,
RVATO 10 Itau Cultural
c."", Os OrixJ, na F"sla. 1986 61eo sob,e tela 50x70cm Rep'odu~~
digital 'C.rybe", Bruno Furrier. Sa lvador: Fund , Em~io Odebrecht. 1999 lB ,2 x IVl em - p_ 4 17
Centro de Documenta([ao e Referencia Itau Cultural Revista Observat6rio ftau Cultural : Ole. - N. 14 (maL 2013). Sao Paulo: Itau Cultural. 2013. QuadrimestraL
ISSN 1981-12SX 1. Polftica cultural. 2. Gestao cultural. 3. Arte no Brasil. 4. Setores artlsticos no Brasil.
S. Pesquisa. 6. PrOdU'i30 de conhecimento. L Titulo: Revista Observatorio Itau Cultural.
CDD 353.7
o
BSERVATORIO
2013
Itau Cultural
SUMARIO .06
AOS LEITORES Paulo Miguez
.10
NOVaS LUGARES DA FESTA - TRADI<;OES E MERCADOS Bruno Cesar Cavalccmti
.21
A FESTA COMO PATRIMONIO CULTURAL: PROBLEMAS E DILEMAS
•
DA SALVAGUARDA Marcia Sant' Anna .31
EXTASE E EUFORIA: UM BINOMIO ESTRATEGICO PARA A
COM PREEN sA.o HISTORICA DO CARNAYAL CONTEMPORANEO M il ton Moura
.39
FESTAS POPULARES BRASILEIRAS - ENTREVISTA/CONVERSA COM
MARIA: LAURA VIVEIROS DE CASTRO CAVALCANTI Paulo Miguez
.51
FESTEJANDO Felipe Fe rre ira
.61
BRASIL: 0 PAIS DE MUITOS CARNAYAIS
Fred Goes .71
~ .. .DO FREya E DO MARACATU PERNAMBUCA NO Carlos Sandroni
.89
"0 AuxfLiO LUXUOSO DA SANFONK TRADI<;Ao, ESPETAcULO E
H :
MUSICA E FESTA NO CARNAVAL
MfolA NOS CONCURSOS DE QUADRILHAS JUNINAS Luciana Chianca
.101
•
FESTAS E IDENTIDADES NA AMAZONIA Jose Maria da Silva
.121
FESTA: A FORMA PARAALEM DO CONTEUDO Susana Gastal e Liliane S, Gu terres
.131
MUITOS (OUTROS) CARNAVAIS Paulo Miguez
Revista Observatorio Itau Cultural
N. 14 Editor Paulo Miguez Edio:;:ao de imagens Josiane Mozer Laerte Matias Paulo Miguez Rafael Dantas Gama Figueiredo Equipe de edio:;:ao Celso Demetrio Justo Silva Filho Josiane Mozer Rafael Dantas Gama Figueiredo Selma Cristina Silva Produo:;:ao editorial Raphaella Rodrigues Projeto grafico Jader Rosa Design Estudio Lumine Revisao de textos Cio:;:a Correa Rachel Reis Colaboradores desta edio:;:ao Bruno Cesar Cavalcanti Carlos Sandroni Felipe Ferreira Fred Goes Jose Maria da Silva Liliane S, Guterres Luciana Chianca Marcia Sant' Anna Maria Laura Viveiro de Castro Cavalcanti Milton Moura Paulo Miguez Susana Gastal
Apre"" nta<;k> de quodrlha durante a fe>ta juni na, ern Camp"'" G rande. P",aiba.
Foro. Rub.", a....-../F~."
AOS LEITORES
A Festa e a melhor traduo;iio do que somos. os brasileiros. como povo, como cultura. Sagradas. profanas ou e m transito tenso e intenso entre estas duas dimens6es. mobilizando peq ue nas comunidades ou re un indo gran des multid6es. as festas p ub licas brasileiras constitue m um amplo. vigoroso e colorido caleidosc6pio que reune das celebrao;6es em louvor aos santos padroeiros rea lizadas nos peq ue nos povoados aos grandes carnavais. as festividades jun inas do Nordeste. aos fes tivais amazonicos e dos estados do Sui do pafs. Nada estranha. convenhamos. a imagem do Brasil como um pafs da fe sta. de mui tas festas. A legitimar e garantir historicidade a esta imagem. 0 legado das fol ias indfgenas que ja aqui estavam a ntes mesmo de sermos Brasil e dos repert6rios festivos que atravessara m 0 Atlantico: as p rodss6es e cortejos iberico-cat6Iico-barrocos que chegaram a bordo das carave las lusitanas e os batuques trazidos pelas mares da escravidiio. 0 que resulta daf, da mistura destas fo lias. e um mosaico de festas e celebrao;6es que se constitui como a mais viva e brilhante expressao da nossa divers idade cultural. uma especie de -p rova dos nove"' do modo de vida brasileiro. Mas. ateno;ao: Fe sta nao e sinon imo tao somente de musica. dano;a , celebrao;ao . alegria. Na sua te ssitura entram mu ltiplas tensoe s: dela emergem muitas disp utas, Sao, semp re, e caracteristicamente , uma a rena de conn itos,
Efato que potentes transformao;6e s contem porane as ag regara m novas dispu tas ao universo de fes tas e celebrao;oes. Referimo-nos. aqu i, ao desloca me nto das festas do ambi to da comunidade. lugar privi legiado de sua organizao;ao. para 0 campo da cultura de massa por conta da apropriao;ao das praticas fest ivas pela industria do e ntreteni mento e pe la industria do turismo, sua espetacula rizao;iio. sua transformao;iio em fe nomenD midia tico. sua captura pe la 16gica de mercado. Ass im re config urado. portanto. 0 unive rso festivo brasileiro. particularme nte, as nossas gra ndes festas publicas. tem vindo a e xigir ateno;ao redobrada de e studiosos e ges tores publicos de cultura.
E6bvio que nem de longe 0
material aq ui reunido pretendeu alca no;ar a imensa e dive rsificada ri queza do nosso repert6rio fes tivo e seu corre spondente conjun to de problemas. Contudo. as re flex6es que dao corp o a esta publicao;ao podem. em boa medida. e e este 0 seu objetivo, contribu ir para ampliar a compreensao crftica sobre as mul tiplas dimens6es da Festa (e das nossas fes tas) e m chave contemporanea. seja no que diz respeito a necessidade de conhecer seus novos formatos e di namicas, seja. ta mbe m , no que concerne ao diffcil desafio de . em simultaneo. dar conta dos pe rigos que as transformao;oes experimentadas imp6em d dimen sao simb61ica dos festejos e acionar as potendalidades inscritas na sua configurao;ao atual.
Nessa perspectiva. Bruno Cesar Cavalcanti nos oferece uma re Aexao perspicaz acerca da relao;ao contemporanea entre fes tividades e economia. relao;ao esta que. embora tao a ntiga quanto 0 pr6p rio ate humano de se festejar. assume. nas relao;6es de poderio econ6mico da atual fase da acumulao;ao capitalista capital. caracterfsticas singulares e fundantes de novas prMicas e simbologias do fazer festivo. Marcia SantOAnna. em chave du rkheimiana. ao compreender a Festa como um fato social to tal. capaz de condensar e m si todas as contradio;6es e te ns6es de pode r da organizao;ao social hu mana. prob lematiza conceitos como sagrado ou profano. tradicional ou comercial e contribui para fazer avano;a r 0 entendimento contem po raneo sobre 0 unive rso fest ivo abrindo novas possibilidades de compreensao para quest6es como patri monio. direito a salvag uarda, turismo e explorao;ao comercial da dime nsao simb61ica das festas.
o
Carnaval. expressao festiva consagrada na hist6ria do Ociden te e fes ta-sfmbolo da vida brasileira. e aqui abordado numa pers pecti va hist6rica. da sua genese as configurao;6es a tuais. e m mu itas das suas mul ti plas dimensoes. como a econ6m ica. a polftica. a etnica e a estetico-musicaL Em entrevista concedida a Paulo Miguez, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti passeia por todas essas dimens6es, c hamando a a te m:;ao para as dispu tas de interesses entre diversos agentes sociais presentes na cena carnavalesca. assim como as d iscuss6es que a aproximao;ao entre os conce itos "Festa" e "patrimonio" suscitam no Brasil contempora neo. â&#x20AC;˘
Milton Moura. em seu ar tigo "Extase e Euforia: urn Binomio Estrateg ico para a Compreensao Hist6rica do Carnaval Contempora neo". fa z uma interessante abordage m sobre a passage m de "ritual de extase" para "ritual de euforia" experimen tado pelo Carnaval conte mporaneo na sua relao;ao Intima com a indus tria do entretenimento. Em ... Do Frevo e do Maracdtu: Musicd e Festa no Carndval Perndmbucdno. Carlos Sandroni registra a Intima rela<;ao en tre musica e Carnava l. no Brasil.local izando inAuencids e desdobramentos do frevo na constituio;ao dos festejos carnavalescos perna mb ucanos. Fred Goes e Paulo Mig uez. respec tivamente em Brdsil: 0 Pars de Muitos Cdrndvais e Muitos (Outros) Cdrndvdis. chamam a aten<;ao pa ra algumas noo;6es cristalizadas e ainda pouco problema tizadas qua nto a presen<;a do Carnaval na sociedade brasileira: 0 repe rt6rio de "muitos carnavais". para diem dos fe stejos propagados midiaticamente como os do Rio de Janeiro. de Salvador. de Ol inda e do Recife. e a existencia de tantos "outros carnavais" pelos continentes americana e europeu. tambem estes nao menos grand iosos e midiaticos. re lativiza ndo. assim. a ide ia de sermos. o Brasil. 0 "pais do Carnaval".
,
Felipe Ferreira, em Festejando, tambem lembrando que nao somos. os brasileiros. 0 unico povo festeiro. trafega e ntre as festas e m geral e 0 Carnaval e m particular ressalta ndo 0 fato de se r a Festa algo pr6prio do homem em sua vida e m sociedade e propondo a discus sao de aspectos que. a exemplo da regionaliza«ao. da hierarquiza«ao. do poder catequ izante. do controle. do turismo e do poder econ6mico. constituem-se como fato res constitutivos do faze r fes tivo. Luciana Chianca em se u artigo "0 Aux~io Luxuoso da Sanfona: Tradi«ao. Espetikulo e Mfdia nos Concursos de Festa Ju nina" e Jose Maria da Sil va em Festa e Identidades na Amazonia. alertam para 0 fato de nao se r 0 Carnaval a unica Festa brasileira a experimentar os impactos da re lao;ao com 0 universe espetacular-midiiltico e com as d ina micas mercantis. No caso do cicio de fes tas juninas. Chianca da conta. como res ultado de ta is impactos. de novas configurao;oes dos festejos , que perderam algumas das suas caracterrst icas mais populare s em favor de aspectos mais conformes aos interesses das transmiss6es televisivas. de que sao um bom exemplo os concorridos e cada vez mais espetacularizados concursos de quadrilhas. Na mesma li nha. Silva tambem re gistra as transformao;oes experimentadas pe lo tecido fest ivo face as inflexoes p romovidas pela espetacu lar iza«ao. pela mid ia e pelo turismo na analise que fa z de duas importan tes festas do Norte do pais, 0 C fr io de Nazare e 0 Festival de Parintins. Por fim. Susana Gastal e Liliane G uterre s nos mostram a etnicidade como recurso de disputa pelo poder local nas fes tas reg ionais presentes em cidades do Rio Grande do Sui que re ceberam imigrantes europe us, especialmente ita lianos e alemaes. apon ta ndo. ainda. a influencia das feiras mundiais e do Carnaval na configurao;ao desse s festejos e relat ivizando 0 conceito de "tradi«ao" que essas festas buscam consolidar. Boa le itura !
â&#x20AC;¢
NOVOS LUGARES DA FESTATRADIC;OES E MERCADOS Bruno Cesar Cava/canti
AMARAL Rna de Ch>ld de M. P Fem iI b,osile<,a "gn lfKadm do fe.t.,. no
pili. que" "aD ~
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de doota,ado - Deparl3-
de Antropo logia. Fawldade de Fllosaf,,,, Le tlW nto
tt .. e Ck>c ... HUIl1Mla â&#x20AC;˘.
Untver,idad" de Sao Paulo, S.\o Paulo, 199B
o "pais do Carn aval" e tambem 0
das festas em gem!. A na~ao mais festeira do mundo, hera n,a latina e iberica aprimorada ao lange de sua hist6ria. conforme destaca Amaral'. com urn povo vocacionado para produzir e consumir eventos festivos par indmems motivao;6e s dura nte o ana inteiro e em quase todo sua extensao territorial. Festas rura is, festas urba nas, festas cfvicas, festas tradicionais e fest ivais de tada sorte. expressando-se em pequenas. medias, grandes au gigantescas comemora,:;:oes. cerim6n ias, concurs os, cortejos e torneios que revelam a experiencia brasileira com festejos sagrados. profanos ou nos seus recorrentes formatos hibridos. Nas ultimas decadas, varias dessas festas publicas brasileiras assum iram grandes propor.:;:6es demograficas, econ6micas e midiilticas, apontando para uma caracteristica p6sindustrial dessa economia simb61ica de servi.:;:os ligados a curti.:;:ao coletiva da vida. especialmente em entretenimentos festivos de massa. Nesse bojo. di ze mos ter nao apenas 0 "ma ior Carnaval de rua do mundo". 0 "maior Sao Joao do mundo", a "maior romaria do mundo" ou 0 "maior bloco carnavalesco do mundo", mas tambem a "maior parada gay do mundo" e um desfile d e escolas de samba que eo" maior espetaculo da Terra",
Porem. mais do que apenas instigar a autocontemplao;ao vaidosa. 0 panorama de pafs festeiro proble ma tiza re lao;oes muitas vezes paradoxais entre grupos e classes sociais e. especialmente. entre Festa e mercado. isto e. entre as expressoes culturais tomadas como "tradicionais" e os novos conte xtos empresariais das grandes fes tas. Isso tern provocado urn maior envolvimento de d iferen tes segmentos sociais interessados em d iscutir e em propor outros rumos para as fest ividades massivas. Em decorrencia. uma de ma nda pe la democratizao;ao da gestao publica nessa ma teria tambem se faz presente. De modo analogo. ao mesmo tempo que as festas crescem em ta manho e em quantidade. e provocam a socie dade civil interessada na produo;ao e no consumo desses e ventos. vem ocorrendo urn maior interesse no que concerne ao ambien te das reAexoes de perfil ma is academico. Esses estudos. que forma m uma produo;ao extensa de pesquisas e mpfricas de resu ltados ora antagonicos. ora complementares. a cada dia deixa m de ser apa nagio de antrop610gos. folcloristas, his to riadores ou memoria listasos maiores e primeiros exploradores dos diferentes se ntidos e funo;oes sociais das festas - . pois tambem ge6grafo s, a rqui tetos. economistas, contabilistas. urbanistas. engenheiros, administradores. ce n6grafos, des igners. tur ism610gos. nutricionistas, entre outros profissionais, interessam -se pela observao;ao ou analise dos eventos fes tivos. E. por isso. e m d ifere ntes perspectivas podem se r abordados os novos lugares assumidos pe las festas atuais. Em pri meiro plano temos 0 lugar dessas festas na vida das cidades. envolvendo desde ques toes concernentes 11 recei ta municipal ou a aspectos patrimon iais ate problemas de segurano;a e saude publica. Outro aspec to diz respeito 11 crescente di me nsiio espetacular e midiatica alcano;ada por va rios estilos de fes tas no Brasil. assu mindo. as vezes. urn papel determinan te para 0 desenvolvimento de atividades como 0 turismo. numa especie de constituio;iio de urn produto para consumo local. re gio nal. nacional ou mesmo inte rnaciona l. Em con sequencia. vemos ocorre r transformao;oes na estruturao;iio ffs ica de espao;os publicos que ajudam a criar ve rdadeiras zonas de especializao;ao festeira. com equipamentos permanentemente fixados. configurando novos ce narios nas paisagens urbanas e oferece ndo servio;os compatfveis com as d imensoes desses festejos tra nsformados em empreendimentos gigantescos. possibilita ndo agenciamentos nada negligenciaveis para as economias locais. Esse novo lugar econ6mico da festa . assim. tem clams implicao;oes sobre 0 seu lugar polftico: quer se trate de escolhas na gestao publica. que r no que tange ao posicionamento dos atores sociais que gravitam em torno da festa e sao beneficiados ou prejudicados por seus rumos, Por outro lado. vale lembrar q ue muitas dessas caracterfsti cas gera is a te aqui me ncionadas sobre 0 fen6meno fe stivo podem ser observadas sincr6nica ou d iacronicamente. de modo simultiineo ou se q uencial e em uma ou mais das inu meras con te xtualizao;oes cultura is. geograficas. economicas. tecnol6gicas. polfticas ou esteticas q ue assumem as festas mu ndo afora. Seja como for. elas niio representa m jama is uma mera cereja no bolo da vida social e. parafraseando Claude Le vi-Strauss. pode-se dizer que. fe itas para dive rti r. sao tambem boas para pensar.
2 Do gfl'<JO pa ,ooa (cultura) e pa,d<a (jogo) C01 tudo, .m sua arna Lps 1"U' e( II'S homfrW'< - '" masque el Ie voo,'I" (Pans: Ga mafd 1997), Roge. C",IIoo. di't ,ngue no pga 0 ludu e a paId ,,,, a p. ltne<lo te.me; '~met ..... do a, reg< que comandarn 0 jogo e o 'l'<JlJllda "" 'mprav" au ~ espontatwKlade ql nel .. '" adm 't" As ~i", c ..... n"" de'"e auto r sob, .. " festa .. stao em CHam ,,( !<o (P" tlj: GalllmNd, 1997) " '" de Erll Dwth.... m em A, form~' e/1Ylle()!ilr", da ~idJ feli<j<o,a
'UK'"
(5lo Pilulo: M.:IrM' Font".
'''''')
Festa e fun ~ao simb61ica
A fe sta e um universal da cultura, estando entre as manifesta<joes q ue mais produzem 0 "proprio do ho mem" ~ alegria. euforia. escarnio. riso ~ e aparecendo com nua n<jas de uma sociedade para outra segundo a intensidade. a variedade e a impo rtancia at ribuida. ou seja. segundo o "Iugar" que Ihe e rese rvado em cada contex to e epoca, De tao dive rsa. ela dificulta sua apreensao em um conce ito ineq uivoco e, como o ut ros aspectos e comportamentos humanos. somente se tem produ zido teorias provisorias o u mui to parciais. Festas sao realidades mais ou menos paralelas a rotina da vida. rep resentando a a lteridade do mundo ordinario e previsive l. Em suas distintas formas. guardam a particularidade de serem produzidas e usufru idas cole tivamente e de represen tarem se mpre expedientes sociais e xtraordi narios. mes mo que e m graus mui to d iversos. Dia de festa e d iferente. quer dizer, e especial. excepcional. incomum. nao havendo fes ta se m fuga do bana l. se m se instaurar um novo e tra nsitorio estado de espirito e de coisas. Quando isso nao ocorre, d iz-se. a fe sta nao e boa ou nao ha festa. Observandoas em perspectiva, algumas das manifes ta<joes assim de no minadas nao passam de modestas confrate rniza<joes sociais, d iscretas comemora<joes de grupos exclusivos, enquanto outras atingem com todo vigor 0 pico da refe rida excepcionalidade festiva e massiva. A relevancia simbolica das festas ocorre em dive rsos pianos. ta nto no da realidade vivida quan to no de seu estudo. Temos desde 0 simbolismo contido nas manifesta<joes mais declarativas e afirmativas das identidades culturais de g rupos sociais ou e tnicos particu lares, internos as festas e que ai se afirmam. ate as interpreta<joes "de fo ra" acerca de aspectos mitologicos e cosmologicos que as festas instigam. Especialmente nos formatos de eventos de grande aflue ncia. e las se aproximam de experiencias do sagrado no sentido dado por sociologos como Emile Durkheim e Roger Caillois. ou seja. se apresentam como comporta mentos coletivos especiais em que os participa ntes podem sentir profunda e dife ren temente a condi<jao de membros de uma cole tividade. al terando-se a percep<jao individu alizada e sobria que tem do social. Em momentos de grande inte nsidade. as fes tas conduzem ao jdb ilo. a efervescencia e ao extase comunal. Elas te m seus modelos e se us modos de produ<jao e de realiza<jao. com suas sequencias de atos que levam a um apice e. em seguida. a fini tude, Por te rem um modus operandi mais ou menos caracteristico e previsivel. como um rito, os seus significados muitas vezes se aproximam aos daqueles fen6menos denominados de cerim6nias. espetaculos. rit uais, performances ou jog os. Contudo, nao obstante sua estrutu ra ou for ma e lementar. nenhu ma fes ta e igual a o utra, pois. sendo uma especie de obra aberta e carregada de ambiguidade. mis turam previsibilidade com surpresa. regra com transg ressao. paideia com paidia'. Esses momentos festivos sao receptivos as expressoes utopicas e onfricas. as teatraliza<joes e aos devaneios. as imagens arquetfpicas que invoca m a pre valencia do grupo e a supera<jao do indivfduo pe la persona, Segundo 0 antropologo Gilbert Durand, eles atualizariam os mi tos de uma civiliza<jao. possibilitando a "espontane idade mi togenica" dos conteddos do imaginario. quando. entao, ocorreria
ora a sua potencializa,ao. ora a sua atualizao;ao'. A um s6 tempo. as festas sup ririam demandas sociais e individuais. apresentando-se como atividades compleme ntares e integradoras de certas dimensoes do huma no. se ndo como uma produo;ao do Homo sapiens para 0 gozo preferencial dos Homo ludens. Homo ridens. Homo loquens e Homo demens que a Aoram nessas ocasioes. inva riavelmen te com 0 aux~io dos caracte rfsticos excessos dionisfacos. de bebidas embriagantes. de mdsicas. de dano;as. d e risos. de gritos. de vestimentas, de cenarios. de o rnamentos. de maquiagem, de comidas e. sobretudo. de pessoas. E por isso que. mesmo sendo fe nomenos hist6ricos, config urados em um te mpo e espa,o precisos e. como tal. implicados nas tramas reais de indivfduos e de gr upos sociais de interesses. um estudioso co mo 0 soci610go Jean Duvignaud dirigi u se u foco de ateno;ao nao para as previstas funo;oes e significao;oes sociais das fes tas, mas para sua importa ncia uni versal. tra nscultura l e trans-hist6rica. exemplos de experiencias frfvolas e volateis, libertado ras do imagina rio, indu toras do duplo, do tra nse e das fugas do real ordinario', Outros especialistas des tacam justamente a historicidade de toda Festa. suas circunstancias transit6rias. sua implica,do direta com processos sociais e simb61icos espedficos. Ela se ria uma fo rma excepcionalmente rica da experie ncia humana part il hada que pode tanto assumir papel de acontecimento legitimador de uma orde m socia l vigente. numa serie de e fe itos catarticos, quanto ser vefculo para um posicio na mento ques tionador por meio de teatralizao;oes. par6dias e siltiras com efeitos transformadores na rea lidade mais ampla. organizando novas sociabilidades e ao;6es coletivas de rivadas. Mais direta e simplesmente. pode representar uma situa,do de afirma,do social de um grupo, o cenario onde este dar a ver-se por meio do rito fes tivo tradu ziria reconhecimento. prestfg io e legitimidade sociais duradouras, Em todo caso, os estudiosos concordam se tratar de um fenome no multifatorial e mui to impo rtante na di namica social. merecedor do olhar mul tidiscipli nar sobre sua dimensao tangfvel e intangfvel, sobre sua significao;ao e sua materialidade. mas tambem sobre os interesses da micropolftica dos grupos que to mam parte ou da macropolftica que favo rece ou promove os modelos de Festa nu m quadro mais global de vfnculos e consequencias, Enfim. deve ser considerado pelo que implica ta nto em termos das presumidas tradio;oes culturais, e de uma corres pondente economia do do m (trocas simb6Iicas). quan to e m suas transao;oes segundo a 16gica maior do capital (trocas mercantis),
3 DURAND, G,lbert. Li""'9""",e - e~ 'UI Iel8lCel el la pI1i losophoe de I ""'"'I". P~",. Hatoer, 199"4
'" M~, cort.ecido '10 Bras il pela ob,a Fe,ra, e c,vilizap~e, (Fona leza UFCE. R,o de Ja~o: Tempo Br~ '0, 19B3) Jean DW'<Jn<lud '<'que urna a'gume~t..., que ,ernOf1ta ao teatm, ~omo em SodolO<j,e de, om~ rolkcll~ - E,,,, , " la prat'que soc,~e du th""ne (Parr, PUE 1965). em SpKrad.. ÂŤ ,ocoere- du lhe..ue gr.. e au happening, la fonct,on de I',maq.na" .. da", I.., <oc",t;" (P.,,~ D.."i\el 1970) cu lm,nanOO _m L.. don du ",." - "'sa! d'antlvopolog,,, . . la fete (Pari!" S!~ " \9n)
Mercado festivo e tradi1ioes culturais
A ocorre ncia de eventos festivos sempre altera 0 fluxo normativo das culturas e intensifica a economia da vida cotidiana em q ua lquer sociedade de manda ndo mais energia e mais consumo, A d imensao a tua lmen te alcano;ada pelos neg6cios fes tivos. no entanto. oblitera a nossa comp reensao hist6rica das re la,oes que aproximam trad i,do cultural e inte resses de mercado. Mui tas vezes conAituosos. esses lao;os sao tambem bastante an tigos. Sociedades re motas. a rqueol6gicas. tribais. tradicionais e milena res conheceram grandes festas e ate mesmo desenvolveram verdadeiros mercados fest ivos com espao;os H
5 Cf WEBER. Carl W Pan.."., N Cln:""~' -Ia pol,!,· ca 00 d'Vetl,m<>f)t, do mil"a nelranuca Ron..... Milano: Ga,zan!i, 19B6
6 Edson Fana ... ~ "Econo-
m,a e (ultura no ("C~'to da' festa, popu lar." braSl le"as (S<X,edade e e'la<h S. ~,1'a, v. 20. n. 1, p. 647-6£8, dH 2005) . de, onstra como 0 de,,,,,,,olwnen-10 ec0n6mic O 00, le'las acomp3flhou 0 e'tupeMo cr"..clmet1tO demc. ,IK da vida ",ba'.... e a econ CO"" de se'voc;o, ligado, a< IU'I~mo na, ultima. dec: das do ~culo XX VeJatamb6'T Amara l (op. U
7 Para 0 Ca,nava l de Sal-
vadO!_ oo,de m-.ado< da deci>da de 1990 Paulo Miguez e El,zabeltl La",la vern de_wolvendo afl~ I;,.. <Ob'e a econOfl'''' da le'ta . VeJa-se . de ambo., "A econorr,,,, do camal',1 da Bar.a· (BahIa A, & DadOl, Salvado,. v 21. n. 2, p. 285-29'9, abr "un 2011) e, de Paulo Miguez, "A emergIrK'" do cama"a l al'o-eletr ico -empfe,ar,ai' (AniIK do IX Cons,e" d a Bra",. Nova O,lean •. Tulane 1Jrive"'ly. p. 96-111, 20OB) Da<b$ ol io apa'e<:e,n na fevl'ila Infocult LIra, Secult-BA. dlSpor v,.) em <http Ilwww.~ ll"a ba.gov br / infocl'llt
m._
rar
de arqu itetura planejada para atender a essa finalidade. nao raro e nglobando mul tidoes e m sua produ~ao e em seu desfru te. Na Roma do te mpo de Marco Aurelio, a prop6sito, os lucros obtidos pelas escolas formadoras de gladiado res com 0 alug uel de seus ho mens ating iram tal p ro por~ao que levaram a i n te rven~ao do Senado para li mitar os abusos, naq uela que foi provavelmente a primeira grande experiencia de uma cidade impactada por uma polft ica de entretenimento de massa, ensejando a instala~ao de diversos equipamentos urbanos exclusivos para esse fims. Na economia capita lista de hoje, e em contexte libe ral absolutamente distinto daquele da polftica ro mana do "pao e circo", trata-se de insta r novas formas de equalizao;ao desses interesses contraditorios, 0 fato e que as fes tas incluem sfmbolos e me rcadorias, se ntidos e coisas. e tan to uma logica da dadiva quanto uma logica da troca mercantil a tuam uni ndo e distinguindo essas supraci tadas dimens5es da sociedade em Festa. Nao nos falta m exemplos acerca do valor simbo lico dos festejos e de sua capacidade mobilizadora, incidindo com maior ou me nor fo ro;a tambe m sobre aspectos ma teriais ou econ6micos das sociedades. mesmo quando nao se possa propriamente falar em um mercado festivo. Desde a cduinagem tupina mba, de um rito agonfstico de obte n~ao de prestfgio pela des trui~ao de um bem como no potlach, das movi mentadas cerim6nias aquaticas do kula "trobria ndes"'. das interminaveis festas do pilou "canaque" na Nova Caledonia cuja prepara~ao poderia levar anos, e que poderia m prolongar-se por se manas. ou das brasileirfssimas congadas. folias de reis, festas do Divino Espfrito Santo, romarias ou festas de largo nos patios das igrejas, que reinven ta ram 0 catolicismo fe stivo popular dano;ado e cantado em cortejos, ate os atuais modelos das grandes festas de massa no nosso pafs , os pesquisadores nos abas tecem com uma enormidade de dados contendo in for m a~5es sobre a diversidade da economia das fes tas e da agita~ao simbolica q ue provoca m onde que r q ue ocorram, em cada mo menta social, e m cada te mpo e lugar proprio. Uma a rmadilha a ser evitada e aq uela que insinua. ou afirma taxativamente. que a dimensao e mpresarial assumida pelas g randes festas atuais nao apenas altera co mo tambem faz desa parecer sua fun~ao ritual e sua impo rtancia simbo lica. Em nome dessa leitura ace rca da presumida "mo rte" da Festa. busca-se 0 apelo. em todo caso roma ntico ou de magogico. do re torno a um passado idealizado, Reivi ndica~oes pe lo "re torno das tradi~5es" parecem esquecer o trufsmo de que nao se volta ao que acabou e, sobretudo. de que nao apenas os tempos sao outros como tambe m 0 sao os sujeitos que, movidos pelas ra zoes do presente. lan~am mao desse passado imaginado. E. do mesmo modo que uma nova 16gica do lucro se desenvolveu no interior da festa contemporanea, e preciso reconhecer ta mbe m as (novas) dina micas da 16gica simbolica mais do que bradar a sua pura anula~ao. Ea polftica da Festa que. e m ultima a nalise. devemos dirigir 0 olhar e a palavra: em nome de quem e para q ue m esses e ven tos sao produzidos. e quem sao e 0 que pretendem os sujeitos que, de algum modo, tomam parte nisso, seja como produ tores. seja como consumidores e. e m mui tos casos. ocupando duplamen te esses lugares no interio r da Festa.
Forma e lugar na festa brasileira Como chegaram a ser 0 que sao as megafes tas atuais? Certa men te em decorrencia de fatores gerais e e strutu rantes q ue transce nde m 0 contexto exclusivo do fen6meno festivo, mas que guardam e streitos vinculos com a expansao do capital. por um lado. e com a explo sao de mogrMica das cidades brasileiras, por outro". E principalmente por causa de caminhos diversos e de acordo com os condicionan tes locais, capazes de criar um mercado fes tivo deco rre nte da historia e da organizao;ao da cultura em cada cidade, 0 que ajudou na dife re nciao;ao cultural e economica dos modelos festivos'. De todo modo, as festas brasileiras se transformaram bastante ao longo da historia. Nossos tre s principais modelos referenciais de fes tejos carn avalescos. por e xemplo. sao inveno;oe s do sEkulo XX Salvador, Rio de Janeiro e Recife - e esboo;am a foro;a sobre processos sociais locais da inn uencia cultural afro-brasileira na festa urbana, E verdade que ha manifes tao;oes seculares que aden traram no seculo XX I com status de megaeve ntos de massa. Cirio de Nazare. em Belem. e o grande e xem plo nesse caso. enquanto outras festas tambem antigas e de motivao;oes re lig iosas. como os cortejos do D ivino Espirito Santo. ao contrario, estao longe da mesma aderencia massiva outrora alcano;ada no Rio de Janeiro da epoca imperial. As fes tas. assim, espelham condio;oes oferecidas por seu entorn o social mais imediato'.
a
As cidades supracitadas para 0 caso dos megaeventos mome scos hoje se encontram entre as maio res metropole s do pais. e 0 fator de mogrMico conta forte me nte como uma das variaveis explicativas para e ssa e specialidade fe stiva. O utro aspe cto importa nte e 0 geog rafico. Nesse caso. dois megafesteJos juninos brasileiros - Caru aru. em Pernambuco. e Campina Grande. na Paraiba - desenvolveram-se em cidades geogrdfica e e conomicamente re levantes. localizadas na encruzilhada de ligao;ao comercial entre 0 ag reste e 0 se rtao nordestinos. antigos e ntre postos re gio nais cujas caracteristicas favorecem os investimentos atuais em termos de cultura fes tiva que explora. a um so te mpo. os simbolos iden tificadores dessa "tradio;ao regiona l" e os negocios da economia da fes ta. Do mesmo modo. os festejos agricolas mais relevan tes caracterizam a re as ocupadas por comunidades rura is de origem europeia. e specialmente no Sui do pais. ou de ocupao;ao mais re ce nte em zonas da fronteira agricola, e ocupando lugar destacado como sinalizao;oes iden titarias para essas localidades e. ao mesmo tem po. como estimulo economico ao agrone g6cio¡. Portanto. uma se rie de fatores pontua. aqu i e ali, razoes de de cadencia ou expansao dos estilos e dos locais de festejos brasileiros. mas. de saida, e possive l ta mbem esboo;ar sua caracterizao;ao geral em te rmos de uma tipologia e lementar com duas modalidades prepo nderantes dessas grandes festas publicas. Elas ocorrem segundo 0 que denominariamos de "forma social desfile" e de "forma social prao;a publica"'o. Na verdade. duas polarida des nao excludente s. No primeiro caso. temos exemplos como os antigos corsos carnavalescos. os desfile s dvicos e militare s. os prestitos religiosos. que d istinguem os participantes d iretos da audiencia que os observa. E urn modelo e spetacular por e xce lencia. ou seja. constituido para ser visto e admira do. aplaudido e ovacionado. Entre suas expressoes rnais vigorosas estao os triunfante s des files
8 Ac", ca da Importanc,a da lesta do [)'",no Esp ,-" t, Santo na cidade do Rio de Ja"""o 'Ie,: ABREU, Martha , 0 ImpÂŤio do o,WfIQ - feHas ,ellglO"'" e cultu,a popu),, ' no RIO de Jar>elfo, 18~O -1 900 R,o de J .. ....,.,.." Nova Fronte lt d, Sao Paulo. Fape'p, 1999, Segu"do a ,utora , ,,"''''' comemo<a~~o 0< 9'uP"" ,,,wlte, 0'. e'p.a.ll"..,le 0< pob re, e 0< negro,. puderam ocupa, maIO' e,fl<l'i0 na ambrfncla le'tlva da (I dade Soo,e a 9,ar>d,oSrdade at~ ak:. ~ada 1"'10 O,io de Naza ,o!' em Bele," do Par.1, ver, PANTOJA. Vaooa, Nego -
_ ug'ildo, -
, ec l ~
dade e m","(ado no Crllo de Naza," D.. ", ' ta~ :M.e>trado) - Prog,ama de P6,-Gradu,,,;Jo em C~ I SOCJais. Ur>iversodade Federal do Pa,A , Be~m , 2006. e COSTA. F,anci, :0 de AI,!, et a l. C rflo de Nazill" de Belem do PiIIA ecooom,a e I" AmazOnia: C i & De,e "v , Bel"m ~ ~ , n 6. p, 9~-125, Jo' n/jun 2009 ,
9 ~rg TeIXei,a , em 0 IK;Wo d", (e51i1' - ,ep,e'f1ta~o.., e pode, "0 Bra, il :R", de JaneJl\l: FU,",fte, 19M), elEonea y,j , 10< fe'lejo, conhec,dos ~o nome de p'oduto~ "grfcoj",. de '1"" ,;10 e.e"'P lo, a, fe"", da Uva , da SOJa, d" MelarK'" etc. 0 f!"Ie!;mo ocone com a, fe'ta, de pel!<>, como m B~"eto~ (SP) a mil. delas, ande h~ e'peUcu lo, e negooo
10 Ut dlZatnOS e<sa trpo logla para compa,a' O:i modelo5 car~co< preponderanteo no Recife e e,,, Salvado. em CAVALCANTI, B,u no C L.. cilmdvaJ b,,'~;hen utop'" et hete,otop.e dan, les foule~ fe~tlve .. Cah,er. de rimag lna lt e, Montpelier, " 19, p. 19-2'>. 2000
II
De""mos a Mafia Laura
V de C Cavalcanb ""p" radora, ~"" do Fe'tlVa l de P""ntUlS e do Camava l da. ~<cala, de wmb.. de RIO de Ja r_o, coma er Riva li dade e af",~;,o: pe laffrldnce. lItu"", "" Bumb~ de P~nntlrl!. In CAVA LCANTI. Mana Lau.a GON<;"ALVES. Renata de S~ (o'g.). SEMINARIO ClRCUITOS DA CULTURA POPULAR A.,",EI~trOn i cos. R,o de Ja~wo: UFRJ/ IFCS, lOlO, p. 409423 ; A. aleg'lfIas 1\0 C. ""val G" ,oca - v,sual,daue e!.pet""o"" e "",ra! lva "tWo! Texw, E>colh,dos de Cu l!Ufa e Arte Pop<Jlare â&#x20AC;˘. Rio de Janello, v. ~. n. 1, p. 17-27. 2006; 0, ~ .... ndm nc e'pet,icuia. Revl5fa de An ¡ rmpolO<}id, Sao Paula USP. v. ~s n 1, p. 37.78 , 200l ; 0 "to e 0 tempo: a evalo~< do cam""a! cauoca. 0 rita e G tempo - ema lo. sobre 0 ca,,,..,,,l. Rio de Ja""'.0: C", iI ,ta,.\o B r a'~f!lra, 1999 p 71-B6.
da Renasce no;a. mas tambe m os cortejos burgueses das sociedades carnavalescas da Europa do seculo XIX e os atuais desfiles das escolas de samba no Samb6dromo carioca. e ainda, e a seu modo. a passagem de trios eletricos ou de blocos "afro" no Carnaval de Salvador. A fo rma desfile favorece uma organizao;ao em termos de "circuitos¡'. como ocorre e m Salvador, No segundo caso. temos 0 confusional fes tivo do vaive m sugerido pe la ide ia da prao;a publica onde. mesmo existindo. a rigor. pequenos desfiles de agre miao;6es e de g rupos avulsos de brincantes, nao ha uma nftida separao;ao entre atores e espectadores. tratandose de uma forma em principio menos espetacular do que a anterior. e com esses papeis grandemen te comutaveis. E em que pese tambem consistire m curtos trajetos. quase sempre tomam forma mais espiralada. circular. em torno de uma area precisa. uma prao;a o u um quarteirao. dife re ntemente do sentido retilfneo e unidirecional dos circuitos da forma desfile. No caso. os luga res da Festa na fo rma social prao;a publica sao denominados de "polos", como ocorre por ocasiao do Carnaval do Recife. ou seja, zonas especiais e circunscritas fo rmadas por conjuntos de ruas e logradouros que concentram a Festa e adensam a populao;ao em espao;os re lativamen te pequenos. Sao ainda bons e xemplos da forma prao;a publica os grandes arraiais dos fes tejos de Sao Joao ou as supracitadas fes tas agrfcolas e os festivais. Atualme nte. observa-se 0 desenvolvimento de modelos mistos. reunindo aspectos originarios dessas duas configurao;6es da morfologia fes tiva, 0 Festival Fold6rico de Parintins e um g rande exemplo desse hibridismo: quer em termos da imbricao;ao de caracte rfs ticas morfol6gicas das formas prao;a publica e desfile, que r em razao da conflue ncia de interesses envolvendo as di me ns6es dos espetaculos midiaticos e das express6es culturais tradicionais. Ocorrendo em uma arena denominada de "Bumb6dromo", sugere em principio a forma prao;a p ublica. mas. por outro lado, possui um trao;o altamente performatico e espetacular caracterrstico da forma desfile. e conta com uma audiencia que. ao mesmo te mpo, se constit ui em espectadores e participa ntes ativos da performance dos bumbas. Aos enredos com narra tivas tradicionais das culturas cabodas e indfge nas somam-se os recursos plasticos e tecnologicos de grande expressao cenica. como nos desfiles competitivos das escolas de samba". Mas nao apenas quan to a forma vem ocorrendo esses hibridismos de modelos festivos. Ha emprestimos e contaminao;6es por toda parte de inve no;6es tecnologicas da Festa brasileira. Sambodromos foram construfdos em va rias cidades do pars. Tambem sem a inveno;ao dos trios eletricos. por exemplo. 0 Carnaval 11 base do frevo pernambucano - com suas orquestras de sopro de sonoridade normalmente nao a mplificada e ap resentando-se no chao e a ceu aberto - nao pode ria congregar em um unico bloco 1,5 mil hao de seguidores. 0 que faz 0 orgulho local do Galo da Madrugada. considerado 0 maior bloco carnavalesco do mundo. Os trios ainda abrigam sobre si os bois amazonenses Caprichoso e Garantido, quando dei xam Parintins e desfilam no ritmo das toadas no Samb6dromo d e Manaus no aniversario da cidade: e sem e les. por fim. nao terramos a gigantesca parada gay de Sao Pau lo ou os chamados "carnavais fora de epoca", as micare tas que d ifunde m 0 modelo de uma Festa sta nda rd e pre-mo ntada, 0 mes mo se pode d izer qua nto 11
12 Uma e,,(epo enconHa ,e em Don H.mdelman, em "R lt""" et spectacle (Revue Imer""t,,,,,,,,1 de, SQence, Socia l(>$, Unesco, " LlX n 3, p. '123 -43.6, ~"P.
1997),
para quem
o.
r tu ... wo ,,,,,,eme, a "ordem soc...! tradiCl( 1 e 0 espetaculo e.p<e.sao do "ethos buro (l ~IKo" da -ordem,oc lal modema"
13 Op.
H
CIt.
CHIANCA,
Lumna Qu~r>do 0 c~mpo eHoi na Cldade: m'g"',.K1, idenr,darko e fe.ra 5< -...dade e Cult" ra. v 10, n p. 'I ~ 59, Jon,1 jun 2007
15 AGlER. Mochel. Allrnr poIog'~ du cillfliwal - 1.l ",lie,
la fete et IAr""", a Bah ia M.m;e,lIe: Ed,1<on. Par", It "''''fIRD, 2000
tendencia recente de. na cidade do Recife, incluir-se em sua festa de rua palcos para apresentao;6es de shows musicais com artistas locais e nacionais de diferentes estilos musicais em seus polos de animao;iio, criando claramente in tervalos temporais na festa. em que os brincantes se transformam em publico espectador a moda do que se da na forma des file. e revelando sua abertura para 0 universe dos espetaculos midiaticos contemporaneos centrados em atrao;6es artfsticas e em celebridades. nos quais 0 repert6rio atemporal do frevo e substitufdo pela sonoridade da musica popular brasileira. Esse ultimo aspecto envolve um componente de crescente importiincia nas festas publicas brasileiras. a saber, a sua incorpora'iao ao universe do show business e a explorao;iio midiatica por grandes redes de te levisao, Inicialmente restrito aos desfiles do concurso de escolas de samba no Samb6dromo (que at inge cerca de 60 pafses pela Rede Globe). esse expediente inclui 0 Carnaval de Salvador e 0 Festival de Parintins. Possuindo um formato ao que parece menos adequado a esse proposito, o modelo prao;a publica busca 0 interesse midiatico ao incluir artistas de ape lo popular. Internamente , essas inovao;6es funcionam tambem como atratividade de um publico nao necessariamente aderente ao modele festivo como tal e que, assim. e fisgado pela preseno;a desses shows a assumir um papel de p lateia na festa. consumindo-a a seu modo. Tratase da dimensiio e mpresarial influenciando escolhas e modificando rumos futuros dos modelos das festas por meio da expansiio de seus limites atuais,
Economia da Festa e polfticas culturais festivas Certo pessimismo neofrankfurtiano. muitas vezes inspirado na obra panfletaria de Guy Debord. A Socieddde do Espetaculo , suge re que a espetacularizao;iio represen ta um mal defin itivo as tradio;oes festivas. Para tal concorreria 0 entendimento que opoe os ritos festivos aos megaeventos espetaculares de hoje, num posicionamento que facilmente conduz a mera constatao;ao negativa e nao propositiva, quando niio leva ao moralismo te6rico e ideologico. Ora, para a antropologia essa dimensiio espetacular e um dos elementos da performance ritua l. e niio apenas a resu ltante da racionalizao;iio instrumental da Festa empresarial atual" . Um espetaculo como 0 que tem lugar na peque na Parintins. por exe mplo. com sua festa de estrutura'iao dualista. nao apenas envolve 0 ambiente restrito da arena do Bumb6dromo. mas estende-se a propria cidade num processo ri tual que une e separa duas meta des. integrando as oposio;6es constitufdas pela aderencia aos dois bumbds. como analisado por Cavalcanti". Do mesmo modo, na configurao;iio atual dos fes tejos juninos nordestinos, caracterizada pela espetacularizao;ao midiatica de centirios e concursos de quadrilhas. Chia nca" tem chamado a ateno;iio para 0 fato de que as populao;6es urbanas af retomam suas origens interioranas com as identidades ri tuais que assumem na festa , E Agier". para 0 contexte do Carnaval de Salvador. descreve como 0 espao;o fes tivo possibilita a expressao de uma identidade ritual africana no bloco lie A iye. num duple movimento de afirmao;iio para dentro e para fora dos limites comunitarios do bairro da li berdade. segundo as etapas e ao;6es que levam ao rito carnavalesco. Em todo caso. as ressignificao;oes das
festas ocorrem de acordo com os in teresses dos gr up os sociais. havendo varias festas dentro da Festa maior. varios sentidos circulando no interior de u m grande evento. 0 que interessa. ao final. nao e ta nto 0 mode lo hege monico adotado. a sua forma social predominante. mas 0 espao;o reservado a cada seg mento para exercer e exibir seu conteudo. Neste caso, invariavelmente e a dimensao politica - e nao apenas cultural e estetica - que retoma 0 ce ntro do problema. Ea part ir dela que 0 espao;o fest ivo pode ser aque le que exclui ou inclu i os g rup os e as comunidades. Em grande medida. 0 espetaculo midiatico contemporaneo tri unfou e e stabe leceu novos para metros na vida social muito alem das situa.;6es festivas aqui tratadas. como afirma Kellner'". fato este que favo rece a dimensao mercaclol6gica da Festa de massa. Mas nao ret ira a questao politica das escolhas e das o~Oes locais em materia de gestao dos festejos publicos. Se as configurao;Oes hist6ricas definira m os atuais modelos. as interven<;:Oes no presente e que importam para as soluo;Oes dos problemas ocarretados. Tanto estes quanto as soluo;6es possiVeis sao variaveis para cada contexto. Tomemos 0 exempo dos carnavais. em que, de um modo ou de outro. as cidades desenvolveram formatao;6es hegem6nicas para suas festas. No Rio de Jane iro, a busca de al ternativas aos li mites da festa-espetaculo do Samb6dromo - de organiza~ao mista entre a gestao publica e a liga das escolas de samba - tem levado a for ma mais espontanea e nao e spetacular do Carnaval de rua a base de marc hinhas e do to m jocoso qu e rea tual iza carac teristicas das a nt igas sociedades carn avalescas. re tomando-se e re inventa ndo-se 0 espao;o urba no como luga r fes tivo como sugere Ferre ira". Em Salvador. a supremacia dos blocos privados de trios eletricos incide sobre a pr6pria organiza~ao do Carnaval. favorecendo a li mitao;ao do espao;o de expressao da d ive rs idade cultura l. a exclusao de grupos sociais e secundarizando an tigos espa~os festivos da cidade, conforme aponta Moura" e reclamam os coletivos culturais perifericos a o rganiza~ao e 11 produo;ao da festa , Esse modelo do Carnaval-neg6cio nao apenas fez desenvolve r um ve rdadeiro com plexo o rganizacional p ub lico-privado da Festa como tambem fo mentou os estudos acerca da sua e conomia. com a produo;ao regular de indicadore s. malgrado as assimetrias de acesso a patrodnios pela maioria dos grupos brincante s. a prevalencia do aspecto lucrativo e monopolis ta por pequena parte dos setores envolvidos e a precarizao;ao do traba lho. No Recife. a Festa popular e d iversificada permanece aberta e publica. nu m modelo de Carnaval municipal re sistente, como 0 descre ve Araujo". e contrastante com a organizao;ao privatista hegemonica em outros centros. mas 0 superpovoamento fes tivo d ificu lta a expressivida de das agremiao;6es carn avalescas tradiciona is e, por outro lado. parece le gi timar a oferta de espetaculos nao a li nhados com a tradio;ao propriamente carn avalesca. como os su pracitados shows mus icais em se us polos de an ima~ao. 0 que nao se da sem reclames dos grupos musicais e artisticos locais. Do ponto de vis ta cenog rMico. as cidades q ue se defin iram pela fo rm a social desfile li mi taram. descarac terizaram ou simp lesmente abandonaram a cenografia de rua. enquanto a forma prao;a publica do Recife fez desenvolver e profissionaliza r 0 trabalho ce nogrMico no ambiente aberto. como aponta li ra 1O. Tambem nesse caso a gestao publica do Carnaval e bastante d ife re nciada. e dis tintamente
16 KELLNER. Douglas. A cultwa da midia e UIUI1fo do e'petkulo, u1Âťro, aoo VI v, 6, n, II, p, 4-15, 2004,
°
17 FERREIRA. Fel lf>'!. 0 luga, femvo - ~ fe't~ como e,~cia
~o-tempora l
do luga, E,f"'S0 e Cultu,a, R,o de J~""';ro: Uerj, n 15. p, -21,1003,
11 MOURA, M,ltor\. -0 centro da Cidade Alta Cu,no p.>Ico das diver"" ma",fe'la~~ camayaI "as de Salvador no '''culo XX- mi ll Congre,so Inte'n.K1()",,1 do N,kleo de Emma da. AmerICas -merlca Lat lfla: p,oce<w. ly,Iorat6r1as e erGe, do caPit..! ..."", contempo'.ln - CD-Rom R>o de Jan<.. ra, Unlve<5lddde Estadua l da R,o dot Jane"o. 27 a 31 de agosto de 2012 ISBN 9B7-gS-9~95B-11-7 Para a autor, rIO Camaval 0 poder pllbloco -paJSOU de geslo< ;. cond,~a.o de ,;ndKO de "'u f '>C _ t o tendo ao ~e, tro os bloc", de wo",
19 ARAUJO. Rita de Clsla B, de 0 ca,naval cia Re<:i{e - a al""l"a querre"a, E,tucJo. Ayan~ado .. Paulo USP 11(29), P, 203216. 1997
20 URA. J, ÂĽla, Outro, camaV~5 - no, bast,dores da folia DO como 0 trabaIho de tenograf,a so'q'u, oe""etJ e apa,eceu na maior fe<ta de 'ua do Recife Sao Pau lo: DBA Artes
G,afica<, lOOB ,
comp rome tida , seja no tocante a de mocratizao;ao do acesso a fes ta. seja quanto as formas de lucra tividade diretamente aferida dela.
o fato eque verdadeiras cadeias de produ o;ao se estabeleceram em torno dos gra ndes carnavais brasileiros. com um conjunto de atividades que ultrapassam 0 mome nto da festa, com potencial de empregabilidade e gerao;ao de renda mui to va ricivel. Por outro lado, os indicadores econ6micos sao ainda em boa parte e speculativos. pa rciais e imp recisos. sendo uma area de especialidade a se r de senvolvida. Em 2012. 0 Rio de J aneiro teria recebido cerca de 850 mil turis tas e movimentad o a economia da cidade com 1. 1 bilhao de reais": 0 Recife teria recebido 710 mil turis tas. a prefeitura da cidade investido 32 milhoes de reais e a economia movimentado 595 milh6es de reais": enquanto Salvador. cuja prefeitura investira 30 milh6es de reais, rece beu algo como 500 m il turis tas e movime ntou 1 bilhao de rea is". Nesse contexto. serios problemas aparecem quanto a precarizao;ao do tra balho, Oportunidades de ocupao;ao e emprego temporarios sao aspec tos sempre lembrados como justificativas para 0 inves timento publico ne sses megaeventos. mas as condio;6es de explorao;ao econ6mica e xp6em a face de um capita lis mo selvagem. no qual 0 caso dos "cordeiros" dos b locos de trios eletricos e bastante emblematico. A gestao publica. a tributao;ao dos servio;os duran te as festas. a re ceita publicitaria, a d istribu io;ao de recursos publicos e a profissionalizao;ao de pessoal para uma serie de funo;6es comple mentares a real izao;ao desses grandes eventos - q ue o u nao e xiste ou e igual mente deficitaria -. entre outros, sao aspectos muitas vezes nebulosos do mercado festivo. Com os numeros que se propalam. esses eve ntos jii deveriam ser alvo de um empenho institucional se rio em politicas publ icas que atentem para 0 valor cultural que esta em jogo. por um lado. e para os direitos sociais do trabalho. por outro. ante os fins lucrativos que sobre as fes tas se desenvo lvem. ao que parece, sem a reg ulao;ao necessaria e sem 0 reconhecimento explrcito acerca da natureza dessa bifurcao;ao de economia e cultura'¡. As grandes fe stas brasileiras. por fim. alem de cultura lme nte expressivas se tomara m economicamente importantes. e sob re tudo sao oportunidades de cidada nia politica para os que nelas. ou a partir de las. podem exercer a pressao p olltica que nao encontra outros canais de man ifestao;ao ; e que ar podem reivindicar a participao;ao que nao tem. seja na gestao de modelos festivo s. seja no s usos possrveis do espao;o urbano e publico. onde nao apenas se divertem, mas vivem. produzem e compartilham a existencia.
