ESTRUTURA DO ROTEIRO DO ENSINO E DA PREGAÇÃO

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ESTRUTURA DO ROTEIRO DO ENSINO E DA PREGAÇÃO1 “Lançar-se de maneira aleatória diante do público, sem um plano previamente preparado para a composição do discurso, esperando que a inspiração da tribuna possa iluminar os caminhos que serão percorridos ou apontar etapas a serem cumpridas, é, se não um ato de irresponsabilidade, pelo menos uma demonstração evidente de ingenuidade” (Reinaldo Polito, Como Falar Corretamente e sem inibições, p. 105).

Teremos agora um dos pontos mais importantes destes estudos. Ele completa, organizando, a revelação para o ensino e a pregação e propicia sua comunicação aos evangelizandos. O que Deus revela para pregar e ensinar deve ser organizado adequadamente para produzir mais frutos. Esta organização se dá precisamente em um roteiro, como veremos a partir de agora. Todos poderão perceber, compreender e experimentar o quanto um roteiro adequadamente organizado facilita a missão do formador e do pregador, assim como aumenta o entendimento da evangelização por parte dos ouvintes. Na medida em que os ouvintes mais compreendem a mensagem da salvação, mais desejam acolhê-la e mais almejam serem salvos. Entretanto, não obstante os benefícios de uma estrutura organizativa para ensinos e pregações, desejamos alertar para um dos principais perigos que tal organização apresenta, que é a absorção do ato evangelizador pela estrutura em si. Caso o evangelizador se descuide, poderá transformar a pregação e o ensino em uma simples estrutura organizativa e pensar que isso é evangelização.2 Mas tal perigo não é motivo para deixar de utilizar tão valioso instrumento. Ninguém deixa de utilizar uma faca de cozinha somente pela possibilidade de ferir-se. O que se pede do evangelizador é que utilize o roteiro sabiamente. Ressalte-se que é no roteiro que o evangelizador conseguirá organizar sua exposição. Com um roteiro bem organizado, automaticamente organizarse-á a argumentação e ela fluirá com maior precisão. Não é sem motivo que os professores de oratória recomendam que se organizem os argumentos.3 Uma das grandes serventias do roteiro é ajudar o evangelizador a manterse no rumo do objetivo da pregação ou do ensino. O experiente pregador dos 1

Com variações terminológicas, os autores apresentam estruturas de discursos, como Isabel FURINI, in Práticas de Oratória, p. 35, cuja terminologia coincide com a nossa. 2 Michel PÊCHEUX, O Discurso, Estrutura ou Acontecimento, p. 56: “... DIREMOS QUE O GESTO QUE CONSISTE EM INSCREVER TAL DISCURSO DADO EM TAL SÉRIE, A INCORPORÁ-LO A UM ‘CORPUS’, CORRE SEMPRE O RISCO DE ABSORVER O ACONTECIMENTO DESSE DISCURSO NA ESTRUTURA DA SÉRIE NA MEDIDA EM QUE ESTA TENDE A FUNCIONAR COMO TRANSCENDENTAL HISTÓRICO, GRADE DE LEITURA OU MEMÓRIA ANTECIPADORA DO DISCURSO EM QUESTÃO”. 3

Cada professor apresenta um nome diferente, mas todos lecionam sobre a organização dos discursos, como Jerônimo Geraldo de QUEIROZ, in Manual do Orador, p 15, 19 e 20, Andréa Monteiro de Barros MACHADO, in Falando Muito bem em Público, p. 29, Isabel FURINI, in Práticas de Oratória, p. 35, Reinaldo POLITO, in Assim é que se Fala, p. 15, e vários apresentam boas justificativas, como diz Eunice Mendes & L.A. Costacurta Junqueira, in Comunicação sem Medo, p. 167: “Pouca gente sabe realmente o que significa argumentar e a força que o argumento tem numa apresentação, quando é preciso convencer uma assembléia de alguma coisa. Quanto mais precisas forem as suas argumentações, mais chances você terá de ser compreendido.”


gentios ao instruir seus discípulos falava que combatia o bom combate, guardava a fé, mas não combatia como quem dá socos no ar.4 Ele bem sabia qual era a sua meta, qual era a finalidade de sua pregação. Com isso ele queria dizer, entre outras coisas, que não perdia tempo com atividades inúteis, que não se desviava do objetivo da missão que Jesus lhe confiou. Essas passagens revelam algumas das causas do seu êxito. O roteiro ajuda o evangelizador a não se desviar dos objetivos da ação evangelizadora. Portanto, sabendo-se que a finalidade da nossa missão é evangelizar, estaremos aptos a compreender que, na pregação e no ensino, o roteiro é um ótimo instrumento para se manter o rumo da caminhada que se faz com o povo do Senhor, durante as prédicas. É que a ação verbal de pregar é eminentemente um ato de comunicação semelhante a uma viagem. Os evangelizadores são como Moisés, no sentido de serem chamados a colaborar na condução do povo de Deus. Não existe viagem sem roteiro, por isso convidamos a todos para conhecerem nosso roteiro, nosso mapa da pregação e do ensino. 1. CONCEITO DE ESTRUTURA E VALOR DA ESTRUTURA A idéia mais comum que se tem de estrutura é a de armação, de esqueleto, de como uma coisa ou um ser é organizado. Assim, podemos identificar como sendo estrutura de uma casa o seu alicerce, as vigas, a laje e as vigotas do telhado. Já a estrutura do corpo humano é composta por seu esqueleto. A casa não é composta só de alicerces, vigas, lajes e vigotas. Também o corpo humano não é feito somente de ossos. A casa contém paredes, portas, janelas, compartimentos. O corpo humano possui nervos, músculos, órgãos diversos. Entretanto, sem a estrutura, a casa e o corpo humano não seriam casa nem tampouco corpo humano, simplesmente pelo fato de não poderem ficar em pé. Dá para imaginar aquela bela “miss” mundial sem estrutura óssea? Não dá? Com enorme boa vontade seu belo corpo seria uma ameba gigantesca. Como o corpo da “miss” ameba, são os ensinos e pregações sem estrutura, isto é, sem roteiro. Assim, como uma casa para ser casa e um corpo para ser corpo, dependem fundamentalmente da estrutura, os ensinos e as pregações também dependem de uma estrutura denominada roteiro, para serem o que realmente deverão ser, boas peças de evangelização. Evidentemente, estrutura não existe só em corpos humanos e casas. Um livro tem sua estrutura, uma celebração litúrgica também. Da mesma forma a pregação e o ensino são também dotados de estrutura. Não existe nenhum plano que não seja feito segundo uma estrutura, a menos que não seja plano. Neste trabalho nos propomos a ajudá-lo a entender a estrutura dos roteiros de pregação que tem utilizado, e, na medida de nossas possibilidades, contribuir para aperfeiçoá-lo.

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2Tm 4, 7; 2 Cor 9, 26


Entre os vários significados que o vernáculo nos traz para a palavra estrutura, podemos dizer que estrutura é a “disposição dos elementos ou partes de um todo; a forma como esses elementos ou partes se relacionam entre si, e que determina a natureza, as características ou a função ou funcionamento do todo”. 5 Mas, aqui entre nós, em se tratando de formação de pregadores e formadores, diremos que estrutura é a organização dos roteiros dos ensinos e das pregações de forma lógica e concatenada, a fim de facilitar a exposição do assunto e o entendimento da assembléia. O valor da estrutura do roteiro é imenso. Podemos ressaltar este valor, para concluir este tópico, dizendo que o corpo humano funciona bem e é dotado de beleza, em razão de sua estrutura. Daria para imaginar um atleta sem ossos? Não! E uma bela jovem sem ossos no crânio e sem maxilares? Também não. Para o ser humano ser o que é, ou seja, belo e funcional, necessita de uma estrutura óssea que o sustente organizadamente. Assim também os ensinos e as pregações; para serem atraentes aos ouvintes e inteligíveis ao entendimento, é bom que sejam dotados de estrutura. 2. PARTES DA ESTRUTURA Para fins didáticos, estudaremos a estrutura do roteiro em três partes, a saber: introdução, desenvolvimento e conclusão, para o ensino 6; e para a pregação, introdução, desenvolvimento e peroração. Visto que a pregação segue a estrutura do discurso proposto pela retórica, podemos encontrar, nos doutrinadores, outras terminologias para as suas partes. Todavia seu conteúdo permanece invariável. Tradicionalmente o discurso se divide em invenção, disposição e elocução.7 Para nós, a invenção é substituída, em parte, pela revelação para o ensino e a pregação. Em outra parte, sem perder o contado com o Espírito Santo, escolhemos estratégias, técnicas e outras coisas que forem julgadas necessárias. A disposição é a organização estrutural do discurso, em nosso caso, é a organização, por escrito ou não, da pregação ou do ensino. Depois da invenção, isto é, após a revelação para a pregação e o ensino, começa a disposição8. A elocução “é a maneira mais estética e convincente procurada para expor as provas e os argumentos, bem assim tudo o que se pesquisou na invenção e se ordenou na disposição” (Maurício GÓIS. Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 198). 5

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI No mesmo sentido, Eunice MENDES & L.A. Costacurta JUNQUEIRA, Comunicação sem Medo, p. 70. Mas existem outras propostas, como a de Reinaldo POLITO, in Como Falar Corretamente e sem Inibições, p. 109, divide o discurso em introdução, preparação, assunto central e conclusão. 7 Maurício GÓIS. Curso Prático de Comunicação Verbal, pp. 197 e 198 8 Maurício GÓIS. Curso Prático de Comunicação Verbal, pp. 198: “Depois de ter colhido todos os fatos, pesquisado todos os dados sobre o que pretende falar, cabe ao comunicador ‘dispô-los’da forma mais didática possível. Disposição é a formação da ordem de colocação das idéias decompostas em provas, afirmações, demonstrações, etc, na estrutura do discurso. A disposição é a ordem de colocação das coisas da invenção.” 6


