o seu nome não aparecia nos sambas. IIMulher você sabe, nê?1I
IvonE LARA - Com que idade você saiu pela primeira vez na Prazer da Serrinha?
Ivon. Lara idade.
Eu devia ter meus 22 anos de
pode. - Mas você fazia músicos antes do Prazer da Serrinha? Ivon. Lara - Fazia. Eu componho desde os
-
12 anos de idade.
Ivon. Lara -
- Que músico você fez com 12 anos? Ivan. lara - Pela letra, você vai ver que só poderia ter sido feito por uma menina de 12 anos: " Quando eu ouço falar do juriti / Eu fico triste a pensar / O meu pobre passarinho voou, / E eu não sei onde é que ele pousou" . Uma letra tão mediocre só pode ser de uma criança
Antes você sofa em alguma outra escola? Nunca. Eu era criado por um tio, Dionlsio Bento da Silvo, que 56 gostava de choro. Ele era muito amigo do Côndido Pereira da Silva, aquele famoso trombonista e autor de
tantos choros bonitos. Ele não admiti0 samba dentro da cosa dele. ero choro, choro, choro e pronto. - Foi ele que te criou? Ivon. Lara - Nõo foi bem isso. Quando eu sai do colégio interno jó estava com 16 onos. E fui pro casa dele, porque jó não tinha nem pai nem mãe. Depois do casa dele, fui pro colégio de enfermagem. Fiz concurso e tive Q faliei.
dada de ser uma dos dez primeiras colocados. Fiz meu curso internada, morando 16. - Mas você também é assistente social, não
é? Ivon. Lara - Sou. Depois de seis anos como enfermeiro, fiz meu curso de assistente social e
jó estou trabalhando hó 35 anos. - Vamos voltar pro escola de samba. Em que condição você saiu na Prazer da Serrinha? Ivan. lara - Primeiro queriam que eu fosse porta-bandeira. Cheguei até a ensaiar. Mas eu j6 fazia minhas coisinhas, meus sambinhas. Só que ninguém podia saber que os sambas eram meus, não podia aparecer como compositora. Então eu dava pro Fuleiro e o Fuleiro apresentava o sambo como se fosse dele. No desfile acabei saindo numa ala de soldadinho que o gente organizou . - Por que o seu nome não aparecia nos sambas?
Ivone Lara -
68
Mulher você sobe. né? Nõo
de 12 anos. - O Tli tli também loi leito quando você era menino, nõo é isso? Ivon. Lara Eu era um pouquinho mais grandinha. Eu tinha um pouquinho mais de compreensão. Esse Tli tli foi o seguinte: eu não tinha boneca para brincar, nem nunca tive. Entõo minha boneca era um passarinho que a gente tinha em cosa. O Fuleiro, meu primo, j6 era rapazinho . Tinha também um primo que trabalhava na estiva , tinha outro que era lustrodor e a gente sala sempre junto no carnaval. O Tii tiê era a nossa música em todos os carnavais. Era o nosso samba-enredo. " Tiê tiê
Óia ló oxá Esse aia Ió oxó era um dialeto que minha avó usava para advertir a gente. Elo era baiana e falava um português errado que só vendo. Óio ló oxó! - ela gritava toda vez que queria nos repreender. E muitas vezes fui advertida porque estava brincando com o Tiê. Eu fiz o samba e o gente contava sempre. No cornaval os meus primos faziam versos de improviso, mas o refrão era sempre aquele: " Tiê tiê
Óia ló o xó"
O Fuleiro nesta época tinha uns 18. 19 anos. Tinha um primo também que jó era casado e era um camarada muito engraçado. Bebia pro burro! Ele se fantasiava de cigano e sala com o pires na mão pedindo dinheiro no rua . - E onde era ISSO?
Ivone Lora - Era ali perto do Largo do Segundo-Feira. A gente solo do Ruo Industrial até a Praça Saens Pena. Quase sempre era eu que ia na frente com pires na mão pedindo dinheiro de casa em cosa. A Rua Industrial era
uma transversal do Ruo Barão de Itapagipe. - Não era um bloco muito organizado: os homens se vestiam de mulher e os mulheres de homem. O pessaalló de coso safo d" cigano. Eu era o graça do grupo. Sambava muito bem e sabia dor aqueles passos que vovó me ensinava e aprendi todos.
-
Naquela época jó havia escola de sambo?
Ivan. Loro acho que ainda - Como era Ivan. Lara -
Eu não me lembro bem , mas não havia não. a casa que vocês moravam? A gente morava numa vila na
Ruo Industrial. Me lembro até do nome do dono do vi la : Seu Forém. -
No bloco de vocês a música era sempre o
Tli? Ivan. Lara - Não, havia outras. Quando o gente não estava cantando Tli, contava uma música assim : " Macaco quer banana Ora deixa madurar Macaco quer banana Ora deixa maduró" E o pandeiro tocando, o gente sambando. No volta , então, era uma loucura. Quando solamos de casa , éramos quatro cinco, mas na volta a gente perdia a conta se quisesse contar. Todo o mundo entrava no bloco.
