Livro Descobrindo a Bíblia

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Em nossa sociedade, herdeira da cultura judaico-cristã, ao longo dos séculos a Bíblia tem desempenhado um papel crucial na fé e na educação do homem. Assim, muitos creem que ela é a Palavra de Deus e já ouviram histórias sobre Adão e Eva, Noé, Abraão, Jacó, Davi, Jesus e outras personalidades bíblicas importantes. Contudo, a maioria ainda carece de conhecimentos mais profundos e abalizados sobre esse livro cujos princípios, revelações e ensinamentos práticos têm transformado vidas e mudado a história da humanidade. Tendo em vista essa lacuna e a necessidade de uma obra que apresentasse a Bíblia de forma sintética e atraente àqueles que ainda não a conhecem devidamente, publicamos Descobrindo a Bíblia — um livro maravilhoso e bem escrito que o ajudará a desvendar o mundo por trás das histórias bíblicas, fornecendo-lhe o conhecimento básico necessário para captar o significado e a mensagem das Escrituras. Composto de 8 unidades, cada uma com vários capítulos, Descobrindo a Bíblia fornece informações relevantes acerca da autoria e data de composição de cada livro bíblico, o contexto em que foram escritos e outros dados para o entendimento das mensagens neles reveladas. Em cada capítulo, são apresentados os objetivos propostos para o aprendizado da seção, uma lista de palavras-chaves, um resumo do texto em tópicos, perguntas para reflexão e aplicação do que foi ensinado e fontes bibliográficas para estudos adicionais. Além disso, há inúmeros quadros informativos com conteúdo histórico, cultural, literário, arqueológico, hermenêutico e teológico, que o levarão a ter uma compreensão mais profunda da Bíblia como Palavra de Deus. E, ao final dos capítulos, há uma proposta de estudo bíblico, com o objetivo de levá-lo a um estudo regular e sistemático das Escrituras.

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CAPA_DESCOBRINDO A BIBLIA_LOMBADA 3,5cm.indd 1

32775

ISBN: 978-85-7689-256-4

Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara Rio de Janeiro - RJ / CEP: 22713-001 PEDIDOS: (21) 2187-7000

23/08/2013 17:53:48


Copyright 2006 por Beacon Hill Press Copyright 2012 em português por Editora Central Gospel Ltda, com permissão da Beacon Hill Press Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Warnghese, Alex (ed.) Descobrindo a Bíblia — História e fé das comunidades bíblicas Título original: Discovering the Bible — History and Faith of the biblical Communities Rio de Janeiro: 2012 páginas ISBN: 1. Bíblia - Vida Cristã I. Título II.

Gerência editorial e de produção Gilmar Chaves Coordenação Editorial Patrícia Nunan Coordenação de Design Marcos Henrique Barboza Tradução Elen Canto Giuliana Niedhardt 1ª revisão Juliana Ramos Queila Martins Revisão final Patrícia Nunan Patrícia Calhau Adaptação do Projeto Gráfico e diagramação Marcos Henrique Barboza Capa Marcos Henrique Barboza Impressão e acabamento 1ª edição: abril/2012 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste Livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica. As citações bíblicas utilizadas neste Livro foram extraídas da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) 2009 da SBB, salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras. Este Livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009.

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Descobrindo a

Bíblia

História e fé das comunidades bíblicas

Alex Varughese (ed.)


Colaboradores Dr. Robert D. Branson (Universidade de Boston) Professor de Literatura Bíblica e chefe do Departamento de Religião e Filosofia na Universidade Olivet Nazarene, em Bourbonnais, Illinois. Dr. Jim Edlin (Seminário Teológico Batista do Sul dos Estados Unidos) Professor de Literatura e Línguas Bíblicas e chefe do Departamento de Religião e Filosofia na Universidade MidAmerica Nazarene, em Olathe, Kansas. Dr. Tim M. Green (Universidade Vanderbilt) Professor de Antigo Testamento e decano da Escola de Religião na Universidade Trevecca Nazarene, em Nashville, Tennessee. Dr. Roger Hahn (Universidade Duke) Decano da Faculdade e professor de Novo Testamento no Seminário Teológico Nazarene, em Kansas City, Missouri. Dr. David Neale (Universidade Sheffield) Vice-presidente de Assuntos Acadêmicos, decano acadêmico e professor de Novo Testamento na Faculdade Canadian Nazarene, em Alberta, Canadá. Drª. Jeanne Orjala Serrão (Universidade Claremont Graduate) Decano da Escola de Teologia e Filosofia e professora adjunta de Literatura Bíblica na Universidade Mount Vernon Nazarene, em Mount Vernon, Ohio. Dr. Dan Spross (Seminário Teológico Batista do Sul dos Estados Unidos) Professor de Teologia e Literatura Bíblica na Universidade Trevecca Nazarene, em Nashville, Tennessee. Dr. Jirair Tashjian (Universidade Claremont Graduate) Professor de Novo Testamento na Universidade Nazarene do Sul, em Bethany, Oklahoma. Dr. Alex Varughese (Universidade Drew) Professor de Literatura Bíblica na Universidade Mount Vernon Nazarene, em Mount Vernon, Ohio.


Sumário Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Nota do editor ao aluno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Nota do editor ao instrutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Dedicatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

UNIDADE 1

INTRODUÇÃO........................................... 21 1 – Uma história, muitos Livros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2 – Como se deve ler a Bíblia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

UNIDADE 2

O INÍCIO DA COMUNIDADE DA FÉ........... 53 3 – O mundo em que surge Israel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 4 – Israel vê o começo: Gênesis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5 – Israel se torna uma comunidade da aliança: Êxodo. . . . . . . . . . . . . 83 6 – Rumo à Terra Prometida: Levítico, Números e Deuteronômio. . 95

UNIDADE 3

A COMUNIDADE DA ALIANÇA EM CRISE...109 7 – Israel na Terra Prometida: Josué, Juízes e Rute. . . . . . . . . . . . . . . . . 111 8 – Israel se torna um reino politicamente organizado: 1 e 2 Samuel. . 125 9 – Exílio de Israel fora da Terra Prometida: 1 e 2 Reis. . . . . . . . . . . . . 139 10 – Restauração de Israel à Terra Prometida: Crônicas, Esdras, Neemias e Ester . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153


UNIDADE 4

ISRAEL: UMA COMUNIDADE COM SÁBIOS E POETAS............................ 161 11 – Sabedoria da comunidade: Jó, Provérbios e Eclesiastes. . . . . . . . . 162 12 – Canções da comunidade: Salmos, Cântico dos Cânticos e Lamentações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

UNIDADE 5

UMA COMUNIDADE COM PROFETAS E VISIONÁRIOS......................................... 189 13 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Isaías . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190 14 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Jeremias e Ezequiel. . . . . . . 191 15 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miqueias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192 16 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 17 – Visões apocalípticas da comunidade: Daniel . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

UNIDADE 6

O INÍCIO DA COMUNIDADE DA NOVA ALIANÇA.................................. 251 18 – O mundo do Novo Testamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252 19 – Jesus: O Mediador da nova aliança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 20 – Jesus nos Evangelhos: Os Evangelhos de Mateus e Marcos. . . . . 254 21 – Jesus nos Evangelhos: Os Evangelhos de Lucas e João . . . . . . . . . 255 22 – O crescimento e a expansão da comunidade da nova aliança: o Livro de Atos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256


UNIDADE 7

PAULO: PORTA-VOZ DA COMUNIDADE DA NOVA ALIANÇA.................................. 327 23 – Paulo e suas cartas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328 24 – A carta de Paulo aos Romanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 329 25 – 1 e 2 Coríntios e Gálatas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 330 26 – Efésios, Filipenses e Colossenses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331 27 – 1 e 2 Tessalonicenses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332 28 – 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333