2.2) Desenvolvimento do ensino e da pregação Os desenvolvimentos do ensino e da pregação são iguais em tudo, têm a mesma estrutura, as mesmas finalidades, as mesmas características, a mesma importância, as mesmas partes e o mesmo conteúdo. a) Conceito de desenvolvimento Desenvolvimento é o ato de expor, explicando as idéias apresentadas na introdução. No desenvolvimento explanam-se os tópicos da introdução, sustentando-os com argumentação ungida, bem fundamentada9 e segura. O desenvolvimento é também o fato de progredir, aumentar, melhorar. Desenvolver a pregação e o ensino é fazê-los crescerem. Eles já existem desde a introdução. No desenvolvimento vamos esmiuçar o assunto já delineado. É semelhante à ação de alguém que desenrola um novelo de linha. A linha que é puxada do novelo é a mesma cuja ponta se tem entre os dedos. Da mesma forma as idéias que se anunciam no desenvolvimento devem ser as mesmas que foram esquematicamente apresentadas na introdução, jamais outras. O resumo inicial que compõe a introdução é como o índice temático de um rolo de pergaminho ou de um livro semi-aberto. À medida que o leitor lê o pergaminho ou o livro, desenrolam-se ao seu entendimento as idéias antes só resumidas. Da mesma forma, ao passo em que a assembléia ouve o evangelizador, as idéias “enroladas” ou entreabertas na introdução, isto é, somente sintetizadas, desenrolam-se à compreensão dos ouvintes, a fim de que todos acolham a mensagem. Enfim, resumindo, podemos dizer que desenvolvimento é o ato de expor, detalhadamente, as idéias que foram apresentadas na introdução, sustentadoas com argumentação boa, segura e ungida, bem como refutando as opiniões que as contradigam. b) Importância do desenvolvimento organizado10 Neste tópico apresentaremos algumas idéias que nos ajudarão a compreender as razões pelas quais temos enfrentado incansavelmente os inúmeros desafios que se interpõem entre a formação e os irmãos que dela necessitam. Esperamos que no final todos tenhamos compreendido que organizando as idéias que nos forem reveladas pelo Senhor seremos melhores evangelizadores. Veremos que um roteiro bem organizado facilita nossa argumentação e a compreensão do ouvinte, além de aumentar a eficácia da evangelização. Gostaríamos de iniciar esta reflexão falando de nossas experiências. É comum vermos durante os encontros pessoas se entregando a Jesus com entusiasmo, com fé, mediante adesão sincera ao nosso Deus. Nesses momentos muitas curas acontecem, também testemunhamos incontáveis conversões. Tornam-se abundantes verdadeiras experiências com o Espírito Santo. Porém, depois de certo tempo, ao observarmos essas pessoas, 9

Isabel FURINI, A Arte de Falar em Público, p. 31. Isabel FURINI, A Arte de Falar em Público, p. 32.

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notamos que algumas já não são mais as mesmas, isto é, não conservam o mesmo ardor, a mesma adesão a Cristo. Tem-se a impressão que desistiram da fé. Muitas, não obstante constituírem-se em verdadeiros fiéis à prática religiosa, voltam aos velhos problemas, velhos hábitos, velhas lamúrias. Algumas outras nem sequer praticam o que um dia aceitaram. Refletindo sobre tais fenômenos, temos chegado à seguinte conclusão: os prodígios que sucedem nos fortes momentos de oração se devem à força da unção do Espírito Santo. Quando terminam os encontros e as pessoas se vão, por motivos vários, a unção que ganharam começa a extinguir-se.11 Com a perda da unção os prodígios tendem a desaparecer. E como alguns de nós somos a terra da beira do caminho, não temos mais a Palavra para nela nos agarrar, a fim de retomarmos a unção perdida. Uma das soluções que temos encontrado para ajudar os irmãos a recuperarem a unção é não somente pregar, mas também ensinar 12 enquanto pregamos. Assim, quando os irmãos voltarem para suas casas, levarão em seus corações a Palavra de Deus que foi pelos pregadores proclamada. Contudo, sabemos que só por milagre uma pessoa se lembrará de tudo o que ouviu durante um encontro. Porém, por outro lado, temos descoberto que o uso de idéias-chave tem ajudado as pessoas a sempre levarem parte substanciosa dos ensinos e das pregações, principalmente se forem trabalhadas com técnica boa e ungida. As pessoas lembrando-se delas, provavelmente lembrar-se-ão das idéias-auxiliares. Assim poderão, com a ajuda de Deus, vir a lembrar-se também de algumas ou muitas explicações. No mais, como nossos ouvintes são inteligentes filhos de Deus, de posse das idéias-chave, mais as auxiliares e de uma certa quantidade de explicações, conseguirão, por certo, montarem em seus raciocínios as pregações e os ensinos ouvidos. Dessa forma, mediante a oração, terão a possibilidade de acolher outra vez a unção perdida, e com a unção as graças certamente voltarão. Na prática, o pregador que dominar esta técnica e pregar ungido pelo Espírito Santo continuará a pregar no coração dos ouvintes ad aeternu, ou seja, por tempo indeterminado, embora o encontro do qual tenham participado possa ter terminado há anos. Assim também conseguiremos afastar a terrível sensação de inutilidade que normalmente se experimenta ao encontrar uma pessoa, e perguntar-lhe, após seus elogios a alguma pregação ou ensino nossos, do que ela se lembra, e ver, após a pergunta, seu rosto desvanecer-se, por ter que admitir em nossa presença que de tudo se esqueceu. Agora podemos resumir a importância de um desenvolvimento organizado: facilita nossa argumentação, a compreensão dos ouvintes e a eficácia da pregação, como dissemos no início deste tópico. b.1) Facilita a argumentação

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Ef 4,27.30; 1 Ts 5,19 Frei Boaventura Kloppenburg, OFM, Agape, o Amor do Cristão, p. 132: “Essa [o ensino, ensinar] é certamente uma das maiores obras de misericórdia. A inteligência humana tem sede da verdade, mas deve ser ajudada por outros. Para isso foram criados estabelecimentos de ensinos.” 12


Isto é uma questão lógica. Como seria mais fácil expor algum pensamento ou alguma opinião, de forma desordenada ou de forma organizada? É lógico que vocês devem estar pensando que seria de forma organizada. E se estiverem pensando assim concordo inteiramente. Como dissemos, é uma questão de lógica. Vocês já viram alguns ensinos e algumas pregações que se parecem com maçarocas ou com labirinto? São frutos de prédicas sem roteiro, ou de confecção de roteiros desordenados. E aquelas prédicas irmãs gêmeas de rosca-sem-fim?! Quando pensamos que chegaram à estação final e nos preparamos para desembarcar daquele desagradável vagão, recomeçam-se. Sua característica principal é alternar sensação de conclusão com intermináveis recomeços. Nem precisaria dizer que tais pregações e ensinos desgastam a imagem do evangelizador e irrita a assembléia. Tudo isso poderá ser evitado se organizarmos nossas prédicas em um bom roteiro. Além do mais, isso é o que ensina a boa didática. b.2) Facilita a compreensão dos ouvintes Também aqui é uma questão de lógica. Como poderia alguém compreender perfeitamente mensagens truncadas, lacunosas e desconexas? Difícil, não? Compreender até que poderia..., uma parte. Mas quanto trabalho, quanta dispersão de raciocínio, quanto desgaste! Isso sem falar nas incontáveis perdas, pois enquanto o ouvinte se esforça para compreender algumas coisas, perdem outras, uma vez que o evangelizador não pode parar a fim de que as pessoas compreendam as idéias confusas. Quanto ao entendimento dos ouvintes, Jesus já se preocupava com isso. Ao explicar a parábola do semeador, falando do solo da beira do caminho, isto é, da pessoa que acolhe a pregação superficialmente, disse que aquele que ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e a arranca do seu coração.13 Cremos que nenhum pregador gostaria de ver a semente que plantou ser arrancada pelo Demônio. Esse ensinamento de Jesus nos indica que devemos sempre nos esforçar no sentido de prepararmos nossos ensinos e pregações com um pouco mais de zelo. Tal esforço naturalmente se desaguará em formas evangelizadoras mais eficazes. A organização das idéias é uma delas. b.3) Aumenta a eficácia da pregação e do ensino Mais uma vez apelaremos para a velha e boa lógica. Logo mais ela será analisada, bem como seus efeitos na pregação e no ensino. Por ora queremos dizer que é também uma questão de lógica entender que um roteiro bem organizado aumenta a eficácia da evangelização. Isso porque as idéias apresentadas organizadamente, por facilitarem o entendimento dos ouvintes, os colocarão em condições de acolherem a mensagem. É mais fácil acolher o que se entende. A eficácia que se espera de toda pregação e de todo ensino é que a assembléia acolha o anúncio que lhe for feito por meio deles. Jesus se 13

Mt 13,18-19


interessa muito pela eficácia. Ele mesmo foi muito eficaz. Sua missão produziu incontáveis frutos. E ele recomenda aos seus discípulos que sejam como ele.14 O Mestre poderia estar pensando na eficácia ao dizer que “quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração.” (Mt 13,19). Deixar, por falta de zelo, que Satanás arranque dos corações dos irmãos a palavra que proclamamos seria o cúmulo da ineficácia. E, como todos sabemos, Jesus nos chama para produzirmos frutos15, isto é, para sermos eficazes. É que a ineficácia poderia impedir que alguém fosse salvo exatamente na única oportunidade que poderia ter na vida, que seria ouvindo algum pregador ou formador. c) Finalidades da estrutura do desenvolvimento Inegavelmente a principal finalidade da estrutura dos roteiros, incluindo introdução, desenvolvimento e conclusão, é alcançar o entendimento dos ouvintes, bem como sua compreensão. Outra seria facilitar o desempenho da atividade evangelizadora. Em poucas palavras, a estrutura facilita a pregação e a torna eficaz. Essas finalidades se ressaltam e são melhores compreendidas quando colocadas no contexto do desenvolvimento, pois é nele que as diversas complexidades desafiam a inteligência, a capacidade e a unção do evangelizador. Assim analisaremos agora a apresentação das idéias de forma lógica e concatenada, o desenvolvimento da argumentação de forma clara e precisa, o anúncio sem divagações e a facilitação do entendimento e do acolhimento da evangelização, como sendo finalidades da estrutura do desenvolvimento. Tudo isso ajudará, sem dúvida, a compreensão da assembléia, e vindo a compreensão, o acolhimento estará quase garantido. Ressalva-se somente a liberdade que todos têm de dar ou recusar o assentimento da fé àquilo que se ouve. c.1) Apresentar as idéias de forma lógica Toda argumentação que encontra eco na lógica ajuda a evangelização a produzir mais frutos. A argumentação lógica, uma vez que melhora o entendimento, também ajuda na memorização de quantos nos ouvem. Por isso é que a estrutura deve ser construída com idéias lógicas. Aproveitar a lógica para evangelizar é também uma prova de sabedoria, bem como uma homenagem a Deus Criador que nos fez inteligentes. Com efeito, já que a lógica é fator de melhoria do entendimento que leva o ouvinte a acolher a mensagem anunciada, nada mais lógico do que utilizá-la. Também, do ponto de vista da criação divina, não seria lícito negligenciar a inteligência dos irmãos, que entre todos os dons que temos, excetuando os sobrenaturais, apresenta-se como sendo um dos principais. Outrossim, lembrando que a lógica faz parte da estrutura do pensamento humano, compreenderemos o quão lógico é fazermos uso dela quando queremos ser bem entendidos. Nossa comunicação é bastante facilitada quando dominamos o emprego de idéias lógicas. Idéia lógica é aquela que pode ser assimilada pelo raciocínio. 14 15

Mt 10,25; Lc 6,40 Jo 15,16


Normalmente em nossa vida adquirimos, por experiências pessoais, muitos conhecimentos que compõem um fabuloso banco de dados que é arquivado em alguma parte de nossa mente. Sempre que uma idéia contradiz esse banco de dados tendemos a classificá-la como sendo sem lógica. E, normalmente, resistimos ou rejeitamos aquilo que para nós não tem lógica. Por outro lado, em muitas oportunidades acolhemos sem questionamentos aquilo que para nós tem certa lógica. Eis um exemplo simples, para clarear as idéias: desde criança aprendemos que fogo é quente e queima. Para completar essa informação, em várias oportunidades experimentamos o fogo ou o seu calor na própria pele. Assim a informação de que o fogo queima está catalogada em nossa memória e, por isso, está também incorporada em nossa estrutura de raciocínio. Se alguém se achegar a nós e falar: “Olhe em minha mão! Como você está vendo, tenho aqui um palito de fósforo aceso. Agora quero que você pegue esta chama entre seus dedos. Este fogo é frio e faz bem para a sua pele.” Numa situação dessas, como você reagiria? Com certeza perceberia que a mensagem que lhe estava chegando aos ouvidos não teria nenhuma lógica. Por isso não pegaria a chama entre os dedos. Ainda mais uma palavra sobre a função da lógica na assimilação do que pregamos e ensinamos. Sempre que apresentarmos idéias novas, é bom agregarmos a elas novos dados de sustentação compostos por informações familiares aos ouvintes, a fim de facilitar-lhes o entendimento. Isso também pode ser conseguido mediante a explicação dos seus significados. c.2) Apresentar as idéias claramente “A oratória pedagógica [ensinos e pregações] é gênero que exige cuidados especiais para obter êxito, como clareza e objetividade” (FURINI, in Práticas de Oratória, p. 69).

