Ead: erros e acertos

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EAD: Erros e acertos1 Marcia Cristina Sisi2 Rosimeire Martins Régis dos Santos3 RESUMO O presente artigo tem como objetivo elencar as principais facilidades e dificuldades que tal sistema impõe, bem como identificar possíveis soluções. A metodologia aqui utilizada foi a modalidade explicativa, com coleta de campo (estudo de caso) e informações de laboratório. Os instrumentos de coleta de dados utilizados para este relato foram os registros dos alunos no ambiente virtual e suas interfaces, as redes sociais e o e-mail. Os resultados experimentais mostraram que a Educação a distância está apenas engatinhando. No objeto de estudo, nós, pós-graduandos do curso de Especialização em Educação à distância ministrado via EAD no Portal Educação, discutimos e encontramos claros indícios dos atuais erros e acertos que tal sistema vem apresentando. O problema focado refere-se à interferência que estas questões exercem na assimilação e aproveitamento dos conteúdos. O valor científico deste trabalho está nas possibilidades de excelência que se abrem para as instituições que decidam dedicar mais estudos na implementação destas e outras descobertas. PALAVRAS-CHAVE: 1. EAD. 2. Erros. 3. Acertos. 4. Descobertas.

1 Trabalho de conclusão do curso de pós-graduação lato sensu à distância em Educação a Distância parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação. 2014. 2 Licenciada em Artes Plásticas. Analista de sistemas e escritora. Pós-graduanda em Educação a distância pela UCDB (lato sensu). E-mail: mcsisi@gmail.com 3 Orientadora do Trabalho de Conclusão do Curso de pós-graduação lato sensu da UCDB/ Portal Educação. Graduada em Formação de Professores e Pedagogia. Mestre em Educação. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Educação da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Integrante do Grupo de Pesquisas e Estudos em Tecnologia Educacional e Educação a Distância (GETED/UCDB - www.grupogeted.ning.com). E-mail: profarosimeireregis@hotmail.com.


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INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa é de especial importância para a educação a medida que elenca, analisa, expõe e sugere a manutenção, expansão ou substituição de determinados recursos EAD atualmente em uso. Sua relevância científica está na visualização clara de onde estamos acertando e/ou errando em ambiente virtual de aprendizagem para dar os próximos passos na excelência da educação neste contexto. Sua importância fundamenta-se na evidência de que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) transformaram-se num dos pilares de nossa sociedade. Quanto melhor pudermos construir conhecimento via EAD, maiores serão as distâncias alcançadas e as populações beneficiadas. Minha trajetória na educação e nas TICs, desde a licenciatura em 1991 até agora, somadas ao perfil de mãe de 4 filhos, motivam minha ânsia em contribuir por uma educação de excelente qualidade para qualquer pessoa interessada em aprender. Existem cinco fatores principais que interferem na escolha deste tema do trabalho de pesquisa. Fatores internos: sou apaixonada por Educação e Tecnologia. Meu prazer em pesquisar para melhorar a qualidade do processo existe e produz resultados há mais de 20 anos. Fatores externos: o valor acadêmico e social desta pesquisa diante da oportunidade em estar cursando e vivenciando o objeto de estudo além da farta disponibilidade do material de consulta e dados necessários. A vocação: minha preferência pessoal pela qualidade em tudo que realizo se revela como expressão concreta de minha vocação para esta pesquisa. Qualificação: licenciada desde 1991 e atuante em tecnologia desde então, nunca medi esforços para entender como a computação, a internet e o EAD podem ser grandes aliados da educação. Também vivi a experiência de implementar muitas atividades de sucesso nos diversos espaços onde ministrei aulas. Objetivo Profissional: meu objetivo primordial é a aquisição de experiência e excelência sobre a área de Educação a distância. A EAD pode melhorar? Como? Onde estão os gargalos e como superá-los? Quais os principais elementos facilitadores e inibidores para a assimilação de conteúdos nos espaços de aprendizagem via EAD? Em quais momentos os erros são mais limitantes e os acertos promovem maior expansão? Quantos alunos entram nos cursos de pós-graduação via EAD e desistem muito antes de seu término? Quantos mais poderiam estar se beneficiando de maneira mais efetiva caso o ambiente virtual não promovesse tanto distanciamento, entre outras barreiras? De quais maneiras poderemos criar mecanismos de verificação constante para identificar possíveis futuros gargalos ou expectativas? O objetivo desta pesquisa é enumerar, descrever e dimensionar os erros e acertos em ambiente EAD focando nas possibilidades que se abrem para reversão de percurso e