Bruno Cavalcanti Graduado I'm c i encia~ sociai~ I' mestre I'm antropologia pe la Univl'rsidade Fede, al de Pernambuco e pesqui,;ador I' professor no Instituto de C ienc ias Soc i ai~ da Un iversidade Federal de A lagoas, Cavalcanti tambem atua como consu lt or em projetos sabre as inter,;e~oes entre dese 'lValvimento soc ial. econom la e cu lt ura E-ma il: bcc32@hotmail.(om
21 Cf F ILHO. LUlz C .. lo, ',e'leS, A ecoflom,a c"aI I "~ do ca,,,aYal In: XXIV :6RUM NACIONAL, r ,1,lulo Nacional de AIIO' E'ludo" ma,o 2012 ,
n
Segundo dado, d.vulgad01; pela p'eleilura da c,dAde do Recife_ d"ponr_. em <hllp'//www, mefCad""eventoHom,b I 'e/noll(,a,/vlew/B15i ~ Acesso em: 4 ,et 1012,
23 Cf dades d.yulgadm
pela Sa lrur Para uma ' s!o relm'pe<:nva do de,e<wo v'me~lo da ecorlOm ia do Camaval da codade. ver MIGUEZ, Paulo LOIOLA, EI,zabeth Op, ,I
24 Mt Ito, de,,,,, IOpKO.
,30 "iticarn .. nte e'l I ' .
dm po. Paulo Miguez e Elizabeth Lolola (op m,), pa,a quem m desaf,,,. da ~ ,onomia do Car"aval e. ~vem 0 ap"rno.amento Ja gesl"" pub~ca, a part I C'pa~;;O de outrm ato,e, <>C.a .. na o'ganiza~~o da lesta I' "oladament~ 0 reconheclml'f1lO das pec,f.";ldades cultural> do Ca,,,aval ;:>a.a a t,,'mu la~~o de politlca, cultura,!, .a ..,ma d"cu,,:'o ma" mpla <ob,~ esse liltimo aspeclO, ver. THROSBY. Dav,d The '-"'0"0"" of cultural poky. New Yo"'_ Cambfldge U,we<5ity
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Sumba Meu Boi. qu< oc"'"' todo roI,t>cio ~ junho no c..,tm h;,t6nco do l ui, do MararN.o.
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A FESTA COMO PATRIMONIO CULTURAL: PROBLEMAS E DILEMAS DA SALVAGUARDA Marcia Sant' Anna
Do supersagrado ao totalmente profano
o historiador des religi6es Mircea Eliade ensina que a Festa tern origem no impulso humano de comunhao com 0 sagrado por meio da reatualila~ao de urn acontecimento mftico que funda uma comunidade (ELIADE. 1992. p. 38-49). A Festa marCd sempre uma rup t ura no tempo "ordinario", ins taurando urn tempo "revers lve l" e sempre renovado no qual 0 evento sagrado de novo acontece. Eliade alerta. cont udo. que a percepo;ao de que 0 tempo nao e homogeneo e comporta descontinuidades nao e exclusiva dos que vivenciam 0 sagrado. Os seres humanos de urn modo geral diferenciam 0 tempo da vida cotidiana do tempo "festivo" que rompe sua monotonia e que abre 0 intervalo especial da festa. da cele brao;ao. da comemora"ao. Momento que tem 0 poder de sacralizar ou distinguir 0 espao;o onde tem lugar. ass im como os construtos, objetos e a tos que Ihe sao vinculados. Por isso. religiosas ou nao. as celebrao;oes coletivas sao poderosos "marcadores" de espao;os e instituidores de lugares e territ6rios aos quais mem6rias. senti mentos de identidade e de pertencimento estao associados. Seu potencial simb61ico e, portanto. incomensuravel.
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o vfnculo orig inilrio e fundador da festa com 0 sagrado e forte e vigente nas chamadas comun idades tradicionais' e em alguns pequenos nucleos rurais, Nesses cas os. ainda e posslvel falar da festa coletiva como um momen ta "supersagrado" de reafirmao;ao e de rearticulao;ao da ordem cosmica e social, Mas, a partir do Renascimen to e da consolidao;ao no Ocidente de uma ordem economica capitalista. verifica -se clarame nte um processo de cre scente ampliao;ao dos momentos "profanos" que an tecede m e sucedem as ce lebrao;6e s re ligiosas - processo q ue ta mbem coincide com a fo rmao;ao e a progressiva hege mon ia de sociedades ocidentais eminentemente laicas, Contemporaneamente. a despeito do ressurgimento da festa como instr umento de afirmao;ao polftica. etnica e terr itoria l. pode-se falar de la como um evento marcadamente profano ou mes mo totalme nte profano. Por que? Essa transformao;ao e decorrencia da na tureza da pr6pria fe sta, As fes tas nao sao eventos soltos no tempo e no espao;o: ao contrario, os seus vfnculos e spaciais e temporais sao profundos, como visto. A festa e um fenomeno sociocultural indissociavel da his toria. da economia. das re lao;6es de poder e da organizao;ao das sociedades hu manas. Recome nda-se. incl usive. que seja abordada como um "fato social tota!"' . 0 que implica enfatizar seu aspecto coletivo. identificar cre no;as e praticas sociais dos grupos envolvidos na celebrao;ao. bem como os processos poIfticos. culturais (i ncluindo aqui os relig iosos). sociais e e conomicos q ue a atravessam. Por e ssa via metodol6g ica. compreende-se a progressiva dessacra lizao;ao da festa no mundo ocidental a partir de quando sao postas em ma rcha as foro;as da economia capita lista e da ciencia moderna, com todas as suas implicao;6es filos6 ficas, cu lturais, re ligiosas. p olfticas e socia is. Res tri tas. inicialmente, 11 area de inAuencia das nao;6es do Ocidente, essas implicao;6es ga nhara m 0 mundo, contemporaneamente, por obra da globalizao;ao da economia e dos avano;os das novas te cnologias de comunicao;ao. Atualmen te. em to do 0 mundo. mome ntos de p rofun da comunhao com 0 sagrado e com seus al icerces cosmol6gicos e comunitarios ainda persistem "intocados", mas grande parte e atrave ssada ou convive. lado a lado. co m fenomenos de massa franca me nte hipertrofiados e art iculados a in teresse s ostensivame nte comerciais e promociona is. Mas tudo isso e "fe sta" e . no Brasil. esse panorama se consolidou nos ulti mos 30 anos na esteira das polfticas de desenvolvimento do turismo, A esta al tura, vale recordar algumas passagens do li vro Camavallj'exa. de Antonio Riserio (1981). no qual. ao analisar 0 proce sso de "trioe le trificao;ao" e "reafrican izao;ao" do Carnaval de Salvador nos anos 1970 (que transformou essa festa numa grande ao;ao de afirmao;ao etnica e estetica). descreve tambem 0 infcio do processo de "turistizao;ao", comercializao;1io e privatizao;ao escabrosa do espao;o publico no qua l a festa mais importa nte da cidade se encontra ime rsa. Dizia entao Rise rio: Atra, do trio. instaurou-se uma especie de zona liberada. te rrit6 rio livre ond e todas as d i st i n~oes vilo por agua aba ixo. princ ipa lment" a socia l (a impossibilidade d e manter a hi" rarquia social em ta l esp<l~o vai levando a uma crescente pr i vati za~ilo de t rios - blocos carnava lescos de pessoas economicamente privileg iadas contralam peque nos e pess imos trios para tocar d"ntro do bloco. na a r"a balizad a e
protegida por cordoes; alem de social e racialmente discriminat6rios. esses tr ios ~o esteticamente prejudiciais ao Carnaval baiano. nllo s6 pela baixa qualidade musical. como pela forma intoleravelmen te deselega nte com que se comportam em rela<;110 aos afoxes. sufocando 0 som dos atabaques). (RISE RIO, 1981. p, 113-114)
3 No hm dos ~n01 1970. 0 entao govemado r Ant6n~ C~ r l os Magalh5e. ampiou
A p rivatiza,ao espacia l aci ma referida. grande mente fo mentada pelas polfticas de desenvolvimento do turismo a partir dos anos 1970 e. mais rece nte mente. pelo marketing urbano. e hoje um dos principais tra,os do Carnava l sote ropolitano. Como conseque ncia dessas politicas, 0 seu vinculo com 0 calendar io relig ioso foi defini tivamente rompido'. comprometera m-se seu carater de ce lebra,ao coletiva e seu papel como espao;o de afirma,ao de ide nt idades. de u itica social. experimenta,ao estetica e ta mbem de transmissao de trad i,oes. Esses impactos sao ainda mais profundos e cla ros quando temos em conta que o Carnaval e a principa l referencia do cicio de festas relig iosas que se d e senrolam no verao baiano, Atingir seu resultado come rcial. se u apelo mid ia tico e sua escala hipertrofiada se tornou meta (ainda que inconfe ssave l) para inumeros gestores municipais e estaduais. 0 que e va lido tambem para os festejos de Sao J oao da Bahia e de varias partes do Nordeste. Na tura lmen te , a apropr ia,ao da cultura como um dos principais insumos para a reprod u,ao e a acumulao;ao do capital financeiro e simb61ico na contemporaneidade. conforme ja apontado (e exaustivamente repetido) por diversos au tores'. fu ndamen ta essa apropriao;ao. Mas a funo;ao da fes ta - inclu indo as hipertrofiadas e comercia lmen te exploradas - como e spa,o sagrado de comunhao e de celebrao;ao. de cria,ao, de transgressao, de afirma,ao e de sociabilidade, apesa r de tudo. ainda permanece.
~ Espec raimente jam"~n
A festa como patrimo nio cultural
No Brasil - pais pr6digo em festas de todos os tamanhos, sentidos e sig nificados - e no plano internacional. as festas SdO reconhecidas como um ambito privilegiado de manifestao;ao do chamado "patr imonio cultural imaterial". De finido como 0 conJun to dos "usos, representao;oes. e xpressoes, conhecimentos e tecnicas junto com os instrumentos, objetos. artefatos e espa,os cultura is que Ihes sao ine ren tes que as comunidades, grupos e, em a lguns casos. indiv iduos re conhe,am como parte integrante de seu patrimonio cultura l" (U NESCO, 2011)' esse novo conceito tem sido uma fe rramenta ideol6gica impor tante para a valorizao;ao de um legado cu ltural antes visto como "menor" ou "sem excepcionalidade" e. principalmente, para uma abordagem da preserva<;:ao do patrimonio mais centrada no ser humano como produtor de cultu ra. Na le gislao;ao brasileira atine nte ao campo. por sua vez. os "rituais e fes tas que marcam a vivencia coletiva do trabalho, da relig iosidade, do entretenimento e de outras prilticas da vida sociar estao reun idos na categoria den ominada "Cele brao;oes. na qual e ressal tada ta mbem sua im portfi nc ia como elementos simb61icos constituintes dos sentidos que marcam os territorios e os lugares S (IP HAN. 2010). Essas defini<;:6es e as d iretrizes de salvaguarda de las de correntes colocam grande enfase no papel que os individuos. os grupos e as comunidade s tem como produtores, detento res. criadores e transmissores
por decreto a dura,"" do C~ rr\ilY~
(1997), Hilfv"y (1993) "
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do patrimonio cultural e. portanto. como"suportes" desse patrimonio e principais alvos do processo de preservao;ao. Em suma. uma enfase mais na dimensao simb61ica e cultural do patrimonio e menos no seu valor economico. Por isso, a dessacra lizao;ao. a hipertrofia. a explorao;ao comercia l e 0 descolamento das fes tas popula res de sua base social e comunitaria sao definidos nessas dire tri zes como ameao;as ao patrimonio cultural imaterial. 0 que explica 0 mal-estar do campo preservacionista quando confrontado com essas quest6es nos processos de reconhecimento patrimonial desse tipo de bem cultural. No Brasil. contudo. 0 conceito de "cele brao;ao" inclui. a lem da relig iosidade e do trabalho. 0 entretenimento como uma priltica que pode confer ir a fes ta um sentido de referencia cultural. 0 que contribui para que se veja sem preconceitos a "patrimonializao;ao" de fenomenos de massa . A polftica de salvaguarda do patrimonio cultural ima terial. implementada pelo Ip han em 2002, tambem contribui para uma postura menos res tritiva a esse respeito e para contornar 0 citado "ma l-estar". Um rap ido o lha r sobre a lista dos bens imate ria is declarados patrimonio cultural do Brasil mos tra festas relig iosas francamente midiilticas e "de massa". como 0 C frio de Nazare. re gistradas ao lado de ce lebra0;5es etnicamente circunscritas e de e nraizamento exclusivamente comun itario. como 0 ri tua l Yaokwa, do povo indfgena enauene-naue, de Mato Grosso. Mas como implementar medidas de salvaguarda de uma Festa da magnitude do Cfrio de Nazare? Os princfpios que orie nta m a polftica brasileira de salvaguarda podem ajudar a responder a essa indagao;ao. Em primeiro lugar. para que 0 processo de reconhecimen to do be m cultural ocorra, e preciso, antes de tudo. que uma coletividade qua lquer se manifeste e se comprome ta com sua salvaguarda. Essa coletividade. q ue reconhece a manifestao;ao como uma refe rencia cu ltural importan te, torna-se interlocutora do poder publico e desempenha papel funda me ntal na identificao;ao e na imple mentao;ao das a0;6es de salvaguarda. Em segundo. cabe ressaltar a necessaria produo;ao de conhecimento sobre 0 bem cu ltura l em causa. etapa e m que a coletividade comprometida atua nao como simples informante, mas como dete ntora privilegiada de conhecimentos sobre o bem. Alem de averiguar a continuidade hist6rica da manifestao;ao cultural. essa produo;ao de conhe cimento permite a e laborao;ao de um diag n6stico que identifica todos os e lementos pertinentes a sua apree nsao como patrim6nio, bem como as ques t6es polfticas religiosas ou socioecon6micas que a impactam. Esse diagn6stico, em suma. permite desenhar as a0;6es de curto. medio e longo prazos que deverao fortalecer as condi0;6es sociais e mate ria is necessarias a vigencia e 11 continuidade do bem cultural e ta mbe m 11 preservao;ao do seu valor social. referenda l e simb6lico. Essas a0;5es comp6em 0 que se c hama de "pIano de salvaguarda". que e implementado pelo poder p ublico e pela cole tividade envolvida ao longo de dez anos, ap6s 0 q ue sao avaliados os impactos positivos e negativos do recon hecime nto patrimonial sobre 0 bem. recome ndando-se ou niio a manuteno;ao do tftulo de patrim6nio cultural do Brasil. Esse tft ulo pode entao se r revogado. 0 que implica admi tir a possibilidade de transformao;ao total ou de desaparecimento da prMica cul tural
registrada. se esta perde senti do para a base social que a sustenta ou se condio;oes sociais. econom icas ou mesmo tecnol6gicas a tornam obsoleta ou cultural e socialmente nao significativa. Nesse caso. 0 registro nos livros institu fdos pelo Decre to n" 3.551/2000 permanece como documentao;ao da vigencia passada e do carilter referencial dessa priltica. contribuindo decisivamente para a preservao;ao da mem6ria soc ial e. eventua lmen te. para sua re tomada no futuro (ver IP HAN . 2003). Outro aspecto importa nte dessa polftica de salvaguarda e a visao do bem cultural imaterial como resultado de um processo hist6rico e socia l que de ma nda sua reiterao;ao e atual izao;ao permanentes. sendo. portanto. a transformao;ao e a adap tao;ao partes fundamentais da sua vigenc ia e da sua conti nuid ade. Mas. a despeito de todas essas precauo;oes conceituais e relativas ao compromisso de uma base social com a continuidade de um be m cultural. as fes tas o u as cele brao;oes. seja qual for sua natureza. colocam dificu ldades conceituais e metodol6gicas ao processo de sa lvaguarda. A lgumas dessas dificuldades se relacionam a sua funo;ao de instrumentos de reforo;o de relao;oes de poder e de manuteno;ao do status quo. assim como ao carater difuso e fluido da base social comp rome tida com a salvaguarda. quando se trata de celebrao;oes de massa ou hipertrofiadas por explorao;oes comerciais e tu rfsticas. 0 conhecimento e a compreensao do contexte hist6rico do surgime nto e do desenvolvimento da Festa ate sua config urao;ao presente. e a iden tificao;ao dos d iversos atores que dela participam e dos mu ltiplos se ntidos e significados que Ihe atribue m. sao ferramentas metodol6gicas fundamentais para esse discernimento. Desse modo. e possfvel identificar as diversas instancias da vida social que a celebrao;ao expressa - sejam religiosas. institucionais. jurfdicas, morais. polfticas. esteticas ou socioeconomicas -. como os atores comprometidos com a salvaguarda se re lacio nam com elas equal e sua capacidade de implementar as ao;oes necessarias a continuidade da Festa como referencia cultural e simb6lica, a despeito dos processos sociais. polfticos e econ6micos que a "atravessam" e a "desviam" dessa funo;ao (ZANOLLI , COST ILLA & ESTRUCH , 2010. p. 14-30). Processos que permanen temente Ihe agregam nao somente novos elementos. mas tambem novos espao;os. A produo;ao de conhecimen to sobre a Festa que funda me nta a salvaguarda deve. assim. se dirigir a todos os seus atores e elementos. sejam e les "orig inarios" ou "esse nciais". sejam novos ou merame nte contingentes. Como mo me ntos de ruptura espao;o-temporal e de instaurao;ao de uma ordem social excepcional. as festas sao como "bondes" que carregam consigo nao somente as perfo rmances e os elementos materiais que as estruturam. mas tudo 0 que "pega carona" no se u trajeto e. freq ue nte mente. expande se u "percurso¡¡. Isso e particularmente perceptfvel nas festas religiosas em que novas construo;oes e imagens surgem como re presentao;ao de uma mesma sacralidade, reproduzindo 0 objeto da devoo;ao e expand indo seu espao;o e seu territ6rio de modo ate mesmo descontfnuo (ZANOLLI. COSTILLA & ESTRUCH. 2010. p. 31). Para 0 desenvolvimento de ao;6es de salvaguarda. e importante conhecer tudo isso. mas. mais ainda. discernir quais desses e lementos e processos a tuam como "ancoras" do valor refere ncial e simb61ico da Festa.
6 V.., "''''pelto do COnc",10 dO' di'P""l lvO d.. pode FOUCAULT (19~SO' 19~4 P 179-192)
No Brasil. os carnavais e as festas de Sao Joao (cada vez mais carnavalizadas) sao exemplos interessantes para confrontar essas rene x6es que parecem importa ntes apenas para 0 exame da pertinencia da patrimonial i za~ao de fen6me nos de massa, mas que 0 sao tambem para a aval ia"ao dessa questao no que toea a festas de menor porte. Em um artigo muito interessante sobre os carnavais na Colombia, Vignolo a nalisa 0 ressurgimento dessas manifesta,,6es populares a partir dos anos 1960 como fe nomenos ligados, na esfera polftica. a processos de legitima"ao popula r e de constru"ao de consensos (como as lutas por cidadania e constru"ao de um imaginario nacional e regional baseado na mesti"agem) e. na esfera economica. ao desenvolvimento do turismo e ao marketing urbano. Em suma, carnavais ligados a processos muito ma is urbanos e capitalistas do que sua suposta natureza ligada a um mundo agrario em desa parecime nto autorizava imag ina r (VIGNO LO, 2010. p. 138-1 42). Vig nolo inte rp reta 0 Carnaval como um dispositivo "ret6rico-material"°. 0 que permitiria des tacar em seu estudo nao somente as taticas de do mina"ao e de cria"ao de conse nsos. mas tambe m as de resistencia. de busca de visibilidade e de reconhecimento "de grupos e cultu ras suba lternas" que se apropria m simbolica-
mente do potencial de mudan'ia e de transforma'iao social dessa Festa (idem. p. 148-160). Assim. propoe que. do ponto de vista do manejo oficia l. 0 Carnaval seja visto como gerador de "mu ltiplos mundos" a partir de um sistema de regras e da mobiliza'iao da riq ueza cu ltural de uma coletividade. Seu estudo implica ria e ntao 0 questionamento "dos referenciais simb6licos. das sintaxes na rrativas. das pautas ideol6g icas e dos reg imes discu rsivos das praticas que compoe essa festa". tan to quanto 0 do seu suporte mate ria l ~ e m especial. no que di z respe ito ao financiamento publico e privado ( Ibide m. p. 163)' Acrescentarfamos a essas orienta'ioes me todol6gicas 0 questionamento da sua organiza'iao espacial. Vignolo observa. por fim. que os carnavais nao sao somente espetacu los: demandam a participa'iao e o envolvimen to do publico e envo lvem de modo d istinto setores de uma cidade ou de uma regiao ( Ibidem. p. 164). Com isso, defende que 0 objetivo das polfticas de sa lvagua rda seja dar a essa Festa 0 lugar que merece na sociedade. nao permitindo que a polifonia de atores q ue Ihe da vida seja silenciada pelas de ma ndas m idiaticas e do espetaculo. A importancia de resgatar a hist6ria dos carnavais e
dos carnavale scos e destacada pelo autor como iniciativa de salvaguarda importante, desde q ue se man te nha uma visao dessa Fes ta como espa<;o criativo e propositivo. abe rto 11 mudan <;a e a vis6es al te rna tivas de sociedade. e m suma , como espa~o onde se man ifestam e sao reguladas contradi<;6es e ten s6es que atravessam a soc iedade (Ibidem. p. 164-166). Portanto. as fes tas populares de massa podem sim ser reconhecidas como patrim6nio e ser obje to de sa lvag uarda. pois ja ha reflexao te6rica e me todol6g ica para faz e- Io com consiste ncia. Para 0 registro do Cfrio de Nazare. por exemp lo. fo i realizada uma completa pesquisa hist6rica e um amplo inven tario nao somente do. digamos assim. "nucleo du ro" dessa celebra<;ao. isto e. do processo anual de p repara~ao e reali z a~ao das prociss6es da Trasladao;ao. do Cfrio e do Recfrio e das ma nifestao;6es profanas "tradicionais" que as acompanham (0 Arra ia!. 0 Almoo;o do Grio. os Brinquedos de Me riti). mas tambem de elementos como a procissao nava l. a procissao dos mo toqueiros. a Festa das filhas da Chiquita dos grupos LGBT. entre outros que se agregaram a Festa em decorrencia da expansao do seu territ6rio ffsico e cultura l e de sua apropria<;ao turfs tica e m idiatica (IPHAN , 2006). Essa e outras festas religiosas de grande porte. como a do Divino Espfrito Santo de Piren6polis. em Goias. mos tra m que. e m torno de um nucleo "tradicional", vao se juntando elementos ma teria is e praticas q ue, a depender dos processos soc ioecon6micos e pol fti cos que perpassam a festa , vao ganhando permanencia. novos sentidos e significados e. eventualmente. aderindo aos "tradicionais" ate se tornar indissociaveis destes. Ja outros. en tre tan to, se mos tram meramen te contingentes e desa parecem do "bonde fes tivo" com a mesma facilidade e rap idez com que entraram.
o
ator social q ue assumi u a lide rano;a do processo de salvaguarda do C frio foi a a rq uidiocese de Belem. por me io da direto ria da Festa do Crrio, apoiada por diversas entidades e organizao;6es q ue pa rt ic ipam do evento. A prefeitura de Belem fo i tambem envolvida como ator fundamenta l para a gestao do espa~o da c e l ebra~ao e da segurano;a dos milh6es de fieis e turis tas que dela pa rt icipam todos os anos. Ass im. buscou-se garanti r a "polifonia de vozes" que fa zem essa Festa. preservando-se seu carater de espao;ojtempo que rompe o ordinario e instaura um momenta coletivo de devo<;ao. encontro e diversao. E esse mapeamento de a tores e de performances que cumpre identificar para que a salvaguarda de uma Festa de grande porte seja bem fundamentada e possa ser dirigida a q ue m. de fa to, organiza. prod uz e pa rt ic ipa da Festa. Os que a exploram comercia lmen te ou simplesmente a consomem importa m tambem. pois fazem parte do fen6m e no e ne le ta mbem deixam sua ma rca. Mas a salvaguarda deve buscar garantir que a Festa nao seja dirigida o u a propriada apenas por seus interesses. Desnecessario di zer entao que e urge nte q ue uma refl e xao nesse sentido seja feita sobre 0 Carnaval de Salvador e tambem sobre as fe stas nordes tinas de Sao Joao. em q ue os interesses dos que e xploram e consomem se tornara m. se nao 0 unico. com certeza 0 foco princ ipal. De um espao;o cu ltura l e socialmente extrema me nte
rico ate os anos de 1970 , 0 Carnaval de Sa lvador se transformou. em grande parte. em um espao;o onde apenas os interesses privados coma nda m um espetaculo cada vez mais pobre em termos esteticos e cultu rais. Os problemas apontados por Riserio em 1981 parecem pequenos d iante do assai to ao espao;o publico da fes ta que se come te todos os an os com a montagem de en ormes e cad a vez mais grandiosos "camarotes" q ue, a parti r de jane iro. tomam conta das ruas da cidade. causando serios tra nstornos para a populao;ao. Ainda se protesta, se inova , se eria e. principa lmente, se brinca nesse Carnaval. mas cada vez com me n os espao;o e me nos espontane idade. a despeito da sign ificativa ampliao;ao do "territ6rio" da festa . Territ6rio entre aspas. porque ja nao e ma is comandado pelos folioes. mas e xclusivamente pelos patrocinadores e exploradores privados que. amparados e incentivados pelo poder publico. estabelecem on de e quando os folioes deve m estar. 0 decreto q ue a mpliou os dias da fes ta nos anos 1970. hoje sabemos, foi 0 primeiro passo na direo;ao dessa hegemonia do privado e 0 preludio do esvaziamento simb6lico e cultural dessa fes ta. Pode-se pensar en tao q ue ja nao seria mais possfve l ve-Ia como um patrimo nio. mas, ao contrario. talvez nada seja mais urgente do que ve-Ia exatamente assim. Resgatar sua hist6 ria e dar voz aos seus multiplos atores pode ser a via para sua retomada como espao;o de mem6ria. brincadeira e eriao;ao. Mas cabe ressalta r que nao sao somente os carnava is e as fe stas po pula res dos grandes ce ntros q ue passam por esse tipo de processo. Mesmo em comunidades peq uenas e estritamente ru rais e possfvel verificar os impac tos do turismo e da explorao;ao comercial de fe stas e fo lguedos e sua transformao;ao de ritual em diversao e de ruptura na vida comum em mera diluio;ao na vida cotidiana (A LME IDA 2012). A importiincia do turismo como a tividade econom ica e inegave l. mas e tambem inegavel que. e m geral. 0 tu rista igno ra 0 senti do simb61 ico da festa e tende a va lorizar exclusivamente seu lado profano. 0 q ue ocorre cada vez mais no meio rural. na medida em que fe stas pequenas e comu nitarias. como a de Santo Antonio nas comunidades quilombolas calungas de Goias. vao entrando nos ca lendarios turfsticos. se aproximando e, por fim. ado tando 0 mode10 da festa co mo expressao to talme nte profana . Ate onde a apropriao;ao turfs tica retira 0 valor simb6l ico, memorial e referencial das fe stas? Responder a essa pergunta importa , e ao mesmo te mpo nao. pois nao e possfvel impedir esses processos que. muitas vezes. sao desejados e fomentados pelos pr6prios produtores/deten to res dessas manifestao;6es. A patrimon ializao;ao. se desejada e ancorada em base social comprometida. pode ser uma via de resistencia a certos abusos ou pelo me nos de busca de equilfbrio entre os varios interesses s imb6licos. identi tarios. polfticos. comerciais e culturais que convergem para as festas. 0 simples registro e a doc umentao;ao de sua mem6ria e de sua configurao;ao presente ja va lem como iniciativa de valorizao;ao simb6lica. pois ressaltam seu carater de documento hist6rico dos processos culturais. sociais e economicos q ue mo vem as sociedades no seu perpetuo caminhar. Podem ta mbem sign ificar a retomada da fe sta como espao;o sagrado de encontro, celebrao;ao. tradio;ao e criao;ao.
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Marcia Sant" Anna Arquiteta I' urbanista graduada pela Un ive rsidade de Btasl1ia, e mestre e doutora em con5erva~iio e restaura pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente e proFessora da Faculdade de Arqu itetura e do Programa de P6s - Gradua~~o em Arquitetura e Urbanismo da Untversidade Federal da Bahia, Pesquisadora da politica de preservasiio de iirea5 urbana~ no Brasil E-mail: ,antanna.m@gmai'-com
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EXTASE E EUFORIA: UM BINOMIO ESTRATEGICO PARA . A COMPREENSAO HISTORICA DO CARNAVALCONTEMPORANEO A
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Milton Moura
Tomando como base 0 caso de Salvador. este artigo reune elementos para pensar a polarizd'iao entre o extase e a euforia como experiencias centrais na configura'iao do Carnaval. Ap6s re tomar alguns conceitos basicos de au tores classicos como Bakhtin e Soroja , constr6i questionamentos sobre a fruio;ao do Carnaval em sociedades modernas, camcterizadas por urn grau crescen te de urbanizdo;ao e industrializdo;ao. buscando nao somente delinear a d istin,ao entre extase e euforia. como tambem descon trair a rigidez que poderia resultar da forma como se colocam em oposio;iio os dois termos. Boa parte da reflexao do Carnaval. a partir dos anos 1970 do seculo XX. parte da obra de Bakhtin. sobretudo de A Cultura Popular na Idade Media e no Renascimento - 0 Contexto de Fram;ois Rabelais (BAKHTIN. 1993). A literatura produzida nas dltimas decadas tem frequentemente visitado os marcos al estabelecidos. Trata-se do acento no riso gra tuito, correspondente a capacidade de rir-se sobretudo de si mesmo: da habilidade em conceber mascaras que conseguem dizer 0 humano de forma mais radical que 0 proprio rosto. tao sujeito as cons tri~oes do meio social: e da e)(posi~ao do baixo corporal. justamente quando a arte ocidental tende a oculta-Io. priorizando corpo da cintura para cima. na apo logia do corao;ao e da mente.
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conceito de inversao desencadeou uma revolu~ao no tratamento da festa, Assim. convem distinguir entre a inversao e a mudan~a social. Quando Bakhtin se refere a inversao carnavalesca. nao pretende que as praticas que tem lugar af correspondam a algo semelhante a uma revolu~ao, Ea segunda vida do povo. como gosta de dizer. que emerge e toma as ruas. numa explosao coletiva de sensibilidade. humor e prazer. 0 sujeito da Festa nao e 0 indivfduo ou a soma de indivfduos: e o povo que comemora. estando 0 indivfduo ao mesmo tempo perdido e encontrado nesse turbilhao de musica. dan~a e drama. Indissociavel dessa perspectiva e a experiencia do extase. do sair de si e encontrar o sentido de viver na dilui~ao da individualidade estrita e na vibra~ao comunitaria. que a literatura an tropol6gica trata na maior parte das vezes em termos de extase religioso. Na busca por desvenda r os mis terios dessas experienCias. os pesquisadores relacionados as ciencias sociais e as artes cenicas tem podido recons tituir experiencias fabulosas na Europa. na Africa e na America. 0 tra~o comum dessas experiencias reside em que as regula~6es que vigem severamente durante quase todo 0 ana sao ate certo ponto suspensas, desencadeando-se. entao. a Festa da rua, Mais ainda que Bakhtin. Baroja (2006) acentua a importancia da organiza~ao medieval do ca lendario como fator principal que delinei a a festividade, Os rigores da Quaresma estao a porta: as pr6prias ins titui~6es ec lesiasticas estimulam a realiza~ao dos fo lguedos, ao mesmo tempo que acenam com a sua i nterdi~ao logo em seguida. Ora. uma qualidade inelud fvel do Carnaval de Baroja e entao 0 que se poderia chamar de dimensao agonfs tica , Como o prazer lancinante de um orgasmo, 0 Carnaval come~a a morrer na plenitude da Ter~a~Feira Gorda. permanecendo tao inseparavel quanto antin6mico com rela~ao a gravidade das Cinzas. E a sua dimensao agon fstica , Poderia mesmo ser Carnaval sem esse susto anunciado. que tudo parece permitir justamente porque se sa be finita a concessao?
A partir de sua extensa obra, entre a etnografia e a hist6ria, pode-se colocar um elemento fundamental para a compreensao de como se vive o Carnaval na Espanha: uma ocasiao para a qual convergem folguedos de todo tipo. 0 Carnaval nao seria. entao. propriamente uma festa, e sim uma oportunidade especial de praticar todo tipo de brincadeira. relativizando os ordenamentos que alcan~avam sua l eg i t i ma~ao durante os outros dias do ano. Autores mais recentes, como Burke e Ladurie. evidenciam outros matizes da Festa carnavalesca. Um deles e a diversidade das formas como esta vem a acontecer. ate mesmo na modern idade. Burke (2006) encontra na Milao do secu lo XV I desfiles comemorativos que nao corres pondem tanto assim as brincadeiras tao caras a Bakhtin: sao carros portando alegorias. cavalos ricamente ajaezados, nobres em cortejo triunfante. Por sua vez, Ladurie (2002). em seu estudo sobre 0 Carnaval de 1580 em Romans, pequena cidade dos Alpes franceses, evidencia como os brincantes se apropriam de formas ludicas tradicionais - nao necessariamente carnavalescas - para eleger reis emblematicos dos
diversos setores da popula"ao. A propria mortandade que se seguiu ao Carnaval de Romans mostra 0 pode r da Festa no se ntido de expressar e desencadear a conn itividade latente naque la sociedade.
o e xtase esta prese nte em dive rsos momentos das pontua,,6es desses autore s. Indivrduos de todos os tipos e pertencimentos - camponese s. a rtesaos. funcionarios. mendigos - tomam as ruas e assu mem papeis coletivos. 0 pr6p rio bufao nao se compreende como 0 desempenho de um indivrduo comico. Esse personagem diz 0 que. para urn indivrduo comum. seria indizrvel. E justamen te sua mascara cenica de bobo. inconse quente e irresponsavel que permite. ocasiona e enseja a enuncia"ao da Frase late nte. quase d ita e jamais d ita e m circunstancias de normalidade. E como em extase carnavalesco que 0 campones pode insultar 0 nobre e dirigir gracejos a dama q ue assiste a sua gargalhada desde a sacada de sua suntuosa residencia. E em e xtase q ue os foli6es podem comer de mais. despe rdi"ando. violando rad icalmente as regras do corned imen to e da pou pan"a: q ue podem be ber desmesuradame nte. sem a censura dos outros dias. Como insiste Bakhtin. a pessoa inteira adere a Festa. ao ponto q ue qualq ue r sinal de passagem entre 0 interior e o exterior e e xperimentado como comunica"ao. ate mesmo os arro tos. o vomito e a fla tu len cia.
o extase da brincadeira dos balano;os. como relata Baroja. permite que pessoas corp ulen tas possam se apresen tar suspensas no ar juntamente com pessoas fran zinas. por e xemplo. Os contrastes resul tantes dessa brincadeira descontraram. assim. a no"ao de homoge neidade hu mana ou a regularidade de sua apresentao;ao. ou mesmo a d itad ura dos padr6es de beleza e saude. Muitos aspectos da sociabilidade estariam se re lativizando. assim. Essas bal izas da inte rpre tao;ao do Carnaval conservam sua validade enquanto recursos metodologicos para pensar a Festa no seu potencial liberador. integ rador e rege nerador. As dific uldades se colocam a parti r de quando se pensam as transformao;6es sofridas pelo Carnaval em virtude dos processos ja referidos de modern izao;ao. urbani zao;ao e industrializao;ao. Isso se da a partir do final do seculo XIX. de forma associada a escalada d e higienizao;ao dos costu mes. 0 que aconteceria. entao. com a Festa da fartura sem et iqueta. do gozo sem d isciplina? As sociedades marcadas pela industrializao;ao passam pelo discip li namen to da Festa como uma condio;ao da pr6pria re alizao;ao desta. Como se poderia pe nsar 0 Rio de Janeiro do inrcio do seculo XX. por ocasiao da refo rma de Pere ira Passos. com todos aqueles cortio;os no ce ntro. tao proximos das avenidas destinadas a do ta r a capital brasileira de urn tra"ado geome trico? Como se poderia pensar essa capital cheia de predios neoclassicos. no me lhor estilo Belle Epoque. com aqueles blocos de pandegos a passar com suas quadrinhas indece ntes. oste ntando a bebedeira. praticando a gal hofa. a musica de dup lo se ntido. as batucadas de aspec to africanizante ou mesmo as pobres ve rs6es dos ze- pere iras que lembravam 0 tempo de portugueses 7
A his tor i ogra ~ a brasileira registra 0 entusiasmo com que as elites acolheram os modelos europeus do mode rno Carnaval. principalmente o desfile das grandes sociedades. tendo a cidade fra ncesa de Nice como refe re ncia principal. Salvador. Recife e Rio de Janeiro a rquivaram abundante material fo togra~co sobre esse Carnaval disciplinado e ordeiro. que tinha como adversario e desafe to 0 Entrudo. a fo rma de Carnaval associada ine vi tavelmente as brincade iras consideradas antihigienicas e atrasadas. Debre t testemunho u para a posteridade as brincadeiras de lano;ar farin ha. ag ua e outros projeteis menos aroma ticos duran te 0 Entrudo. No final do seculo XIX. os jornais da capital traziam ilustrao;oes mos trando a folga no;a. envolvendo desde escravos e criados ate se nhores enfatiotados de cartola e senhoras brancas vestidas com certo destaque.
o desfile carnavalesco. pouco a pouco. veio a substituir a forma livre com que se dava a passagem das batucadas e de pequenos g rupos de mascarados, bem como dos afoxes. grupos associados a te rreiros de cando mble que se apresentava m como uma alego ria desses terreiros. Como anu nciado no primeiro paragrafo. esta re nexao se atem ao caso de Salvador. E e justamente por encontrar a r diversos tipos aparente me nte extemporaneos entre si nos mesmos perrodos que nao procede uma classi ~cao;ao aritmetica dos modelos o rganizacionais. das te maticas e dos repert6rios do Carnava l. As diversas configurao;6es da folia correspondem aos mo me ntos da hist6ria da cidade: essa hist6ria. por sua vez. longe esta de se r retilrnea ou composta de uma serie de etapas compree ndidas a part ir da subseque ncia. Por exemplo, os grupos de travestidos nao obedecem a periodizao;ao. brincam em todas as decadas ... Ao mesmo tempo que essas formas mais soltas reinavam no Carnaval dos mais pobres. alguns grupos de negros q ue havia m logrado colocar-se na sociedade sote ropolitana mon taram blocos de Carnaval de certa forma semelha ntes e simetricos aqueles das elites de pele mais clara. Raphael Vieira Filho (1995: 1997) apo rta cuidadoso estudo sobre a diniim ica entre os dois modelos na Salvador das ultimas decadas do seculo XIX e das primeiras decadas do XX. A part ir de 1870. os Cavaleiros da Noite ja passaram a freque ntar unifo rmizados os bailes de Carnaval. no q ue fora m seguidos por varios outros. Os bailes de mascaras. por sua vez, re montavam explic itamente ao modelo de Veneza. Pelas ruas e pelos becos periferico s. proximos ou dis tantes do centro. teimavam em circular alegremente os fol i6es pobres e escuros. com muitos batuques e muita cachao;a. Em 1883, teve inrcio 0 Carnaval do Fantoc hes da Euterpe, clube de e lite. destaq ue do Carnaval passava a ser 0 luxo dos prestitos e, em versao mais modesta , das pranchas. que podiam nao passar de urn tablado de madeira com alegorias tema ticas deslizando sobre os trilhos do bonde. As ruas da C idade Al ta passava m a ser domrnio dos corsos. se ndo os mais brilhantes 0 Fantoches da Euterpe. com a banda da Polrcia Militar, e 0 Cruz Ve rmelha. com a banda do Corpo de Bombe iros. Os jornais nao poupavam e logios a essas sociedades. ao mesmo tempo que criticavam a preseno;a de foli6es "sujos" e "maltrapil hos" pelas ruas. Seu re pertorio era composto de ma rch inhas e operetas.
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Diversos autores que se debru~aram sobre esse perlodo atestam a liga~ao estreita entre afoxe e candomble. Vejamos 0 que dizem sobre 0 afoxe Nina Rodrigues e Ed ison Carneiro:
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seu sucesso popular esta em constitufrem eles verdade iras fes tas populares africanas [... j compacta mu ltidilo de negros e mesti<;os que a ele. pode-se dize r. se haviam incorporado e que o acomp.-mhavam cantando as cantigas africanas sapateando as suas dan<;as e vitoriando os seus Idolos ou santos que Ihes eram mostrados no carro do feiti~o. Dir-se-ia um candomble colossal a perambula r pelas ruas da cidade. E de feito, vingavam-se assim da polfcia. exibindo em publico a sua festa. (RODRIGUES. 1977. p. 182)
[... j esse estranho cortejo de negros que tocam atabaques e entoam can~oes em nag6. em lou vor das divindades do Candomble. (CARNEIRO, 1982. p.101) No final do seculo. encontramos ja os blocos de negros organizados como prestitos e grandes sociedades. Vieira Filho lembra que esses grupos eram ta mbem chamados "afoxes". mas nao Ihes agradava ser chamados de "tribais" ou "candomble". Referiam-se aos mouros. egfpcios e e tlopes ~ guerreiros africanos g loriosos. nao associados a escravidao ou a pobreza. Os mais fortes eram a Embaixada Africana e os Pandegos da Africa, ambos de cortejo bem d isciplinado. se m coisa alguma que desabonasse a ordem e 0 asseio dos associados. Eram negros candidatos a cidadaos de uma Bahia de bons costume s. bem comportada ... 0 autor ve esse modelo carnavalesco como uma forma de com bater as teorias racistas entao em yoga, que consideravam os negros de modo geral inferiores. incapazes de se organizar. Tanto qu an to para os prestitos da burguesia. era importante a pompa no cortejo. bem como a alegoria da elegiincia e da limpeza. Pode-se tomar entao essa te nsao entre 0 que remete ao passado e aos africanos e 0 que re me te ao fu turo e aos europeus. como italianos e franceses. como uma chave para a compreensao de como as diversas formas carnava le scas se legitimara m e conseguiram atravessar decadas. Mesmo entre os blocos negros. torna-se evidente a postura de negociar arestas para conse guir realizar seu cortejo. Euf6ricos. esses fo lioes logravam apresentar-se como civilizados. sem os excessos e desmandos daquelas brincadeiras que e ram denominadas. genericamente, de En trudo. No seculo XX. 0 Carnava l passa a in tegrar, cada vez mais. a fan tasia tematica e a espetacular i za~ao do cortejo no sentido do performatico. A innuencia do cinema se fez sentir fortemente. sobretudo a sua vertente orientalista. A iconografia remetida ao mundo arabe ~ e de modo geral aos mundos orientais ~ acon teceu como vigoroso motivo na forma~ao e no florescimento de blocos como Filhos de Gandhi , Me rcadores de Bagdah e Cavalheiros de Bagdah. a partir do fina l dos anos 1940. Seguiu-se a forma~ao das escolas de samba. a part ir da divulga~ao da experiencia do Rio de Ja ne iro. e dos blocos de Indio, marcando
a explosao de uma tradi<;:ao de samba num padrao local que nao e ncontraria repercussilo para alem dos limites da cidade. Seria infundado sup~r. contudo. que a mode rniza'iao da cidade e a entrada e m cena de fatores como 0 cinema estivessem necessariamente na contramao da experiencia extatica do Carna vaL A inven'iao do trio eletrico em 1951. a principio como excentrica brincadeira e logo ap6s como um novo tipo de folguedo carnavalesco a desdobrar-se em diversas varia'ioes. represen ta um capitulo mui to especial da his t6ria da festa em Salvador. Ja nos anos 1960. mul tidoes imensas. reunindo dezenas de milhares de fo lioes. e as vezes centenas de milhares deles. cantavam e dan'iavam em torno do trio eletrico. sem fantasias tematicas. mis tura ndo-se af indivfduos das mais diversas origens e condi'i0es socia is. As fo tografias da epoca parece m nao deixar duv ida sobre a experiencia do extase carnavalesco. Nilo deixa de ser iro nico que tudo isso se desenrolava em volta da ad0'iao em escala massiva e crescente de do is fcones do processo de moderniza'iao: 0 auto m6vel e a energia eletrica. Quem se at reveria. entao. a colocar 0 extase como exclusivo das sociedades pre-modernas. ainda nao industrializadas e urba nizadas? As decadas seguintes veriam 0 crescimento do fenomeno do trio eletrico. bem como a cria<;:ao de novos modelos de agremia'iao carnavalesca. 0 ul timo modelo que se baseou numa proposi'iao te matica fo i 0 bloco afro. A partir da segunda metade dos anos 1970, atuou como urn vetor singular na afir ma'iao do valor. da dign idade e da beleza da neg ritude numa sociedade em que as pegadas do escravismo se fazem se ntir por toda parte. 0 extase e a euforia nova mente se tensionam com essa inova'iao. 0 vetor do afro manteve uma complexa inte ra'iao com outros vetores. como 0 pr6prio trio eletrico. A inven'iao da axe music. que alcan'i0u sucesso nacional e manteve-se no centro do Carnaval soteropolitano du rante os anos 1980 e 1990, ocasionou a potencializo'iao dos dois eixos de experiencia carnavalesca de que tra ta este artigo. A euforia de brincar e m torno dos artistas de sucesso podia estar na mesma rua que 0 extase de jun tar os indivfduos de origens e condi'i0es sociais as mais diversas ao redor do trio. A partir da virada do novo seculo. 0 Carnaval sofreu um processo acentuado de mercantiliza'iao e conce ntra'iao. com 0 contro le quase total dos circuitos da festa pelos blocos que pouco a pouco fo ra m e mpresando os trios eletricos. Essas empresas constiturram-se como agen tes de explora'iao do turismo e da segrega<;:ao entre os mais ricos. claros e letrados. de um lado. e os mais pobres e escuros e menos escolarizados. de outro lado. Essa configura'iao guarda ho mologias e analogias com 0 que se verificava na Republica Velha. No momenta em que se escreve este tex to. e como se 0 extase tivesse sucumbido diante da escalada avassaladora da profissionaliza'iao e "empresariza'iao" do CarnavaL 0 pra zer da folia se conce ntra na e uforia de ver passar uma estrela. Um roteiro para compreender essa rela'iao e ntre fa e estrela foi aportado por Marilda Santanna (2009) ao estudar a rela'iao de Da niela Mercury. Ivete Sangalo e Margareth Menezes com se us respectivos publicos. A eufor ia dos fas, admiradores e circunstantes quando da passagem de seus cortejos e de sua apari'iao
em grandes shows dificilmente e reconstitufda pela autora a part ir do referencial te6rico de Edgar Morin. Os momentos em que as estrelas se aproximam de seus His se dao como um extase: os outros momentos. que preparam essa experiencia especialfssima. sao caracterizados por uma no tavel euforia. Se 0 Carnaval a que se refere Bakhtin - qual seja. aquele q ue exala principalmente do Ga rgantua e do Pantagruel de Rabelais - nao se pratica mais e nao se verifica como a ntes a inversao carnavalesca que se constitui como 0 cerne do pe nsamento do autor neste campo tema tico. como pensar entao 0 que ha de descontfnuo - se nao mais invertido - no Carnaval contempora neo? Ora. a pr6pria suspensao da te mporalidade convencio nal dos tempos comuns proporciona e estimula esse clima de euforia que 0 leitor pode observar. ta mbe m. nos grandes festivais musicais e nos shows de artistas consagrados. desde aqueles q ue puderam e soubera m se constituir como fdolos do show business internacional. como Michael Jackson e Madonna. ate aqueles outros que encantam e seduzem intensamente publicos mais restritos geograficamente. como as bandas de pagode. arrocha. forr6 e sertanejo por este pafs afora.
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Como mostrou a experiencia do trio eletrico e m Salvador. nao se trata de uma simples passagem do extatico ao e uf6rico como uma sequencia cronol6gica. 0 mundo contemporaneo continua pedindo 0 extase. urg indo pelo extase. como atesta 0 surgimento de novas formas religiosas que 0 operacionalizam. A tradit;ao do Carnaval ainda tem mui to a desdobrar de seu poder magico de propiciar a passagem do cotidiano cinzento e estressante para a fo lia colorida e entusiastica. como a sinaliza r q ue 0 se ntido estaria me nos disponfvel no horizonte da racionalidade que naquele do prazer interativo. Extaticos e euf6ricos. folioes do mundo inteiro querem ser felizes no meio da rua. zombando da sisudez de urn mundo violento e sombrio.
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de Ca",aYal do uadicOonal bIoco Co<&o do ~a Proia. ~"" """ do centro do Rio de .Ja~o. rei" C.. o c....,...,r",-...
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M ilton Mou ra Fil6sofo graduado pela PUC-RJ. e mestre em Clencias socia'5 e doulor em comunica~ilo ~ cultura contempolanea, pela Un ivers idade Federal da Bahia onde alua como professor associado do Departamento de Hi5tona, Desenvo lve pes quisas sobre historia do Carnava l I' outras festa" mlisica popular I' constru~iio de ident idades, Coordena 0 Grupo de Pesqlllsas 0 Som do Lugar e 0 Mundo. E- ma il: araujomoura(Nerra.coln.br
FESTAS POPULARES BRASILEIRAS: ENTREVISTA!CONVERSA COM MARIA LAURA VIVEIROS DE CASTRO CAVALCANTI Paulo Miguez/Maria Laura Viveiros de Castro Cava/canti
Hoje e 0 die da Lavagem do Bonfim. em Salvador. Assim. estou trocando a Lavagem por uma estudiosa da festa . 0 que nao e pouca eoisa. [risos] Muito honrada ...
o dia da Lavagem eurn dia lindo na cidade de Salvador. Euma Festa que vern Iii do seculo XVIII e e uma des poucas Festas populares -
do grande cicio de festas que tfnhamos na cidade - que permanece com uma for'iB impressionante. juntamente com 0 1 de fevereiro, dia da Festa de lemaoJa. que e a unicil Festa efetivamente ligada ao mundo do candomble. inventada pelo mundo do candomble. que vern Iii dos Bnos 1920. e 0 Bonfim, que e uma Festa cat6lica. mas na qual 0 candomble obviamente esti!i presentf'. ja que Ii tamblim uma festa para Oxala. Estou no Rio. nao estou Iii. mas you falar de festa ... A festa Ii um fenomeno cultural trans-historico e transcultural. um fenorneno da cultura que esta presente em todas as culturas ao longo da historia. Por que e que. entre nos. ela talvez assuma urna dimensao ainda maior do que obviamente ela tem em qualquer sociedade. qualquer cultura? 0 que Ii que voce acha? A cultura popular brasileira e muito festiva. Uma das raz6es e a conforma<jao hist6rica dessa cultura. dentro da moldura temporal do calendario cristao de fundo cat6lico. nao no sentido estrito religioso. mas como ordena<jao do mundo. Esse calendario e dclico e as festas foram se aninhando nele. incorporando d iferentes grupos populacionais e pontuando nosso calendario anual. Ao contrario dos anos. que se sucedem e nao voltam para tras. as fes tas voltam sempre. Eaquela coisa gos tosa. todo ana tem. se perdeu ou se ganhou. se foi bom ou se foi ruim. logo tudo recome<ja e a mesma festa no novo ana jii vem de uma forma um pouco diferente. A forma<jao do Carnaval. modelo da ideia mesma de fes ta. e exemplar nesse senti do. Com a cristianiza<jao da Europa na Idade Media. organizou-se 0 calendario gregoriano que ate hoje nos rege. e todo um grande un iverso anterior de celebra<j6es. ditas pagas. foi se aninhando no nicho temporal
imediatamente antes da Quaresma. Esse cale ndario se movimenta em fun~ao da marca~ao da Pascoa. da ressurre i«ao de Cristo. e tornou a passagem do ana ritmada. emocional e afetiva. Aco mpanho Gilberto Fre ire nesse ponto. Os portugueses q ue aqui chegaram. e mbora tivessem um mapa de espa«o muito moderno. 0 mais moderno da e poca. tinha m uma visao mais tradiciona l do tempo. Essa moldura tradicional da temporalidade foi fun da me ntal na conforma«ao do que chamamos hoje de cultura popular brasileira. Nela se acomoda ram diferentes etnias e grupos populacionais. As fes tas afro-brasileiras. como a do Bonfim. de que voce falou ... As festas do catolicismo popular... Esse catolicismo devocional. essa mistura dos santos com as d ivindades. com os orixas. Voce falava de um calendi!irio como um elemento decisivo na organiza~ao dessa trama festiva. A Camara dos Deputados. pelo que Ii. esti!i em vias de aprovar uma lei que fixa a data do Carnaval. decisao que reflete 0 mais profundo desconhecimento do que Ii 0 Carnaval dentro do calendi!irio cr;stao. Essa e uma boa questao. e 0 Brasil e um pars curioso. Como nos lembra Roberto DaMatta: tem vezes em que uma lei "pega"' - como a Lei Seca mais recente mente - e tem vezes em que "nao pe ga". A gente nunca sabe como a vida social propriamente dita vai se comportar com rela~ao a uma orienta«ao desse tipo no caso festivo. 0 Carnaval. por ter como refe renda a Pascoa. e uma data m6vel. Acho que uma das grandes gra«as das datas m6veis e justamente a dinamica nao racional que e las introduzem na nossa experie ncia do ano. Nao sao como as datas hist6ricas. como 0 Sete de Setembro. Elas sao re gidas por cosmologias de outro tipo. mais ligadas inclusive aos ciclos da na tureza. as passage ns das esta~6es. Euma questao em aberto. Eu. particularmente. acho muito simpatico esse elemento de desorgan i za~ao que a expe riencia da festa tra z para a vida social rotineira. porque e la tra z uma abertura para di me ns6es da vida coletiva que 0 mundo co ntemporaneo. regido pe lo trabalho. pela produtividade. tende a nao enfatiza r... Essa postura da Camara nos remete a um problema que eu queria colocar aqui na nossa conversa: as recorrentes tentativas da industria do turismo de subordinar as festas aos seus interesses de ordem pratica. como. neste caso. 0 Carnaval. ..
