Asia Loyola - Prosas e Versos I

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PROSAS E VERSOS i

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PROSAS E VERSOS i Cursinho Asia Loyola


Cursinho Asia Loyola Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil Edição independente, Belo Horizonte 2016 Daniella Milagres, Sara Begname e Vinícius Hespanhol - edição e organização Juan Silveira - revisor de texto Marcio Mattos - projeto gráfico O Cursinho Asia Loyola agradece à gentil participação de Marcio Mattos e Juan Silveira na elaboração deste material. Prosas e versos I/ Daniella MIlagres; Sara Begname e Vinícius Hespanhol (org.) - Belo Horizonte: Edição independente, 2016. 1. Literatura. 2. Poesia




A todos os alunos, professores e demais colaboradores do Cursinho Asia Loyola



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SUMÁRIO DESTAQUES Sumário 11 Senzala por Nathane Santos 15 Os contrastes de Ouro Preto por Hallison Xavier 17 Porcenala por Bruna Estefani 18 MENÇÃO HONROSA Histórias por Isabela Santos Segredos de Ouro Preto por Lucas Tadeu Dias (Sem título) por Débora Amaral (Sem título) por Graziele Azevedo Rodrigues

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TEXTOS EM PROSA DESTAQUE Libertas quae será tamen por Abgail Batista

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MENÇÃO HONROSA As aventuras em Ouro Preto por Carine (Sem título) por Bruna Estefani

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Destaques



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Senzala

Nathane Santos Eu estando ali, naquela cidade, Eu me deparei com a minha alma saindo do meu corpo Algo repelindo de mim, vozes me pedindo socorro. Vi naquelas matas, em cada pedra, cada espaço. Eu via corpos espalhados pelo chão. Oh! Quanta tristeza eu vi ali. Sim, eu senti, eu senti tanta dor naquele lugar. Meu corpo pedindo socorro, sim eu senti. Meus avós, meus tios, meus, meus, todos meus. Sim, meus. Ali agoniados, dizendo parem. Parem de dar prêmios por isso, parem de premiar sofrimento. Oh! Estrangeiros vindo aqui para ver o quê? Nosso sofrimento? Premiações, nomeações. Mas nomeações a quem? A quem nos massacrou, a quem nos fez sentir piores do que nunca. Ah! Quantos “ões”. Não, não sinto, não quero que seja mais assim. Cada pedaço que ali eu andava meu coração dilacerava. Sim! Sim! Em cada pedaço daquele lugar eu via uma mulher sofrendo, uma criança pedindo socorro, homens condicionando aquilo. Quanto sofrimento, meu corpo não queria estar ali. Mas por que eu estava ali? Por que eu sentia aquilo? Por quê? Hoje eu vejo quanto sofrimento, minha alma queria sair dali. Às vezes, eu ouço as vozes. Elas vieram comigo. Me ajudem, não deixem! Eles ainda continuam, o século mudou, mudou tantas coisas. A cidade cresceu, o país cresceu, o mundo cresceu, mas qual foi a mudança?

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Hahaha! Que mudança? Nossas crianças sentem, sofrem, nossas mulheres negras sofrem, como sofrem! Nossos homens, oh! Nossos homens mudaram a forma de deterem poder sobre nós. Mudou, sabe o que mudou? Mudou o tronco pela bala, bala perdida hahaha Perdida, o que se perdeu? Nada! Bala achada, bala encontrada. Eles não querem ver nosso sucesso. Eles ainda estão no poder, a história diz que sofremos, mas não ganhamos nada, não tivemos reconhecimento por nada. Não venham com balela, “fotinhas” nos livros de história, ah! Sem esquecer que embranqueceram nossas fotos, Torturando nossos corações, querendo que nos neguemos a reconhecer nossa cor, nosso poder, sim! Somos poderosos, mulheres, homens e crianças. Eles querem ver nossa derrota. Muitos de nós ainda sofrem com isso. Sujam-se por acharem que não têm opção, mas não, elesnão se sujam porque são maus. Sim, eles ainda estão perdidos. Perdidos e ainda não se encontraram. A reprodução está aí e vem dilacerando, a cada dia mais e mais, nossa comunidade, nossa história. Vocês não querem que eu vença, não me querem no poder, mas vão ver. Não vai ser da forma que vocês querem, não vai ser. Vou vencer e hoje essas vozes que me seguem e me pedem socorro. Ah! Eu não tive coragem de descer e ver o sofrimento de vocês. Ah! Eu não tive! Mas eu sei, não é fraqueza. É simplesmente a sensibilidade de rever a minha, ah! Entendi, vou lutar a cada dia, não quero prêmios e nem aclamações pelas minhas palavras. Quero apenas que parem. Que parem com isto.

