Nação Independente! Chegamos a mais um carnaval, renovados, inspirados e mais unidos do que nunca! Nossa Mocidade completou 60 anos de fundação (63 se contarmos a criação do Independente Futebol Clube) reencontrando suas raízes mais singulares. Esta agremiação que ajudei a fundar e vi conquistar seu espaço no carnaval, que ganhou fama, títulos, passou por bons e maus momentos, está de volta ao rumo certo. E o rumo da Mocidade sempre foi brilhar entre as campeãs. Não à toa nosso símbolo é uma estrela. Fui reconduzido para mais um mandato à frente de nossa escola com o compromisso de unirmos as forças, sem vaidades, para reorganizar a estrutura da Mocidade e brigar pelo título, presentear nossa apaixonada torcida com o hexacampeonato. A Mocidade que chega ao carnaval 2016 é outra. Temos um enredo bem elaborado, que foge à mesmice e está totalmente alinhado com o momento atual que o Brasil vive. Preparamos um desfile à altura da tradição Independente de deslumbrar a avenida. Trazemos de volta o luxo, as alegorias bem-acabadas e com movimentos, o moderno e o tradicional, o
gigantismo e a inovação. E a comunidade dispensa comentários. Ela faz a diferença. Ela é o combustível que empurra com garra e vibração a escola pela avenida. Temos uma quadra que se tornou referência em shows, lançamos nosso prometido e aguardado programa de Sócio Torcedor, colocamos a loja virtual em pleno funcionamento e com variedade de produtos, investimos em materiais, estrutura de barracão, profissionais de renome, entre muitas outras ações que você vai encontrar registradas nesta revista. Planejamento e organização são palavras que definem a Mocidade de 2016. Muito obrigado pelo apoio e carinho de sempre. Tenham certeza de que nosso trabalho é constante. As mensagens de vocês são o incentivo e juntos nós vamos colher os frutos. Quem é Mocidade é guerreiro, é Independente, é filho fiel que não foge à luta e canta pela vida inteira “minha escola querida”. Um excelente carnaval a todos nós! Wandyr Trindade (Vô Macumba) Revista Mocidade 2016
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uem se dispuser a falar do Carnaval do Rio de Janeiro, dos desfiles das Escolas de Samba da Cidade Maravilhosa, terá, por obrigação, de reservar um espaço para a Mocidade Independente de Padre Miguel. Agremiação fundada em 10 de novembro de 1955, originada a partir de um time de futebol (como tantas outras daquele período), a Estrela Guia de Padre Miguel fez história na maior festa popular do planeta.
Uma história que já em 1957 rompeu os limites do Ponto Chic, em Padre Miguel, para chegar à Praça XI e, de primeira, conquistar o quinto lugar. No ano seguinte, conquistou seu primeiro título com “Apoteose do Samba” – e passou à elite do Carnaval carioca. De lá para cá.... Uma história de muitas conquistas e o orgulho de grandes desfiles... Definitivamente, uma grande Escola de Samba. Por alguns anos, a bateria era o Norte da Mocidade. O Norte, só, não. O Norte, o Sul, o Leste e o Oeste. Os rivais, provocativamente, diziam que era uma bateria cercada por uma Escola de Samba, “uma bateria que carrega nas costas uma Escola de Samba”. E Mestre André era o seu comandante. Logo na estreia na elite, uma surpresa: a famosa “paradinha”. Ficou famoso o samba exaltação que lembrava que “Padre Miguel é a capital, da Escola de Samba que bate melhor no Carnaval”, imortalizada pela voz de Elza Soares. Uma bateria tão famosa que foi a primeira a ter uma rainha. Os tempos passavam e a bateria não poderia ser, apenas, o único atrativo da Mocidade. A Escola crescia. Com o apoio de Castor de Andrade, primeiro presidente da Liesa e seu patrono, a Estrela de Padre Miguel contratou, nos anos 70, o carnavalesco
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Arlindo Rodrigues. Começava aí a ascensão definitiva da verde e branco de Padre Miguel. Ascensão marcada por enredos de cunho histórico e muita criatividade. E o primeiro título entre as maiores Escolas veio com o enredo “Descobrimento do Brasil”, em 1979. Depois de Arlindo, a Mocidade contou com a genialidade de Fernando Pinto, talento coroado com o inesquecível “Ziriguidum 2001”, que rendeu novo título, em 1985. A Mocidade se reinventava e ajudava a reinventar o Carnaval, os desfiles. O tempo passou e mais um mago do Carnaval assumiu os desfiles da Mocidade. Renato Lage chegou, viu e venceu. Não apenas uma, mas três vezes, sendo duas vezes consecutivas (1990, 1991 e 1996), além de dois vice-campeonatos. Eram outros tempos, de neon, luxo e, como sempre, muita criatividade. Para 2016, o talento de Alexandre Louzada e Edson Pereira trará “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”, tema que mostra a ligação da Escola com o País, que busca sempre melhorar, retratando no Carnaval sua vocação para ser feliz. Uma felicidade que, certamente, toma conta de todos os seus integrantes e seguidores desde o momento em que seus fundadores, há 60 anos, dos jogos de futebol passaram ao samba e criaram a Mocidade Independente de Padre Miguel. Um feliz Carnaval! Jorge Castanheira Presidente da Liesa
Revisão Iracema Martins Projeto Gráfico Mário Pinheiro Realização G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel Presidente Wandyr Trindade Vice-Presidente Rodrigo Pacheco Presidente de Honra Rogério de Andrade
Rua Marechal Deodoro 882/804 – Juiz de Fora / MG comercial@agenciaethos.com.br www.agenciaethos.com.br Jornalista Responsável Jefferson Rodrigues (MTB 13066/MG)
Editores Gabriel Franco Jefferson Rodrigues Rodrigo Pacheco Reportagens Gabriel Franco Iracema Martins Jefferson Rodrigues Assistentes de Produção Henrique Araújo Júnior Silva Textos e Artigos André Luís da Silva Junior, Bonifácio Júnior, Dam Menezes, Fábio Fabato, Gabriel Teixeira, Hélio Ricardo Rainho, Júnior Silva, Pituka Nirobe, Rafael Rezende, Renato Buarque, Rodrigo Coutinho, Rômulo Ramos, Wandyr Trindade
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Fotografia Acervo Departamento Cultural da Mocidade, Acervo Valdir Gonçalves de Freitas, Acervo Riotur, Agência O Globo, André Luís da Silva Junior, Diego Mendes, Eduardo Hollanda, Eduardo Maia, Gabriel Franco, Henrique Mattos, Igor Lima, Jefferson Rodrigues, Junior Silva, Leonardo Lupi, Leonid Strealiev, Marcos de Paula, Marcos Serra Lima, Nina Lima, Rodrigo Pacheco. Tratamento de Imagens Mário Pinheiro Capa Dom Quixote: desenho de Gabriel Benites (Agência Ethos) Imagens: Os Retirantes (Cândido Portinari – 1944), Ilustração Cativos a bordo de Navio Negreiro (site Escola Britannica), plataforma de petróleo e sertão nordestino (reprodução) Arte e finalização: Mário Pinheiro Contracapa Mário Pinheiro Agradecimentos Wandyr Trindade (Vô Macumba), Rogério de Andrade, Rodrigo Pacheco, Jorge Castanheira (Liesa), Alessandra Fênix, Alexandre Louzada, André Luís da Silva Junior, Antônio Couri, Bonifácio Júnior, Célia Andrade, Cíntia Abreu, Cristiane Caldas, Dam Menezes, Diego Mendes, Diogo Jesus, Edson Pereira, Fábio Fabato, Fabíola Oliveira, Gabriel Teixeira, Hélio Ricardo Rainho, Jorge Teixeira, Luiz Cláudio, Marcelo Plácido, Maria das Graças de Carvalho, Pituka Nirobe, Rafael Rezende, Renato Buarque, Rica Perrone, Rodrigo Coutinho, Rômulo Ramos, Saulo Finelon, Vicente Dattoli, Sócios Torcedores da Mocidade, e demais colaboradores. A revista Mocidade Independente 2016 é uma publicação oficial do G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel, produzida pela Ethos Serviços em Comunicação Ltda. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Circulação Gratuita – Venda Proibida.
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ditar a Revista Mocidade Independente é um daqueles desafios que nos empurram pelos caminhos do barracão em busca de moinhos de vento que possam ser traduzidos em informação e registro histórico. Somos movidos pelo ímpeto de ousadia que sempre caracterizou essa sexagenária escola de Padre Miguel, o que nos faz perseguir novos conceitos, estilos e propostas. Nos faz ser um pouco Quixotes da informação. Trilhando esse caminho trazemos até você uma edição que, pelo segundo ano consecutivo, inova em sua concepção. Apostamos em um trabalho de jornalismo que desvendou as pessoas por trás dos artistas que fizeram e fazem nossa escola. Mergulhamos na história para relembrar os causos que marcaram esses 60 anos de fundação. Registramos os rostos anônimos que diariamente se dedicam a construir os sonhos de um desfile. Traçamos perfis de fácil leitura que nos apresentam uma Mocidade humana, divertida, religiosa, unida num objetivo comum, e com uma vontade imensa de ser campeã. Porque a Mocidade Independente que pisa na avenida neste carnaval 2016 quer ser campeã e para isso se reinventa. Num rasgo de ousadia como há muito não se vê, coloca o dedo nas feridas, aponta
as manchas que historicamente tanto envergonham nosso Brasil, e mostra que a solução é simples e está ao alcance das mãos, ou dos livros. Um novo país se constrói com Educação! Quando uma escola de samba dialoga diretamente com a realidade social e busca, mesmo que alegoricamente, apontar saídas e soluções, ela cumpre um papel que todas as manifestações culturais desempenham em maior ou menor grau. E quando uma escola de samba não só dialoga com a realidade, mas também leva algumas soluções, como a distribuição de livros, para as escolas das comunidades que a cercam, todos nós saímos ganhando e uma pequena semente é plantada. Esses são alguns dos moinhos de vento que transformamos em matérias, reportagens e artigos, e que você encontra registrados nas próximas páginas. Se cumprimos nosso desafio, só você pode nos dizer, mas esperamos ter a sua companhia, vestido de verde e branco sendo mais um guerreiro nessa disputa. Afinal, a hora da sexta estrela está chegando! Ótima leitura e um excelente carnaval! Saudações Independentes!
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A Mocidade Independente comemorou seus 60 anos de fundação no dia 10 de novembro de 2015. A data foi marcada por uma missa celebrada pelo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, e pelo pároco da Mocidade, Pe. Júlio Cesar Costa. Os grandes baluartes da Mocidade também foram homenageados: os já falecidos foram representados por familiares, e marcaram presença nomes como o Sr. Orozimbo, Mestre Quirino da Cuíca e o atual presidente da escola, Wandyr Trindade. Profissionais que fizeram história na agremiação e empresários também receberam menção honrosa.
O arquiteto gaúcho Gustavo Rödel é o responsável pela marca dos 60 anos da Mocidade. Ele venceu um concurso que reuniu quase 100 sugestões de artes, vindas até de fora do Brasil. Natural da cidade de Tapes e morador de Porto Alegre, Gustavo é torcedor apaixonado pela Mocidade desde 1996.
José Bonifácio dos Santos Júnior retornou à Mocidade para o Carnaval 2016 com a missão de coreografar o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Cristiane Caldas. Mas a relação profissional cedeu espaço à uma grande amizade que uniu o trio dentro e fora da quadra (leia mais na página 28). Bonifácio, que trocou o hábito religioso de frei pelo terno de sambista, mantém firme sua fé – ele traz sempre consigo um terço – prepara uma emocionante coreografia para o desfile Independente.
A 13ª edição do prêmio Rio Show de Gastronomia premiou, em 2015, a Mocidade Independente com o título de Feijoada Nota 10. O evento contou com a participação de dez escolas de samba, avaliadas por um grupo especializado de jurados. Entre os responsáveis pela Feijoada Verde e Branco estão o chef Thiago Castro e as baianas da escola, representadas por Tia Nilda.
Um dos maiores mestres de bateria da história do carnaval carioca, mestre Jorjão retornou à Mocidade como presidente da bateria. Responsável por inúmeras inovações e com talento reconhecido no mundo do samba, Jorjão veio somar forças e trazer sua experiência para o resgate da batida tradicional da “Não Existe Mais Quente”. Fotos: Eduardo Hollanda, Leonardo Lupi e Arquivo Pessoal
te uma n e m o não é s certeza e d a d i o c “A Mo samba, tenh a. Sempre de de vid a l escola o c ar a s d e u a j a m a u que é tas par tenimento e r o p s a e abre su romove entr la p rce todos e ara uma pa ção da p la cultura ável da popu er consid ade” o do rcebisp0 anos d A i l a c e d r 6 nossa sta, Ca ssa dos mpe a mi rani Te, ao celebrar O m o D Janeiro Rio de cidade da Mo
“Se a gente entregar as armas certas aos pixotes de hoje, eles serão os quixotes de amanhã para combater tudo isso que está acontecendo de ruim com a gente” Alexandre Louzada, carnavalesco da Mocidade, em entrevista ao RJTV
“A recompensa do trabalho está em nosso v encanto das pess er o oa avenida. Isso é g s na ratificante”
Marcelo Plácido , diretor de barrac Mocidade, sobre ão da passar noites em claro na fase de finaliz ação de um carn aval
“As crianças de hoje da Estrelinha serão o futuro da Mocidade. Por isso a gente briga pela escola, porque a gente tem amor”
sobre o Cintia Abreu, em entrevista nte Festival do Refrigera
“A Mocidade ve m ressurgindo não de cinzas, mas de b ra A escola nunca se sas. apagou”
George Louzada , Ala de Passistas coordenador da
a imos par b u s s ó n “Em 58 até hoje e o p u r g o e o primeir Mocidad A . í a s o estam iu” , Mocidade nunca ca
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Por Wandyr Trindade
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paixão pelo futebol alimentava aquela rapaziada que, entre as obrigações do dia a dia, não deixava passar a oportunidade de suar a camisa na sagrada pelada. Ia-se de caminhão, na farra e animação, gritando que o Independente chegou deixando a moçada com água na boca. As comemorações dos jogos do Independente Futebol Clube eram realizadas no Ponto Chic, no bairro de Padre Miguel. Seus jogadores, bons de bola e excelentes na percussão, reuniam-se em rodas de samba que acabavam se transformando em um verdadeiro bloco carnavalesco. E sob as bênçãos de uma estrela, encarnando as cores verde e branco do uniforme esportivo, nasceu a Escola de Samba Mocidade do Independente, em 10 de novembro de 1955.
