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Biografia do Pr.
José Santos Os passos de um homem bom
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Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor... (Pv 20.24);
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem... (Lc 6.45).
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Introdução
A árvore que Jesus não deixou transformar-se em um espinheiro “Saudai a Andrônico e a Júnias,
meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos, e que foram antes de mim em Cristo”, Rm 16.7. Quando estive em Baltazar, a pequena cidade natal do pastor José Santos, entre as muitas coisas que vi, os fatos que registrei, e as diversas impressões que saltaram das pessoas, das casas, das ruas, do rio, da linha férrea, das montanhas e da velha estação para dentro do meu bloco de anotações, uma das coisas que mais despertou a minha atenção foi um velho e esquecido espinheiro encravado ao lado do grupo escolar onde o menino José Santos havia estudado.
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Olhei para aquele arbusto sem folhas, sem flores e sem frutos, cujos galhos tortuosos, desfolhados e secos quase não projetavam sua sombra no chão, e vi o quanto ele contrastava com a árvore frondosa, acolhedora e frutífera que havia sido o pastor José Santos. Mas não pude deixar de considerar que aquele espinheiro talvez fosse hoje a exata representação da vida do pastor, caso ele não tivesse encontrado, há 60 anos e naquela mesma cidadezinha onde aquele arbusto havia despertado minha atenção, o Salvador da humanidade, Jesus Cristo – a figueira, oliveira e videira verdadeiras. Após perdoar os seus pecados, convocá-lo como apascentador do Seu rebanho, e dar-lhe como esposa a melhor companheira que ele poderia encontrar em toda a região, o Senhor Jesus fez com que aquele jovem esforçado e sonhador saísse da minúscula cidade do interior fluminense para tornar-se um dos mais representativos pastores-apascentadores na história das Assembleias de Deus no Brasil. O dramaturgo alemão Bertold Brecht afirmou certa vez: “Infeliz do povo que precisa de heróis.” Tomo aqui a liberdade de completar o aforismo de Brecht: “Sim, esse povo será muito infeliz, caso não os tenha.” Em meio ao atual declínio moral e espiritual de muitos líderes da nossa sociedade, nossos jovens precisam espelhar-se no exemplo de homens e mulheres que têm pautado a sua vida na integridade e no temor a Deus. O apóstolo Paulo disse certa vez: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1). Atualmente, nem todo cristão teria a idoneidade, a firmeza e a autoridade para repetir essas palavras do apóstolo. Pastor José Santos teria. Este livro documenta a extensão e a multiplicidade dos aspectos em que ele imitou Jesus. Pr. Jefferson Magno Costa 6
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Capítulo 1
O menino José Ao ser inaugurada em 1883, a esta-
ção ferroviária de Baltazar, município de Santo Antônio de Pádua, RJ, distante 256 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, tornou-se a construção mais imponente do lugarejo, destacando-se entre as dezenas de casas pintadas de branco que ladeiam a linha férrea. Nem mesmo a capela da Igreja Católica Romana construída diante da única praça e no ponto mais alto da cidade conseguiu superar a estação, que de longe até parece uma acolhedora e ampla casa de fazenda. Aliás, parecia. Hoje, desativada como estação de passageiros, e em ruínas, suas paredes de cor indefinida e roídas pelo tempo ainda estremecem quando a sonolenta tranquilidade do lugar é interrompida pela passagem de um longo trem de carga vindo de Minas Gerais. O piso desgastado daquela velha estação guardou para sempre o eco dos passos das centenas de pessoas que durante mais de um século desembarcaram ou embarcaram em Baltazar. Os Passos de um homem bom
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Sob o seu telhado esburacado que à noite serve de abrigo para morcegos e corujas, e por trás das longas portas e janelas de madeira maciça, ainda ecoam as vozes das pessoas que passaram por ali, e que um dia desapareceram para sempre, embarcadas em um trem que as conduziu à estação da eternidade. Foi naquela cidadezinha encravada entre montanhas que em 30 de abril de 1927 nasceu o pastor José Santos. Seu pai, Claudionor Santos, era funcionário da estrada de ferro. Trabalhava como sinalizador de rotas de trens. Claudionor não sabia que seu filho José ia tornar-se, na história da pregação do evangelho em terras fluminenses, um dos grandes sinalizadores da única e segura rota de salvação que conduz almas à vida eterna. Quando o pequeno José estava com um ano e quatro meses de