A Escala do Pedestre em Brasília

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A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA



Disciplina de Ensaio Teórico Trabalho apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB) como parte dos requisitos da disciplina. Professora orientadora Arqt.ªDr.ª Maria do Carmo de Lima Bezerra

Brasília/DF, junho de 2016



SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 2

A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

CAPÍTULO 4

ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

CAPÍTULO 5

ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO



CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO PROBLEMÁTICA ESTUDADA: Plano Piloto de Brasília REFERENCIAS CONCEITUAIS DO ESTUDO OBJETIVOS OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS METODOLOGIA PASSOS OPERATIVOS

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CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO O desenvolvimento das cidades ao longo da história nos permite perceber que o crescimento e a forma das cidades estão relacionados ao deslocamento das pessoas e produtos de acordo com os meios predominantes em cada período histórico. Na antiguidade os deslocamentos eram feitos a pé ou a tração animal produzindo um formato urbano mais compacto e misto, já que as distâncias a serem percorridas eram menores. O advento do automóvel possibilitou ao homem a facilidade para se deslocar por distâncias cada vez maiores, o que veio a transformar a estrutura urbana, fazendo com que as cidades crescessem em todas as direções, favorecendo a dispersão urbana. Com isso, pode-se dizer que as cidades contemporâneas possuem formas urbanas complexas não só pela multiplicidade de funções que hoje a cidade abriga, mas pela sua dispersão no tecido urbano implicando em demandas de deslocamentos que agregam mais e mais desafios ao planejamento urbano e de transportes. De acordo com Medeiros (2006), os núcleos urbanos brasileiros apresentam um tecido urbano no padrão de “colcha de retalho”, esta característica que aparece mais nas cidades do tipo disperso também pode ser encontrada em cidades compactas, este fato colabora para a construção de um espaço fragmentado, o que agrava os problemas de segregação social, dificuldade de locomoção 10 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

com reflexos na economia e qualidade de vida urbana. O Brasil é um país essencialmente urbano, 80% da população e a maior parte das atividades econômicas estão em áreas urbanas, com uma urbanização caracterizada como desigual possui na mobilidade um dos grandes gargalos com impactos na economia, na qualidade de vida e condições ambientais das cidades. A mobilidade urbana pode ser entendida como o grau de facilidade com que um deslocamento pode ser realizado no espaço urbano. Segundo a Lei Federal de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587 de 2012): “Mobilidade urbana é a condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano. Está ligada à articulação e efetividade de políticas de transporte, circulação, acessibilidade, transito, desenvolvimento urbano, uso e ocupação do solo, dentre outras” Existem muitas pesquisas na área de transportes, baseadas principalmente na engenharia de tráfego, com objetivo puramente operacional, porém, raramente os estudos sobre mobilidade urbana levam em conta a forma urbana como variável relevante, de modo a entender até que ponto este aspecto interfere nos deslocamentos que ocorrem nas cidades. Este ensaio objetiva identificar os elementos da forma urbana


CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

que contribuem para potencializar a mobilidade urbana com foco nos deslocamentos a pé. Assume, assim, a escala do intra-urbano, ou seja, as distâncias que conectam os moradores. Este ensaio objetiva identificar os elementos da forma urbana que contribuem para potencializar a mobilidade urbana com foco nos deslocamentos a pé. Assume, assim, a escala do intra-urbano, ou seja, as distâncias que conectam os moradores aos sistemas de transportes público e as distâncias que os mesmos fazem no entorno de sua residência seja para lazer, escola, comprar ou até trabalho.

PROBLEMÁTICA ESTUDADA: Escala Residencial do Plano Piloto de Brasília O Plano Piloto de Brasília se caracteriza por possuir forma urbana de cidade dispersa: baixa densidade, forte setorização, grande quantidade de espaços vazios, espaços públicos isolados e falta de conectividade entre as ocupações e seus usos. Todos esses elementos de configuração urbana, constantes nas recentes pesquisas, nacionais e internacionais, indicam que há dificuldades na promoção da mobilidade sustentável.

Do ponto de vista do transporte a cidade foi criada a partir de conceitos rodoviaristas, que à época da criação eram muito fortes, sobretudo do ponto de vista econômico e político do país. Isso foi agravando com a ênfase do projeto para o automóvel com desconsideração do transporte público e outros modais. Os conceitos rodoviaristas que foram, criados e difundidos por Le Corbusier na primeira metade do século XX, e aplicados ao projeto de Brasília por Lucio Costa, fez com que, na Capital Federal, desenvolvesse a “cultura do carro” que ainda hoje tem prevalecido tanto no censo comum de seus habitantes como, em especial, nas ações de planejamento urbano da cidade que cada vez mais investem em novas vias e rodovias. A cidade que fora concebida para suportar 500 mil pessoas, hoje possui menos da metade desse número, atualmente cerca de 215 mil pessoas estão na cidade desenhada por Lucio Costa. Contudo, o Plano Piloto atua como centro de uma área urbana que contempla mais de 2,8 milhões de pessoas, quase 6 vezes a mais do que a expectativa inicial. E, no momento, conta com uma frota de automóveis de 1,6 milhões o que significa, aproximadamente, 2 pessoas por automóvel. Estes números refletem patologias da mobilidade sustentável, que se mostram maiores quando vemos que o espaço físico de Brasília, apesar de ser amplo e horiA ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 11


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zontal, possui dificuldades de suportar adequadamente a frota de carros e, com isso, demonstra limitações e defeitos do modelo rodoviarista. E, ainda, as políticas que deveriam combater esse perfil da cidade não investem na melhoraria de espaços urbanos que levem ao favorecimento de outras modalidades de locomoção urbana. Recentemente, se inicia no Brasil, a partir da década de 2010, um movimento de discutir a mobilidade de nossas cidades e Brasília não tem ficado apartada desse tema, mas existem sérios desafios a enfrentar. Diante das condições de uma cidade que foi criada com um sistema viário onde a prioridade foi o carro e de uma cultura de planejamento que a tratou de perpetuar quem mais sofre com tudo isso são os pedestres. A priorização dos veículos individuais prejudica a escolha pela caminhada, já que as pessoas que caminham na cidade veem a cidade voltada para os carros e, muitas vezes, carecem de incentivos para continuarem a caminhar. A falta de tratamento do espaço público adaptado a circulação do pedestre e do ciclista, principalmente, é um dos problemas que se destacam na cidade. Nas superquadras, que compõem o Plano Piloto, espaços mais convidativos fariam com que o pedestre pudesse experimentar melhor a cidade em que vivem ou circulam. Tendo em conta o importante papel do Plano Piloto como centro urbano de comércio, serviços e empregos, concentrando 12 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

48% dos empregos no Distrito Federal, as superquadras de Brasília possuem um fluxo diário de pessoas que não se restringe aos que ali moram, mas pessoas que veem de toda região para suas atividades diárias. Este fato, em uma população de 2,8 milhões representa um movimento diário de 1,34 milhão de pessoas no Plano Piloto de Brasília, parte delas circulam nas superquadras. Hoje esses espaços são marcados por carência de calçadas e/ou calcadas sem continuidade, sem manutenção e muitas vezes com obstáculos, são espaço público não atraente nem convidativo as caminhadas. Por outro lado, Brasília possui grandes espaços horizontais e arborizados, livres de uso, que podem ser tratados adequadamente para favorecer os deslocamentos a pé. O intuito desta pesquisa é identificar os elementos que constroem esta relação tão importante das pessoas com os espaços urbanos. O estudo concentrar-se na característica da CONECTIVIDADE ESPACIAL, estudando e propondo um conjunto de elementos que possam melhorar a conectividade e a continuidade dos percursos do Plano Piloto de Brasília, visando a melhoria geral da mobilidade e o bem-estar do transeunte.


CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

REFERÊNCIAS CONCEITUAIS DO ESTUDO A necessidade de promover o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis tem incentivado pesquisas sobre novas formas de gestão e de planejamento que envolva as diferentes dimensões do espaço urbano. A mobilidade urbana tem ocupado destaque entre os estudos em função de seu papel sensível tanto no plano socioeconômico como ambiental das cidades. Muitos pesquisadores destacam que um dos parâmetros para atingir o padrão de cidades sustentáveis, principalmente no que diz respeito à mobilidade urbana, seria adensá-las, torná-las compactas. No entanto, vale ressaltar que não existe um modelo universal de forma urbana, cada cidade possui características próprias, seja em relação ao seu desenvolvimento socioeconômico ou até mesmo especificidades de seu sítio, implicando em usos e deslocamentos diferenciados. Ampliam-se os estudos que indicam que o atual estado da mobilidade urbana em cidades brasileiras possa ser também o produto da forma urbana que vem se estabelecendo ao longo dos anos. Segundo Gentil (2015), a mobilidade sustentável “está estreitamente vinculada à forma urbana, pois as características da forma poderão influenciar nos padrões de deslocamento, estimulando ou não a maior utilização de automóveis ou a opção por modos de

transporte não-motorizados”. Portanto, supõe-se que a interpretação das variáveis que relacionam forma/mobilidade possa se converter em significativa contribuição para planejamento/desenho urbano. Como exposto, a mobilidade sustentável é um tema que resguarda toda a estrutura da cidade, tanto do desenho quanto do planejamento, abordando seus aspectos urbanos, econômicos, sociais, ambientais. A facilidade de acesso é um direito do cidadão que é estabelecido pelo Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257) e, também, promove a inclusão social, a cidadania, o desenvolvimento pessoal de cada um, desenvolvimento econômico, desenvolvimento do pensamento ambiental, entre outros. É, pois, dentro do marco conceitual da mobilidade urbana sustentável e do entendimento que existe uma forte contribuição da forma urbana para a mobilidade que o estudo será realizado.

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CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

OBJETIVOS objetivo geral Analisar a conectividade do espaço urbano entre as unidades vizinhança da localizadas entre a W3 e a L2 Sul, na altura das quadras 07 e 08 – abrangendo as quadras 307, 308, 107, 108, 207, 208, 407 e 408 da Asa Sul – sendo uma delas a unidade de vizinhança modelo da concepção urbana da Escala Residencial do Plano Piloto de Brasília, intendendo a identificação dos elementos estruturantes dos espaços públicos que facilitem a mobilidade dos pedestres.

objetivos específicos objetivo 1 Revisão da literatura sobre mobilidade urbana e compreensão das implicações da forma urbana sobre seu desempenho.

objetivo 2 Identificação de características da forma urbana de Brasília que promovem ou dificultam a mobilidade e suas possibilidades de intervenção.

objetivo 3 Identificação de elementos estruturantes do espaço públicos que facilitem a mobilidade dos pedestres.

objetivo 4

Análise de atributos que otimizem o desempenho dos elementos constituintes da mobilidade, identificados no objetivo 3, com exemplos de desenhos urbanos exitosos.

objetivo 5

Estudo de caso em uma unidade de vizinhança do Plano Piloto de Brasília: identificação das dificuldades espaciais para mobilidade do pedestre 14 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

METODOLOGIA No desenvolvimento do ensaio foram utilizados dois procedimentos metodológicos complementares: O primeiro teórico conceitual utilizou a revisão da bibliografia para fundamentar os conceitos que serão abordados no trabalho, como mobilidade sustentável e forma urbana, e identificar elementos dentro destes conceitos que possam se constituir em critérios do estudo de campo. Nessa fase se atendeu os objetivos de 1 a 3 do ensaio. Na segunda parte a metodologia teve como base o trabalho de campo, com identificação das características dos espaços públicos nas superquadras de Brasília anteriormente citadas no que tange aos elementos que interferem na mobilidade do pedestre. A análise se deu a partir dos elementos identificados na fase anterior como facilitadores da mobilidade e aparentam uma leitura de como se comportam no Plano Piloto subsidiando possíveis intervenções. Cumpriu-se, nesta etapa, os objetivos 3, 4 e 5 do ensaio.

passos operativos passo 1 Estudo dos conceitos base para a pesquisa, entendimento sobre mobilidade urbana e mobilidade sustentável. Entendimento e caracterização da forma urbana sua relação com a mobilidade sustentável. Identificando os elementos que facilitam a mobilidade e são provenientes da forma urbana.

passo 2 Entendimento de teorias e dos conceitos que serviram de base para a concepção projetual do Plano Piloto no que se refere a mobilidade. Desenvolvimento da cidade e suas características espaciais e possibilidades de intervenção.

passo 3 Identificação dos elementos facilitadores da mobilidade sustentável dentro do tecido urbano, em especial, no campo de conectividade espacial. Quais os elementos configuracionais contribuem para facilitar a mobilidade dos pedestres. Esse estudo foi realizado com base na análise de projetos exitoso de desenho urbano sobre o tema mobilidade de pedestre. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 15


CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

passo 4 Análise da área recortada na Escala Residencial, identificando as rotas que ligam pontos de interesse dos pedestres (origens - destinos de deslocamentos a pé) e as conexões entre os modais de (transporte público e deslocamentos a pé). Identificação e verificação do desempenho, com base nos parâmetros desenvolvidos, dos elementos configuracionais do espaço urbano promovedores da mobilidade sustentável de pedestres.

passo 5 Indicações de quais diretrizes facilitadoras da mobilidade do pedestre poderiam ser adotadas para espaços urbanos do Plano Piloto de Brasília como decorrência do estudo.

