Jornalismo em Quadrinhos: um panorama histórico da Arte Sequenciale como plataforma informativa

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ALCAR - Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia 4º Encontro do Núcleo Gaúcho de História da Mídia São Borja, RS - 14 e 15 de maio de 2012

JORNALISMO EM QUADRINHOS: um panorama histórico da Arte Sequencial e sua redescoberta como plataforma informativa1 Marcos Antonio Corbari2 Ébida Rosa dos Santos3 Carlos André Echenique Dominguez4 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educação Superior Norte RS, Frederico Westphalen, RS

RESUMO A história dos Quadrinhos está intimamente interligada ao Jornalismo, e vice-versa. Inicialmente o exercício do jornalismo impresso viabilizou a plataforma em estudo como artefato de entretenimento, porém logo esta caracterizou-se como uma forma importante de manifestação informativa, seja pelo potencial crítico historicamente exercido através da arte, ou ainda, como plataforma de expressão cujas virtudes foram apropriadas pelo fazer jornalístico, projetando um novo formato híbrido: o Jornalismo em Quadrinhos ou HQ-Jornalismo. Este texto propõe um rápido levantamento histórico percorrendo desde referências primordiais da Arte Sequencial, onde as manifestações se produziam de forma artesanal, até a atualidade, onde projeta-se a mescla de potencialidades através das novas Tecnologias da Informação e Comunicação. PALAVRAS-CHAVE: Arte Sequencial; Histórias em Quadrinhos; Jornalismo. 1. Quadrinhos enquanto plataforma expressiva Aos apreciadores de Quadrinhos é desnecessário reafirmar a importância de sua relação de proximidade com o Jornalismo. Destaca-se através dessa relação a sua popularização como formato expressivo que mescla a sequência de imagens e 1

Estudo desenvolvido como atividade de iniciação científica, contemplando apontamentos e anotações desenvolvidas durante o 1º semestre de 2011, como suporte ao artigo apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I (TCC-I). Preservado o indeditismo do texto, neste momento devidamente atualizado, é publicisado através da área de Iniciação Científica, junto ao Grupo de Trabalho História do Jornalismo, no 4º Encontro do Núcleo Gaúcho de História da Mídia – ALCAR RS 2

Graduado em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo – Dezembro de 2011 – Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte RS (UFSM/Cesnors) – marcos.corbari@gmail.com . 3

Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo – Dezembro de 2011 – Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte RS (UFSM/Cesnors) – ebidasantos@gmail.com. 4

Professor orientador, Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo – Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte RS (UFSM/Cesnors) – cadredominguez@hotmail.com .

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enunciados textuais. Há, porém, sempre que se levar em conta a inserção de novos interessados na temática, fato que nos sugere retomarmos o tema a partir de seu contexto inicial, apresentando considerações básicas que reflitam as plataformas citadas, sua genealogia e a relação entre elas. Este é o objetivo deste estudo, essencialmente bibliográfico e reflexivo, elaborado como suporte prévio ao artigo “Jornalismo em Quadrinhos: reflexões sobre a utilização da Arte Sequencial como suporte à reportagem”, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso em junho de 2011 5, agora atualizado para sua publicação. Os quadrinhos, assim como outras plataformas expressivas que assumem o status de reprodutibilidade como produto da indústria cultural, encontram em nosso tempo uma grande série de variações, partindo de uma concepção original que refere-se – como veremos a seguir – a tempos muito mais remotos do que o surgimento dos primeiros jornais modernos, quando seriam popularizados e alçados à condição de produto de massa. No entando precisamos delimitar o que compreendemos por Quadrinhos e evocar para fins de esclarecimento alguns dos termos utilizados para definir esta manifestação da Arte Sequencial. Histórias em Quadrinhos, Banda Desenhada, Comics, Arte Sequencial, ou, simplesmente, Quadrinhos são alguns dos termos que costumam encontrar sinonimação em trabalhos como este. Consideraremos para este fim a ideia de que a Arte Sequencial representa a gênese incial do que aqui poderemos citar através de qualquer um dos outros termos. A terminologia, embora proposta pela primeira vez pelo quadrinhista Will Eisner, encontra abrangência maior do que o limite proposto pelas Histórias em Quadrinhos (HQ´s). Considerada a nona arte6, os Quadrinhos são caracterizados pelo encadeamento de imagens fixas com fim a produção de manifestação artística sequenciada, utilizando diversos referenciais para este fim, sejam delimitações de espaço, enquadramento, vinculação de texto, sobreposição de imagens, etc. Costuma-se também associar o termo Arte Seuqencial a manifestações características dos meios eletrônicos, visto que o próprio vídeo é formado pelo encadeamento de uma imensa 5

“Jornalismo em Quadrinhos: reflexões sobre a utilização da Arte Sequencial como suporte à reportagem” é um artigo apresentado junto à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC 1) no curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Centro de Educação Superio Norte RS (Cesnors), campus de Frederico Westphalen, sob orientação do professor Carlos André Echenique Dominguez. 6

A classificação inicial das artes nomeia seis manifestações artísticas primarias, sendo: Música, Dança, Pintura, Escultura, Literatura, Teatro. A seguir serão somadas o Cinema, a Fotografia e a Arte Sequencial.