Na galeria de fundadores daquela que marcaria seu nome na história do carnaval como o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel estão Silvio Trindade (Tio Vivinho), Renato da Silva, Alfredo Briggs Filho, Djalma Rosa, Olímpio Bonifácio, Ivo Lavadeira, Orozimbo de Oliveira, Mestre André, Tião Marino, Altamiro Menezes (Cambalhota), Geraldo de Souza (Prego), entre outros. Em 1956 a nova agremiação desfilou apenas no bairro de Padre Miguel com o tema “Navio Negreiro”, inspirado no poema de Castro Alves. No ano seguinte, passou a integrar os desfiles oficiais, realizados na Praça Onze, desfilando o enredo “Baile das Rosas” e conquistando a quinta colocação. Prenunciando a grande trajetória que o futuro lhe reservava, já em 1958 conquistou o campeonato do segundo grupo e carimbou sua ascensão à elite do carnaval. Desde então, a Mocidade faz parte do seletíssimo grupo
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de escolas de samba que nunca foram rebaixadas do Grupo Especial. A estreia entre as grandes escolas, em 1959, deu o tom da ousadia que viria a ser uma de suas características mais marcantes. O samba-enredo em homenagem a Carlos Gomes, Olavo Bilac e Rui Barbosa trazia um trecho melódico inspirado diretamente na obra “O Guarani” (os famosos acordes que marcaram época no programa A Voz do Brasil). Tamanha ousadia só poderia ser complementada pela criação, neste mesmo ano, da famosa “Paradinha” da bateria, cujas versões são muitas. A mais difundida aponta para um escorregão de mestre André que fez com que a bateria parasse de tocar. O mestre se levantou, apontou para o repique, que entrou no tempo, e os instrumentos voltaram a tocar. O povo foi ao delírio e Padre Miguel passou a ser a capital da escola que melhor tocava no carnaval. A eterna bateria nota 10!
Firmandose entre as escolas do primeiro grupo, a Mocidade manteve-se em colocações intermediárias durante as décadas de 196070, sendo seu melhor resultado o quarto lugar em 1970 com o enredo “Meu Pé de Laranja Lima”. Nesse período a força de sua bateria era fundamental para a agremiação, conhecida como “uma bateria que carregava a escola nas costas”. “Delira, meu povo, neste festejo colossal” Na gestão de Osman Pereira Leite, a partir de 1974, a escola passou a investir na profissionalização para tornar-se competitiva. Contando com o apoio de Castor de Andrade, que abraçou a agremiação no princípio da década, foi contratado o carnavalesco Arlindo Rodrigues. Começava então a trajetória de ascensão e a primeira era de grandes desfiles protagonizados pela Mocidade.
Pelas mãos de Arlindo Rodrigues a Mocidade desfilou enredos brasileiríssimos, de forte cunho cultural, marcados pelo luxo de seus figurinos e pelo barroco de sua criação. Foram cinco carnavais: festa do Divino, uirapuru, Mãe Menininha, brasiliana e descobrimento do Brasil. E “convocando o povo para entoar um poema de amor” a Mocidade ganhou seu primeiro título no grupo principal, em 1979, cantando justamente o Descobrimento do Brasil.
Nos anos 1970, a escola já contava com uma respeitável ala de compositores formada por Tôco, Cleber, Gibi, Arsênio, Djalma Santos, Dico da Viola, entre outros. Na avenida ecoavam duas das vozes mais marcantes do carnaval, e da música brasileira: Elza Soares e Ney Vianna. E a fama da bateria de mestre André extrapolava os limites do carnaval para gravar LPs exclusivos, compondo uma série de discos intitulada “Bateria Nota 10”.
Tupiniquizando cidades
Em 1980, um carnavalesco assume a Mocidade trazendo um novo estilo. Começava a era de genialidade de Fernando Pinto, marcada pelo segundo campeonato em 1985, com “Ziriguidum 2001”, e pelo antológico “Tupinicópolis” (1987). Fernando Pinto produziu uma Mocidade indígena, sensual, tropicalista. Rompeu com os enredos históricos tradicionais e foi viajar para espaço criando um corso interplanetário, com o sol a pino, sem medo de ser feliz. Vendeu muamba, demarcou terras no Xingu e, mantendo a veia ousada, fundou uma metrópole Tupi em que índios andavam de patins, o shopping era boitatá e tudo se vestiu de uma “estética pós-Marajoara Tupinicopolitana”.
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Virando nas viradas da vida, a Mocidade legou imagens e personagens marcantes para o imaginário carnavalesco como as comissões de frente de mergulhadores, franksteins, sapos-cururus, pernas de pau e monociclos; as alegorias do garoto jogando videogame, de Adão e Eva, do coração pulsante, do pierrô, da nave espacial e do globo da morte; os casais de mestre-sala e porta-bandeira (Alexandre, Rogério, Babi, Lucinha); as vozes de Paulinho Mocidade e Wander Pires; os sambas de pegada fácil, refrãos fortes e que caíram no gosto popular, entre muitas outras lembranças. Seis carnavais levaram a assinatura desse mestre que partiu cedo, num acidente de carro ao retornar da quadra da Mocidade, nos preparativos para o desfile de 1988. A marca Fernando Pinto ultrapassou as gerações carnavalescas e, até hoje, ainda fascina os amantes da folia e influencia novos profissionais. Na década de 1980, a escola de Padre Miguel inovou ao criar o posto de Rainha da Bateria com Adele Fátima, em 1980. O cargo ganhou fama com Monique Evans a partir de 1984 e logo se espalhou pelas demais agremiações. Em 1982, a Mocidade desfilou um de seus mais bonitos sambas-enredo, “O Velho Chico”; e se despediu dos imortais mestre André (1980) e Ney Vianna (1989).
“De corpo e alma na avenida”
Grandes carros alegóricos abusando de efeitos especiais, enredos de temática universal, e uma concepção clean, futurista e high tech de criação marcam a era Renato Lage na Mocidade. Sua estreia junto a Lilian Rabelo, em 1990, trouxe o terceiro campeonato e iniciou um período em que a escola passaria a ser conhecida como “papa-títulos”. Foram três conquistas (90-91-96), dois vices (92-97), e uma série de desfiles considerados campeões pelos especialistas e fãs do carnaval.
Riscando o chão de poesia
Apostando num enredo de cunho social – a doação de órgãos, a Mocidade surpreendeu e emocionou o público em 2003, com um grande desfile assinado por Chico Spinoza. Posteriormente, mesmo trilhando um caminho que a distanciou da trajetória de disputas de campeonatos que lhe era característica, a Mocidade realizou grandes carnavais assinados por nomes como Paulo Menezes, Mauro Quintaes, Alex de Souza, Cid Carvalho e Alexandre Louzada, entre outros.
“Deixa a Mocidade te levar! ”
A nova virada na história da Mocidade aconteceu em 2014 com a gestão liderada por Rogério de Andrade, sobrinho do eterno Castor de Andrade, Wandyr Trindade (o vô Macumba), Rodrigo Pacheco, e uma equipe de profissionais dispostos a reestruturar, profissionalizar, modernizar e colocar a escola novamente no caminho dos títulos. * Wandyr Trindade (Vô Macumba) é presidente da
Mocidade Independente.
O texto acima foi escrito com base em depoimento prestado por ele à equipe de jornalismo responsável pela revista Mocidade Independente 2016, e complementado por informações históricas levantadas durante a pesquisa para o acervo do site oficial da Mocidade.
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os olhos dos antigos diários da mui formosa São Sebastião do Rio de Janeiro, o bairro de Padre Miguel — espécie de intervalo do primeiro para o segundo tempo entre Bangu e Realengo —, começou como um minúsculo pedaço de nada um pouco depois do fim do mundo. Só. Parte dos preconceitos históricos das cercanias de Botafogo, depois, além-túnel, e, assim, até este bom bocado de anos após rompermos os 2000. Mas, sim!, tinha (tem!) uma vocação dos diabos para arrumar festa e criar samba, algo que o tempo tratou de fazer o povão e os intelectuais — de orelha e de fato —, reconhecerem. E porque surgiu em 1955 (ou antes até, como time de futebol, em 1952) uma moça bonita, prendada de tudo, roceira, mas que ficava – à moda das mocinhas de Hollywood –, lendo romances sobre a cidade grande, diante de películas e histórias de amor ligadas os burburinhos do Centrão, com o qual sonhava enfiada em vestido de chita, cabelo amarrado por laço, pés no chão. A Mocidade Independente faz 60 anos como escola de samba (já tem 63, quase 64, se misturarmos as primaveras de time de futebol) e, apesar da menopausa e seus calores – e do medo danado dessa coisa maluca de chegar à terceira idade e ganhar o Rio Card gratuito para cruzar a Brasil –, sempre será a tal menininha que foi à luta e alcançou os sonhos cobiçados a partir do brilho de coirmãs, como Mangueira e Portela. A verdade é que Ivo Teixeira, o popular Lavadeira, jamais poderia imaginar que a farra de criar um time de futebol apenas para ser escalado nas partidas de Padre Miguel pudesse virar capítulo destacado na história do carnaval. Foi Ivo quem comprou a bola e o jogo de camisas do time, aprontando um quiproquó daqueles dentro da modesta casa. O dinheiro separado pelo pai seria para o abastecimento do lar, e sua mãe não se intimidou com o mais de metro e oitenta daquele magricela que acabara de completar 18 aninhos: a surra foi ouvida do outro lado da rua. O uniforme voou pela janela, mas, por sorte, a turma de jovens boleiros recolheu o material espalhado. O time estava a salvo. Ufa. Além das surras, os pais gostavam de obrigá-lo, como castigo, a se enfiar
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Ivo Lavadeira, um dos fundadores do Independente Futebol Clube e da Mocidade Independente. Foto Nina Lima/Extra
num vestido feminino e cuidar da arrumação dos quartos. A turma do futebol, claro, não perdoava, e aí nasceu o codinome Lavadeira, com laço amarrado na cabeça e pernas peludas, uma coisa. O homem morreu em 14 de outubro de 2014 sem entender direito que foi ele, ele mesmo, quem “inventou”
Padre Miguel para o planeta, e em razão da Mocidade Independente, nome que parece ter impregnado aquela moçada toda de um tipo próprio de liberdade desvairada. Inventaram a “Paradinha” (instrumentos que se calam e renascem no tempo certo, como que por mágica), – hoje condição sine qua non para qualquer orquestra popular que se pretenda um pentelhésimo qualquer de respeito –, e o surdo de terceira, já eram considerados os melhores percussionistas (sob a batuta de Mestre André), quando ainda ganhavam corpo de escola. Ninguém, ninguém mais segurou! Danados. Viraram oficina de arte e experimentação de artistas delirantes, faturaram cinco canecos no grupo do alto, mistura de raiz com apelo midiático e cascatas de camarão, generosas doses de brasilidade e, claro, um empurrãozinho (na verdade, uma catapulta de lançar pedregulho em helicóptero!) do patronato. Estavam criados o furdunço e o menu degustação de sucesso. A única escola de samba que ascendeu lá nos tempos ainda românticofranciscanos e jamais caiu. É mole? Sim, balançou em muitas oportunidades, muito cá entre nós, até porque não existe fortaleza inatacável. Mas no rabo de foguete de momentos inesquecíveis tornou-se uma instituição que brincou de modificar conceitos, preenchendo de viço um palco mágico também pavimentado pela vanguarda. Não pendure uma cueca em varal ao ar livre por lá. Vai ter mulher engravidando no dia seguinte. Orozimbo Oliveira, ex-presidente, não montou um time de futebol, mas uma bateria inteira, só com filhos. Ah! E não deixe um tamborim, caso não goste de fandango, dando sopa por um boteco “chic” qualquer de Padre Miguel. Logo terá um guri que vai apanhá-lo. E vai juntar o dito cujo aos surdos com a afinação característica, invertida, da Estrela de cinco pontas. E tome de farra e mesa postas. Ora, a fertilidade é a marca da terra com nome de padre, coisa de Deus, e que também é profana. Liturgia da roça, Independente Futebol Clube. Acervo de Valdir Gonçalves de Freitas
Elza Soares, intérprete da Mocidade nos anos 1970. Acervo O Globo
registre-se! Plantou — “ih, f...” —, nasceu. É assim desde o princípio etéreo das misturas dos elementos físicos, químicos, quânticos e sensoriais que embalaram esta saga e alquimia. Ai, meu coração! Aliás, Padre Miguel não é para amadores e, no começo, briga se resolvia no fio da navalha. Mestre André, o genial genioso, pasmem!, vendeu até mesmo os sapatos da bateria nos anos 60, às vésperas de um desfile, e deixou os batuqueiros mandando no couro com as solas dos pés beijando a brasa. Desfile ao meio-dia, sol a pino, imaginou? “Tá quente, seu André”, chiaram. “Não existe mais quente que a gente”, retrucou, na malandragem. A resposta cretinamente fabulosa virou samba de Luiz Reis anos mais tarde na voz de Elza Soares, a filha ilustre que saiu de Padre Miguel para os maiores palcos do globo. Organismo vivo que é, titubeia, tropeça – o Sábado das Campeãs, por exemplo, saiu de sua rotina nos últimos anos –, mas num rodopio recupera o requebrado e se mantém pulsante. Pois é! Ora, quem tem identidade dá de ombro para os temores tolos. E ela não se cansa de mostrar a tal identidade e provar a verdade a essa gente: é a Mocidade Independente. Peço ao criador que conserve esta criatura abençoada por anjos tortos adoráveis – seus Pintos, Oliveiras, santíssimos e santíssimas Trindades, vivinhos ou não –, que ela se reinvente a cada virada, e nunca deixe de se enamorar diante do espelho e deles, os seus sonhos tão reais. Amém! Fábio Fabato é jornalista, escritor e comentarista de carnaval da Super Rádio Tupi. Tem cinco livros publicados e, da aurora ao arrebol, é um declarado apaixonado pela Mocidade Independente. Desde guri. Revista Mocidade 2016
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Por Jefferson Rodrigues
“Num lugar de La Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor...”
