Carnaval além da avenida

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AlĂŠm da Avenida



AlĂŠm da Avenida


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FICHA CATALOGRAFICA Coimbra, Nathália Lopes Carnaval além da avenida I Nathália Lopes Coimbra- São Paulo, 2013 142 f.: ii. colo r. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação)- Apresentada ao Instituto de Ciências Sociais e Comunicação no curso de Comunicação Social -Habilitação em Jornalismo da Universidade Paulista, São Paulo, 2013. Área de Concentração: Cultura/Fotografia "Orientação: Su Stathopoulos" "Cc-Orientação: Tânia Trajano, Roberto Cândido" 1. Carnaval. 2. São Paulo. 3. Escolas de Samba. 4. Leandro de ltaquera. 5. Pérola Negra. L Stathopoulos, Su. 11. Trajano, Tânia. III. Cândido, Roberto. IV. Universidade Paulista- UNIP. V. Título.

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ORIENTAÇÃO: Su Stathopoulos CO-ORIENTADORES: Tânia Trajano e Roberto Cândido

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COLABORADORES: Cynthia Lopes Lima e Denis Zanin PROJETO GRÁFICO EDIAGRAMAÇÃO: Nathália Lopes FOTOS E TEXTOS: Nathália Lopes REVISÃO: Cynthia Lopes Lima IMPRESSÃO: InPrima - Soluções Gráficas

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gradeço primeiramente à minha orientadora Su Stathopoulos, que me concedeu seu pouco tempo livre para transmitir seus conhecimentos fotográficos de forma tão agradável e divertida. E também aos professores Tânia Trajano e Roberto Cândido por tornarem min ha escrita mais apurada e minha visão artística mais crítica. Um agradecimento especial à minha mãe Cynthia Lopes, que se propôs a me acompanhar em eventos mesmo nos horários mais ingratos, me apoiou durante as turbulências e se tornou minha grande parceira nessa jornada. Um muito obrigado também ao meu colega Denis Zanin que me ajudou com seus avançados conhecimentos de informática. Minha gratidão ao presidente Edilson Casal, do G.R.S.C.E.S. Pérola Negra, que aceitou minha entrada e permanência em eventos e reuniões. Um abraço especial ao carnavalesco André Machado, que permitiu meu acesso aos seus desenhos de fantasias e carros alegóricos, e à sua equipe do barracão, principalmente à Lia Mara, Mar ia Penha e Maria Elizabete. Muito obrigada também ao presidente Leandro Alves Martins, do G.R.C.E.S. Leandro de Itaquera por me receberem tão bem em suas festas e encontros. Um agradecimento especial ao Judson Sales, sempre paciente e prestativo, ao Ju ninho Bra nco e ao carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn, por sua atenção e comprometimento. Finalmente, expresso minha imensa gratid ão à comunidade da escola Vila Madalena e à família de Itaquera pelo acolhimento e grandes espetáculos, proporcionando a concretização deste projeto.


"Fotografia é a poesia dos olhos, traduzida na essência das emoções"

(Autor Desconhecido)


, . ttmano INTRODUÇ ÃO

Abre Alas

06

HISTÓRIA

Carnaval em São Paulo

08

Festa das Campeãs

52

Rwno à Felicidade

58

Um Senttmcnlo Puro

62

Saindo do Papel

68

A Todo Vapor

96

LEANDRO DE ITAQUERA ALAS E SEGMENTOS

Codinome Tradição

10

No Giro da Baiana

16

Rufem os Tam borins

22

Os Guardi ões d o Pavilhão

28

PÉROLA NEGRA

Surge a Joia Rara

38

No Carnaval 201 3 ...

42

Nasce o Leão

102

Ga rra e Em oção

106

Construindo Laços

11 2

<\ ' nf'"

118

C' 1\,; ')Ssa

Na Boca do Leão

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O Dono da Bola

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Construindo Sonhos

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BIBLIOGRAFIA

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exta-feira. Noite. Chuva. Câmera na mão e uma grande expectativa. Uma batida ensurdecedora começa e lá longe um leão se aproxima, majestoso e guerreiro, mostrando ao público que se encontrava perplexo com tanta exuberância, a razão de ter conquistado a vice-liderança do grupo de acesso. A Leandro de Itaquera abriu o Desfile das Campeãs no Carnaval 2013. E. eu, sentada na arquibancada, senti a animação de cada um de seus integrantes. Naquele exato momento, percebi que uma nova paixão começara. A luz do Sambódromo refletia na pele dourada do leão, mas essa não era a fonte do brilho nos meus olhos ou a r azão de eu estar boquiaberta. "Leandro é raça, é comunidade. Meu amor!", cantavam as pessoas na avenida. Eu, que nunca ouvira o samba, nunca desfilara, nunca assistira a um único desfile, sequer televisionado, repetia as palavras com a mesma emoção. Ainda abobalhada com os imponentes carros e as alegres fantasias, percebi que não tirara sequer uma foto! Tratei de fechar a boca e dar os primeiros cliques. Com a desculpa de economizar bateria, guardei a câmera na bolsa e assisti com certa tristeza a passagem dos últimos integrantes da Leandro. Será que alguma outra escola me tocaria daquela forma? Então ela surgiu. Reluzente. A "Joia Rara do Samba". A Pérola Negra entrou na avenida com pompa de campeã e mostrando para quem quisesse ver que nunca deveria ter sido rebaix.ada. Tirei várias fotos. Mas quando percebi, a câmera estava de volta na mochila e minhas mãos batiam obedientemente ao som de "Podem aplaudir!", que os integrantes cantavam de forma tão envolvente.


Qualquer dúvida que por ventura eu tivesse quanto ao tema do meu projeto, foi embora naquele momento. Como aquelas lindas fantasias foram feitas? E os carros? Quem escreveu aqueles sambas? Queria essas pe rguntas respondidas e, mais que isso, queria entender os segredos por trás da magia que acabara de presenciar. O acesso às duas escolas foi surpreendentemente fácil. Uma garota sorridente e um rapaz tão apaixonado por fotografia quanto eu, foram meu portão de entrada para a Pé rola Negra e a Leandro de ltaquera. E que recepção! Na Vila Madalena, a Pérola não se esconde em meio aos barz.inhos e baladas. Ela compete. As fes tas são muitas e requisitadas! Mas a seriedade está presente até nos momentos de farra, mostrando forte comprometimento dos integrantes. Já a escola de l taquera faz jus ao bordão "a mais simpática". Estar na Leandro é como estar em casa. O acolhimento pode espantar no início, mas logo você se acostuma e passa a fazer parte da família. Só não se confunda: quem é Leandro sabe a hora de falar sério. Contudo, mostrar o íntimo de cada escola e suas peculiaridades, não foi nada fácil! Nem todos querem fala r, nem todos se sentem a vontade para contribuir. Mas, mesmo diante das dificuldades, nem por um momento quis desistir. E nem poderia! A beleza dos bastidores do Carnaval, que me foi apresentada principalmente pelos brilhantes carnavalescos das duas escolas, prevaleceu diante de qualquer obstáculo que foi colocado no meu caminho.


surgimento do Carnaval em São Paulo já havia sido antecipado pelo entrudo, os bailes de máscaras, as marchinhas e os Cordões, mas sua existência, tal como conhecemos hoje, só foi possível graças à criação das escolas de samba, na primeira metade do século XX. Em 1914, o Grupo Carnavalesco Barra Funda, que contava com doze integrantes vestidos com camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha, deu origem ao primeiro Cordão da cidade, que permitiu a participação dos sambistas em Folias de Momo. A introdução do surdo, do estandarte, de um Rei, uma Rainha e outras figuras da Corte, fez com que os Cordões caíssem no gosto popular já na década de 30. O bloco das Baianas Paulistanas foi a primeira tentativa de fortificar o samba na cidade e sua popularidade deu origem à pioneira E. S. Lavapés. A escola foi fundada em 1937 - ano em que o Carnaval brasileiro ainda se recompunha da morte do compositor Noel Rosa - e permanece em atividade com o nome Sociedade Recreativa Beneficente Escola de Samba Lavapés, desfilando pelo Grupo III da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas). Ao lado das escolas Unidos do Peruche (fundada na década de 50) e Nenê de Vila Matilde (1949), a Lavapés participou do primeiro desfile em São Paulo, ocorrido em 1955, no bairro do Ibirapuera. Atrasada em relação ao Rio de Janeiro, que realizou o evento em 1932, a cidade paulistana se valeu da crescente popularidade dos blocos de rua, que desfilavam há 70 anos. Hoje, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (LigaSP) administra um grupo de afoxé e 22 agremiações, que desfilam pelo Grupo Especial e de Acesso. Há também outras 47 reconhecidas pela UESP, que in tegram os Grupos I, II, III e IV da instituição, e 13 blocos especiais.