Os homens se vestiam de mulher e as mulheres de homem. - Você e Fuleiro chegaram juntos na Prazer da Serrinha? Ivon.lara - Não, ele chegou antes de mim. ~ que minha tia , mãe dele, foi morar em Madureira e nós ficamos na Tijuca. Quando nós nos mudamos para Madureira, Fuleiro j6 estava 16 tomando parte numa escola de samba chamada Rainha das Pretas. Eu acha até que nem havia ainda Prazer da Serrinha quando Fuleiro foi para Madureira. O que havia era um bloco da famllia da Seu Alfredo Casta chamada Cabelo de Mana. - E você chegou a pertencer à Rainha das Pretas? Ivone lara - Não. Quando entrei poro escola de samba fui direto para a Prazer da Serrinha, que também era uma extensão da famllia do Seu Alfredo. Familia essa que acabei entrando também porque me casei com o filho da Seu Alfredo. Quando foi fundada a Império Serrana. par causa de uma divergência palltica do pessoal com o Seu Alfredo, eu nem pude mudar de escola. Como é que podia ir para a Império se morava colada, parede-e-meia, com o Prazer da Serrinha? Não dava , não é mesmo? lo ser estrangeira. - Essa situação nõo demorou muito tempo não. Ivone lara Não. logo depois acabou o Prazer da Serrinha e todo mundo foi poro a Império Serrano. - Mesmo quando você foi para a Império ainda era considerada compositora? Ivone lara - O negócio foi o seguinte : Na primeiro vez que desfilei pela Império Serrano, sal com os compositores. Eles estavam de terno branco e boné. Eu vesti um costume bronco com um distintivo na lapela. - Qual foi o primeiro sambo que você fez
para a Império Serrano? Ivonelara - Fiz algumas de parceria. Mas o primeiro só minha, sem parceria nem nada. foi Não me perguntes. " Não me perguntes Pro que samba eu vou Porque eu direi Eu vou pro Império. sim senhor Sou imperiana Na alegria e na. dor" . Dei parceria ao Fuleiro. Na época ele era presidente da Alo dos Compositores e achei que. como tal. ele me daria mais força . né? E deu. Até hoje eles consideram esse samba como o hino do Império Serrano. - E samba-enredo você fazia? Ivone lara - Só fui convidada poro tomar parte em samba-enredo em 1965. Fizemos Os cinco bailes: Silos de Oliveira, Bacalhau e eu. - E nunca mais você entrou em concurso de samba-enredo? Ivone lara - Entrei em 1968, mos apareceu tonta gente no sambo que nem me iembro mais do nome do enredo. Depois eu desisti . .; uma brigalhada danada. - E quando você começou a desfilar na ala dos baianas? Ivone Lara - Depois de 1968. Eu sempre sonhei desfilar no alo dos baianas. Apesar de ser madrinha da ala dos compositores. eu sempre gostei mais de desfilar na 010 das baianas. Devido o meu tipo e o gente brinco mais. né? E houve o seguinte : depois que o Fuleiro deixou a ala dos compositores. começaram a fazer polftica contra mim. Não na minha presença. mas o fato é que não gostavam que eu ficasse 16. Achavam que mulher não deve tomar porte na alo dos compositores. - O Fuleiro ainda trabalha na estiva?
Ivone lara Agora ele est6 aposentado. A1i6s, o Império Serrano devia mesmo é se chamar Unidos dos Estivadores. Quase todo o mundo, pelo menos entre os mais antigos. é estivador. Hoje não. Hoje tem gente de outras 6reas também. Hoje tem doutores, cozinheiras, lavadeiras. tem de tudo. - Dos principais, quem era ou é estivador? Ivone Lara O Sebastião Molequinha, a Fuleira. O Mana Décio da Viola não é estivador mas trabalho na administração do Cais do Porto. Uma porção de gente que não me lembro agora. - Você tem muitas músicas gravadas? Ivone lara - Deixo eu ver: o Não me perguntes, Amor Inesquedvel. Decepção, Agradeço a Deus. Sem cavaco não. Confesso. Tli ti i, Andei para carlm6, Alvorecer, Amor sem esperanças, uma porção delas. - Seu marido era de samba também? Ivone lara - Para falar o verdade, apesar de ser filho do Seu Alfredo, nos dias de ensaio o Oscar preferia passear. Depois de muito tempo casado comigo é que ele veio sair na bateria do Império Serrano. Meus filhos tom· bém solam no Império Serrano. O menor. que era da bateria. não sai mais. Ele est6 fazendo carreira militar e desistiu. Mos sai no Bafo da Onça. Nõo sei se você sabe de uma coisa: o meu marido. apesar de nõo ser muito de samba , foi quem levou junto com o Mono Décio da Viola, o Silos de Oliveira paro o sambo. Foram eles dois que fizeram do Silos compositor da Prazer da Serrinha. O pai do Silos, o professor Assunção , era bfblia, batista, evangelista. sei 16. E o Si las também era. Nos ensaios da Prazer da Serrinha , ele ficava na porta s6 apreciando. Era muito acanhado, quieto. retraldo .
