“TALENTO É DOM PRA VENCER. PRECONCEITO NÃO PODE CALAR. FOI PRECISO ACREDITAR” Glaucio Burle
P
ra tudo não se acabar na quarta-feira, assim se passaram 15 anos do Plumas & Paetês Cultural. Utilizando alguns dos mais belos versos, os quais todos nós fomos presenteados no carnaval de 2019, não precisei criar frases mirabolantes
Terreirão do Samba
para expressar o quanto esta rica cultura popular engrandece às mentes,
Revista Plumas & Paetês Cultural 10ª Edição - março 2019 Tiragem: 10.000 exemplares Circulação Gratuita - Venda proibida www.plumasepaetescultural.com.br /plumaepaetescultural/
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15%
a mais que nos dias do Carnaval 2018
mente me veio o sentimento de desistir dos propósitos e objetivos comuns. Muito pelo contrário. Ao refletir sobre a própria existência e resistência a que este projeto se propõe, não nos limitamos a ser uma simples celebração, mas sim, desde o início, uma busca constante pela preservação e Diante de todas as adversidades, vaidades encontradas e tensões políticas o Plumas & Paetês Cultural transformou-se, ouvindo as vozes dos
PRODUÇÃO: Diretor Executivo: José Antônio Rodrigues Jornalista Responsável: Tiago Ribeiro (REG.4412/RJ) REDAÇÃO: Editor: Tiago Ribeiro Produtor e Projetista Gráfico: Levi Cintra Revisor: André Camargo (JP.24067-RJ) Produção e Cobertura de Mídias:Bruno Mariozz, Flávio Nogueira, Gabriel Belino e Rafael Prevot Textos: André Camargo, Clinton Paz, José Antônio Rodrigues Filho, José Mauricio Tavares, Leonardo Antan, Luiz Ricardo Leitão, Rafael Bacelo e Tiago Ribeiro. Fotografias: Acervo UNESA, Acervo Riotur, Berg Silva, Bruno Motta, Cristina Frangelli, Edimar Silva, Maickell Abreu, Marcos Mello, Robson Talber, Sérgio Lobato e Wigder Frota. Foto de Capa: Marcos Mello Figurinos: Marinus Puro Linho
2018 128 mil pessoas de janeiro a dezembro
Impressão: MAVI Artes Gráficas Rua Dr. Garnier 686 Rocha - RJ CNPJ: 02.822.810/0001-59
ASCOM SMC
Acompanhe a agenda do Terreirão em nosso site www.rio.rj.gov.br/web/smc
Sabedor e consciente dos desafios que se renovam a cada ciclo, rara-
valorização dos artistas da folia.
Programação Nota 10, o ano inteiro...
Carnaval 2019
aos ouvidos e aos corações de uma nação que almeja dias melhores.
Agradecimentos: Baródromo, Dominique Marceau, Jean Claudio Santana, Jorge Rodrigues, Mariana Ribas, Marinus Puro Linho, Ricardo Lopes e Site Carnavalizados. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo a opinião do Plumas & Paetês Cultural.
heróis dos barracões, o povão que ficou fora da jogada. Motivado por questionamentos que se encontram até hoje sem respostas, dentro deste que é o maior segmento da economia criativa do mundo. Muitos foram os votos para que continuássemos a nossa trajetória. De boa parte desses qualificados profissionais, que honrosamente tivemos o privilégio de conhecer de perto e perceber no olhar e na fala o quanto são gigantes e capazes de se reinventar mesmo diante de inúmeras dificuldades. É a história que a história não conta, o avesso do mesmo lugar, na luta é que a gente se encontra. Cabe agradecer aos Alexandres, Fábios, Ricardos, Leandros, Edsons, Joãos, Jacks, as Priscillas, Rosas e tantos outros que nos representam e se fazem presente. Críticas afiadas sempre farão parte diante de toda competição, onde ninguém quer sair perdendo. Mas, com uma pequena mudança na mentalidade, deixando pra lá a individualidade, que ainda faz o concorrente parecer inimigo – quando, ao contrário, deveria ser visto como o grande incentivador capaz de desafiar cada um a crescer, ganhar força e experiência, teremos um cenário muito mais favorável para todos. Conceitos e preconceitos devem ser reavaliados e muitas vezes extinguidos. O segmento em que a nossa maior festa está inserida exige muita ousadia, diversidade, capacidade de gestão e criatividade, sempre em constante renovação, pois, do contrário, o preço pode ser o fracasso e ou o descrédito. Os desafios são muitos, mas sabemos que nunca é tarde pra sonhar, vamos lá, a hora é essa! Quem me viu chorar, vai me ver sorrir, pode acreditar, o amor está aqui...
José Antônio Rodrigues Filho
CULTURA
Gestor do Prêmio Plumas & Paetês Cultural
| Mensagem |
Q
uando o Carnaval carioca desfila seus encantos para plateias de todo o mundo, mais do que enredos, fantasias, alegorias e sambas passam pelas avenidas. Inúmeros artistas, produtores e gestores também estão ali desfilando,
invisíveis aos olhos do público, formando uma das mais poderosas redes de profissionais de nossa economia criativa. O mérito e a originalidade do Prêmio Plumas & Paetês estão justamente em voltar os holofotes para esses profissionais, tirando-os da invisibilidade e valorizando seus talentos e técnicas. Artistas de barracões, ateliês, ferrarias, carpintarias e serralherias são alçados ao estrelato, equiparados em arte e importância aos que dançam, tocam, cantam e compõem. Apoiar o Plumas & Paetês é materializar nossa filosofia de valorizar, antes de tudo, o ser humano que dedica sua vida, energia e história para construir o maior carnaval do planeta e fortalecer o maior patrimônio imaterial desta cidade. Mais do que espetáculo, para a Secretaria Municipal de Cultura, o Carnaval e Samba são sinônimos de cultura.
Mariana Ribas Secretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro
| Sumário |
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ALUÍSIO MACHADO S/A
O sambista, galhofeiro e contestador conta sua história e deixa a sua marca
DEU SAMBA!
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Miro Ribeiro e os 20 anos do Vai dar Samba
E VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA, AO SOM DO BUMBUM PATICUMBUM
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Aluísio Machado, sambista de fato, rebelde por direito
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QUANDO OS DESFILES ROMPEM A AVENIDA Tradição, espetáculo e diálogo
O Artista na sua intimidade
24
OS MILLENNIALS E O CARNAVAL O papel da juventude e das novas tecnologias nas escolas de samba
27
Conheça Belisário Cunha, o premiado do Plumas como melhor gestor de ateliê 2019
Manoel Gonçalves Filho assessor chefe do secretário de Cultura do estado do Rio de Janeiro
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FESTA DE DEBUTANTES: Conheça a trajetória de alguns dos maiores premiados do Plumas & Paetês Cultural
| Galeria 2018 | Confira as imagens dos premiados da 14ª edição do Prêmio Plumas & Paetês Cultural em homenagem ao compositor Wilson Moreira. A premiação ocorreu em 28 de abril no Teatro Carlos Gomes, e reuniu os artistas a imprensa especializada e representantes dos segmentos da economia criativa.
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Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
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| Capa |
Por: André Camargo
FICHA TÉCNICA: Fotos: Marcos Mello. Figurinos: Marinus Puro Linho Nossos debutantes: Fábio Ricar-
do, Edson Pereira, Alexandre Lousada, Jack Vasconcelos, Rodrigo Negri e Priscilla Motta.