Poucas coisas dificultam tanto a compreensão quanto a falta de clareza. Clareza é a qualidade do que é claro, límpido, transparente. Referindo-se especificamente à prédica, clareza trata-se de um conjunto de qualidades que a tornam inteligível e compreensível, facilitando-lhe a percepção e o entendimento. Prédicas claras, límpidas e transparentes são aquelas que permitem aos ouvintes distinguir as idéias-chave que são utilizadas, bem como a entender a linha argumentativa e a enxergar com facilidade o objetivo a que o evangelizador deseja conduzi-los. Para conseguir clareza várias coisas são necessárias, organizar o roteiro respeitando a lógica, concatenar as idéias, usar palavras conhecidas pelo auditório; empregar exemplos, comparações, parábolas, histórias e dramatizações; transmitir uma visão clara da Bíblia e trazer a prédica para a vida das pessoas. “O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que aprender nele os que sabem (Pe. Antônio Vieira, Sermões, tomo 1, p. 40).”

c.2.1) Concatenação


Concatenar as idéias significa ligá-las ou juntá-las em forma de corrente construída numa seqüência lógica. Uma das funções da concatenação é auxiliar a lógica. Assim ela atinge a clareza em cheio. Concatenam-se as idéias encadeando-as umas às outras. Há encadeamento quando a primeira idéia do desenvolvimento se liga ao tema, isto é, quando tem a ver com ele. Mas não é só isso. Isso é o início do encadeamento. Para que ele realmente ocorra, é necessário que o início de cada idéia-chave se ligue à anterior. Dentro de cada tópico as idéias também devem ligar-se entre si, sob pena de se perderem a lógica e a clareza. A primeira idéia une-se ao item e ao mesmo tempo à segunda idéia e esta à terceira. E assim sucessivamente. A corrente é uma boa imagem para nos ajudar a entender o encadeamento de idéias e, por via de conseqüência, o concatenamento. Pense nos elos de uma corrente, na forma em que o primeiro se une ao segundo e este ao terceiro e assim por diante, até formar a corrente. Cada elo é um elo, tem sua individualidade, mas quando se encadeia aos demais se torna corrente. Os elos da corrente representam as idéias do ensino e da pregação. Como os elos são dispostos na corrente, as idéias precisam ser organizadas na prédica. Dessa forma a primeira idéia liga-se ao tema e ao mesmo tempo introduz a segunda. A segunda, por sua vez, tem tudo a ver com a primeira, ao mesmo tempo em que introduz a terceira, e assim, de idéia em idéia, de encadeamento para encadeamento, os ensinos e as pregações ganham estrutura. A concatenação evita que o evangelizador saia do assunto. Não é difícil fazer isso. Basta construir o ensino com idéias afins entre si. Voltemos à corrente. Uma boa corrente deve ser composta por elos cujas naturezas sejam iguais. Assim, uma corrente de metal não pode conter elos de plástico, e viceversa, sob pena de não servir para quem necessita de uma corrente muito resistente ou para quem deseja outra, menos forte. Quando o evangelizador foge do tema, constrói correntes com elos de metal e de plástico, prejudicando, sobremodo, a evangelização. “Interdependência – A platéia não pode perceber a passagem de um ponto ao outro no discurso. Isto deve ser feito naturalmente, dando à oração uma idéia de conjunto, de unicidade. O desvio temático, em um discurso, confunde a platéia e pode desvirtuar a sua atenção” (Andréa Monteiro de Barros MACHADO, in Falando Muito bem em Público, p. 41).

c.2.2) Palavras usadas e entendidas pelo povo A clareza é imprescindível em qualquer comunicação, e por razões que todos bem sabemos, é ainda mais na evangelização. Mas a clareza não se consegue somente mediante o concatenamento e a lógica. Palavras de uso corrente do povo também são importantes para consegui-la e aumentá-la. Podemos dizer que a clareza, vencidas as etapas da lógica e da concatenação, é diretamente proporcional ao uso de palavras, conceitos e expressões que integram a cultura dos ouvintes. Normalmente o universo lingüístico-cultural dos ouvintes é composto pela linguagem de uso atual. De fato, a clareza aumenta na medida em que o evangelizador escolhe para a estrutura palavras que compõem a linguagem de uso atual. Ao contrário, linguagem rebuscada e preciosa diminui o entendimento dos ouvintes. A linguagem atual é aquela que produz uma


comunicação direta com o ouvinte. Deve ser também próxima dele. Próxima no sentido de fazer parte do seu dia-a-dia. A linguagem próxima dos ouvintes revela, no mínimo, um pouco de interesse que o pregador tem por eles. Contudo, nem sempre conseguimos utilizar somente palavras, conceitos e expressões dominadas por todos, pois nalgumas o próprio assunto desenvolvido exige termos técnicos, assim como poderá haver ensinos e pregações cujas naturezas exigem a presença de várias idéias e conceitos desconhecidos da maioria dos componentes da assembléia. Mas nestes casos devemos sempre que for oportuno esclarecer os termos desconhecidos. Neste caso tais idéias e conceitos desconhecidos poderão se constituir na própria razão de ser do ensino e da pregação. Isso poderá ser um problema, porém facilmente solucionável mediante o uso de palavras conhecidas na conceituação e na exposição de idéias novas, bem como na explicitação dos termos técnicos. c.2.3) Exemplos O exemplo tem a virtude de levar os ouvintes a transferirem para as situações novas o conhecimento, a vivência e a experiência que eles têm de situações, coisas e fatos conhecidos. Isso sem dúvida clareia o entendimento. c.2.4) Comparação A comparação tem o mesmo efeito. Contudo ela é inteiramente conduzida pelo evangelizador. Faz-se a comparação utilizando situações conhecidas para, a partir delas, clarear o entendimento dos ouvintes. Em outras palavras, comparam-se situações conhecidas pelos ouvintes com situações que não conhecem. Às vezes ao comparar poderá ser necessário extrair da comparação uma conclusão ou dedução, para clarear as idéias expostas. c.2.5) Visão clara da Bíblia A visão clara da Bíblia ajuda a assembléia a adentrar o universo sagrado da Revelação divina. Isso os ajudará a crer. Experimentando a fé os ouvintes naturalmente desejarão entender a prédica. E, como sabemos, o desejo é um passo importante para qualquer pessoa entender, compreender e acolher qualquer mensagem, incluindo a da salvação. c.2.6) Parábolas, histórias e dramatizações O uso de parábolas, histórias e dramatizações, além de clarear o entendimento, fixam fortemente as idéias na memória dos ouvintes. Vem desses fatos sua importância. Portanto, sempre que for oportuno deveríamos inseri-las nos roteiros de pregações e ensinos. c.2.7) Estrutura vivencial Ao trazer a prédica para a vida das pessoas, o evangelizador a torna vivencial, isto é, a faz possível de ser praticada. Pessoas normais não gostariam de ouvir pregações ou ensinos impossíveis de serem vividos. Prédicas impossíveis de serem vivenciadas são, no mínimo, perda de tempo. A evangelização cuja mensagem seja vivencial pode tocar profundamente o coração dos ouvintes, centro de suas emoções. Para entender a importância deste fato, lembremos das recentes pesquisas que se tem feito a respeito da


memória emocional.16 Tem-se afirmado com base em pesquisas que aquilo que é acolhido com emoção é retido na memória de forma privilegiada. Porém outra coisa gostaria de aventar. É que quando a emoção entra em cena, naturalmente a favor da prédica e do evangelizador, os ouvintes tendem a se esforçar muito mais para entenderem a mensagem e acolhê-la. Segundo artigo de Paola Gentile, no qual resume o resultado de estudos e pesquisas de alguns cientistas, “os sentimentos regulam e estimulam a formação e a evocação de memórias. São eles que provocam a produção e a interação de hormônios, fazendo com que os estímulos nervosos circulem mais nos neurônios” (em Revista Veja Eletrônica, Edição Nº 163, Junho/Julho de 2003). É por este fenômeno cerebral que os ouvintes poderão se lembrar com mais facilidade que Jesus Cristo salva, se o evangelizador ligar o evento salvífico a um fato que lhes seja significativo. Estrutura vivencial é composta por idéias que encontram ressonância na vida da assembléia, povo de Deus que caminha neste mundo. O ideal seria compormos estruturas totalmente vivenciais. Contudo, não sendo isso possível, pelo menos deveriam os evangelizadores recheá-las de pontos vivenciais. Isso seria possível principalmente por meio de exemplos, histórias, parábolas, comparações e testemunhos. Esta estrutura seria, assim, rica de situações vividas pelo pregador, abundante de soluções reais encontradas a partir da Palavra de Deus. Enfim, cheia de elementos que demonstrassem ao ouvinte a realidade de Deus e de sua proposta. Jesus fazia isso com maestria por meio de parábolas, comparações e alegorias. Certamente os agricultores sentiam-se valorizados e incluídos na pregação do mestre quando o ouviam dizer: “Um semeador saiu a semear...” (Mt 13,4), os pastores devem ter sorrido de satisfação ao ouvirem a parábola da ovelha perdida, pois nela, de certa forma, o trabalho deles era valorizado. E os carpinteiros, quando Jesus disse que a porta do Reino era estreita, mas depois disse também que ele era a porta? E o que dizer das mulheres que o ouviram comparar o Reino de Deus com o fermento que usavam para fazer pão? E aquela que havia perdido uma dracma17 e a encontrou? Imaginem quantas pessoas poderiam estar sendo tocadas emocionalmente quando ouviam Jesus falar do joio e do trigo, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro, da pérola e das pescarias. Enfim, são inúmeros os exemplos de situações nas quais as emoções dos ouvintes poderiam estar sendo tocadas pelas pregações de Jesus. É que ele usava coisas que lhes diziam respeito. Assim, de parábola em parábola, de história em história, Jesus devia despertar as mais nobres emoções nos ouvintes, e eles, com certeza, deveriam sentir-se reconhecidos, dignificados, e, nos dias seguintes, certamente reviviam os ensinos do mestre, quer seja partilhando com outras pessoas, quer seja rememorando-os. Um dos indicativos de que as pessoas eram tocadas emocionalmente pelo estilo vivencial de Jesus anunciar a Boa Nova, é a quantidade de histórias, parábolas e alegorias encontradas no Evangelho. São todas vivenciais. 16

“Estão provadas, por exemplo, as vantagens de estabelecer ligações com o conhecimento prévio do aluno ao introduzir um novo assunto e de trabalhar também a emoção em sala de aula. O cérebro responde positivamente a essas situações, ajudando a fixar não somente fatos, mas também conceitos e procedimentos” (Paola Gentile, Revista Veja Eletrônica, Edição Nº 163). 17 Lc 15,8-9.


