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Capítulo I
Capítulo I
AS DROGAS E A CONTRACULTURA/SUBCULTURA
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O uso de substâncias alteradoras da percepção humana remonta a história da própria humanidade. Não há como saber ao certo quando ou exatamente por que o homem passou a ingerir substâncias que lhe tirassem o domínio de suas capacidades cognitivas e nem como isso passou a fazer parte de seus rituais religioso.
Certamente a primeira substância alteradora popularizada foi a que conhecemos hoje como sendo o vinho. Esse fermentado de uvas foi usado exacerbadamente em festividades pagãs por toda cultura de influência grecoromana. Baco e Dionisio eram deidades que personificavam a embriagues pelo "suco dos deuses". No Egito antigo outro fermentado, o da cevada, era comumente chamado de "poção da alegria" e "bebida da alma" e tantos outros nomes característicos da beberagem que provocava alucinação alcóolica. Em outros povos e culturas exóticas, diversas outras poções e misturas de compostos vegetais tinham como finalidade a elevação do espirito e a proximidade com um mundo celeste e entidades divinas. Essas poções eram como chaves mágicas para escancarar as portas da percepção humana.
Porém o que outrora eram consideradas substâncias divinas, hoje transformaram-se no "grande mal" da sociedade contemporânea. Esse perigo social advém no entanto, não necessariamente dessas substâncias de uso primitivo, mas dos diversos derivados sintéticos de alto poder viciante, produzidos em laboratórios a partir dessas plantas, o que possibilitou a comercialização ilegal em grande escala, a conseqüente formação de grandes cartéis e máfias em todo o mundo e em contra-partida uma forte repressão mundial ao consumo de qualquer droga.
Apesar de ilegais, as drogas sempre foram ligadas contracultura/subcultura, ou cultura da juventude. Assim, contraculturas diferentes foram, e são, associadas a diferentes tipos de drogas e seus efeitos particulares. Os jovens Mods da década de 60 com suas Anfetaminas, os Hippies com a Maconha e o LSD, os Punks com a Heroína e atualmente os Clubbers e Ravers com o Ecstasy.
Contudo, o uso das drogas nunca foi tão difundido como nos dias de hoje. Segundo Sara Johansson, estudante de Ciências Sociais da Umeå University, na Suécia, em seu ensaio monográfico "Youth Culture in Manchester - a study of Manchester as a pop city"2 , estima-se que mais de cinquenta por cento dos jovens de grandes centros urbanos como Manchester, terão experimentado ao menos um tipo de droga ilícita antes dos 18 anos.
No Brasil, o "IV Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas" realizado entre os estudantes do 1º e 2º graus em
2 Disponível na Internet http://www.eng.umu.se/tt/proj8/start8.htm [08/12/00]
1997, publicado pelo CEBRID3 (em comparação aos levantamentos de 1987-1989-1993) mostrou que o uso frequente (de seis ou mais vezes no mês) e o uso pesado (uso de vinte ou mais vezes no mês) de tóxicos psicotrópicos em geral, cresceram de maneira estatisticamente significante.
Porém, a visão que se tem das drogas hoje, na virada do século XXI, não é mais a mesma das décadas de 50 ou 60 quando jovens tornavam-se adictos dessas substâncias e impregnavam a elas caráter ideológico e/ou transcendental. Apesar da mídia frequentemente enquadrar os jovens usuários como pobres viciados, vítimas do tráfico mundial de entorpecentes, é comum comunicadores e especialistas referirem-se hoje a essas mesmas substâncias como "clubdrugs", ou "drogas de final-de-semana”.
A grande maioria dos jovens de hoje, usuários dessas drogas, o fazem em atitude hedonista, pelo simples prazer que as "viagens" lhes proporcionam, em festas e “clubs”. Ambientes que propiciam o uso - seja pelo status que essa atitude lhes proporciona, pelo fato do uso se tornar como um código dentro dos micro-grupos a que pertencem, ou pelo custo/beneficio em relação às drogas legalizadas como o álcool e bebidas estimulantes.
Assim como acontece com o jovem da periferia do Rio de Janeiro que fuma a cannabis nos bailes Funk, ou com o jovem de classe média-alta de São Paulo que aspira a cocaína nas caras danceterias dos bairros nobres da cidade, em sua atitude agressivamente elegante.
Apesar desta "desmitificação/desritualização" do uso de entorpecentes e alucinógenos, um grupo especifico da contracultura jovem, surgido no Reino Unido, no inicio dos anos 90, apropriou-se gradualmente de elementos visuais e sonoros de estilos de contracultura de outras épocas, criou novos e os reuniu numa ampla linguagem visual de signos, cores e significados, com uma nova sonoridade característica dos movimentos de contracultura do fim do século XXI - a música eletrônica - em todas as suas variações de estilos.
Tudo isso relacionado a uma nova droga e às sensações proporcionadas por ela, em busca de um estado letárgico numa verdadeira alusão aos estados extáticos e hipnóticos dos rituais religiosos de povos primitivos.
A ação dessas substâncias químicas na percepção desses indivíduos pertencentes a esse sub-grupos sociais muito específicos e o resultados dessa alteração na percepção refletida nos produtos culturais gerados por eles, especificamente suas festas que com toda a sua planejada estrutura de organização constituem, a meu ver, um ambiente de forte estimulação sonora e visual. Uma verdadeira instalação audiovisual onde diversas pessoas compartilham dos estímulos sonoros e multicoloridos.
A partir de relatos e descrições de frequentadores dessas festas e usuários dessas substâncias alteradoras da percepção, registrados por pesquisadores como Thimoty Leary, Aldous Huxley e Nicholas Saunders, foi possível desenvolver essa abordagem usando como base as teorias da percepção humana formuladas pela Psicologia experimental, como veremos nos próximos capítulos.