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série de imagens estáticas, que dispostas em sequencia e propulsionadas por equipamento adequado, em velocidade necessária, reproduzirão em determinado suporte a ideia de movimento, mas nãos nos deteremos a esta especificidade. A definição Arte Sequencial é também evocada para definir certos tipos de infográficos utilizados para ilustrar e/ou ampliar contextos informativos, para as imagens ilustrativas de manuais operacionais diversos e até mesmo para representar produtos específicos de entretenimento como fotonovelas, por exemplo. O termo História em Quadrinhos é utilizado para manifestar genericamente o amplo espectro de utilização do conceito primário de Arte Sequencial associado às potencialidades narrativas de uma mensagem, comumente enriquecida pela inserção de texto ou outras marcas de sequenciamento. Nota-se a elaboração de uma espécie de linguagem híbrida, onde imagem e palavra se integram pela ação narrativa, resultando nos Quadrinhos, que podem ser apresentados como revistas (também chamadas de gibis7), livros dedicados ou em tiras (também chamadas “tirinhas”) publicadas em revistas e

jornais.

Atualmente

propõe-se

ainda

oportunidades

de

mesclar

recursos

multimidiáticos ao formato, através de Quadrinhos publicados online (webcomics), onde podem ser associados toda ordem de links ligando-os a conteúdos externos. A enciclopédia colaborativa virtual Wikpédia oferece um bom cenário a respeito das diversas aplicações etimológicas acrescentadas a partir da terminologia História em Quadrinhos (HQ), a qual nos baseamos para as considerações a seguir. Em Portugal e na França a definição mais utilizada é “banda desenhada”, para os franceses “bandesdessinées”, aludindo às tiras de jornais (bandas ou bandes), embora entre os lusos ainda seja citado o termo em desuso “história aos quadrinhos”. Nos Estados Unidos costumase utilizar o termo “comics”, devido às primeiras manifestações em larga escala estarem associadas a historietas cômicas. Na Itália convencionou-se utilizar terminologia alusiva aos balões onde tradicionalmente são inseridas as falas dos personagens, referidos como “fumetti” (fumacinha). Na Espanha utiliza-se a terminação “tebeo”, que alude ao nome de uma revista (TBO), semelhante ao que se convencinou no Brasil com a terminação “gibi”, que também servia de título a uma publicação. Outros termos citados para sinonimar Histórias em Quadrinhos são, “historietas” (Argentina), “muñequitos” e

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A palavra “gibi” originalmente é sinônimo de “menino”, mas acaba sendo ressignificada sinominando “história em quadrinhos”.

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“cómicos” (Cuba), “mangás” (Japão), “manhwas” (Coréia do Sul) e “manhuas” na China. 2 – Caracterização e referencial histórico A História em Quadrinhos é formada por dois signos gráficos, conforme explica Lutyen (1985), a imagem e a linguagem escrita, reunidas em uma narrativa contínua, ou, como precisam Godia e Kleinert (2011), em uma narrativa figurada. Os balões, onde normalmente estão contidas as falas dos personagens ou mesmo do narrador que em determinados casos conduz o enredo, são destacados por Rahde (1996) como o terceiro elemento somado na composição. A forma, como podemos compreender em nosso tempo, permite que se produzam transgressões radicais a esta proposta inicial, conforme se aplica o desenvolvimento da manifestação artísticas de argumentistas, roteiristas, desenhistas e mesmo diagramadores. Embora a linguagem híbrida (imagem + texto) seja o patamar básico na definição das HQ's, não nos causa estranheza encontrar exemplos de ação narrativa em Arte Sequencial onde não são utilizados textos, ou ainda onde estes textos – representem eles a voz dos personagens ou não – estejam fora dos balões. Os referenciais históricos a respeito da Arte Sequencial remete a tempos préhistóricos, onde o homo sapiens descobre-se como ser capaz de aprendizado, desenvolvimento de pensamento crítico e possibilidade de expressão. As pinturas rupestres encontradas nas paredes rochosas são o melhor exemplo e prova deste legado, retratando através de traços básicos, elementos cotidianos da humanidade em seus primeiros traços de consciência, mostrando atividades como a caça, a relação com as forças da natureza e até mesmo costumes místicos. Seriam estas pinturas o primeiro formato de Histórias em Quadrinhos conhecidas. A técnica narrativa utilizada pelos egípcios de 15.000 a 10.000 a.C. associando mensagens de sentido a figuras e, em seguida, perfilando-as em forma de uma nova construção narrativa, representariam o segundo formato em destaque. As narrações em tapeçarias, comuns no oriente e na Europa medieval também são citadas por autores e pesquisadores. Porém a referência histórica mais clara que se pode utilizar remete aos primórdios do Cristianismo, de onde se passou a reproduzir a Via Sacra, apresentando em imagens as principais passagens da

