História em Quadrinhos: gênese, estrutura e sociedade - apresentação

História em Quadrinhos

gênese, estrutura e sociedade

Márcia de Souza Ravaglio

No inĂ­cio era

o mundo

nesse mundo, foi preciso conhecer...

Seus sons...

sua temperatura...

seu cheiro...

seu toque...

e principalmente...

Sua face

A palavra “imagem” deriva do latim Imāgo e significa: retrato, semelhança; imagem; aspecto; ideia; aparência; eco (BUSARELLO, 2007)

Na roma clássica, imago era o nome dado as máscaras mortuárias e, posteriormente, teatrais, em uma evocação da presença do ausente (DIAS, 2017)

A "imagem" é definida não por sua mera visibilidade, mas por ser investida, pelo observador, com um significado simbólico...

(BELTING, 2011)

A imagem ocupa um lugar privilegiado na concepção de mundo para a grande maioria dos seres vivos, pois é associada às outras sensações...

Como textura e sabor,

Prazer, Dor,

medo

a imagem fornece a noção de espaço, tempo e clima.

Pelas pistas fornecidas é possível inferir o que aconteceu antes, o estado de espírito

e... às vezes... o que acontecerá depois.

Desde o início, a figuração tendia para o que chamamos de Arte (desenho) ou para o Signo.

As figuras de animais em Lascaux são concretas em comparação com os signos mais abstratos, mais esquemáticos que se sobrepõem, ou cobrem outras partes da caverna...

(BLANCHARD, 2014).

Ideogramas chineses Se originaram da figuração de objetos e ideias como, por exemplo, o caractere mulher

女-

Para Mccloud todas as figuras são “ícones” Tanto as imagens com sentido absoluto, como símbolos e letras, quanto as de sentido fluídos e variados COMO AS FIGURAÇÕES EM GERAL.

Quadrinhos são um estranho monstro.

Um estranho magneto para formas de arte, e tudo que gruda nele é uma fonte continua de discussão, incluindo o termo “Hq”.

por uma perspectiva, os quadrinhos pegam elementos de todas as outras formas de arte e costura todos juntos em um estranho animal híbrido.

Quadrinhos são compostos de Ilustrações, prosa, teatro, Slogan,

design e qualquer outra bobagem

gráfico

que você quiser colocar dentro do caldeirão.

Por outra perspectiva,

é a primeira e mais simples forma que fizemos narrativas visuais.

Pinturas das cavernas são arte sequencial. Assim como a Tapeçaria Baeux. Alguém uma vez argumentou que a Via Crucis constitui uma história em quadrinhos.

(ELLIS, 2012)

O estudo da hq possui diversos percursos possíveis

Analisando algumas perspectivas Se percebe que:

é uma forma de comunicação em forma de texto escrito através das relações das imagens simbólicas ou abstratas entre si.

Sua estrutura varia quanto a

forma

A maneira como os elementos icĂ´nicos se relacionam na grade (ĂĄrea grĂĄfica)

matéria

o suporte físico que abriga a grade, seja uma página de jornal, revista, livro, cartão, web, muro, etc...

conteĂşdo

ideia que se quer comunicar e sua intencionalidade.

Como arte, didĂĄtica, propaganda...

Não há uma forma singular definida para a HQ,

assim como não há um suporte específico ou um conteúdo determinado.

No estudo diacrônico da imagem percebe-se que, em seu uso para a comunicação, soluções dispares foram utilizadas em cada contexto cultural.

Assim como soluções similares.

Um dos pontos convergentes percebidos foi a manipulação da figuração icônica através da cartunização e caricaturização.

A cartunização

Criação de uma representação generalizada com base em seus elementos mínimos

A caricaturização

Criação de uma representação individualizada com base traços distintivos singulares

outro ponto ĂŠ a panoscopia (visĂŁo total)

O controle da grade nas relaçþes entre os elementos Em um embate com o controle do olhar do leitor

Nos quadrinhos, o leitor tem acesso imediato a qualquer ponto da grade.

O espaço da grade constrói o tempo de leitura e percepção que juntos constroem a diegese.

É preciso que a ideia e o formato inicial de uma obra seja um espaço, um lugar onde depositarse-á e dispor-se-á a matéria, e não uma matéria a ser depositada ou disposta.

(JOUBERT apud GROENSTEEN, 2014, p. 35).

Era uma vez….

…E …

… uma floresta…

… uma menina… .

um lobo!

há duas instancias de espaço na criação da HQ: o espaço diegético da narrativa, e o espaço físico do quadro na página (GROENSTEEN, 2015)

Por isso A tradução de uma hq para outra cultura envolve além da versão de uma língua em outra, um entendimento de sua estética cultural e estrutura sociolinguística. む か し む か し の 。 。 。

お

狼 。 。 。

女ん な の 子こ が

森 林 、 と

し ん り ん

3

como no caso da língua japonesa onde a estruturação da grade é reformulada para que a leitura da página se desenvolva da direita para a esquerda, de cima para baixo.

Além das diferenças culturais a estética varia também de acordo com o público alvo.

Contudo, desde os estilos mais rústicos e simplificados até os mais detalhados e complexos

Não determinam seu público isoladamente Pois um estilo caricato pode ser direcionado ao público adulto

Enquanto um estilo mais elaborado pode ser direcionado ao público infantil

Por fim, a HQ é uma forma de comunicação que produz textos para serem lidos em diversos suportes, sua complexa linguagem trabalha como elemento fundamental: a imagem, seja em seu aspecto figurativo, simbólico ou linguístico. Suas operações semânticas se dão nas construções de relações internas entre os seus ícones e externas com o referencial do leitor.