A importância do Carnaval para a cidade é tanta, que para a folia de 2013, a prefeitura decretou um aumento de mais de 6%, em comparação ao ano anterior. Ao todo, o investimento foi de quase R$34 milhões - ultrapassando Salvador, que ganhou R$30 milhões. As escolas do Grupo Especial receberam mais de R$712 mil cada, enquanto as do Grupo de Acesso cerca de R$ 402,5 mil.

8am.idth-omo e om projeto de Oscar Niemeyer, o Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo, popularmente conhecido como Sambódromo do Anhembi, foi inaugurado em 1991 com capacidade para 10 mil pessoas . Em 12 de fevereiro de 1996, quando todos os módulos foram concluídos, sua capacidade triplicou. Inicialmente criado para abrigar o Carnaval de São Paulo, o Sambódromo é palco de diversos outros eventos, como a Fórmul a Indy. Outro espaço, que será de grande importância para o Carnaval de São Paulo, é a Fábrica do Samba, também chamada de Cidade do Samba ou Fábrica dos Sonhos . Localizada no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, as obras tiveram início em 2011, com previsão de entrega para 2012. Contudo, devido a atrasos na construção e na liberação de verbas da prefeitura, a entrega deverá ocorrer somente em 2014. A Fábrica abrigará as 14 escolas do Grupo Especial com o objetivo de facilitar o transporte das alegorias- uma vez que o complexo fica a pouco mais de 1 km do Sambódromo- e melhorar as condições de trabalho dos envolvidos na produção de fantasias, carros alegóricos e adereços, já que hoje esse trabalho é fe ito em terrenos da prefeitura, majoritariamente debaixo de viadutos . O local ficará aberto ao público para visitação e contará com o Museu do Samba, tornandose um novo ponto turístico da cidade. Por conta disso, o Ministério do Turismo anunciou em 2013 um investimento de R$40 milhões no complexo, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esse dinheiro será somado ao orçamento inicialmente previsto pela prefeitura de R$ 124 milhões.

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znome Velha Guarda é o mais tradicional segmento de uma escola de samba. Seus integrantes trilham uma jornada de anos dentro da agremiação e, portanto, possuem conhecimento amplo de sua fundação e suas histórias nos Carnavais. Em razão disso, seu principal propósito acaba sendo o de preservar o patrimônio cultur al do samba e suas tradições dentro e fora da escola. Segundo Hiram Araújo, diretor do Centro de Memória do Carnaval da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) e profundo conhecedor do samba carioca, o termo "Velha Guarda" foi criado pelos músicos Pixinguinha e Donga, em alusão ao primeiro CaféConcerto da cidade do Rio, criado no início do século XX. Fazendo uma referência ao café-concerto Guarda Velha, Pixinguinha e Donga criaram o Grupo da Velha Guarda, termo que foi resgatado pelas escolas de samba na década de 60 para denominar esse grupo de experientes sambistas. A ala reúne integrantes com mais de 50 anos, que contribuíram e se destacaram como passistas, Mestres-Salas, Porta-Bandeiras, dentro das diretorias ou da bateria, e até mesmo desfilando nas chamadas "alas comuns", por no mínimo 25 anos. Algumas agremiações, porém, não exigem todas essas qualificações, como é o caso da Leandro de Itaquera. Sua Velha Guarda foi criada no dia 30 de janeiro de 2000, quando a escola tinha apenas 18 anos de existência. No entanto, este fato não diminui o conhecimento de seus integrantes. A realidade mostra que, cada vez mais, a Velha Guarda está afastada das decisões da diretoria e perdendo espaço nos desfiles atuais. Se antigamente esses antigos sambistas serviam de "abre alas" das escolas mais tradicionais, atualmente o mercado busca desfiles mais acrobáticos, como bem ressalta o sociólogo Nilton Rodrigues Jr. "Ser Velha Guarda é ser e fazer samba de raiz, portanto, é preciso não sucumbir aos apelos do mercado e às exigências do Carnaval espetáculo" (RODRIGUES, 2009).


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A Velha Guarda da Pérola Negra, que até o Carnaval 2013 tinha 46 integrantes, se reúne para agitar a Festa das Campeãs.



Luiz Carlos Santos, conhecido como Luizinho de Itaquera, foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Velha Guarda da Leandro. Em 2013, ele participou do grupo de compositores do samba 9.


m 1933, os desfiles de escolas de samba foram oficializados no Rio de Janeiro, graças a um decreto-lei aprovado pelo, então prefeito da cidade, Pedro Ernesto. Dentre os itens do ...- reguJamento, estava a obrigatoriedade de haver uma Ala das Baianas, comprovando assim sua importância e tradição no Carnaval brasileiro. "As primeiras manifestações que influenciaram o Carnaval aconteceram com a chegada dos navios negreiros", explica Dione Aguiar, que coordena a Ala das Baianas da Pérola Negra há 6 anos. "Nesses navios vieram negros da Bahia, que moravam nas casas das Tias Baianas onde, nas poucas horas de descanso, negros e mulatos faziam reuniões, marcadas pelo batuque africano". Tias Baianas é o nome dado às senhoras negras que viviam no Rio de Janeiro no século XIX, mas que normalmente eram de origem baiana. Em homenagem a essas senhoras, surgiu a Ala das Baianas no Carnaval. As indumentárias das baianas fazem alusão à cultura africana e às vestimentas utilizadas em terreiros de candomblé, afinal "as primeiras escolas de samba vieram de casas de pais-de-santo", relembra Marco Aurélio Ruffinn, carnavalesco da Leandro de Itaquera. Em geral, as indumentárias incluem uma bata, um torso, um pano de costa e uma saia rodada, que todo o ano são adaptadas ao novo enredo. São inseridas também várias anáguas com tubos, que deixam a roupa mais pesada, mas melhoram o efeito dos famosos giros. A Ala das Baianas reúne as mulheres mais antigas da agremiação e, de acordo com o Regulamento do Carnaval publicado pela LigaSP para 2013, são necessárias 50 integrantes para desfilar no Grupo Especial e 30 para desfilar no de Acesso. "A ala é muito importante porque é a única que perde ponto", afirma Dione. De fato, a escola que não cumprir essa regra perderá 0,1 ponto por baiana faJtante e, caso nenhuma compareça, a agremiação perderá 5 pontos.


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beleza de um samba enredo só pode ser apreciada quando há qualidade na bateria que o toca. E quanto mais numerosa, melhor o batuque. Pensando nisso, grande parte das escolas de samba mantêm escolinhas de bateria. Na Pérola Negra, Anderson Luiz, o Mestre Bola, divide sua atenção entre o comando da bateria Ritmo Terror e seu grupo de compositores formado por ele, Mydras, Carlinhos, Michel e Regianno. Na Leandro de Itaquera, Mestre Pelé enfren tará em 2014 uma difícil missão: tirar nota máxima em seu primeiro ano à frente da bateria. Apesar de batucar desde pequeno na escola de Itaquera, Fernando de Oliveira recebeu apenas esse ano o título de Mestre. E a pressão é grande. "Muitos vieram me perguntar se eu estava seguro em minha decisão de colocar Pelé para liderar a bateria esse ano", declara Seu Leandro, presidente da escola. "Ele é jovem e o desafio é grande. Mas tenho certeza de que ele está preparado para isso". Com o aval da diretoria, Pelé já iniciou os primeiros trabalhos em busca de seu objetivo. "Estou olhando as justificativas das notas dadas pelos jurados no Carnaval de 2013. Assim posso ver o porquê da perda de pontos e evitar erros já cometidos", afirma. Além de todo esse cuidado, Pelé comanda a escolin ha de bateria com "mãos de ferro". "Para entrar tem que mostrar o boletim escolar. Se tiver nota baixa, não frequentar as aulas ou der problema em casa, não entra. Não adianta nem chorar!", diz. o Mestre. "Tento acompanhá-los, mas é impossível ficar de olho 24 horas por dia. Mas vigio sempre que posso". As escolas garantem, assim, novos membros para a bateria. Jovens que anseiam um dia chegar ao patamar de Mestre. Mas o caminho é longo. Quem entra começa tocando os instrumentos menores e só com o tempo podem tocar os maiores. Mestre Bola, por sua vez, não dá trégua: sem prática, os alunos não tocam nas apresentações da bateria na escola.