E. ter uma data fixa no mundo inteiro... Isso. Vejamos 0 caso das grandes festas publicas brasileiras. particularmente 0 Carnaval e 0 cicio de festas juninas do Nordeste. mas nao s6. Creio que. nas ul timas tres decadas. essas grandes festas tem sido fortemente alcan«adas por alguns fenomenos como a espetaculariza<jao. a midiatiza<jao. II turistifica'iao. II ado<jao de dinamicas fortemente mercllntis. Como e que voce ve 0 impacto desses processos na conforma'iao dessas festas?
No caso do Carnaval. e u nao tenho clareza. porque tudo depende muito de como as for~as sociais vivas reagem a a lguma coisa que e definida de fora para dentro. como seria um caso desses (da definir;iio de uma data fixa para os festejos). Fico sempre me lembrando da questao da apo teose quando da inau gura~ao da Passarela do Samba. no Rio de Janeiro. em 1984.0 arqui teto Oscar Niemeyer desenhou a passarela para as escolas de samba fa zerem uma "apoteose" ao final de cada desfile. na chamada Pra~a da Apoteose, uma ideia do antrop610go Darcy Ribeiro, que era secretario de Cultura do estado na epoca. Mas simplesmente nao funcionou. as escolas tentaram no primeiro a no. mas isso logo foi ignorado e ning uem nunca mais falou d isso. A Pra~a da Apoteose esta la ate hoje. mas 0 desfile e um cortejo linear e eles fize ra m do espa~o redondo da suposta pra~a uma linha, preenchendo as laterais com cadeiras. e garantiram desse modo a forma linear do cortejo ate 0 trecho final. A proposta era contraria a forma daque la expressao festiva. Entao sempre te m contra rres postas a esse tipo de proposta ... Ou seja. felizmente . 0 Carnaval e mais forte do que esse tipo de proposta ... As festas sao muito fortes, e m mui tos casos elas englobam as sociedades como um todo, como e 0 caso do Carnaval brasileiro. A margem temporal do Carnaval e bem variavel, ela depende da Pascoa crista. q ue cai se mpre no prime iro do mingo seguinte a lua cheia imediatame nte depois do equin6cio de primavera. do Hemisferio Norte. fixado dia 21 de mar~o. 0 domingo de Carnaval vai cair se mpre sete domingos a ntes do domingo de Pascoa. Com isso. ja pe rce bemos que 0 Carnaval nao esta sozinho no nosso calendario. ele faz um par simb61ico muito forte com a Quaresma. Esse comporta mento excessivo. brincalhao. barulhento, vaidoso, competitivo. Aq uele "e hoje s6. amanha nao tern mais". "eu you me acabar". E voce quer se acabar mesmo e ficar doente na Quarta-Feira de Cinzas. Esse tipo de comportamento e de expe riencia nao faz sentido sozinho. se contrap6e nao 56 a rot ina como a ide ia geral do regramen to. da penitencia. do autocontrole do tempo da Quaresma. Mexer com a da ta do Carna val e mexe r com 0 sentido simb61ico profundo desse jogo entre excesso versus conten~ao, da famosa briga secula r do Carnaval com a Quaresma. Em rela~ao a rnudan~a da data. outra coisa interessante: a Igreja nao se manifestou em rela~ao a isso. A hierarquia da Igreja nao disse nada. porque as Cinzds. a Ter~a - Feira Gorda. tern a ver com aqueles 40 dias depois do Carnaval. E a Igreja ... nao vai dizer nada?
E. Carnaval se acaba em cinzas e re nasce das cinzas. Isso fa la da importancia das dime ns6es tradicionais das fes tas populares. por mais espetaculares. comercializadas e turrsticas que sejarn. Mas ha casos bem-sucedidos de rede fi n i~ao de data. Veja 0 caso dos bumbas de Parintins. Amazonas. uma varia nte espetacular dos folg uedos do boi que. no Norte do pars, integram 0 cicio fe stivo junino. Quando comecei a pesquisar 0 Festival Folcl6rico de Parintins, ele acontecia nos dias 28. 29 e 30 de junho. fechando a se mana que come~a no dia de Sao Joao. 23 de junho. e pegando 0 dia de Santo Antonio, 28 de junho.
M...., L..... Viveoro, d. C.,tro C.volconti
F",,, And.i~ ;
Com isso. a Festa caia em qualquer d ia da semana. Mesmo em Manaus. na capital do e stado. tudo parava nessa semana. Eles deslocaram entao a Festa pa ra 0 ul timo fi m de sema na do mes de junho - as noites de sexta. sabado e domingo. A ma rgem de mob ilidade da Festa jti era pequena, e essa mudan"a foi uma solu"ao de compro misso, porque a Festa co ntinuou dentro do cicio fe stivo tradicional e se ajustou ao mesmo tempo a um esfor"o mo de rnizado r. Esses assuntos sao de licados.
o Carnaval tem uma velha tradi~ao de simplesmente desconsiderar as tentativas de imposi~iio de uma ordem que Ihe e estranha. Ao longo da sua historia. quantas vezes ele foi dado como morto. quantas vezes ele foi objeto de interdi'joes e la estava ele. firme e forte . Carnaval e uma Festa espetacular. que se e rg ue no centirio da cultura ociden tal como "a Festa" por excelencia. 0 Brasil tern um dos ma iores Carnavais do mundo, pela sua d iversidad e. pela riqueza de ssas express6es... A rigor. 0 titulo do livro de Jorge Amado 0 Pars do Carnaval nao da conta da cena carnavalesca brasileira. pois nao somos 0 pafs do Carnaval. Somos um pafs. tomando por emprestimo 0 tftulo de um.!l can'jiio de Caetano Veloso. de "muitos Carn.!lvais¡¡, Carnavais que, apesar de terem grandes similitudes, particularmente quanto as suas origens. sao muito especfficos. muito diferentes entre si. Especialmente a partir da segunda metade do seculo XX. eles caminharam em dire'joes ... A partir dos anos 1980. sobretudo. hi! uma nova dina mica da indus tria do turismo e uma mudan"a na pro pria visao de cultura brasileira. A rep re senta"ao simb61ica da iden tidade cultura l brasileira, dos anos 1980 em diante, vai se fragme ntando. va i se descentra liza ndo. entao a diversidade cultural emerge com ma is fo r"a. Desde os anos 1970. ainda nos anos da ditadura. as secretarias estaduais de Turismo se art iculam com as secre ta rias de Cultura e participam da reorga niza"ao desses calendtirios fest ivos tradicionais. que sao calendi!rios im porta ntes para as cidades. pa ra as reg i6es. e toda essa instilncia politica mais moderna se fa z p resente na organiza"ao das festas. Sobre a rela~ao entre a politica e 0 C.!Irnaval. observei algo muito interessante nas elei,,6es municipais de 2012 no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, vi um candidato a prefeito. 0 Marcelo Freixo, com coragem de colo car como um tema de campanha 0 Carnaval. Como baiano. do ponto de vista da vida polftico-festiva b.!lian.!l. senti uma inveja profunda dos cariocas. que tiveram a sua disposi'jao um candidato que pensava o Carnaval como uma questao estrategica para a cidade. Como voce viu isso e como voce ve. no geral. a rela~iio do poder publico municipal com 0 C.!Irn.!lval do ponto de vista de polfticas para a festal Ai vamos falar especificamente do Carnaval do Rio de Jane iro - com todo 0 respeito pela grandeza do Carnaval baiano -. porque 0 Carnaval do Rio e muito diferente do Carnaval baiano. ate pe lo fato de ele ter no seu centro as escolas de samba. Nilo existe uma fo rma carnavalesca meIhor do que outra. nao e? Elas sao todas mu ito diferentes. Mas a forma. a expressao cultural escola de samba e muito elaborada do ponto de vista artist ico. po rque tem um enredo. um samba que canta esse e nre-
do. tem a plasticidade das alegorias. das fantasias. Indepe nden temente da te levisao. a natu reza do desfile das e scolas e muito barroca. liga-se a tradio;ao das grandes procissoes. do deslu mbrame nto. da coisa mais extatica. a qual se somou a foro;a rftmica da tradi'iao afro-brasileira. que e poderosfssima! Nao tem pessoa q ue fique quieta ao lado de uma bateria de escola de samba! [risos] A explosiva combina'iao da sfncopa com a escola.
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universo barroco produziu
Produziu uma coisa unica chamada e scola de samba. A originalidade dessa combinao;ao teve uma adesao popular imensa. As escolas de samba no Rio sao respo nsaveis pela p ropria conforma'iao histo rica da cidade. a ligao;ao de suburbios. de areas perifer icas. de mo rros. de a reas ma rg inais. com os bairros de camadas medias e populares. Estacio. Vila Isabel. Tijuca. Madureira sao bairros de uma metropole em forma'iao. pertencia m ja no come'i0 do seculo XX a um Rio de Janeiro cosmopolita. 0 radio e a industria fonog rafica ja estavam la nos a nos 1920. Noe l Rosa grava ndo samba ... As escolas sao fruto desse mo menta mode mo da cidade do Rio de Ja neiro. Elas acompan haram a e xpansao urbana ao lange do seculo XX. Onde iam surgindo agru pamentos de popula'iao. la se fun davam um clube de futebo l e uma escola de samba. Eram as experiencias de lazer das camadas pop ula res. Mas ~ e os do is casos sao expressivos - e tudo ce ntrfpeto, porque e las estao la. nos bairros perifericos. mas e las vem desfila r no ce ntro da cidade. As escolas de samba. desde m uito cedo, se organizaram em tome do desfile fe stivo ce ntral. Entao, esse gosto por o cu par as ruas centrais semp re fez das escolas um lugar de muita interao;ao e muita comun icao;ao. As pessoas as vezes falam ass im: "Ah. os blocos no Rio. os blocos sao 0 maximo. nao e?". Sao mui to legais mes mo. Mas. de um ponto de vista soci0l6gico. eles sao mais simples e homogeneos. E0 bloco daque le grupo. 0 bloco daque le outro gru po, 0 bloco de pessoas que se conhece m e se ab re m a outros grupos no CamavaL Numa e scola de samba do Rio de Ja neiro. se voce pisa ali, vo ce tem de estar disposto a lidar com a dife ren'ia cultural. Porq ue voce vai encontrar gente de todos os segmentos sociais. E isso faz 0 Rio de Jane iro se r o Rio de Janeiro. As escolas de samba sao um lugar fun da menta l de a rticula'iao da heterogeneidade social. Tendemos a valorizar muito a orige m. nos anos 1920/1930. Mas 0 apo ge u aconteceu nos anos 1950/1960, quando 0 desfile ganha 0 pe rfil que tem agora. e ate hoje isso esta em expansao, a cidade tem quase 70 escolas d e samba atualme nte. Os anos 1950/1960 sao tambem 0 momento de apogeu e grande riqueza das escolas de samba. do Carnaval de Salvador - tivemos grandes escolas de samba ate. aproximadamente. a virada dos anos 1960 para os 1970 (Diplomatas de Amaralina. Juventude do Garcia, Filhos do Toror6. Ritmistas da liberdade - uma hist6ria que precisa ainda ser contada). A partir daf elas foram perdendo espao;o para manifesta'i0es cllmavalescas mais locais. especialmente a partir da metade dos anos 1970. com a emergencia dos blocos afro ~ em larga medida. os participantes das eseolas de samba. especialmente os percussionistas. vao migrar para os bloeos afro que eomeo;am a surgir nesse perfodo.
Tem esse deslocamento, nao e? Essa e uma boa con versa. e voce me ajuda a ver a importancia de o lharmos essas expressoes festivas de uma forma nao reificada. Lembro que quando te perguntei uma vez sobre 0 fim das escolas de samba em Salvador. voce ponderou: "Nao. as escolas acabaram em termos, porque as pessoas do samba e que passaram a fazer outra coisa". Entao. de certa forma permaneceu um conhecimento que foi transformado. Especialmente do ponto de vista musical. por exemplo. em rela~ao aos grandes percussionistas. Por exemplo. Neguinho do Samba. que jii nos deixou e que e tido como 0 grande inventor do s.!lmba-reggae. tocava em bateria de escola de samba. Entao. hii uma linha de continuidade que e interessante. Esse aspecto e muito importante. porque em geral tendemos a reificar a ideia da festa . Entao existe a Festa do Divino. a Festa do Boi. 0 Carnaval com suas muitas formas. Mas. qua ndo chegamos mais perto da vida rea l. das pessoas que fazem essas festas. vemos que as pessoas fazem mui tas coisas d iferentes e se comunicam muito entre si. Uma festa nao pode ser vista 56 como um emblema identit6rio, ou me smo como emblema de uma polftica regional de turismo. Isso muitas vezes sobrecarrega e enrijece uma festa. e por vezes se cometem injusti<;:as ou se favorecem preconceitos. Sobretudo em te rmos de polfticas publicas, que passam a ver alguma coisa como mais auten tica e outras menos au tenticas. Isso e muito complicado e as expressoes cu lturais tem diferentes regime s de autenticidade. nao existe uma forma unica de ser auten tico. Essa eterna busca de raiz causa sempre muitos problemas - tudo aver com a botanica: nada a ver com a cultura. [risos] ... a cultura dos inhames. das batatas ... [risos]. Mas temos pes e sonhos. nao e mesmo? Somos seres comunicantes e as camadas populares tem gra nde mobilidade. um transi te intense pelo Brasil afora. e mu itas ve zes mu ndo afora. Essa e uma das ra zoes da contemporaneidade das festas. As festas conversam entre si. as pessoas se observam, se comparam, se deslocam. se modificam. mudam de lugaL H6 uma grande troca de conhecimentos festivos entre seus participantes, que transi tam mu itas vezes entre compromissos. regioes e locais muito diferentes.
As tecnologias de Parintins alcan~ando os des files de escolas de samba ... Ou alcan<;:ando as fe stas da Revol ta da Laguna, em Santa Catarina! Os lugares mais inusitados, como uma Festa do D ivino no interior de Minas Gerais. Esse tra nsite nao respeita fronteiras intelectuais ou ana lft icas. as pessoas querem celebrar. E af.
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Freixo...
o gra nde merito de sua campanha foi reconhecer publicamente a importancia do desfile das escolas de samba na vida da cidade. Era sobre isso que eu comecei a fala r e acabei me perdendo. Isso trouxe a baila as-
suntos importantes. como a nece ssidade de p resta"ao de contas para as subven,,6es. os subsfdios e os patrocfnios dados lis escolas. Ate hoje. q ue e u saiba. a un ica parcela so bre a qual a liga Independen te das Escolas de Samba presta contas e a da verba da venda de ingressos. Essa regu lariza"ao fiscal e um passo fun da menta l. Mas houve aspectos problematicos na abordagem desse tema na campanha. ao me nos como a coisa chegou aos jornais. Tenho alunos de mes trado e dou torado muito ligados ao Carnaval e todos eles se jogaram de cabe ÂŤa na campanha do Fre ixo. Quando fa lamos do desfile carnavalesco. pe nsamos nas grandes escolas. mas as grandes sao 56 12. e tem quase 70 no total. E 0 mundo das grandes e 0 mundo das pequenas escolas sao mu ito diferentes. A campanha para a p refeitura abriu e spa"o para esse lado oculto do sis~ tema cultural das escolas de samba que e um todo. e isso teve impacto. que achei complicado foi 0 que de dirigismo cultural que apa re ceu na maneira como 0 debate veio a publico. em especial naquilo que di zia respeito ao problema do patrocfnio e dos enredos encomendados. Simplificando. foi mais ou menos ass im: "Olha. gente. 0 patrocfnio traz temas inautenticos. tra z temas alienfgenas. e a ge nte tem de fala r de temas q ue sao temas brasileiros e nacionais". Eu tenho sempre muito medo desse tipo de coisa.
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Eperigoso... Epe rigoso porque quem e que vai d izer 0
que pode e 0 que nao pode? A gente ja passou por isso: "0 Estado d izer 0 que pode e 0 que nao pode?". "Quem vai di ze r isso?" e "Vai subordinar subvenÂŤao a issoT. Quem ja passou pe lo tempo das patrulhas ideol6gicas. q ue m viveu isso reage, nao e? No meu entender. 0 problema e fiscal. e isso tem de se r enfrentado. Agora, 0 problema do e nredo nao e do que e le fala. e como ele fala . Pode se r a coisa mais estapafurdia do mundo e ser um sucesso. ou se r mesmo uma coisa meio absurda. como 0 e nredo do iogurte em 2012 [risos]. .. os lacto bacilos do samba! [mais risos]. 0 tema e m si nao e um problema, ja vi a Rosa Magalhaes falar sobre 0 arroz de forma magnifica. Agora, concordo que 0 debate sobre 0 Carn aval e um debate publico fun da me ntal e e preciso um lugar para fala r e debater. e esse lugar e diffcil de ter. Acho que a novidade proposta pela campanha do Freixo e exatamente ter dado dignidade ao tema Carnaval. Educa<jao e saude sao temas. claro. de grande importancia . Mas, numa cidade como 0 Rio de Janeiro. e muito importante discutir 0 Carnaval. uma questao que esta no mesmo pe de igualdade que outros temas. Infelizmente. em Salvador. cidade onde 0 Carnaval tem uma importancia semelhante aquela que tem aqui no Rio de Janeiro, a questao. para alem das frases 6bvias e generalistas. nlio foi abordada por nenhum dos candidatos. Quando se pergunta "Mas e as escolas de samba?". a resposta e geralmen te "Ai. esse assunto e um assunto tao cabe ludo ... 1". Af acaba assim: "Deixa 0 pr6ximo Carnaval passar, a f a gen te vai pensar sobre isso". Como e que as polfticas de patrimonio imaterial tem se aproximado das grandes festas?
o Brasil e um pafs que tem polit icas de patrimonio muito interessantes, se voce pensar do ponto de vista mundiaL 0 debate sobre 0 patrimonio integ ra a fo rma"ao das ins titui"oes cultura is brasileiras desde 1937. e 0 Brasil tem a felicidade de ter tido 0 Ma rio de Andrade. nao e mesmo? Mario de Andrade ja propunha.la atras. uma visao mais etnografica. mais antropologica mesmo de patrimon io cultural. Eessa a visao que. desde o ana 2000, foi assum ida pelo pro prio Iphan. pelo Min isterio da Cultura: patrimo nio e aquilo q ue as proprias pessoas e os grupos sociais que faze m e p roduzem conside ra m importan te. Essa no"ao se contrapos e se somou. de uma forma muit o democratizante. a visao da excepcionalidade do valor artfstico. que orie ntava as polit icas de patrimonio ate entao. Essa nova visao abrange muitos dos chamados circuitos da cultura tradiciona L As politicas de patrimonio cultural intangive l atuais tende m, por razoes muito meritorias. a trabalhar com a ide ia da cultura tradicional. Entao, e ssas gran des festas sao festas as vezes mais impo rta ntes e duradouras do que este ou aquele governo! [risos] Elas transbordam o s poderes instituidos ... 0 governo vai passar e e las vao continuar! E 0 proximo governante." Elas englobam a Igreja. as au toridades. 0 governo. Eu fui a La ranje iras, Sergipe, agora em janeiro. Laranjeiras tem uma cultura trad icional fortiss ima. 0 padre de Laranjeiras tem de estar de aco rdo com aquilo. porque senao nao fica ali! [risos] Vai ser paroco em o utro lugar... Agora. nosso pafs e um pais de desafios. En tao, por exemplo. se a gente pensa 0 mundo do samba como expressao musical. que e um mu ndo que interpenetra as fes tas de CarnavaL Houve a patri monializa"ao do samba do Rec6ncavo Baiano, que e um circuito tradicional. e re lacionado a fo rma"ao do samba como genera musical de modo geral... Mas esta la ainda ... Mas esta la na ideia da origem do samba tambe m, porque os baianos vieram para 0 Rio e aqui participaram tambe m da forma"ao das e scolas de samba. entao liga tudo. e bem brasile iro ... E continua IL Sao circuitos tradicionais com dan"as e specrficas. modalidades especrficas. instrumentos especrfico s... Alguns em risco de desaparecimento. E ai os tecnicos do Iphan vao la. e a adesao dos grupos de sambadeiros e sambadores - como e le s se autodenominam - 11 proposta de patrimonializa"ao foi impressiona nte. E com um efeito modern izador q ue gestou inclusive a Associa"ao de Sambade iros e Sambade iras. Eintere ssante. porque a propria atua"ao de uma politica publica em um circuito de cultura tradicional. para "proteger", e tambem muito transfo rmadora daquele ambien te. Porque a ideia de associa"ao, a lide ran"a. 0 vocabula rio burocratico... As disputas .. As disputas ... a possibilidade de as camadas populares com seus produtores cultura is serem dire tamente concorrentes em editais publicos. que e uma co isa que acontece muito no Brasil contemporaneo ... Isso exige a forma"ao de lideran"as. uma g rande troca de conhecimentos. porque e les precisam aprender 0 vocabulario burocratico. precisam a prender a prestar
contas ... Entao e uma atua~ao muito modernizadora sob e sse aspecto. 0 Brasil esta vivendo isso... E ao me smo tempo e muito inclusivo tambem. Sim ... no Para.
o Cfrio de Nazare. Eum projeto que foi importante na area das celebra~oes .
Agora. quando 0 Iphan entra ali. ele precisa entrar bem. Daf a relevancia dos inventarios. das pesquisas desenvolvidas pelas politicas publicas de patrimonializa~ao> que buscam ouvir os atores sociais. qualificar 0 tipo de apoio e encontrar em dialogo a melhor maneira de apoiar. Porque ha os chamados Pianos de Salvagua rda acoplados ao regis tro de um bem como patrimonio cultural imaterial. Dentro de uma Festa espetacu lar. turfstica e comercializada. mesmo que religiosa. ha muitas coisas que nao precisam desse t ipo de apoio. mas ha sempre muitos aspectos que precisam certamente de compreensao e de apoio. No Carnav-'ll da Bahia. por exemplo. a ausencia dessas polfticas deixa numa situa(jao de fragilidade imensa os afoxes - nilo e 0 C-'lSO do afoxe Filhos de Gandhi (fundado em 1949) . que e uma entidade carnavalesca que jii esta conectada com 0 mundo do turismo. com as praticas merc-'lntis etc . - . manifesta(joes que tern urna rela~ao direta com os terreiros de candomble e que nao podem estar submetidas a decisoes de cariiter meramente comerciais. Compree ndo. E0 Orixa que reso lve ... Eo Orixli que resolve se Nao e
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afoxe vai sair ou nao no Carnaval.. .
governador. nem 0 prefeito. nem quem contratou ...
Nem 0 patrocinadorl Gostaria de ver como e que vao incluir uma cliiusula no contrato de patrocfnio que contemple 0 poder de veto do Orixii! Porque a ultima palavra nao e do patrocinador. e do Orixii. Assim. a ausencia de politicas ilcaba dificultando a presen~a dessas organiza(joes... Polrtic-'ls que cUidem. por exemplo. da forma~ao dos musicos dos afoxes. os alabes ...
E. ha a reas que me receriam 0
apoio de uma polftica publica organizada. mas como a gen te esta ali no meio daque la g rande festa ... e diffcil fazer ver. e entender. os aspectos mais problematicos. As pessoas tendem a ser muito ajuizadoras. sabe. elas valoram muito: "Acho que nao deveria ser assim. que deveria se r assado¡¡. e com isso ninguem chega perto para ver 0 que acontece de fato. Mesmo em fes tas espe tacularizadas. em que corre mui to d inheiro em certos circu itos. em que se fazem presentes interesses politicos importantes. ha mui tas vezes outras coisas muito ligadas a circuitos mais trad icionais. Num processo fes tivo. tudo isso ocorre ao mesmo tempo. A pr6pria disputa do territ6rio da festa: como eles. os afoxes. nilo tern poder de enfrentamento junto as grandes organiza(joes carnavalescas e 0 governo nilo tem polrticas dedicadas a organiza(jao da festa de urn ponto de vista cultural - a rigor. as polfticas que 0 governo municipal vern desenvolvendo estiio quase exclusivarnente voltadas para 0 for-
necimento da infraestrutura e dos servi~os indispensaveis a Festa (seguran~a . saude. limpeza publica. iluminaliao etc.) . De resto. disputa 0 mercado de patrocfnios como se Fosse apenas mais um ator da Festa e assiste. recusando-se a assumir 0 papel que Ihe cabe de responsavel pelo patrim6nio cultural. a uma 16gica de organizaliao dos desfiles que atende exclusivamente aos interesses do mercado - acabam por experimentar uma quase absoluta invisibilidade. por exemplo. desfilando na madrugada.
E.Tinha de ter uma instancia para mediar isso...
E. polfticas que efetivamente garantissem 0 lugar que tem por direito na Festa. Veja no Rio de Janeiro 0 problema das pequenas escolas de samba. Ha escolas de fam~ia, que estao af ha tempos e que estao fazendo uma coisa mui to bacana. e sao pouco conhecidas e valorizadas. E nao tem muito lugar para debate, nao. E e complicado. porque 0 mundo da cultura popular pode converg ir com a bandidagem tambem. Aqui no Rio de Janeiro temos 0 problema dos milicianos. dos banqueiros de jogo do bicho. do trafico. da corrup"ao de au toridades no meio da organiza"ao das escolas de samba. E e um mundo muito diffcil e complexo. Mas sao os desafios de nossa sociedade. Oaf a re levancia das universidades e de nossas pesquisas. Na universidade. temos li berdade. nao estamos, em tese, presos aos interesses mais imediatos que vigoram nessa ou naque la Festa. Podemos dar nome aos bois. fa lar dos problemas presentes nas festas. que sao sempre os problemas de uma sociedade... Af vem 0 gancho para a ultima questao que eu quero colocar para voce: e os estudos da Festa? Como e que voce ve hoje 0 estado da arte desses estudos? Historicamente. a Festa era um assunto de antrop610gos. Os soci610gos iam la. diziam alguma coisa. os historiadores tambem , mas nao passava muito disso. Eu lembro que. quando fui fazer 0 mestrado em administra~ao e quis escrever sobre Carnaval. grande parte dos professores dizia: ~ Isso e coisa de an trop610go". Com 0 apoio da minha orientadora. professora Tania Fischer, usava um artiffcio para responder: "Eu YOU pesquisar na area da antropologia das organiza~6es .. 'Isso! Af ning uem podia dizer que nao podia. nao e? . que nao era da area da administraliao! E outra coisa: a ausencia tambem de espa~os que reunam ma teriais. Porque a gente tem uma dificuldade ... 0 Rio de Janeiro tem um pouco mais de facilidade . mas a gente. por exemplo, na Bahia . nao tem praticamente nada organizado sobre II mem6ria da festa . do Carnaval. Essa pa rte e complicada. Um espa~o de referencia. com documenta~ao . . Os mais velhos estao indo embora. voce nao tern registros, depoimentos.
Ediffci l. 0
Ministerio da Cultura nao tem sequer plano de carre ira! Como responder a altura dos desafios na area da cultura se isso nao for vis to?
Mesmo numa area cultural de ponta como as politicas pdblicas de patrimon io no Brasil. as equipe s sao muito pequenas! Voce pega um orgilo da p re feitura para estimular 0 cinema (0 que e 6 timo!). tem mais gente do que 0 Centro Nacional de Folclore e C ultura Pop ular inte iro. que tem um museu. a maior biblioteca sobre folclore e cultura popular da America Latina, que cuida de projetos em 65 comunidades do Brasil inte iro. e la tem 20 pessoas. 25 ...1 Estamos engatinhando... E preciso ge nte qua lificada para gua rdar documento. um museu precisa de uma boa reserva tecnica. p recisa de condio;oes de ambiente. precisa de catalogao;ao, p re cisa dar condio;oes de acesso aos pe squisadore s e as pessoas interessadas. Essa outra dimensae cultural das fe stas e da cultura popular e muito po uco vis ta e cuidada. E. mesmo de um ponto de vista. digamos. mais pragmatico. os governos parecem nao ter sensibilidade para a questao da mem6ria da festa . Ou seJa. ainda que nao fossem movidos pela compreensao da importancia do Carnaval como um patrimonio cultural a ser protegido. que pelo menos percebessem a importancia de um museu - que teria de ser. pela dimensao e pela importancia do Carnaval. um equipamento com a qualidade e a sofisticao;ao do Museu da lingua Portuguesa . em Sao Paulo - para a economia do turismo. Temos hoje muitos edita is. Isso e bom porque trouxe recursos para os grupos de produtores culturais. Mas as instituio;oes tem tambe m um papel a cumprir. A democratizao;ilo da sociedade brasile ira e a inda recente. e um lugar mais bem sedimentado para as instituio;oes culturais ainda e sta por vir. Voltando aos estudos sobre a Festa ... Os estudos das festas! Desde 0 final dos anos 1970. 0 trabalho do Roberto DaMatta. 0 li vro Carndvais, Ma/andros e Her6is. fo i um grito de libertao;ao. no se ntido de torn ar a Festa um tema nob re da reflexao sociolog ica e antropologica. Um te ma tao nobre quanto trabalho. operarios. camponeses. f6br icas. industrializao;ilo. enfim ... Hoje 0 campo dos estudos dos rituais se a mpliou mui to, ta nto na a ntropologia com os estudos das performances. dos objetos, da arte. das narrativas. como com a his t6ria cu ltural ou a his t6ria social da cultura. Alguns setores ainda resistem. ne? Na universidade. na escola de economia. numa cidade onde 0 Carnaval tem a dimensao economica que tem. que movimenta valores acima de meio bilhao de reais. voce nao tem nenhuma disciplina que se aproxime de uma discussao sobre a economia da Festa. sobre a economia do simb6!ico etc. Ainda hci. em alguns setores. essa resistencia. embora eu ache que a area das ciencias sociais se abriu bastante ... ... se abriu muito. Eu situo as festas de ntro da discussao mais ampla dos ritua is. porque a experiencia fes tiva e eminentemente simb61ica e ritualizada. Nas festas. 0 simbolismo, as dimensoes express iva e artis tica do ser humano re ina m. Nao acho que exista uma an tropologia da Festa se-
parada da a ntropologia co mo um to do. Existe a antropologia co mo um modo de conhecimento das coisas humanas. e existem as festas. muito va riadas do ponto de vista etnografico. Por isso. toda antropo logia da Festa e uma antropo logia do simb6lico. Quando a gente especializa de mais. as vezes tambem perde ... ... perde a possibilidade de ap reender ate a riqueza ... ... e. pe rde ate a riqueza conce itual. Porque os debates te6ricos importantes da discipli na ta mbem estao ali. Mas 0 campo dos es tudos das fe stas te m Aorescido enormemente. e di ficil acompanhar 0 crescimento da bibliografia .
E. eu te nho me dado conta de que esta cada vez mais difrcil. porque come(ja a aparece r muita coisa para voce co mprar. en tao e difrc il aco m pan har ... Che ga a se r engrao;ado lembrar que. nos anos 1960. 1970. muitos cie ntistas sociais achavam q ue esse mundo b rasileiro fes tivo ia acaba r! [risos] Brasil se mode rn izava. se indust ria lizava e as festas eram vistas co mo parte de um Brasil que iria acabar.
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Que iria ficand o pa ra tras ... As fes tas acabam funcionan do co mo pon tos de equilibrio nos processos de mudano;a social. Como voltam a cada ano. sao pontos de referencia. reque rem a criao;ao de conse nsos. As prefe ituras. os inte lectuais. os 6r9aos pdblicos sao p re ssionados pelos citadinos para re sponder a ques toes diversas. En tao. as festas tem um a funo;ao que vai alem de las mesmas. Precisam ser olhadas co m muita ateno;ao. pois trazem muitos conA itos para a luz do d ia . Para a antropologia. os rituais sao portas de entra da pa ra as culturas e as socie dades ... As festas sao rituais. com preender uma Festa e co mp reen der um ambiente co mo um todo. porque mui ta coisa que nao se fala no dia a dia. ali voce encon tra ra dita em al to e bom som. Bo rn , e isso. Delicia , temos de ter mais papos como este! Obrigada!
Maria laura Viveiros de Castro Cavatcanti Professora do Depa rtamento de Antropo logia Cultural e do Programa de P6sGradua~.m em Sociologia e Ant ropologia da Un ivers idade Fede ral do Rio de J ane iro (UFRJ). E autora de Carnaval Carioca dos Bawdores ao Desf.le (Ed UFRJ. 2006. 3 ed) 0 Rita e 0 Tempo.¡ Emaios sabre 0 Carnaval (Civ i l i la~30 Brasileira. 1999) e 0 Mundo Invisrvel. Cosmo/ogla. Sistema Ritual e Nrx;/jo da Pessoa no Espilltlsmo (Zaha r Ed,. 1983). Pa rticipa da coordena~!io do Laborat6rio de Ana l,se Simb61ica e coordena 0 Nucleo de Estudos Ritual. Etnografia e Sociab, lidades Urbanas. E-mail: contato<!.lauracava lcanti.com.br
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FESTEJANDO Felipe Ferrejrd
Festejar
e proprio do homem
Ouvimos frequentemente que 0 Brasil e uma nao;iio festeira. e isso nos parece incontestavel dado 0 grande numero de comemorao;6es que acontecem de norte a sui do pais. Entretanto. outros lugares tambem apresentam urn volume considenlve l de festas. como as 116 comemora0;6es re ligiosas e romarias realizadas anualmente em Portugal' ou as 3.794 festas que ocorrem a cada ane na Colombia'. entre tantos outros exemplos. Sob esse enfoque qua ntitative, portan to. niio somes nem mais nem menos festeiros que qualquer outro lugar. Festejar e proprio do homem. que, dO se organizar socialmente. ja comemorava os sucessos na cao;a e, mais tarde, 0 produto de uma boa colheita' . Se 0 fru to colhido Fosse a uva. os festejos se incrementavam com 0 consumo do vinho jovem recem-produzido. que associava aos ri tos festivos as bebe deiras e os excessos traz idos pelo illcool. Essa forma de comemora~ao descon trolada. marcada pe la ideia de que tudo pode acontecer na cena fest iva e. consequentemente. por atos de inversao e desafios a ordem estabelecida. acabaria por ajudar a construir. atraves dos seculos. 0 conceito generico de Festa. Onde houvesse excessos e descontroles. afhavia Festa. nao importando se 0 evento era mundano (comemora"ao de uma boa colheita, unioes matrimoniais. vit6ria numa batalha. ultimos d ias de liberdade antes da Quaresma... ) ou re ligioso (procissoes em honra ao boi Apis egfpcio. bacanais romanas. saceias mesopotamicas. festas em honra aos santos populares em Portuga~. 0 in teresse pelas manifesta~6e s populares. surgido ao final do seculo XVIII na esteira das modifi ca~oes trazidas pela chamada Revolu"ao Industrial'. incentivaria as pesquisas folcl6ricas
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5 Em meadOl do. 1960, a pubhca~30 em gte, do fMO A Cu/r<J/a Po pulal na ldade M""'a e no RenasCimenro. de M"ha il BakhM (1993) le/ouiana a ablangMcoa do tellll(} -Camava r' "" Ia""al conce to de "cama".i::t~io" para e'pl",al 0 carater debochado e c"trco da ClI",a popu lar medieval E, ,a confu~ conc .. ,tual pe .. -
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te ate hoje e pode ~~pt.car a atr i bw~ do nome "Ca'naval" a fe'Ia' 1.kJ drv."."", como 0 Ano-Novo ch rn o PUrim Jucia rco 00 as ""1"",alla' cia Antrga Roma. Sobre 0 lema, vel FERREIRA (200'1) espe<:oalment' o capitulo"() Carnav ql Nao ~ Camava l"
e a "descoberta" de uma infinidade de "festas populares" associadas. no imaginario da epoca. as sociedades camponesas afas tadas das gmndes cidades industrializadas.
E nesse
mesmo momen to, marcado pela ascensao ao poder da burguesia capitalista, que surgiria 0 conceito de "Festa carn avalesca", ou seja. a part ir de entao Carn aval deixava de ser vis to apenas como um perfodo anual an terior a Quaresma no qu al se concentmvam todos os t ipos de festejos pilm se apresentar como uma "festa das fe stas" com caracterfs ticas proprias de terminadas pelas idiossincrasias da elite de entao. Substitufa-se a ideia de uma Fe sta livre, em que cada um se d ivertia como queria. ou podia. por tres dias, pela de uma come mora.:;:ao com Formato e reg ms proprias (FERRE IRA. 2004: 2005 e 2012) ao gosto daque la que Peter Gay (2002) denom inaria "burguesia vitoriana". Esse e 0 contexto que permite entender as descri0:;6es das festas carnavalescas feitas pelos intelec tuais e a rtistas da epoca. como os famosos re la tos de Goethe ([1829]1962) e os desenhos de Bartolomeu Pinelli (1830), ambos sobre 0 Carn aval de Roma na virada para 0 seculo XIX. Entretan to. mais do que ape nas descrever os eventos fes tivos carn avalescos. esses docu me ntos cump ria m a fun.:;:ao de dissemina r e. em ul tima instancia. determinar os formatos da Festa. divulgando seus ritos. seu imaginario e a forma como o Carnaval dev ia ser comemorado. A partir de entao. Carnaval passa a ser urm espEkie de sin6nimo de Festa publica. de comemomo:;ao exacerbada com a preseno:;a de pessoas fantasiadas se dive rtindo de forma descontrolada. mas sempre den tro dos li mite s das regms vige ntes em cada sociedade' . Fom desses li mites. a brincadeim dei xava de ser tole rada. passando a se r considemda como desordem ou. pior ainda. um ato de violencia, Es tabe lecia-se uma especie de gradao:;ao entre os conceitos fes tivos. "comemorao:;ao-fes ta-Carnaval" - e sse ulti mo uma especie de paroxismo comemorativo, de limite maximo dos excessos, alem do qual a fest ividade dege nemr~se- i a em descontro le passfvel de repressao.
Brasil de todas as festas No caso do Bmsi!. pode-se d izer que a festa, no seu se ntido primeiro. ja existia entre os indfge nas, que come moravam suas vitorias guerre iras em torno de uma fogueira mu itas vezes deglutindo os ini migos vencidos. A chegada dos portuguese s no infcio do seculo XVI tmria outros tipos de comemorao:;ao. quase sempre ligados a eventos rel igiosos cristaos e muitas vezes se rvindo de modelo pam a catequese indfge na. Boa parte do que conhece mos atualmente como "festas po pulares brasileiras" e oriunda dessas a0:;6es catequizante s q ue indu fam nao somente os fndios. mas tambem os negros escravos. Maracatus. cabodinhos, congadas, bum ba me u boi. cucumbis e cavalhadas sao. desse modo. produtos de uma ao:;ao pedag6gica da Igreja buscando inculcar nas popula0:;6es iletradas usos e costumes da civilizao:;ao ocidental. Vale notar q ue. apesar de sua base "europeia", e ssas fes tividades sao resultados de intensas ne gocia.:;:6es entre os inte resse s dos colonizadores e aque les das culturas negras e indfgenas, Um bom exemplo desse p roce sso sao as congadas. produtos do dialogo entre as realezas africanas e p ortuguesas. ja no seculo Xv. que serviam nao somente para
a imposio;ao da reli g iao catolica na Africa lusi tana , mas tambe m para a va lorizao;ao e 0 recon hecim~ nto dos mona rcas negros pe la sociedade branca europeia (TINHORAo. 1997) Sao essas "brincadeiras mestio;as" que passariam a fa zer pa rte do re pertorio festivo das gra ndes come morao;6es populares brasileiras e que. pouco a pouco, iriam se iden tifica ndo a determinadas reg i6es do pars. Em cada um desses lugares. os dialo gos com as culturas previamente presentes ou com outras festas trazidas por novos habitantes rece m-chegados de outras re g i6e s brasileiras o u de outros parses teriam como consequencia 0 surgimento de novas manifestao;6es fest ivas peculiare s.
Ideia de 1leflOf ~ feAexo cia cemrali<bde ;!abeleucia pela e lLte c. tufa l pau l"la , que partla de la capital pata c0rtle\at 0 -d~bT ...... "memo" cias nor leora, da na.;lIo, nom impe_ 10 modernrsta lideoado PO' Maroo de AMrade •
Produtos de interao;6es complexas e ntre d iferentes escalas de influencia carac terrsticas de cada luga r. essas festas adquir iriam p restrgio a partir da segunda metade do seculo X IX, ao serem qualifica das e divulgadas pelos folclor istas como "festas regionais". As documentao;6es e scritas. as ilustrar;6e s e, mais ta rde. as fo tografias e os filme s descre vendo e apresentando dano;as e fes tejos "folcloricos" do "interior" do Brasil. prefe re ncialme nte localizados nos sert6e s e no No rte/No rde ste do pars", fixaram ce rtos conceitos e terri to rializa ram as formas de festejar, determina ndo qual festejo "pertencia" a qual lugar. Desse modo. as festas "e uropeias" ficavam. grosso modo. associadas ao Sui do pars. a s fe stas sertanejas ao inte rior. entao "atrasado". dos estados do Rio de Janei ro, Sao Paulo e Minas G e ra is, as fes tas negras a reg iao de Salvado r e seu rec6ncavo. as festas de origem re ligiosa ao Norde ste. os fes tejos indrgenas as regi6es da Ama zonia e do Centro-Oeste, uma verdadeira geografia fest iva determinada pe lo olhar "etnografico" dos in te lectuais da epoca 7•
Umexemplo cli>5ICo de"" >do dass,katana que bus--
Como ca pital do pars e, por essa razao, polo de atrao;ao cultural nacional. o Rio de Jane iro veria seu p rincipa l evento fest ivo, 0 Carnaval, e le vado a cate goria de Festa brasile ira p or excelencia. Durante "tres d ias de folia e brincadeira" as vesperas da Quaresma, podia-se ver. segundo os jornais. uma e specie de resumo de toda a cultura pop ular brasileira. ouvir to dos os sotaq ues e festejar todos os fes tejos do pa rs reunidos nas ruas da cidade como num mostrutir io. Se. com isso, 0 Carnaval perdia um pouco de seu carater descon trol ado. ganhava, por outro lado. um ela cultural que o marcaria a pa rtir de entao. Entretanto, se na diversidade dos blocos. ranchos e cordoes cariocas dos prime iros anos do se culo XX a inda se recon he ciam (e crit icavam') certos diti logos com outras culturas. as fes tas populares do resto do pa rs eram qu ase sempre vistas como e xp re ss6es finalizadas da "verdadeira" cultura popular e . portanto, fe chadas as influencias cultura is exogenas. Negavam-se. ou re legavam-se a um segu ndo plano. por exemplo. as influencias ne g ras nos festejos folc16ricos sulistas ou a incorporao;ao de modernidades nas da no;as dram aticas nordestinas. en tendendo-se tais interferencias co mo e lementos a ser elimina dos ou. em uma atitude pate rnalista. fec han do-se os olho s a essas "imp urezas". Mantido. por um tempo. re lativamente isento dessa visao dete rminista. 0 Carn aval carioca iria se adequar a e sse pensamento a partir do final da decada de 1920. com a criao;ao negociada das escolas de samba. Representando um novo Formato carnavalesco que assumiria. des de se u nascedo uro. o papel de "expressao ma is p ura da cultura popular carioca", as escolas de samba e scamoteavam por trtis dessa suposta inocencia o ri ginal 0
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feren_ g'up<>S d<' fol ... c.:w ,oca, que d''f'ula~am fe't lva"",nt. .... d re ,to ao Carnaval )a a parm da de ada d .. lS<;O D .. , Iroc nece"aroa"",nte decorrente"l 00$ ""contra, del brlllc""'te. t.."a ,u'godo a
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II Ent,elanto. se "rna na do, Jom ... crot lcava V,", _ menternente a b"ncade.ra do Entrudo popu' .. r na, ,,-, 0 melffio nIio ""ontecta com 0 Entmdo !arn,1"" que t nIw luga. d....-.lro da, ca,a, sen hor ... ", E,te, ao contrirlo, e ta louvadc como uma b tl ncadella de iKada e divemda ~ qual emr .. gava/l'l pronc 'pal"",nIe, a, moe,nhas e 0< .apaz'" da, 00... lam,1,a" Sobre 0 Em,udo no interror do p ~er ARAUJO (2008)
Acarajes, transatlanticos, cervejas e avioes A escolha do Carnaval carioca como epicentro fes tivo do pars na virada para 0 seculo XX, entretanto. nao se deveria somente ao fato de ali estarem resumidas as principais ma nifesta~6e s festivas brasileiras ou a adesao incondicional da popula~ao da Cidade Maravilhosa as brincadeiras que invadiam seus principais bairros, adesao explicada em grande parte por sua espacialidade to . Geralme nte relegado a um segundo plano pela li teratura sobre 0 ass unto. 0 vie s economico da Festa carnavale sca carioca teve, entretanto. papel de termina nte e m sua expansao desde suas prime iras man i fe sta~6es. se rvin do. decadas depois, de modelo para a inser~ao de outras atividades festivas na economia. A pouca valoriza~ao das quest6es ligadas 11 economia decorre de certa visao "cultura lista" sobre as festas em geral que costuma isolar num espa~o conceitua l menos nobre as at ividades comerciais geralmente ligadas aos festejos, valorizando. por outro lado. os itens ligados 11 tra dio;ao. Entretanto. as barracas de doces. os jogos de tiro ao a lvo, os vendedores de cerveja e suas caixas de isopor, as pastelarias. as carrocinhas de cachorro-quente, os comerciante s de badu laques e le mbrano;as. as baianas de acaraje. as grandes empresas patroci nadoras nacionais ou multinacionais e os hoteis. entre tantos outros exemplos possfveis, sao parte integrante da cultura festiva , determinando mu itas vezes 0 sucesso ou 0 fracasso "cultural" dos eventos. No caso do Carnaval carioca. tem-se notfcia. ja nos primeiros anos do seculo XIX, da p ro du ~ao e da come rciali zao;ao de proje teis feitos para ser lan~ados sobre os passantes a titulo de brincadeira. uma d iversao chamada de Entrudo. Conhecidos como li m6e s (ou laranjas) de cheiro. esses objetos consistiam de pequenas esferas feitas de fina camada de cera contendo agua ou Ifqu idos perfumados geralmente produzidas e vendidas por escravos em busca de a lgum ganho, Isso sem fa lar nas seringas e nas bisnagas feitas de metal que se enchiam de agua (ou outros Ifqu idos menos nobres) a ser esg uic hadas sobre quem passasse por perto. um suce sso de vendas se levarmos em conta as muitas referencias (geralmen te crlticas). p resentes nos jornais das principais cidades do pafs". a esses objetos e as "molhao;as" de les decorrentes. A chegada ao Brasil dos bailes mascarados carnava lescos a moda de Paris. na decada de 1830. iria atrair a ateno;ao de toda uma gama de comerciantes interessados em vender os mais variados itens (como perucas, bigodes e barbas postio;os. mascaras venezia nas. mascaras e m tela de arame para proteger 0 ros to contra objetos lano;ados por outros folioes, tecidos de luxo e fantasias impo rtad os) e servi~os (como ceias em restaurantes para depois dos bailes. confeco;ao de fantasias. cabe leire iros, maquiadores. aluguel de coches. cocheiros ou mesmo de pequenos apartamentos pr6ximos aos sal6e s para a troca de roupa a ntes e de pois dos bailes. isso sem falar nos servio;os sexuais das damas da noite. sempre bem-vindos durante 0 perfodo momesco). Com 0 crescimento da Festa carioca e a construo;ao. no infcio do seculo XX. da Avenida Central.
sfmbolo da modernidade nacional ao estilo "haussmanniano" parisie nse ll• novas perspectivas de neg6cios se ab re m. como a constru.;ao e 0 a luguel de espao;os em arquibancadas e camarotes localizados nas laterais e no canteiro ce ntral do novo e ixo de circulao;ao carnavale sco". a comercializao;ao de confetes . se rpe ntinas e lano;a-perfumes ou 0 aluguel de modern os auto m6veis sem capota para os des files do corso. Se ria. e ntre tanto. 0 tu rismo que daria 0 gra nde impulso para a o rganizao;ao e a oficializao;ao da Festa carnavalesca no Brasil. As prime iras decadas do seculo XX seriam marcadas pelos movimen tos iniciais do turismo de massa. incent ivado pelo surgimento dos primeiros transatlanticos, capazes de permitir 0 deslocame nto confortavel de centenas de pessoas avidas po r entrar em contato com novas culturas". 0 Bras il rapida mente se insere nas ro tas dessas ve rdadeiras cidades flutuan tes, prove nie ntes principalmente dos Estados Unidos e em menor grau da Ing laterra, A consciencia das vantagens q ue 0 Brasil poderia auferir do turismo se cristaliza nas mate rias dos jorn ais da epoca. que . quase semp re, citam as festas carnavalescas do Rio de j ane iro e do Recife e nt re os maiores atrativos turfsticos do pafs. 0 Carnaval e descrito como nossa maior riqueza. algo que s6 0 brasileiro sabe fazer. um produto compar;lvel ao champanhe frances. ao ufsq ue ingles ou ao "coquetel de sete an dares· a mericano. como citam artigos jorn alfst icos brasile iros dos anos 1930.
12 Sob,e a, mo<j,fica<;1ie.
urbanas pO! que p.'lotJ a cidade do Rio de Ja~o '" V" ada pMa 0 s&,,10 Xx. Impirada. na .... ,dadeira revolu,ao wbani'tKa piI' ",,,,,e I,de<ado pOI H.... ,,mann, Vel' BRENNA ( 985) e PERE IRA (1994)
13 Esse novo eox" "a com posto d. Avem±" Central e de wa commtJ"<;;io co.te"a, a Awnida s., lra--Milr, wade
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para cotlduzir viaJ"nte fecffil-chegado a cap,tal do B,a<il d i,etamente do po<t0 de de.embarque. ~i tuado flO ca" da P,,,<;a MaW, ate <>'l b",,,o, elegante, da GJc",a e do Catete U"", entrada monumental pM. a :+dade e para par, Sobre a mpotta ncla ""00",,1 do P'O)"lO do Roo de Jan .. ro no ,nic io do orkulo
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A partir dos a nos 1960. com a ascensao das e scolas de samba cariocas impulsionada pelo radio e , logo de pois. pe la te le visao. a Festa carn avalesca assume defini tivamente papel de destaque na estrategia tu rfst ica brasileira. Mangueira. Porte la. Salgueiro e Imperio Se rrano tornam-se fcones do pafs divu lgando. para todo 0 mundo. as figuras do malandro. do passista e da mula ta. Por sua vez, 0 ri tmo do frevo pernambucano varre todo 0 Brasil. fa ze ndo 0 C lube Carnavalesco Misto Vassourinhas tornar-se nacional me nte celebre. Toda essa disposio;ao festiva acabaria atra indo visi tantes do pafs e do mundo para a "maior Festa p opula r do planeta", no Rio de J aneiro. e para a folia descontrafda das ruas do Re cife e Olinda. incentivando. com seu sucesso. respostas regiona is que iriam desde a criao;ao de gru pos carnavalescos similare s aos paradi gmas carioca e pe rnambuca no de norte a sui do pafs ate 0 forta le cimento de outras fo rmas fe stivas surgidas para disputa r a hegemonia do Carnaval.
