- Carlos Cachaça , qual é o seu nome? CARLOS CACHAÇA Carlos Moreira de Castro. - O nde e quando você nasceu?
I1 'I'I~NI~NTI~ 1·I~m;IINTIIII: -1:Â\lII~ I1 I:Â\I~UIS IIÂ\ I:Â\I:HÂ\l;Â\ ? I~ I~III Â\SSIÂ\\ I~III~ I~II~III~I I:Â\I~I.IIS I:Â\I:HÂ\I~Â\. CARLOS CACHAÇA - Aqui mesmo e m Mangueira , no d ia 3 de ogosto de 1902, - Por que os seus pais vieram morar e m Manguei ra? CARLOS CACHA ÇA - Meu po i era luncionári o da Central do Brasi l. A Leopoldina const ruiu vórias ca sas para os seus func ionários aqu i em Manguei ra e a lguns funcionár ios da Centro l do Brasil tiveram o di re ito de mo ra r nelas também, - Mas as ca sa s não e ram no morro. CARLOS CACHAÇA - Não, eram embaix o, ao lado da linha do trem, Depois é que vim morar no morro , com o meu padrinho , To mós Martins. que fo i o fundador do Morro de Mangueira . Pouca gente sabe disso. - Com q ue idad e você estava quando fo i morar no morro? CARLOS CACHAÇA - Oito an os. M eu pa drinho era um português que t in ha ca sa s no morro e a lugou. O s terrenos era m do Soiõo Lobato, mas que m constru iu as prime iras casas fo i ele. A história não con ta isso , não sei por q ue. O lundador da Favela de Mangueira loi meu padrinho, Tom ás Martins. - Eu não sabia disso , não. CARLOS CACHAÇA- Deu-se a té uma história interessante . Ele não sabi a ler e eu , com dez anos de idade , é que assinava os reci bos dos alugu é is. Isso era pro ibido , mas e ra eu que assinava : "por Tomós Martins , Carlos M oreira de Castro". Hó pouco tempo, uma senhora de uns noventa anos fa lou co migo que encont rou nos ve lhos papé is da ca sa dela uns reci bos desses assinados por m im. - Ele vivia dos a lugué is? CARLOS CACHA ÇA - Não , ele tinha negócio de tran spo rte. A s prime iras ca sas fora m alugadas para os empregados dele. Aqui não havia rua , havia um ca minho. E um pa sto para bois. cava los, etc. Ele até ajudou a a larg ar o
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cam in ho pa ra que a s sua s carroças passa ssem. Eram carroça s pu xa da s a burro. - E nos dia s de ca rnaval, como e ra a Ma ngue ira? CARLOS CA CHAÇA - Be m , o pr imeiro gr upo carnava lesco do morro foi um rancho chamado Pé rolas do Egito. Não e ra um ranc ho mu.ito numeroso porque a popu lação daqui e ra peque na. Mas e u me lembro que havia bon s ca nto res no rancho . - Que tipo de música que era ca ntada pelo ra ncho? CARLOS CACHA ÇA - Eram marchas de rancho , mesmo. - E hav ia samba no morro ? CARLOS CA CHAÇA - Não. Qu em t rouxe o samba para M angueira fo i Eloy Ante ro Dias. - Como foi que aconteceu isso ? CARLOS CACHAÇA - O Eloy e ra de Dona Clara , 16 e m Madu rei ra . Ele aparecia aqu i no rancho Péro las do Eg ito e ca ntava um sa mba que e u nunca mai s me es queci : O Padre diz M iseré M isere ré Nobis O resto era m improvisos : Amanhã vou na ca sa de Tia Fé Vou tom a r café Eram coisa s assim. M e lembro que Mano Eloy canto u pe la pri mei ra vez na ca sa de Ti a Fé , qu e e ra avó do Sinhozin ho, atual presi de nte da nossa Estação Primeira de Mangueira . O samba começou na cosa de Ti a Fé , depois é que foi para o Buraco Qu ente, o~d e fo ram fu ndados depois dois ranchos. Não e ra m bem no Buraco Qu ente. Um e ra ló em cima , na cas a da Sa ntinha , e o ou tro no Buraco Qu e nte , chamado Gue rre iros da M on tanha. Não e ra be m um rancho , era um cordão. - Em qu e época que havia esses ra nchos e m Manguei ra?
CARLO S CACHAÇA - 19 10. M e le mbro por cau sa da revol t a de João ClIndido na Mari nha. M a is tarde é que surgi u o Prfncipe da Floresta , também um ra ncho que era chamado no inicio de Pr fnci pe das Mat as. Qu em f undava esses grupos em Mangueira? CARLO S CACHAÇA Eram as lamrl ias, e ram grupos fam iliares . Eram os chefes das ca sas que criavam. - Foi Tia Fé que lundou o Pé rolas do Egito? CARLO S CACHAÇA - Foi. - Como é que e la e ra? CARLOS CA CHA ÇA - Era uma crioula , ti po baiano. Aliós, não era baiana, e ra m ineira . Mas se vestia com roupa de baiana. Ela andava assi m diaria me nte . - O que é que Mano Eloy vinha lazer aqui? CARLOS CACHAÇA - El e tinha uns am igos na M anguei ra , a Tia Fé , o pessoa l. E vin ha sempre com seus amigos de Don o Clara, como o Ped ro Moleque. Pedro Lamban ça e outros. Na época , depois do Estáci o , e ra em Do na Clara que havia os melhores e lementos de pa rt ido alto. O s grand es sambista s da é poca e ram de 16 e do Est6cio . - Em Mangue ira, quais fo ram os prime iros ? CARLOS CACHAÇA - Be m , aqu i loram surgindo aos poucos. O A rt ur e o Anton ico , po r exemp lo , começaram um pouco depois. O An tonico foi o prim e iro camarada que v i botar segunda parte no samba. - O A rt ur e o Anto nico vi e ram de onde? CARLOS CACHAÇA - Do Estáci o. - Che garam depois de você e m Mangueira? CARLO S CACHAÇA - Mu ito depois. Quando chegaram/e u jó e ra ho mem fe ito . Eram quatro irmãos: Art ur, Rubens, Antonico e Sat urnino. - O Saturnino Gonça lves , primei ro presiden te da Estação Prim e ira ? CARLOS CACHA ÇA Ele mesmo. Era m
N.\SI~I~ 11 1~\l~III~II~11 111'1~~~\l111 NII .\I~SI~N.\I. Im .\\.\I~INIL\. todos irmãos. -
Muito antes de surgir a escola de samba
jó havia bastante samba aqui em Mangueiro , não havia? CARLOS CACHAÇA - Havia , sim . Depois o ne gócio fo i tomando corpo . Aqu e les blocos
todos que foram nascendo, cantavam samba. Tia Fé, Tia Tom ósia, Mestre Candinho, todos t inham o seu bloco. Eram blocos familiares. - Você sala naqueles blocos? CARLOS CACHAÇA - Sala. Eu tinha uma fanta sia de Caboclo Caramuru. Era um saiote branco, com uma cruz encarnada no pe ito, outra na s costas , um capacete co m t rê s penas e safa por aI. Eu tinha uns 12 anos na época. Saia em todos. Nos Guerreiros da M on tanha , no Trunfos de Manguei ra . e m todos. Me lembro be m da fanta si a . Era de morim. Tinha também um arco e um escu do e um machadinha. - Daqui da Mangue ira, qual foi o primeiro a
fazer samba? CARLOS CACHAÇA - Fui eu . M e lembro até de um samba meu que falava do pessoal do morro : Qu e harmonia ló em Mangueira Que dó prazer Para se brincar O Laudelino No seu cavaco Fazendo coi sa s de adm irar E de repente forma o enredo Q ue até causa sensação O Armandinho chega de flauta Allpio sola no violélo Falta o Otóvi o Que nélo fa lei Falta Ari stides. falta Marti ns Falta Simélo Na mesa de Umbanda Falta Pedrinho no tambori m