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o ano em que se completam 400 anos do falecimento do aclamado escritor espanhol Miguel de Cervantes, a Mocidade Independente mergulha em sua obra mais famosa para trazer ao povo brasileiro a mensagem de que não é impossível vencer os gigantes que as-
sombram nosso país desde os tempos do descobrimento. O enredo “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”, percorre a história do
Brasil apontando e limpando suas manchas, e mostrando que os ideais de justiça, saúde, educação, igualdade, respeito, não são sonhos impossíveis nem loucas utopias. A chama da esperança tem que estar mais forte do que nunca.
Brasil – Ano 2016
Padre Miguel encontra-se com Miguel de Cervantes e lhe pede para despertar seu cavaleiro errante, Dom Quixote, e trazê-lo ao Brasil, pois há muitos moinhos de vento e gigantes a serem enfrentados nessa terra.
Para consertar o Brasil, Dom Quixote decide ler um pouco dos autores que retrataram nossos problemas e, através deles, limpar nossas manchas. Assim começa a viagem da Mocidade Indepen-
Um Brasil cheio de manchas
Percorrendo a história brasileira, o enredo mostra situações em que o país não honrou sua brava gente. As manchas da escravidão, a luta pela soberania da terra, o descaso com sertanejos e seringueiros, a opressão da ditadura militar e as tenebrosas transações entre governos e empresários para sugar nossos recursos aparecem no percurso de Dom Quixote. E cada uma dessas manchas foi registrada por escritores (ou, no caso da ditadura, por compositores) que abraçaram a denúncia social e legaram para o presente e o futuro os exemplos do que deve ser combatido no Brasil. Foto: Jefferson Rodrigues
Dom Quixote, sendo um personagem literário, conhece muito bem um Brasil paradisíaco que foi retratado nos primórdios de nossa literatura. Mas quando ele desperta, após o chamado de Padre Miguel, o idealismo dá lugar à realidade, e o Quixote se assusta. O Brasil de 2016 é um país mergulhado na lama, e a maior vontade de sua gente batalhadora é superar os problemas, vencer a corrupção, derrubar desigualdades e apagar todas as manchas que só trazem vergonha.
dente neste carnaval 2016.
No fim, a grande conclusão do Quixote é que a solução para o Brasil está nos livros, na educação. É através da mocidade, a juventude, que começa a escrita de um novo capítulo sem manchas. Um grande lava jato nos ajuda a fazer a limpeza total dos problemas, e os heróis da educação, nossos professores, surgem como grandes protagonistas dessa mudança. A Mocidade fecha seu enredo de forma positiva: acreditando na juventude e investindo na educação é possível mudar a realidade do Brasil. Revista Mocidade 2016
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urante seu percurso pela história brasileira, Dom Quixote lê muitos dos autores que retrataram as manchas do país, ouve canções e encontra heróis que lutaram contra a opressão. Conheça algumas das vozes que inspiraram nosso cavaleiro errante.
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Revista Mocidade 2016
Fotos: Reprodução (Castro Alves, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Chico Mendes)/ Leonid Strealiev (Érico Veríssimo) / Pintura de Antonio Parreiras (Zumbi) / Autor Desconhecido (Antonio Conselheiro)
Será mais um sonho impossível? Voar num limite improvável Romper o inacessível implacável? Virar esse mundo, esse jogo? Como saber se não tentar, lutar pra vencer e perceber se valeu delirar? é incabível negar, ousar e sonhar pois inventar é minha lei, minha questão. imaginar, seja lá como for, me fazer invencível, tocar e beijar, ceder e morrer de paixão ao ver a estrela-flor, mocidade, brotar do impossível chão. (versão adaptada da obra de Chico Buarque e Ruy Guerra) “Mocidade”: substantivo feminino singular: Juventude, frescor, qualidade daqueles que se mantém jovens independentes da idade, sonhadores. Grupo de pessoas que acreditam em um mesmo sonho, vide GRES MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL. “Mancha”: substantivo feminino singular: Mácula, nódoa. Geo.: Terra árida, mas fértil da Comunidade Autônoma da Espanha central: Castilla La Mancha. “Quixote”: substantivo masculino: Diz-se do personagem criado por Miguel de Cervantes (1547-1616). Indivíduo generoso e ingênuo, que luta contra injustiças. Louco e sonhador. “Carnaval”: substantivo masculino singular. Festa popular, folia. Período normalmente de três dias que antecede à quarta-feira de cinzas. Sentido figurado. Festa capaz de desfazer as manchas da realidade ao transformá-las em esperança de tempos melhores. Força capaz de resgatar os sonhos de uma Mocidade Quixotesca. Prólogo Se o mundo é um carnaval onde tudo se mistura, volto à literatura, no seu infinito poder de transportar tempo e espaço, me junto a Cervantes porque também sou Miguel, Padre Miguel. Juntos, resgatamos o mito de Quixote que, no caminhar por entre as terras do Brasil de La Mancha, a princípio se assusta com tantos fatos. Ele sonha lutar com gigantes que pela própria natureza não somam, subtraem. E como compreender é o primeiro passo para transformação, ávido leitor, o cavaleiro andante relê nossa história até perceber que “A hora da estrela” há de chegar. Descobre que a Mocidade, eterna fábrica de sonhos e alegria, é a estrela guia, que sai à rua para defender o Brasil de toda Mancha. Está na Mocidade toda a esperança de dias melhores, de tempos mais justos, de seres mais humanos. O Brasil de La Mancha Ergue-te do teu sono, Cervantes, do sonho à vida como antes, vem comigo que também sou Miguel, Padre Miguel, sou eu quem te clama a despertar teu cavaleiro andarilho, a seguir a estrela em seu brilho e a empunhar a lança a lutar contra os moinhos deste Brasil de La Mancha. Qual “Abaporu” a devorar imaginações, levanta-te novamente, Quixote comandante e vem tocar seu rebanho, invisível, errante, de meninos, Pixotes, fidalgos ninguém e faça deles seu exército verde esperança, de sonhos de criança que valem ouro, prata, níquel, vintém. Vem limpar as nódoas deste meu país gigante. Lembre-se sempre da ordem da cavalaria, da meta de todo dia: acreditar na justiça, educação, saúde e fraternida-
de, no respeito à terceira idade, nos sonhos da Mocidade. Viaje, até onde a memória alcança, que te proteja, o Sancho que também é Pança, gula ou ganância? Contraponto e balança. Teu companheiro, fiel escudeiro, rapidamente adquire um jeitinho brasileiro. Não esqueça do povo e da mazela, negue que os acordos e esquemas são necessários ao sistema. Lute contra os fatos, os muitos ratos, os muitos jatos! Lembre-se que para governar a ilha, não precisas fazer parte de uma quadrilha. Ponha de lado a cavalaria diante de tamanha covardia, busque na literatura, nas suas mais belas histórias, uma escapatória. Na tentativa de entender o Brasil de La Mancha, leia de tudo sem exceção: histórias dos Pampas, das vidas secas, escravidão. Se leitura o dia inteiro, faz mal ao cavaleiro, não fique atordoado, se entre Ramos e Rosas, encontrar Machado, mesmo sem muita clareza, não se importe porque és menino maluquinho e maluco beleza. Adentre o reino mestiço, encantado, país inventado, terra que tem palmeiras, mas, pela dor de Chico Mendes, sangram seringueiras. Torne-se o Macunaíma, caboclo, mito indolente, quase até inconsequente. E como todo amor é descanso da loucura e a felicidade, uma eterna procura, busque sua Dulcinéia, nos lábios de mel de Iracema e Paraguaçu, musa de Caramuru. Seja o braço forte que impede o açoite, apague a mancha negra-noite, ouça as vozes d’África, lança-te ao oceano contra os negreiros moinhos navegantes e com furor insano, acabe com esse sonho dantesco, a vergonha da escravidão, “varrei os mares, tufão”. Seja Zumbi e devolva a liberdade para a casa grande e a senzala não mais existir. Siga os raios do sol meridiano meu cavaleiro andante, no rastro que ilumina o pampa distante, no sopro do minuano, que terás o “tempo e o vento” como esteio, pelos campos a seguir avante, na proteção do negrinho do pastoreio. Vai, meu nobre senhor dos sonhos e andanças, vem que te mostro veredas, na trilha de sua árdua missão, contraponto das vidas secas no escaldante sertão. Leve teu espírito guerreiro a juntar-se a Antônio Conselheiro, entre milhares de fiéis e cangaceiros, na saga, sacra insurreição. Vai, caminhando e cantando, mesmo com páginas infelizes das nossas histórias, vai nessa ilha, sanatório geral, onde a sua loucura também é a nossa e que se transforma em uma ofegante epidemia pois somos todos loucos, loucos por carnaval. Vai, que nessa avenida, a Mocidade aguerrida, num samba popular, vai passar... Há esperança de que tenebrosas transações serão passadas a limpo, lavaremos o passado tudo o que é ímpio, ainda que tarde, que não falhe, não será um sonho impossível e que nossos heróis não sonharam em vão pois acreditamos no incrível, somos sonhadores errantes, inspirados em ti, cavaleiro andante, estamos prontos pra luta contra o gigante, desse Brasil de La Mancha. Somos seu exército verde, vibrante, da pátria independente, somos Miguel, Padre Miguel, seus Quixotes, Pixotes, somos alguém com o sonho de uma nação, sonho de ser campeão. Adiante, cavaleiro! Em frente, Rocinante! O Brasil é grande, um mundo inteiro. Agora eu era herói, leitor, estudante e também juiz, e pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz. Adiante, cavaleiro! O povo é minha estrela guia... “A hora da estrela” há de chegar Sou Independente, sou raiz também, Cavaleiro Andante da Vila Vintém. Revista Mocidade 2016
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Por Jefferson Rodrigues
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lguns olhares desatentos podem não perceber o homem magro, de passos leves, que percorre o barracão da Mocidade na Cidade do Samba. Alexandre de Mendonça Louzada, mesmo sendo um dos maiores carnavalescos do Brasil e um dos mais vencedores do carnaval do Rio de Janeiro, é avesso aos holofotes. Discreto e, talvez um pouco tímido, ele é a mente artística responsável pelo desfile que vocês assistem neste carnaval 2016. Um desfile gigantesco, inovador, mas sem perder a essência da boa e velha escola de samba. Bastam poucos minutos de conversa e uma rápida olhada em seus desenhos, projetos e rascunhos, para perdemos a primeira impressão de “homem calado” e passarmos a enxergá-lo como o dono de uma mente sagaz, conectado com as melhores tecnologias e respeitador das tradições. O resultado dessa combinação o público já conhece, tanto no carnaval carioca, onde já abocanhou cinco títulos, quanto no carnaval de São Paulo, onde já possui duas conquistas para a coleção. Assinando um desfile na Mocidade pela terceira vez (ele foi carnavalesco no biênio 2012-13), e tendo à disposição uma das melhores estruturas entre as escolas de samba cariocas, Alexandre Louzada mostra toda a versatilidade do seu talento em fantasias e carros alegóricos de um detalhismo que chega a ser compulsivo. É um carnaval concebido nos mínimos detalhes da colocação de uma peneira com cabaças num canto do chão do carro alegórico. Algo que talvez nem seja totalmente visto pelo público, mas que somente um artista de verdade é capaz de conceber e realizar. Ao seu unir a Edson Pereira, um nome promissor de uma nova geração de carnavalescos, Louzada garante que esse “casamento sem namoro” de estilos e concepção só trouxe bons resultados para o produto final que a Mocidade leva para a Sapucaí. E, sem vaidades, afirma que se mantém em constante aprendizado porque “ser autossuficiente perde a graça”.
Foto: Eduardo Hollanda
Misturando estilo próprio com características aprendidas nas escolas pelas quais já passou no Rio de Janeiro e em São Paulo, Alexandre Louzada, provavelmente, assina neste 2016 o maior carnaval de sua carreira. O que o público vai conferir durante o desfile da Mocidade é um espetáculo digno da história de pioneirismo e vanguarda que fizeram a fama da agremiação. É Mocidade com cara e jeito de Mocidade. Enquanto isso, atrás das cortinas, o gênio Louzada, se me permitem assim chamá-lo, acompanha nervoso cada ala e carro que entra na avenida, não fazendo questão de aparecer para o público. Algo normal. Grandes artistas não precisam chamar aplausos, eles vêm naturalmente.
