Casa da Criança ParalítiCa
Legado de solidariedade à história de Campinas
C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a . Legado de solidariedade à história de Campinas
Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
15/04/1961 - Fachada da sede da Casa na Rua Luzitana, 369, onde funcionou a entidade nos anos 60 até início dos anos 70 C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
Oficina ortopédica N. S. de Lourdes da então Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica, fundada em 1962, local onde eram confeccionadas botas ortopédicas, como um dos únicos recursos da época da hoje chamada “tecnologia assistiva”.
Dependências da Casa e os equipamentos usados na época, disponíveis para as terapias realizadas
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
Dependências da Casa e os equipamentos usados na época, disponíveis para as terapias realizadas
Dependências da Casa e os equipamentos usados na época, disponíveis para as terapias realizadas, incluindo caixa de areia
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
Diretorias e desafios Dez associados assinaram a lista de presença na assembleia geral ordinária realizada no dia 12 de maio de 1962, na sede da Rua Luzitana. Antonio Galízia presidiu o encontro, sendo os trabalhos secretariados por Celina Duarte Martinho. Foi eleita e empossada, na oportunidade, a Diretoria para o biênio 1962/1964, na presidência Luiz de Tella. Destaque para a presença, entre os diretores, de Lix da Cunha, engenheiro e empresário atuante na vida social, econômica e política de Campinas na época, o qual foi um dos fundadores do Rotary de Campinas. Referido diretor teria participação importante na trajetória da Sociedade, depois Casa da Criança Paralítica. No início de 1963, foram promovidas rifas de boneca e acordeom. A venda de 10 mil tijolos rendeu Cr$ 50.000,00. Registraram-se donativos feitos através do “Diário do Povo”, o que indica como a sociedade trabalhava em benefício da Entidade. Em maio de 1963, Ernani Fonseca, que continuava ativo na defesa da Casa, encaminhou o pedido de registro da Entidade no Conselho Nacional do Serviço Social. No mesmo mês, a AACD – uma parceira ativa – enviou cartazes e selos para a Campanha Nacional pela Criança Defeituosa. A Diretoria da Sociedade julgou, entretanto, que o momento não era oportuno para o desenvolvimento da Campanha em Campinas. Ainda em maio, a Diretoria apontou a necessidade de aquisição de formas para a construção de botas ortopédicas. E também em maio a Sociedade recebeu um cheque de Cr$ 22.500,00 correspondente ao dinheiro arrecadado em festa promovida pelo Centro Acadêmico Visconde de Mauá – a juventude trabalhando em prol da Entidade. Em junho de 1963, com o pedido de afastamento de Luiz de Tella, por quatro meses, para viagem à Europa com a família, assumiu interinamente o atuante vice, Antônio Galizia, cuja residência muitas vezes recebeu as reuniões de Diretoria.
A primeira Kombi da Sociedade Em agosto de 1963, um grande momento para a Sociedade Campineira 52
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de Recuperação da Criança Paralítica, com a compra para a Entidade da Kombi com os recursos levantados em campanha promovida pelo Rotary Club Norte, que continuava, então, empenhado na estruturação da Entidade. A vinculação era estreita, pois muitos membros da Diretoria eram filiados ao Rotary Norte. A campanha do Rotary não deixou de ser uma resposta da comunidade ao descaso do governo estadual, pela anterior destinação de viatura em péssimas condições para a Sociedade, o que levou a Diretoria a considerar o gesto como verdadeiro “presente de grego”, como consta em ata. A viatura, na realidade um furgão, tinha sido utilizada no sistema prisional do estado. Houve ainda uma sobra de Cr$ 1,7 milhão da campanha do Rotary para a compra da kombi, que foram destinados para a Sociedade. Foram arrecadados mais de Cr$ 5 milhões, em uma campanha iniciada com a conversa de Luiz de Tella com Cheda Saad, membro do Rotary Norte, sobre a doação da viatura entregue pelo governo estadual. Entre outros, também participaram ativamente da campanha para a Kombi os rotarianos Eduardo de Barros Pimentel, Renato Camarinha, Pedro Cesar Muniz Ribeiro, Leôncio Queiroz, Orestes Segallio e Francisco Sander. Foi o primeiro veículo que a Entidade teve de uma série que tantos serviços prestaram, em termos de transporte das crianças usuárias e cujas famílias, via de regra, não tinham condições de arcar com este custo. No final de 1963, o ambulatório da Sociedade recebeu a visita da primeira-dama do Estado, Dona Leonor Mendes de Barros, esposa do governador Ademar de Barros, em terceiro mandato. Dona Leonor foi acompanhada pela 2ª vice-presidente da Entidade, Celina Duarte Martinho, presidente da Comissão Campineira de Recepção e oradora oficial da cidade por ocasião da visita da primeira-dama, que gostou muito do trabalho realizado e promoveu apoios futuros. Aporte financeiro relevante, em fins de 1963, foi o recebimento de dividendos das ações da Petrobrás, de Cr$ 531.240,00, sendo que Cr$ 79.686,00 foram retidos a título de imposto de renda. E o apoio da comunidade continuava, como no caso da doação, pela Cáritas da Arquidiocese de Campinas, de 600 quilos de alimentos. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Doação do terreno: novo ciclo Importante etapa para a trajetória da Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica começaria com a posse da Diretoria eleita no dia 20 de maio de 1964. Com a presença de 32 associados a assembleia geral foi presidida por Heitor Nascimento. A Diretoria, mantido na presidência Luiz de Tella, passou a atuar com o estatuto alterado, dias antes, em dois campos: o mandato passou a ser trienal (1964/1967) e o colegiado poderia ser composto de brasileiros, sem o adjetivo nato. Como principal missão apresentou-se lhe a construção da sede, no terreno doado pela Prefeitura Municipal de Campinas, no Parque Itália. O termo de doação do terreno pela Prefeitura Municipal aconteceu a 10 de agosto de 1965, por escritura pública lavrada no Tabelionato Dr. Lauro de Paula Leite, livro nº 391, página 43 verso, conforme autorização dada pela Lei Municipal nº 3.189, de 30.12.64, de “gleba de terreno desmembrada do Parque Itália, de propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas, com 15.000,00 m2 de área, medindo 62 m (sessenta e dois metros) de frente, pelo alinhamento da Rua Marginal a Avenida São Paulo, 14,10m pelas curvas de concordância entre os alinhamentos da Rua Marginal à Avenida São Paulo, e das Ruas projetadas nº 1 e 2; 170,35m de cada lado, pelos alinhamentos das ruas projetadas nº 1 e 2; 62m. nos fundos pelo alinhamento da Rua projetada nº 3 e 14,10m. pelas curvas de concordância das Ruas projetadas nº 1 e 2 com a Rua projetada nº 3”. Assinaram a escritura de doação o prefeito Ruy Hellmeister Novaes, o secretário de Negócios Internos e Jurídicos, Elvino Silva Filho, o secretário de Obras e Serviços Públicos, Antônio Leite Carvalhaes, o Procurador do Departamento Legal, Aníbal de Lemos Couto e o subdiretor do Departamento de Obras e Viação, Cyro Bierrembach de Castro. Pela Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica o presidente Luiz de Tella.
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
Reprodução da foto publicada no jornal Correio Popular em 31/08/15, coluna“Há 50 anos”: prefeito de Campinas, Ruy Hellmeister e Presidente da Casa da Criança Paralítica, Dr. Luiz de Tella assinam escritura de doação do terreno para construção da nova sede da entidade.
O artigo 2º da Lei nº 3.189, de 30.12.64, previa que a Sociedade teria a obrigação de “construir no prazo de cinco anos a ser contado da data desta escritura (10.08.65), o ambulatório mencionado”. A “penalidade” pelo descumprimento da obrigação de fazer ficou expressa na escritura: se a Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica não atendesse as condições desta cláusula, findo o prazo nela estipulado, a gleba doada reverteria ao patrimônio Municipal, independentemente de qualquer interpelação judicial ou extrajudicial. A Lei Municipal nº 3.189, de 31.12.64, estabelecia, por igual, no seu artigo 1º, cláusula de inalienabilidade na doação autorizada. A partir da doação, foram redobrados os esforços para a construção da sede, no espaço cedido pelo município. Mais um passo no sentido de atender de forma adequada à demanda crescente, em uma cidade que crescia de forma desordenada. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
Primeiro dentista Em 1965, a Sociedade não só recebeu em doação o terreno para a construção da sede própria e ambulatório, mas também foi o ano em que passou a contar com o seu primeiro cirurgião-dentista e prosseguia no objetivo da sua estruturação em todas as áreas. O primeiro dentista e que atuaria de modo voluntário, a exemplo de tantos outros profissionais que dedicaram seu talento para as crianças com deficiência, foi Edgard Del Passo. Campineiro, trabalhava na loja comercial de Francisco Sanchez, que desde 1960 passou a integrar sucessivas diretorias da Casa. __ O senhor Francisco Sanchez me deu apoio fundamental para me formar. Sou muito grato a ele - revela Edgard. Formado em 1964, pela Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, logo Edgar passou a dedicar-se à Casa, como seu dentista, mas o primeiro consultório instalado na instituição ainda demoraria a sair. Depois, outros cirurgiões-dentistas também passaram a contribuir com a Casa, como Ligia Madalena Amstalden e Moacir José Teixeira. Há quase cinco décadas, portanto, a Casa da Criança Paralítica conta com serviço odontológico, mais um serviço prestado às milhares de crianças que já passaram pela Entidade.
