantaxas de até 3 dígitos. prisão de Lópes já foi ordenada, ele tis em 38 cidades, com a presença Proibição das manifestações se apresentou à Justiça, após novo maciço de pessoas contra e a favor - As medidas não funcionaram e a movimento contra o governo. massiva do Regime. escassez continuou, o que revoltou Na oposição, duas correntes diEm Caracas, ao final do horário ainda mais a população. Em seus ferem quanto à forma de se contrade expediente deu-se início a um discursos, Maduro pede para comepor ao chavismo. Uma, de Capriles, é confronto entre os guardas e os marem menos como solução para a falta mais moderada e reivindica mudannifestantes que terminou em feridos. de produtos. Maduro convocou seus ças no Executivo. A outra, consideraHouve troca de tiros entre vários grupartidários e anunciou que as manida radical e capitaneada por Lópes, pos. Maduro culpa os adversários festações “sem permissão” estavam quer a completa troca do governo. pela violência, já a oposição acusa proibidas após os actos de violência As manifestações relembram o clima os colectivos armados e as guerilhas no país. de disputa política que marcou o governo de Hugo Chávez e a campanha Isso ocorre porque a lei venezuedo regime.

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MUNDO JOAQUIM BARBOSA, PRESIDENTE DO STF

AINDA NÃO CHEGOU A SUA HORA

Por: Silvana Destro (Texto) Foto: Arguivo F&N

J

oaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, é o primeiro negro a presidir a instância máxima da justiça brasileira. Ele esteve em Angola no início de março, onde participou de alguns eventos e proferiu palestra exclusivamente para magistrados. Como ocorreu em vários países em que visitou, aqui também proibiu a presença da imprensa. Sua participação foi decisiva para condenar, e colocar atrás das grades, os maiores expoentes do Partido dos Trabalhadores, homens que trabalharam ativamente na primeira gestão do governo Lula, entre eles o homem forte de Lula, José Dirceu. Por causa deste julgamento, Barbosa conquistou uma grande parcela dos brasileiros, que começaram a clamar por sua candidatura à Presidência da República. A situação atual do país, praticamente uma nave sem rumo, criou uma legião de cidadãos em busca de um verdadeiro “salvador da pátria”. O ministro Joaquim Barbosa tem negado enfaticamente sua candidatura e, francamente, acho que não será candidato à presidência, mas outros rumores dão conta de que possa ser candidato ao Senado, que seria muito bom para o País. Precisamos, no Brasil, de integridade, oposição e respeito às instituições, e Barbosa pode ser um nome muito interessante para o Poder Legislativo, hoje praticamente nas mãos da situação. Babosa teve tanto destaque durante o que convencionamos chamar de “julgamento do século”, que a pergunta dos estrangeiros é quase um mantra: o Brasil está preparado para um presidente negro? Sim, infelizmente, ainda somos um país racista. Aos amigos de outros mares eu

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Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal do Brasil

respondo que o país está tão preparado para ter um presidente negro quanto estava para ter uma mulher na presidência. Pois o factor mais importante não é a cor ou o género, mas sim se ele está preparado para ser presidente. Particularmente, eu acho que

globalizadas. Mas, antes, ele precisa despir-se de um tanto de vaidade, que está atrapalhando muito a sua carreira. Hipoteticamente, se ele fosse eleito, nada mudaria em nosso perfil hipócrita e racista. Precisamos, ainda, crescer como sociedade, como cidadãos. A gestão Lula Por causa deste julgamento, Barboe a de sua sucessa conquistou uma grande parcela sora, Dilma Rousdos brasileiros, que começaram a seff, provocaram danos quase que clamar pela sua candidatura à Preirreparáveis na sidência da República. A situação política brasileira, actual do país, praticamente uma nave sem porque deixaram rumo, criou uma legião de cidadãos em busórfãos milhões de cidadãos que acreca de um verdadeiro “salvador da pátria” ditaram que eles viriam para fazer, efetivamente, a diferença. Não fizenão, assim como não estava a muram e acentuaram os nossos piores lher que hoje ocupa a presidência. traços, como o avanço da corrupEla tem nos brindado com vexames ção, o domínio e quase a anulação homéricos, nacional e internaciodo Congresso Nacional, negociatas nalmente. Certamente Barbosa não e pouco, ou quase nada, de retorno cometeria erros semelhantes; ele é para os cidadãos contribuintes. Dianmais preparado intelectualmente, é te das maiores taxas tributárias do um homem cosmopolita, de atitudes