idade, sua mãe, Sebastiana Pereira Santos, em pleno esplendor dos seus 28 anos, morreu de complicações de parto daquele que seria seu segundo filho. Foi uma longa e terrível noite de luta pela vida. Porém, quando as primeiras cores avermelhadas da aurora invadiram a escuridão do céu e anunciaram o nascer do sol, mãe e filho morreram. O menino José passou a ser criado por sua tia Emília, a quem ele chamava de “mãe” (ela se tornaria a bondosa e inesquecível “vó Milica” dos futuros 11 filhos do pastor José Santos), e pela prima Celina Santos Nogueira, uma menina de 11 anos de idade, que assumiu o papel de irmã mais velha do pequeno José. Ele era um menino obediente, um garoto muito bom. Foi criado por uma família pobre, mas que o amava muito. Como todo garoto saudável e inteligente, às vezes fazia alguma coisa que seu pai ou sua tia reprovavam, porém a prima Celina, para livrá-lo do castigo, quase sempre conseguia justificar as travessuras do pequeno José. 10
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Capítulo 2
O primeiro emprego aos 12 anos de idade José foi um menino comunicativo.
Fazia amigos com facilidade. Sua infância em Baltazar foi marcada pelos múltiplos contatos com a natureza, pelo desbravamento das matas que circundavam a cidade, pelas brincadeiras durante o recreio no Grupo Escolar Teófilo de Melo, pelas partidas de futebol com os amiguinhos nos campos que margeavam o rio Pomba, e pelos banhos e as brincadeiras nas águas do rio. Aliás, muitos anos depois, já morando longe de Baltazar, em todos os sonhos do pastor José Santos em que aparecia um rio, quase sempre era o rio Pomba, o amplo e caudaloso rio que acalentou sua infância com o suave murmúrio de suas águas, e cuja ameaça de enchentes durante a estação das chuvas povoou muitas vezes suas noites de apreensão e pesadelos. Os Passos de um homem bom
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Quando ainda estava com 12 anos de idade, José começou a robustecer o seu físico de criança no trabalho duro da roça, e a treinar o seu caráter para os grandes desafios que a vida lhe reservava. A pobreza da família obrigou todos de sua casa a trabalharem com o objetivo de conseguir recursos para suprir as necessidades básicas. Solidário, o menino José também começou a trabalhar. Os donos de sítios da região lhe pagavam dez tostões por dia (algo em torno de dois reais), para que ele capinasse, preparasse os terrenos destinados à semeadura ou colhesse arroz e outros produtos do campo. Já adolescente, José voltou certa vez para casa muito feliz, pois arranjara um “emprego melhor”: ia carregar pedras, cavar buracos, enterrar dormentes e fixar trilhos na estrada de ferro onde o seu pai já trabalhava, longe dali. Dona Emília era tão cuidadosa com o filho de criação, que não o deixava levar marmita para o local de trabalho. Todos os dias, ela se levantava cedo, preparava o almoço de José, que saíra de madrugada, e, após caminhar até o local onde o rapaz estava trabalhando, servia-lhe uma comida fresquinha. Baltazar sempre foi uma cidade pequena, de poucas ruas. À noite, os jovens costumavam reunir-se no clube da cidade, o Tangerina. Durante muitos anos esse clube foi o único local de entretenimento de Baltazar. Era para lá que, depois de um pesado dia de trabalho, José se dirigia para encontrar os amigos. Ele se tornou um assíduo frequentador daquele clube depois que constatou que era o único local onde poderia encontrar as moças mais bonitas da cidade. Ali os jovens conversavam, bebiam, dançavam e namoravam. 12
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Os passos de um homem bom
Conclusão O amor, a sabedoria, a fé e a simplici-
dade que marcaram a trajetória de vida desse servo de Deus, as lutas que venceu e as pegadas firmes que deixou em sua caminhada exemplar pela estrada do evangelho foram citados pelos oradores durante o culto de despedida. A sabedoria e a mansidão com que tratava as ovelhas e qualquer pessoa que se aproximasse dele o tornaram amigo de todos. A chama do amor que ardia no seu peito e a centelha da fé que o impulsionava reluziam nos seus olhos. Nunca reivindicou nada para si, mas possuía tudo o que necessitava, pois servia ao Dono de todas as riquezas. Foi um incansável operário da Vinha do Senhor. Tornou-se “pai na fé” de muitos futuros cidadãos do céu, que ele gerou em Cristo Jesus. Conheceu inúmeras particularidades do amor e da misericórdia de Deus, porque viveu sempre muito perto dele. Os Passos de um homem bom
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Parte 2
Pastor José Santos por ele mesmo
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Moldado pelo trabalho desde criança
Nunca tive medo de enfrentar o trabalho.