UNIDADE 8

PROVAÇÕES E TRIUNFOS DA COMUNIDADE DA NOVA ALIANÇA........... 397 29 – A Carta aos Hebreus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 398 30 – As Cartas de Tiago, Pedro e Judas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399 31 – As Cartas de João. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 32 – O Livro de Apocalipse. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401

Epílogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405 Notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 410



Nota do editor ao aluno

Seja bem-vindo a uma jornada que o levará a conhecer a Bíblia de uma maneira inovadora. Como leitor e estudante das Escrituras, você considerará esta jornada uma aventura desafiadora e empolgante. O propósito deste Livro é oferecer a você um roteiro claro e estrategicamente projetado para que esta jornada seja uma incrível experiência de aprendizado. Nela, você se deparará com diversos cruzamentos importantes na história e com o desenvolvimento da fé do povo de Deus – tanto Israel no Antigo Testamento, como a comunidade dos cristãos primitivos no Novo Testamento. Os diversos capítulos deste Livro têm como objetivo ajudá-lo a entender a importância de tais eventos históricos e tradições religiosas não somente para as comunidades da fé do passado, mas também para o povo de Deus nos dias de hoje. Cada capítulo está cuidadosamente estruturado não apenas com descrições desses eventos e dessas ideias bíblicas, mas também com indicações e sinalizações que o ajudarão a transitar pelo capítulo sem muita dificuldade. Convidamos você a reservar algum tempo no início para familiarizar-se com essas indicações e sinalizações antes de embarcar em sua aventura no descobrimento da Bíblia.

Objetivos No início de cada capítulo, você encontrará uma lista de objetivos. Eles indicam o que você deverá ser capaz de fazer como resultado do estudo de cada capítulo desta obra. Mantenha esses objetivos em mente ao ler e estudar cada parte do Livro. Sublinhe ou grife os trechos do capítulo onde encontrar descrições de tópicos que o ajudarão a alcançar cada objetivo.

Palavras-chave Cada capítulo contém explicações ou definições de termos, bem como identificações de pessoas e lugares importantes. Esses termos estão localizados no início de cada capítulo e são destacados com negrito em suas ocorrências no decorrer do texto. A compreensão desses termos e a capacidade de identificá-los ou descrevê-los é essencial para o sucesso de sua jornada de estudo da Bíblia.

Perguntas a serem consideradas durante a leitura No início de cada capítulo, você também encontrará várias perguntas. Elas visam a prepará-lo para a leitura e o estudo do assunto em questão em cada capítulo. Antes de começar a leitura do capítulo, escreva suas respostas a essas perguntas. Esse exercício o ajudará a refletir antecipadamente e a preparar-se para as questões históricas e teológicas apresentadas no capítulo. 11


Resumo em tópicos É natural que todo leitor de Livro ou capítulo de um Livro faça a pergunta “Qual é o ponto principal?”. Nós fornecemos alguns tópicos importantes ao final de cada capítulo, os quais resumem os principais pontos dele. Utilize esses resumos em tópicos para revisar o que você aprendeu e retorne aos trechos que você possa ter deixado de lado.

Perguntas para reflexão Cada capítulo também termina com algumas perguntas. Elas o ajudarão a pensar mais a respeito dos assuntos, dos acontecimentos e das ideias religiosas que você aprendeu. O objetivo dessas perguntas é levá-lo não apenas a processar o que aprendeu, mas também desafiá-lo a aplicar as lições nas situações de sua própria vida.

Proposta de estudo bíblico Ao final de cada capítulo, a partir do terceiro, você encontrará uma proposta de estudo bíblico, a qual, se realizada fielmente, ajudará você a desenvolver um método sistemático de leitura e interpretação do texto bíblico.

Fontes para estudo adicional Não temos a pretensão de que este material responda todas as suas perguntas sobre a Bíblia. Apesar de muito trabalho ter sido destinado à produção deste Livro, reconhecemos a providência da graça de Deus por meio de outros recursos que contribuem com o nosso entendimento acerca de Sua Palavra. Cada capítulo termina com uma lista de dois ou mais comentários bíblicos ou recursos que esperamos poder ajudá-lo na continuação de seu estudo da Bíblia.

Quadros informativos Ao longo de cada capítulo, incluímos quadros informativos de diferentes cores com informações resumidas, porém úteis, sobre assuntos relacionados à interpretação bíblica, teologia, história, cultura bíblica, características literárias e arqueologia. Os símbolos e referência de cores desses quadros são especificados abaixo.

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I

Quadros de conteúdo interpretativo/hermenêutico que tratam de questões interpretativas ou explicações relacionadas a textos bíblicos específicos.

T

Quadros de conteúdo teológico que tratam de questões teológicas importantes que encontramos nos Livros bíblicos.

H

Quadros de conteúdo histórico que oferecem esclarecimento para o desenvolvimento de conceitos religiosos, ideias ou outras questões historicamente relevantes relacionadas a assuntos específicos.


C

Quadros de conteúdo cultural que ilustram costumes culturais e ideias religiosas da época bíblica.

L

Quadros de conteúdo literário que explicam características literárias específicas do texto bíblico.

A

Quadros de conteúdo arqueológico que explicam descobertas arqueológicas importantes que esclarecem determinados textos bíblicos.

Recursos visuais Apresentamos fotos, mapas e ilustrações neste Livro que lhe servirão de ajuda no estudo. Nossa esperança é que uma imagem valha mais que mil palavras! Nós também o incentivamos a estudar os mapas e a tentar transpor a distância geográfica entre você e a localização dos acontecimentos bíblicos. Por fim, nossa oração é que você considere essas indicações e sinalizações imensamente úteis ao iniciar sua “viagem” rumo à descoberta da Bíblia.

13


20


UNIDADE 1 INTRODUÇÃO

O estudo desta unidade ajudará você a:

• Discutir a formação da Bíblia e a canonização dos Livros bíblicos. • Descrever a estrutura literária da Bíblia. • Resumir a história da tradução da Bíblia. • Estabelecer diretrizes para a leitura e a interpretação da Bíblia.

1. Uma história, muitos Livros 2. Como se deve ler a Bíblia?

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1 Uma história, muitos Livros Objetivos: O estudo deste capítulo deverá ajudar você a:

• Resumir o processo de formação dos Livros bíblicos e a canonização do Antigo e

do Novo Testamento.

• Descrever as diversas e importantes seções literárias da Bíblia e os Livros que fazem parte de cada uma dessas seções. • Discutir a unidade e a continuidade da história bíblica no Antigo e no Novo

Testamento.

• Resumir a história da tradução da Bíblia.

Palavras-chaves Perguntas a serem consideradas durante a leitura:

Revelação Encarnação Inspiração

Os Manuscritos do mar Morto Ketuvim

inspiração na confecção da Bíblia?

Canonização Teoria da inspiração ditada Evangelhos

2. Como os Livros bíblicos demonstram a unidade e a continuidade da história bíblica?

Teoria da inspiração dinâmica

1. Qual é a relação entre revelação e

3. Como você relaciona o conceito de

comunidade da aliança com a formação da Bíblia?