Qu e harmonia ló em Mangueira Qu e dó praze r para se brincar E ia por af. A gente ia improvi sando, de maneira que não me le mbro de tudo. --Você se lembra mais ou me nos da época des se samba? CARLOS CACHAÇA - 1923, 24, por 01. - Você começou a faze r samba e m Mangueira antes do Cartola , po rtanto? CARLOS CACHAÇA - Comecei . O Cartola começou depois. Antes da turma toda , do A rtur, do Antonico , do Gradim , é ramos eu e o Cartola. - Mas na é poca da fundaçélo da Escola de Samba Estação Prime ira de Mangueira você não estava presente . CARLOS CACHAÇA - De fato , nélo estava, não . Eu estava morando fora. Mas logo depois vo ltei para a Mangueira . - A partir de quando que você foi descoberto como co mpos itor pelos jornais? CARLOS CACHAÇA - Bem , no carnaval de 1934, eu fiz aque le samba Homenagem , considerado o primeiro samba - e nredo. Q uando ent rei num concurso de compositores de escolas de samba , quatro anos depois, em 1938, promovido pelo jorna l A Pófria, ganhei justamente com aquel e samba. Eu fazia uns sambas patrióticos - PÓ trio querida , por exemplo - que provocavam um certo coment6rio, de maneira que me u nome ia sé espalhando por ai. Tem outra coisa que mu ito pouca gente sabe : o pri me iro pandeiro oitava do quem fez foi o Arturzinho, aqu i de Mangueira. Ele traba lhava no Arsenal de Mari nha, de manei ra que t inha facilidad~ com oficina , essas coisas. - Você també m freqüentava a casa do Zé Espinguela? CARLOS CACHAÇA - A casa dele no Enge nho de De ntro? Freqüentei mu ito. - Você estava na casa dele quando foi fe ito
aquele concurso entre compositores? CARLOS CACHAÇA - Estava. Quem ganhou foi o Heitor dos Prazeres. De poi s fizeram um outro concurso na Ca chopa , que e ra uma espécie de gafieira que o Eloy Antero Dias tinha 16 e m Modure ira . Não me le mbro co mo fo i que te rminou , não. Me lembro que a Mangue ira ia ganhar, hou ve uma confusão danada , até briga. - O Eloy estava em todas, hem ! CARLOS CACHAÇA - Ele era um cara muito importante na história do samba. É uma pena que é pouco lembrado. - Ant igamente, quando as escolas de samba não tinham microfones, havia uns cantores de vozes mu ito fortes que pu x avam o samba no meio da multidão. Na Mangueira, quem eram esses caras? CARLOS CACHAÇA - A cho at é que a Ma ngueira foi a pri meira a te r esses cantores, esses te nores. Tinha o Malvadeza , o Alfredo Turi Turé , o Zé Ca sadinho, o Fiúca,-cada cantor que valia a pena ouvir. - Esses can tores geralme nte eram enca rregados também da improvisação no te mpo em que os sambas não t inham segunda parte. A escola toda cantava a primeira parte e depois eles improvisavam. O s cantores de M angu e ira eram bons im provi sadores? CARLOS CACHAÇA - Eles e ram ótimos improvi sadores. O Fiúca e o Zé Ca sadinho e'ram os principes da improvisação. - Você chegou a ocupar postos de di reçélo na Estação Prim e ira? CARLOS CACHAÇA Cheguei. Fui vicepresidente no tempo Barra Mansa . - O Barra Mansa fo i presi dente? CARLOS CACHAÇA - Foi. Ele era dono de um armazém aqui e m Mangueira. Ele agora é falecido. O nome dele e ra Albe rto Francisco do Nasci mento.
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- Quais eram o mestre-sa la e a porta-bandeira do Mangueira no fundação? CARLOS CACHAÇA - Arlindo e Raimundo. Depois do A rlindo é que veio o Marcelino, o Maçu . - Qual é a dilerença da dança do mestresa la e da porta -bandeira de antigamente para os de hoje? CARLOS CACHAÇA An tigamente havia mais cadência. A coreograf ia era mais armada, mais estudada. -Hoje, os pas sos são mais improvisados. Você pode ver que hoje di fi cilment e o individuo repete o passo anterior. É quase tudo inventado. Ant igamente, não. O camarada t inha que saber o tempo, por exemplo, que ele tinha que f azer determinada coisa enquanto a porto-bandeira rodava par o que, quando os dois voltassem a se juntar, estivesse tudo direitinho. Era tudo dentro da cadência. Era como se houvesse uma coreografia escrita. Isso tudo era levado em conta porque, mesmo quando não s~ ju lgava o mestre-s ala e a portabandeira, eles eram vigiados pelo pessoa l da coso. O s criticas eram os companheiros do própria escola . - Quais eram os maiores mestres-salas de antigamente? CARLOS CACHAÇA - Havia o Buldogue, da Saúde, e o Getúlio "Amor" M arinho, de Bento Ribeiro. O Buldog ue era um mestre-sa la que fa zia um passo aqui e ia repeti- lo 16 em baixo. Era muito cadenciado. Ele co nhecia os passos do mestre-sa la . Você freqüentava também os ou tros r edutos de samba ou só f icava pela Mangueira mesmo? CARLOS CACHAÇA Puxa , eu vivia na Vizinha Faladeira, Sa lgueiro, Est6cio, em todo lugar! Q uantas vezes eu dormi no Morro do Salguei ro , na casa do Calça Larga, do Gargalhada, do Buruca ! Você sabe que eu ia comemorar 16 as vitórias do Mangueira? Enchi a o cara e ia pro Salgueiro ou para outro lugar. N a Portela, mesmo, eu fiquei 16 muitas vezes. Noutro dia mesmo, o Betinho, que é detetive, estava lembrando esse tempo. Eu' vivia em t udo que é lugar, nunca houve confusão comigo. Quando venci o concu rso de samba, em 1938, fu i festejar no Tuiuti. - Mas você não defendeu a Mangueira? CAR LOS CACHAÇA Delendi, mas l ui beber no Tuiuti. Fiquei 16 até às nove horas do manhã. N ão tinha negócio de matar, de morrer, nõo tinha nado disso. - Quais eram os cama radas bacanas de an tigamente, camaradas que te dão saudade? CARLOS CACHAÇA - Fora do Mangueira? Ah! Tenho que destacar muitos. O Antenor
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Gargalhada , do Salgueiro, po r exemplo. O Pau lo da Portela , o Buruca, o Vadinho do Tu iuti, grande composi tor. Ninguém 1010 no Vadinho. Ele tem o br a s i mportantissimas, nunca gravaram um samba desse rapaz , nunca falaram dele. - Ele est6 vivo? CARLOS CACHAÇA Estó. Ele tem cada samba lindo! Sabe que uma vez na Praça Onze a Mangueira parou de contar o samba d e la para cantar o samba dele? O samba que ele f ez para o Tuiuti foi cantado pela Mangueira ! Um camarada de Mangueira qu e tenho saudade é o G r adim. Era um cama rada fenomenal. Ele tomava umas canas mui to boas! Na época da maré braba, a gente saia por ai para vender samba. O Saiaco era o secret6rio do Francisco Alves e e ra o e ncarregado das co m pras de sam ba. Tudo que era do Gradim, ele comprova. Era tudo bom! O Fran cisco A lves ficou com não sei quantos sambas do Grodim sem gravar. Às v ezes , os sambas dele só ti· nham a prim e ira parte e e le m e pedia para coloca r a segunda. A gen t e saia andando a i por dent r o , toma ndo umas canas, até o Est6 cio, onde morava o Saiaco. Quando cheg6vamos 16, a segunda parte do samba est ava pronta . - O próprio Saiaco pagava? CARLOS CACHAÇA - Ele mesmo. Depois o Fr ancisco A lves reembo lsava. - Como é qu e foi o concurso que você ven· ceu? CARLOS CACHAÇA O jorna l A Pótria publicava um cupom com a pe r gunta: " Q ua l é o m e lhor compos it o r de ,e scola de samba ?" Os fãs dos com positores. ou a própria escola a que e le pert'e ndo,. recort av am, preenchiam e env iava m para ,a r edação do jorna l. O s dez m a is votados seriam <escoJhjdos para d i sputar a f inal na Feira d e Amostilia,. N a época e m que eu fui condidatq, houvs uma briga na M angueira en· t re o Pedro Po lhet a .e .outros diretores. - O Pedro Po lhel a i ó era o presidente? CARLOS CACHAÇA- Er a. Por causa disso, a escola n õo mondou \o.s \vo.tos que e ram para m im _ Mas lO d i lne'Jor d o i orna l, o Antenor N o_ . peroebe" isso_ IÉ 'q ue o Pedro Pa lheta vioiou e Isvou os m e;u.s 'lYot o.s t odos. O Antenor Nowue:s deu u m ,a Glide fiT.1: a M angueira não pxIe m ltur 0 0 I()G:rnoc.rr.SG~ A li , 50i aquele negócio de Ir1E'OOif1I'a:.r \\i'D JOS tp:na rnTm dentro da red ação. liler:Olll m vGJili'l c 5:Clliióie:m'te [para eu ser um dos cdIE!Z primmai iT\GS col o:cadas (e entr ar no concu rso db:a lFeiTU GE! Ammstlna. lFtu'i (o décimo mais "vo· ~-'-
