DA
Editorial A Sociologia tem uma função importante que é nos fornecer instrumentos para uma melhor compreensão do mundo que nos cerca, e em especial, das diversas redes sociais que se formam em torno de nós... Especialmente, nesse momento, com o fortalecimento da globalização, em que o mundo tem suas fronteiras estreitadas, os países se tornam mais acessíveis bem como as culturas se entrecruzam... Pois a sociedade global é um campo de desenvolvimento desigual e de contradições novas, marcando um momento histórico de transição, e como quase todos os momentos de mudança, de transição, são períodos turbulentos, de crise e de dinâmicas indeterminadas, inaugurando também renovação de paradigmas. E possibilitando também outros modos de reinventar o mundo social, em suas crenças e práticas…
Por isso estudar Sociologia é tão importante, para que entendamos esse novo mundo.
Marcia Lisboa Professora de Sociologia
4– INTRODUÇÃO
5 – VIDA E OBRA
7 – OBJETO DE ESTUDO DA SOCIEDADE
8– MÉTODO POSITIVO
9– FATOS SOCIAIS
10 – NEUTRALIDADE E IMPARCIALIDADE DIANTE DOS FATOS SOCIAIS
11 – DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL 12 – SOLIDARIEDA DE ORGÂNICA E SOLIDARIEDA DE MECÂNICA
13 – ANOMIA SOCIAL
10 – COMPETÊNCIA DO ESTADO PARA A COESÃO SOCIAL
Durkheim viveu numa família muito religiosa, pois seu pai era um rabino. Porém, não seguiu o caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi um opositor da educação religiosa e defendia o método científico como forma de desenvolvimento do conhecimento. Em boa parte dos seus trabalhos, procurou demonstrar que os fenômenos religiosos tinham origem em acontecimentos sociais. Aos 21 anos de idade, Durkheim foi estudar na Escola Normal Superior (École Normale Supérieure) e passou a dedicar-se ao mundo intelectual. Formou-se em Filosofia, no ano de 1882. Cinco anos após sua formatura, foi trabalhar na Universidade de Burdeos como professor de pedagogia e ciência social. Neste período, começaram seus estudos sobre sociologia.
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Curiosamente ele se formou em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à Sociologia, seu principal trabalho foi na reflexão e no reconhecimento da existência de uma "Consciência Coletiva", onde fica nítido suas aspirações no que diz respeito ao bem comum. Emile parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. Durkheim chamou de "Socialização" esta evolução do aprendizado humano, a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse "tudo" ele chamou de "Fatos Sociais", e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia. Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três características: 1°Generalidade 2°Exterioridade e 3° Coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas. O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro "As regras do método sociológico", onde define uma metodologia de estudo, que embora sendo em boa parte extraída das ciências naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais. Em seus estudos, os quais serviram de pontos expiatórios para os inícios de debates contra Gabriel Tarde (o que perdurou praticamente até o fim de sua carreira), ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia. A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra, elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.
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Viveu numa época de mudanças, em que a nascente sociedade capitalista acabava de destruir as velhas instituições feudais e impunha novos valores burgueses. Durkheim se preocupará com o estabelecimento da nova ordem social (a capitalista). Foi o primeiro professor universitário de Sociologia e sua produção reflete a tensão entre valores e instituições que estavam sendo corroídos e formas emergentes. Suas Referências e pressupostos contextuais para embasar seu pensamento foram a Revolução Francesa e a Revolução Industrial de um lado e o manancial de ideias de vários autores deste período. Como o século XVIII passava por um momento conturbado, de um lado a França com seus trabalhadores na base da pirâmide, sustentando toda a sociedade, do outro lado encontrava-se a Inglaterra com seus trabalhadores lutando contra a modernização das fábricas, o que acarretava o desemprego. Intensificava-se a consciência da necessidade de se criar novas
ideias e valores (novo sistema científico e moral) que se harmonizasse com a ordem industrial; A lei do progresso é uma força implacável, a vida coletiva é um ser distinto, complexo e irredutível às partes que a compõem. Principais aspectos da teoria sociológica de Durkheim: · Existem fenômenos sociais que devem ser analisados e demonstrados com técnicas especificamente sociais; · A sociedade era algo que estava fora e dentro do homem ao mesmo tempo, graças ao que se adotava de valores e princípios morais; · As pessoas se educam influenciadas pelos valores da sociedade onde vivem; · A sociedade está estruturada em pilares, que se manifestam através de expressões (conceito de estrutura); · Divisão do trabalho social: numa sociedade cada indivíduo deve exercer uma função específica, seguindo direitos e deveres, em busca da solidariedade social. Desta forma, pode-se chegar ao progresso e avanço para todos. Principais obras: - A divisão do trabalho social (1893) - As regras do método sociológico (1895) - O suicídio (1897) - A educação moral (1902) - As formas elementares da vida religiosa (1912) - Lições de Sociologia (1912)
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Os fatos sociais são o objeto de estudo da sociologia, segundo Durkheim. Os fenômenos que o autor denomina fatos sociais são: “toda maneira de agir ou pensar fixa ou não, capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, apresentando uma existência própria independente das manifestações individuais que possa ter” (Durkheim, 1991: 1). Dizemos que são externos porque são fatos coletivos, como a religião ou o sistema econômico, por exemplo, independentes dos indivíduos, que já os encontram prontos quando nascem e que morrerão antes que esses deixem de existir. Ou seja, existem fora dos indivíduos e são internalizados através do processo de socialização.