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paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristos, cuja reprodução segue até hoje sendo representada nas paredes das Igrejas8. As Histórias em Quadrinhos – como as conhecemos hoje – tem sua gênese pelo suiço Rodolphe Töpffer, que em meados do século XIX desenvolveu imagens satíricas, caricaturas e requadros, inserindo ainda a primeira “combinação interdependente de palavras e figuras na Europa” (MCCLOUD, 1995, p.17). Porém somente depois do Yellow Kid (Menino Amarelo), de 1894, o formato nascente encontraria a popularidade e reprodutibilidade em escala de massa, primeiramente no New York World e depois no New York Journal. As tiras, sob o título de “Down on Hogan´s Alley”, que narravam as aventuras e desventuras do menino Mickey Dugan, eram assinadas por Richard Felton Outcault, dando origem a uma das mais duradouras parcerias midáticas já estabelecidas: as Histórias em Quadrinhos e o Jornalismo. Embora ainda fosse muito cedo para falar em HQ-Jornalismo, já se pode perceber que a conveniência da plataforma expressiva comum servia a ambos os formatos, que embora comungassem o mesmo meio de publicação, distanciavam-se sob a égide de editorias dissonantes, um vinculado ao sério caráter noticioso (Jornalismo) e o outro ilustrando as divertidas páginas de variedades (Quadrinhos). Não tardaria muito, porém, a ser percebida também uma das mais marcantes potencialidades da HQ – a crítica social – estabelecendo o primeiro vínculo factual entre o campo informativo e a nova linguagem lúdica. 3 – Um século de quadrinhos9 A partir do pontapé inicial as HQ’s passaram por um constante desenvolvimento, apropriando-se de espaço e despertando interesse crescente através de diversas formas de publicação, bem como aproveitando-se das constantes escalas de evolução tecnológica para reproduzir-se nos mais diversos formatos: tiras em jornais, revistas em quadrinhos, fanzines, coletâneas, livros e até mesmo em meio digital através da internet, com as chamadas webcomics, e – mais recentemente – até em experimentações de formatos para celular e outros dispositivos móveis. 8

Para mais informações a respeito das experiências primordiais da utilização da Arte Sequencial como recurso artístico-narrativo, sugere-se a leitura dos capítulos 2 e 3 do artigo “Jornalismo em Quadrinhos: reflexões sobre a utilização da Arte Sequencial como suporte à reportagem”, disponível em http://decom.cesnors.ufsm.br/. 9

O texto deste capítulo é uma reformulação do primeiro apêdice do artigo “ Jornalismo em Quadrinhos: reflexões sobre a utilização da Arte Sequencial como suporte à reportagem”, apresentado junto à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC 1) no curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Centro de Educação Superio Norte RS (Cesnors), campus de Frederico Westphalen, sob orientação do professor Carlos André Echenique Dominguez.

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Além de Outcault e Töpffer, podem ser citados ainda como precursores o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges “Christophe” Colomb e o brasileiro Angelo Agostini. Quanto aos personagens, os destaques ficam por conta de Little Nemo, Mutt & Jeff, Popeye e Krazy Kat -, respectivamente de autoria de Winsor McCay, Bud Fisher, E.C.Segar e Georges Herriman. O humor era o tema central proposto pela primeira geração de autores, daí a denominação “comics” (cômicos). Os anos 1930 seriam marcados pelo surgimento de linhas discursivas voltadas à aventura e ficção, na chamada Era de Ouro, especialmente através de personagens como Flash Gordon, Dick Tracy, Tarzan, Fantasma e Superman – respectivamente de Alex Raymond, Chester Gould, Hal Foster (adaptando E.R.Borrougs), Lee Falk e a dupla Siegel e Shuster. Em 1938 surgiria a primeira revista em quadrinhos publicada pela editora americana DC Comics, em seguida surgiria a Marvel Comics, configurando a dobradinha de gigantes editoriais que disputariam o predomínio do novo mercado durante quase um século. Já em meados da década de 1940 surgiria o primeiro “supergrupo”, segundo Jarcem (2007), quase concomitantemente com o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU): All Winners Squad, no Brasil traduzido como “Os Invasores”10. O autor comenta ainda que entre 1940 e 1945 seriam criados mais de 400 superheróis, entre os quais o Batman (Bob Kane) e o Capitão Marvel (Charles Clarence Beck e Bill Parker). “Vários personagens se alistaram e foram para a II Guerra Mundial, e os quadrinhos se tornaram armas ideológicas para elevar o moral dos soldados e do povo.” (JARCEM, 2007, p.5).

