História das Escolas de Samba (Fascículo 6)

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Com o enredo Dez Anos d. Glória - uma espécie de autobiografia - a Escola de Samba dà Portela começou em 1941 . um perlodo que

..

ficou marcado na escola como o de Sete Anos

d. Glória : daquele ano até 1947 . o desfile dos escolas de sambo s6 teve uma campeã , a

pr6pria Porte Ia.


J6 se dizia até que a escola seria transformada em rancho carnavalesco por falto de od· vers6rios entre os escolas de sambo. ~ verdade que a Mangueira tentava acabar com a suo premacia da Portela, mos o m6ximo que con· seguia era um segundo lugar. Pedro Caetano, um compositor que não era de escola mas que sempre foi ligado ao samba, compôs uma música que foi um dos grandes sucessos do carnaval de 1948: "Mangueira, Onde é que estão os tamborins, 6 nego? Viver somente de cartaz não chega Põe as pastoras na Avenida Mangueira querida Antigamente havia grande escola Lindos sambas de Cartola Um sucesso de Mangueira Mos hoje o silêncio é profundo E por nado d .. ste mundo Não consigo ouvir Mangueira "

A Mangueira havia sido o campeã de 1940 e se preparava para o bi em 41. Samba não era problema, pois os seus compositores lançaram para aquele ano alguns sambas excelentes. Carlos Cachaça, por exemplo, tinha o Sem culpado : " Hoje não culpo ninguém Nem você também Nossa separação Em todos os crimes Mas em nosso crime, não". Geraldo Pereira lançou Vou partir (que Paulo do Portela contou quando saiu do Portela): "Vou partir sem briga Se ja fronca , me digo a razõo Porque eu si nto que vou deixor O meu lar Pro outro morar Com você".

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o de Cartola era assim : "Tive que contar a minha vida A essa mulher fingido Mesmo sem querer A elo disse tudo que sofri Esta dor que me crescia Nõo pude esquecer Pode ser que elo ouvindo os meus ais Volte 00 meu lar Para viver em paz". Mos o sambo escolhido pelo Estação Primeira de Mangueira para ser cantado frente à comissão julgadora , era de Moacir Bernardino e começava assim : "Acordei assustado Quando meu rel6gio despertou Olhei poro o lodo Fiquei intrigado Pois meu amor me deixou", A Portela, por sua vez , também tinha o seu repert6rio poro o carnaval de 1941 . Adeus, por exemplo, era de Alcides Lopes, o Alcides Histórico : " Adeus, mulher Vou partir chorando Quando o navio apitar E a bandeira no mastro Estiver içando Vou levar e deixar Muito saudade Mas vou cumprir minha sina Porque não quero ser covarde". Outro sambo do Portela : Voei deu motivo, de Nelson dos Santos : " Eu não tenho culpo Do seu padecer Se hoje est6 sofrendo Culpado é você Você deu motivos Pro lhe abandonar Agora me pede Pro lhe perdoar".


Aniceto de Andrade, o irmão mais velho de Nijinha e de Manacéia, era o autor de Sei que amaste alguém : " Sei que amaste alguém Que não correspondeu Ao teu amor Abandonaste Foi a causa da tua aflição Queres fazer o mesmo Ao meu coração Este prazer não darei , não" . E havia um samba de Paula da Portela, Não me apareças, que já não mais pertencia 6 es· cola : " Que moda é esta de vestido, Guiomar Você sempre arranja causa Para me contrariar Afinal que tanta pena Que você traz na cabeça Quando est iveres assim Por favor, não me apareças". O júri do desfile - Arlindo Cardoso, Alvaro Pinto, Lourival Pereira, F. Romano e Kalisto Cordeiro - deu um total de 419 pontos O Portela contra os 399 atribuldos O Estação Primei ra de Mangueira, que apresentou o enredo Uma só bandeira. As demais colocações foram as seguintes : 3~ Depois eu Digo 4~ Dei x a Malhar 5~ Unidos da Tijuca 6~ Unidos do Salgueiro 7 ? - Paz e Amor 8 ? - lira do Amor 9 ~ - Mocidade louca 1O~ - Não é o Que Dizem li ? - Fiquei Firme e Prazer da Serrinha 12 ~ Cada Ano Sai Melhor 13 ~ Unidos de Tuiuti 14? - União do Sampaio 15? - Vai se Quiser 16 ~ Fi lhos do Deserto

Nesse desfile a Praça Onze já estava in· teiramente desfigurada. A velha Escola Ben· jamim Constant já derrubada e os quarteirões formadas pelas Ruas General Caldwell , Senador Eusébio, Rua de Santana e Visconde de Itaúna não existiam mais. O repórter de O Radicai - o jornal que na época mais dava atenção os escolas de samba - lamentou o estado em que se encontrava a Praça Onze : " As escolas de samba, um dos últimos atrativos do nosso carnaval de rua, deram fama e popularidade O Praça Onze. Modestas, tlmidas, essas pequenas entidades formadas pela gente boa e pobre dos morros cariocas, sentiam-se como que acanhados de se exi· birem no Avenida Rio Bronco, preferindo, en· tão, fazer o seu ponto de concentração em lugar menos aristocrático, mos mais convi· dativo : a Praça Onze. E anos a fio as escolas de sambo viveram à vontade naquele recanto cal· mo da cidade, pondo à prova o valor e o capacidade dos seus componentes. Entretanto, agora, o Praça Onze passou o merecer os cuidados oficiais. Esperava-se, por isso, que se tornasse mais atraente, mais convidativo. Mas tudo não passou do " esperavase". E não passou porque este ano constituiu verdadeira decepção. Barracas por todos os cantos desprendendo os mais esquisitos cheiros, privando o povo de se locomover à vontade, aquilo mais parecia uma feira livre do que o famoso reduto onde o samba do morro sempre exibiu a sua beleza num conjunto de ritmos cada qual mais interessante. E as escolas de sambo que não esperavam por tamanho transtorno sofreram naturalmen· te a grande decepção, sentindo elos próprios que a Praça Onze j6 não é aquela mesma Praça Onze dos outros tempos, quando ninguém entendia de protegê-Ia".