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procedimentos, objetivando a excelência do processo educativo. Enumerar, listando os mais diversos itens identificados como erros ou acertos. Descrever cada item através de situações, imagens ou diálogos reais que representem claramente as ocorrências. Dimensionar os impactos positivos e negativos destes itens no interesse e capacidade de assimilação dos conteúdos, bem como no incentivo de permanência e conclusão do curso.

1 CONTEXTUALIZAÇÃO O ambiente desta pesquisa são os espaços virtuais utilizados em curso de especialização em educação a distância ofertado por universidades particulares de ensino, nos estados de SP, BA, PE, MG e MS e realizados via portal AVA em ambiente similar ao Moodle. As figuras destacadas ao longo do texto foram alteradas com recortes nas imagens no sentido de manter o anonimato dos participantes do curso e da Instituição. O que diferencia o moodle de outras plataformas é a possibilidade, através da cooperação e colaboração, de adequar a plataforma às necessidades da sociedade, bem como se adaptando aos usuários e instituições que usufruem deste ambiente. Um exemplo claro disto, são as diversas versões do moodle, nas quais através de sugestões da comunidade de usuários vão sempre aperfeiçoando sua interface. (SANTOS, 2008, p.53) Inicio esta pesquisa com o relato de determinado aluno sobre sua primeira experiência após a matrícula: ela foi realizada com grande expectativa em fevereiro de 2013. Em 20 de fevereiro o aluno recebeu um e-mail confirmando sua inscrição e anunciando em letras garrafais “Seu curso Já iniciou”, conforme destacado na figura 1.


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Figura 1 – E-­‐mail de aviso do início do curso É neste ambiente educacional e cenário de dúvidas que esta pesquisa foi realizada. Com base no transcorrer do curso, interação com os demais participantes, trabalhos e provas realizadas que os dados foram coletados. Muito do que está sendo aqui analisado advém de interação dos demais participantes do curso, nas várias interfaces do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) que interagimos. Mas a composição das lógicas no raciocínio exposto é oriunda dos anos que esta pesquisadora exerceu o magistério nas diversas escolas do estado de São Paulo e Bahia. Entre públicas e particulares, atuando como professora ou aluna, minha experiência pessoal está impregnada em todas as visões aqui expressas. Meu desejo é que esta abordagem venha a expandir os horizontes de possibilidades em ambiente EAD e incentive muitos outros trabalhos a este respeito. Supondo que esta pesquisa mostre a importância da interação diária entre alunos, professores e tutores, elencando situações onde elas não ocorreram e foram prejudiciais, nossos prováveis próximos passos estarão delineados. Possivelmente a proatividade no contato, nem que apenas um “bom dia, posso ajuda-lo?”, sejam eficientíssimas. A literatura e a mídia abordam esta questão por diferentes pontos de visão e situação4. Sendo esta pesquisa realizada por um aluno de EAD, que cursa pós-graduação em EAD via EAD, em contato direto e atual com os demais estudantes do curso, seus apontamentos podem nos surpreender e indicar mais caminhos possíveis. Existem muitos referenciais teóricos onde autores como Moran (2011), Arantes (2011), Valente (2011) e tantos outros distribuídos entre a literatura já

4 http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/55200761718PM.pdf e http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/08/02/evasao-­‐e-­‐o-­‐maior-­‐obstaculo-­‐ao-­‐ ensino-­‐a-­‐distancia-­‐para-­‐instituicoes-­‐diz-­‐estudo.htm