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CAPÍTULO 2

A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA



CAPÍTULO 2

A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL FORMA URBANA E AS CARACTERÍSTICAS FACILITADORAS DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL CIDADE COMPACTA CIDADE DISPERSA RELAÇÃO ENTRE FORMA E MOBILIDADE URBANA

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CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA A utilização do espaço urbano sempre fará parte da vida de cada um. As experiências de troca entre homem e cidade, tais como fazer esporte em um parque, encontrar com amigos em uma praça, caminhar pelas calçadas, usufruir do mobiliário urbano, do transporte público, andar de bicicleta por ciclovias, e entre várias outras, conectam diretamente a vida de pessoas ao estilo de vida urbano, a qual a interação social é o maior diferencial em oposição ao estilo de vida rural. Percebe-se, desta maneira a importância que um espaço urbano de qualidade tem para sua população, quanto mais convidativo ao uso é o espaço mais será usado pelas pessoas. E isso não se trata somente da qualidade deste espaço, vai além, e abrange a competência do planejamento para as áreas urbanas. Tudo isso está relacionado à necessidade das pessoas de se locomoverem na cidade: se não há movimento, não há vida. E no caso das cidades, não haver vida significa espaço abandonado, descaso, falta de interesse na área, o qual prejudica a economia e meio ambiente e impacta na segregação social, prejudicando a dinâmica urbana, podendo atingir, até mesmo, áreas maiores no tecido urbano, resultando na baixa qualidade de vida das pessoas. Desta maneira, percebe-se que a existência do movimento no meio urbano é chave para entender se 22 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

aquele espaço é bem utilizado, bem planejado ou não. Os fatores que influenciam nesta dinâmica da cidade variam da qualidade do espaço urbano até a escolha de usos permitidos naquele espaço. Estes fatores, e muitos outros ainda, são de extrema importância para o desenvolvimento da cidade como um todo, eles influenciam diretamente a forma urbana, a qual está estreitamente ligada à mobilidade urbana. Ainda relacionado com a mobilidade urbana, uma tendência mundial atual das grandes cidades, é a mobilidade urbana sustentável, ou, somente, mobilidade sustentável. Estudos revelam que a mobilidade sustentável está estreitamente ligada a uma variedade de fatores que definem a forma urbana das cidades. Estes conceitos são a chave para o entendimento da dinâmica urbana e para a potencializar o seu desempenho, sabendo que a melhor da dinâmica urbana significa melhora para o quadro econômico, social, ambiental e, o mais importante, para a qualidade de vida das pessoas. Desta maneira, este capítulo tratará dos conceitos dos termos acima apresentados e da relação entre eles.


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL Mobilidade urbana é um conceito relativamente novo e pode ser entendido, de maneira simples, como o grau de facilidade com que as pessoas se deslocam no espaço urbano. Do ponto de vista histórico, este conceito é bem recente, surgindo no final do século XX, e hoje é abordado por inúmeras cidades ao redor do mundo, na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos e a dinâmica das cidades, e, consequentemente, a dinâmica do país. No Brasil, a Lei Federal de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587 de 2012) define a mobilidade urbana como “a condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano” e ainda, diz que a mobilidade “está ligada à articulação e efetividade de políticas de transporte, circulação, acessibilidade, transito, desenvolvimento urbano, uso e ocupação do solo, dentre outras”. De maneira equivocada, pensa-se que a mobilidade se limita somente ao sistema – ou ao planejamento – de transportes. A partir da definição trazida pelo documento oficial, percebe-se a complexidade que o tema possui e a sua relação com outras áreas do planejamento territorial. Desta maneira, pode-se afirmar que o sistema de transportes, e o planejamento que o acompanha, exerce um papel fundamental, já que fa-

cilita a locomoção de pessoas sobre a malha urbana, mas que está inserido dentro da mobilidade da cidade, sendo que esta não se limita ao planejamento de transportes e é definida por outros fatores. Continuando no Brasil, o conceito se fortalece a partir do século XXI. Algumas definições acerca do tema, trazidas pelo Ministério das Cidades, mostram que nos anos 2000 houve uma preocupação cada vez maior sobre o tema. Em 2004, o órgão público definia a mobilidade como o conjunto das necessidades do deslocamento (dimensões do espaço urbano e atividades nele realizadas) e de políticas de transporte, circulação, acessibilidade e trânsito. Já em 2005, trazia a mobilidade como o resultado da interação dos fluxos de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, sejam fluxos motorizados ou não. Em 2007, ocorre o surgimento do conceito de mobilidade urbana sustentável, que foi definida como o produto de políticas que priorizam os meios de transporte coletivos e não motorizados, favorecendo então uma melhor sustentabilidade ambiental, bem como a redução da segregação espacial e, portanto, contribuindo, até mesmo, com a inclusão social. Campos (2007) afirma que a mobilidade urbana sustentável possui dois enfoques principais: - O primeiro sobre a adequação da oferta de transA ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 23


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

porte ao contexto socioeconômico, proporcionando acesso aos bens e serviços com eficiência e equitativamente por meio de ações sobre o uso e a ocupação do solo e pela gestão dos transportes. - O segundo tem a ver com a qualidade ambiental, ou seja, está intimamente relacionado às tecnologias de transporte que devem promover uma melhor fluidez do tráfego e aumentar a segurança urbana. Campos, ainda, cita algumas estratégias que podem ser tomadas para a promoção da mobilidade sustentável, como: - Desenvolvimento urbano orientado ao transporte; - Incentivo aos deslocamentos de curta distância; - Restrições ao uso do automóvel; - Implantação de sistemas de controle de tráfego e velocidade; - Oferta adequada e integração do transporte público; - Adensamento na proximidade de corredores e estações de transporte público; - Investimento em transporte público que utilize energia limpa; - Melhoria do conforto urbano, como calçadas adequadas, ciclovias, travessias seguras, iluminação e arborização de vias. As estratégias apresentadas por Campos envolvem questões relacionadas ao planejamento de 24 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

transporte, o que não é totalmente equivocado, visto que Rogers (2001) relata que as principais patologias da falta de mobilidade são os congestionamentos, os conflitos entre os diferentes meios de transporte, a eliminação de áreas verdes para a ampliação de vias ou criação de estacionamentos, causando a redução da segurança e conforto para pedestres, o aumento dos níveis de poluição do ar e sonora e, sobretudo, o aumento do número de acidentes de trânsito, os quais muitas vezes são fatais aos envolvidos – o Brasil é o país com maior número de mortes de trânsito por habitante da América do Sul¹. Estas patologias comprometem a qualidade do ambiente urbano, assim como o conforto dos usuários – muitas vezes pedestre ou ciclistas – já que coloca em risco a sua segurança, gerando consequências negativas à mobilidade urbana e, consequentemente, à qualidade de vida da população. Desta maneira, estudos recentes defendem os conceitos apresentados por Campos (2007) e complementam seus estudos, isto é, trazem, também, a importância de estratégias de planejamento urbano para a promoção da mobilidade sustentável, expondo e sus¹ Segundo reportagem da Organização Mundial da Saúde – OMS – feita em novembro de 2015 https://nacoesunidas.org/oms-brasil-e-o-pais-com-maior-numero-de-mortes-de-transito-por-habitanteda-america-do-sul.


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

tentando que o tema mobilidade urbana sustentável vai além das estratégias do planejamento de transportes. De maneira simples, o conceito de sustentabilidade está relacionado com a eficiência energética nas atividades exercidas, assim, ao aliá-lo ao conceito da mobilidade urbana, tem-se que a mobilidade sustentável pode ser entendida como o grau de facilidade com que as pessoas se deslocam no espaço urbano otimizando as fontes de energias, ou seja, o executam de maneira mais eficiente energeticamente. Assim, a pergunta que temos que responder é: usando o menor consumo de energia possível, qual é maneira mais fácil com que podemos nos deslocar no espaço urbano? As melhores respostas à esta pergunta são: a pé ou de bicicleta, ou de qualquer outro meio cujo único consumo energético está relacionado ao consumo de energia humana, o qual não gera poluentes ao meio ambiente. Assim, estudos mais recentes vêm para responder esta pergunta, mostrando que a mobilidade sustentável está ligada à forma urbana, isto é, se um tecido urbano é planejado e desenhado – ou simplesmente requalificado – possibilitando as pessoas realizarem percursos menores, possibilitando-lhes ir a pé

ou de bicicleta, com mais segurança e mais conforto, elas o farão. Estudos, como o de Gentil (2015), mostram que a mobilidade sustentável está ligada à forma urbana. Esta é mais relevante à mobilidade sustentável, visto que as pessoas fazem suas escolhas de vida com base onde trabalham, onde estudam, onde moram e onde praticam atividades de lazer e, principalmente, como podem se locomover de um lugar a outro. Para Gentil (2015) o desenho urbano, principal elemento estruturador da forma urbana, tem papel fundamental para a promoção da mobilidade sustentável como constituinte condicionante dos padrões de locomoção sobre o tecido urbano em diferentes escalas. Em outras palavras, espaços trabalhados adequadamente, bem conservados e com boa qualidade facilitam e promovem a escolha pelo deslocamento não-motorizado, como andar a pé, de bicicleta ou skate, por exemplo. Mas o que é forma urbana e como ela influencia a dinâmica das pessoas na cidade?

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CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

FORMA URBANA E AS CARACTERÍSTICAS FACILITADORAS DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL A forma urbana, ou morfologia urbana é caracterizada por vários fatores. Cantalice (2012) traz o entendimento da forma urbana por meio da abordagem do conjunto de edificações, malha viária e densidades que compõem o espaço urbano, ou seja, a própria forma da cidade. E, ainda, cita que tais elementos são influenciados pela cultura, tradição, costumes e identificação dos habitantes que ali coexistem, trazendo uma influência da vida social sobre àquela formal. Com base nessa relação de forma e sociedade local, ressalta que cada cidade é única e não existe uma cidade igual à outra. Porém, apesar das particularidades e peculiaridades de cada cidade, que as tornam únicas no mundo, pode-se identificar elementos recorrentes que se sobressaem em qualquer análise urbana. Um desses elementos, e para alguns autores o principal, é o tecido urbano. Para Panerai (2006), o tecido urbano é constituído pela superposição de três conjuntos: a rede de vias, os parcelamentos fundiários e as edificações. Rego e Meneguetti (2011) acrescentam a estes conjuntos os parques, as praças e os monumentos, que seriam os espaços livres entre ruas e quadras. Com isso, a malha viária é responsável pela articulação destes espaços, e a forma urbana é produto dessas relações estabelecidas pelo 26 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

homem entre a forma edificada, a forma dos espaços de permanência e de circulação. Entretanto, Medeiros (2013) diz, ainda, que a cidade não é somente esta relação articulada de espaços físicos, e acrescenta o fator social, o que faz das cidades um complexo lugar para onde convergem, se concentram e interagem grupos de relações sociais econômicas, culturais e políticas, sendo a forma urbana o resultado dessas interconexões. Gentil (2015) entende que a forma urbana abraça todos os setores do planejamento urbano e do projeto urbano, e é definida principalmente por três fatores: - Configuração do tecido através da malha viária; - Índices e atributos que definem a forma física, como gabarito, aproveitamento do solo, taxa de ocupação do solo e densidade; - Fatores que definem a organização funcional, como a distribuição de uso e ocupação do solo no tecido urbano. Desta maneira, a forma que possui a cidade interfere, e muitas vezes define, as escolhas de locomoção que haverá em um determinado meio urbano, visto que ela pode facilitar ou dificultar algumas opções


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de deslocamento. Em outras palavras, a forma urbana condiciona fortemente a mobilidade de seus habitantes. A partir desse conceito, deve-se entender quais são os elementos que caracterizam a forma urbana e como tais elementos podem ser trabalhados com o objetivo de facilitar a mobilidade naquele meio. Ao longo da história, identifica-se a mudança da forma urbana com relação ao desenvolvimento das tecnologias de locomoção. É notório que as cidades Romanas, da Idade Média e antes da Revolução Industrial eram menores do que as cidades modernas e contemporâneas, ou seja, aquelas possuíam um alto nível de compactação em comparação à estas, o que é definido, principalmente, pelos meios de locomoção disponíveis àqueles tempos, os quais eram, basicamente, a tração animal ou força humana. Com o desenvolvimento tecnológico propiciado a partir da Revolução Industrial, houve o advento de novos meios de locomoção, a maioria movidos a energia de combustão, para gerar força mecânica, o que resultou, cada vez mais, na dispersão das cidades, visto que agora o homem consegui se locomover por maiores distâncias. Os estudos sobre os elementos da forma urbana que facilitam a mobilidade têm se valido de duas sim-

plificações úteis a análise da complexidade da estrutura espacial urbana. Essas simplificações dizem respeito aos modelos de cidade compacta e cidade dispersa que seriam polos caracterizados por arranjos quase opostos de elementos constituintes da forma urbana. Fato é que existe uma predominância de um modelo ou outro nas cidades e então essa análise pode ser útil para entender seus problemas de mobilidade e poder melhor intervir.