os desfiles carnavalescos, os casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira são sempre um dos elementos mais bonitos de se ver. Segundo o regulamento do Carnaval, cada escola deve ter, no mínimo, um casal, chamado de "casal oficial". O casal oficial é sempre o primeiro a se apresentar nos desfiles e o único a ser avaliado pelos jurados. Em razão disso, é também o único casal a contabilizar pontos na apuração. A banca julgadora avalia o entrosamento na dança e a sincronia de movimentos, além da identidade das fantasias, empolgação, alegria e espontaneidade. Karin Martins, filha do fundador da Leandro de ltaquera, e Porta-Bandeira da escola há 25 anos, afirma que o fato de apenas um casal ser julgado, não diminui a tradição que os demais carregam. "Os casais representam toda a comunidade e carregam o pavilhão. Todos merecem o . ". mesmo respeitO Judson Sales, diretor de comunicação da escola, acredita que "do ponto de vista da tradição, os casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira são o setor mais importante. O pavilhão é o símbolo maior da escola e a função deles é protegê-lo". Tat1to é que os casais costumam interromper a dança para que integrantes da escola e da comunidade reverenciem a bandeira. É comum vê-los também em eventos de outras escolas representando seu pavilhão. Após o Carnaval 2013, André Guedes se despediu da Pérola Negra. André era considerado o melhor Mestre-Sala da atualidade e sua parceria com Gisa Camilo, que desfila na escola há seis anos, lhes rendeu três Troféus Nota 10 - concedido pelo jornal Diário de São Paulo aos melhores do Carnaval - em 2006, 2009 e 2013. Everson Sena, que já passou pela Leandro de Itaquera e Camisa Verde e Branco, irá compor o casal oficial em 2014. Na Leandro de Itaquera, Murillo Felix desfilará pelo segundo Carnaval consecutivo ao lado de Karin, que ocupa o cargo de Porta Bandeira oficial desde os 15 anos.



Acima, o segundo casal da PĂŠrola, Ellen Cardoso e Walter de Barros. Ao lado, Gisa Camilo e Everson Sena aprove.itam as festa-s para aumentar a sincronia emtre eles, antes da grande estreia do casa1 no Carnaval2014.



Em destaque., os casais de Mestre-Sala e Porta -~andeira da Leandro de Itaquera (da esquerda para a direita): Leonardo e Sara, Murillo Felix e Karm Darling, Amanda e Júnior, e Juliana e José Luís.



Brenda·, filha da Rainha de Honra Giorgia Santos, e )orge são o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira mirim da Leandro de Itaquera. Em 2014, ambos completarãó 5 anos de idade e entrarão na av:enida pela primeira vez.



FUNDADA EM _ 07/08/1973 _


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• (Trecho do samba enredo 2014)


ara a união do Grêmio Recreativo Escola d e Samba (G.R.E.S.) Acadêmicos de Vila Madalena com o bloco de rua Boca das Bruxas, surgiu o G.R.S.C.E.S. Pérola Negra, oficialmente fundado em 7 de agosto de 1973 e sediado na Rua Girassol, 55, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Há várias teorias sobre a origem do nome "Pérola Negra': Há quem diga que um de seus fundadores tería se inspirado em uma marca de cerveja que existia à época. Há ainda quem diga que, na verdade, o nome é uma alusão ao termo "Joia Rara do Samba", usado até hoje para referir-se . a' agremtaçao. O fato é que sua estreia oficial no Carnaval paulistano deu-se em 1974 e marcou também sua primeira vitória. Com o enredo "Piolim, Alegria, Circo, História", a Pérola Negra foi campeã do Grupo III da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas). No ano seguinte, com o tema "São Paulo de Adoniran Barbosa", a escola saiu novamente vitoriosa, desta vez do Grupo de Acesso. Dali em diante, a agremiação colecionou quatro troféus de campeã: em 1988 saiu do Grupo I da UESP com o enredo "História do Carnaval através das Marchas"; no ano seguinte venceu no Grupo de Acesso com o tema "Alô, Alô Ilusão, no País das Maravilhas a Sorte é Sua"; e, em 2000 e 2013, ficou em 1o lugar no Acesso retratando o movimento da Tropicália e a obra "O Auto da Compadecida': respectivamente. Sua melhor colocação no Grupo Especial foi o 5° lugar, conquistado nos anos de 1976- que teve como tema o pintor Portinari - e em 1979, com o enredo "Carnaval, Intrigas e Opiniões". Em 2014, o presidente da escola Edilson Carlos Casal, também Vice-Presidente de Administração e Planejamento da LigaSP (Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo), repetirá a parceria de seis anos consecutivos com o carnavalesco André Machado, que exaltará, no enredo, os quarenta anos da Pérola Negra.



No dia 14 de Agosto de 2013, quarta-feira, a Pérola Negra completou 40 anos de ex:istênda. Para comem·o rar esse grande momento, a escola realizou uma festa de aniversário no domingo, 18, mesmo dia em que acontecia a 3• parte da Eliminatória do Samba Enredo. Integrantes de outras escolas, a torcida oficial "Loucos do Pérolà' e a comunidade compareceram para prestigiar a agremiayão. Como forma de retübuir o carinho, o presidente Edilson Casal ·e as diretorias prepararam um grande bolo, que foi servido ao ·final da Elimínatória para todos os presentes. Com as cores da escol a - azul, vermelho e branco - a Pérola Negra encerrou com louvor mais uma década de existência.



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pós um rebaixamento conturbado em 2012, com um incêndio no barracão do Sambódromo que danificou alguns carros e com as notas sendo rasgadas em plena apuração por Tiago Faria, integr ante da Império de Casa Verde, a Pérola Negra veio com tudo em 2013 e conseguiu o tão esperado retorno ao Grupo Especial do Carnaval paulistano. Com o enredo "O Espetáculo vai Começar, Pérola Negra apresenta: O Auto da Compadecida': a escola exaltou uma das maiores obras da literatura brasileira, "O Auto da Compadecida,, composição teatral de Ariano Suassuna publicada em 1955, e adaptada para o cinema em 2000, em uma produção de enorme sucesso, que superou 2 milhões de espectadores e reuniu grandes nomes do cinema nacional, como Matheus Nachtergaele, Selton Melo, Marco Nanini e Fernanda Montenegro. O carnavalesco da escola, André Machado, contou a trajetória de João Grilo e Chicó no nordeste brasileiro, mostrou a cultura dos cangaceiros, a dualidade do ser humano, a jornada de João pelo purgatório e o julgamento final com alegorias e fantasias alegres, divertidas e simbólicas, tendo como pano de fundo um samba enredo igualmente inspirado, composto por Mydras (diretor da Ala de Compositores), Carlinhos, Bola (atual Mestre de Bateria), Regianno e Michel. Como resultado, a Pérola Negra recebeu apenas notas 10 nos quesitos Fantasia, Alegoria, Harmonia, Samba Enredo e Enredo. Mas, novamente na hora da apuração, a escola não escapou de um novo susto: o jurado João Luís não apresentou sua nota para a Bateria. Como prevê o regulamento, a nota mais alta recebida pela escola naquele quesito será aplicada no lugar da nota que falta. Logo, a escola ganhou nota 10 e ficou em primeiro lugar, com 269,6 pontos.





A Pérola Negra utilizou uma faixa a() final do Desfile das Campeãs para h omenag_ens póstumas à faxineira Patinha e ao primo do presidente, Pato.

A Ala das Crianças, coordenada por Marcia Dias l1á 10 anos, 0onta com a participação de 60 crianças. Coro idade entve 7 e 10 anos, elas precisam de autorização dos pais, além de participar dos ensaios e ser integrante da comunidade. Mareia ressalta a importância da ala eomo forma de transmitir a cultura e os costumes de uma agremiação para as novas gerações. "As crianças são os sambistas de amanhã", afirma. Marcia foi contemplada conl uma plaqueta, pela Câmera Municipal, como homenagem por suas contribuições.