Cânon Teologia História da salvação Torá

Cartas Literatura apocalíptica Targuns Septuaginta Vulgata Apócrifos

Nebi’im 23



1. Uma história, muitos livros

De que se trata a Bíblia? A revelação de Deus na História A história relatada na Bíblia é frequentemente considerada “a maior história já contada”. Essa é uma forma adequada de caracterizar a Bíblia, porque ela trata da história de um relacionamento por meio do qual Deus revela e expressa Seu amor à humanidade. Essa história revela ao leitor quem Deus é. A Bíblia narra a história da revelação divina, da autorevelação dele à humanidade por meio de Suas palavras e ações. Portanto, ela é mais do que uma mera história. Ela é História, porque acontecimentos históricos serviram de cenário para a revelação divina registrada na Bíblia. Acontecimentos históricos — a começar pela criação da Terra e da humanidade por Deus, a ascensão da civilização humana e o surgimento dos poderes políticos mundiais

— são parte da história da Bíblia. A história bíblica, que começa no Livro de Gênesis, com o relato da criação da Terra e da humanidade por Deus, termina no Livro de Apocalipse, com a consumação da história e a criação de um novo céu e uma nova terra. O ponto central da história bíblica é a revelação de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. O Verbo de Deus, Jesus, encarnou, fez-se carne e sangue (encarnação), e, assim, revelou-se de modo mais pleno à humanidade. Os acontecimentos históricos do Antigo Testamento constituem o cenário dessa realidade suprema da autorrevelação de Deus. O Novo nos oferece o registro das ações de Deus na história por meio do estabelecimento da comunidade cristã e do crescimento da Igreja. A história humana continua a servir como palco para as ações de Deus por intermédio de Cristo e de Seu Espírito Santo. Nós precisamos considerar essa relação essencial

Deus se revela a nós por meio de Sua criação: um pôr do sol visto do mar da Galileia

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UNIDADE 1

Livros a mais, comumente conhecidos como Livros deuterocanônicos ou apócrifos. A tradição judaica divide as Escrituras hebraicas em três partes: Torá (a Lei), Nebi’im (os Profetas) e Ketuvim (os Escritos). Os Livros pertencentes à Torá, ou à Lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), contêm os primeiros registros da história humana e o início da história de Israel. As narrativas de Israel incluem as histórias dos ancestrais dessa nação, o estabelecimento deles como povo por Deus, as regras e normas determinadas por Deus para a fé e a vida de Israel no mundo e a história da jornada desse povo à terra de Canaã. Com exceção de Gênesis 1—11, esses Livros abrangem a história de Israel desde aproximadamente 1900 a.C. a 1240 a.C. A parte Nebi’im (os Profetas) possui duas subdivisões. A primeira, também conhecida como Profetas Anteriores (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis), trata da história de Israel desde sua entrada em Canaã até o início do seu cativeiro na Babilônia (1240 a.C. a 587 a.C.). Esses Livros são conhecidos como os Livros históricos da tradição cristã. A segunda subdivisão, os Profetas Posteriores, contém os Livros dos grandes

A

MANUSCRITOS DO MAR MORTO Os manuscritos hebraicos mais antigos que temos hoje são de um período por volta de 100 a.C.. Esses manuscritos, encontrados em Qumran, na região noroeste do mar Morto, esclareceram um pouco sobre a história dos manuscritos do Antigo Testamento. Os Manuscritos do mar Morto, descobertos entre 1947 e 1956, incluem duas cópias do Livro de Isaías (uma delas completa), um comentário sobre o Livro de Habacuque, vários salmos e fragmentos de todos os Livros do Antigo Testamento, menos Ester. Além disso, as cavernas em Qumran também nos deram um grande número de material não bíblico.

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profetas de Israel, Isaías, Jeremias e Ezequiel, e os Doze (Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias). A parte Ketuvim (os Escritos) contém os seguintes Livros: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 Crônicas e 2 Crônicas. Formação do Antigo Testamento O Antigo Testamento em sua forma atual é o resultado de um processo longo e complexo que incluiu a escrita e o desenvolvimento de manuscritos, bem como a aceitação de manuscritos selecionados como Escrituras [inspiradas por Deus] reconhecidas pelo judaísmo. As histórias registradas no Livro de Gênesis faziam parte das tradições de fé de Israel durante a época de Moisés (Século 13 a.C.). Começando com o Livro de Êxodo, os acontecimentos bíblicos se concentram na vida e no ministério de Moisés. As histórias em Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio pertencem ao período mosaico. Talvez uma parte significativa dessas histórias tenha permanecido como tradição oral de Israel (histórias transmitidas oralmente de uma geração a outra) durante três ou mais séculos antes de serem registradas na forma escrita. Também é possível que grandes trechos dos Livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis tenham existido na forma de tradição oral durante um período considerável de tempo. Os Livros dos Profetas pertencem a um período entre o oitavo e o quinto século a.C. A maior parte dos Escritos também poderia ser datada desse período. É provável que a maioria dos Livros do Antigo Testamento tenha recebido sua forma final entre 800 e 400 a.C. Os locais onde a escrita dos Livros do Antigo Testamento ocorreu não são claramente conhecidos por nós, mas a Palestina e a Babilônia são possíveis localizações.


1. Uma história, muitos livros

Caverna IV de Qumran, a qual continha uma cópia quase completa da tradução em grego dos 12 profetas menores

Não temos os manuscritos originais (hológrafos) dos Livros do Antigo Testamento. Cópias ou manuscritos posteriores dos Livros do Antigo Testamento são produto do trabalho dos escribas, os quais faziam cópias cuidadosas e precisas de manuscritos existentes. Desgaste, rasgos e envelhecimento dos rolos teria induzido a novas cópias dos manuscritos antigos. Descobertas em Qumran confirmaram a opinião acadêmica de que uma variedade de tradições de manuscritos existia durante a época pré-cristã. Embora não se saiba muito acerca da história e da produção dos manuscritos, do Antigo Testamento, cremos que, por volta de 100 a.C., as autoridades judaicas na Palestina iniciaram o processo de análise das diversas tradições de manuscritos, a fim de estabelecer as Escrituras padrões e oficiais do judaísmo. Isso significa que um grande número de manuscritos não recebeu reconhecimento como Escritura [e não entrou para o cânon sagrado]. Esse processo foi completado em 100 d.C. A partir do estabelecimento de uma tradição de manuscrito padrão e oficial, os representantes do judaísmo tiveram cuidado

especial em copiar e preservar os manuscritos dos Livros do Antigo Testamento. Em cerca de 500 d.C., os escribas introduziram um sistema de vogais e notas de margem (massorá) no texto do Antigo Testamento. O texto massorético, fonte textual da Bíblia hebraica hoje, é atribuído à obra completa desses escribas [massoretas]. Canonização do Antigo Testamento Em diversos períodos na história da produção e transmissão dos Livros do Antigo Testamento, o judaísmo deu passos em direção ao reconhecimento desses Livros como oficiais e normativos para a fé e a prática. A precisa história desse processo (canonização) é desconhecida. Acadêmicos acreditam que os Livros da Lei (Torá) eram as Escrituras oficiais (cânon) do judaísmo em torno de 400 a.C. É possível que esses Livros tenham se tornado oficiais sob a influência de Esdras, o sacerdote, o qual influenciou a vida judaica no quinto século a.C. [pós-exílio babilônico]. O judaísmo aceitou os Profetas Anteriores e Posteriores como cânon por volta de 200 a.C. Alguns dos Ketuvim (os Escritos) 29