Os anos 1950 seriam marcados pela interpretação do psiquiatra alemão Frederic Wertham, que através da obra “A sedução do inocente”, interpretava as HQ’s como meio de legitimação da corrupção de menores e da delinquência juvenil, associando personagens com conceitos então marginais, como sadomasoquismo (Mulher Maravilha) e homossexualidade (Batman & Robin). Outro aspecto refere-se ao alvo ideológico, que deixou de ser a Alemanha nazista, derrotada na grande guerra, para o comunismo soviético, considerado então a maior ameaça ao “estilo de vida americano”. Em contraponto, porém, surgira em uma tira de jornal a série “Peanuts”, criada por Charles M. Schulz, protagonizada pelo inseguro Charlie Brown, um menino de 6 anos, e pelo filosófico Snoopy, seu cão de estimação. “Esta tira marcou o começo da era 10

Entre os integrantes desta efêmera trupe estava talvez o mais emblemático herói representante da permeação político-ideológica, o Capitão América, criado por Jack Kirby e Joe Simon.

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intelectual dos quadrinhos, com uma maior valorização do texto sobre as imagens” (JARCEM, 2007, p. 6). Desde meados da década de 1950 até meados da década de 1960, os Quadrinhos passariam por um período de efervescência, chamado Era de Prata, sucedendo a decadência registrada no final do ciclo anterior. Ressurgiriam os super-heróis clássicos como Superman, Batman, Mulher Maravilha e Flash, ganhando companhia de novas criações, como o Quarteto Fantástico, Homem Aranha, Hulk, Thor, Homem de Ferro e X-Men. Aspectos como a identidade e personalidade dos super ganhariam maior atenção nesta fase, onde seriam valorizados aspectos psicológicos e até mesmo as técnicas de desenho seriam reformuladas, valorizando mais a perspectiva e a os detalhes da anatomia. Autores e ilustradores como Stan Lee, Gardner Fox, John Broome e Robert Kanigher, e desenhistas como Curt Swan, Jack Kirby, Gil Kane, Steve Ditko, Mike Sekowsky, Carmine Infantino, John Buscema e John Romita passam a ser destacados a partir da Era de Prata. Dois supergrupos seriam configurados nesse período e teriam coninuidade até nossos dias: a Liga da Justiça (DC Comics) e os Vingadores (Marvel). O final dos anos 1960 e a década de 1970 ficariam marcados pelo surgimento dos quadrinhos underground, ou alternativos, buscando romper com as linhas convencionais propostas pelo conceito de industrialização e manipulação ideológica até então vigentes. Na América, Jarcem (2007) cita como destaques quadrinhistas como Robert Crumb, Gilbert Shelton, S.Clay Vilson, Victor Mososco e Bill Griffin. Na Europa são referidos nomes como Moebius, Phillipe Druillet, Jean Pierre Dionnet e Bernard Farkas – que reunidos criaram a revista Métal Hurlant, na América renomeada para Heavy Metal –, além de Berarid & Milazzo, Hugo Pratt e Milo Manara. A liberdade criativa permitiu ousadias até então considerada inviáveis, como a subversão da linearidade, a transposição aos quadrinhos das imagens inspiradas nos delírios psicodélicos das drogas ácidas (LCD), a exposição da nudez e do sexo explícito, a aproximação com a literatura, além da redescoberta e do exacerbamento das possibilidades da ficção científica. A década de 1980 ficaria marcada pela criação das novelas gráficas (graphic novels), onde seriam exploradas ao máximo as novas possibilidades de qualidade gráfica, a maior elaboração textual e mesmo um aprofundamento até então não visto no caráter psicológico dos personagens. Nesta fase estão inseridas algumas das publicações 7


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consideradas obras primas do universo dos quadrinhos, como Watchen (David Gibbons e Alan Moore), Batman: Cavaleiro das Trevas (Frank Miller) e Sandman (Neil Gayman). “Violência, insanidade, sensualidade e dúvidas existênciais passaram a habitar os quadrinhos” (JARCEM, 2007, p.8 ). Na década de 1990, com a possibilidade da colorização computadorizada, um novo salto de qualidade surpreenderia leitores do mundo inteiro, definitivamente inserindo as Histórias em Quadrinhos no rol das manifestações artísticas mais elaboradas. O surgimento de novas editoras fazendo frente às gigantescas DC e Marvel ampliaria o potencial criativo dos artistas, valorizando ainda mais o trabalho em equipe, onde estão presentes em uma produção ao menos um argumentista, um roteirista, um ilustrador e um diagramador. A ampliação das possibilidades de diálogo intercultural com o crescente acesso aos novos meios de comunicação possibilitaria ainda a aproximação entre meios produtivos antagônicos, como o quadrinho clássico americano, o underground europeu e o florescente mangá japonês, permeando aspectos que vão muito além da influência no traçado dos desenhos, mas também nas plataformas de diagramação e mesmo na construção textual cada vez mais ousada e complexa. Os anos 1990 trariam ainda a redescoberta definitiva dos Quadrinhos pelo Jornalismo. A proposta executada por meio de alguns precursores como Joe Sacco e Art Spielgelman, depois Didier Lefèvre e Marjane Satrapi, - entre muitos outros proporiam a utilização da linguagem híbrida dos quadrinhos, onde imagem e texto compactuam de um estado de interdependência simbólica, para produzir conteúdo jornalístico. Surge então a reportagem em quadrinhos, onde a imagem não serve apenas como ilustração, mas como parte do enunciado, e, em contraponto, o texto não se detém apenas à intencionalidade enunciativa/discursiva, mas colabora como elemento de suporte dentro do contexto imagético. 4 – O Jornalismo redescobrindo os Quadrinhos O Jornalismo e os Quadrinhos mantiveram durante mais de três quartos do século XX uma relação de proximidade contraditória. Ao mesmo tempo em que comungavam o espaço de publicação, seja através das tiras ou bandas publicadas nas editorias de variedades, ou mesmo na apropriação da técnica de narração gráfica na reconstituição de situações especiais ampliando as possibilidades do infográfico (cite-se 8