A lgumas

escolas de samba costumam vender alegorias e .1""\Jantasias para agrtmriações do interior, que não têm as mesmas condições financeiras e estruturais para construir seus próprios carros alegóricos e vestimen:tas. O que não é vendido, é guardado no barracão para ser reciclado no Catnaval seguinte.




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m comemoração à grande vitória no Carnaval 2013, a Pérola Negra realizou em junho a tradicional Festa das Campeãs ou Festa d a Vitória, que serviu também para apresentar o ...- enredo de 2014 e simbolizar o início das atividades rumo ao próximo Carnaval. Agora no Grupo Especial, a organização de eventos é de fundamental importância para angariar fundos que servirão para elevar ainda mais a sofisticação e a grandiosidade das fan tasias, alegorias e do desfile em geral. Por este motivo, a entrada nos eventos é cobrada, assim como as bebidas consumidas e os petiscos servidos. A confraternização com as demais escolas de samba também é priorizada, por isso todas as agremiações cad astradas no site da Liga (Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo) são convidadas a comparecer no evento. Acadêmicos do Tucuruvi, Camisa Verde e Branco, Unidos do Peruche, Unidos de Vila Maria e Mocidade Alegre foram algumas das escolas que compareceram à Festa das Campeãs. D urante a festa, a comunidade e os integrantes da escola demonstraram grande entusiasmo. As baianas rodaram a noite toda e os casais de Mestre-Sala e Porta -Bandeira alternaram suas performances. Ellen Cardoso e Walter de Barr os esbanjavam graça ao portar a bandeira do enredo de 2013, enquanto Talitha Rosa e José Carlos sambaram com a antiga bandeira da escola . Também no evento, o novo Mestre-Sala oficial foi apresentado: Everson Sena. Everson já representou os pavilhões da Leandro de Itaquera e da Camisa Verde e Branco. Com apenas 23 anos, ele acredita que defender as cores da escola d a Vila Madalena ser á uma experiência de vida e a realização de um sonho. Everson desfilará no Carnaval 2014 ao lado de Gisa Camillo, PortaBandeira da Pérola Negra d esde 2006.



Na foto ao l ado, a musa Joyce Rocha (à esquer-da) e a baiana Jumara dos Santos, posam com a ex-Rainha de Bateria Keile Vitorino. Em 20J.3, Keile pas-sou a coroa para Katia Salles. A escola aproveita o ÍRÍciô das atividades para começar a vender sua grife. Bonés, agasalhos e camisetas estão entre os produtos à venda. A1ém da estande, os interessados podem adquiri-los no si te da Grife do Samba, que também comercializa artigos de outtas escolas.


Os integrantes da Comissão de Frente se reúnem para prestigiar a esc;ola em mais uin evento, enquanto a Ala Musical se prepara para a pl"imeira apresentação desde a vitória no Carnaval2013.


uando se está na quadra da Pérola Negra, co,s tuma-se prestar atenção em várias coisas. Na batida frenética da bateria, nos gil'os incansáve~s das baianas, na graciosidade dos c.asais de Mestre Sala e Porta Ba.ndeira ... Mas o que .rnais chama a atenção é a beleza ·e admirável simpa a da Musa da Bateria Joyce Rocha. "Fui eleita Musa em 2012, concorrendo contra outras nove garotas. Os jurados avaliaram corpo, samba no pé e comuniGação. Quase um concurso de Miss!", biinca. "Eu fiquei em segundo., a campeã Íói Keile Vitorino, que virou Rainha: da Bateria''. Mas o caminho dessa Musa no Carnaval paulistano começou lá atrás, quando ela tinha apenas 13 anos. "Meus pais sempre foram apaixonados por Carnaval e um dia meu pai me levou para assistir a um âesfile, e mé apaixonei também': conta. "Quando ele me comprou uma fantasia e eu desfilei pela primeil:a ve2, nunca mais quis parar!". Inserrda no Carnaval, Joy<!e pas ou afre·q uentara Mocidade Alegre. A primeira visita à quadra da Pérola Negra, pôrém, fói ·s ufidente para tleixar seu coraçãâ com as cores da escola. "Não é questão de trocar uma escola por outra, mas de sentir o coração bater mais forte pela agremiação", explica. Seu pr.ogresso dentro da escola foi rápido. Desfilou durante três anos na ala comum e, com 21 an0s. virou passista, sêu grande s.onho. }\penas· três anos dep(!)is se t0rnou a Musa da Bateria, pa.ra alegria dos marmanjos, invejas das mulheres e pr~ocupação dos pais. "'Eles ficaram muito felizes, mas também com um pouco de medo. Carn.aval é uma festa e, como tal, tem suas complicações". E não pense que Set Musa é fácil. Por ocupar essa posição, Joyce têm várias· obrigações com a escola. "Tenho que estar sempre bonita, saber cantar todas as músicas, hino e sambas, e estar presen.t~ em todas as apresentaç.ões da bateria, dentro e fora da Pérola N~grà'. Tirando Q Carnaval, Joyce· ttabalha c0mo cabeleireira há 12 anos no salão Lo Studio, na região do Panamby, zona sul de São Pàulo, além de cursar Visagisíno na Anhembi Morumbi. "E já estou no último ano!", diz animada. Joyce ainda conta COIR o apoio do namorado Paulo Henrique Biagi, qu"e também trabalha na Péróla Neg.ra, mas nó Departamento de Harmonia. "Estamos juntos há 10 meses e ele é uma p.essoa muito especial! Ele me apóia e sente-se feliz pór mini".



ttmo a' ara o Carnaval 2014, a Pérola Negra apresentará um tema que exemplifica seu atual estado de espírito: felicidade. "Quando nós vencemos o Carnaval 2013 e vi todas aquelas pessoas à minha volta com um sorriso no ros to, soube que queria falar sobre felicidade". Essa é a explicação que o carnavalesco André Machado dá para a escolha do enredo ''Caminhos segui, Lugar encon trei... Pérola Negra - a Suprema Felicidade!'~ À frente do carnaval da escola desde 2009, André teve que pesquisar o tema a fundo para encontrar formas de explorar o enredo nas 23 alas. "Há várias formas de manifestações e entendimentos da felicidade. É impossível chegar a uma única conclusão". De fato, André explora alguns desses entendimentos. As primeiras alas, por exemplo, representarão a maneira grega de ver e entender a felicidade. Como ele diz, a Ala 1 representa curtição, música, como se eles celebrassem a vida, que é um presente que Deus lhes deu. A ala seguinte mostrará o "Bom Daimon", que para os gregos é uma espécie de anjo da guarda, que guia as pessoas pelo caminho da felicidade. Ambrosia, manjar dos Deuses (que torna as pessoas mais felizes), o teatro grego e a figura de Dionísio também estarão presentes. Em algumas alas, André brinca com suas atuais representações. Cirurgias plásticas, Botox, carros, dinheiro, enfim, uma série de fatores que refletem o desejo de "comprar a felicidade", explica. Todo o conteúdo coletado por André em sua pesquisa sobre a felicidade está impresso na sinopse, texto que descreve detalhadamente o enredo, na forma de um ljndo poema. "Acho mais fácil expressar essas informações em forma de poema". O material foi apresentado na tradicional Reunião de Compositores. Na qual compareceram André, o presidente Edilson Casal, mais conhecido como Nego, os diretores de Carnaval Jairo Rozen e Fábio Flisch, os interessados em compor um samba e outras pessoas que tinham interesse em entender um pouco mais sobre o enredo de 2014.


FUNDADA

07/08/19



De costas, Jairo conversa com Nego, enquanto André e Fábio (ao fundo) observam. Ao Lado, Nego abre a cerimônia de exposição da sinopse sob os ouvidos atentos dos presentes.


