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Jornal de Fato Domingo, 26 de julho de 2009
INSEGURANÇA
Droga e sexo em pleno dia no Alto do Louvor Uso de drogas por grupos de homens e mulheres durante o dia deixa moradores apreensivos Abaixo-assinado pedindo atuação da Polícia no combate ao problema está sendo feito por moradores do bairro; mais de 300 pessoas já assinaram
Fred Veras
ESDRAS MARCHEZAN Da Redação
A relação do bairro com uma época do passado em que a prostituição virou marca da área encravada entre o Bom Jardim e o Centro traz, até hoje, ares de marginalização e repúdio para quem vive no Alto do Louvor. O passado ainda reflete no presente, embora o perfil de seus habitantes tenha mudado. O comércio do prazer persiste, mas divide espaço com situações e problemas comuns das "casas de família". Mas, lidar com o passado do bairro não tem sido fácil para alguns moradores da área, principalmente depois que a prostituição se aliou ao tráfico de drogas. Os moradores são unânimes em afirmar que o tráfico de drogas começa a tomar conta de determinados pontos do bairro, antes tomados pelas garotas de programa. Em alguns, tráfico e prostituição dividem a mesma esquina. A unanimidade se repete quando os denunciantes fazem um pedido: o anonimato. "Todo dia a gente vê o pessoal fumando crack por aqui, e mostrar a cara pode ser perigoso para quem dá de cara todos os dias com essas pessoas", afirma um morador do bairro. De fato, o uso de drogas por parte de mulheres e homens no Alto do Louvor já não espera mais o escurecer. Num
Mulheres fumam crack à tarde em ruas do Alto do Louvor fim de tarde da semana passada, a equipe de reportagem do DE FATO flagrou mulheres fazendo de um canto de parede em uma das ruas do Alto do Louvor ponto de encontro para o consumo de crack. A presença da reportagem não inibe as usuárias, que passam a mostrar à equipe o cachimbo usado no consumo da droga. "Pelo menos 90% do dinheiro que as profissionais do sexo do Alto do Louvor recebem dos programas hoje vai para a compra do crack. Grande parte delas virou usuária da droga", afirma Carlos Moura, historiador e estudante do curso de Direito da Uern, que realiza uma pesquisa sobre a violência praticada contra as garotas de programa que atuam naquele bairro. Entre os moradores o medo domina. "O que se pode esperar de uma pessoa que está
fazendo uso desse tipo de coisa (crack)? E pior é que quando faltar dinheiro para comprar a droga, o que eles fazem? Assaltam, roubam, tudo para conseguir dinheiro. Nosso medo é que os moradores fiquem reféns dessa situação", comenta um morador. Ele conta que muitas das pessoas que moram no local já organizaram um abaixo-assinado - com mais de 300 assinaturas até o momento -, pedindo providências aos comandos do II Batalhão da Polícia Militar (BPM), da Delegacia Regional de Polícia Civil e da delegacia da Polícia Federal na cidade. A intenção é que os órgãos atuem de forma a evitar que as ruas do bairro continuem a servir de pontos para consumo de drogas em grupo. "A gente só quer tranquilidade. Só isso", afirma uma moradora.
Fred Veras
Moradores afirmam que bairro está sendo usado como ponto de encontro de usuários
Fred Veras
A gente só quer tranquilidade. Só isso!’
Pelo menos 90% do dinheiro que as profissionais do sexo ganham com os programas vai para a compra de crack’
MORADOR do Alto do Louvor, que prefere o anonimato
CARLOS MOURA Pesquisador
Um mergulho na vida das garotas de programa
Prostituição resiste nas ruas do bairro, embora em decadência
Na vida das garotas de programas do Alto do Louvor, o historiador Carlos Moura encontrou o objeto que precisava para fazer sua monografia de fim de curso na especialização em segurança pública e cidadania da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN). A experiência anterior numa especialização sobre tráfico internacional de seres humanos para fins sexuais mostrou que muitas histórias de mulheres que assumem o sexo como profissão silenciam diante da violência física e psicológica.
"Nossa pesquisa está voltada para essa relação entre as profissionais do sexo e seus clientes, sem deixar, é claro, de abordar outros detalhes no cotidiano da vida dessas mulheres. Mas, isso só poderei divulgar quando o estudo estiver pronto, no fim de agosto", explica
Carlos Moura. Para conhecer a fundo o ambiente em que estão inseridas as garotas de programa que atuam no bairro, o pesquisador fez diversas entrevistas com as mulheres. "Fica evidente também que há uma resistência por parte das garotas com homens que possam trazer problemas aos moradores. Elas não gostam dos que chegam para bagunçar ou fazer algo que possa causar apreensão entre as famílias que moram no lugar", ressalta.