Comecei a trabalhar com 12 anos de idade. Meu pai era doente. Aposentou-se por invalidez. Eu ia para o colégio às sete horas da manhã, voltava ao meio-dia para casa, tomava banho, almoçava e ia para a roça capinar plantios de arroz e de milho. Trabalhei uns quatro anos nessa atividade. Em seguida, trabalhei em outros lugares. Trabalhei no Rio de Janeiro, no armazém de um português. Trabalhei na Prefeitura de Santo Antônio de Pádua. Trabalhei na Estrada de Ferro Leopoldina. Trabalhei no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Tudo isto quando eu tinha menos de 20 anos de idade. Sempre tive a preocupação de não desperdiçar meu tempo. Quando eu era jovem, aprendi um soneto de Olavo Bilac, e em diversas ocasiões na igreja eu o recitei de memória. Eis o soneto: O Tempo (Olavo Bilac) Sou o tempo que passa, que passa Sem princípio, sem fim, sem medida. Os Passos de um homem bom
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Vou levando a Ventura e a Desgraça, Vou levando as vaidades da Vida. A correr, de segundo em segundo, Vou formando os minutos que correm... Formo as horas que passam no mundo, Formo os anos que nascem e morrem. Ninguém pode evitar os meus danos... Vou correndo sereno e constante: Desse modo, de cem em cem anos, Formo um século e passo adiante. Trabalhai, porque a vida é pequena E não há para o tempo demora! Não gasteis os minutos sem pena! Não façais pouco caso das horas!
Encontrando Jesus nas páginas da Bíblia
Aceitei Jesus Cristo como Salvador não
porque algum pastor ou pregador esclarecido e eloquente tenha pregado o evangelho para mim. Quem me levou a ler a Bíblia e a interessar-me pela história de Jesus foi um rapaz, um simples membro da Igreja Batista.
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Que isto sirva de lição a quem acha que não tem autoridade ou capacidade para falar sobre Jesus Cristo às pessoas, por não ser culto, por não fazer parte do ministério de alguma igreja ou não ocupar algum cargo eclesiástico. Quando eu ouvia falar em pregador, evangelismo, salvação, eu dizia “isto é conversa fiada”. Eu não gostava de evangélicos, e admirava o espiritismo. Minha mãe tinha sido médium espírita. Eu não convivi com ela o suficiente para conhecê-la. Quando ela morreu, eu tinha menos de dois anos de idade, mas quem a conheceu disse que ela conversava com os espíritos. O clube Tangerina, no centro da pequena cidade onde eu nasci, era o local onde eu e os meus amigos costumávamos beber e dançar. Ele ficava em frente à congregação da Assembleia de Deus em Baltazar, que tinha como líder o pastor Marcelino Margarida. Muitas vezes, enquanto o pastor pregava gritando na ponta dos pés e olhando para o local onde estávamos, nós continuávamos dançando e bebendo cachaça. Algumas vezes, movidos pelo espírito de zombaria, nós erguíamos o copo de cachaça e gritávamos para o outro lado da rua: “Pastor, vem cá tomar uma dose com a gente. Essa é da boa. Vem cá, pastor!” Eu tinha uma namorada muito feia, mas que dançava muito bem. Nos dias especiais, eu vestia um terno de linho panamá branco, muito bonito. Eu e aquela moça feia fazíamos o maior sucesso como dançarinos no salão do clube Tangerina. Quando estávamos dançando, todos paravam para nos assistir. Toda alma precisa ouvir falar de Jesus, seja ela rica ou pobre, culta ou ignorante. Muita gente termina indo para o inferno muitas Os Passos de um homem bom