69
Todos os componentes da Portelo ostentavam fantasias imitando uniformes colegiais. Paulo da Portela , liderando o desfile, fazia o papel de professor. À frente da comissão julgadora (integrada por Lourival Pereira, Arlindo Cardoso, Modestino Kanto, Francisco Guimarães Romano e Gerardt Luckmann). ele entregava um diplomo o cada um dos componentes da escola. - Se eu procuror bem ainda devo encontrar esse diploma 16 em casa - afirma Uno Manoel dos Reis que, de 1935 a 1957, foi o principal confeccionador do enredo da Porte Ia. Paulo da Portela , de fato , foi a grande atração não s6 da Portela como do pr6prio desfile , assinolou o rep6rter do jornal O Radicai que fez a cobertura na Praça Onze : " Um fato despertou a nossa curiosidade: foi o interesse que todo o público acotovelado na Praça Onze demonstrou em torno da figura de Paulo da Portela. Parecia que grande parte daquela multidão ali estava somente para aplaudir o famoso sambista, a quem nao regateava os melhores demonstrações de simpatia. Pode-se dizer assim que depois da Portela e da Mangueira, Paulo da Portela foi a grande atração que o Praça Onze apresentou". O samba que a escola cantou foi composto por Paulo da Portela pouco antes do destile.
Mos todos contaram, talvez poro mostrarem que não eram muito bons em matem6tica mas excelentes em sambo. Por is~o, a nome do enredo ero Teste de Samba. "Vou começar o aula Diante da comissão
Muita atenção Eu quero ver
Se diplomó-Ios posso Salve o " fessõ" Dó a mão pro ele, Senhor Quatorze com dois doze Noves foro tudo é nosso".
o
11? -
União Barão da Gamboa
Costa. Este, ao ser eleito (vencedor do Cartola
12? 13? 14? 15? 16? 17? 18? 19?
Lira do Amor Unidos da Capela Unidos do Salgueiro Prazer da Serrinha União da Mocidade Mocidade Louca de São Cristóvão Filhos do Deserto Unidos de Rocha Miranda
de Mangueira e Ubirajara Coutinho, da lira do Amor), para não quebrar a tradição, assinou o seu decreto:
-
20? -
Recreio de Ramos
21? 22? 23? 24? 25?
Rainha das Pretas Não é o Que Dizem Cada Ano Sai Melhor Paz e Amor Última Hora
-
" Eu , Alfredo Costa, Cidadão Samba de '1939, a partir de hoje faço o presente decreto, que restabelece a fuzarca em toda a sua plenitude e toma outras providências.
Usando das faculdades que me foram con· feridos pela União Geral das Escolas de Samba, decreto : Artigo 1? Artigo 2? -
I? -
Partela
2? -
Estação Primeira
mulheres, maiores ou menores nacionais, que saibam tocar e cantar o samba. ou que não saibam mas tenham dele conhecimento. Artigo 3? - Fico entregue, o partir de hoje, a direção externo do carnaval carioca à União
3? 4? 5? 6? 7? 8? 9?
Unidos do Tuiuti Depois eu Digo Unidos de Mangueira Unidos da Tijuca União da Sampaio Deixa Malhar União Parada de Lucas
-
lO? -
Fiquei Firme
o segundo
No desfile de 1939 foi aplicado pelo primeiro vez o dispositivo do regulamento que prolbe o abordagem de tema estrangeiro no enredo: o
Serão considerados foliões sem
jaça todos aqueles ou aquelas, homens e
resultado, como não podia deixar de ser,
foi Portei a em primeiro lugar campeonato de suo história:
Fico para todos os efeitos
proclamado o pagode rasgado.
Geral das Escolas de Samba e suas filiadas , sob
Escola de Samba Vizinha Faladeira apresentou
meu comando. Artigo 4? -
o enredo Branca de Neve e OI Sete Anões e,
tabilidade do povo, fica declarada o Estado de
por isso, foi desclassificado. Se na Praça Onze quem brilhou foi a Portela,
Alegria Permanente.
no concurso de Cidadão Sambo o primeiro
sições em contr6rio existentes e por existir.
lugar foi para o principal dirigente da Escala de Samba Prazer da Serrinha, o sambista Alfredo
4 de fevereiro .
I
Artigo 5? Ana de 1939 -
Paro maior segurança e es-
Revogam· se todas as dispoGenerallssimo Sambista, em
No desfile de 1940. Paulo do Porlela vollou o ser uma figura muito comentada , mas dessa vez por razões diferentes : durante o desfile no Praça Onze ele brigou com um dos dirigentes do Portei a - o famoso Manoel Bom Bom Bom
-
e se afastou da escola.