E
m 2019 o Plumas & Paetês chega a sua 15ª edi-
não fazemos carnaval. Às vezes essas pessoas só querem um ‘muito
ção. Para celebrar, convidamos alguns dos maiores
obrigado’, um aperto de mão, um abraço de coração. Como dizem: a
premiados em todo este tempo para compartilhar
gratidão é o único tesouro dos humildes. Por isso esse reconhecimen-
um pouco das suas trajetórias e entendermos a im-
to feito pelo prêmio Plumas & Paetês é muito importante”
portância da premiação para os artistas da folia. Alguns recordistas
Recém contratado pela Paraíso do Tuiuti, para o carnaval 2020,
foram selecionados para representar os mais de 933 premiados: os
João Vitor é dono de cinco troféus do Plumas & Paetês Cultural. O
carnavalescos Fábio Ricardo, João Vitor, Edson Pereira, Alexandre
carnavalesco, que considera 2017 como seu ano de renascimento,
Lousada e Jack Vasconcelos, além do maquiador Jorge Abreu e do
após o sucesso de seu trabalho na Acadêmicos da Rocinha, conta
casal de coreógrafos Rodrigo Negri e Priscilla Motta.
que a premiação é um incentivo para pensar e buscar realizar um
O primeiro deles é Alexandre Louzada, recordista do prêmio de
trabalho sempre melhor que do ano anterior: “Ganhar o carnaval
melhor carnavalesco do Grupo Especial, vencendo em 2006, pela
de 2014 pela Viradouro foi uma das melhores sensações da minha
Vila Isabel, em 2007, pela Beija-Flor, e 2017, pela Mocidade. Ele,
vida. Mas retornar à Sapucaí desacreditado, em uma escola que pas-
que estreou na Portela em 1985, possui seis títulos de campeão
sava por uma situação financeira complicada, buscando fazer um
do Grupo Especial do Rio de Janeiro e dois em São Paulo. Com
carnaval para se manter no grupo, e chegar na hora, deixar toda
uma trajetória de dar inveja, Louzada já trabalhou em dezenas de
Avenida boquiaberta, realmente não tem preço. O carnaval de 2017
agremiações, com desfiles marcantes, que lhe renderam mais dois
me emociona até hoje. Foi o meu renascimento em todos os senti-
troféus do Plumas & Paetês Cultural: Melhor Figurinista, em 2005,
dos. Disseram que eu não conseguiria fazer mais nada e eu provei
pela Porto da Pedra, e Melhor Pesquisador do Grupo Especial, pelo
o contrário”.
enredo sobre Portinari, na Mocidade, em 2012.
Festa de
DEBUTANTES Conheça a trajetória de alguns dos maiores premiados do Plumas & Paetês Cultural 10
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Sua trajetória começou na Portela, no ano 2000, quando entrou
Entre os carnavalescos da nova geração destacamos Fábio Ri-
num barracão pela primeira vez, aos 15 anos: “Era período de férias
cardo, dono de sete troféus do Plumas. Sua estreia em nosso palco
escolares e tudo o que eu queria era trabalhar para levantar uma gra-
foi em 2006, como Melhor Figurinista do Grupo Especial, ano em
na extra para comprar os meus livros. Fui levado por um amigo que
que era assistente de Max Lopes, na Mangueira – parceria que durou
me disse que a escola estava um pouco atrasada e estava precisan-
oitos anos: “Foi o meu primeiro prêmio no carnaval. Uma surpresa.
do de aderecistas. Eu já era apaixonado por carnaval e já desfilava,
Nunca tinha imaginado que as pessoas me observavam atrás dos
mas não fazia ideia de como era feito tudo aquilo que eu admirava”.
bastidores, então para mim foi um marco, um incentivo para conti-
Depois dessa experiência, João Vitor passou cinco carnavais como
nuar a fazer a arte popular do carnaval”.
aderecista na Mangueira, Viradouro e Rocinha. Nesta última, sua
Fabinho, como é conhecido, já trabalhou ao lado de outros gran-
carreira deu uma grande virada: “passei a exercer a função de car-
des mestres, como Joãosinho Trinta, mas seria em 2008 que sua
navalesco da escola mirim da Rocinha (Borboleta Encantada) e a
carreira como carnavalesco começaria, pela Acadêmicos da Roci-
direção artística da ‘escola mãe’ até o início do processo de criação
nha, numa estreia muito premiada: “cada enredo é como filhos que
para o carnaval de 2013, que foi o ano do ‘tudo ou nada’ para mim”.
criamos e nos emocionamos. Mesmo aqueles encomendados, patro-
Depois de uma experiência frustrada no Grupo Especial, em
cinados, amamos do mesmo jeito e o carinho é igual. O primeiro en-
2015, pela Viradouro, João Vitor está de volta à elite da festa já de
redo, desfile e filho a gente nunca esquece”, garante o carnavalesco,
olho no sexto troféu do Plumas: “O mais bacana disso tudo é que fui
afirmando que o desfile de 2008 ficará sempre em sua lembrança.
premiado em todas as escolas em que eu trabalhei. Tenho todos eles
Apaixonado pela arte e pelo carnaval, ele atribui a paixão à pre-
expostos na estante do meu escritório. Eu me sinto muito honrado
sença marcante de sua mãe, que sempre o incentivou – e o levou às
por ter sido premiado cinco vezes. Até hoje me lembro da sensação
lágrimas ao assistir o seu primeiro desfile, em 2008. Fábio Ricardo,
que senti em todas as edições do Plumas & Paetês de que eu partici-
que já recebeu os troféus de Melhor Carnavalesco do Grupo Especial,
pei. O prêmio é de extrema importância! Essa valorização do profis-
em 2014, pela Grande Rio, e do Acesso, em 2009 e 2010, pela Ro-
sional que trabalha nos bastidores é necessária, afinal, carnavalesco
cinha, já faturou também os prêmios de Melhor Figurinista do Grupo
não trabalha sozinho. Nossa lista de colaboradores é extensa. Quem
Especial em 2012 e 2013, pela São Clemente, e Revelação do Car-
ganha um ano, quer ganhar sempre! É uma felicidade fazer parte
naval em 2008. Sobre estas homenagens afirma: “Hoje poucos são
deste ranking luxuoso!”.
conscientes em agradecer ao carnavalesco, ao figurinista, ao ferreiro,
Provando que no carnaval não se faz nada sozinho, destacamos
aos aderecistas, às costureiras. Eles são essenciais, pois sem eles
agora uma dupla, Priscilla Motta e Rodrigo Negri, pentacampeões Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
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da categoria Melhor Coreógrafo do Grupo Especial (2010,
2015 e 2017, pela Unidos de Padre Miguel, e
isso” e completa: “O Plumas & Paetês mudou a minha história den-
Pesquisador do Grupo Especial, em 2017 e 2018, Pesquisador do
2011, 2012 e 2014, pela Unidos da Tijuca, e 2015, pela
em 2018, pela Viradouro; Melhor Carnavalesco
tro do carnaval. A visibilidade, a credibilidade no meu trabalho, que
Acesso A, em 2010, 2015 e 2016, Figurinista do Acesso A, em
Grande Rio). Ela começou como componente da comissão
do Acesso B, em 2008, e Melhor Desenhista do
foi atestado como um dos melhores, me avalia como um profissio-
2010, 2014 e 2016, e Desenhista do Acesso A, em 2013, 2015 e
de frente da tradição em 2005 e se tornou assistente de
Acesso A, em 2014, ambos pela Unidos de Pa-
nal que deve ser respeitado. Isso é o que todos buscam em suas
2016. Diante de tantos louros, Jack lembra mesmo é da alegria de
coreografia da Unidos da Tijuca no ano seguinte, antes de
dre Miguel. Mas lembra que não fez nada disso
áreas de atuação. O prêmio é como se ganhássemos um carimbo
estar junto dos seus: “Na mesma premiação tem o carpinteiro que
assumir a abertura da escola. Ele foi assistente na Tradi-
sozinho: “Aquilo que eu penso para a plástica de
de qualidade, de respeito, de credibilidade. São profissionais sendo
trabalhou comigo, a costureira que eu vi trabalhando desde que eu
ção em 2005, dançou no Salgueiro em 2006,
um desfile precisa ser executado e o Plumas &
reconhecidos pela excelência apresentada. Para mim, esse é o maior
era assistente, e ver ela subindo no palco recebendo o prêmio é sen-
assinou como um dos coreógra-
Paetês mostra que os profissionais que sonham
reconhecimento do nosso trabalho”.