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existente sobre EAD5 discorrem muito bem sobre o assunto abordando desde as melhores práticas até os maiores desafios. Debatem entre si e sugerem caminhos. No entanto o abismo entre estas abordagens está escondido nas reais interações diárias. Entre o que os estudiosos recomendam e o que as instituições parecem conseguir colocar em prática existe um universo de possibilidades ainda não exploradas. Teorias que não se transformaram em práticas possivelmente por questões, muitas vezes, apenas burocráticas. 2 ERROS 2.1 Na comunicação Na figura 1 inserida na introdução já encontramos um dos principais erros deste ambiente EAD: falha na comunicação. Um aluno que acaba de realizar sua inscrição em um curso qualquer já cria uma série de expectativas. Considerando este como um curso de pósgraduação via EAD, para além de expectativas precisamos somar uma série de angustias e medos, várias dúvidas sobre esta nova aventura da educação a distância. Neste cenário, receber um aviso de “já começou” no dia 20/02/2013, com outro aviso interno “começa dia 24” é bem confuso. Seria uma pequena contradição caso não fosse o primeiro contato do aluno com “alguém” de sua plataforma de estudos e, claro, caso não se tornasse uma recorrência. Infelizmente os problemas de comunicação haviam apenas começado. Busco Valente (2011) para contribuir com a reflexão. O autor argumenta: Onde os avanços estão acontecendo? Nas tecnologias utilizadas, no sentido das plataformas de EaD; no desenvolvimento do material instrucional; na combinação de aulas presenciais e via EaD, nos modelos híbridos; na combinação de diversas tecnologias, como as plataformas de EaD e as videoconferências ou teleaulas. No entanto, essas soluções estão a serviço de um modelo educacional que consiste basicamente na transmissão da informação. Mais ainda, em um modelo massificado de transmissão de informação à medida que as propostas de EaD, em geral, são criadas para atender um grande número de alunos e envolvendo tutores que não são adequadamente formados para interagir com eles. (VALENTE, 2011, p. 100) Em 14/03/2013 o mesmo aluno acima citado (figura 1) já estava entrando em contato diretamente com a coordenadora do curso, via e-mail encontrado em trabalho 5 https://www.google.com.br/search?tbm=bks&hl=pt-­‐BR&q=literatura+sobre+ead


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acadêmico na internet, para solicitar auxílio e orientação. Nesta intervenção é que ficou claro que o único contato com os professores seria intermediado por um tutor e realizado apenas através das videoconferências. Em nenhum outro momento ou espaço os alunos estariam falando ou ouvindo seus professores. Vale ressaltar que em uma das instituições acontecem, em média, apenas duas conferências por módulo, com duração de 1 hora cada e onde apenas os minutos finais são reservados para respostas as perguntas dos alunos. Neste quesito é preciso deixar claro que apenas as perguntas consideradas pertinentes, pelo tutor mediador, chegarão até o professor. Em consequência desta política adotada a comunicação vai diminuindo e as reclamações aumentando. Reclamações que aconteceram via e-mail, entre alunos, ou na única interface interativa existente: o fórum café. Este por sua vez é transformado em muro de lamentações sem solução nenhuma. Tal ocorrência provoca, nas diversas instituições, a remoção de todo o conteúdo postado neste espaço, por vezes acompanhado de uma repreensão da tutora. Nesta referência realizada diretamente no fórum café em agosto/2013 (onde tutores não interagem): ESCLARECIMENTO SOBRE O FÓRUM CAFÉ Olá caros alunos e alunas. O fórum Café é um canal que tem como principal objetivo estimular a interação entre os alunos de todas as turmas. Porém, ele tem sido utilizado erroneamente para reclamações e discussões que não serão resolvidas dentro desse canal. Os casos relatados aqui são tratados de forma individual pela tutoria. Para dirimir suas dúvidas quanto ao nosso sistema de ensino, leia o manual do aluno de pós disponível na aba ajuda de sua sala de aula. Qualquer dúvida envie pela aba tutoria (figura 2), que é o canal de comunicação entre tutor e aluno. Estamos à disposição. Abraços. Tutora.