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odos os oito grupos de compositores inscritos tentaram trabalhar seus sambas inserindo os elementos da mitologia grega, alquimia, maternidade, materialismo, mas principalmente exaltando a escola. "O desfile termina vangloriando os 40 anos da Pérola Negra, onde encontramos nossa suprema felicidade", diz o carnavalesco André Machado. Os sambas foram entregues para os dirigentes da escola e passaram por quatro elimil1atórias marcadas ao longo de Agosto. Os áudios e as letras foram disponibilizados no si te e nas redes sociais da agremiação, mas nada se compara a magia de ouvir os sambas ao vivo, com a Bateria Ritmo Terror acompanhando os compositores. Afinal, ver a recepção do público aos sambas concorrentes é um dos fatores essenciais para que os jurados tomem sua decisão. Após a apresentação do Hino de Exaltação e do samba enredo do ano anterior, pelo então intérprete oficial da escola Douglas Aguiar, o Douglinhas, os concorrentes subiram ao palco e apresentaram suas composições ao vivo. Sem favoritismo, os sambas 3, 5 e 8 chegaram à final, mas não teve jeito. O samba 5, escrito por Japonês, Rogerinho Tavares, Luciano Oliveira, Cruz Neto, Fernando e André, foi o grande escolhido pela maioria dos jurados e eleito o grande vencedor. A banca de jurados é formada pelos integrantes de todas as diretorias da escola, além do presidente Nego e do carnavalesco. Cada jurado expõe seu voto, tendo em vista o samba que mais se adequa à sua área de atuação. "Mas nem sempre o samba que é melhor para a bateria, por exemplo, é o samba que melhor segue a sinopse e o enredo. Meu voto tem maior peso, mas continua sendo um só'~ afirma André. Escolhido o samba representante, a escola grava o CD da LigaSP, que reúne os sambas de todas as escolas que desfilarão. Com a saída de Douglinhas, Celsinho Mody será a nova voz da Pérola Negra em 2014.


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Durante as eliminatórias, o Departamento de Harmonia da Pérola Negra auxili011 na segurança e na organização das apresentações dos casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, possibilitando um melhor espetácnlo ao público.


pós quatro domingos de eliminação, a Pérola Negra finalmente escolheu o samba que a representará no Carnaval 2014. Os sambas 3 e 8 (à esquerda) chegaram à final, mas foi o samba 5 (à direita) que saiu vitorioso da competição. Mesmo não tendo participado da composição do samba, Juninho Branco, intérprete oficial da Leandro de Itaquera1 foi contratado pelo grupo para apresentá -lo. "É muito comum, durante as eliminatórias de sambas enredos, que os grupos de compositores concorrentes contratem cantores profissionais para apresentá-los para a escola': explica. "Como cantei o samba desde a primeira apresentação, me sinto parte do time". Uma vez que o samba é escolhido, porém, o intérprete ofieial da escola passa a cantá -Lo. Até a última eliminatória, o intérprete em questão era Douglas Aguiar. Mas após o anúncio do samba campeão, Douglinhas anunciou que iria se afastar do vocal, porém sem abandonar a escola. Durante a exibição dos pilotos da fantasia, a escola aproveitou ' para apresentar seu novo .mterprete. Celsinho Mody, que já passou por escolas como Mancha Verde, Nenê de Vila Matilda e mais.

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o final da última eliminatória de samba enredo, o Douglinhas anunciou sua aposentadoria como intérprete oficial da Pérola Negra. Em entrevista, ele afirmou que continuará participando ativamente da escola, mas não no vocal. Após seu anúncio, d·iversos integrantes lamentaram sua saída, inclusive o diretor de Carnaval, Jairo Rozen. Em seu perfil nas redes sociais, Jairo relembrou a importância de Douglin,has para sua caneira profissional. "Graças a ele, pude viver os momentos mais especiais da minha vida. Nada que eu escreva aqui vai traduzir o que esta pessoa significa", escreveu.

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it I e Pérola Negra, sem pre juntas no Carnaval

Em 2010, Otavio Augusto Gomes, Felipe Souza e Karmelo Jesus Mendes tiveram a grande ideia de homenagear a bateria da escola Pérola Negra com a criação de uma torcida, chamada Loucos do Pérola. Eles frequentemente se ausentavam de ensaios, inclusive os técnicos feitos no Anhembi, para soltar fogos de artifício, fumaça e colocar faixas na rua. Receosos com a recepção dessas manifestações por parte da diretoria da escola, todos colocavam camisas para cobrir os rostos, razão pela qual os personagens que compõe o l ogo estão com o rosto coberto. O projeto da torcida foi abandonado por um tempo, mas em maio de 2013, ao perceberem certa fragilidade da diretoria com a saída do até então Mestre de bateria, Marquinhos, a Loucos do Pérola voltou com força total e com uma série de projetos voltados à comunidade. Entre eles, destaca-se o "Loucura é não ajudar", projeto que visa a realização de ações sociais em datas comemorativas.


pós um profundo trabalho de pesquisa temática e de cores, o carnavalesco André Machado coloca em prática suas habilidades artísticas e começa a desenhar as fantasias. "Trabalho em casa, pois assim tenho acesso à internet e livros. Depois faço um esboço, contorno, faço o rosto e pinto", explica. André levou cerca de uma semana para finalizar os modelos das vestimentas das 23 alas que irão desfilar no Carnaval 2014. "Tento desenhar fantasias graciosas, mas tenho que reconhecer as limitações da escola. Por isso algumas ficam mais simples que outras". Com os desenhos prontos, André conta com a ajuda da costureira Dona Bete e de Dona Penha, que enfeita as fantasias. Cada ala possui em torno de 100 integrantes e a primeira fantasia de cada ala a ser finalizada, ganha o nome de "piloto': "A primeira é mais difícil e demorada porque temos que tirar os moldes, mas depois fica mais fácil reproduzir", diz Dona Bete. A confecção das fantasias acontece no barracão da escola, um terreno debaixo do Viaduto Miguel Mofarrej, na Avenida Gastão Vidigal, zona oeste de São Paulo. Lia Mara, que está na Pérola Negra há 4 anos, é a responsável por cuidar do almoxarifado, enquanto seu irmão, Marcelo, mora no terreno e cuida de sua segurança, ao lado da fiel cachorra vira-lata Maisena. Ao contrário do terreno da quadra, o barracão não é um espaço alugado. Apesar de se r terreno da prefeitura, quando a Pérola Negra ocupou o local já havia pessoas morando lá. "O bom é que quando chegamos já tinha banheiro, lavabo e tudo mais. A dona tem casa na praia e só vem para cá quando está chegando o Carnaval", conta Lia Mara. Mesmo que o André delegue o trabalho, todos os detalhes das fantasias, por menores que sejam, devem passar por sua aprovação. Por ter sido o autor das obras, ninguém melhor que ele para garantir que todas saiam iguais e que a escola não perca pontos no desfile.


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Enquanto Don·a Rete e Anêlré fazem a costura, Dona Penha (acima) tira as medidas dos panos e adereçôs utilizados na fantaS"ia piloto das baianas, para pro~ramar a compra do material nece.s sário para sua reprodução.


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s adereços, como os cilindros de química (da Ala 12) ou as pílulas (da Ala 16), e as máscaras que acompanl1am certas fantasias, passam por um átduo processo de produção. Primeiro, é necessário esculpir o formáto desejado no is.o por (ao lado), para que depois ele possa ser envolvido por um material, que o deixárá mais forte e resistente ao calor. Em seguida, o produto é polido (foto superior à esquerca) para, então, ser p ensado em uma máquina ri10deladora, que dará à folha de acetato a forma do adereço ou máscara, que será incluída na fantasia (acima). Uma vez pronta, hasta pintar o objeto com as cores estipuladas pelo carnavalesco no desenho. Segundo Nilson Lou.renço, f.igu.rinista especializado em Camaval, esse, trabalho todo é recompensado. ''Os jurados tiram pontos se você comprar a pe-ça pronta na loja. O ideal é a escola fazer seus próprios adereços».


BATERIA A Banda, Felicidade Contagiante


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As fantasias criadas por André Machado ficaram expostas na quadra da escola, para o público encomendá -las. Em seguida, elas foram transferidas para a Câmara Municipal, onde a Pérola Negra recebeu uma homenagem pelos 40 anos.