sacional! É uma premiação que olha pro profissional do barracão e
fos na Portela em 2007 e só em
junto comigo têm talento para levar
Por fim, mas não menos importante, ele que é o maior premiado
que, muitas vezes, o público não tem acesso àquele nome. Quem faz
2008, na escola Tijucana, iniciou
isso para a Avenida. Quando passo
da história do Plumas & Paetês Cultural, com o impressionante nú-
realmente esse sonho acontecer são esses profissionais e o Plumas
a parceria que dura até hoje.
minhas ideias para o papel, preciso
mero de 12 troféus, Jack Vasconcelos. Formado na Escola de Belas
nasceu olhando pra eles”.
de pessoas que caminhem junto co-
Artes, fez sua estreia como carnavalesco no Império da Tijuca, em
e Priscilla alcançaram a atenção
migo e que façam aquilo ser possível.
2005, pelo então Grupo B. De lá pra cá foi campeão duas vezes
do grande público em 2010, com a
É uma extensão total do meu trabalho
no Acesso A (2009 pela União da Ilha e 2016 pela Tuiuti) e vice-
famosa comissão que trocava de rou-
e eu não faço nada sem eles. Vê-los re-
-campeão do Grupo Especial em 2018, também pela Tuiuti, num
pas em segundos, no enredo “É Segre-
cebendo prêmios por executarem seus
desfile histórico.
Casados há 12 anos, Rodrigo
12
do”. A comoção foi tanta que o grupo
ofícios em prol da minha arte é um re-
realizou mais de 300 apresentações
conhecimento muito gratificante”.
Recém contratado pela Mocidade para desenvolver o carnaval 2020 sobre a cantora Elza Soares, Jack Vasconcelos, mostrou ao
extras, no Brasil e em países como
Entre estes artistas mais presentes
longo dos 15 anos do Plumas o seu caráter polivalente, sagrando-se
Canadá, Itália e Angola. Dedicando
nos bastidores da festa destaca-se Jorge
vencedor nas categorias Carnavalesco do Grupo Especial, em 2018,
todos os seus prêmios aos seus bai-
Abreu, pentacampeão do Plumas como
larinos, o par afirma: “É uma honra
Melhor Maquiador Artístico, quatro de-
pra nós figurar ao lado de tantos
las pelo Grupo Especial (2014, 2015,
artistas competentes e justamente
2016 e 2018) e outra pelo Acesso A
premiados”.
(2018), por escolas como Viradou-
Formado em Belas Artes, o
ro, Estácio de Sá, Unidos da Tijuca,
carnavalesco Edson Pereira iniciou
União da Ilha e Vila Isabel. “Sem dú-
sua carreira artística na década de
vida esse reconhecimento me trouxe
90, na equipe de cenografia da
notoriedade e muito mais respeito,
Rede Globo, onde conheceu
principalmente no meio do carna-
Chico Espinosa, que o levou
val, nos bastidores do povo que faz
para trabalhar na União da
carnaval. Isso é de uma importância
Ilha do Governador. Mas seria
sem tamanho”, ressalta Jorge, que foi várias vezes consi-
em 2005 que assinaria seu
derado um dos cinco melhores maquiadores artísticos do
primeiro carnaval, na Unidos
Brasil pelo Prêmio Avon.
de Padre Miguel. Depois ain-
Artista plástico de formação, com atuação em vários
da passaria pela União de
segmentos como cenografia, adereços e figurinos, Jorge
Jacarepaguá, Viradouro, Re-
relembra seu início: “Comecei minha vida no carnaval com
nascer de Jacarepaguá, Mocidade Independente,
os concursos de fantasias do Hotel Glória. Daí para a Sa-
até chegar na Vila Isabel, onde já se prepara para o carnaval 2020.
pucaí foi um pulo. Através do carnavalesco Jaime Cesário embarquei
“Em todas estas agremiações eu aprendi algo que me enriqueceu
nas grandes escolas do Grupo Especial e de Acesso”.
como artista e trago um carinho muito grande por esses pavilhões”.
Recordista em sua categoria, Jorge Abreu lembra com carinho
Atual vencedor da categoria Melhor Carnavalesco do Grupo Es-
sua estreia no Plumas: “Acho que foi uma das maiores emoções
pecial, pela Vila Isabel, em 2019, Edson possui mais cinco troféus
que eu tive. Ser reconhecido pelo meu trabalho, independente de
do Plumas: tricampeão como Melhor Carnavalesco do Acesso A, em
qualquer outra coisa, era um prêmio. Acho que nunca esquecerei
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
ANDRÉ CAMARGO é jornalista, graduado em Letras e revisor da revista do prêmio Plumas & Paetês Cultural
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Deu Samba! Miro Ribeiro e os 20 anos do Vai dar Samba Por: Rafael Bacelo
Q
uem sintoniza, de segunda a sexta, na rádio 94 FM, às 20h, sabe: toda edição do Vai dar Samba é iniciada com uma louvação às velhas guardas, aqueles que construíram a história que temos
hoje. Da mesma maneira, para falar sobre os 20 anos do programa, nada mais justo do que homenagear aquele que iniciou essa
tra-
jetória, o radialista Miro Ribeiro; Nascido em uma família humilde do subúrbio carioca, moradora de Guadalupe, Abolição e Piedade, Miro é o terceiro de quatro filhos da dona Eunice e Sr. Almiro Barcellos Ribeiro. Ele, que cresceu achando que seria psicólogo - até tentou o vestibular -, acabou cursando Comunicação Social. A contragosto, quem diria. Graduado, tomou prazer pela profissão e acabou pós-graduado em Jornalismo Cultural. A paixão pelo rádio apareceu ainda nos tempos de faculdade, quando foi convidado a participar de um programa radiofônico voltado aos estudantes, onde continuou mesmo após o fim da atração. Em seguida, foi para a Rádio Bandeirantes em um programa chamado Ciranda dos Clubes. Durante este período, ao participar de um concurso na faculdade, conseguiu uma vaga de estágio na então TV TUPI. Lá foi repórter da área de esporte e do jornalismo, mas
passado por quase todas as emissoras do Rio de Janeiro - incluindo algumas comunitárias -, além de atuar como comentarista de carnaval nas TVs Bandeirantes, SBT e CNT. Miro, que foi também locutor da São Clemente, foi convidado pelo radialista Luiz Felipe Melo, então presidente da Rádio Roquette Pinto, para fazer o Vai Dar Samba, em 1999, e nunca mais deixou o programa. No início, o Vai dar Samba ia ao ar apenas nas noites de sábado. Ao longo dos anos, foi ganhando audiência e mais espaço na programação, em um momento em que o samba não tocava em FM. O programa passou também pela Rádio Manchete, por oito anos, divulgando o dia-a-dia das agremiações de todos os grupos, bandas, blocos, livros, filmes e tudo o que se refere à cultura do carnaval. Na programação, sambas de enredo, entrevistas com presidentes, diretores, carnavalescos, intérpretes, escultores, aderecistas, famosos e anônimos: um espaço aberto e permanente para o mundo do samba, suas “mumunhas e remandiolas”. Além de Miro, que também apresenta a cerimônia de premiação do Plumas & Paetês Cultural desde 2010, a equipe do Vai dar Samba, atualmente, é formada por Paulo Coutinho, Miguel Ângelo e Marcelo Pacífico. Profissionais que, assim como em uma escola de samba, são os responsáveis por manter viva esta cultura.