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vezes por culpa da nossa timidez, dos nossos complexos de inferioridade. Eu precisava ouvir falar de Jesus, mas só dei ouvidos àquele rapaz da Igreja Batista. Esse rapaz me despertou a curiosidade sobre as Escrituras, e resolvi examiná-las. Essa leitura me levou a descobrir que havia um caminho muito superior àquele que eu estava seguindo. Eu nunca antes havia aberto uma Bíblia para ler. E foi lendo as Sagradas Escrituras que encontrei Jesus, e surpreendi-me diante de Sua figura única, singular, maravilhosa. Fui tocado pela narração da história de Jesus realizada pelo evangelista Mateus. Depois de alguns dias que eu havia iniciado a leitura da Bíblia, o Espírito Santo me impulsionou a procurar uma igreja. Frequentei várias delas, mas não fiquei em nenhuma. Eu havia colocado no meu coração a decisão de só ficar na igreja que falasse sobre o batismo com o Espírito Santo. Visitei a Assembleia de Deus, e constatei que lá quase todas as pessoas eram batizadas com o Espírito Santo, e até as crianças falavam em línguas estranhas. Na ocasião, convidaram-me para assistir ao culto de aniversário de 15 anos na casa da moça que um dia se tornaria minha esposa. Aceitei Jesus como Salvador durante esse culto de aniversário de minha futura esposa. No dia anterior eu tinha ouvido, no cemitério, a pregação de um pastor que eu não conhecia. Era Dia de Finados, e o pastor pregou sobre as ovelhas que Jesus veio arrebanhar. Gostei daquela pregação. Naquela época não havia grandes pregadores como hoje. Eram pregadores pequenos, assim como eu. Mas aquele pastor pregou, e eu gostei. No culto realizado na casa da minha futura esposa, na roça, quem pregou não foi o pastor Marcelino Margarida, e sim um irmão que havia saído da Igreja Batista. Chamava-se 82
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Zé Pereira. Achei-o um camarada imprudente, de língua solta, cheio de expressões grosseiras. Durante sua pregação, falou mal dos batistas, falou mal do pastor da igreja de onde ele saíra. Disse: “O pastor daquela igreja tá gordo porque só come pão com manteiga”. No final daquela mensagem sem unção, vazia de sabedoria e destituída de objetividade, ele fez o apelo, e eu aceitei Jesus como Salvador. Eu fora para aquele culto decidido a entregar-me. Portanto, costumo dizer que não foi aquele irmão ou qualquer outro pastor que me ganhou para Jesus. Se dependesse daquela mensagem, eu teria dado meia-volta e ido embora para casa na mesma situação espiritual em que chegara ali. A verdade é que a Palavra de Deus, que eu lia todos os dias, já estava produzindo os seus efeitos dentro de mim. Eu resolvera examinar a Bíblia para buscar argumentos a fim de discutir com o rapaz da Igreja Batista, e encontrei a Verdade, com V maiúsculo. Comecei a ler a Palavra de Deus e encontrei Jesus, porque quando a gente começa a ler a Palavra de Deus e abre o coração para Ele, a gente encontra Jesus. Porém, entre encontrar Jesus e aceitar Jesus, há uma grande diferença. Que isto sirva de alerta a algumas pessoas. Depois que o encontrei, ainda levei três anos para aceitá-lo como Salvador. Passei três anos lendo a Bíblia, crendo que a Bíblia é a verdade, sabendo que o evangelho é a verdade, tendo certeza de que o caminho é Jesus, mas não encontrava dentro de mim forças para me decidir por Jesus. Conforme já disse, eu gostava de beber, de fumar, de dançar e de participar dos blocos de carnaval. Considerando pelo lado carnal, puramente humano, tudo aquilo era muito bom, e eu gostava. Porém, tempos depois, o Espírito Santo falou ao meu coração Os Passos de um homem bom
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Parte 3
Pastor José Santos em família
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JOSÉ SANTOS PAI Entrevistas com Elisabeth, Ozeias, Otoniel, Edna, Elizete, Onésimo, Obede, Elba, Odilon, Elaine e Oldair, filhos do pastor José Santos.