Sabemos que foram conservadas porque eram importantes para as pessoas, mas, com base nos estudos modernos, podemos admitir que elas foram conservadas na memória dos ouvintes porque foram significativas para eles e, por terem sido significativas, despertaram-lhes emoções; e porque lhes tocaram as emoções, foram mais vivamente preservadas. Como vemos, o certo é que não nos faltam motivos para organizarmos os roteiros respeitando a lógica, concatenando as idéias, usando palavras conhecidas pelo auditório, empregando exemplos, comparações, parábolas, histórias e dramatizações, transmitindo uma visão clara da Bíblia e trazendo a prédica para a vida das pessoas. A quem fizer isso a clareza penhoradamente agradece. Por certo todos desejaríamos ouvir pregações e receber ensinos nos quais os pregadores e formadores se expressassem com clareza solar. E, para concluir, frise-se repetindo que o melhor caminho para conseguir clareza começa com uma estrutura bem concatenada, organizada com lógica, composta por palavras que compõem o universo cultural da assembléia, contendo exemplos, comparações, parábolas, histórias e dramatizações e que possibilite a transmissão clara da Bíblia, além de ser enraizada na vida das pessoas. c.3) Desenvolver argumentação precisa e objetiva Linguagem precisa é outra importante finalidade da estrutura do roteiro. Ao mesmo tempo ela é um dos principais atributos de uma boa prédica. Quem desejar ver alguma mensagem sendo acolhida deverá esmerar-se na argumentação. E, em nosso caso, argumentação ungida. Se pela lógica e clareza a assembléia consegue entender a mensagem, na argumentação ela encontra motivos para aceitar as idéias-auxiliares. Aceitando as idéiasauxiliares, aceitará também as idéias-chave, uma vez que estas são explicitadas e sustentadas por aquelas. Aceitando as idéias-chave, naturalmente aceitará o tema proposto. Com tudo isso aceito, provavelmente acolherá a proposta final que é, em suma, o objetivo do ensino e principalmente da pregação. Suponhamos que um pregador esteja pregando o tema salvação. Com tal tema o objetivo a ser atingido é que todos creiam na salvação, na salvação que Jesus nos oferece. E a proposta final é que todos aceitem a Jesus Cristo como Salvador pessoal e que se entreguem a Ele. A assembléia poderá até entender a mensagem, mas poderá recusar a proposta final. É pela faculdade que a assembléia tem de poder escolher aceitar a proposta, ou de recusá-la, que a argumentação precisa é importante. Como já dissemos, é na argumentação que os ouvintes poderão encontrar motivos para acolher a proposta que lhes será feita na conclusão do ensino e principalmente na peroração da pregação. Contudo, para atingir sua finalidade, a argumentação haverá de ser precisa. Não poderá ser um punhado de palavras lançadas nos ouvidos do auditório de forma desordenada e imprecisa. Isso, ao invés de ajudar, poderá colocar a assembléia contra o evangelizador, bem como predispô-la a recusar a proposta. Argumentação precisa é aquela que se desenvolve em torno da promessa que se faz na introdução. Vocês se lembram de que a introdução é


uma promessa que o evangelizador faz ao auditório? Uma promessa no sentido de apresentar um tema com algumas idéias fundamentais? Argumentação precisa não foge da promessa, isto é, não sai do assunto. Argumentação precisa explica o tema e o sustenta. Essa argumentação é resumida pelas idéias-chave, que são os itens, assim como, secundariamente, pelos subitens. Quem conseguir essas idéias já terá pelo menos meia argumentação precisa. O restante virá quando o evangelizador explicitar as razões pelas quais o tema que apresenta tem importância e interesse a quantos o ouvem. Para conseguir uma argumentação precisa o evangelizador deve montar uma estrutura com palavras que exprimam diretamente as idéias que Deus lhe inspirou. É que na pregação e no ensino não há lugar para divagações, para os famosos rodeios lerescos.18 Assim, se ele acredita que Deus quer que ele diga que Jesus é a solução para determinada pessoa, não é necessário que ele faça primeiro um retrospecto de toda a história da salvação, a menos que isso lhe seja absolutamente necessário. Enfim, lembremos todos que a argumentação para ser precisa não necessita de excessivo palavrório, mas sim de idéias apropriadas e claras, que expliquem e sustentem o tema e a proposta que se fará aos ouvintes, sob pena de perder o tempo de todos e, pior, perder até as almas. Falar em perder almas pode até assustar, mas é uma possibilidade que todos nós deveríamos considerar quando estamos organizando roteiros, a fim de encontrarmos motivos para envidarmos esforços no sentido de fazer o melhor que pudermos. c.4) Evitar divagações Divagar é andar sem rumo certo, é vaguear. Na prédica é pregar ou ensinar sem objetivo, sem seguir um roteiro. As maiores divagações se dão precisamente por falta de roteiro. Nessas situações o evangelizador fala de inúmeras coisas, mas paradoxalmente não fala de coisa nenhuma, pelos simples fato de ter atirado palavras sem rumo, sem direção. Outras situações de divagação ocorrem quando ele se afasta do roteiro e não se consegue mais retomá-lo. Poucas coisas poderiam nos vir à memória como motivadoras de desatenção e de desinteresse por parte de ouvintes, como as divagações. De fato, as divagações são soníferos. Elas expulsam a atenção e o interesse mais rápido do que o raio corta as noites tormentosas. Penso que ninguém conseguiria fixar a atenção numa prédica divagadora. Confesso que não tenho conseguido. Vocês conseguiriam oferecer generosamente a atenção a uma pregação ou a um ensino cuja linha argumentativa é um mar de divagações? c.5) Facilitar o entendimento e o acolhimento da evangelização Tudo o que foi dito neste tópico – ainda se lembram dele? Seu título é finalidades da estrutura do desenvolvimento – Como estávamos dizendo, tudo o que acima expusemos tem uma finalidade direta que é facilitar o entendimento dos ouvintes. Atingindo esta finalidade, atingiremos também a 18

Referência a Rolando Lero, personagem humorístico muito bem interpretado pelo então humorista Rogério Cardoso, de saudosa memória. Sua característica era apresentar idéias com linguagem rebuscada e prolixa.


principal, que vem a ser o acolhimento da evangelização ou o acolhimento da proposta que se faz em cada conclusão de prédica. Estamos querendo dizer que ao apresentar as idéias de forma lógica e clara, desenvolvendo a argumentação com clareza e precisão e evitando divagações, estaremos dando um importante passo para o bom êxito da evangelização que somos chamados a realizar. d) Características da estrutura do desenvolvimento As características nos dizem como deveria ser um desenvolvimento bem feito, bem organizado. Elas servem para indicar a qualidade do desenvolvimento, ou seja, a presença delas significa que ele está bem organizado. Elas também são as mesmas tanto para o ensino quanto para a pregação. As principais são clareza, fácil emprego, idéias fortes, vivencial, docilidade ao Espírito Santo. d.1) Clareza Já falamos dela acima suficientemente. Aqui desejamos ressaltar que em um bom roteiro haverá de conter necessariamente um alto grau de clareza, pelos motivos que já alinhamos no item “c.2”, acima. d.2) Fácil emprego Se o roteiro não facilitasse a missão do evangelizador, ele não teria sentido de existir. Facilitar nossas prédicas é um dos seus objetivos primordiais. Para isso ele deve conter somente as coisas necessárias e úteis. O supérfluo deve ser descartado sem a mínima complacência. O roteiro recheado de coisas inúteis tem a sua utilização dificultada. d.3) Marcado por idéias fortes É uma das mais belas características do roteiro. As idéias fortes são aquelas densas de conteúdo. Elas funcionam como guindastes que erguem a atenção dos ouvintes, assim como despertam seus interesses e tocam suas emoções, além de brindarem suas inteligências com conteúdos dignos de serem incorporados ao seu saber. São essas idéias que valorizam a evangelização, do ponto de vista da didática e da oratória. Elas ajudam a prédica se livrar das cansativas mesmices. d.4) Vivencial Esta característica também já foi apresentada acima. Sem ela o roteiro estaria irremediavelmente empobrecido. E, para que o evangelizador não se esqueça deste importante fator de clareza, é bom que o preveja antecipadamente e o insira no roteiro. Esse caráter vivencial é dado por situações nas quais se oferecem oportunidades de ligar fé e vida. Seria uma evangelização de folhas e flores nos céus, porém de raízes na terra em que o Filho do Homem gosta de caminhar. Esta terra é o coração dos filhos de Deus. É isso mesmo, para o roteiro ser vivencial deverá se encarnar na vida, no coração, nos sentimentos, nos pensamentos e nas emoções da assembléia, no mínimo. d.5) Permitir que o evangelizador seja dócil ao Espírito Santo