Adesão à FEAC e projeto APAE Outros assuntos tomaram a atenção da Diretoria e associados da Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica no período. Na reunião de 20 de dezembro de 1965, em assembleia geral, após a apresentação e aprovação das contas no exercício anterior, começou a ser discutida a filiação à FEAC. A FEAC representava um novo modelo de ação social, visando o fortalecimento do conjunto das entidades sociais. Mas, esse fortalecimento dependia da adesão das entidades ao projeto conduzido pelo engenheiro Eduardo de Barros Pimentel e pelo advogado Darcy Paz de Pádua. Nessa primeira discussão sobre o tema, ficou decidido que a Diretoria da Casa buscaria maiores esclarecimentos sobre os propósitos e o modo de funcionamento da FEAC. A “instalação de uma unidade modelo da APAE no nosso Ambulatório” 56
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Capítulo V – Consolidação, em década de transformações
foi mais um tema debatido na reunião de 20 de dezembro de 1965. Eram os primórdios de um processo que desaguou na criação de mais um serviço essencial para a promoção da inclusão social em Campinas, com a doação de parte do terreno da Casa para a instalação da sede da APAE Campinas. Ainda na Rua Luzitana, a 25 de abril de 1966 foi realizada assembleia geral extraordinária, com a aprovação de inserção, no estatuto da Sociedade, do parágrafo único do artigo 2º, assim escrito: “Como instituição filantrópica, a Sociedade obriga-se a manter serviços de ambulatório, bem como leitos e serviços hospitalares para uso público, gratuito, sem distinção de raça, cor, credo, sexo ou religião dentro das proporções estabelecidas pela legislação e regulamentos estaduais em vigor.” Evidente era a preocupação em oferecer serviços humanitários, sem qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Um olhar ecumênico, ético, que se tornou um dos pilares da Casa da Criança Paralítica.
Reeleição da Diretoria No dia 24 de maio de 1967, na sede da Rua Luzitana, elegeu-se e empossou-se a Diretoria para o triênio 1967/1970, em realidade uma reeleição, posto que mantida a maioria dos diretores do mandato anterior. Na presidência Luiz de Tella. O nome diferente desta gestão era o do médico Luiz Calil Sader. Mais um voluntário de destaque na história da Casa, tendo ocupado a Diretoria até 1981, passando a dedicar-se então à APAE, da qual foi um dos fundadores. Neste interregno, as obras de construção da sede no Parque Itália tiveram significativo incremento. A Diretoria, nesse triênio, redobrou esforços para a construção da sede da Casa; tinha razão para assim proceder, eis que deveria observar a cláusula penal estabelecida na Lei nº 3.189, de 31.12.64, que permitiu à Prefeitura Municipal de Campinas doar o terreno situado no Parque Itália; a penalidade era a devolução do terreno, sem quaisquer indenizações. O risco não se materializou pela ação decidida da Diretoria, com destaque à atividade do 3º vice-presidente, Lix da Cunha.