Transbordamento
o crescimento da industria fonografica estaria na rai z do crescimen to exponencial. a partir dos a nos 1970. de uma forma festiva que ja tomava conta do Carn aval soteropolitano desde a deca da de 1950. qua ndo surgiram os p rimeiros grup os do chamado Carn aval eletrico15 , Ir "atras do trio e letrico". junto com 0 jovem Caetano Veloso, torna r-se-ia uma ve rdadeira mania nacional. imp ulsionando de vez a Festa das ruas de Salvador e faze ndo com que ela se tornasse. a part ir de entao. 0 virtual sin6nimo de "folia". Caminhoes com sonorizao;ao cada vez mais potente s atrafam estrelas da musica internacional para a Festa baiana q ue se organizava empresarialmente e crescia ana a a no. estabelecendo uma e specie de paradigma internacional para grandes ce lebrao;oes musicais. 0 Formato dos "trios eletricos· se estabelecia como indispensavel
Vel'
ABREU (1997)
14 0 chamado e't llo 'paquebo(. ba.eado "" estel lca do, grande. navlOS de pas",,¥iro<, In vad", a, p: :ipalJ e,dad", do mundo, miL 'flC",ndo a moda e 'te me",,, aa'qu'te!wa
Sobre Salvador, 15
(1982),
de ve r G6ES
0 Carnaval
a grandes ma n i festa~6es fes tivas do Brasil e do mundo. impondo sua e Sh;;tica high tech e atraindo multid5es cada vez maiores para eventos tao diversificados quanto paradas gays em Sao Paulo ou tecnoparades em Munique. isso se m falar nas mui tas "folias" que comeo;avam a invadir as cidades brasileiras em d iversos momentos do ano. de Fortaleza a FIo~ rian6polis. passando por Cabo Frio 12 Goiania. 0 casamento de Festa e musica populares com a lta tecnologia 12 visao empresarial gerava frutos e demostrava 0 carater dinamico das fe stividades brasileiras. Ro mpia-se. nesse momento. uma barreira simb61ica que associava as grandes festas do Brasil basicamente a suas origens "populare s". Se. por um lado. a tradi~ao carnavalesca jii estava implantada nos mentes 12 nos corao;5es nacionais. a partir de entao novas festas surgiam ou ampliava m seu publico se m me do de suas relao;6es com outras culturas e origens e aprovei tando-se do apoio de patrocinadore s e das mais novas te cnologias do espetaculo. Festas de pe ao de boiadeiro. como a de Barretos. fes tas da ce rveja. como a Oktoberfest. de Blumenau. festivais de re ggae. como 0 de Sao Lufs do Maranhao, ou grandes shows de rock. como o Rock in Rio, compartilham 0 publico com os Carnavais "tradicionais" e com as mui tas festas folcl6rico-relig iosas q ue se espalham pelo pafs,
como as fes tas juninas no Nordes te. 0 boi de Parintins ou a Festa do Divino. em Paraty. todas elas abertas as mais variadas influencias.
o "segredo" do sucesso dessas fes tas nao somente reside e m suas origens centenarias. folcl6ricas ou re ligiosas. em certos casos, ne m em se u apelo a gran des nomes do show business nacional e internacional. em o utros. Ea mistura. a aceita~ao negociada das mais d iversas infl ue ncias e colabora~5es que faz com que um evento fes tivo traduza os desejos de ce ntenas. mil ha res ou as vezes milh5es de pessoas. Um bom exemplo e a festa do efrio de Nazare. que a nualmente reune em Belem do Para uma mul tidao calculada em 2 mil h5es (ou mais) de pessoas. 0 centro e a mot iva~ao desse evento e a pe q ue na imagem de Nossa Se nhora de Nazare. a "santinha". comovente em sua singeleza. que. de ntro de sua be rlinda dourada, flu tua por a lgumas horas sobre a multidao e m extase. Em tOfno desse nucle o sagrado/fes tivo. entretanto, outros eventos acontecem. trazendo novos elementos, traduzindo novos interesses e aportando novos significados as express5es da festa "tradicional". Ao ja costume iro parque de dive rs5es mon tado ao lado da bas~ica. com se us brinquedos. barracas de jogos e tendas de comidas. juntam-se a Moto Romaria. 0 efrio fluvial. 0 arraial do pavulagem. 0 efrio profano, a festa (gay) da chi-
Vi,l. do d.. ,~ I .. <k e';colo d.. """"" "" Somb6d romo cia cida<k do RK> 0., ) . ",,;ro.
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16 P"ra um" "na l"e dela lhada e COrll"leme do concerto. de cultur" popuI"r, ver STOREY (2009)
17 0 lermo "1""10 , conlr me ut dr zado pelo. Em 'h Cu lt"'",.. ,el",e-.. n.k> someme "00 le<los eser ito p'opnameme drtos, mas a tod, a g.:rrna de produla cultu'iI'i. CQmo p,mur< perfOfmance ml1, ica" dan.;-a, escuIIU,,, et(
quita, os "camarote s" montado s por empresas ao longo do percurso da p rocissao, os palanques do s polfticos e m busca d e votos e toda uma serie de peque nas comemora~6es gr upa is re flet indo a incontavel ga ma de interesses art iculados pela Festa que "milagrosamente" resultam num evento com a cara, 0 gos to e 0 cheiro do Brasil em sua face amaz6nica,
Estamos ai, por todo 0 pafs Ig norar a importanciil dil diversidilde de interesses envolvidos com as chamildas festas populilres e negilr 0 pr6prio sentido do q ue chamilmos conte mporilneilmente de cultura popular, Esta nao se resume 11 cultura prod uzida "pelo" povo ou, muito menos, "para" 0 povo, 0 pr6prio conceito de â&#x20AC;˘cultura", associado ilO de "povo", ja tra z tOdil uma gamil de problemas diffceis de ser superados se nao ilbordilrmos a questao a part ir de projetos amplos e inclusivos til nto de "cultura" quanto de "povo", Se entendermos "cultura" como a produ~ao de sentidos estabelecida por meio de pr<'iticils de significa~ao cotidianils e "povo" como 0 conjunto da popu la~ao com sua diversidade de formil~ao e interesses'6, cultura popular se riil os significados estabelecidos sobre textos" e praticas articulados pela popu l a~ao de determinado local em suas il~6es cotidianas de s i gni fi ca~ao, estabelecidas por meio de atos conscientes ou nao. Os sentidos daf re sultantes, sempre em e stado de instabilidilde latente, sao necessaria e constantemente negociados e nt re os atores envolvidos, Um bom exemplo e a questao da trild i ~ao, Esse conceito e central para a ques tao dilS fes tas populares, mas nao tem 0 me smo significado para todos os envo lvidos em dete rm inada festa, Para uns il tradi~ao esta nil preserva~ao de um Forma to construfdo pelils le m bran~as dos mais ve lhos ou pelas narrativas dos his toriadores (formais ou info rmais), e nquilnto para outros ela se situa na d isputa pe la hegemonia por meio da constante tran sformil~ao formal , Eexatamente essa tensao e ntre os diversos significados construfdos sobre 0 conceito que faz com que a q uestao da trad i ~ao seja tao central paril as festas populares em geral. Em ultima instancia, a Festa e um espa~o privilegiado para a constru ~ao (sem pre tensa e em processo) do pr6prio significado de n a~ao, No caso do Brasil. a fes ta, como e la se apre senta contemporaneamente, reflete uma na rra tiva que se imp6s nos ultimos anos, traduzida pela ideia de "pafs de todos" e de "pafs plural" em oposi~ao ao conceito anterior de "pafs miscige nado", A questao da diversidade torna-se atualmente preponderante, incent ivando 0 surgimen to de comemora~6es de afi rma~ao de g ru pos (0 "orgulho gay", a "festa da ra~a"). de lugare s (0 "mangue beat", 0 'brega pop paraense"). de fa ixas etarias (as "festas ploc", relembrando os anos 1980, os bailes da terceira idade), entre outros exemplos, Ent retanto, a diversidade e a individualidade dessas comemora~6es, reflexos de uma forma de entender 0 pars, nao se constroem a partir de uma destrui~ao pura e simple s do passado, 0 .. velho" Brasil miscigenildo ilinda esta la, produzindo sig nificados e d ialogando com os novos conceitos, Do mesmo modo, as festas repre sentativas de grupos nao se produzem no vacuo, mas den tro do processo cotidiano de cultura popular, sofrendo influencias e infl uenciando as outras praticils festivas, com grande destilque para a "grande festil" nacional. 0 Carnavill, Este vem se apre-
sentando como um paradigma festivo brasile iro. de ixando sua marca em boa parte das comemorao;oes do pafs que incorporam e lementos visuais e praticas organizacionais caracterfsticos da folia carnavalesca, 0 ma is notave l exemplo dessa inAuencia pode ser visto no Festival de Parintins. que a lia temas ligados 11 rnito logia amazonica e uma este tica de luxo e brilho propria das escolas de samba cariocas com as quais os artistas e artesaos arnaz6nicos tem estabelecido fortes la<;:os de colaborao;ao. Entretanto, se o boi de Parintins traduz visualrnente essa influencia. as escolas de samba. por sua vez. tambern se mostram influenciadas pela estetica "arnaz6nica". notavel na preseno;a cada vez rna is constante de personagens mitol6gicos ligados 1'1 Aoresta (a Mae Natureza. a Deusa das Aguas. os monstros das queimadas. entre outros) em seus enredos, As proprias tecnicas construtivas das a legorias e fantas ias refletern esse dialogo, Se. inicialmente. 0 vetor de influencia marcava a ao;ao dos artistas do sarnba na festa do boi. ja no fina l dos anos 1990 podia-se perceber a preseno;a das esculturas m6veis caracterfsticas da festa de Parintins nos desfi les das escolas. 0 cresci mento exponencial das alegorias. em vo lume e a ltura. e outro reflexo desse dia logo notavel que se ap resenta de forma mais contundente no desfile das escolas de samba de Sao Paulo. Estas, pelas caracterfsticas particulares de sua pista de desfiles, nao sofrem nen huma limitao;ao na altura dos carras ale90ricos. podendo construir a legorias gigantes que dominam toda a pista, E inte ressante notar que e ssa "Iim ita<;:ao" do Sambodromo carioca acaba por produzir uma diferenciao;ao entre os dois desfiles. mais d irigido 1'1 grandiosidade alegorica na capital bandeirante e mais focado nas movimen tao;6es dos grupos de desfilantes no Rio de Janeiro. Em suma, seja de que modo for, 0 povo brasileiro se entrega de corpo e alma a suas festas. e essa ta lvez seja a grande caracterfstica que permite nos au todefinirmos como um pafs festeiro. Somos uma na<;:ao que se afirmou ao mundo como "pafs do Carnaval" e que continua a se definir como uma nao;ao feliz. apesar de tudo, Um pafs que se ve, mesmo que simbolicamente. seguindo 0 trio e le trico em Salvador, puxando a corda da procissao da santinha em Belem. cantando e m conjun to as toadas do boi em Parintins. desfilando na ala de uma escola de samba no Rio de Janeiro ou simplesmente comemorando a alegria de viver com um churrasco de cal<;:ada em Uberaba. Corumba. Petrolina ou Criciuma nao pode deixar de se considerar um pafs fes te iro. Somos ass im porque e assim que aprendemos a nos ver. uma terra de samba e pandeiro lava ndo em suor a fel icidade ao som do mar e 11 luz do ceu profundo,
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Felipe Ferreira Professor do In~t i tuto de Anes da UERJ coordenador do Centro d~ Referencia do Carnaval -Rio de Janeiro, ed itor da 'evista lex/os Esco/hldos de Cultura e Arte Populares e autor de diversos iivros sobre 0 tema carnava lesco, entre eles Esc/ito< CJfrJilVd/escos (Ed,tora Aeroplano). Inventdndo Cdrndvdls (EditOla UFRJ) e Llvro de Ouro do Cdrndvd/ Bfd,deuo (Edlouro). E- mail: felipefe rre ira@pobox.com
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BRASIL: 0 PAIS DE MUITOS CARNAVAIS Fred Goes
o Carnaval esta tao fortemente ligado agente brasileira que podemos afirmar ser e le um dos nossos mais marcantes tra<;os de identifica<;ao. Nao e que tenha se originado aqui. mas. sem duvida. foi por n6s reinventado e de maneira plural. Sao muitos os carnavais do Brasil. multiplas as formas de expressao que revelam. exemplarmente. a nossa diversidade cultura l.
Eno Carnaval. perrodo em que a linearidade da cronologia cotidiana se redimensiona e a estratifica<jao social se rees trutura. que revelamos. para 0 mundo e para n6s mesmos. a exuberancia da nossa criatividade nos d iferentes campos artrsticos por meio da da n<;a. da musica. das artes cenicas. das diversas manifesta<;6es das artes plasticas. da indumentaria e tc. Vamos aqui nos ater a tres formas de celebra<jao que revelam com clareza a diversidade de e xpre ssao da Festa - 0 Carnaval carioca. 0 recifense e 0 soteropolitano. No Brasil. 0 Carnaval surgiu na segunda decada do seculo XVI II . com a migra<;ao dos il heus portugueses da Madeira. de A<;ores e de Cabo Verde. As festividades carnavalescas, chamadas de "Entrudo" (palavra de origem latina que signifiea "entrada) eram uma verdadeira guerra na rua em que as armas utilizadas variavam entre bisnagas de lata. caba<jas de cera. chamadas tambem de li m6es de cheiro. farinha ou gesso. cartuchos de p6s de goma. bombinhas de mau cheiro. enfim. toda sorte do que se pudesse lan<;ar nos transeun tes desavisados. Essa forma primit iva de Carnaval e ilustrada por Jean Baptiste Debret (1834-1839) na famosa prancha 33 (cenas do Carnaval ou 0 Entrudo) constante de sua obra Viagem Pitoresca e Historica ao Brasil. No texto re lativo a ilustra<jao. Debret observa
1 A, aqua,e.Ja, de /luto"a d. Ca,lo. Jul';hl, datada; de Wculo XVIII. pe<ter>ee, te, ao acervo Konogr"i>co d a Funda,iio B,bl, oteca Nac!(}llai. d.lo cla,o depOltlWnto c/e"e fat,
que "com agua e polvilho, 0 negro. nesse dia. exerce impunemente nas negras que e ncontra toda a tirania de suas grosseiras face cias: algumas laranjas de ce ra roubadas aos se nhores constituem um acrescimo de muni0;6es de Carn aval. para 0 resto do dia". Cabe ressaltar que 0 Carnaval brasileiro d e hoje nao limita suas orige ns ao Entrudo: manifesta0;6es re ligiosas e folguedos populares alicero;am tambem nossa expressao carnavalesca. co mo e 0 caso d os ranchos de reis' , que de ra m origem aos ranchos, q ue, por sua vez. sao os antepassados das escolas de samba , Eram. em sua origem, festejos na talinos, Os ranchos carn avalescos come<;:a ram a aparecer no Carn aval do Rio de Jane iro no final do seculo XIX e no inrcio do seculo XX. como tipo de cortejo mais organizado e evolufdo do que os blocos e os cord6es. Ha quem julgue serem eles uma sobrevivencia das alas de certas prociss6es, como a de Nossa Senhora do Rosario, em que se permi tiam cantos e dan<;:as de carater dramatico, Atribui-se a paganizao;ao dos ranchos ao baia no Hilario Jovino Ferre ira, q ue. em 6 de o utubro de 1894, fundou com alguns conterra neos 0 rancho Rei de O uros, Apesar de nascidos nas classes populares, os ranchos atrafra m a classe med ia e os intele ctuais. transfor mando-se em momento culminante dos festejos carnavalescos. A decade ncia comeo;ou na segunda metade do seculo XX, quando os desfiles ja nao apresen tavam mais 0 bril ho do passado. Em 1840. a lem da fol ia de rua. surge uma nova forma de come mora0;80 carnavalesca promovida pela burguesia. que nao compartilhava dos excessos do Entrudo - os bailes de mascara. 0 primeiro foi realizado no dia 22 de janeiro. promovido pela esposa do proprietario do Hotel Italia. localizado no Largo do Roc io. atual Prao;a Tiradentes, no Rio de Janeiro. Na segunda metade do se culo XIX. surge, no Carnaval carioca. a primeira grande sociedade. Em 14 de janeiro de 1855. 0 jorna l Correio Mercantil publicava uma cr6nica assinada pelo ro mancis ta Jose de Alencar em q ue descrevia uma sociedade. que fora c riada no ana anterior e que contava ja com cerca de 80 socios "de boa companhia": chamava-se Congresso das Sumidades Carnavalescas. a prime ira das grandes socie dades de que se te m notfcia. Em outros estados da un iao, essa fo rma carn avalesca teve vida longa. No Carnaval baiano. por exem plo. encomendavam-se as alegorias e as fa ntasias dos prestitos na Frano;a, As gra ndes sociedades nao se limitava m a a tuar no universo da fe sta. se e nvolveram em movimen tos politicos e atividades de cunho filantr6pico. Uma das causas em que mais se destacaram foi a abo licionista , Eram tambe m responsclveis por uma serie de publica0;6es dedicadas a essa causa. 0 movimento republicano fo i outra bandeira defe ndida pelas sociedades. Em 1907, apare ce uma nova forma de diversao no Carnaval carioca que
paSSilr<~ a se r incorporada nos carnavais de outras capitais brasileiras. 0
corso (desfile em carros abertos)' A iniciat iva partiu das filhas do entao presidente da Repub lica. Afonso Pena. que de sfilaram pela Avenida Central (atual Avenida Rio Branco) em um carro do palacio pres idencial. Rapidamente. outros proprietarios de autom oveis seguiram 0 exem plo e passaram a desfilar pelas ruas da cidade. e nquanto jogavam confetes e serpentinas. esguichando lano;a-perfume uns nos outros. Atribui-se seu declrnio. a le m do crescimento da populao;iio e do numero de ve rculos. a modernizao;iio do "design" des tes. uma vez que a maioria dos carros passou a ter a capota fechada. fixa. Quanto a musica. 0 Carnaval foi. durante um lange pe rrodo. Fonte de inspirao;iio para um dos mais significativos segmentos do nosso cancioneiro. De tal maneira que. dura nte 0 perrodo aureo do radio. a mus ica popular div idia-se entre musica de Carnaval e musica de meio de ano. Tal fato evidencia que. nos mese s antecedentes as comemorao;6es momescas. os compositores produziam e as radios veiculavam as musicas que seriam executadas no Carnaval seguinte. Curioso e observar. no e ntanto. que d ura nte mais de meio seculo 0 Carnaval existiu sem mus ica propria, Os bailes de mascara da segunda metade do seculo XIX eram apenas bailes masca rados. 0 certo e que os gene ros musicais mais autenticamente cariocas, a ma rchinha e 0 samba, surgiram com 0 propos ito de dar um ritmo a desordem carnavalesca. As vesperas da Primeira Gra nde Guerra, no Rio de J ane iro. hav ia tres carnava is d istintos: 0 dos pobres. na Prao;a Onze'. 0 dos remediados. na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco) e 0 dos ricos. nos corsos com automoveis enos bailes em hote is e clu bes. Niio havia surgido. no e ntan to, um ritmo aglutinador que caracterizasse a grande Festa.
o samba. na sua fase inicial. estava ainda mui to preso ao maxixe e niio tinha popularidade junto as camadas med ias. que ainda tin ham os ouvidos acostumados a tradio;iio mel6dica europeia das valsas. das polcas e tc. Ao contrario, a marchinha foi facilme nte absorvida, sendo criao;iio trpica de composito res de classe media da decada de 1920.
o sucesso dos sambas e das ma rchinhas como expressao musical carnavalesca hegemo nica se da ate 0 final dos anos 1960. A partir dar. a industria fonografica deixa de se interessar em gravar musicas compostas e specialmente para 0 Carnaval. principalmente porque as emissoras de rad io e as te levisoes ja niio destinavam horarios para veicula- Ias em suas grades de programao;iio. Cabe esclarecer. no entanto. que a gravao;iio de "Atras do Trio Eletrico". de Caetano Veloso, em 1968. alem de d ivulgar nacionalmen te uma nova forma de Carnaval. surgida na Bahia nos anos 1950. 0 trio eletrico, dava. a inda que isoladamente. 0 pontape inicial a uma nova musicalidade carnavalesca que viria a se fixar na decada seguinte. por meio dos "frevos de trio", que tem como mais sig nificativos representantes Momes Moreira e 0 Trio Ele trico de Armandinho. Dodo e Osmar. E 0 som por eles criado, a partir da segunda metade da decada de 1980 e durante os anos 1990, se ra relido e reinterpretado por dife re ntes mus icos e compositores do universe do tr io eletrico. da ndo origem ao que se denominou "axe mus ic". como se obse rvara mais adian te.
2 P,...,a Onze de Junho, em alu~ ~ v,tol1a do m"ante Barroso na Batalna Naval do R.achueh Hole desap ...."".da. ,ua locaj.za~ao <'fa nil "'qu ina da atua l Av""oda Pre, idente V~rga. ~om a R"" de SantAna. Era logradouro "leita pe la, .amb"tas p.ara ""IS co< rwa,6e$, nol domO"'105 de earnaval e la, Ter,a>Feiras Go<d ...
3 At~ meadm 00$ an 19~O. as denoll'llf\aSOe -bloco" e """,ala de...,.,....,oo" cae.ISm"", """ p<",f"''''"",a.
As escolas de samba assumem a pos i,ao de maior atra,ao do Carnava l carioca. sobretudo depois do desfile do Salgueiro de 1963. 0 enredo. a lendaria mineira Xica da Silva. As escolas fora m. paula tinamente. obscurecendo expressoes espontaneas como os blocos de embalo, por exemplo. A escola de samba e uma manifestao:;ao eminentemente carioca que se espa lhou pelos carnavais de todo pa rs. E legftima descendente dos ranchos carnavalescos. dos quai s ate hoje conserva alguns e leme n tos. como 0 par porta-bandeira e mestre-sala e as passistas. que original mente eram as pastoras. Com essa de nom inao:;iio. teria surgido pela prime ira vez no bairro d o Estacio. e m 1929'. Chamava-se Deixa Falar 0 gre m io q ue havia sido fundado em 12 de agosto de 1928. Do Estacio a novidade espalhou-se por toda a cidade. especialmente pelos morros e suburbios. A Prao:;a Onze era 0 local de concentrao:;ao das agremiao:;oes nos d ias de Carn ava l. As escolas surgiam e desapa reciam. alg umas delas des tinadas 11 prosperidade: a Estao:;iio Primeira. do Morro da Mangueira: a Vermelho e Branco, do Mo rro do Salgueiro: a Paz e Amor: a Vai como Pode (Portela) e outras. cujas denominao:;oes tradu ziam 0 cara ter d e improvisao:;ao dessas primeiras entidades consagradas ao samba. As e xibi,oes da Pra,a Onze nem sempre e ra m pacfficas. mas a tendencia do siste ma era regu lamentar. As mode rnas escolas de samba sao sociedades civis legalme nte reg istradas. e legem seus dirigentes. dispoem de orgaos represe nta tivos. como a liga Independen te das Escolas de Samba (liesa). e de um conselho superior: a maior parte te m sede propria e vida associativa intensa duran te 0 ana inteiro. Ha. ate mesmo, iniciativas de carater educacional e de profissionalizao:;ao d e jove ns em diversas atividades desenvolvidas pe las comunidades a partir da infraestrutura das escolas. como acontece no Mo rro da Mangueira. Somen te em 1935 as autoridad es do Rio d e Janeiro. e ntao Distrito Federal. oficializaram 0 desfile das escolas de sa mba. por meio do Conselho de Turis mo da cidade. Ate 1951. os des files ocorriam na Prao:;a O nze. Posteriormente, as princ ipais esco las tra nsferiram- se para a Aven ida Pres ide nte Vargas e as me nores permaneceram na Prao:;a Onze. criand o-se 0 regime de aces so. De 1978 em dian te. antes com estruturas d esmontaveis. de pois com 0 projeto de Oscar Niemeyer. a Marq ues de Sapucaf torna-se definitivamente a Passarela do Samba. Em 2 de ma ro:;o d e 1984. foi inaug urad o 0 palco especia lmente para os desfiles. A Aven ida Marq ues de Sapucaf d e ixou de servir ao trMego, passando a ser conhecida como Sambodromo. ainda q ue a partir de 1997 ten ha sido oficialmen te batizada de Passa re la Pro fessor Darcy Ribeiro. Difere nte me nte do que e habi tualmente ve iculado pe la impre nsa. que se limita a divulgar 0 des file das escolas do Grupo Espe cial. a apre senta o:;ao das escolas nao se restringe ao domingo e 11 segunda-feira: na verdade. come o:;a-se a desfilar na sexta-feira an terior ao Carnaval e segue-se desfilando ate a noite de tero:;a-feira. Ha des files simultaneos:
no do mingo. enqua nto as escolas do Grupo Especial se apresentam no Sambodromo. 0 desfile das escolas do Grupo C transcorre na Ave nida Rio Branco. As escolas se apresen tam em tn?s grupos ou categorias. cuja cons ti tui~ao e parcialmente renovada em cada Carnaval. As escolas de samba sao julgadas por uma co missiio de especialistas que atribuem notas nos seguintes quesitos: bate ria. samba-enredo. harmonia. evolu~ao. enredo, a legorias e adere):os. fa ntasias, comissao de frente, mestre-sala e porta-bandeira. Nao podemos deixar de mencionar, neste breve panorama do Carnaval carioca, 0 revigora mento do Carnaval de rua. de blocos, que. na passagem do secu lo XX para 0 XXI. transformou a paisage m carnava lesca da cidade. 0 Carnaval do Rio havia se concen trado no des file das escolas d e samba. isto e, no Carnaval oficial. Carnaval em q ue a maioria da popula~iio desempenhava 0 pape l de audie ncia. 0 Carnaval de rua. alem de retomar a expressiio participativa. livre de cordas, espon tiinea, trou xe de volta as antigas marchinhas como combus tive I da alegria. Vale salientar que ha blocos tema tkos. co mo Sargento Pi menta (toca musica dos Beat les em rit mo carnava lesco), Toca Rau l (repertorio do Raul Se ixas carnavaliza d o). que criam um dife re nc ia l na folia. Um dos mais tradicionais e ecleticos carnavais do Brasil e 0 que se rea liza no Re cife e em O linda, em Perna mbuco. Alem da dive rs idade de manifestar;oe s. ha a especificidade sonora e coreografica do frevo. 0 frevo e um ge nero e mine ntemen te urbano e recifense. surgido no fim do se culo XIX, Nasceu da intera~iio entre musica e dan~a. tornando-se difrcil. ao se tratar do assun to, separar os dois elementos. ja que se desenvolveram interdependenteme nte. Observa Valdemar de O liveira (1971. p. 11 ): "E imposslve l distinguir be m: se 0 frevo. que e a musica. trouxe 0 passo ou se 0 passo. que e a dan):a. trouxe 0 fre vo. As duas coisas se foram inspira ndo uma na outra e complementaram-se". A principal caracte rlstica do frevo co mo musica e ser uma ma rcha, em divisiio binaria e andamento semelhante ao da marchinha carioca. E. no e ntan to. uma ma rcha mais pesada e baru lhe nta e sua execu~iio mais vigorosa e estridente em virtude da fan farra . 0 ri tmo e sincopado. obsedante. violento e frenetico. Sendo 0 resultado inconsciente da mistura dos gene ros musicais em voga no fina l do se culo XIX, nao se pode atribuir a paternidade do frevo a um so ge nero musical. Foi a partir de 1880. quando a musica de rua do Recife passou a ser fornecida niio mais exclusiva me nte por bandas militares. mas por fanfarras organizadas por trabalhado res humildes (carvoeiros. vassoureir~s. caiadores. lenhado res etc.). que 0 frevo come):ou a se fixar como genero musical. A cristaliza):iio do gene ro coincide com 0 apogeu do maxixe. entre 1905 e 1915. Como a musica foi tomando forma a partir das sugestoes coreograficas dos passistas, a exemplo do que ocorreu com 0 maxixe no Rio de Janeiro, nao existe uma composi~iio que possa se r considerada "0 primeiro frevo".
" 0 frevo de .U<I e . xdus viIIYleOte ..,wun__ -.I ;em lena. p"',a
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felta para a dani;a. pa"o'_ t wbd",,·
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ftevo· abafa. frevo-coqoeoro e frevo-vef1tanra 0 frevo
de blow e executado po. argue'tt a. de pau ~ corda - v.alOes, b.:.njO$. (avaqlJ<nho. - e tem k!!;fa e melod l ~ evocat lva,. 0 f,evo-can,,"" ou
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uma parte rmrodutooa ..,,tru,,--,tal .. outta <;MIta,,· tendo como letra tema, do, rno.i, v.&i ad< <.
Nao parece haver duvida de que 0 frevo e uma cria~ao de musicos, jama is de curiosos: "sem entender de musica e principalme nte de orquestra~ao nao se comp6e frevo, nem que este conhecimento seja merame nte intu itivo, como acon tece na ma ioria das vezes· (GOES, 1981, p. 40). Com rela\ao ao passo ou a danr;a do frevo. sabe-se que. no inicio da segunda metade do seculo XIX. se firmaram no Recife. clandestinamente. partidos de capoeira. sendo este 0 primeiro sinal de vida do passo: filho legitimo que e da capoeira de Angola. Mas a riqueza do Carnaval pernambucano nao esta res trita ao universe do frevo. Ao lado dele. com todas as suas variar;6es (frevo de rua. frevo de bloco. frevo-can~ao)' , estao 0 maracatu. 0 caboclinho, 0 afoxe e tambem 0 samba. Os maracatus evocam antigos cortejos de reis negros. Viajantes do seculo XVIII ja narravam os desfiles dessas cortes e as coroar;6es de sobe· ranos do Congo e de Angola no patio da Igreja do Rosario dos Pretos, no Recife. A palavra "maraca tu· era usada, ate fins do seculo XIX. para designar qualquer ajuntamento de negros. Pouco a pouco passou a ser empregada para os cortejos dos reis africanos. Desde 0 come\o. os desfiles traziam varios elementos. sobretudo re li· giosos. que conservam ate hoje. como a calunga (boneca de cera que encarna os antepassados) e a grande "umbela" (especie de chapeu de sol) que protege 0 re i e a rainha. ladeados pelos nobres e pelos ple beus da corte. Sao mais de 150 pessoas. Alem dos maracatus urbanos. ha os rurais. Os maracatus -na~ao (urba· nos) sao conhecidos como de baque virado e suas orquestras sao formadas apenas por instrumentos de percussao: os maracatus rurais sao chamados de baque solto e agregam instrumentos de sopro. como 0 trombone. 0 trompete e 0 clarine te. Os maracatus de baque solto se concentram nos canaviais da Zona da Mata. Essa expressao rural do maracatu mostra uma fantast ica fusao de e lementos de varios folguedos populares do interior de Pernambuco: pastoril. cavalo-marinho, caboclinho. folia de reis. entre outras. Enquanto 0 maracatu e uma manifesta~ao de origem africana. os caboclinhos sao uma representa~ao dos povos indigenas. Trata-se de um g rup o de homens e mulheres com cocares de penas de ema, pavao e avestruz. Sao caboclos que evoluem nas ruas em duas filas , ao som dos estalidos secos das preacas - um objeto que re produz 0 arco e a necha e que emite um estalido qua ndo percutido.
Eum dos mais antigos bailados populares do
Brasil. Alguns estudiosos atribuem 0 surgimento da manifestar;ao na fo rma de auto e laborado pelos jesuitas para a catequese dos indios pernambucanos. Esses grupos preservara m passos e dan~as nativas que se somaram as influencias europe las e negras.
o Carnaval do Re cife come<;a no sabado corn a sarda do maior bloco carnavalesco do mundo. segundo 0 livro dos recordes - Guinness Book -. 0 fa mosfssimo Galo da Mad rugada (fundado em 1978). que reune nada me nos que 2 milh6es de pe ssoas que desfila m durante o ito horas por 22 ruas e ave nidas da capital pernambucana. Paralelamente ao Carnaval do Recife. Olinda real iza um dos mais famo~ sos festejos momescos do Brasil. No sobe e desce ladeira. as tro<;as e os blocos fazem a cidadela his t6rica ferver por 24 homs. durante os qua tro dias de Carnaval. Mas 0 fa to que mais distingue 0 Carnaval olindense e a preseno;a dos bonecos gigante s. conhecidos regionalmente como calungas.
S Q alox'; Mo'; urn s'mpi.. ~o<:o ca' 'lavalesco. tem r1ll ze • ..t.c;o"" li<Jadas ao can dombl'; ().; gruf>O< desfdam <>COI11panhacio, uni<::ar"eme por ""trumemo, de perc >J.a e N'U' cOrnpon<'<1t£'~ 0.\0 todos I"""""", No 1\0-
vendo • p,,,,,,,,,<;a rem"""" '>0 cort"jo. Com ,ela.;ao " )<'ge'" da p.•l",. &. hJ do ... co ,entes: a p' ........ a al""", r do iorLl>.:!. 'KJ",f,cancio -a rata que fa;[- A ''''lur"b at"bUl. oroqem dO sudan;k -afohshef,-, palaVfa que
Na Bahia. 0 Carnaval vai as ruas pela primeira vez em 1884. com 0 des file do C lube Carnavale sco Cruz Verme lha. fundado em 1 ~ de mar<;o do ana anterior e que organizou um cortejo em que rapazes e mo<;as rica me nte trajados se apresentavam e tra ziam uma nov idade: um carro aleg6rico. com 0 tema "Crftica ao jogo de lo ter ia". decorado com pe<;as importadas da Europa. seguindo modelo dos p restitos da entao capital federal, Pode-se dizer que . ainda que houvesse Carnaval na rua, nao havia Carnaval de rua. espontdneo. popular, em Salvador ate 0 final dos anos 1940. que se via eram des files das grandes sociedades e . posteriormente. 0 desfile do corso. Em 1949. no entanto. ana do qua rto centenario da fundao;iio da cidade de Salvador. e criado 0 afoxe' Filhos de Gandhi pelos estivadores do porto de Salvador. como forma de homenagear 0 lider pacifista indiano assassinado em 1948, Mahatma Gandhi.
o
A marca mais significativa do Carnaval baiano contemporiineo e precisame nte 0 convfvio do afoxe de carater re ligioso com 0 trio eletrico. essa manifestao;iio que revolucionou 0 Carnaval brasileiro na segunda metade do seculo Xx. Tudo comeo;ou no ana de 1950. quando. as ve speras do Carnaval. Dodo e Osmar', impre ssionados com a apresentao;iio do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas. do Recife. que se apresentara em Salvador. a caminho do Rio de Janeiro. reso lveram levar alguma coisa semelhante. em termos de empatia com 0 publico, para 0 Carnaval de ru a da que le ano. Osmar. dono de uma oficina tecnica e specializada em e ngenharia me~ canica. e Dodo. radiotecnico, decid iram que. no dia seguinte a a presenta<;iio do Vassourinhas, comprariam 0 mate rial necessario para enfeitar 0 Ford Bigode 1929. a fa mosa fubica. de propriedade de Osmar. Ela servia para tra nsportar 0 material da oficina, Comprariam tambem 0 equipamento para a construo;ao da Fonte de alimenta<;iio que funcionaria na pr6pria bateria do carro, em que seriam ligados os instrumentos eletricos por eles inventados. os "paus eletricos". poste riorme nte reba tizados de gui tarra baiana' . Enquan to Osmar de corava a fub ica com confetes coloridos e pintava compensados em forma de violiio. que se ria m presos as laterais do carro. com os dizeres''A dupla eletrica". Dodo construfa a Fonte ligada 3 bateria e a rmava os alto-falantes dirig idos para fre nte e para tras da fubica.
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n,l,ea LJrniI eo;p#<;'" espe<: ial de ()(lejO.
6 Adolfo do Nasar ~t(, :Dodo) e Q,rnar MacOOo, m uloldo,es do wo eiet'ico.
Um cayaqu lrf.o eiet"CO ~ Yl ar,,,,,~.lo de bandohm
e urn Y,olao tambem e~tr' f ado, 0 P' ''( ipoo cia ek trl'tca<;ao de ,nstrumento de cotcia pesqlJl...oo pela dupIa ba.""" ,; conte,,,po,,'m,,,, iI pesqu"a de~ ~td~ pek>s labllcantes Icano,. ~"ndo roos onlorma Dor.ald BrOSn.K em """ ~VfO Jh.. EkrIJc Gar...., ii, HtslOIy.,d COOSltlJCtlO.
BIoco Ilf Alyf P¥IlOPO do Camrilada Ad, "'" CO<T>emOfa com pe<cu"k e ~ "" rua • cheqado do ......."".
A an i m a ~ao do centro da cidade era entao promovida pelo corso. q ue nada mais era do q ue uma for ma de dis tra~ao da elite. De d e ntro de se us a uto m6ve is. e la "fingia" brincar com 0 p ovo. e nquanto e ste se re stringia ao p apel passiv~ d e es pe ctador. ap la udindo os gru po s mais bonitos. Em de poimento ao autor.
co n ta~ nos
Osmar Macedo:
q uando d espontamos na aven ida . acabamos com
0
corso. pois vi-
nha atrtis de nos uma massa compacta d e gente que [...J pulava e se d ivertia como nunca antes ocorrera na B.-!hia.
o da do pito resco dessa hist6r ia foi que quand o subiamos a
Rua
Chile. ao passa r diante da Pra<:;a Castro Alves. ped i ao motorista q ue parasse
0
carro para tocarmos ali. ond e 0 espa<:;o e ma is amplo.
Ele responde u que hii mui to a fubica estava que brada. havia queimad o 0 d isco da emb reagem. estava sem fre io e com 0 motor des ligado. 0 carro and ava empurrad o pelo povo. Este fato ilustra bem como essa maneira d e se brincar ao som do trio e le trico e de segui-
10 e coisa mesmo do povo. nao fo i ninguem q ue o rientou ou d isse como fazer [ ...]. A pa rtir daq uele momenta
0
carnaval de Salvado r
tomaria ou tra fe i<:;ao: nascia naquele ana d e 1950 uma nova maneira d e br inca r 0 carnaval. Surg ia 0 que Moraes Moreira chamaria d e "0 ma is novo carnaval d o Brasil". (G6ES. 2000. p. 14)
Ep reciso sublinhar que tudo se originou do descompromisso. do mais genu ino desejo de diversao de dois companhei ros que jamais imaginaram que aque la brincadeira viria a se transformar numa poderosa ind ustria do lazer.
o nome Trio Ele trico e posterior ao feno meno. Surge e m 1951. qua ndo pela primeira vez apresenta-se no Carn ava l um conjunto de tres in stru ~ mentistas. Dodo e Osmar. ne sse ano. safram pe las ruas d e Salvador nu ma pick-up C hrysler. mode lo Fargo. maio r que a fubica do a na anterior. em cujas laterais se lia. em duas placas: "0 trio e letri co". Isso porq ue fora introduzido 0 "trio lim". como era chamado 0 violao tenor. executado por Temistocles Aragao. Com 0 trioli m estava fo rmado 0 trio: a g uitarra ba i a~ na d e Osmar. de so m ag udo ; 0 trioli m de Te mfstocles. de som medio: e 0 violao. "pau eletrico" de Dodo. q ue fa zia 0 pap el de ba ixo. com som grave. Pode -se e stabe lece r qua tro mo me ntos na hist6ria do trio e le trico. A prime ira fase . qu e chamariamos d e hist6rica e vai do surg im ento. em 1950. ate 0 infcio do s a no s 1960. q uando Dodo e Osmar se afasta m do Carnaval. A segunda. q ue comp re e nde a decada de 1960. periodo em qu e O rlan do Campo s. do Trio Tapaj6s. fixa a forma e torn a 0 fe no meno conhecido nacionalmente. A terce ira fase . que se inicia co m a vol ta dos fundadore s ao Carnaval. em 1974. agora com 0 t rio comandado po r um do s qua tro filhos d e Osmar Macedo. 0 ba ndo linista Arman d inho. e com 0 titulo de Trio Eletrico Arman d inho. Dodo e Osmar. Essa fas e vai a te 1985. Durante esse pe riodo. ho uve gran des mu da n~as e m te rmos musicais. Ale m da fixa~ao do genero "frevo baia no". caracter izado pe la sonorid ade da gui tarra com a voz. introd uz ida p or Moraes More ira . ex~ pe rim entam-se fus6e s musicais como 0 "frevoxe". mistu ra d e frevo com afoxe . alem do uso fre quente d e referencias do rock nos fraseado s da gui tarra. Finalmente . a ul tima fase se inicia e m 1985. com as i nova~6es
.
propostas por Luiz Caldas. com 0 que se deno minou "fricote". em que os teclados sao intro duzidos. perdendo a guitarra 0 se u luga r centra l. e em que ha a predomindncia dos trios de bloco sobre os tr ios independentes. gra tuitos e sem cordas. redunda ndo na indus tria carnavalesca embalada pelo som da axe music. A musica produzida na Bahia passa a ser ide ntificada por esse segmento, sobretudo, porque p rojeta no cenario nacional inumeros artistas. especialmente canto res que impoem uma forma de cantar mui to caracterrstica dos "puxadores de trio de bloeo". Em meados dos anos 1980. 0 Carnaval da Bahia ja e um feno meno nacional e inte rnaciona l. Diferentemente do Carnaval do Rio de Janeiro. passa a se r conhecido como 0 Carnaval de part icipao;ao. No entanto. cada vez mais surgem em menor numero os tr ios eletricos indepe ndentes, como 0 de Dodo e Osmar ou 0 Tapaj6s. Cada vez mais e maior 0 numero de trios de blocos. fechados em cordas (reg istrados no 6rgao de turismo de Salvador. a maioria sao trios de bloco) e em q ue para participar e necessario pagar 0 carne para a compra do abada".
o Carnaval baiano torna-se uma industria do lazer que funciona 0 a na inteiro em "carnafolias". fora de epoca. por todo 0 Brasil. Sao mais de 70 os carnavais fora de epoca. "Axe music" e um r6tulo guarda-chuva e m que cabem a sonoridade carnavalesca dos trios, 0 som dos blocos afro. como 0 Olodum e 0 Araketu. a musica dos ti mbais de Carlinhos Brown. 0 som de Danie la Mercury e de Ivete Sangalo e ta mbem 0 som dano;ante de grupos pagodeiros. cuja caracterrstica e alimentar a m rdia com musicas sofrrveis de dup lo sentido e coreografias se nsuais que exacerbam a "bundolatria" brasileira, Nilo ha como negar: somos os maiores festeiros do mundo e 0 Brasil e "fest6dromo" do planeta Terra.
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Referencias bibliograficas DEBRET. J e~n Baptilte. VOY"9" pittoresqUf' el ~istoriqUf' au Bresil. ou sejour d'un artiste fra"fais au Bre,il depui, 1816 jUlqua 1831. Paris: Firmin Didol. 1&34 -1 839 OLIV EIRA. Valdemar de. Frevo, cafX>"ira epa55o. Rec ife: Comp. Ed . Pemambucana. 1971. G6ES, Fred. so anol de trio eletrico. Salvador: Corrupio, 2000. _ _ . 0 pais do camaval elerrico. Salvador: Corrupio, 1982.
Fred Goes Professor no Departamento de Ciencla da litelatura na Un ivers idade Federal do Rio de Ja l)e"O Goes atua como pe>qulSador do Conlelho Nac lonal de PesqUlla (CNPq) onde I,dera 0 Nucleo Interdisciplinar de Estudos Carnavalescos. E emaista cr itico e e,creve sobre literatura e musica popular E"mail: fredgoes<!>terra.com.br
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8 A ''''"'P'' do foillo contemporineo, que ,denttfica o pdiT<C lpdnle d<J hloco, de"'gn ihc",", 0 I"m,do de f- Ma .... e lJIl ur f ,me
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Nazar~ d~ M~t~. PefTlitfTlOOco.
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" â&#x20AC;˘â&#x20AC;˘ â&#x20AC;˘ DO FREYO E DO MARACATU":
MUSICA E FESTA NO CARNAVAL
PERNAMBUCANO Carlos Sandroni
A profunda rela"ao entre musica e festa e um elemento fundamen tal da dinamica da musica popular no Brasil. 15S0 nao e, a bem dizer. uma particularidade abso luta do Brasil: a rela"ao entre mU5ica e festividades as mais d iversas e uma constante em diferen tes culturas humanas. Como mostraram os etnomusic6logos. uma das caracterfsticas mais gerais da musica e sua capacidade de codificar e transmitir um ethos coletivo. bem como de coordenar e "temporalizar" atividades grupais. Antes deles. alias. Mario de Andrade ja havia afirmado: a mus ica e "a mais coletivizadora das artes".
o que talvez haja de especffico no caso brasileiro e a maneira como esse vinculo entre musica e festa se traduz numa permanente cria<;:ao e recria<;:ao de generos musicais de massa. de vincula<;:ao mais ou menos f1exfvel a contextos festivos especrficos. Choro. frevo. samba, marcha. forr6, e tantos outros. sao generos musicais criados em estreita liga<;:ao com diferen tes dan<;:as e festividades populares. Foram capazes. tambem. em diferentes medidas. de se autonomizar parcialmente desses contextos originais. ganhando um interesse pr6prio enquanto mus ica "s6 para ouvir ou para outros t ipos de frui<;:ao. Neste texto. you me ater a dois generos profundamente ligados a essa importante Festa popular que e 0 Carnaval pernambucano: 0 frevo e 0 maracatu. Come"arei por fazer uma pequena descri"ao de cada um dos dois. apontando tambem para 0 modo como passaram do contexto festivo carnavalesco para outros fimbi tos. incluindo a musica popular dos radios e dos discos. e prilticas mus icais comunitarias fora do Carnaval. Depois de cada descri"ao, farei um rela to sobre eventos carnavalescos especrficos onde ora 0 frevo. ora 0 maracatu desempenham papel fundamental .
... Do frevo ...
o frevo e urn genera de musica da n~an te criado no infcio do seculo XX nas cidades do Recife e de O li nda. estado de Pernambuco. e m estreita associa~ao com 0 Carnaval de rua. A palavra vem. como se sabe. de uma corruptela do verbo "ferver". q ue e ra usado para caracte rizar a agi ta~ao da mul tidao no perfodo da festa. "Frevo" e tam bem 0 nome da dan~a rea lizada ao som da musica hom6nima. A primeira men~ao escri ta conhecida a palavra "frevo". com sentido musical. da ta de 1907. Em 9 de fevereira daquele ano. 0 Jomal Pequeno . periodico do Recife. publicou 0 repertorio do C lube Carnavalesco Empalhadores do Feitosa. induindo. entre as pe~as a ser apresentadas pela banda de musica. a marcha "0 Frevo". A palavra nao designava entao, como se percebe. um genera musical. mas 0 tftu lo de uma marcha de Carnaval. Desde 0 final do seculo XIX. a par ti cipa~ao popular no Carnava l do Recife e de Olinda se faz ia. e m grande parte. por clubes corporativos: alem dos mencionados Empa lhadores. podemos cita r 0 Clube das Pas de Carvao (fundado em 1888). 0 C lube Carnavalesco Vassourinhas do Recife (1889) e 0 C lube dos Lenhadores de O linda (1907} todos trazendo em seu nome refere ncias a profissao de seus integrantes. Esses clubes. exclusivamen te mascul inos. desfilavam no Carnaval dan~ando ao som de bandas de musica. q ue interpretavam generos entao em yoga , como dobrados. marchas, pokas e tangos. frevo vai se configurar aos poucos como gene ro a parte. na medida em que primeiro os musicos das bandas e depo is os proprios compos itores pernambucanos foram submete ndo aq ueles generos iniciais a uma serie de transforma~6es , em dia logo com a dano:;a da mu ltidao carnavalesca . Entre as prime iras composio:;6es q ue comeo:;aram a criar a fisionomia propria de um novo genero. podemos mencionar "A Provincia". composta por Juve nal Brasil e m 1905 para o Clube dos Lenhadores. e "Go n ~alves Maia". de Zeferino Ba ndeira , composta para 0 Clube das Pas no final do secu lo XIX. A ma ioria dos pesquisadores e compositores de frevo considera. no entan to, que foi J ose Loureno:;o da Silva (1889-1952). conhecido como Maest ro Zuz inha. regente da banda do 4~ Batalhao de Infantaria do Rec ife, o respo nsavel pela consolida~ao do frevo como genero musical. ao fixar difereno:;as significativas entre 0 que seria a nova "ma rcha-frevo" e a an tiga "marcha-polca".
o
Mais ta rde. compositores como Levino Ferre ira (1890-1970). Nelson Ferreira (1902-1976) e Capiba (1904-1997) consolida ram as principais caracterfsticas dos frevos instrumentais e cantados. A partir da decada de 1930. parece ter se consagrado a subdivisao hoje estabelecida do gene ro em frevo de rua, frevo-cano:;ao e frevo de bloco. 0 frevo de rua e 0 frevo por excelencia. aquele cuja origem se relatou nos paragrafos precedentes: purame nte instrumenta l. tocado por bandas de musica com predomfnio de instrume ntos de sopro e dano:;ado pela multidao nas ruas carnavalescas do Recife e de Olinda. 0 frevo-can~ao e uma derivao:;ao deste. com indusao de uma parte cantada fei ta por um solista e com peque nas diferen~as musicais. Ja 0 frevo de bloco aprese nta
difere n.;;as musicals mais significa tivas, apresenta ndo outra forma.;;ao instrumenta l. andamento mais le nto e a melodia principal interpretada por urn cora l fe m inino.
o frevo de rua e 0 de bloco estao associ ados a d iferentes tipos de grupos carnavalescos: 0 primeiro e proprio dos clube s. criados. como vim os. a partir do final do seculo XIX por trabal hadore s brao;;ais com exclusiva (e mais tarde predominante) participao;;ao masculina: 0 segundo e proprio dos blocos carnavalescos mis tos (hoje muitas vezes chamados de "blocos Ifricos). criados pela classe media baixa a partir dos anos 1920 com grande participao;;ao feminina. 0 frevo-canÂŤao nao se liga intrinseca mente a grupos carnavalescos espedficos. embora tambem seja cantado no Carna val. As primeiras gravao;;oes de frevo fo ra m feitas no Rio de Janeiro no fim dos anos 1920. tendo como interp retes musicos e cantores cariocas. Nas gravao;;oes feitas ate 0 infcio dos anos 1930. 0 nome "fre vo" nao a pare ce. constando e m vez disso designao;;oes como "marcha pe rna mbucana" ou "marcha nortista". Mais ta rde. musicos pernambucanos passaram a se r contratados para ir ao Rio gravar frevos. Foi so em 1954 que se criou uma gravadora de discos em Pernambuco. a Rozenbli t. e em seu catalogo 0 frevo ocupou luga r de des taque. No Carnaval de 1957, 0 frevo de bloco "Evocao;;ao". de Nelson Ferre ira, gravado na Rozenb lit. faz enorme sucesso no Carnaval em todo 0 pafs: "Fe linto, Pedro Salgado/ Guilhe rme. Fenelon/ Cade seus blocos famosos [.. .]" . A g rava.;;ao original consegue. com rara felicida de, evocar de fato a sonoridade e 0 ambiente d os desfiles dos blocos Ifricos carnavalescos do Recife. Para isso contrib ui sobrema neira 0 ti mbre do cora feminino nao profissional que fa z toda a parte vocal. 0 frevo jil era entao urn gene ro cultivado no Carn aval de mu itas cidades brasileiras alem do Recife e de Olinda. incluindo 0 Rio de Jane iro e Salvador.
o principal ponto musical em com um dos tres t ipos d e frevo e 0 ritmo. De fato, pode-se fa lar em "ritmo de frevo". nao importando se e frevo de rua. de bloco ou frevo-ca n.;;ao. Esse ri tmo e caracte rizado par dois instrumentos, p rincipalme nte - 0 surdo e a caixa. 0 rit mo do surdo e binilrio: num compasso 2/4. 0 primeiro tempo te rn uma pausa e 0 segundo uma batida. 0 ritmo da caixa e bem mais complexo e e xige do is compassos 2/4 para se completar (a rigor. 0 ri tmo da caixa poderia ser escrito em 4/4). Urn tercei ro instru mento rftm ico muito comum no frevo e 0 pandeiro.
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ritmo do frevo pode ser executado em diversos anda me ntos: o frevo de bloco pede andamentos mod e rados (me trono mo 100-110): 0 frevo de rua e 0 frevo-can.;;ao. anda me ntos ra pid os (metronomo 140-150). Ele nilo e. no e ntanto. espedfico do frevo. pois corres ponde. grosso modo. ao acompanhamento das ma rchas de Carnaval cariocas: a marcha-rancho, le nta , e a ma rc hinha. rapida. ritmo em ques tao se torna. porem. espedfico do frevo. na medida em q ue e associado a elementos t fmbricos e mel6d icos. formand o urn ambie nte musical inconfu ndfvel.
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P.,,,,t. , d. hevo pi'rtK:Jp.orn do tr~ d.,file do, Papaongo>. ",oIitodo => B""erro>. cKlack â&#x20AC;˘ 120 quilomH, os do Rec~.
FoIo, EdUM<!o Kn.w/FoI..p<."