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Figura 2 -­‐ canal de comunicação entre tutor e aluno O espaço de comunicação com a tutoria acontece via e e-mails de aviso sobre eventos de calendário do tipo no-replay: não adianta responder que ninguém estará lendo. Contém apenas datas: de início e fim de módulo, trabalhos, provas, segunda oportunidade para quem perdeu os prazos. Além deste, geralmente existe apenas um link na área de apoio dentro da sala de aula, chamado “Tutoria” (exemplo de espaço tutoria figura 2 acima). Ali o aluno posta uma mensagem e deve aguardar até 3 dias úteis por uma resposta que, infelizmente, algumas (muitas) vezes não responde a pergunta, que precisa ser refeita. Mais tantos dias aguardando. Se alunos só conversam com alunos nos fóruns de tarefa ou de café, alunos só conversam com tutores via troca de mensagens internas que diante do tempo de resposta padrão só permitem trocar 3 ou 4 por módulo e alunos não conversam nunca com professores, chegamos a conclusão: não existe comunicação suficiente para as pessoas envolvidas conseguirem sequer se entender. Que dirá para trocarem experiência e construir conhecimento. A métrica de interação combina quantidade e qualidade: quantidade de vezes que cada aluno posta alguma mensagem e o tutor responde e a qualidade das intervenções de ambos. Um bom curso depende do equilíbrio entre quantidade e qualidade das mensagens postadas, analisadas e respondidas por todos. Uma


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métrica importante é não deixar um aluno sem resposta por mais de 24 horas. Quanto mais rápida é a resposta, mais motivação o aluno tem para que ela seja significativa. (MORAN, 2011, p. 94)

Conforme Moran (2011), e estou de pleno acordo, é importante que a comunicação entre organizadores e executores seja efetivada antes de ser repassada aos alunos, principalmente aos calouros já tão desinformados e inseguros. Isso inclui materiais didáticos com menos erros e mais atualizados, além de e-mails precisos em seu conteúdo. A tutoria pode ser mais efetiva ao responder em até 24hs, oferecendo a possibilidade de real esclarecimento. O canal de comunicação entre alunos e professores pode não manter-se restrito aos 10 minutos finais, durante as até 3 conferências6 por módulo e ainda sujeitas ao forte filtro do moderador. Os alunos precisam receber apoio (de professores e tutores) dentro do Fórum Café, com a garantia de que suas postagens não serão arbitrariamente excluídas. Estas ações podem ser implementadas imediatamente, visto que não envolvem nenhuma mudança de estrutura do sistema, apenas de postura dos profissionais, incentivo e coordenação dos gestores. 2.2 Na interação A maioria das plataformas oferecem um espaço chamado de chat. Uma vez nele todos podem conversar entre si. Estar logado na plataforma AVA não é suficiente para o chat anunciar a presença dos alunos. Ou seja, para ficarem visíveis uns aos outros precisamos estar simultaneamente na sala de chat. Em um ano de frequência regular na plataforma, nunca conseguimos nos encontrar lá. De nada adianta justificar que o problema seria facilmente resolvido caso os encontros fossem com data e hora pré-estabelecidos. Seria como oferecer uma prancha de surf para quem mora longe do mar. O ambiente EAD é utilizado por pessoas com tempos escassos e irregulares. Encontros com data e hora só são respeitados por pura obrigatoriedade, definitivamente não funcionaram para o encontro espontâneo de alunos. É preciso se reinventar aqui ou apenas copiar o que as redes sociais já provaram como funcional nos últimos 10 anos. Infelizmente predomina ainda, na maioria das instituições, a inércia de repetir ano após ano os mesmos modelos de organizar os processos acadêmicos, os currículos, a forma de dar aula, de 6 As videoconferências foram abandonadas pelos poucos alunos que as frequentavam por três motivos: os alunos não conseguiam interagir livremente com o professor, eram marcadas e remarcadas em cima da hora e aconteciam em horário de expediente de trabalho da maioria dos alunos.


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avaliar. As mudanças são mais pontuais, periféricas, do que profundas. A conjugação de inovação e redução de custos é poderosa e possível. As instituições que implantam um modelo, que equilibre economia com inovação, serão vencedoras e avançarão muito mais rapidamente do que as que continuem repetindo, ano após ano, o modelo convencional. (MORAN, 2011, p. 58). Restou apenas o fórum café. Interface com interatividade assíncrona 7 disponibilizado para várias turmas. Não foi idealizado para debate dos conteúdos visto que cada turma está num módulo diferente. Tem sido utilizado principalmente para pedir socorro a outros estudantes sobre problemas de todos os tipos, relacionados a comunicação, interação, provas, material didático, plataforma etc.