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MUNDO mundo, nosso sistema de saúde está falido, a educação anda aos trancos e barrancos, e a infra-estrutura absoluta e completamente carente de projectos e investimentos. O que se tem de concreto, hoje, é uma proliferação absurda de programas sociais assistencialistas, que estão distorcendo valores e prejudicando sobremaneira a economia. Por isso, o que as pessoas estão buscando é um santo milagreiro, e isto dá lugar a todo tipo de populismo, e Lula tem sabido aproveitar a oportunidade perfeitamente. Joaquim Barbosa teve um papel fundamental na condenação dos mensaleiros, mas se excedeu. Ainda não é um “animal político”, como não é Dilma Rousseff. A atividade lhes parece extremamente penosa e desgastante. Por isso, ambos reagem com o fígado, o que, em política, é bastante temerário. Por exemplo, Barbosa precisa ganhar mais jogo de cintura com a imprensa. Não consegue lidar com ela politicamente. E

Joaquim Barbosa teve um papel fundamental na condenação dos mensaleiros, mas se excedeu. Ainda não é um “animal político”, como não é Dilma Rousseff. A atividade lhes parece extremamente penosa e desgastante. Por isso, ambos reagem com o fígado, o que, em política, é bastante temerário” em função disto, já provocou alguns desastres nessa área. Mas o Legislativo pode lhe ser uma grande escola, de um grande aprendizado, um exercício fabuloso a quem, um dia, poderá vir a ser um excelente presidente. Não por ser negro, mas por ser íntegro.

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E porque é um sujeito muito preparado, cosmopolita e globalizado, jamais seria um populista como Chaves, Maduro, Cristina Kirchner ou o próprio Lula. Este é um dos factores que intensificam o clamor popular por sua candidatura. A América Latina sofre um grande risco. Barbosa tem posições firmes mas, por enquanto, ainda precisa lapidar a forma como expressa essas posições. Como em qualquer parte do mundo política se faz com....política. E ele ainda precisa aprender a compor. Talvez com um pouco menos de vaidade ele chegue, um dia, à presidência. Por ora, esperamos que ele nos brinde com sua participação no Legislativo, onde poderá exercer uma política menos centralizadora, mais participativa. Embora em campos absolutamente opostos, Barbosa e Dilma sofrem de uma imaturidade política muito acentuada. Barbosa tem mais preparo para superar isto.

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DESPORTO FALTA "JOGO LIMPO"

NA CONTRATAÇÃO

DE ESTRANGEIROS

A Federação Angolana de Futebol fez a alteração dos seus regulamentos fazendo com que uma equipa, dos 18 atletas inscritos, conte apenas com cinco estrangeiros, designadamente, três em campo e dois no banco de suplentesˮ

N

Por: António Félix (Texto) / Fotos: Nsimba George os dez últimos anos, o desporto angolano, no capítulo de competições nacionais e internacionais, passou a contar com maior número de atletas estrangeiros, quando em tempos idos eram mais os treinadores que se apresentavam nestas condições de expatriados, à frente de várias equipas e selecções nacionais, com particular realce no futebol e basquetebol sénior masculino. Este aportar quase massivo de atletas estrangeiros no país para jogarem pelas equipas e selecções acontece porque já há a admissão de profissionalismo e, desde logo maiores ganhos económicos para esses intervenientes. Os clubes estão estimulados pela necessidade de com eles conquistarem títulos de forma imediata. Desejam ser campeões no Girabola, vencer a Taça de Angola e ter boas prestações nas afrotaças. No basquetebol o interesse é manter a hegemonia em África, boas exibições nas participações no Campeonato do Mundo e Jogos Olímpicos, daí a necessidade de se naturalizar até jogadores estrangeiros, para se lograr tais pretensões. Por esta razão, quer a Federação Angolana de Futebol, quer a de basquetebol possuem regulamentos

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próprios que permitem a transferência para a Angola de atletas estrangeiros. No entanto, estas adesões de jogadores estrangeiros, feitas à luz dos regulamentos de ambas federações (FAF e FAB), em articulação com as leis das respectivas federações internacionais (FIFA e FAF), obedecem, a regras. Estas regras, contudo, também estabelecem um certo limite, por um lado, para não se prejudicar a ascensão de jogadores nacionais, em particular os que emergem das escolas de formação que existem nos clubes, por outro para se cumprir com as exigências legais impostas aos estrangeiros. É o caso do Decreto nº 5/95 de 7 de Abril, que no seu artigo 3º sublinha que as entidades nacionais (neste caso, os clubes ou federações) que exerçam a sua actividade em território nacional, só deverão recorrer ao emprego de força de trabalho estrangeira não residente, ainda que não remunerada, no caso de o seu quadro de pessoal, quando composto por mais de 5 trabalhadores ( no caso, trabalhadores como profissionais do desporto), estiver preenchido com pelo menos 70% de nacionais. Sendo profissionais e, desde logo estrangeiros, além do contrato e da transferência internacional - o referido decreto impõe que têm de possuir