abdicou da carreira de locutor esportivo, negando o convite de Carlos Lima. Seu negócio era mesmo a boemia e o samba. Dono de uma voz diferenciada, forte e considerada de autoridade, Miro Ribeiro tem feito a festa na radiofonia brasileira, já tendo
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Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Rafael Bacelo é sambista e filho de Miro Ribeiro Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
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| Homenagem |
Por: Tiago Ribeiro
Aluísio Machado S/A Fotos: Marcos Mello
O sambista, galhofeiro e contestador conta sua história e deixa a sua marca família só esperou Aluísio crescer um pouco, cerca de um ano, para seguirem para a então capital federal, em busca de melhores oportunidades de trabalho. No Rio, ele, que é Alcides em homenagem ao pai e Aluísio por sugestão de sua madrinha, fez morada na região de Madureira e
Enquanto dava os primeiros passos no samba, mudou de empre-
buquerque e Oswaldo Cruz. Seria nessa região, ainda na infância,
go, indo trabalhar em uma loja de tecidos na Gomes Freire, Centro
que começaria a brincar de compor, de modo intuitivo, tendo como
do Rio. Seria no percurso trabalho-casa que daria um outro passo
sua primeira musa inspiradora uma então namoradinha dos tempos
importante: “Eu estava na Rua da Constituição, em direção à Pra-
do colégio, para a qual escreveu uma canção em formato de bilhete,
ça Tiradentes pra pegar a condução, quando escutei um ritmo de
intitulada “A Carta”.
tambor, atabaque, num sobrado. Um dia eu subi, cheguei lá, era o
Com os estudos não teve muito como avançar: “Filho de pobre,
Teatro Popular Brasileiro, de Solano Trindade. Ele logo me convidou
14 anos, fez o primário? carteira de menor e trabalho”. Seu pai,
a participar, mas eu disse que não, que eu só tinha ido assistir. Ele
pedreiro, queria lhe ensinar o ofício de servente, mas o menino fugia.
insistiu: não quer experimentar? Eu experimentei e gostei da coisa,
Acabou como aprendiz de estofador, numa tapeçaria em Copaca-
aprendi muito ali”. No total, Aluísio ficou cerca de dez anos na Cia,
bana, profissão que lhe rendeu boas histórias, como a que envolvia
se apresentando por todo o brasil, dançando ritmos como congo, ma-
uma cliente fogosa, que, anos mais tarde, inspiraria a canção “Artifí-
racatu, frevo, cateretê e caxambu, e só não foi para o exterior porque,
cio”, sobre um amor proibido, escondido.
na época, era menor de idade. Além disso, dançou nos filmes “Rio,
Filho de sanfoneiro numa casa sem nenhum outro músico, foi
S
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e você chegar na quadra do Império Serrano e procurar
cazes, no bairro Guarus, como gosta de frisar, Aluísio Machado é
por Alcides Aluísio Machado, ninguém conhece. É o
o sétimo e último filho do casal Maria Augusto Machado e Alcides
próprio quem diz. Da mesma maneira, se o tal é vis-
Machado. Ele, mineiro e sanfoneiro. Ela, capixaba e lavadeira. Os
to sem o seu chapéu, marca registrada de sua figura,
dois se conheceram no Espírito Santo e rumavam ao Rio de Janeiro
também passa desapercebido. E foi justamente para conhecer mais
quando a gravidez chegou a tal ponto que forçou a pausa na viagem.
o homenageado do Plumas & Paetês Cultural 2019, sem deixar pas-
Instalados na cidade, Aluísio veio ao mundo num dia em que Dona
sar nenhum detalhe importante, que fomos até a sua casa, para uma
Maria levava uma trouxa de roupas para as madames da região. A
boa dose de conversa, regada à cantoria.
bolsa estourou e ela acabou dando à luz embaixo de uma árvore.
Nascido no dia 13 de abril de 1939, em Campos dos Goyta-
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Mas embora seja grande o carinho pela cidade natal do caçula, a
Aluísio tinha 14 anos.
bairros próximos, tais como Campinho, Cavalcanti, Ricardo de Al-
40 graus”, “Orfeu Negro” e “Meus Amores no Rio”.
através do seu irmão, Milton, que conheceu sua inspiração definitiva,
Enquanto conciliava o trabalho na loja e o Teatro de Solano Trin-
o Império Serrano, num tempo em que os desfiles ainda ocorriam na
dade (saía do serviço entre 17h e 18h, com o ensaio começando às
Presidente Vargas, com o cortejo cercado por cordas: “Meu irmão
19h), Aluísio continuava no Império Serrano. Saiu em ala, na bateria
desfilava em ala e era um cara que guardava as fantasias de um ano
(tocando reco-reco, porque, segundo ele, o instrumento mais fácil),
para outro. Tudo bonitinho, no plástico. Como a gente tinha o mesmo
e foi passista, antes de escrever sambas para a escola: “Eu já com-
porte físico, quando chegava o carnaval, ele botava a fantasia nova,
punha no Império, mas pra entrar pra ala de compositores era difícil,
eu ia no armário dele e pegava uma roupa do ano anterior. Eu dei-
porque, no meu tempo, você tinha que fazer um estágio de dois anos
xava ele ir, depois ia atrás, mas ficava do lado de fora, porque com
pra poder entrar pra ala. Além disso, você tinha que apresentar uma
fantasia velha não podia desfilar. Quando o diretor de harmonia se
música, o samba de terreiro, que hoje em dia chamam de samba de
afastava, eu passava pro lado de dentro da corda. Foi assim que eu
quadra, mas quadra é lugar de basquete, vôlei, o nome é samba de
comecei”. O ano era 1954, o desfile “O Guarani de Carlos Gomes” e
terreiro”. Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
17
Amante do samba, antes de qualquer coisa, aceitaria o convite para ser mestre-sala da Imperatriz Leopoldinense, em 1963, quando
interpreto o que eu canto”.
a escola ainda desfilava no segundo grupo. A ideia partiu de Maurílio
Neste meio tempo, durante a ditadura militar, seria chamado
da Penha Aparecida e Silva, o Bidi, compositor do samba daquele
a prestar esclarecimentos no 1º Batalhão de Polícia do Exército,
ano, “As três capitais”, que também era fundador do grupo Originais
como subversivo, acusado de cantar músicas de protesto nas
do Samba: “ele gostava de me ver dançar. E a Imperatriz não era
“Noitadas de Samba” do Teatro Opinião. Contestador por nature-
essa que você vê hoje, mas uma escola pequenininha. Pra você ver,
za, Aluísio abusou das metáforas para manter sua rebeldia, como
o ensaio era no Morro do Alemão, no terreno da casa do Zé Katimba,
fez em mais uma de suas canções, “Minha filosofia”: “essa é uma
não tinha nem quadra. Houve uma briga lá com o mestre-sala e o meu
música de protesto, mas pensam que é romântica”.
compadre me chamou pra eu dançar. Aí saí um ano só”.
Nos anos seguintes, seria gravado por grandes nomes como
Seria ainda nos anos 1960 que o sambista entraria para a dis-
Beth Carvalho e Alcione, em 1981, mesmo ano em que retornaria
putada ala dos poetas da Serrinha. Desta vez, a musa do seu samba
ao Império Serrano, afinal, “um filho do verde-esperança não foge
seria Vera Lúcia Couto dos Santos, segunda colocada no Miss Brasil e
à luta, vem lutar”. A escola passava por uma de suas maiores
terceira no Miss Beleza Internacional, em 1964, a mesma que inspi-
crises, seria rebaixada e passaria por novas eleições. O vencedor
rou João Roberto Kelly a fazer a marchinha “Mulata Bossa Nova”: “ela
do pleito, Jamil Salomão Maruff, o Jamil Cheiroso, tratou de reunir
marcou uma visita ao Império, que ela gostava muito. Como ninguém
todos os imperianos afastados, trazendo da Vila Isabel tanto Alu-
pensou em homenageá-la, então eu fiz, sozinho, um boi-com-abóbora,
ísio Machado quanto Beto Sem Braço: “ele mandou um diretor
uma água com açúcar. Cantei lá no dia e assim abriram-se as portas
lá no Bola Preta, onde eu cantava, pra me chamar pro Império.
pra eu entrar pra ala de compositores”.