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o

bicampeanato do Portela, em 1942, quando apresentou o enredo A vida da lamba, j6 foi numa Praça Onze praticamente inexistente (o famoso sambo de Herivelto Martins e Grande Otelo - Praça Onze - é justamente desse ano). No Jornal da Brasil, o cronista Atalldio luz - o Azul - que mais tarde assumiria por longo tempo o presidência do Federação dos

Ranchos Carnavalescos, advertia sobre o desfile no Praça :

" Com a aproximação dos maiores festejos populares do Brasil, tomamos a liberdade de sugerir ao Governo da Cidade a pavimentação da 6rea desapropriada para o construção da Avenida Presidente Vargas; do Campo de Santana à Praça Onze de Junho, pois no estado em que se encontra presentemente aquele vastissimo trecho, graves conseqüências poderão advir para os foliães que ali irão dançar, contar e sambar, dando expansão à sua alegria pura e co togiosa. Como é fácil avaliar, se não houver essa providência, nuvens de poeira envolverão os grupos, os blocos, etc. , sendo aspiradas por milhares de pessoas, o que acarretará sérias enfermidades e constituirá verdadeiro espetáculo anti-higiênico. Além disso, o p6 prejudicar6

a visão dos pedestres e condutores de velculos dando margem a que lamentáveis ocidentes se verifiquem. Assim , confiados no critério que preside todos os atos da ilustre administração Dodsworth, atento sempre em bem servir o povo da metrópole, aqui deixamos nossa sugestão".

Vinte e duas escolas de samba desfilaram assim mesmo no local, diante de uma comissão julgadora integrado por Francisco Guimarães Romano, Modestino Santos, Florêncio de Lima, Arlindo Cardoso, Lourival Pereira, Domingos da Costa Rubin e Luiz Augusto de França, que apresentou o seguinte resultado (a Portela teve apenas um ponto no frente do Depois eu Digo): I? - Portela 2? - Depois eu Digo 3? - Estação Primeira 4? - Paz e Amor 5? - Deixa Malhar 6? - Unidos do Salgueiro 7? - Papagaio Linguarudo a? - Cada Ano Sai Melhor 9? - Azul e Bronco lO? - Fiquei Firme lI? - União do Sampaio 12? - Unidos do Tuiuti 13? - Mocidade de um Paralso 14? - Não é o Que Dizem 15? - Unidos da Tijuca 16? - Prazer da Serrinha 17? - Mocidade Louca la ? - Unidos do Riachuelo 19? - Paralso de Anchieta 20? - União de Colégio 21 ? - Paralso do Grotão 22 ? - Flor da Infância de Br6s de Pina

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~f.::~~!

ilil1lii·iãil ",MIl. dlclll gar-

baile. um bom conlunto. A .egulr. d.bolxo d. fort•• aplaulOl. · .urglu a Escola d. Sambo da Portela. que na ano paliado obt.v. o "tItulo m6xlmo. A vida tia .ambo foi o t.ma do enteclo. defendido com multa opartunldad•. Todos o. d.talh.. do .amba foram focallzadoa. finalizando com a Integral vlt6rla r.pr.a.n· tada na lua ac.ltaçllo Integral em Hollywood. Com um cort.la .uperlor a 400 p...ooa. a Portela aflgurou-••• de.d. logo. forte concorrent•. apresentando tamb6m bem cad.nclada turma de bateria. bani lOmbo. • 6tlma harmonia. Alndo .. ouviam OI aplaulO' li Portela

quOndo vieram a Flqu.1 Firme. Paz • Amor. o.IiIID Mafhar. todas .m Infere.sont•• conluntos. Mas ..tava reservada 001 folia.. nova ClJlf'lll8ntaÇllo valiosa e ...Im. a EataÇllo Prl,"tira, iIII 22h30m. .urgla frente iI caml••1Io com grande garbo. art•. A vitória tia .ambo . . """"cu foi o .nredo ••colhldo. Nilo foi milita feliz na concepçllo. pai. apr...ntando flf\WClnt.. com o. nomes de vilrlo. pai•••• lu'" tlfleava a EstaÇllo Prlm.lra o ••u t.ma; no .ntanto. ogroclou sobremodo O cort.lo pela harmonlO clã bateria. como tamb6m pelo••ambo•• milito embora hau_ pequeno clesequlllbrlo entre _ .. e bateria. E.taÇllo Primeira formou cIeIde logo entre OI provllvel.. Pro.segulu O "'11. com Q presença do Mocidade Louca. Unlabdo Sampala. Unidos do Tulutl. Prazer da s.mnha. fiar da InfOncla. Vai .. Qul••r. Untao , . (ôllglo. ParallO do Grotllo. Unidos do TIlucae Depols.u Diga. que •• apre.entou como forte candidata 001 p...."IOI In.tltuldo. pela Prefeitura do Diatrlto Fed.ral". 87