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Por Jefferson Rodrigues
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le tinha 15 anos quando decidiu sair de casa. Sem rumo ou destino certo, o garoto – vamos chamá-lo de pixote, foi parar nas areias da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. No lugar em que as pessoas tinham seus momentos de lazer, ele construiu um lar. E assim começava a aventura de desbravar o mundo longe dos olhos da família. Como para todo adolescente a expressão “dar o braço a torcer” não existe no vocabulário, foi o pixote encarar os desafios que esse mundo da rua apresenta. O maior deles? Sobreviver! Eram sobras de comida dos quiosques, gorjetas, pequenos serviços que rendiam trocados. E aquela veiazinha de artista já pulsava mais forte levando o garoto a fazer esculturas com a areia. Se é de grão em grão que se constrói uma vida de sucesso, cada dificuldade foi como uma mão a moldar a personalidade do pixote. A vontade de “ser alguém” foi ficando mais forte e com ela a busca pelas oportunidades. Viver na rua não seria apenas uma aventura, mas o primeiro passo para o crescimento. É neste momento que o pixote vira Quixote e parte para enfrentar os moinhos de vento que lhe trariam um futuro. Tendo as artes como sua Dulcineia e o talento como armadura, ele começou a estudar pintura artística e as portas da TV Globo se abriram. Viveu seus momentos de Sancho, escudeiro de cenógrafo, criando cenários para novelas como O Rei do Gado (indícios de um Rocinante perdido?) e outros programas. E se a vida de um Quixote é sonhadora, que lugar melhor do que o carnaval para libertar esses sonhos? A União da Ilha do Governador veio lhe responder como poderia ser o amanhã. Nosso pixote-quixote viu o futuro nos estudos de Belas Artes. Trabalhos no carnaval, temporadas nos Estados Unidos, convites para produzir eventos... A vida nas ruas, com todo o seu aprendizado, estava definitivamente para trás. Nosso garoto não se perdeu. Cresceu! O pixote, me perdoem a falha desta narrativa, sempre teve nome: Edson! Edson Pereira, apontado como um dos grandes nomes da nova geração de carnavalescos do Rio de Janeiro.
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Foto: Eduardo Hollanda
Ps: Essa história poderia ser um simples conto de ficção, mas graças aos céus, ela é real e nos mostra a verdade por trás do enredo que este mesmo Edson assina na Mocidade Independente em 2016: a educação é a única solução para os problemas desse Brasil de La Mancha.
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Fotos: Jefferson Rodrigues e Junior Silva
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Por Dam Menezes
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pós a avalanche de energia, molejo, carisma e simpatia, nossa rainha Claudia Leitte está preparada para brilhar ainda mais no reinado à frente da “Não Existe Mais Quente”. A estreia em 2015 deu o tom da empolgação da cantora, que se mostrou tão à vontade na avenida quanto uma veterana foliã. E como tudo que é bom merece bis, em julho, a loira foi confirmada para reinar novamente à frente dos ritmistas da Mocidade Independente no Carnaval 2016. A experiência de se sentir em casa revelou uma nova rainha para a Nação Independente, ainda mais próxima, mais humana e com a preocupação de, junto com
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a diretoria da Mocidade, levar a milhares de crianças da Zona Oeste carioca a esperança de um novo amanhã, onde sonhar não custa nada ou quase nada. Passado o nervosismo da estreia a cantora garante que está muito mais a vontade para reinar a frente de seus súditos e a agremiação não deixa por menos: Claudia Leitte recebeu, em outubro, seu cartão de sócia torcedora vitalícia da Mocidade, se tornando uma das primeiras associadas do programa Independente na Identidade, lançado pela escola com o objetivo de se aproximar de sua imensa torcida apaixonada espalhada pelo Brasil.
Foto: Marcos de Paula/Estadão
Sintonia com o enredo Uma Rainha de Bateria de verdade não brilha apenas à frente dos ritmistas, ela abraça o enredo e as atividades de uma agremiação. Com Claudinha não foi diferente. No pré-carnaval, em outubro, ela desembarcou em Padre Miguel, mais precisamente na Escola Municipal Teodoro Fragoso. A missão? Distribuir 2 mil livros da adaptação para história em quadrinhos da obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, para as crianças. A euforia geral provocada nos alunos veio acompanhada de importantes lições. “Vocês querem sambar na cara da sociedade? Então sejam os melhores alunos sempre”, incentivou a Rainha Independente.
Foto: Marcos Serra Lima - Ego
E para completar a tarde inesquecível, Claudia ainda improvisou uma edição do programa The Voice, da Rede Globo, do qual faz parte, colocando a garotada para cantar, realizar sonhos e se emocionar. Como ela mesma resumiu: “não basta ser rainha, tem que participar”.
Foto: Marcos Serra Lima - Ego
Dam Menezes é crítico de carnaval.
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Por Bonifácio Junior
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rês vidas e três sonhos. Três vidas e uma oportunidade de cura. Após uma tentativa de inovação no quesito, o grande mestre-sala Diogo Jesus experimenta um dissabor em sua nota total no último carnaval. Cristiane Caldas é dispensada de outra agremiação e experimenta o dissabor da dúvida em relação a uma volta. Eu, que cravei 4 notas máximas em 2015, fui vencido pela saúde que me levou a uma cama de hospital. Três vidas e mundos diferentes, necessidades, medos, anseios, e apenas uma palavra que poderia resumir um encontro: Fé. O Oxóssi caçador prepara o mestre-sala para guerra e o inspira a olhar sem medo um futuro. Santa Sarah envolve a porta-bandeira e a leva de forma simples a percorrer caminhos silenciosos e de luz. E o amor desse encontro se faz remédio em minhas artérias, me tirando da cama de um hospital para ensaiar nas areias de Copacabana. Nascia ali uma ligação que somente Deus é capaz de explicar, pois hoje respiramos nossa escola inspecionados por amor.
Foto: Eduardo Hollanda
Nossa rotina foi baseada na união e na troca de experiências. Choramos, falamos de decepções e da maneira como queríamos nosso trabalho. Participamos da vida pessoal e social. Diogo, o mais moleque do
trio, ri de tudo e cobra um amor que, segundo ele, tem que ser apenas e unicamente dele. Cris, a menina das jujubas, é delicada, disciplinada e nos faz enxergar as flores no meio de tantos espinhos. Eu sou o velho do grupo, o chato que tem a responsabilidade de falar sobre as coisas sérias; um pai que cobra beijo e respeito, o “beijoqueiro cardíaco”. E após a primeira noite de ensaios, estávamos eufóricos tal qual crianças descobrindo um mundo de sonhos e possibilidades. Vejo nessa dupla algo que me faz acreditar fielmente em uma virada dos décimos perdidos. Um mestre-sala que ainda não conseguiu mostrar a potência de seu lindo bailado. Uma porta-bandeira que aceitou trazer um diferencial para sua dança e quis recomeçar. Um casal com tanta vontade de vencer que querem engolir a Sapucaí. Acredito que o amor que vivemos hoje e que já contagia a tantos que estão ao nosso redor, será o combustível para que possamos ter a humildade necessária e a coragem que fará desta dupla personagens fundamentais para coroar o desfile da nossa Mocidade. Este desfile é um dia em que vamos estar inspirados, com sol ou chuva, vento ou tempestade, queremos apenas “ir buscar o que já é nosso”. Não queremos prometer nada além de uma apresentação digna de orgulho e admiração, um casal comprometido e querendo levar para a escola as notas que tanto necessitamos para uma colocação mais justa. Orem por nós, cada qual com sua crença, fé, forma.... Estejam conosco e saibam que estamos conscientes que o pavilhão que apresentaremos aos nossos julgadores, foi composto por uma história de mais de 60 anos, e que cada personagem desta grande obra estará sendo enaltecido através do tremular deste manto sagrado.
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Bonifácio Junior é o coreógrafo do casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Mocidade
Por Pituka Nirobe
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primeira baiana da Mobologia, a resistência de uma luta cidade foi Tia Chica. pela liberdade de expressão. É o elo Ela mantinha um terreihistórico entre o samba de ontem ro de matriz angolana em Padre com o samba de hoje. Cada baiaMiguel, local onde quase todos na traz em si a função de manter as os sambistas iam buscar axé anorigens afro-brasileiras, ainda que tes de partirem para o samba. este cordão umbilical esteja frágil Sem dúvidas, Chica foi uma das diante de toda pompa e circunstânmães de santo mais influentes da cia que acercam os luxuosos desfiregião, além de ser responsável les das escolas diante de um carnapela identidade percussiva transval comercial. ferida do terreiro para a bateria da escola e do assentamento espiriSalve as Tias baianas que compõem tual firmado para a Mocidade In- Tia Chica, primeira baiana da Mocidade. Foto: Arquivo O Globo a ala do GRES Mocidade Independependente de Padre Miguel em dente de Padre Miguel. Salve Tia seus primeiros passos como escola de samba. Nilda, que comanda a ala há tantos carnavais. Salve Tia Bibiana, que representa o elo com a tradição, além de toQuase toda família de Tia Chica mantinha um pé na relidas as tias que formam este conjunto maravilhoso. giosidade e outro no samba. Seus filhos Dengo e Fulmão, além do genro Barraco, integravam a bateria dos 28 batuqueiros de Mestre André que, junto com Tião Miquimba, o criador do surdo de terceira, contribuíram para a preservação cultural e formação das características de nossa bateria, que perduram até os dias de hoje. Sua filha Bibiana até hoje integra a ala das baianas da escola. Tia Nilda representa a baiana contemporânea, sendo a maior representante do segmento na atualidade dentre todas as escolas. Mãe de santo, assim como Chica, sua maior missão é buscar um ponto de equilíbrio entre a tradição e a modernidade, tarefa difícil que esta baiana forte e corajosa desempenha com muita destreza à frente da ala das baianas da Mocidade. Além de ser pé quente, pois desfila na escola desde 1979, ano em que a Mocidade conquistou seu primeiro campeonato entre as grandes escolas, Tia Nilda é um exemplo de coragem e determinação. Ela tem a consciência de que vestir um traje típico de baiana no carnaval é vestir a responsabilidade que vai muito além de um simples encarnar de uma personagem dentro do enredo que ganhará vida durante 82 minutos de um glamoroso desfile. É também representar décadas de cultura e tradição na avenida. Cada colar, cada fio de conta, cada pano da costa carrega a sim-
Tia Nilda, presidente da Ala de Baianas. Foto: O Globo
Pituka Nirobe é Diretora Cultural da Mocidade, Membro do Conselho Nacional de Políticas Culturais – MINC, Conselheira do Samba do Rio de Janeiro – Museu do Samba e Gestora de Projetos Culturais.
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Um casal de vencedores no sentido mais literal da palavra! Diego e Elaine foram escolhidos defensores do segundo pavilhão Independente em novembro de 2015 num concurso que reuniu 17 casais. Elaine retorna à sua escola do coração, prometendo muita dedicação e humildade. “A Mocidade é realmente a minha escola. Dançar como porta-bandeira na minha vida é hobbie, mas quando é para a Mocidade é tudo diferente. Viajava sempre para o Rio para cumprir a agenda de ensaios e shows quando precisava estar presente. Iremos para a avenida com humildade, responsabilidade e muita dedicação”, resume. Primeiro mestre-sala da Unidos de Vila Isabel no último carnaval, Diego Machado é uma espécie de ”bicho-papão” de concurso entre casais. Esta é a terceira vitória dos quatro em que participou. “Muitas vezes o nosso ego nos impede de perceber boas oportunidades que surgem. Quero seguir o meu trabalho na Mocidade. Fico muito feliz de fazer parte da escola. Não esperava desfilar este ano e a ficha ainda está caindo. Vamos formar uma grande família”, afirma.
Uma das alas de passistas mais famosas do carnaval, vencedora de diversos prêmios, incluindo o Estandarte de Ouro em 2015, é coordenada por uma “prata da casa”. Aos 25 anos, George Louzada começou sua trajetória aos nove anos de idade na Estrelinha da Mocidade. Na Mocidade, ele já coordenou a ala de passistas entre os anos de 2010 e 2013. Nesse retorno, ele responde por toda parte coreográfica da agremiação, com exceção da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta-bandeira. “Fico muito feliz com essa oportunidade que a Mocidade está me dando. É a minha escola e farei o melhor ao lado da minha equipe”, afirmou.
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Fotos: Eduardo Holanda
Seu estilo de trabalho é voltado para ensaios no barracão, mas nunca abandonando os ensaios juntos com a comunidade que, segundo Louzada, é importante para o rendimento dos componentes.
Por Renato Buarque
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empre elegantemente trajados, os membros de nossa velha-guarda dão um show à parte, esbanjando simpatia e arrancando aplausos dos espectadores que os veem se apresentar, seja em nossa quadra, nas das escolas coirmãs, ou nos desfiles na Sapucaí, mas muitos não têm noção de quantas memórias cada um deles carrega consigo.