Quando chegamos, ficamos de calça curta porque todo mundo já
Destaca-se entre estes carnavais o de
seis Estandartes de Ouro, foi Cidadão Sam-
ras vagas gosta de assistir History Channel
O sucesso como compositor no Império Serrano demoraria um
tinha sua parceria. Por sugestão do próprio Jamil, nós formamos
1989, ano em que iniciou sua segunda
ba, em 2014, mesmo ano em que recebeu
e namorar. Oposição da atual administração
pouco mais a chegar, uma vez que seu ídolo, Silas de Oliveira, ganha-
uma dupla”. A parceria seria não só a campeã, como o Império
grande parceria musical: “o Beto um dia fa-
do tribunal marítimo o diploma de bronze
do Império Serrano, já não disputa samba
ria todas as disputas de samba de enredo nos anos seguintes, até o
Serrano, mantido na primeira divisão, também: “quando o portão
lou ‘tem um cara tocando cavaco - não era
pelos 17 anos de serviços prestados. Teve
na sua escola desde antes de a agremiação
final da década. Ao mesmo tempo, com o início de carreira de Aluísio
se abriu pra gente entrar na Passarela, o povo já estava cantando”.
nem banjo ainda - e como eu não toco, nem
sua vida contada no DVD “O famoso Aluísio
decidir adaptar a canção “O que é, o que
na noite, impulsionada pelo jornalista do Última Hora, Roy Sugar, os
O samba, “Bum bum paticumbum prugurundum”, sucesso até
você, chama ele’... aí entrou o Arlindo Cruz
Machado”, na biografia “Aluísio Machado:
é?”, de Gonzaguinha, para este carnaval. Em
horários passaram a conflitar, levando o compositor a ser expulso da
hoje – e toque de celular do compositor –, guarda alguns segredos,
pro Império, com a minha anuência. E esse
sambista de fato, rebelde por direito”, de
2019, assina o samba da G.R.E.S. Unidos
ala pelo presidente Irani Ferreira: “os compositores tinham que assinar
tais como uma homenagem a Silas de Oliveira: “ele era um cara
foi o primeiro samba que ganhamos jun-
2015, e foi tema de enredo do então blo-
da Barra da Tijuca, pelo Grupo E, com o en-
ponto. Quando eu chegava já estava quase no fim do ensaio”. Após a
que, antes de fazer a letra do samba-enredo, fazia uma introdução.
tos”. Além disso, um mês antes do desfile, o
co Coroado de Jacarepaguá, campeão em
redo “Eu não sei se você é, mas eu sei que
sua saída do Império, no início dos anos 1970, por intermédio de um
Então eu pensei: vou fazer desse jeito também porque é bonito”.
mestre-sala do Império Serrano seria assas-
2014. Desapegado, doou boa parte de seus
eu sou, Barra da Tijuca, meu amor!”.
colunista do jornal O dia, o sambista foi apresentado a Martinho da
Além disso, a letra do samba gerou uma divergência sobre a es-
sinado, levando Aluísio a tomar uma decisão
troféus: “na minha parede não tinha mais
Legítimo representante da malandra-
Vila, que o aceitou na ala de compositores da Vila Isabel. Lá, mesmo
trofe final da composição: “o Beto não queria de jeito nenhum que
corajosa, rendendo uma de suas maiores
lugar, dei tudo para o Museu do Samba. Es-
gem, poeta do mais alto gabarito, dono
conseguindo chegar à final da disputa em uma das ocasiões, tam-
colocasse o verso ‘Super escolas de samba S/A...’, porque a gente
emoções na Avenida, dançando ao lado da
tou com 79 anos agora, daqui a pouco, meu
de um samba no pé inconfundível, Aluísio
bém não obteve vitória: “eles não me deixavam ganhar, eram muito
estava fazendo em cima da Beija-Flor, que vinha com aquelas ale-
sua filha, a porta-bandeira Andrea Machado:
tempo de validade passa... deixei num bom
Machado traduz em qualquer bate papo o
bairristas. Não é igual agora que ganha gente de tudo que é lugar. E
gorias grandes e a gente com aqueles carrinhos de pipoca”, mas a
“Como eu tinha o mesmo porte físico, era
lugar”.
caráter contestador e galhofeiro de sua arte.
eu como era de fora, fiz vários sambas que, eu sei, tenho autocrítica,
rebeldia de Aluísio venceu mais uma vez.
mestre-sala nos ensaios, na ausência dos
Gravado por artistas como Zeca Pagodi-
E se, ao final da entrevista, na hora da foto,
De lá pra cá foram 13 vitórias em disputas de samba enredo
oficiais, e o Império ficou apavorado... en-
nho, Martinho da Vila, Neguinho da Beija-
trata logo de buscar seu panamá pra colocar
Aluísio teria sua primeira composição gravada em 1972, “Gente”,
no Império Serrano. Além do célebre “Bum bum”, estão: “Mãe
tão falei ‘eu danço’. Aí entrei no lugar”. Além
-Flor e Dominguinhos do Estácio, em parce-
na cabeça, nós do Plumas & Paetês Cultu-
por Miriam Batucada, mas sua carreira começou a deslanchar mesmo
baiana, mãe”, de 1983, “Eu quero”, de 1986, “Com a boca no
de Andrea, filha da também porta-bandeira
rias com Davi Correa, Serginho Meriti, Acyr
ral, lhe dedicamos mais uma de suas jus-
em 1974, quando venceu o concurso do programa “A Grande Chan-
mundo, quem não se comunica se trumbica”, de 1987, “Jorge
Celina dos Santos, do Salgueiro, Aluísio tem
Marques, Nei Lopes, entre outros, Aluísio
tas homenagens recebidas, tirando o nosso
ce”, de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi, com a música “Aí Então...”. O
Amado, axé Brasil”, de 1989, “Império Serrano, um ato de amor”,
outros cinco filhos, dez netos e oito bisnetos,
Machado não para, continua fazendo shows
chapéu.
produtor do programa, Arthur Faria, o apresentou ao Renato Barros
de 1993, “Verás que um filho teu não foge à luta”, de 1996,
dentre eles, Tatiana, que dançou pela União
e afirma que a sua melhor música ainda não
do “Renato e seus Blue Caps”, que produziu o primeiro LP de Aluísio
“Aclamação e coroação do imperador da Pedra do Reino: Ariano
da Ilha, e o neto Matheus Machado, atual
compôs. Defensor ferrenho do ritmo, afirma
Machado, em 1975, pela CBS, intitulado “Apesar dos Pesares”. O
Suassuna”, de 2002, “E onde houver trevas que se faça a luz”, de
mestre-sala da Lins Imperial.
que o samba corresponde a 80 ou 90% de
nome não poderia ser mais emblemático: “o cara era de rock, colocou
2003, “O Império do divino”, de 2006, “Ser diferente é normal: o
Ao longo destes quase 80 anos de vida,
um desfile: “Se você tem um bom samba, o
na minha gravação oboé, 16 violinos, Raul de Barros no trombone...,
Império Serrano faz a diferença no carnaval”, de 2007, “A benção,
recebeu muitas homenagens e prêmios por
jurado fica cego, esquece alegoria, esquece
mas eu querendo gravar, fiquei quieto. Poxa, fiquei feliz, mas eu não
Vinícius”, de 2011, e “Silas canta Serrinha”, de 2016.
sua carreira na música e fora dela. É dono de
a fantasia...”. Ativo, faz academia e nas ho-
podia ganhar”.