43e44, II Guerra contra o samba. 1943 e 1944 nlk> foram anos muito bons poro o carnaval e particularmente para os escolas de sambo. O envolvimento do Brasil no 11 Guerra Mundial fazia com que houvesse um constrangimento por parte das autoridades, povo e jornais de se ocuparem com o carnaval. Os enredos com que o Portela venceu os dois carnavais - Carnaval d. Gu.rra em 1943, e BralU Glarlolo em 1944 - indicam que as es· colas também estavam envolvidas pelo clima de guerra. "Festejar o carnaval na situaçoo em que nos encontramos seria leviandade, sanêllo verdadeira inconsciência" - assinalou o Jornal do BralU. A Prefeitura da cidade decidiu ajudar ex· clusivamente o carnaval "realmente popular", A Liga de Defesa Nacional e o Unilk> Nacional dos Estudantes - empenhados na mobilizaçlk> do povo tendo em vista a participaçlk> do Brasil no guerra - assumiram a promoçlk> do desfile dos escolas de sombo. E para levantar o moral batizaram o carnaval de 1943 de Carnaval da Vitória. O desfile das escolas de samba foi realizado na Avenida Rio Branco e o júri estava integrado pelo Capitilo Luiz Gonzaga, pelos jornalistas Lourival Pereira, Benedito Calheiros Bonfim e Guimoriles Machado e pelo estudante (representante da UNE) Mauricio Vinhaes. Resul· todo : 1 ~ - Portela 2~ Estaçlk> Primeira 3~ - Azul e Branco 4~ Deixa Malhar 5~ - Coraçiles Unidos de Jacarepogue!! Pouco antes do carnaval de 1944, a Unllk> das Escolas de Samba distribuiu a seguinte noto oficial : O Conselho Deliberativo desta entidade tomou as seguintes providências relativas ao carnaval de 1944 : a) que as escolas de samba filiados fiquem 6 vontade com relaçila 6 salda ou nlk> na cor· naval de 1944;

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b) que a Unilk> Geral das Escalas de Samba nila tomare!! qualquer iniciativa quanto aos desfiles das escolas até o carnaval ; c) que a Unilk> somente se fare!! representar nos festivais internos de suos filiadas ou nao ; d) que fica suspenso o expediente da secretaria da UGES nos dias consagrados aos foi·

guedos carnavalescos; e) que as suas filiadas, na caso de resol· verem sair nos dias consagrados aos folguedos. devem cumprir rigorosamente as determinações do Sr. Tenente-Coronel de Policio e de seus auxili es na manutençilo da ordem e do respeito qu;' deve prevalecer nestes dias, a fim de cooperar com as mesmas devido 6 situaçilo d. guerra em que nos encontramos." No primeiro dia de carnaval, O Jornal safa com uma nota bem desanimadora: " Começa hoje o reinada efêmero de Momo. Seró o mais curto. o d. menor fausto. sem o entusiasmo dos outros anos quando o carnaval era de fato uma festa popular. Hoje o carioca nao mais possui a Praça Onze e em seu lugar existe um arcabouço de cimento armado: o futuro monumento dos trabalhadores. O carnaval deste ano sere!! mais triste. Es· tomos em guerra, atingidos pela crise mundial e aquela alegria cantaglante do carioca desapareceu, surgindo. uma n!tida campreensilo do momento que atravessa a humanidade." Por causa disso as escolas de samba des· filaram sem qualquer cobertura jornallstica. Sabe-se apenas que em 1944 e 1945 aParteia foi a vencedora, mas nenhum jornal divulgou a classilicaçlk> final dos desfiles.

45. a guerra entre escolas. O pentacampeonato obtido pelo Portela deveria ter sido o principal assunto paro os iornais de 1945, mas eles preferiram comentar a briga ocorrida num desfile promovido pela Unilk> das Escolas de Samba no campo do C.R. Vasco da Gama. que terminou com o morte do ritmista José Matinadas, de 21 anos, do Escola de Samba Depois eu Digo. Foi um conflito que envolveu componentes


das Escolas de Samba Depois eu Digo, Unidos do Salgueiro e Cada Ano Sai Melhor (do Morro de São Carlos) , terminando com a morte do jovem Matinadas e ferimentos em cerca de 20 pessoas. Várias prisões foram efetuadas pelos policiais do 16? Distrito Policial. Os jornais consideraram as escolas de samba como antros de marginais e O Radical saiu em defesa delas : "Aquilo que aconteceu domingo último no

estádio do C.R. Vasco da Gama foi um acon· tecimento banal na vida da cidade. Mos como os seus personagens vieram lá de cima do alto

dos morros cariocas com as suas cuicas, os seus tamborins , as suas pastoras e sua "bossa", o foto cresceu em proporções e deu morgem aos mais desairosos comentários contra essa gente boa e simples, cuja maior desgraça é ser pobre. Tudo se disse, então, de mau e pejorativo objetivando deprimir os compa-

nheiros de ideal daquele infortunado Matinadas que caiu paro sempre, vitima de cruel fatalidade . E para quantos nunca se deram ao trabalho de subir um Salgueiro ou de percorrer a Mangueira, ou de passar algumas horas na Portela, ou de travar conhecimento com um Paulo da Portei a, um Cartola, um Antenor Gargalhada (nota : Gargalhada morreu em 1941) ou um Pedro Palheta , a gente do morro - essa gente que faz samba com a alma e que canta com a coração ávido de felicidade - é apenas um caso de policia ." O Racllcal continua ainda defendendo as escolas de samba em longas linhas (" São sambistas apenas, porque não tiveram recursos para freqüentar escolas, senão as escolas de samba onde aprenderam a compor essas melodias beHssimas que muito artista diplomado não será capaz de compor" ) e o seu repórter foi ouvir Paulo da Portela que na época dirigia a Escola de Samba Lira do Amor. Disse ele: - N6s, os sambistas de morro, não merecemos tantas acusações. .: doloroso que um simples incidente, simples embora de funestas conseqüências, tenha dado margem a tão errôneos conceitos contra n6s. Entretanto, somos atingidos agora pelos piores adjetivos e pelas maiores humilhações, E tudo isso não' se justifica, mormente se considerarmos o exislência útil das escolas de samba. - E poss(vel que antigamente - prossegue Paulo da Portelo - fossem os morros cariocas refúgios de ladrões, desordeiros e maus elementos de toda espécie. Mas falemos a verdade : quando o samba começou a se organizar e as escolas foram ganhando projeção, os morros eliminaram, de pronto, a desordem e a valentia e ninguém ficou com o direito de puxar navalha, ser malandro ou viver do baralho.