UNIDADE 1

faziam parte das Escrituras sagradas do judaísmo no início do primeiro século d.C. As referências à Lei, aos Profetas e aos Salmos no Novo Testamento (veja, por exemplo, Lucas 24.44) indicam a natureza do cânon judaico no primeiro século depois de Cristo. A aceitação oficial do Ketuvim como cânon ocorreu durante o Concílio de Jâmnia, por volta de 95 d.C. Durante esse concílio, os rabinos deram seu aval oficial a todos os 39 Livros do Antigo Testamento. O Novo Testamento Um total de 27 porções de literatura cristã antiga forma o Novo Testamento. A organização do Novo Testamento mostra algumas semelhanças impressionantes com a organização do Antigo. O Novo Testamento também começa com uma compilação de narrativas seguida por uma compilação de escritos ocasionais produzidos durante a história narrada. E, assim como o Antigo, encerra com uma visão profética do futuro. Os Livros de Mateus, Marcos, Lucas e João são chamados de Evangelhos e devem sua designação à pessoa que, conforme a

tradição, havia escrito ou coletado o material narrado neles. Embora alguns acontecimentos e algumas palavras de Jesus sejam comuns a dois, três ou até mesmo todos os quatro Evangelhos, cada escritor pintou um retrato ímpar da vida e importância de Jesus. Cada um dos Evangelhos dedica quase um terço do Livro à última semana, morte e ressurreição de Jesus. O quinto Livro de narrativa é o de Atos dos Apóstolos, o qual, claramente, é o segundo volume produzido pelo autor do Evangelho de Lucas. O prólogo tanto de Lucas como de Atos deixa claro que Lucas tencionou que esses dois Livros fossem entendidos como parte do gênero antigo de história. Depois dos Evangelhos e de Atos, o Novo Testamento apresenta duas compilações de cartas cristãs primitivas. A primeira compilação contém cartas escritas pelo apóstolo Paulo a diversas igrejas ou pessoas (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom). A segunda compilação de cartas costuma ser chama-

As primeiras cópias dos manuscritos do Novo Testamento foram escritas em papiro, material feito de caules finos de papiros

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1. Uma história, muitos livros

da de Cartas Gerais ou Católicas. O termo católico vem do fato de que muitas (mas não a totalidade) dessas cartas foram escritas a igrejas, e não a pessoas (Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas). Todas as cartas lidam com preocupações específicas — geralmente problemas ou problemas em potencial — que o autor tentava resolver por meio dessas cartas. O último Livro do Novo Testamento é o Apocalipse, uma literatura apocalíptica que contém visões proféticas do fim dos tempos. Assim como o Antigo Testamento, o Novo Testamento encerra com uma palavra de esperança para o futuro. Formação do Novo Testamento Com uma ou duas possíveis exceções, todos os autores dos Livros do Novo Testamento foram judeus, tanto em nacionalidade como em religião. A língua comum dos judeus que viveram na Palestina na época de Jesus era o aramaico. No entanto, é quase certo que todos os Livros do Novo Testamento foram escritos no dialeto grego comum chamado koine (em grego, comum), falado em toda a metade leste do Império Romano daquela época. O grego koine não era a língua dos autores clássicos, mas a língua de negócios e relações internacionais nos tempos de Jesus. Os Livros do Novo Testamento foram escritos entre 50 d.C. e 100 d.C. Até onde sabemos, existia apenas uma cópia de cada Livro, e essa cópia ficava na igreja para a qual o Livro fora escrito. Documentos do segundo século sugerem que esses escritos eram lidos em voz alta na igreja juntamente com as leituras do Antigo Testamento. No decorrer do tempo, outras igrejas teriam solicitado cópias desses Livros, o que, por sua vez, levou ao processo de cópia do Novo Testamento. As cópias mais antigas dos Livros do Novo Testamento que ainda existem foram escritas em papiro. Apesar de ser possível que alguns Livros do Novo Testamento tenham

MINUSCULARES E UNCIAIS

L

Alguns dos primeiros manuscritos do terceiro ao sexto século se encontram em letras formais, semelhantes a letras maiúsculas. Tais manuscritos são chamados de unciais. O estilo cursivo de escrita, que liga uma letra à outra, tornou-se o método dominante nas cópias em uma época posterior. Manuscritos no estilo cursivo apresentam uma caligrafia menor, conhecida como minuscular. Há milhares de manuscritos do Novo Testamento nesta forma. Os acadêmicos consideram os unciais como sendo as fontes mais antigas e confiáveis do Novo Testamento. A seguir, estão os principais unciais, todos em pergaminho de couro em forma de códex: •

Códex Sinaiticus, datado do quarto século, contém todos os 27 Livros.

Códex Vaticanus, também datado do quarto século, não tem a parte após Hebreus 9.13.

Códex Alexandrinus, datado do quinto século, não tem o Evangelho de Mateus.

sido escritos em pergaminho (como Lucas e Atos, que podem ter sido preparados para publicação geral), é bem provável que a maior parte do Novo Testamento tenha sido escrita primeiro e, depois, copiada no papiro. A cópia mais antiga de um Livro do Novo Testamento de que se tem conhecimento é um pequeno pedaço de papiro encontrado no Egito, o qual contém alguns versículos de João 18. Especialistas acreditam que ele foi escrito por volta de 125 d.C., uma única geração após a época em que o quarto Evangelho foi escrito. Diversos papiros parciais dos Evangelhos, Atos e Cartas de Paulo que foram copiados entre 180 d.C. e 220 d.C. foram encontrados no último século. Cópias completas do Novo Testamento escritas em pergaminho em torno de 325 d.C. também foram en31


UNIDADE 1

contradas nos últimos dois séculos. Críticos textuais do Novo Testamento agora possuem mais de cinco mil manuscritos (cópias escritas à mão) completos ou parciais do Novo Testamento em grego, a maioria dos quais foi descoberta nos últimos 200 anos. Canonização do Novo Testamento É provável que a primeira compilação de Livros do Novo Testamento feita pela Igreja primitiva tenha sido uma compilação de cartas paulinas. Essa compilação foi possivelmente completada nos primeiros 25 anos do segundo século. Em algum momento entre 100 d.C. e 150 d.C., os quatro Evangelhos foram reunidos e agrupados para publicação. Marcião, em meados do segundo século d.C., rejeitou o Antigo Testamento e foi o primeiro a produzir uma lista canônica dos Livros do Novo Testamento, que continha o Evangelho de Lucas (com os dois primeiros capítulos suprimidos) e dez

H

Cartas de Paulo (todas, menos 1 e 2 Timóteo e Tito). É possível que a Igreja cristã tenha iniciado a formação do cânon do Novo Testamento a fim de reagir ao ensinamento herético de Marcião. O fragmento Muratório (escrito entre 180 d.C. e 200 d.C. e descoberto em 1740) contém a lista mais antiga dos Livros do Novo Testamento. Nesse documento, não disponível para nós em sua forma completa, estão os Livros de Lucas, João, Atos, as 13 Cartas de Paulo, a Carta de Judas, duas Cartas de João, a Sabedoria de Salomão, o Apocalipse de João e o Apocalipse de Pedro. Acredita-se que a parte destruída continha referências a Mateus e Marcos. Do período inicial do terceiro século, há a lista de Orígenes (184—254 d.C.), que inclui os quatro Evangelhos, Atos, as 13 Cartas de Paulo, 1 Pedro, 1 João e o Apocalipse de João como Livros aceitos por todas

HISTÓRIA DO NOVO TESTAMENTO IMPRESSO Erasmo de Rotterdam foi o primeiro erudito a publicar uma cópia do Novo Testamento em grego (1516). Mais tarde, ele publicou mais quatro edições (1519, 1522, 1527, 1535) desse Novo Testamento. Várias outras edições apareceram entre 1546 e 1604 (quatro edições por Robert Stephanus e nove edições por Theodore Beza). Todas essas edições do Novo Testamento foram baseadas em um manuscrito do quarto século, frequentemente chamado de luciânico e também conhecido como bizantino, antioquino, sírio, eclesiástico, koiné ou texto comum. Essa tradição permaneceu como texto padrão do Novo Testamento em grego até o fim do século 19. Após a publicação do Códex Sinaiticus e Vaticanus em meados do século 19, B. F. Westcott e F. J. A. Hort publicaram uma edição alternativa do Novo Testamento grego em 1881. Seu estudo de milhares de manuscritos e citações do Novo Testamento nos escritos dos pais da Igreja levou-os a concluir que o Códex Sinaiticus e o Códex Vaticanus continham o texto mais confiável do Novo Testamento. O Novo Testamento em grego publicado pelas Sociedades Bíblicas Unidas em 1966 tem por base a obra de Westcott e Hort. Essa edição alternativa nos oferece um texto eclético com base no melhor testemunho de passagens do Novo Testamento encontradas em manuscritos antigos e escritos de cristãos primitivos. A edição da Sociedade Bíblica Unida se tornou uma fonte importante para as traduções modernas em inglês.