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sou Emílio Santiago. Eu sou mais compositor do que cantor, eu
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Tiago Ribeiro é jornalista, doutorando em Artes pela UERJ e editor da revista do prêmio Plumas & Paetês Cultural.
Revista Plumas & Paetês Cultural 2018
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| Homenagem |
E verás que um filho teu não foge à luta, ao som do bumbum paticumbum
Q
Por: Luiz Ricardo Leitão
uem vê de longe o Seu Alcides Aluísio Machado, o sambista de fato imperiano nascido há quase 80 anos à beira do Rio Paraíba do Sul, lá em Campos, não logra imaginar o quanto de arte
e fabulação habita aquele personagem. A figura franzina, de expressão ora maliciosa, ora entediada, que se move sempre de um “jeito teatralmente correto”, conforme retratou com raro engenho seu compadre Nei Lopes, guarda na bagagem um currículo que raros artistas do século XXI sonham em exibir. Para início de conversa, com menos de 18 anos o então aprendiz de estofador iniciou-se na dança com a Companhia de Solano Trindade, o saudoso ator, poeta e dramaturgo pernambucano. Solano, nos anos 50, dirigia o Teatro Popular Brasileiro (TPB), difundindo os ritmos do folclore brasileiro ao lado de sua companheira Margarida Trindade e do sociólogo Édison Carneiro – e foi com ele que o moleque pé de valsa pôde desenvolver seus dotes de dançarino.
Aluísio Machado, sambista de fato, rebelde por direito
Quem vê o mestre-sala de perto durante suas entradas literalmente coreográficas em cena, logo se dá conta de que, assim como o samba, a dança sempre foi uma paixão avassaladora de Aluísio. Nas aulas ministradas no TPB, ele pôde travar contato com os ritmos mais expressivos da cultura popular brasileira, sobretudo aqueles de forte tradição no Nordeste, terra natal de Solano. E, assim, conheceu a fundo uma infinita gama de sons e coreografias, como o bumba-meu-boi, o frevo, o maracatu, o coco, o jongo e o candomblé. Não fossem as inesperadas presepadas em que o próprio sambista se enredava, ainda bem jovem, seu aprendizado teria sido concluído nos palcos africanos e europeus, onde o grupo de Solano, ao final da década de 50, se exibiu em grande estilo. Que o diga a temporada em São Paulo com a companhia, abreviada brusca-
mente por conta de uma aventura com uma formosa paulistana, que
do Amaral Peixoto, a filha de Getúlio Vargas, casada com outra figura
resultou em enorme dor de cabeça para o libidinoso Aluísio.
de peso na política nacional, o cacique fluminense Ernâni do Ama-
Vale a pena relembrar o causo... Tudo começou no concorrido
ral Peixoto. Sem dinheiro sequer para o aluguel de uma meia água
baile do “Som de Cristal”, que o campista com manha de carioca
onde pudesse viver com a futura esposa, o destemido campista não
quis conhecer para espairecer um pouco – e só terminou na manhã
pestanejou e disse sim ao padre. Se o casamento não durou quase
seguinte, com um desfecho digno de comédia pastelão. Ao final do
nada, o presente que a madrinha Alzira pediu ao marido Ernâni foi
arrasta-pé, o casal foi para o quartinho onde a moça, empregada em
uma dádiva terrena: um emprego no serviço público, algo que raros
um casarão de Sampa, se alojava. A madrugada prometia, mas um
sambistas puderam ter na vida.
vizinho xereta flagrou a visita “indesejada” e avisou o dono da casa,
A partir daí, a carreira do recruta decolou. Ao final dos anos 60
um Juiz de Menor em São Paulo – que, obviamente, expulsou os dois
e início dos 70, ele cantava na Churrascaria Belvedere do Méier, no
pombinhos do ninho...
Teatro Opinião e em outras casas da Zona Sul, entre elas as boates
O Brasil e o mundo perderam um dançarino, mas o Império
Sucata, Degrau, Colt 45 e Cassino Royale. Além disso, Aluísio era
Serrano e o samba ganharam um de seus maiores compositores. O
atração constante da feijoada do clube Helênico, no Catumbi. E, cla-
“vestibular” do calouro se deu enquanto ele prestava serviço militar
ro, marcava sempre presença na “Casa de Bamba” da Vila Isabel,
em um quartel de Campinho. O recruta serelepe arrumava um jeito
cujo Ala de Compositores o imperiano rebelde integrou depois de se
de driblar a marcação do oficial para não perder os pagodes que os
recusar a “bater ponto” nas reuniões da verde e branca da Serrinha.
mestres organizavam, como os célebres piqueniques em Paquetá,
Essa veia libertária se tornaria deveras perigosa depois que ele
que o seu Império Serrano, a Aprendizes de Lucas e a turma do
assumiu tons bem “vermelhos” em suas composições. Odiado nos
quitandeiro-sambista Samuel realizavam uma vez por ano.
anos 70 pelos militares, a quem seus versos soavam como uma
Tempos românticos do samba... Às sete horas da matina, a bar-
‘heresia’, o rebelde por direito desconversava, dizendo, com boa dose
ca já saía da Praça XV lotada de bambas, que não paravam de cantar
de picardia, que seu partido era apenas o glorioso partido-alto. Na
e jogar o “samba duro”, tratando de esquivar-se da pernada que o
verdade, desde os tempos da “Noitada de Samba” do Teatro Opinião,
outro lhe pretendia desferir. Acompanhando a ruidosa caravana, ha-
ele tornou-se um cronista da história moderna do Brasil, cantando
via ainda um conjunto de baile, que dividia os passageiros em dois
em seus sambas os “anos de chumbo”, a ambígua “abertura”, o fim
grupos: quem gostava de samba ficava de um lado da embarcação;
da ditadura e a luta pela democracia plena em meio à onda neolibe-
já quem não gostava... Embalados pelo suave balanço das ondas, os
ral nos anos 90.
músicos seguiam tocando do Rio até Paquetá, onde, ao desembar-
Para quem desconhece essa faceta de Aluísio, vale a pena con-
car, a turma ia a pé até a Praia da Moreninha, com os instrumentos
ferir uma estrofe do samba “A Humanidade”, mais aguda e didática
a todo vapor.
que muito ensaio sociológico da academia:
Sambista de fato, rebelde por direito Cumprido a “quarentena” na caserna, o samba mandou chamá-lo e ele estava pronto para assumir sua missão, mesmo sem vislumbrar àquela época qual seria a trilha mais indicada a tomar. Aos
Quem tem muito quer ter mais Quem não tem resta sonhar Quem não estudou é escravo De quem pode estudar Os direitos humanos são iguais Mas existem as classes sociais
19 anos, o recruta da batucada apanhava o ônibus 638 (Marechal Hermes – Saens Peña) em Madureira, dava a volta ao mundo pela
Como diria mestre Nei Lopes, “quem é que disse que a vanguar-
Zona Norte e descia no ponto final, na Rua General Roca, na Tijuca,
da do protesto na música popular brasileira foi do rock’n roll?” A aura
para subir o Salgueiro, onde dançava de mestre-sala no ensaio de
de subversivo tornou-se ainda mais lendária depois que um soldado,
mestre Calça Larga e flertava com as cabrochas de alta linha.
sambista da Portela, o viu entrar no quartel do DOI-CODI, na Tijuca
Um compromisso mais sério, porém, logo se sobrepôs. Aluísio
(aonde fora tratar de temas do serviço público), mas não o viu sair.
enrabichou-se por uma jovem cor de jambo que conheceu no trem,
Pronto! Lá em Madureira, o boato de que os militares tinham gram-
sem saber que a tal Matilde era dama de companhia de Alzira Vargas
peado Aluísio subiu e desceu os morros, sem que o marrento cidadão fizesse a menor questão de desmentir a prisão.