- IE rrnIl) dilil d .G II!Gmou r:s.o ? CA!lliI.OS CA'ClHIi/\IÇlA Não loi ninguém da ~i:nm.. ~e.m crlI a ((iJ'i.netoria, nem compo-
sitores, nem nada . Nem Cartola , nem A loisio, ninguém. A Feira de Amostra estava lotada , pois a e ntrada era gratuita. E estavam concor r e ndo comigo todos os co bras das outras escolas de samba . E não havio m icrofone, era só na acústico. Eu com essa vozinha, com o é que eu ia fa ze r ? O Eloy ainda fez cam panha contra mim. Toda a vez que a gente se encontrava , d e pois, e u falava com ele :"você m e envenenou perante a comissão , hem!:' Isso a ca bou se t ransformando em brincadeira nossa , nós é ram os muito amigos. - O que l o i que ele lez? CARLOS CACHAÇA - Ele co mentou co m o pessoo l da comissão que e u estava bêbado. E eu não t in ha bebido nada! Mas e u pe gue i uns poucos manguei renses que havia por 16 e fu i pedindo pro me ajudar. Pegu e i o Sabaú , compositor, e pedi a e le ' pro me acompanhar no cavaquinh o. Peguei o Pelado, com positor. .. - O Pe lado, esse que a inda est6 na Mangueira? CARLOS CACHAÇA - Ele mesmo. O Pe lado é velho, o que é qu e você es tó pensando? Ele tem mais de 60 anos. Naque la época era ainda um rapazinho. Peguei também alguns ca maradas d e outros lugares e pedi pro me ajudar cantand o co m igo. Apresentei Homenagem, o sa mba que a Mangue ira ca ntou no carnaval de 1934. - E o resultado, co m o fo i? CARLOS CACHAÇA - Eu lui o últ imo a can tar. Fui muito aplaudido, mas o m6ximo qu e eu son hava era um sétimo lugar. Não podia vencer aqueles cob ra s, nas circunstOnc ias e m que m e encontrava . Depois que cantei, veio o resultado. Os classificados era m apresen ta dos no ordem decrescente. Décimo lugar, Fulano. Pensei : sou o nono. Não tenho nem dúvida. N o no lu gar, não sei quem 16 do Salgueiro. Então, o o itavo luga r seria meu . Oitavo lugar era outro . Desconfiei Que ia ficar em sétimo, mas o sétimo também era ou tro. E assim f oi. Quando anu nciaram o sex t o lugar, j6 me co nsiderei vitorioso. Chega r em quinto lugar naquela situ açõo para mim j6 era uma vitória. Mas não fu i o quinto também. Q uando anu nciaram o Mau rílio do Tui uti em segundo lugar, eu quase desmaiei. O Maurilio e ra favorito pelo samb a e pela voz. A letra do samba de le era até do Vadinho. Mangueira ganhou ! - E você sozinho, sem ninguém da Mangueira . CARLOS CACHAÇA Foi mesmo. S6 o Babaú no cavaquinho e o Pelado no pandeiro. Os outros todos organizados, com conjunto e tudo. A Portela toda muito bem vestida, na modo, com elegância .
- o Paulo era muito exigente com a roupa. CARLOS CACHAÇA - Se era! Tinha até de polaina! - Polaina? CARLOS CACHAÇA Palaina ! Tinha até sapateadores no conjunto do Portela. Mas o Maurllio, apesar de favorito e derrotado, gostou muito da minha vitória. A festa acabou ló pelas quatro da manha e ele falau comigo: "Vamos comemorar no Tuiuti , nao va i para a Mangueira, nao". Eu fui. O Tuiuti é aqui ao lado da Mangueira e eu sempre gostei muito do Tuiuti, de maneiro que fui pra ló. Fomos pra ló e passçunos por uma leiteria que havia no Largo da Cancela, cujo dono era diretar do Paralso do Tuiuti. Ele tinha deixado a leileria aberta para comemorar a vitória do Maurllio. Chegamos ló e o Maurllio fo i falando: "Quem venceu foi o Carlos Cachaça, mas é a mesma coisa". Cheguei na Mangueira às nove horas da manha.
- E como é que surgiu o seu apelido de Carlos Cachaça? CARLOS CACHAÇA - Noutro dia, um jornal contou que meu apelido nasceu em Mangueira porque eu pegava uma cana violenta. Realmente, sempre bebi muito, mas meu apelido não nasceu aqui em Mangueira, não. Havia no antiga Ruo Senador Euzébio, na Praça Onze, um tenen te do Corpo de Bombeiros chamado Couto. Tenente Couto. Todos domingos iam pra ló o COndido das Neves, o Uriel Louriva l, o Nonô pianista, o Baiano, que tocava saxofone, um grupo assim. Eu também ia. O Couto tinha três filhas, que todo o mundo queria namorar. Ele era mu ito folgazao, gostava de cantar, aquela coisa toda. Quase todos os domingos era fe ijoada com cerve ja preta. A cervejaria era ali mesmo na Praça Onze. Toda vez que vinhÇl a cerve ja, eu recusava : "Não , obrigado. Eu quero uma cachaça, uma cachacinha". E no grupo que freqüentava a casa dele, havia três pessoas com o nome de Carlos. Quando eu demorava a chegar ou não ia , o Tenente Couto perguntava: "Cadê o Carlos?" "Estó ali", respondiam . "Nao , nao é aquele, nao . ~ o da cachaça. O Carlos Cachaça" , E foi assim que fiquei Carlos Cachaça. - O Geraldo Pereira chegou' a pertencer à Estaçao Primeira?
CARLOS CACHAÇA - Nao, ele foi da Unidos de Mangueira. Acho que só sa iu uma vez pela Estaçao Primeira, a convite do Manoel da leiteria, representando o Cabo Laurindo. - E o poeta Carlos Cachaça, como foi que surgiu? CARLOS CACHAÇA - Eu sempre tive mania de escrever versos, de rimar, 'essas coisas. Algumas vezes, os versos foram musicados, outras vezes, nao. O Hermlnio Belo de Carva lho jó quis até publ icar um livro com meus poemas. Geralmente, meus poemas foram feitos por causa de um fato real, quase nao têm fantasia. - Você ficou ligado à escola de samba até . quando? CARLOS CACHAÇA - 1949, por ai. Não me afastei inteiramente, mas depois de 49 nao ero como antes. Em 1948, eu e Cartola f izemos o samba-enredo da escola, Vale de SBo Francisco. Depois, jó em 1960, 61 , po~ ai, tantamos incentivar a turma da velha guarda da escola , mas não conseguimos muita coisa . Mas eu acompanho a Mangueira. Torço por ela, quero que ela vença todos os carnavais. - Você se chateia com as modificações que foram introduzidas nas escolas de samba? CARLOS CACHAÇA - Nao, eu gosto delas. Tudo tem qüe se transformar.