32


1. Uma história, muitos livros

as igrejas. Ele também listou Hebreus, 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago e Judas dentre os Livros contestados e vários outros Livros claramente rejeitados pela fé cristã tradicional. Ao que parece, a Igreja primitiva conviveu com as três categorias de Orígenes (Livros aceitos, contestados e rejeitados) durante mais de um século. Encontramos a lista canônica atual de 27 Livros pela primeira vez na carta pascal anual de Atanásio (367 d.C.), bispo de Alexandria. Nessa carta às igrejas, ele listou os 27 Livros como oficiais ou canônicos e como Escrituras que deveriam ser lidas durante o culto de adoração da Igreja. Aparentemente, o Concílio de Hipona, no Norte da África, reconheceu oficialmente os 27 Livros do Novo Testamento como Escrituras canônicas em 393 d.C. As ações desse concílio foram reconsideradas e aceitas pelo Concílio de Cartago em 397 d.C. As anotações ali registradas identificam claramente os 27 Livros do Novo Testamento como sendo Escrituras canônicas.

Tradução da Bíblia A primeira tentativa de tradução da Bíblia é atribuída ao costume da sinagoga de dar uma interpretação extemporânea das Escrituras hebraicas em língua aramaica. O costume existiu durante a época de Esdras e Neemias, em meados do quinto século a.C. (veja Ne 8.8), e continuou durante os primeiros 400 anos da era cristã. Os escribas judeus começaram a transferir essas paráfrases orais para a escrita antes da época de Cristo. Esses escritos são conhecidos como targuns (que significa tradução). A tradução de uma porção do Antigo Testamento do hebraico para o grego foi o primeiro acontecimento real na história da tradução da Bíblia. Isso foi realizado em Alexandria, no Egito, para o benefício dos judeus que ali viviam e que falavam grego.

Em torno de 250 a.C., os tradutores produziram a Torá em grego. Nos 200 anos seguintes, todo o Antigo Testamento já estava disponível em grego. Essa tradução é conhecida como Septuaginta (LXX). A Bíblia em latim foi o segundo maior acontecimento na história da tradução bíblica. Estudiosos acreditam que uma versão em latim já existia em 180 d.C. No quarto século d.C., o bispo Jerônimo deu início à tarefa de traduzir a Bíblia para o latim, usando versões latinas existentes e a Septuaginta. Em 385 d.C., ele se mudou para Belém, onde passou os 14 anos seguintes traduzindo a Bíblia hebraica para o latim. Durante o sexto e o sétimo século, os pais da Igreja deram prioridade à obra de Jerônimo dentre outras versões latinas existentes. Embora a palavra vulgata (que significa comum) fosse um termo anteriormente aplicado às versões latinas iniciais, a tradução de Jerônimo acabou ficando conhecida como a Vulgata. Gradualmente, a Vulgata latina se tornou a Bíblia oficial da Europa ocidental durante a Idade Média. John Wycliffe (1330—1384 d.C.) fez a primeira tentativa sistemática de traduzir a Bíblia para a língua inglesa. O objetivo da obra de Wycliffe era lutar contra a corrupção na Igreja disponibilizando a Bíblia às pessoas comuns. Sua tradução do Novo Testamento completo surgiu em 1380. Dois anos mais tarde, ele e seus amigos completaram a tradução de toda a Bíblia. Após sua morte, em 1384, seus amigos revisaram a primeira edição. As autoridades da Igreja condenaram os escritos de Wycliffe e ordenaram que seus ossos fossem desenterrados do túmulo e queimados. William Tyndale (1494—1536 d.C.) foi o primeiro intelectual a traduzir uma porção da Bíblia a partir das línguas originais (hebraico, aramaico e grego). Temendo represálias das autoridades da Igreja, Tyndale se mudou para a Alemanha em 1524 e publicou a primeira edição do Novo Testamento em 1526. Essa foi a primeira 33


UNIDADE 1

esteve realizando durante a história da salvação em resposta tanto à rejeição como à aceitação humana de Sua graça. O Israel do Antigo Testamento entendia estar ligado a Deus pela aliança do monte Sinai. Essa aliança passou a existir graças às obras salvadoras de Deus a favor de Israel. A aliança visionava um povo cuja vida coletiva e individual refletisse a santidade do Deus a quem estava ligado. Essa visão criou expectativas para o povo de Deus, e a aliança apresentava as consequências por se viver ou não de acordo com elas. Página da Bíblia King James Version, edição de 1611

36

De maneira semelhante, a Igreja do Novo Testamento entendia fazer parte de uma comunidade da aliança em continuidade a Israel. A renovação dessa aliança ocorreu graças à obra salvadora de Deus em Cristo a favor dos judeus e dos gentios. O Novo Testamento visiona um povo cuja vida coletiva e individual reflita a santidade e o amor do Deus que se revelou em Cristo. Essa visão cria expectativas para a comunidade da aliança, e o Novo Testamento, especialmente as cartas e o Apocalipse, descreve as consequências por a Igreja viver ou não de acordo com a visão de Deus para ela. O ponto central deste conceito de aliança é a comunidade da fé. Nem o Antigo nem o Novo Testamento enxergam a fé como um assunto meramente pessoal. Embora o relacionamento de um indivíduo com Deus seja intensamente pessoal, ele é sempre posto em prática em comunidade. Crentes individualamente reconhecem sua vida juntos em adoração, ensino e ministério como sendo o contexto para seu relacionamento pessoal com Deus. Há muitos trechos no Novo Testamento em que a palavra Cristo se refere a Jesus como um indivíduo histórico que foi crucificado e ressurreto dentre os mortos. Há muitos outros trechos em que a palavra Cristo se relaciona à Igreja, o Corpo de Cristo, a expressão de Cristo em comunidade. Esta é uma comunidade acolhedora que convida e desafia seus membros a tornarem-se como Cristo. A Bíblia é o guia para esse modo de vida de aliança e convida qualquer um que se defronte com a Palavra de Deus a entrar para essa comunidade.


1. Uma história, muitos livros

Resumo em tópicos • A revelação e a inspiração tiveram um papel fundamental na produção da Bíblia. • Os Livros bíblicos mostram a unidade e a continuidade da história da salvação. • A Bíblia veio à existência por meio de um processo longo e complexo de produção de manuscritos.

• Os Livros bíblicos estão organizados em diversas seções importantes, como a Lei, os Profetas, os Escritos, os Evangelhos, as Cartas e a Profecia. • O processo de canonização ajudou a estabelecer a autenticidade e a autoridade dos

Livros bíblicos.

• A tradução da Bíblia é uma parte constante da história do povo de Deus na época do Antigo e do Novo Testamento. • Os Livros bíblicos informam ao povo de Deus como colocar em prática o modo de

vida exigido pela aliança.

Perguntas para reflexão 1. Como a estrutura do Novo Testamento reflete seu caráter “semelhante à vida” e sua aplicabilidade? 2. Até que ponto você vê a ação de Deus no processo de canonização? A quais

conclusões chega quanto à natureza do cânon?

3. De que maneiras você já experimentou a vida em uma comunidade da aliança como a que produziu o Novo Testamento e que por ele foi produzida? De que maneiras sua vida na igreja já teve falta de elementos de uma comunidade da aliança?