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Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
| Gestão de Carnaval | Do Bumbum para o mundo Já nos tempos da “distensão lenta e gradual”, na virada dos anos 80, os ares ficaram mais leves para o compositor. Em 1981, no histórico LP Na fonte, Beth Carvalho inclui “Escasseia”, música sua
Eu me embalei pra te embalar No balancê, balancear Vem na folia Chegou a hora de mudar O meu Império vem cobrar democracia
em parceria com Beto Sem Braço e Zé do Maranhão; e nesse mesmo ano, Alcione registra “Minha filosofia”. Em 1982, Aluísio e Beto
Mesmo declarando que não tinha filosofia ou ideologia e que
despontam para o Brasil e o mundo com a onomatopeia mais famo-
tampouco pensava em “desafiar a política ao compor um samba”,
sa dos sambas de enredo (“Bumbum Paticumbum Prugurundum”),
Aluísio sabia que um gênero musical tão genuíno era um “espaço
denunciando o abandono da gente bamba, engolida pela hipertrofia
democrático para o registro dos costumes do povo”, conforme ele
visual e o gigantismo voraz das agremiações. Entre o lírico e o épico,
próprio expressou ao Museu do Samba há alguns anos. Eleito Cida-
os versos finais da canção são a súmula do “hino” que até hoje ecoa
dão Samba 2014, após uma acirrada disputa com bambas do naipe
em nossa memória musical:
de Monarco e Nélson Sargento, o sambista de fato continua a postos, sob a guarda de um anjo torto, o olhar cúmplice dos orixás e o sorriso
Superescolas de Samba S/A Superalegorias Escondendo gente bamba Que covardia!
carinhoso das musas. Sem dúvida, Seu Alcides é mais um baluarte do nosso samba. Do alto dos seus quase 80 anos, ele nos prova que, mesmo bombardeada pelo pastiche sertanejo da mídia e outros gêneros da sociedade de consumo, a boa e velha batucada resiste. Para os mais pessimistas,
Após faturar o primeiro dos seis Estandartes de Ouro da carreira,
vale lembrar que “o santo que faz milagre também castiga”; e tudo
ele seguiu arrepiando corações e mentes com sucessos como “Eu
que dá em abundância, inclusive as pragas mais nefastas – desde o
Quero” (1986), que vocalizava as esperanças populares após 21
som pasteurizado desta era dita biocibernética até o pau de selfie –,
anos de ditadura. E em 1996, emplacou, em parceria com Arlindo
um dia escasseia. Evoé, Aluísio!
Cruz & Cia (Beto Sem Braço falecera três anos antes), outro canto de lírica rebeldia – “E verás que um filho teu não foge à luta” –, samba dedicado ao guerreiro Betinho, “o irmão do Henfil”, cujo refrão marcou época na avenida:
Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor associado da UERJ. Doutor em Estudos Literários pela Universidad de La Habana (Cuba)
Por: Leonardo Antan
Quando os desfiles rompem a Avenida
D
Tradição, espetáculo e diálogo
esde que nasceram, as escolas de samba então
realmente vende-las como empresas e produtos simplesmente do
morrendo simbolicamente, gingando entre a tradi-
turismo?
ção e a modernidade. A famosa máxima “no meu
O carnaval sobrevive hoje em uma lógica empresarial que não
tempo era melhor” enche de saudosismo uma ma-
se sustentou, que lotou camarotes na Sapucaí e fez o público dar as
nifestação que sempre teve como força o seu poder de negociação.
costas para a Avenida, ao som de cantores sertanejos. Os turistas
Em seus mais de 80 anos, as escolas de subúrbios distantes e fave-
chegam e não levam uma boa experiência da festa, que sofre com
las saíram do palco da pequena folia de então ao posto de atração
atrasos, erros de administração e sérios problemas de infraestrutura.
principal da festa carnavalesca, de singelas agremiações a donas
Apesar de espetaculares, as escolas não parecem saber aproveitar
de um espetáculo visto pelo mundo inteiro. Da idílica Praça Onze
isso como deveriam. Poucos se interessam pelos desfiles, pela histó-
ficou a saudade dos tempos idos, nunca esquecidos, que moldam
ria da festa, pelo cultural e seus personagens.
instituições vivas e mutáveis que souberam muito bem se adaptar as demandas de cada tempo e se reinventarem. Mas até quando?
As escolas de sambas são arte em estado bruto. Reúnem artistas das mais diversas áreas, entre dança, teatro, música, escul-
Em meio a uma crise política e econômica no país, as agremia-
tura, pintura e até literatura. Seja num enredo, em uma comissão
ções carnavalescas sofrem em um cenário que parecia impensável
de frente, na bateria, nas alegorias e fantasias, na voz do intérprete
décadas atrás. Acusadas de espetaculares e divorciadas da cidade
e no bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma escola
e da grande massa popular, a tensão do espetáculo segue amedron-
de samba trasnborda arte durante o ano inteiro, em suas quadras e
tando o desfile há décadas. Desde os anos 1960, pelo menos, quan-
seus barracões.
do as entidades se aproximaram de profissionais oriundos das artes
Valorizar os desfiles das escolas de samba é aumentar seu alcan-
institucionalizadas, as escolas de samba seguiram um processo de
ce e público, dialogar com outras instituições, fazendo circular uma
transformação que as transformaram em um espetáculo único no
produção tão rica artística e culturalmente. Seja na literatura, em
mundo, que reúne diversos saberes artísticos diante de um público
exposições de artes, filmes e todo tipo de produto cultural. Daí a ne-
amplo e apaixonado.
cessidade de criar selos voltados a publicação de livros sobre a folia,
Foi esse processo, aliando turismo e negócio à lógica da ma-
promover exposições e homenagens aos grandes nomes que forma-
nifestação nascida “popular”, que ajudou a alçar as escolas como
ram e definiram as agremiações brasileiras. De levar também essa
principal produto cultural da cidade do Rio de Janeiro. Mas qual foi
história e personagem para dentro da academia, onde se pesquisa a
o preço dessa transformação?
fundo nas mais diversas áreas o legado cultural dessa manifestação.
Entre altos e baixos, mais altos que baixos, as escolas vivem
O carnaval precisa ocupar novos espaços, reafirmar sua impor-
nos últimos anos. Os ingressos não vendem mais como antes, não
tância como parte da História da Arte brasileira. Ao misturar diversas
contagiam o povão.... Povão que sempre se interessou pela festa,
formas de expressão, as escolas de samba criaram uma linguagem
vide os ensaios técnicos que reuniram enorme público presente nos
artística única no mundo. A importância de nomes como Rosa Ma-
seus últimos anos. Lugar de disputa e tensão, as escolas são palcos
galhães, Fernando Pinto e Joãosinho Trinta se dá além da pista dos
da história da cidade. O Rio é uma cidade com vocação cultural
desfiles. Faz o país que somos e que queremos ser.
e artística indiscutível e as nossas escolas de samba se fizeram o maior empreendimento inventivo cultural dessa cidade. Mas como reafirmar o valor cultural dessas agremiações? A melhor solução é
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Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Leonardo Antan é mestrando em Artes na UERJ e um dos diretores do projeto Carnavalize. Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
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| Gestão de Carnaval |
Por: José Maurício Tavares
Os Millennials e o carnaval
M
nologia podem caminhar juntas e atender as expectativas do
jovens Millennials são descendentes de fundadores e de fami-
público que também mudou, como apontou Rodrigo Pacheco,
liares que frequentam as agremiações carnavalescas.
vice-presidente da Mocidade, logo após o desfile de 2017.