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radores do morro.
o
ano de 1934 começou com ameaça de desaparecimento de algumas das melhores escolas de samba da cidade: é que um italiano chamado Emilio Turano, alegando que havia comprado o Morro do Salgueiro por vinte contos de réis, entrou com uma ação na Justiça pedindo a destruição de todos os barracos ali
construidos, com o despejo de sete mil mo-
Comandada por Antenor Santlssimo de Araújo, o Antenor Gargalhada, a Escola de Samba Azul e Branco assumiu a luta contra Turano, contratando o advogado João Luiz Regadas para defender os moradores do Salgueiro. No dia 8 de janeiro de 1934, o juiz da Terceira Preteria Cível, Nelson Hungria, deu ganho de causa ao pessoal do morro. No dia 20 de janeiro, as grandes sociedades,
ranchos, blocos carnavalescos e escolas de samba fizeram um desfile no Campo de Santana em homenagem 00 Prefeito Pedro Ernesto, numa promoção do jornal O Poiz, com ingressos pagos. A rendo seria assim disfribufda: 35% para as grandes sociedades; 30% paro os ranchos; 25% para os blocos; 7% para as es· colas de samba e 3% para o Andarai Clube
Fundada no dia 6 de setembro de 1934, uma das primeiras lutas da União das Escolas de Samba foi a oficialização do desfile das escolas, pela qual elas passariam a ostentar o mesmo status adquirido pelas grandes sociedades, pelos ranchos e pelos blocos carnavalescos. A então Prefeitura do Distrito Federal, desde 1932, quando Pedro Ernesto passou a ser o prefeito da cidade, jó ajudava algumas escolas de samba, mas o Presidente da União, FI6vio Paula Costa, queria siste· matizar a ajuda, mediante o pagamento de subvenção para todas elas, através da entidade que presidia. Flóvio, um crioulo de cabelo esticado e bem falante, manifestou a sua intenção em carta que enviou ao Prefeito Pedro Ernesto, no dia 30 de janeiro de 1935, escrita num estilo bem pomposo, dada a importOncia do destinat6rio. Eis a carta, transcrita exatamente como FI6vio Costa a escreveu: . "A União das Escolas de Samba, organização nova, que vem norteando os núcleos onde se cultiva a verdadeiro músico nacional, imprimindo em suas diretrizes o cunho essencial de brasilidade, para que a nossa m6xima festa possa aparecer aos olhos dos que nos visitam em todo o esplendor de sua originalidade, amparando mesmo a iniciativa que partiu do Diretoria de Turismo, em tão boa hora criado por V. Excia., de fazer reviver o nosso carnaval externo, que traduz em toda a alegria sã dessas aglomerações que se realizam sob a admiração dos turistas, dentro do m6ximo espfrito de ordem, uma vitória que engrandece o povo carioca. A par da finalidade carnavalesca, realizamos, como é do conhecimento de V. Excia., uma obra de saneamento, porque protegendo os verdadeiros autores que até então eram explorados pelos inescrupulosos. Viviam eles encantando, com suas melodias sem par, a população em beneficio de terceiros. Melhor amparados, melhor estimulados, j6 conseguem ser autores de suas composições . Até o momento aguardamos para nos dirigir a V. Excia., o palavra de ordem de vosso· departamento oficial.
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Carnavalesco. Generosamente, os escolas abriram mão de sua cota para as grandes sociedades. Dezessete escolas de samba inscreveram-se para o desfile, que contou com um júri inte· grado pelos jornalistas Francisco Neto, Floriano Rosa Faria, Jota Efegê (João Ferreira Gomes). Venerando da Graça e Antônio Veloso. Este júri classificou apenas três escolas: o Estação Primeira, Vai Como Pode (Portela) e a Deixa Falar. E explicou: "A comissão classificou a Estação Primeira pela sua excelente harmonia, tendo executado perante o júri um samba de grande efeito e ritmo vocal. A segurida classificada por ter apresentado seu conjunto em formo c;aracteristica de escola de samba. A Deixa Falar foi classificada pelo entusiasmo, garbo e evo-
Com os cortejos jó em confecção e tendo sido solucionada a questão das pequenas sociedades, vimos patente a vontade dos·poderes públicos em nos auxiliarem, do que nos aproveitamos, dirigindo a V. Excia. o presente memorial. Explicadas que estão as finalidades desta agremiação, sob vosso patrocfnio, composta de 28 núcleos , num total aproximado de 12 mil componentes , tendo uma música própria , seus instrumentos próprios e seus cortejos baseados em motivos nacionais, fazendo ressurgir o carnaval de rua, base de toda a propaganda que se tem feito em torno da nossa festa m6xima. V. Excia., antes de mais nada, é o nosso am igo de todas as horas. Não faremos questão em torno do presente,porque qualquer que seja a solução, estamos certos do esclarecido espirito de eqüidade com que V. Excia. sempre norteou vossos atos. Subvenção só é por nós interpretada como incentivo e não para custear o carnaval, porque este é espontóneo. Feitas estas considerações, embora os nossos conjuntos, quer em tamanho, quer em preço, se rivalizam com os dos ranchos, colocamos sob vosso orbitrio a subvenção de ajuda, que como conhecedor do meio, tomo a liberdade, mais para orient6-lo, deve ser esta o mais breve possivel. Incentivando os trabalhadores que esta diretoria vem procedendo, V. Excia. nada mais faz que continuar o programa de amparo social, cujo repercussão, nós que vivemos nas classes menos favorecidas , auscultando as opiniões dos que mais precisam, garantimos a V. Excia. que estas lhe são de inteiro apoio". A resposta do Prefeito Pedro Ernesto nClo demorou muito. Três dias depois, ele assinava o seguinte decreto: "Artigo Único - Os auxilias às escolas de samba para ~xibição no carnaval, quando concedidos a jufzo da Administração, serõo entregues à União das Escolas de Samba, que os distribuiró equitativamente pelas suas federadas, sujeitas, porém, à fiscalização por parte da D iretoria Geral de Turismo que, para isso, regjstrar6 a lei da União". O funcion6rio Elias Sarquis foi encarregado pela PDF de fiscalizar a aplicação do subsid io. O Prefeito Pedro Ernesto foi. de fato, um grande am igo do carnaval
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luções do seu conjunto". No domingo de carnaval, o jornal A Hora promoveu um outro desfile no Stadium Brasil, mas a Mangueira não quis desfilar, pois as es· colas vencedoras seriam apontadas pelo voto popular. Explicou o presidente da escola. Saturnino Gonçalves: - Não que a Estação Primeiro tenha medo da popularidade, pois temos certeza de que o povo carioca reconhece o valor do Escola de Samba do Morro de Mangueira, que é bicampeã, titulo adquirido em júris oficiais. Ainda este ano, no dia 20 de janeiro, o nosso bloco submeteu·se a uma provo, onde também con· correram 15 escolas, tornando·se vitoriosa. Ninguém poderó dizer que houve cambalacho, pois não conhecemos um só dos membros da Comissão Julgadora. Diante desses fatos, não
poderemos. de formo alguma, por nosso titulo, ganho à custa de tantos esforços, à mercê de um plebiscito popular, onde por certo venceró aquele que tiver mais torcida. Compreendemos perfeitamente que não temos o privilégio de sermos eternamente campeões, mas é justo e admissivel perdermos na mesmo conduta que ganhamos; isto é, mediante o veredito de um júri criterioso. Por isso, a Estação Primeira só participaró de concursos que tenham uma comissão julgadora que seja composta de juizes nacionais ou estrangeiros, contanto que os membros entendam de literatura , poesia e música. Só nestas condições o bloco que presido poró em jogo o seu titulo de campeão. A Mangueira não participou e os promotores resolveram fazer o desfile sem escolher es· colos vencedoras.