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Capítulo VI – Lix da Cunha: construtor de sonhos
Capítulo vi Lix da cunha: construtor de sonhos Quem trafega pela Avenida João Jorge -- e são milhares de pessoas fazendo isso todos os dias --, não pode deixar de apreciar à direita, logo antes do acesso à Avenida Prestes Maia, um prédio que destoa do padrão arquitetônico comum em Campinas e em todo Brasil. É o prédio-sede da Casa da Criança Paralítica, que se impõe pelo perfil Georgiano, não muito comum no cenário brasileiro de edificações e que indica a personalidade singular, visionária, de seu autor, o engenheiro-arquiteto Lix da Cunha. Se Campinas alcançou o status de uma das mais importantes e conhecidas cidades do país e se essa imagem foi construída em parte pelo que foi feito pela comunidade entre as décadas de 1950 e 1980, período de renascimento após as crises da febre amarela no final do século 19, guerras mundiais, crack de 1929 e revolução de 32, esse renascimento deve muito à inteligência, sensibilidade e capacidade realizadora de Lix da Cunha, empreendedor, com obras de engenharia e arquitetura que moldaram o panorama urbano campineiro; não só isto, mas também com robusto senso de cidadania, deixando legado de contribuição para a cultura, a educação e a ação social. Neste sentido o prédio sede da Casa da Criança Paralítica é espécie de síntese da herança profissional de Lix da Cunha. Construção sólida, em harmonia com seu entorno e pensada nos mínimos detalhes para o fim a que foi destinada, ou seja, atender com o máximo de qualidade e dignidade as crianças com deficiência. Seu visitante, paciente, mãe que o acompanha ou quem quer que seja, logo percebe que se trata de lugar diferente, porque é um prédio bonito, obra de arte, assim concebido porque seu autor considerava que qualquer pessoa, independente de sua origem, merecia estar no ambiente mais agradável e belo possível. Sim, era Entidade social, destinada a atender pessoas de baixa renda 58
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Capítulo VI – Lix da Cunha: construtor de sonhos
e, por isso, deveria ser espaço com estética diferenciada e lindo e, ao mesmo tempo, simples, acolhedor e confortável. Assim foi com a vida toda de Lix da Cunha, um construtor de sonhos (ver quadro VI).
Quadro VI – Síntese do capítulo ü O projeto da sede da Casa
Projeto da sede Ao longo de 1966, foram intensificados os esforços direcionados para a construção da sede da Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica no Parque Itália. As primeiras plantas do projeto de construção do prédio de 1600 metros quadrados foram apresentadas e discutidas na reunião de Diretoria de 16 de março, com vinte e sete associados. A primeira etapa prevista incluía ambulatório com os espaços para fisioterapia, salas de aula, consultórios, sanitários, copa, etc. O engenheiro e vice-presidente Lix da Cunha coordenou a discussão com o corpo médico, expondo detalhes técnicos como os diversos tipos de pisos: madeira, ladrilhos, granilite, etc. Lix da Cunha também explicou como seria a fachada, no estilo Georgiano com tijolinhos aparentes, molduras brancas e colunas e pilastras jônicas. A opção por este estilo refletia a formação anglófona de Lix da Cunha, que estudou e começou a sua carreira nos Estados Unidos. O estilo Georgiano resume a arquitetura elaborada na trajetória dos reinados de George I, George II, George III, cobrindo o período de 1720 a 1840. Como em termos históricos abrange um período relativamente longo, soma influências do Barroco, do Neoclassicismo, do Rococó e do Neogótico. A presença de colunatas, pórticos e escadarias é característica do estilo arquitetônico Georgiano. As duas primeiras estão presentes no prédio da Casa da Criança Paralítica. As escadarias não estão presentes no conjunto arquitetônico, o que ressalta o olhar atento para a acessibilidade, presente desde a concepção do projeto. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo VI – Lix da Cunha: construtor de sonhos
O projeto, de fato, seria discutido com a equipe técnica da Casa da Criança, para que o edifício atendesse da melhor forma às necessidades do serviço prestado. E, depois de concluída, a construção tornou-se uma das principais representantes em Campinas do estilo Georgiano, o que aumenta a importância histórica do prédio. Na reunião de 16 de março de 1966, Lix da Cunha ressaltou “a necessidade do pátio interno para que as crianças possam se beneficiar dos raios solares, brinquedos, etc.”. As sugestões do engenheiro-arquiteto foram aprovadas pela assembleia. No dia 24 de maio de 1966, foi assinado o contrato de construção da sede da Sociedade, no terreno doado pelo Município, localizado na Rua Pedro Domingos Vitalli, 160. Contrato assinado com a Construtora e Pavimentadora Lix da Cunha S/A, do próprio diretor da Entidade filantrópica. De acordo com a cláusula 4ª do contrato, os documentos relativos aos materiais para a obra seriam emitidos em nome da Entidade, “embora aos cuidados da CONSTRUTORA”. A administração da obra, pela cláusula 6ª, seria gratuita. Demoraria algum tempo para a materialização da obra e ela se concretizou com empenho de Lix da Cunha e de sua esposa, Dona Nair Valente da Cunha, principal responsável pela campanha de arrecadação de fundos que viabilizou a construção do edifício sede. Um casal que deixou marcas profundas na história da ação social em Campinas: Nair Valente da Cunha e Lix da Cunha, um engenheiro-arquiteto de sonhos tornados realidade.