Como o pastor José Santos
conduziu a família nos quesitos educação, disciplina e motivação? Como ele se comportava com relação aos sentimentos e relacionamentos de vocês? Como ele era com relação ao futuro, aos estudos, à carreira dos 11 filhos? Como foi o pastor José Santos pai? ELIZABETH: As mais antigas recordações que guardo do meu pai são do tempo em que morávamos na Rua Doze de Outubro, perto do Hospital Evangélico, em Carangola, MG. Naquela época ele estava construindo o templo da Assembleia de Deus daquela cidade. Eu ia para a escola de manhã, e, quando retornava, minha mãe fazia café, botava no bule, e eu ia até a igreja levar o café para o meu pai. Muitas vezes eu o encontrava deitado em cima de uma tábua de construção, reclamando de dor no estômago, pois desde rapazinho sofria de úlcera estomacal. Porém, mesmo assim, não dispensava o café. O pai dele morrera ainda bem Os Passos de um homem bom
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novo em consequência de úlcera no estômago. Meu pai herdou essa doença do meu avô. Lembro que ele também dirigia trabalhos de evangelismo em Divino e outros lugarejos da região. Ele ia de bicicleta, e eu ia sempre com ele. Quando íamos atravessar algum pontilhão, eu descia da bicicleta e caminhava a pé, por ser mais seguro, e ele vinha logo atrás, trazendo a bicicleta. Meu pai também andou muito a pé para evangelizar em lugares distantes. Com relação à nossa vida sentimental, ele nunca dava palpites. Só se alguém chegasse a ele e pedisse. Fora isso, não se intrometia, era muito discreto. A única coisa que fazia era aconselhar-nos a observarmos bem com quem estávamos namorando. Mas a escolha e a decisão eram sempre nossas. Se houvesse algum problema depois, e ninguém chegasse para ele pedindo sua opinião, ele não se metia. Nunca vi o meu pai desesperado. Tivemos dificuldades financeiras, mas ele nunca dividiu conosco esses assuntos. Deus sempre nos socorria, e nunca nos faltou nada. Se ele tivesse algum problema no ministério, alguma coisa grave, ele nunca chegava em casa e contava-nos. Meu pai sempre foi um homem muito quieto, muito contido, muito cauteloso. Não era de jogar conversa fora. A mais remota lembrança que tenho da fisionomia dele é a de um homem sempre sério, calado. Às vezes, no aniversário de algum de nós, ele brincava, abraçava, beijava. Fora isso, era aquele pai caladão. Porém, meu pai mudou muito depois que se tornou avô. Ficou mais espontâneo, mais alegre, mais falador. Começou a brincar com os netos. Quando se tornou bisavô então, mudou muito mais. Eu costumava brincar com ele, dizendo: “Quem te viu e quem te vê, hein pai? Quando o senhor era só o nosso pai, era sério, caladão. Mas agora que é avô, os netos pintam e bordam com o senhor, e o senhor não está nem aí, hein?” Ele ria e não respondia nada. 104
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Quanto à questão de disciplina, era muito rígido. Sempre nos avisava que, como filhos de pastor, deveríamos ser o exemplo. No início do seu ministério na AD da Penha, se uma de nós, filhas, pintasse uma unha com base, ele raspava com o canivete. Fez isso umas duas vezes na minha mão. Deveríamos ser o exemplo. Não tinha preferência por nenhum de nós. Tanto ele como a minha mãe, nunca percebi neles preferência por ninguém. A grande herança que ele deixou a todos nós, seus filhos, foi o ensinamento de que, se quisermos ser felizes aqui na terra, temos de seguir a Jesus. Devemos temer e obedecer a Jesus, para podermos, no final, alcançar a vida eterna. Ele sempre nos ensinou isso, e não tem nem como a gente se desviar dessa direção que ele nos deu, porque, além de ensinar-nos o caminho, ele caminhou nele conosco durante todos esses anos em que viveu entre nós. OZEIAS: Meu pai tinha uma certa habilidade de não deixar transparecer seus problemas para a família. Poderia estar enfrentando um grande conflito, porém mantinha a serenidade. Nunca o vi exaltar-se, nunca o vi fazer comentários em casa com relação a algum problema da igreja. Acho que foi por agir assim que ele agravou aquele seu problema de úlcera. Chegou a sofrer um infarto por causa disso. Mas acho também que isso foi uma bela atitude de sua parte, pois geralmente a família do pastor, mesmo não tendo estrutura para saber o que acontece na igreja, fica sabendo devido aos comentários do próprio pastor. Acho que é isso que destrói a vida de muitos filhos de pastores. Muitos deles se desviam porque não têm preparo, não têm estrutura para tomar conhecimento de determinadas coisas que acontecem no seio da igreja. Os Passos de um homem bom