Figura 1 Vários exemplos de formas urbanas ao redor do mundo.

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CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

CIDADE COMPACTA Inúmeros são as causas da evolução das cidades ao longo da história, não só por motivos de mobilidade urbana. As cidades industriais do século XIX sofriam com superpopulação, pobreza e insalubridade e por isso os modelos de cidade compacta foram tão rejeitados no século seguinte. Devido a essas patologias, pensadores como Howard (1898) e Abercrombie (1949) propuseram a diminuição do número de habitantes por ambientes com menor densidade e maior quantidade de áreas verdes e então surgiram as cidades-jardim e as newtowns. Entretanto, baseado nisso, Rogers (2001) afirma que no século XXI o modelo de cidade compacta não precisa ser visto como prejudicial à saúde pública, já que existem meios para o controle do lixo e do tratamento de esgoto, o lixo industrial está desaparecendo das cidades do mundo desenvolvido e há a geração de energia e transporte público limpos. O que o faz afirmar que a “cidade densa” seria o reflexo reinventado e reinterpretado de uma cidade autossustentável. Assim como Rogers, outros autores sustentam que as cidades compactas possuem vantagens em relação àquelas idealizadas a partir do século XIX. Gentil (2015) afirma que a cidade compacta é provavelmente a mais eficaz e termos de gastos energéticos, sustentabilidade, socioeconômicos e ambientais por oferecer melhores 28 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Figura 2. Florença, Itália, imagem do mapa e da vista área da cidade. Exemplo do modelo de cidade compacta: alta densidade, diversidade de usos do solo, continuidade e alta conectividade entre os espaços.

oportunidades de deslocamento, por possuir características que favorecem à proximidade e à interação. Segundo Rueda (2002), a cidade compacta é


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aquela que é densa e pode ser percorrida a pé, ou seja, que possui características de cidades mediterrâneas, sendo assim a cidade do pedestre e não do automóvel. Ainda afirma que a compacidade e a diversidade são muito importantes para as trocas sociais e econômicas, e diminuem o gasto de energia, otimizam o tempo e tornam o solo mais econômico. Já com Neuman (2005), define que as características de uma cidade compacta incluem: - Alta densidade, tanto residencial como de trabalho; - Diversidade de uso e ocupação do solo; - Desenvolvimento contínuo; - Sistema de transporte multimodal; - Alto grau de acessibilidade; - Alto grau de conectividade (interligação de ruas, calçadas e ciclovias) que incentive a população a circular no meio urbano por meios de transporte não motorizados. Leite e Awad (2012), semelhantemente, afirma que a cidade compacta é um exemplo de forma urbana que promove, com qualidade, altas densidades, adequando o uso misto do solo urbano, misturando assim diversas funções urbanas. O DPP (2011), Departamento de Prospectiva e Planejamento e Relações Internacionais de Portugal, acrescenta à densidade,

multifuncionalidade e diversidade, e destaca a continuidade como um fator importante para a mobilidade. Segundo Gentil (2015), os argumentos que favorecem a forma compacta das cidades em relação à promoção da mobilidade urbana são: - Menor consumo de área construída para uma mesma quantidade de pessoas; - Proteção dos recursos naturais; - Maior economia das redes de infraestrutura; - Redução das distâncias entre origem e destino, como residência e trabalho, bem como do número de viagens e tempo; - Maior número de serviços em um menor perímetro; - Maior eficácia do transporte público; - Estímulo a deslocamentos alternativos à utilização do carro; - Redução dos fenômenos de segregação e exclusão social; - Aumento de vida do espaço público. Contudo, Gentil (2015) levanta que não necessariamente a cidade compacta é a melhor forma, quando se trata de mobilidade. A autora ainda cita alguns pontos negativos da compacidade das cidades: - Maior a densidade, mais elevados se tornam os custos de construção e os riscos à saúde; A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 29


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soais. Ainda, segundo levantamento bibliográfico feito por Gentil (2015), algumas variáveis que caracterizam a forma urbana compacta são recorrentes em diversos trabalhos de vários autores. O seguinte quadro resume as características, que podem influenciar na mobilidade urbana, destacadas por cada autor.

Tabela 1 Elementos destacados por cada autor sobre as cidades compactas (Madsen, M. 2015 apund Gentil, C. 2015).

- Possível ocorrência do aumento de congestionamento no caso de densidades muito altas e mal planejamento viário; - Condições precárias de áreas centrais que não correspondam a padrões de conforto; - Diminuição das áreas verdes; - Não comprovação da economia na oferta dos serviços públicos associados à compactação das cidades; - Utilização do carro estar ligada a diversos fatores, como a preferência pessoal; - Proximidade e tempo ser apenas um dos fatores para escolha do trajeto, que depende de preferências pes30 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

CIDADE DISPERSA A cidade dispersa aparece recentemente na evolução histórica da humanidade, segundo Rogers e Gumuchdijan (2001), esse surgimento é motivado por um processo histórico envolvendo o desenvolvimento e a evolução de novas tecnologias em transporte e a resposta à insalubridade das cidades industriais do século XIX, causada principalmente pela superpopulação e infraestrutura inadequada. Assim, as cidades puderam se desenvolver e expandir horizontalmente. No período moderno, principalmente com as ideias urbanas de Le Cobursier, mas antes dele, no final do século XIX, com as cidades-jardins, propostas por Howard, e a busca de outras formas urbanas, como as cidades lineares, de Arturo Soria y Mata, as ideias da dispersão urbana foram mais difundidas. Esta forma tem por principal característica a setorização de usos, o que, segundo Ewing (1997), resulta em uma malha urbana espalhada sobre o terreno resultando em vazios intermediários e baixas densidades. Essa expansão da mancha, muitas vezes suportada pelas redes de transporte que delimitam a cidade e a conectam a outras, faz com que a cidade se afaste cada vez mais do centro urbano – espraiamento urbano – o que limita e dificulta o fornecimento de espaços públicos de qualidade e de serviços à população e que,

Figura 2 Phoenix, Arizona, Estados Unidos. Exemplo do modelo de cidade dispersa. Espraiamento urbano, baixas densidades de ocupação, setorização de usos do solo, muitos espaços vazios , baixa continuidade e conectividade entre os espaços urbanos.

além disso, condiciona a mobilidade a priorizar o veículo individual. Apesar de esse modelo de urbanização, que foi e vem sendo difundido por todo o planeta, em ritmos diferentes e modelos diferentes Mancini (2008) retrata que ele conduz a uma nova realidade espacial que evidencia formas urbanas baseadas em padrões difusos de urbanização com densidades a níveis baixos. Ao analisarmos os problemas causados pela cidade A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 31


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

dispersa, Silva (2008) nos traz que dentre eles estão: - Congestionamentos; - Elevação do consumo energético e, consequentemente, aumento da poluição; - Elevação dos custos da infraestrutura devido a baixas densidades e usos monofuncionais e setorizados; - Segregação socioeconômica e aumento da exclusão social De maneira semelhante ao quadro resumo apresentado no item anterior, Gentil (2015) elabora também quadro a seguir resumindo características citadas recorrentemente por alguns autores em relação à cidade dispersa. A forma urbana dispersa impõe aos habitantes a necessidade de vencer longas distâncias e condiciona à segregação sócio espacial. Ainda, segundo Ojima (2007): “se uma região possui dispersão urbana maior, a necessidade de deslocamentos e meios de transporte também é maior” e, por isso, acaba por gerar um aumento do consumo energético trazendo prejuízos ambientais e econômicos. Obviamente há vantagens da formação dispersa das cidades, como a possibilidade de um maior contato com a natureza em meio urbano e, também, termos estéticos. Entretanto, ressalta-se a dificuldade da facilidade locomoção e, por consequência, a interação social e 32 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Tabela 2 Elementos destacados por cada autor sobre as cidades dispersas (Madsen, M. 2015 apund Gentil, C. 2015).

a falta de benefícios que esta poderia vir a fornecer à população. Em função disso, esse trabalho apoia-se na hipótese de a compacidade mais elevada possuir atributos que podem auxiliar na promoção da mobilidade relacionada ao transporte individual.


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

RELAÇÃO ENTRE FORMA E MOBILIDADE URBANA Entendendo melhor o que é a forma urbana e as características principais das tipologias de formas urbanas acima expostas, infere-se que as cidades que oferecem maior e melhor possibilidade para o desenvolvimento da mobilidade sustentável são as cidades compactas. Contudo, não existem argumentos que afirmam que uma cidade dispersa tenha a mobilidade comprometida. Sabe-se que a mobilidade sustentável da cidade compacta é facilitada em relação à cidade dispersa, visto que aquela possui características na sua forma que são facilitadores da mobilidade afirma Gentil (2015), são elas: densidade, uso do solo, continuidade e conectividade. Essas características não podem ser analisadas isoladamente, mas sim em conjunto, visto que fazem parte de um todo. Entretanto, elas podem sim ser trabalhadas separadamente, melhorando uma em específico sem alterar a outra. Vale afirmar que tal melhoria, se feita de maneira adequada, tem por consequência a melhoria das outras características. Em outras palavras, cada uma das quatro características pode ser trabalha individualmente, mas esse trabalho afeta o conjunto como um todo. Quando confrontadas as tipologias de cidades – compacta e dispersa – e analisadas suas característi-

cas – as quatro facilitadoras da mobilidade supracitadas – percebe-se que na cidade compacta existe uma densidade maior que na cidade dispersa, e, tendo em conta que os usos estão também diversificados para uma mesma área, isso possibilita aos habitantes percorrer distâncias menores que aquelas percorridas por habitantes de uma cidade dispersa, já que a densidade é mais baixa, fazendo com que a própria cidade ocupe uma área física maior, aumentando, assim, as distâncias a serem percorridas. Por outro lado, ao observar a distribuição das funções para uma mesma área urbana, na cidade compacta há áreas com maior diversidade de usos, ou seja, residência, comércio, instituições e lazer muitas vezes são localizados próximos um aos outros ou se não no mesmo conjunto arquitetônico, isso possibilita e estimula a movimentação de pessoas de um lugar para outro, já que podem resolver suas diferentes necessidades em um mesmo lugar ou um lugar bem próximo. Ao contrário, a cidade dispersa possui, muitas vezes, uma setorização marcante em sua malha: áreas bem delimitadas, e às vezes grandes, que servem somente à uma função urbana, uma para residência, outra para o comércio, outra para instituições, e assim por diante. Isto, aliado à baixa densidade e à dificuldade de articulação espacial, intensifica a necessidade de um movimento pendular, às vezes longo, concentranA ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 33


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

do também um grande fluxo em determinadas horas do dia, causando, muitas vezes, grandes congestionamentos, fator este que prejudica a dinâmica urbana. Do ponto de vista da continuidade espacial, ou seja, a relação entre cheios e vazios existentes numa cidade. A cidade compacta possui menos vazios, ou seja, menos áreas com uso indefinido, causa da sua alta densidade. Isso ajuda a dinâmica da cidade e facilita a mobilidade urbana criando conexões, diminuindo o percurso e economizando no custo da infraestrutura urbana. Por outro lado, a cidade dispersa possui uma descontinuidade grande, gerada por alto nível de espaços vazios e de uso indefinido dentro da cidade. Consequência disso é a dificuldade de deslocamento urbano, maior sensação de insegurança sofrida pelos cidadãos, a dificuldade de articulação da cidade com suas áreas menores e, também, a implantação da infraestrutura urbana, já que esta torna-se mais cara para ser executada. Por último, mas não menos importante, temos o fator da conectividade ou acessibilidade, que é o fator proveniente do desenho urbano, do tratamento dado ao espaço público. As cidades compactas por possuírem uma maior densidade e poucos espaços vazios em sua malha, possuem um maior número de conexões e de acessos. A cidade dispersa, porém, não possui tal facilidade de conectar seus espaços, visto que há uma dificuldade de arti34 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

culação pela descontinuidade, entretanto, nada impede que seus espaços possam ser tratados de maneira adequada, tornando-os mais convidativos ao uso, a única dificuldade vista aqui seria o maior custo da implantação de tal desenho quando comparado à cidade compacta. Percebe-se que dentro das quatro características que facilitam a mobilidade urbana, aquela que diz respeito ao tratamento dos espaços públicos – a conectividade – é um ponto em comum às duas formas urbanas, no sentido que pode ser tratado de maneira idêntica em ambas as formas. O quadro seguinte, resume os fatores que, segundo Gentil (2015), caracterizam a forma urbana e a influência que vêm a ter sobre à mobilidade sustentável, e traz uma sistematização que visa auxiliar urbanistas e planejadores urbanos a melhor explorar alguns parâmetros urbanísticos que podem facilitar os deslocamentos.