Porque com tais espetos, as escolas de samba não poderiam viver, tendo em vista que a policia não lhes concederia a necess6ria licença. Assim cada qual tratou de dar um jeito no corpo, se quisesse sambar. Resultado : a ordem e o respeito tomaram conta do zona. - Na lend6ria e sempre saudosa Praça Onze - é ainda Paulo da Portela quem fala - onde cada escola empenhava todos os esforços e todas os energias em busca de um triunfo consagrador, nunca houve qualquer mancha a empanar o brilho das exibições e dos bacharéis do samba. E não errarei quando afirmar que em nenhuma porte do Rio o público se sentia tão garantido, tão satisfeito e tão certo de um espetáculo cheio de vibração e fraternidade quanto 16 ; em meio ao ruido ensurdecedor de cultas, pandeiros, surdos e tamborins. Também na antigo Feira de Amostras as escolas de samba cruzavam as suas forças com indizivel vigor. E no entanto nunca houve quem pudesse acusar-nos de qualquer atitude menos digna de gente civilizada. Paulo da Portela estava inflamado : Que merecemos um conceito melhor, prova-o o foto de contarmos, n6s dos morros, com a constante visita de pessoas ilustres que se tornaram , com o passar do tempo, em ilustres amigos nossos. Cito, por exemplo, o Doutor Alfredo Pessoa, o saudoso Lindolfo Collor, O Sr. João da Canalli , o sempre Pedro Ernesto, o capitão Frederico Trota e muitos e mu itos outros. Se fôssemos tão desprezfveis como muita gente está querendo supor, ninguém subiria as nossas ladeiras para nos apertar a mõo. Eu mesmo acrescentou sou lustrador. Suo o dia inteiro paro sustentar a minha fam(lia . E, como eu, Cartola, Carlos Cachaça e todos enfim. não vivem de marmita. Pelo contrário : trabalham de sol a sol para comer, sem olhar qualidade de serviço ou horário de pegar ou de largar. O morro não tem e nem abriga malandros. E a policia sabe muita bem que os verdadeiros malandros ficam lá embaixo, batendo calçadas pela Rua do Ouvidor, Rua Gonçalves Dias, Avenida Rio Branco, etc. Todos n6s lamentamos a morte de um companheiro " bom , de sonhas e de lutas, como era o Matinadas. Mas lamentamos mais o golpe que a fatalidade desfechou sobre o desfile efetuado no estádio de São Januário e cujas conseqüências feriram profundamente a moral das escolas de samba. Mas é preciso compreender a gente do morro para que se possa fazer o devida justiça a todos nós que andamos de camiseta ou de tamancos, porque não ganhamos poro usar sapatos de três solas e ternos de panamá.

46, a~erra

contra a Portela. A primeira ação concreta contra o resultado do desfile das escolas de samba ocorreu em 1946 quando a Prazer da Serrinha resolveu protestar, alegando desrespeito ao regulamento da União Geral das Escolas de Samba. Os principais dirigentes da Prazer da Serrinha, Alfredo Costa e José Caetano Bel izário em entrevista aos jornais, não se referiram ao 11? lugar atribufdo à sua escola, mas a outras classificações, como o primeiro lugar para a Portela e 17? paro o União Primeira. A ação encabeçado pela Prazer da Serrinha foi entregue à União Geral das Escolas de Samba nos seguintes termos": " As escolas de samba federadas a essa união, por seus presidentes abaixo assinados, não se conformando com a publicação retardada do veredito proferido pela Comissão Julgadora, par ter sido este publicado com infração do artigo 13 do Regulamento para o carnaval da União das Escolas de Samba para 1946, que dispõe: Artigo 13 - Apás o término do concurso a Comissão Julgadora entregará à Diretoria da União das Escolas de Sambo o mapa com o veredito das escolas vencedoras , o qual será anunciado no mesmo local do concurso ou no dia seguinte, pela imprensa. O julgamento foi realizado no dia 3 do corrente mês, sem que "no mesmo local do concurso" fosse anunciado o veredito das escolas vencedoras. Como se evidencia no jornal A Noite incluso, somente no dia 6 do corrente, três dias após o concurso, foi anunciado o veredito pela imprensa. Não se conformando as entidades abaixo relacionadas com o procedimento da diretoria da União da. Escolas de Samba, pedem a anulação do veredito proferido, requerendo preliminarmente suste o pagamento dos prêmios, até que seja discutida e julgado pela Conselho Deliberativo da União o caso em debate, como um ato de rigorosa justiça." O Conselho Deliberativo da União das Escolas de Samba confirmou o resultado e não mais se falou no assunto.

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Ele tentou falar comigo mas botou uma golfada de sangue pela boca.

DUDUCA, quase meio séc'llo de Salgueiro Eduardo de Oliveira, o Duduca, nasceu em 1926 no interior de Minas Gerais, mas fo i registrado no Rio de Janeiro como carioca. Mora no Morro do Salgueiro desde os sete anos de idade, Antes sua famllia vivia na Ch6cara do Vintém e foi despejada de 16 juntamente

com todos os outros moradores, graças à oçõo do calabrês Emllio Turano que provau na Justiça ser o dono do morro. A mesma ação ele tentou pouco depois em r elação ao Morro do Salgueiro mas foi derrotado na Justiça. Duduca é o atual presidente da ala dos compositores da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro e autor de vórios sambas-enredo que o sua escola cantou no carnaval. Grófico de profissão. ele nunca teve tempo para tentar no órea do consumo uma projeção proporcionai 6 quantidade e 6 qualidade dos seus sambas, que começaram a nascer há cerca de 35 anos. Seu pai, Paulino de Oliveira, foi presidente da Escola de Samba Depois eu Digo e da Acadêmicos do Salgueiro. A importOncio dessa entrevista nõo se limita apenas li bibliografia de Duduca : ele foi testemunho do famoso conflito entre componentes de escolas de sambas em 1945, no campo do Vasco . quando morreu o seu amigo e parceiro José Matinadas. - Você conheceu o Turano? Duduca - Me lembro bem. Ele mancava de uma perna. Na antiga Ch6cara do Vintém, 16 em cimo, ele tinha um palacete num terreno muito grande. Era uma espécie de sitio. Era naquele local que hoje é conhecido com o nome de Morro da liberdade. Aquilo tudo era dele. Pelo menos era o que ele dizio. - A suo escola no Salgueiro era o Depois eu Digo. Com que idade você começou o fazer