Fontes para estudo adicional Ewert, David. A General Introduction to the Bible: From Ancient Tablets to Modern Translations [Uma introdução geral à Bíblia a partir de tábuas antigas de traduções modernas]. Grand Rapids: Zondervan, 1983. Metzger, Bruce M. The Canon of the New Testament: Its Origin, Development, and Significance [O cânon do Novo Testamento — sua origem, desenvolvimento e significado]. Oxford: Clarendon, 1987. Wegner, Paul D. The Journey from Texts to Translations: The Origin and Development of the Bible [A viagem pelos textos de tradução — a origem e o desenvolvimento da Bíblia]. Grand Rapids: Baker, 1999. Willimon, William H. Shaped by the Bible [Moldado pela Bíblia]. Nashville: Abingdon, 1990. 37



2 Como se deve ler a Bíblia? Objetivos: O estudo deste capítulo deverá ajudar você a:

• Descrever a conexão da exegese e da hermenêutica com o processo de

compreensão da Bíblia.

• Identificar os três universos da interpretação bíblica. • Avaliar a importância do contexto histórico e cultural da Bíblia para sua

interpretação.

• Descrever as maneiras pelas quais os gêneros literários da Bíblia fornecem chaves para a compreensão dela. • Descrever o papel do leitor e das pressuposições teológicas na compreensão de

textos bíblicos.

Palavras-chaves Perguntas a serem consideradas durante a leitura:

Hermenêutica

1. Por que é necessário um método

Narrativas

cuidadoso de leitura e interpretação da Bíblia?

2. De que maneira o conhecimento

do contexto histórico de um texto bíblico permite que o leitor descubra o significado desse texto?

Exegese Leis Poesia Discursos proféticos

Provérbios de sabedoria Apocalíptico Parábola Cartas Estrutura interpretativa

3. De que modo as características literárias do texto, tais como gênero e forma, influenciam no entendimento do texto?

4. Como se chega a uma compreensão teológica adequada de textos bíblicos? 39



2. Como se deve ler a Bíblia?

As pessoas frequentemente supõem que seja fácil ler e entender a Bíblia. Apesar de isso parecer verdadeiro, costumamos encontrar uma variedade de interpretações na leitura da Bíblia. Não é incomum que duas pessoas leiam-na e cheguem a conclusões diferentes quanto ao seu significado para a vida cristã hoje em dia. O processo de canonização da Bíblia descrito no primeiro capítulo pressupunha a função ou autoridade dela como a Palavra de Deus. Embora a opinião dos cristãos possa diferenciar-se em relação a como Deus fez da Bíblia a Palavra divina, quase todos concordam que ela possui tal autoridade. Isso significa que a Bíblia procura transmitir uma mensagem de Deus. Quando descobrimos que nem todos leem e entendem a mesma mensagem, precisamos atentar-nos para o modo de lê-la. O estudo de como ler e interpretar da Bíblia chama-se hermenêutica. A hermenêutica inclui padrões de estudo para determinar como o texto era entendido na Leitor judeu usando o tefilin com as Escrituras em sua testa

época em que foi escrito e como ele pode ser aplicado à vida cristã hoje. O estudo de um texto para determinar seu significado ora em seu contexto histórico (na época em que foi escrito e lido) ora em seu contexto literário (como o texto é lido agora) é frequentemente chamado de exegese. Grande parte do trabalho de pessoas costumeiramente descritas como estudiosas da Bíblia é dedicada à exegese. Em décadas recentes testemunhamos uma grande variedade de opiniões acerca dos melhores métodos de exegese e hermenêutica. Alguns dos debates mais enérgicos em faculdades e seminários teológicos, bem como em denominações, são sobre exegese e hermenêutica. Este capítulo apresentará uma abordagem amplamente aceita para a leitura e interpretação da Bíblia. Ela não é a única abordagem influente nos círculos de conhecimento bíblico cristão hoje, mas incorpora muitas ideias atuais sobre como organizar o estudo e a interpretação da Bíblia. Essa abordagem reconhece três perspectivas principais a partir das quais o leitor pode obter um entendimento útil a respeito da Bíblia. Essas três perspectivas criam um universo no qual a Palavra é estudada. A perspectiva do universo por trás do texto estuda o contexto histórico e cultural dos Livros bíblicos, procurando recriar o universo político, econômico, social e religioso no qual o autor e o público original viveram. A perspectiva do universo contido no texto estuda a linguagem e as características literárias encontradas na Bíblia. Cria o universo literário do texto e concentra-se nos meios pelos quais a transmissão do material bíblico ocorre. A perspectiva do universo à frente do texto estuda como nós lemos a Bíblia hoje e como a aplicamos tanto em nossa própria vida como na vida da Igreja cristã. Essa perspectiva procura entender o universo 41


UNIDADE 1

Novo Testamento acredita que o Evangelho de Mateus foi escrito para instar os judeus crentes em Jesus a permanecerem leais tanto à herança judaica como à missão gentílica. Pelo fato de a destruição do templo e de Jerusalém em 70 d.C. ter sido uma experiência traumática para os judeus, os estudiosos procuram entender como vários Livros do Novo Testamento, incluindo os quatro Evangelhos, Hebreus e Tiago, encaixam-se na cronologia da história judaica que antecede e sucede essa destruição. Pregadores e missionários cristãos promoviam a fé cristã em um mundo que era um terreno fértil para vários outros movimentos e ideias religiosas. O judaísmo, as religiões de mistério, as religiões de fertilidade e diversas filosofias gregas ou romanas eram opções atraentes para os convertidos cristãos. As muitas vozes religiosas concorrentes causavam confusão entre eles. Vários Livros do Novo Testamento — incluindo Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Tiago, 1, 2 e 3 João, 2 Pedro e Judas — foram escritos para esclarecer a confusão teológica que surgira nas igrejas

onde os cristãos primitivos haviam dado ouvidos às muitas vozes religiosas que procuravam convencê-los de suas verdades. A confusão religiosa também era um problema para o império, e alguns líderes civis regionais consideravam-na prejudicial para a ordem e à segurança social. Em diversos locais, o império, os funcionários regionais ou ambos começaram a tentar reduzir a confusão religiosa limitando ou eliminando a difusão de religiões provenientes da parte leste do império. Estas incluíam as religiões de mistério, as religiões de fertilidade e o cristianismo primitivo. Diversos Livros do Novo Testamento, incluindo Hebreus, 1 Pedro e Apocalipse, foram escritos para incentivar os cristãos primitivos a permanecerem fiéis a Cristo frente à perseguição real ou à sua ameaça, a qual procurava reduzir a confusão religiosa da época. É nítido que um entendimento do contexto histórico dos Livros bíblicos é muito útil no fornecimento de uma perspectiva para se entender a mensagem da Bíblia. Por essa razão, o estudo cuidadoso

Teatro romano em Cesareia Marítima. Esse teatro oferecia entretenimento para os convidados de Herodes

44


2. Como se deve ler a Bíblia?

do contexto histórico dos Livros da Bíblia tem sido uma parte importante dos estudos bíblicos há mais de dois séculos. Os estudiosos tentam determinar a data e a autoria de cada Livro da Bíblia, o público para o qual foram escritos e o propósito que esperavam alcançar. Com tais informações, eles procuram inserir os Livros no contexto histórico acima descrito e, assim, entender a maneira pela qual esse contexto histórico molda um entendimento adequado de cada Livro bíblico.