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orno determina o regulamento do Carnaval, as escolas do Grupo Especial precisam desfilar com 5 carros alegóricos. "Já tenho os esboços dos carros, agora estamos esperando o pessoal _ , de Parintins, município do interior de Amazonas. Eles nos ajudam todos os anos com a montagem e devem chegar à capital na primeira quinzena de outubro", afirma o carnavalesco André Machado. Uma vez que o trabalho de montagem começa faltando pouco mais de 4 meses para o Carnaval, a escola costuma esconder os desenhos para evitar ser copiada na avenida. "É sempre bom confirmar com o André antes, para ter certeza se pode ou não mostrar", afirma Lia Mara, antes de permitir o acesso a eles. Os desenhos estão apenas contornados, sem cor, mas já dão uma boa ideia do que será o desfile. "Geralmente as alegorias servem como uma transição de uma ala para outra, também em termos de coloração. As fantasias das primeiras alas que retratam a Grécia, por exemplo, são brancas e as seguintes são mais alaranjadas. Então para não causar um choque para quem está assistindo, os carros farão essa transição mais harmoniosa", explica André. Os carros serão montados no próprio barracão da escola, usando um pouco da rua quando chegar às partes mais altas. Já os destaques são feitos em ateliês especializados e bancados pela pessoa que irá desfilar. "Trabalho com Carnaval há mais de 20 anos. Faço fantasias e destaques para várias escolas além da Pérola, como a Leandro de Itaquera, a Vai-Vai, a atual campeã Mocidade Alegre, entre outras", conta Nilson Lourenço, figurinista que trabalha principalmente com adereços de Carnaval. "Os destaques costumam custar cerca de R$15 mil e é difícil encontrar pessoas dispostas a investir tanto dinheiro", explica Nilsinho. "Por isso, uma solução encontrada pelas escolas para baratear os destaques foi criar vários deles. Então cada um passa a custar entre R$1 mil e R$2 mil".



!vete Pug}iese, tia da modelo Talita Pugliese, será destaque da Pérola Negra em 20 14. Ela é grande amiga de André Machado, mas sua escola do coração é a Vai-Vai, onde também será destaque.


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(Trecho do samba enredo 2014)


uando Karin Darling Martins completou 11 anos, em 1982, fez um pedido diferente de presente de aniversário para seu pai, Leandro Martins. Ela pediu uma escola de samba e assim nasceu a Leandro de ltaquera. Localizada na zona leste de São Paulo, o Grêmio Recreativo Cultural Esco a tle Samba Leandro de ltaquera abandonou os Grupos da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas) e subiu para o Grupo de Acesso apenas quatro anos após sua fundação. Em 1988 foi campeã com o enredo "Elo da Paz 'o Arco-Íris de Oxumaré'- Festa na Senzala" e desfilou pelo Grupo de Elite do Carnaval paulistano por sete anos consecutivos. Em 1991, a escola conseguiu a melhor posição de sua história. Com o enredo "Querem Acabar Comigo", criticou a forte exploração de riquezas naturais do Brasil pelo homem e se classifi cou em 4° lugar. Com altos e bai.xos nesses 31 anos de Carnaval, a Leandro de Itaquera sempre se valeu da raça e jamais abandonou suas raízes. "As escolas de samba costumam ter certa identidade com movimentos negros, afinal o samba tem forte ligação com essa etnia", explica o diretor Judson Sales. "A Leandro de Itaquera, especialmente, fez disso uma b andeira. Ao longo de sua existência, utilizou diversas vezes esse tema em seus enredos'~ Judson aponta também outra importante relação entre a escola e a cultura africana. A Leandro passou do Grupo de Acesso para o Grupo Especial quatro vezes e, em todas elas, cantou um tema afro, começando por 1988. Seis anos depois, em 1996, a escola foi campeã com "300 anos de Zumbi, a Festa é Nossa" e, em 2008, o enredo "Afro Bahia - da Revolta dos Malês ao esplendor de um novo dia - a Roma Negra invade Jtaquera neste dia de alegria", levou a escola ao vice-campeonato e de volta ao Grupo Especial. No Carnaval 2013, com muita emoção e contratempos, a escola conseguiu novamente ser vice-campeã, desta vez com o enredo "O Leão Guerreiro mostra a sua força! É a garra e a bravura do negro quilombo da Leandro de Jtaquera'~


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ascido na ddade de São Paulo, no bairro da P.enha na zona sul, Judson Sales foi ainda bebê para o Ceará, onde permaneceu até os 13 anos de idade. "Comecei a trabalhar cedo. com 13 anos. Coisa de nordestino, cultura de lá. Sai de F0rtaleza porque o mercado de trabalho n'ão era tão aquecido como o de São Paulo", conta. Embora tenha ctesciclo <'no sol do Equador", como gosta de lembrar, Judson visitava seu pai em São Paulo Clurante as fêrias escolare$. "Ficava un.s três meses poT aqui. Apesar do mercad0 de trabalho ter sido o maior motivo do meu retorno, a coxinha do Veloso, o pudim do Ramona e o café do Suplicy já seriam motivos suficientes paFa voltar. Adoro comer!", brinca, referindo-se a famosos bares, restaurantes e cafés da qpital paulistana. Seu ingresso precoce no mercado de trabalho permitiu que ele experimentasse várias profissões. Na maior parte d0 tempo quis ser jornalista, mas foi desanimado pela limitação de vagas e salário baixo. Começou então a fazer Matemática, porém desjstiu do cursQ apÓ$ 6 meses. Trabalhou com programação desde o ensino médio, uma vez que sua família tem uma empresa de informática em Itaquera. Ainda que tivesse uma inclinação para essa área de informática, Judson se formou em Direito pela USP (Universidade de São· Paulo). Hóje trabalha no Tribunal Regional dó Traballi.o (TRT). Programação de computadbies virou hobby, assim como fotografia. Alé'm do trabalho como analista judiciário,Judson tem uma carreira de longos anos na Leandro de Itaquer'<l. "Eu morava ao lado da escola, tocava batetia na faculdade e sou apaixonado por Carnaval âesde cl'íança. Comecei na Leandro tocamio e permaneci por 5 anos", declara. Judson é o atual Coordenador do Departamento de Harmonia, Diretor de Comunicação e integrante do Departamento de Eventos. Sobre esse aeúmuJo de funções, ele justifica dizendo que "a escola, é carente de participantes que possam preencher esses quadros". Pr:estes a completar 10 anos na escola de samba, Judson relembra os 2 anos em que se afastou da vermelho e branco. "Passei por alguns conflitos internos sobre o que eu queria para a minha vida. Tinha o desejo de ser juiz de Direito, mas as coisas pareciam incompatíveis e tive que escolher", explica. O afastamento, ~0rém, não alterou o amor e a gratidão que ele sente pela escola. "É muito legal trabalhar na Leandro, pois aprendo muita co-isa lá'?. Mesmo assim, ele n'âo descatta a possibilidad'e de seguir o caminho da magistratura futuramente.



eandro de Itaquera foi rebaixada em 2010, com um enredo que usava as cores da escola, vermelho e branco, como alusão ao amor e à paz. Mesmo contando com pessoas famosas, - como a ex-BBB íris Stefanelli, a cantora Sandra de Sá e a DJ Sabrina Boing Boing, a agremiação enfrentou várias dificuldades. Eles tiveram problemas na locomoção dos carros alegóricos, perderam pontos quando o dedo do boneco de uma das alegorias quebrou e ainda tiveram que encerrar o desfile às pressas para não estourar o tempo, fazendo seu presidente Leandro Martins passar mal. Em 2013, a escola conseguiu recuperar sua posição na elite do Carnaval paulistano. Com o enredo "O leão guerreiro mostra sua força! É a garra e a bravura do negro, no quilombo Leandro de ltaquera,, a agremiação conseguiu a segunda colocação, ficando apenas 4 décimos atrás da campeã Pérola Negra. Lamentavelmente, aquela noite não foi apenas de alegria. Horas antes de entrar na avenida, Ronald Elias Balvetti, o Xixa, passou mal e faleceu a caminho do hospital. Ele fazia parte da ala de compositores e os integrantes da escola o homenagearam com um min uto de silêncio ao iniciarem o desfile. Autor de várias melodias, Xixa foi um dos compositores do samba que representou a escola em 2009, com o enredo que reverenciou a atriz, humorista e apresentadora Regina Casé. "O Xixa era um grande cara! Ele tinha profundos laços com a escola. O hino, que cantamos todas as vezes antes de qualquer apresentação, foi composição dele': conta Juninho Branco, intérprete oficial da escola e diretor da Ala Musical. Sua morte foi um baque para os integrantes, mas a Leandro de ltaquera conseguiu achar forças para desfilar. "Entramos na avenida querendo nos superar, por tudo o que passamos e também em homenagem a ele,, relata Judson Sales.