carioca em geral e das escolas de samba em particular. Por isso, foi um dos homens públicos mais queridos pelos grupos carnavalescos, até mesmo depois da sua morte. Em 1955, foi homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, dentro do enredo Epopéia do sambo. A amizade entre Pedro Ernesto e os escolas de samba era alimentado também por um dos principais assessores do prefeito, o diretor de Turis· mo, Alfredo Pessoa, que foi um dos primeiros homens públicos a veri· ficar que as escolas poderiam ser úteis ao governo, como atraçeio turis· tica, Isso ficou evidente num folheto colorido (vermelho e ouro). distriburdo em 1935 pela Diretoria de Turismo, visando, principalmente, aos turistas argentinos (dar a redação em espanhol), no qual pela primeira vez as escolas de samba eram citadas como atração turfstica : "La Ciudad de Rio de Janeiro ofrece un espectóculo inédito durante su carnaval. Ya sus bellezas naturales deslumbran ante los ajas de todo el mundo por la originalidad de sus paisajes, de sua montarias y de su her· mosa Bafo de Guanabara, que es incomparab le. Todo eso serviendo de cuadro o un pueblo que enloquece de alegria y entusiasmo. ao son de la música y canciones proprias, originalfssimas, en los dias de Carnaval. Venid, pues, a Rio de Janeiro para asistir a los bailes populares, a las ex· pansiones en las calles, 01 desfile de los grandes clubes y caravanas de las pequellas sociedades, centro y escuelas de "samba"! Venid ... ! Si! ...Venid a ver lo que ta lvez nunca visteis , para confundirlos con nosotros en eso agradoble, fraternal e incomporable locura, que es privilegio nuestro, bien nuestro y de nuestra encantadora Ciudad - Rio de Janeiro - la Ciudad luz y placer". Apesar do simpatia com que a Prefeitura encarava os escolas de som· ba, a Diretoria de Turismo não atendeu, porém, ao pedido formulado pelo Presidente Flóvio Costa no sentido de que o desfile das escolas fosse realizado na principal via da cidade, a Avenida Rio Branco. Flóvio e um repórter do jornal A Nação (designado pela Diretoria de Turismo para promover o desfile de 1935), procuraram o Sr, Alfredo Pessoa para reivindicarem a Avenida, mas receberam um não. O jornal A Noção as· sim registrou a resposta do Sr. Alfredo Pessoa: "Para os meus amigos das escolas de samba, em quem reconheço uma verdadeira potência carnavalesca, tudo tenho feito e tudo farei no medida do possivel. Quanto 00 caso de se realizar o seu concurso na
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Antes do carnaval, os dirigentes das es· colas de samba começaram a preparar a criação da União das Escolas de Samba, que s6 seria fundada no dia 6 de setembro. Por proposta de Nicanor Vieira Borges, da Escola de Samba Prazer da Serrinha, foi eleita a primeira diretoria da entidade, assim cons· titulda: Presidente, Flóvio de Paula Costa (Es· cola de Samba Deixa Malhar); Vice·Presidente, Saturnino Gonçalves; 1? Secretário, Jorge de Oliveira (Escola de Samba Depois Te Explico); 2? Secretório, Getúlio "Amor Marinho" (Fale Quem Quiser); l? Procurador, Pedro Barcelos (Prrncipe da Floresta); 2? Procurador, Luiz Gonzaga (Paraiso do Grotão); 1? Tesoureiro, Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Por· tela; 2? Tesoureiro, José Belisório (Prazer da Serrinha).
Avenida, tenho impressão de que o mesmo deve ser realizado na Praça Onze, o lugar tradicional dd sambo, seu verdadeiro reduto, para que não sofra modificações do ambiente. Mas não é esta a razão mais forte. Teria prazer, se possfvel fosse, de proporcionar·lhes o desfile na Avenida. Mas os embaraços que isso causaria ao trófego, justamente no mesmo dia em que é possivel a realização do corso; umo das modalidades também interessantes do cor· naval carioca, seriam tamanhas que quase tornaria impossivel sua realização". E o desfile foi realizado mesmo na Praça Onze , onde a Portela conquis~ tou o seu primeiro titulo de campeã: obteve 150 pontos de uma comissão julgadora integrada por Reinaldo Barbosa, Nicornélio Batista, B. Luz, José Gomes da Costa e Ismael Silva. A Estação Primeira de Mangueira tirou em segu ndo lugar com 148 pontos; Prazer da Serrinha em terceiro com 13B, Vizinha Faladeira com 128 e a Unidos da Tijuca em quinto, sem que fosse divulgado o total de pontos conquistados. A Portela conquistaria mais um titulo em 1935, ainda por intermédio do jornal A Nação, que promoveu o concurso "Qual é o melhor com· positor das nossas escolas de samba?". Iniciado logo após o carnaval e se estendendo até iunho, o concurso foi feito através de voto. O jornal publicava diariamente um cupom a ser pree'1chido pelos eleitores que o preenchiam e o enviavam para a redação do iorna l. Paulo da Portela venceu com 44.709 votos, seguido de Armando Marçal (Recre io de Ramos), com 33.457 e Nilo Fonseca (Em Cima da Hora , do Catumbi), com 12.259 votos. Entre os nomes famosos que receberam votos, estavam os de Raul Marques (União Barão da Gamboa). que chegou em sexto lugar com 2.944 votos; Antenor Gargalhada (Azul e Branco do Salgueiro). em 22? lugar com 127 votos e Cartola (Estação Primeiro de Mangueira). em 33? lugar com dois votos apenas. Armando Marçal, um dos campeães do carnaval de 1934,com o samba Agora é Cinza, aceitou o resultado final com elegllncia, embora tenha passado quase todo o concurso na liderança, só cedendo o primeiro lugar nas duas últimas apurações. Disse ele: - Foi merecida a vitória de Paulo da Portela e qualquer outro nao espelharia tão bem a verdade. Paulo é um rei que agora conquistou o trono a que tinha direito há muito tempo.
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«J Cartola
Reunidos na sede da Uniilo das Escalas de Samba, os dirigentes das escolas decidiram criar a ligura do Cidadila Samba - um sambista que,durante tada a ano de 1936, seria a slmbala de tadas as escolas de samba _ O Conselho Deliberativo da Uniilo nomeou uma comissOo para elaborar o regulamento da escolha do Cidadilo Samba, que licou constitulda por Manoel Fagundes, da Escola de Samba Depois Eu Digo; Waldir Ramos, da Nilo .é o Que Dizem, e AntOnio Martins, da Deixa Malhar_ O regulamento loi este: - ~ necessório que o Cidadilo Samba seja do convivia do morro. - ~ preciso que o Cidadilo Samba prove com documentos hóbeis a sua conduta. - O Cidadilo Samba deve saber tocar pandeiro, puxar culce. bater tomporim e surdo. ~ necessório que o Cidadilo Samba apresente três composições suas. A comissilo decidiu também escolher o traje com que o Cidadilo Samba deveria aparecer em suas apresentações públicas: calça de Ilanela creme, com boca de sino. Camisa de seda branca. Chapéu de palha, de abas curtas. Sapatos de cor bege e salto carrapeta. No dia 13 de levereiro, Eloy Antero Dias, o Mano Eloy, representando a Escola de Samba Deixa Malhar, loi eleito Cidadilo Samba com os votos de 17 escolas de samba, contra os de 14 que apoiaram a candidatura do compositor Cartola, da Estaçilo Primeira de Mangueira. Eloy Antero Dias lez o seu desfile pelo centro da cidade, depois do qual voltou para o Itajubó Hotel, onde licou hospedado por conta da Unillo das Escolas de Samba.