Paulo queria que os seus companheiros do Grupo Carioca - Cartola e Heitor dos Prazeres _ desfilassem pela Portelo com roupa preta e branco. a roupa do conjunto, Manoel Bom Bom Bom disse que Paulo poderio desfilar assim, mas os seus companheiros nõo. Ele respondeu afirmando que se Heitor e Cartola não podiam entrar ele também não desfilaria . respondeu Manoel - Entõo , pode sair levantando a corda que cercava o escola. facilitando a suo saido . E Paulo nunca mais desfilou pela Porlelo . Cartola de Mangueira assim recordo o in· cidente : - É que nós fizemos o Grupo Carioca e nosso fantasia era preta e branca . Na viagem combinamos que os três desfilarlamas em nossas escolas, J6 era s6bada de carnaval e não dava tempo de fazer a fantasio daquele ano , pois o desfile era domingo, Então a gente tinha que desfilar com o fantasio preto e bronco mesmo, Quando veio o Mangueira , entramos com aquela roupa e não teve bronco, Veio a escola de Heitor dos Prazeres , 16 de Bento Ribeiro , e entramos também . Quando chegou a Portela. botaram o gente pro foro . Foi o Ma· noel Bom Bom Bom que expulsou a gente, Ele disse que de preto e branco não dava. Só de azul e branco, as cores do Portela. O resultado do desfile deu muito confusão. não pela vitória do Estação Primeiro de Mangueira . mos pela colocoç/io que foi olribuldo (> Portela : quinto lugar. " Estava dormindo a comissão julgadora" - escreveu o repórter do · jornal O Radical , indignado. l? - Estação Primeiro 2? - Mocidade louco 3? - Azul e Branco 4? - União do Sampaio 5? - Portela 6 ? - Deixa Molhar 7 ? - Paz e Amor 8? - Fiquei Firme 9 ? - União Barão da Gamboa lO? - Depois eu Diqo
11? 12 0 13? 14? 1 5? 16? l7?
-
-
l8? -
Unidos de Mangueira Última Hora Unidas da Salgueiro lira do Amor Não é o Que Dizem Filhos do Deserto e Unidos do Tuiuti Prazer do Serrinha e União de Co· légio Corações Unidos
" Não é de pasmar a quantos assistiram ao desfile de domingo?" - perguntou o repórter de O Radical. A má colocação da Prazer da Serrinha, quase em último lugar, se deveu ao foto da escola quase não ter desfilado por determinação da polícia que desejava o seu fechamento. Foi uma briga no centro de Madureira, entre com ponentes da União de Madureira com os do Rainha das Pretas (durante a qual um sambista da primeira feriu à navalha uma pastora da segunda), que levou a policia o fechar todas as escolas de Madureira e das redondezas , com exceção do Portela. Mas Alfredo Costa entrou em contato com a policio e obteve uma revogaçõo da ordem , pelo menos em relação à Prazer da Serrinha . O Cidadão Samba de 1940 foi Getúlio " Amor" Marinho, considerado o maior mestresala de todos os tempos. Ele participou do concurso para eleição do Cidadõo Samba re· presentando o escola que fundou , a Paz e Amor. Nascido em 1889, na Bahia, " Amor" já era um personagem importante do carnaval carioca , mesmo antes de serem criadas as escolas de samba : foi mestre-sala de vários ranchos carnavalescos , entres os quais o famoso Rei de Ouro, o Quem Fala de Nós Tem Paixão e o Flor do Abacate . Como compositor, sua es· pecialidade eram os pontos de macumba , mos o seu maior êxito popular foi a marchinho Tenho calmo, Gegê, composta em parceria com o pianista Eduardo Souto para o carnaval de 1932. Entre as suas composições estõo também Pula a fagueira, Apanhando papel e Na Favela. Getúlio " Amor" Marinho ( o apelido de " Amor" veio com ele da Bahia) foi Cidadão Sambo até o carnaval de 1946 . quando entregou o título ao sambista Eden Silva , o Caxiné, da Escola de Samba Depois eu Digo. Getúlio morreu em 1964.
Quando um sa,*,-ba meu/as sucesso aparece um cara para diser que nao e, meu.
-
,
-
Em matéria de escola de samba você
começou pelo Portelo mesmo? Z, K'tl - Quando eu era menino e morava
na Piedade, o Geraldo Cunha me levou para assistir a uns ensaios na Mangueira. O Geraldo era compositor do Mangueira. parceiro do Carlos Cachaça, daquela turma, e na época ele fozia muito sucesso por 16. Eu gostei muito do
coisa. -
Mas você ficou no Mangueira? K"I - Não, eu ia s6 assistir. Depois, mamãe se mudou poro Bento Ribeiro porque meu padrasto fez uma cosa ló .. . - Espera 01 um pouquinho. Com que idade você estava quando foi à Mangueira? K"I - Eu devio ter uns 13, 14 anos. Mas quando me mudei pora Bento Ribeiro. que ero perto da Portela, fui levado para a escola pelo Armando Santos, que era compositor e foi depois presidente. A Portela ainda nõo era no Estrada do Portela, 444 não. Era onde é hoje o botequim do Nozinho. era um terreiro des· coberto, não tinha nada. - Você j6 fazia samba nessa época? Z' K"I - Não, eu ia s6 apreciar a t urma. Não dava pro mim , eu ainda era meio garoto. - E quando foi que começou a fazer samba? K"I - Aos poucos eu fui me entrosando com Alvaiade e outros compositores da Portela, o Armando Santos, aquele pessoal. e eles me deram força. O meu primeiro samba na Portela fez muito sucesso 16. Era assim :
Z'
Z'
Z'
"l6 vem a Portela Com suas pastoras
filava na Portela.