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Ao lado, uma imagem da Ala dos Cadeirantes, conhecida coroo Ala Roda Viva. "Ao todo são 50 cadeirantes, cada um acompanhado por um coordenador", conta Sarah Regina Tavares, esposa do vice -presidente da instituição . "Desfilamos pela G.R.E.S. Amizade Zona Leste taro béro", completa.




Quem admira a beleza do penúltimo carro alegórico nem imagina que ele foi feito às pressas. "O 'Carro dos Orixás', foi finalizado praticamente no dia do desfile': relembra Judson Sales. "O Carnaval de 2013 foi uma superayão muito grande para a Leandro".


expectativa para o Carnaval de 2014 na Leandro de Itaquera é grande, mas o caminho para a vitória promete ser desafiador. "O maior problema será aumentar o número de integrantes da escola de forma a termos pessoas suficientes para desfilar no Grupo Especial", afirma Judson Sales, coordenador de eventos da escola. "Para o Grupo de Acesso tivemos que distribuir fantasias na esperança de que, no dia do desfile, essas pessoas comparecessem". Com isso em mente, a Leandro de Itaquer a começou a promover eventos regulares para atrair a comunidade para a nada atrativa quadra provisória, localizada em um terreno da Prefeitura, embaixo do Viaduto Jacu-Pêssego/Nova Trabalhadores, na Rua Ademir Roldan Pereira, altura do número 82. Os eventos em questão tratavam-se de churrascos comunitários que, como o próprio nome já diz, depende que cada convidado leve um prato. Apesar da precariedade do local, o evento conseguiu atrair mais de 50 convidados, alguns deles já engajados nas atividades da escola de samba. Outras iniciativas para atrair a comunidade foram as chamadas Andanças do Leão. Nelas, os principais integrantes da agremiação se encontravam num local específico, normalmente na r esidência da Dona Marilene, ex-mulher do presidente Leandro Martins, e embarcavam em um ônibus fretado para desfilar e batucar nas ruas da zona leste. Destaque para os casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira e para a Majestosa Bateria, que para essas andanças, passou a se autodenominar Swingueira da Leste. Se as andanças alcançaram o efeito esperado, a Leandro de ltaquera só saberá ao certo quando a hora do desfile chegar. Mas a esperança é de que, com a locação de uma nova quadra social nas dependências do clube de futsal Elite Itaquerense, o público presente nos futuros eventos aumente.



Além de aproximali a agremiação da comunidade, os churrascos comunitários serviram também p,ara unir os integrantes da própria escola. Durante um deles, uma re união apresentou os antigos integrantes aos novatos e ressaltou a importância do grupo comparecer aos eventos.


No primeiro churrasco promovido pela escola, Fernando "PelĂŠ" de Oliveira foi apresentado como novo regente da Majestosa Bateria.


ara o.Carnaval2014, a Leandro de Itaquera se despede do Mestre Augusto, que ficou à frente da bateria por dois anos, e dá as baas vinda a Wasní Fernanda de óliveira, o tyle-s tre Pelê, título que veio como resultado de seu esforço na Majestosa Bateria. Contudo, o apelido "Pelé" é consequência de suas habilidades com a bola. "Desde criança eu amo futebol e, desculpe a marra, mas eu sempre fui diferenciad0. Jogava muito bem. E de-S"de meus 7 anas tenho o apelido de Pele'. Nascido e criado em uma famflia de sambistas, Pelé não teve dúvidas quando ouviu a majestosa bateria pela primeira ve-~. Seu coração era vermelho e branc0. Mas a família é dividida entre várias outras escolas, 0 que não torna sua ca.sa um campo de guerra. "Antes de sermos Leandro de ItaqueJ;a, Nenê de Vila Matilde e outros da Camisa Verde e Branco e Vai-Vai, somos uma família· e todos se respeitam. Mas ninguém escapa das aloprações!", brinca. Pelé começou carreira na escola na ala das crianças e evoluiu rapidamente. Tanto que, com 13 anos, já fazia parte da bateria adulta da Leandro. Ao atingir a maioridade, entrou para o time de Diretores de Bateria, no qual permaneceu supervisionando os tamborins por mais 14 anos, até merecer o cargo mais alto, o de Mestre da Bateria. C0m 0 sonho de ser músico, Pelé aprendeu a tócar e se aperfeiçoóu at> lóngó dos anós. Nos finais de semana tinha aulas no GP Afro 2 e na própria Leandro de Itaquera. "A GP Afro é uma escola de dança de ltaquera e há anos tem mna ala re.s ervada na escola. Eles fazem pa~sos coreografados e iss0 tra_z muita vantagem na h0.ta do desfile. Pe.ssoalmente acho muito mais bonito!7', dtt. PeJé cresceu dentro da escola dé samba do coração e hoje, com 32 anos, se diz preparado para enfrentar os novos desafios que o título de Mestre exige e já começou a fazer modific~ções na bateria que rege. "RetQmei o piojeto da Escolhida de Bateria, pois acho sempre bom estarmos atentos a novos talentos, e estou selecionandó alguns alunos para serem méus diretores. Elesvãó se espalhar pela bateria durante o desfile e repassar meus comandos". Além do novo cargo na Leandro, Pelé administra sua banda GP Katinguelê, um grupo de samba no qual ele toca percussão geral, ou seja, pandeiro, tantã, tamborim, cilica e outros. "É difícil equilibrar, mas é só colocar tudo na agenda que não tem como e:mbolat: afirma. No meio de tanto trabalho, ele wnta com a namorada Jéssic.a para apoiá-lo. "Ela participa da escola há 10 anos tomo passista e também é apaixonada por Carn<,tval. Então ela me apoia muito nesses dois anos que estamos juntos".



s primeiros passos para o Carnaval 2014 já foram dados pela Leandro de Itaquera. O

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fundador da escola, Leandro Alves Martins, o Seu Leandro, se mostra bastante otimista com essa nova jornada do leão guer reiro. Superando várias escolas de samba, a Leandro de ltaquera conseguiu o que parecia impossível: a autorização da FIFA para transformar a Copa do Mundo em seu novo samba enredo. "Dois meses atrás eu quis sentir o enredo da Copa do Mundo e a Solange da Mocidade (Alegre), minha parceira e amiga, disse que era impossível, porque ela já tinha ido atrás. Com o presidente do Corinthians foi a mesma coisa. Mas a gente meteu as caras e estamos aí, falando sobre a Copa do Mundo. Somos a única escola do Brasil com esse enredo!", orgulha-se Seu Leandro. Com o título "Ginga Brasil, Futebol é Raça. Em 2014 a Copa do Mundo começa aqui!", o enredo foi escrito pelo carnavalesco, Marco Aurélio Ruffinn, que retorna à escola após 13 anos afastado da Leandro. Ruffinn encerrou em 2000 um ciclo de 7 anos com a Leandro de Itaquera, com a qual foi campeã do Grupo de Acesso em 1996 com o enredo "300 anos de Zumbi, a Festa é Nossa". A proposta esse ano era que Ruffinn trabalhasse com Rodrigo Cadete, que levou a Leandro ao vice-campeonato do Grupo de Acesso no Carnaval 2013 e, consequentemente, levou a escola ao Grupo Especial. Cadete, contudo, recusou a parceria e decidiu se afastar do cargo. Mas Seu Leandro afirma que Marco Aurélio não voltou agora por acaso. "Ele tem estrela e a Leandro também. Estamos com um grande enredo e agora devemos dar as mãos e fazer um grande samba". Permanecer no Grupo Especial trará uma vitória a mais, já que a escola poderá contar com a estrutura fornecida pela Fábrica do Samba em 2014.


Antes de iniciar a exposição da sinopse, o grupo presente decidiu de maneira bastante democrática as regras que seriam impostas nas eliminatórias de samba enredo. Questões como perda de pontos em caso de não-apresentação foi um dos termos levantados e causou certa desavença quando um antigo caso foi citado. Por parte do carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn (foto ao lado), a única regra imposta foi a de receber a letra dos sambas com antecedência.