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
Capítulo vii Construção da sede: mobilização da comunidade Desde a assinatura do contrato entre a Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica e a Lix da Cunha, seriam cinco anos até a inauguração da obra. Neste período, mais uma vez, falou alto a mobilização comunitária visando a construção da sua sede, em espaço, local e formato apropriados, sendo no mandato da Diretoria 1967/1970 que o objetivo começou a ser concretizado. No final de 1967, foi constituída comissão para coordenar a campanha de construção, que ficou sob a presidência de Nair Valente da Cunha, que se tornou referência, a liderança da série de atividades realizadas pela arrecadação de fundos. Elvira Muraro foi nomeada tesoureira. Um momento especial da campanha coordenada por Nair era a realização do evento Tudo é Brasil, espécie de quermesse com várias atrações e que mobilizava a cidade toda. No transcorrer da campanha toda a renda levantada era destinada ao fundo para financiar a construção da sede (Ver Quadro VII). Desde a posse oficial do terreno para a edificação da sede própria, em 10 de agosto de 1965 e da assinatura do contrato de construção do prédio, em 24 de maio de 1966 com a empresa Lix da Cunha S/A, muita atividade foi desenvolvida. Abaixo alguns registros desse trabalho:
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
Os primeiros passos da construção da nova sede
O projeto de construção em andamento
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
As bases da futura construção concluídas
A parceria responsável da empresa Construtora e Pavimentadora Lix da Cunha S/A, que viabilizou a edificação da sede da Casa
Quadro VII – Síntese do capítulo ü Campanha liderada por Nair Valente da Cunha ü Instalação do consultório dentário ü Inauguração da sede, a 12 de junho de 1971
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
A comunidade colaborou de forma intensa. Ao longo de 1968, foram arrecadados NCr$ 53.111,43, através das Caixinhas da Bondade espalhadas por pontos comerciais, donativos diversos, realização de bazares, do Momento 1968 e Livro de Ouro, entre outras ações. A moeda acima apontada era o Cruzeiro Novo, que vigorou entre 13 de fevereiro de 1967 e 14 de maio de 1970. Um cruzeiro novo equivalia a mil cruzeiros, o que dá uma indicação do alto valor arrecadado em 1968 pela campanha. O cruzeiro novo surgiu no bojo de reforma econômica aplicada durante o regime militar, que promovia endurecimento cada vez maior na área política, social e cultural. Mesmo nesse período crítico da vida brasileira continuou forte o movimento de construção da sede da Casa da Criança Paralítica, que se tornava emblema de ação comunitária, de dinamismo social, em plena ditadura. A última reunião da Diretoria em 1968 aconteceu no dia 12 de dezembro, véspera da edição, pelo presidente Costa e Silva, do Ato Institucional número 5, o AI-5, que vigoraria até 1978 e representou o mais duro golpe nas instituições democráticas brasileiras. A censura recrudesceu e aumentou a perseguição aos opositores. Nessa derradeira reunião de 1968, boas notícias para o setor financeiro da Entidade. Foi registrada a doação de NCr$ 10.570,00 em títulos da Prefeitura e de dez títulos de NCr$ 2.640,00 para obtenção de aparelhos ortopédicos. O deputado Salvador Julianelli confirmou o repasse de NCr$ 5.000,00 de sua verba parlamentar, enquanto outros NCr$ 1.000,00 foram repassados pelo deputado Antônio Leite Carvalhaes. O escritório Pereira Lima, que representava os interesses da Sociedade no Rio de Janeiro, informou que o Ministério da Saúde destinaria verba para a Entidade, começando por NCr$ 20.000,00; ao depois, confirmar-se-ia que, na realidade, o repasse era de NCr$ 10.000,00.