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Os Contrastes de Ouro Preto

Halison Xavier

Os contrastes de Ouro Preto: o tesouro e o sofrimento, o branco que tem o conforto, o negro que dorme ao relento. Os contrastes de Ouro Preto: o sofrimento e o tesouro, o negro que trabalha na mina e o branco que fica com o ouro. Como pôde haver tanta riqueza e luxo e no mesmo lugar haver tanta miséria? Quantos contrastes mais caberiam nesse soneto? Como pôde haver tanta tortura e dor? Como pôde o homem branco lucrar tanto em cima de um ouro que é preto?

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Porcelana

Bruna Estefani

Eu quis sentir seu coração mas eu não sou você. Observo-me caminhando entre as pedras, Lembro que você também passou por aqui. Será uma distância segura para a solidão? Me sentir perdida dentro de mim. Qual caminho seguir para onde me encontrar? Eu quis sentir seu coração, Infelizmente não posso estar com você, Eu não quis ver você chorar, Eu não conseguiria soltar as suas mãos. O aroma do seu cheiro se mistura com as paisagem Entre as pinturas simples e belas do teu rosto eles usam como tela Outro como inspiração. Eu quis sentir teu coração, Sua mente tão confusa e bela, Simplesmente só à procura da paz e da liberdade, Sua face tão extremamente frágil feito de porcelana.

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menção honrosa



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histórias Isabela Dias

Existem objetos que guardam histórias para alguns; Objetos que contam histórias, felizes e tristes; Existem objetos que guardam histórias consideradas comuns. Existem objetos que guardam a histórias de muitos; De tempos distantes, felizes ou tristes; De lutas de um tempo, que ainda hoje travamos com os mesmos intuitos. Existem objetos que guardam histórias de um povo; De um povo nada feliz, dentro de um navio negreiro; Levado para ser escravizado em mundo novo. Existem objetos que guardam histórias de dor; Da dor de um povo triste, que foi jogado em uma senzala; Que teve sua liberdade roubada um outro povo usurpador. Existem lugares que guardam histórias; Lugares que contam histórias, felizes e tristes; Histórias extremamente ricas, histórias notórias. Existem lugares que contam histórias; E que apesar de antigos acabam contando histórias de nós mesmos; Contam histórias que com certeza não são simplórias. Existem lugares que contam a nossa história; Que narram a história de um povo que também é nosso; E que devem ficar marcados em nossas memórias. Mas existem ainda as histórias de amor; Das que existem, a que mais gosto, mesmo entre várias outras histórias; Histórias de amor, que trazem frio na barriga e causam clamor. Existem ainda as histórias que fazemos agora; Histórias felizes e tristes; De um mundo novo, mas o que passou não foi embora.

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Segredos de Ouro Preto Lucas Tadeu Dias

Primeira vez de Ouro Preto. Andei muito, subi e desci as ladeiras de calçamento de pedras, que contam a verdade vivida nelas. Andando nas ruas, prestando atenção nos detalhes. A manifestação viva da cultura, Música, arte, mas não se pode esquecer das obras primas de um barroco de verdade. Numa cidade histórica como Ouro Preto os monumentos que ficam expostos só mostram um passado duro, sofrido, dolorido do povo negro. Dessa forma eu encerro esses simples versos, compartilhando um pouco desta cidade que eu conheci de perto.

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Débora Amaral Quando olho pela janela, vejo a natureza diferente. As plantas molhadas pela neblina do amanhecer. E o vento a bater no rosto numa imensidão. Os olhares atento ao farol do automóvel contemplando mais um fenômeno da natureza. Algo normal de ser, porém impossível de não notar. Os sorrisos se abrem nas faces, As câmeras presas às mãos simplesmente para registrar, aquele momento espetacular.