E os resultados não demoraram a aparecer. Campeã em
Na Beija-Flor, a entrada de Gabriel David, de 20 anos,
1997 com um dos desfiles mais marcantes da história do
causou um certo alvoroço no mundo do samba. Muitos se
carnaval, “Trevas! Luz! A explosão do universo”, de autoria do
perguntavam como um jovem poderia comandar uma das Es-
revolucionário Joãosinho Trinta, a Unidos do Viradouro viveu
colas de Samba mais consagradas do carnaval. A resposta
nos últimos nove anos um sobe e desce constante, mas a
também veio em forma de título no ano de 2018 e o discurso
vontade de acertar sempre foi um objetivo a ser atingido. Com
adotado a partir de então dentro da agremiação é deixar a
inovação e ousadia, características típicas dos Millennials, a
Beija-Flor mais “leve” e conectada com a atualidade na forma
Unidos do Viradouro conectou-se rapidamente as novas ge-
de apresentação, buscando assim uma comunicação mais as-
rações, investindo em carnavalescos como João Vitor, Jorge
sertiva com o público.
Silveira e Edson Pereira, profissionais contemporâneos da era
Claro que essa relação nem sempre é tranquila, mas já
digital que são considerados pela crítica especializada como a
existe uma consciência de ambas as gerações sobre o resulta-
geração substituta de nomes como Rosa Magalhães, Renato
do positivo e agregador para as Escolas de Samba. Em levan-
Lage e Max Lopes. Marcelo Calil, atual presidente da agre-
tamento realizado pelo Plumas & Paetês Cultural em 2018,
miação, e a vice, Susie Bessil, enfatizaram após assumirem
verificou-se que a presença dos jovens Millennials já é uma
a Escola que “é importante mostrar a beleza e a grandeza do
realidade na chamada “periferia do samba” que reúne os des-
carnaval, mas isso tem que ser fruto de uma estrutura interna,
files de agremiações na Intendente Magalhães. Em menos de
focando no fortalecimento do todo”. É a lógica do empreende-
cinco anos surgiram cinco novas agremiações carnavalescas,
dorismo na busca do crescimento a longo prazo, e que, pelo
a Unidos da Barra da Tijuca, a Imperadores Rubro Negros, a
jeito vem dando certo.
Coração Glorioso, a Guerreiros de Jacarepaguá e a Unidos de
Na Mocidade Independente de Padre Miguel a história não
Queimados, além de uma associação cultural, a Amigos do
foi diferente. Com um passado de títulos nos anos 80 e 90, a
Samba. Todas com jovens presidentes, diretores de carnaval
escola ficou um longo período sem figurar entre as campeãs,
e carnavalescos, ajudando-nos a crer que o samba agoniza,
mas em 2017 foi alçada ao título de campeã, junto com a
mas não morre.
arcadas por transformações que têm
jovens sambistas, dentre os quais Ismael Silva, quando este
Portela. O seu “Aladim” sobrevoando a Marques de Sapucaí,
levado a redução de componentes em
tinha apenas 23 anos. Mas de lá pra cá os desfiles mudaram
acoplado a um drone, mostrou que tradição, ousadia e tec-
importantes
como
muito e a cada ano as escolas de samba se esforçam para
velha-guarda, baianas e compositores,
mostrar algo surpreendente na Avenida, algo que esta geração
segmentos,
tais
na busca por uma maior renovação, as escolas de samba,
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O papel da juventude e das novas tecnologias nas escolas de samba
Padre Miguel e a Beija-Flor de Nilópolis. Nos três casos os
moderna pode ajudar.
atentas a esta nova realidade, já estudam a mudança de
Exemplo dessa fluidez no mundo contemporâneo do car-
seus estatutos, possibilitando assim, a entrada de sócios e
naval é a criação de sambas de enredo criados por meio do
componentes mais jovens. A chamada geração Millennials
aplicativo WhatsApp. A letra e a própria melodia são constru-
ou Y, nascidos a partir dos anos 80, e, portanto, a primeira
ídas com a interação a distância entre os participantes. No
criada com facilidades tecnológicas como computadores, in-
máximo um ou dois encontros presenciais são marcados para
ternet, smartphones e redes sociais tem sido a energia mais
o refinamento do hino que será cantado por quase quatro mil
do que necessária para a sobrevivência destas agremiações
componentes na Avenida. Outra grande mudança nas Escolas
tão tradicionais da cultura brasileira.
de Samba está acontecendo nas posições de liderança e ges-
É bem verdade que o papel dessa juventude não é novi-
tão. Como exemplos de Escolas de Samba que concentram
dade, uma vez que, aquela que é considerada a primeira das
em suas posições estratégicas jovens da geração Millennials
escolas de samba, a Deixa Falar, foi fundada por um grupo de
estão a Unidos do Viradouro, a Mocidade Independente de
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
José Mauricio Tavares é historiador com especialização em arte, cultura, figurino e carnaval
| Gestão de Carnaval |
O Artista na sua intimidade
Por: Clinton Paz
em lojas de tecidos como as famosas Casa Luiz e Casa Costa. A partir daí a migração para o corte e costura do carnaval foi um pulo. Sua estreia se deu em 1991, reproduzindo fantasias de passistas, através do carnavalesco Max Lopes, então na Unidos do Viradouro. Não parou mais. No ano seguinte foi para o Salgueiro, onde permanece até hoje. Contabilizando inúmeros grandes trabalhos ao longo des-
Conheça Belisário Cunha, o premiado do Plumas como melhor gestor de ateliê 2019
Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
2019 relembra alguns dos seus momentos de realização e êxtase profissional, quando pôde conhecer de perto e produzir figurinos para estrelas como Sabrina Sato – então musa do Salgueiro, fazendo suas fantasias por três anos – as rainhas de
Belisário Cunha é, hoje, um dos grandes nomes do car-
bateria Carol Castro e Luana Piovani, e a cantora internacional
naval carioca e com fama internacional. Com quase 30 anos
Beyoncé, quando veio ao Rio gravar um clipe com Alicia Keys,
de serviços prestados à folia, conhecido por vestir grandes
em 2010. Sem falar no prazer em poder contribuir para a re-
musas, este carioca, nascido no Méier, abriu o seu coração
alização de sonhos dos carnavalescos e ver a alegria de cada
e ateliê para conversar sobre sua vida, profissão e seu papel
folião, na Marquês de Sapucaí.
como gestor.
26
ses 28 anos, o Gestor de Ateliê premiado pelo Plumas em
Rodeado de profissionais/amigos, como o ferreiro Júnior,
Ex-servente de caminhão, bailarino na casa de show
a costureira Marilena e a aderecista Simone, que o acompa-
Regine’s e manequim em eventos e programas de auditório,
nham há cerca de duas décadas, Belisário é consciente do
como o de Flávio Cavalcante, Belisário Cunha passou por uma
seu papel de responsável pelo orçamento familiar dos vários
mudança brusca de atividade quando começou a trabalhar
artistas que emprega, direta e indiretamente, no período que
antecede o carnaval. Por isso, é um grande defensor de melhores relações de trabalho entre agremiações e contratados, valorizando estes trabalhadores, muitas das vezes, anônimos. Graças a essas boas relações e respeito que construiu, pessoal e profissionalmente, Belisário já viajou para países como Grécia, Suíça e Finlândia representando o talento e a criatividade dos inúmeros artistas da folia. Com essa trajetória tão extensa, não poderia passar em branco pelo Plumas & Paetês Cultural. Ele, que estreou em 2018 a categoria Melhor Estilista do Grupo Especial, já foi, também, de certa maneira, premiado nas três ocasiões em que Maria Helena Cadar venceu os prêmios de Melhor Destaque de Luxo Feminino do Grupo Especial em 2013, 2014 e 2018, uma vez que é o responsável por materializar, há 16 anos, suas deslumbrantes fantasias. Porque um artista que sabe valorizar a sua equipe e aparece no carnaval através de suas criações, também merece a luz dos holofotes. Clinton Paz é mestre em História pela UFRJ e Jornalista
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