Revista da Imperatriz Leopoldinense 2010

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SECRETA RIA DE TURISMO, ESPORTE E LAZER


o VERDADEIRO MllAGRE BRASllEIRO Fabio Pavao Praia de Coroa Vermelha, Iitoral sui da Bahia, outono de 1500. Poucos dias apos as caravelas aportarem, europeus e indigenas promovem, no que viria a ser 0 solo brasileiro, a primeira manifesta<;:ao religiosa que expos os contrastes culturais. Segundo descri<;:ao de Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta que e considerada uma especie de certidao de nascimento do nosso pais:

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''Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqilenta 011 sessenta deles, assentados todos dejoelho asslm como nos. E quando se velo ao Evangelho, que nos erguemos todos em pe, com as maos levantadas, eles se levantaram conosco, e alc;aram as maos, estando assim ate se chegar ao Jim; e entao tornaram-se a assentar, como nos. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nos estavamos, com as maos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos Jez multa devoC;ao". Imortalizado pela tela de Victor Meireles, este pode ser considerado 0 primeiro momenta em que a diversidade, uma das marcas de nossa sociedade, e cultuada. No altar montado proximo ao mar, diante da cruz crista erguida sob a vegeta<;:ao selvagem, duas culturas celebram a curiosidade e 0 respeito mutuo. Embora, no,s seculos segu intes, a catequiza<;:ao tenha imposto a "verda de" europeia sobre os habitos e costumes nativos, 0 imaginario do povo brasileiro preservou a pluralidade. Para nos, a cena estaria com pi eta se, pedindo licenya it cronologia da historia, um navio negreiro tambem aportasse no local, como S6 brancos, negros e indigenas tivessem, pela grac,:a divina, "um encontro marcado pra fazer uma' nac,:ao", como a Tmperatriz jii decantou. I

Tudo bem, a historia na~ e feita por rac,:as abstratal; qlle se encontram, mas por individuos concretos que possuem idiossincrasias. Aiinda assim, sao individuos que, inevitavelmente, compartilham seus acervos simbolicos. A t.o propagada miscigenac,:ao na~ e apenas biologica, mas, sobretudo, cultural. Uma na9ao nao se faz apenas com fenotipos e genotipos, muito menos e simplesmente 0 resultado da riqueza material de seus cidadaos. Uma nayao se faz tambem de sonhos, desejos e crenc,:as. De norte a sui, nos grandes e modernos centros urbanos, na vastidiio da floresta amazonica ou nas profundezas do sertao, problemas tao diversos encontram conforto nas multiplas express6es religiosas. Orando somos todos brasileiros, vencendo as dificuldades e renovando as esperan9as no "pais do futuro". Sem fe nao se faz uma na9ao.

E este sentimento tao brasileiro que nos leva ao encontro 90 sagrado, nas varias formas em que ele se manifesta entre nos. Em nossos templos, reverenciamos 0 criador diante da cruz crista. Fazemos pedidos e promessas aos santos padroeiros. Nos enfeitamos, cantamos e dan9amos em devoc,:ao ao orixa protetor. Com respeito, vimos surgir em nossa terra sinagogas judaicas. Vimos os imigrantes isliimicos construirem suas mesquitas e difundirem seus costumes. Recebemos budistas, hindus e outros tantos povos que contribuem para formar nosso compl~xo mosaico religioso. Este e 0 "Brasil de todos os Deuses", on de a liberdade religiosa e experimentada em sua plenitude. Enquanto 0 mundo se assusta diante do recrudescimento da intolerancia, que em pleno seculo XXI continua motivando guerras e conflitos, 0 Brasil aparece como uma "terra abenyoada", um exemplo a ser seguido. 0 sincretismo esta na essencia de nosso povo. Nossas crenc,:as sao 0 resultado do encontro das diferenc,:as culturais, seja em uma idflica praia, no litoral sui da Bahia, ou em um empoeirado terreiro de umbanda do suburbio carioca. E por isso que, em nossas muitas festas religiosas, um verdadeiro "mar de fieis" se forma para comungar a paz, apesar das diferenc,:as visiveis em nossa sociedade. Este e 0 verdadeiro milagre brasileiro.

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A Petrobras acredita no brasileoro e por 1550 nao paru de investir em projetos socials. Acesse www.petrobras.eorr br e eonheya nOSS8S 8yOes. Mais qL.'. u'lla re'crencla '1a busc a de cnergin, a Petrobra~

e hOle uma rc'erencla I'a busea pelo desenvo lvlmento social.

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A NOSSA FNERGIA

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"1 - CAItNAVAt E R.EUGfAO vr~OE~ ()E UM MUN()O ENCANTA()O 8 - MEN~AGEM ()O flItE~f()ENTE ()A fMflEItATltfZ

q- .MEN~AGEM ()O GOVEItNA()OIt 10 - .MEN~AGEM ()O flItE~f()ENTE ()A UE~A ,

11 - flItH'EfTUItA QUE ()ft. ~AMBA 12 - MUlTO flItAZEIt, ~OU A fMflEItATltfZ

14- - MAX tOflE~ E A fMflEItATltfZ tEOflot()'NEN~E 18 - A flltfMEfltA , VEZ ()E UMA fMflEItATltfZ 20 - VOCE ~ABfA?

22 - BItA~ft ()E TO()O~I O~ ()W~E~ 24- - CAItNAVAt E rf~ UM MUN()O' flO~~(VEt 2t5 - rANTA~'A~ flAItAP" CAItNAVAt 2010 3t5 - rOTO~ ()O BAItItACAO

38 - TOQUE flAItA OGUM 4-0 - .MEnItE-~AtA E flOItTA-BAN()EfItA 4-2 - COMf~~AO ()E rltENTE 4-3 - OtHA A fMflEItATltfZ CHEGAN()O 4-4- - UM BOM ~AMBA f UMA rOItMA ()E OItA~AO . 4-t5 - ~AMB'nA~ NA~ ON()A~ ()O 1tft.()fO

4-8 - ~AMBA-ENItE()O


DIRETORIA DE CARNAVAL

DIRETORIA

Diretor de Carnaval Wagner Tavares de Araujo

Luiz Pacheco Drumond Presidente

Assessoria Dep. de Carnaval Andre Bonatte e Luiz Drumond Neto Carnavalesco Max Lopes Diretor de harmonia Chico Branco Diretor Musical Mario Jorge Bruno [nterprete Dominguinhos do Estacio Comunicador de Quadra Alexandre

Marcos Drumond Vice-Presidente Wagner Tavares de Araujo Vice-Presidente de Financ,:as

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Almyr J6rio Vice-Presidente Cultural Wilson Ribeiro Vice-Presidente de Administrac,:ao Raul Cuquejo Marinho Vice-Presidente de Patrimonio Nathalia Drumond Vice-Presidente Dep. Feminino Joao Estevam Vice-Presidente de Marketing

• N iIton Bittar Vice-Presidente Juridico

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Wagner Tavares de Araujo e Ubiratan Guedes Representantes na LIESA Oscar de Paula Administrador da Quadra Jose Henrique Pinto / Luiz Antonio Drumond Presidente do Conselho Del iberativo

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Com issao de Frente Regina Sauer Mestre-Sala Ubirajara Porta-Bandeira Veronica Mestre de Bateria Marcone

Rainha de Bateria Luiza Brunet Presidente da Ala dos Compositores Cigano Presidente da Ala das Baianas Raul Cuquejo Presidente da Velha Guarda Dominguinhos Admil)istrac,:ao de Barracao Valter Lopes de Carvalho Direc,:ao de Barracao Regina Cairo Aderecista Chefe Sergio Faria Assessor ia de lmprensa Ludmila Aquino


REVISTA DA IMPERATRIZ 2010 Coordena~ao

Geral Andre Bonatte Alexandre Medeiros de Sousa Diagrama~ao, Dire~ao

de Arte e Editora~ao Andre Bonatte

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Agradecimentos Luiz Pacheco Drumond Ana Paula Bressanelli Cerveja Itaipava Diego Barreto Eduardo Campos Fabio Fabato ,Fabio Pavao Felipe Dana Felipe Ferreira • Ines Valeri~a Handerson 'Big • LlE~

Ludmila de Aquino Luis Ferr-fando Jr Marcelo de Mello Marcelo Monteiro Marcelo O'Reilly Marcos Paulo Max Lopes PETRO BRAS Rachel Valen~a Ricardo Almeida Ricardo Louren~o S@mba-Net Tradi~ao do Samba Vicente Almeida Vicente Dattoli Wagner Tavares de Araujo

Impressao Grafica Formato3 (21) 2573-5172


CAItNAVAL E JtEUG'AO W~OE~ DE l:JM Ml:JNDO ENCANTADO * Roberto DaMatta

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Muitas imagens revelam a proximidade de duas dimensoes da vida social que n6s, brasileiros, levamos muito a serio: carnaval e religiao. Tanto a grande festa carnavalesca, quanto 0 encontro religioso fantasiam e descobrem a realidade, trazendo tona, no seu jeito de ver 0 mundo ao contra rio e de ponta-cabe<;:a, a nossa humanidade.