CAPÍTULO 2 | A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E A FORMA URBANA

Fatores relacionados à forma urbana compacta

Influência na Mobilidade Urbana Sustentável

Densidade

A densidade é influenciada pelos índices urbanísticos (taxa de ocupação, índices de aproveitamento, gabarito). Criar uma diversidade urbana de tipologia de habitações, diferentes densidades, tamanhos diferentes de terrenos públicos ou privados implicaria em menor segregação espacial e poderia também influenciar a mobilidade urbana porque é um atributo condicionador da densidade. O aumento da densidade pode auxiliar na redução das viagens por veículo se planejado junto com a oferta de transporte público e uso misto do solo. Baixa densidade impacta de forma negativa a mobilidade urbana.

Características do uso do solo urbano (uso misto, multifuncionalidade/uso singular)

Promover o uso misto e maior proximidade entre as diversas atividades pode reduzir a necessidade do automóvel e facilitar na construção de uma rede de transporte mais eficiente e integrada. Uso singular ou zoneamento rígido pode gerar mais deslocamentos no tecido urbano, impactando de maneira negativa na mobilidade urbana.

Continuidade

Tendência à limitação do processo de expansão urbana. Crescimento próximo ao centro. Preenchimento dos espaços vazios, requalificação dos espaços degradados. A expansão das cidades é um fator que gera mais viagens de automóvel.

Características do desenho urbano/ (conectividade/ acessibilidade)

As características do desenho urbano podem auxiliar na redução de viagens de automóvel, principalmente se o mesmo permitir articulação com o serviço de transporte público por meio de melhor conectividade e acessibilidade entre ruas, calçadas e ciclovias. Dependendo da concepção do desenho urbano, pode-se atribuir em determinadas áreas urbanas uma maior ou menor utilização para os transportes nãomotorizados ou transporte público, reduzindo a dependência do automóvel.

Tabela 3 Relação de fatores da Forma Urbana e suas influências na Mobilidade Sustentável. (Madsen, M. 2015 apund Gentil, C. 2015). A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 35



CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA



CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA COMO PROMOVER A MOBILIDADE NUMA ÁREA PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE? A ESCALA DO PEDESTRE NO PLANO PILOTO

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CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA Decidida a transferência da capital e escolhida a área onde se localizaria o Distrito Federal em 1956, foi lançado o edital do concurso para a escolha do melhor plano urbanístico para a cidade. O projeto vencedor foi criado por Lucio Costa, o Plano Piloto de Brasília fora concebido com conceitos da arquitetura Moderna, os quais eram defendidos e difundidos por Lucio, assim seu plano sofreu influências de repertório de obras do franco-suíço Le Corbusier, como a Ville Contemporaine (1922) e a Ville Radieuse (1930-35), sendo o projeto da Nova Capital uma versão “beaux-arts” de cidade linear associada a soluções rodoviaristas, também de influência corbusiana, segundo Ficher (2010). No urbanismo, a tecnologia fez com que surgisse maior impacto sobre a sociedade foi o advento dos carros, dos trens, dos bondes, enfim, do transporte de pessoas que vencia longas distâncias. Com isso, acadêmicos e profissionais, estudavam novas formas para a cidade, o que gerou a criação de cidades com características de dispersão, e fundamentas na locomoção através do automóvel, as cidades ganhavam vias e vias que priorizavam o fluxo dos automóveis, ao invés do fluxo das pessoas, conceito que foi tratado como rodoviarista. Outra proposta muito recorrente dentro das concepções modernistas é a setorização. Como o meio de 40 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

transporte do carro fora muito bem aceito pela sociedade, sobretudo pela sua elite, os urbanistas modernos iniciaram a separar os locais de trabalho das residências, por exemplo, criando um o zoneamento do uso do solo. Acreditava-se, com isso, na ordem urbana, no sentido que se se ordenasse as zonas como comércio, residência, trabalho e lazer, ter-se-ia, como fruto dessa ordem urbana, uma nova ordem social. Assim, como extremo dessa ordenação por zonas de atividades, tem-se a setorização, ou seja, um setor da cidade que é específico para uma atividade enquanto outro setor é específico para outra atividade.

Figura 3 Escala Residencial de Brasília. Modelo de cidade dispersa.


CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

Figura 4 Superquadra de Brasília. Baixa densidade, pouca variação de uso do solo e descontinuidade dos espaços urbanos.

Ainda, utilizando a linguagem moderna para ocupação do solo: edifícios lineares, erguidos por pilotis, cercado de área verde e – no caso de Brasília – com o gabarito limitado a 6 pavimentos, caracterizam a baixa densidade e descontinuidade urbana, criam uma dificuldade de articulação. Estes conceitos que foram aplicados em Brasília fazem com que a cidade tenha aspectos morfológicos de dispersão, o que, por si só, implica negativamente na mobilidade sustentável. As patologias que este modelo urbano demons-

tra na locomoção são facilmente percebidas: congestionamentos, dificuldade de locomoção a pé, monotonia espacial, insegurança gerada por predominância de espaços vazios em relação aos espaços cheios, dificuldade de articulação e integração. Baseada nesses princípios, Brasília é uma cidade que possui um desenho urbano diferente, que se caracteriza por dois eixos que se cruzam, “como quem marca um lugar e dele toma posse [...] um dos eixos, porém levemente arqueado, para acompanhar a topografia”². O eixo arqueado – Eixo Rodoviário ou simplesmente Eixão – é definido pelas vias de circulação, principal e adjacentes, possui amplos espaços horizontais, seguido de muitas áreas verdes acompanhadas de vegetação, e ao longo desse eixo foram localizadas a área residencial da cidade, inseridos nesta vegetação, muitas vezes quase escondidos, tem-se os edifícios residenciais, quase todos lineares erguidos por pilotis, este eixo caracteriza a Escala Residencial da cidade. Ao longo do outro eixo, o Eixo Monumental, estão os edifícios principais e os monumentos, os quais são símbolos do poder político, econômico e cultural da cidade e do país, o que caracteriza a Escala Monumental da cidade. ² Lucio Costa referindo-se ao desenho adotado no Relatório do Plano Piloto de Brasília. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 41


CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

No cruzamento entre os eixos se dá a convergência de pessoas, localizada a Rodoviária e ao redor desse ‘x’ todas as outras funções da cidade – comércio, escritórios, diversão e cultura – todas geradoras trabalho e lazer à população, sendo o ponto de encontro das pessoas, esta é a Escala Gregária. E em torno da cidade e inserida nela está a vegetação e o verde, dando-lhe caráter de cidade-jardim, o que, basicamente, caracteriza a Escala Bucólica de Brasília. É, portanto, com base nessas quatro escalas, desenvolvidas pelos conceitos do Modernismo, que se desenvolve a forma urbana de Brasília. E tal fato faz da Capital Federal um conjunto urbano diferente de todos os outros, o que lhe rendeu o seu tombamento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1987. Entretanto, a documentação que rege este instrumento é bem rígida, no que diz respeito à alteração da sua forma urbana, gerando impedimentos e especulações para atuações no campo urbanístico. Estas limitações de atuação no espaço urbano, refletem-se na mobilidade de pedestres dentro da cidade.

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CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

COMO PROMOVER A MOBILIDADE NUMA ÁREA PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE? Brasília possui a maior área tombada no mundo com o título de Patrimônio Mundial da UNESCO, abraçando todo o seu conjunto urbanístico e arquitetônico, baseado na maneira como foi concebida. A Lei nº 47, de outubro de 1989, dispõe, em nível nacional, sobre o tombamento da capital federal. Enfatiza a necessidade de equilíbrio entre as escalas monumental, gregária, residencial e bucólica, que estruturam a forma espacial de Brasília, e orienta os mecanismos de salvaguarda do patrimônio histórico brasiliense. A Portaria nº 314 do IPHAN³, de outubro de 1992, é o principal documento relativo ao tombamento de Brasília e será com base em seus artigos que este trabalho discorrerá sobre as possibilidades de intervenções no Plano Piloto intentando diretrizes que gerem a melhoria dos espaços e, por consequência, da mobilidade sustentável. Portanto o Artigo 1° define os limites de preservação do conjunto urbanístico do Plano Piloto de Brasília. E o Artigo 2° define que a manutenção será assegurada pela preservação das características essenciais das quatro escalas, a saber: Residencial, Bucólica, Gregária e Monumental, ou seja, o conjunto urbanístico de Brasília é tombado pelas escalas da ci-

dade que definem os seus usos e, consequentemente, a sua forma urbana. Os seguintes artigos definem as características de cada uma dessas escalas. No que tange a Escala Residencial, objeto de estudo desde trabalho, o referido documento diz que ela é responsável por propiciar aos habitantes uma nova maneira de viver, própria de Brasília, e que se configura ao longo das Asas Sul e Norte do Eixo Rodoviário Residencial. Ainda descreve quais são as características que devem ser preservadas para a salvaguarda da escala residencial do Plano Piloto, são elas: - Cada superquadra, nas asas sul e norte, contará com um único acesso para transporte de automóvel e será cercada, em todo seu perímetro, por faixa de 20,00m (vinte metros) de largura com densa arborização; - Os edifícios residenciais das superquadras numeradas sequencialmente de 102 a 116, de 202 a 216 e de 302 a 316 terão 06 (seis) pavimentos, sendo edificadas sobre piso térreo em pilotis, livre de quaisquer construções que não se destinem a acessos e portarias; - E das numeradas de 402 a 416, três pavimentos, edificadas sobre pisos térreos em pilotis livres de quais³ O referido documento foi atualizado em maio de 2016, pela Portaria 166/2016. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 43


CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

quer construções que não se destinem a acessos e portarias; - A taxa máxima de ocupação para a totalidade das unidades de habitação conjuntas é de 15% da área do terreno compreendido pelo perímetro externo da faixa verde anteriormente citada; - Serão permitidas pequenas edificações de uso comunitário com o máximo de um pavimento; - Os comércios locais da Asa Sul deveram sempre ser edificados na situação em se encontravam naquela data – outubro de 1992; As entrequadras destinam-se a edificações para atividades de uso comum e âmbito adequado às atividades de vizinhança próximas, como ensino, esporte, recreação e atividades culturais e religiosas. O Artigo 5° diz que o Eixo Rodoviário-Residencial deverá ter suas características originais respeitadas, mantendo-se o caráter rodoviário que lhe é inerente. Mais adiante, sobre a Escala Bucólica, o Artigo 8º diz que deverá ser preservada por conferir a Brasília o caráter de cidade-parque. Esta escala está configurada, segundo o documento em corrente debate, em todas as áreas livres existentes, destinadas à preservação paisagística e ao lazer. Para preservação da característica cidade-jardim, o verde, que confere a cidade o aspecto bucólico desejado, deve existir. 44 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Não há dúvidas que a preservação de Brasília deve ser feita, visto que é uma cidade que já nasce histórica, mostrando a força política e econômica que o país teve à época através da expressividade e representatividade que teve a arquitetura e urbanismo brasileiros, mesmo que influenciados por conceitos que marcaram uma época – Modernismo. Contudo a preservação não deve ser alheia à ação do tempo, à evolução e desenvolvimento de tecnologias que resultam nem melhoria na qualidade de vida dos cidadãos e influenciam, principalmente, a dinâmica urbana, conseguindo resolver assim problemas que surgiram e não foram previstos nem por Lucio Costa e nem por Juscelino Kubitscheck, como a expansão urbana, o crescimento populacional e outros problemas contemporâneos que impactam, sobretudo, a mobilidade urbana. Entendendo melhor as bases conceituais por traz de Brasília e os documentos relacionados a preservação do seu conjunto urbanístico, veremos como se dá a mobilidade sustentável no Plano Piloto, cuja maior parte da sua vida urbana, gira em torno da replicação das unidades de vizinhança ao longo da Escala Residencial, onde se localizam residências, escolas, comércio e serviços – em escala local – e lazer, são, portanto, pontos de interesses para pessoas.


CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

A ESCALA DO PEDESTRE NO PLANO PILOTO Os espaços públicos de Brasília não foram projetados para a circulação do pedestre, mas sim priorizam os carros, este fato faz com que se deixe de lado aquilo que traz vida às cidades: a presença e circulação de pessoas no espaço urbano. A forma urbana das superquadras de Brasília se caracteriza pela dispersão: baixa densidade, espaços vazios, descontinuidade espacial e dificuldade conexão entre os pontos de interesse. Características que não promovem a mobilidade sustentável nas áreas. Por exemplo, a figura 1 abaixo, mostra o mapa de barreiras de uma unidade vizinhança da capital federal.

Figura 5 Mapa de barreiras do recorte a ser estudado na pesquisa (Madsen, M. 2015).

É possível perceber a falta de clareza que os espaços definidos pelos edifícios proporcionam: a abundância de vazios faz com que haja dificuldades na continuidade espacial e que, muitas vezes, gera desorientação ao pedestre. A falta de conexão entre pontos de interesses referida, possibilita, com frequência, o surgimento de caminhos alternativos, como mostra a figura 2.

Figura 6 A abundância de vazios produz o surgimento de caminhos alternativos: desconexão entre pontos de interesse.

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CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

A setorização de áreas urbanas, grandes áreas com uso específico de funções – setor hoteleiro, comercial, bancário, etc. – articulados através de execução baseada em conceitos rodoviaristas, que priorizam o fluxo de automóveis, resolve muito bem os deslocamentos o que para grandes distâncias não é um problema. Contudo o problema é que essa ideai se repete para escalas menores, nas quais a circulação de pedestres deveria ser prioridade. Isso prejudicando a conexão de espaços que são, até mesmo, muito próximos, como ilustra a figura 3 a seguir.

Figura 7 Comércio local entre superquadras divido pela via de automóveis.

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No exemplo, há a divisão das áreas de um comércio local entre quadras residenciais para priorizar o fluxo de veículos motorizados. A divisão impede a boa fluidez do fluxo de pedestres, dificultando a conexão e comunicação entre partes, até mesmo, muito próximas. Percebe-se, assim, que há dificuldade de deslocamentos para o pedestre em maior e menor escala, causado por uma série de fatores. Gehl (2013) defende a importância que tem a projetação urbana ao nível do pedestre, ou seja, respeitando sua escala e suas percepções, para a cidade e para qualidade de vida das pessoas. O autor defende, ainda, que é fundamental para uma cidade ter vida urbana ativa e dinâmica e para isso é preciso ter pessoas vivendo seus espaços e, de maneira recíproca, tais espaços devem oferecer atrações às pessoas, tornando-se convidativos. Speck (2010) diz que, ao longo do percurso de pedestre, deve existir entretenimento para as pessoas, isto lhes traz estímulos e curiosidades para que continuem caminhando, fazendo com que as pessoas tenham a sensação que o tempo passou mais rápido, o que torna o percurso agradável. O autor reforça esta ideia como uso comercial e suas vitrines. Ambos os autores defendem o planejamento territorial com a variedade de usos e ocupação do solo,


CAPÍTULO 3 | CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DA FORMA URBANA DE BRASÍLIA

isto faz com que as pessoas tenham diferentes atividades em diferentes horários, e “introduz”, por assim dizer, mais pessoas nos espaços urbanos, aumentando seu uso. Contudo, é fundamental a disponibilização e preservação de um espaço de qualidade, com mobiliário urbano, tratamento adequado de calçadas, nivelamento para a acessibilidade universal ao nível do térreo, fatores que facilitem e estimulem as pessoas a usufruírem do espaço urbano. Diante da compreensão das características que possam interferir positivamente na mobilidade sustentável dos espaços urbanos de Brasília, alta densidade, uso misto, conectividade e continuidade, entende-se que não se pode nem alterar os usos do solo, nem elevar o gabarito de construções no Plano Piloto, visto que a legislação vigente ao tombamento não permite tais mudanças, isto alteraria as escalas de preservação do patrimônio modernista, colocando-o em risco. Ainda, a baixa densidade, os usos restritos mais a presença de espaços vazios configuram uma desarticulação e consequente descontinuidade da malha urbana da capital, descartando outra característica que poderia promover a mobilidade sustentável. Por último, a conectividade, única dentre as quatro características que pode ser trabalhada igualmente

nos dois modelos de cidade – compacta e dispersa – sendo ela, basicamente, responsável por conectar os pontos de interesse – residência-comércio, residência-ponto de ônibus, por exemplo – através do desenho dos espaços urbanos, e os elementos que o configuram, é identificada como característica a ser trabalhada para favorecer os deslocamentos do pedestre. Tendo em vista que o desenvolvimento desta característica não fere o tombamento do conjunto urbanístico de Brasília, e, quando trabalhada adequadamente, influencia diretamente na continuidade dos espaços, melhorando outra característica da forma urbana. Em outras palavras, trabalhando a característica da conectividade da forma urbana é possível costurar melhor os espaços urbanos, integrá-los através do desenho urbano, permitindo que haja uma fluidez maior para a circulação de pessoas, estimulando e incentivando a mobilidade sustentável. Dito isso, veremos a seguir quais são os elementos configuracionais do espaço urbano que melhoram a conectividade da forma urbana, favorecendo os deslocamentos a pé, e como eles se apresentam para as pessoas.

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CAPÍTULO 4

ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES



CAPÍTULO 4

ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES IDENTIFICAÇÃO DA NATUREZA DE ELEMENTOS DO 51 ESPAÇO URBANO QUE COMPÕE A MOBILIDADE DO PEDESTRE PASSEIO 55 BARREIRA 57 PONTO DE DESCANSO 59 ACESSO 60 MOBILIÁRIO URBANO 62


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES O modelo urbano disperso de Brasília e a legislação do tombamento possibilitam poucas alterações com relação à forma urbana. Entretendo, a característica da conectividade é a que pode ser trabalhada da mesma maneira, tanto na cidade compacta quanto na cidade dispersa, influenciada, somente, pelo fator financeiro. Assim, este capítulo tem como intenção estudar como se dá a conectividade dos espaços urbanos, observando sua formação através dos elementos que o configuram, e o seu respectivo desempenho, de modo a favorecer a mobilidade sustentável de áreas urbanas. Posteriormente, veremos como eles se comportam no Plano Piloto. Ainda, entendendo que para que os elementos configuracionais do espaço urbano desempenhe bem sua função – conectando espaços – estes devem possuir atributos que o qualificam frente aos seus usuários. Sendo assim, procuraremos responder a duas perguntas a seguir: quais são os elementos, que compõe os espaços urbanos e, consequentemente, a conectividade deles, que podem facilitar ou dificultar o deslocamento do pedestre dentro do tecido urbano? E quais são atributos que estes espaços devem fornecer que seja incentivado o seu uso pelas pessoas, tendo um ótimo desempenho de sua função? 52 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

A primeira procura identificar quais são estes elementos dentro do espaço urbano e a segunda, sugere uma maneira adequada com a qual eles devem ser tratados.


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

IDENTIFICAÇÃO DA NATUREZA DE ELEMENTOS DO ESPAÇO URBANO QUE COMPÕE A MOBILIDADE DO PEDESTRE Reforçando a ideia de que o pedestre utiliza um modo de transporte que é muito eficiente do ponto de vista energético, ou da sustentabilidade, caracterizando, assim, um modal de transporte sustentável, é necessário que, para seu deslocamento, exista um espaço adequado. Vários autores citam elementos que compõem a paisagem urbana, e com leituras diversas. Para Lynch (1960) a cidade é formada por uma série de elementos que retratam configuram a imagem urbana, elementos estes que possuem uma força (imagibilidade) e dão uma leitura clara da cidade e sua estruturação (legibilidade). Já Cullen (1983) se preocupa com elementos que formam a paisagem urbana, que ele define como a “arte de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano”. Contudo, ambos os autores se referem a elementos que compõem a forma urbana, mas com fins em objetivos visuais, sem citar objetivos propriamente funcionais. Por outro lado, Gehl (2013) reforça a funcionalidade dos espaços urbanos para os pedestres respeitando sua escala e de tal modo que este espaço favoreça o deslocamento das pessoas por ele. Sendo assim, enten-

dendo o espaço urbano como uma paisagem configurada por elementos e que o conjunto destes elementos desempenham uma função para as pessoas – conectar espaços e promover o deslocamento a pé – são identificados os seguintes elementos como configuracionais da forma urbana:

elementos passeio Via pela qual transitam os pedestres, deve seguir os fluxos de pessoas na área urbana e pode haver uma hierarquia entre ele, determinada de acordo com o fluxo, ou seja, se o fluxo é maior, tal passeio deve comportar este fluxo. O direcionamento correto e a qualidade deste espaço são fundamentais para estimular as pessoas a utilizarem-no. Vale ressaltar a diferença de passeio e calçada, enquanto o passeio serve a canalização do fluxo de pessoas, a calçada contém faixas distintas com funções diversas, das quais uma dessas faixas é o passeio (Gondim, 2010).

barreira Este elemento interrompe a continuidade do fluxo por A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 53


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

algum motivo, sendo ora um obstáculo indesejado ou um guia, ajudando a canalizar o passeio e mantê-lo conectado aos espaços e pontos de interesse. As barreiras podem ter uma natureza física, ou palpável, como é o caso de um muro, um edifício, um rio ou um relevo no terreno, ou de natureza intangível e subjetivo, por exemplo uma via de alta velocidade ou uma barreira cultural.

pontos de descanso Espaços reservados aos pedestres descansarem, obterem informações ou simplesmente passarem o tempo, é composto por mobiliário urbano adequado, arborização, pavimentação adequada e diferenciada daquela do passeio e sinalização. Pode ser uma praça ou uma simples área de descanso inserida no percurso de um passeio, servindo também como ponto de encontro.

acessos Este elemento diz respeito a transição de um espaço para outro, seja ele o encontro entre duas vias com finalidades distintas ou de espaços privados para espaços públicos. É, também, referente a ele o nível dos dois espaços que se encontram, tal nivelamento favorece a continuidade espacial, evitando que alguns usuários alterem muito suas rotas para acessar o local desejado. Alguns exemplos são rampas, faixas de pedestres, acessos a estacionamentos, 54 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

nivelamento entre via de carro e via de pessoas, entre outros.

mobiliário urbano fundamental para humanização e urbanização da área, aqui encaixam-se elementos como bancos, postes de iluminação, pontos de sinalização e informação, etc. Quando trabalhados com qualidade, fornece estímulo do uso do espaço público, criação de identidade e orientação dos usuários na área urbana. Como dito, estes elementos favorecem a conexão de áreas urbanas e tem um desempenho na locomoção do pedestre. Gondim (2010) ressalta a importância dos pedestres dizendo que no desenho sustentável, pedestres, ciclistas e transporte público devem ser prioridades, assim, o desenho dos espaços urbanos deve contribuir para facilitar os movimentos de todos, oferecendo segurança e conforto, tornando a rua um espaço universal. Também traz que o desenho urbano deve atender condições com relação as percepções dos pedestres e cita Ramsay (1995), que diz que a sustentabilidade do transporte não motorizado está associada aos seguintes requisitos básicos: - Acessibilidade a diferentes setores da cidade; - Negociabilidade nas interseções ou percursos