Essas maneiras de agir e pensar são, além de externas, capazes, pelo seu poder coercitivo, de obrigar um indivíduo a adotar um comportamento qualquer. A coerção pode se manifestar direta ou indiretamente. É direta, por exemplo, quando o professor estabelece seus critérios de avaliação, aos quais o aluno é coagido a se adaptar para se sair bem na prova. Mas é indireta quando um empresário passa a utilizar computadores para administrar os seus negócios, pois ele faz isso pressionado pela concorrência, embora não exista nenhuma lei que o obrigue explicitamente. A coerção pode também ser formal ou informal. É formal, como o próprio nome já diz, quando a obrigação e a punição pela transgressão estão estabelecidas formalmente. O Código Penal, por exemplo, apresenta um grande número coerções formais para diversos atos predefinidos. É informal quando é exercida espontaneamente pelas pessoas no seu dia a dia. Quando, por exemplo, uma pessoa chama a atenção de outra por tentar “furar” uma fila. Finalmente, a coerção pode estar oculta. A pessoa que cumpre de bom grado e com satisfação as suas obrigações sociais não sente o peso da coerção sobre o seu comportamento. Uma pessoa que gosta de sua profissão, por exemplo, geralmente cumpre seus deveres com prazer, sem a necessidade de imposições. Mas a coerção nunca deixa de existir. Está sempre à espreita.
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Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta algumas idéias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão sociológica. São elas: 1) Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo. Como a sociedade é formada pelos indivíduos, a filososfia tem a prática de explicar a sociedade (e os fatos sociais) como uma expressão comum destes indivíduos. De outro lado, se existe uma natureza individual que se expressa coletivamente na organização social, então pode-se dizer que a história da humanidade tem um sentido, que deve ser a contínua busca de expressão desta natureza humana. Para Adam Smith, por exemplo, dado que o homem é, por natureza, egoísta, motivado por fatores econômicos e propenso às trocas, a sociedade de livre mercado seria a plena realização desta natureza. Para Hegel, a história da humanidade tendia a crescentemente afirmar o espírito humano da individuação e da liberdade. Para Marx, a história da sociedade era a história da dominação e da luta de classes, e a tendência seria a afirmação histórica, por meio de sucessivas revoluções, da liberdade humana e da igualdade, por meio do socialismo. Para Durkheim, estas concepções eram insuportáveis, pois eram deduções e não tinham validade científica, eram crenças fundamentadas em concepções a respeito da natureza humana. Durkheim acreditava que o conhecimento dos fatos sociológicos deve vir de fora, da observação empírica dos fatos. 2) Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos: a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade, produto da própria sociedade. Os fenômenos sociais são considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais. Fazendo uma analogia com a biologia, a vida, para Durkheim, seria uma síntese, um todo maior do que a soma das partes, da mesma forma que a sociedade é uma síntese de indivíduos que produz fenômenos diferentes dos que ocorrem nas consciências individuais (isto justificaria a diferença entre a sociologia e a psicologia).
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3) Os fatos sociais são uma realidade objetiva: ou seja, para Durkheim, os fatos sociais possuem uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma, ser tratados como "coisas". 4) O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da coerção. A formação do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas, princípios morais, religiosos, éticos, de comportamento, etc. que balizam a conduta do indivíduo na sociedade. Portanto, o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela.