Criada em 1963, a Galeria de Velha-Guarda da Mocidade Independente de Padre Miguel tem como slogan “Velha-Guarda só é quem é, e não quem quer”. Seu fundador, Ariodantino Vieira, o popular Tio Dengo, foi também o segundo presidente da escola, assumindo o cargo principal da agremiação entre os anos de 1960 e 1962. Dengo valorizava bastante a preservação das tradições e histórias da Mocidade, além de ter como objetivo manter vivos os diversos estilos de sambas compostos por nossos poetas. O atual presidente da velha-guarda da Mocidade é nada mais, nada menos do que Wandyr Trindade, o nosso Vô Macumba que, desde 2014 acumula a função de presidente executivo da escola. Ele fez parte do plantel do Independente Futebol Clube, time de várzea que deu origem à agremiação, sendo um dos fundadores da escola juntamente com seu pai, Sylvio Trindade, o Vivinho, que foi o primeiro presidente da Mocidade, e teve papel importantíssimo no começo de sua trajetória. Com grande visão, foi ele
Fotos: Arquivo Depto. Cultural
Alguns dos baluartes da galeria de velha-guarda da Mocidade (no alto a esquerda o saudoso Ivo Lavadeira, e ao centro, Nice Maria, tambem ja falecida)
A Velha-Guarda da Mocidade reunida em frente ao bar pertencente a eles
o principal incentivador para que os boleiros batuqueiros do Independente formassem uma escola de samba. No passado, era função da velha-guarda abrir o desfile apresentando a escola. Em seguida, formavam um cordão nas laterais da avenida – homens de um lado e mulheres do outro –, e ali permaneciam como guardiões da agremiação. Ao final, fechavam o cortejo, cumprimentando e agradecendo ao público, como geralmente acontece nos dias de hoje na maioria das escolas. Atualmente, a velha-guarda da Mocidade possui cerca de 100 integrantes que, direta ou indiretamente, participaram da fundação da escola. Após o falecimento de Ivo Lavadeira, em outubro de 2014, o componente mais antigo passou a ser Hermano Pereira da Costa, o Mulato, com 82 anos. A idade mínima para fazer parte do segmento é de 45 anos, tendo no mínimo 15 de participação. É necessário salvaguardar e proteger as características dorsais da cultura das escolas de samba, e a velha-guarda é a guardiã de quase toda, se não toda a história e identidade do samba. O respeito e o reconhecimento são fundamentais, pois eles são objetos de estudo e fonte de experiências intelectuais, emocionais e históricas. Renato Buarque é Vice-Presidente Cultural da Mocidade
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Da redação
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A comissão de frente da Mocidade, comandada pela quarta vez pela dupla de coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon, é formada exclusivamente por bailarinos, e se prepara para encantar o público ao enfrentar os problemas desse Brasil de La Mancha, apresentando personagens de nossa história confrontados por um Dom Quixote que acredita em dias melhores. Como a cada ano fica mais difícil a tarefa de abrir o desfile de uma escola de samba, pelo protagonismo
Foto: Eduardo Hollanda
ram duas horas da manhã de um dia de semana de janeiro. Chovia torrencialmente. Um grupo de 29 pessoas ensaiava uma história. Representavam para arquibancadas vazias da Marquês de Sapucaí os atos de uma abertura impactante que em breve seria vista por milhares de pessoas ao vivo e ao redor do mundo.
que esse segmento ganhou, os coreógrafos da Estrela Guia decidiram unir tradição com inovação. O resultado é um trabalho extremamente teatral, que mantém as raízes de apresentação da escola para o público e saudação aos jurados, mas traz elementos-chave que funcionam como o diferencial, o moderno.
Foto: Diego Mendes
Saulo Finelon confessa que está ansioso com tudo que será apresentado na avenida. Para ele, a comissão de frente da Mocidade em 2016 é o mais importante trabalho já realizado pela dupla no carnaval carioca. “Nossa comissão foi de grandes desafios, com diversos equipamentos tendo que ser produzidos em São Paulo para manter o segredo que levaremos para o sambódromo. Agora, absolutamente tudo o que sonhamos para esta apresentação entrará na avenida. O público pode esperar um casamento fiel entre o tradicional e o inovador, com elementos que vão tirar o fôlego do publico que irá nos assistir”, afirma. Se o ditado estiver certo e a primeira impressão da Mocidade na avenida conquistar o público, os coreógrafos garantem que a Nação Independente pode voar e sem limites sonhar, pois está chegando a hora da estrela que sempre vai brilhar. 32
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Fotos: Eduardo Holanda
Não vou e não quero decepcionar. Me cobro bastante e passo essa cobrança para todos os ritmistas. Mesmo quando fazemos bons ensaios, sempre quero mais. Espero tirar o máximo de cada um deles”, revela o mestre.
Por Rodrigo Coutinho
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ostrando a minha identidade... Meu baticumbum é diferente... E a paradinha de outros carnavais... Na galeria do samba a melhor bateria que é nota 10”. Na história da Mocidade Independente de Padre Miguel há diversas referências ao que fez com que a agremiação da Zona Oeste se notabilizasse em seu início no carnaval: a bateria. A escola se orgulha por ter uma das marcas e ter contribuído bastante para o maior espetáculo da Terra. Afinal de contas, foi a bateria da Mocidade a responsável por diversas criações que acrescentaram bastante ao desfile das escolas. Para manter viva essa chama, nada melhor que passar a batuta de mestre da ‘’Não Existe Mais Quente’’ para um ‘’natural de Padre Miguel’’. Carlos Eduardo Arcanjo de Oliveira, ou simplesmente mestre Dudu, é o comandante da bateria mais famosa do carnaval. A mesma batuta que passou pelas mãos dos mestres André, Dilson Carregal, Jorjão e Coé, estará sob responsabilidade de Dudu em 2016. “É uma grande responsabilidade, mas me sinto preparado. Desde pequeno faço parte desse mundo aqui. Todos me conhecem e sabem da minha capacidade.
Aos 34 anos de idade, Dudu traz no currículo um histórico impecável como músico e ritmista no Rio de Janeiro. Já no DNA e no sobrenome, as marcas de José Carlos de Oliveira, o mestre Coé, seu pai. Foi sob o comando de Coé que a bateria da Mocidade conseguiu as quatro notas 10 pela última vez, em 2002. Em paralelo ao sucesso do pai comandando a ‘’Não Existe Mais Quente’’, Dudu se destacava como ritmista e posteriormente como diretor. Em função de todos os fundamentos que aprendeu desde criança, Dudu mantém a convicção na filosofia de ritmo da bateria da Mocidade: “Nós nunca podemos mudar aquilo que nos fez ganhar fama no carnaval e aquilo que nos diferencia das demais baterias. Temos uma batida de caixa única, afinação com os surdos de segunda mais graves, não temos virada para a segunda do samba. Tudo isso faz parte da nossa essência. Temos é que aprimorar o trabalho em cima dessas características”, ressalta ele. Antes de assumir como mestre de bateria, Dudu participou da superdireção criada em 2012. Em 2016, a bateria da Mocidade terá as características de trabalho do comandante mais perceptíveis. Ele mesmo explica: “Vamos focar no ritmo e na manutenção do andamento. É claro que as bossas criativas, marcas da nossa escola, estarão presentes, mas vou buscar um equilíbrio maior entre bossas e ritmo. As duas partes são muito importantes”.
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Por Gabriel Teixeira
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sorriso fácil e a simpatia são características marcantes de Bruno Ribas, um dos maiores intérpretes de uma geração que vem fazendo história no carnaval carioca. Neto do grande compositor e instrumentista Manacéa, ele estreou na Mocidade no carnaval 2007 defendendo o último samba-enredo composto pelo imortal Tôco. E foi na Mocidade que ele conquistou o Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete, no carnaval 2008. De volta à escola em 2014, Bruno se mantém à frente do microfone verde e branco pelo terceiro ano consecutivo, e vai se firmando cada vez mais como a nova voz marcante da Mocidade.
Foto: Eduardo Hollanda
Tive oportunidade de ser cavaquinhista da Mocidade entre os anos de 2012 e 2015. Nos últimos dois anos, pude conviver com essa que é uma das figuras mais maravilhosas que o samba me apresentou: Bruno Ribas. O sorriso no rosto é sua marca registrada. O carinho com que trata as pessoas que o auxiliam é
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sempre como quem tratasse alguém da sua própria família. Sua voz é um presente de Deus aos nossos ouvidos. É forte, sem perder a suavidade de cantor, sabe fazer cacos e contracantos com desenhos melódicos criativos e inesperados. Bruno é um craque! Desses capazes de transformar e dar mais brilho a um samba. Se engana quem pensa que a simpatia e o sorriso aberto de Bruno o impedem de ser um líder respeitado. Ele cativa e ganha a amizade de todos de maneira que consegue exercer sua autoridade sem precisar ser duro ou grosseiro. Quando a sirene tocar e a Sapucaí ouvir o “Está presente a nação verde e branca da Zona Oeste...”, ali estarão arte, liderança, amizade, carisma e coração em uma só pessoa. Eeeeeentra em ceeeena, Bruno Ribas! Gabriel Teixeira é cantor e compositor
Por Rafael Rezende
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á dizia Tiãozinho Mocidade que “para falar de samba tem que falar de Padre Miguel também”. Um dos maiores compositores da verde-e-branca, Tiãozinho estava correto em reivindicar para o bairro o direito de figurar entre os principais polos musicais do Rio de Janeiro. Os compositores da Mocidade sempre tiveram a nobre missão de musicar os criativos enredos desenvolvidos por seus geniais carnavalescos. Históricas, delirantes, futuristas, nacionalistas, ideológicas e até científicas, as narrativas ganharam boa dose de emoção, empolgação e poesia ao serem transformadas em belos sambas. Uma das obras mais bonitas da agremiação sexagenária, Rapsódia de saudade (1971), cantava em seus versos: “música/ nos traz saudades coloridas”. Essa é a senha certeira para decifrar a multiplicidade de sentimentos que emanam a cada vez que alguma dessas canções toca na quadra de uma escola de samba, nos nossos aparelhos sonoros ou em qualquer boa roda de samba. Basta fechar os olhos para virem à mente os bons momentos vividos em cada carnaval. E até mesmo aqueles desfiles que não pudemos vivenciar, a nossa imaginação fica a cargo de produzir igual emoção. Tal como em um relacionamento amoroso, os sambas são a trilha sonora que embala a paixão entre a escola e seus torcedores. Logo, não será surpresa se em algum momento as lágrimas rolarem. Assim, a ala de compositores nos brindou com hinos inesquecíveis. Autor de cinco sambas, Tiãozinho contribuiu decisivamente para que a escola conquistasse o lugar mais alto do pódio em três ocasiões. Feita em parceria com Gibi e Arsênio, Ziriguidum 2001 – um carnaval nas estrelas (1985) derramava inspiração em versos como “a própria vida de alegria se enfeitou”; com Jorginho Medeiros e Toco surgiram outros dois clássicos, Vira virou... A Mocidade chegou! (1990) e Chuê, chuá, as águas vão rolar (1991). Como dizia o samba de 1991, os poetas “navegaram” no afã de encontrar um jeito novo de fazer o povo delirar. E encontraram: o que se viu foi o público cantando em coro durante as apresentações que consagraram a Mocidade bicampeã. No ano seguinte, foi a vez de Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira empolgarem os foliões com
Sonhar não custa nada, ou quase nada (1992), que se tornou um dos sambas-enredo mais populares da história do carnaval carioca, até hoje cantado com frequência pelos blocos e grupos do gênero. Na luta pelo tricampeonato, a canção sentenciava que “sonhar com a Mocidade é sonhar com pé no chão”. O recordista de vitórias na Mocidade, porém, é o saudoso Toco. Ao todo, 12 sambas de sua autoria já foram para a avenida. Além dos já citados anos de 1971 (cujo título deste texto remete a um de seus versos), 1990 e 1991, é dele e de Djalma Crill o famoso samba que exaltou Mãe Menininha do Gantois em 1976. Em sua última parceria vitoriosa (2007, O Futuro no Pretérito: Uma história feita à mão), a marca do lirismo de Toco se fez presente: “amar, viver, sonhar, acreditar/ que a alma é a fonte, energia da vida/ Na máquina jamais se encontrará/ a inspiração que faz nascer a poesia”. Ainda na década de 1970, Tatu, Nezinho e Campo Grande exaltaram as “cores, músicas e danças” do enredo A festa do Divino (1974), garantindo para a escola o Estandarte de Ouro (a renomada premiação promovida pelo jornal O Globo) de melhor samba. O prêmio chegaria novamente à Padre Miguel em 1997, pelas mãos de Chico Cabeleira, Joãozinho, Muca e J. Brito, que ajudaram cada componente a entrar – como dizia o título do enredo – De corpo e alma na avenida, ao som do refrão: “Me beija na boca/ vem me abraçar/ tem cheiro de amor no ar/ ouvindo teu canto ecoar/ nos teus olhos vejo/ minha estrela brilhar”. Mas a constelação de estrelas independentes vai muito além dos sambas e compositores citados. Santana, Ricardo Simpatia, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Gustavo Henrique, Marcelo do Rap, Marquinho Marino, Rafael Só, J. Giovani, Zé Glória, Hugo Reis, Diego Nicolau, Gabriel Teixeira, Ricardo Mendonça, Wander Pires, Dudu Nobre, Beto Corrêa, Domenil, Ney Vianna, Djalma Santos e Marquinho PQD, entre tantos outros, emprestaram seu talento para abrilhantar a estrela-guia de Padre Miguel. Em meio à festa profana, seus sambas se tornaram verdadeiras preces pelo amor, pelo sonho, pela esperança, pela união entre as pessoas, pela paz, pela justiça, pela igualdade, pela dádiva da vida e pela alegria preciosa que celebramos a cada carnaval. Salve os poetas da Mocidade!
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uando o domingo amanheceu em Padre Miguel, a rua em frente à quadra da Mocidade estava tomada por uma multidão de pessoas que, sem nenhum sinal de cansaço, entoava o samba escolhido para o carnaval 2016. Não restavam dúvidas de que a comunidade havia abraçado a obra. Foram 33 sambas de enredo inscritos na disputa e a parceria campeã traz nomes consagrados na escola e na folia: Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, J. Medeiros, Domingos Pressão, Jonas Marques, Paulo Ferra, Lauro Silva, Lero Pires e Wander Pires. Confira a entrevista de nossa equipe com um dos compositores, o veterano Jefinho Rodrigues. Vocês ganharam num ano em que a ala de compositores da Mocidade recebeu de volta vários nomes que já marcaram a história da escola com grandes sambas. Além disso, isso acontece em um período de reestruturação da agremiação. Como é representar a Mocidade num momento como este? Jefinho Rodrigues – É uma delícia ter um samba nosso representando nossa escola de coração na avenida. Para mim a expectativa ainda é maior, pois sou um dos autores do samba do último campeonato (Criador e Criatura, de 1996). Estamos em êxtase. A ala de poetas da Mocidade é Estandarte de Ouro, nela tivemos e temos nomes que fizeram sambas inesquecíveis que até hoje embalam nosso carnaval. Como foi a composição desse samba? Na sua opinião, o que ele tem de essência da Mocidade?