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Sendo cara e coroa de uma mesma moeda, carnaval e religiao (re) ligam natureza e cultura, ricos e pobres, poderosos e humildes, vivos e mortos, homens e deuses, propondo uma visao do mundo na qual todos sao indivfduos mas tambem estao irremediavelmente perdidos em teias de rela<;:oes cuja prova sao 0 rito solene e a orgia carnavalesca, quando um universe palpitante Gle pessoalidade e de intencionalidade e construfdo. Um universe que r~cusa a indiferen<;:a e a solidao engendradas pela sociedade moderna e de nias~a, e que reafirma a cren<;:a num mundo encantado. .t '

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No Brasil, carnaval e religiao sao 0 centro de uma ideologia disposta a ir alem da modernidade para afirmar que a verdadeira razao de viver jaz no milagre dos encontros. Pois, tanto na festa que malandramente inverte 0 mundo, quanto no momenta em que suplicamos aos deuses eo reafirmamos, celebramos simultaneament~ as razoes da ordem e da desordem, mostrando ao resto do mundo que, para viver bem, temos que, por certo, acender uma vela para Apolo, mas na podemos deixar de tomar uma pinga com Dionfsio. Como se soubessemos que nao ha humanidade sem 0 trabalho e a festa, sem as rela<;:oes entre esse mundo e 0 outro e, sobretudo, sem 0 casamento entre os dois. 0 que vale e celebrar a rela<;:ao ou aquilo que os antigos chamavam de amor, que existe para todos e junta tudo com tudo. Esse amor que pode ate mesmo ser esquecido. Pelo men os ate 0 pr6ximo enterro e 0 pr6ximo carnaval. • Publicado ori ginalmente no calendario BURT 1998. REV ISTA DA IM PERAT RI Z 20 10 7


MENSAGEM DO PRESIDENTE Luiz Pacheco Drumond Em todos esses anos que estou envolvido com 0 carnaval, a diversidade humana nas quadras das escolas de samba sempre me chamou atenyao. Sao pessoas de varias origens, cada uma com suas hist6rias tao distintas, que acabam se encontra)1do e irmanando pelo prazer do samba. E muito interessante de se ver , esta tolerancia existencial, uma das mais marcantes caracteristicas da nossa miscigenayao, materializada de forma tao contundente na nossa cultura.

o brasileiro fez do carnaval a sua mais completa traduyao, uma festa que consegue expor de forma viva toda a pluralidade das nossas origens e os contrastes do nosso ser. Uma festa impar que envolve, de forma surpreendentemente harmonica, raizes tao pagas e tao religiosas ao mesmo tempo.

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Nesse carnaval, a Imperatriz Leopoldinense buscara louvar as origens da nossa fe, mostrar urn pouco da hist6ria de como tantos deuses e crenyas vieram unir-se de forma tao bela em nosso quinhao e mostrar para todo mundo, que somo sim urn pais que tern muito a ensinar para a humanidade sobre tolerancia e coexistencia. Acredito que toda a zona da Leopoldina ira mostrar a velha forya e garra que a muito tempo demonstra no carnaval, porem com urn regozijo diferente, iluminado por todos os deuses que fazem do Brasil uma terra abenyoada.

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MENSAGEM DO GOVERNADOR Sergio Cabral Carnaval e a Festa em que os cariocas e todos os brasileiros confraternizam e se divertem demonstrando que a toleriincia e 0 respeito pelo outro devem estar presentes cotid ianamente. Assim, manifestamos nossa identidade cultural e nosso preparo para a convivencia civilizada. Com 0 enredo Brasi l de Todos os Deuses, 0 G.R.E.S Imperatriz Leopoldinense contempla as diversidades reiIgiosa e etnica que formam 0 povo brasileiro. Dessa maneira , mantemos a tradiyao assentada no ba irro de Ramos e na Zona da Leopoldina , que tem sido habitada por gente trabalhadora e por verdadeiros genios de nos sa cultura, como 0 notavel Pixinguinha , por exemplo.

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Escola vitoriosa, a Tmperatriz em 2010, como sempre tem feito, brindara o publico com um desfile de luxo, brilho e nqueza. Novamente recebera a consagrayao popular.

o go verno do estado do Rio de Janeiro saud a a seriedade com que os d irigentes e os componentes do G.R.E.S lmperatriz Leopoldinense conduzem 0 carnaval e contribuem no esforyo pela propagayao da paz em nosso estado .

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De¡sejamos a todos um carnaval animado e mu ito divertido.

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MENSAGEM DO PRESIDENTE DA lIESA Jorge Castanheira Em um pais onde a miscigenac;ao foi o marco da formac;ao de seu povo, nada mais natural do que vivermos, tambem, a multiplicidade de culturas e religiosidades. E, feli z mente, esta c9nvivencia e pacifica e estimu lante. E natural camin harmos pelas ruas desta nossa nac;ao, continente e encontrarmos no dia a dia a comprovac;ao deste encontro de rac;as, ensinamentos e fe s. Se a mescla das rac;as se apresenta 110 nosso cot idiano, evidente, a cada esquina, 0 mesmo se pode di zer da sinergia entre os diversos credos. A influencia das culturas africanas ha muito tempo e evidente nesta nossa manifestac;ao cultu ral que e 0 carnaval. Neste ano, nas comemorac;oes pelo dia de Sao Sebastiao, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, tivemos uma grata surpresa. Sob a inspirac;ao do arcebispo Dom Orani Tempesta, a imagem do santo percorreu a cidade, passou pelas quadras das escolas de samba e, mais importante, foi recebida na Cidade do Samba. Ali, no espayO em que se cria a grande festa que e 0 desf ile das escolas de samba do Grupo Especial, 0 Arcebispo po de sentir e comprovar que nossa festa e tambem uma grande manifestayao de fe. Neste Brasil de todos os deuses, nao ha espayo para segrega<;oes. Queremos viver em paz e transmitir esta paz. Queremos mostrar ao mundo que a a legria que vemos e espalhamos durante os nossos desfiles esta na alma do brasileiro - como a fe que nos move a cada dia enos faz pensar que somos capazes de criar urn mundo melhor para todos.

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PREFEITURA QUE

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DA SAMBA

Quando 0 compositor Ismael Silva criou 0 termo "escola de samba" para designar uma nova forma de se brincar 0 carnaval, nao poderia imaginar a grandiosidade de cores, luxo e criatividade que essas agrem ia<;:oes alcanc,:ariam. Passados mais de 80 anos, 0 desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro transformou-se no ma is rico, mais poderoso e conhecido produto de exportac,:ao do genero no pais. Esse espetaculo aquece a economia carioca com venda de ingressos, publicidade, CDs, direitos de transm issao pela TV e gera milhares de empregos diretos e indiretos. So para se ter uma ideia da mobilizayao, as 12 escolas do Grupo Especial movimentam cerca de 300 mil pessoas na Passarela do Samba, entre publico, desfi lantes e apoio, nos dois dias de desfile. E para que toda essa verdadeira maquina se movimente e cresya, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro busca estimu lar as escolas de samba de forma cada vez mais solida. Se antigamente a subvenyao era sinonimo de promessa que se.realizava praticamente na vespera do carnaval, hoje em dia a historia ebern diferente. Preocupada com da qualidade do espetaculo, a Prefeitura realiza a distribuiyao da verba de forma mais harmonica e observando 0 calendario do carnaval, ajudando assim as escolas na execuyao de urn organograma de trabalho mais eficiente e tranquilo no preparo do desfile. Nao e de hoje que 0 prefeito Eduardo Paes e conhecido como urn grande foliao. Sempre que pode, ele procura acompanbar bern de perto os preparativos . das agremiac,:oes, ir aos ensaios tecnicos da Sapucai e vi sitar os barracoes. 0 estimulo a atividades de preservayao e divulgayao da memoria do samba carioca tambem e uma preocupayao do seu governo, que incentiva a ediyao de livros, a montagem de exposiyoes, a execuyao de filmes e documentarios, alem de outras manifestac,:oes culturais. Portanto e muito gratificante ver 0 espirito empreendedor do nos so prefeito junto aos sambistas e saber que as escolas de samba e a economia do carnaval carioca so tern a se desenvolver ainda mais a cada ano que passa.

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MurTe flRAZE't, ~elJ A fMf>ERATRfZ Desde sua fundayao, na hoje quase longinqua sexta-feira, 6 de maryO de 1959, a Imperatriz Leopoldinense se preocupou com a difusao da cultura. A reuniao que a fez surgir, realizada na casa do farmaceutico Amaury Jorio, tinha urn objetivo: fundar uma grande Escola de Samba, que agregasse em seus quadros a nata dos sambistas da Zona da Leopoldina e pudesse suceder 0 Recreio de Ramos. Para este primeiro encontro, na casa que serviria por sete anos como sede da nova , Escbla de Samba, foram chamados Oswaldo Gomes Pereira, Elisio Pereira de Mello. Aloisio Soares Braga, lose da Silva, Jorge Costa, lorge Salaman, Agenor Gomes Pereira, Vicente Veniincio da Conceiyao, Manoel Vieira, Manuel Hermogenes dos Santos, Arlindo de Oliveira Lima, Nair dos Santos Vaz, Nair da Silva, Francisco Jose Fernandes e Claudionor Belizario. "Retirei das agremiayoes e blocos da Zona da Leopoldina a nata do samba, 0 que eles tinham de melhor. Foi urn arduo trabalho de garimpagem, escolhendo e convencendo os sambistas a se juntarem a nos", contava 0 habJlidoso politico Amaury lorio, escolhido secretario da Junta Governativa eleita para comandar os destinos da nova agremiayao - Oswaldo Gomes Pereira, presidente, e Arlindo de Oliveira Lima, tesoureiro, completam 0 grupo que foi incubldo, de legalizar a Escola e criar seu Regimento Interno.

• Como a vontade era de unir as agremiay5e's da regiao, a ideia de Manoel Vieira, de chamar a nova escola de Imperatriz Leopoldinense, foi imediatamente aceita pelas senhoras Nair dos Santos Vaz e Nair da Silva - contando com 0 apoio de Amaury lorio e Oswaldo Gomes Pereira. A escolha das cores, porem, provocou intensos debates, mas Vicente Veniincio conseguiu aprovar 0 verde e branco, que nos anos 70 recebeu a adiyao do ouro. A Bandeira, cujo croqui e de autoria de Agenor Gomes Pereira, consiste numa faixa transversal verde que corta 0 pavilhao branco e on de se pode ler 0 nome da Escola. Contem tambem uma coroa e 12 estrelas douradas, representando os bairros da regiao. foi

Definidas a diretoria, 0 nome, as cores e a bandeira, faltava e1eger a madrinha - e 0 Imperio Serrano, a Escola escolhida.