Alegres a cantar Oba loiô, oba lai6
passeatas que a Portela fazia eu também ia com a escola e acabei ficando muito conhecido
Não tememos o vento nem a tempestade Nem as lindas ondas do mar
pela turma de 16.
Chega, deixa isso pro 16".
Z' K"I - J6, e na ala dos compositores. Nas
- Mas você andou brigado com o Portela logo depois que você começou a fazer samba
Eu não me lembro da segunda parte. Mas o samba fez um sucesso danado na Portela. A
por 16. Z' K..I -
segunda parte fala em jequitib6, não sei o que 16. - Esse foi o primeiro samba para Portela. Mas antes você não fazia?
por um troço : quando um samba meu faz sucesso aparece um cara para dizer que o samba não é meu. I: uma perseguição muito grande. Veja você como é a imaginaçõo das pes-
Eu fazia , mas particularmente, s6
soas. Fiz um samba pro Portela que fez muito
Z' K"I -
pro mim. O meu segundo samba para a Portela era uma resposta a um samba do Nelson
Cavaquinho exaltando a Mangueira. ~ aquele samba que a Clara Nunes gravou h6 uns dois anos. Eu aproveitei um verso do samba dele falando em " Paulo que morreu" - e fiz o meu. Desse samba não me lembro nada, mas o Can-
deia sabe ele todo. Vou até procurar o Candeia pra ele me ensinar. Eu sou muito esquecido. Acho até que tenho de tomar uns remédios com fosfato, porque não me lembro de v6rios samb,as meus. Se não fosse a lembrança de alguns amiêos, como o Candeia , não sei como é que eu ia me arranjar. Esse meu segundo samba, por exemplo. me lembro que era muito bonito. Vou pedir ao Candeia pro me ensinar e vou
gravar. Ele é muito bonito. - Naturalmente nessa época você j6 des-
~ que eu sempre fui perseguido
sucesso. A letra era assim: " Não, nõo quero morrer agora Ingrata morte vai embora
Abandone o meu leito de dor Peço clemência 00 Senhor
Estou em plena flor da idade Se eu morrer Do mundo levarei saudade". Quando lancei esse samba, o Nilson que era um compositor da Portela, um cobra , um grande compositor, ele estava tuberculoso. Depois ele morreu. Então. apareceram uns caras dizendo que o meu samba era dele por causa
da letra . Muita gente ficou do meu lado. O Armando Santos, o Alvaiade, muita gente ficou indignada com aquele negócio: " Não senhor,
Esse samba é do Zé Kéti. Ele I,!nçou aqui na Portela, o Nilson estava vivo , e ele próprio can-
75
tava. Que negócio é esse de dizer que o samba não é do Zé? " Mas eu fiquei muito triste e me afastei do escola . Voltando ao tempo em que você era criança, o seu primeiro contato com escola de sambo parece que nõo foi nQ Mangueira. Estou me lembrando de um sambo seu que falo em desfile no Praça Onze. Zé K"i - Ah! foi um samba em que falo do tempo em que eu era menino. bem menino, tinha uns quatro anos de idade. Minha mãe me levava paro assistir aos desfiles da Praça Onze. Mos eu nõo aguentava e acabava dormindo na calçado. Esse sambo que você falou conto mais ou menos essa lembrança : " Favela, do Camisa Preto. Do Sete Coroas Cadê o teu sambo . Favela? Era criança no Praça Onze Eu corria pro te ver desfilar Favela, teu samba era quente Fazia meu povo vibrar". Qual é a lembrança que você tem do Paulo da Portela? Z. Kéti - Ah! o Paulo! Ele era assim bem escuro. sobe? Um escuro bonito. A pele escura tem vórias tonalidades. tem vórios pretos. O Paulo era um preto de uma pele lustrosa. brilhante. amarronzada . escura. Muito alto, muito elegante. ele era muito vivo. muito lúcido. Era uma pessoa que não ficava parada não. Estava sempre falando , gesticulando. Era
76
simp6tico. inteligente. uma pessoa muito bacana. Ali6s , eu me lembro muito da turma toda daquela época. O João da Gente, Manoel Bom Bom Bom, o Doce, o Candeia Velho, o Pai do Bubu . um negão forte , me esqueço do nome dele, me lembro da turma toda. - Você tem um samba que fala do Paulo, do enterro dele. uma coisa assim. Zé Kéti - t: uma homenagem o ele e a v6rios outros : " Os sambistas não morrem Sambistas viajam Pro reino do glória Foram Caquera, Sinhõ, Noel e Claudionor Grandes vultos na história do samoa Todos as escolas fizeram Pro cada um funeral" . Depois eu falo no Paulo da Portela , no enterro dele, mas não estou lembrado do sambo todo. - Você conheceu o Caquera? Zé Kéti - Conheci , era de Bento Ribeiro. Ele era da Escola de Samba lira do Amor. que o gente chamava de " pega dormindo" porque os ensaios iam até de madrugada . O Caquera erõ um mulato muito inteligente também, trabalhador e era quem botava a escola pra frente. Teve uma morte terrIvel. - A escola acabou depoi s do morte dele. Ele e stava em cima do caminhão arrumando os coisas e o motor do caminhão estava traba-