A estrutura não pode ser uma camisa de força. Ela deve ser flexível para que o evangelizador receba do Espírito Santo, constantemente, até durante a prédica, novas moções, novas inspirações, novos toques, enfim, novas revelações. Neste ponto é bom lembrar, o roteiro não é o ensino, nem tampouco a pregação. Ele também não é o conteúdo a ser anunciado ou ministrado, embora contenha suas idéias principais. O roteiro é somente um roteiro. Ao utilizá-lo, o pregador e o formador devem usufruir de toda liberdade possível. Só por ser um roteiro, se for realmente isso, naturalmente ajudará o evangelizador a se abrir ao Espírito Santo, pois ele contém as idéias que nortearão a pregação e o ensino, mas lhe falta a argumentação, aquele tecido emocional e intelectivo que se forma durante a prédica. Tudo isso deverá ser buscado em Deus exatamente durante o momento em que se prega e ensina, embora muito desse tecido o evangelizador já o tenha recebido anteriormente, durante as orações, meditações e reflexões. Mas, de uma forma ou de outra, o alinhavar das idéias que formam o tecido da prédica acontece durante o exercício da pregação e do ensino. Daí a importância do roteiro permitir que o evangelizador seja dócil ao Espírito Santo. e) Conteúdos e partes do ensino e da pregação Quando iniciamos a apreciação do desenvolvimento, esclarecemos que ele é igual para todo tipo de prédica, dizendo: “Os desenvolvimentos do ensino e da pregação são iguais em tudo, têm a mesma estrutura, as mesmas finalidades, as mesmas características, a mesma importância, as mesmas partes e o mesmo conteúdo.” Por isso desejamos frisar neste momento que tudo o que dissermos sobre conteúdos e partes com referência à pregação deve ser aplicado ao ensino e vice-versa. e.1) Partes do ensino e da pregação Há diferenças fundamentais entre as partes da introdução e as do desenvolvimento. Na introdução cada uma tem função específica. No desenvolvimento todas as partes têm a mesma função, que é explicitar e sustentar o tema. Outra diferença está na quantidade. Enquanto na introdução do ensino existem três partes e na introdução da pregação uma só, no desenvolvimento não existe número fixo, pois podem variar de acordo com o tempo disponível e pelas peculiaridades da assembléia, assim como pela complexidade do tema. A precaução que se deve ter é de não utilizar idéias novas excessivamente.19 Elas impedem um bom entendimento por parte dos ouvintes. Às vezes é preferível uma idéia bem explicitada, bem aceita, acolhida convenientemente, a dezenas de idéias atiradas ao léu. De mais a mais, nenhum tema poderia ser por nós esgotado, por mais singelo que fosse. A este respeito o ilustre padre Antônio Vieira já alertava os pregadores do seu tempo, dizendo: “Jonas durante 40 dias pregou um só assunto, e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora”;20 e Vicent Ryan, OSB, falando de homilia, diz: 19

Maurício GÓIS. Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 28. Isabel FURINI, A Arte de Falar em Público, p. 87: “‘O bom, se breve, duas vezes bom’. É preferível um discurso curto e empolgante a um outro longo e cansativo.” 20 Pe. Antônio Vieira, Sermões, tomo 1, p. 41.


“(...) método conhecido como pregação a respeito de uma frase bíblica (...). O método consiste em escolher uma frase bíblica ou uma palavra especialmente significativa e em seguida, numa breve homilia, „desvendar‟ o seu significado (...). A vantagem desse método é fazer com que as pessoas saiam da missa levando um pensamento claro, que as alimentará durante a semana que virá a seguir. Pouco terão aprendido no tocante à exegese, mas em vez disso, receberão uma frase, uma idéia para levarem para casa consigo; um pensamento que não será facilmente esquecido, e virá à lembrança em momentos de calma e será testado em situações específicas” (Vicent Ryan, OSB, O Domingo, História, Espiritualidade, celebração, págs. 122 e 123).

Cada parte do desenvolvimento é composta por uma idéia-chave21 que atrai a si uma ou mais idéias ditas auxiliares. 22 As auxiliares não são menos importantes do que as chaves. Elas poderão ser auxiliares em determinado contexto e noutros ser chaves ou até mesmo se constituírem em temas de pregação e de ensino. Só são chamadas de auxiliares em relação às chaves dentro de cada situação concreta. É com elas que se sustentam e se esclarecem as idéias-chave. Conforme o dito acima, poderemos ter como primeira parte do desenvolvimento de um ensino cujo tema seria FUNDAMENTOS DO ENCONTRO SEMANAL DE ORAÇÃO, a seguinte idéia-chave: CONCEITO. E para explicitá-la poderíamos utilizar as seguintes idéias auxiliares: Fundamento: alicerce, sustentação; aquilo que serve de apoio para um edifício, uma doutrina, uma teoria; e Fundamentos do encontro semanal de oração é o conjunto de condutas, normas e princípios que facilitam a sua realização e o torna eficaz. E como segunda parte a idéia-chave “PRÉ-REQUISITO”, explicitada por esta idéia auxiliar: Núcleo do grupo de oração cheio do Espírito Santo, desdobrada nos seguintes tópicos: estar sendo batizado durante a reunião, encharcado do Espírito Santo, cheio: do grego pleró, que significa cheio-derramando e dinâmicas do copo e da esponja. As idéias-chave serão chamadas itens e as demais, todas elas, incluindo quaisquer subdivisões que sejam necessárias, serão chamadas subitens. Os itens ou subitens são sinônimos de tópicos. Organizando os itens acima teríamos a seguinte possibilidade de configuração: II. DESENVOLVIMENTO 1. CONCEITO 21

Antônio J. SARAIVA, O Discurso Engenhoso, p. 118: “O processo empregado por Vieira é herança dos pregadores da Idade Média e tinha um nome técnico: clave. Encontra-se, no texto escolhido para o sermão, as claves ou palavras-chave, cuja análise permitia compreender o sentido, tirar ensinamentos e estabelecer ligações entre diferentes passagens da Escritura”. 22 Maurício GÓIS. Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 28, insere em um “decálogo do orador de sucesso”, o seguinte: “6. Jamais decore o texto do seu discurso. Coloque as idéias, inicialmente, num papel em ordem de valor e ‘decore’ apenas aquelas palavras que façam explodir na memória o texto todo. 7. Não queira dizer muitos argumentos de uma única vez. Não seja o orador de mil idéias num discurso só. Tenha um idéiagaláxia. Em volta dela faça orbitar as provas, os testemunhos, as estatísticas, os fatos e os símbolos.”


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Fundamento: alicerce, sustentação; aquilo que serve de apoio para um edifício, uma doutrina, uma teoria.

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Fundamentos do encontro semanal de oração é o conjunto de condutas, normas e princípios que facilitam a sua realização e o torna eficaz.

2. PRÉ-REQUISITO -

Núcleo do grupo de oração cheio do Espírito Santo = Estar sendo batizado durante a reunião = Encharcado do Espírito Santo = Cheio: do grego pleró, que significa cheio-derramando = Dinâmicas do copo e da esponja

Observando o esquema acima podemos perceber que a idéia auxiliar, "núcleo do grupo de oração cheio do Espírito Santo", se liga à principal (idéiachave), PRÉ-REQUISITO. Continuando a observação, nota-se que outras idéias auxiliares – estar sendo batizado durante a reunião, encharcado do Espírito Santo, cheio: do grego pleró, que significa cheio-derramando e dinâmicas do copo e da esponja – estão ligadas à idéia “núcleo do grupo de oração cheio do Espírito Santo”. Vejam também que todas elas gravitam em torno da idéia-chave. No caso, PRÉ-REQUISITO é a segunda idéia-chave. Já vimos que a primeira é CONCEITO. Todas as demais são auxiliares. e.2) Conteúdo “Vieira expôs suas idéias sobre a arte da pregação no Sermão da Sexagésima, (...). Vamos procurar acompanhar os processos por ele utilizados na crítica aos pregadores do seu tempo (...) Se a luz não pode faltar, se os olhos também não, deduz-se forçosamente que é o espelho que falta, isto é, o ensinamento dos pregadores. É contra esta gratuidade do discurso que Vieira reage neste sermão. Para ele, o discurso precisa ter conteúdo, transmitir uma mensagem” (Antônio J. Saraiva, O Discurso Engenhoso, estudo sobre Vieira e outros autores barrocos, págs. 114 e 115).

O conteúdo do desenvolvimento é bastante variado, mas, didaticamente, pode ser classificado em três espécies, conteúdo principal, conteúdo auxiliar e conteúdos diversos. O conteúdo principal é constituído pelas idéias-chave. O auxiliar pelos subitens e seus desdobramentos, que são as idéias usadas para explicitá-los. O conteúdo diverso é composto por passagens bíblicas, citações de documentos da Igreja, citações de livros espirituais, parábolas, histórias, anedotas (que não firam a santidade e que sejam úteis ao ensino ou à pregação), técnicas e recursos pedagógicos, etc. e.2.1) Algumas funções de itens e subitens Trataremos aqui os termos “itens” e “idéias-chave” como sinônimos. Nas “partes da introdução” já esboçamos algumas utilidades das idéias-chave, entre as quais destacamos, para os fins que almejamos alcançar no desenvolvimento, a retenção das idéias mestras na memória dos ouvintes e a função de chave que exercem no coração e no entendimento. Mas sua função


básica é explicitar e sustentar o tema. Nesta função elas orientam toda a linha de argumentação. e.1.2.1) Retenção e emprego das idéias mestras A memória do ser humano é uma das maiores dádivas que recebemos do nosso Deus. Mas ela possui alguns mecanismos de funcionamento que, se bem compreendidos, produzirão muito mais. Um deles, e é o que nos interessa no momento, é a capacidade que temos de relembrar fatos e idéias mediante associações com outras idéias, histórias, fatos, circunstâncias, etc., principalmente se estiverem envolvidos com certa dose de emoções. Você já se lembrou de alguma coisa que estava associada a outra? Quando se consegue agregar algum fato a outro, mesmo que o fato agregado seja banal, as probabilidades de buscá-lo na memória, situando-o no tempo e no espaço, e até mesmo contextualizando-o, são muito maiores. Este seria o caso de uma garotinha que no primeiro dia de aula ganhasse um anelzinho. Ora, o primeiro dia de aula de uma garotinha é particularmente carregado de emoções. Mesmo que se passem os anos, chegando ela à idade adulta, será capaz de descrever o anel com nitidez impressionante. Será capaz também de descrever as circunstâncias do seu ganho, assim como se lembrar do ano e mês em que o ganhou. E não se assustem se souber também a semana, o dia e até a hora em que o colocou no dedo. Por que isso é possível? Pela associação de fatos, idéias, lembranças e outros detalhes, mais ou menos assim: ela sabe o ano em que começou a estudar, pois isso consta em seu histórico escolar. Sabe também que aquele anelzinho de metal, com minúscula pedrinha azulada, foi-lhe dado na véspera do primeiro dia de aula. Ela sabe disso porque o exibia às amiguinhas desde a entrada da escola. Sabe disso também porque durante as primeiras semanas de aula, quando se sentia insegura em relação ao amor dos pais, por eles se separarem dela durante uma parte do dia, a parte em que estava na escola, voltava a se sentir bem ao contemplar o anel. Ao pousar nele seus olhinhos, suspirava sentindo-se amada por eles. Com tal cenário nossa heroína conseguiria se lembrar não só dos fatos relacionados diretamente com o anel, mas também com outros, como os nomes de colegas e de professores, assim como de espécies de tarefas e folguedos. Tudo isso porque a associação23 de idéias, lembranças, fatos, coisas e circunstâncias abrem janelas da memória e iluminam grandes áreas povoadas de lembranças, principalmente as que estiverem relacionadas com os objetos que as abriram. Nesta faculdade da memória abrir janelas de lembranças por meio da associação é que reside uma das grandes importâncias de usar idéias-chave. “Entenda o cérebro e ensine melhor: Ao conhecer o funcionamento da memória, você pode planejar ações para ajudar a turma a armazenar e evocar conhecimentos. Confira algumas estratégias: Estabelecer relações entre novos conteúdos e aprendizados anteriores faz com que o caminho daquela informação seja percorrido novamente (evocação), tornando mais fácil seu reconhecimento; Utilizar gráficos, diagramas, tabelas e organogramas para classificar as informações faz com que o cérebro tenha mais facilidade para armazená-las e, portanto, resgatá-las com mais facilidade, etc. (Paola Gentile, Revista Veja Eletrônica, Edição Nº 163, Junho/Julho de 2003, Seção Escola “on Line”. Editora Abril). 23