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Nunca vi o meu pai aborrecido, zangado. Às vezes ele era meio sarcástico, irônico. Mas usava a ironia para testar as convicções das pessoas. Quando ele falava com a gente assim meio que duvidando, era para nos levar a provar que realmente estávamos decididos a fazer uma determinada coisa. Por ser de uma família pobre, meu pai sempre se preocupou com o futuro. Ele sempre nos aconselhava a não gastar mais do que ganhávamos, e a economizar. Mesmo sendo pai de 11 filhos, e tendo passado grande parte de sua vida ganhando um salário pequeno, ele sempre honrou os seus compromissos. Nunca vimos ninguém chegar na nossa porta para cobrar qualquer coisa. Meu pai nunca ficou devendo nada a ninguém. Isto tanto em Carangola, quando sustentou sete filhos ganhando muito pouco, como em Valença e depois na Penha, onde lhe nasceram mais quatro filhos. Não comprava aquilo que não podia pagar. Ele tinha uma frase sobre cartão de crédito que os irmãos da Penha até hoje repetem: “Com o cartão de crédito você compra o que não precisa com o dinheiro que não tem”. Comecei a trabalhar com 14 anos de idade, e até aos 13 anos vesti algumas vezes roupas de algum irmão meu ou doadas por alguém. Mas isso não foi desonroso para nenhum de nós. OTONIEL: Meu pai nunca tomou atitude para beneficiar filho algum em detrimento dos demais. Era um homem justo, dividia de igual para igual. Todos participavam das mesmas coisas. Ele nunca foi de tirar férias. Depois de muitos anos, quando já estávamos todos crescidos, e quando o pastor Silas já havia casado com minha irmã Elizete, foi que começou a tirar um período de férias da igreja. Antes, não sabia que pastor tinha o 106
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direito de tirar férias, não era da cultura dele. Gostava de ficar em casa, sentia prazer de estar com a família. Sempre manteve um lugar reservado para ler bons livros, sempre teve uma boa biblioteca. Lia muito a Bíblia, e separava tempo para preparar os seus sermões. Nenhum filho do meu pai tem desculpa para fazer coisa errada, porque o exemplo de vida que ele nos deixou é para que todos nós sejamos pessoas de bem, para que todos nós ajamos de maneira correta. EDNA : Ele não era aquele pai de abraçar, de beijar ou de conversar longamente conosco. Quando a gente fazia aniversário é que ele vinha e dava um abraço, e a gente tinha o direito de sentar à mesa, tinha direito de escolher o pedaço do frango. De manhã, quando ele tinha tempo, quando não havia um problema urgente para resolver ou não estava com algum pastor esperando ele para saírem a fim de atender um compromisso, ele realizava o culto doméstico. Era quando falava para nós o que tinha de falar. Quando algum de nós chegava para ele e dizia: “Pai, noivei”, ou “Pai, vou me casar”, ele perguntava: “É isso mesmo que você quer? Estão certinhos na igreja e com Jesus?”. ELIZETE: Para mim ele foi um pai muito especial. Falava pouco, mas falava sempre as coisas certas, com sabedoria. Corrigia-nos também, quando era preciso. Levei poucas surras do meu pai; da minha mãe levei mais, porque ela estava sempre ali com a gente. Lembro-me que certa vez eu e a minha irmã Edna ficamos do lado de fora da igreja quando o culto já havia começado. Tínhamos Os Passos de um homem bom