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

com outros modais; - Eficiência de percurso evitando desvios e congestionamentos; - Segurança nos trajetos, cruzamentos e estacionamentos; - Conforto ambiental evitando condições climáticas penosas; - Amenidade de modo a prover uma agradável experiência ambiental Sendo assim, para que os elementos atendam principais necessidades básicas do pedestre, serão qualificados com relação a algumas dessas sensações, essenciais a um ambiente urbano de boa qualidade. A acessibilidade pode ser lida através da eficiência dos acessos, no espaço urbano. A negociabilidade nas intersecções de percursos pode ser resolvida com o mobiliário urbano e os acessos entre estes percursos. E, por fim, a eficiência de um percurso tem a ver com a com a eficiência do passeio. Assim, dentre os requisitos básicos, atribuídos como sensações percebidas pelas pessoas ao usarem os espaços públicos, usaremos os seguintes para qualificar os elementos configuracionais de áreas urbanas:

atributos segurança Importante fator para manter o uso dos espaços públicos. O planejamento da segurança de pedestres deve contar com aspectos como a adequação do desenho de maneira a evitar e resolver conflitos, de modo que estimule as pessoas a utilizarem os espaços. O mobiliário urbano tem um importante papel para combater os possíveis conflitos dos espaços públicos. Dentre alguns, destacamse a sinalização vertical e horizontal, a iluminação e demais elementos que forneçam proteção e garantam os usos adequados do espaço, sem riscos aos usuários

conforto Transmite a sensação ao usuário de bem-estar, físico e psicológico. Meios naturais ou artificiais para combater a poluição visual e atmosférica, a poluição sonora e diminuir a insolação direta, melhorando o conforto térmico. A segurança também se relaciona à sensação de conforto psicológico.

amenidade Relaciona-se com as boas condições do espaço, o que lhe confere boa qualidade. Pavimento que transmite preocuA ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 55


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

pação com o material, execução e manutenção, arborização e iluminação nas rotas contribuem para estimular as caminhadas. A qualidade da arquitetura e do uso do solo, pode contribuir para tornar o percurso mais atrativo, estimulando a transferência do transporte motorizado para o deslocamento a pé ou de bicicleta. Entendendo que os atributos se comportam como representado na figura 4 abaixo, isto é, eles estão ligados entre si e se influenciando, e a obtenção destes três atributos quer dizer o melhor desempenho da função por parte do elemento configuracional, contribuindo com a conectividade do espaço e com a locomoção que ele propiciará.

Figura 8 Esquema de comportamento dos atributos..

56 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Sabendo, ainda, que existem bons exemplos de cidades ao redor do mundo cujo desenho urbano preserva e estimula a vida nos seus espaços, como é o caso de Barcelona, na Espanha, e Copenhague, na Dinamarca. A seguir utilizaremos exemplos dessas cidades como parâmetros, porém referindo-se somente aquilo que favorece a conectividade dos espaços urbanos, característica comum aos modelos de cidades compacta e dispersa. Portanto, utilizando os elementos escolhidos e qualificando-os com base nos atributos selecionados e utilizando como parâmetro os casos exitosos de desenho urbano citados, entenderemos como se dá a apresentação destes atributos nos elementos do espaço urbano e seu impacto para que favoreçam a conectividade dos espaços e sua mobilidade sustentável.


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

exemplo de casos exitosos PASSEIO Este elemento tem por finalidade canalizar o fluxo dos pedestres de um ponto de interesse a outro, podendo este ser um ponto de ônibus, edifícios, parques, etc. Um Figura 9 Esquema passeio que liga mais de dois pontos funcional do passeio. de interesse torna-se um passeio Ligação entre pontos. com atrativos para as pessoas. Sua eficiência se dá ao guiar o fluxo existente de maneira clara, ou seja, evitando os conflitos e rodeios e conectando os pontos de interesses. Ainda, no que diz respeito à sua qualificação como espaço, deve existir uma pavimentação em boas condições de uso (execução e manutenção adequados) e evitar obstáculos que possam atrapalhar os usuários. Os passeios bem trabalhados oferecem aos usuários atrativos, que podem ser trabalhados tanto com o paisagismo e com a arquitetura. No exemplo da figura 5, acima, observa-se uma típica rambla espanhola, um passeio de forma linear bem alongada, que liga diversos pontos diferentes da cidade e possui também diversos atrativos para as pessoas. Entre uma série de fatores que tornam o passeio mais agradável,

Figura 9 Rambla Just Oliveras, L’hospitalet de Llobregat, Barcelona, Espanha. Passeio com impacto positivo para a mobilidade sustentável.

está a boa qualidade do pavimento, sombreamento do percurso com arvores e a presença de diversos elementos que fazem com que as pessoas se sintam “entretidas em caminhar”. Ressalta-se que as ramblas espanholas são ótimos exemplos de espaços urbano, visto que estão inseridas em um contexto de compactação urbana, são voltadas para a área central da caixa viária, através das aberturas de comércio e serviços, em geral, é um espaço para a comunidade com forma linear ligando vários pontos de interesse por onde passa, são prioritariamente para as pessoas caminharem, tendo apenas acessos de veículos para emergência e abastecimento, possuem mobiliário urbano, pontos de descanso, sombreamento, iluminação, arborização e nivelamento do piso. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 57


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

Quando um local não há caminhos definidos torna árido e longo o percurso e faz cada pedestre estabelecer o seu caminho não gerando o encontro e a animação dos espaços. A tendência no caso a seguir, figura 6, é que os usuários passando pelo caminho que mais lhes convém, surgindo deste modo os chamados “caminhos de rato”. Passeios em péssimas condições de manutenção

Figura 11 Passeios em más condições. Descaso com o espaço urbano geram impactos negativos na mobilidade sustentável.

Figura 10 “Caminhos de rato” próximo à L2 Norte, Brasília. Resposta das pessoas para um espaço que impacta negativamente na mobilidade sustentável

ou de execução, como mostrados figura 7 abaixo, desestimulam as pessoas a passarem por eles, ou, também, podem ser uma barreira para as pessoas que têm alguma necessidade especial de locomoção. Para que um passeio seja importante na promoção 58 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

da mobilidade sustentável, não basta somente que ele seja direto na conexão entre dois pontos, mas também deve haver um cuidado na sua execução, na sua manutenção e nos materiais utilizados, estes devem ser adequados ao local e possuir boas qualidades, para não se tornarem problemas posteriores, e, por último, a presença de elementos que favoreçam o bem-estar das pessoas que passam por ali, como árvores e sombras, incentivando que as pessoas os utilizem de forma amena, segura e confortável


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

BARREIRA Este elemento impede a continuidade do fluxo de pessoas seja dificultando ou facilitando que o pedestre alcance seu objetivo, Figura 12 Esquema ou seja, a barreira pode-se tornar funcional da obstáculo ou guia para o fluxo de barreira. Interrupção no fluxo. pessoas. De modo geral, as barreiras que funcionam com guias, canalizam o fluxo de pedestres para outra parte onde o fluxo pode continuar com mais segurança e conforto. Podem ser uma guia que separa uma via de uma calçada, oferecendo segurança aos pedestres ou uma proteção às margens de um rio que canaliza o fluxo até uma ponte. Ao invés disso, aquelas que exercem função de obstáculos, estão ali indevidamente e devem ser superadas por parte do pedestre, elas podem ser, por exemplo; uma via rápida que necessita ser atravessada pelas pessoas (o pedestre pode ser guiado por meio de passarelas ou por meio de passagens subterrâneas); ou um passeio em más condições que obriga, principalmente as pessoas em condições especiais a fazerem uma estrada mais longa para superar esta barreira; ou, ainda, um obstáculo topográfico, uma vala ou um monte.

Figura 13 Passarela elevada para pedestres e ciclistas, Copenhague. Impacto positivo na mobilidade sustentável por meio da barreira.

Acima, a figura 8 mostra uma passarela elevada para pedestres e ciclistas em Copenhague, as barreiras das bordas, além de garantir a proteção dos usuários, serve de guia para eles ao longo do trajeto, conferindo segurança as pessoas que utilizam esta passarela.

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CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

Figura 14 Piquetes inseridos no meio da calçada. Barreira com impacto negativo na mobilidade sustentável: obstáculo a ser superado.

Por outro lado, a figura X representa uma barreira que impacta negativamente na mobilidade sustentável, um claro obstáculo colocado em meio ao passeio. Outro tipo de barreira, são as topográficas, como da figura 9. O enorme paredão de terra mostra-se como um muro que intimida e limita muito a circulação de pedestres, e forma uma barreira para a conexão entre as áreas urbanas maiores. Portanto um elemento de barreira que exerça uma função positiva para a locomoção dos pedestres, quando inserido no meio urbano, deve servir como guia de fluxo e, ao mesmo tempo, de proteção contra algum fator externo a ela conferindo a proteção dos usuários. E, ainda, os materiais utilizados, o modo como foi executada e a 60 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Figura 15 Paredão topográfico no setor bancário sul. Barreira topográfica

manutenção devem garantir conforto e bem-estar aos pedestres havendo, portanto, qualidade superior. Vale ressaltar, que detalhes acrescentados adequadamente às barreiras, como mobiliário urbano ou detalhes de execução, confere valor positivo quando a sensação de bem-estar dos pedestres.


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PONTO DE DESCANSO Os pontos de descanso criam ritmo ao caminho, possibilitam a parada e o encontro das pessoas. Um ponto de descanso deve respeitar a Figura 16 Esquema funcional do quantidade de pessoas que passam ponto de descanso. no local. Exemplos de pontos de Oferecem ritmo aos descanso são praças e áreas de estar passeios. inseridas ao longo de passeios. O conforto e a amenidade oferecida aos usuários por este elemento configuracional será função, basicamente, do mobiliário urbano nele inserido, ou seja, arborização adequada, lugares para se sentar tais como bancos e sinalização para a orientação e informação. Contudo, o estímulo ao uso do espaço é um fator que

pode ser potencializado se o local possui uma boa qualidade de pavimentação, mobiliário, boa distribuição de sombra, iluminação, etc. Desta maneira, a presença dos pontos de descanso estimula ainda mais que as pessoas usufruam do espaço urbano. A figura 11 ao lado representa um passeio à beira da praia em Barcelona. É possível observar os pontos de descanso ao longo dele, voltados para o mar, para a vista. Vale ressaltar ainda, a qualidade do pavimento, bem como a presença de árvores. Contudo, o mau tratamento destes elementos, como falta de iluminação, degradação do mobiliário, baixa qualidade da arquitetura, entre outros, resulta na inutilização da área, transmite sensação de abandono, aumentando a sensação de insegurança e desestimulando o uso da cidade, como pode ser observado na figura 11.

Figura 17 Passeio à beira da praia, em Barcelona.

Figura 18 Pontos de descanso em péssimas condições, A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 61


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

ACESSO O acesso se caracteriza como a transição de um tipo de espaço para outro, seja de uma área pública para uma privada ou de áreas com diferentes tipos de usos do solo, como uma destinada à pedestres e a outra aos carros. A interface entre tais espaços deve ser Figura 19 Esquema funcional do acesso. trabalhada de tal modo a garantir a O nivelamento é muito importante acessibilidade de todos às duas áreas sendo o nivelamento o aspecto a ser para a conectividade. trabalhando. Os nivelamentos adequados nos passeios e espaços urbanos possibilitam que as pessoas se locomovam com maior facilidade, sem obstruções, já que podem olhar ao seu redor ao invés de fixarem o olhar no chão. Assim os passeios são mais amenos e mais confortáveis. São exemplos dessas transições no espaço público são as interseções entre via de pedestres e via de carros ou o acesso dos diferentes modais num mesmo espaço como pedestre, ciclistas e motoristas. A figura 12 nos traz uma bifurcação com dois exemplos de tratamentos dos acessos: a esquerda, primeiramente há a sinalização por placas e sobre a via, dizendo que a área é uma área prioritária para pedestres e a velocidade é limitada (a 20km/h), sendo assim a via eleva-se 62 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

Figura 20 Ruas em Barcelona. A imagem traz dois exemplos de tratamento dos acessos dentro do espaço urbano com impactos positivos na mobilidade sustentável.

para se igualar ao nível da calçada, mostrando a prioridade que o pedestre tem em relação ao automóvel. Tanto os avisos, mas, principalmente, o fato das calçadas serem interligadas por um mesmo nivelamento garantem o conforto, a segurança e a amenidade do percurso. O segundo exemplo a direita, na mesma imagem, observa-se que é a via de automóveis que tem o fluxo prioritário, sendo assim, há a faixa de pedestres sinalizada sobre o pavimento e há a rampa de acesso, garantindo o fluxo de pessoas de maneira amena. Por outro lado, a falta do nivelamento necessá-


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

rio entre as vias causa inacessibilidade para alguns. A figura 13 nos dá o exemplo concreto. Vias sem essa preocupação com a comunicação entre os níveis tornam-se barreiras para algumas pessoas, dificultando e restringindo o uso do espaço urbano.