Em seu primeiro desfile, no carnaval de 1960, a Imperatriz Leopoldinense ja demonstrava sua preocupayao com a cultura. Com 0 enredo Homenagem a Academia Brasileira de Letras, a escola conquistou 0 sexto lugar no terceiro grupo. Ja com Amaury Jorio como presidente, a Imperatriz levou para a Praya XI, no carnaval de 1961, 0 tern a Riquezas e Maravilhas do Brasil, de autoria do proprio presidente, e que valeu a escola seu primeiro titulo de campea.

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Foi Amaury que criou em 1967, 0 primeiro Departamento Cultural de uma Escola de Samba. Por muito tempo foi este Departamento que criou e desenvolveu os enredos da Imperatriz - entre eles Bahia em Festa (1968, 2° lugar no grupo 2); Brasil, flor amorosa de tres reyas (1969, 8° 1ugar no Grupo 1); 1922 - Oropa, Franya e Bahia (1970, 6° lugar no Grupo 1); Barra de ouro, barra de rio, barra de saia (1971, 7° lugar no Grupo 1) e Martim Cerere (1972, 4° lugar no Grupo 1).

lesco Max Lopes, a lmperatriz conquista mais urn titulo com 0 enredo Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nos, com urn inesquecivel samba!

Nos anos 90, uma nova era se inicia com a chegada da carnavalesca Rosa Magalhaes, que permanece na escola por 18 carnavais. Conhecida por seus carnavais detalhistas e enredos historicos, foi sobre sua batuta que a Imperatriz alcanyou os campeonatos em 1994 (Catarina de Medicis Na Corte Dos Tupinambos E Tabajeres), 1995 (Mais vale urn jegue que me Alias, falar de Imperatriz Leopoldi- carregue, que urn camelo que me derrunense sem falar de Amaury Jorio e algo be ... la no Ceara), 1999 (Brasil, Mostra impossive!. Foi ele quem comprou os pri- A Sua Cara Em. .. "Theatrum Rerum Nameiros instrumentos da batena. Se hoje a turalium Brasiliae"), 2000 (Quem Desquantidade pode parecer pequena (eram cobriu 0 Brasil, Foi Seu Cabral, No Dia 30), para a epoca 0 numero, era bastante 22 de Abril, Dois Meses Depois do Carexpressivo. Sua participayao foi tao im- naval) e 2001 (Cana-caiana, cana roxa, portante que, querendo livrar sua escola can a fita, cana preta, amarela, Pernamda sin a da instabilidade, Amaury co)1'- buco ... quero ve desce 0 suco na pancada vidou 0 amigo Luiz Pacheco Drumo~d do ganza!). para final mente consolidar 0 sonho de que a lmperatriz deveria ser uma grilnde E agora, uma nova era se abre para aja Escola de Samba. t' cinquentona Imperatriz com 0 retorno de Max Lopes nesse carnaval de 2010, que Luizinho chegou it escola pro~eten­ faz renovar 0 clima empreendedor e PlOdo a compra de uma quadra. Promessa neiro que sempre esteve presente em Raimediatamente cumprida! A partir dai, mos. Certamente, 0 espirito idealista de era hora de estruturar a Imperatriz Le- Amaury Jorio e Luiz Pacheco Drumond opoldinense para os desfiles. E veio en- permanecera vivo e guiara os caminhos tao Arlindo Rodrigues - e com ele 0 pri- da nossa Imperatriz rumo a vitoria. meiro titulo entre as grandes Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em 1980, com o que que a Bahia tern.

E numa prova que a Imperatriz veio para brilhar, em 1981 a escola conquista 0 bicampeonato com 0 enredo 0 teu cabelo nao nega, tambem de auto ria de Arlindo Rodrigues. E dessa vez de forma unica, ja que no ana anterior, a Imperatriz dividiu 0 campeonato com a Portela e Beija-Flof. E assim a Imperatriz abriu uma nova era em sua historia, realizando desfiles memoraveis. Em 1989, com 0 carnava-

aprcsenla9ao do pavilhao - anos 70

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MAX bOf'E~ E A fMf'EftAlRJZ bEOf'OLl~)fNEN~E Ricardo Lourenyo Em 1976, escaldados por urn desfile Salgueiro e recem lanyado carnavalesco sob 0 sol das duas horas da tarde e sam- acelta 0 desafio. Dois novatos se unem banda sobre urn asfalto quase fundido na aspirayao de atingir 0 alvo, cad a qual para uma arquibancada que, embora ja em seu campo de ayao. Max cria para a Iiberada ao publico, contava com meia Imperatriz - de cofres mais fartos que , duzia de gatos pingados, os desidrata- os de Lucas - outro enredo epico, quase dos e aguerridos gresilenses defenderam urn complemento do que os gresilenses o enredo epico Par mares nunca dantes defenderam em 1976, Viagens fantastinavegadas. Horas antes, ainda sob a luz cas as terras de lbirapitanga, e reafirda lua e sobre 0 mesmo asfalto, porem rna sua poetica, desta vez em Ramos. Os ainda em estado solido, havia desfila- "riscos" a guache distribuidos aos chefes do uma escola vestida em degrades do de alas surpreendem os \eopolinenses. A vermelho ao branco, passando por toda partir de entao, veem-se os feltros de vaa sorte de laranjas e amarelos, que com- rios tons de verde invadirem 0 espayo do binados com materiais de forte carater custoso lame, as grinaldas de repolhudas popular - como vime, flores de papel, floreS espalhadas nos adereyos de mao "frutas" em papier mache - compunham sub~ituirem velhos arremedos de lanuma poetica original, mas inesperada yas e espadas recobertas de brocal dos pelo juri e plateia, acostumados aos bri- ~rnavais de outrora e, finalmente, os lhos dos paetes, vidrilhos e lames. A es- I;ltmistas inesperadamente "descerem" cola era a Unidos de Lucas, criada pel as #estidos de amarelo, do chapeu de tres maos do entao novato carnavalesco Max ' pontas it fiveia do sapato, no lugar dos Lopes. Passada a apurayao e amargurada cetins verde-branco dos anos passados. por uma oitava colocayao, a Imperatriz Chega 0 dia do desfile. Concentrada na decide nao mais entrar na disputa para Pray a XI, totalmente reinventada plasnao ser rebaixada, mas para ficar e con- ticamente e com a imprensa reconhecorrer com as quatro grandes escolas que cendo 0 carro alegorico representando se alternavam no podlO ba decadas. Isso, as amazonas como a melhor alegoria do obviamente, nao se tratava de uma meta ano, a Imperatriz entra gloriosa. Inespesimples, principal mente para uma dire- radamente, a proposta estetica de Max toria liderada por urn presidente e patro- Lopes e, mais uma vez, incompreendida. no ainda novato no mundo das escolas de A escola e a nona em classifICayao e e samba: Luizinho Drumond. Recem con- rebaixada. Com efeito, so mais tarde a vidado pelo mais famoso fundador da qualidade do 'trabalho vindo nao de urn Imperatriz, Amaury Jorio, para assumir a mundo academico, teatral ou teievisivo, presidencia da agremiayao, Luizinho sai mas de raizes populares, e a linguagem em busca de urn carnavalesco disponivel simplificada atraves das cores, texturas e que pudesse fazer jus ao investimen- e formas no lugar do brilho sao reconheto que estava disposto a fazer em 1977. cidos, e cunha-se 0 apeiido "mago das Ao contrario do juri, Luizinho reconhe- cores" para 0 artista. ce a criatividade de Max Lopes como 0 A despeito do rebaixamento, Max Loingrediente necessario para atingir a sua pes e convidado a permanecer na escometa. 0 ex-passista dos Academicos do la. Desta vez, porem, abandona 0 tema 141 REVISTA DA IMPERATRIZ 2010


epico. Numa guinada tematica, Max propoe urn enredo surpreendente e origmal, e que se encaixaria como uma luva em sua proposta estetica embasada ora nas combinayoes complementares das tonalidades ora no confronto entre cores empregadas os dois anos precedentes: Vamos brincar de ser crianya. Das grandes navegayoes passava-se para urn mundo infantil: brinquedos, baloes, fogao com panelas transbordantes de caldas, doces, chamines sorridentes, pompons e layarotes, cartolas com 0 tampo aberto de onde saiam pirulitos coloridos e tabuleiros com quitutes de mentirinha eram confeccionados nas maquinas Singer a pedal das casas da Leopoldina e nas pranchas toscas de tabuas montadas sob urn teto de zinco e sem paredes no Cariri - regiao fronteiriya com 0 bair,ro de Olaria - onde ficava 0 barracao da escola. As alas de 25 ou 30 pessoas eram as mais populosas; os tempos eram outros. ,A passarela que a Imperatriz iria enfrent~r tambem era outra - a Av. Rio Branco - e a concentrayao era quase c1austrof(>bica - a Rua do Rosario. No inicio da noite, quando a escola comeyava a se c~cen­ trar, despenca urn temporal. Os '~15iscoi­ tos" com que Max recobriu a cas a de Joao e Maria incham qual uma bolacha mergulhada no cafe com leite. Tao realista era a representayao que, no aperto da estreita rua, brincantes desavisados roubavam '~ujubas" da alegoria para comerem escondidos dos olhos da sempre vigilante ajudante Regina Cairo, hoje Dona Regina, a chefe do barrac1io da Imperatriz. Sob urn unissono "ja ganhou", a lmperatriz termina seu desfile segura de que voltaria ao grupo de elite. E voltou, em segundo lugar por urn simples deslize de harmonia. Os anos 1980 se iniciam com um Brasil transformado pela abertura politica e por uma reviravolta no mudo da arte promovida por novas gerayoes. Eo carnaval das escolas de samba nao sai intocado por estas mudanyas: 0 Samb6dromo e construido e tanto os novos quanto os tarimbados talentos no universo carnavalesco

redimensionam as fantasias e as alegorias. Neste contexto, Max Lopes volta it Imperatriz para realizar 0 carnaval de 1989. A escola, neste interim, ja havia se consagrado bi-campea em 1980-1981, com Arlindo Rodrigues, mas tambem sofrido algumas decepyoes no decorrer da decada. Portanto, queria voltar a ser campea. E 0 foi, grayas a um lindo samba, it garra dos gresilenses e ao programa estetico de Max. 0 carnavalesco retorna ao tema epico, desta vez abordando as causas da Proclamayao da Republica no Brasil, sob 0 titulo Liberdade, Liberdade, abre as asas sabre nos. Max adapta sua poetica plastico-visual it estetica da grandiosidade e espetacularidade imposta pelo novo espayo de desfile. Foi uma vit6ria arrebatadora com a apresentayao de urn enredo de leitura muito clara a partir das fantasias ora barrocas, combinando diversos tons de dourados com laranjas e amarelos, ora essencialmente brejeiras baseadas em trajes tipicos das etnias e em uniformes dos exercitos envolvido~ no processo de mudanya politica de urn "imperio decadente" para a "noite quinze reluzente". Misturou it sua