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visto de trabalho, ou , sendo residentes, documentação que ateste esta condição. A Federação Angolana de Futebol fez a alteração dos seus regulamentos permitindo com que uma equipa dos 18 atletas inscritos, conte apenas com cinco estrangeiros designadamente, três em campo e dois no banco de suplentes. Se quiser usar mais, os outros estrangeiros têm de ser naturalizados. A FAF considera que está aqui patente uma forma de até se proteger os nossos jovens ao se permitir


DESPORTO

QUADRO DE ESTRANGEIROS (FUTEBOL) Este ano só o Atlético Sport Aviação (ASA), 1º de Maio de Benguela, Sporting de Cabinda e União Sport do Uige não possuem estrangeiros. NOME

PAÍS

POSIÇÃO

CULBE

Albert Meyong ------------Camarões----------Avançado-----------Kabuscorp Tresor Mputo-----------------RDC ---------------Médio-------------Kabuscorp Lami --------------------------RDC---------------Médio -------------Kabuscorp Matapa-----------------------RDC-------------Guarda redes--------Kabuscorp Marcos Soares -----------Cabo Verde -----------Médio------------1º de Agosto Chilese-----------------------Zâmbia--------------Médio------------1º de Agosto Figo------------------------Moçambique----------Médio------------1º de Agosto Ibukun------------------------Nigéria------------Avançado----------1º de Agosto Etah ------------------------Camarões------------Defesa------------Petro de Lda Keita-------------------------Senegal -----------Avançado----------Petro de Lda Ben Traoré------------------Senegal -----------Avançado-----------Petro de Lda Achempobg----------------Senegal------------Avançado-----------Petro de Lda Lelo Mpela-------------------RDC--------------Avançado-----------Petro de Lda Edy Boyom----------------Camarões------------Defesa ------------R. Libolo João Tomás---------------Camarões-----------Avançado ----------R. Libolo Pedro Mendes--------------Portugal-------------Médio ------------R. Libolo Pedro Marques-------------Portugal-------------Médio-------------R. Libolo Sidney----------------------Cabo Verde----------Médio ------------R.Libolo Jefreson-----------------------Brasil--------------Defesa------------Benfica de Lda Oliveira-----------------------Portugal------------Médio-------------Benfica de Lda Diakité------------------------Mali----------------Médio -------------Benfica de Lda Gerson------------------------Brasil--------------Médio -------------Benfica de Lda Miro-------------------------Moçambique--------Defesa ------------B.Maquis Josimar-------------------Moçambique----------Médio--------------B.Maquis Walter---------------------Cabo Verde------------Médio-------------B.Maquis Johannes--------------------Namibia-------------Médio-------------B.Maquis Jorginho-----------------------Brasil--------------Médio-------------B.Maquis Marinho----------------------Portugal------------Defesa-------------Interclube Mongo-------------------------RDC---------------Médio-------------Interclube Alex-------------------------Cabo Verde----------Médio-------------Interclube Barcelar-----------------------Croácia-----------Avançado----------Interclube Élio----------------------------Portugal------------Médio-------------Interclube Vozinha---------------------Cabo Verde-------Guarda Redes-------Progresso Lawrence---------------------Namibia------------Defesa------------Progresso Calú-------------------------Cabo Verde----------Defesa------------Progresso Nuno--------------------------Portugal------------Defesa------------Sagrada Ghislain-----------------------Portugal------------Defesa------------Sagrada Savané-------------------------RDC---------------Médio ------------Sagrada Saki-----------------------Costa do Marfim-------Médio ------------Sagrada Kiala----------------------------RDC-------------Avançado----------Sagrada Nuno---------------------------Portugal--------Guarda redes -------R.Caála Hugo---------------------------Portugal-----------Defesa------------R.Caála Mangualde--------------------Portugal-----------Defesa ------------R.Caála Alioune------------------------Senegal -----------Médio-------------R. Caála Fabrício-------------------------Brasil-----------Avançado ----------R. Caála Femi----------------------------Nigéria----------Avançado ----------R. Caála Baptiste-----------------------Senegal----------Avançado-----------R. Caála Messi---------------------------RDC---------------Médio-------------B. do Lubango Antero-------------------------Portugal------------Médio-------------B. do Lubango Kendo------------------------Camarões--------Avançado-----------B. do Lubango Apataca-----------------------Namíbia----------Avançado-----------B. do Lubango Abenga-------------------------RDC --------------Defesa-------------D. da Huila Banda--------------------------Zâmbia-----------Avançado----------D. da Huila Jirese----------------------------RDC-------------Avançado----------D.da Huila