A formil<;ao ins tru me ntill classica para tocar frevo de rua e a chilmada "banda" ou "orq uestra de frevo". Sao ins trumentos de sopro e percussao, com predomfnio de instr umentos de bocal (trompetes. trombones. tuba) e participao;iio de instru mentos do nilipe das made iras: principalme nte saxofo ne s. milS as vezes tambem clarinetes e. nos melhores casos, ate requintas. Aautas e Aautim. Ao que se acre scenta percussiio composta de surdos. caixas e pandeiros. Nil pratica mais rece nte, pore m, tem sido usados conjun tos bem me nore s. limitando-se os ins tru mentos de sopro a saxofone s. tro mpetes e trombones. No CilSO de estudios de grava<;:ao e de pe rformances de palco. te m -se adicionado, em compensa"ao. alguns instrumen tos eletr6nico s. como te clildos. guitilrra e baixo eletrico (esse ultimo bastan te comum como substituto dil tuba) Nils performa nces de rua. em movimen to, os instrumentos eletricos nao tem lugar (por motivos 6bvios): a nao ser no caso do d ito "frevo biliano". que abordilrei a fre nte . q ue no Cilrnaval em inte rpretado tipicilme nte pe los chamados "trio s e le tricos". A instrumentao;iio do frevo-ciln<;:ao e basicamente a mesma do frevo de ru a. a qua l vem se juntar um cantor o u uma cantom solistil. Mas 0 conte xte mais tfpico do frevo-ca no;iio e a performilnce de palco ou 0 estudio (justamen te. e le nao e "de ru a" no sentido estrito. "De rua". no caso do frevo. niio q ue r di ze r a penas que ele e fei to ao ar livre . mas tambe m que e fei lo em contil to dire to com 0 chao da rua e em locomoo;iio). frevo-cano;iio e . dos tres tipos. 0 que tem maior in terfilce com 0 mundo do espetaculo p ro fissional e da indus tria fonograficil. Sendo assim. a presen<;:a dos instru me nto s eletr6nicos e mui to milis comum nessa variedilde de frevo. Isso nao imp lic3 dizer que frevo s-ciln<;:ao niio
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sejam tambem cantados nas ruas pe la m ult idao no Carnaval. Ha varios exemplos de frevo-can.;;ao mui to ouvidos em tal situa.;;ao. como 0 "Hino do Elefante de Olinda" (Clfdio Negro-Clovis Vieira): "Olinda.1 Quero cantarJ A ti. esta can.;;ao!1 Teus coqueirais.J 0 teu sol. 0 teu marJ Faz vibrar me u cora.;;ao [.. .]". Ou ainda "VoiteL Recife" ( Luiz Bandeira): "Volte i. Re cife!J Foi a sauda de que me trouxe pelo bra.;;o!J Quero ve r novamente Vassoura' na ru a abafa ndo.J Tomar umas e outras.J E cair no pas sol". "Vassoura" e 0 Clube Carnavalesco Vassourinhas do Recife. e o" passo" e a dan.;;a do frevo. A instrumenta.;;ao do frevo de bloco. por sua vez. e chamada de conjunto "de pau e corda" e e to talme nte dis tinta da dos outros do is tipos. Ela se baseia e m cordas ded ilhadas ou tocadas com plectro (palheta). para 0 acompanhamento ha rmonico (so bretudo viol6es e cavaquinhos). e em sopros do naipe das madeiras (so bre tudo nautas. clarinetes e saxofones)' para as intro du.;;6es e os contracantos. A pe rc ussao se baseia. como sempre. em surdo. caixa e pande iro, mas podem ser incorpora dos chocalhos. reco-recos e 0 q ue mais estiver disponfvel. Os instrumentos mel6dicos, aos qua is podem se acrescentar livreme nte bandolins e ta mbe m os outros q ue estiverem disponfveis (desde que adaptaveis a uma situa.;;ao de desfile), geralme nte costumam do brar a melodia cantada. Esse carate r mais aberto, ad hoc, do conjunto instru menta l de pau e corda e facili tado pela ausencia de polifonia (a nao ser ocasio nais passagens em te r.;;as) e de divisao em naipes. e pelo menor virtuo sismo instrumenta l desse t ipo de frevo. As d iferen.;;as entre frevo de rua e frevo de bloco se relacionam tam bem com a atribui.;;ao de e thos viril ao primeiro, contra posto ao e thos Ifrico atribufdo ao segundo. associados no un iverse do Carnaval. respectivamente, aos generos masculino e fe m inino. As melodias dos frevos de ru a sao tocadas por instrumen tos d e metal. oriundos das bandas mili ta res e ate hoje tocado s. no Carnaval. quase exclus ivamente por ho mens (as e xce.;;6e s sao raras). enquanto as dos frevos de bloco sao cantadas por corais de mulheres (e a li teratura sobre a hist6ria do frevo de bloco insiste no papel dos primeiros blocos na inclusao feminina no Carn aval). As letras do s frevos de bloco tem to m nostalgico, fa lando de amor, de saudade e de um Carnaval dos tempos antigos, ideali zado como inoce nte e romantico. Os frevos de rua nao possuem letra, mas seus tft ulos, em vez disso. evocam e m muitos casos a agi ta.;;ao as vezes violenta da mul tidao fes tiva: "Tempestade", "Reboli.;;o", "Furacao no Frevo", "Diabo Solto". No que se refere aos frevos -can.;;ao - aqui, como em o utros pontos, um caso interme diar io entre os outros dois tipos -. embora cantados. suas melodias gua rdam uma vivacidade e um gosto pela sfncope mel6dica. alem do andamento ligeiro. q ue os a proxi mam de seu congenere instrumenta l. E as le tras. por contraste com as dos frevos de bloco. sao em muitos casos alegres ou humorfsticas. Antes de des igna r um genero musical. a palavra "fre vo" foi e mpregada. como vi mos, para se referir 11 agi ta.;;ao da n.;;ante da multidao no Carnaval. Na cria.;;ao de um tipo de dan.;;a e specffico a part ir daf, a li teratura atribui
papel importante aos chamados "capoeiras", Em Pern ambuco, no infcio do seculo XX. essa palavra nao desig nava. como hoje. uma a rte marcial afro-brasile ira, considerada parte do patrimonio cultural do pafs. Em vez disso, e la de signava certa d asse de indivfduos considerados socialme nte perigosos, e specializados em brigas de rua, geralme nte com uso de armas como cacetes e punhais. Segundo Valde mar de Oliveira, as bandas e os dubes carnavalescos que desfi lavam no Carnaval no Recife e em Olinda tinham entre si riva lidades e disputas lis vezes serias: por isso, traziam sempre 11 sua frente grupos de capoeiras. cuja fun~ao era tanto abri r espao;o na m ult idao para 0 desfile como proteger os me mbros de cada grupo nos encontros com rivais. Esses ca poeiras iam dan~ando de fo rma atletica e amea~adora 11 fren te do re spectivo gr upo e de tais movimentos, e m estreita re lao;ao com a vivacidade rftm ica das musicas carnavalescas, teriam nascido as caracterfsticas da dano;a do frevo. Tratase de fato de uma dan ~a individual. que e xige grande des treza ffsica e ap resenta em alguns de se us movimen tos se me l han~as com golpes da capoeira ta l como e hoje conhe cida. Durante 0 seculo XX, a dan~a do frevo foi adqu irindo seus contornos atuais, com um repert6rio de movi me ntos (conhecidos como "passos) e stabelecido e em constante ampliao;ao. A partir dos anos 1960. foi e nsinada em escolas e ap resentada por grupos de dan~a fold 6rica amadores e profissionais, fora de qualquer conte xte carnavalesco ou mesmo fes tivo. Sua indumentaria tfp ica indui roupas confortaveis e coloridas (no caso das mulhe res, se mpre de ixando as pernas 11 mostra), sapatos t ipo tenis e 0 uso de uma sombrinha, obje to que se gundo alguns teria sido usado como arma pelos capoe iras do infcio do seculo. Tambem como genero de musica popular, 0 frevo foi capaz de sair do conte xte fe stivo que Ihe deu origem e encontra r espa~o para ser ouvido e m qua lq ue r lugar ou epoca do ana (tal como antes de le 0 samba e depois dele 0 forr6. por exemplo). Ja nos a nos 1930, Mario Reis gravava "E de A margar!", de Capiba. No final dos anos 1950, Tom Jobim ind uiu um "Frevo de O rfe u" na tr il ha do famoso fil me de Marce l Camus sobre 0 Carn aval carioca, No festival da cano;ao da TV Record de 1967. a musica "Gabrie la", um frevo-cano;ao, chegou 11 fina lfssima, No vfdeo, disponfvel na inte rnet. pode-se obse rva r parte da plateia agi tando sombrinhas ao ritmo do frevo, como se estivesse em ple na folia pernambucana. De pois dis so, fre vos foram compostos e executados em grande nume ro por musicos profissionais fora de Pernambuco (e de qualquer contexte carnavalesco) Alguns e xemplos sao Egberto Gismon ti (,Frevo"). Paulo Beli natti ('Sai do Chao') Edu Lobo (,Frevo de Itamaraca') e Gilberto Gi l (,Frevo Rasgado') sendo os dois prime iros instrumentais e o s dois ultimos cantados, Em Salvador. surgiu nos anos 1970 uma yoga de frevos carna valescos cantados que foram chamados de "frevos baianos". Os principais compositores e inte rpretes em disco desse tipo de frevo foram Caetano Veloso (,Atras do Trio Eletrico". "Chuva, Su~r e Cerveja") e Moraes Moreira (,Pombo-Correio", 'Vassourinha Eletrica"), 0 frevo baiano foi o genero que tornou nacionalmente conhecidos os trios eletri cos, que viriam a desempenhar papel fundamental 15 anos depois. na difusao da "axe music", Os imensos caminhoes dotados de sistema de amp li fi ca~ao,
usados como plataforma para os mLisicos. deslocando-se lentamente nas ruas seguidos pela multidao dano;ante. tornaram-se sfmbolo do Carnaval baiano e ta mbem de sua "exportao;ao" para os chamados "Carn avais fora de epoca" de mui tas outras cidades brasileiras. Embora tenha havido queixas ocasionais sobre um suposto declfnio do frevo. ou seu excessive confina mento ao pe rfodo carnavale sco. e le te m dado nas Liltimas decadas sinais de renovao;ao. Na area do frevo de bloco. desde os anos 1970 muitos blocos novos surgiram. com a criao;ao de novas composio;6es e com a regravao;ao de antigas. Na area do frevocano;ao. cabe mencionar 0 trabal ho do compositor e interprete Silverio Pessoa (CD Batidas Urbanas/Micr6bio do Frevo), que mistura 0 genero com elementos do po p-rock. E. no frevo de rua. a Spockfrevo Orquestra tem tido grande suce sso ao integrar ao frevo e lementos do jazz.
o frevo e considerado. pelo me nos desde os anos 1960, como a mais representativa man ifestao;ao musical do estado de Pernambuco. Em 2007.0 genero foi registrado pe lo Ministerio da Cultura do Bras il como patrimonio cultural nacional.
... Ma r~o
de 2011. e sabado de Carnaval. YOU assistir 11 safda do Homem da Meia-Noite. famoso C lube de Alegorias e Crfticas olindense. fundado em 1932. 0 Homem da Meia-Noite, alem de ser um clube carnavalesco, e ta mbe m urn boneco gigante, talvez 0 mais famoso de Ol inda. Sua "safda" - 0 momento e m que sai da sede onde repousa o ana intei ro e se re line 11 multidao para part ic ipar dos fes tejos do Ca rn aval - coincide com 0 infcio do Carnaval. se gundo os costumes mais an tigos. Hoje 0 Carnaval pernambucano comeo;a com 0 de sfile do bloco gigante Galo da Madrugada. que sai na madrugada de sabado. Na re alidade. comeo;a an tes ate. pois logo ap6s 0 Na tal e 0 Ano-Novo 0 clima carnavalesco, as prev ias e os primeiros desfiles ja toma m conta do Recife e de Olinda. Segundo 0 calendario li tLi rgico. porem. 0 Carnaval durava tres dias - 0 fa moso "trfduo mome sco". na fa la pern6stica de antigos locutores: 0 domingo. a segunda-feira e a Ter~a-Fe ira Gorda. (0 chamado "Sabado de Ze Pereira" era apenas 0 anuncio do que iria come o;ar no dia seguinte.) Por isso a abertura do Carnaval. para muitas agremia~6es populares pernambucanas. continua sendo a meia- no ite de sabado. Eeste 0 mo men to fes tivo ma rcado. em O li nda, pela safda do Homem da Meia-Noite. 0 bone co, que mede mais de 3 metros de altura. sai da sede, portado por urn homem que 0 "veste" ou "carrega". exatame nte 11 meia-no ite de sabado para dom ingo. Gra~as
a amigos ligados a di retoria. sou admitido de ntro da se de do clube. para ficar desde 0 infcio da noi te ate a hora da safda do boneco. Familiare s desse s amigos moram pr6ximo d sede. entre 0 Largo do Amparo (sftio hist6rico de O linda) e a Es trada do Bonsucesso. A se de fica na Estrada do Bonsucesso. que sai do sftio hist6rico de Olinda em dire~ao 11 periferia e aos bai rros mais rece ntes da cidade. n
Ao chegar por volta de 20 horas. encontro-me com meus amigos na casa de se us fam iliares. no Largo do Amparo. Depois de conversar um pouco. rumamos para a sede do clube. a poucos metros dal i. Esta passou recentemente por uma ampla reforma. Apresen ta em sua fachada uma inscrio;ao com 0 nome do clube e. logo abaixo. com letras do mesmo taman ho.o slogan de um de seus principais patrocinadores. uma famosa marca pernambucana de cachao;a. Como tantas casas em Olinda, a sede apresenta uma entrada estreita que se estende e alarga para de ntro. com terreo. 2~ a ndar e terrao;o.
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terreo e organizado como um "Iugar de memoria" (exp ressao celebrizada pelo historiador frances P ie rre Nora). Ha fotos de todos os fundadores e preside nte s anteriores do clube: fotos antigas do bone co no Carnaval e na sede: suven ires para quem qu ise r comprar (miniaturas, chave iros. sandalias. camisetas... todos com re ferencia ou reproduo;ao do boneco): e um bar que nesse dia vende refrige ra ntes. ce rvejas e outras bebidas mais fortes. No 2~ andar, projeta-se numa te la filmes an tigos sobre 0 Carnaval de Olinda e sobre 0 Homem da Meia-Noite. Mas a principal atra,ao na sede e 0 proprio boneco, q ue. enquanto a meia-no ite nao se aproxima, esta exposto sobre um estrado. no canto esquerdo ao fundo do piso terreo. Muitas pessoas que entram na se de querem t irar fotos posando a seu lado, e ele a todos atende, com muita paciencia.
Por volta de 21 horas, ja ha um pequeno aglo merado na frente da sede, ao longo da Estrada do Bonsucesso e na area livre que se estende alem da rua, com uma pequena elevao;ao ao fundo. onde esta a Ig reja de Nossa Senhora do Rosario dos Homens Pretos. Ha muita gente vendendo bebidas. churrasqu inho e fatias de queijo de coalho assado. Muitos nao se contentam em esperar do lado de fora e q ue rem entrar na sede: os porteiros os deixa m entrar em grupos de del. Dentro. ha um locutor que pede por microfone que as pessoas olhem a vontade. mas nao permaneo;am tempo demais. para que outros tam bem possam entrar. As pessoas ligadas ao clube. e especialmente as da diretoria. usam uma camisa verde e branca. com uma grava ta borboleta dese nhada. e carto la. Esse traje imi ta 0 do proprio boneco. Alias. no rrontispfcio da sede ha um a lto-relevo com carto la, luvas e bengala. Esses elementos de ind umentaria sugerem uma imagem aristocratica do boneco, remetendo de certa forma 11 ideia de "poder": 0 bone co nao e apenas um gigante, ele e tambem um gigante especialmente poderoso. A camisa e a cartola da di re toria podem re presentar 0 acesso a uma parte desse poder. ja que ela esta mais p roxima do boneco do que se us outros seguidores. Um pouco de pois das 23 horas h.:'l uma clorinada, ou toque de trompe tes, dentro da se de, anunciando a aproxima<;ao da hora e sperada. A mult idao responde imediatamente num frisson. Por volta das 23h30. 0 boneco e trazido. ainda inerte sobre seu estrado. para perto da porta. Novo frisson: uma mo,a desmaia e e atendida den tro da sede. A mult idao do lado de fora agora ja e imensa. Toda a area em fren te a sede. ate as proximidades da ig reja la do outro lado. esta apinhada de gen te. 0 clima e de expectativa. nervosismo, prazer. excita,ao.
Pouco antes da me ia ~ noi te. acende-se perto d a porta um ge rador de fuma~a. Em seguida, num gesto de grande impacto dramatico. as portas da sede sao abertas de uma vez s6 ate 0 alto. para dar passagem ao gigante. Entao. ainda den tro da sede, com ajuda de seus carregado res. 0 boneco se e rgue no meio da fu ma~a e da mul tidao. 0 efeito e espantoso. Em perfeita sincronia, as bandas de fre vo do lado de fora co me~am a tocar 0 hino do clube. secundadas pelo coro da multidao. enquanto os rojoes estouram: "La ve m 0 Homem da Meia-Noitej Vem pelas ruas a passear.j A fantasia e verde e brancaj Para brincar 0 Carnaval!".
o Homem da Meia-Noite se dirige ate a porta, sai da se de e se inclina em revere ncias para a multidao. De pois se vira para os q ue estao den tro da sede e salida-os tambem do mes mo modo. sempre ao ri tmo do frevo. Ja na rua. no me io do mar de gente. e le evolui por alguns minutos em frente 11 sede e depois toma a Estrada do Bonsucesso em d i re~ao o posta ao Largo do Amparo. Eacompanhado por um grupo de passistas de frevo com roupas trpicas e sombrinha. por duas bandas de frevo d ispostas a algumas dezenas de metros uma da outra e por uma mul tidao cujo nLimero nao sei calcular. Ha tambem um peque no grupo de objetos publicitarios represe ntando latas e garrafas da cacha~a patrocinadora. E dois objetos ce rimonia is que "comple me nta m" 0 boneco: um grande rel6gio marcando meia-noite e uma c have gigante. representa ndo a abe rtura do Carnaval.
o Homem da Meia-No ite leva cerca de 40 rninutos para fazer 0 trajeto ate 0 final da Estrada do Bonsucesso e de volta ate a sede. Dar e le continua e m dire~ao ao La rgo do Amparo e depois segue pe la Rua do Arnparo ate os Quatro Cantos. e dar em di re ~ao 11 prefeitura de Olinda. No final do trajeto. e le vai encontrar outro boneco ou personagern. q ue se chama Cariri. a quem vai e ntrega r a chave do Carnaval. Eu nao acompanho 0 boneco. mas espero que a multiddO desafogue 0 acesso ao Largo do Amparo, por onde pode re i sair de Olinda de vol ta a Casa Forte, onde moro. Isso s6 acon tece por vol ta de lh30 da manha. Ou seja. depois que 0 Homem da Meia-Noite passou de volta em frente 11 sede. ainda d uran te mais de 40 minutos ho uve uma multidao compacta passando atras dele pela Estrada do Bonsucesso. Converso um pouco com um senhor chamado seu Brasil. alfa iate, q ue faz as roupas do Homem da Meia-Noite ha 30 anos. Ele s6 se refe re ao boneco como "calunga". 0 boneco e assim refe rido frequente men te por seus pr6ximos, conforme percebi. 0 termo e 0 mes mo empregado para falar das pequenas bonecas dos maracatus, que sao carregadas nos desfiles e cujas cono ta ~oes mrsticas vem desafiando a curiosidade dos pesqu isadores d esde Ma rio de Andrade. Pergunto a seu Brasil se o boneco te m algo a ver co m maraca tu, e ele me di z que nao. Mas a firma que 0 boneco "parece vivo", que as pessoas ficam nervosas quando ele sai, choram e s6 se acalmam ao tocar nele. De fa to. 0 locutor den tro da sede falou muitas vezes d o "amor". da "paixao" q ue as pessoas tem pelo bone co. Isso aparece no pr6prio desfile. q ue pode ser vis to como uma confratern i za ~ao fes tiva entre 0 boneco e a mu ltidao. 0 boneco dan~a no meio d a mu ltidao. a multidao da n ~a e canta em torno do boneco.
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q ue cha ma a ate n~ao no caso do Ho me m da Meia-Noi te a maneira como combina e lementos de patrimonializa o;ao e de cultura viva. de tradi<;:ao num sentido consciente e organizado. e de tradio;ao
num sen tido fest ivo e, per assim dizer, "fervente". Ele ilustra. no fu ndo.
como e difrcil. e como pode ser a rtificial. separar as duas coisas. 0 Clube de Alegorias e Crrticas 0 Homem da Meia-Noite fei declarado Patrim6nio Vivo de Pern ambuco em 2006. Sua se de funciona , como minha descri<;:iio mostrou. Ii maneira de urn museu: suvenires a venda, exposio;iio de fotogra ~ as antigas. servi<;:o de bar, visita ntes q ue com pram (oiSdS e tiram fotos. Pouco importa se sao ou nilo "turis tas", no sentido e strito de mora rem e m outros parses. e stados au municfpios: clarame nte. e stao a li. ao menos em parte. no pape l de tu ristas, Nao falta nem mesmo um toque daquilo que 0 soci610go americana George Yudice chamou de "conveniencia da cultura", is to e. 0 uso da cultura para (supostamente) ajuda r a re solver p rob lemas sociais: na sede do gru po acon tece, ao la nge do ano. 0 projeto Gigante Cidadao. onde sao ministradas aulas de cida da nia , da no;a popular. artes. teatro. musica. o ficina de Carn aval e de audio e vfde o a criano;as de comunidades carentes perto da Es trada do Bonsucesso.
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pr6 p rio bo neco. enquanto a me ia-noi te nao se aproxima. parece ine rte co mo uma peo;a de museu , rep ousando sobre seu estrado, Mas. quando c heg a a ho ra que Ihe da nome, sua interao;ao com o s humanos subverte inte iramente a co no ta<jao negativa que e ta ntas vezes a tribufda 11 palavra "muse u". 0 boneco ganha vida, se levanta. sai do estrado, sai da sede. cai na folia , Dentro da sede. fr isson, emoo;ao. d esmaios: fo ra da se de. a multidao que aguarda excitada. de vo ta: quando 0 bone co sa i, acon tece 0 frevo. a fervura do Carnaval - mas ta mbe m a "e fe rvesce ncia" no sentido empregado pelo soci610 go fra nces Emi le Durkheim no seu famoso livro As Formas Elementares da Vida Religlosa. publicado em 1912. Para e le, "effervescence " era a melhor ma neira de chamar 0 fervor de euforia e de disso lu<jao d e limites individuais. atraves dos quais festas e ri tua is soldam. em mome ntos magicos. uma un idade social. mesmo temporaria.
o Homem da Meia-Noite e um objeto e e um p roce ssovivo: e um m useu e e um ri tual: e um espetilculo (com fuma<ja de gelo-seco inclufda) e e participa<jao: e turismo. patrimonio, propaganda de cachao;a. tradio;ao, cidadania, E e uma Festa .
... E do maracatu ... E di ffcil dar uma definio;ao resum ida de "marilcatu ". pois a palavra e usada em muitos se ntidos d iferentes. Mesmo ass im YOU a pre senta r, como ponto de partida. uma d e finio;ao b reve. p revenindo 0 leitor de que. se qu iser ter uma ide ia um pouco mais completa do assunto, p re cisara, no mini mo. seguir lendo ate 0 final deste art igo, "Maracatus sao grupos po pulares de musica e da n<ja, re p resenta ndo a corte de re is negros. existe ntes especialmente na re giao metro polita na do Recife. Pernambuco, e q ue sao ativos principalme nte no periodo do Carnaval."
Qualquer um que veja um maracatu em ao;ao percebera que se trata de uma atividade e m que musica e dano;a desempenham papel fundamen tal. Um contato mais prolongado. no entanto. logo nos fara perceber que definir maracatus apenas como grupos musico-coreograficos se ria perder aspec tos essencia is, Tambem seria fikil ver os maracatus como grupos carnavalescos. pois 0 calenda rio das suas principais atividades gira hoje e m torno do Carnava l. Mas sua relao;ao com 0 Carnaval e. sob ce rtos aspectos, meramente incidenta l. Finalmente. um dos aspectos mais importa ntes dos maracatus e a prese no;a de um cortejo real. composto de rei. rainha, prfncipes. princesas e outros pe rsonagens. vestidos com roupas inspiradas nas das cortes europeias dos seculos XVII e XVIII. A forma tfpica de apresentao;ao dos maracatus e. portanto. o cortejo ou desfile fest ivo. sendo as apresenta0;6es em ambie ntes fechados ou teat ros exce0;6es. Um trao;o marcante desse cortejo e a preseno;a de uma boneca. tambem c hamada de "calunga". 11 qual todos os integ rantes do respectivo maracatu pres tam reverencia e que e portada por uma "dama do pao;o". No Carnaval do Recife e de O li nda ha dois tipos de grupos que se enquadram em tudo 0 que foi dito ate aqui. mas que sao. mesmo assim. bem diferentes. E a maneira mais facil de perceber essa d ifereno;a e pela musica, Em uns. ha um grande numero de tambores - podendo chegar a mais de 50 -. alem de outros instru mentos dos qua is falaremos com mais de tal hes adiante. como choca lhos e "gongues" (sinos de bate nte externo semelha ntes aos agog6s das escolas de samba) Essa "orquestra" de percuss6es - chamada pelos participantes de "baque" - ma rca 0 ritmo da dano;a e acompanha cantos em que se alternam 0 cantor principa l - geralmente. 0 "mestre¡ do baque. dirigindo com seu api to todo 0 desempenho dos musicose 0 coro, formado por todos os participantes capazes de cantar. Esse tipo de organizao;ao musical e uma das caracterfsticas dos maracatus d itos "nao;ao", ou "de baque virado", Edesses grupos. sobretudo, que iremos nos ocupar na sequencia ,
o outro tipo de grupo em que ta mbem ha reis e rainhas e chamado de "maracatu de baque solto". ou "maraca tu rural", ou ainda "maracatu de orquestra". Nes tes, os instrumen tos musicais sao em menor quantidade, Ha um chocalho, chamado de "mineiro" (semelhante ao ganza das escolas de samba); ha uma especie de cufca. chamada neste caso de "poica" (corruptela de "porca", pois seu som e considerado semelhante ao grunhido desse animaO'; e tambem um go ngue, mas tocado de maneira totalmente dife re nte da usada nos maracatus-nao;ao. Esse pequeno conjunto de percussao - chamado pelos participantes de "terno" - e usado nao para acompanhar 0 canto, mas sim as melodias tocadas por instrumentos de sopro, como trombone (0 mais comum). trompete ou saxofone. No caso do ma racatu de baque solto, a parte cantada e feita se m nenh um acompanhamento instrumental. por um cantor principal Cmestre') que improvisa versos, ouvidos ate nta mente por todos os participantes, sem ne nhu m tipo de dano;a, S6 quando ele termina a improvisao;ao poetica cantada os instrumen tos voltam a tocar e os participantes voltam a dano;ar,
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Musicalmente, e ntao, esses dois tipos de mardcatu sao bem dife ren tes, e tal difere no;a e facilmente pe rceptivel ate por observadores de primeira viage m. Na grande diversidade dos grupos q ue desfilam com musica e dano;a no Carnaval pernambucano. 0 unico ponto comum entre ma racatus-nao;ao e ma racatus de baque solto. alem do no me. e a preseno;a da corte rea l. Mas. enquanto no caso do ma racatu de baque solto 0 re i e a rainha sao apenas pe rsonagens do desfile. para os mardcatus-nao;ao eles dese mpenham papel de re levo na estruturao;ao do grupo. Essa difereno;a esta ligada a ma neira como os participantes e admirado res do maracatu-nao;ao concebem a relao;ao desse tipo de g rup o com seu passado. com suas tradio;6es. A literaturd ve nas cerim6nias de coroao;ao do "re i de congo" entre os escravos, realizadas no Brasil desde a epoca colonial. a origem do maracatu-nao;ao (que no resta nte des te texto chamare i simplesmente de "maracatu"). Pesquisas recentes tem mostrado que tal vinculao;ao nao deve ser pensada de maneira linear, pois a docu mentao;ao do seculo XIX atesta a existencia simultanea do reinado do congo e de grupos chamados de maracatus e. as vezes, ate a existencia de conflitos entre e le s. Alias. a mais an tiga referencia documental a atividades chamadas de maracatus encontrada. pelo his toriador Leonardo Dantas Silva. diz respe ito justa me nte a um desses conflitos, 0 historiador encontrou numa noticia de jornal de 1851 um requerimento do re i do congo da provincia de Pernambuco contra outro homem de cor que. "sem Ihe presta r obediencia, tem reun ido os da sua nao;ao para folguedos publicos". Se gundo a no tlcia, a Camara Municipal do Recife acolheu o re q ue rimento e. ao trans mitir ao chefe de pollcia da Provincia a decisao. acompanhou-a da seguinte observao;ao: "[pedimos que] 0 mesmo desembargador [providencie] em sentido de desa pare cerem semelhantes reuni6es, chamadas vu lga rmente de Maracatus "1.
o termo "nao;ao" que aparece neste documen to e ate hoje usado pelos mardcatus pernambucanos. Nao s6. como vimos. 0 "tipo" de maracatu de que estamos fa lando e d ito "mardcatu-nao;ao". como tambem cada um dos maracatus se autodenomina usando este mesmo termo: Maracatu Nao;ao Estrela Bril hante. Nao;ao Porto Rico e assim por diante. Na epoca colonia l e ate no seculo XIX, a palavra erd usada pelos portugueses e depois pelos brasileiros para difere nciar entre os escravos que vinha m dos diferentes portos escrdvag istas na Africa, Assim. um escravo podia ser di to de nao;ao Angola ou de nao;ao Mina. se gundo tivesse embarcado na regiao de Angola ou na reg iao da Costa da Mina, Isso nao queria dizer que todos os negros "de Nao;ao Angola"' compartilhasse m de nada do que mode rna mente se entende como" nacionalidade", e nem mesmo que compartilhassem da mesma lingua. cultura ou religiao. A Africa, como sabemos. e um continente imenso onde convivem milhares de culturas. etnias, linguas e re ligi6es. A area principal de ocorre ncia dos ma racatus abra nge a cidade do Recife. capital do estado de Pernambuco. e a cidade vizinha de O linda, Ha referencias a antiga existencia de maracatus em municfpios distantes da capita l. como Palmares e Caruaru. Fora do estado, cabe mencionar os maracatus de Fortaleza. Ceara. q ue teriam sido trazidos pard a cidade por imigrantes pernambucanos, por vol ta dos anos 1930, e que hoje
apresentam caracterfsticas significativamente di ferentes, tanto na mdsica quanto em outros aspectos de seu funcionamento (correspondendo, no entanto, 11 descrio;ao resumida que apresentei no infcio). Ha registros antigos de maracatus tambem em Alagoas. A parte cantada da mdsica dos maracatus e chamada de "toada". 0 estilo tradicional das toadas, ainda hoje la rgamente praticado, e responsoria l. com um ou dois versos cantados pelo solista e res pos ta equivalente do coro. Algumas toadas de composio;ao recente apresentam desenvolv imento mais extenso da parte do solista. As letras das toadas de maraca tu geralmente sao au torreferentes, a lud indo frequentemente 11 coroao;ao do rei e da rainha e ao nome do pr6prio maracatu. Entre os anos 1930 e 1950, foi usual. embora pequena, a composio;ao de cano;6es para 0 rad io e 0 d isco. chamadas de "maracatus". Tais cano;6es se pretendiam inspiradas nas toadas enos ritmos dos maracatus. mas eram compostas, arranjadas e in terpretadas por profissionais nao pertencentes ao respectivo meio. A ma ioria dessas gravao;6es nao lembra em nada 0 que se pode ouvir nos maraca tus de hoje. Em a lgumas delas, porem. sobretudo nos anos 1950, 0 toque dos tambores e bastante semelhante aos toques atualmente predominantes. Nos anos 1960, 0 maracatu como genero fonografico cai em desuso, mesmo se ca no;6es de sucesso desse perfodo fazem referencia 11 palavra na letra ou no titulo. co mo e 0 caso de "Mas. que Nada" (Jorge Ben) e '"Maracatu At6mico" (Jorge Mautner e Nelson J acob ina). No infcio dos anos 1990, 0 maracatu reaparece no mercado fonografico. primeiro com 0 disco do grupo Nao;ao Pernambuco (1992) e em seguida com 0 surgimento do mangue beat. corrente de mdsica popular que empregara elementos ritmicos e instrumentais dos maracatus em fusao com 0 poprock. 0 Nao;ao Pernambuco e um grupo de mds ica popular criado por percussionistas e ca ntores de dasse media interessados em maracatu. Em seu disco de estreia. g ravado no Re cife, pela primeira vez se escutam toadas de maracatus gravadas com acompanhamento exdusivamente rftmico, como nos grupos tradicionais. Diferentemente, no caso do mangue beat. e especialmente do seu grupo mais represen tativo, Chico Science e Nao;ao Zumbi. elementos sonoros de maracatu de baque virado e de baque solto sao incorporados a uma estru tura de banda de rock. Em faixas como "Cidadao do Mundo" e "Etnia", por exemplo, bombos, caixa e gongue desenham ri tmos de ma racatu aos quais vem se somar guitarras. baixo e bateria: e, na sua re interpretao;ao da citada "Maracatu At6mico", a introduo;ao e feita por um terno (0 conjunto de percussao que acompanha o maracatu de baque solto). Elementos visuais e verbais utilizados por Chico Science e Nao;ao Zumbi. tambem contem referencias d iretas aos maraca tus. As roupas usadas por Chico Science em suas apresentao;6es traziam elementos do "cabodo de lano;a", persona gem do maracatu rura l. Algumas letras do grupo fazem meno;6es a .. ma racatuzeiros" celebres. como Veludinho e Mestre Salu: 0 uso da palavra .. nao;ao" no nome do grupo e referencia aos grupos de maracatu-nao;ao.
o sucesso local. nacional e in ternacional de Chico Science e Nao;ao Zumbi co ntribuiu para que parte significativa da juventude de dasse media no Recife e em Olinda passasse a encontrar interesse nos maracatus, ate
entao por e la vistos predomina nteme nte como meras re lfquias do passado. Em parte devido a esses estfmulo s. maracatus come~aram a l an~a r seus proprios CDs no mercado fo nografico (0 prime iro fo i 0 Estrela Brilhante do Recife, em 2001, seguido pe lo Porto Rico I" Leao Coroado. entre outros). Desde 0 fina l dos anos 1990. conjuntos de pe rc ussao viera m a se forma r em outras partes do Brasil . e depois do mundo. tomando como mode lo a musica (I" as vezes todo 0 conjunto) dos maraca tus do Recife .
••• Q maracatu. assim como outras m ani festa~6es populares em Perna mbuco. e hoje considerado por se us integrantes I" ad miradores como uma "trad i ~ao". Mas em que. p re cisame nte, seria ell" ··tradicional"? Qu. para perguntar melhor: 0 que leva esses refe ridos "integrantes e ad miradores" a considera-Io como tal? Na tentativa de uma resposta. pode-se pensar nu m "campo" da tradi~ao em fun cio namento no Recife. NessI" campo. podemos situar ide ias compartilhadas por todo s. ou quasI". sobre a tradicio nalidade dos ma raca tus: sua o ri g em e situada no se culo XIX. tendo. como vimos. rafzes ainda mais distantes no coroamento dos ··re is de congo" ates tadas no Brasil desde 0 seculo XV II. Mas nesse mesmo "campo·' e necessario situar ide ias m uito mais controvertidas sobre 0 mesmo assunto. A re la~ao com a re ligiao e uma delas. Muitos maracat us mantem re la<;6es especiais com casas de xango (a variante local do cando mble. culto dos orixas) ou de jurema (re ligiao po pular em que se cultuam caboclos. entidades cujos referen tes sao amerfndios). Seus integrantes geralme nte conside ram que tais rela~6es sao cond i<;ao sine qua non d e tradicionalidade ou. e m outras palavras. que e las integram a defini<;ao de um maracatu no se ntido proprio da palavra. Essa opiniao e compartilhada po r muitos dos q ue se interessa m como ··pub lico" pelos ma raca tus. I" mesmo por partici pantes de maraca tus "Iaicos". Esses ult imos d irao. por exem plo. q ue seu g ru po "toca" maracatu. mas que nao"e um maracatu" propriamente falando. uma vez que nao esta ligado a uma casa de culto nem pratica. como grupo, rituais de xango ou jure ma: deve ndo por isso ser chamado. com mais propriedade. de "grupo percussivo" (expressao muito usada no Recife) A as socia~ao do maracatu a uma casa de xango e conside ra da por muitos e nvolvidos como" mais tradicional" que a uma casa de jurema. Mas. como tambe m existem maracatus nesse ul timo caso. e stes discorda rao nesse po nto. Pesquisas his t6ricas (re ali zadas e m certos casos por pe ssoas ligadas a maracatus "jure meiros") mos tra ram que im porta ntes ma racat us do passado (tidos como mo delare s) tambe m foram ligado s a jure ma. Eis aqui um po nto de controversia. no qual uma parte dos maraca tus "denuncia" a outra como posse ira abusiva de um sup lemento de tradicionalidade. A si tua~ao ainda se com plica q uando grupos asp ira ndo Ii condi<;ao de maracatus. ou. poderfamos dizer. grupos que desfilam I" tocam como maracatus. mas nao sao geralmente vistos como ma racat us tradicionais
no Re cife. decidira m passar a adotar praticas religiosas ligadas ao culto dos o rixas. entre outras razoes. com 0 int uito de se ver re conhecidos como tais. Ne m sempre pessoas ligadas aos maracatus previamente estabe lecidos como trad icionais veem com bons olhos essas tentativas. Nesse caso. e m oposio;ao a tais p retensoes. outros criterios de tradicionalidade ou de "verda de do maracatu" podem ser criados ad hoc. ou e spe cialmente sublinhados dependendo da situao;iio. Semelhantes "taticas de trad icionali zao;iio". e as respectivas contraofensivas. sugere m que as ide ias de tradio;iio e tra dicionalidade podem ser mais bem compreendidas como ao;oes. performances. embates. acordos e seus respectivos re sultados do que como realidades previamente dadas que s6 precisarfamos constatar. Uma argumentao;iio mais detalhada sobre isso pode ser encontrada no livro da antrop610ga Manuela Carneiro da Cunha Cultura com Aspas. Aspectos desses embates podem ser acompanhados num momenta fes tivo especialmente importante para os participantes e interessados em maraca tu: a Noite do s Tam bores Silencio sos.
... A Noite dos Ta mbore s Sile nciosos ea no ite da se g unda-fe ira de Carnaval. e mais precisamente e uma "cerimonia . ou espetaculo" (como a defin iu dubitat ivame nte 0 historiador e ma racatuzeiro Ivaldo Marciano lima. em sua te se de doutorado) protagonizado pelos maracatus pernambucanos. E0 momenta do Carnaval do Recife em que ma racatus-nao;iio. e apenas eles. se apresenta m um por um. sem compe tir por premiao;6es explfcitas. na localidade denominada Patio do Te ro;o. em fre nte a Igreja do Te ro;o. no bairro de Siio J ose. ce ntro do Recife. nas proximidades de uma antiga casa de xa ngo. cuja principal lide ra no;a era uma mul he r de ascendencia afr icana conhe cida como Badia. A Noite dos Tambores Silenciosos e concebida nao s6 como uma apresentao;iio ou desfile. mas especialmen te como uma fest iva ho menagem m fstica aos ancestrais. aos africa nos e a se us fil hos martirizados pela escravidiio. Esse aspecto e proe m inente a me ia-noi te. quando os tambo res dos maracatus silenciam e um babalorixa profere orao;6es e canta ciinticos em homenagem aos orixas. Depois disso. os cantos e as da no;as dos maraca tus siio reto mados ate a lta madr ugada , Meu p ri meiro Carnaval no Recife foi 0 de 1998. e ja naquela ocasiao havia estado no Patio do Tero;o na noi te da segunda-fe ira. Ao lange desse pe rfo do. pude observar a progressiva transformao;ao do e spao;o do Patio do Te ro;o, devi do a um investimento cada vez mais ostensive da prefeitura da cidade na organizao;ao do evento. Em 1998. os maraca tus ficavam no chao. e s6 0 me stre. acompanhado de alguns "vocalistas". subia no palco e usava m icrofone. Naquele ano. grave i 0 mestre Walter de Frano;a, do Estrela Brilhante, de cima do palco. ao lado dele. com meu gravador portatil, Em 1999 ou 2000, presen ciei 0 me smo mestre Walter dando uma bronca de cima do palco, ma ndando 0 baque do Es tre la. que estava no chao. parar e comeo;ar de novo. no meio da apresentao;ao. porque alguma coisa nilo tin ha safdo como e le q ueria. Cenas como essa me parece m dificilmente repet fve is no contexte "e spetacularizado" que avano;ou visivelme nte sobre a festa,
No Carnaval de 2011. cheguei ao Patio do Tero;o por volta das 20 horas. hora marcada na programao;iio da prefeitura para 0 infcio dos desfiles dos maracatus. Ainda hav ia bem pouca gente. A prefeitura havia instalado imensas decorao;6es com personagens carnavalescos pintados. Havia gradis separando 0 povo do espao;o por onde os maracatus chegam para se apresen tar, A estrutura coberta, para abrigar os aparelhos de amplificao;iio sonora. e a rampa por onde os maracatus iam subir ate o palco armado em frente 11 Igreja do Tero;o. tudo isso e relativamente rece nte. em todo caso posterior a 2006. A ocupao;iio do espao;o da festa pela prefeitura e sonora tambe m. Entre um maracatu e outro, e as vezes, infeli zmente , ate durante as apresentao;6es dos ma racatus, os a lto-falantes transmitem com ins istencia a voz de um locutor que fala dos patrocinadores - grandes empresas e uma marca de cerveja - e das realizao;6es da prefeitura. Os dois primeiros maracatus a passar siio 0 Nao;iio de Luanda e 0 Elefante , 5iio pequenos. 0 Elefante. que viveu dias de gl6ria sob a liderano;a da celebre Dona Santa. se apresenta com apenas duas caixas, dois m ineiros. gongue.12 alfaias e 10 pessoas dano;ando. Uma das toadas diz: "Minha nao;iio nasceu em 18001 Nosso batuque ja e trad io;iio". A frase "batuque ja e trad io;iio" implica que e necessario algum tempo para ser tradio;iio - mas quan to? (Duzentos anos parecem bastar.) Depois, vem a Nao;iio Tig re. "fundada em 1975"; vem a Nao;ao Estrela Dalva, fundada em 1990, E 0 Almira nte do Forte, fundado em 1931. "Fazemos 80 anos este a no", anuncia 0 mestre. Vem 0 Maracatu do Sol Nascente, fun dado em 1905 e mencionado por Mario de Andrade. com base em suas pe squisas de 1929. no livro Danr;as Dramiiticas do Brasil. E depo is 0 Cambinda Africana. fundado em 1964. ma raca tu e pequeno. mas 0 mestre e Arlindo. muito respeitado entre os maracatuzeiros. Texto de uma toada: "Nesta casa diama ntel Aonde 0 Cambinda chegoul Coroa de Re i/ Medalha de governador".
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Euma refe rencia comum nos maracatus: rei, rainha. governador, presidente, secretario, tesou reiro e orador, Maracatus, afinal, fa lam bastante de poder, tal qua l 0 traje ar istocratico do Homem da Meia-Noite. Agora ve m 0 Es trela Brilhante do Recife, Vem com um numero enorme de batuqueiros e e de longe 0 maior maracatu ate agora. Uma das toadas parece ser em "Ifngua africana". e 0 povo de santo prese nte canta jun to, 0 mestre Wal ter estimula: "Quem sabe canta!", Pr6ximo da meia-noite. vem 0 Cambinda Es trela: se aproxima, comeo;a a tocar. Ivaldo Marciano. que e mestre do baque e doutor em hist6ria , comeo;a a falar, mas esta na hora da cerim6nia dos Tambores 5ilenciosos e ele precisa ser interrompido.
o
babalorixa e nca rregado de presidir a parte cerimonial da Noite dos Tambores 5ilenciosos e Tata Raminho de O x6ssi. um lider espiritual muito prestigiado no Recife e em Olinda. Tres il us. os tambores cilfndricos de duas peles usados no xang6 pe rnambucano. siio trazidos
para 0 palco. As luzes do Patio do Ter,o sao a pagadas. Nao ha silencio dos tambores. como promete 0 titulo do evento. Os tam bores dos maracatus silenciam. mas os ilus do xango ressoam. (Os ritmos dos ilus sao muito diferen tes dos ritmos dos maracatus') 0 entusiasmo e a excita,ao do publico. dara me nte perce ptfve is mesmo com as luzes apagadas. mostram be m que esse e 0 momenta culminante da noi te. Raminho de Ox6ssi canta canticos de candomble. Sao canticos de lansa. o o rixa q ue cuida dos ance strais. dos eguns. E essa seria uma cerimonia para os ancestrais. segundo d izem. 0 "povo do santo". que e sta presente em grande nume ro. canta junto com Raminho. Depois de 15 minu tos de can tic os. as luzes volta m a se ace nder. Ram inho solta a lguns pombos brancos. A ce rimonia se encerra e os maracatus voltam a se apresentar.
o
Cambinda Estrela retoma sua apresenta,ao e nela se caracteriza fortemente como 0 "ma racatu politizado¡¡. nesse ponto muito diferente dos outros. Ivaldo Marciano comanda a perfor mance e canta nao apenas toadas de maracatu. mas tambem 0 hino da Africa do Sui. Fala de Ma ndela. Steve Biko. m istura poli"t ica an tirrepressiva (" podem matar um. do is. mil. mas nao podem deter a primavera') com polltica de identidade ("n6s somos gays. somos lesbicas. somos negros e negras"). Fala ta mbem dos catadores de latinhas de ce rveja. dos desempregados e dos favelados. Fala da quinta-feira p6s-Carnaval. quando os q ue estavam ali sendo apla udidos por gente de Boa Viage m e de Casa Forte (como e u) iam voltar pa ra seu cotid iano precario. Ja e sta chove ndo basta nte e ele lembra as pessoas cujos barracos sao arras tados pela chuva em cada novo inve rn o recifense. Em homenagem a elas. 0 maracatu canta: "Se 0 Recife Fosse meul Eu mandava lad rilhar/ Com pedrinha diamante/ Pro Cambinda de sfilar".
Emui to bonito e boa parte do publico canta junto. com entusiasmo. Enessa altura que a chuva fica
forte e 0 Patio do Tero;o be m alagado. Ja e 1 da man hii. 0 sistema d e som da prefeitura para de funcionar e os apresentadores se re tiram. A noite continua. mas agora com bem menos oficialidade. Entra 0 Aurora Africana. um maracatu de funda~iio relativamente recente. e faz uma ap re senta~ao empolgante. no meio da agua e debaixo da chuva. Eum dos poucos maracatus da noi te a trazer um grupo de mo,as fazendo dan~as "estilo afro" de acade mia. bem atletico e ensaiadinho. Mas isso. que tem um q ue de a rtificial no contex to. em nada prejudica o sentimento de garra e de vi talida de q ue 0 grupo transmite. 0 baque soa mui to bem. cheio de energia. e ajuda a exemplificar a ide ia de que a e mpolga,ao. a vida pulsante. a energ ia festiva - em que a tal "tradi,ao" mos tra a que veio - nao depe nde m "s6" do tempo de funda,ao ou de quaisquer "criterios de trad icionalidade" definidos a priori. Essa for,a. quando apare ce. cria seus p r6p rios criterios de valida,ao. Como nao se lembrar de Oswald de Andrade? "A a legria e a prova dos nove: A chuva d iminu i. a agua na rua baixa aos po ucos. A ind a fa ltam a lg uns g rupos para desfilar. mas agora eu sei que e le s vao mesmo desfila r: sem apresentado re s da prefeitura. sem aparelhos de som e 56 com 0 publico. bem meno r agora. que resistiu 11 chuva com pri mindo-se de baixo das ma rqu ises. fo ra dos palanques de convidados.
... Se 0 Carnaval pernambucano pode ser pensado como uma unica e grande "festa", e preciso reconhe cer que ele e composto tambem de festas me nore s. que, mesmo nele ime rsas. guardam especificidades a demandarestudos separados. Falamos aqui da sarda do Homem da MeiaNoi te e da Noite dos Tambores Silenciosos. Seria posslvel fa lar tambem do desfile do Gala da Madrugada (na manha de sabado). do Encontro de Maracatus de Baque Solto em Nazare da Mata (na segunda-feira de manha. entrando pela tarde) QU , desde 2002. da Abertura do Carnaval no Marco Zero com os ta mbores de maracatus sob regencia de Nana Vasconcelos (no noite de sexta-feira). Cada uma dessas ocasioes traz a sua pr6pria sequencia de atos. movime ntos. etiquetas, posturas e descompos turas. As diferentes musicas, com os sons. os instrumentos. os gestos e os passos que as constituem. sao as ma rcas mais evidentes e coletivizadas dessas identidades, Fre vo e maracatu. aqui descritos. sao preponderantes. Mas em Nazare da Mata soam os temos de maracatu de baque solto e 0 clangor dos surroes dos caboclos de lano;a. enquanto em Goiana, terra de caboclinhos. soam as gaitas. preacas e caracaxas saudando Caninde. Sete Flexas e Tupinamba, Entre tradk;oes antigas e nem tao antigas. performances renovadas e re novadoras. interfe re ncias politicas e efervescencias populares. a musica. do inicio ao fim. e 0 verdadeiro fio condutor do Carnaval pernambucano.
Carlos Sandroni Professor do Departamento d~ MusKa ~ do Programa de P6s - Gradua~Jo em Antropologia ~ colaborador do Programa de P6s-Graduar;Jo ~m Musica da Un ivers idade Federal de Pernambuco, Ja atuou como pesqu isador associado no Centre de Recherches en Ethnomusicolog,e. em Pans. e atua lmente e pesqu isador do CNPq. t mestre em ciencia politica pelo luper] e doutor em musicologia pela Universidade de Tours (Frarn;a). E-mail: carlos_sandroni@gmail.com
"0 AUXILIO LUXUOSO DA SAN FON.A:':
TRADI<;AO, ESPETACULO E MIDIA NOS CONCURSOS DE QUADRILHAS JUNINAS Luciana ChianCi}
Quatro e le mentos fes tivos marcam a Festa junina contemporanea no Nordeste: 0 m ilho, a fogue ira, a "fan tasia" de caipira e a quadrilha junina. Se os dois primeiros sao dire ta me nte associ ados ao cotidiano rura l, tanto a qu adri lha qua nto 11 ves timenta sao reconhecidos como metaforas do campo tal qu al ele e apreendido na cidade. onde e re inventado par filhos , netos e bisnetos de migran tes. 0 un iverse rural e obje to de muito inve st imento afetivo e simb6lico. compondo na cidade a "be leza d a abraM a qUell se re fere Henry Lefebvre: "0 usa principal da cidade. ista e. das ruas e das praO;ds, dos ediffcios e dos monumentos, e a Festa (que consome improdutivamen te . sem nen hu ma outra vantagem alem do praze r e do pre strgio. enormes riquezas em objetos e e m dinheiro)" (2001. p. 4). Uma das express5es mais significativas dessa experiencia de ressigni fica~ao se da na fes ta junina. quando gr up os de jovens executam a dan~a citadina mais trpica do perrodo junino, a quadril ha. Portadores e transmissores desse importante patrimonio cultura l. os adul tos nao apenas organizam quadrilhas juninas nas escolas. para ensina-Ias lis crian~as , mas dan~am - nas nos seus locais de trabalho. lazer e moradia. como predios e ruas. em praticame nte todas as cidades do Nordeste. Nessa parte do Brasil. a sua presen~a com varian tes Iocais e uniinime por todo 0 perrodo das fes tas juninas, que se prolonga 115 vezes nas fe stas "julinas" - do me s de julho.
Assim. podemos di ze r que a quadrilha encontrou seu lugar na Festa urbana por me io de um processo progressivo e sut il de aprendi zagem desde as classes ma te rna is e infant is (quando e la e ap rend ida) ate a adolesd~ ncia. quando e sofisticada com passos e coreografias que dif icultam prog ressivamente a sua execu'iao e a transformam num verdadeiro desafio coleti vo em que se busca atender sincron icamente as ordens e aos co mandos do seu animador (conhe cido tambem como "puxador"). Cabe a cada grupo def inir entre as varias possibil idades esteticas disponrveis no acervo cultura l contemporiineo. Apenas restr ing indo-nos ao Nordeste do Brasil. tem sido fre q uente classificar as quadriIhas entre tres vers6es: a quadrilha trad icional (ta mbe m conhecida como ca ipira. ou matuta). a quadrilha de parodia (ou caricata) e a quadril ha estilizada. A prime ira e marcada pela re p resenta'iao mais ou menos pejorativa do homem "caipira". ou "matuto". nu ma ve rsao que pretende se r mais proxima da tradi'iao - da r seu nome "tradicional¡¡. RefofO;ando 0 grotesco da dan'ia matuta, e recriando uma versao burlesca da Festa tradicional. as quadril has de parodia sao marcadas pe la inve rsao e pelo riso. mis turando drag queens ao forro: sao grupos "de inversao". com dan'ia rinos rep re senta ndo generos contrarios (home ns eJou mul heres travestidos). Ro mpendo com a caricatura semp re p re se nte nessas du as vers6es temos a "nobre" quadrilha estilizada. recriando as re ferencias rura is nu ma visao universa l. em que 0 homem do campo se aproxima de um dgrobusiness man g lobalizado que trabalha a terra "sem sujar as maos". Todas as tres repousam num fundamen to comum: ritua lizam a dan'ia posterior ao casamento ma tuto (ou caipira) em que os convidados a um matrimonio realizado na zona rural celebram alegre men te a uniao dos noivos. Assim. e fre que nte dist ingu ir alguns personagens no conjun to de dan'iarinos de uma quadrilha. Segundo as vers6es. ha noivos. ciganos, jufzes. policiais. Em~ i as e Viscondes, Lam pioes e Marias Bonitas, padres. e ass im por diante. As formas cenogrMicas ta mbem sao variadas, podendo conte r 0 casamento matuto ou um esquete teatral representa ndo. por exemplo. a vida e a obra de Luiz Gonzaga. Os dano;arinos podem dan'ia r com ou sem fantasia s. frente a frente em du as file iras que se aproximam e se distancia m. como tambem podem se ap resentar em blocos de filas paralelas que se movimentam vol tadas para 0 me smo lado. fazendo sempre da quadrilha uma dan'ia coletiva que e nvolve deze nas de da no;arinos an imadame nte reunidos. Assim. os aspectos esteticos re lacionados Ii dan'ia (como ves timentas. musicas e coreografias) reve lam uma dada visao de "mundo rural" (e urbano. po r extensao) que cada gru po deseja exprimir. por meio de e scolhas que sao alvo de muita re flexiio por parte dos seus organizadores e da no;arinos. conciliando e rompendo interesses. ambi<;6es. li mitao;6es e expectativas de todos os que a comp6e m e ad miram: "Geralmente a juventude contribui at ivame nte para a rapida assi milao;ao das coisas e rep re sentao;oes oriundas da cidade [... ] entre as malhas do tecido urba no [onde] a re lao;ao 'urba nidade- ruralidade', portan to. nao desaparece: pe lo contrario, inte nsifica-se [.. .]" (LEFEBVRE. 2001. p. 12).