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Ainda em 1936, um grupo carnavalesco liderado pelo comerciante e escritor teatral João Canali, o Cordão das Laranjas, lançou Paulo da Portela como Cidadão Momo - um misto de Cidadão Samba com Rei Momo. Em 1935, o Cidadão Momo lora o cantor Silvio Caldas.
de bua {unduta e {alça de flanela. Devem ser registrados também os seguintes fatos relacionados com as escolas de sambo e acontecidos em 1936: 1. No dia 20 de janeiro, o compositor Noel Rosa loi homenageado pela Escola de Samba EstaçOo Primeira de Mangueira, no terreiro da escola. Foi a primeira vez que um compositor "de fora" recebeu uma homenagem assim. Toda a escola cantou os sambas de Noel, principalmente o Palplle Infeliz, de grande êxito na época. Talvez tenha sido a esse dia, que o cronista Rubem Braga tenha-se referido em sua lamosa crOnicá Noel, Poeta e Cronista, na qual ele conta que Cartola "e outro preto" impro-
visavam novas letras, "numa lertilidade espantosa e absurda", em cima do tema de Palplle Infeliz: Bidu SaiOo um dia deste entristeceu Tomou veneno pro morrer e nao morreu Subiu no morro e encontrou linda atriz Quem é você que nllo sabe o que diz "S6 quem conhece uma escola de samba escreveu Rubem Braga - com o seu imenso orgulho exclusivista, pode conceber o valor de uma homenagem como essa prestada a Noel". Segundo inlormaram os jornais da época, após a homenagem, os compositores Cartola, Carlos Cachaça, Zé Com Fome e outras,loram levar Noel Rosa, "de autom6vel", até o Ponto de Cem Réis, em Vila Isabel, o que também loi uma grande delerência. 2. A Hora do Brasil transmitiu um programa diretamente para a Alemanha com sambas e sambistas de Mangueira. Foram cantados os sambas Liberdade, de Cartola e Arlindo dos Santos, Pérolas para o teu colar, de Cartola e Macista, Dama abandonada, de Cartola, O destino não quis, de Carlos Cachaça e Cartola; e. Me deIxa chorar, de Gradim. 3. A Ródio Cruzeiro do Sul anunciou aos jornais que colocava os seus microfones "O disposição das escolas de samba" . 4. O regulamento adotado para o deslile das escolas em 1936. estabeleceu que seriam concedidos prêmios Os escolas para cada quesito que vencessem. E a escola vencedora seria aquela que mais pontos conquistasse no quesito harmonia. O resultado loi o seguinte : 1~ - Unidos da Tijuco (harmonia) 2~ - Estação Primeira (samba) 3~ - Portela (bateria) 4~ - Depois eu Digo (bandeira) 5~ - Deixa Malhar (enredo) 6~ - V izinha Faladeira 7~ - União Barão da Gamboa 8~ Fiquei Firme 9~ - Último Hora 10~ - Azul e Branco 11~ Lira do Amor O samba que deu o prêmio O Estaçélo Primeira loi O destino não quis, de Cartola e Carlos Cachaça; cantado anteriormente no programa especial para a Alemanha e que teria várias gravações (o primeiro foi de Araci de Almeida), inclusive de Paulinho da Viola, em 1973, quando o samba ganhou o titulo de Não quero mais amar a nlnguám. 5. O jornal A Nação resolveu lazer um julgamento por conta própria do deslile de 1936 e apresentou o seguinte resultado: 1 ~ - Estação Primeira 2~ - Vizinha Faladeira 3~ - Portei a
No dia 5 de fevereiro de 1937 , A Pótrla - o jornal que mais divulgava notkias das escolas de samba - publicou a seguin te manchete de primeiro página: O RIO SOB A DITADURA DO CIDADÃO SAMBA É que no dia anterior, Paulo da Portela havia feito o seu desfile pelo centro da cidade na qualidade de Cidadão Samba daquele ano, escolhido numa segunda eleição, jó que houve uma primeira que apontou o sambista Antônio Martins Junior, da Escola de Samba Rainha das Pretas, como o Cidadão Samba . Mas a União das Escolas de Samba decid iu anular a eleição anterior, "por ter havido irregularidade!' e escolheu Paulo da Porte Ia. E fo i este que desfilou pela cidade, ele9antemente vestido, e assinou um decreto instaurando o reinado do carnaval: A rtigo 1? Ficam suspensos todos os pagamentos de pensões, lavadeiras, senhorios de todos os " cadóveres " . Artigo 2~ - Os patrões dos empregados que forem despedidos por estarem a serviço do Cidadão Samba, ficarão sujeitos a multa de 500$000 a 1.000$000, o que seró escriturado nos livros de ouro das referidas escolas às quais pertencem. Artigo 3~ - As casas de prestações ficam na obrigação de fornecer todas as fa zendas necessórias à indumentária de carnaval,
durante os folguedos da República do Samba; sob a condição de receberem como sinal apenas um por cento do valor da respectiva compra. Artigo 4 ? - As patroas ficarao na incumbência de tomar o lugar das suas empregadas, para melhor brilhantismo da festa da loucura. Artigo 5~ - Todo cidadão encontrado nas ruas que não esteja completamente embriagado pela alegria, su jeitar-se-ó à pena de cinco dias de prisão na Praça Onze , na bala nça , numa roda de bat ucada, a fim de compreender as delicias do samba. Artigo 6? Todos os aristocratas desta democratfssima república sõo condenados , sumariamente, a aderir ao meu governo a fim de compreenderem que o samba é feito de pedaços d'a lma , cinti lações do cérebro e mu ito amor. Artigo 7~ - Durante minha administraçao os bebês ficam incu mbidos de se defenderem com suas mamadei ras: enquanto as babós caem no pagode rasgado. Artigo 8~ - Todo aquele que, por atraso mental ou mal fingida hipocrisia, n/lo queira concordar com o absoluto dom(nio do samba, deve ir se desguiando de fininho paro nao ser considerado desmancha prazer .. A União das Escolas de Samba, entao presidida pelo jorna lista Luiz Nunes da Silva -
que nao era outro senao o cronista carnavalesco Enfiado, do jornal A Pótrla - ganhou personalidade jurldica a partir do dia 14 de janeiro de 1937, quando o Dlórlo OficiaI publicou o extrato dos seus estatutos. Unindo a sua condiç60 de jornalista com a de presidente da Uniao das Escolas de Samba , Enfiado deu ampla cobertura às escolas, para o que contava com todo o apoio do diretor do seu jornal, Antenor Novaes. Através' dos votos dos seus leitores, foi eleita Rainha do Sambo a postora Araci Cos ta , da Escola de Samba Prazer da Serrinha. Araci era mulher do presidente da escola , Alfredo Costa, e teve um total de 8.406 votos. Em segundo lugar, foi Marta Ferreira da Silva , da Corações Unidos , com 7.011 votos, e, em terceiro, Neu ma Gonçalves (filha de Sat urni no), da Estação Primeira, com 4.987. O utra promoção de A Pótrla fo i a escolha do melhor compositor dos escolas de samba, tam bém pelo critério dos votos dos leitores, que preenchiam um cupom do jornal. Os dez primeiros colocados apresentaram-se num concurso na Feira da Amostra, perante um júri presidido pelo Diretor de Turismo, Sr. Wolf Teixeira, e integrado por Jlka Labart, da Departamento Nacional de Propaganda; jornalista Henrique Pongetti; Ayres de Andrade, di retor artlstico da Ródio Tupi, e Leflie Robert Evans, diretor a rtlstlco da RCA Victor.
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o compositor Cartola (Angenor de Ol iveira). da Estação Primeira de Mangueira, que che· gora em segundo lugar na votação dos leitores. foi o primeiro colocado, fazendo jus a uma medalha de ouro que pouco depois ero empenhada na Caixa Econômica. O segunda lugar coube a Raul Marques, da Prazer da Serrinha; 3?, Boaventura dos Santos, da Parte la; 4?, Henrique de Oliveira Mesquita, da Unidos da Tijuca; 5?, Licurgo Batista, da Papagaio Lin· guarudo; 6?, Sebastião Silva, da União de Colégio; 7?, Argemiro Nogueira Batista, da Cada Ano Sai Melhor; 8?, Ja ime de Olive ira, da Unidos de Tuiuti; 9?, Claudionor dos Santos, da Unidos de Cavalcante; lO?, Décio dos Santos, da Vê Se Pode. Na votação dos leitores, o primeiro colocado fo i Claudionor dos Santos. A Escola de Samba Vizinha Faladeira, do bairro da Saúde. foi a escola de samba campeã do desfile de domingo de carnaval na Praça Onze. A comissão julgadora (jornalistas Rau l Alves, Carlos Ferreira, AbHio Harry A lves e Lourival Pereira) apresentou, porém, um relatório dizendo que a Portelo só não f~i o vencedora por causa do critério de julgàmento; que não beneficiou a Partela, "a que mais preencheu as finalidades das escolas de samba", O resultado geral fo i o seguinte: 1? - Vizinha Fa ladei ra , 187 pontos. 2? - Portei a, 175. 3? - Depois eu Digo, 163. 4° - Unidos da Mangueira, 161. 5? - Unidos do Tuiuti, 129. 6? - União Parada de Lucas, 119. 7? - Azul e Branco, 118.