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samba pra ela? Duduca Eu devia ter meus 17 anos. Naquela época eu jogava muita bola e tinha uma namoradinha chamada Elza. Uma vez eu briguei com elo e fiz um sambo. Quando a gente voltava de um jogo de futebol , eu cantei o samba pro Matinadas e pro Didinho. Os dois j6 morreram. Quem mondava no samba da Depois eu Digo naquela época, era a dupla Anibal Silva e ~den Silva, o Caxiné. Eu nem me atrevia o apresentar um samba na escola. Eu , com 17 anos, não dava. À noite o Matinadas e o Didinho contaram o sambo e todo o mundo ocompanhou. Fui chegando devagarinho e eles me chamaram: "Vem cá, vem cá, esse é que é o dono do samba". - Como era o sambo? Duduca - Vou dar uma palhinha : "O meu coração quase parou Depois que perdi meu grande amor Mos o sorte me protegeu Um novo amor me apareceu E hoje vivo o contar Poro esquecer quem não me soube amar". E vai por 01. Era ainda meio rústico , mos depois eu fu i me aprimorando. Mos o samba foi muito contado na escola. Fez muito sucesso. Não foi gravado mas agradou muito na escola. - O Didinho era compositor? Duduca - Não. Ele era diretor de bateria do Azul e Branco mas vivia sempre conosco porque nosso time de futebol era quase todo o mundo da Depois eu Digo. Não era compositor mos gostava de cantar. Era um grande - impr ovisador. Na horo do partido alto ele brilhava improvisando. Era perfeito quando versava um sambo de improviso. - O Matinadas era compositor também?

Duduca - Era. Ele sala na bateria, mas era compositor. El.e era mais ou menos do minha idade. - Como é que foi a briga no campo do Vasco no carnaval de 1945? Duduca - Naquele ano c. samba-enredo da Depois eu Digo era meu e do Matinadas. Nós tiramos um samba falando da guerra. Disseram, aliás, que ficou um pouco em cimo de outra música mos não tivemos essa intençello. A gente era muito inexperiente. O samba foi t irado em cimo do carnaval e minha irmã copiou a ' Ietra ti mão poro distribuir entre os componentes. Ela fez umas trezentos cópias. Antes do desfile contornos, treinamos e demos um descanso no pessoal pouco antes do momento de nós desfilarmos. - E a briga? Duduca - Foi na hora que a gente estava parado. O Matinadas chegou pra mim e falou : " Vamos dar uma voltinha até ali alr6s." Eu disse que não, que estava cansado e f iquei de cócoras descansando. Passaram poucos minutos e vieram me dizer que deram uma ferrada no Matinadas. Eu corri lá pro trás e estava deitado no chão . Falei com ele, ele tentou falar comigo mas botou uma golfada de sangue pela boca. Quando levantei o roupa dele vi um furinho no peito que quase não sala sangue. Vi logo que ele ia morrer, pois parecia que estava com uma hemorragia interna. Passaram poucos minutos e ele morreu. - Você deve ter ficado chocadlssirno? Duduca - Muito. Eu t inha combinado que iria batizar a filha dele que tinha nascido h6 quatro dias e batizei mesmo. Confirmei a minha palavra que serlamos compadres. - Ela desfilo no Salgueiro?


Quem estava de preto e branco levou navalhada de Mário Upa.

Duduca - Não , elo não deu pro negócio de samba, não. Ela casou com um rapaz que trabalha nos Correios. muito nova, ele também, mas os dois têm muito ju(zo, compraram uma casinha em Deodoro e estõo lá com quo.rc filhos . - Agora, depois que ferraram o Mofinadas, o pau comeu , não foi? Duduca - Se comeu! Quem ferrou ele foi o pessoal do Cada Ano Sai Melhor, mos ninguém soube exatamente quem foi. Até eu fu i chamado na poUcio como suspeito. Imagino a minha situação: melhor amigo dele, suspeito! Na policio comecei a chorar. Ameaçaram me bater, foi uma coisa horrlvel. Não entendia nado. - Durante a brigo muita gente saiu ferida? Duduca Saiu. Tinha um rapaz que era meio marginalzinho, o Mário Upa, que gostava muito do Matinodos. O Motinadas era muito querido no morro. O M6rio Upa quando soube que ferraram ele, ficou feito louco. Disseram no hora que o pessoal do Cada Ano Sai Melhor não estava com o roupo da escalo, mos com uma roupa preto e bronca. Nem levaram pastoras. Foram ló pro brigor mesmo. Quando houve o negócio, o Cada Ano saiu foro . Se pegaram, pegaram poucos. Mas havia um pessoal - acho que do Catete - que também estava de camisa preta e bronca e foram eles que sofreram mais. Parece que foram tr inta e tantos ou quarenta e tantos que foram para o hospital. O M6rio Upa se plantou perto de uma porta e todo o mundo que aporecia com roupa preta e bronca ent ravo no navalha. Foi uma loucura ! - -E o culpado apareceu? Duduca O falecido Manoel Macaco