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eao om cer to atraso, comparada às outras escolas de samba de São Paulo, a Leandro de Itaquera não deixou por menos e divulgou em julho seu novo enredo para o Carnaval 2014: "Gi nga - . - Brasil, Futebol é Raça! Em 2014 a Copa do Mundo começa aq ui". O enredo consiste no resu ltado de uma pesquisa aprofundada e na concepção de um texto explicativo sobre o tema. Como de costume, as escolas de samba p romovem uma reunião de compositores, para que o carnavalesco possa apresentar esse texto explicativo, chamado sinopse. Em ambiente íntimo, a reunião deste ano aconteceu na casa da Dona Marilene, ex-mulher do fundador da escola, em meio à uma deliciosa macarronad a. Regada ainda à muitas histórias do passado da agremiação, o carnavalesco Marco Au rélio Ruffinn expôs suas expectativas com relação ao novo samba. "A sin opse é um direcionam ento. Não quero que depois ninguém venha até mim dizer que eu fale i que era para colocar tal coisa na letra. Não tem regra. Foi como eu disse para ele (Judson), tem muita regra. Para m im a única regra necessária é: fazer um samba incrível!", discursa Ruffinn com paixão. "Nosso samba não é histórico, não é Bíblia. Ele tem que ter pegada, dois grandes refrãos. Tem que fazer a pessoa balançar, gingar, como está escrito na sinopse. Essa palavra não está aqui por acaso". Apesar d a visão do carnavalesco, apenas algumas regras foram impostas. Coerência com a sinopse e sua cronologia é essencial, bem como a inclusão de cinco palavras: "Leandro", "ltaquera", "Leão", "Copa" e o termo "vermelho e branco". Seguindo as deter minações da escola, 12 sambas foram inscritos para as eliminatórias, que começaram no inicio de setembro e terminaram na primeira quinzena de outubro. O samba 2, escrito por André Ricardo, Beto Varandas, Didi Poeta, Rodolfo Minuetto, Vítor Gabriel e Mendonça da Leste, foi o que mais emocionou o público e os jurados, e irá representar a escola em 2014.


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Viviane Cristina dos Santos, a Vivi Brilho, ĂŠ a Rainha de Bateria da Leandro de Itaquera.




efinido o samba enredo, o carnavalesco já recebe sinal verde para iniciar o projeto das fantasias. "Tenho outros trabalhos para fazer, então só começo a trabalhar com isso depois que o governo paga a Leandro de ltaquera': afir ma Marco Aurélio Ruffinn. "Depois que apresentei a sinopse, no final de julho, comecei esse t rabalho, que durou cerca de dois meses': Por conta da popularidade e abrangência do futebol, Ruffinn teve que tomar cuidado para não se perder no tema ou fazer referências que pudessem desagradar o público. "Conversei com o Seu Leandro e ele quería que eu mostrasse o Itaque rão e o Corinthians . Mas eu não queria fazer isso. Nesse sentido, as manifestações populares, que. aconteceram naquela região na época, me ajudaram a convencê-lo de q ue não era uma boa ideia", comenta. Com passagem pelas escolas Império de Casa Verd e (em 2000 e de 2010 a 2011), Acadêmicos do Tucuruvi (2001-2005) e Tom Maior (2006-2009 e 2012-2013)- esta última lhe rendeu em 2006, 2007 e 2009 o prêmio Nota 10 de Melhor Carnavalesco, oferecido pelo jornal Diário de São Paulo - Ruffinn usou toda a sua experiência e criatividade para criar os modelos da Leandro de Itaquera. Em razão da falta de um barracão, as fantasias serão confeccionadas no ateliê de Nilson Lourenço, o Nilsinho, localizado no bairro da Freguesia do ó, zona norte de São Paulo. "Faço os pilotos, mas depois a escola se vira para fazer a reprodução", explica. "Quando a Leandro estava no Grupo de Acesso ficou mais difícil par a a escola arcar com as despesas, mas agora que eles subiram voltei a trabalhar com eles". Os tecidos são comprados na loja especializada Carnaval Store, que fica na Rua Correia de Melo, no Bom Retiro, centro de São Paulo. "Temos várias opções de estampa e adaptamos as cores de acordo com a escola", afirma a vendedora Hilda dos Santos.


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Nilsinho (ao l ado) ressalta a importância do Carnaval na sua vida. "Estudei atÊ o segundo grau. Mas cada ano, as est:ol~s d.e samba apresentam uma história d iferente e eu ap,re)ldo muito com elas':


A Carnaval Store trabalha com quase todas as escolas de samba que desfilam pelo Crupo Especial e de Acesso. Em ra-zão da variedade de tecidos e apetrechos, assim como da comodidade no atendimento, é a preferida de Marco Aw·élio Ruffinn.


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ALA 3 - Fábrica de Craques

ALA 7 - Trilegal Brasil (Sul)

ALA 4 - Raça Brasil

AIA 5- Brasil da Floresta (Norte)

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ALA 9 · O Brasil dos Cerrados (Centro-Oeste)



ALA II - Fascinação

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ALA I2- Lúdico

ALA I4- Feliz Aniversário

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ALA I7 - A Garra Negra

ALA I6- A Elite

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ALA IS- É Campeão


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ALA 21 - Contagem Regressiva

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ALA 22- Saravá Brasil

ALA 23 - Celebração

ALA 24 - No Itaquerào, o Grito de Gol

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lguns dos projetos dos carros alegóricos da Leandro de Itaquera para o Carnaval 2014, idealizados pelo carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn, foram finalizados ainda na primeira quinzena de outubro. Ruffinn explica como funciona seu processo criativo. "Primeiro construo a planta do carro em um programa de computador, em seguida faço um rascunho em papel vegetal e, só então, deixo os desenhos coloridos". A planta do Carro II, que mostra um morro com uma árvore cheia de dinheiro e cercada por carros e jet skis, simboliza os jovens que veem o futebol como a principal fonte de renda e largam os estudos para buscar fama, sucesso e dinheiro nessa promissora carreira. "Pretendo fazer uma brincadeira nesse carro em razão do fato da maioria dos jogadores negros namorarem garotas loiras. Então quero colocar umas loiras no carro ou homens com perucas, para dar uma cutucada", conta Ruffinn. Já o Carro III, "representa a bola como diversão na certa, dentro da parte lúdica do enredo", explica o carnavalesco. Ou seja, corresponde à parte do enredo que mostra o futebol como uma forma de lazer e prazer da nação brasileira. O local onde serão montadas as alegorias ainda não foi definido. "Estamos em negociações mil, mas está difícil", afirma Judson Sales. A preferência da escola é pelo centro de convenções e eventos da Mart Center, localizado na Rua Chico Pontes, Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. "Se as negociações não derem certo nosso plano B é um local próximo ao Center Norte': conta Judson. Para a montagem, a Leandro de Jtaquera contará com profissionais que trabalham com os "Bois Garantidos e Caprichosos", atração do Festival Folclórico de Parintins, no interior do Estado do Amazonas.


JosĂŠ Fernando Silva e Marinez Nascimento sĂŁo destaques e ves"tem os modelos do Carnaval 2014.



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paixonada por filmes, séries e jogos de videogame, ingressou no curso de Jornalismo com a intenção de um dia se tornar crítica de cinema. Quando cursou a matéria de Fotojornallsmo no 5° semestre, descobriu uma nova paixão e escolheu essa modalidade para fazer seu Prex - Projeto Experimental. A escolha pelo tema "Carnaval" foi um tanto inusitada, uma vez que não tinha qualquer familiaridade com o assunto. Mas com vontade e perspicácia, caracteríscas inerentes do ariano, correu atrás para tornar esse projeto realidade. Assim como na faculdade, está no último ano do curso de inglês. Como tema do projeto final, escolheu abordar os 25 melhores filmes musicais de todos os tempos, gênero que sempre a inspirou. No âmbito familiar, conta sempre com o apoio de sua mãe, Cynthia, e de seu irmãozinho de quatro patas Nico, que economizou latidos para que ela pudesse escrever os textos, editar as fotos e diagramar o livro. Quando se formar, pretende fazer outra faculdade, desta vez na área de design, e também cursos de fotografia e línguas.




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