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Graziele Azevedo Rodrigues Minha terra é Minas Gerais, Dona de boa parte das estradas reais. Sua capital era Vila Rica, E suas minas ouro não têm mais. Ouro Preto cidade do ouro era no tempo colonial; Ouro Preto, cidade palco da Inconfidência Mineira, Ouro Preto, palco de Aleijadinho, Ouro Preto, palco do Barroco mineiro. Na Casa dos Contos, Seus contos estão. Paredes mudas escondem o tempo da escravidão. Seu frio aconchegante... Sua comida é tradição. Hoje o turismo é a principal atração.

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Textos em prosa



destaque



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Libertas quæ sera tamen

Abgail Batista

Os guardas finalmente tiraram as algemas do meu pulso e da minha canela, eles falaram que eu teria liberdade para subir o morro sem nada me prendendo ou impedindo de me locomover. Eu ri quando os escutei. Ergui minha cabeça para a morte, minha última caminhada, meu último triunfo. Passei a língua sobre meus lábios sentindo o ar fresco, quase frio. Isso seria interessante. Meu caro vestido preto tinha um brilho estranho sobre o cair da tarde, ele se destacou em meio à multidão pobre e carecida de riquezas que estava me observando, que estava me fitando, perfurando com o olhar. Eu não sorri, me esforcei para deixar minha expressão neutra. Não tente nada, estamos em número suficiente para impedir de fazer alguma gracinha, os guardas reais disseram. Em resposta, revirei os olhos e mostrei meus dentes. Eu já tinha perdido as contas de quanta vezes eu já tinha escapado de prisões como essa. Eu fui treinada pra isso, escapar de cárceres, nunca ser pega, matar sem deixar rastros. Obtive sucesso em 99% das vezes, obviamente. Eu era a mulher que todos temiam, cujo nome sussurravam com medo do poder contido nele... E agora, por causa de uma traição, morte. Forca. Você sabe, a liberdade é uma coisa engraçada... Pensamos ser livres, cometendo atos grandiosos, para, no final, as coisas fúteis acabarem nos prendendo. Meu corpo tremeu pela adrenalina, mas minha mente estava calma, confiante. Não me atrevi a baixar a cabeça em nenhum momento fitando sempre a frente, sem demorar no rosto de ninguém, mesmo quando meus pés descalços tropeçaram nas pedras no meio do caminho. Eu precisava ser forte. Eu devia isso a eles. Sem me dar conta, a multidão que me cercava e me acompanhava cresceu. Lá havia crianças, adultos, pessoas de toda idade. Eu queria saber o que eles estavam pensando, daria meu coração por isso. Uma pequena risada saiu dos meus lábios pela piada interna com a morte e o guarda real que estava mais perto de mim me olhou preocupado, apertando a mão em sua espada. Quando você sabe o que te espera, nem a dor mais fúnebre te assusta. Olhei para o céu estrelado. Ah, como eu amava aquele céu. Percebi que eu iria sentir falta dele, das luzes que sempre me acompanharam, choraram comigo e me assistiram em meus momentos de glória. Estava tão distraída que tropecei e caí no chão. Esperado de mim? Lógico. Confie em mim para cair em frente das pessoas, antes da minha própria sentença de morte. Senti a pequena ardência em meu braço me trazendo de volta à realidade. Olhei para cima e vi