Consultório dentário e campanha escolar Enquanto prosseguia a campanha pró-construção da sede, a Diretoria da Sociedade empenhava-se por melhorias no atendimento às crianças. Marco em 1969 foi a inauguração, no dia 9 de outubro, sob as bênçãos do Padre Chiquinho, do primeiro consultório dentário da Entidade. A montagem deste consultório foi possível pelo apoio financeiro obtido da Childrens Aid Society, organização norte-americana que passou a cooperar com a Sociedade, em função do empenho de Robin Sader, esposa do 4º vice-presidente, Luiz Calil Sader. 64
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
Primeiro consultório dentário, já instalado na nova sede da Casa da Criança
O 1º vice-presidente, Antônio Galízia, tradicional orador da Entidade, assim se manifestou na ocasião, em referência ao dentista que já prestava serviços voluntários para a Casa desde 1965: “O Dr. Edgar Del Passo deve sentir-se orgulhoso por esta cerimônia, pois sempre aspirou a dedicar parte de seu precioso tempo a esta missão sagrada”. Del Passo não perdeu tempo, posto que, de imediato, colocou em prática plano de tratamento das crianças, com as etapas: extrações, recuperação dos primeiros molares permanentes, recuperação dos molares decíduos (dentes de leite), orientação em escovação e higiene e orientação das famílias. Além da inauguração do consultório dentário, a Sociedade comemorou, em 1969, o êxito de mais uma campanha escolar, de mobilização das escolas municipais e estaduais. Desta vez a campanha foi mais abrangente, com ações em várias atividades da região e de outros pontos do território paulista. Foram distribuídos milhares de folhetos, em 45 grupos escolares de Campinas, quinze de Americana, três de Artur Nogueira, dois de Cosmópolis, sete de Indaiatuba, dois de Monte Mor, dois de Nova Odessa, dois de Paulínia, seis de Sumaré, três de Valinhos e três de Vinhedo. Vários destes municípios comporiam a futura Região Metropolitana de Campinas - RMC, comprovando C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
como a atuação da Sociedade sempre foi regional. Em contrapartida, a região colaborou com a sua estruturação. Mas, a campanha escolar de 1969 não se restringiu a apontados municípios; alcançou Sorocaba, São Roque, Rio Claro, São Paulo, Jundiaí e Catanduva. O evento rendeu à Casa NCr$ 38.000,00, que foram canalizados para o fundo de construção. O final de 1969 foi triste, com a morte de Ernani Fonseca, o idealizador da Casa da Criança Paralítica, para quem continuou contribuindo depois de deixar a presidência. Faleceu aos 80 anos, tendo sido um “sanitarista ilustre”, na definição da Diretoria da Entidade.
Campanha intensificada em 1970 A campanha de arrecadação de fundos foi intensificada em 1970. Logo na primeira reunião da Diretoria, a 26 de janeiro de 1970, foi traçado plano do seu fortalecimento. Participou dessa reunião, como convidado, o padre Chiquinho, que contribuiu com sugestões de atividades para sensibilizar a comunidade e ampliar a captação de recursos. O padre Chiquinho sugeriu, por exemplo, a contratação de empresa credenciada para a administração de alguns eventos que envolvessem a distribuição de prêmios. Enquanto a campanha prosseguia a todo vapor, a Diretoria empenhava-se para que todos os detalhes fossem observados, visando o momento da inauguração do prédio. Aproveitando jantar do Rotary, o presidente Luiz de Tella fez apelo ao prefeito Orestes Quércia para que fosse viabilizado o asfalto nas ruas de acesso à Casa da Criança Paralítica. Quércia pediu que lhe fosse encaminhada a metragem, para a Prefeitura providenciar a pavimentação. O engenheiro Lix da Cunha, que estava com os dois interlocutores, respondeu de cabeça: “São 688,50 m²”. As ruas foram asfaltadas! No início de 1970 outra boa notícia, confirmando a destinação de NCr$ 30.000,00 do governo federal para a Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica. Destes, 10 mil foram encaminhados para o fundo de construção, 10 mil para a compra de novas ações da Petrobrás e 10 mil para manutenção da Entidade. Pedidos de deputados estaduais e federais de Campinas, para órgãos nas duas instâncias, foram feitos visando complementar os gastos com a construção. No dia 29 de maio de 1970, ainda na sede da Rua Luzitana nº 369, 66
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
assembleia geral ordinária elegeu e deu posse à Diretoria para o triênio 1970/1973, na presidência Luiz de Tella. Repetiu-se quase a mesma composição da Diretoria anterior. Esta, com a configuração que se lê no anexo deste livro, no dia 12 de junho de 1971, inauguraria a nova sede da Entidade, na Rua Pedro Domingos Vitalli, 160, no Parque Itália. Nota triste foi o falecimento, a 13 de agosto de 1970, de Antônio Galizia, diretor da Casa por várias gestões. Em outubro de 1970, foram feitas fotos da sede em fase final de construção, para instruir solicitações de possíveis financiamentos.