apenas o máximo de três estrangeiros, que têm de obedecer a determinados requisitos, como o de ainda serem internacionais pelos seus países e que nos últimos dois anos antes da sua contratação tenham participado em pelo menos 75 por cento dos compromissos das suas selecções nacionais. Se é verdade, no entanto, que as leis estaduais e regulamentos federativos exigem requisitos justos e legais para a concretização da presença de atletas estrangeiros, não é, porém, menos verdades que os próprios jogadores, clubes e federações muitas vezes - na ânsia de obterem títulos a qualquer preço - recorrem a expedientes de contratação e oficialização de documentos de forma suspeita e ilegal. No futebol nacional, por exemplo, até hoje muitas questões têm sido levantadas quanto à verdadeira identidade de jogadores, por enquanto mais africanos, que actuam em várias equipas, muito em particular os provenientes da República Democrática do Congo. No ano passado correu a suspeição de que alguns clubes grandes do campeonato nacional alegadamente actuaram com jogadores inscritos na Federação Angolana de Futebol com identidade angolana que pode ter sido adquirida de modo fraudulento, sem renúncia à cidadania originária, sobretudo na congolesa democrata. Jogadores teriam apresentado bilhetes de identidades emitidos sem contundo estarem registados no sistema “online” da Direcção Nacional de Identificação, conforme passou a ser exigido pelo Ministério da Justiça para quem apresenta o assento de nascimento. Dando uma explicação a respeito, uma fonte da Federação Angolana de Futebol assegurou que a instituição tem nos seus registos bilhetes apresentados no acto de inscrição que à partida permite aos jogadores verem aceites as suas licenças, mas sustenta que a questão da falsa identidade deve ser levantada pelos clubes directamente prejudicados durante o campeonato, nos jogos em que os atletas actuam. Esta situação, no dizer da mesma fonte, constitui uma das razões que até hoje faz hesitar a convocatória de muitos jogadores da equipa do Palanca à Selecção Nacional devido a real incerteza sobre as suas identidades. No basquetebol, modalidade que o ano passado viu ser naturalizado angolano o nor-

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DESPORTO trangeiros. É o caso do antigo presidente da Federação Angolana da modalidade, Gustavo da Conceição, que no segundo Encontro Nacional do Basquetebol reprovou a vinda sistemática de atletas africanos para competir nos campeonatos nacionais de Basquetebol de seniores, preferindo atletas europeus e americano. Diante deste quadro no futebol, basquetebol e outras modalidades, há agentes desportivos que, em homenagem à verdade desportiva e à lei, mesmo que a federação e os clubes não actuem, defendem que a Direcção da Acção Penal do Procuradoria da República deve investigar, porque trata-se de uma questão que está no quadro da sua competência. Porque a atribuição da cidadania cabe apenas ao Estado através dos seus órgãos e, sendo essa direcção um órgão do Estado, nesse sentido te-americano Regie Moore, o segundo com este privilégio depois do tchadiano Abdel Bouckar, só neste ano de 2014 deu a ver duas fraudes irremediáveis. Primeiro, a própria Federação Angolana de Basquetebol consentiu que depois do poste Liferu Selengue que jogou no 1º de Agosto, Petro de Luanda, ASA e Interclube como cidadão da República Democrática do Congo, aparecer agora no Recreativo do Libolo como angolano. Segundo, a Federação Internacional de Basquetebol Amador (FIBA), prontamente recusou a inscrição do jogador norte-americano do Petro de Luanda, Orien Greene, que cumpre um castigo imposto no Qatar onde jogava. O clube petrolífero, perseguindo apenas o título, não cuidou de aspectos administrativos para a correcta inscrição do jogador. Apesar destes factos, há no entanto altas figuras ligadas à modalidade que, colocando de parte a questão da xenofobia, mas sabendo da quebra de oportunidade para muitos jovens talentos, encorajam a vinda de basquetebolistas es-

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QUADRO DE ESTRANGEIROS (BASQUETEBOL) Este ano há cinco norte-americanos , sendo dois do Peto de Luanda, igual número do Recreativo do Libolo e um apenas no 1º de Agosto porque o ano passado Regie Moore, foi naturalizado para integrar a selecção angolana de basquetebol que venceu o Afrobaket, na Costa do Marfim. NOME

PAÍS

CULBE

Roderic Nealy ----------------------- EUA---------------------Petro de Luanda Justin Ray----------------------------EUA---------------------Petro de Luanda Mário Correia----------------------Cabo Verde----------------1º de Agosto Cedric Aison-------------------------EUA---------------------1º de Agosto Elvis Évora---------------------------Portugal----------------- Interclube Elia Clarke---------------------------- EUA---------------------Recreativo doLibolo Moses Sonko-------------------------EUA---------------------Recreativo do Libolo

pode agir, interpelando a Direcção Nacional de Identificação, a Federação Angolana de Futebol e o Ministério da Justiça, como de resto tem feito, para processos de investigação similares.

