Trabalho sobre o romance Triste fim de Policarpo Quaresma

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ANÁLISE DE TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA Instaura-se a dúvida na sociedade brasileira conciliada e conciliadora. Policarpo Quaresma, personagem célebre de Lima Barreto – expoente da LB – realiza um dorido percurso na tentativa de tornar concreta a quimérica promessa intelectual romântica de que o Brasil correspondia ao paraíso perdido dos trópicos, de natureza exuberante e fértil. Afinal, essa terra “gigante pela própria natureza”, rica em danças e folguedos tradicionais, harmonicamente constituída, havia de merecer a fidelidade patriótica que lhe emprestava Quaresma. E ele perseguiria até o fim – ainda que triste – o sonho de transformar o Brasil em um modelo copiável. Mas o que encontrou na trajetória de luta foi a dúvida dilacerante, permeada da conscientização que desenvolveu no decorrer do romance. O protagonista de Triste Fim de Policarpo Quaresma partiu de uma consciência ingênua para a crítica, que provoca corrosão de um ideário, mas aponta, talvez, para a necessidade de se percorrer novos caminhos. A leitura do romance suscita alguns questionamentos tais como a importância de se desenvolver muito mais do que estudos sobre quaisquer assunto, mas a aplicabilidade dos mesmos em termos de resultados práticos, entre outros. Pegar da obra, refletir sobre o enredo, seus elementos constitutivos e plano estético é tarefa quase dolorosa. Diga-se “quase” porque ao lado do sentimento de perplexidade diante do absurdo fim da personagem, paira uma tênue linha de esperança na capacidade transformadora do homem. Policarpo encarna o protótipo do intelectual que embebido do grandioso painel do Brasil que lhe foi pintado através de obras históricas e literárias, vê-se no mister de tornar aquelas idéias concretizáveis no plano da realidade. Afinal, “...depois de trinta anos de meditação patriótica, de estudos e reflexões, chegava agora o período da frutificação”. Com essa passagem o narrador procura evidenciar, para o leitor, a importância dos intentos patrióticos de Policarpo no que se refere à instituição da língua tupi-guarani como a oficial no país. Fazia sentido. Não fôra o índio consagrado herói nacional? A biblioteca da casa do major Quaresma não deixava dúvidas : “ Após uma hora ou menos, voltava à biblioteca e mergulhava nas revistas do Instituto Histórico, no Fernão Cardim, nas cartas de Nóbrega, nos anais da Biblioteca, no von den Stein e tomava notas sobre notas, guardando-as numa pequena pasta ao lado. Estudava os índios”. Além disso, compunham suas estantes nada menos que “...o José de Alencar (todo), o Macedo, o Gonçalves Dias (todo), além de muitos outros.” Os grandes intelectuais participantes do projeto romântico conciliador das divergências políticas, econômicas, culturais e sociais do país alimentavam a inteligência de Quaresma, fazendo-a perseguidora de semelhante conciliação em sua vida cotidiana. “Quaresma era antes de tudo brasileiro”. Como representante desse povo, refletia em seus anseios uma parcela do imaginário coletivo já que o compunha. Esse imaginário, cunhado a partir da propagação de dogmas livrescos cujo conteúdo apresentava, não raro, largo descompasso com a prática diária, pensava uma pátria plena de possibilidades para todos. Em tudo que o cercava, Quaresma procurava imprimir considerações acerca da Pátria. Todos os estudos, projetos e atitudes refletiam “...uma ânsia de ideal, uma tenacidade em seguir um sonho, uma idéia...”. Essas características não escapavam à observação de sua afilhada Olga, filha de Vicente Coleoni, imigrante italiano que, de quitandeiro ambulante, passou a empreiteiro, enriquecendo.


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