O universo contido no texto O estudo do universo contido no texto é o estudo do caráter literário da Bíblia. É de especial interesse o modo com que a arte literária do texto cria um universo no qual o leitor ou ouvinte pode adentrar. Além disso, ao entrar nesse universo criado, o caráter literário do texto pode permitir que o leitor ou ouvinte descubra novos conhecimentos e verdades. Certamente, de uma perspectiva evangélica, esperaria-se que o leitor ou ouvinte fosse capacitado pelas novas verdades e conhecimentos a trazê-los ambos à realidade do suposto mundo real. É evidente que diferentes tipos de literatura possuem diferentes maneiras e diferentes competências para criar um universo no qual o leitor ou ouvinte possa adentrar. Por esse motivo, o estudo do gênero literário da Bíblia é extremamente importante. Gêneros literários da Bíblia Porções consideráveis de Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Rute, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester no Antigo Testamento apresentam um conteúdo narrativo. Narrativas podem ser simples relatos de acontecimentos históricos (narrativas históricas), relatos biográficos ou autobiográficos ou relatos que explicam a

origem do nome de um lugar ou costume (narrativas etiológicas) ou que explicam uma história familiar ou tribal. Narrativas seguem um enredo, que geralmente contém uma crise em alguma situação ou relacionamento humano. Elas pretendem mostrar como a crise veio à existência e como foi resolvida ou não. Os Livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio contêm uma grande quantidade de leis ou material legal. Essas leis podem ser leis casuísticas, que ilustram uma ação específica e sua consequência ou punição, proibições, prescrições, instruções ou ordens para um viver apropriado dentro da comunidade da aliança de Israel. Aproximadamente um terço do Antigo Testamento está em forma de poesia. Salmos, Provérbios, Cântico dos Cânticos e Lamentações são alguns dos Livros do Antigo Testamento que se encontram completamente em forma de poesia. Em Salmos, encontramos diferentes estilos, tais como hinos, elegias, salmos de gratidão, salmos de confiança, salmos litúrgicos, salmos régios, salmos de sabedoria, salmos históricos e salmos proféticos. Eles eram usados em Israel em diversos contextos de culto de adoração e forneciam às pessoas a linguagem adequada para cultuar e adorar a Deus. Os Livros dos Profetas contêm discursos proféticos transmitidos pelos profetas de Israel. Os discursos proféticos costumam seguir a forma dos discursos ao estilo do mensageiro, que transmitiam uma mensagem de salvação e/ou julgamento ao povo. Nos Livros proféticos, nós também encontramos outras formas, tais como litígios, narrativas, orações, confissões, parábolas, relatos de visões, instruções, provérbios de sabedoria, canções fúnebres e outras formas criadas pelos profetas para transmitir alguma mensagem de Deus. 45


UNIDADE 1

Resumo em tópicos • As diversas compreensões a que as pessoas chegam durante a leitura da Bíblia significam que precisamos de um método pelo qual possamos lê-la e estar de acordo quanto ao seu significado. • O universo por trás do texto oferece uma estrutura importante para entender os textos bíblicos. • O universo por trás do texto nos ajuda a entender a Bíblia como um Livro realista. • As características literárias da Bíblia nos ajudam a entender as estratégias de

comunicação dos escritores bíblicos.

• A associação entre o leitor, o autor e o texto é importante para que o correto

significado do texto surja.

• As pressuposições teológicas do leitor moldam a maneira com que ele encontra as verdades teológicas na Bíblia.

Perguntas para reflexão 1. Como o estudo do contexto histórico e cultural o ajuda a enxergar a natureza

realista do universo bíblico?

2. Quais são algumas formas literárias de textos produzidos atualmente com as quais você está familiarizado? De que modo compreendê-las o ajuda a entender como os autores bíblicos empregaram as formas literárias? 3. Quais são suas pressuposições teológicas acerca da natureza da Bíblia? Como essas pressuposições influenciam a maneira com que você entende a Bíblia?

Fontes para estudo adicional Dyck, Elmer. The Act of Bible Reading: A Multidisciplinary Approach to Biblical Interpretation [O ato de leitura da Bíblia — uma abordagem multidisciplinar para a interpretação bíblica]. Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1996. Fee, Gordon D. & Stuart, Douglas. How to Read the Bible for All Its Worth [Como ler a Bíblia por todo seu valor]. 2. ed. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1993. Hauer, Christian E. & Young, William A. An Introduction to the Bible: A Journey into Three Worlds [Uma introdução à Bíblia — uma viagem a três mundos]. 3. ed. Englewood Cliffs, Nova Jersey: Prentice Hall, 1993. Tate, W. Randolph. Biblical Interpretation: An Integrated Approach [Interpretação bíblica — uma abordagem integrada]. Ed. rev. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996. 52


UNIDADE 2 O INÍCIO DE UMA COMUNIDADE DA FÉ

O estudo desta unidade ajudará você a:

• Descrever o mundo em que a história e a fé de Israel se originaram. • Discutir as tradições de fé de Israel acerca da origem do mundo e da

humanidade.

• Resumir a história da origem de Israel como povo que tinha aliança com Deus.

3. O mundo em que surge Israel 4. Israel vê o começo: Gênesis 5. Israel se torna uma comunidade da aliança: Êxodo 6. Rumo à Terra Prometida: Levítico, Números e Deuteronômio

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3 O mundo em que surge Israel Objetivos: O estudo deste capítulo deverá ajudar você a:

• Descrever o cenário geográfico geral do Antigo Testamento. • Identificar as diversas culturas do antigo Oriente Próximo. • Reconhecer e identificar locais importantes do Antigo Testamento em um mapa da

Palestina.

Palavras-chaves Crescente Fértil

Fenícios

Sumérios

Arameus

Cuneiforme

Amonitas

Acadianos

Moabitas

cultural pode ter moldado ou influenciado suas percepções religiosas.

Amorreus

Edomitas

Hititas

Midianitas

2. Qual é a consequência de estudar história sem ter conhecimento de geografia?

Hurritas

Amalequitas

Assírios

Palestina

Babilônios

Planície costeira

Persas

Região montanhosa

Hicsos

Vale do Jordão

Filisteus

Transjordânia

Pentápole

Neguebe

Cananeus

Sefelá

Perguntas a serem consideradas durante a leitura: 1. Discuta como sua origem geográfica e

55



3. O mundo em que surge Israel

fluviais férteis e numerosas montanhas altas e acidentadas. Nessa região próxima aos vales e sistemas fluviais, surgiram civilizações e grupos culturais. E conflitos e lutas pelo poder eram um modo de vida nesse mundo antigo. Diversos grupos étnicos poderosos dominaram essa região em épocas diferentes e controlaram suas terras férteis e rotas comerciais. Ela também era, com frequência, alvo de seca, fome, enchente, ataque de gafanhotos e outros desastres naturais. Em resumo, a vida nessa região estava bem longe de ser segura. A região de terras férteis e irrigadas no antigo Oriente Próximo é composta pelo vale da Mesopotâmia, pelo delta do Nilo e pela Síria-Palestina. Essas três regiões juntas possuem a forma aproximada de um crescente (o Crescente Fértil). A região da Síria-Palestina funciona como uma ponte

No capítulo dois, discutimos a importância de entender o universo por trás do texto para obter uma compreensão adequada do texto bíblico. Neste capítulo, faremos um breve panorama do cenário geográfico e cultural onde ocorreu o desenvolvimento da história e das tradições de fé de Israel. Esse mundo inclui não somente a terra chamada de Canaã no Antigo Testamento, a qual se tornou o lar do povo de Israel, como também os países e povos vizinhos do antigo Oriente Próximo.

O antigo Oriente Próximo O mundo do Antigo Testamento — que inclui países modernos como Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Israel e a região norte do Egito — é constituído, na maior parte, por deserto seco e árido, com alguns vales Antigo Oriente Próximo — o Crescente Fértil

Mar Negro

IMPÉRIO HITITA

HURRITAS

Mar Cáspio

MITANI ASSÍRIA Me

SÍRIA

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CAN Rio Jordão

Delta do Nilo

s

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Mar Mediterrâneo

MÉDIA

Golfo Pérsico

SINAI 0 0

50 50

100 100

150 200

200 300

250 mi. 400 km.