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O AVISO DO PRESIDENTE

O

FIGURAS DE JOGO

futebol como eu ainda reli há dias em "O Futebol no banco dos Réus" e também em "A Máfia no Futebol" - é um fenómeno social visto hoje como uma espécie de língua universal ou, diria mesmo, como Karl Marx frisou, comparando à religião o futebol, como o ópio do povo. E porquê? Porque o futebol arrasta multidões mobiliza meios humanos e financeiros e é por esta razão que já se pode falar sem receio em indústrias do futebol devido ao peso económico que vai tendo esta área da actividade humana. Precisamente por este grande impacto que o futebol tem hoje enquanto industria, os vários organismos nacionais e internacionais afins ditam regras para que ele não resvale num sector de total desgovernação, sem norte, sem orientação, como se fosse, enfim, uma espécie de "terra de ninguém". Só assim se justifica que esta questão de "importação" de futebolistas, de um Estado para o outro, é vista como um assunto sensível, levando os próprios estados a ditarem medidas restritivas para não permitirem que, à pala da tal propalada industria do futebol, não colida com as políticas nacionais, políticas públicas e, mesmo com as soberanias. As transferência de futebolistas apela à urgência de antídotos que façam evitar o tráfico de seres humanos encapotados. Existem países onde, por desleixo, ou falta de rigor na implementação nestas políticas de controlo, a transferência de jogadores tem configurado acções de branqueamento de capitais. Como é sabido, este fenómeno é sancionado pelo Grupo de Acção Financeira Internacional, organismo intergovernamental que tem o objectivo de conceber e promover, quer a nível nacional como a nível internacional, estratégias contra esse fenómeno de branqueamento. Leonel Messi, argentino a viver e a jogar em Espanha, este ano ja esteve no centro de uma investigação por suspeita de lavagem de dinheiro quando se descobriu que alguns eventos solidários em

que participava podiam ser usados por narcotraficantes para branquear somas de dinheiro. Na Europa, o presidente da Uefa tem afirmado que os países precisam criar leis e investigar casos a fundo para se combater o que ele qualifica de escória mafiosa no futebol. Não foi por isso em vão que no livro que citei "A Máfia no Futebol", o seu autor Declan Hill embarca numa investigação que o põe face a face com a multimilionária indústria das apostas ilegais, fazendo entrevistas mais de duas centenas de pessoas. Fê-las inclusive a homens que afirmam ter manipulado o resultado de jogos importantes. Atravessou quatro continentes para confirmar estas histórias. Descobriu campeonatos nacionais em que a máfia manipula mais de 80% dos jogos, mas, mais chocante ainda, provou que os arranjadores de jogos conseguiram infiltrar-se no futebol mundial e concluindo que nem a Liga dos Campeões Europeus nem o Campeonato do Mundo estão a salvo. Tudo isso reforça a necessidade de prevenção e luta contra este fenómeno das transferências e, desde logo, do branqueamento, o que leva cada vez mais os estados a reforçarem inclusive a cooperação e a coordenação entre as autoridades policiais e judiciais. Do desporto, fazendo analogia com a política, vale recordar que "se não nos precavermos, dentro de pouco tempo, quando privatizarmos a nossa economia grande parte das nossas empresas passarão ao controlo das empresas estrangeiras e nós ficaremos dependentes dos estrangeiros. Não foi para isso que nós lutamos". Este aviso foi feito em 17.8.1998, no Namibe pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos e, na minha opinião, pode servir de reflexão em relação ao que se deve fazer ou não com a contratação de jogadores estrangeiros nesse tempo em que, na verdade, a indústria do futebol vai tendo grande peso nas economias.

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CULTURA

ARTISTA VAI CANTAR NA TANZÂNIA E NO KÉNIA WALDEMAR BASTOS PREPARA DIGRESSÃO

U

m dos grandes “calcalhares de Aquiles” que enferma a internacionalização da música angolana feita pela nova geração está na falta de originalidade. Quem assim entende é o músico angolano de nível internacional, Waldemar Bastos. Segundo ele, “os artistas têm de cantar coisas próprias; culturais e de raiz. Não basta só o talento, mas tem de levar algo que os outros não conhecem; algo que tenha conteúdo e alma; uma verdade”.

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O artista e compositor deu alguns exemplos de países africanos cujos músicos ocupam lugares de destaque no mercado internacional, tais como o Ghana, Mali, Costa do Marfim dentre outros, transportando nas suas músicas a cultura dos seus países. Embora tenha reconhecido potencial na nova geração e surgimento de trabalhos com alguma qualidade, Waldemar Bastos entende que “não serão as cópias que poderão levar a nossa música além das nossas fronteiras”. Ele defende a tese de que, os

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nossoas artistas têm muito por onde beber, basta olhar pelo caudal dos rios Kwanza e Zaire onde podemos mergulhar. “A nossa música é um manancial de conhecimentos, o artista só precisa ter consciência e saber investigar". O artista tem agendada uma série de concertos a participar de Março, em países como Kénia e Tanzania e diz que ela vai servir também como forma de aumentar os conhecimentos sobre o continente berço, África.