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a reconstituição de desastres naturais, acidentes e cenários de crime), permanecia ainda o debate entre os fatores que os afastavam, especialmente o confronto entre o fantástico e o real, e essa diferença predominava. O real invadiu os quadrinhos em muitos momentos. Lembremos da utilização da narrativa gráfica como suporte a enunciação de crítica social. Há ainda os casos de apropriação das figuras míticas dos heróis das HQ´s como propagadores de mensagens político-ideológicas (um bom exemplo foram os heróis convocados a combater na segunda grande guerra) ou ainda as situações excepcionais onde fatos extraordinários obrigaram argumentistas e roteiristas a alterar o cotidiano de seus personagens devido a novas configurações da realidade (aqui relembre-se a queda das torres gêmeas e a repercussão dentro das HQ´s). Porém o debate a cerca do desenvolvimento de um Jornalismo em Quadrinhos somente seria evocado concretamente através de apropriações bem mais ousadas, a exemplo do que fizeram Art Spiegelman na série Maus e o maltês Joe Sacco com o seu Palestina. Embora já seja possível identificar experiências de Jornalismo em Quadrinhos desde meados do século XX, é interessante para este estudo delimitar o exercício consciente e planejado desta prática a partir da década de 1980. Will Esiner e seus romances ou novelas gráficas (graphic novels), bem como Robert Crumb e o movimento underground americano, ou ainda os realizadores dos Quadrinhos artísticos europeus contribuem muito ao longo das décadas de 1960 e 1970 para que se consolidem procederes e técnicas responsáveis pelo novo modelo de fazer jornalístico. Demarcam definitivamente a gênese do que na década seguinte se precisaria chamar Jornalismo em Quadrinhos no momento em que deixam suas obras ficcionais serem permeadas por elementos identificáveis do real. Eisner, que costumava referir-se aos Quadrinhos como forma artística e literária (e de fato foi um autor capaz de realizar obras de literatura gráfica) logo dá-se conta do potencial latente da plataforma e reconhece a HQ como “arte de comunicação” (1985, p.5), precedendo a criação da terminologia definitiva proposta anos mais tarde por Joe Sacco. A relação entre Jornalismo e Quadrinhos ganharia uma nova interpretação de proximidade a partir de uma obra seminal Maus, primeira HQ distinguida pelo Prêmio Pulitzer, através da qual Spiegelman lança novas fundações no que até então se entende como relação entre as plataformas. Misturando o recurso do fantástico no traço e a crueza da realidade no argumento, Spiegelman mostrou a possibilidade do 9