Mar Vermelho

57


UNIDADE 2

(também conhecida como Baixo Egito ou região do Delta). Israel, em sua história posterior, passou a lembrar-se do Egito como a terra do seu cativeiro, e esse país continuou a exercer poder político sobre Israel em diversas épocas. Os reis de Israel, com frequência, faziam alianças com o Egito, apesar de os profetas condenarem tais atitudes como sendo um retorno ao cativeiro e à servidão. Um número significativo de judeus fez do Egito seu lar durante a invasão babilônia a Judá em 587 a.C. Mais tarde, Alexandria se tornou um centro de vida judaica no Egito. A história egípcia é dividida entre o período do Império Antigo (2900—2300 a.C.), o do Império Médio (2100—1710 a.C.) e o do Império Novo (1550—330 a.C.). Os dois períodos intermediários (2300—2100 a.C. e 1710—1550 a.C.) foram marcados por instabilidade política e econômica e por lutas pelo poder entre faraós rivais. É provável que Abraão tenha feito sua jornada ao Egito durante a última parte do Império Médio. Durante o segundo período intermediário, os governantes do Egito eram hicsos, um povo semita que governou esse território por mais de 100 anos. José e o restante da família de Jacó se estabeleceram no Egito durante o início da dominação dos hicsos. Portão do final da Idade do Bronze em Megido

60

A história de Moisés, do cativeiro de Israel e do êxodo do Egito fazem parte do início do Império Novo. Em cerca de 1000 a.C., o Egito perdeu sua força política, e continuou a deteriorar-se enquanto o mundo assistia ao surgimento de novas potências emergentes como Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia nos séculos seguintes.

A região da Síria-Palestina A área da Síria-Palestina é a região mais mencionada no Antigo Testamento. Ela é formada por países como Israel, Líbano, Síria e Jordânia no mapa político atual. Na região costeira oriental do mar Mediterrâneo, ficavam as terras dos filisteus (Filístia), dos cananeus (Canaã) e dos fenícios (Fenícia). Outros países antigos nessa região incluíam Síria (nordeste), Amom, Moabe, Edom e Midiã (leste e sudeste). A região sul do Neguebe era o lar dos antigos amalequitas. Os filisteus foram os primeiros habitantes da planície costeira ao sudoeste de Canaã, no litoral leste do mar Mediterrâneo. Eles vieram a essa região a partir de Creta ou outras ilhas do mar Mediterrâneo por volta de 1200 a.C. Entre as principais cidades que os filisteus estabeleceram nessa área estão Ascalão, Asdode, Gaza, Ecrom e Gate, a Pentápole filisteia. E sabemos, a partir de registros bíblicos, que elas eram uma ameaça constante aos israelitas. Nos anos iniciais da história de Israel na Palestina, os filisteus exerciam controle sobre grande parte da região costeira e da região montanhosa inferior de Judá. A ameaça filisteia contra Israel chegou ao fim quando Davi se tornou rei de Israel (1000 a.C.).


3. O mundo em que surge Israel

Neguebe

da d oR

AMALEQUITAS

EDO MIT AS Estr a

Delta do Nilo

Mar Morto

CAN

Mar Mediterrâneo

ei

Reinos vizinhos de Israel no século 13 a.C.

(Gn 11.27—12.4). Também habitavam essa área girgaseus, perizeus, jebuseus, heveus e hititas (Gn 15.19-20). É provável que todos esses povos fossem subgrupos dos amorreus. Os fenícios, que habitavam no noroeste da costa leste do Mediterrâneo, eram comerciantes e pessoas do mar que haviam se espalhado pela Palestina e influenciado a cultura e a religião dos cananeus. Um importante centro de seu comércio e cultura era Tiro. Eles fizeram alianças com Davi e Salomão, reis de Israel, e ajudaram a projetar e construir o templo em Jerusalém durante a época de Salomão. Os arameus eram, provavelmente, descendentes do grupo amorreu e fizeram de Arã ou Síria seu lar por algum tempo durante o segundo milênio a.C. A Bíblia faz diversas conexões entre os israelitas e os arameus. Durante um tempo, o lar de Abraão Até Damasco foi Harã, também conheMar da Galileia cida como Padã-Arã, a cidade de Naor, e Arã-Naharaim. Os ancestrais de Israel (Abraão, Isaque AMONITAS e Jacó) mantiveram contato com essa região. O primeiro credo de IsraMOABITAS el (Dt 26.5-10, nvi) se refere ao pai de Israel (muito provavelmente Jacó) como um arameu errante. O centro do país dos arameus era Damasco, que ainda permanece como capital da Síria. O povo de Israel enfrentava lutas frequentes por fronteira com os síriosMIDIANITAS -arameus entre o século 10 e o oitavo século a.C. Os amonitas, os moabitas e os edomitas foram os três primeiros Rio Jordão

Antes de Israel entrar na terra de Canaã (Palestina), os primeiros habitantes dessa região eram os cananeus, uma mistura de diversos grupos étnicos e culturais, a maioria era descendente de Canaã, neto de Noé. Cidades como Jericó, Megido, Beit She’na, Ai, Siquém, Gezer e Laquis eram centros da cultura cananeia no terceiro milênio a.C. No final desse milênio, os amorreus do vale da Mesopotâmia invadiram Canaã e destruíram muitas cidades cananeias. A invasão continuou durante o início do segundo milênio, mas diversos grupos amorreus se estabeleceram em Canaã e reconstruíram as cidades que destruíram. Abraão, que deixou sua casa em Ur, no sul da Mesopotâmia, a fim de estabelecer-se em Canaã, fazia parte, possivelmente, dos colonos amorreus

Nilo

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Em nossa sociedade, herdeira da cultura judaico-cristã, ao longo dos séculos a Bíblia tem desempenhado um papel crucial na fé e na educação do homem. Assim, muitos creem que ela é a Palavra de Deus e já ouviram histórias sobre Adão e Eva, Noé, Abraão, Jacó, Davi, Jesus e outras personalidades bíblicas importantes. Contudo, a maioria ainda carece de conhecimentos mais profundos e abalizados sobre esse livro cujos princípios, revelações e ensinamentos práticos têm transformado vidas e mudado a história da humanidade. Tendo em vista essa lacuna e a necessidade de uma obra que apresentasse a Bíblia de forma sintética e atraente àqueles que ainda não a conhecem devidamente, publicamos Descobrindo a Bíblia — um livro maravilhoso e bem escrito que o ajudará a desvendar o mundo por trás das histórias bíblicas, fornecendo-lhe o conhecimento básico necessário para captar o significado e a mensagem das Escrituras. Composto de 8 unidades, cada uma com vários capítulos, Descobrindo a Bíblia fornece informações relevantes acerca da autoria e data de composição de cada livro bíblico, o contexto em que foram escritos e outros dados para o entendimento das mensagens neles reveladas. Em cada capítulo, são apresentados os objetivos propostos para o aprendizado da seção, uma lista de palavras-chaves, um resumo do texto em tópicos, perguntas para reflexão e aplicação do que foi ensinado e fontes bibliográficas para estudos adicionais. Além disso, há inúmeros quadros informativos com conteúdo histórico, cultural, literário, arqueológico, hermenêutico e teológico, que o levarão a ter uma compreensão mais profunda da Bíblia como Palavra de Deus. E, ao final dos capítulos, há uma proposta de estudo bíblico, com o objetivo de levá-lo a um estudo regular e sistemático das Escrituras.

www.editoracentralgospel.com

CAPA_DESCOBRINDO A BIBLIA_LOMBADA 3,5cm.indd 1

32775

ISBN: 978-85-7689-256-4

Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara Rio de Janeiro - RJ / CEP: 22713-001 PEDIDOS: (21) 2187-7000

23/08/2013 17:53:48


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