Livreto de carnava l 1978

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tradic;:ao carnavalesca, aderec;:os simbo- trac;:o deste artista popular que se fizera licos e divertidos, como redes e liteiras urn dos mais requisitados carnavalescos conduzindo bonecos trajados a moda nos ultimos 20 anos. Num amalgama fido seculo XIX, carroc;:as florid as e urn nal, resume 0 enredo na imagem aleg6minueto, inspirados no trabalho de Ar- rica das tres rac;:as que com suas culturas lindo nos anos 1960, a urn conjunto de transformaram a Terra Brasilis, (onde) 0 portentosas alegorias, dentre as quais que se plantou deu, no pais carnaval. Se urn baile da monarquia, onde desfilan- as nuances do verde e azul caracterizates portavam violinos remetendo a obra yam os nativos, os tons rosados e violedocumental de Debret, e uma das alego- tas remetiam a rac;:a branca e os matizes rias que mais impressionaram a plateia quentes do vermelho ao amarelo individaqHele e dos subseqilentes carnavais do dualizavam 0 negro, 0 desfecho revertia , Samb6dromo. Montado em urn cavalo ao branco e preto, com os simbolos conalegorico que parecia precipitar-se de urn sagrados do carnaval. Enfim , urn enredo despenhadeiro, a uma altura que visual- que dispensava qualquer libreto. mente ultrapassaria a torre de televisao, 0 Vinte anos depois, em 2010, Max e 0 destaque que representava Duque de Ca- criador de rna is um carnaval para a Imxias, espremeu-se e consegui passar sob peratriz Leopolinense, cujo enredo e baa torre, por milimetros, levan do a plateia seado na tematica que Ihe parece mais ao delin~, nao s6 pela ousadia do sflm- cara: as etnias e suas culturas. Agora, no bista malabarista, mas principal mente en tanto, os grupos etnicos sao abordapelo conjunto da obra ate entao vista em dos pelo vies de suas religioes, afinadas desfile. nUlT\a congregac;:ao ecumenica. 0 enredo No ana seguinte, para tentar 0 bi- e 0 urograma estetico cristalizam a exiscampeonato, os program as estetico e te- tencla de urn Brasil de todos os deuses, matico adotados por Max eram diversos de todas as cren?as, de tantos simbolisdaquele do carnaval vitorioso, uma vez mos, de tantos matizes e de tantas festas que agregavam elementos formais em- ~ Iigiosas , que transformarao os gresipregados pelas principais competidoras, . renses numa procissao de cores chelas de sem abrir mao de realc;:ar sua assinatura .alma e harmonia num mar de fieis em e nem sua tatica, isto e, a beleza dos tons procissao. Trinta e tres anos se passaram, versus os brilhos ofusc antes. Se no ana des de que Max chegou a Escola de Raanterior toda a grac;:a e beleza da indu- mos. Lanc;:ou-se por muitos mares e por mentaria e aderec;:aria teve na imigrac;:ao muitos temas, mas voltou ao porto que que "floriu de cultura 0 Brasil" como urn recebera 0 novato, hoje mais experiendos pontos altos do desfile, em 1990, a teo Na proposta para 0 carnaval de 2010, conformac;:ao da cultura brasileira e re- ainda sao clara mente perceptiveis as nosumida na contribuic;:ao de tres rac;:as - 0 tas e os tons populares na praxis deste branco, 0 negro e 0 indio - que, no seu artista autodidata, mesmo que adicionaencontro, dao origem a nac;:ao - perm i- dos a urn vocabulario mais rico e de catindo que Max elabore um espetaculo rater mais portentoso. Assim eque, neste que parecia corresponder a expectativa carnaval, 0 desfile da Imperatriz sera um da plateia e julgadores pelo deslumbra- rastro de experiencias, "sob 0 veu 0 luar" mento, pelo tamanho, pelas formas e e "as benc;:oes do ceu" e dos deuses, mas, "riqueza". Neste sentido, ousa e faz gi- claro, com a ajuda de um "mago", pois gantescos "indios" passarem na avenida brasileiro que se preze nao dispensa urn sob olhos impressionados da plateia. 0 sincretismo. "bailado" das cores desagua das maos do mage: cad a cor e seus tons caracterizando as tres rac;:as dentro do mais legitimo 161 REVI STA DA IMPERATRI Z 2010


Max Lopes

I Alegoria "Africa",

carnaval 2010


Fabio Fabato Jornali sla, colu nista do site "Ga leria do Sa mba" e vice-presidente cultural da Mocidade Indcpendente de Padre Mig uel

Foi no dezessete ensolarado de um fevereiro tres decadas distante. Naquele dia, nao aportaram treze I naus, nao houve desbravador algum chegando ca por estas bandas morenadas. Mas a hist6ria registra. E porque aconteceu - como nao? - uma descoberta. De outra natureza, uma autodescobertao Uma escola que se perceoeu grande, vitoriosa, senhora de uma avenida que ja babava por ela em carnavais a perder de vista. Finalmente ganhou, debut no poder. Poucas vezes um samba anteviu com tanta clareza 0 que viria pela frente, durante 0 desfile: "Reluzente como a luz do dia ...". Ora, 0 sol foi elemento-chave naquele triunfo em que a velha Bahia foi cantada em verso, prosa e algo mais. Parece ironia do destino - ana de aniversario redondo daquele campeonato - a Imperatriz trazer como enredo as religioes deste Brasil de meu Deus. Afinal, falar de Bahia e pensar em Ecumenismo - "da magia, da feiti~aria e do Candomble" - nas ladeiras, becos, vielas que levam a cada uma das 365 igrejas de Salvador, uma para cada dia do ano, 181 REVISTA DA IMPERATRIZ 2010

onde fieis de fato ou de araque, mas folioes em essencia, rezam para 0 santo de devo~ao sonhando que chegue logo a bendita folia de todo fevereiro-mar~o. Naquele 1980 ja distante, 0 carnaval do Rio sofreu enorme reviravolta. o carnavalesco Arlindo Rodrigues - cria da Escola de Belas Artes e do Salgueiro - e que brilhou durante a decada de 70 na Mocidade Independente, tinha side campeao em 197~. Ganhou 0 titulo pela Verde• • EV-branco de Padre Miguel e, logo ) m seguida, encerrou 0 cicio de cinco anos. Fernando Pinto assumiu 0 posto, iniciou nova revolu~ao naquele peda~o, mas esta e pauta d'outra prosa. Na outra ponta da tabela, a Imperatriz vinha de uma inc6moda penultima coloca~ao em 79, precisava sacudir a poeira. Com 0 vitorioso Arlindo dando SOpq, 0 presidente Luizinho Drummond tratou de convida-Io para assumir os trabalhos em Ramos. A quimica foi imediata. 0 tema "0 que e que a Bahia tem?" falou do velho estado, que ja ate abrigou a capital federal, com todo 0 requinte filigranado a que tinha direito, marca do


carnavalesco. A obra viva assinada por mais de tres mil componentes custou - pasmem! - 14 milh6es de cruzeiros, 0 maior valor daquele ano. Mas apresentac;:ao foi mais, muito mais do que um festival de beleza estetica. Havia samba - e que samba! dos mais belos da hist6ria cinquentenaria da turma de batuqueiros embalada pelos brac;:os de Amaury Jorio, Oswaldo Macedo, entre outros. Falando em Jorio, ele - que foi uma lideranc;:a sempre apaixonada pela agremiac;:ao ' - alem de comandar, durante muitos anos, a Associac;:ao das Escolas de samba, faleceu poucos dias antes do desfile. Ganhou um tripe em sua hot' menagem logo na abertura.. Um endiabrado Dominguinhos do Estacio, que assinou 0 fi:lbuloso hino com Darcy Nascimento, com pletava 0 mosaico de sonhos em que sob um banho de prata e branco, a Imperatriz lavou a alma, 0 atrio, as catedrais, numa autentica "virada" hist6rica. Faturou 0 titulo ao lade de Portela ("Hoje tem Marmelada") e Beija-Flor ("0 Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao Pais das Maravilhas"). Empate triplo merecido, festa por todos os recantos do samba, apesar da confusa apurac;:ao. 5abe-se apenas que, a partir dali, a Verde-

branco-e-ouro nao mais parou de brilhar e ganhar. No ana seguinte, bicampeonato. Em 1982, quase 0 trio Folias mais tarde, titulos e mais titulos, Max Lopes, Rosa MagaIhaes. Mas recordar a primeira vez, nao tem jeito, traz aquele sentir um pouco mais especial. Corac;:ao apertado, saudades de quem ja se foi, "fuba de castanha, pe-de-moleque e dende". E, meu povo, parece ate que foi ontem ...