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OBEDE: Se deixassem ele ficava 24 horas na rua pregando, falando de Jesus às pessoas. Aonde chegava sempre perguntava, fosse quem fosse: “Você conhece Jesus? Ele tem um propósito na sua vida”. ODILON: Seu método de evangelismo era simples, direto, objetivo. Não tinha esse negócio de usar palavras difíceis não. Dava o recado dele, fazia a parte dele, independente de a pessoa aceitar ou não. O que ele queria mesmo era semear. ELBA: Ele falava às pessoas a todo o momento sobre o amor e a salvação oferecidos por Jesus. Quando eu ia com ele ao oftalmologista, eu já sabia que ele ia falar de Jesus. No cardiologista era a mesma coisa. E também no shopping, no supermercado, durante suas caminhadas matinais. Ele não deixava passar nenhuma oportunidade. ELAINE: Em todo lugar aonde chegava, tinha de evangelizar. Se não evangelizasse, não ficaria sossegado. Evangelizava em tempo e fora de tempo. OLDAIR: Meu pai era um evangelista muito bom. Onde ele parava, em qualquer local onde estivesse, evangelizava, falava de Jesus. Sempre perguntava se a pessoa era ou não evangélica, se já havia ido a uma igreja evangélica, se já ouvira falar de Jesus.
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Maria Leal Santos O QUE REPRESENTOU PARA MIM TER SIDO A ESPOSA DO PASTOR JOSÉ SANTOS
A melhor coisa que Deus me deu, de-
pois da salvação da minha alma, foi o privilégio de ser casada com o pastor José Santos durante 59 anos. Nós nos casamos muito jovens, ele com 23, e eu com 16 anos. Ele sempre teve muita paciência comigo, e eu com ele. Meus pais viviam muito bem como marido e mulher, e eu sempre pedia a Deus que me desse um esposo tão bom quanto o meu pai era para a minha mãe, um homem que me compreendesse e amasse. E foi isso que o Senhor fez na minha vida, ao dar-me José Santos como esposo. Mesmo sendo ainda muito nova, vários rapazes de Baltazar me cortejavam a distância, querendo namorar-me, e um deles, filho de um homem rico, chegou até a comentar na cidade que a nossa casa já estava pronta, caso eu aceitasse casar com ele. Os Passos de um homem bom
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Mas desde menina eu aprendera a orar pedindo ao Senhor que só me desse como esposo um rapaz fiel e temente a Deus. Eu não aceitaria envolver-me com quem não tivesse compromisso com o Senhor. Como resposta às minhas orações, o Senhor me deu José Santos. Confirmou-me em sonhos que ele era o esposo escolhido para mim. Casamo-nos segundo a vontade do Senhor, e nunca nos desviamos de Sua vontade. Em 59 anos de casados, mesmo tendo vivido inicialmente em meio a muita escassez de recursos básicos, nunca brigamos ou tratamos mal um ao outro. Alguns podem até achar impossível isso acontecer na vida de um casal que conviveu 59 anos, mas eu afirmo que é possível sim, desde que esse casal tenha sido unido como resposta das orações que ambos fizeram a Deus, e nunca saído de Sua presença, conforme aconteceu conosco. Nascemos em um lugar pobre, moramos em lugares simples, tivemos 11 filhos, passamos por situações de muito aperto, pagamos um alto preço, mas hoje, considerando o que Deus fez em nossa vida e na vida dos nossos filhos, posso dizer, com muita convicção, que tudo valeu a pena. Por ter sido filho único, pastor José Santos sempre quis ter uma família grande, composta de muitos filhos. O curioso é que, na trajetória da vida do meu esposo, o Senhor sempre foi muito generoso para com ele, sempre o surpreendeu, dando-lhe além do que ele pedia. Ele orou pedindo dez filhos, e Deus lhe deu 11. O Senhor tem sido maravilhoso para conosco. Em tudo. Às esposas de pastor, especialmente às mulheres mais novas, deixo aqui um conselho. Sei que muitas delas têm um grande alicerce de sabedoria humana, intelectual. Mas o meu conselho é que elas se ajoelhem todos os dias diante do Senhor, e orem pedindo-lhe a sabedoria espiritual, divina, que desce do alto. Só 142 |
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Parte 5
Memória fotográfica
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Pastor José Santos impetrando a bênção apóstólica no púlpito da AD da rua Montevidéu
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Certificado de Ordenação para Ministro da Assembleia de Deus expedido em 1953 Pastor José Santos pregando no canteiro de obras da AD na rua Honório Bicalho; ao lado, ele no tanque batismal da mesma igreja
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Grupo de meninos em louvor, na AD da rua Honório Bicalho Escola Bíblica de obreiros no templo da AD em São Cristóvão, RJ
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7. 8.