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desenvolvimento de um grau mais elevado de aproximação entre informação real e Arte Sequencial. Na obra, semibiográfica, o autor relata passagens vividas por seu pai nos campos de concentração durante a II Guerra Mundial, alegorizando os grupos étnicos envolvidos no conflito através de figuras de animais. “Maus: a survivor tale”, primeiro volume da série, foi lançado em 1986, enquanto “Maus: and here my troubles began”, segundo volume, saíria somente em 1991. A ideia estava lançada e as bases para a constituição de uma nova geração de Jornalistas estava alicerçada, embora ainda se estivesse longe de teorizar este novo modo de se fazer jornalismo. O surgimento do nome de Joe Sacco, destacado especialmente após a série “Palestina”, lançada originalmente através de nove HQ´s entre 1993 e 1995, depois reunidas em livro, traz consigo a primeira referência ao conceito de Reportagem em Quadrinhos e, consequentemente, de Jornalismo em Quadrinhos. “Palestina” renderia a Joa Sacco o American Book Award de 1996. Sacco ganharia status internacional depois desta obra e se dedicaria nos anos seguintes exclusivamente a produção de reportagens em quadrinhos. Logo viriam “Área de Segurança: Gorazde” (2000), “O Mediador: Uma História de Sarajevo” (2003), “War's End: Profiles from Bosnia 1995-96” (2005), “But I Like It” (2006) e “Notas sobre Gaza” (2010), todos seguindo o mesmo sistema de confecção, procurando produzir o que em Jornalismo convencionou-se chamar de livroreportagem ou grande reportagem, cuja lógica discursiva adota os recursos da Arte Sequencial no desenvolvimento e tratamento final do argumento. Enquanto trabalha em suas publicações, Joe Sacco é chamado constamente a colaborar produzindo conteúdo a grandes jornais e publicações, como The New York Times, Entertainment Weekly, World Art, Speak, entre outros. Sem dúvida, é a partir da proposta etimológica de Joe Sacco, que os quadrinhos passam a receber destaque como passíveis de publicação como suporte à notícias, reportagens, entrevistas e relatos jornalísticos, ocupando para tanto o espaço dentro de veículos de comunicação dedicados a publicar qualquer uma destas variantes. Outros referenciais poderiam ser apresentados neste texto, mas a limitação de espaço não permitirá que se prolongue demais este item. Fazemos questão, porém, mesmo que brevemente, de incluir nesta relação o nome da iraniana Marjane Satrapi e o trio francês Guibert/Lefèvre/Lemercier. Satrapi é responsável pela séire autobiográfica “Persépolis”, que inclusive foi transformada em um bem sucedido filme de animação, sendo considerada a primeira mulher iraniana a produzir quadrinhos. Já os franceses 10


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produzem em conjunto a obra “O Fotógrafo”, publicada em três volumes, com base no material apurado pelo fotojornalista Didier Lefèvre, que em meados dos anos 80 acompanhou como voluntário o grupo Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão prétaleban, desenvolvendo uma obra que mescla quadrinhos desenhados com sequências fotográficas. 5 – A popularização do Jornalismo em Quadrinhos O Jornalismo em Quadrinhos passa por um momento de ebulição, aproveitandose das possibilidades de veiculação através da mídia eletrônica, que tanto se mostra mais acessível para publicação, quanto oferece ferramentas que agilizam o trabalho de argumentistas, roteiristas e desenhistas na composição final de suas peças gráficas. Embora não aconteça de forma organizada, uma espécie de movimento informal pelo reconhecimento do Jornalismo em Quadrinhos como gênero jornalístico ganha cada vez mais espaço, destacando-se além de personalidades referenciais (como Joe Sacco e Art Spiegelman), o crescente volume de trabalhos acadêmicos desenvolvidos sobre o tema (desde artigos e monografias até dissertações e teses), a constante ocupação dos meios digitais (sites, blogs e redes sociais) e, por fim, a conquista e a consolidação de espaço também na mídia tradicional através de jornais, revistas e até mesmo publicações autônomas. Algumas experiências em curso tem merecido destaque, como o Cartoon Movement (http://www.cartoonmovement.com), coletivo que propõe a utilização da Internet como plataforma de publicação para caricaturas políticas e Jornalismo em Quadrinhos. Além de oportunizar aos realizadores a possibilidade de veicular seus produtos, o Cartoon Movement proporciona a viabilização de muitas dessas publicações. Entre algumas HQ´s em destaque, disponíveis para leitura online, estão “Tents Beyond Tents” (Jean Pharés Jerome e Chevelin Pierre) cuja produção mobilizou a viagem de editores do grupo até o Haiti, com o intuito de encontrar cartunistas e jornalistas interessados em contar a respeito da realidade do país após os terremotos que devastaram a capital, Porto Príncipe. O projeto se estende ainda, diferenciando-se de outras iniciativas humanitárias, por oportunizar que cidadãos haitianos sejam os executores dos trabalhos de argumento e arte. Na mesma plataforma encontra-se também uma HQ dividida em duas partes, realizada por brasileiros, no caso o jornalista Augusto Machado Paim e o ilustrador Maumau, intitulada “Inside the Favelas” 11