CULTURA

MÚSICA

NSOKI EM ALTA

V

oz e revelação feminina 2013, no Top Rádio Luanda, cuja cerimónia foi marcada pela homenagem da cabetula, bungula, vaiola, varina e rebita, géneros músicais angolanos a cantora Nsoki foi a estrela da gala de consagração que juntou os melhores da música nacional. Dona de uma voz encantadora, Nsoki Neto tem no mercado o disco “Meu Anjo”, com 13 faixas musicais captado e masterizado em Luanda e no Rio de Janeiro (Brasil). Traz os estilos Zouk e Kizomba e teve a participação de Heavy C, Ricardo Duna, Ngouabi Montel e do cabo-verdiano Johny Ramos. A cantora começou a cantar, profissionalmente, em 2012, ano em que colocou no mercado angolano o seu single com apenas duas faixas musicais. O sucesso de Nsoki surgiu no mercado musical com o lançamento do tema “Meu Anjo”, produção musical de Johny Ramos, que conta ainda com a participação especial do músico Nanuto. Foi com a voz melódica e única de Nsoki e a sonoridade angelical do saxofone de Nanuto, numa linda composição feita pelo esposo da cantora, que o sucesso “Meu Anjo” conquistou os corações dos apreciadores de uma boa “balada” angolana.

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Fotos cedidas pelos noivos

VIDA SOCIAL

A noiva com

A colocação

o seu pai

da aliança na

noiva

Os noivos Janet e Carlos

O beijo depois

Em Havana

CASAMENTO DE JANET E CARLOS

T

eresa Braso da Rosa, representante da escalada TAAG em Havana(Cuba), escolheu um bonito vestido azul fluorescente para o casamento do seu filho mais velho, Carlos Celmiro da Rosa Oliveira Nunes. Médico de profissão, Carlos, a residir em Cuba onde estudou, contraiu matrimónio com a cubana Janet Perez Costa, que nesse dia não fugiu a tradição elegendo um vistoso vestido branco que fazia ressaltar a sua elegância. Janet teve como padrinhos Yamilet De La Caridade Molina Roque e Ramon Luis Galves Gongora enquanto que Carlos teve como

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Mostra dos diferentes produtos Nocal Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014

ial

ião matrimon

do selo da un


VIDA SOCIAL

Os noivos, com os padrinhos de Carlos Os noivos, com os padrinhos de Janet

A noiva com uma das tias do noivo que foi propositadamente de Luanda para o casamento Teresa Bravo da rosa, a mãe do noivo

Os noivos com o casal Desidério Costa

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VIDA SOCIAL

Os noivos com a

ó e seu esposo

irmã de Carlos, Fil

testemunhas o casal Zelia Bastos Paiva e Rafael Moracen Limonta. Decorrido em Havana,o acto matrimonial contou com a presença de algumas figuras conhecidas de Angola, com destaque para o actual embaixador de Angola e sua esposa, Augusto Cesar Kiluange e Guida Kiluange, o casal Desidério Costa e Xirimbimbi, o embaixador Condessa de Carvalho Toca e sua esposa, o antigo Chefe do Estado Maior das FAA, Francisco Furtado, familiares de Teresa Bravo da Rosa pessoal diplomático e estudantes naquele país. Deu para misturar o semba com a salsa numa festa recheada de muita animação

Os noivos 100com convidados idos de Angola, Chipre Furtado e César

O General Francisco Furtado Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014 Mostra dos diferentes produtos Nocal mostrou que é um exímio dançador


VIDA SOCIAL

As explicações necessárias de Nsiamaza Pinto Figuras&Negócios - Nº 147 - MARÇO 2014 um dos promotores comerciais da Nocal

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FIGURAS DE LÁ VLADIMIR PUTIN BRAÇO DE FORÇA

Presidente da Rússia, Vladimir Putin decidiu mostrar o seu braço de força que parecia adormecido para chamar até si o protagonismo de reduzir a "acção revolucionária na Ucrânia" que obrigou a um golpe de estado que derrubou o anterior Presidente do País. Mostrando ser uma potência mundial, que, afinal, não desapaceu com o derrube da antiga URSS, Putin estendeu os tentáculos da Rússia na anexação da Crimeia, uma República autónoma ucraniana com fortes interesses russos. Agora, é, preciso acompanhar a cena dos proximos capitulos.