Figura 3 – post no fórum café sobre abandono do fórum atividade O fórum atividade é um local semelhante ao fórum café, porém os debates que ali ocorrem são sobre assuntos bem específicos relacionados aos conteúdos do módulo, são solicitações diretas do tutor onde cada comentário é avaliado com nota. Transformou-se em algo tão frio e obrigatório que os alunos acabaram por aparecer apenas nos últimos dias para “bater ponto”(figura 3). Em tempos de Facebook a interatividade oferecida nesta plataforma de estudos pode ser considerada muito insuficiente e responsável tanto pelo abandono do curso como pelo pouco aproveitamento. Interatividade é uma questão debatida e defendida exaustivamente nos materiais do próprio curso. Alunos que recebem materiais didáticos pregando as melhores práticas para cursos via EAD e sequer questionam as práticas em uso demostram pouca assimilação e aproveitamento do conteúdo oferecido. Alunos que assimilam e questionam não possuem voz de ação e acabam desistindo do curso. 7 A comunicação assíncrona dispensa a participação simultânea das pessoas, ou seja, o emissor envia uma mensagem ao receptor, o qual poderá ler e responder esta mensagem em outro momento.


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O dados aqui analisados demonstraram claramente que é fundamental o diálogo constante entre alunos, tutores, professores e gestores. Tal interação poderia minimizar estas consequências, esclarecer o momento atual e planejar as mudanças necessárias para se realizar, no mínimo, o que se pretende ensinar no próprio curso. O chat, caso funcionasse nos moldes das redes sociais, com recursos síncronos e assíncronos, poderia cumprir este papel de interação. Os gestores precisariam estar dispostos a ouvir críticas e providenciar as soluções de maneira ágil. Do contrário seria apenas um monólogo ou uma interação que não surte efeitos práticos. Não constrói soluções. Consideramos que todas essas ideias são relevantes para instituições de ensino que ofertam cursos utilizando o AVA. 2.3 Na agilidade Mesmo entendendo que sistemas e processos demandam planejamento e tempo para execução, a burocracia das instituições precisa diminuir muito quando se propõem a atuar no EAD. O ambiente virtual é muito rápido. A geração Y transparece isso em seu comportamento. Entre os que possuem mais dificuldades em familiarizar-se com as TIC, que demandam mais atenção e acompanhamento em seu processo de familiarização com os ambientes virtuais, estão também os usuários da geração Y 8 que não conseguem mais participar de algo lento e burocrático. As instituições educacionais que trabalham com a EAD alcançam distâncias e públicos muito diversos, precisam preparar-se adequadamente para atendê-los. Num ambiente tão ágil quanto a internet e seus documentos eletrônicos torna-se necessária uma atualização mais constante dos materiais didáticos. Paralelamente, o conteúdo exposto durante uma videoconferência pode ser compartilhado via download em diversos formatos como mp3, mp4, pdf, ppt, entre outros, o que nem sempre ocorre (figura 4).

8 http://youtu.be/F12DAS-­‐ZNDY


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Figura 4 -­‐ informação da tutoria: não é possível baixar os slides Uma vez identificados os problemas eles precisam ser solucionados em velocidade digital. Uma denúncia ou solicitação, feita em início de curso de, por exemplo, um conteúdo que foi exposto e não está disponível para download precisa ser resolvida rapidamente. Terminar a formação (no geral mais de um ano e meio cursando) sem receber estes materiais é uma clara demonstração de falta de agilidade. Seria oportuno que a agilidade na captação, análise e solução dos problemas expostos durante um curso pudessem acontecer, em sua maioria, dentro do próprio curso. Ter a pretensão de ensinar aos que não sabem e cobrar para que comprovem que aprenderam fica vazia quando a instituição e seus personagem não aplicam o que tentam ensinar. 3 ACERTOS As instituições de educação a distância acertam em cheio ao propor-se em suprir com conteúdos os alunos espalhados pelo Brasil, considerando sua dimensão, diversidade e todos os problemas sociais e educacionais nos quais estamos mergulhados. A internet já vem fazendo isso de maneira menos ordenada que uma escola tradicional faria e por este motivo se mostra ineficiente. As unidades de EAD também fornecem certificação e neste quesito atendem um volume muito expressivo de alunos, que de outra maneira não teriam acesso aos diplomas ainda tão valorizados em nossa sociedade atual. Ainda há resistências e preconceitos e ainda estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EAD, mas um país do tamanho do Brasil só pode conseguir superar sua defasagem educacional através do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, da gestão integrada de