JR – A primeira coisa a se fazer é ler, ler e ler até que tenhamos o entendimento real do enredo, alcançar e viajar com a mente carnavalesco. Geralmente temos algumas melodias na manga e mostramos aos parceiros. Agradou? Aí vamos pedir a papai do céu para nos abençoar com a luz da inspiração e vamos jogando tinta no papel! Fizemos quatro reuniões até a conclusão e acho que conseguimos levar todo o entendimento do enredo aos Independentes. O samba teve um ótimo rendimento durante as eliminatórias. Por que você acha que a comunidade o abraçou de tal forma? JR – Quando o samba ficou pronto sentimos a emoção que a música passava. Falei com meus parceiros que desde a primeira eliminatória faríamos jus ao que Deus nos tinha dado de inspiração com grandes apresentações. Além do nosso parceiro Wander Pires cantando, contamos com o apoio do Marcelo Rodrigues, Kaisso, Valdir, Andinho, Xande, e ainda com um time na harmonia de primeira linha, assim conseguimos passar para a comunidade a emoção da nossa melodia e letra, aliada a um refrão que fez muita gente chorar! O que a Mocidade representa na sua vida? JR – Não sei como me expressar quando falo da minha história na Mocidade. Estou aqui tem 40 anos e posso falar com muita propriedade que a Mocidade é a minha vida. Eu respiro a escola. Comecei na escolinha do ritmo do mestre André e desfilei pela primeira vez na bateria em 1976. Em 1994 ganhei o primeiro samba e, graças a Deus, não parei mais. Já são 8 vitórias! Para falar da Mocidade na minha vida eu tenho que parar e escrever um livro! (risos).
Foto: Eduardo Hollanda
É a primeira vez que essa parceria se junta para compor um samba na Mocidade? JR – Esse time se juntou pela primeira vez, mas eu já tenho mais de quinze anos e seis vitórias com o Marquinho Índio, três vitórias com o Jorginho Medeiros, já compus com o Jonas Marques. O Wander já foi meu parceiro diversas vezes defendendo samba e esse ano fiz o convite para a parceria.
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assistas de escola de samba estão vivendo o auge de sua relevância histórica. Graças a Deus! Vem deles e delas a dança mais autêntica e representativa do gênero musical samba-enredo, o tema das escolas de samba em desfile. Como pesquisador desses personagens, posso afirmar, sem nenhuma dúvida, que esta é a era de consagração de nossos mais nobres dançarinos do samba. Sabe-se que a mulher sempre teve a proeminência para sambar no meio da roda e que o homem a acompanhava na dança, como era feitio das “umbigadas”. O samba no pé propriamente dito dos homens era o chamado “miudinho”, um passo bem mais tímido se comparado com o samba “rasgado” dos passistas de oficio. A gênese simbólica do passista, no entanto, surge a partir de uma figura masculina: Tijolo da Portela, personagem proeminente no único livro dedicado integralmente ao assunto - A Dança do Samba - Exercício do Prazer, do jornalista José Carlos Rêgo. Já havia, na escola de Oswaldo Cruz, homens que dançavam o samba no pé, como Candeia, Waldir 59, Mazinho, Quincas e Tibelo. Mas Tijolo era conhecido como “O Maluco” por seu repertório de passos diferenciados e acrobáticos. Em sua excentricidade, chegou a ser expulso da roda de sambistas portelenses algumas vezes pelos diretores de harmonia. Até se afirmar definitivamente ao cumprir a exigência do “rei da noite” Carlos Machado para integrar o elenco da revista musical Million Dolar, Baby, em 1958: dali desceu dos palcos para se tornar personagem na avenida. Muitos se denominarão “passistas” antes desse fenômeno, é provável, porque o carnaval é assim: permeado de mitos e registros imprecisos. De Tijolo pra cá, no entanto, foi fácil perceber que o passista avançou de apresentações dispersas por setores das escolas, como solista, para uma composição mais recente - a partir dos anos 80 - reorganizados em alas. Passis38
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tas masculinos e femininas passaram a constituir um segmento. E é nessa era que a Mocidade Independente de Padre Miguel fez história e originou aquela que foi, talvez, a mais aclamada ala de passistas do carnaval carioca. Dirigida pela antológica Marilene Mocidade, a ala de passistas independentes tinha o elevado padrão que sua geniosa e extraordinária diretora imprimira à escola. Diz-se que, nos testes, duvidava da capacidade dos passistas com o intuito de desafiá-los à superação. Foi pioneira em exigir que sambassem se deslocando de ponta a ponta do espaço da quadra, locomovendose em grandes distâncias, em eixo frontal e diagonal, de forma a exibirem condicionamento físico, sentido de deslocamento e domínio da cadência da dança. Marilene, que acompanha à distância o samba, é até hoje reverenciada por um séquito de passistas. Vencedora de prêmios importantes nos últimos anos, a ala de passistas da Mocidade - sob direção de George Louzada e auxílio técnico de Danyel Rodrigues - tem um casting respeitável e é um dos orgulhos da escola, abrilhantando seus ensaios e energizando os desfiles com sua fibra e sua garra descomunal. Herança de tempos idos que ainda reluz por onde passa a Estrela Guia da Zona Oeste! Salve a apoteose dos passistas e das passistas independentes de Padre Miguel! Hélio Ricardo Rainho é colunista do site SRZD.com, pesquisador de escolas de samba, apoio de passistas na Portela e padrinho da ala de passistas do Império Serrano
Por Jefferson Rodrigues
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Meu carnaval começa na borracharia, conferindo os pneus das alegorias”. Essa frase do diretor de barracão da Mocidade, Marcelo Plácido, deixa bem claro o quão pouco sabemos, ou imaginamos, sobre o processo de criação de um desfile de escola de samba. As engrenagens que fazem o dia a dia de uma agremiação são complexas e exigem altas doses de preparo, liderança, e uma visão administrativa que enxergue meses à frente do que está sendo decido no dia de hoje, por exemplo. Ao tomar proporções de grande espetáculo os desfiles passaram a demandar cada vez mais um gerencia-
mento profissional. As escolas de samba que almejam não só disputar o campeonato, mas também manter suas receitas em dia e ficar longe dos fantasmas do endividamento precisam se colocar como empresas, deixar de lado velhas práticas e investir muito no material humano que diariamente trabalha para a realização dos sonhos nascidos em cada enredo. A Mocidade decidiu apostar alto na profissionalização e desde meados de 2014 vem investindo na sua estruturação como empresa e no resgate da marca da escola, uma das mais forte no país. “Criamos mecanismos de controle de gestão e já sentimos que a
Quadro de controle da produção de carros alegóricos. A gestão da Mocidade trabalha com metas bem definidas para cumprir com tranquilidade os prazos de construção do carnaval.
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administração da escola evoluiu muito. Sempre disse que a reestruturação da Mocidade era algo de médio a longo prazo, mas hoje já temos resultados que estão muito acima do esperado”, conta Rodrigo Pacheco, vice-presidente da escola. Essa forma de pensar uma escola de samba prova sua eficiência quando vemos, por exemplo, o desfile que a Mocidade coloca na avenida neste carnaval 2016. Mesmo em tempos de crise, a agremiação conseguiu desenvolver seus trabalhos com certa tranquilidade e com um gigantismo inédito no carnaval do Rio de Janeiro. Novamente Rodrigo destaca a organização como responsável pelo resultado final. “Não fomos pegos de surpresa pela crise. A Mocidade estava antenada e se preparou para um carnaval orçado com o pé no chão. Isso nos permitiu trazer a inovação, de novo, como marca da escola. Temos novidades e diferenciais neste desfile”, afirma.
Dentro do Barracão
Além do controle administrativo, um passeio pelo barracão da escola, na Cidade do Samba, e conversas com funcionários dos mais diversos setores, deixam claro que o bom ambiente de trabalho oferecido por uma das melhores estruturas entre as escolas do Rio faz com que cada personagem envolvido nos trabalhos vista a camisa da Mocidade. O rendimento é fruto do sentimento de pertencimento. É neste setor que entra o trabalho de Marcelo Plácido e Alan Duque, os diretores do barracão. Espécie de prefeitos, Fotos: Rodrigo Pacheco, Diego Mendes e Jefferson Rodrigues
Marcelo Plácido, diretor do barracão. Cuida de toda a produção do desfile e acompanha as alegorias para a avenida e no retorno ao barracão.
eles são responsáveis por gerir cada parte envolvida no processo de construção de um desfile. Acompanhar um dia na rotina de Plácido é mergulhar de forma intensa na logística de um desfile. Ao mesmo tempo em que confere plantas de carros alegóricos, ele controla os estoques de almoxarifados, conversa e dá atenção aos funcionários e, se preciso, pega numa vassoura e varre o ambiente.
Barracão da Mocidade na primeira semana de janeiro de 2016.
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“Não me sinto à vontade dentro de uma sala, eu gosto de estar com eles e ver de perto a evolução de cada trabalho. É andando pelo barracão que eu vejo o ritmo, troco ideia com o pessoal, percebo coisas que podem ser mudadas ou melhoradas. Aqui é uma grande família. A Mocidade é isso”, revela Marcelo Plácido, frequentador da escola desde a adolescência.
Pro samba não atravessar
bem a pronúncia da letra, controlar a respiração. Depois disso é que vamos andar e movimentar pela quadra e aí ir para a rua. Ninguém das alas tem retorno ou domínio musical como o carro de som, então trabalho também a volta desse canto após as bossas ou paradinhas da bateria. O dez só vem quando estamos afinados nessas características. E não podemos pensar na comunidade somente como quem quer títulos. Eles querem também o abraço da escola”, explica o diretor que tem formação militar no currículo.
Enquanto a logística se prepara para que cada efeito especial, iluminação ou detalhe técnico funcione perfeitamente no dia do desfile, Rômulo Ramos, diretor de carnaval e harmonia da Mocidade, foca seu trabalho no elemento mais importante: a comunidade. Responsável pela nota máxima no desfile de 2015, ele trabalha para que cada componente cumpra o seu papel na avenida, sem deixar o samba atravessar ou que espaços, os “buracos”, sejam abertos entre as alas. “Eu trabalho o canto da escola em diversas situações. Quando recebemos o samba, treinamos parados para o cara aprender
Rômulo Ramos, diretor de carnaval e harmonia. Em 2015 ele garantiu a nota máxima no quesito.
Ensaios da Mocidade. Direção de harmonia trabalha o canto e a evolução dos componentes em conjunto com as bossas e paradinhas da bateria.
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Fotos: Gabriel Franco e Eduardo Hollanda
Os rumos da folia
A rotina de uma escola de samba ainda vai muito além desse pouco que relatamos aqui, mas a palavra-chave que resume tudo, principalmente em tempos de crise, é: profissionalização. E a saída para continuar levando grandes espetáculos para a Marquês de Sapucaí não passa necessariamente por quantias milionárias. As soluções podem estar bem ao alcance das mãos. “O carnaval não tem como regredir. A saída está na criatividade. As escolas vão ter que trabalhar o processo de criação buscando materiais alternativos, reaproveitando materiais e fazenRodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade. Ele aposta no planejamento e do um desfile cada vez mais sustentávisão empresarial para fortalecer a gestão da escola. vel. Estamos fazendo isso na Mocidade e temos visto um bom resultado. E encontrar formas geradoras de receita como temos a nossa quadra, o Sócio Torcedor, e outros projetos que iremos colocar na rua nos próximos meses”, afirma Rodrigo Pacheco.
Definição do enredo. Carnavalescos trabalham nas pesquisas e desenhos de fantasias e alegorias Após o desmonte do desfile anterior, tem início a vistoria de pneus, motores e chassis das alegorias
A partir dos desenhos dos carnavalescos começa a produção das fantasias
Direção de barracão recebe plantas dos carros alegóricos. Início da compra de materiais
Carros alegóricos começam trabalho de ferragem Revista Mocidade 2016
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Produção de esculturas e adereços dos carros
Carros recebem trabalho de carpintaria
Com os protótipos de fantasias prontos tem início a reprodução das alas Carros começam a ser decorados e recebem as esculturas Com as alegorias finalizadas, algumas peças são desmontadas e cada carro é embalado Processo de entrega das fantasias para os componentes Madrugada da véspera do desfile: os carros seguem em comboio para a concentração Concentração na tarde do dia do desfile: carros são desembalados e recebem os últimos reparos e ajustes
80 artistas de Parintins trabalharam na Mocidade para o carnaval 2016
240 funcionários estiveram envolvidos na preparação do desfile 44
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Fim do desfile: retorno das alegorias para o barracão
Por Iracema Martins
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re-pa-ra, Mocidade! A poderosa Anitta vem mostrar todo o seu talento estreando como Musa da escola neste carnaval 2016. Carioca da gema, a cantora vai unir na Marquês de Sapucaí o melhor de dois universos típicos do Rio de Janeiro: o funk e o samba. E samba no pé, ela garante! Apresentada à Nação Independente na festa de 60 anos da escola, realizada em novembro de 2015, Anitta mostrou empolgação e muito amor pela escola. Nas redes sociais ela deixou claro toda sua felicidade em estar com a escola. “É muita emoção. Já amava Padre Miguel... agora então. Vai ser lindo a gente na Avenida”.
Esta não é a primeira vez da cantora nas terras Independentes. Anitta já fez várias apresentações na quadra da Mocidade, incluindo um show gratuito no dia das crianças em 2015 (veja matéria na página 54). Em declarações para a imprensa, a cantora já deixou claro seu carinho e afinidade com a escola. Portanto, supernatural que quando o convite foi feito, o sim aconteceria. Mas ser Musa não é apenas um título. Anitta chega à avenida como destaque de chão e com uma grande responsabilidade: representar Dulcinea, a mulher ideal de Dom Quixote, personagem da obra de Miguel de Cervantes. No livro, o cavaleiro dedica todas as suas vitórias e feitos a Dulcinea e é à ela que ele invocava antes de qualquer batalha. Ser a musa inspiradora do herói não é para qualquer uma. Papel perfeito para a Anitta, um dos maiores nomes da música brasileira da atualidade, com uma legião de fãs fiéis e que, a cada dia, conquista mais espaço entre o público de todas as idades. Samba, simpatia e carisma já sabemos que não faltarão. Agora é esperar pela Marquês de Sapucaí e, a plenos pulmões, mostrar que a Mocidade não foge à luta! Seja bem-vinda, Anitta! Foto: divulgação
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Por Junior Silva
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oi “rasgando o coração dessa cidade” que a Mocidade pisou na Sapucaí em 1994 para cantar a Avenida Brasil, caminho obrigatório para quem vai à Padre Miguel. Recentemente, essa avenida, espécie de microcosmos do país que lhe dá nome, ganhou fama nacional pela teledramaturgia e também pelas constantes transformações que vem passando nas obras para as Olímpiadas do Rio de Janeiro. E foi de “carona na estrela” que a Mocidade desembarcou na Avenida Brasil, altura do número 31.146, para sediar sua nova quadra, o “Maracanã do Samba”.