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os olhos deles me examinando, alguns preocupados, outros assustados, alguns desconfiados, achando que era algum tipo de plano de fuga. Não perdi tempo explicando que, se eu quisesse, já teria fugido. Alguém me levantou pelos braços, firme e sem paciência. Pediram para eu não demorar mais na caminhada, eles tinham outras tarefas a cumprir... Como, por exemplo, retirar meu corpo sem vida da forca. Eu assenti e me curvei, um movimento exagerado e irônico. Ouvi alguns risos tímidos da multidão. Ninguém queria ser pego zombando dos brinquedinhos reais. Foi então que eu o vi. Pra falar a verdade, senti, pra ser mais exata. Existia essa coisa louca de eu poder sentir os homens e mulheres do meu bando. Acho que estávamos tão ligados espiritualmente que as emoções eram compartilhadas. Já perdi a conta de quantas vezes isso nos salvou. Nico estava com o capuz sobre o corpo ágil e rápido, me acompanhando com os olhos e tomando cuidado para não ficar muito longe de mim e ao mesmo tempo ficar longe dos guardas. Ele sempre fora tão esperto, tão ágil, tão amigo! Estremeci de medo pela primeira vez, com receio não da minha pessoa, mas da dele. Se alguém encostasse um dedo nele, ah! O doce cheiro de sangue iria ser sentido. Senti a fúria invadir seus olhos profundos e hospitaleiros. Desconfiei que ele tinha preparado alguma coisa quando eu estava na prisão. Ouvi o canto da coruja, o mesmo que marcava o nosso bando. Se os homens que estavam cuidando da minha morte fossem um pouco mais inteligentes, eles teriam percebido que, nessa época do ano e ainda mais na localidade da delegacia, não poderiam existir corujas. A falta de esperteza deles me ofendeu, como um bando de soldadinhos mandados puderam me capturar? Procurei Nico ou qualquer outro que pudesse estar o mais perto de mim, precisava impedir, precisava guardar. Ouvi da minha cela cochichos de que havia caçadores em meio às pessoas, disfarçados para capturar qualquer um que tentasse me libertar. Me dei por surda e tonta, as mulheres não eram conhecidas por sua inteligência... Éramos conhecidas por outra coisa. Aos poucos, as pessoas pararam, enfim chegamos ao destino esperado. Dois guardas me pegaram pelo braço – impedindo d’eu alcançar qualquer coisa que fosse com minhas mãos – e outros seis nos acompanharam, três na frente e três atrás, e me levaram em direção ao pedestal da forca. Quando eu era pequena, sempre me perguntei o motivo desse ponto ser chamado morro da forca... Quando aprendi a ler e ganhei maldade, a dúvida sumiu em segundos. Subi os degraus aos poucos, a madeira fria e áspera em contato da minha pele me fez sentir viva de um modo estranho, quase mágico. Levantei meus olhos para fitar as pessoas que não tinham fim. Minha sentença iria começar. Suspirei e desejei que isso acabasse logo. Estava esfriando e meus dedos estavam ficando roxos.

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Aurora, você está sendo acusada de assassinar a sangue frio o Príncipe e único herdeiro do trono de Ouro Negro, de causar rebeldia entre os habitantes da cidade, de roubar joias pertencidas à Coroa Real no grande baile e de abrigar jovens rebeldes em sua propriedade. Como você foi pega no ato, não tem direito a julgamento. Sua sentença foi determinada diretamente pelo Rei. Você nega alguma das acusações citadas agora? Não. Não tinha muita lógica mentir agora. Muito bem. Agora, lhe será concedido seu último desejo. O guarda olhou para mim, esperando. Eu respirei fundo e olhei no fundo dos olhos das pessoas que vieram assistir a esse espetáculo. Eu precisava passar minha mensagem. Eles precisavam ouvir. O meu desejo é este, a morte. Não a desejo por ser louca, não a desejo por não ter compaixão. Acredite, eu ainda a tenho, enterrada dentro de meu peito. Eu a desejo porque só assim conseguirei a minha tão sonhada liberdade. Esse é o meu sacrifício, por cada um de vocês. Por cada dor sentida, por cada lágrima derramada, por cada grito de silêncio. Eu os conheço sim, e eu os amo. Se vocês pensam que os apenas os homens e mulheres que eu designei fazem parte do meu bando, estão enganados. Cada um de vocês é uma parte de mim. Agora carregam a responsabilidade de fazer valer seus direitos. Peço que se cuidem, vocês precisam agir com sabedoria. Derrubem a Coroa, custe o que custar. Imploro a vocês, Nico, Andrea, Marrî, Ântoni, Nicodemus, Amélie, Carlos, Daniela e a pequena Laure. Deixe que eu morra em paz. Libertas quæ sera tamen. Muito bem. Está preparada? Não respondi a essa pergunta. Ela não precisava de resposta em meio à situação. Os guardas me puxaram para frente, à forca. Minha corda do destino estava lá. Olhei para frente, para a cidade que me criou, me pariu e me entregou à perdição. Mesmo à noite, ela era bela. As luzes que iluminavam os becos escuros foram se apagando, uma a uma. Eu consegui sorrir com a pequena homenagem deles para mim. Foi um sorriso sincero. A multidão que estava calada durante todo o processo, cantou seu último canto, uma cantiga que eu ouvira várias vezes quando criança. Ainda conseguia ouvir quando eles colocaram a corda no meu pescoço e quando puxaram a corda, me levantando para o céu estrelado. Eu senti a morte me rondando, e dei boas-vindas a ela. Cante menina, cante alto e em bom som,