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modelos presenciais e digitais. (MORAN, 2011, p. ) As plataformas virtuais nas quais a EAD atua incentivam a alfabetização digital de muitos adultos, entre os quais professores e médicos de nossos filhos, ainda tão distantes e cada dia mais defasados em relação aos “pequenos” e nossas atuais tecnologias. Elas incentivaram a distribuição de conteúdos gratuitamente entre instituições e até a disponibilização ao público comum, dentro ou fora de cursos específicos. Essa mudança de cenário provoca a quebra de muitos paradigmas, entre eles, nosso modelo de educação que precisa de mais investigação para conseguir gerar conhecimento via processo colaborativo. “O processo educacional à distância é reconhecido como centrado no aluno e mediado pelas tecnologias da sociedade da informação, fato esse que leva à necessidade de se investigar como alunos e instrutores, com o uso das novas tecnologias, podem colaborar para gerar novos conhecimentos” (MUGNOL, 2009, p.339) Quando consideramos a possibilidade de que alunos e instrutores colaborem entre si na geração de novos conhecimentos, abrimos nossos olhos para enxergar que não tem sido desta maneira. Continuamos insistindo em transmitir o conhecimento já adquirido, não em construir novos, colaborativamente. Esta visão do mestre precisa mudar. Esta realidade precisa ser considerada pelas instituições em todos os níveis de escolaridade presencial, mas principalmente entre aquelas que se propõem ao ambiente virtual. A EAD acerta ao enfrentar este desafio de desenhar um novo cenário. CONSIDERAÇÕES A EAD pode melhorar? Sem dúvida que não só pode, como deve. A humanidade precisa dela. Pode ser considerada até como uma questão de sobrevivência face aos problemas ambientais que enfrentamos atualmente. Como ela pode melhorar? Onde estão os gargalos e como superá-los? Nossa Educação a distância pode melhorar principalmente resolvendo os atuais gargalos em comunicação, interação e versatilidade. Quais os principais elementos facilitadores e inibidores para a assimilação de conteúdos nos espaços de aprendizagem via EAD? As facilidades concentram-se principalmente no acesso a informação. Seu formato virtual alcança distâncias antes impossíveis. Mas ela se apresenta como inibidora até da assimilação do conhecimento quando