Ihando. AI , as cordas que estavam no pescoço dele desceram por um buraco da carroceria, se enrolaram no eixo e ele morreu estrangulado. No ano seguinte circulou em Bento Ribeiro um sambo assim: " Ouvi dizer, ouvi falar Que a lira do Amor Este ano não desfilor6 Porque o tristeza 16 impera Por causo da morte 00 amigo Caquera Foi num dia de alegria Que a tragédia se deu Foi no carnaval passado Que o Caquera morreu J6 não se ouve o conto Daquele sabi6 Todo o lira estó em pranto Todo o mundo a chorar". Zé Kéti Foi uma coisa muito triste. O Caquera tinha uns 50 anos quando morreu. Ele era tudo na Escola de Samba lira do Amor. - O samba leviana foi lançado no Portela depois daquela briga, não foi? Zé Kétl - Foi . lancei em 1954 como samba de terreiro na Portela . foi um sucesso danodo. Me lembro que uma vez nós fomos no Mangueira e todo o mundo cantou o samba. O Jamelõo gostou muito e gravou e foi o primeiro grande sucesso dele. Foi uma coqueluche. Depois o samba entrou no filme Rio 40 graus, do Nel son Pereira dos Santos.
Natal: Zé Kéti na minha casa pode entrar. Na Portela, não.
- Quando você brigou com o Portela você foi poro a União de Voz Lobo. não foi? Zé Kéti - Isso mesmo. Fui pro 16. que era o escola do seu Dam6sio. Fiquei muito bem no União de Voz Lobo. Me le mbro. por exemplo. que levei o Ciro Monteiro pro visitar o escola . levei o pessoal do alta sociedade. levei uma porção de gente. Fui um dos pri meiros o lev ar o pessoal do alta sociedade em escola de sambo. Eu era muito amigo do Luiz Paulo Nogueira . filho do senador Hamilton Nogueira. e através dele. foi muito grã- fino na União de Voz Lobo. Eram caravanas de automóveis. Inclusive foi no União de Voz Lobo que você lançou o sambo A Voz do Morro. Zé Kéti - Foi um grande sucesso na quadra. De 16, o samba foi para o Rio 40 graus, foi gravado por Jorge Goul art e acabou virando um sucesso no mundo inte iro . Foram feitas não sei quantas gravações no estrangeiro. - Como foi a sua apro xi mação com o Nelson Pereira dos Santos para o filme Rio 40 graus? lé Kéti - Foi através do jornalista Vargas Junior. Eu contei A Voz do Morro pro ele naquele bar em frente à sede da ABI , o Vermelhinho . Ele gostou e me apresentou ao Nelson Pereira dos Santos . A i fiquei como ator. assistente de cômara e co mpositor do filme . Eu sei que o músico não e ra de carna val mos acabou estourando no carna val e me deu uma nota muito boa na época : Cr$ 110,00 , Cr$ 100,00 de arrecadaçõo e Cr$ 10,00 de prêm io
por ter sido sucesso nacional. - Mos você não demorou muito longe do Porte lo. Zé Kéti - Logo depois eu voltei . O pessoal começou o me pedir e acabei voltando. Como agora : estou afastado mos os meus amigos da Portela estão me pedindo para voltar. Hoje mesmo encontrei com o Verinha . relações público s da escola. e elo me perguntou : " Como é . quando é que você vai voltar?" Como na outro vez. eu não sol : apenas me afastei. - Você estó se esquecendo de falar de al gumas músicos suas que fizeram sucesso . Amor passageiro. por exemplo. Zé Kéti - Amor passageiro foi gra vado por linda Batista e fez muito sucesso no carnaval de 1952. Também foi lançado na Uniõo de Vaz lobo. Naquela época eu j6 andava no meio de música e eu procurava muito a linda Batista porque sempre ela me dava guarida. Havia também uma dupla chamado As Garotas Tropicais. Outra era uma moça que cantava o saudoso samba sincopado. contava espetacularmente. uma moço chamada Elza Valle, uma morena de olhos verdes. Era ótima no sambo sincopado. Tinha um ritmo alucinante e um ritmo no voz muito bacana. Quem acompbnhava ero o regional do Benedito Lacerda, uma coisa sensacional. Então eu procurava muito essa gente que me dava guarida. Eu não gravava muito mos elos contavam no ródio as minhas músicas . Até a Linda Batista resolveu