Alcgoria de 1980¡ "0 que c que a Bahia ternT Agencia 0 Gloho

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A Imperatriz Leopoldinense foi a primeira escola de samba a criar 0 Departamento Cultural, que data de 1967 e ja contou com nomes como Dr. Hiram Araujo, Oswaldo Macedo e Fernando Gabeira A Imperatriz foi a primeira entidade carnavalesca a competir no concurso para ornamentac,:ao da cidade, tendo recebido da Comissao Julgailora urn voto de louvor e uma menc,:ao , honrosa. Foi a primeira escola de samba a possuir Alvara de Localizac,:ao, pois 0 mesmo data de 1959. A Imperatriz foi a primeira escola de samba que teve em sua sede 0 encerramento de urn Congresso Medico, patrocinado pela Sociedade Medica Leopoldinense, Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e 0 Colegio Brasileiro de Cirurgiao, em 30 de maio de 1969. Foi de responsabilidade de Pixinguinha a escolha do samba enredo vencedor do enredo "Brasil- flor amorosa de tres rac,:as" em 1969. o samba era de autoria de Matias de Freitas e Carlinhos Sideral. A Imperatriz e a primeira tri-campea do samb6dromo, a ultima campea do seculo xx e a primeira do seculo XXI. Ela foi respons:ivel por urn feito curio so. Em 1988 a Imperatriz foi a ultima colocada e em 1989 e1a foi a primeira. A escola foi escolhida para ser 0 cenaria da telenovela de Dias Gomes "Bandeira 2" da Rede Globo. Isto aconteceu em 1972 e 0 samba enredo deste ano entrou para a trilha sonora da novela. A Imperatriz foi a grande campea do "10 Festival de Samba-Exaltac,:ao it cidade do Rio de Janeiro", promovido pela Associac,:ao das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ). 0 samba vencedor foi Rio Patropi de autoria de Tuninho Professor, Sereno e Ze Catimba A Imperatriz teve 0 enredo com nome mais comprido que se tern noticia ate hoje: "Cana caiana, cana roxa, cana preta, cana fita, amarela, Pernambuco... quero ver descer 0 suco na pancada do ganza!" 20 I REVISTA DA IMPERATRIZ 2010

Fomos a primeira escola a trazer uma comissao de frente feminina. Foi em 1969 e causou uma grande discussao ja que ate entao a comissao de frente era composta exclusivamente por homens. Mostrando ser uma escola preocupada com a preservac,:ao da sua hist6ria e do carnaval carioca, a Imperatriz e a unica agremiac,:ao carnavalesca que cumpre todo ano a lei do Deposito Legal, entregando 0 material impresso produzido no carnaval para ser incorporado ao acervo da Biblioteca Nacional. Foi a primeira escola a ter urn samba enredo gravado por uma mulher no disco oficial, em 1971. Foi a interprete Julia no enredo "Barra de Ouro, Barra de Rio, Barra de Saia" Urn dos compositores e fundadores do conjunto "Originais do Samba", Maurilio da Penha Aparecida e Silva, 0 Bidi, foi uma das figuras mais fltuantes nos primeiros carnavais da Imperatriz. • ,; 0 antigo presidente da Imperatriz, 0 Dr. Qswaldo Macedo fez parte da comissao que julgtlva mestre-sala e porta-bandeira no 20 grupo ¡. em 1970 e, no meio de urn desfile, ele desceu de sua cabine e deu urn show como Mestre-Sala. A Imperatriz foi a primeira escola de samba a entrar em urn estudio de televisao. Isto ocorreu em 1960 nos estudios da TV Rio. A Imperatriz e a unica escola que mantem, desde a sua fundac,:ao, a tradic,:ao de ter uma ala de damas, formada por moc,:as da comunidade e mantida pela escola.

o gentilico que designa os torcedores da Imperatriz Leopoldinense e GRESILENSE. Este nome foi dado por Amaury Jorio, baseando-se no nome formado pela sigla da escola. A coroa imperial, urn dos simbolos da escola que figura na bandeira de nossa agremiac,:ao, e referente a coroa de D. Pedro I, simbolo do Primeiro Reinado, periodo que a Imperatriz Leopoldina reinou no Brasil. Diferente do que muitos pensam, a Imperatriz e uma escola tricolor: suas cores sao verde, branco e ouro



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f!bRA~'b Ji)E I OJi)O~ O~ DEl:J~E~ por Diego Barreto

Lugar abenc;oado, onde todas as crenc;as, credos e fe convivem em harmonia. Este e 0 'Brasil de todos os Deuses', enredo do carnavalesco Max Lopes, para 0 carnaval de 2010 da Imperatriz Leopoldinense. Sob a protec;ao da 'Coroa das divindades', sfmbolo do sagrado na cultura de diferentes povos a Imperatriz rende homenagens as entidades divinas. A verde, branca e aura da Leopoldina pede a Tupa, Olorum, Jeova, Ala, Buda que seus caminhos sejam abertos e iluminados. A escola lembra que e da natureza humana a busca constante por uma forc;a maior, superior ao seu entendimento.

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Nesse anseio pelo poder divino, os primeiros habitantes do Brasil, os indios, desenvolveram os ritos iniciais de fe nesta 'terra sagrada'. No culto a Tupa e outras divindades, associaram os elementos da natureza ao sobrenatural. Desta uniao do terreno e celeste surgem mitos, lendas e celebrac;6es. 'Oh Tupa Deus do Brasil', por ti clamaram teus filhos quando neste solo aportaram os primeiros europeus. Vindos de Portugal, os colonizadores trouxeram consigo as tradic;6es da fe para 0 Brasil. Prova disso esta na celebrac;ao da Primeira Missa, quatro dias depois do descobrimento. 0 cristianismo do Velho Mundo e 'imposto' aos nativos. Atraves da catequese dos indios, tem inicio as primeiras relac;6es entre credos do pais. A introduc;ao da etnia africana, atraves da escravidao, adiciona novas elementos de fe. Os africanos trazem consigo seus cantos, rituais e deuses. Entidades, como Oludamare, passam a ser cultuadas em solo brasileiro, sao os protetores daqueles que foram 'arrancados' da distante da Mae Africa. Mesmo oprimido, 0 c~lto negro floresce no Brasil. •

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Apos a uniao das tres matrit es, indios, brancos e negros, que conseguem, mesmo com diferenC;(3~, estabelecer relac;6es amistosas, 0 Brasil assiste a chegada de 'novos deuses'. Estes sao trazidos por imigrantes de diferentes nac;6es, que assumem esta terra como um novo lar. Nossa terra abenc;oada agora tem espac;o para templos budistas, on de e constante a busca pela luz. Contrariando 0 historico de desavenc;as em outros lugares, aqui judeus e mulc;umanos convivem em harmonia, com suas sinagogas e mesquitas. Assim como passamos a conhecer e respeitar a cultura hindu.

o enredo da Imperatriz para 0

carnaval de 2010 e acima de tudo um convite de fe, estimulando a busca por Deus, independente da crenc;a, rito ou religiao praticada. 0 Brasil de todos os Deuses e um canto de paz, amor e uniao. Ressalta a fe que enche a vida de esperanc;a. Ao mesmo tempo e um e pedido de uniao e respeito entre os povos.

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CAItNAVAL E rE~ l:JM Ml:JNDO f>O~~fVEL Felipe Ferreira

Coordenador do Cent ro de Referenda do Carnava l e professor do Inst ituto de Aries da Ucrj

Um pais aberto a todos os deuses e 0 sonho utopico de muitas na~oes. Este sonho, este ideal, dificil de ser alcan~ado em sua plenitude, pode, no entanto, ser vislumbrado atraves do carnaval. Ousar imaginar um ~ugar onde todas as religioes consigam conviver em paz, uma "terra 'aben~oada" com "a cor da miscigena~ao" e algo que so 0 tempo/espa~o carnavalesco pode tornar realidade palpavel. Enesse momenta consagrado folia que surge a nossa frente um pais cujo deus original, Tupa, fornece a essen cia da terra, a "morada divinal" de ritos e cren~as que acolhe a fe e 0 Deus cristaos sob uma unica coroa sagrada. Toma forma na passarela um pais que transforma a vitalidade e a for~a dos que aqui chegaram como escravOS' em modos de crer e de falar com 0 divino. Ritos que unem corpo e eSJDirito em dan~as, ritmos e musicalidades unicas, imponentes em sua coragem de aceitar e incorporar outros deuses sua fe. t' Organiza-se em forma de alas e al~gorias um pais que acolhe, modela, transforma e da novas significados a religioes milenares das mais diversas partes do mundo. Agregando fieis que, em outros lugares, se enfrentam . Dando ritmo novo a can~oes que se perderam no tempo. Vendo nascer e brilhar em seu espa~o, simbolos de tantos outros cantos do mundo. Ao apresentar 0 enredo Brasil de todos os deuses, a Imperatriz Leopoldinense procura nao somente contar em suas alas e alegorias uma historia que toca a todos que tem fe, mas tambem restabelecer um vinculo entre as cren~as capaz de guia-Ias ao "divino destino" atraves de um caminho unico simbolizado por seu proprio desfilar. Reunindo elementos e referencias das mais diversas religioes 0 enredo propoe uma via capaz de estabelecer esse dialogo. Uma caminhada festiva que e essencialmente brasileira e que se expressa na propria sequencia processional do desfile. o ceu dos crista os, 0 lua dos mul~umanos, a estrela do judaismo, as

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flo res de lotus do budismo tornam-se, todos eles, elementos alegoricos de suas religioes e do proprio carnaval. Os componentes que brincam e cantam sao, desse modo, "peregrin~s em harmonia" que constroem sua ideia de fe no decorrer do proprio desfile. Fe em deuses, em festas, em carnavais e na sua escola de samba. Se essa terra sonhada talvez nao exista em sua plenitude, se esta ideia ecumenica ainda nao se realizou plena mente, 0 mais proximo que ja chegamos deste objetivo parece estar aqui, nas terras brasileira, sugere 0 enredo, naquele que e conhecido como 0 pais ckJ carnav~1. Eeste carnaval ?e ?rigem europela - mas que aqui mou sua identidade unica a partir da c~ntri­ bui<;ao negra - que pode estabelecer a "infinita alian<;a" entre tantas formas de se falar com a divindade. Eessa "gente festeira" que consegue Fazer com que a Humanidade possa vislumbrar uma possibilidade de convivencia. 0 carnaval do Rio de Janeiro e, em si, uma forma de ecumenismo. Nele ecoam ainda as procissoes colonia is, 0 som das taieiras, a musicalidade dos ranchos de reis, as dramaturgias dos congos e cucumbis, os ritmos dos tam bores e os repiques dos sines que anunciavam festas de

santos populares. E0 poder desta mistura que faz com que uma escola de samba seja tambem um espa<;o sagrado. Um lugar privilegiado para se falar de nossa gente valente e festeira que segue a acreditar na possibilidade de um mundo melhor. Crer no carnaval, na alegria e na beleza e uma forma de acreditar que um outro mundo e possivel. A unidade da escola em desfile, com suas alas e alegorias, representa uma demonstra<;ao afirmativa de que a reuniao de tantas cren<;as e capaz de produzir beleza e harmonia. Um milagre que se torna realidade sob nossos olhos. Na passar~la do samba. No desfile da Imperatriz Leopoldinense.