Entre as decis6es assu midas pelo g rup o logo no infcio esta aquela que diz respeito 11 forma da sociabilidade envolvida na dan"a: cabe ao grupo dan"ar de modo inesperado. "e sponta neo". se m a p re rrogat iva de um publico (qu ad ril ha improvisada) ou ensaiar re petidas vezes para 0 dele ite de amigos e convidados (quadrilha de espetacu lo privativo)? Ou ainda: e se essa exibi"ao nao se limitar a um publico restrito. mas at ing ir um grande nu mero de pessoas conhecidas e descon hecidas com 0 objetivo de concorrer a um prem io ou a um concurso? Nesse ultimo caso. te mos uma modalida de de quadr ilha part icular: as quadrilhas de compet i"ao. Especializadas em festiva is e concursos com competi,,6es em que seu as~ pecto espetacular e exacerbado. as "quadrilhas de concursos" introduzem a massifica"ao nil cultura tra dicional com uma composi"ao estetica cada vez ma is adaptada 1Is demandas de uma sociedade rapida e agi l. Mas. como salienta lima (2010. p. 195-196). "a sociedade da informa<;iio compensa seu efeito de mundializa"ao com 0 fen6meno de descentra liza"ao e de frag~ menta"iio das audiencias¡¡. Essa" revaloriza"ao do d irei to 11 di feren"a propicia a potencia dos meios locais". provocando transforma,,6es sem amea"ar as express6es tradicionais da quadrilha. que permanecem ativas e subsidiando a nova forma luxuosa da dan<;a. Av idas de sucesso e premios. essas ultimas nao devem perder seu charme. sua beleza e seu poder de sedu"ao. sendo interpeladas nil criatividade de modo inca nsavel e permanente.
Quadrilhas de competic;ao In troduzindo 0 aspecto concorrencial a dan"a. essas quadr ilhas dirigem os seus investimentos para a busca de tftulos. trofeus e vit6rias. Co m pos~ tas de jovens entre 15 e 21 a no s e dirigidas por adul tos mais velhos (em geral ex-dan"arinos). as quadril has de competi"ao estao Iocalizadas na maior parte dos bairros das gran des cidades nordestinas e se organizam por meio de redes de amigos. de vi zinhan"a. de fa milia res ou de escolares. Seus ensaios ocorrem em lugares fechados. inacessfveis ao publico (e aos concorrentes) e se prolongam pe lo menos de jane iro a junho. Mobilizando jovens em torno da "organiza<;:ao da comunidade. 0 trabalho coletivo. [...] 0 e stfmulo ao estudo formal e info rmal. [...] a cria"ao de um me rcado de trabalho e a gera"ao de re nda: a inte ra"ao com trabalhos com un itarios. [...] a valoriza"ao da arte e dos te mas regio nais¡ (ALMEIDA & LELIS. 2004. p. 33). as quadrilhas de competi"ao tambem conce ntram mu ita disputa. tornando-se um importan te e spa<;:o de confronta"ao social nas gran des cidade s: nos conc ursos. as quadrilhas representam setores. zonas. bairros. "peda"os" (MAGNA N I & TORRES. 1996). re pe rcu tindo conflitos abe rtos e alian<;:as cotidianas. Sob a p ressiio horizontal dos gru pos entre si. e ssa modalidade de quadrilha e mais se nsfvel e reve la ma is explicitame nte as inova,,6es e bricolag ens as trad i,,6es da da n"a. sendo regularmente invocada quando se trata de discu tir sua evoiu<;:iio. Sua ce ntralidade nesse d ebate se deve basicamente 11 sua visibilidade. pois. diferentemente das duas outras mo~ dalidades (improvisada e de espetacu lo p rivati v~) . as competi,,6es de quadr ilha sao objeto de d isputa e inte resse s que ultra passa m 0 "me ro divertime nto". alargando 0 campo da sociabilida de familia r e de vizinhan-
,a. Evidenciando a dinamica da dan,a ~ que e objeto de constantes inves timentos simbolicos e transforma,oes~. os concursos potencializam a rivalidade entre os grupos. "metonimiza ndo" outras te nsoes e conAitos cotidianos dos jovens das cidades nordestinas. A lem do aspe cto competitivo e espetacular. no arranjo festivo contemporiineo destaca-se 0 fundamento midiatico: se no Nordeste as quadriIhas juninas org anizavam pequenos concursos locais desde pelo menos os anos 1950/1960. com premia,oes modestas e visibilidade restrita aos bairros ou aos munidpios. a partir dos anos 1980/1990 as grandes redes de televisiio passaram a destacar as quadrilhas como eleme nto de marketing de sua programa,iio no perfodo junino. como reve la Menezes Neto (2009. p. 86) citando 0 exemplo do Recife (PE). onde os concursos tem "grande repercussiio dev ido a uma ampla divulga,ao feita no estado e 11 sua for,a midiatica". Promovendo concursos de quadrilha d ivulgados em sua programao;ao. as te levis5es ofe recem 0 conforto do sofa ao grande publico do conjunto da cidade. pois as materias e as publicidades exibidas duran te os dias de festa li beram uma parte da populao;ao citadina da festa de rua. onde arraiais. fogueiras. milho assado. quermesses. festas e forros nao cedem espa,o e coexistem com a mfdia.
Concursos de quadrilha A observa,ao de um dos mais importantes concursos de quadril ha de Natal. RN (0 Festival de Quadrilhas Jun inas da subsidiaria local da Rede G lobo). revela 0 sentido e a lg uns processos de transforma,ao dos saberes e fazeres populares relativos as quadrilhas. sustentando as escolhas esteticas e culturais dos grupos participantes. Parte integran te de urn sistema de comunica,ao compreendendo tambem rad io. internet e impre nsa. essa televisao e bastante prestigiosa. concentrando varios elementos do capital cultural e estetico da cidade. Aproveitando sua larga inAuencia na vida local. seu grande concurso imprimiu centralidade as quadri lhas. tendo sido 0 primeiro a se desligar da festa o ficial da prefeitura daque la cidade. transformando essa da n,a num interessante negocio. Afas tando-se dela como brincadeira de rua e de amigos. a te levisao afetou profundamente a d iniimica das fe stividades locais. oferecendo a contrapartida de urn palco eletronico para a criatividade e a emo,ao. Como produto da mfdia. e sse fest ival propos uma visibilidade ampliada aos grupos de quadrilhas. formando uma surpreendente parceria cujo equilibrio e tense e frag il. Para os primeiros. eles representam urn portfolio interessante. formado pelos patrocinadores que d isputam espa,o nas vinhetas que sucedem aos anuncios do festival. Para os grupos de quadrilha originarios do interior do estado. dos conjuntos e dos bairros da cidade interessa 0 sonho da conqu ista publica representada por uma materia jo rn alfstica ou pela imagem veiculada na televisao. pe rce bidas como 0 reco nhecimen to citadino de sua capacidade de supera,ao. num p rojeto au toge rido e conduzido durante mais de seis meses.
Essa recompensa considerada justa para as quadril has veicula brio e au~ toes tima para organizadore s. dano;arinos. equipes de apoio e torcedores. e ta mbem para 0 conjunto dos atores e nvo lvidos na sua vasta rede ~ que geralmente e stende-se para alem da cidade ou do estado de origem do grupo, Outros tambem se orgulham em re conhecer seu bairro na te levisao, no radio ou na imprensa esc rita. lo nge da pagina policial, em que cotidianamente transbordam referencias negativas aos seus vizin hos conhecidos e descon hecidos: alem de dividir a tela com as cele b ridades nacionais e locais. eles despertam a cidade para sua preseno;a. nem sempre degradante e avil tante. Com relao;ao aos dem ais concursos. esse guarda uma vantagem sup leme ntar: prop6e aos vencedores de cada estado do Nordeste a participa'iao em uma disputa reg ional, com flashes ao vivo ou re transm itidos em alguns programas. oferecendo uma publicidade suplementar aos grupos. Essa disputa interestad ua l lhes permite tambem conhecer novas cidades e grupos de outros horilOntes: experiencias enriquecedoras mas custosas. as qua is a maioria desses jove ns nao te ria acesso noutra ocasiao.
Estrategias comerciais e organjza~ao dos concursos Desde se u infcio, e m 1995. esse concurso foi progressivamente adotado nos habi tos urba nos locais. passando por casa de shows. hall de shop pings. estacionamentos de supe rmercados e g inasio de esportes: grandes espao;os e locais estrategicos para 0 estacionamento dos 6nibus dos grupos e para a afluencia do gra nde publico, Enquanto os patrocinadores oferecem se us re cursos por meio de cotas pub licitarias. a te levisao se e ncarrega de inscrever as quadril has e organizar a estrutura de apoio pela viabili za'iao dos equipamentos urba nos propicios a concentrao;ao fest iva. como segurano;a publica. e letricidade. sanitarios e transito, Como 0 valor das cotas dos patrocfnios nao e revelado claramente. ele se to rn a alvo de muita especulao;ao entre as quad rilhas de competio;ao. pois. a pesar de se apresentar como espa'i0s de "valoriza'iao e re speito a trad io;ao junina local". os concursos potencializam 0 vies come rcial da festa, D ivididos entre a constru<;ao de sua autoimagem e de sua visibilida de e a consciencia inequivoca do potencial econ6mico das quadr il has (cujo beneficio Ihes escapa ao controle). os grupos experimentam as ambivalencias ineren tes a sua cond io;ao de e stre las e refens dos concursos, Esse sentimento tambem e nutrido pela d istancia entre os valores das cotas publicitarias e as somas dos premios propostos aos grupos. Como exemplo. em 2001 0 fes tival oferecia 428 reais ao prime iro premio de cada categoria. e mbora drculasse entre os grupos a informao;ao de que 0 total das cotas seria de 46,600 reais (ou 38 mi l reais. segundo as versOes) - e nquanto soubemos po!' fonte da organizao;ao do festival que ele era de fato 64.300 reais. Embora os pa rce iros e 0 va lor de cada cota varie m a nua lmente. essas e speculao;6e s deixam transpa recer a re lao;ao dos grupos com os fest iva is: re flet indo sobre "0 valor da arte" (a deles e a da te levisao). os grupos constroe m um or<;amento do concurso e do valor do e spetaculo que eles "doom" gratuitamente a te levisao. Essa "bolsa de va lores" tambe m permite que os
grupos sigam sua propria cota<;ao: conscientes de nao deter os meios para comprar as cotas publicitarias. eles negociam a participa<;iio conferindo uma area de celebridade. ainda que ful gaz. ao grupo por a lguns segundos. que pode ser revertida posteriormente para 0 grupo de maneira indi reta por meio de parcerias locais com suas redes de rela<;oes e apoios. Quando se finalizam as inscri<;oes. ocorre um sorteio publico dos grupos para definir 0 dia e a ordem de participa~ao nas apre se nta<;oes eliminatorias. quando se distribu i uma copia do regulamento do fest ival. que todos assumem conhecer e honrar. objetivando a lcan<;ar a fase fina l. qua ndo sao escolhidos os vencedores. Paralelamente. a televisao prepara 0 p ublico com videoclipes de 10 a 15 segundos nos quais dan<;am os gr upos fina listas do a na precede nte.
Jurado s e cenas de co ncursos
o
palco e 0 lugar prestigioso da exibi<;iio publica das qualidades artfsticas e esteticas dos grupos. e unico espa<;o reconhecido para a confron ta <;ao entre eles. Embora so raramente ultrapassem a fronte ira das agre ssoes ve rbais nos locais do festival. as brigas e os protestos siio fre quen tes na fase final do concurso. Por isso. um ponto se nsfve l da sua organiza~ao sao as medidas pre ventivas contra a viole ncia proven iente das rivalidades e ntre os grupos concorrentes. garantindo que os conAitos niio ultrapasse m as a pre se nta<;oes.
Previstas no reg ulamento do festival. brigas entre grupos desclassificam todos os envolvidos. mas parece mais importante preve nir tais exibi<;oes de for<;a e violencia. raziio pela qual garrafas. facas e outros acessorios sao proibidos na area do concurso: perfmetro do publico. palco. espa~os de concen tra~ao dos grupos. entrada e safda de cena e as barracas ins taladas no seu entorno para 0 comercio de alimentos e be b idas. Durante a sua realiza~ao. 0 fest ival mobiliza um corpo tecn ico de assessores. apresentador (c hefe de ce rimonia). tecnicos de som e luz e agentes de seguran~a. a lem de uma camera auto rizada externa 11 te levisao que aluga uma area estrategica da cena. em que re gis tra as apresentar;oe s in tegrais dos grupos. mu itas vezes interessados em adqu irir uma copia da sua apresen ta<;ao. Outro e lemento fundamental do festival siio os jurados. re sponsave is por no tar as apresenta<;oes e presentes nas duas fases do concurso. Participamos como tal na fase eliminatoria do festival de 2001. qua ndo observamos 114 g ru pos ao longo de sete no ites e guarda mos uma aprecia<;ao pe ssoal e situada dessa atividade que passamos a re latar. Com mais quatro pessoas (estudantes. jornalistas e profissionais ligados 11 comunica<;iio). foi composto um corpo de jurados, escolhido pela organizar;iio do fes tival e que revelava a sua autoridade simbolica, leg it imada pelo pe rfil academico e de p rofissionais da imprensa. As de cisoes dos jurados niio ad mi tia m contes ta<;oes de natureza jurfd ica "nem me smo verbais". segundo 0 regulamento. Eles tambem niio p ode riam ter contato com os grupos "antes, durante ou depois do julgamen-
to" ~ regra quase impraticavel d ia nte de uma media de 40 dan"arinos e mais de 20 pessoas em equipes de apo io em cada grupo. perfazendo aproximadamente 6,800 pessoas diretame nte envolvidas com as qua drilhas ao lange das noites de eliminat6ria. As sessoes das eliminat6r ias se iniciavam as 19 horas e term inavam quando se apresentava 0 ul timo grupo, 0 que podia significar a madrugada do dia seguinte. Remunerados pela organiza<:<ao do fe stival. os jurados das eliminat6rias receb iam um valor tao ins ignificante que raramente re tornavam de um ana para outro: 170 rea is para as sete noites. Eles observavam e notavam as quadr ilhas (podendo chegar a 20 por noite de eliminat6ria). cabendo aos promotores a decisao final sobre a desclassifica<:<ao dos grupos em caso de descu m primento do regulamento. Na fase fina l, os jurados sao convidados sem remunera<:<ao: esse convite da principal transmissora de televisao local e recebido como 0 reconhecimento publico de prestigio profissional e pessoal. sendo considerado uma atividade de lazer, e nao uma atividade laboral. Sete a oito pessoas assumindo fun<:<oes publicas. polit icas. profissionais Iberais. jornalistas. produtores culturais. artistas. profissionais da moda, comerciantes. inte lectuais. professores e ate te610gos configuram um universe social e profissional bem mais elitista que 0 da fase eliminat6ria. Por seu perfil. vemos que eles trabalham com cria<:<ao ou produ"ao artistica ou sao ges tores publicos. muito pr6ximos do debate cultural e estetico local. Membros de comissoes de folclore ou do Instituto Hist6rico e Geografico tambem sao regu la rmen te requisi tados para essas ocasioes. pois e reco nhecido que os estudiosos locais d ispoem de um cabedal que Ihes confere autor idade e respeito cole tivo, refor"ando a importiincia da cu ltura "sabia" e gara ntindo seu espa"o na hierarquia social da produ<:<ao da festa popular citadina,
Mfdia. "sabios" e quadrilhas no campo da
i nova~ao
A prop6sito da rela<:<ao entre a cultura "sabia" e a "popular" na renova<:<ao das tradi"oes da quadr il ha junina. e preciso destacar que os grupos estilizados despertaram polemica desde seu surgimento na cena junina. em meados dos anos 1990. qua ndo tiveram d ificuldade em ser reconhecidos como quadrilhas juninas. Eles foram severame nte crit icados por suas escolhas e mot iva"oes esteticas. pois 0 veludo e 0 cetim nilo guardavam proximidade estetica nem cul tura l com a chita de a lgodilo. tecido tfpico de quadrilhas trad icionais. Ass im. as es tilizadas foram comparadas a dan"as russas, ucranianas. ita lianas e francesas, julgadas por "parecer 0 que nilo eram". tal qua l Carmem Miranda. que teria americanizado 0 samba. D iante dessa pe rp lexidade. mes mo a condi"ao de quadr ilha Ihes foi questionada. e as versoes estilizadas da dan"a foram sistematicamente comparadas com as matutas. num con traste indiscutivelmente inoportuno e prejudicial. Ela tampouco foi identificada com uma nova dan"a, emancipada da tradi"ao. respei ta ndo surpreendentemente a insistenci a de seus core6grafos e dan"arinos em identifica-Ia a tradi<;:iio junina. Assim. no centro da polemica pai rava sempre a ideia de deg rada"ao e descaracteriza"ilo.
Os folcloris tas e tradicionalistas se d estacavam como os mals resistentes lis inova0;6es, buscando pre servar as quadrilhas de uma "detur pao;ao" da tradio;ao. Noutra ver tente. alguns intelectuais identif icados ao marxismo fran kfu rtiano denunciavam-na como produto da sociedade de consumo massificada. Assim. os defensores das quadrilhas jun inas estil izadas podiam escolher entre duas etiquetas: vftimas da alienao;ao cultural ou oport un istas mais ou menos cumpiice s do sistema m idiatico dominante - promotores indire tos d e ssa modalidade de q uad rilha . Se desde 0 in fcio as quad rilhas estilizadas se beneficiaram de uma difusao mais ampla pela televisao e contaram com a simpat ia quase instantanea do publico. elas foram iden tificadas pelos "sabios" e pela imprensa "culta" como uma "prima dis tan te" com pretens6es de rica. Chamadas de pasteurizadas. "com le ite" e "de plastico". e las teriam perdido a foro;a da terra , das suas trad i0;6e s. tornando-se um a malgama de inspira0;6es artfs t icas e culturais he te r6c1itas sem va lor a uten tico. num panico alarmista que se disseminou entre os conservado res dos mais d iversos hori zontes. reunindo a populao;ao nostalgica da quadri lha matu ta. que fe lizme nte nao desapa re ceu das ruas. das casas. das escolas e das prao;as. Sabendo q ue a criao;ao e a mudano;a re fere m-se ao e stabelecido e sua evoluo;ao. e conside rando que os g rupos tradicionais d isp6e m de uma margem menor de muda no;a. as quadril has estilizadas parecem representar 0 ethos mes mo desses concursos televisivos. d irigidos explicitamente para e las e nos qua is a inovao;ao e a surpresa sao elementos centrais do espetaculo. Seguindo a vereda dos g rupos estilizados, as caricatas foram rapida mente acei tas e assimiladas por esses concursos, apresentando uma ve rsao da dano;a na qual as possibilidade s de criao;ao e reinveno;ao sao mais livres. po is nasceram sem a responsabilidade de rep resen tar uma tradio;ao. Usufruindo dos me smos recursos esteticos espetaculares das estilizadas. elas podem "bricolar" e criar livremente com veludos. sedas. cetins. brilhos. canutilhos, lan tejoulas, paetes. strasses e pedrarias naturais ou sinte ticas. Pouco adaptadas a um contex to em que a velocidade das tra nsforma0;6es esteticas segue 0 rit mo acelerado da informao;ao e das evolu0;6es te cnol6gicas. as quad ril has tradicionais encontram maior d ificu ldade em impressionar os jurados e 0 p ub lico dos concursos, pois devem recorrer a e lementos menos vistosos. geralme nte de origem natural. como a lgodao, couro. juta. palha. re ndas e bordados localmente identificados com a tradio;ao: a pe rda dessas referEmcias comprometeria 0 seu vfnculo com os "valores do passado" que ela sup6e defender. Esse debate sobre 0 aka nce da criao;ao e as li mita0;6es da tradio;ao re ssalta a ampli tude do confli to sociocultural inere nte a essa disputa. po is, represen tando uma evoluo;ao "bastarda" da dano;a trad icional. as estilizadas e caricatas sao majoritariamen te oriundas dos bairros da periferia da cidade e do interior do estado. ou seja. dos lugare s cotidianame nte identificados a tradio;ao junina pela origem e pela migrao;ao recente. Como explicar e sse paradoxo sociodemografico situando a perseve rante crftica "sabia" as quad rilhas e stilizadas (e caricatas)?
Se ate meados do seculo XX a festa urbana congregava a populao;ao de modo re lativamente iguali tario nos arraiais e nas festa s d e rua de Na ta l - e de outras cidades nordes tinas -. progre ssivamente a e li te citad ina conquistou espao;os de dist ino;ao e legitimidade simb6lica para "avaliar" a tradio;ao popular em relao;ao as suas inova0;5es esteticas e cultura is. Por ser m uito va riaveis se gundo as re fe re ncias cultura is e pessoais. os itens dessa avaliao;ao sao norma tizado s nos concursos te levisivos a partir de alguns e le mentos. como a coreografia. a a nimao;ao do gru po. a criatividade dos passos. 0 p uxador. a be leza das vestimen tas e a escolha do repe rt6rio.
A vit6ria d e um g rup o de pe nde, como se pe rce be , do aprend izado de uma se ri e de comportamentos fes tivos. pois "ser animado". -se r um bom puxa dor". "escolher a musica e ves timenta adequada" sao e scolhas e stet icas que devem aproximar 0 gosto do g rupo ao do s jura dos: quanto maior for a sintonia. mais chances de sucesso e vit6ria.
Eessa
margem d e incerteza que to rna 0 p rocesso de julgame nto e 0 resultado dos concursos uma obra aberta. pois tan to nos co ncurso s de quadr ilha de Natal como nas e scolas de samba do Rio de Jane iro hii coisas qu e n.'lo se sabe bem pa ra onde v.'lo; ou tra s coisas que a inda estilo a caminho; outras que ta lvez jii n.'io fa<;am mais sentid o: e hii co isas importantes que n.'lo s.'io dire tamente julg adas. Uma salutar inadequa<;ilo p reside a rela<;ilo entre os quesitos e
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seu jul -
gamento. A defas age m ex istente e a ex pressao da vita li dade: ela mantem
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des file ao mesmo tempo ligado a um passado e aberto
pa ra 0 futu ro. num presente q ue e sempre tensilo. (CAVALCANT I. 2006, p. 56-57)
Subsiste entao uma grande inse gura no;a dos gru pos de competio;ao com re lao;ao aos concursos e aos jura do s. cuja a uto ridade e freque ntemente ques tionada pelas qu ad rilhas por ignora ncia na materia o u corrup o;ao pelo s diversos in teresse s e m jogo em se melhante competio;ao. Por isso. certos grupos insistem e m se fazer presentes quando da contabilizao;ao final das notas dos jurados. A te levisao faz a mediao;ao entre esses dois polos e qua ndo procurada pode divulgar as notas, como reve lou 0 organizador do festival: "Eu apago 0 no me do jurado, para que e le s nao vao importunil-Io. dizer coisas. E eu fao;o um re sumo, entende? E eu digo: voce nao foi bom nisso. nem naquilo". Tal iniciativa. conside ra da construtiva pelos grupos, e apreciada pelos organizadores. que reconhecem a valorizao;ao do seu concurso e 0 alcance de sua influencia na evoluo;ao da dano;a.
Quadrilha em tempos de concurso A re lao;ao da quadril ha de concursos com 0 espao;o publico e midiatico transformou rad icalmente a dano;a na sua re lao;ao com 0 tempo. Tradiciona lme nte executada no espao;o familiar e comunitario. uma "quad rilha improvisada" pode se prolo ngar por poucos minutos ou por horas a fio , sem previsao de in rcio ou tempo para ser conclu rda. Uma quadril ha de
e xibio;ao privada te m durao;ao li mitada, pois fo i ensaiada a ntecipadamente, mas e variave l e nunca definida com precisiio. dife rentemente do s grupos de competio;iio, em que e sse dado e predefinido e deve ser escrupulosamente seguido, sob pena de punio;oes e desclassificao;6es. Assim. uma das principa is mod ificao;6es introd uz idas pelos concurs os di z res peito ao te mpo reservado a apresentao;ao de cada grupo de quadrilha. D ia nte da prog ressao con sta nt e do numero de grupos. 0 tempo de preseno;a em cena de cada concorre nte foi reduz ido de 30 para 20 minutos. acele rando 0 tempo disponfvel para cada apresentao;ao e re petindo 0 processo de cadeamento rftmico do samba descr ito por Vianna (1999) re lativamente as e scolas cariocas, quando ele se tornou uma dano;a espetacular aprese ntada num desfile: para avano;ar o g rupo mais rapidame nte e na tura lmen te, 0 samba fo i associado ao rit mo binario da ma rcha. Nas quadrilhas de competio;ao, a reduo;ao de tem po re configurou a dano;a trazendo a acelerao;ao da coreografia, com a musica acom panha ndo os mesmo s passos executados com mais ra pidez. Essa mudano;a de velocidade - perceptive! ate para os menos atentos - trouxe tres consequencias: a reduo;ao da idade dos dano;a rinos. novas escolhas musicais e 0 eclipse do s casamentos matuto s nos concurs os. Sobre a primeira. des tacamos que os jovens da no;arinos te m idade ma is ba ixa a cada ano. pois dano;ar uma quad rilha de competio;iio to rnou-se um teste frsico exigindo uma grande capacidade aer6bica dos da no;arinos. Quanto as musicas, e las prec isam ace lerar os dan<;arinos, mudano;a que trouxe a cena musicas de andamento ma is rap ido. como 0 forr6 "eletrico" (CHIANCA. 2006) - ou "e le tro n ico". como pre fere chamci- Io lima (2010). Embora freque nte me nte associados as quad rilhas estilizadas. esses fo rr6s nao estao necessariame nte vinculados a elas: nos festivais. todas as quad rilhas recorrem as d ife re n tes li nhage ns musicais contemporaneas. explorando poss ibilidades rftmicas e sonoras sem fidel idade a epocas. estilos re gionais ou locais. sendo posslve l 0 recurso ao forr6 na s suas d iversas variantes. misturado ou niio a ritmos "estrangeiros" como a sa lsa. 0 carimb6. 0 mang ue beat 0 vaneiriio e 0 funk. A terceira con sequencia da acelerao;ao das apresentao;6e s diz respe ito a uma das ausencias sentidas nos festivais de quadrilha: 0 casamento matuto/caipira. que e um do s elementos ce nicos mais importa nte s e parte central da cenografia da quadrilha tradicional. ma rcando "0 ponto al to da fe sta [...] 0 tao esperado casamento" (JESUS E SI LVA FILHO, 1998. p. 18-19). Constrangidos pelo tempo total da apre se ntao;ao, pouco a pouco os gru pos matutos 0 retiram dos festivais. 0 que foi percebido pelos g rup os como um grande prejufzo. Num processo semelhante ao dos desfiles das escolas de samba no Rio de J aneiro a pa rtir das decadas de 1960 e 1970. desde os anos 1990 as quadrilhas experimentam "um processo mais profu ndo de transformao;ao", no qual os concursos "ao mesmo tempo e m q ue as es petacula rizam cada vez mais. tambem firmam se u prestfgio. e m detrimento das outras formas de divertime nto [...] que com e las convive m" (MONTES. 1997. p. 21).
Conclusao Com importancia progressiva na cena urbana das grandes cidades do Nordeste desde os anos 1990. os concursos de quadrilha se configuraram como um dos ma is interessantes investimentos midiaticos contemporaneos. 0 que se deve a vitalidade e ao forte potencial estetico da quadrilha junina. 0 sucesso desses concursos pode ser avaliado por sua frequencia. sua regularidade e seu alcance. com versoes publicas e privadas, locais, estadua is. regio nais e mesmo nacionais. A importimc ia dos promotores. a presen~a de patrocinadores. jurados e grupos inscritos e 0 princ ipal indfcio do exito do modelo midiatico de Festa junina. que assume sua preferencia pela versdo estilizada da quadrilha. Por meio dessa inusitada parceria, os jovens dos bairros desfavorecidos da cidade veem-se na televisao, ritualizando e atualizando sua identidade, possibilitando 0 autorreconhecimento e a integra~ao social. Alem da visibilidade local. os concursos anualmen te promovidos pelas televisoes proporcionam aos grupos ma ior circula~ao de saberes e informa~ao , pois nesses eventos os campe6es de cada estado se encontram para uma grande final reg ional. em que se apresentam d isputando um trofeu e um premio e m d inheiro. Esses encontros consolidam novas articulao;oes e refors:am redes artfsticas e profissionais ja estabelecidas: ndo e raro que um grupo do Recife. PE. mantenha 0 mesmo core6grafo que outro grupo de Fortaleza, CE. ou que vestimentas possam servir a outro grupo noutro estado, no ana segu inte. mediante ajustes e adaptao;oes, facili tando a circulao;ao simb61ica e material na dano;a de competio;ao, na qual se copiam e recriam passos e elementos coreograficos. emprestam-se. aluga m-se e vendem-se cenarios, acess6rios e CDs, por exemplo. Fomenta ndo 0 contato e as inRuencias recfprocas e ntre os grupos. os concursos potencial izam as transformao;oes das formas esteticas da dano;a e propiciam a observao;ao dos Rums culturais que Rex ibilizam a tipologia proposta inicialmente neste ar tigo. distinguindo grupos trad icionais, estil izados e de par6dia. Mesmo pertinente como recurso heurfstico. destacamos que e la deve se r aplicada com extrema precauo;ao, pois os e lementos esteticos e eticos de todos os estilos se fundem em formas fluidas, em constante elaborao;ao e ress ig nificao;ao. permeabilizando-se mutuamente com ideias, i nspira~ao e fantasia (HANNERZ. 1997). Assim, certos grupos matutos se inspiram nas estilizadas e compoem 0 matu to "revisi tado". as estilizadas releem as tradicionais nas "recriadas", enquanto matutos se revelam "ca ricatos" nas quadrilhas de par6d ia. Nao obstante algu ns grupos matutos sonharem com a emancipao;ao este tica prometida pela quadrilha estilizada , Luiz Gonzaga e Lampiao sao os personagens mais citados nas alegorias desses dltimos, como Ifderes incontestes do "panteao junino", Eessa vi tal idade cu ltural que transporta a sanfona ao foco da apresentao;ao de grupos estilizados. reproduzindo 0 forr6 por meio do tradicionalfssimo trio acds tico, enquanto as quadri lhas matutas da no;am ao som das bandas de forr6 eletrico Calcinha Preta e Canarios do Reino.
N o co nte mpora ne o Sao J o ao do N o rde ste , copiosos s a o a s exe mplos de s se s hib rid ism o s: pre ci samo s a pe nas co mp reend er a s eu si gn ificad o enq ua n to as sistimos ma ravilh a dos a um re luzen te , ace lerado e colori ~ d o c o ncurs o d e qu a drilh a s jun ina s p ro mov id o pe las te levis6 e s de uma d a s g ra ndes cidades do N ord este d o Brasil ,
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Luciana Chianca Doutora em antropolag ia pela Un iver, idade Bordeaux 2 I' professora da UFPB. pesqu isa as festa5 - espl'cialmente as jun,nas - hd rnais de 20 anos. Especia l,sta em antropologia urbana e interl'ssada pe la cultura d'gital e sua rela~ao com 0 patrimonia cultural e artlstica nas c idades. E- ma il: lucianachiancaufpb@lavid,ufphbr luchianca@cchla.ufm,br
FESTAS E IDENTIDADES NAAMAZONIA A
Jose Maria da Silva
Introdu1iao
As fe stas sao fe n6menos sociais importantes e fun damentais para 0 entendimento das sociedades. Historicame nte. as fes tas fora m proje tadas como eventos de comemora~ao de determinadas datas ou para celebrar d ivindades e fei tos religiosos. Nas sociedades nao ocidentais. as fes tas sao ritos demarcadores de pe rfodos de colheita. de come mora"oe s religiosas. de inicia<;:ao de jovens na vida adul ta. de celebra<;:ao da memoria dos antepassados. entre outros aspectos. A literatura antropol6gica sobre festas e ampla enos apresenta experiencias de varias partes do mundo. demonstrando a diversidade de formas que assu me a festa. Nfl an tropologia brasileira. as fes tas foram objeto de i n vestiga~ao inicialmente no a mbito da trad i ~ao etnol6g ica - como fenomeno ritua l de cosmologias indfge nas para demarcar algum aspecto da sociabilidade de um grupo ou como fenome no religioso. Ma is adian te. a antropologia nacional de u enfase as festas como um importante elemento de analise das r ela~oes sociais no campo e nas cidades. Um exemplo dessa tradi~ao e 0 trabalho pioneiro de Roberto Da Matta (1997) sobre 0 Carnaval. formulando um campo d e est udos sobre hierarquias socia is e m contextos d e festas brasileiras. Atua lmente. a an t ropo logia tem procurado examinar as dife re ntes formas e sentidos que a festa ildquire nas sociilbilidades urbanas. seja e m torno de mus ica (VIANNA. 1988; COSTA. 2009). seja no ambito das festas relig iosas em louvor a santos (BITTER. 2010) ou nas experiencias conte m poraneas com musica eletronica. como as fe stas rilve (CAMARGO. 2011). No Cilmpo da antropo logia. a etnografia e a analise das festas tem sido elaboradas com base nil teoria ritual. cujo enfoque dominante concebe 0 ritual como um elemento de comunica~do que reve lil aspec tos da vidil social das pessoas nele envolvidas (LEACH. 1965; TURNER. 1974).
Nos anos 1980. essa teoria fo i re novada pelo an trop610go Stanle y Tamb iah (1985). ao combina r 0 exame etnogrdfico com a analise da li nguagem , na qua l as express6es ri tua is (p r6prias da li nguagem prMica dos agentes) adqu irem for<;a ilocucionaria e perloc ucionaria. expand indo para a vida pr<it ica 0 q ue se di z em a<;ao. Nesse caso, utili za -se como referencia a perspectiva pragmat ica da li ng uage m de J ohn Aus tin (1997). na qua l "dize r e tambem faze r". Nos ultimos anos. muitas fes tas no Brasil tem adquirido um novo estat uto empfrico e sociol6gico, em ra zao: i) da di me nsao e da qual idade da festa. q ue se apresenta na ma ioria das vezes como espetikulo: ii) da interpenetra"ao e da confluencia de varias modalidades de artes e de expressoes cultura is - for ma ndo um campo cu ltura l hfbr ido e po lissemico: iii) da influencia das diversas formas de mfd ia (radio. tele visao. cinema. internet e tc.): e iv) d o fa to de q ue essas fes tas nao sao mais prod uzidas para comunidades inc lusivas e, sim, para grandes massas de pessoas. especial mente para 0 c irc uito do turismo. Nesse ultimo aspecto, deve-se ac rescentar que as fes tas brasile iras d imensionadas como espetaculos sao prod uzidas para uma ampliada plateia e implicam - em sua prod u"ao - 0 investimento de vultosos recursos na organiza"ao, na prepara"ao e na publicidade. na constitui"ao de uma comp lexa divisao social do trabalho e na produ"ao artfs tica, em que 0 vis ual e a performance dos brinca n tes sao aspectos re levantes. Isso significa di zer que essas fes tas incorporam trad i<;oes e novos sig ni ficad os. cons ti tuindo assim um "novo te xto cul tural" no ambito da sociedade moderna e conte mpora nea. Como exemplos, pode mos citar a Festa do Peao de Barretos (Sao Paulo). 0 d esfile d as escolas de samba no Rio de Jane iro. 0 Carnaval no Recife. as fe stas juninas em cidades do Nordeste e 0 Festival de Parintins. no Amazonas. Mas nao sao ape nas es sas (grandes) fe stas os exemplos de mudan"a. E preciso acrescen tar q ue ha uma prolifera"ao de eventos com a perspe c ti va de at ra<;ao tu rfstica para as cidades - sejam e las pequenas, med ias ou gra ndes -. assi m como se percebe q ue festas de peq ue no porte tem s ido impulsionada s no sentido de se torna r espetaculos atrativos - ainda que modestos - nas loca lidades e m que sao reali zadas. Na Amazonia, existem d iferentes tradi<;oes de festas realizadas pelas pop ula<;6es locais. Nos lugares onde 0 catolicismo teve presen"a hist6rica ma rcante. a maio ria das fe stas e de origem cat61ica e esta relacionada aos santos padroeiros de comunidades. vilas e cidades. Porem. nos ul timos dez anos um conjunto de festas de cidades peque nas e medias da regiao te m crescido a part ir da ideia corrente de realizar um evento de referencia na cidade (e. qui"a, na regiao). cuja inspira<;ao te m sido 0 Festival de Parintins. De modo gera!. pode-se afirmar que as fes tas re alizadas pelas popula"oes nao indfge nas. alem do carate r comemorativo. evidenciam valores de identidade - hist6 rica. etnica. re ligiosa ou regional. Nesse ultimo caso, na maioria das vezes trata-se do regionalismo a mazonico. calcado na natureza. nas popula<;oes e tnicas sobretudo indfgenas e ribeirinhas - e em um imaginario constitufdo por mitos. lendas. personagens his t6ricos, produtos da natureza e artefatos da re giao. A seguir. apresento uma etnografia sobre as duas maiores fes tas da regiao: 0 Cfrio de Nazare e 0 Festival de Parintins. _101
A festa da fe: 0 efrio de Nazare em Belem
o Cfrio re aliza do em louvor a Nossa Senhora de Nazare e a principal Festa re ligiosa do Paril e poss ive lmente da reg iao. pois. alem de haver realiza~ao em diversa s cidades. os fes tejos na ca pital paraen se a trae m anua lmente um sig n if i cativ~ nu mero de fieis. Contudo, 0 publ ico do Cfrio nao e con stitu fd o a pena s por devo tos da san ta si tuad os no Pa ril e na regiao; no perfodo dos fest eJos. sobret udo no silbado e no domingo quando sao reali zadas as principa is proc issoes. a cidade de Belem recebe uma grande quant idade de pessoas oriundas d e diferentes luga res do pafs e. em meno r q uan tidade. do exte rior. Isso porque 0 C frio em home nage m a Nossa Se nhora de Nazare, q ue se real iza no segundo dom ingo de outubro. te m sido conce bido co mo um importante e vento d e pere g rina<;ao e pagamento de promessas. A Festa de Na zare adquire outros s ignificados para os parae nses. de ma ne ira que parte significativa dos devo tos q ue se des loca de outros estados e a te mesmo do exterior e originil ria do Para. Esses fie is se d irige m a capital paraense para render suas homenagens a santa , mas ta mbem para confra te rni za<;ao das famfl ias. e por isso 0 Cfrio e concebido na cultura e na sociabilidade local co mo 0 "Natal dos pa raenses". A importancia da Festa de Nazare no Para pode ser di mensionada sob d iferentes pe rspe ct ivas. tais como: pe la quan ti dade de publico participante. que cresce a cada ano. pelas formas de manifesta<;ao de Fe. pela movimenta~ao na economia do estado - especialmen te com os devotos visitantes e tur istas - e, sobretudo. por se ap resentar como referencia cultural em ma nifes ta<;oes ar tfsticas locais, co mo literatura, musica, teatro e cu ltura popular. Desse modo. 0 Cfrio tem sido his toricamente objeto de estudos. com dife rentes enfoques, no senti d o de compreensao desse evento co mo fator d e re lig io sidade e de identidade local e reg ional (ALVES. 1980: MAUE.5. 1995).
o mite de fundaliao do culto a Nazare
o cu lto a Nossa Senhora de Naza re no Para nao e um fato isolado: e res ultado do proce sso colonial implan tado por Portuga l no Brasil e , e m especia l. na Amazonia. Nessa regiao. a Ig reja cat61ica se fez presente desde os primeiros mo mentos da coloniza<;ao. quando re ligiosos cumpriram 0 desfgnio da evangel iza<;ao e domes tica<;ao dos fndios, em um processo civilizador implantado a partir do seculo XVII. Em 0 Paiz do Amazonas. Marilene Correa da Silva a firma que a Amazonia fo i urn espa<;o d e luta entre a Ig reja e 0 Estado. mas a testa uma forte presen<;a da Igreja como agencia cultural do processo hist6rico de coloniza<;ao. Diz ela: "Ao seu mod o. a sua vi sao. [a igreja] classificou 0 espa<;o ffsico. os habitantes. as re la~oes e xistentes, 0 ma ra vilhoso e 0 bclrbaro. 0 q ue Ihes era estranho e diverso foi formalizado segundo as suas referencias pr6prias¡ (SILVA. 2004. p. 115). No mesmo sentido. Mclrcio Souza destaca a participa<;ao da Ig reja cat61ica na transforma<;ao dos fndios e m traba lhadores da e mp resa colonial port uguesa. em um fenomen o social q ue e le denominou de "caboqu iza<;ao" (SOUZA 2001). .1 0 :1
Como manifestao;ao re ligiosa. 0 culto a Nazare tem suas origens na Europa crista. Segundo Penteado (1998). a emergencia de um santu ario para venerao;ao a Nossa Senhora de Nazare. em Portugal. se deve a dois principais fatores: primeiro. 0 deslocamento da imagem de Maria de Nazare da Pa lesti na para 0 Ocidente iberico, em razao da perseguio;ao aos cristaos; segundo. 0 achado da imagem da santa pe lo cavale iro dom Fuas Roup inho. no seculo X II.
o
surgimento da venerao;ao a d ivindade em ter ras paraenses tambem e funda mentado em um mite de origem, sempre evocado no perfodo do Cfrio. Esse mite e narrado assim: certo dia. em pleno seculo XV III. um ca~ador - identificado na narrativa como caboclo - de nome Placido Jose de Souza (conhecido mais pe lo nome Placido) morava e m uma area da cidade denominada Estrada do Maranhao. onde hoje existe a Basilica de Nazare. Em um de seus mo mentos de cao;ada. teria encontrado a imagem de Nossa Senhora de Nazare esculpida em madeira. Se 0 milagre do achado e a origem do cu lto nazareno na Pen fnsu la Iberica deveram-se a um fidalgo. a origem no Para atribui-se a um "humilde cao;ador", ou seja. tem a m bienta~ao local. pois tratar-se-ia de uma categoria e tnica regional - 0 caboclo. Nesse sentido. 0 mite faz sua inscrio;ao no imaginario local e regional. Um aspec to a ma is a destacar: tra ta-se da sincronia desse discurso m ftico com outros mitos de origem e revelao;ao de divindades de tradio;ao cat6lica. os quais sao sempre associados a pessoas de origem pobre: camponeses. cao;adores. pescadores. entre outras. E um mite que associa 0 achado a a tividades na natureza (pesca , cao;a etc.) e. no caso brasileiro. 0 milagre envolve pessoas consideradas "humildes" porque sao de estratos pobres da popula~ao. 0 mite vincula-se. e ao mesmo tem po a atualiza. a uma referencia his t6rica e ideol6gica do cristianismo que re me te a vida de Cristo e dos santos como figuras que encarnam 0 sentido da humildade. da bondade e de opo;ao pe los mais pobres.
A estrutura do efrio e os s fmbolo s da fe sta i) A estrutura
o Cfrio de Nazare na cidade de Be lem pode ser visto como 0 ponto alto de um cicio religioso no estado. constitufdo por uma serie de festas de santo. em especial de santos padroeiros. Esse cicio. que tambem se rep roduz em todos os estados da Amazonia. e m razao de uma tradio;ao cat61ica orig inaria nos seculos passados. proporciona a efusao de perfodos fest ivos q ue duram dias - as vezes se manas ou mais. a de pender da tradio;ao e da importancia da Festa - e 0 intercambio ritual entre devotos de d iferentes lugares da regiao (A LVE S, 1993). A Festa em louvor a Nossa Senhora de Nazare e um evento comp lexo, de importii ncia religiosa e economica. tornando-se hoje 0 principa l fenomeno tu rfst ico do estado do Para. tendo em
vista a quantidade de publico q ue acompanha a procissao do Cfrio (que ultrapassa 2 milhoes de pessoas). 0 unive rse do pu blico que participa da principal proc issao e fo rmado por fieis da cidade de Belem e de fora. No caso dos devotos que se deslocam a cidade. podemos ide ntificar duas origens: os devotos oriundos do interior do estado e aq ueles que sao de out ros estados. com um flu xo maior de pessoas de cidades da propria regiao. A Festa e realizada dura nte 15 dias. come~ando no segundo do mingo do mes de o ut ubro. Contudo. 0 perfodo ritual e be m mais amplo e pode ser dis tinto em do is grandes momentos: i) 0 perfodo de p repa ra~ao: e ii) 0 perfodo de rea li za~ao da Festa. Considerando todo 0 cicio ri tua l dos festejos em louvor a sa nta. para efeitos de analise devemse diferenciar duas categorias: a festa e 0 Cfrio. A Festa diz respeito ao conjunto de eventos para home nagear Nossa Senhora de Nazare - todo 0 cicio dos festejos -. enqua nto 0 Cfrio se refere a pri ncipal procissao do perfodo. Em termos nativos, porem , faz-se referencia ao Cfrio como sendo "a festa" em homenagem d san ta.
o cicio fes ti vo, portanto. cons titu i-se dos do is momentos citados. sendo q ue 0 primeiro - 0 perfodo de prepara~ao - te m infcio com uma missa que se realiza no fina l do mes de agosto. Trata-se de uma ce rimonia ri tua l de demarca~ao do come~o da festa. Alem de uma missa espedfica. cujo se rmao e outros ritos sao ma rcada mente para afirma r que a fe sta de Nazare esta come~a n d o . um aspec to de destaque na cerimon ia e a presen<;a de objetos re presen tativos da devo<;ao a d ivindade. especialmen te a imagem da santa e a corda - esta simboliza 0 pagame nto de promessa d urante a procissao. No caso espedfico da imagem , d urante a missa varias replicas sao benzidas co m agua benta. Essa ce rimon ia re ligiosa se denomina "missa do manda to". porque as imagens recebem a ben~ao e os devotos ligados as diversas congrega~oes da igreja local recebem , a partir daquele mo me nto. 0 "manda to" - 0 dever ou a responsabilidade - de realiza<;ao das ladainhas preparat6rias para 0 perfodo maior da Festa. q ua ndo sao real izadas as procissoes e outros eventos. Assim , a imagem e mu lti plicada e enviada para diversas igrejas e comunidades cat61icas existentes na cidade. que cumprirao os desfgn ios da evangeliza<;ao - a finalidade ma ior da Igreja. Desse modo. devo tos que atuam no amb ito das comunidades re ligiosas e congrega<;oes da igreja local sao destacados para 0 offcio de prega~ao do catolicismo nas novenas realizadas no perfodo que antecede 0 Cfrio. A est rutura organizacio nal da fe sta e complexa. sobret udo no que diz respe ito as pessoas respon save is por sua realiza<;iio. Ha uma rede hierarquica de fun<;oes no comando e na realiza<;ao do evento. fato e ste sufic ientemente explorado por autores que estudara m 0 Grio de Nazare no estado do Para (ALVES. 1980; MAUE S, 1995). comando rel igioso da festa fica a cargo do arcebispo de Belem e do pa roco da Basilica de Nazare. Entre a estrut ura sacerdotal da ig reja e a sociedade civil ha a diretoria da festa . composta predominantemente de homens selecionados com base em. pelo menos, dois criterios: a) uma historia de engajamento na igreja
o
.1OS
como catolico: e b) pessoas com status na soc iedade local: sao profissionais recon hecidos e bem-sucedidos economicamente. A di retoria da festa compoe- se de tres nfveis de comando, cada um com funo;oes especfficas: no primeiro nfve l situam-se presidente (fu no;ao dese mpenhada pelo paroco da Bas~ica de Nazare). coordenador. secre tario e tesoureiro. No seg undo estao os dire tores: d ireto r de pat rimon io. dire tor da prao;a e santuario. diretor de relao;oes publicas e assessoria jurfdica. No terceiro nfvel ficam as comiss5es: comissao de culto e pastoral. co m issao de procissao e orde m. comissao de divulgao;ao e marke ting , comissao da barraca da santa. comissao de decora<;ao e som. comissao de promoo;oes, comissao de arraial e comissao de a rrecadao;ao,
ii) Os sfmbolos da Festa
Como fenomeno religioso. a festa em Iouvor a Nossa Senhora de Nazare em Belem articula um conjunto de sfmbolos. os quais propo rcio nam maior adesao dos fieis a santa. por meio de um sistema de comunicao;ao. proporcionando uma experie ncia religiosa e mfstica com a divindade na Terra. as principais sfmbolos da festa sao: a imagem da santa. 0 manto q ue cobre a imagem. a berlinda e a corda. A imagem presentifica e da sentido a divindade entre os fieis. Ela proporciona q ue os mesmos fa o;am uma comunicao;ao entre a vida terre na e Deus. e isso se da com a multiplica<;ao das image ns e a percep<;ao da o nipreseno;a da divi ndade. Existem tres imagens da santa utilizadas pela igreja em Belem. Todas foram concebidas no proce sso historico de desenvolvimento do cu lto a Nossa Senhora de Nazare na cidade e no estado, ass im como sao disti ntas pe lo sta tus e por funo;oes a tribufdas a cad a uma , A imagem principal e conside rada a "verdade ira". tendo em vista que e concebida no mito de origem , Seg undo a narra tiva. e a imagem achada pe lo "cabodo" Placido e. portanto. trata-se de uma imagem ofic ial. que possui uma aura e por isso e mantida em um nicho na Bas~ica de Nazare, Durante 0 ano. essa imagem fica no interior da igreja. em uma parte al ta de nomi nada g loria. e por ocasiao da quin zena da festa realizase um rito de descida da imagem para que a mesma fique "mais pro ximo do povo". No perfodo da fes ta. os fieis de positam seus ped idos junto a essa imagem , os q uais sao incinerados por ocasiao da cerimonia de re to rno ao seu local de permanencia. Ha ainda duas outras imagens da santa que a igreja e a d iretoria da festa utilizam: uma. mais antiga. que fica em uma cape la no Colegio Gentil Bittencourt e uma terce ira util izada nas procissoes. q ue recebe o nome de "imagem peregrina". Essa , segundo um paroco da Bas~ i ca de Nazare. te ria sido encomendada a um escu ltor na Italia pelo fato de q ue a imagem do Colegio Gentil Bitte ncourt. que acompanhava as prociss5es. nao tinha identidade com as pessoas da regiao. Tratava-se de uma imagem com "caracterfsticas" da populao;ao europeia. Segundo ele. a igreja local encomendou uma nova que tivesse fe io;oes e cor da pele si milares as da populao;ao reg ional. Por
outro lado. 0 menino que acompanha a imagem de Nossa Senhora de Nazare teria sido esculpido com "trao;os indfgenas". Em outras palavras, a ig reja procurou moldar a imagem que acompanha as procissoes a "caracteres" relacionados as populao;oes da regiao. moldurando a santa nos conto rnos de uma suposta identidade etnica regional. Ta l identidade teria inspirao;ao em fn dios e caboc los. sendo que estes sao concebidos como mestio;os e "herdeiros", em termos sociocu lturais. das popu lao;oes ind fgenas.
o ma nto e uma vestimenta q ue cobre e adorna a imagem da santa. Surg iu de promessas e e bordado. fe ito em tecido de ceti m branco adornado com fios dourados e pedras preciosas. Atualmente e confeccionado por en comenda e financiado por pessoas de alto poder economico, as qua is sao man tidas no anonimato. 0 man to expressa a vestimenta da santa e sua represen tao;ao present ifica a divindade em que se utiliza. A be rlinda e um carro q ue serve de nicho para abrigar a imagem da santa d urante as procissoes. Trata -se de uma a rmao;ao consti tu fda de made ira e vid ro e que serve para carregar a imagem e, certame nte. protege-Ia do sol e da c huva. A berlinda recebe uma decorao;iio com flores brancas e ama relas q ue adorn am e rea lo;am a imagem da santa. A corda e uma representao;iio iconlca do objeto utilizado du rante a procissao pelos fieis que pagam promessa. Como sfmbolo da Festa. a corda re presenta nilo ape nas a promessa. mas 0 instrumento e 0 local de maior sacriffcio para cumprimen to de votos duran te a procissao, tendo e m vista que um grande numero de fieis procura segurar a corda durante o cortejo.
o Cfrio como ritual e a cidade Ap6s 0 perfodo de evangelizao;ilo e. portanto. de prepa rao;ao para o mo men to especia l em homenagem 11 santa. no mes de outubro real iza-se efetivamente um conjunto de eventos. Nesse perfodo. os fes tejos se multiplicam em aspectos propriame nte religiosos e out ros de natu re za profana . No en tan to. nilo se pretende aq ui reproduzir a dicotomia sagrado e profano como duas categorias sepa radas e excludentes. como se apresenta na teoria sociologica classica sobre relig iilo (CALLO IS, 1988; DOUGLAS. 1976; DURK HE IM. 1996). Embora se percebam alguns momentos e ri tos exclus ivamente relig iosos e. portanto. da esfera do sag rado. durante os festeJos do Cfrio de Nazare podemos vislu mbra r uma simbiose de e lementos sagrados e pro fanos que permitem a ma nife stao;ao e a percepo;ilo fe nomenologica da religiosidade para alem do carater exclus ivista e dico to mico. Nesse senti do. a Fes ta de Nazare e resu ltado de uma articulao;ilo empfrica das duas es feras. composta dos seguintes aspec tos: um conjunto de procissoes. ao;6es de ped idos ou pagame nto de promessas, cu ltos espec ializados. momentos e ao;6es de d iver timento .107
com arra ia L shows de musica, teatro de rua, al i menta~ao especffica do perfodo e um comercio de brindes e artesanatos, os qua is proporciona m dinfim ica e complexidade ao perfodo festivo. Por tudo isso. 0 contexte da Festa em louvor a Nossa Senhora de Nazare e designado pela populao;ao local como 0 Nata l dos paraenses. E 0 que isso sign ifica? Trata-se, na verdade, de um evento que mobiliza a sociedade local. aciona manifestao;6es de Fe de uma "comunidade re ligiosa", promove 0 encontro de famflias e amigos - sobretudo no que se convencionou chama r de "a lmoo;o do Cfrio" -, movimenta a cidade. que se transfor ma no perfodo da festa, e aciona varias formas de divertimento e atividades culturais. Podemos, entao, afirmar que se tra ta de uma Festa q ue, por sua natureza e sua complexidade. deve ser vista como um "Fato social total" (MAUSS, 1974). no qual as pessoas experimentam situao;6es das mais diferentes esferas da vida.
o primeiro aspecto a destacar na apreensao do C frio de Nazare como fen6meno social e a transformao;ao pela qual passa a cidade. Ha uma ligeira modificao;fio da urbe bele nense - 0 espao;o urba no toma-se diferen te da ro tina - e. por conseguinte. constitui-se uma temporalidade de carater especial - uma caracterfs tica pr6pria dos rituais. No mes de outubro, a Festa em homenagem a Nossa Senhora de Nazare movimenta uma quan ti dade de eventos que marcam cada momento. Ela tem infcio com a apresen tao;ao do manto da santa para 0 cic io, a i na ugura~ao da decorao;ao de rua e a iluminao;ao da Basilica de Nazare. A decora~ao e a ilum i na~ao do entorno da igreja sao parte de um processo de amb i enta~ao e movimentao;ao da cidade. que come~a um mes antes com a realizao;ao das lada inhas em diversos lugares da cidade. Cada ind ivfduo que recebe uma imagem oficializada pela igreja , para 0 offcio de evange l iza ~ao. passa a rea lizar missas e ladainhas destinadas as diferentes comunidades dos bairros. Ainda como parte desse processo. ha 0 engaJa me nto das i ns titui~6es publicas. que mobilizam seus se rvidores em lada inhas realizadas d iariamente. Tanto os 6rgaos publicos quan to 0 comercio participam da tarefa de evangelizao;ao e com isso contribuem para cons tituir uma te mporalidade especial. em que se realizam as ho me nagens a Nossa Senhora de Nazare. Imagens da santa sao dispostas na entrada dos 6rgaos publicos e das lojas, com uma decorao;ao do ambien te. Alem das peregrina~6es e dos momentos de orao;ao nas instituio;6es. as associa~6es de servidores e as comu nidades de bairros realiza m pequenas prociss6es com a imagem da santa. acompanhadas de fogos que anunciam as celebrao;6es nas ruas. Nesse pe rfodo, por toda parte se ouvem fogos e canticos em louvor a divindade. Desse modo. Belem vai aos poucos se modificando e se preparando para a grande "Festa da Fe".