gravar o Amor passageiro e foi aquele sucesso. - Qual foi a sua primeiro música gravado? Zé Kéti - Foi em 1946, um samba chamado Tio Sam no Samba , uma música que teve parceria do Felisberto Martins que na época era diretor do Odeon. Quem gravou foi o conjunto Vocalistas Tropicais. E naquele ano mesmo gravei para o carnaval com o saudosissimo, o amigo que a gente não esquece jamais, Ciro Monteiro . O meu parceiro na música foi o Ari Monteiro. Eu andava pela Ródio Mayrink Veiga e o Ciro me falou : " Olho Zé, sÓ vou gravar essa música porque você não é chato". Ele falou por causo daquele negócio de uma porção de compositor andar atr6s do contar chateàndo. e eu não fazia isso . Me lembro bem do gravação : Raul de Barros no trombone ; Gilberto que est6 no RCA, no ritmo ; Odete Amaral no coro. etc. e tal. Era um samba assim : " Juro Que sou feliz com meu amor Ah! essa união Eu agradeço a Nosso Senhor" Você ficou triste do Natal ter morrido meio brigado com você? Zé Kéti - Fiquei . De qualquer formo , a gente brigava mas eu gostava muito dele. Quer dizer : brigava mos politicamente. Nessa briga que a gente teve. por causa do disputo do samba-enredo. naquele ano que Jair Amorim e Evaldo Gouveia fizeram o samba-enredo do Portela, eu fiquei muito chateado e criei coso mesmo. O Natal andou até dizendo para conhecidosnossos: " Eu gosto muito do Zé Kéti . Na minha casa ele vai quando ele quiser. Mas na Portela ele não entra . É uma ovelha negra que brigou e arrastou todo o mundo com ele" . É que me 'afastei e muito gente mesmo me acompanhou . Na verdade foi uma revolto danada. Fiz até um sambo pro ele. Quando cantei olho que o gente estava brigado ele me abraçou e me agradeceu. Se Deus quiser, quando gravar meu LP vou botar esse samba : " Dia de festa De terno branco ló vai ele de chinelo Ou então vai arrastando O seu tamanco " . E que o Natal podia vestir o terno bronco mais alinhado, mos não calçava sapato.
77
SAIBA O QUE VOCÊ VAI OUVIR.
Velha Guarda da Portela (Zé Kéti ) -
Foi o
samba de quadra que fez ma is sucesso nos en-
saios do Portela em 1961 , ao lado de Perfume, conf.t. e serpentina. de Hortênsia Rocha.
fasciculo. São Samba livre.
interpretados
pelo
conjunto
Mora no assunta, Deixo de Moda e lin-
Naquele ono a escola fozia pela pri mei ra vez os seus ensaios no novo sede, construido no perfodo em que ocupou o sua presidêncio o
guagem do morro (Padeirinho) -
sambista João Calça Curta (João Mendonça ).
Vitalino dos Santos) fixo nesses sambas a linguagem corrente no morro na década de 50 .
Naquele ono Zé Kéti j6 era um dos composi tores mais famosos da Portelo, com v6rios músicas gravadas e muitos sucessos. O intér-
prete é o próprio Zé Kéti . leviana (Zé Kéti e Armando Borges dos Reis ) - Em sua entrevista Zé Kéti conto como foi o lançamento desse samba que se transformou num dos primeiros sucessos em disco do cantor
Jamelão. Intérprete : Zé Kéti. Orgulho dos brasileiros e Meu nome é paixão (ambos de Zinco) - Zinco (Jonas da Silva) era um compositor da Escola de Samba Filhos do Deserto que depo is da sua morte juntou-se 6 Flor do Lins, nascendo a Escola de
Compositor
do Escola de Samba Estação Primeira e cronista
do Morro de Mangueira, Padeirinho (Oswaldo
Os estudiosos do linguajar do povo poderão ver ificar muitas gfrias correntes em Mangueira nos anos 50, assimiladas depois pelo classe médio. Moro no assunto, por exemplo, reduzido somente poro Moro , foi o palavra de ordem do jovem guarda nos anos 60 . Fogo na roupa virou nome de revisto teatral e muitos outras expressões se incorporaram definitivamente 00 vocabulório do carioca e se espalharam pelo Brasil. Em Mora no assunto, Padeirinho - o intérprete dos três sambas tem J. dos Santos como parceiro.