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FANIAS'AS CAR-NAVAl

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2 - ARAUTOS DA FOLIA A festa ao Divino e an unci ada solenemente pelos arautos da Folia.

A FESTA DO DIVINO Brilha a Coroa da Imperatriz e convida os fieis de todas as cren~as e religioes a darem as maDS e entoar urn canto de amor e uniao. Ea festa do Divino que pede passagem no altar do samba e tinge a aquarela brasileira do sincretismo com 0 verde, branco e Duro do manto Leopoldinense!

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, 3 - GUARDIOES DO DlVTNDADE A sagrada Coroa das divindades e nossa reliquia! Os guardioes da Divindade apresentando em honraria nosso simbolo maior.

"A TERRA DO DEUS TUPA" 1 - GUARDIOES DO DIVINO

o pavilbao Leopoldinense se transforma na propria bandeira do Divino. Este amuleto sagrado senl devidamente honrado por guardioes em reverencia a sua representatividade.

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Ressoam das matas 0 Canto Guarani em louvor a lupa, Divindade genuinamente brasileira, que povoa 0 consciente imaginario dos indios, donos dessa Pin dora rna. Elementos da natureza se misturam e personificam 0 povo de pele vermelha que atraves do canto e da dan~a manifestam a comunhao com seu Deus.


4DA TERRA Nativos deste solo sagrado sao os filhos de tupa que ecoam nas matas seus cantos de fe.

""Tnr,D INDiGENA 7 A arte e a cultura indigena aqui representada em todo seu esplendor.

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5 - iNDIOS DONOS DA TERRA Senhores desta Pindorama, sao os indios verdadeiros don os desta grande na<;ao.

8 - PAJE Sacerdote de Uma tribo, 0 Paje e 0 curandeiro que des venda os segredos de tupa e promulga a fe indigena.

"0 CRISTIANISMO"

6 -MlTO DA CRIA<;:Ao GUARANI Tupa e 0 Deus, e a propria manifestac;:ao divina de um povo que cultua essa divindade nas forc;:as e elementos da natureza.

Cruzam 0 oceano navegadores portugueses trazendo em seu conves a crenfi:a em urn "Deus Homem", enCarnafi:aO viva do proprio criador. A Fe crista encontra 0 paraiso, e aqui finca, definitivamente, a sua "Vera Cruz". Os jardins tropicais da nova terra se transformam em altar para a primeira missa aqui rezada, era a celebrafi:ao da pascoa. Brancos e indios participam desse ritual e criam 0 primeiro lafi:o de sincretismo nessa nafi:ao.

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9 - NAVEGADORES A expansao maritima portuguesa cresce nos seculos XV e XVI. "Navegar e preciso" para expandir 0 reino e difundir a fe crista.

12 - MESTI<;:O CRISTIANISMO

o sincretismo religioso que come9a surgir no Brasil.

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10 - DESCOBRlDORES

o Monte batizado de Pascoal e avistado por Cabral! Era

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Novo Mundo que surgia.

II - PARAiso CRISTAO A ilha recebe sua "Vera Cruz". E0 marco inicial deste que vi ria ser 0 maior pais cat61ico do Mundo.

281 REvl STA DA IMPERATRI Z 2010

13 - CATEQUESE OS jesuitas escreveram catecismos em portugues e usaram a musica, teatro, a poesia, os autos e a dan9a ritual para a Dbra evangelizadora.

14 - RELIGIOSOS

o engajamentD missiomirio na alegre celebra"ao da fe cresce no Brasi I.


"CULTO NEGRO AOS ORIXAs" Ressoam os atabaques lembrando a Africa distante. E0 negro que canta e cultua seus orixas! A magia do candomble corre nas veias do povo africano e mantem viva a louvac;ao a Olodumare, 0 Deus Supremo que estabeleceu a existencia e 0 Universo. Ea saga de uma nac;ao que no Brasil fez sua morada e transformou cada casa de santo em solo sagrado dos seus rituais. 17- AFRICANOS Negros escravizados que entoam na senzala seus canticos de adora<;:ilo aos Orixas.

15 - ANTILOPES Simbolo de Um continente que vem guaffiado 110 peito de uma nayao. 0 ela, animal sa~rado para varias culturas africanas ancestrais.

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18 - MAE AFRICA Nossas Baianas encarnam a representayao da mae africa que abraya seus filhos e entoa um ponto de fe.

16- AFRICA

o gigantesco continente aporta no Brasil com suas crenyas e louva<;:oes.

19 - NIGOLOS Nigolo e 0 nome dado a um ritual das tribos africanas de Angola, base ado no rito de acasalamento das zebras.

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"0 BUDISMO" Maior colonia de japoneses do Mundo, 0 Brasil viu chegar da terra do sol nascente milhares de imigrantes niponicos que aqui vieram semear nossas lavouras e trouxeram em sua bagagem a devoc;ao a um ser i1uminado, que promulgava a elevac;ao do pensamento e do espfrito para atingir 0 estado do nirvana, ou seja, paz e igualdade.

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22 - DRAGAo Criaturas legendarias na mitologia e no folclore japones, 0 dragao, presente tambem no horoscopo japones, e a divindade das aguas e do mar.

20 - GUEIXAS Guardiaes milenares das tradi~oes japonesas, as gueixas sao simbolos de status, delicadeza e tradi~ao.

21 - MONGES BUDISTAS Respons:lveis por manter vivo 0 ensinamento budista, os monges embarcaram junto aos lavradores e vieram semear no Brasil seus costumes e tradi~oes. 30 I R EVI STA OA IMPERATRI Z 2010

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23 - LANTERNAS As lanternas mais que iluminar os mosteiros budistas eram referencia de ilumina~ao da al rna e da consciencia

Rrepresenta

24 - LEQUES equilibrio da mente do cor po. Preceito Budista.

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"0 JUDAtMSO" Brilha no ceu uma estrela, simbolo de for~a e justi~a, e ilumina 0 povo de Israel que faz do Brasil palco da primeira colonia Judaica nas Americas. Acreditar em urn unico Deus e com ele estabelecer uma alian\;a atraves dos preceitos e costumes desta na~ao universal faz do Brasil a terra prometida, uma nova Canaa.

27 - LUZ JUDAICA Representa a propria religiao ludaica que nao se apagani, sempre se mantera ace sa .

25 - ESTRELAS DE DAVI ' Sfmbolo do Povo de Israel. A estrela de.b avi, tambem chamada de escudo de Davi, a( ui e a representa~iio do povo 1udeu. "

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28 - A FESTA DAS LUZES

o Chanuca e umas das mai s tradicionais festas j udaicas representa a vitoria do povo Judeu sobre aqueles que queriam proibir a pratica do Iudafsmo.

26- CABALAS

o estudo da natureza divina e suas interven~6es

na vida do Homem, 29 - 0 MENORAH Candelabro utilizado nos rituais REVI STA DA IMPERATRIZ 2010 131


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"OISLAMISMO"

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Anjos e profetas anunciam a chegada de uma comunidade unica. Surge a peregrina.,ao Islamica a esta "Meca" sagrada, que e 0 Brasil, sob a prote.,ao de Ala Deus unico e Criador e Maome, seu Mensageiro. Ea profissao de Fe desse povo que prega 0 Bern, a Paz e a Predestina.,ao_

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32 - FESTA ISLAMICA A comemorayao it revelayao do A lcorao ao profeta Maome.

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30 - 0 ALCORAo Livro sagrado do lslamismo, a palavra literal de Ala revelada ao profeta M aome.

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," 33 - ALA EDEUS Honra e Glo ria ao unico Deu s, Ala.

"0 HINDUisMO"

31 - SUNA

o Caminbo trilbado pelo profeta Muhammad tambem devera ser trilbado por todo mulyumano atraves das sagradas escrituras.

32 R EV ISTA DA IMPERATR IZ 2010

o povo hindu surge com suas cores, cantos e dan.,as fazendo presente em solo brasileiro esta que e considerada a religiao mais antiga do mundo. Ea interse.,ao de val ores, filosofias e cren.,as de urn povo que acredita na eleva.,ao da alma e do espfrito e cultua seus Deuses com suas recita.,oes e mantras.


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34 - SATRUPA Deusa hindu da sabedoria, das artes e da musica representa a beleza da mulher, esposa do prorpio Deus Brahma.

37 - 0 CISNE HANS-VAHANA Simboliza 0 conhecimento e e 0 responsavel em carregar 0 proprio Brahma

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35 - SHlVA Deus Transformador, responsavel pela renova~iio.

36 - DEUSES INDlANOS Sintetiza a cren~a politeista do povo hindu.

38 - BRAHMA Primeiro Deus na trindade do Hinduismo, representa~iio da for~a criadora.

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39 - INDlANOS EM FESTA As festas hindus geralmente estiio relacionadas as mudan~as de esta"oes, desempenham papel purificador na libera"iio das tensoes da comunidade e suspendem temporariamente as distin"oes de classe e casta. REVISTA DA IMPERATRIZ 2010

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"A NOVA FESTA DO DIVINO" "Brasil de lodos os Deuses" e um canto de amor, respeito, e devo~ao a todas as cren~as que fizeram desse pais a morada Divinal. Uma patria, que carrega na alma a razao que conduz sua propria vida. Ea festa em consagrac;ao ao Divino e em louvor it tolerancia religiosa que faz do Brasil verdadeiro exemplo para todas as nac;oes do Mundo.