Figura 21 Falta de nivelamento entre rua e calçada: exemplo de inacessibilidade. Impacto negativo na mobilidade sustentável: criação de obstáculos.

Ressalta-se que o acesso entre níveis deve ser mantido não só entre uma via e outra, mas, principalmente, ao longo de um percurso, de modo a facilitar o acesso de todas as pessoas nos pontos de interesse, isto confere ao percurso uma fluidez maior e melhor, garantindo a acessibilidade e possibilitam melhoras na continuidade espacial, indo além da conectividade.

A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 63


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

MOBILIÁRIO URBANO Parte fundamental para o estímulo da mobilidade sustentável é dada pelo mobiliário urbano, visto que ele oferece diferentes experiências no espaço para os pedestres, desde fornecer Figura 21 Esquema funcional do luz, informação ou lugar para se sentar. mobiliário urbano. Possibilitando que as pessoas se man- Confere humanização ao local tenham entretidas, estimuladas a utilizarem o espaço urbano. Exemplos de mobiliário urbano são postes de iluminação, placas de sinalização, balizadores, lixeiras, estes e outros elementos que forneçam a sensação de humanização e permitem a interação do homem com a área urbana são exemplos de mobiliário urbano.

Figura 22 Exemplo de mobiliário urbano: parada de ônibus e painéis informativos. 64 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA

As paradas de ônibus, como da figura 14, equipadas com painéis informativos de orientação é um bom exemplo de mobiliário urbano. Mapas do local, informações completas sobre as linhas de ônibus que passam nesta parada (horários e itinerários dos ônibus de cada linha) e banco para as pessoas se sentarem enquanto esperam o ônibus, exercendo um bom desempenho dos três atributos, e favorecendo a conectividade entre os espaços. Móveis urbanos feitos com bom desenho e boa qualidade fornecem a sensação de humanização do espaço, incrementando a percepção de conforto e amenidade do local. A boa manutenção destes elementos

Figura 23 Mobiliário urbano em Copenhague, Dinamarca. Permite às pessoas usarem o loca impactando de forma positiva à mobilidade sustentável.


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

fornecem uma sensação de segurança, já que não há sinais de degradação e descaso, o que incentiva ainda mais às pessoas a desfrutarem de tal ambiente urbano e agregando-lhe qualidade. É o caso do mobiliário mostrado na figura 15. Já por outro lado, quando o mobiliário urbano se encontra em baixas condições de uso, confere a área um aspecto de abandono, como o espaço que deveria ser um ponto de descanso na figura 16 a seguir. Bancos e lixeiras que não possibilitam o uso, deixando o lixo espalhado pelo terreno dando-lhe um aspecto ainda maior de abandono, o que desestimula o uso do espaço público pelas pessoas.

Figura 24 Mobiliário precário confere ao espaço urbano um aspecto de abandono. Aspecto de abandono à área: impacto negativo na mobilidade sustentável.

Os mobiliários urbanos de boa qualidade presentes no espaço público conferem aos usuários, ao mesmo tempo, as sensações de bem-estar, de humanização e de urbanização da área, englobando, desta maneira, dois atributos. Já a manutenção desta qualidade pode sugerir sensação de segurança para as pessoas.

Desta maneira, podemos entender como os elementos identificados como configuradores do espaço urbano, bem como os atributos a eles conferidos, que transmitem sensações positiva ou negativas para as pessoas que usam os espaços urbanos, agindo, desta maneira, de forma a estimular ou não o uso destas áreas, exercendo um impacto sobre a conexão dos espaços e sobre a mobilidade dos pedestres. Através desse entendimento, constrói-se a tabela síntese apresentada a seguir, contendo a identificação dos elementos configuracionais do espaço urbano, o conceito da função que deve ser exercida pelo elemento e a qualificação positiva ou negativa para a mobilidade sustentável com base nos atributos de análise. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 65


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

ELEMENTOS QUE CONFIGURAM O ESPAÇO URBANO

REPRESENTAÇÃO E DEFINIÇÃO

QUALIFICAÇÃO

ATRIBUTOS QUALITATIVOS AOS ELEMENTOS QUE FAVORECEM A MOBILIDADE DO PEDESTRE SEGURANÇA

AMENIDADE

CONFORTO

Clareza na sinalização e desenho e pavimentação adequados garantem a locomoção do pedestre sem riscos, permitem o acesso, resolvem possíveis conflitos com outros meios a modo de integrá-los. Resolvendo e evitando barreiras.

A alta qualidade da pavimentação, seus materiais, sua execução e manutenção, e o desenho claro do evitam voltas desnecessárias possibilitam a caminhada sem preocupações. Mobiliário urbano e os pontos de descanso desempenham um papel positivo para amenizar os percursos.

Sombras, de árvores ou construções, trazem conforto higrotérmico aos pedestres, estimulando a sensação de bem-estar. A arborização pode ainda amenizar o conforto sonoro, por oferecer outros sons mais agradáveis para os usuários. Os mobiliários fornecem humanização e favorece o conforto psicológico.

Os fatores que comprometem o desempenho do passeio e contribuem negativamente para a locomoção de pedestres são a falta de sinalização para pedestres, desenho confuso e pavimentação ruim ou falta de pavimentação.

A baixa qualidade que a pavimentação confere ao passeio prejudica a locomoção das pessoas sobre ele. Ainda, a falta de mobiliário urbano e atrativos no passeio desestimulam o seu uso por parte das pessoas.

Falta de sombra, que expõe o passeio e os usuários à incidência solar e intempéries, exposição do passeio à poluições sonora, falta de atrativos que estimulem a caminhada são alguns dos principais pontos negativos que afetam o conforto do passeio.

As barreiras que conferem segurança aos pedestres são aqueles que guiam o fluxo de pessoas à uma travessia adequada, protegendo-o de algum fator além dela - natural ou artificial - que ofereça risco à segurança das pessoas.

As boas condições de elementos que funcionam como guias dependem do material utilizado, da execução, do acabamento e, principalmente, da manutenção. Detalhes que enriquecem tais elementos podem qualificá-lo positivamente para este atributo.

A sensação de conforto é percebida quando há alta qualidade do material utilizado para fabricação do elemento configuracional. Ainda, o acréscimo de mobiliário urbano influencia a percepção de bem-estar.

Obstáculos que oferecem riscos aos pedestres, como vias de altas velocidades e acidentes topográficos, devem ser solucionados pois prejudicam a circulação deles nos espaços urbanos.

A falta de preocupação geral com as características e os aspectos físicos de tal elemento no espaços urbano, como degradação e falta de manutenção, influencia negativamente este atributo.

Barreiras carecem deste atributo quando não oferecem a segurança necessária aos usuários, fazendo com que eles se sintam desconfortáveis ao utilizar o espaço no qual insere-se este elemento urbano.

A segurança relaciona-se com a presença de mobiliário urbano: bancos, postes de luz, lixeiras, etc. Os quais favorecem e estimulam o uso desses pontos, sendo uma área de parada e de permanência, mantendo constante o uso e, assim, um fluxo de pedestres.

A presença de mobiliários urbanos de alta qualidade e de atrativos, que forneçam apoio às atividades da área, são fatores que a tornam mais agradável aos usuários, mantendo um ritmo de sua utilização e, consequentemente, estimulando seu uso, o que lhe agrega segurança.

Opções de lugares para se sentar (tipologias diversas e localização), iluminação de qualidade, arborização, tratamento adequado da natureza ao redor e existência de sombras, são as principais características que conferem a este elemento sensação de conforto e bem-estar.

Pontos de descanso com mobiliário degradado ou sem manutenção, conferem sensação de abandono à área, isso gera ou aumenta a sensação de insegurança percebida pelo pedestre.

A falta de manutenção do espaço e dos elementos que o compõe, transmitem sensação e desconsolo para as pessoas, o que desestimula a presença delas no local, bem como limita o uso dos espaços públicos.

O principal fator que prejudica este ponto é ausência de vegetação e de sombras. Espaços expostos a incidência solar geram desconforto aos seus usuários, desincentivando o uso.

PASSEIO Conexão entre dois pontos de interesse

BARREIRA Impede o fluxo

PONTOS DE DESCANSO Espaços de estar ao longo do percurso

66 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 4 | ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS QUE FACILITAM A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DOS PEDESTRES

ELEMENTOS QUE CONFIGURAM O ESPAÇO URBANO

REPRESENTAÇÃO E DEFINIÇÃO

ACESSOS Nivelamento do percurso

MOBILIÁRIO URBANO Humanização de espaços públicos

QUALIFICAÇÃO

ATRIBUTOS QUALITATIVOS AOS ELEMENTOS QUE FAVORECEM A MOBILIDADE DO PEDESTRE SEGURANÇA

AMENIDADE

CONFORTO

Os acessos garantem segurança aos usuários quando possuem bom desenho (inclinações adequadas), sinalização e, se preciso, auxílio de mobiliário urbano, assegurando boa fluidez do fluxo de pessoas. Consequência disso é um passeio mais ameno e agradável.

A amenidade dos acessos está principalmente no desenho que eles recebem. Nivelamentos adequados dos passeios e espaços urbanos possibilitam que haja maior fluidez e facilidade no fluxo de pessoas, já que podem manter o olhar ao seu redor ao invés de fixarem o olhar no chão.

Rampas podem resolver problemas dos níveis melhor que degraus, o qual se tornam uma barreira para alguns. E possibilitam um percurso mais confortável, assim como o inserimento de sinalização, para orientar aos usuários e organizar os fluxos.

Acessos mal desenhados ou inexistentes, a ponto de não resolverem conflitos existentes no espaço urbano, prejudicam a mobilidade e a conectividade do local e, dependendo do contexto, podem oferecer riscos aos usuários.

A solução ruim de desenho de acessos do percurso prejudicam a circulação, tornando-os uma barreira à locomoção, obrigando o pedestre a prolongar seu percurso.

A falta de fluidez nos percursos, gerados pela falta de acessos, na verdade, é um dos principais pontos geradores de desconfortos por este elemento configuracional. Isto reforça a desconexão de áreas urbanas, já que não há continuidade dos seus espaços.

Este elemento de utilidade variada favorece à sensação de segurança dos espaços quando inseridos ao longo deles: postes de luz, bancos, lixeiras, dentre outros, dão um aspecto de maior humanização ao espaço, estimulando seu uso e conferindo-lhe segurança.

Ao que se refere às sensações de amenidade e conforto, a escolha por bons materiais para confecção do mobiliário urbano, o bom desenho que ele possuirá, bem como a boa manutenção dele confere, não só ao objeto, mas a todo o espaço urbano onde está inserido, um aspecto de maior qualidade e bem-estar, estimulando seu uso.

A degradação dos mobiliários, bem como a ausência ou ineficiência deles faz com que o espaço tome um aspecto de descaso, fato que gera insegurança e desincentiva a utilização do espaço.

Já os mobiliários feitos com materiais de baixa qualidade, que se deterioram rapidamente, com condições ruins de manutenção limitando ou até mesmo impossibilitando seu uso, passam sensação de abandono e descaso da área onde estão inseridos, falhando com estes dois atributos o que prejudica o uso do ambiente urbano.

Tabela 4 Tabela síntese dos elementos que configuram a forma urbana, seus atributos qualitativos ao deslocamento dos pedestres e seu desempenho positivo ou negativo sobre a mobilidade sustentável.

A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 67



CAPÍTULO 5

ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA



CAPÍTULO 5

ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE DESLOCAMENTO AO NÍVEL DA ESCALA RESIDENCIAL DA ASA SUL DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS DO ESPAÇO URBANO FACILITADORES DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

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CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO Assim, tendo como base os elementos que configuram a forma urbana e influenciam-na dentro da característica da conectividade, veremos neste capítulo, como estes elementos se mostram frente aos atributos vistos no capítulo anterior e o seu respectivo desempenho, se positivo ou negativo, sobre a promoção e incentivo dos deslocamentos a pé e possíveis meios de intervenção. Para isso, escolheu-se a fração urbana definida, aquela mais antiga e que melhor representa os princípios urbanísticos do Plano Piloto, de modo a que se tenha um retrato mais próximo das descrições relativas na pesquisa bibliográfica. Assim, o recorte da área de análise desta pesquisa localiza-se na escala residencial de Brasília, e vai da W3 e até a L2 do Plano Piloto, na altura das quadras 07 e 08, abrangendo as quadras: 307, 308, 107, 108, 207, 208, 407 e 408 da porção sul da cidade, representada na imagem a seguir. Figura 25 Localização da área de estudo.