Tli tii (Ivone lara) -
Tli tii, feito quando
"vElHA GUARDA DA PORTElA Os teus cavaquinhos Os teus pandeiros, as tuas cuicas Os teus tamborins, chocalhos e surdos São uma tentação
Que é que vem 16 t o povo que diz Vem a Portei a A Portei a lell. Com a velha guarda Que' uma tradição Sua juventude Vem vibrante a cantar
Um samba natural de Oswaldo Cru. Que sem vaidade
Samba Lins Imperial que em 1976 desfilou pela
Ivone lara ainda era menino , espalhou-se por
primeira vez entre os escolas do pri meiro grupo. Apesar de ostentar grande prestigio entre os sambistas, Zinco quase nõo teve músico gra vada . Morreu tuberculoso e em dificuldades finance i ras. S6 conseguiu um hospital poro se tratar com a i nterferência do seu amigo e com-
toda a comunidade do samba do Rio de Ja·
Sempre deixo uma saudade
neiro, de maneira , que muitos pensavam ser um tema do folclore carioca . Só foi gravado em
Portei a , da Paulo e do Claudlonor
1975, lP Quem samba fica ... fica? , pro· duzido por Adelzon Alves para a Odeon , que
Que Deus do céu 16 levou Portela querida Não se humilha a ninguém A todos quer multo bem
"0
Zinco). Orgulho dos Brasileiras e Meu nome é
reuniu vórios compos itores de escola de sambo cantando as suas próprios músicos. A fai x a utilizada neste fasclculo , conta com o parti cipação do própria Ivone lara e foi e x tra fda
paixão entraram na disco que acompanha este
daquele lP.
positor da Portela , Walter Rosa. Graças a Wal· ter Rosa (que se lembro de v6rias sambas de
78
E de outros saudosos sambistas
Seu negócio' sambar Eu falo assim porque sou
Um dos po.tas de 16
LEVIANA
Já expliquei a razão
o ozor é seu Em vir me procurar
Ela me ajuda a esquecer Aquela que vive a dizer Que o meu nome é paixão
Me abandona. me deixo Não quero mais ver
(Vivo a cantar)
A luz do seu olhar Você manchou Um lar que era feliz E agora quer voltar
leviana, sinto muito
Mas vai tratar da sua vida Leviano. precisando
lhe posso dar uma guarida Mos o meu lar Sente vergonha como eu
O nosso amor morreu ORGULHO DOS BRASILEIROS
MORA NO ASSUNTO
Mora no assunto E vê se te manca Me admiro muito Você dando bronca Ora deixe disso Que é fogo no roupa Sabe lá o que é isso Então mudou Eu te dei o serviço E você não morou
Samba linda melodia Que traz alegria Na cidade ou na colina Samba orgulho dos brasileiros Que na voz dos serestei ros Torna·se apoteose divina Vem dos nossos antepassados De escravos acorrento dos No tempo do cativeiro O som embolava Sinhá Maria Que sorrindo assim dormia E os negros batucavam no terreiro
Nessas alturas Tenho que lhe esculachar Pro seu governo Você deve se mancar Como é que pode Você dar tonto mancada Tintia o volga Deixa de chinfra Meu camarada Como é que é Vê se mora na jogada
Sambo és do alto sociedade Desceste do morro para a cidade Hoje freqUentas o Municipal E o ritmo que o mundo inteiro já conhece E os brasileiros enobrecem Com tanto orquestração musical
DEIXA DE MODA
MEU NOME É PAIXÃO
Contar 00 som do violõo É o minha maior paixão Não bebo só paro esquecer Os sofrimentos meus Eu bebo por prazer Gosto da noite de luar Porque elo me dá bastante inspiração Cantando procuro afogar A dor que mora no meu coração A lua é minha companheira Com ela eu fico a noite inteira Ouvindo os acordes do violão Quando desponta Q madrugada Ouço o cantar da passarada E regresso pro meu barracão Não troco a noite pelo dia
Ora deixa de moda Que eu não vejo roda Na sua baiana Tens idéia de atraso Mas é que meu caso É assunto de grana Sabe lá o que é isso Eu lhe dando o serviço E você não morar Nunca foste modista Teu golpe de vista
Só tem que falhar Esse teu baratino Não é inglobado Para me ingrupir Tens bastante conversa Mas eu não vou nessa É melhor desistir Deste muita mancada Eu morei no jogada Você bronqueou Nunca foste de nada Teu assunto mirinhou
LINGUAGEM DO MORRO Tudo lá no morro é diferente Daquela gente não se pode duvidar Começando pelo samba quente Que até um inocente sabe o que é sambar Outra parte muito importante Que é bem interessante É o linguagem de lá
Baile no morro é fandango Nome de carro é carango
Discussão é bafefá Briga de uns e outros
Dizem que é borborim Velório no morro é gurufim
Erro lá no morro Chamam de vacilação Grupo de cachorro Em dinheiro é um cão Papagaio é ródio Grinfa é mulher Nome de otório é Zé Mané
TIÊ TIÊ Tiê tiê Cio lá oxá Passarinho estimado Que me deu inspiração Dos meus tempos de criança Guardei na lembrança Esta recordação. Tiê tiê Cio lá axá Representava pra mim Carinho, amor e paixão O encanto do Tiê Despertou meu coração. Tiê tiê Cio lá oxá A estrela que se move Eu também quero correr A estrela atrás da lua. Eu atrás do bem·querer. Tiê tiê Cio lá oxá Bem que vovó me dizia Criança, óia lá, tome cuidado Acho que o seu passarinho Está mal acostumado.