acusou o Bicho Novo, do Morro de São Carlos. Bicho Novo esteve preso uma porção de tempo, até que surgiu um rapaz como o verdadeiro matador. Não me lembro do nome dele, mos acabou ficando preso. - Me disseram que a culpa foi de um cara que passou o mão no porto-bandeira do Cada Ano Sai Melhor. Duduca Houve uma festa num colégio que havia no Salgueiro e v6rias escolas de samba apareceram. Me lembro muito bem desse dia : estava chuviscando e encontrei o Matinadas com o guarda-chuva na mão. Perguntei se ia ti festa e ele disse que não, nõo me lembro se havia nascido o filho dele naquele dia ou se estava pro nascer. Batemos um papo de uns cinco minutos e ele foi pro casa. Eu fui pro festa . ló um rapaz muito brincalhão, muito abusado, que vivia 56 de galhofada. Era o levi , que dançava de mestre-sala, um mulatinho oito, magrinho. Eu sei que ele gostou do portabandeira do Cada Ano e ficou perturbando e elo refugou. Ele 01 passou o mão nela e gritou: "Eu sou O Matinadas! Eu sou o Matinadas! - E O Matinadas não tinha nada com isso? Duduca - Nado. L6 no campo do Vasco, o pessoal do Cada Ano Sai Melhor ficou procurando o Matinadas. AI um garoto do Salgueiro apontou: " ~ aquele ali" . O coro chegou e não conversou : enfiou o ferro . O caro morreu sem saber o razão . - O que o Matinadas era no vida? Duduca - Quando nós éramos garotos, eu e .ele éramos jornaleiros ali no largo do Cari oca. Depois ele começou a trabalhar numa fóbrica de cadeiras. Eram umas cadeiras de lona que eram uma espécie de espreguiçadeiras.

- Você se lembro do sambo que vocês fizeram naquele ano? Duduca - Ero meio esquisito, era um sambo pro época do guerra : " Brasil, terra do liberdade Berço do felicidade Onde existe o tranqüilidade Meu Brasil Jamais houve em outro tempo Tão enorme sentimento Como hó neste momento E saber que seus filhos morrem Pro lhe defender Oh! meu Brasil Não importamos de morrer A vitória é certo Mos se continuarmos alerto Oh! meu Brasil Poro vencer ~ preciso ter prazer De matar ou morrer". - As escolas de sambo do Morro do Salgueiro tinham uma rivalidade muito grande entre elas? Duduca - Muito grande. No lugar delas se unirem , disputavam umas com as outros. O que levou as escolas a se juntarem foi o colocação do desfile de 1953. A Unidos do Salgueiro, azul e rosa , teve uma boa colocação. A Depois eu Digo ficou mois atrOs e o Azul e Branco tirou nos últimos lugares. Naquele ano jO havia aquele negócio dos últimas colocadas serem rebaixados poro o outro desfile. A gente dizia até que iam pro poeira. A Azul e Bronco portanto , ia pro poeira. Foi isso que fez o pessoal pensar em se unir. - Quem teve a idéia? Duduca - Não foi dos mais velhos, não. Foi dos mais jovens. Me lembro até de um sambo do Geraldo Babõo: "Dev(amos balançar o roseira Dar um susto na Portei a , No Império e no Mangueira Se houvesse opinião O Salgueiro apresentava Uma s6 união No meio de gente bomba Freqüentadores do sambo 10m conhecer o Salgueiro Como primeiro em melodia Acontece que chegou a Academia". AI , em março de 1953 houve o união entre os escolas de samba Depois eu Digo e Azul e Branco e nasceu a Acadêmicos do Salgueiro. No primeira reuniõo , o Casemiro Calço larga, que representava a Unidos do Salgueiro, nõo quis participar do fusão , por discordar dos demais. Depois os integrantes da escola dele acabaram aderindo e ele também.

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Palmas e sambas para os vencedores da guerra. o desfile de 1946 foi realizada na Avenida Presidente Vargas, no local onde existia a Praça Onze. Foi aberto pelo Cidadão Samba Eden Silva (o Caxiné). compositor da Escola de Samba Depois eu Digo que substitula o Cidadão Samba de 1940, Getúlio " Amor" Marinho, que permaneceu até 1946 naquela função. Quase todos os enredos apresentados pela escola eram relacionados com o guerra conforme se verifica nos escolas que divulgaram o seu enredo. O resultado do desfile foi este: I ~ - Portela (Alvorada de um novo mundo) 2~ Estação Primeira de Mangueira (A nossa História) 3~ - Depois eu Digo (Tomada de Monte Castelo) 4~ Azul e Branco (Cruzada da Vitória) 5? - Paz e Amor 6~ lira do Amor (A Lira na Salão de 1946) 7~ Unidos da Tijuca (Anjo da Paz) S~ Unidos da Capela 9~ - Filhos do Deserto (Um samba na cidade)

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I O~ - Cada Ano Sai Melhor (Uma festa na Bahia) Ii ~ - Prazer da Serrinha (Canferincla de São Francisca) 12~ - Unidos do Salgueiro (Todos para um só fim) 13~ Corações Unidos 14~ Não é o Que Dizem (A chegada dos heróis brasileiros) I 5~ - Vai se Quiser (Saudações Democráticas) 16~ Império da Tijuca (Aos heróis de Monte Castelo) 17? - Uniõo Primeiro l8? - Fiquei Firme 19~ - Mocidade Louca de São Cristóvõo

o samba cantado diante do comissão julgadora pela Escola de Samba Depois eu Digo era de uma dos mais ilustres parcerias do Salgueiro, o Cidadõo Samba Eden Silva e de Anibol Silva. Tinha o mesmo nome do enredo e ero assim : " Soldados Expedicion6rios O Srasil se orgulho de vós lutastes no velho Europa

Qual verdadeiros heróis Retratastes ao mundo inteiro A fibra da soldada brasileiro 1\ Honrastes o vulto de Caxias Na tomada de Monte Castelo Soldados, vós glorificastes O pendõo verde e amarelo" .

o outro samba que a escola cantou tombém era relacionado com a guerra e chamava-se Canta, Salgueiro (autores: Anibal Silva e Darci Teixeira) : " Canta, Salgueiro Com seu peito varonil A grande glória da Brasil Conta, Salgueiro Com a voz sempre colorido Conto louvando A vitória das Nações Unidas 1\ Palmas aos vencedores Desta grande guerra Brasil, Estados Unidos, Rússia e Inglaterra",