8° - Papagaio Lingarudo, 113. 9? - Mocidade Louca, 105. 9? - Cada Ano Sai Melhor, 105. lO? - Unidos de Cavalcante, 94. 11? - União Barão da Gamboa, 93. 12? - Paralso do G rotão, 9113? - Unidos do Salgueiro, 90. 14° - Fiquei Firme, 89. 15? - Filhos do Deserto, 78. A ausência de vór ias escolas nessa relaçeio se deve a uma atitude tomada pelo po liciamento da Praça Onze, acabando o desfile às três horas da madrugada, q uando ainda fa l· tavam desfilar 16 esco las, entre as qua is a Estação Prime ira de Mangueira, a Praz·a r do Serrinha e o Unidos da Tijuca. A comisseio julgadora, em seu relatório à Unieio das Escolas de Samba, assim narrou o incidente: "Quando evoluía a Escol a de Samba Cada Ano Sai Melhor, o comissório de serviço no local ordenou, em nome do 2? delegado auxil iar, Dulcfdio Gonçalves, que se suspendesse o concurso, mandando retirar o policiamen to e
o cordeio de isolamento, assim como determinou o desligamento do corrente elétrica, impedindo, assim, fossem julgadas os demais escolas. Em visto disso, o comisseio retirou-se do loca l, assim mesmo sob protestos das escolas não julgadas, que desconheciam de que fonte partiu tal ordem. Dessa forma, dos 32 escolas inscritas no concurso, apenas 16 conseguiram atingir o coreto do júri". A comissão julgadora aproveitou o relatório para enviar à União das Escolas de Samba ai· gumas sugestões: "De futuro. jó pelo brilho desses cortejos, jó pelo número dos mesmos, como pelo extraordinório interesse despertado no público, tais quesitos devem ser mais completos e firmados com antecedência bastante para que as escolas de samba por e les se possam reger. Pensa também a comissão que o exibiçeio de carros alegóricos e de comissão de frente a cavalo ou de automóveis foge à f ina lidade das escolas de samba, hoje a parte maior, mais interessante e mais nacionalista da carnaval carioca". Os jornais não revelaram quais esco las d~ . samba que apresenta ram com issão de frente de automóveis, mas informaram que foi a Vizinha Faladeira que abriu o seu desfile com sambistas mon tados a cavalo. Ou tra sugestão do júri foi a de tirar o desfile da Praça Onze, lugar considerado muito pequeno. E terminou o seu relatório louvando a atitude do secretório da União das Escolas de Samba, Armando Passos, que, apesar de ligado à Porte Ia. portou-se "com absoluta isenção" .
· Transcrevemos a seguir a descrição do enredo que a Escola de Samba Depois eu Digo apresentou no carnaval de 1935, intitulado "Uma manhã no Salgueiro, o berço do samba". A descrição foi feita pelos próprios dirigentes da escola e publicada nos jornais no dia do desfile das escolas de samba. 1~ Parte Comissão de Frente composta da Diretoria da Escola, traJando terno branco e gravata verde. Origina l abre-ala , confeccionado em um painel e iluminado com a linda paisagem do Morro do Salgueiro, destacando-se ao fundo o Monte do Sumaré, com suas casinhas toscas, onde tem servido de berço a vórios criadores do samba de alta nomeada. Entra em seguida o corpo coral , organizado em duas alas , compostas de um grupo escolhido de pastoras fantasiadas de baianas, ninando pe· quenos bebês. Ambos fantasiados com as cores verde e branco, precisamente as cores da nossa bandeira. Ao centro, destaca-se a porta-bandeira representando a Rainha do Samba da nossa escola, empunhando o nosso pavilhão, vindo prestando as honrarias o mestre-sala. 2~
Parte
Ergue-se um soberbo caramanchão, abrigando um berço ricamente or-
namentado, representando o nascimento do samba, que é criado e cultivado com todas as honras do pandeiro, tamborim, cuíca, surdo, etc., rodeado de uma guarda de honra, organizada de pequenas baianas, que serão para o futuro,as substitutas legais do Corpo Coral. Em seguida, vem a demonstração da vida do morro, constando de um ; grande grupo de ambos 05 sexos, na sua azófama, desde o trabalho ao samba. As pastoras estarão carregando trouxas de roupas para lavar; outras carregando latas com ógua: outras ainda com feixes de lenha na cabeça; representando o serviço caseiro, sendo assim demonstrado o trabalho cotidiano do morro. Nesse grupo se encontram também, os versadores e criadores do samba que; além do conJunto de repentista, é representado por rapazes com fantasias diversas, a té mesmo à paisana, tocando no chapéu de palha, pandeiros, latas, palmas, etc .. demonstran· do como é feito o autêntico samba. Destaca·se no meio desse coniunto a Fonte da Inspiração; que é representada por uma pilastra comum, com uma torneira, donde (orra ógua natural , captada nas colinas do Salgueiro, em homenagem à Na· tureza que dotou esse morro com grande abund6ncia desse precioso líquido, que suaviza as gargantas ressequidas dos cantores. Ornamenta essa parte um grande número de pequenas pastas, empunhadas por pessoas fantasiadas , dando mais vida ao enredo, onde nas mesmas se vêem casinhas pobres e toscas. Candieiro a querosene representando a iluminação do morro; torneiras (orrando ógua , sendo aparadas por latas para 05 serviços domésticos. A iluminação, para fugir dos abat(ours , que ló se tornam corriq ueiros, seró original.
SAIBA O QUE VOCÊ VA I OUVIR.
HOMENAGEM
Recordar Castro Alve s Olavo Bilac e Gonçalves Dias E outros imortais Que glorificaram nossa poesia Quando eles escreveram
Matizando amores Poemas cantaram Talvez nunca pensaram De ouvir os seus nomes
Num samba algum dia E se esses versos rudes Que nascem e que morrem
No cimo do outeiro
Pudessem ser cantados Ou mesmo falados Pelo mundo inteiro Mesmo assim como são Sem perfeição Sem riquezas mil
Essas mais ricos rimas São provas de estima De um povo varonil
Recordar Costro Alves, etc.