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No domingo realiza-se a grande prOClssao, de nominada Cfrio - nome que em geral identifiea a Festa. E 0 mo me nta de maior investi me nto religioso de fe. seja pela Igreja o u pelos devotos. 0 C frio e uma prociss30 de longa distiincia q ue se concretiza entre a'ioe s p lanejadas e fatos nao previstos pe la Igreja. Como a'iiio de planeja me nto. 0 Cfrio e uma manifesta'iao organizada pela estrutura da Igreja e pela dire toria da festa, sendo antecipada por um conjunto de a'ioes. tais como: decora'iao dos trechos por onde passa a procissiio, montagem de uma estrutura de som nas ruas, organiza'i30 das barcas que recebem objetos de promessa. aq uisi'i30 da corda e sua organiza'iao dura nte todo o cortejo. decora'i30 da berlinda. organiza'iiio de um grupo de seguran'ias designados co mo "guarda da santa", carro de som e banda responsavel pelas musicas relig iosas e xecutadas d urante 0 C frio e organ iza'iao e execu'iiio das diversa s procissoes durante 0 per fodo. Sao aproximadamente oito procissoes realizadas durante os feste jos no mes de o utu bro. Ale m dos eventos que dema rca m 0 engajamento religioso dos fie is, o Cfrio de Nazare mobiliza a cidade em at ividades culturais e de lazer - algumas fora do controle da Igreja e da organiza'ido da Festa. arraial e um locus de divertimento dos belenenses e dos devotos de outros lug ares. Ha ainda manifesta'i0es cultura is q ue. embora ndO possuam rela'iao estreita com a Igreja. se apresentam como prMicas culturais associadas 11 Festa do Cfrio. E 0 caso do Auto do Cfrio - teatro de rua que m istura elementos do circo e de outras formas de cultura popular, executando pa r6dias e satiras dirigidas aos pagadores de promessa . Com isso, produz-se um evento cultural para carnavaliza'iao da Festa re ligiosa (BAKHTIN, 1993).
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Alem da ambien ta'iao da cidade, 0 rito que mais simboliza a nO'iao nativa de Natal dos paraenses e, sem d uvida, 0 almo'io do Cfrio. Trata-se de um mome nta de confra te rniza'iao das famnias ap6s a prociSSdO, constitu fdo de uma alimenta'iao espedfica definida como tradicional e ind icador de ide ntidade do paraense. 0 almo'io e sempre a oferta de uma familia para seus convidados - nesse sentido. expressa uma dadiva (MAUSS, 1974) - e e marcado pela abundiincia. A alimen ta'iao e ma rcada por elementos iden tificados e m nfvelloca l como "cozinha parae nse". tais como pato no tucupi e mani'i0ba. Em q ue pese ser uma alime nta'iiio da die ta local e que pode ser consumido em qualq ue r d ia, 0 almo'io do Cfrio adquire um significado singular por se tratar de uma comensalidade especial e, portanto, constitutiva de urn contexto ritual - e 0 momenta de confraterni za'iao das famllias ap6s a prociss30.
As prornes sas
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Cfrio de Nazare cresce ana a ana em nfve l de importdncia por causa do numero de devotos, q ue e cad a vez maior. E 0 fundamento do cresci mento da quant idade de fieis e da devo'iiio 11 santa se deve a um tipo de comuniea'ido estreita com a divi nd ade e a'iao concre ta dessa rela'iao que se apresenta em um rito e spedfico: a promessa .
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No perfodo da Festa. a Basilica de Nazare e a Prao;a Santuario localizada em frente a igreja - se t ransforma m em locais de peregrinao;ao religiosa de todo 0 pafs e. mais intensa mente. do Para e da Regiao Norte. A maior parte das pessoas se desloca para pagamento de promessas ou para fazer pedidos. sempre em busca de resoluo;ao de problemas da vida cotidiana. Nesse caso. busca~s e nao apenas uma comu nicao;ao com a divindade. mas a afirmao;ao de um compromisso - uma especie de contra to (FERNANDES. 1982). De acordo com 0 d iscurso da Igreja . Nossa Senhora de Nazare e projetada como intercessora. isto e. mediadofa entre 0 devo to e Deus. Contudo. a efusao de ma nifes tao;oes de creno;a na santa sugere q ue na pratica os fieis projetam nela um poder milagreiro. tendo em vista que "auxilia" ou "resolve" os problemas. Assim. as grao;as alcano;adas sao devidas ao seu poder como divindade. As promessas sao aspectos da devoo;ao aos santos q ue expressam a religiosidade popular e que mui tas vezes se apresen tam nao apenas de forma diferenciada do tipo de devoo;ao adotada pela estrutura hierarquica da Igreja. ma s em contrapos io;ao a esta. A promessa e um instrumento acionado pe lo fie l na busca de soluo;ao de problemas da vida pratica e se concre tiza por meio de um acordo entre 0 fiel e a divindade. Na incapac idade e limitao;ao de realizao;ao de um fe ito ou so luo;ao de um problema. 0 devoto ape la para a inter veno;ao divina na busca de um milag re. Segundo 8randao:
o milagre popular e amostra de
efeitos simples de trocas de fidelidades entre 0 sujeito e a divindade. com a ajuda ou nlio de igreja e mediadores humanos ou sobrena turais. Ele n~o e a quebra. mas a retomada "da ordem natural das coisas" na vida concreta do fiel. da comunidade ou do mundo. por algum tempo quebrada [.. .]. (BRANDAo. 1986. p. 131)
o mo te para apelao;ao a uma divindade parte da prem issa de que o ind ivfd uo passa por uma sit uao;ao difrcil em alguma esfera da vida - econom ica, fa miliar. a morosa. de saude, de moradia. entre outras. Ao esgotar um estoque prMico e simb61ico de recursos dispon fveis para aciona r, visa ndo a reso luo;ao de um dado proble ma. 0 indivfduo apela para a santa na esperano;a de alcano;ar a grao;a desejada. POf ocasiao do C frio de Nazare. po de~ s e identificar um complexo campo semantico formado por expressoes e sign ificados ace rca das promessas. A comu nicao;ao revela uma situao;ao individua l e so litaria de relao;ao entre 0 devoto e a divindade. Destar te. os pedidos sao normalmente efetivados em situao;oes isoladas. que podem ser tanto em um mome nta de aflio;ao quanto d uran te as ofao:;oes. seja em casa ou em cu ltos na igreja. No perfodo da Festa em louvor a Nossa Senho ra de Nazare, podem-se observar diferentes formas e ocasioes de referencias a santa com pedidos de milagres: durante as procissoes, quando as pessoas elevam as maos aos ceus ou e m direo;ao a berl inda da santa e fazem seus pedidos e suas preces: ou nos momentos de vis itas a igreja ou a Prao:;a Sant udrio. onde a imagem "peregrina" e man ti da d urante 15 dias para conta to com os fie is. Outra for ma e anotar os pedidos em um papel e colocar ,111
em algum loca l na igreja. Nesse caso. 0 lugar idea l para os devotos e colocar os pedidos no nicho onde fica a imagem considerada verdadeira. no interior da Basnica de Nazare. Os devo tos que pagam promessas durante a Festa do e frio de Nazare sao conhecidos como promesseiros, e 0 cumprimento da gra'ia alcan'iada pode ser realizado nas seguintes formas: a) segurando a corda dispos ta em torno da berlinda: b) acompa nhando a procissao dura nte todo 0 trajeto: c) por meio da doa'iao de agua no percurso da procissao: ou d) parti cipando das missas ou fa zendo preces na igreja ou na Pra'ia Santuario. Acrescenta -se ainda 0 pagamento fei to pe los promesseiros que caminham desde suas cidades no interior do Para ate Be lem. As promessas realizadas por ocasiiio do efrio de Nazare revelam uma complexidade de a'i0es e, por conseguinte. uma rede de significados que qualquer tipologia fica aquem da riqueza de detalhes das experiencias. Sem querer esgotar 0 assunto. ap resento a seguir um conjunto de modos de expressoes de cren'ia no milag re. Durante o cortejo da procissao do efrio no domingo. uma mu ltidiio de fieis manifesta 0 pedido ou a gratidao 11 santa. simbolizando a gra'ia por meio de a rtefatos que trad uzem 0 sentido e 0 alcance do voto. Este exprime, sobretudo. problemas e dificuldades da vida na Terra. Senao vejamos: i) a fal ta de morad ia ou a realiza'iao do sonho da casa pr6pria sao demonstradas durante 0 cortejo portando-se um tijolo ou a maque te de uma casa. normalmente carregada na cabe'ia: ii) a conquista de algum bem que viabiliza a vida financeira. tal como taxi. comercio. emprego. formatura. emprego e tc.. ta mbem e exteriorizada com um artefato q ue represen ta a gra'ia alcan'iada: e iii) problemas ou resolu'ioes de doen'ias sao representados por meio de objetos fei tos de cera e que reproduzem a parte do corpo doente ou curada. Nesse ultimo tipo se situa 0 aspecto mais complexo e repleto de valores do simbolismo das promessas por ocasiao do e frio. Em Belem existem diversas casas destinadas 11 fabrica'iiio de velas de todo tamanho e de artefatos representativos de objetos e partes do corpo humano. As partes do corpo humano sao produzidas para usa em contexto relig ioso - especial men te a promessa - . sobretudo por ocasiao do e frio. Assim . se 0 problema e cardfaco. simboliza-se com um cora'iao de cera: se 0 problema e na perna. 0 sujeito carrega uma perna de cera durante a procissao. e assim por diante. Hoi. portanto. todas as partes do corpo humano - interior ou exterior - que podem denotar uma rela'iao de significado entre a parte do corpo afetada e sua expressiio ic6nica - uma rela'iao ent re sign ificante e significado por meio da represen ta'iao. Um aspec to a ma is a notar: pernas. bra'ios, frgado. cora'iiio. mao ou q ualquer outra parte do corpo humano s6 adquirem sentido em um campo religioso espedfico que permite. aciona e legitima rela'ioes de reciprocidade e lealdade entre d ivindade e fie is. Portanto. os significados produzem sent ido em "contexto ri t ua l". Portanto. 0 efdo de Nazare como fen6meno social e um evento de natureza religiosa que congrega uma multip lic idade de ritos e .m
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representa,oes. os quais perpassam dife rentes domfnios. nao se lim itando ao plano do sagrado. Cfrio e festa no sentido mais amplo da palavra: relaciona religiosidade com aspectos da vida pratica coti diana . ao tempo que a rticula diferentes perspectivas culturais e simb6licas. que 0 transformam em um campo de referoiincias multiplas de a,oes e s ignificados.
o boi-bumba de Parintins e 0
espetaculo da floresta
o Festiva l de Parintins Junho e sempre um mes especial e muito agitado para a popula<;ao de Parintins. Eque nos ul timos dias do mes - todos os anos - se realiza na cidade um fes ti val folcl6rico no q ual duas agremia<;oes de boisbumbas rivalizam em apresen ta<;oes durante tres dias. concorrendo ao tftulo de campea : sao os bo is Caprichoso e Garantido. Parintins e uma cidade (nome tambem do municipio) do estado do Amazonas. localizada na regiao do Baixo Amazonas e distante cerca de 400 quilome tros de Manaus. capital do estado. A cidade - conhecida como Ilha Tupinambarana - foi fundada por colonizadores no final do seculo XV III . os quais Ihe atribufram 0 nome inspirado nos fnd ios parintintins que. 11 epoca. habitavam a regiao. Por longo tempo. Parintins foi objeto de dispu ta e ntre missionarios e militares representantes da coroa portuguesa. Na verdade. a Igreja cat61ica his toricame nte teve presen<;a ma rcante na Amazonia. inicialmente pela missao de catequese dos missionarios e mais ta rde com a a<;ao de pad res e bispos ligados ao Pontifice Instituto das Missoes Evangelizadoras (Pime). Ainda hoje 0 catolicismo continua a re ligiao de maior expressao em Parintins. sendo mais representativa dessa religiosidade a festa em devo<;ao a Nossa Senhora do Carmo, padroeira do municipio. realizada poucos dias ap6s o festival dos bois-bumbas. Parintins e hoje um dos mun icipios de maior importancia econ6mica e cultural do estado do Amazonas. por causa da cria,ao de gada e da fes ta dos bois. Alias. ha um d ito popular na cidade de que, em Parintins. -quem nao cria boi brinca de bot. 0 municipio possui outras Fontes de renda. porem 0 turismo ganha cada vez mais relevancia na economia local. proporcionada principalmente pe lo festival dos bois. Isso porque. paralelamente a circula<;ao de dinheiro em hoteis. pousadas e restaurantes. outros segmentos tambem sao beneficiados. como os de costureiras. a rtesaos. ferre iros e artistas plasticos.
o boi~bumba de Parintins tem suas rafzes no que se convencionou denominar de "auto do boi" - fes ta presente em diferen tes lug ares do meio rural no Brasil (GALVAO, 1976: MARQ UES, 1996 : PRADO, 1997) e que chegou a Parintins com os migrantes nordes tinos no perfodo de explora,ao da borracha. Nas primeiras decadas do seculo XX . existiam alguns bois na cidade. os quais firmavam suas rela<;oes de identi dade com 0 ba irro a que pertenciam. Esses bois sa fam pelas ruas e as vezes se apresen tavam em alguma casa previamen te combinada, cuja exibi,ao se baseava na encena<;ao da .1 1J
morte e da ressurreio;ao do boi. Seg undo descrio;6es de estudiosos do folclore , 0 nucleo central do "auto" constitu i-se na drama ti zao;ao da historia de Mae Catirina - mu lhe r do vaqueiro Pai Francisco-. que. gravida. deseja comer a lingua de um boi. Para sati sfazer sua von tade. Pai Francisco ma ta um boi e tira a lingua para da r a mulher. A dramatiza<;ao segue uma longa seq ue ncia de atos. q ue inclui esfor<;os para ressusc itar 0 bo i. por meio das interven<;6es de um medico e de um curandeiro. As apresenta<;6es dos bo is pe las ruas da cidade terminavam em conflitos qua ndo duas ag re miao;6es se encontravam. Nessa e poca. 0 e nfrentamento comeo;ava nos versos de desafios entre os amos dos bois. envolvia 0 confronto direto entre os bois e quase sempre acabava em brigas entre brincantes e torcedores. motivadas pela nao aceita<;ao da derrota. Esta era vista como humilhao;ao. principalme nte porque o vencedor fazia versos se vangloriando e denegrindo a imagem do perdedor. 0 vexame era ainda ma ior quando. no confronto, um boi conseguia destruir a a rmao;ao ou arrancar a cabeo;a do adversario. Portanto, os conflitos domina ntes na primeira metade do sEkulo passado implicavam quest6es de honra entre os contend~res, porque o orgulho e a supe rioridade de um significavam a humilhao;ao e 0 sentimento de inferioridade do outro.
A estrutura do espetaculo Preocupado com a violencia disseminada na brincade ira do boL em 1965 um grupo de jovens ligado a Igreja catol ica organ izo u um evento no q ual os bois passaram a se apresenta r em uma arena e, com base em regras constiturdas de cinco itens a epoca. um grupo de jurados escolhia 0 vencedor. Assim nascia 0 Festival Folc16rico de Parin tins. envolvendo apenas do is personagens: os bo is-bumbas Caprichoso e Garantido. Nas decadas de 1980 e 1990. 0 fes tiva l fo i projetado pelo governo como um evento impo rtante para alava ncar 0 turismo a mazone nse. assim como uma refe rencia de identidade cultural na regiao e desta para 0 mundo. Em razao disso, o fes ti val recebeu investimentos em infraestrutura - sobretudo com a constr u<;ao de um ginasio espedfico para as apresenta<;6es, de no m inado "Bumb6dromo" -. e m d ivulga<;ao no pais e no exterior e e m patrodnio para a preparao;ao dos bois. Alias. com 0 te mpo 0 festival se tornou grandioso e um a trativo turistico. de modo que possui a tua lmente varias Fontes de financiamento do poder publico e da in iciativa privada. Atualmente. um boi gasta em torno de 2 milh6es a 3 milh6es de reais na prepara<;ao para 0 evento. Isso porque cada agremiao;ao se apresenta nas tres noites e nao pode repetir 0 visual a rt isti co, ou seja. as fan tasias. as alegorias e os adereo;os.
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fest iva l e um evento mode rno e que apresenta os e lementos proprios de um espetaculo. tais como: atores. palco e plateia. Ma is que isso, 0 Festiva l de Parintins estabeleceu no tempo um evento formado por uma mistura de diferentes moda lidades artisticas. com grande beleza visual. impulsionadas por tem,lticas regio nais e brincantes espedficos da festa .
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Os personagens da Festa sao os bois-bumbas Caprichoso e Garantido. Essas duas agremiao;6es definiram marcas de identidade reconhecidas na cidade. na reg iao e em outros lugares. de modo que um se apresenta como an tftese do outro. A prop6sito. os brincantes e os torcedores de um boi referem-se ao adversario nao pelo nome e. sim. pelo termo "contrario¡. Assim especifica-se um campo de alteridades entre os bois adve rsarios. que implica um repert6rio constitufdo de "disputa" e ¡competio;ao". A disputa se da duran te todo 0 cicio do boibumba. que normalmente comeo;a no mes de maro;o - momenta em que os bois lano;am os CDs com as musicas do festival. Disputa m-se a melhor to rcida. os patrocfnios. a simpatia e a torcida de autoridades. ce lebridades. turistas. os artistas considerados mais competentes. e ntre outros aspectos. A competio;ao. por sua vez. se da duran te 0 festival. quando os bois sao julgados po r suas exibi0;6es. sendo 0 julgamento fe ito por um corpo de jurados com base nas reg ras estabelecidas no regulamento do espetaculo. A dual idade e estabelec ida na s imbologia de iden ti ficao;ao de cad a um e na linguagem cotidiana. Como ma rca de identi dade. 0 boibumba Caprichoso utiliza as cores azul e branca. sendo q ue 0 boi e denominado "touro negro". pois a armao;ao de le e feita com tecido preto. Por sua vez. 0 boi-bumba Ga ran tido se identi fiea pelo uso das cores vermelha e bra nca e 0 boi e c ha mado de "tou ro branco¡. porque 0 tecido na cobertura da armao;ao e branco. Ha ainda outra s va riantes nessa con struo;ao de identidade, como a estrela como sfmbolo por parte do Capriehoso. enquanto 0 Garantido utiliza 0 corao;ao. A estrutura e a dinamiea de sociedades segmentarias se co ncretiza m na relao;ao dual entre os bois. em que a cidade se divide em duas me tades no perfodo do fes ti val. Tendo como lim ite a Catedra l de Nossa Senhora do Carmo. 0 lado esquerdo da cidade e definido como terri torio do Ga ran tido. enquanto 0 lado direito e de domfn io do Caprichoso. 0 campo ideologico de oposio;ao tornase ainda mais m inado q uando 0 bo i Ga ra ntido se apresen ta como o "boi do povao" e acusa 0 adversa rio de ser "bo i de elite". Essa oposio;ao ta mbe m se ma nifesta em pinturas fe itas nas calo;adas enos log radouros pu blieos. sendo que 0 centro da cidade - co ns ide rado espao;o ne utro - se pin ta normalmente com as cores verde e amarelo. como ma nifes tao;ao de brasilidade. Um aspec to q ue se tornou curiosidade pa ra os visitantes e 0 habi to loca l de pintar as casas com as cores do bo i preferido. Por isso. e comu m ver casa s com a fre nte pintada de azul ou de ver melho.
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sucesso do Festival de Parintins deve-se a alguns as pec tos: primeiro porque. a despei to da domesticao;ao da violencia. 0 confron to entre os adversarios se ma nte ve e foi tran sfo rmado em uma compet io;ao med iada pelo reg ula men to do festival. por um corpo de jurados. com 0 titulo de campeao e. conseque nte men te, 0 trofeu de vencedor; segundo. a constante experimentao;ao ar tistica iniciada em 1975 levou os artis tas e as agrem ia0;6es a definir um conte udo de base e. naturalmente. uma forma de e xpressao artistica propria pa ra os bois-bumbas de Parintins. de ta l modo q ue esse .11S
"padrao" d istingue 0 festiva l de outras grandes festas do pais. Esse conteudo diz respeito 11 Amazonia e as popula~5es da regiao (Indios e ribeirinhos). que. para os bois. formam 0 ideal de uma cultura "autenticamente" amazonica: 0 terce iro aspec to. que confere certa singularidade e prestigio nacio nal. refere-se a arte do boi-bumba e ao artis ta parin tinense. A produo;ao artistica do bo i para 0 fes tiva l e uma somat6ria de modalidades de artes: musica . artes p lasticas. a rtesanato, dan~a e arte d¡nica. As apresenta~oes dos bois na arena do Bumb6dromo. em que sobressa i 0 regionalismo amaz6n ico. sao real izadas com base nos ques itos defin idos no regula mento do fest iva l. Os q uesitos sao: Apresentador. Levantador de Toada. Boi-Bumba Evolu~ao. PortaEstandarte. Amo do Boi . Cunha Poranga. Sinhazinha da Fazenda. Ra inha do Folclore. Paje. Toada (Ietra e musica). Batucada o u Marujada (ritm istas), Tribos Ind igenas. Tuxauas. Figura Trp ica Regional. Vaqueirada. Galera (torcida organizada). Lenda Amaz6nica, Ritual, Alegoria. Coreografia e Organizao;ao. As exibi~oes sao realizadas nos tres dias do festiva l. mas existe um cicio do boi-bumba em Parintins circunscri to em um te mpo maior. o qual e circunscrito por d iversos eventos e epis6dios espedficos do periodo. E um tempo dc lico. linear e espiralado em que cada momenta envolve deter minadas ao;oes. a tores e significados. cicio come~a normalmente com 0 lano;a me nto dos discos dos bois-bumbas e inclui ainda: 0 processo de con tra ta~ao dos a rt istas. os bailes que ma rcam 0 inicio dos ensaios de cada ag re miao;ao, a p rod u ~ao art istica dos bois. 0 periodo de treinamento de brincantes e personagens mais impo rta ntes nas apresenta~6e s do festival. a festa de re cep~ao aos visitantes. as exib io;oes nos tres dias do festival. a d i vulga~ao do vencedor e a come morao;ao. Desse modo. a musica (denominada "toada"'). com suas le tras e melod ias. da inicio ao "tempo da fe sta" e aos po ucos vai constit uindo amb iente e temporalidade apropriados a construo;ao do fes ti va l.
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A toada e originaria do periodo da "brincadeira de rua" e tornouse uma das modalidades artisticas ma is importantes do espetaculo parin tinense. No passado. a toada era constituida de versos recitados pelo amo do boi nos momentos da apresentao;ao. Edessa e poca que se originaram expressoes ainda em vigor e m Parintins, como "enve rsar" ou "tirar ve rs o". 0 sujeito que sabia faze r bons versos e recita-Ios em voz alta e potente era conhecido como um bo m versador. A toada acompanhou as transformao;oes ocorr idas na estrutura do fes tiva l. em urn processo de modernizao;ao e regionalizao;ao do mesmo. Do ponto de vista da o rganizao;ao e da realizao;ao. 0 festival to rnou-se urn espetaculo de publico amp liado. com a defi n i ~ao de um local apropriado as exibio;6es ~ 0 Bumb6dromo -. inaugurado em 1988 . e o crescimento da necessidade de recu rsos financeiros para viab iliza10. 0 que implicou a adoo;ao de diversos mecanismos de captao;ao de patrodnio para a produo;ao artistica dos bois. bem como para a organiz a~ao do fes tival. A musica. entao. refl etiu uma nova estrutura de realiza~ao . na qual as apresentao;oes fora m moldadas a parti r de urn .11 6
conjun to de quesitos (denominados "itens"). Dessa forma. as toadas passaram a abordar em suas letras as tematicas dos quesitos defi nidos no regulamento. seja m perso nagens - C un ha Po ranga. S inhazinha da Faze nda e Paje - o u quesi tos que tratam de te mas para encenao;ao. como "Lenda Amazonica". "Figura Tfp ica Reg ional" e "Ritual". Nesse particular. a musica do boi-bumba. ao aborda r te mas e conteudos que propunha m os contornos do reg ionalismo arnazonico. tornou-se uma especie de roteiro para as apresentao;6es na arena do Bumb6dromo. Em outras palavras. te maticas e conteudos das alegorias. bem como da produ,ao visua l e ce nica de todos os demais quesitos. sao antecipados nas letras das toadas.
Espetaculo, performance e identidade
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Festi val de Parintins e um espetaculo grandioso e de ra ra beleza . As apresen tao;6es dos boi s-bumbas na arena demo ns tram a ca pacidade das diretorias das duas agremia<;6es na negocia,ao de recursos financ e iros e na organiza<;ao do eve nto, mas evidenciam. sobretudo, a criatividade dos ar tistas de Parintins - reconhec idos hoje pe lo traba lho que desenvolvem nas escolas de sa mba de vtirios es tados. principa lme nte Rio de Jane iro e Sao Paulo. Os art istas plasticos e a rtesaos da cidade sao responsaveis por tra nsforma r as letras das toadas. infor mao;6es sobre aspectos hist6rico-culturais de tribos indrgenas da regiao e de popu la,6es ribeirinhas, em alegorias, fa ntasias e adereo;os. As alego rias formam cena rios gigantescos d urante as apresenta,oe s e, junta mente com efe itos de luz e sons. "criam" na are na uma Amazonia espetacular. para desl umbre e deleite da plateia. A versa tilidade do artista parintinense esta nao s6 em sua capacidade de cria,ao, transfo rma ndo imagens da natu re za regional e m centirios. mas sobremaneira e m incor pora r no espetaculo a tecn ica de movime nto nas alegorias. Nas apresentao;6es dos bois-bumbas. as alegorias de anima is e de paisagens sao in se ridas no conte xto temtitico das apresenta<;6es e ganha m maior dinam ismo a pa rt ir dos movimentos e do cenario constiturdo duran te as exibi<;6es. A cobra-grande. por exemp lo. q ue e um animal mitologico na re giao e sempre recor re nte no festival. na arena ga nha efeitos visuais no contexto da performance: se mexe. abre a "boca" e so lta fogos pelas "narina s" em um cena rio ambie ntado. em q ue 0 g inasio fica esc uro. rea lo;ado por luzes. cores e imagens das alegorias. No Festival de Parintins, os te mas abo rdados na a rena sao encenados adquirindo. ao mesmo te mpo. uma forma teatral e cinematografica. Para tan to. concorre m para a boa a prese nta<;ao a forma<;ao de ce na rios. estruturados com alego rias que prod uzem for mas - realo;ados com musica. efeitos de luz. sons de a nimais e de seres re presentados - e o desempenho de dois personage ns: 0 apresen tador e 0 narrador. Esses componentes obrigatorios na apresentao;ao do boi na arena singularizam 0 Festival de Parintins e co ntribue m para a performa nce dura nte a e xibi<;ao. 0 apresentador comanda a apresentao;ao do boi na are na e promove a interao;ao entre palco e plateia - fa z a torcida .117
pilrticipilr do espetaculo por meio de movimentos coreogrdficos e da man ipulao;ao de adereo;os. 0 narmdor. por sua vez. informil os espectildores 0 que esta sendo encenado e apresenta detillhes sobre o contex to sociocu ltural em que 0 boi se inspirou para il exibio;ao de dete rminadas cenas e quesitos. No con teudo das apresentilo;oes perpaSSil uma concepo;ao na ti vil de folclore, ilncorilda no regionil lismo a mazonico. ou sejil. busca-se mostrar a plilteia do festival um conjunto de imagens e discursos que formariilm il ide ia-for<;il de umil SUpOStil iden ti dilde amilzonica. E dessil formil que paisagens mostradils como"se fossem" verdildeirils fotogrilfiils dil Amazoniil. jun ta mente com imagens e informilo;oes sobre ves tu.:'irios. modos de vidil. formas d e trabil lho. concepo;oes de tempo e narra ti vilS mfticas de pOpulilo;oes indfgenas e ribeirinhas, inspiram e forma tam essa concep<;ao nativa de regionalismo e de fo lclore. Trata-se. nil verdilde. de umil visao me taforicil e. portilnto, simbolica da Amazonia. ilfinal 0 sfmbolo nao se confunde com il rea lidilde: e umil abs tra<;ao que permite 0 jogo discursivo entre significilnte e significildo. mas tambem a liberdade dil inveno;ao e do sonho nil construo;ao de significildos (DURAND. 1995; SPERBER 1974: TURNER 1994). Assim, mesmo que existam artefil tos e informa<;oes extrilfdils dil "rea lidilde". as encena<;oes no festival a mpliam. illargam. inventam e rei nven tam a regiao. produzindo umil representa<;ao ale gorica e fantastica dil Amilzon iil. Essa e a fun<;ao do espetaculo.
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contexto de Parintins e um locus de ex perienciils apropriildils pilril se pensar questoes sobre identi dilde nil sociedilde con temporanea. especial mente a partir do ideal d e singu laridilde e da rela<;ao entre 10Cili e globill. re g iao e na<;ao. entre outras dual idildes. "Identidade" tem sido. ao mesmo tempo. uma ex pressao e umil ciltegoria socio logica recorrentes nos d iilS d e hoje. em um mundo d e re ivindicilo;ao por autenticidilde e por reconhec imento (TAYLOR 2011) - na eril dil globillizilo;ao -. onde as referencias historicils de nilo;ao, etn iil, lugar e de sUjeito historico parecem diluir e amillgilmar com mu ltiplilS experienciils (CASTEL & GEERTZ, 2001). Nesse sentido, totalidades e categorias que expressilvam ideias absolutas perdem sentido. no que Geertz (2001. p. 193) chama de "desmontilge m" dos conceitos to talizantes. Mas certamente il cultura nao e um fen6meno em exti n<;ao. como bem salientou Sahlins (2009a e 2009b) e. sim. em transforma<;ao e rearticulilo;ao de suas praticils e. portiln to, necess ita d e novas formils de entendimento. Como ilfirma Geertz: "Para que 0 geral POSSil ser ilpreendido e para que se descubram novas unidades. parece necessario ilpreende-Io nao d iretame n te. de uma s6 vez. mas atraves de exemplos. diferen<;as, varia<;6es. particularidildes - aos pouquinhos. caso il CilSO. Num mundo estilha<;ado. devemos examinaf os estJ,/ha<;os" (GEERTZ. 2001. p. 193 - grifo meu).
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Festi val de Parintins e il propria cidade sao cilpturados e red imensionados em um contexto de mu lti plas re lao;oes e de cons tru<;ao de id entidades. que eSCilpam ao campo de for<;a essencialistil defin ido entre 0 "Eu" e 0 "Outro". Essil d ualidilde
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aparece no contexto da fe sta e da relao;ao d e Parintins com diversas instancias d e relao;6es. e m mul ti plas formas e conteudos. embora o que sobressaia seja 0 discurso dominante de formu lao;ao d e uma identidade re g iona l amazonica. Como de monst rei em ou tro traba lho (SILVA 2007). as relao;oes d uais emergem em mu lti plas facetas: as relao;6es entre contrarios - Caprichoso e Garantido -. azul e vermelho. Parintins e Ma na us, Parintins e Amazo nia. os bois e o governo, 0 Fe stival d e Parintins e 0 Carnaval carioca. os bois e suas fon tes de inspirao;ao - os seus outros, sobre t udo indios e caboclos -, os moradores de Parintins e os visitan tes - celebridades e turistas - , 0 discurso d e identidade versus a visao ex6tica q ue se constr6i sobre Parintins. entre outras possibilidades de um campo semantico multifacetado e d iverso. Esse ca leidosc6pio de iden ti dades nos revela um conjunto de valo res em constan te processo de negociao;ao. envo lvendo di fe rentes atores e realidades.
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Jose Maria da Silva Doutar em ilntropologiil pe lil Universidilcle de Brilsiliil, professor ilssociildo dil Unjversidilde Federill do Amapa, auto, do livro 0 Espetaculo do BoiBumba (Ed. Unive,sidilde Cilt6lrcil de Goias - UCG).
E-mail : Jms.lvilGlunifilp .br
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FESTA: A FORMA PARAALEM , DOCONTEUDO Susana Gastal e Liliane S. Guterres
Introduliao
o fes tejar. presente em diferentes culturas e em diferentes momen tos hist6ricos. mostra que a Festa esta em sintonia d ire ta com as ques toes da sociedade que a produz. De modo mais amplo. as festas trad icionais se dariam em maior e intima inter-rela,ao com 0 territ6rio e com 0 divino. log icas que serao subvertidas pela modern idade. ante a presen'iil da maquina e da fabrica. Quante dO festejar no momento contemporaneo. talvez nao se possam separar as reAex6es sobre 0 mesmo sem considerar as teoriza,oes sobre identidade e etn icidade como possfveis elementos para compreender as novas performances das festas presentes nas comunidades. mui tas vezes ainda tidas e apresentadas como "tradicionais". Para maior compreensiio do percurso de constru~iio de sentido sobre a festa. busca¡se como suporte para reflexiio te6rica um breve resgate hist6rico das festas realizadas no Rio Grande SuI. niio pretendendo com 0 mesmo uma generaliza~iio. mas 0 des taque de pontos que levem ao aprofundar do debate. Pontuar-se-a com mais vagar a Festa da Uva. cuja primeira edi~iio ocorreu em Caxias do SuI. em 1931. sendo hoje. talvez. a mais antiga entre as vigentes no pars: a Exposi ~iio do Centenario Farroupilha. realizada em Porto Alegre. em 1935. pelas ma rcas que consagrou e que vieram a influenciar todas as demais: as Oktoberfest de Santa Cruz do Sui e Igrejinha: e 0 Festival de Folclore de Nova Petr6polis. para mostrar que sua enfase etnica poderia dema rcar questoes igualmente discu tidas em outros ambitos academicos.
1 0, Centro, de
Trddi~.;(
GilUdla (CTG,). com sua, d~, e ,ndurnentar i color>d~, "",eeflo "P"""" ap6' 0' a no. 1940. a p.orlr de Porto Aie<J,...
, . As fe stas no Rio Grande do Sui
o que hoje se cons titui como estado do Rio Grande do Sui terel uma agrega,ao tardia 00 Brasil. 0 que se consolidara ap enas no seculo XIX e, portanto, ja nu m padrao de modern idade. Na segunda metade do seculo XI X enos tn?s primeiras decadas do seculo XX. 0 local vive nciara proce ssos econ6micos, sociais e politicos denagrados com 0 estabe lecimento no regiao de um g rande numero de imigrante s europeus, que. en tre outros. torna rao mul ticultural uma p re sen,a ate en tao de predominancia iberica. Em termos econ6micos, os recem-c hegados introduzem uma agricul tura de produ,ao diversificada e m pequenos lotes de terra. baseada na for,a de trabalho do grupo famil iar. e implantam industrias artesanais. Esse siste ma econ6mico ganha for,a , ace ntua ndo o contraste com a e conomia tradicional da regiao, baseada ate entao no latifundio e no pecuaria. Se
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fe steja r no economia da pecuaria era uma Festa masculina , as-
sociada ao cicio produtivo do gada (doma. marcar;ao. abate. tosqu ia. leil6es e remates .. .)' ou. nas poucas cidades, aos ciclos re ligiosos. os imigra ntes tra zem as festas, religiosas e lei gas, associa das a danr;a. jogos e gastronomia. A vindima. por e xemplo. sera come morada desde 0 fim do seculo XIX. "Por volta de 1900. e m Caxias [do Sui]. o rn amentavam-se os a nima is, at re lados a ca rretas. carregadas com pipas [...] associados a vitivinicultura" (ERBES. 2000. p. 19)' 0 mesmo se repetia em mun icfpios vi zinhos. o nde as festas eram atividades locais. que nao descuidavam 0 lado religioso: "Antes de ce lebra r. era preciso agradece r a Deus pelas dadivas. Rezavam e bebiam com fervor" (ERBES, 2000. p. 19). Mes mo que incipie nte 00 Iongo do seculo XIX. a atividade ind ustria l logo leva 11 realizar;ao de feiras. A primeira Exposi,ao Comercial e Indus trial fo i re ali zada em Porto Alegre em 1875, agregando uma se ssao de a rtes e foto grafias. Na mesma cidade. e m 1881 rea li za -se a Exposir;iio Brasileiro-Alema e, em 1901. a Gra nde Exposir;ao Es tadual. qu e, en tre seus pavilh6es, teve um abriga ndo "conce rtos , re staurantes, Fonte s luminosas. jardins. vive iros de ave s. grutas decorativa. etc." ( MACHADO. 1990, p. 89). A pa rt ir da decada de 1930, fora m comu ns as exposir;6es ag rfcolas , rurais , av fcolas. pe cuarias e indus triais em diversas cidades do Rio Grande do SuI. 0 destaque. entreta nto. pela sua posterior longevidade, acon tece com a reali zar;iio da primeira Festa do Uva em Caxias do S uI. em 1931. e da Exposir;ao do Centenario Farroupil ha. mon tada em Porto Alegre, em 1935, pe la sua dimensao. Em a mbos, aparecem a busca pela pro fission aliza~iio, 0 o lhar voltado pa ra 0 turismo e. em e spe cial. fato de ambas coloca rem-se como mo de lo a ser imitado.
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A Festa da Uva segue uma tradir;iio na cidade. marcada por festas e feiras. A p rimeira feira. a Exposir;iio Indus trial. te ria acontecido em 188l. "A uva. 0 vinho e a graspa ja estavam la. e mbora d ividissem espar;o com mil ho. trigo e produ tos desenvolv idos por pequenas empre sas, como e nxadas. arados e foices utilizados pelos agricultores" (ERBES. 2000. p. 19). Depois. ate 1925. ano qu e ma rcou 0 cinquentenario da imigrar;ao italiana no local. houve dez feiras: com cunho de exposi~iio. seu obje tivo era expor os fru tos colhidos do terra para a comunidade. para 0 me rcado e para as au toridades. Mas. seg undo Schleder (2009). serio apenas em
1931 que. pela primeira vez. uma exposi~ao de produtos agr rcolas era elevada a categoria de Festa. com a primeira Festa da Uva de Caxias do SuI.
1.1 Festa da Uva A primeira Festa da Uva. em 1931 . acontece no salao de um clube local. numa Caxias do Sui que entao contava com parcos 9 mil habitantes. Agricultores expuseram sua produ~ao de uvas. mas 0 objetivo principal da mos tra era divulgar outras variedades vinrferas. para incentivar os produtores a troca r a trad icional Isabel por uvas mais nobres. que permitissem a produ~ao de um vinho de melhor qualidade (ERBES. 2000). seu sucesso motivou a rea l iza~ao de uma nova Festa no ana seguinte. desta vez ocupando a pra<;a central da cidade. e que contou com um desfile de carretas. 0 desfile. que se mantem ate hoje. se consagraria como "corso aleg6rico", Em 1933. foi agregada outra at ividade. que tambem se tomaria tradi<;ao: a escolha da rainha da Festa. As edi<;6es seguintes repet iram 0 sucesso,
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Ribeiro (2002) sistematiza as edi<;6es da Festa da Uva em quatro momentos. definindo 0 primeiro com as edi~6es da decada de 1930, quando a comunidade e ra ativa na sua organiza<;ao. 0 segundo momenta abrangeria a decada de 1950 e meados dos anos 1960. qu ando houve a retomada da Festa. interrompida em decorrencia da Segunda Guerra Mundial. Sao edi~6es que dao proje<;ao nacional ao evento.
o terceiro momenta e staria em 1975. com a edi~ao comemorativa ao centenario da imigra<;ao. qua ndo tambem emerge 0 "connito entre a visao tradicional de uma Festa da comunidade e a nova proposta de que ela seja um empreendimento centrado em interesses de ordem economica. crise que se prolongaria por quase vinte anos. num progressivo processo de rejei<;ao da Festa da Uva pela comunidade" (R IBEIRO. 2002 , p. 22-23). Destaque-se que. nesse momento. a cidade passava por forte processo de industria liza<;ao. incent ivada pelo reg ime militar. Ribeiro destaca nesse momen ta a constitui<;ao da empresa Festa da Uva Turismo e Empreendimentos S.A. e sua instala<;ao em espa<;o pr6prio. em um parque de 40 hectares, onde do is pavilh6es passariam a abrigar o evento. Em 1978. e introduzido nesse parque um casario de madeira. replica da cidade em 1880. sob a justificativa de atender os tu ristas que frequentavam a Festa. Por fim. Ribeiro reg istra um quarto momento. entre 1994 e 1996. com a retomada da Festa pela comunidade e. teoricamente. "a retomada tambem de se u papel de representa<;ao educativa da pr6pria identidade. dentro de novas circunstancias" (idem. ibidem} Em 1993. fora institurda a Comissao Comunitaria da Festa da Uva. composta de representantes do poder publico e de entidades privadas. para responsabilizar-se por sua real izao;ao. mesmo em presen<;a da pessoa jurrdica, a empresa Festa da Uva. Nessa nova 16gica foram introduzidas atividades como Tirando 0 P6. exposio;ao de objetos de fam~ia: a G incana Cultural, com tarefas associadas a hist6ria local; e a O limprada Colonial. com provas como a rremesso de queijo e corrida com carrinhos de mao, Em 1996. a escola de samba Unidos de Vila Isabel. do Rio de Janeiro. homenageou os 120 anos da imi.1l:S
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Regularnento Gera l 10 1 produz,do e edltadc pelo Com issar ado Ge,a l Gue coo(denou 0 evento. em 193~.
grao;ao italiana e 0 Rio Grande do Sui no seu desfile no Carnaval carioca, onde as soberanas da Festa da Uva desfilara m como destaq ue. Ao lange de 28 ed io;6es, ate 2012. a Fe ira Agroindustrial. realizada como parte dos fe stejos, expandiu-se. e m de trimento da p reseno;a de manifestao;6es da cultura popular local. gerando ressent imentos na comun idade; entretanto. a participao;ao da comunidade e a questao etn ica nao podem ser desconsideradas: "Enqua nto na decada de 30 a populao;iio contava com uma consideravel parce la de descendentes de ita lianos, atualmente e marcada por multiplos perfis etnicos¡ (ZOTTIS. 2003, p. 129). Sch le der (2009. p. 47) registra que. "apesa r d e a comissao comun itaria te nta r agregar outros olhares 11 festa, e inegavel que ainda existe 0 forta lecimento d e um discurso de uma italianida de que supostame nte p revaleceria na populao;ao caxiense". nao po r acaso um imag inario apropriado pelo tur ismo para marcar os produtos locais. Na mesma li nha, as crlticas que, em 2002, envolveram uma posslvel contrata<;:ao do carnava le sco Joiiosinho Trinta para. a exemplo do que fi zera no Natal Luz. e m Gramado. reorganizar 0 corso a leg6rico a legayam que 0 mesmo descaracte ri za ria uma fe sta que se ria. an tes. marcada "pela simplicidade e alegria de um povo vencedor" (SCHLEDER. 2009, p. 51).
1.2 ExposiC;.lio do Centenario Farroupilha
A Exposio;iio do Centenario Farroupil ha foi inaugurada em Porto Aleg re. em 20 de setembro de 1935. pelo entao presidente da Republica, Getulio Vargas. A exemplo das exposio;6es mundiais internacionais, teve como objetivo apresentar os avan<;:o s do estado, mostrando que "0 Rio G rande do Sui de hoje, na e sfera fecunda de seu trabalho constru tivo, e bem d igno do Rio Grande de hon tem [sic], na a"ao epica dos se us her6is", como ficou regis trado no seu Regulamento GeraP. A exposi"ao. mais p ropriamen te. incluiu 0 Pavilhao da Agricultura (804 exposito res). 0 Pavilhao Industrial (905 expositore s), 0 Pavilhao das Ind us trias Estrangeiras. envolvendo 137 expo sito res, e 0 Pavilhiio Cultura l. Varios estados brasile iros part iciparam com pavil h6es p ro prios. Outras atrao;6es fo ra m 0 cassino. q ue promovia bailes e outras festas aristocn'iticas. e uma churrascaria. que teria sido a primeira do estado (GASTAL et aI.2011b). Com objetivos explfcitos de que Porto Alegre se tornasse "a Meca dos forasteiros de toda parte do Continente" (MACHADO. 1990. p. 11 4). ao seu final recebera mais de 1 mil hao de visi ta ntes. Esse s visitantes eram receb idos no Port ico Mo numental. que abria a e xposio;ao, onde funcionou. entre outros servi"os, a central de atendimento aos visitantes. A magn itude do evento pode ser medida pela sua il uminao;iio: a li estavam 28.289 lampadas. num pe rfodo em que toda a Porto Alegre contaria com 4.482 lii mpadas instaladas (POSSAMAI. 2007). Com objetivos econ6micos e politicos. pretendia-se "desfazer a imagem de que o RS teria uma vo cao;ao predominantemente agrfcola e pastoril. 0 q ue significaria. alem da valoriza<;:ao da capacidade industrial do Estado. uma ampliao;ao de me rcados" (idem. p. 246) . .1 L4
1.3 De 1950 a 1970: a oficializa'5 iio da festa Colocadas a Festa da Uva e a Exposio;ao do Centenilrio Farroupilha como paradigmMicas de um campo da festa que se organizava no Rio Grande do SuI. em 1950. quando da criao;ao do Servio;o Estadual de Turismo (Setur). a prom~iio de eventos e festas tera destaque na estrutura desse orgiio publico. 0 Plano de Turismo entao elaborado tinha entre seus objetivos "organizar. anua lme nte, 0 Calendario Tu ristico do Rio Grande do SuI. ap roveitando as principais manifesta«6es de ordem cultura l. art istica, fo lcl6rica. econ6mica e outras que ofere«am real partido turistico" (HOHLFELDT e t al. 2008. p. 25). Nas realizao;6es do Setur, destacam-se as festividades que comeo;aram a se tornar tradiciona is no estado. como a 2~ Festa das Hortensias. em Gramado, em 1961: e 0 1~ Festival da Serra, em Canela, em 1962. Em 1963, surg iram a Festa do Pessego. na cidade de Pelotas: a l' Festa do Milho. em Guapon§: a Festa das Rosas. em Sapiranga. assim como. em Novo Hamburgo. a Fe sta Nacional do Calo;ado (Fenac) (idem). A part ir da decada de 1970. no mesmo estado. em concomitiincia a cria«ao do S istema Estadual de Turismo, houve a formu lao;iio de politicas publicas de incentivo a realizao;ao de fes tas nos municfpios. Na epoca. a maioria de le s sofria com a fa lta de estruturas insta ladas para atender a possiveis de ma ndas e fluxos de tur ismo que come«avam. t imidamenteo a movi me ntar as economias Iocais. Para viabili zar 0 turismo no local. tais festas - que se organizavam a partir de um tema - foram p raticadas em diversas comunidades e contavam com a mon tagem de instalao;6es provisorias para comercializao;ao de alime ntos e prilticas de laze r durante os dias de sua realizao;ao, 0 que permitia que os festejos fossem desfrutados nao so pelos mu nicipes. mas tambem pelos visitantes. Mui tas dessas festas beneficiaram-se do legado re cebido das comunidades coloniais alemas e italianas, principa is fluxos de imig ran tes q ue se instalaram no Sui do Brasil ao lange do seculo X IX. que cult ivavam a fe sta como forma de celebrar. comemorar e divert ir (GASTAL et al. 2011 a). Alem disso. urn decreto estadua l de 1973 instituiu 0 Bienio da Colonizao;iio e Imig rao;iio. para que. durante dois anos. fossem ince ntivados estudos e promovidas fes tividades. exposio;6es e concursos. com 0 objetivo de apresentar as "etnias como formas represen tativas do multiculturalismo gaucho" (HOHLFELDT & VALLES. 2008. p. 30). Destacam-se a comemora<;ilo. em 1974. do Sesquicentenario da Imigrao;ao Alema e. em 1975. a do Centenario da Imigrao;ao Ita liana ao Rio Grande do Sui como eventos maiores.
1.4 P6s-anos 1970 As festas de vies etnico acentuam-se nas deca das fina is do seculo XX. tendo como exemplos parad igmaticos as Oktoberfest de Igrejinha e Santa Cruz do Sui e 0 Festival de Folclore de Nova Petr6polis.
o mais antigo deles e 0
Fe stival de Folclore. rea lizado anualmente desde 1973. atraindo g ru pos de dano;a de diversos paises. A organizat.;ao e da prefeitura local e da Associat.;iio dos Grupos de Dant.;as Folcloricas Alemas de Nova Petropolis. e tem 0 do a poio da Organizao;ao Inte rn acional de Folclore e Artes Populares. 0 objetivo e incentiva r 0 interciim-
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bio artfstico-cultural entre g rupos folcl6ricos e "valorizar as tradi'i0es e os costume s herd ados dos antepassados. numa mescla das mais variadas ma nifesta'i0es artfsticas" (SCHOMMER & GUTERRES, 2012. p. 4), como a da n'ia. 0 artesanato. os brinquedos tradicionais e a gastronomia germiinica. Em 2011 , 0 festival atraiu 46 m il participantes. mais de duas vezes a popula'iao da cidade. As at ividades mais propriame nte artfsticas sao complementadas pelo Desfile de Integra'iao do Festival. quando todos os participantes desfila m pela avenida principal da cidade. Para a lem do festival. ha no municipio. funcionando regula rmente. oito G rupos de Dan'ias Folcl6ricas Alemas (adultos): dez G rupos de Dan'ias Folc16ricas Ale mas (infantis) e um Grupo de Dan'ia Folcl6rica Alema da Melhor Idade. Nova Petr6polis nasceu da prese n'ia de contingentes mig ratorios ali estabelecidos a partir de 1858. em que estavam "Pomeranos. Saxoes. Renanos e Boemios do Imperio Austro-Hu ngaro. Alem destes. alguns franceses das regioe s limftrofes franco-germa nicos. holandeses. belgas, poloneses, russos ate irlandeses e escocese s que haviam fugido dos Estados Unidos devido a Guerra da Sucessao [sic)"'. Como se obse rva. trata-se de origens diversificadas. levando a que, em mu itos casos. nem 0 idioma Fosse comum. 0 isolamento local. indepe nden temente das questoes economicas decorren tes. que nao se rao aqui abordadas, incen tivou 0 assodativismo para a solu'iao de problemas comuns ao gru po. ate mesmo em termos sociais e culturais. estes buscando re produzir 0 "mundo cultural dos mo ldes da pMria de origem" (SC HOMMER & GUTERRES. 2012). Essa germanidade tem sido apropriada para fins de turismo. As duas Oktoberfest. embora com perfis um pouco di ferentes. re portam a mesma germanidade. Os imigra ntes da etnia vinda do Reno e da Silesia teriam chegado a Igrejinha em 1826 e a Santa Cruz do SuI. vindos de Hunsruck. em 1849.