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não promove nem oferece o apoio que um aluno necessita para manter-se no percurso que se propôs: aprender. Em quais momentos os erros são mais limitantes e os acertos promovem maior expansão? Os atuais erros da EAD são mais limitantes ao incentivarem a evasão, ao permitirem o abandono do aluno a própria sorte. Ainda assim promove a maior expansão de acesso a informação que o mundo já pode presenciar. Quantos alunos entram num curso de pós-graduação via EAD e desistem muito antes de seu término9? Quantos mais poderiam estar se beneficiando de maneira mais efetiva caso o ambiente virtual não promovesse tanto distanciamento, entre outras barreiras? Esta é uma pergunta sem resposta. Se considerarmos o quanto o EAD cresceu nos últimos anos, mesmo com todos estes problemas, poderíamos criar uma teoria a este respeito. O número de matrículas em graduação via Ead cresceu de menos de 2.000 matrículas em 10 opções de cursos no ano de 2.000 para quase 400.000 matrículas em 400 cursos em 2007 (Fonte: Censo Ead BR 2010). Já o censo de 2012 diz que elas superaram a marca de 5.700.000 matrículas, nas 252 instituições participantes, um aumento de mais de 50% em relação a 2011 (Fonte: Censo Ead BR 2012). Essa diversidade de fontes e pontos de referência dificulta um pouco as comparações mais exatas, porém os números continuam em crescimento vertiginoso inegável. Este crescimento em matrículas, já tabulado, não se reflete em acúmulo de experiência e aumento na excelência no que concerne a questão da evasão. Esta permanece em altos índices nos itens “Falta de tempo para estudar e participar do curso” e “Falta de adaptação à metodologia” (Fonte: Censo Ead BR 2012), argumentação típica dos alunos que sentem-se desamparados em ambiente virtual de aprendizagem. De quais maneiras poderemos criar mecanismos de verificação constante para identificar possíveis futuros gargalos ou expectativas? Neste pequeno trecho podemos visualizar uma das respostas. Conceber as aprendizagens, não como acumulações de informações, mas como resultado de transformações que se operam nos indivíduos, a partir de ações e interações que trazem desafios, confrontos, conflitos, enfim, perturbações que necessitam ser superadas, implica em pensar o currículo com outras características. O currículo passa a ser entendido como uma rede interativa, em constante expansão. Disto, decorre a emergência de uma nova organização que se caracteriza por estar em permanente processo de construção, mais imprecisa e fractal, pois se constitui à medida em que a teia de eventos e processos de aprendizagem progride, em fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses auto-­‐ 9 http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/08/02/evasao-­‐e-­‐o-­‐maior-­‐obstaculo-­‐ao-­‐ ensino-­‐a-­‐distancia-­‐para-­‐instituicoes-­‐diz-­‐estudo.htm


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regulativas, por patamares de relações cada vez mais amplas e complexas. (MAGADALENA e COSTA, 2002, p.106)

Outra possível resposta face aos resultados desta pesquisa é a implementação de um personagem intermediador, responsável por feedbacks constantes entre todos os envolvidos no processo. Um indivíduo com acesso a todos os ambientes, a semelhança de um conjunto de profissionais como, por exemplo, inspetor de alunos, diretor ou pedagogo em escolas presenciais. Ele estaria apto a ouvir as solicitações, reclamações e comentários. Dar encaminhamento e acompanhar até a solução dos mesmos. Como um gerente de projetos a semelhança do mundo corporativo. Ele sabe de onde viemos, para onde estamos indo, como, porque... e possui não só acesso, como autoridade para cobrar o andamento das ações e resoluções. Dimensionar os impactos positivos e negativos destes itens, no interesse e capacidade de assimilação dos conteúdos bem como no incentivo de permanência e conclusão do curso, deve ser o objetivo fundamental em qualquer instituição de ensino. São poucas as pesquisas que evidenciam a evasão na EAD. Entendo como importantes mais estudos que transpareçam esta questão em cursos de Graduação, Pósgraduação ou quaisquer outros em ambiente virtual de aprendizagem. Os erros e acertos identificados no processo de interação dos personagens desta pós-graduação do curso de especialização em EAD, via EaD, são em maior número que os listados neste artigo e pretendem ainda serem expostos em futuras análises.


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REFERÊNCIAS ARANTES, V. A.; VALENTE, J. A.; MORAN, J. M. EDUCACAO A DISTÂNCIA: Pontos e contrapontos. Editora Summus Editorial, 2011, p.89-102. MAGDALENA, B. C. ; COSTA, Iris e Tempel . Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. In: Maria Cândida Moraes. (Org.). Educação a Distância: Fundamentos e Práticas. 1ed.Campinas: Editora da Unicamp, 2002, v. , p. 105-120. MUGNOL, Marcio. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: conceitos e fundamentos. ISSN 1518-3483. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 9, n. 27, p. 335-349, maio/ago. 2009 Licenciado sob uma Licença Creative Commons SANTOS.Rosimeire M.R. O processo de colaboração na Educação online: interação mediada pelas tecnologias de informação e comunicação. Campo Grande, 2008. 174 p. Dissertação (Mestrado) Universidade Católica Dom Bosco. Censo EAD.BR: Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil 2012. Censo EAD.BR: Analytic Report of Distance Learning in Brazil/[traduzido por Opportunity Translations]. – Curitiba: Ibpex, 2013.


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