Pastor José Santos desfila em companhia de obreiros, em homenagem a 7 de Setembro, no largo da Penha Em Londres, pastor José Santos em companhia do irmão Elias e do pastor João Pereira de Andrade e Silva
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9. Pastor José Santos pregando na Congregação Soldado Paiva, na Penha 10. Pastor José Santos em dois momento pregando no púlpito da AD da rua Honório Bicalho
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16. Claudionor Santos e Sebastiana Pereira Santos, pais do Pastor José Santos 17. Celebração de bastismo na AD na rua Honório Bicalho
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18. 19. 20. 21.
Pastor Santos em companhia de obreiros na AD da rua Honório Bicalho Pastor Santos em pregação na Congregação de Carangola com o Pastor Manoel Dias Pastor Santos entre obreiros na AD na rua Honório Bicalho. Em destaque, pastor Gilberto Malafaia Pregação na AD da rua Honório Bicalho
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22. Construção do templo na rua Montevidéu, 119: Pastor Aurelio e Pastor Adão ao lado do Pastor Santos. 23. Fiéis diante da AD da rua Honório Bicalho
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24. Pastor José Santos no Congresso Fogo para o Brasil 25. Pastor José Santos no Jardim Getsêmani, em Israel 26. Pastor José Santos no púlpito da AD da rua Montevidéu
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27. Pastor José Santos fala à igreja durante a celebração de seus 80 anos 28. Pastro José Santos entrando no templo da AD Montevidéu e recebendo os cumprimentos do pastor Silmar Coelho
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29. Pastor Samuel Malafaia ora durante culto de 80 anos do pastor José Santos 30. Pastor Silas Malafaia com os seus sogros, na cerimônia de 80 anos do pastor José Santos
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33. Bodas de ouro do Pastor José Santos com sua esposa, d. Maria Leal Santos, no templo da AD da Penha. Ao centro, o Pastor Marcelino Margarida
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34. Pastor José Santos visitando o Muro das Lamentações, em Israel 35. Pastor José Santos em viagem à Grécia 36. Pastor José Santos em viagem à Israel
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49. Pastor José Santos em viagem a Londres 50. Pastor José Santos em viagem a Israel 51. Pastor José Santos em viagem a Israel
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52. Pastor José Santos no Areópago, durante viagem à Grécia 53. Pastor José Santos entre amigos em viagem ao exterior
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54. Pregação na AD na rua Honório Bicalho 55. Irmã Maria Leal Santos 56. Pastor José Santos
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57. Pastor José Santos pregando entre os pastores Adão e Antônio Rosa 58. Pastor José Santos abraçando o pastor Antônio Rosa no púlpito da AD da rua Honório Bicalho 59. Cerimônia de batismo na AD na rua Honório Bicalho
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64. Pastor José Santos em cerimônia alusiva aos Amigos da Capela Militar do Exército 65. Pastor José Santos entre professores e alunos da Escola Bíblica Monte Hermon, na rua Honório Bicalho
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66. Pastor José Santos condecorado na Capela Militar do Exército em 2008 67. Templo da AD na rua Honório Bicalho
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74. Descerramento da placa de inauguração da AD da rua Montevidéu, em 1996
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