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(primeira parte) e “Inside the Maré” (segunda parte), propondo um olhar crítico sobre a vida nas favelas do Rio de Janeiro, na sequência das ações policiais em massa realizadas para varrer os cartéis de drogas realizadas em 2010. No mesmo site há disponíveis ainda reportagens em Quadrinhos a respeito de países como Bahrein, Congo, Palestina e Afeganistão, mas materiais alusivos a cidades americanas e européias também encontram suporte no mesmo projeto e recebem o mesmo tom crítico de abordagem. No Brasil a prática do Jornalismo em Quadrinhos não é algo novo, mas recentemente podem ser destacadas experiências interessantes a respeito dessa temática. Embora ainda sejam poucas as iniciativas que viabilizam obras longas como os livros de Joe Sacco ou séries gráficas como Maus de Spiegelman, já está sendo notado no mercado local a presença de Jornalistas Quadrinhistas (ou HQ-repórteres) militantes e criativos. Outro fator é o número cada vez mais elevado de realizadores e pesquisadores, tanto assinando publicações quando desenvolvendo e referenciando trabalhos acadêmicos. O jornalista cultural Augusto Machado Paim, é um exemplo de profissional dinâmico e mobilizado pelo tema, tendo desenvolvido seu trabalho de conclusão de curso na Universidade de Santa Maria abordando a obra de Joe Sacco, já tendo produzido reportagens sobre o tema e também utilizando o suporter do Jornalismo em Quadrinhos, além de ser o idealizador do I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos, realizado em 2010 em Porto Alegre e cuja segunda edição está prevista para outubro de 2012 em Curitiba. Outro pesquisador e quadrinhista em destaque é o paraibano José Audaci Jr, que realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso abordando a história dos quadrinhos na Paraíba e fez uso da linguagem da Arte Sequencial para produzir a peça final apresentada à banca de avaliação. Audacy é responsável também por reportagens e blogs abordando o Jornalismo em Quadrinhos, tendo ainda desenvolvido uma técnica própria de crítica literária a histórias em quadrinhos lançadas no país através da inserção do próprio crítico como personagem dentro do enredo da obra e utilizando para tanto a técnica de desenho do ilustrador original. As referências à experimentações do formato em grandes jornais e revistas do país também são fartas, embora inconstantes. Já fizeram uso da plataforma veículos como A Tarde (BA), Correio Braziliense (DF), Folha de São Paulo (SP), O Estado de São Paulo e portal G1, entre outros. Merece referência a repórter Patrícia Villalba e os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, que realizaram em 1999 a primeira entrevista

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brasileira em quadrinhos, no jornal O Estado de São Paulo, promovendo o encontro do baiano Tom Zé com o pernambucano Otto através da plataforma da Arte Sequencial. Retornando aos nossos dias, uma referência nacional é oferecida aos leitores na Internet através do site Catraca Livre (http://catracalivre.folha.uol.com.br), ligado ao grupo Folha e ao portal Uol. Na página, voltado a entretenimento e cultura, encontra-se uma seção de Quadrinhos, com veiculação de muito material de HQ-Jornalismo, produzido a pedido do próprio site ou por outros meios que ganham exposição através dessa ferramenta. Os próprios editores destacam três trabalhos realizados pelo quadrinhista Alexandre De Maio durante o ano de 2011: o primeiro é uma entrevista com a cantora Zélia Duncan, realizada com a colaboração de leitores que enviaram suas perguntas pelo Facebook e depois foram transportados para dentro dos quadrinhos; o segundo é uma homenagem ao centenário de Nelson Cavaquinho, formatando uma entrevista imaginária composta por trechos de diversas entrevistas concedidas pelo músico ainda em vida; a terceira uma entrevista com o cantor e compositor Arnaldo Antunes em sua casa, que então havia sido utilizada como cenário para a gravação de um DVD, trazendo para o quadrinho cenários capturados no audiovisual ou imagens sugeridas ao longo da conversa. Alexandre De Maio também participa de outra experiência interessante em plataforma impressa, desta vez viabilizada pela revista Fórum, onde o repórter CarlosCarlos desenvolve o argumento de reportagens que são ilustradas por Maio. A primeira veiculação foi realizada na edição 106 (Janeiro de 2012), abordando a marginalização dos usuários de crack, onde o repórter participa da ação narrativa como personagem, interagindo no desenho junto com o entrevistado, que fornece os argumentos para composição da cena. A segunda veiculação foi na edição 107 (Fevereiro de 2012), onde o tema foi a remoção de famílias da área onde estavam assentadas favorecendo obras para a Copa do Mundo, utilizando técnica assemelhada. Projetos experimentais seguem sendo colocados em prática e cada vez mais setores da sociedade estão despertando para as potencialidades da linguagem da Arte Sequencial e as possibilidades do seu uso ligado ao Jornalismo. Um novo viés é a utilização dos Quadrinhos para veiculação institucional, produzindo o que talvez devamos descrever como “Jornalismo em Quadrinhos Institucional”, a exemplo do que fez o Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul (RS) quando contratou o jornalista Augusto Machado Paim e a ilustradora Ana Luiza Goulart Koehler para desenvolver uma reportagem em quadrinhos a respeito da história do clube. Outra nova aplicação 13