A Festa de Santa Cruz surgiu e m 1984, como desdobramento da Festa do Fumo. criada em 1966. mas com poucas edi~6es poste rio res. com o objetivo de "recu perar a cultura, os usos e os costumes herdados do s colonizado res·'. por me io de mus ica. gas trono mia. indumentaria. arquitetura e fo rmas de entretenimento, e nte nd endo-s e ta is tradi~6e s como 0
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povo germanico. seus costume s e representa~oes artfs ti cas. [ ... J A pr6 pria O ktoberfest e considerada uma impo rtante trad i ~iio germanica. pois nasceu ins pirada na Festa da cerveja. de Mun ique. na A lemanha. que deu seus primei ros passos em 12 de oU lubro de 1810 no casamento d o Re i Luis I com a Princesa Tereza da Sax6nia'.
Em anos subsequentes, 0 Encontro Estadual de Idosos ag rega-se a festa, e esta se internacionaliza, seg undo os organizadores. pela preseno;a de visitantes vindos do Mercosul e mesmo da Alemanha. Nos anos 2000, a germanidade e refor~ada na prog ra ma~ao, com a real iza<;ao de culto em alemilo e do Festiva l de Bandas. leva ndo a que os organizadores se autointitulem como "a maior Festa ale ma do Rio Gra nde do Sur", porque atrairia "anualmente m ilhares de turistas para a cidade gera ndo cente nas de empregos diretos e indiretos e mobilizando. assim. toda a economia da regiilo"'. A Oktoberfest de Igrejinha surgiu em 1988 e tam bem des taca, como importante e m sua organ i za~ao. a participa<;ilo da comunidade. 0 site" do evento lis ta. a le m da direto ria. 0 nome de 71 pessoas distribu ldas nas comiss6es·. leva ndo a q ue se au to intitule como "a maior Festa comunitar ia do Brasil"'o. Seu objetivo nilo e di ferente do da Oktoberfest de Santa Cruz do Sui: cultua r a ge rmanidade. 0 que seria "posslve l sob dive rsos aspe ctos. porem a in nuencia ge rmilnica e mais vis lvel na fe. na uniao e na vontade de trabalhar tao p rese nte s em nosso povo"".
Com l SO<l' de Sa ,. do Chopp e R.. I"g"'¥lt' Fln an.;-as, Comu",c~30 .. Market·ng, de Rela~"'", Sonal$. de Soe,a l, z<><;.\o, d.. MelD Amb",nte, de: Melhor Idade, de Cultu ra .. P~to l m6mo. Inf,aewutu,a E~'g,a, de: o.,."lil.. , de Decora~~o, de Saude de S.. gwan~ ... T,~nllto, de Porta"a , d.. S""wagen , de Chopp em Met'o, de Ga,9
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Em comum. as duas fes tas nao abrem mao de shows com nomes naciona is na sua programao;ao principal: ambas possuem um parque proprio para rea lizao;ao e uma pessoa jurldica, na forma de associao;ao. para organizao;ao. Outro dado em comum foi 0 acelerado crescimento po pulacional de ambas a partir dos anos 1970. Igrejinha passa de 7.062 habitantes para 17.816 em 1990. pop ulao;ao esta atrafda pela implantao;ao da industr ia calo;adista no municfpio l1. Santa Cruz vai de 86.787 para 117.773 hab itantes no mesmo perlodo. ainda que os anos 1980 sejam ma rcados pela crise da inflao;ao acelerada e pelos pianos econ6micos e atinjam a industria fumicul tora. Reporte-se que, como colocado. a Festa do Fumo rea li zada nos anos 1960 nao prosperou. talvez em vista das polemicas sociais que 0 cigarro comeo;ava a gerar na epoca. Nos dois casos. e posslvel supor que a realizao;ao das festas. e se u apelo ao reforo;o da germanidade. se de como reao;ao ao posslvel a pagamen to dessa etnia diante do crescimento e da dive rsificao;ao da populao;ao local".
2. A constituiliao do campo e suas vertentes Analisando 0 percurso historico das festas no Rio Grande do Su i. percebe-se um perfil q ue sinaliza outras influencias, que nao p ropriamen te 0 das festas tra dicionais. mesmo que seu te ma e steja ligado a express5es locais culturais e econ6micas. Percebe-se que. mesmo nos anos 1930, se por um lado as express5es locais sao apropriadas como '¡tema". em fes tas em que 0 vies economico sobrepuja 0 cu ltural. por outro. nas decadas finais do seculo XX. se apresenta um re foro;o do legado etnico da cultura imigrante europeia do sec ulo XIX. apropriada como "nossas origens". Tal fato se da ria menos como um contraponto 3 g lobaliza<;ao e mais como instrumento de manute no;ao de uma hege monia simb61ica. em localidades onde os eurodescendentes ja nao se apresentariam como maioria nume rica ou mesmo econ6mica. Nao por acaso. as fes tas locais como as Oktoberfest nascem no momenta de transforma<;oes e con6micas que levam ao crescimento populacional de Ig rejinha e de Santa Cruz do Sui, fazendo com que aquilo que. ate os anos 1970, seria motive de constra ngimen to. como sotaque. trajes tfpicos e pratos coloniais. se torne motive de orgulho local. Para alem do tema orientando 0 conteudo. destacam-se as duas questoes formais: por um lado. a tradi<;ao das feiras mundiais, introduzida no Rio Grande do Sui pe la Exposi<;ao do Centenario Farrou pilha. cuja pro posta se filiava a d ivulgao;ao e a comercializa <;ao de produtos da ind us tria. na 16gica do entretenimento e do acontecimento (GASTAL & MACHAVELLI. 2011a). Tallogica le va. entre outros. a que a fes ta tenha quatro vezes 0 numero de Idmpadas que havia na Porto Alegre de entao. Outra vertente a considerar e 0 Carnaval. A visibilidade midiatica que recebe m os desfiles das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro. a partir da decada de 1970, nao poderia deixar de influencia r as festas locais do Rio Grande do Sui. visto que todas integram des file s pe las ruas 3 sua programa<;ao. Sem aprofundar a discussao em torno do Carnaval no amb ito dessa argumen ta<;do, constata-se que seu crescimento tem levado a pro fissiona liza<;ao do se tor (M IGUEZ. 2009), q ue extrapola o Rio de Janeiro. 0 Carnaval acumula know-howe cria um padrdo e s-
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tetico q ue se impora e m d ife rente s cidades brasileiras: a "afirmao;;iio de novas linguagens estabe lece u patamare s ineditos para organizao;;iio da Fe sta urba na. e stimulados pelo p oder p ub lico [para j to rn a r mais atraentes os esp ao;;os a ela destinados" (GUI MARAES. 2009. p. 85). No a mbito do Carnaval do Rio de Janeiro.
l~ Confor~
Ze CarlOl", 'll emrev"la ~, ;outor.. , m23,el ,1011 ,
15 D"pOl vel en http: zecal 10la2 ,blog'pol com' Ace>w em, 16j<'" 2012 ,
a forma do d esfile completou -se na decada de 1950. Data de ent!lo a de fin i ~ilo d o perfil atual e ea racterrstico cuja base e a escolha anual d e um "tema". logo desenvolvido como "enredo". A trans forma<;ilo do enred o nas linguagens p l3stiea e visua l das fantas ias e alego rias, e ritmieo-musical d o samb<!-enredo. eomanda a con fee<;!lo do d esfile,
(CAVALCANTI2002, p. 49) Exemplo signifieativo dessa situao;;ao de influencia no Sui se da via Na tal Luz. de Gramado. Te ndo como tema a tradio;;ao germa niea de eome morao;;iio d a data, q ue inclui a forte prese no;;a da Figu ra do Pa pai Noel. eom seu tren6 e suas renas. e da arvore de Nata l. todos associ ados a luzes e brilhos. ganhou forte apelo popular quando organizado eomo evento. Em 2002. 0 carnavalesco Joaosin ho Trinta foi contratado pelos ges tores Iocais para qualificar 0 even to. Ele in tro duz iu. entre outros. 0 des file pelas ruas e sua organizao;;ao a partir do traba lho coletivo nos "barracoe s", onde os carros aleg6rico s sao produzidos com clara orientao;;ao estetica carn avale sca, A preseno;;a de Joaosin ho Trinta em G ramado. me smo q ue na oportunidade e le tenha trazido sua equipe, fo i compleme ntada com a contratao;;ao de alguns carnavale scos de Porto Aleg re", A ap roximao;;ao das 16gicas e da e stetica do CarnavaL portan to. se dara nao apenas pela midia t izao;;iio da Festa. mas pela e xtrapolao;;iio do know-ho w acumulado pelos carnavalescos cariocas e de outros grand e s centro s brasileiros para outras man ife stao;;oe s festivas - urbanas. como 0 Ca rn aval - em d ife ren tes locais do Rio Grande do SuI. e nao mais restritas ao mes de feve reiro, p ara as "carn avaliza r"". Ze Cartola. um dos profissionais atuando nas festas do Rio Grande do SuI. apresenta 0 "carnavalizar" como as interven.:;:oes rea li zadas para incorpora r "todo 0 p rocesso q ue se usa no Carnaval: 0 cronograma , as alas [... j e tambe m contar as hist6rias [...]"'6. Re fere- se, portanto, a estetica narrativa peculiar ao Carnaval. construfda a partir de um enre do. e a consoniincia tema-musica-alegoria , estas tra zendo os elementos volume. vert icalidade. coresjbril ho como centrais na li nguage m carnavalesca. Portanto. como se procurou demons tra r, as crft icas que acusam as festas Iocais, tidas como tradicionais, de terem p erdido au tenticidade seriam irre le vantes. As festas tra ze m e m si uma comple xidade qu e nada mais e do qu e a complexidade do mo me nto hist6rico que as produz,
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Susana Guta l Mestre em ar[e~ visuais pela Un iverSldade Federal do Rio Grande do Su i (UFRGS) ~ doutora em comuni(a~Jo socia l pe la PUC/RS. P rofesmra, pesquisadora e onentadora do Programa de P6s - Gradua~Jo em Turismo - Mestrado, da Unjversidade de Caxias do Sul - RS . t autora dos li wos
S<Jlit5 de Cinema, CenJllos Porto -Alegrenses (Unidade Editotia l/SMC/ PMPA. 1999), Imag ~m ~ ImaginJtios no Turismo (Aleph. 2005) e Alegotias Utb<Jn<Js, 0 PaH<Jdo como Subtetfugio. Tempo, Espa,>o ~ Visu<Jltdad~ na Pos Modernid<Jde (Papirus , 2006). E-mail, sus<Jnagastal "gm<Jil.com
Liliane Staniscuuki
Gu t~rres
Professora e pesqu isadora do mesttado ~m turismo da Un iversldade de Caxial do Su i e pesquisadora assoc iada do Nucleo de Antropologia V isua l da Univers id<Jde Federal do Rio Gr<Jnde do SuI. liliane dedlca - se a pesquisas e estudos de antropolog ia urbana , tutismo, Carnaya l. an t topologia visua l e da Imagem. fo t ografia,
E-mail, '1Igu@portow~b,com,bl
MUITOS (OUTROS) CARNAVAIS Paulo Miguez
De simples titu lo do primeiro livro publicado per Jorge Amado, em 1931. a expressiio ¡0 pars do Carnaval" acabou per se transformar numa ideia-foro;a do imaginilrio sobre 0 Brasil. Engra~ado que assim tenha sido. uma vez que nesse romance do grande escritor 0 Carnaval nilo compareee como urn atribu to. digamos. positivQ da vida brasileira - alias. afom a deliciosa abertura do seu romance Dona Flof e Seus Dois Maridos. quando nos conta da morte de Vadinho. primeiro marido de Dona Flor. numa manh1i de urn domingo de Carnaval. fantasiado de baiana e sambando num bloco. e em que pese a importancia dos festejos carnavalescos na cena cultural baiana. na vasta obra de Jorge Amado. toda ela praticamente amb ientada na Bahia. sao mui to poucas e de pequena relevancia as referencias ao Carnaval. Muito ao contrario. 0 que se ve em 0 Pars do Carnaval e 0 personagem central. Paulo Rigger. 0 fil ho de um rico cacauicultor que retornava ao pars depois de uma temporada de sete anos estudando na Fran~a. expressar um sentimento de estranhamento e crlrica em re lao;ao a imagem festiva do Brasil e enxergando no Carnaval um fator de al i ena~1io do povo. Tal ideia~foro;a. a de que somos 0 pars do Carnaval. merece, todavia. cuidados - e nao por causa das inquie tao;oes existenciais e identitarias do personagem amadiano. ja que descarto firmemente a hip6tese de considerar como negativa a assoeiao;ao da imagem do Brasil ao Carnaval. 11 festa. enfim.
o primeiro cuidado e ter-se na devida conta que a imagem da i deia-for~a e imprecisa. Peca por modestia. E induz erro quando observada de fora para dentro. is to e. quando vista por estrange iros. Claro. 0 cuidado e dispensavel em se tratando de n6s. os brasileiros. mais do que eiosos de que aqui sao muitas as folias de Momo. seja pela paixao com que debatemos qual delas e a melhor ou a maior. seja pelo que nos informam, por exemplo, a mrdia e a indus tria turrstica nas d isputas ferrenhas que protagonizam. a primeira por audieneia para suas transm issoes ao vivo. a segunda por pacotes para todos os gos tos e bolsos.
1 Multos Ca",avalS ... ta,n ¡ bem. a t'-tu lo de urna cole ¡ tanea de cano;..... 1: c~m.~ lescas de Caet""" Velma lam;ada em 19n pela P!Ilpsl Phonoqra"
2 "[VenezaJ A 'odade m â&#x20AC;˘.,. a leg,e da Europa'. coma t chama/'i Steoohal. estJ po< nl,&flla fep'e"""'tar;.ia pel manent ... 0 Ca,,",,. 1 dura _ mese,. ;~ meses d<
Eque. definitivamente. nao somos, sinaliza Riserio (1995). 0
pafs do Carnava l. corno sugere 0 tftulo do roma nce de Jorge Amado. mas sim um pafs de" mui tos Carnavais"' , tal qual se ouve na can<;:ao de Caeta no Ve loso. Por aqui. em fevere iro. Momo e rei nao apenas em Olinda e no Reci fe. no Rio de J ane iro e e m Salvador. cidades que realizam os carnavais brasileiros mais conhecidos e famosos. Reina sobera no. ta mbem. em boa parte dos milhares de mun icfpios espalhados relo pars. Oaf que re sulte , de reino assim tao extenso. um diversificado conjunto de formas camavalescas. co m tra<;:os comuns mas, principalmente , com fortes ele mentos d ife renciadores e de gra nde importancia. que da corpo a uma das partes mais vi<;:osas do nosso corpo de cultura e faz do Brasil. portanto. um pars de muitos carnavais.
laucwa d ..ante os qUd'S 0 uso da "",,",ara autartza to das as ~befdade" Durante a Ad.,.nto " a Quaresm. a, masCara, de"'pa ,ecem mas <,00 Sl.tl5l<lu,-das pao music. ,e\,9fO"'. os canCefto, prr~ada. e as mlS,a, camada .. (.. .J A festa. 'MUm ... de Yenezal Um "cano ,,,,sta do,,": um mod,
o Carnaval. festa crista e ocidental, surgiu na Europa por vol ta do seculo X I.
de vida" (BRAUDEL 198)
Por la fincou
P 132-133)
o Carnaval continuou a ser celebrado na Eu ropa. Nas cidades italianas. por exe mplo. mesmo depois da decooencia econ6mica que experimentara m a pa rtir do seculo Xv. quando 0 Adantico vai tomando 0 lugar do Mediterraneo como rota do comercio mundial. os festejos carmvalescos acontedam em grande estilo. Em Veneza. par exemplo. cidade que ja perdera a pujan<;:a e a importancia comercial dos seculos anteriores mas a que nao faltava pretexto para fazer festa. 0 Camaval durava seis meses por vo lta do seculo XVI'.
Ja 0 segundocuidado nao registra pecados. Ao contrario. trata-se. nestecaso. de evitarmos que a ideia-fo r.:;:a nos leve a pecar par imodestia. Eque. nilo contentes em sermos reconhecklos como 0 pars do Carnaval. quem sabe possamos ser levados a imaginar que 0 Brasil e ... 0 unico pafs do Carnaval. E nao somos.
pe e desde entiio faz folia. A ldade Media ficou para tras, mas
No stkulo XIX. e a Fran<;:a que aparece. diga mos, como 0 pafs do Carnaval. Junto com muitos ou tros modos e modas. a asce nden te burguesia francesa "inventa" a tradi<;:ao do Carnaval e embala um "pacote" de usos e costumes que vai ser adotado como modelo de comportamento "civilizado" em muitas ddades da Europa e de fora da Europa. No Brasil inclusive. Aqui. decididas a afasta r as he ran<;:as da vida colonial. ate mesmo nas formas de festejar. as elites vao empenhar-se. fortemente, em eliminar das ruas a ''barbara" algazarra do Entrudo aburguesando os festejos de Momo - 0 Entrudo. nossa prime ira forma carnavalesca. que traz ida pelos portugueses aqui se aclimatou 11 perfei<;:ao. Copiam-se. inicialmen te. os festejos parisiense s. Na sequencia. a pa rtir de meados do seculo. Nice rouba de Paris a condi<;:ao de cidade carnavalesca e sua festa vai ser "exportada" como sendo 0 "meIhor Carnaval do mundo". 0 Carnaval. agora. fala frances: sao as contradan<;:as do bal masque, a promendde de fantasiados chics pelos boulevards da cidade. 0 corso camavalesque com os carros alegoricos das sociedades. Mas nao se reduz aos secu los a nteriore s a cena carnavalesca europeia. Mais de mil anos se passara m e 0 Carnaval cont inua sendo uma fes ta importa nte e m vilrias cidades da Europa. Veneza e Nice. por exemplo, continuam a gozar carnavais de grande expressao local e internacional.
o Carnevale di Venezia. atualmente. tern infdo duas sextas-feiras a ntes da Q uarta-Feira de Cinzas e se estende por mais ma is de dez dias. A festa corre sol ta nos arredo res da Piazza San Marco. com fo li6es exibindo
.132
mascaras e fantasias luxuosas, uma maneira de lembrar
0
Fausto dos tem-
pos passados. e os muitos pierros. colombinas e arlequins da Commedia Delll\rte italiana. enos bailes. como 0 famoso Gran Ballo de lle Maschere que e sempre rea lizado em algum dos muitos palacios da cidade. Em N ice. a folia nao e menor nos dias que correm. Seu Carnaval. 0 evento fest ivo de inverno mais importante da Riviera Francesa, recebe anualmente ce ntenas de m ilhares de visitantes. que durante duas semanas se del iciam com os desfiles de ca rros alegoricos no Promenade des Ang lais. a a rq uifa mosa "batalha das flores" e 0 espetaculo p irotecn ico que marca 0 encerramento dos fes tejos. Ainda na Europa. sao muitas as "cidades do Carnaval". Colonia. Dusseldorf e Mainz. na Alemanha, celebram antigos carnavais; Binche, na Belgica. com seus G illes de Mardi Gras. tem um Carnaval que data do seculo XVI e e considerado pela Unesco como Obra-Prima do Pa trimonio Oral e Ima terial da Humanidade; em Va letta. capital da pequena ilha de Malta. o Carnaval tambem remonta ao seculo XVI; Basileia, na sur"a. tem um Carnaval que come"ou a ser comemorado no seculo XIX - bem ao gos to da precisiio sur"a. a fes ta tem hora fixa para come"ar e acabar. Os Drey Scheenschte Daag os tres d ias mais bel OS). como costumam referir-se a festa os habitantes da cidade, duram exatas 72 horas: das 4 horas da segunda-feira depois da Quarta-Feira de Cinzas ate as 4 horas da quinta-feira.
r
No mundo iberico. os carnavais tambem atravessaram s€culos. Em Portugal. a festa acontece desde a Idade Media. Era comemorada em muitas aldeias com 0 nome de Entrudo. consistindo. regra geral. em representa,,6es teatra is. banquetes e. principalmente. "combates" entre os folioes. Ao longo do s€culo XIX. quando tambem Usboa e Porto voo pouco a pouco adotando 0 mode10 do Carnaval a francesa. 0 Entrudo va i ficando restrito as pequenas aldeias. Contudo, a partir da metade do seculo passado, por causa das polfticas salazaristas. mais ocupadas em fazer a guerra colonial e pouco interessadas na folia momesca. 0 Carnaval portugues praticamente desapareceu. Atua lmenteo a tradi"ao dos festejos esta bem representada pelo Camaval de Torres Vedras. coosiderado"o mais antigo Carnaval portugues". com registros desde 1572, e como "0 Carnaval mais portug ues de Portugal" - a festa consiste no desfile do corso com os carros aleg6ricos. as matrafonas. grupo de homens travestidos. os cabe<;udos. bonecos gigantes (alo. Olinda~. os ze-pereiras (al6. antigos carnavais cariocas!) e a "guerra" de cocotes. p€quenos artefatos feitos de papel. de restos de serradura e de borracha. travada entre os grupos de mascarados e a assistencia (alo, EntrudoQ. Na Espanha, outros tantos e antigos carnavais. Os carnavais andaluzes. em Sevilha. Cadiz e Almeria: os festejos nas Asturias; os carnavais do Pars BaSCo. da Galrcia e da Catalunha; 0 de Navarra: 0 de Santa Cruz de Tenerife. nas Canarias: 0 Carnaval mad rilenho. Prati camen te em todas as comunidades autonomas. suas respectivas provrncias e cidades. 0 Carnava l e comemorado faz seculos - ainda que. semelhantemente ao ocorrido em Portugal na epoca salazarista, 0 franquismo tenha, de finais da Gue rra C ivil a redemocratiza¢o espanhola. nos anos 1970, mantido sob proibio;ao os festejos em tado 0 pars. Uma Europa de mu itos carnavais, ate mesmo de "carnavais fora de epoca" - ta is qua is os "exportados" pelos baianos para mui tas cidades brasileiras desde os anos 1990. E0 caso do Carnaval de Notting Hill. que
°
3 relat,sno de Impact' do C<lTT'Wai de 2007 !'fYl Salvador elabO!ado pela de Cullura S"",erMla do E,tado, e,t rna ,.,-,a mownenl""ao ~nanc .... ra da o,dem d" me", bdhao de real' (CARNAVAL. 2007) 0 que equtYaIe. aprox,madamenle, a 192 milh6el; de euoe< Quante ao C.nayal canoea, valo,es nok> ol,c_ .. st"nado$ para a ,ecetta 'I"'ada pelos 1.,teJO' em 2013 ak.n~am a or.a de g'lg m,/h6es de dalales. ~pro. m.. d~l' 644 moll"", de "'" (EDITORIAL,2013)
acontece em Londres no mes de agos to. Alias. fora de epoca e , tambem, da lista dos carnavais europeus centenario s. ja que 0 Carnaval de Notting Hill e uma "trad i«ao inven tada" bem rece ntemente. Os festejos Iond rinos datam da metade dos anos 1960 e devem seu surgimento ao grande numero de imig rantes caribenhos. Mo biliza ndo hoje centenas de milhares de participantes. tan to moradores de Lond res quanto turis tas. 0 Notting Hill conta. ate me smo. com... escolas de samba. criadas, 6bvio, por inspira«ao no Carnaval carioca. a exemp lo da London Scholl of Samba, a mais an tiga, fundada e m 1984, e a Paralso School of Samba, que costuma "importar" samb istas e inte rpre tes de escolas de samba do Rio de Jane iro para seus desfiles. Carnavais de importancia hist6rico-cultu ral e, tambem, econ6mica. Eque varios carmvais europeus movirnentam de forma expressiva a economia local, consti tu inoo exemplos doque pode ser chamado de uma "economia da festa··.
o Carnaval de Notting Hil l. em Lond re s, gerou, em 2002. rendi me ntos 4 Os mo,adores de Noya
ula hoste,", e pela pre<erl~a (oion",1 lranco-elfXlnhola e po, fOlIe, Ylncuk>s com o Me.oeo e e< pa',e. canbenhm co,lumam aillma, itOS mllames q< a codade e 0 ponto mals ao nOlle do Call O,if,a"" m.,.cadd
s "Te,~a-Fe"a G, ,da-, em Irances.
6 A.
kre~ ~.lo
'-"ganlzil
que con-e~pondem a, $ooedadPI <;arnavab que marcaram preS<!' ~a nos ant'go$ w,nalla, b,asd.."os. ",nil, e ouHas ~i'>e,
e~h.das no m(}{.to
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C"'rtaval france, que '" e'Palhou pel<> mundo m *uk> XIX Today",. 0"",',,10 de forte s.at"a politlcoSOCIal das hewes nao "" .. veze,. e de,de m P"me<ro. de,lde ... dA alO a urn humo, de C.~l'" ,.. ac.lOnM,o. 10 t ..me-me ,acosta ex",,610b0
da ordem de 93 milhoes de libras (LONDON, 2003). Em Colonia. considerada a capita l a le ma do Carnaval e onde os fes tejos sao chamados de "quinta esta«ao do ano". a fes ta faz a alegria de folioes e de empresarios de varios setores. Estudos e ncome ndados pelo comite encarregado da o rganiza«ao do Carnaval da cidade estimam que os ma is de 600 mil participa ntes do Carnaval garantem a bares e restauran tes, 11 industria de brinque dos e acess6rios e ao setor turfs tico - que registra um aume nto de 30% no nu mero de visitan tes em compara«ao com outros perfodos do ana - urn faturamento da orde m dos 460 milhoes de euros. pouco rnais que 0 dobro do que movirnenta 0 Carnaval de Salvador. embora em patamar inferior ao estimado para a rece ita do Carnaval carioca' . Nao e a Europa, todavia. 0 unico continente de "muitos Carnavais", Ao atravessar 0 Atlantico. portugueses e espanh6is encarregaram-se de espaIhar 0 Carnaval por todo 0 Novo Continente. A rigor. 0 Camaval cruzou 0 Atlantico duas vezes. Primeiro, com as caravelas. no seculo XVI. a inda sob a forma dos festejos carnavalescos herd ados dos tempos med ievais - 0 Entrudo portugues e 0 antruejo espanhol, Na segunda vez. no seculo XIK quando a travessia do Atlantico ja uti lizava os barcos a vapor, a folia dese mbarcou por aqui faland o frances, 11 image m e semelhan«a do Carnava l burgues de Paris e Nice, tudo sob rnedida para as elites deste lado do mundo, que ansiava m por uma festa que Ihes garantisse a condiy§o de "civilizados",
Efato. h<'i Carnaval em todo 0
continen te americano. Mui tos carnavais. quase totalmente descon hecidos de n6s. brasile iros. ainda que a proximidade ge ografica sugerisse 0 contrario. Conhe cemos mais dos carn avais europeus. de Veneza e Nice pa rticularmente. do que sabemos sobre os carnavais americanos - desbalan«o que se explica. muito provavelmente, pelo fato de te rmos re cebido da Europa os modelos de festa carnavalesca q ue aqui se dese nvo lveram.
Muitos carnavais, abaixo e acima do Rio Grande Nos Estados Unidos. 0 Carnaval de Nova Orleans. uma cidade mais caribenha do que exatamente americana' , e os varios pequenos camavais
celebrados em outras comunidades no sui da Louisiana e. tambem. do Alabama - ne sse estad o. a pequena Mo bile reclama para si a honra de celebrar 0 Carnaval mais antigo dos Estados Unidos. localizando seus prime iros fe stejos no inlcio do sEkulo XV III. Conhecido internaciona lmente e dest ino turlstico disputado por ame ricanos e estrangeiros. 0 Mardi Gras' de Nova Orleans e um Carnaval q ue fala ingles mas te m origens latinas. com registros das primeiras ce le brao;6es que remetem aos primeiros anos de vida da cidade. fundada e m 1699 pe los francese s. Inicialmente. consistia nos festejos da comunidade creole francofona. com bailes de mascaras e desfiles desordenados pelas ruas da cidade. A partir dos a nos 1850. num processo bastante semelhante ao ocorrido com muitos outros carnavais. a populao;ao anglo-americana "civiliza' a festa criando as krewes". que desde e ntao. e sem g randes muda no;as nos ulti mos 150 anos. de sfilam com seus carros alegoricos pe la bela e elegante St. Charles Avenue atirando aos espectadores beads e doubloons' e dao fo rma ao imaginario americana e internacional sobre a festa - um imagimir io que quase nao registra a preseno;a nos festejos dos Mardi Gras Indians, os negros travestidos de Indios (aI6. Apaches do Tororo do Carnaval de Salvador!) que desde 1880 estao presentes no Carnaval de Nova O rleans.
0. b.>ad<, "COOl"'" em portuguk lie cola,e. de coma. c~or.da., ''''l,a g .... fa! na. t,e. co<e.-,imbolo da lamo1,a ,eal f,aoce", e que ,e lomardlll as core. rcilrs do M~,d, G,a, de Novil Od"dIl<: Ye<de, ama,~o e roxo, .ombol!Z~ndo Ie, pode, e )Ustl,a. r"'f""Ct'Y~ menle, 0. doubloon, (do espanhol dobl6n , moeda cw ilda ffn curo na ep<lca da, wl6nta.) ,.lo ~, f.,ta,'" lab,rca~ "m m" ou pll,nw,
"to,o.,.
II Uma da :0'" mu, ica.. de ,na,OI p,e'ligK 10 Cama,al de li 'rlidad e Toh<>go e a e"o lha do C,lypso M""""cr., I u.. para "Re, do Cal ,p' ~.
Atravessa-se 0 Rio Grande. 0 RIo Bravo de l Norte dos mexicanos. e a lis ta de carnava is cresce de forma imp ressionante . 9
No Mexico. antigos carnavais. urbanos e rura is: Izta palapa e Culhuaca n. na Cidade do Mexico: em va ri as comunidades do pequeno estado de T laxcala: em Me rida. capital do e stado de Yucatan; em Huejotzingo e Santiago Xa li tzintla. no e stado de Puebla. Na America Central e no Caribe. ma is carnavais: 0 de La Ceiba. em Honduras; os carnavais de San J ose . na Costa Rica: 0 Carnaval de Los Congos de l Portobelo. no Panama: as celebrao;Oes do Carnaval santiagueiro. e m Cuba: 0 Carnaval Vegano da Re publ ica Dominicana: os carnavais das muitas ilhas caribenhas. muito es pecialmente 0 de Trinidad e Tobago.
o
Carnaval de Trinidad e Tobago e dos mais ant igos das Americas. Chegou pe la mao dos franceses. que d isputaram 0 controle colonial sobre as ilhas ate 0 seculo XV II I. na forma das masquerades aristocraticas da Europa de entao, Sob 0 sol do Caribe, a fol ia fo i transformada pela populao;ao de origem africana. que desde os tempos das plantations tinha na festa um espao;o de resis tencia a escravidao e de e nfre ntamento do puritanismo dos ingleses, os novos senhore s colo niais que assumiram o dominio das il has a partir d e princfpios do secu lo X IX, Hoje. os fes tej os e stao prese ntes em todo 0 pais. mas e em Port Spain, a cap ital. onde o Carnaval tem se u ponto a lto. com seus personagens tradicionais - a Dame Lorraine (uma satira as damas da aristocracia france sa do tempo colonial). o s Jab Jab (diabo s), 0 Pierrot Grenade (pe rsonagem que declama versos abo rdando temas da atua lidade). os minstrels (mus icos neg ros com os rostos p intados de branco) e 0 Midnight Robber (uma especie de "contador de hist6rias". versao carnavalesco-caribenha dos gri6s africano s, cuja fan tasia se caracte riza pelo s imensos chapel6e s) -. sua musica. a fren te 0 calipso". mas ta mbem a soca e 0 rapso, e as bandas de steelpans. tambores feitos de me tal, uma inve no;ao local q ue data dos anos 1930 do seculo p assadoo.
°
stei'lpan ,u'g<u
na dec~da de 1930 em Port Spam , w q",e parece em Lav"mdle. ",m wburb,o pobre e de popu la,ao neg'a, como le'pm(a ~ P" b".lo oloc l'" da labflca,ao de> lambofe. d" balnbu - uma re..d,,;.'lo da. pro, b,,6e. de labflcac;.lo e ""0 de lambo'e. p"la, ""(01' dade, co lonia .. em f",a" do ,<kulo XIX, Ongonal -nente lel(o com tambo, .... de 61eo de.u'tado, pela industroa do ;:>e!r6 Ieo, M""lpiHl 'OI"IICo., -.. mu<cal,,--,(e , translorm... do -.e "m um msuu".,.,nto aGisl.'" do! pe'cus.oo qUI' e u,ado po< bandas com g'ande pre--'~a nil cena mUSICal Inle''''lCIonal e (em e,ecu(antes em mw to. pai.e'. De,de 0. ano. 1990. lunoona em Lawn (Ille uma lab"ca que produz arlualmente 12 mi l u" dade. do Inmumento, das qua" 90'" ~ao e'portadas pafa os Estados U",dos, a Europ~ e 0 Jap.lo (MANGURIAN , 2013)
.13'
)0 As comparsa, ~ gru-
pos carna~a""sco, que, num (erto .,m icro, ~u",a lem aos blocos ("'niI~ale, co' que ocupam as was du fante 0 Car",,~al em mUitas c idad", btasrl eifa.,
o
Carnaval de Trinidad e Tobago transformou-se. tambem. num e lemen to de peso da e conomia do pafs, tanto no que diz respeito ao turismo quan to no que concerne ao desenvolvi mento das industrias cult ura is, seja a da musica. seja. tambem. pelo fa to de ter assumido lugar de proa na diaspora caribenha pelo mundo. Eque. desde os anos 1990. 0 Carnaval te m sido "exportado" tanto para 0 proprio Caribe - Santa Lucia. San Kitts. Barbados. San Vicente e Jama ica. por exemplo, celebram 0 Carnaval no melhor estilo tr initino-tobaguia no - como para pafses de fora da regiao caribenha - nos Estados Unidos e na Europa sao mais de 70 carnavais da diaspora caribenha, com destaque para 0 Labor Day. em Nova York. que chega a reunir anualmente 35 mil hoe s de pessoas: a Caribana. em Toronto. no Canada, com 1 milhao de participantes: e Notting Hill. em Londres -. 0 que se tra duz em empregos para musicos e mu itos ou tros artistas. como os es tilistas de fan tasias (CARIBBEAN, 2007).
Nas Americas, nao so mu itos carnavais como dois deles. a exemplo do Carnaval de Binche, na Belgica. ja foram alr;ados 11 condir;ao de Obra-Prima do Pa tri monio Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco. Um. 0 Carnaval de Oruro, na Bolfvia , tambem cha mad o de Las Diabladas, uma Festa que sincretiza e lementos da mi tologia andina. do catolicismo e do mundo profano e que tem sua orige m por volta do seculo XV II. altura em que a prata de Potosf e Oruro fazia girar aroda da fortuna do me rcantilismo espanhol. 0 outro. 0 Carnaval de Barranquilla. na costa atlan tica da Colombia. ig ua lmente uma Festa mes tir;a. res ultado dos encontros (e desencon tros) entre as carnestolendas trazidas pelos espanhois. as festas dos cabildos neg ros de Cartagena e as culturas pre-colombianas. Em Sarranquilla, os festejos tem infcio com a Satalla de Flores (ala Nice!). no scibado de Camaval, Seguem por mais tres dias com os desfi les das comparsasJO• com a exibi00 dos varios grupos que executam danr;as tradicionais. 0 garabata. 0 congo. 0 mapal€. as dimzas de relaci6n etc .. sempre ao som de salsas. rumbas. merengues e da cumbia. um genero musical tipicamente colombiano e que tambem e um estilo de danr;a, No Camaval barranquillero sao em grande nu mem os personagens tradiciomis: alem do Rei Momo. La Reina del Carnaval. encarregada de "govemar" a cidade durante a Festa. as muitas Reims Populares, responsaveis pelos festejos que acontecem nos varios bairros. EI Tonto. EI Monocuco. Los Cabezones (ala. bonecos gigantes de Olinda!). Las Muneconas. EI Tigrillo. EI Descabezado. La Manmonda e. especialmente. 0 Jose lito Carnaval (sao varios. espalhados por toda a cidade). personagem que morre dO fina l dos quatro dias de Festa. e chorado por muitas viUvas alegres e com seu €f1terro encerra 0 Carnaval. simbolizando uma especie de "adeus 11 ca rne". A ColOmbia ainda tem outras importantes manifestar;r5es carnavalescas, como 0 Carnaval de "Negros y Blancos". que tem lugar na cidade de Pasta. e 0 Carnaval de Cartagena das fndias. uma Festa que vem dos tempos coloniais. quando era conhecida como Fiesta de los Esclavos. Carnavais. ta mbem. no Equador, 0 de Guaranda. onde existe a figura do Taita Carnaval. um Rei Momo de origem qufchua. 0 de Ambato. conhecido como Fiesta de las Flores y las Frutas. e 0 que acontece em Imbabura. no Valle del Chota. onde as comunidades negras celebram 0 Carnaval com um ritmo e danr;a tradicional chamado bomba. Na Venezuela. 0 Carnava l caraquei'io. os festejos nas varias cidades da provincia de M iranda e 0 Carnaval de EI Callao, na provfncia de Bolivar. um dos
ber,os caribenhos do calipso, 0 ritmo que anima 0 desfile das comparsas com seus tradicionais diablos. No Peru. os carnavais de Barranco. um distrito situado ao sui de lima e conhecido como ber,o de artistas e inte lectuais e que re cebeu muitos imig ran tes e uropeus no final do seculo XIX. sao celebrados a francesa. desde 1913. Bem ao suI. as murgas" portenhas. em Buenos Aires. os fes tejos calchaqUI. nas provfncias do noroeste a rgen tino. 0 Carnaval de Gualeguaychu. em En tre Rios. os carnavais correntinos e 0 Carnaval cuartetero, da provincia de C6rdoba. sao a lguns dos festejos carnavalescos na Argentina. Em Montevideu. murgas. compafsas e grupos de candombe, tambem conhecidos corno comparsas de negros e lubolos" , fazem um dos carnavais mais longos do mundo - nes te ana de 2103, 0 concurso oficial do Carnaval de Montevideu estara ocupando 40 noi tes, entre a primeira semana de fevereiro e a rnetade do me s de rnar,o.
11 A rtUI1" e l.ma P""J"'fI" Qt-
~
caT\iWaIesc" t>qilent...."" bloco, Qma\liIIe.c"" do 8. ... ~ Cada mur<Ji'
d.. sall1 â&#x20AC;˘ .
12
Er
rnosaico das festas carnavalescas americanas aqui rapida mente descrito tem muitas fa lhas. Em primeiro lugar, e incompleto. Deixa de fora outros carnavais - os muitos carnavais que acontecem em pequenas comunidades e que silo absolutamente desconhecidos. por vezes. dentro do pr6prio pafs -. algo que nao e incomum. por exemph no Brasil. Por aqui. quantos conhecem 0 centenario Carnaval de Maragoj ipe. pequeno municipio do Reconcavo Baiano distante 133 quilometros de Salvador, que exibe orgulhosamente seus caretas. pierros. grupos de fantasiados e bandinhas de sopro e foi registrado pelo Instituto do Patrim6nio Artisti co e Cultural (Ipac). em 2009. como Patrimonio Imaterial da Bahia? Em segundo lugar. alem de incompleto, 0 mosaico revela-se nilo menos impreciso do que a exp ressilo"o pais do Camaval"'. Serao todos os camavais aqui referidos efetiva mente ... Carnaval? Responder a essa desafiante questao e muito dificil. tao dificil quanto "a busca de uma definio;ao que englobe os d iferentes 'carnavais' atraves do espao;o e do tempo" (FERREIRA. 2005. p. 316).
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como e'iC1avo< par.. pam-
c ...,. da"d,¡"t """'*'t" dos d.,J,~ de ~ nos t""'l"" color.<J!S.
Ou seja, tal respos ta exige q ue. para alem dos tra,os de universalidade que caracterizam 0 Carnaval - e fazem com que Momo re ine sobre vastos dominios. que nao respeitam oce anos e continentes como fronteiras. e acolha como alegres suditos tan tos quantos assim 0 desejem -. se invest igue nos mais d iversos pianos - hist6r ico, simb61 ico, social. etnico. economico. comunicacional. gerencial, espacial etc. - a complexidade e a divers idade que emprestam sentido e sig nificado particular a cada uma das muitas formas assumidas pelas festas carnavalescas. Como se ve. nilo se trata de uma resposta facil. Depende de estudos que. muitas vezes, esbarram na dificuldade de acesso as fontes de pesquisa sobre a ternatica dos carnavais america nos, quando nao no desconhecimento mesmo da existencia de tais fontes, No Brasil. silo raras as b ibliotecas que dispOem de acervo especializado sobre 0 assunto. Nao ha por aqui noda que se compare. por exemplo. a Latin American library da Universidade Tulane, em Nova Orleans. uma das ma iores insti tu io;oes do genero nos Estados Un idos e que possui um rico e diversificado acervo dedicado as celebra,6es festivas latino-americanas e caribenhas. Seu interesse pela ternatica pode ser aval iado. por exemplo. pela exposi,ao Reinventing Carnival in the Americas. o rganizada em 2004 junto ao Stooe Center for Latin American Studies. oportu nidade em que foi exposta pa rcela importante desse acervo.
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13 AFora pouca, exc~o., ""0 fa,am ,nc lu,do, ne I" "brev- "rna' "'perta"
a. va,IO' t'abalho, wl"e mu ,tos do. ca'MV"" ame"canos pub l,e"dos no Br ""I PO' P""l",.....Jo'eo$ n,,<>o"""" "'tr."9""o,.
Tive il feliz oportunidilde de ter sido selecionado pelo programil de bolsas The Richilrd E. Greenleaf library Fellowships dessil b ibliotecil e , e nt re ja neiro e mar~o de 2011. na condir;ao de visiting research professor. dese nvolvi 0 projeto de pesqu isa Singulilrities and D ifferences among La tin Ame riciln Carnivals. Assim, com base no imenso conjunto de materiilis que esteve a minha disposir;ilo ao longo da pesqu isa, e como uma modesta contribuir;ao ao e studo dos cilrnavais ameriCilnos no Brasil. sele cionei algu mas fon tes paril compor 0 "brevfssimo" re pertorio de fo ntes que segue como Apendice il estil rap idil viagem p e los "muitos Carn avilis" a meriCilnos" .
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Paulo Miguez C ientista economico, mestre em admin i 5tra~!io e doutol em colnunica~!io e cu lturas contempofanea5 pela Uni verSldilde Federal da Bahta, Miguez e profes5Qr do Instituto de Human idade5. Artes e Ciencias e do Programa Multid,scipl inar de P6s - Gradua~~o I'm Cultura e Sociedade da UFBA. Atua como pesquisador do CULT Centro de Estudos Multtdisciplinare, em Cultura (UFBA), E-ma il: paulomiguez@uol.com.br .l40
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Revista Observat6rio Itau Cultural N° a - Diversidade Cultural: Contextos e Sentidos E,t .. ed i,~o e dedicad~ a dive r"dade. Na primeira parte. ,,\0 exp lorado, v~rio, a'pecto, culturai, do par, - aspecto, que e,t,\o a ma'gem da yjvenc i ~ e do consumo usual do bra,ileiro - e como a, politka, de ge,t;;o cultural Irabalham para a "ss imila,lo e pre,erva,~o dele,. de modo que n30 cau,em fone< impacto, na dinamica ,oc ial. A ,equnda pa rle da revi'la I' compo'ta de artigos esc ritos por e'pecial i,ta, em cu ltura e tem como fie condutor a di,e u«,\o ",bre a ,obreVlvencia da divers idade cu ltural em urn mundo globa li zado.
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Revista Observatorio Itau Cultural N" 7 - Lei Rouanet. Contribui ~i5es para um Debate sobre 0 Incentivo Fiscal para a Cultura A L... Rouane t e 0 tem a do setimo numero da Revista Ob'elVarorio I/au Culwral. Aqui 0' autore, d"cutem d ,verso< a'pecto< e con'equerx ia, de«a le i: a concen tra~~o de recu"o< no eixo Rio-S~o Paulo. 0 papel da, empre,a, estatai, e privada, e 0 irxentivo A,eal. 0 minimo da C ul IUra. Juca Ferreira . come nta em entrevi<1a a lei e a, fa lha, do atua l modele. 0 propO,ito de'ta edi<;lo e apre,entar ao leitor a, d iversa, opin i~' sobre 0 a«un to pa,a que. ao final. a corx lu,lo n~o ,eja categ6rica: 0 ,elor cultura l e tecido por nuan ce" ha panamo q ue pe n,a -Io como ta l.
Re vista Observatorio Itau Cultural N" 6 - Os Profissionais da Cultura: Forma ~o para o Setor Cultural ge<1or cultural e um profissional que. "" Bra' il. aind a nlo ating iu se u ple no r<>conhecime nto. A ,exta Revi<fa Observar6ric Irau Cultural e ded icada a expor e a debater esse te ma. Ne'te nUmero. h.i uma exten,a indica~lo bibliograAca em portugue,. alem de a rtigos e en trevistas com profe,sores especializado, no a«un to. A ca,encia profissional nesse meio e f,uto da defieienc ia da, polftica, culturai , bra,ileora,. quadro que com<><;a a se tran, form", com a maior incidencia de pe'qu i,a, e curso, voltado, ~ forma~lo do ge,tor.
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Revista Observato rio Itau Cultural N" 5 - Como a Cultura Pode Mudar a Cidade A quinta Rwisra Db'elVa/mic e ,e,u ltaoo do ,emina,,,, interna<: ional A Culrura pela Cidade - uma Nova Ge,tlo Cu ltu,al da Ciciade. organizado pelo O b,ervat6rio Itau Cu ltu,aI. A propo'ta do ,emin.Yio fei promover a troca de e'periencias entre pe'qu i,aoore, e ge'tO«" do Brasil. cia E'panha. do Mexico. do Canada. da Alemanha e da E,c6cia que utilizararn a cu ltu,a como principal elemento ddade,. Ne'ta edi,lo. alem do, texto, especialmente esc,ito, para o,e rn inario. ,evitalizador de e'tlo dlla' e ntr"";'ta , para a rellex.k> ,abre 0 u,o da cuirura pa,a 0 desenvoNimento ,ocial: uma com Alfons Marton"jl Sempe,e. professor da Universidacie de Girona. e ootra com a professora Mana O wist,na Barbo,a de Almeida . ent~o di,etora cia blblioteca da ECA/USP e atual direro,a da Bibhoteea Mano de And,ade. A ,evista oomero 5 inallgu,a a ,<><;.\0 de cnl ica lit",aria. com um amgo sobre Henri Lefebv,e e alguma, iooica<;ae, bibiiog,Jiica,. Encerrando a ed i~~o. um texto sabre a mplanta · , ao cia Agenda 21 cia Cu ltura.
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Revista Observatorio Ita u Cultural N" .. - Renexoes sobre Indicadores Culturais que e urn indicador. como definir 0< para metros de uma pesquisa. como usa, 0 indicador em pe'qu isa, sob re cultura? A qua, to Revisla ObselVaro,io /tau Cultural trata de,,,,, assuntos por me io da expo' i~.'io de vario, pe'qu isaoo,e, e do ,esumo do, ,e mi na rio, imerna<:ionais realiz..do, pelo Ob,ervat6,io no ~m de 2007. No final da edi,lo. um te xto da O NU ,obre patrim6nio cu ltural imaterial.
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Revista Observato rio Itau Cultural N° 3 - Valores para uma Polftica Cultural A tercei,a Revi'ifa Ob,e,va!orio Itau Cultural d i,c ute pol~ icas para a cultu,a e ,elata a expe<iem: ia do Programa Rumos Itau C ultural Pe'quisa: Ge'tao C u ltural e os ,em inario, real izado, nas regii)e, Norte e Norde,te do pa r, para a d ,vulga<;.\o do edi ta l do p'og rama. A 'eg unda pane desta ed i ~.\o traz anigos que comentam casos espedficos de c,ciade, onde a polftka cultural tran,formou a realidade da popula~ao. a e xpe<ienc ia do Ob,ervat6,io de Industrias C ulturais de Bueno, Aire, e uma breve discu«~o ,obre eeonom ia cia cullUra.
Revista Observato rio Itau Cultural N" 2 - Mapeamento de Pesquisas sobre 0 Setor Cultural seg undo ml mero da ,evi'ta e d ividido em dua, partes: a primei,a trata da, atividades desenvoNidas pelo Observat6rio. como as pe'quisas no campo cu ltural e 0 Programa Rumo,. e traz resenha do ~\lfO Cu/w,a e Ecooomia - Problemas. Hip6!e<e<. Pi<!a, . de Paul Tolila. A ,egunda ~ composto de dlVersos arrigos 50b,e a ~rea da cultura e,critos PO' e'pee ialistas bras ilelfos e est,a nge iro,"
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Revista Observat6rio Itau Cultural N° 1 - Indicadores e Po liticas Publicas para a Cuttu ra
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Esta (evista inaugma as publicac;1>e, do Ob,ervat6rio Itau Cultural. C"ado em 2006 para pensar e pmmove< a cu ltura r>O Bras il , 0 Ob'<'f\Ial6fKl rea li zou d iversos sem inMim com e"" intuito. 0 primeiro numero e resu ltado desse, encontro,_ 0, a rtigo, d"cutem 0 que e urn ob'e!Vat6rio cultura l, qual sua fun~~ e como formula, e u .... , dado, para a cultuta, as iMumi", culturais_A edi~~o lambem comenta e Xp"roenc ia, de outro< ob,ervat6rio<_
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Cole~ao
Rumos Pesquisa
... A Prole<;lio Juridica de Expressoes Cultutais de Povos Indigenas na Industria Cultural Victor Lucio Pimen!a de Faria A prole<;.'io juridica da, e xpress""', cu ltural' indrge""" de ""IS form a, de e~p,e",'io e de ,,,,,s
modo< de cr;ar, fazer e viver e .. nali",da ,ob a, perspect,va, do di,e,to autoral e da dover" dade da, exp,e,«'>e, cultura i" a parti, do conceito adolado pe la U"",co.
--_.Os Cardeais da Cultura Nadonal Conselho Federal de Cultura na Ditadu ra Civil-Militar - 1967-1975 Taryana de Ama,al Ma ia
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Tatyana de Amaral disco.,.e. "",Ie I... ro, ,obre a cri.a<;.\o e a atua<;~o do Con,e lho Fede,al de C ullma, 6'g.\o vinculado ao Ministe,ia da Educa<;~o e Cu ltu,a, no campo da< politica, cu lturai" E anal"a a ,ela<;~o eot,e ,eus principai, ato,e" ,elevante, intelectuai, bra,ileiro<, e a, que,tee, pol,l ica, e sociai, do periodo da ditadu,a, bem como 0' conceito, ,elativo,,, cu ltura bra"lei,a, lai, como patrimOnio e identidade nadona l.
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Por uma Cultura Publica: Organiza~i5es Sodais, O sdps e a Gestao Publica Nao Estata l na Area da Cultura Elizabeth Ponte A autora traz um panorama do modelo de ge,t:io publica compani lhada com 0 te,cei,o ,etor, po' meio de mganiza<;<'>e, ,ociai, (OS,) e o'ganiza<;ee, da soe,edade CIVil de ,ntere«e pUbl ico (Oscip'). procu,ando anali,a r , eu impacto em prog,ama,. carpo' e't~vei, e eq uipamento, p<lbhco, na ~,ea cultu ral. 0 e,tudo e ba,eado na, expe,ier<:i.as de 5.\0 Pau lo. que emprega a ge,t.\o po' meio de OS,. e de Mina, Gerai" que po«u; parceria, com Osc ip',
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Discursos, Polfticas e A~oes: Processos de Industrializa~io do Campo Cinematografico Brasileiro lia Bahia Olema de'te I"'ro e a inte,-,el a,.\o ent,e a cullura e a indust'ia no Bra, il, por meio da an~li,e da, d,n.1m ica, do campo ci""matog,afico bra"leiro. A obra e"foca a Iiga<;.1o do E,tado com a indu,t'ializa<;~o do cinem a bra'ile iro no, ano, 2000, disculindo a, co""xee, e a, de,conexee, entre 0< discurso,. a, prMica, e as polftica, regulat6na, para 0 audiovi,ual nacional.
Cole'rao Os livros do Observatorio
Cultura e Estado. A Polltica Cultural na
Fran~a ,
1955-2005
Teixe;ra C<>elflo
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Ne'te livro, Teixeira C<>elflo faz uma ,ele"ao do, texto, pre,eme, na cojetanea Le Politique Culture lle en Debat: Antfmlogie, 1955-2005, da Documentation Franc;a i,e, q ue reflete ,obre a re la~~o entre E,taoo e cultura na Fran~a. A cultu ra france ,a ,e a<socia int imamente a ide ntidade da nasao e do E,tado, e 0< autore" de diversa, ;l reas, analisam 0< a'pecto, de"a proxim,dade.