72 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE DESLOCAMENTO AO NÍVEL DA ESCALA RESIDENCIAL DA ASA SUL DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA A área pode ser lida com duas tipologias urbanas: residencial e de circulação. Na faixa que corresponde ao tipo residencial, encontram-se as unidades vizinhanças formadas por superquadras. Já aquela de circulação é composta basicamente pelo sistema viário que estrutura a malha urbana. Desta maneira, há na área duas unidades vizinhança, separadas pelo Eixo Rodoviário. Ambas unidades fazem fronteira com outras vias de circulação (W3 e L2 sul) e unidades de vizinhança adjacentes. Existe um fluxo de pessoas das unidades de vizinhança para os eixos de circulação, como mostrado

Figura 26 Configuração da área de estudo.

na figura abaixo. Em seguida, diminuindo a escala, aproximando do pedestre, aparece a unidade de vizinhança, formada por quatro superquadras, e os pontos de interesse, sendo divididos em pontos de interesse transporte público e pontos de interesse de comércio e serviços, localizados ao redor da unidade de vizinhança, marcados no mapa abaixo. Destacou-se os passeios existentes, em geral ao redor da superquadra, e as conexões que servem estes passeios (faixa de pedestre e passagem subterrânea) representados na imagem a seguir pelas setas vermelhas.

Figura 27 Unidade de vizinhança estudada A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 73


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

Dessa maneira foram localizados os passeios principais, que articulam a área residencial da unidade de vizinhança aos pontos de interesse, bem como seus acessos, que conferem continuidade aos passeios. Isso caracteriza os fluxos da rede de pedestres que circulam de uma quadra a outra, entre diferentes pontos de interesse. É sobre esta rede que foi desenvolvido o trabalho de campo, verificando a existência e condições dos elementos que formam tais espaços e se eles apresentam um desempenho favorável ou desfavorável para a promoção da mobilidade sustentável. A figura 20, acima, mostra como estão distribuídas as vias de circulação de carros dentro das unidades de vi-

zinhança localizadas na área. Observa-se que elas fazem a conexão do Eixo Rodoviário com a W3 (figura da esquerda) e L2 (figura da direita), permeando a unidade de vizinhança, passando entre as superquadras e comércios locais. Deste modo, com o entendimento da superquadra e sua relação com áreas adjacentes, conseguimos compreender quais são e onde estão os espaços responsáveis pela conectividade da forma urbana. Portanto, a partir do levantamento desses pontos principais, foi possível ir à área e verificar como se dava a ocorrência dos elementos que promovem conexão na Escala Residencial de Brasília.

Figura 28 Identificação e distribuição das principais vias dentro das unidades de vizinhança. 74 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONFIGURACIONAIS DO ESPAÇO URBANO FACILITADORES DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL Desta maneira, com a pesquisa local pode-se identificar e observar os elementos que configuram o espaço urbano e, quando se apresentam adequados, influenciam positivamente na conexão das diferentes áreas da cidade. Alguns desses elementos foram levantados, como mostram as imagens a seguir. O eixo rodoviário caracteriza uma barreira e um obstáculo, as altas velocidades oferecem risco as pessoas, principalmente àquelas que, mesmo com a presença das passarelas subterrâneas, procuram atravessá-lo por cima. Vale ressaltar que as passarelas não configuram um passeio agradável e há um receio por parte de algumas pessoas em usá-las (algumas delas nunca a utilizaram e possuem medo de utilizá-las). Apesar do referido passeio oferecer condição razoável de uso (para pessoas sem dificuldade de locomoção!), não oferece conforto a quem utiliza, por isso, acredita-se, se dá a insegurança com relação a ele.

Figura 29 Eixo Rodoviário atua como barreira para a locomoção de pedestres. no sentido leste-oeste.

A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 75


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

Encontrou-se grande quantidade de passeios em más condições, principalmente de manutenção, o que prejudicam a qualidade do passeio, já que há a dificuldade de utilizá-los. Em outros, além da falta de cuidado com a pavimentação, foram encontrados obstáculos, como buracos e falta de trecho do passeio. Fato este prejudica muito a conectividade entre os espaços e, consequentemente, a mobilidade nele. O que se viu, também, foram passeios longos, com falta de ritmo e forte monotonia. Apesar de todos esses problemas de estruturação, observou-se grande quantidade de árvores, embora em alguns pontos pareciam não ser eficientes para o passeio, contudo o sombreamento Figura 30 Passeios localizados e seus estados de conservação/manutenção. e a qualidade sonora de tais percursos aumentam o conforto para os usuários. A falta de pontos de descanso apropriados faz com que o passeio se torne desestimulante e, consequentemente, o espaço público tenha uma maior sensação de insegurança, visto que as pessoas não o utilizam. É visível a que existe a demanda para estes espaços já que foi identificado a presença de pontos de descanso 76 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

debaixo de pilotis e próximo a edifícios e cercados, ao que tudo indica os espaços foram realizados pelos moradores. Os pontos de descanso são fundamentais para estimular a mobilidade sustentável. As pessoas precisam se sentar para tomar um ar durante uma caminhada ou mesmo somente para passar o tempo. Espaço livre não quer dizer espaço livre de uso, e consequentemente, livre de desenho urbano adequado. Espaços livres devem ser trabalhados para o pedestre, e o ponto de descanso é um bom elemento para auxiliar no desenho urbano. A arbitrariedade do tratamento dos espaços de acesso é grande. Resultado disso é a clara distinção dos espaços público e privado, mesmo que estes estejam no mesmo nível. Ainda, a falta de consideração com estruturas existentes, é o caso da ciclovia, sua implantação passa por cima da calçada existente, sem considerar uma sua existência. Resultado é a má qualidade do espaço público e o desrespeito com o pedestre. A falta de rampas de acessibilidade que garantem o acesso igualitário aos espaços, favorecendo a continuidade do percurso e a conexão de áreas urbanas, é notória. Faltam acessos adequados, que favoreçam o bem-estar e a amenidade dos perFigura 31 Pontos de descanso encontrados e áreas com potencial para haver um ponto de descanso. cursos garantindo segurança do traA ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 77


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

jeto. É fácil encontrar áreas sem acesso. Isto faz com que pessoas que precisem destes acessos tenham que andar mais (as vezes muito mais!) para chegar aonde desejam. Acessos adequados garantem fluidez e continuidade aos percursos e aos espaços urbanos. Outro fato encontrado na área de estudo foi que em nenhum caso de encontro entre vias a via do automóvel eleva-se para via do pedestre, mas sempre o contrário: a via de pedestre se rebaixa a via dos automóveis. Esse desenho é uma solução excelente de acesso, já que reforça a hierarquia de locomoção, onde o pedestre tem sempre preferência, faz com que os carros diminuam a velocidade, reduzindo o risco de acidentes, e garantindo a conexão dos espaços ao nível do pedestre. Já os mobiliários urbanos presentes nos espaços onde a conexão urbana é fundamental se mostram insuficientes, com más condições de uso e manutenção. Aqueles que foram identificados como adequados ao uso, que oferecem boas condições de material e favorecem o bem-estar, localizam-se em áreas privadas, implementados e/ou mantidos por organização predial, por restaurantes e pontos de taxi. Figura 32 Acessos encontrados. Há a falta de cuidado com o nivelamento, além da clara diferença do espaço público e do espaço privado. 78 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


CAPÍTULO 5 | ESTUDO DE CASO NO PLANO PILOTO

Os pontos de ônibus em uso são inadequados quando percebido que não oferecem informações adicionais às pessoas sobre o local, sobre a cidade e sobre o sistema de transporte. Vale ressaltar que o mobiliário urbano é indispensável para conferir a todos os outros elementos – passeio, ponto de descanso, acesso e barreiras – atributos de conforto, amenidade e segurança.

Figura 33 Mobiliário urbano. Muitas vezes fornecido por iniciativas privadas, faltando portanto a humanização de áreas urbanas centrais. A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA | 79



RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÃO


RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÃO

RECOMENDAÇÕES vias como barreira Sugere-se a redução de velocidade das vias, inserindo elementos que o façam, mas sem prejudicar a fluidez do tráfego de pessoas e nem aquele de carros, mas otimizá-los, de modo a garantir fluidez, de modo que torne as vias mais seguras, principalmente para os pedestres.

passarelas do eixão Melhorar qualidade das passarelas subterrâneas, tornando-as confortáveis e convidativas, favorecendo o bem-estar para que sejam utilizadas. A utilização delas é chave para torna-las mais segura.

passeios encontrados Recomenda-se o tratamento adequando da pavimentação dos passeios. Tal tratamento deve fornecer materiais de alta qualidade (com a devida execução e manutenção) de modo a amenizar a caminhada, livrando-a de obstáculos e garantindo conexão entre os espaços por onde passa. O tratamento artístico diferenciado do pavimento, levando em consideração os usos deste espaço, é uma opção para torná-lo mais atrativo para os pedestres, promovendo sua utilização. Ressalta-se que a vasta arborização, presente na área, qualifica positivamente os espaços públicos quanto ao conforto e bem-estar.

pontos de descanso Criação de pontos de descanso adequados e de qualidade ao longo dos passeios, dando ritmo para os passeios, quebrando sua monotonia, incentivando o uso dos pedestres. Os espaços livres devem servir para articulação da mobilidade dos pedestres, e não serem completamente livres de uso. 82 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÃO

acesso Criar (ou adaptar) os acessos de tal modo que facilitem e amenizem o passeio para todos, como ou sem dificuldade de locomoção. O desenho de interseções em vias locais favorecendo o percurso do pedestre, priorizandoo, faz dos passeios mais seguros, promovendo a mobilidade sustentável. Reforça-se que este elemento é fundamental para garantir continuidade dos percursos e, consequentemente, a conexão dos espaços, de modo a contribuir positivamente para a locomoção de pedestres.

mobiliário urbano Implementação de mobiliário urbano com boa qualidade, principalmente nos pontos de descanso, oferecendo opções de atividades às pessoas que passam pelo local ou pretendem ficar por um tempo, humanizando, assim, os espaços. Os mobiliários são fundamentais para convidarem pessoas a utilizarem o espaço público, seja para permanência ou para locomoção.

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RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÃO

CONCLUSÃO A forma urbana dispersa, encontrada em Brasília, é prejudicial à mobilidade urbana sustentável por não favorecer o encontro e a concentração de pessoas, bem como dispersá-la. Contudo, isso não é problema para a que cidade dispersa tenha espaços públicos de qualidade e conectados entre eles, fator este que favorece a locomoção sustentável (pedestre e ciclista, principalmente), mesmo em uma cidade que de modo geral não o faz. Investimentos na conectividade da rede de calçadas e ciclovias, integrando-as com o serviço de transporte público, ônibus e metrô, não vai contra o tombamento, e valoriza o conjunto urbanístico da cidade, portanto é um ponto chave para o desenvolvimento e a manutenção da cidade e do patrimônio. O pedestre em Brasília tem uma locomoção muito delicada, já que possui a prioridade de locomoção somente no papel. Sendo assim o desenho urbano adequado, de modo a favorecer a sua mobilidade, ajuda a tirar do papel este princípio. Espaços urbanos que estimulem de maneira positiva nas pessoas o conjunto de sensações percebidas – segurança, amenidade e conforto – valorizam os elementos configuracionais da forma urbana, o que favorece a sua conectividade, promovendo a mobilidade sustentável. Observou-se que, em modo geral, os espaços que podem favorecer a conectividade das áreas urbanas da porção estudada apresentam ainda muitas falhas com relação à boas condições do espaço público e favorecimento de bem-estar, o que não incentiva as pessoas a aproveitarem-no. Isso faz com que estas áreas sejam somente espaço de passagem, enfraquecendo a permanência, o que prejudica a sensação de segurança, que não é comprometida, porém não há o estimulo para que as pessoas usufruam o espaço público, que poderia haver, se os elementos analisados recebessem um tratamento mais apropriado. 84 | A ESCALA DO PEDESTRE DE BRASÍLIA


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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