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pode estar sendo descortinada a partir da empresa AES Sul, subsidiária de distribuição de energia em parte do Rio Grande do Sul, que de forma inovadora contratou o trabalho da agência Santo da Casa Endomarketing e do estúdio de criação Bife Editorial para desenvolver uma HQ, assinada por Lehgau-Z Qarvalho e Patrícia Guimarães, representando uma peça informativa diferenciada, ao que talvez possamos chamar de Jornalismo em Quadrinhos Empresarial. Para finalizar este relato breve – onde devemos admitir que pecamos pela omissão de muitas experiências interessantes – precisamos destacar a inovação realizada pelo quadrinhista Daniel Gnatalli, que tem frequentado os grandes eventos que abrem espaço para o debate a respeito de Quadrinhos e produzido através de sua experiência na plateia relatos quadrinhizados publicados em plataforma virtual logo em seguida. Tratase de cobertura jornalística de evento revertida em liguagem da Arte Sequencial, outra proposição nova e interessante, que vem sendo aplicada com sucesso em uma série de oprotunidades, como na Festa Literária de Parati (2011), Rio Comicon (2010 e 2011), Ilustra Brasil 7, Ilustra Brasil 8 e Feijão Ilustrado. 6 – Considerações finais Debatíamos em meados de 2011 a aceitação ou não do Jornalismo em Quadrinhos como gênero jornalístico em nosso Trabalho de conclusão de Curso na Universidade Federal de Santa Maria. O texto base que iniciou o presente artigo norteava-se pelas anotações prévias não utilizadas naquele trabalho. Uma vez atualizadas

e

complementadas,

estas

anotações

demonstram

um

cenário

consideravelmente mais estabelecido do que há menos de um ano. Surgem quase que diariamente novos e interessantes trabalhos analisando o Jornalismo em Quadrinhos e seus referenciais, bem como somos testemunhas de reportagens, notícias, entrevistas, livros, e toda sorte de produtos narrativos que se utilizam desta plataforma e de suas possibilidades e potencialidades para desempenhar o ato criativo do fazer jornalistico. Will Eisner previa algo maior para os quadrinhos quando predisse a plataforma como “arte de comunicação”. Talvez nem mesmo Joe Sacco, ao propor as bases da terminologia do que hoje convencionamos chamar de Jornalismo em Quadrinhos pudesse prever a apropriação do formato por tantas e tão interessantes iniciativas. Se no passado os jornais impressos abriram suas páginas para que ali se implantassem as bandas desenhadas e sua comicidade, hoje o Jornalismo abre definitivamente as portas 14


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para acolher uma nova forma de construir informação, onde as imagens e as palavras somam-se formando um novo signo, que uma vez sequenciado confirma todo o potencial informativo que analisamos historicamente em trabalhos como este. Não faltarão oportunidades futuras para debater essa temática, somando opiniões – convergentes ou não – e que se estabeleçam novos fóruns de discussão circundando a Arte Sequencial e, mais precisamente, o Jornalismo em Quadrinhos. Esperamos em ocasiões futuras descortinar um pouco mais do que nos despertou a atenção e intrigou ao redigir este texto, abreviado pela limitação de espaço. Referencial bibliográfico: AUDACI, Jr. O Jornalismo em quadrinhos. Tomo I, II, III e IV; Adendo I e II. Disponível em: http://quadrinho.com/index.php?option=com_content&view=article&id=56:isso-aqui-nao-e-gothamcity&catid=11:colunas&Itemid=13 BARTHES, Roland. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: Análise estrutural da narrativa. Coleção Novas Perspectivas em Comunicação. Petrópolis: Editora Vozes, 1977. CIRNE, Moacy. Pensando um quadrinho documentário. Artigo. Salvador: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM, 2002. CORBARI, Marcos Antonio. Jornalismo em Quadrinhos: reflexões sobre a utilização da Arte Sequencial como suporte à reportagem. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso I (TCC 1). Universiade Federal de Santa Maria, UFSM: 2011. EISNER, Will. Narrativas Gráficas. São Paulo: Devir, 2005. EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989. FRANCO, Edgar Silveira. Histórias em Quadrinhos e Hipermídia: uma experiência de criação utilizando a hibridização de linguagens. Artigo. Núcleo de Pesquisa 16, IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. GAIARSA, José. Desde a pré-história até McLuhan. In: Moya, Alvaro de. Shazan. São Paulo: Perspectiva, 1970, PP. 115-120. GOIDANICH, Hiron; KLEINERT, André. Enciclopédia dos Quadrinhos. Porto Alegre, RS: LP&M, 2011. GONÇALVES, Maurício Rodrigues. Maus: uma visão metafórica da realidade através dos quadrinhos verdade. Monografia. Escola de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas: Pelotas, 2005. JARCEM, René Gomes Rodrigues. História das histórias em quadrinhos. In História, imagens e narrativas. No. 5, setembro de 2007. LUTYEN, Sofia. O que é história em quadrinhos. São Paulo: Brasiliense, 1985. MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 1995. MCCLOUD, Scott. Reinventando os Quadrinhos. São Paulo: M. Books do Brasil, 2006. PAIM, Augusto Machado. Análise de estratégias discursivas na narrativa de Jornalismo em Quadrinhos “Palestina: na faixa de Gaza”, de Joe Sacco. Monografia. Santa Maria: Universaidade Federal de Santa Maria, 2007.

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