Com efeito, dificilmente um ser humano normal se lembraria de dez por cento do que ouviu em um ensino ou em uma pregação de meia hora. Quando muito, se ele já possui algum conhecimento do tema, começará a reestruturá-lo à sua maneira. Aliás, isso é também uma bela faculdade da memória. Mas caso o ouvinte lembre-se do tema, é provável que tal lembrança venha acompanhada por alguns itens. Com estes itens chegarão vários subitens. E, a partir dessas lembranças, o ouvinte terá grandes chances de reconstruir a prédica em sua mente. É por isso que dissemos antes que essa técnica ajuda o pregador a pregar ad aeternu, isto é, para sempre na lembrança dos que o ouviram. e.1.2.2) Chave Qual é a função primordial da chave? Abrir e fechar as portas, mas o que nos interessa no momento é o abrir. Com efeito, as idéias-chave, principalmente quando conseguem captar a atenção e o interesse dos ouvintes, e naturalmente estando ungidas, podem se tornar belos instrumentos nas mãos de Deus. Instrumentos que servem para abrir o entendimento e o coração da assembléia. É com elas que o evangelizador informa a assembléia sobre a mensagem que se encontra implícita no tema e na seqüência de itens. Existe uma passagem na Sagrada Escritura que pode ilustrar esse método de usar idéias-chave para abrir o entendimento dos ouvintes. Certo dia, após a ressurreição de Jesus, em uma de suas aparições, ele abriu o entendimento dos discípulos para que compreendessem o plano de salvação do Pai. Notem bem, eles já conheciam o plano. O Mestre já o havia lhes anunciado durante mais de três anos. Eles, ainda que não fossem versados na Torá24 como Paulo, pelo menos a conheciam razoavelmente, pois essa era uma exigência para os homens de Israel. Contudo, não obstante tudo isso, parece que seus entendimentos estavam fechados. E foi neste contexto que Lucas narra o seguinte episódio: “Depois lhes disse: „Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos‟. Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Escrituras, dizendo: „Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso. Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto‟.” (Lc 24,44-49)

Lucas diz que Jesus abriu a mente – na tradução da Bíblia de Jerusalém – dos discípulos para que entendessem as escrituras, mediante um resumo da História da Salvação, em particular usando o que se referia a ele mesmo. Ora, naturalmente Jesus não deve ter tido tempo de recitar-lhes a Tora, os profetas e os Salmos. Certamente se valeu de idéias-chave, explicitando-as. E isso foi suficiente para que os discípulos dissessem um sonoro “Ahhh! Entendi.” e.1.2.3) Explicitar e sustentar o tema De todas penso que esta seja realmente a principal função das idéiaschave, para o evangelizador. Elas norteiam e facilitam a argumentação. Cada uma delas é um apoio para o tema, que é a principal de todas as idéias. 24

Lei de Moisés, transcrita no Pentateuco.


O termo JESUS SALVADOR daria um bom tema para pregação. Note bem que ele é composto de duas palavras, porém traz em si tal gama de significados, que não daria para explicitá-lo, nem tampouco sustentá-lo, mormente entre ateus confessos ou práticos, sem uma razoável argumentação. Se tivéssemos meia hora para pregar poderíamos sustentá-lo com três idéiaschave, que poderiam ser as seguintes: Jesus, salvação e salvação em termos práticos. Somente a palavra Jesus já daria argumentos para pregar durante horas. Entretanto, é sabedoria usar somente o essencial. Assim, acreditamos que somente três subitens seriam suficientes para explicitar o significado do termo “Jesus”: filho de Deus, a palavra “Jesus” e Jesus. Ora, o nosso tema é Jesus salvador. Assim ajudaria bastante esclarecê-lo aos ouvintes. Já começamos isso no item anterior. Agora, para continuar, poderíamos analisar a palavra salvação, uma vez que muitos não a experimentam simplesmente porque não a entenderam. Entendendo-a, por certo aumentará o número dos que desejarão serem salvos. Para isso usaríamos os seguintes subitens: Conceito (de salvação), Jesus já nos salvou, Salvação do pecado e Salvação em situações concretas da vida. Com tal seqüência de idéias seria justo esperar que a esta altura da pregação muitos estivessem desejosos de serem salvos, de experimentarem a salvação já. Então seria hora de indicar-lhes “o caminho das pedras”, isto é, dizer-lhes como efetivamente alguém pode ser salvo, conforme as Escrituras. Isso seria feito com a última idéia-chave a ser explorada: a salvação, em termos práticos. Ela poderia ser explicitada com os seguintes subitens: pessoas salvas por Jesus e chave da salvação. Todas essas idéias deverão estar explicitadas e sustentadas com subitens apropriados. O esquema deste desenvolvimento teria a seguinte forma, já inserindo o conteúdo diverso:

II - DESENVOLVIMENTO 1. a) b) c)

JESUS (apresentação de Jesus) Filho de Deus (do Deus vivo: Mt 16,16) A palavra “Jesus” significa Javé salva Jesus: Messias, cumprimento da promessa do Pai

2. SALVAÇÃO a) Conceito - História (dramatizada) sobre um homem que estava caindo em um abismo cujo fundo estava cheio de estacas de pontas para cima. Este homem, no final de suas forças, foi alcançado por um amigo, livrandose da morte certa. b) Jesus já nos salvou b.1) Único salvador b.2) Jesus é o caminho e a vida (Jo 14,6) c) Salvação do pecado (livro “Como Evangelizar os Batizados”, do Prado Flores) c.1) Salvação das conseqüências do pecado c.2) Salvação das suas causas


c.3) Justificação c.4) Remissão/remição c.5) Redenção d) Salvação em situações concretas da vida - Jo 4,1-39 - Jo 8,1-11 3. A SALVAÇÃO, EM TERMOS PRÁTICOS a) -

Pessoas salvas por Jesus: Zaqueu (Lc 19,1-11) A mulher adúltera (Jo 8,1-11) Pedro, no lago (Mt 14,30-31) O ladrão na cruz (Lc 23,42-43)

b) Chave da Salvação (At 4,12; Rm 10,9-13) -

Crer de coração, confessar a fé com os lábios e invocar a salvação ao Senhor.

Já comentamos antes qual seria a função dos subitens e analisando o esquema desse roteiro perceber-se-á com relativa facilidade que eles servem realmente para sustentar e explicitar os itens. Já o conteúdo diverso é extremamente útil. Ele serve como anzol nas mãos do Espírito Santo para pescar em nossa memória os argumentos mais apropriados, além de serem causa de aprofundamento e esclarecimento das idéias com as quais se relacionam. e.3) Discernimento e composição de idéias-chave O discernimento faz parte do cuidado que se deve ter com o assunto. O evangelizador não deve anunciar qualquer coisa. O tema e as idéias-chave devem ser bem discernidos. Vários coordenadores de encontros já nos dão os temas. Entretanto as idéias-chave, normalmente, ficam a cargo do pregador ou formador. Este cuidado é tido pelos mestres da oratória como sendo um fator de sucesso do discurso. Isabel Furini diz que “o feliz encontro de um orador competente, um assunto interessante e um auditório cordial gera um discurso inesquecível,” e leciona que o bom discurso passa pela voz: volume, ritmo e inflexões; pelo orador: gestos naturais, estudados, postura erguida sem ser rígida, olhar a última fileira; pelo assunto: escolhido, pesquisado, analisado, selecionado, eliminado e organizado; e pelo auditório: simpático, indiferente ou hostil.25 Talvez você deve estar desejoso de saber como conseguir as idéiaschave. Não é difícil. Elas são obtidas em processo de discernimento. Você se lembra como terminamos o último capítulo do primeiro volume? Não? Não tem problema. Leia abaixo sua transcrição: “Irmãos e irmãs, encerramos aqui a reflexão sobre a revelação para a pregação e o ensino. Demonstramos que para pregar inspiradamente é preciso acolher do Senhor a revelação do que devemos anunciar. Também apresentamos, didaticamente, um método de acolhimento composto de seis fases, das quais analisamos cinco, a última será explicitada no segundo volume em que estudaremos a roteirização. Vimos que com tal acolhimento poderemos 25

Isabel FURINI, A Arte de Falar em Público, pp. 79 e 80.


pregar e ensinar o que Deus deseja e assim estaremos em condições de contar com sua confirmação para nossas boas obras que são, no caso de sermos evangelizadores, nossos ensinos e nossas pregações.”

Como se vê transcrição acima, concluímos o primeiro volume prometendo que explicitaríamos a sexta fase do acolhimento da revelação para o ensino e a pregação neste volume, e é isso que faremos a partir de agora. Também a título de recordação, lembremos que as seis fases são: conduzir-se pelo Espírito Santo, comunhão com Deus, perguntar a Deus o que ele deseja que anunciemos, esperar a resposta, anotar as idéias que vierem com a escuta e discernir. Então nossa fase do momento é discernir. e.3.1) Espécies de discernimento Para discernir serão úteis duas espécies de discernimento, o carismático e o reflexivo. O carismático consiste em perceber os toques do Espírito Santo em nosso íntimo referente a coisas e fatos que nos dizem respeito. Normalmente quando algo não está de acordo com a vontade de Deus, sentimo-nos incomodados interiormente. Às vezes vem uma sensação de desassossego; noutras, somente um leve incômodo. Isso é um dos sinais mais comuns da presença do discernimento carismático. Quando nos sentimos incomodados é bom parar, orar, refletir e avaliar a situação. Essa parada levanos ao discernimento reflexivo. Reflexivo é o discernimento que se faz mediante o uso da razão e do conhecimento adquirido pelo estudo, pela experiência ou por outro meio de aprendizagem. Quando algo nos incomodar é bom se valer do discernimento reflexivo. Caso a situação não se esclareça, a nossa sugestão, já que estamos em ambiente carismático, é crer que o incômodo é realmente um toque do Espírito Santo, e abandonar a opção que nos tira a paz ou substituí-la por outra. O discernimento carismático para ser bem usado exige o dom fé. Aliás, sem o dom da fé é quase impossível aplicá-lo. Entretanto, mesmo as opções que não nos incomodam devem ser submetidas ao discernimento reflexivo. Vejamos nos exemplos a seguir como isso acontece. e.3.2) Crivos do discernimento Trabalharemos com os seguintes crivos do discernimento: discernimento carismático, conveniência, pertinência, necessidade, Doutrina da Igreja e Sagrada Escritura. Suponhamos que você esteja preparando uma pregação sobre um tema bastante desafiador, DEUS EXISTE. Durante a escuta teria anotado as seguintes idéias: “medo, prova da existência de Deus, é crendo que se salva, ressurreição, prova da ressurreição de Jesus, muitos vivem como se não acreditassem, Mateus 28,1-15, medo dos Apóstolos, espanto dos Apóstolos na ressurreição de Jesus, a fé em Deus pouco depende da ressurreição de Jesus, confessar os pecados, as mulheres viram, João 20,3-10, repouso dominical, João creu na ressurreição, os discípulos de Emaús, as autoridades do templo tentaram desacreditar a ressurreição, os Apóstolos creram, Jesus ordena que a ressurreição deve ser testemunhada, frutos do testemunho na ressurreição de Jesus, dificuldade em testemunhar o que não se vê, a Igreja, conclusões