Nas palavras do próprio Durkheim "É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda a maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais" (Durkheim, 1999, p. 13). Os fatos sociais incorporam-se à pessoa por meio da educação. Por ex: o fiel de uma religião, ao nascer, já encontra formadas as crenças e práticas de sua vida religiosa. Os fatos sociais funcionam independente do uso que deles faço. Por isso, são maneiras de atuar, pensar e existir fora das consciências individuais em que se manifestam. São dotados de uma potência imperativa e coercitiva. Há uma vigilância pública, coletiva sobre o indivíduo. Para Durkheim a Sociologia é uma ciência e, por isso, deve ser neutra diante dos fatos sociais, isto é, a Sociologia não deve envolver-se com a Política. Assim, toda reforma social deve estar baseada primeiramente no conhecimento prévio e científico da sociedade, e não na ação política. O sociólogo deve ter o espírito idêntico ao do físico, do químico (ciências da natureza), quando se aventuram em uma região, ainda inexplorada, do seu domínio científico. 9
A neutralidade É sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessário que o pesquisador mantenha uma certa distância emocional do assunto abordado. Mas será isso possível? Seria possível um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado de sua própria história de vida? Ou ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema religioso sem um consequente envolvimento ideológico nos caminhos de sua pesquisa? Provavelmente a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta realidade pode nos preparar para trabalhar esta variável de forma que os resultados da pesquisa não sofram interferências além das esperadas. É preciso que o pesquisador tenha consciência da possibilidade de interferência de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa não sejam influenciados por eles além do aceitável.
A imparcialidade A imparcialidade diz respeito aos meios em que teorias científicas são escolhidas ou priorizadas em detrimento de outras. Essa seleção de teorias é feita através de um método bem definido, que elege uma série de critérios e que são a base da seleção das teorias. Como todas as hipóteses e teorias devem se enquadrar a este método e satisfazer seus critérios, o processo torna-se imparcial.
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Durkheim tenta entender o funcionamento da sociedade da mesma forma que a Biologia entende o funcionamento de um corpo. Cada indivíduo tem uma função a cumprir que é importante para o funcionamento de todo o corpo social. Em sua obra A Divisão Social do Trabalho, procura compreender as repercussões da divisão do trabalho e do aumento do individualismo na integração social. Quanto mais for especializada sua atividade, mais o membro de uma sociedade passa a depender dos outros membros. Daí o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o seu aspecto econômico (aumento de produtividade) mas a integração e a união entre os membros. Trata-se de um tema central no pensamento sociológico de Durkheim, cujo principal interesse é desvelar os fatores que possibilitam a coesão (unidade, estabilidade) e a permanência (ou continuidade) das relações sociais ao longo do tempo e de gerações. Dentro da perspectiva sociológica durkheimiana, a existência de uma sociedade só é possível a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Segundo Durkheim, esse consenso se assenta em diferentes tipos de solidariedade social.
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Em De la Division du Travail Social, Durkheim esclarece que a existência de uma sociedade, bem como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica prevalece naquelas sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja, em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo, essa correspondência de valores assegura a coesão social.
De modo distinto, existe a solidariedade orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o conceito deve ser aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada.
A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas diferentes profissões e variedade das atividades industriais. Durkheim emprega alguns conceitos das ciências naturais, em particular da biologia (muito em uso na época em que ele começou seus estudos sociológicos) com objetivo de fazer uma comparação entre a diferenciação crescente sobre a qual se assenta a solidariedade orgânica.
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Segundo a concepção de Durkheim, o conceito de anomia expressa a crise, a perda de efetividade ou o desmoronamento das normas e dos valores vigentes em uma sociedade, como consequência do seu rápido e acelerado desenvolvimento econômico e de suas profundas alterações sociais que debilitam a consciência coletiva, entendida como uma espécie de poder regulador necessário que serve de moderador aos ilimitados apetites e expectativas individuais, viabilizando-as em um contexto que mantenha o equilíbrio e a harmonia.
Durkheim está preocupado com a “coesão social”. A coesão social ou a sua ausência é resultado da tensão entre dois conceitos: o da solidariedade e da anomia. A solidariedade interna da sociedade, solidariedade agora qualificada como orgânica, funda-se sobretudo na interação de cada um na divisão do trabalho social. A anomia – manifestação, de desregramento torna precária a vida e corta laços sociais.
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