4~

o sétimo ano de glória. Inscreveram-se 48 escolas de samba para o

desfile de 1947, mas no domingo de carnaval apareceram apenas 26. Outra novidade daquele ano foi o local do desfile: Avenida Presidente Vargas . em frente à Escolo Riva-

dóvia Correa. E um grupo de escolas dissidentes desligou-se da União das Escolas de Samba, criando a Confederação das Escolas de Sambo

do Brasil. A novo entidade nasceu na sede do Partido Proletório do Brasil durante umo reuniõo presidida pelo então major do Exército Frederico Trotta que como poUtico desde os tem-

pos do prefeito Pedro Ernesto era ligado às escolas de samba. Participavam da Confederação as Escolas de Samba Azul e Branco, Depois eu Digo, Unidos do Salgueiro, Paz e Amor e Unidos do Catete. O júri de 1947 era integrado pelos Srs. Cristóvão Freire, Jaime Correa, Edmundo Magalhães, Capitão José Nunes Sobrinho e Armando Filó. Foi ele que deu a sétima vitória consecutivo à Portelo.

1? 2? 3? 4? 5? 6? 7?

-

Portela Estação Primeira Depois eu Digo

-

Poz e Amor Azul e Branco lira do Amor Prazer da Serrinha

a? -

Unidos da Tijuca

9? -

Paro(so dos Morenos

lO? -

Filhos do Deserto Cada Ano Sai Melhar Unidos de Vila Isabel Unidos do Cabuçu Unidos do Salgueiro

11? 12? 13? 14?

-

15? -

Recreio de Inhaúma

16? 17? -

Unidos do Catete Recreio de São Carlos Paralso do Grotão Escalão do Tupã Flor do Lins Unidos de Terra Nova Cenóculo do Samba Unidos de Morro Azul Fiquei Firme Aprendizes de Copacabana Acadêmicos da Góvea

la? 19? 20? 21? 22? 23? 24? 25? 26?

-

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SAIBA O QUE VOCÊ VAI OUVIR.

Sublime Pergaminho (Nilton Ruço. Zeca Melodia e Carlinhos Madrugada) - O enredo da Escola de Samba Unidos de Lucas em 1968

ero História do Negro no Brasil, mas o sambo acabou ficando conhecido mesmo como Sublime Pergaminho. Naquele ano a Unidos de Lucas chegou em quinto lugar e durante o seu desfile aconteceu o seguinte foto : o compositor e jornalista Marco Aurélio Guimarães, o Jan· gado (hoje radicado as escolas de samba de São Paulo. onde mora). fazia o papel de um senhor de escravos que batia em seus servos

com chicote. A certa altura do desfile, policiais que davam serviço no Avenida Presidente Ver· e vendo aquela cena, entraram no meio do desfile para prender Jangada e proteger os negros que apanhavam dele. O problema s6 foi

90S

resolvido quando os soldados entenderam que os chicotadas faziam parte do enredo. Intérprete: Abllio Martins. Festa do Divino (Nezinho. Tatu e Campo) O ano de 1974 foi muito importante poro o Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. A partir daquele ano ela ganhou

o status de grande escola e poderio até ter ganho o carnaval se o juiz de fantasias não tivesse dado uma absurda nota quatro. Considerando que as fantasias da Mocidade Independente foram feitas naquele ano por Arlindo Rodrigues , apontado como o maior figurinista de escola de samba, o absurdo é maior ainda , tudo indicando que a baixo nota foi conseqüência de alguma inimizade entre Arlindo e o jurado - um fazedor de jóias. Não precisava atribuir à escola a nota dez que Arlindo estó acostumado a receber . Bastava um oito para a Mocidade Independente ser a campeã e quebrar o hegemonia das quatro grandes - Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano. Quem canta Festa do Divino é Abilio Martins. Os Sertões (Edeor de Paula) - Em qualquer antologia de samba-enredo que se faço daqui em diante, o Escola de Samba Em Cima do Hora tem que estar presente com pelo menos dois sambas : O sober poético do literatura de Cordel, de Baioninho ; e Os Sertões, o samba que a escola cantou no carnaval de 1975. Este último tem uma diferença - digamos ideológica em relação o quase todos os sambas-enredo: o sua letra não e x alta os vencedores , mos os jagunços de Antônio Conselheiro, os heróis derrotados na luta i nglória de Canudos . Intérprete : Abllio Martins . Paz Universal (Mano Dé cio da Violo e Silo s de Olivei ra) - Mono Déci o da Viola considera

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esse o primeiro samba-enredo, segundo os padrões atuais : o letra narrando o enredo que a escola apresenta. Conto Mano Décio que o enreda da Escola de Samba Prazer da Serrinha em 1946, seria Conferência de São Francisco, mas o presidente do escola , Alfredo Costa, na hora do desfile não deixou que se contasse o samba feito por eles. Preferiu um outro samba que não tinha nada com o enredo e que se chamava Alto de Colina. O veto estimulou ainda mais uma dissidência que surgia no escola e que pretendia influir nos seus destinos. Foi dessa dissidência que surgiria logo depois o Império Serrano. O intérprete do Samba é Abllio Martins. Vale do São Francisco (Cartola e Carlos Cachaça) Foi o último samba feito pela dupla para a Escola de Samba Estação Primeira cantor no carnaval. A partir doi , Cartola e Carlos Cachaça convivem com a escola mas não desempenham qualquer função executivo. Em 1948 . ano do Vale do São Francisco. a Mangueira tirou em quarto lugar. Intérprete : Abilio Martins. Rio. Capital Eterno (Walter Rosa) Dois meses antes da capital mudar-se para Brasilia, a Portela cantava no Avenida Rio Branco esse excelente sambo-enredo exaltando as virtudes da cidade do Rio de Janeiro. Terminado o desfile de 1960. a Portela teria conseguido tranqüilamente seu segundo tetracampeonato, se o regulamento daquele ano não determinasse o perda de pontos das escolas que se atrasaram no desfile. Ao ser feita o contagem dos pontos perdidos, o Salgueiro ganhou o campeonato. provocando um tumulto tão grande que a solução encontrada foi fazer das cinco primeiros colocadas os campeãs de 1960. Quem canta Rio. Capital Eterna é o pr6pria autor : Walter Rosa . Zumbi dos Palmares (Anescarzi nho e Noel Rosa de Oliveira) - Foi o samba cantado pelos Acadêmicos do Salgueiro no desfile de 1960. Um belissimo samba-enredo que ajudou mu ito num dos melhores desfiles que o Salgueiro j6 fez. Intérprete : Abilio Martins. Seca do Nordeste (Gilberto de Andrade e Waldir de Oliveira) - O disco que acompanha este fasciculo pretende apresentar uma espécie de antologia do samba-enredo. E em nenhuma antologia poderia faltar e sse samba que a Tupi de Br6s de Pino cantou em 1961 quando desfilou no segundo grupo e foi a v icecampeã ( no ano seguinte desfilou no primeiro grupo, mos em 1963 jó estava novamente no segundo). Saca do Nordesta foi gravado logo após o carnaval pelo cantor Jamelão e , em , 972 , muitos anos mais tarde , foi gravado pelo cantora Cloro Nunes, voltando o fazer sucesso. A interpretação no disco que a companha o fasciculo é de Abili o Marti ns .