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42 - A FOR<;:A DA FE

o Cam inho da fe que devera ser trayado em

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prol de harmonia independente da religiao,

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40 - ANJOS DA FE Seres alados que representam a comunicayao dos Deuses com os homens anunciam um novo tempo de paz entre os povos.

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43 - NO RITMO DA FE Honra e Gloria ao unico Deus,

41 - A IMPERATRIZ DO DlYINO

o branco da Paz veste nossa bai ana, que nesta passarela se transforma na Imperatriz desta grande festa em homenagem ao Divino,

44 - NOS PASSOS DA FE

o Ca minho da fe que devera ser trayado em prol de harmonia independente da religiao,

34 1REV ISTA DA I MPERATR IZ 2010


o G.R.E.5. Imperatriz Leopoldinen-

45 - ANJOS F UTURISTAS Anjos anunciam um futuro de uniao e respeito religioso entre todas as nayoes do mundo.

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45 - A CAVALHADA A festa que representa as cruzadas aqui representani a uni ao e a perpetuayao de todas as manifestayoes populares religiosas.

se tem sua trajetoria marcada, principalmente, por valorizar em seus desfiles 0 rico e diversificado conjunto de manifesta~6es culturais de um Pais que se traduz atraves da sua gloriosa mistura de ra~as. Um povo mesti~o na carne e no espirito, uma na~ao sem fronteiras etnicas que sera representada por nossa agremia~ao no carnaval de 2010 por, sem duvidas, aquela que e a sua maior riqueza: a Fe. Indios, Brancos e Negros pintaram a primeira matiz religiosa deste solo, e aqui viram desembarcar outros Deuses e Cren~as, frutos de uma constante imigra~ao. Uma verdadeira procissao de religi6es compos esta belissima aquarela do sincretismo em nossas terras, tingindo 0 ceu de nossa bandeira com 0 branco da Paz. "Brasil de Todos os Deuses" e um canto de amor, respeito, e devo~ao a todas as cren~as que fizeram desse pais a morada Divinal. Uma patria, que carrega na alma a razao que conduz sua propria vida. Ea festa em consagra~ao ao Divino e em louvor tolerancia religiosa que faz do Brasil verdadeiro exem'plo para todas as na~6es do Mundo.

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46 - OS ROMEIROS A Romaria de Nossa Velha-G uarda

Brilha a Coroa Sagrada da Imperatriz! E que todos os Deuses guiem nossa gente romeira, valente e festeira nesse sagrado altar do samba e busca de paz, amor e uniao.

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TOQlJE flAftA OGlJM Andre Bonatte

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Quando a Bateria da Imperatriz Leopoldinense despontar na avenida este ano, seus tambores louvarao bem mais que um samba-en redo. Os Ogans da Leopoldina farao reverencia a OCUM, filho mais velho de Oduduwa, senhor dos metais e das ferramentas. Os tam bores de Ramos trarao estampados em suas latarias, a imagem de Sao Jorge, santo catolico que no sincretismo religioso representa Ogum (Rio de Janeiro), enos couros serao entoados, durante a execu<;ao rftmica do samba, os toques e referencias ao Orixa dono da bateria gresilense. Mestre Marcone, revela<;ao no carnaval 2008 segundo 0 premio Estandarte de Ouro, sera 0 guia desta jun<;ao de samba e candomble, mistura rftmica que reproduz em sfntese a essen cia de nosso enredo Brasil de todos os Deuses enos tras de volta as verdadeiras caracterfsticas de uma bateria. A ousadia rftmica se dara at raves de arrojadas paradinhas e um perfeito entrosamento entre os instrumentos da orquestra, agora denominada

Swing da Leopoldina.

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Uma bateria com marca pro,Pria e identicfade historica, que se sente a vontade para plagiar a co-irra e dizer que tambem e conhecida ao longe, pelos toques dos tamborins e 0 rufar de seus tam bores. Sarava Bateria!

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ME~lJtE-~ALA E rOJtlA-IlbANPEfJtA Marcelo Monteiro

Conduzindo e defendendo juntos 0 pavilhao da verde, branco e aura da Leopoldina desde 0 ano' passado, Veronica e Bira sao ' exemplo de garbo e sintonia necessarios a um quesito de tamanha importancia dentro de uma escola de samba. Apos cinco anos dan~ando pela Unidos da Tijuca, Ubirajara Claudino, 0 Bira, foi convidado em 2009, pelo nosso presidente Luiz Pacheco Drumond, para proteger 0 pavilhao gresilense. Antes da escola do Borel, ele ocupou 0 posto de primeiro Mestre Sala no Imperio da Tijuca e no Unidos da Ponte, demonstrando toda sua experiencia adquirida ao longo dos anos na escola do avo, 0 Mestre-Sala Marcelino Jose C1audino, 0 Ma~u da Mangueira, uma lenda na historia das escolas de samba carioca. Ja conhecida dos torcedores da Imperatriz, Veronica Lima e primeira Porta-Bandeira da escola desde 2006, embora tenha come~ado a carreira cedo, aos 10 anos de idade, na Academicos do Grande Rio. Para 2010, 0 sagrado desfraldar da bandeira leopoldinense pro-

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mete mais: afinal, a dupla nao vem economizando esfor~o e dedica~ao arduos, disposta nao so a corresponder aos elogios da crftica especializada, pela leveza e ha rmonia do seu bailar, como a conquistar a pontua~ao maxima, visando mais um tftulo no carnaval carioca . Para tanto, promete uma apresenta~ao tao brilhante quanto magistral, digna do esplendor da coroa da Imperatriz Leopoldinense.

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o f>AVfbt'iAO Marcelo de Mello

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Se as outras escolas tern simbolos, a Imperatriz tern henlldica. Nao que a agremia<;ao de Ramos queira abafar ninguem. e sim porque a arte dos brasoes da nobreza tern tudo a ver com ramos: a coroa, 0 dourado, 0 nome e os enredos hist6ricos lembram reis, rain has e imperadores. A heraJdica da lmperatriz, no entanto, nao e convencional. Primeiro porque nao se manifesta em brasoes: 0 imaginario da nobreza leopoldinense esta, entre outras coisas, em alegorias, fantasias e, obviamente, na bandeira. Segundo, porque 0 objetivo nao e excluir ninguem. Duvida? Entao diga que outra escola e tao inclusiva como a verde-e- branco, que tern em sua bandeira 11 bairros, representados por estrelas, sendo a maior Ramos: Triagem, Manguinhos, Bonsucesso, OIaria, Penha, Penha Circular, Bras de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e

Vigario Geral. A hist6ria da pe<;a mais importante da heraldica leopoldinense come<;a em 1959, quando a escola nasceu. Ao incluir as estrelas, os fundadores queriam que a imperatriz representasse toda a Zona da Leopoldina. As cores verde e branco foram uma homenagem ao imperio Serrano, a madrinha. Sob a presidencia de Antonio Carbonelli, 0 dourado e acrescentado as cores oficiais. E a coroa e uma referencia a do Primeiro Reinado, desenhada por Debret e que simboliza o periodo em que LeopoLdina foi imperatriz do Brasil. Essas caracteristicas originais se mantem ate hoje. Mas 0 simbolo maior passou por mudan<;as. Para se ter uma ideia, a primeira bandeira, com formato sugerido por Agenor Gomes Pereira, ja era dividida em diagonaL, mas uma parte era em verde; a outra, em branco. Essa configura<;ao caiu em desuso na decada de 1970. Por outro lado, uma estrela adicional foi acrescentada junto ao "E" do "GRES" (Gremio Recreativo Escola de Samba), dentro da faixa diagonal, em comemora<;ao <\0 tituLo no Grupo 3 em 1961. o acervo fotogrMico da escola revela que, alem da oficial, havia uma segunda bandeira, confeccionada a cada ano. Numa imagem de 1974 aparece uma que nao era descrita no estatuto, mas se parece com a atual. Dai e possive! concluir que uma dessas segundas bandeiras acabou se firmando e tomando 0 Lugar da oficial.

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COMfS~AO

DE FJtENlE

Marcelo Monteiro

Diffcil falar em Comissao de Frente sem lembrar-se da Imperatriz Leopoldinense. Afinal, ao longo da hist6ria da folia momesca a escola imprimiu ao setor um carater emf blematico, trazendo novos conceitos/ tanto esteticos quanto coreograficos, revolucionando 0 quesito anteriormente restrito a dar boasvindas e apresentar a escola. Por esta razao, mais que um importante segmento, objeto de julgamento de desfile, sua rela~ao com a agremia~ao da Leopoldina tem um toque de ludico e sentimental. E ciente de tal responsabilidade, para coordenar e assinar a coreografia do grupo que abre 0 desfile em 2010/ 0 Carnavalesco Max Lopes convidou Regina Sauer, que na ocasiao de sua apresenta~ao declarou: "Estou muito feliz com a nova casa. Trabalho na equipe do Max ha alguns anos e fico satisfeita de estarmos juntos neste novo projeto. Minha expectativa e de muito trabalho pela frente". Regina tem forma~ao especializada em dan~a moderna e jazz, alem da experiencia como Curadora e Diretora do Festival de Dan~a de Rio das Ostras. Participa de equipes de carnaval em escolas 421 REV ISTA DA IMP ERATRI Z 2010

de samba, desde 1998/ com passagens pela Academicos do Grande Rio e Unidos do Porto da Pedra. Composta por quinze bailarinos, sendo oito homens e sete mulheres, 0 novo grupo vem se empenhado nao s6 para conquistar a nota dez, como tambem para que nao paire qualquer duvida quanto ao afirmado nos versos de um dos mais belos sambas-exalta~ao da escola de Ramos: "Sou de frente a mai.s. bela comissao!"