ligadas à ressurreição de Jesus”. Lembre-se que essas idéias são anotadas durante a quinta fase. E que o senso crítico nesta fase não ajuda muito, ao contrário, pode atrapalhar, pois inibe o nascimento de muitas idéias. Agora chegou o momento de discernir. As idéias para serem consideradas boas não devem nos incomodar espiritualmente, devem estar de acordo com a Sagrada Escritura e a Doutrina da Igreja, e devem ter ligação com o tema. Caso elas nada tenham a ver com o tema, são classificadas como impertinentes e não devem ser usadas. Contudo, às vezes as idéias são boas, mas também não devem ser usadas. Quando isso acontece? Isso acontece quando as idéias são inconvenientes e desnecessárias. Inconveniente é a idéia inadequada ou inoportuna. Desnecessária é a idéia que, mesmo sendo útil e conveniente, pode ser dispensada. Muitas pregações e ensinos se alongam em demasia porque alguns evangelizadores ainda não aprenderam a descartar as idéias desnecessárias. Digamos que orando com abertura aos dons do Espírito Santo, uma frase passou a nos incomodar. Pousamos os olhos nela e nos sentimos mais incomodados. Resolvemos riscá-la. Trata-se da expressão “a fé em Deus pouco depende da ressurreição de Jesus.” Concluímos que ela era de difícil compreensão, além de ser muito filosófica e também um perigo em potencial. Em seguida passamos as anotações pelos crivos da Sagrada Escritura e da Doutrina da Igreja e não encontramos nenhuma expressão que as ferissem. Continuando o discernimento, concluímos que as palavras “medo”, “repouso dominical” e “confessar os pecados” são impertinentes ao tema proposto. Já as expressões “é crendo que se salva”, “muitos vivem como se não acreditassem” e “dificuldade em acreditar no que não se vê” são inconvenientes. E, por fim, a frase “as autoridades do templo tentaram desacreditar a ressurreição” é desnecessária. Desta forma, expurgando os termos que nos incomodaram espiritualmente, assim como os inconvenientes, impertinentes, desnecessários e os que contrariaram a Sagrada Escritura e a Doutrina da Igreja, ainda temos o seguinte rol: prova da existência de Deus, ressurreição, prova da ressurreição de Jesus, Mateus 28,1-15, medo dos Apóstolos, espanto dos Apóstolos na ressurreição de Jesus, as mulheres viram, João 20,3-10, João creu na ressurreição, os discípulos de Emaús, os Apóstolos creram, Jesus ordena que a ressurreição deve ser testemunhada, frutos do testemunho na ressurreição de Jesus, a Igreja, conclusões ligadas à ressurreição de Jesus. Antes de prosseguirmos, algumas pequenas, porém importantes observações. Pode acontecer de eliminarmos todas as palavras. Neste caso deveremos fazer nova escuta. Noutras vezes as palavras devem ser completadas. Descobrimos isso durante a montagem do roteiro. Outra coisa que também pode ocorrer, e até com freqüência, é uma determinada quantidade de palavras se tornarem somente fontes de inspiração para novas idéias. Por fim, é comum ser necessário, durante a composição do desenvolvimento, re-elaborar a redação das idéias que anotamos na escuta.


e.3.3) Composição de idéias-chave e subitens Realizadas as etapas do discernimento, passa-se à montagem do desenvolvimento. Começamos a montar o desenvolvimento pelas idéias-chave, mais precisamente pela primeira idéia. Nesta fase a oração é tão importante quanto na escuta que se faz para acolher as idéias iniciais. Sem oração correremos o risco de nos desligarmos da Videira verdadeira. Orando, com certeza receberemos muitas inspirações, moções e revelações importantes durante a composição do desenvolvimento. A propósito, a oração em todas as fases, da escuta ao exercício da prédica, é garantia de possibilidade de se receber ajuda constante de Deus. Além da oração, o preparo humano também é necessário. Já sabemos que Deus se serve de nossa natureza. Tanto mais de nossa natureza preparada para a missão. Em verdade, o aprendizado vem com um pouco de estudo e com a prática. É importante, portanto, que procuremos nos capacitar para a atividade de composição dos roteiros. Conheçamos as idéias-chave um pouco mais. Elas são algo que fazem parte de nossa vivência cotidiana. Por certo você ainda não percebeu, mas o que falamos aqui é verdade. Referimo-nos às propagandas que ouvimos e vemos diariamente. Elas são muito bem preparadas. Você já conversou com um profissional da mídia a este respeito? Não?! Experimente! A propaganda é feita com as melhores idéias. Com palavras cuidadosamente escolhidas. Palavras-chaves... idéias-chave. Outro exemplo são as manchetes dos telejornais e também dos jornais. 26 O interesse do telespectador aumenta ou diminui conforme varia a qualidade da manchete. Sendo boa, mesmo que ele não se lembre do inteiro teor da notícia, lembrar-se-á da manchete, que é, na verdade, o resumo da matéria noticiada. Talvez não conheçamos a técnica de elaboração de manchetes e propagandas, mas o seu resultado, por ouvi-las freqüentemente, todos conhecemos. Mas não precisamos nos preocupar. Nossa pregação não é um texto de propaganda, nem tampouco uma redação jornalística. Eles foram citados somente como bons exemplos de idéias-chave. Entretanto, em um aprofundamento, seria interessante conhecer um pouco dessas técnicas... Qual sua opinião? Colocando a questão em termos práticos, podemos dizer que as idéiaschave, em se tratando de pregadores experientes, costumam vir junto com o acolhimento da revelação para a pregação. Contudo, mesmo assim, em não raras oportunidades, é necessário, após acolher as inspirações e anotá-las, voltar a elas, sempre em oração, para transformá-las em preciosas jóias para os ouvintes. Voltando à idéia das manchetes, o que elas são? O primeiro pensamento que nos ocorre é que elas são títulos de notícias. E é verdade. Mas não é somente isso, elas são também uma espécie de resumo do conteúdo da notícia. Vejam o seguinte exemplo: “1. A Igreja celebra a festa dos santos Apóstolos Pedro e Paulo: o pescador da Galiléia, o primeiro que professou a fé em Cristo; o mestre e doutor 26

No mesmo sentido, Andréa Monteiro de Barros MACHADO, in Falando Muito bem em Público, p. 42.


que anunciou a salvação às nações (cf. Prefácio). Por vontade da divina Providência, os dois chegaram a Roma, onde sofreram o martírio no espaço de poucos anos. Desde então a cidade, que era a capital de um grande império, foi chamada a outra glória: hospedar a Sede Apostólica, que preside à missão universal da Igreja de difundir no mundo o Evangelho de Cristo, Redentor do homem e da história. 2. Este ano a celebração hodierna é enriquecida pela presença de Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla, que tive a alegria de receber e saudar há pouco. A sua agradável visita tem um motivo particular: há quarenta anos, precisamente em Janeiro de 1964, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I encontraram-se em Jerusalém e trocaram um abraço fraterno. Aquele abraço tornou-se símbolo da desejada reconciliação entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas, e profecia de esperança no caminho rumo à plena unidade entre todos os cristãos. Convidei o Patriarca Bartolomeu I a participar na Santa Missa que presidirei hoje à tarde, às 18 horas, na Praça de São Pedro. Pronunciaremos juntos a homilia e proclamaremos a comum profissão de fé. Sempre durante a celebração de hoje terei a alegria de impor o «Pálio» aos Arcebispos Metropolitas nomeados no último ano. É um sinal tradicional de comunhão entre a Sede de Roma e as Igrejas espalhadas pelo mundo, que se situa bem no contexto da festa dos Apóstolos Pedro e Paulo. (... sic.)27.”

Que manchete você daria a essa notícia? Certamente você pensou em uma boa manchete. O jornalista escolheu “RENOVADO EMPENHO DE COMUNHÃO ENTRE CATÓLICOS E ORTODOXOS”. Note bem que a frase escolhida resume todo o conteúdo da matéria. Vejamos outro exemplo. Desta vez em sentido inverso. Analise a seguinte manchete: PORTUGUESES VÃO PAGAR MAIS IMPOSTOS.28 Analisando-a, dá para entender que mesmo sendo ela de um jornal editado além do Oceano Atlântico, cujos leitores estão fora do nosso contexto, dá para entender que os contribuintes de um País chamado Portugal, que se localiza na Europa, terão sua carga tributária elevada. É que essa manchete, como todas as suas irmãs, resumiu a notícia. Quem a ouvir, ainda que não ouça o inteiro teor da notícia, sairá sabendo que o destino dos contribuintes portugueses será pagar mais impostos. Leia uma parte da notícia a que se refere a manchete:

“O Orçamento de Estado para 2003 não traz boas notícias. Os portugueses vão pagar mais impostos, o aumento dos salários não deverá ir além dos 2,1 por cento e a taxa de desemprego poderá atingir os 5,5 por cento. São os sacrifícios exigidos por Manuela Ferreira Leite para “fazer regressar Portugal à rota correcta da convergência com a Europa”. “Este Orçamento obriga-nos a trabalhar mais, gastando menos”. As palavras da ministra das Finanças têm uma aplicação imediata ao nível da fiscalidade e da negociação salarial.

27

L'OSSERVATORE ROMANO, edição semanal em português, via Internet, 03 julho de 2004, Cidade do Vaticano. 28 Jornal Correio da Manhã, dia 01/10/2002, Lisboa, Portugal.


No que aos impostos diz respeito, não existe nenhum sinal de desagravamento fiscal. Nem os trabalhadores nem as empresas poderão contar com uma baixa de impostos no próximo ano. (... sic.)”