Inaugurada em setembro de 2012, a quadra da Mocidade é a maior entre as escolas de samba cariocas com 33 mil metros quadrados e capacidade para 12 mil pessoas. Sua estrutura completa possui 1.700 metros quadrados de térreo, 28 camarotes no segundo andar (sendo o maior deles com 32 metros quadrados), sistema de climatização, duas mil vagas de estacionamento e vagas exclusivas para convidados com acesso direto aos camarotes.
Eventos que geram receita Em uma época em que é cada vez mais importante que as escolas de samba busquem fontes geradoras de recursos, a estrutura oferecida pela quadra da Mocidade fez dela uma opção perfeita para a realização de grandes shows e eventos. De acordo com Rodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade, atualmente os eventos realizados na qua46
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dra da escola são responsáveis pelo financiamento de 70% do carnaval. “Os resultados de nossa quadra dão a possibilidade de levarmos para a avenida, com certa tranquilidade, um carnaval grandioso, sem sentir diretamente os efeitos da crise que cortou patrocínios e importantes subvenções para as escolas de samba”, afirma.
Somente em 2015 passaram pelo palco da Mocidade dezenas de artistas e bandas, como Zeca Pagodinho, Luan Santana, O Rappa, Jorge Aragão, Péricles, Tiaguinho, entre outros. Além do Rio Mix Festival que arrastou uma multidão em julho. “A Zona Oeste precisava de um espaço assim que trouxesse os grandes artistas pra cá e a Mocidade merecia uma quadra que desse todo esse conforto para nossa comunidade”, opina Márcia da Silva, moradora de Padre Miguel e, segundo ela, frequentadora assídua dos eventos na escola. É com essa ampla visão de gestão que a Mocidade vem recebendo grandes artistas do cenário artístico brasileiro, levando ao público carioca opções variadas de entretenimento, passeando pelos mais variados estilos musicais, entrando de vez para o circuito cultural da cidade, e tornando-se uma referência na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Fotos: Eduardo Hollanda, Igor Lima e Divulgação
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Carnaval: Nesse hoje carnaval universal não mais cabem o romantismo ou o amadorismo, sim, porque o tamanho dos investimentos feitos não permitem. E mais, aqueles que não acompanharam o crescer do carnaval, não se profissionalizaram, e ficaram vivendo da história passada de suas escolas de samba, estão batendo de porta em porta buscando uma camisa. O crescimento ano após ano através de um século fez com que a profissionalização e especialização dos nossos sambistas fossem de obrigatoriedade ímpar para que não ficassem de fora do mercado, já que como nos carnavais românticos e amadores essa necessidade não era cobrada, bastava apenas ser sambista de fato e dentro de sua escola e teria a sua chance. No atual carnaval já não mais é assim, quem não tiver além do conhecimento da história, saber como e quando vai mal um segmento durante suas apresentações, conhecer nem que seja o básico da administração de uma pequena empresa, recursos humanos e de logística, não vai conseguir lidar com todas as situações que surgem no cotidiano das hoje grandes, médias e pequenas empresas chamadas escolas de samba da Mega Indústria Carnaval. Carnaval Empresa: Somos hoje o segmento da Sociedade Civil Privada que mais emprego disponibiliza para o mercado de trabalho da arte e da cultura. E quando falamos de arte e cultura sabemos do que estamos falando, pois o nosso dia a dia passamos no interior de um barracão de escola de samba e/ou numa quadra ou até mesmo noutro ambiente onde também se respira o carnaval. Já pararam para pensar quantas são as profissões que hoje estão a serviço do nosso majestoso e brilhante carnaval? São várias, mas vamos citar aqui algumas para que tenham a noção da nossa afirmativa sobre o carnaval empresa: Nível Superior: administração, logística, desenho, arquitetura e engenharia, moda, direito, educação física, dança, informática, assistente social, pedagogia, teatro, marketing, jornalismo; Níveis Médio e Técnico: desenho, moda, mecânica, serralheria, marcenaria, pintura, borracharia, cozinheiro, eletricista, sapateiro, auxiliar de escritório, despachante, motorista, artesão, costura, bordado, escultor, músico, cantor, segurança, almoxarifado; Nível Fundamental: auxiliar de serviços gerais, porteiros. Temos ainda para destacar algumas profissões específicas do carnaval, tais como: direção de carnaval, direção de harmonia, direção de bateria, direção de barracão, coreógrafos, ritmistas, músicos, cantores, locutores, seguranças, etc, todos esses profissionais acima citados são remunerados. Carnaval Família: Foi assim até bem pouco tempo, nos dias de hoje o que se vê
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são várias pessoas oriundas de famílias tradicionais, aqueles que participaram das fundações dessas instituições chamadas escolas de samba, chegarem para as atuais administrações e outras pessoas ligadas as direções dessas escolas dizendo “eu sou filho (a) do fulano (a), sou neto (a), sou ou fui amigo do senhor...” Desde a nossa criação, vinda do entrudo, dos blocos, das Grandes Sociedades e de outras manifestações carnavalescas até nos formarmos escolas de samba, temos esse elo familiar de ligação, pois a quase totalidade de nossas agremiações nasceram num terreiro (quintal) de alguma família, ou vieram dos encontros de amigos nos bares, trabalho ou num campo de pelada (jogo de futebol) na várzea. Continuamos sendo essa grande família, mas não podemos esquecer que devido às mudanças acontecidas no mundo, e para que pudéssemos acompanhar essa revolução industrial e econômica imposta pelo capitalismo, também crescemos, e se crescemos nos tornamos o maior espetáculo a céu aberto do planeta terra, espetáculo que hoje mais está para a teatralização do que para o samba dançado com o corpo e com a alma como fora um dia. Carnaval Comunidade: O que se entende sobre comunidade não é alcançado por muitas das pessoas que militam no meio, daí alguns segmentos não aceitarem que os enquadramos como sendo da comunidade de sua escola de samba. Comunidade é “qualidade de comum, corpo social... Grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa, local por elas habitado...”. Quando estamos falando da comunidade de uma escola de samba, podemos entender que todos aqueles que fazem parte dos seus quadros são pessoas dessa comunidade. Diretoria como um todo, velha-guarda, baianas, bateria, passistas, destaques, compositores e todas as alas que pertençam sejam comercial ou comunitária. Grandes Negócios: Como não ver e entender assim o carnaval? Carnaval esse que mesmo tendo vida própria e alimentando outros setores de uma sociedade, movimenta industrias, comércio, turismo interno e externo, transporte, rede hoteleira, gastronômica e tantos outros. Esse mesmo carnaval, para que sobreviva e possa se renovar a cada ano, vive de pires na mão para cumprir uma agenda vinda hoje de mãos que nada tem a ver com sua história, pois não está subordinado a um órgão de arte e/ou de cultura. Fica aqui a pergunta: porque o nosso carnaval ainda não tem a sua secretaria? Rômulo Ramos é diretor de carnaval e harmonia da Mocidade Independente de Padre Miguel
Por Junior Silva
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riado em 1983, pelo lendário Sr. Didiu, o Festival do Refrigerante tinha como principal objetivo atrair a garotada da Vila Vintém, em Padre Miguel, para dentro da escola de samba, formando uma nova geração de sambistas e dando a esperança e oportunidade de fazerem parte de um momento que se tornasse inesquecível.
Mais tarde, no início dos anos 2000, conduzido por Celia Andrade o festival ganhou uma nova proporção, com distribuição de presentes e a criação de um grande parque com brinquedos infláveis dentro da quadra da escola.
Naquela época a escola encontrava dificuldades em preencher sua ala das crianças e o festival, na cabeça de seu criador, seria uma forma de atraí-las para dentro dos desfiles da Mocidade Independente. Ao longo dos anos, assim como a escola mãe, o festival foi se transformando e ganhando expressividade, resultando na criação da escola mirim Estrelinha da Mocidade, em 1992.
Tia Graça com a equipe organizadora do Festival 2015.
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Em 2015, o Festival do Refrigerante marcou o retorno de Celia Andrade para a Mocidade Independente, depois de quatro anos afastada. “Voltar para a Mocidade foi muito bom, senti falta dessa escola, de fazer o trabalho social e de viver o dia a dia da Estrelinha”, conta, emocionada. Ao lado de Cintia Abreu, atual vice-primeira-dama, e Tia Graça, responsável pelo departamento Comunitário, elas decidiram retomar a grandiosidade do festival, inserindo shows com artistas e ampliando a distribuição de brindes, doados por parceiros da escola.
Celia Andrade e Cintia Abreu, organizadoras do Festival do Refrigerante 2015.
Alguns dos presentes distribuídos na edição 2015 do Festival.
Para Cintia Abreu, organizar o festival foi a oportunidade de proporcionar um pouco do que ela já viveu em sua infância. “Que criança não gostaria de ganhar uma bicicleta? É uma forma de realizar o sonho que talvez não pudesse ser realizado se não fosse através da Estrelinha”, afirma.
O trio social da Mocidade garante que foi apenas o início da retomada dos eventos que estavam esquecidos na história da escola. Para 2016, além de uma edição ainda maior do festival, está nos planos trazer de volta a grande festa de Natal para a comunidade Independente.
O festival de 2015 marcou um novo momento para as 10 mil pessoas presentes na quadra. Pelo Palco Mocidade passaram artistas como Anitta, Nego do Borel, MC Biel, MC Duduzinho, bateria da Estrelinha da Mocida-
Nego do Borel e Mc Duduzinho. Quadra da Mocidade ficou lotada durante todo o evento.
Mc Biel durante o show. Todos os artistas doaram seus cachês para a realização do evento.
de e uma apresentação inesquecível do Unicirco, do ator Marcos Frota. Foram distribuídos, também, centenas de presentes entre bicicletas, bolas, skates, bonecas e jogos lúdicos, além de sacos de doces e muitas guloseimas.
Anitta durante sua apresentação.
Moradora de Realengo, a manicure Sandra Regina dos Santos compareceu ao evento acompanhada do marido e de seus dois filhos. Ela ressaltou a importância da festa para a comunidade. “Não é meu caso, graças a Deus, mas vemos muitas famílias carentes por aqui e essa ação da Mocidade é digna de muitos aplausos e elogios. Para os meus filhos não falta nada. Meu marido e eu podemos dar uma vida tranquila a eles. Temos vizinhos que não tem essa mesma condição e não conseguem opções de divertimento. Esse tipo de evento traz sensação de dignidade para muitos deles”, afirmou. Fotos: Junior Silva e Eduardo Hollanda
Equipe organizadora do Festival durante o evento. Revista Mocidade 2016
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Você sabe a diferença entre uma bruxa e alguém vestido de bruxa? Você pode pensar: monstros não existem. Mas veja: se alguém criou, ele existe. Se existe, pode ter um agorinha mesmo ao seu lado. Vai duvidar? Esse carnaval será diferente do que aquele que passou. Vamos lançar um desafio. Convidamos os personagens das profundezas das histórias de terror e você vai ter de adivinhar: é real ou não é? Mas lembre-se da pergunta: você sabe a diferença entre uma bruxa e alguém vestido de bruxa? Está a fim de descobrir? Preparem os seus espíritos, que o desafio está lançado! E não adianta se esconder: os personagens saíram do Castelo Assombrado para curtir o carnaval. Mas não precisa ter medo! Conde Drácula reuniu todos os seus amigos: vamos passar o carnaval no Rio de Janeiro! Frankenstein abraçou a Múmia, toda garbosa, e já foi contando histórias para a Família Adams – Todos ansiosos pra cair na folia. E olhem só: até a Bruxa Má do Oeste veio requebrando tudo. A Noiva que estava cansada de estar morta, veio com seu noivo para dançar. Saindo em bloco pelos jardins do Castelo, se uniram os zumbis, espantalhos, corvos, terríveis aranhas, lobisomem e outros seres que moram na floresta e que todo mundo morre de medo. Ou de rir! Buuuuuuuuuu uma grande travessura ou um delicioso doce? Com a chegada ao Brasil, vêm chegando também a galera que faz muita criança fazer xixi na cama. Afinal, que não
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tem medo do Alma de Gato? Mas não precisa ter! Ele veio com o Chibamba, Saci-Pererê, Mapinguari com pandeiro na mão e samba no pé. Cuidado com a Cuca, que ela te pega! E se der mole, o Boi da Cara Preta também! Só se for para fazer muita festa e trazer alegria. Curupira e Boitatá, bobos que não são, vieram conferir o nosso carnaval. No tocar do relógio, as Caveiras levantaram da tumba e vieram saracotear com o CorpoSeco, louquinhos pra sambar. Pois bem, chegaram todos. Que comecem o baile! Afinal, os monstros também sambam! Então, topa o nosso desafio? Presidente: Célia Andrade Vice-Presidente: Graça Carnavalesco: Levi Cintra Diretor de Carnaval/Harmonia: Gabriel Azevedo e Paulinho Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Jefinho e Edna (Fofinha) Intérprete: Millena Wainer Mestre de Bateria: Pimpolho
Foto: Riotur
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ossa mente é capaz de criar coisas em que acreditamos e depois temos medo delas. Por exemplo: o bicho-papão. Alguém aqui já viu algum? Todo mundo sabe que ele existe. E tem medo dele. Ou não existe?