OtHA A fMt'EftATftfZ CHEGANE>O! A nd re Bonatte

Mesmo estando afastado do miA Nac;:ao Leopoldinense recebe crofone oficial da Imperatriz Leo- de brac;:os abertos um dos maiores poldinense por aproximadamente interpretes do mundo do samba e 20 anos, Dominguinhos do Estacio da nossa Imperatriz. nunca deixou de freqUentar a nossa quadra. Em suas visitas sempre fez questao de subir ao palco e embalar os torcedores gresilenses cantando os sambas, que em sua voz marcaram a escola . Com "0 que e que a Bahia Tem?" trouxe 0 primeiro campeonato para a Imperatriz em 1980, que parece ter gostado. da experiencia e acabou repetind(jl a dose em 1981 com "0 teu cabelo nao Nega" em homenagem a" Lamartine Babo. ; o maior sucesso da escola, "liberdade, Liberdade abra as asas sobre n6s", veio na voz de Dominguinhos rendendo mais um campeonato, levantando a avenida, e escrevendo definitivamente 0 nome do interprete na hist6ria da Imperatriz. Em 2010, defendendo 0 enredo "Brasil de todos os Deuses" do carnavalesco Max Lopes (0 mesmo de Liberdade, Liberdade ...), Dominguinhos quer, mais uma vez, soltar 0 grito de "Campeao" e trazer 0 caneco para a zona da Leopoldina. Alguem duvida da competencia dessa dupla? REV ISTA DA IMPERATRI Z 20 10 143


A ndre Bonatte

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Muitos sao os ingredientes para ser fazer um bom samba-enredo: Requer um cuidado com a metrica, 0 tom deve ser adaptavel, refroes marcantes, uma segunda bem melodica ... Mas como fica a emoc;:ao? Essa nao tem receita . Ela aparece intuitivamente, e 0 poeta se deixa levar por essa magia, parafraseando Paulo Cesar Pinheiro e Joao Nogueira em "0 poder da criac;:ao."

o samba que a Imperatriz Leopoldinense levara para avenida no proximo carnaval reune todos os ingredientes de um grande samba, alem de contar, e claro, com uma grande dose de emoc;:ao. E .um samba que nos envolve, e sem perceber nossos co ~ pos se movem, nossos olhos se fecham, nossas maos vao aos¡ ceus: "6 Deus pai, Iluminai um novo dia". "

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Eo povo brasileiro retratado de forma simples e profunda que encontramos nos versos dessa obra . E 0 branco, 0 negro, 0 indio, imigrantes dos quatro cantos do mundo que fizeram do Brasil a sua morada e conclamam aqui seus Deuses e comungam sua fe. Essa gente romeira, valente e festeira que segue a acreditar, e que traz em cada amanhecer a esperanc;:a de um mundo melhor. Se 0 samba e nossa religiao, a Imperatriz e nosso templo sagrado onde os Deuses do Samba continuam nos iluminando.

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l:J,M DrALOGO H'~l6RJCO DE ~A,M'M~lA~ NA~ ONDA~ DO JtADrO Francisco dos Santos Louren90 Historiador. Mestre em Com un ica~ao

"Luiz Penido: - 0 samba da lmperatriz Eu~enio Leal: - 0 maior vencedor da esse ano e uma obra de arte! Eu achei que histona da Imperatriz de samba-enredo, ninguem faria um samba melhor do que o Guga. o da Vila Isabel. Quero confessar publiLuiz Penido: - E Guga, voce arreben, caniente 9ue disse: 0 samba do Martinho da Vila, e que e uma obra de arte. Ele e tou, extrapolou, voce derramou 0 pote, urn samba epico, e ele vai ficar na memo- que nao cabia mais, e voce entornou realria E 0 samba da lmperatriz e ainda mais mente, mas de em09ao e de tal en to! fantastico! 0 samba que a Imperatriz vai Eugenio Leal: - 0 samba e do Guga, botar na Sapucai, eu nao me lembro, ha do leferson Lima, Flavinho, Me Leva e muitos anos, de Explode COra9aO pra ca, Ziriguidum 2001... , ja teve bern mais Gil Branco ... antigos ... nada se parece com a qualidaEugenio Leal: - 0 sambista, a religiao de do samba da Imperatriz. 0 samba da Imperatriz Leopoldinense, ele nao pode do sambista e 0 samba. A religiao do torganhar nota dez, ele tem que ganhar nota cedqr da Imperatriz e a escola. Entao, 11. Todos os jurados tern a obriga9ao: a Imperatriz,. e nesse paralelo, vira urn dez com louvor, mais urn ponto, II. Por- "mar de fieis, no' altar do samba". A Sa9ue, Eugenio Leal, tenta traduzir 0 que J?Ucai e 0 altar do samba... e voce conseguir falar de todas as religioes, ao mesmo tempo, com a poesia de . ' Luiz Penido: - E TIenial isso, e genial, . I, gellla . I , gellla . 1" ... 1. dizer que a Imperatriz "esta no altar do gellla samba"... , mas, e urn negocio, e de arTeEugenio Leal: - Ele faz esse paralelo, piar. "0 altar do samba em ora9ao". E 0 e, com a Imperatriz e os seus fieis. Os samba passando por uma leitura completa das religioes, de como elas nasceram e desfilantes, os componentes da Imperase desenvolveram, tudo bern sintetizado. triz sao os fieis da religiao que e a escola Eu nao consegui. Eu procurei, Eugenio, para eles. nao achei urn unico defeito no samba da Luiz Penido: - E verdade. E olha, se lmperatriz. nada der errado, naquele momento, eles Eugenio Leal: - 0 samba e realmen- estao fazendo a ora9ao maio~ A empolte maravilhoso. Mandar um abra90 pro ga9ao vai ser fantastica, porque tambem Guga, que e urn dos compositores do a melodia favorece. A musica, a musicasamba. [Ele] fica muito envaidecido lidade, conta, claro. quando a gente faz os elogios, aqui, ao Eugenio Leal: - Eo casamento perfeisamba dele. to da poesia com a melodia.'¡ Luiz Pcnido: - Olha, entao, ele pode ficar mais do que envaidecido.

46 ! RI VIST,\ DA l MPI:. RATR I7 20 10

Em09aO. Criatividade. Simbolismo. Esses sao alguns dos ingredientes que


podemos vislumbrar retratados no dialogo estabelecido entre Luiz Penido e Eugenio Leal nas ondas do programa Tupi Carnaval Total, transmitldo pela Super Radio Tupi, do Rio de Janeiro, a respeito do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense. Ao adentrarmos a nova decada do seculo XXI, a verde, branco e DurO da Leopoldina brinda os aficionados foli5es cariocas - em uma especie de ofertorio ecumenico - com a mais bela produc,;iio da safra de sambas a serem entoados na Marques de Sapucai. A essa comprovac,;iio empirica, quase nos mesmos moldes de prova e contraprova para a validac,;ao de uma descoberta cientifica, nem Penido nem Leal passaram indiferentes. Ao contrario. Eles conseguiram agregar, em seus comentarios sobre 0 hino de 2010, aspectos peculiares as suas atuac,;5es nos universos do futebol e do carnaval brasileiros.' Nesse sentido, tanto Penido, dotado dj:: igual vigor e entusiasmo com que emoclOna multid5es ao narrar urn "guard6", bordiio por ele utilizado para eter~izar o momento maximo de uma partii!la, 0 gol, quanta Leal, com sua vivencia cotidiana junto a sambistas e agremiac,;5es, souberam com elegancia, desprendimento e alegria traduzir os ideals presentes nos versos e na melodia criados por integrantes da consagrada ala de compositores da Imperatriz Leopoldinense - Guga, Jeferson Lima, Flavinho, Me Leva e Gil Branco: congrac,;amento entre povos e nac,;5es pelo vies de suas religiosidades, bern como 0 amor desmedido do componente pelo pavilhao coroado. Assim, aos dias quando mascarados, ou de cara limpa, somos de corpo e alma felizes suditos nos festejos de Momo, 0 quinteto gresilense, atraves de inquestlOnavei delirio de criatividade musical, apresenta ao publico todas as cores, os ntmos e as crenc,;as de urn Brasil formado ao lado "de todos os deuses". Urn Brasil dos sonhos, das utopias e das esperanc,;as de todos nos. Axe, amem, shalon... REV1STA DA IMPERATRIZ 2010 147


Autores Jeferson Lima, Flavinho, Gil Branco, Me Leva e Guga

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TERRA ABEN~OADA! MORADA DIVINAL BRILHA A COROA SAGRADA REINA TupA, NO CARNAVAL ... VIU NASCER A DEVO~AO ~M CADA AMANHECER VIU BRILHAR A IMENSIDAO DE CADA OLHAR NUM PAIS DA COR DA MISCIGENA~AO DE TANTO DEUS, TANTA RELIGIAO PRO POVO, FELIZ, CULTUAR ,

o INDIO DANC;:OU, EM ADORAc;:Ao o BRANCO REZOU NA CRUZ DO CRISTAo o NEGRO LOUVOU 06 SEUS ORIXAS A LUZ DE DEUS EA CHAMA DA PAZ E SOB AS BEN ~Aos DO cEU E 0 VEU' DO LUAR NAVEGARAM IMIGRANTES DE TAo DISTANTE, PRA SEMEAR TRA~OS DE TRADI~OES, LA~OS DAS RELIGIOES OH, DEUS PAl! ILUMINAI 0 NOVO DIA GUIAI AO DIVINO DESTINO SEUS PEREGRINOS EM HARMONIA A FE ENCHE A VIDA DE ESPERAN~A NA INFINITA ALlAN~A TRAZ CONFIAN~A AO CAMINHAR E A GENTE ROMEIRA, VALENTE E FESTEIRA SEGUE A ACREDITAR ...

A IMPERATRIZ E UM MAR DE FIEIS NO ALTAR DO SAMBA, EM ORAc;:Ao EO BRASIL DE TODOS OS DEUSES! DE PAZ, AMOR E UNIAo. .. 48 REVISTA DA I MPF" A


SECRETARIA DE TURISMO, ESPORTE E LAZER


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SE FOR DIRIGI

NAo BEBA.


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