JOYCE BANDA SEM MEIAS MEDIDAS

NICOLAS MADURO PREOCUPAÇÕES

Quem parece ainda não ter aprendido a lição da estratégia política do seu antecessor é o actual Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro à braços com uma rebelião que também lhe pode custar a cadeira presidencial. Substituto de Hugo Chaves já falecido, Maduro demonstrou, na relação com a população, com o empresariado e classe política ser ainda um político verde distante da grande pedalada de Chaves que sabia matar à nascença qualquer iniciativa que atentava contra o seu poder. Não tendo essa sabedoria, só resta Maduro ver inimigos em todos os lados, com os EUA de Obama à cabeça. E a revolta está mesmo ao seu redor e sem muitos motivos para erguer o braço em sinal de vitória. 102

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A Presidente do Malawi, Joyce Banda não quer nada com os luxos deixados pelo seu antecessor. Para já, decidiu vender por 15 milhões de dólares o jacto presidencial determinou que os valores da venda do avião terão de ser usados na compra de milho para familias pobres, equipamento militar e financiar a missão de manutenção da paz na República Democrática do Congo. No ano passado,a Presidente do Malawi decidiu passar a usar vôos comerciais nas suas deslocações ao estrangeiro.O jacto comprado pelo seu antecessor, Bingu Wa Mutharika, havia custado 22,9 milhões de dólares e tinha custos muitos elevados de utilização. Recentemente, Joyce Banda demitiu de uma só vez 25 membros do seu governo devido a um escandalo de fraude, nomeadamente de desvio de 29,9 milhões de dolares dos cofres do Estado. A senhora não é de brincadeiras!


FIGURAS DE LÁ VIKTOR YANUKOVYTCH FORA DO PODER

Quem dificilmente regressará ao poder com o titulo de Presidente é Viktor Yanukovytch que foi corrido da cadeira presidencial da Ucrânia por indecência e má figura, acusado de se acopletar de bens públicos para se enriquecer. Teve de fugir do País e refugiar-se na Rússia onde a partir dalí vai berrando que o poder presidencial ainda o pertence porque foi eleito em eleições consideradas democraticas. Só que não acreditava que tinha rabos de palha divulgados públicamente logo após o golpe de Estado, uma acção que levou a população ucraniana a estar contra ele. Se tiver tempo e espaço, só lhe restará gozar a fortuna que o poder presidencial lhe proporcionou.

BARACK OBAMA FURIOSO

As vezes acomodar-se no facto de que é o único no mundo causa relaxamento. Quem não gostou absolutamente nada desse agigantar russo foi o Presidente Barack Obama, Presidente dos EUA que viu nesse gesto de Vladimir Putin uma forma de desafiar o seu País que desde o final da guerra fria apresentava-se como o polícia do mundo. Conversas telefónicas entre os dois estadistas foram algumas mas a julgar pela continuação da vontade russa de não ceder quanto à Crimeia, elas não devem ter resultado grande coisa.

MADONNA NAMORICOS

A cantora Madonna, 55 anos, consegue manter a pose, o facturamento e os namoricos seriais com garotões bem ao seu jeito. O actual brinquedinho da cantora é Timor Steffens, 26 anos, holandês de familia marroquina e, para não variar, dançarino. Quer dizer, a mesma profissão do último namorado (o que veio depois de Jesus Luz), com quem Madonna rompeu menos de um mês antes de levar Steffens para esquiar na Suiça. Falta saber por quanto tempo durará essa relação, até porque a cantora parece que se farta rápido dos namoricos.

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CATHERINE SAMBA-PANZA ESPERANÇA NEGRA

A imprensa ocidental apelidou Catherine Samba-Panza, Presidente interina da República Centro Africana, como a ultima esperança negra, numa clara alusão à calamitosa situação daquele País mergulhado num daqueles ciclos infernais de violência que, de fora, poucos parecem entender e, de dentro, tantos correm o risco de não sobreviver, tal é o tamanho da brutalidade. Catherine na sua missão de paz esteve recentemente em Angola e conseguiu um apoio de Angola, estimado em 10 milhões de dólares para acudir a crise humanitária. É uma boa gota de água para ela fazer valer os seus propósitos de pacificação do País. É ela, aliás que diz: «Não quero mais ouvir falar de mortes e assassinatos». Tem razão alimentar essa esperança da pacificação porque ela a esperança, tem de ser a última a morrer.

ANGELINA JOLIE VOCAÇÃO ESTRANHA

A actriz americana, Angelina Jolie revelou recentemente num programa de televisão do seu País, uma inimaginavel e sombria vocação: coordenar cerimónias fúnebres. É dela o desabafo: «Soa estranho, excêntrico (…) mas perdi o meu avô e fiquei muito chateada com o funeral dele. Se esta coisa de actuar não tivesse funcionado, esse seria o meu caminho (profissional)".

JULIUS MALEMA PODER

Julius Malema, ex-líder do ANC que agora criou um partido político na África do Sul nunca escondeu a sua ambição pelo poder.Dono de um poder de mobilização muito forte, embora muitas vezes faça valer o incitamento ao racismo, Malema acredita que nas próximas eleições que se aproximam no País a sua nova força política possa ser bem sucedida. Se o arrastar multidões em comícios populares fosse o suficiente para ganhar eleições, Julius Malema já poderia esfregar as mãos de contente.