Mas a função da manchete não é somente resumir a notícia. Em verdade ela tem uma função que talvez seja mais importante para a redação do jornal do que a própria função sintética. Essa função mais importante é atrair a atenção do leitor, no caso do jornal; do ouvinte, no rádio, ou do telespectador, em se tratando de televisão. Qual contribuinte não se interessaria pelo conteúdo de uma notícia cuja manchete dissesse que ele pagaria mais imposto? Como as manchetes resumem o teor das notícias, o tema resume em seu significado todo o conteúdo do ensino ou da pregação. Aliás, já dissemos isso sumariamente. Da mesma forma os itens resumem certa quantidade de idéias. O mesmo acontece com os subitens. Mas, como o pregador e o formador necessitam da atenção dos ouvintes para cumprir sua missão, seria bom que todos nós aprendêssemos redigir temas, itens e subitens que despertassem o interesse da assembléia. Retomemos as idéias da escuta hipotética que foram arroladas acima, a fim de compor um desenvolvimento. Antes, porém, lembremos que para continuarmos a composição devemos disponibilizar ao Senhor nossos dons naturais, assim como utilizá-los. Dessa forma, a inteligência, a criatividade, o raciocínio, o senso crítico, a imaginação, a sabedoria, os conhecimentos adquiridos, entre outros, todos ungidos pelo Espírito Santo, desempenham papel importante na organização dos roteiros. Juntos com eles, os dons espirituais, especialmente os de revelação – profecia, ciência, visualização, locução interior e outras espécies de escuta – e aqueles que os tornam operacionais – discernimento, fé carismática, sabedoria – completam o rol de ferramentas que o Senhor coloca à disposição dos seus servos. Ressaltemos, enfim, que a atividade de composição dos roteiros funciona melhor se a fizermos em oração, escuta, reflexão e discernimento. E sempre no final deste ciclo, que pode durar segundos, minutos ou hora, redigem-se as idéias discernidas. Desta forma, falando em ciclo, teríamos algo assim: ORAÇÃO=>ESCUTA=>REFLEXÃO = DISCERNIMENTO=>REDAÇÃO. Este ciclo é, pode e deve ser repetido inúmeras vezes. A reflexão e o discernimento incluem análise, julgamento, decisão e escolha. É assim que poderemos chegar a um roteiro como o que segue abaixo, sobre o tema DEUS EXISTE. II - DESENVOLVIMENTO 1. PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS RESSURREIÇÃO DE JESUS 2. PROVA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS a) A ressurreição de Jesus vista (testemunhada) pelos Apóstolos - Mateus 28, 1-15


b) Perplexidade (espanto) dos Apóstolos ante a ressurreição de Jesus -

Lucas 24, 9 (As mulheres dão a Boa Notícia da ressurreição de Jesus aos onze Apóstolos)

-

Discípulos de Emaús, 12 Km. de Jerusalém

-

Jesus aparece a Pedro

-

Jesus aparece aos onze Apóstolos e a outros discípulos, ao mesmo tempo; come com eles

-

João 21, 2-3 (os Apóstolos voltaram à vida velha, pescadores; pescaram à noite toda e nada apanharam)

c) Os Apóstolos creram na ressurreição d) Os Apóstolos testemunharam a ressurreição de Jesus -

Atos 2, 32; 3, 15; 4, 10; 5, 29-32; 17, 31, in fine

f) Frutos do testemunho na ressurreição de Jesus -

fé e conversão dos que ouviam

3. CONCLUSÕES A PARTIR DA RESSURREIÇÃO DE JESUS a) Existência de Deus -

Jesus é Filho de Deus

b) Existência do Espírito Santo (Lucas, 1, 35a; João 21, 22) c) Existência de Anjos (Lucas 1, 26-37: anunciando o nascimento de Jesus; Mateus 4, 11: servindo Jesus). d) Existência do céu (João 14, 1-3; Lucas 23, 42-43) g) Origem divina da Igreja Católica (Mateus 16, 18-19) f) Jesus escolheu o primeiro papa (João 21, 15-17) O que temos acima seria um primeiro esboço do desenvolvimento. Ele ainda pode ser melhorado e enriquecido, assim como suas idéias poderão ser aprofundadas. Poderemos também lhe acrescentar outros conteúdos, tais como: citações doutrinárias, histórias, parábolas, citações bíblicas, espaços para testemunho, dinâmicas, enfim, muitas outras coisas, pois as possibilidades são enormes. Para conseguir isso podemos repetir o ciclo ORAÇÃO=>ESCUTA=>REFLEXÃO = DISCERNIMENTO=>REDAÇÃO, quantas vezes forem necessárias. Abaixo segue o mesmo roteiro, desta vez já ampliado. Compare-o com versão anterior e veja os acréscimos que recebeu. Para facilitar nossa observação, deixamos os acréscimos em letras pretas. II - DESENVOLVIMENTO 1. PROVA BÍBLICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS - História dos dois amigos, um com muita fé e o outro incrédulo. RESSURREIÇÃO DE JESUS 2. PROVA HISTÓRICA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS


TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS a) A ressurreição de Jesus vista (testemunhada) pelos Apóstolos - Mateus 28, 1-15 b) Perplexidade (espanto) dos Apóstolos ante a ressurreição de Jesus -

Lucas 24, 9 (As mulheres dão a Boa Notícia da ressurreição de Jesus aos onze Apóstolos)

-

João 20, 3-10 (Pedro e João também vão ao Sepulcro; João creu na ressurreição)

-

Lucas 24, 13-32 (discípulos de Emaús, 12 Km. de Jerusalém)

-

Lucas 24, 34 (Jesus aparece a Pedro)

-

Lucas 24, 36-43 (Jesus aparece aos onze Apóstolos e a outros discípulos, ao mesmo tempo; come com eles)

-

João 21, 2-3 (os Apóstolos voltaram à vida velha, pescadores; pescaram à noite toda e nada apanharam)

c) Os Apóstolos creram na ressurreição - João 21, 1-14 (ler) d) Os Apóstolos testemunharam a ressurreição de Jesus -

Jesus ordena que a ressurreição deve ser testemunhada a todas as pessoas (Lucas 24, 48; Atos 1, 8: os Apóstolos são testemunhas de tudo o que aconteceu com Jesus, incluindo sua ressurreição)

-

Atos 2, 32; 3, 15; 4, 10; 5, 29-32; 17, 31, in fine

-

I Coríntios 15, 3-8

f) Frutos do testemunho na ressurreição de Jesus -

fé e conversão dos que ouviam (Atos 2, 41; 4, 4; 5, 12-16; 8, 14-17)

-

perseguição, prisão, torturas e morte dos Apóstolos e outros discípulos (Atos 4, 1-3.16-21; 5, 17-18 (foram libertados por um anjo: versículo 19). 26-33.34-40; 7, 54-60; 12, 1-2. Todos, menos João, foram assassinados)

-

A Igreja Católica

3. CONCLUSÕES BÍBLICAS QUE A RESSURREIÇÃO DE JESUS NOS DÁ a) Existência de Deus -

Jesus é Filho de Deus (Lucas 1, 35, in fine)

-

Jesus e o Pai são um

= Jo 14,6-11 b) Existência do Espírito Santo (Lucas, 1, 35a; João 21, 22; Lucas 24, 49; Atos 1, 8; Atos 2, 1-4; a própria RCC) c) Existência de Anjos (Lucas 1, 26-37: anunciando o nascimento de Jesus; Mateus 4, 11: servindo Jesus; Lucas 22, 43, confortando Jesus;


Mateus 28, 2-7: explicando a ressurreição de Jesus; Atos 5, 17-21; 12, 3-11: libertando os Apóstolos). d) Existência do céu (João 14, 1-3; Lucas 23, 42-43) e) Existência de demônios (João 8, 44; Mateus 25, 41) f) Existência do inferno (Mateus 24, 41; Lucas 16, 19-31) g) Origem divina da Igreja Católica (Mateus 16, 18-19) f) Jesus escolheu o primeiro papa (João 21, 15-17) h) Poder sacerdotal (Mateus 16, 19; Lucas 22, 15-20; João 20, 23) A utilização do roteiro para pregar e ensinar é assunto do encontro de verbalização. Entretanto já podemos adiantar, dizendo resumidamente, que o evangelizador emprega bem o roteiro quando explica cada idéia nele transcrita, de maneira que uma se encadeie na outra até que a prédica se forme um corpo coeso e harmônico. Ele age como um artista que constrói um mosaico ou como um artesão que habilmente costura pedaços de tecidos dando-lhes a forma de uma bela peça de roupa. Já quase encerrando este tópico, e reconhecendo os limites de nossa comunicação, gostaríamos que os irmãos compreendessem a necessidade dos treinamentos que se dão em oficinas e exercícios diversos. Sabemos que é praticamente impossível transmitir todo o conteúdo necessário sobre qualquer assunto, principalmente em se tratando de temas técnico-didáticos, onde a prática é fundamental como coadjutora da aprendizagem. Tenho comigo uma frustração que confesso agora: jamais consegui transmitir o melhor de meus pensamentos, a idéia mais preciosa, a emoção mais refinada, a experiência mais bem vivida. Certa vez li uma historieta que passarei a adaptá-la logo abaixo: “Em certo reino, um jovem príncipe saiu a passear. Enquanto caminhava pelos prados, levava um pergaminho de famoso escritor que vivera em algum dos séculos anteriores. Depois de perambular durante alguns pares de minutos, chegou a uma velha oficina. Lá encontrou o filho do artesão, adolescente como ele, aplainando uma peça de madeira. Logo começou a conversar, mas o aprendiz de artesão parecia não lhe dar ouvidos. Em determinado momento, ele, ferido em sua nobreza, provocou o jovem artesão, dizendo: –– Que vida inútil você leva. Nasceu artesão, vai morrer artesão e ainda passa os dias aplainando madeira. –– Em parte vossa Alteza enganou-se. É verdade que meu destino é ser artesão. Porém minha vida não se resume em aplainar madeira, eu faço berço para príncipes e tronos para reis. E tem mais, é melhor aplainar madeira do que me encher com sobras de morto. –– Ah, ah, ah. Com essa você não me atingiu. Eu não me encho com resto de morto. –– Enche sim. Que pergaminho é esse que você traz debaixo do braço? –– Ah! Logo se vê sua ignorância. Este pergaminho traz a sabedoria de um grande filósofo que viveu há mil anos. –– Você pensa que suas melhores lições estão aí? –– Penso.


–– Você está conseguindo dizer-me tudo que gostaria neste momento, e do melhor jeito? –– Pensando bem, não? –– Então, se você não consegue comunicar o melhor de si, sendo um príncipe, seu pai também não consegue, mesmo sendo o rei. Assim também o filósofo não consegue, ainda que seja um sábio. Logo, ninguém consegue. É por isso que você está se enchendo com restos de morto. O filósofo só conseguiu por no pergaminho o que sobrou de si. O melhor levou para o túmulo.”

Estamos tentando dizer aos irmãos e às irmãs que somente a leitura deste texto não é suficiente para que dominemos a roteirização. Também não podemos limitar nossa formação em freqüências a cursos e encontros. Precisamos de algo mais. O ideal é que consigamos unir o estudo de textos, a participação em encontros e o exercício. Este pode ser feito em oficinas de formação ou individualmente. Os exercícios em oficinas têm produzido mais frutos. De minha parte, como já falei antes, trabalho com roteiros desde o ano de 1977. Desde o segundo semestre daquele ano sempre os tenho usado, e sempre tenho descoberto novas utilidades para eles, assim como novas formas de aperfeiçoá-los. Vale a pena perseverar.


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