o badalar dos sinos Anuncia a coroação do Divino Batuqueiro, violeiro e cantador Alegram o cort_ia do pequeno imperador

leiloeiro faz graça Com uma prenda na mão A banda toca com animação

Oh! que beleza A festa do Divino Flores, músicas e danças

E fogos explodindo Roda, gira, gira. roda Roda grande vai queimar Para o glória do Divino

Vamos todos festeiar

Esses revoltosos

Bolívia, Chile e Argentina

Ansiosos pela liberdade

VALE DO SÃO FRANCISCO Nào há neste mundo

Buscavam a tranqüilidade Ô à à .. . Ô à à .. .

No arraial dos Palmares

Cenário tão rico Tão vório. com tanto .splendor

Nos montes onde jorram as fontes

Que quadro sublime De um santo pintor Pergunta o poeta esquecido Quem fez esta tela De riquezas mil Responde soberbo o campestre Foi Deus, foi o Mestre Que fez meu Brasil

Meu Brasil, meu Brasil OS SERTÕES Marcado pela própria natureza

O Nordest. do meu Brasil Oh! solit6rio sertão De sofrimento e solidão A terra é seca

Mal se pode cultivo r Morrem as plantas

E foge o ar A vida é triste nesse lugar

Sertanejo é forte Supera misérias sem fim Sertanejo homem forte

E se vires, poeta. o vale

O vale do Río Em noite invernosa Em noite de estio

Que fica, que passa Em terras tão boas Pernambuco, Sergipe,

Majestasa Alagoas E a Bahia lendária Das mil catedrais E Q Terra do Ouro De Tiradentes Que é Minas Gerais

No interior da Bahia Um homem revoltado com a sorte Do mundo em que vivia Ocultou-se no sertão

Espalhando a rebeldia

s.

revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia

Os jagunços lutaram Até o linal Delendenda Canudos Naquela guerra fatal PAZ UNIVERSAL Estabeleceu a paz universal Depois da guerra mundial A união entre 05 Américas

Da Sul, Norte e Central Nunca existiu outra igual Na vida internacional

Nosso pars Sempre teve interferência Nas grandes conferências

Da paz universal É o gigante

Surgiu nessa história um protetor Zumbi, o Divino Imperador Resistiu com seus guerreiros em sua Tróia Muitos anos ao furor dos opressores Aos quais 05 negfos refugiados Rendiam respeito e louvores Quarenta e oito anos depois

De luta e glória Terminou o conflito dOI Palmares

E lá no alto da serra Contemplando as suas terras Viu em chamas a sua Tróia E num lance impressionante Zumbi no seu orgulho precipitou

Lá do alto da Serra do Gigante Meu ~ da É de É da

maracatu

)

coroa imperial } bis Pernambuco } casa real }

SECA DO NORDESTE O à à .. , Sol escaldante, terra poeirenta Dias e dias, meses e meses sem chover

E o pobre lavrador

Dizia o poeta assim

Foi no século passado

E do jugo dos portugueses

Da América Latina Uruguai, Paraguai,

RIO, CAPITAL ETERNA Cidade de Sào Sebastiào do Rio de Janeiro Rainha das paisagens Maravilha do mundo Inteiro

Com a ferramenta rude

Dá lorte no sal o duro ~m. c~da pancada parece gemer O o a ... ~eme a terra de dor

O teu cenário histórico

O à à ...

O passado a ilustrar O sonho do teu fundador Estácio de Sá Simbolizando em cânticos alegres

Não adianta meu lamento, meu Senhor Ôô Ô ô eo chuva não vem O chão continua seco • poeirento

Aqui viemos exaltar Estão consumados, cidade, teus ideais

Apologia a teus vultos imortais Rio, dádiva da natureza Aquarela universal Os sambistas elegeram ao som da música A nova Guanabara

Esta é a capital de encantas mil Lá lá lá... } b' Orgulho do meu Brasil } os ZUMBI DOS PALMARES Nos tempos em que o Brasil ainda era Um simples país colonial

"Pernambuco foi palco da hlstária que apresentamos neste carnaval Com Q invasão dos holandeses Os escravos fugiam da opressão

No auge do desespero Uns s. revoltam contra Deus Outro. rezam com fervor Nosso gado est6 sedento, meu Senhor

Nos livrai dessa desgraça O céu escurece As nuvens parecem

Grandes rolos de fumaça Chove na caraçàa do Brasil E a lavrador Retira o seu chapéu

E olhando o firmamento Suas lágrimas se unem

Com as lágrimas da céu O gado muge de alegria Parece entoar uma linda melodia

Ô à à ... Ô à à, ..



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