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RECADO SOCIAL Carlos Miranda e-mail: carloslopesdamiranda@gmail. com

DESCULPE! AONDE FICA A AVENIDA "NELSON MANDELA"?

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uviu e aprendeu as lições de várias gerações dos mais brilhantes heróis pela liberdade da sua Pátria e muito distante de conhecer as consequências da entrega de corpo e alma à essa mesma luta pela liberdade, dobrou as esquinas da vida,foi julgado e condenado. Na prisão, sempre encarou de frente os seus carrascos, e sentou-se na primeira fila dos prisioneiros que, apesar de todas as sevícias, das permanentes chantagens do regime em relação aos seus familiares, permaneceram firmes, sempre com a negação sólida de uma vida que jamais quiseram para si. Quando foi preso, já lá estavam outros companheiros da longa saga contra o regime, mas todos eles reconheceram o seu prestígio, a sua influência na tomada de decisões do movimento de libertação que conseguia reunir todas as raças em prol da construção de uma sociedade mais justa para todos na África do Sul. Lá fora, por causa desta resistência personalizada neste homem , o regime do Apartheid definhava;sofria as mais duras sanções da comunidade internacional, que dspertou o mundo para a necessidade de se libertar da cadeia todos os presos. Tremia com toda a pressão dos tempos de mudança, do grito pela liberdade do prisioneiro político mais famoso do século passado em Roben Island. Falo-vos, pois, de Nelson Mandela... Os sul-africanos sentiram na pele o sofrimento, o crime hediondo de um dos regimes mais retrógrados do mundo.Os angolanos, os moçambicanos, os zimbabweanos, os tanzanianos, os zambianos, enfim todos os povos da África livre juntaram-se e formaram a "Linha da Frente", justamente para que, unidos numa organização política bem estruturada, fizessem frente à canalhice do sistema implantado na região austral do continente. Perigosamente, o "Apartheid" tentava crescer e evoluia para um quadro de conquistas de territórios considerados por si hostis aos seus desígnios, depois de o terem feito com a Namíbia. O racismo, o poder económico erguido com os braços dos negros oprimidos e escravizados no seu próprio país ameaçava derrubar governos para expandir-se. Tentou espezinhar tudo e todos, mas, como todos os regimes desta estirpe caíu. Angola sempre esteve na linha da frente e os seus dirigentes, com coragem e a dignidade conquistada durante décadas de luta pela liberdade, consolidou as

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suas vontades e tudo fez para ajudar outros Estados para defenderem a sua soberania, a sua independência, o seu direito à uma vida em liberdade e na decência. "Na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul está a continuação da nossa luta!", gritou-se em Angola. É um slogan que na altura impôs respeito, com todas as consequência daí subjacentes. Foram horríveis os danos causados pelas invasões militares racistas sul-africanas desde os primeiros tempos da independência de um país a braços com uma economia fragilizada, mas com um povo coberto de razão e dignidade, pois sabia que outros povos por esse mundo fora, souberam no devido momento abrir as mãos para os combatentes angolanos, formá-los e equipá-los para que finalmente derrubassem o parente, vizinho e mui amigo regime salazarista português. Ultimamamente tem-se falado muito sobre a mudança da toponímia das cidades e vilas do nosso país e isto, provavelmente, levará aos experts na matéria a pensar em se dar um valor acrescentado aos nossos heróis, angolanos, quiçá, estrangeiros, que merecem todo o respeito pela obra que deixaram como exemplo para as gerações do presente e do futuro. Rendámos-lhes,pois, uma justa homenagem. Neste contexto, acho que o nosso governo, o P.R ou a Assembleia Nacional devem "baptizar" uma rua ,avenida, ponte, mercado, praça, largo ou o que for com o nome de Nelson Mandela... Há tempos pedi que alguém localizasse algo em Luanda, mas ao que me pareceu ninguém conhecia. Claro que que não se está aqui a exercer pressão de qualquer espécie para que o governo angolano "baptize" com o nome de Mandela x ou y, se, nos tempos que correm, não temos tido sensibilidade suficiente para que se homenageie à medida da sua dimensão histórica os nossos próprios heróis. Por isso, temos, sim, que fazer o nosso trabalho de casa, redesenhando o quadro dos "baptismos" com nomes de antigos ditadores, déspotas ou líderes que morderam a história, como é o caso de Kadhafi, para citar apenas um exemplo. Acho que devo ter batido nas tecla erradas, mas soube que em qualquer um dos países que fez parte da "Linha da Frente" existem locais de visibilidade pública com o nome de Madiba fixado por todas as razões evocadas no perfil político, humano e mobilizador deste líder africano de grandeza universal. Ele merece!

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O Censo vai mostrar o paĂ­s que somos. E vai ajudar a fazer o paĂ­s que queremos.

Censo 2014



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