E os pequenos poetas Que vivem cantando Na verde colina Cenário encantador Desse panorama Que tanto fascina Num desejo incontido
Do samba querido A glória elevar Evocaram esses vultos Prestando t ributo Sorrindo a cantar PAGA OU NÃO PAGA Paga ou não paga Paga ou não paga Paga ou não paga O dinheiro que você me deve Paga ou não paga Paga ou não paga Como estou, conversa não me serve
Homenagem (Carlos Cachaça) No entrevista publicada neste fasciculo, o compositor de Mangueira Carlos Cachaça falo de um sam ba que a Estação Primeira cantou no carnaval de 1934 e que deu a ele, quatro anos depois, em 1938, o primeiro lugar num concurso ent re compositores de escolas de samba, realizado na antiga Feira de Amostra. Esse samba é o Homenagem que só viria a ser gravado em f ins de 1974 pela gravadora Marcus Pereira - a mesma que figura no disco que acompanha o fascículo, graças à cortesia de Marcus Pereira. Intérprete: Carlos Cachaça. Paga ou não paga (Sucy Moreira e Arnaud Cornegal) - Um dos fundadores do Escola de Sambo Vê Se Pode, do Morro de São Carlos, Bucy Moreira é uma das figuras mais impor tantes do samba carioca. Atinai , desde o dia em que nasceu - l? de agosto de 1909 - nunca se afastou do samba: ele é neto de Tia Siat a e foi na casa dela, n a Praça Onze (ver o primeiro fascículo) que ele nasceu . O Sacurau a que ele se refere na abertura da gravação é um dos fundadores da Vê Se Pode e do Unidos de São Carlos. Paga ou não paga foi gravado pela primeira vez em 1938, por Francisco A lves, no RCA Victor. No disco que acompanha o fascículo, quem canta é o próprio Bucy Moreira. Só nas cadeiras (Raul Ma rques) - O compositor e ritmista Raul Marques foi ligado às primeiras escolas de samba e pertenceu o algumas das mais importantes: Unidos da Saúde, União Barão da Gamboa, Recreio de Ramos e Prazer da Serrinha. O samba Só nas ca de iras nasceu no princípio dos anos 30 e até agora não havia sido gravado. O intérprete da atual gravação é o próprio Raul Marques, que seró o entrevistado do próximo fascículo. lin da tarde (Bucy Moreira e Nazinho) Outro samba de Bucy Moreira interp retado por ele pr6prio e que também foi gravado por Francisco Alves em 1938. Bucy compôs esse samba quando participava da Escola de Samba Vê Se Pode, do Morro do São Carlos. Confraternização números 1, 2 e 3 (Walter Rosa) - Walter Rosa, grande compositor da Escola de Sambo Portela, resolveu homena-
gear os seus colegas compositores com um samba chamado Confraternização. O samba tornou-se imed iatamente muito importante por registrar nomes de sambistas talentosos mas desconhecidos em sua maioria, pelo grande público. O sa mba Confraternização (feito em fins dos anos 50) foi muito contado em rodas de samba mas jamais foi gravado. Em virtude da boa receptividade do samba, Walter Rosa decidiu compor o Conf ratern ização nP 2 . As referências ao samba Chica da Silva, cantado pelo Salgueiro em 1963, e Semente do Sambo, gravado por Clementina de Jesus em 1965 in· dicam que o samba foi fe ito bem depois do primeiro. O Confraternização nP 3 é do fim dos anos 60, como se vê pela citação de Sei 16, Mangueira, lançado no Festival da TV-Record de 1968, e a Mortinho da Vila, que só ai também começava a ter o seu nome projetado nacionalmente, ficando "com a bola branca", como afirma Walter Raso. Em Confraternização nP 3 , Walter fala que " muitos ficaram aborrecidos " e "levaram a cópia do original/Da confraternização n? l/Ao conhecimento de um jornal". É que o compositor Mazinho, da Portela, fez uma resposta ao samba de Walter Rosa e a letra foi publicada num jornal. Mazinho não fora citado e se colocou até numa posição de humildade, dizendo-se um modesto compositor: " Mas quem sou e u pro compor/ Como Ariosto Ventura/Eu não teria perdido o amor/De uma certa criatura". Walter Rosa nasceu no Rio (no Meier) no dia 5 de março de 1925 e antes de ingressar na Portelo, em 1947, pertenceu às Escolas de Samba Filhos do Deserto, Recreio de Inhaúma e Academia de Engenho da Rainha. Baiano me dó me dó (Raul Marques, César Brasil e Miguel Baúsa) - Samba lançado em escola de samba por Raul Marques e que foi gravado depois por Carlos Galhardo para O carnaval de 1938. Na entrevisto que seró publicado no pró x imo fascículo, Raul Marques fala de dois personagens que habitualmente pagavam aos compositores para entrarem nas parcerias de suas músicas. Esses personagens chamavam-se César Brasil e Miguel Baúsa, exatamente os seus parceiros em Baian a me dó me dó. O intérprete da atual gravação é o próprio Raul Marques.
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CONFRATERNIZAÇAO n.o
Você é uma criatura
Envio aqui musicalmente Cartões de boas festas A todos os poetas e compositores Espero que estes 05 encontrem Contentes e gozando saúde E felizes em seus amores
Que pro pedir é uma doçura E como base do seu bom controle Você criou essa conversa mole
Estou mal . estou quebrado Estou precisando de algum trocado E assim eu andei
Zinco. 16 dos Filhas do Deserto,
Naquele dinheiro que lhe emprestei Hoje reclamo o que me pertenceu Porque de fato agora quem está mal sou eu
SÓ NAS CADEIRAS Só nas cadeiras, vamos requebrar
( ( bis (
Só nas cadeiras, até o sol raiar Canto samba no terreiro, sapateio no asfalto Quando chega fevereiro. eu vou de partido alto
Só nas cadeiras, vamos requebrar Só nas cadeiras, até o sol raiar
Ginga ginga nas cadeiras , o pagode é pro valer Se gostar da brincadeira, é um caso a resolver Só nas cadeiras, vamos requebrar Só nas cadeiras, até o 501 raiar
Hoie com Jorge Bubu e Casquinha
A saudade lhe devora
n? 3
De Carlos Moreira, Zagaia e Padeirinho Com este último Com quem conversei bastante Sobre um assunto interessante Do Nonô do Jacarezinho Ariosto Ventura de tanto dizer Vem morar comigo Se andares direito te darei amor Se errares te darei só castigo Uma vez numa tendinha Me chamou em particular Walter Rosa , por Deus quero compor Com você uma glosa Que não relacione o amor Silos, viga~mestre do Império Serrano
L6 do alto quando abre·se o pano ( ( bis (
Aproveita minha gente, uma noite não é nada Quero ver o samba quente, até alta madru~
Aparece a cantar És a luz da minha vida Para ela a Serrinha em peso abre a janela Para ouvir o seu cantor Candeia, Waldir, Picolino, Manacéia, Alvaiade, Avelino, Monarca e Chatim
Padrões de talento da Portela
gado
05 seus valores não têm fim Só nas cadeiras , vamos requebrar
(
Só nas cadeiras , até o sol raiar
(
( bis
LINDA TARDE Era uma linda tarde O sol ia se ausentando Eu vi você passando Assobiei coió Você olhou pro trás Eu lhe cumprimentei E você respondeu Aí a nossa amizade nasceu
11 Naquele mesmo momento eu perguntei Se você tinha compromisso Você disse que não Depois então você marcou um encontro comigo E não apareceu Aí a nossa amizade morreu
Pro Portei a Tal qual o Jair da Capela
Prefere sempre estar perto das florestas Ouvindo os pós soros cantando Cartola se afasta do morro Mas não vai embora
IIco, 16 do Engenho da Rainha ( ( bis (
E fingiu que não viu Com aquele cavalheiro ela saiu Valter Coringa Só escreve o fino e bacana Assim como o grande Cabana Aidno , Catoni e Evancoé Este que fez sua transferência
n~
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Renovarei votos de estima Aos poetas e compositores jó citados
Chegou a vez daqueles que ainda
Defendem Oswaldo Cruz Onde a música seduz
Parabenizaram-me Muitos ficaram aborrecidos Foi aquele zum zum zum Dentre os que não foram incluídos levaram a cópia do original Ao conhecimento de um jornal Garanto que não foi Nenhum dos valores escondidos Que existem por a í Por exemplo: Everaldo que eu conheci Na residência de Antônio Candeia Para mim fo i um dia feliz Assim como vivem felizes Carlinhos Sideral, Velha , Matias e Bidi Enquanto possuirem o samba na v e ia Defenderão a sua Imperatriz Quem não conhece o talento de Tolito Geraldo Babão , Zuzuca -e Darci Que só faz samba bonito Mantive um papo sadio com Aurinho da Ilha Sobre Paulinho da Viola E o seu sucesso " Sei ló não sei " Chegou Jorg inho dizendo: gravei Um LP que é só maravilha Os autores são Pelado, Preto Rico e Leléo Mostrou-se muito empolgado
Com Mortinho de Vila Isabel Que e stó com a bola branca E promete ocupar o trono de Noel
Não foram lembrados Que vivem escondidos por aí
BAIANA ME DA ME DA
Com lindas melodias
Você quer uma baiana, eu dou Você quer uma sandólia Eu também dou Mas em troco eu vou pedir um favor Me dó me dó o seu amor Me dó me dó o seu amor
Que o povo quer ouvir Noel e Anescarzinho do Salgueiro Quando lançam no terreiro Chica da Silva do cativeiro zombou CícerD e Hélio Cabral da Estação Primeira Diz que o semente do samba Quem possui é só Mangueira Romon Russo ao passar pelo Império Foi um caso sério ~ Foi notória a presença do Osório Diz o que quis no samba tango Escreveu como ele só Assim redigiu Dançando me viu
Uma sandólia na moda Uma baiana de roda
Toda enfeitada de fita Eu mandei vir da Bahia Tudo o que você pedir Eu lhe darei meu bem Mas contanto que você Me dê seu amor também
II
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1934: O OUASEfOI
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