Referências BELTING, H. An anthropology of images. Tradução de Thomas Dunlap. Oxford: Princeton Unversity Press, 2011.

BLANCHARD, G. The origins of Stories in Images. In: MILLER, A.; BEATY, B. The French Comics Theory Reader. Leuven - Belgium: Leuven University Press, 2014. p.

25-38.

BUSARELLO, R. Dicionário Básico Latino-português. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.

CARROLL, E. Through the woods. New York: Simon & Schuster CPD, 2014.

DIAS, J. A. F. Saberes - Imagem - Dicionário Crítico - Imago / Máscara. Fundação Coa Parque, 2017. Disponivel em: <http://www.artecoa.pt/index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=ComunicacaoELinguagemImagem&Filtro=38&Menu2=Imagem&Slide=38>. Acesso em: 02 Novembro 2017.

ELLIS, W. Foreword. In: MESKIN, A.; COOK, R. T. The art of comics: a philosophical approach. Sussex, UK: Blackwell Publishing Ltd., 2012. p. 12-13.

GROENSTEEN, T. O sistema dos quadrinhos. Tradução de Érico Assis. Rio de Janeiro: Marsupial, 2015.

KNEIPP, E. Little Red. Little Red, 2017. Disponivel em: <http://littlered.smackjeeves.com/comics/2424724/pg-1/ >. Acesso em: 22 Agosto 2018.

RUBATINO, N. Red and the Wolfe. Washington: Comixcology, 2014.

SARADEEK. Vermelho. Webtoon, 2018. Disponivel em: <https://www.webtoons.com/en/challenge/vermelho-bl/episode-1-applepie/viewer?title_no=171841&episode_no=2>. Acesso em: 19 Maio 2018.

Figuras Páginas 2, 3, 4 e 5, extraídas da webtoon Vermelho, da quadrinista espanhola SaraDeek, disponível em: https://www.webtoons.com/en/challenge/vermelhobl/list?title_no=171841 Página 6 e 7, extraído do site Flickr, máteria “ORIGEN DEL TEATRO: Máscaras en el teatro griego y romano” de Antonio Marín Segovia, disponível em: https://www.flickr.com/photos/antoniomarinsegovia/27628961265, consultado em 27/08/2018.

Páginas 8 e 9, extraídas da webtoon Refund High School, do(a) quadrinista coreano(a) Lico, disponível em: https://www.webtoons.com/en/fantasy/refundhighschool/list?title_no=1360 Página 10 e 11, extraídas da webcomic Red and the Wolfe do quadrinista americano Nicholas Rubatino, disponível https://www.comixology.com/comicreader/27290/134740 Página 12, extraído de The applied History of Art and Architecture Educational Fundation – The Cave os Laxcau - France - disponível em: http://arthistoryworlds.org/ARTANDARCHITECTUREFOUNDATION.ORG/3LascauxHallofBulls.html Página 13, clipart extraído de https://clip2art.com/explore/White%20Flower%20clipart%20graphic%20design%20art/, colorido e editado pela autora.

Páginas 15, 17, 18 e 19, extraído do livro Through the Woods de Emily Carroll: CARROLL, E. Through the woods. New York: Simon & Schuster CPD, 2014.

Página 16, ilustração desenvolvida pela autora.

Página 20, Exposição Louvre nº 9 – Mori Gallery – Tóquio – fotos de Keisuke Tanigawa, extraído do site TimeOut Tóquio, disponível em: https://www.timeout.com/tokyo/blog/japanese-manga-meets-francophone-comics-in-moris-louvre-no-9-080116 Página 21, figura 1. Biombo da Era Edo, One Hundred Boys do artista Kano Einō (Japanese, 1631–1697) extraído do site do museu MET de Nove York disponível em: https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/2009.260.1,2/, Figura 2. The Bayeux Tapestry, disponível em: http://www.bbc.co.uk/blogs/ahistoryoftheworld/2010/08/the-bayeux-tapestry.shtml. Figura 3. Tapeçaria hindu Pabuji Ki Phad disponível em: https://www.amazon.com/Pabuji-Ki-Phad-Phad-Painting-on-Cotton/dp/B00MPGPL38.

Página 22, recortes das webcomics Little Red e Red and the Wolfe, da webtoon Vermelho e do livro Through the woods.

Página 23, ilustrações desenvolvidas pela autora.

Página 24, Panopticon de Jay Crum disponível em: https://www.celesteprize.com/artwork/ido:136921/ Página … Le Petit Loup Rouge, livro de Amélie Fléchais, disponível em: https://www.behance.net/gallery/16240413/Le-Petit-Loup-Rouge Página 25, extraído de livro SOUSANIS, N. Unflatening. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2015, página 33.

Página 26 e 27, ilustrações da autora.

Página 28, extraído de Uma Chapeuzinho Vermelho, Marjolaine Leray – folha de guarda (esquerda) pagina 1 (direita) e The Boy and the Wolf, webtoon de Z-pico disponível no site Tapas: https://tapas.io/episode/540758 Página 29, Níquel Nausea - Fernando Gonzales – Jornal Folha de São Paulo, 22/07/11 p.E11 e Le Petit Loup Rouge, livro de Amélie Fléchais, disponível em: https://www.behance.net/gallery/16240413/Le-Petit-Loup-Rouge