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Fotos: Jefferson Rodrigues e Junior Silva
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um só tempo, atualizar um clássico e extrair dele novas interpretações. E se o mundo é um carnaval onde tudo se mistura, transpondo espaço e tempo, com as bênçãos da Literatura, Padre Miguel invoca Cervantes, que também é Miguel, e juntos despertam Quixote no Brasil de La Mancha, um país mergulhado em escândalos, mas, ao mesmo tempo, clamando por justiça e paz. Acreditando que só um cavaleiro sonhador é capaz de lutar com gigantes que, por sua própria natureza, subtraem dos mais humildes o dom da esperança. Padre Miguel sonha com tempos mais justos. Encontrar os pobres Pixotes, os meninos, dos sonhos roubados, Quixotes às avessas, dão ao cavaleiro de
Foto: Arquivo André Luís
á quatrocentos anos, Miguel de Cervantes escrevia aquela que seria considerada uma das mais influentes obras de arte da humanidade: Dom Quixote de La Mancha, a história de um cavaleiro andante que, em seus devaneios, percorre a Espanha, montado em seu cavalo Rocinante, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança. Fiel a sua amada Dulcinéia e a seu sonho, Quixote se vê como um arauto da justiça, esperança e paz. Espiritualista e fascinado por livros, ao lado de um Sancho, materialista e objetivo, forma o panorama, ainda atual, de uma sociedade que, infelizmente, cada vez mais, se afasta dos ideais cavaleirescos de respeito ao próximo e ao bem comum. Comemorar, junto a Mocidade Independente de Padre Miguel, os 400 anos da imortalidade de Cervantes, em 2016, é, a
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Ilustração: Candido Portinari - Dom Quixote e Sancho Pança Saindo para Suas Aventuras (1956)
Foto: Jefferson Rodrigues
verde de esperança e branco como a paz, para limpar as manchas que nos assombram desde sempre.
Cervantes um objetivo. Entre os tantos fatos, ratos, jatos, esquemas desnecessários ao sistema, o cavaleiro, confundindo torres eólicas com torres de petróleo, percebe que o Brasil, por vezes, se comporta como um moinho que “tritura os sonhos e reduz as ilusões a pó”. É urgente olhar adiante sem medo de reescrever o futuro.
Nesse momento, ao lançar jatos de felicidade (e não qualquer jato que remeta a operações fraudulentas), a literatura se faz realidade, deixa de ser palavras soltas e vai às ruas, com palavras de ordem, exige mudança. É nessa hora que vale a pena ter vivido e ter lutado, porque essa é a hora da redenção, hora em que pessoas simples se transformam em deuses na apoteose da vida, essa é a hora da estrela... A hora do carnaval. Seremos verdadeiros campeões na hora em que a educação deixar de ser o sonho de um cavaleiro errante e se tornar prioridade em um Brasil sem manchas. Esse é o enredo que Padre Miguel sonha para a Mocidade, uma Mocidade educada e cheia de esperança em dias melhores.
O enredo de 2016 nasceu numa sala de aula, lendo o clássico com os alunos. É, portanto, uma homenagem a todos os professores sonhadores que enfrentam os moinhos gigantes do descaso com a educação. Resgatando nos alunos o dom de sonhar, sonhei com um cavaleiro que abandona as lanças e os escudos e se agarra a livros e lápis para defender o Brasil de toda mancha. Assim, Quixote resgata a esperança, e descobre esse horizonte que se chama futuro, repensando-o, reescrevendo-o. No nosso enredo, cansado com tantas manchas, depois de quase enlouquecer, o cavaleiro percebe que o respeito ao próximo é a chave que conduz a felicidade, que está na educação a salvação para a Mocidade, carente de bons exemplos, confiante em tempos melhores. E já que os homens aprendem em comunhão, ele descobre que está na educação transformadora a possibilidade de transformar aqueles Pixotes em novos Quixotes, assim restaura-lhes o sonho perdido, devolvendo-lhes o “dom” maior, o dom de acreditar no futuro. Inspirado com o que viu e leu e, ao mesmo tempo, inspirando aqueles que o seguem, Quixote conclama a todos a se unirem para formar um grande exército -
André Luis da Silva Junior é professor de Português, Inglês e mestre em Literatura Comparada. Foi jurado de enredo nos carnavais de 2012 a 2014 dos grupos Especial e Acesso. É o autor do enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel para o Carnaval 2016. Revista Mocidade 2016
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Antes de dedicar-se a literatura, Miguel teve uma vida pra lá de animada e movimentada. Ainda jovem escolheu o exército como carreira. Aos 22 anos, já se envolvia em uma confusão até hoje mal esclarecida, em que foi obrigado a fugir para a Itália. Segundo alguns registros, ele teria, de formas ainda obscuras, atingido outro homem em um duelo. E lá na Itália, Miguel teve contato direto com o Renascimento em seu ápice. Os tempos naquele país foram primordiais para sua formação artística como autor. Ainda no exército, em 1571, Miguel participou da Armada dos Cristãos contra o Império Otomano. Durante a Batalha de Lepanto, acredita-se que ele teria perdido a mão esquerda. Para completar esse “mar de rosas”, Cervantes acabou preso por piratas argelinos, ficando cinco anos em Argel, capital do país africano. Após ser resgatado, ainda passou mais quatro anos no exército, e ao retornar para a Espanha, editou sua primeira novela, La Galatea. Como nem só de batalhas vive um homem, Cervantes casou-se em 1585 com Catalina de Salazar e foi viver na região de La Mancha, dedicando-se ao teatro. Mas o sucesso não veio e ele juntou-se ao governo
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do rei Felipe II, a princípio como comissário de provisões da Invencível Armada espanhola, e depois como cobrador de impostos da coroa. Com a quebra do banco onde eram depositadas as arrecadações, Cervantes acabou preso. E, nesse caso, podemos dizer que os males vieram para o bem. Foi na prisão que nasceu o projeto de “Dom Quixote de La Mancha”. Em 1605, aos 58 anos, Miguel de Cervantes conseguiu publicar a primeira parte da obra. Intitulado O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, o livro o consagrou na literatura e permitiu que ele, finalmente, pudesse viver exclusivamente da escrita. Apesar de uma falsa continuação ter circulado em 1614, a segunda parte da obra foi publicada oficialmente em 1615, com o nome de O Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de La Mancha. Além de Dom Quixote, Cervantes legou para a história novelas, antologias poéticas e peças teatrais, tais como: A Numancia, O trato de Argel, O cerco de Numancia, O ciumento de Extremadura, entre outros. Os personagens Dom Quixote, Sancho Pança, Rocinante e Dulcinéia podem ser considerados patrimônios da humanidade, servindo de inspiração para diversos artistas mundo a fora. O livro é considerado o mais importante da literatura mundial. Miguel de Cervantes faleceu em 23 de abril de 1616. Seus restos mortais foram depositados no Convento de Las Trinitarias Descalzas, em Madri, e descobertos em março de 2015.
Foto: Riotur
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onsiderado o maior autor da língua espanhola, Miguel de Cervantes nasceu em 1547. Acredita-se que a data de sua chegada ao mundo tenha sido 29 de setembro, visto que naquela época era costume nomear os filhos com o santo do dia, neste caso, São Miguel Arcanjo. Filho de cirurgião, Miguel de Cervantes morou em vários lugares da Espanha. De Alcalá de Henares, local de seu nascimento, a Madri e Sevilla.
da ardo Holan Fotos: Edu
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Fotos: Eduardo Maia e Eduardo Holanda
landa Fotos: Eduardo Ho
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atheus Henrique Rossi, morador de São Carlos (SP), foi pego de surpresa quando atendeu o celular no dia de seu aniversário em outubro de 2015. Do outro lado da linha estava Bruno Ribas, intérprete da Mocidade Independente de Padre Miguel. Torcedor fanático da escola, ele custou um pouco a acreditar que a voz que sempre ouvia por CDs ou nas transmissões dos desfiles pela televisão estava falando com ele para desejar um feliz aniversário. “Foi emocionante, marcante e único. É algo que só eu e os demais Independentes sabemos explicar. Ali eu tive a certeza de que a minha Mocidade tinha deixado as telas da TV e, enfim, entrado na minha vida”, resume. Sair da quadra e do barracão na Cidade do Samba e entrar na vida dos torcedores espalhados pelo Brasil e pelo mundo tornou-se uma meta ambiciosa para a Mocidade Independente desde a reeleição da chapa Vô Ma-
cumba/Rodrigo Pacheco. Para atingir tal objetivo uma série de ações foi posta em prática de forma a criar uma rede de comunicação e interatividade que permitisse que a escola pudesse não só divulgar notícias, mas ouvir torcedores, receber sugestões e reclamações e, principalmente, se fazer presente. “A reconstrução que temos feito da Mocidade para colocá-la de volta na disputa do carnaval passa também pela nossa torcida. Temos torcedores que marcam presença nas redes sociais, que cobram muito e que querem saber do dia a dia da escola. Então buscamos desenvolver projetos que nos aproximassem desses apaixonados. A internet nos permite isso e a Mocidade está sabendo usar todas as ferramentas para fazer essa conexão com o torcedor que mora aqui no Rio de Janeiro e com os demais estados e até mesmo outros países”, conta o vice-presidente da escola, Rodrigo Pacheco.
Presença na web
A reestreia da Mocidade no mundo da internet veio em grande estilo. Em julho de 2015 a agremiação colocou no ar um novo site, o maior e mais completo portal de uma escola de samba do Rio de Janeiro na web. Após um 60
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grande trabalho de apuração, coleta de fotos, áudios e entrevistas, o Portal Mocidade Independente disponibiliza o acervo histórico completo da escola, com desfiles, personalidades, acontecimentos, curiosidades e hotsites de todos os carnavais, ano a ano. O site pode ser considerado o epicentro virtual da escola. Para quem quiser viver a Mocidade Independente sem ir até a Cidade do Samba, o Portal Mocidade é uma segunda casa.
E como na internet a distância é irrelevante, outro privilégio que se ganha é o de estar sempre próximo. Através de sua Fan Page no Facebook e página no Twitter, a Mocidade consegue, hoje, estreitar sua relação com seus torcedores. Além de levar notícias e informações quase em tempo real, as redes sociais da escola recebem críticas, sugestões e elogios não apenas sobre o carnaval, mas sobre quase tudo que é referente à escola. Tantos comentários só aparecem graças a uma torcida realmente orgulhosa e apaixonada, que merece ser ouvida e respondida – todas as perguntas feitas nas redes sociais não ficam sem resposta ou interação.
Independente na Identidade Buscando inspiração em programas já desenvolvidos por diversos times de futebol brasileiros e escolas de samba paulistanas, a Mocidade atendeu a um pedido antigo de sua torcida e lançou um programa de Sócio Torcedor, o Independente na Identidade. Revista Mocidade 2016
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Os interessados podem optar por planos de pagamento mensal, trimestral ou semestral e têm acesso a uma rede de benefícios dentro da escola e também em empresas parceiras espalhadas por todo o Brasil. Paulo Roberto Mesquita fez sua adesão ao plano semestral por amor à escola e tirou a sorte grande: foi um dos sorteados para conhecer o barracão na Cidade do Samba às vésperas do desfile. “Foi um dia que jamais passou na minha cabeça que pudesse acontecer, e literalmente realizei meu sonho. Poder ver como é feito o carnaval da Mocidade, conversar com os profissionais e ser tão bem recebido”, conta. Cartão Sócio Torcedor da Mocidade
Além de proporcionar facilidades e benefícios para os apaixonados pela escola, o programa de Sócio Torcedor também funciona como uma fonte geradora de recursos, que podem ser aplicados na produção do desfile ou nos gastos cotidianos da agremiação. O resultado é que tanto a Mocidade quanto a sua torcida saem ganhando.
Sócios Torcedores da Mocidade em tour ao barracão na Cidade do Samba. Foto: Jefferson Rodrigues
Buscando atender à demanda por produtos que não ficassem limitados unicamente à temática dos enredos, a Mocidade Independente decidiu investir na criação de uma grife, com roupas e acessórios diferenciados. São camisas polo, camisas de malha e regatas que trazem o mascote da escola, o castor, como símbolo da linha exclusiva.
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G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Fundação: 10 de novembro de 1955
Campeã do Grupo Especial: 1979 - 1985 - 1990 - 1991 - 1996
CARNAVAL 2016 Presidente: Wandyr Trindade (Vô Macumba) Vice-Presidente: Rodrigo Pacheco Presidente de Honra: Rogério de Andrade Carnavalescos: Alexandre Louzada e Edson Pereira Intérprete: Bruno Ribas Mestre de Bateria: Mestre Dudu Presidente de Bateria: Mestre Jorjão Diretor Musical: José Mauro Mendes Rainha de Bateria: Cláudia Leitte Musas da Escola: Anitta e Fabíola Andrade Diretor Geral de Carnaval e Harmonia: Rômulo Ramos Diretores de Barracão: Marcelo Plácido e Alan Duque Coreógrafos da Comissão de Frente: Jorge Teixeira e Saulo Finelon 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diogo Jesus e Cristiane Caldas 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diego Machado e Elaine Santos Coordenadora da Ala de Baianas: Tia Nilda Coordenador da Ala de Passistas: George Louzada Coordenador dos Destaques: Maurício D’ Paula Vice-Presidente Cultural: Renato Buarque Assessor de Imprensa: Rodrigo Coutinho (Elloo Comunicação)
Quadra:
Av. Brasil, 31.146 – Padre Miguel – CEP: 21.725-001 Rio de Janeiro – RJ
Barracão:
Cidade do Samba – Barracão nº 10 Rua Rivadávia Correa, 60 – Gamboa – CEP: 20.220-290 Site Oficial: www.mocidadeindependente.com.br Fan Page: www.facebook.com/MocidadeOficial Twitter: @gresmipm Instagram: @mocidadeoficial