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Cante a todos que puderem ouvir. O estado de nosso sofrimento, apenas você sabe. A nossa luta pela igualdade, apenas você sabe. Vá, e leve contigo nossa luta diária. Te chamamos, venha Liberdade, Faça chover justiça, faça chover o amor. Foram tiradas de nós nossas vidas, Foi tirada de nós nossa terra. Te imploramos, venha Liberdade. O ouro que carregamos é preto, Sentido por cansaço sem fim. Nos exploraram e nos tiraram tudo! Sentimos sangue, lágrimas e desespero sem sim. Por isso te chamamos sem descanso, Venha Liberdade.

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As aventuras em Ouro Preto Carine

Acordamos às 5h00min. Vejo seu olhinho brilhando. Com uma vontade louca de sair de casa, tomou banho e até lavou o cabelo. Pronto, saímos. Kathleen, minha filha, uma menina de sete anos, que em sua cabecinha guarda grandes curiosidades. Chegamos na escola, ela cheia de expectativa para conhecer meus coleguinhas e professores (ficou um pouco confusa com a quantidade de professores, mas depois se acostumou), um pouco tímida. O ônibus chegou. Pronto, estamos a caminho. Paisagens espetaculares no caminho... Até uma nuvem ficou presa na montanha, coisa mais linda. Ouro Preto repleto de história. Chegamos. Primeiro fomos ao mirante, na UFOP, vista maravilhosa. Agora começamos a andar e conhecer e aprender. Museus, Casa dos Contos... Quantas cédulas e moedas que não conhecia... Senzala, se suas paredes falassem, quanta coisa triste contaria... Bom, chegou a hora gostosa, a hora do almoço. Que comida esplêndida. Rumo à Praça Tiradentes. É, Joaquim José da Silva Xavier, você não foi esquecido; lembrado no Museus dos Inconfidentes, que no passado foi prisão, com seu ambiente sombrio. Rumo à Mina. No início, me assustei: entrar na Mina, onde vários escravos e mineradores trabalharam, vista somente em livros e televisão brilhante... Mas agora é desejo realizado. E o meu coração agradecido pelo passeio e por ter realizado a vontade dela com a ajuda do cursinho.

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Bruna Estefani Era cedo, cedo até demais, via alegria nos rostos dos meus amigos e não entendia por que tanta euforia, talvez por ser 9:00 da manhã de um domingo e eu estar virada da noite passada. Maldita vodca que mal me deixa abrir meu olhos e socializar. É uma viagem longa, fico feliz de ter a companhia certa. Fomos até o mirante de Ouro Preto, uma paisagem linda, que enche de energia qualquer coração, mas estranhamente o meu não foi preenchido. No caminho da volta, bem ali embaixo de um trem em exposição, começa um processo de assassinato. Detenho-me e observo a mosca se debater, presa naqueles fios invisíveis, e, de repente, surge a aranha, toda cautelosa. A princípio fico por curiosidade, mas intervém em mim o sentimento: a aranha vai devorá-la lentamente, isso me torna uma cúmplice. Oh não! Começo a sentir um prazer imenso, ao ver a aranha andar lentamente até a mosca, cada passo dá uma sensação de domínio. Vejo a calmaria da cidade e parece que a aranha só usa isso para cometer seu crime silenciosamente, só que aqui estou, sendo uma cúmplice ou uma testemunha. Mais que isso, posso evitar esse crime bárbaro. Posso esticar minha mão e deixála ou arrebentar a teia. Devo salvá-la? Ergo minha mão, chego tão próxima daquela teia, mas aí penso: aquele trem é patrimônio histórico, não posso tocá-lo. Me sinto onipotente, mas, enfim, para que servem as moscas? Para que servem as aranhas? Ora bolas, para que serve a minha existência?!.

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