Fachada e entrada principal do prédio sede na sua fase final de construção; o perfil arquitênico continua mantido até os dias atuais, mesmo após as obras de manutenção ocorridas em 2014
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
Em fase final de construção, a entrada, pelos fundos do prédio
Da mesma forma, nessa época (outubro de 1970), confeccionaram-se duas placas que foram afixadas em paredes do prédio, em homenagem, à Diretoria e à Comissão de Obras. A primeira (Diretoria) é composta pelos seguintes nomes: Luiz de Tella – Presidente, Antonio Galízia – 1º Vice-Presidente, Lix da Cunha – 2 Vice-Presidente, Luiz Calil Sader – 3º Vice-Presidente, Raul Ferrari – 4º Vice-Presidente, Elísio Zurita Fernandes – 1º Secretário, Armando Sanchez Oliveira – 2º Secretário, Francisco Sanchez – 1º Tesoureiro, Fausto da Cunha Penteado - 2º Tesoureiro, Heitor Nascimento – Diretor Clínico. Na segunda (Comissão de Obras) consta a seguinte composição: Nair Valente da Cunha – Presidente, Celina Duarte Martinho – Vice-Presidente, Elvira Pardo Meo Muraro – 1ª Tesoureira, Maria Aparecida C. Andrade – 2ª Tesoureira, Beatriz C. Roxo Moreira – 1ª Secretária, Mariazinha Silva – 2ª Secretária, Lix da Cunha – Arquiteto e Jamil C. Abrahão – cronista social. No final do ano de 1970, a Diretoria desenhou plano para o funcionamento do ambulatório, contemplando o trabalho da equipe multidisciplinar formada por pediatra, neurologista, ortopedista, dentista, psicólogo, assistente social, fisioterapeuta, fisiatra, auxiliares, setor escolar para alfabetização, manutenção e motorista. 68
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
Últimos preparativos O ano de 1971 começou com a expectativa da inauguração da sede do Parque Itália. Na reunião de três de março, Lix da Cunha apresentou o trabalho conjunto com Heitor Nascimento, em termos de planejamento e divisão da planta do edifício, contemplando todas as áreas previstas. As contribuições para a conclusão das obras continuavam. Da Câmara Municipal de Campinas a Entidade recebeu NCr$ 12.019,20. No início do ano de 1971, aconteceu discussão sobre o interesse da Fundação FEAC pela compra do prédio da Sociedade situado na Rua Luzitana. Lix da Cunha pediu ao engenheiro Jofre da Silva a avaliação do prédio. Foi igualmente executada avaliação jurídica, a partir da escritura do prédio. A negociação, como se verá a seguir, chegou a bom termo no final deste ano. Entre os preparativos, que se aceleravam, foi deliberada a confecção de prospecto sobre a Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica, com sua história e realizações e ilustrado com muitas imagens, para distribuição durante a inauguração. A inauguração, por fim! Depois de 17 anos de fundação da Sociedade, foi entregue ambulatório em espaço adequado, para receber as crianças com deficiência de Campinas e região, ainda, na época, em sua maior parte com sequelas de paralisia infantil. Uma etapa da história da Entidade findava; outra começava.
Inauguração histórica 12 de junho de 1971. Data histórica, da inauguração do ambulatório, como era chamada à época, na prática, a sede da Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica, na Rua Pedro Domingos Vitali, 160, no Parque Itália. O evento contou com a presença do prefeito Orestes Quércia, de deputados, de várias lideranças locais e estaduais e, surpresa, do próprio governador Laudo Natel.
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
12/06/1971 - Corte da fita inaugural; são vistos o governador Laudo Natel, o prefeito Orestes Quércia, o presidente da Casa da Criança Luiz de Tella e outras autoridades
Visita à sala de fisioterapia pelas autoridades presentes no dia da inauguração da nova sede, no Parque Itália; em destaque a roda de ombro, equipamento de ponta da época, usado na reabilitação física 70
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Capítulo VII – Construção da sede: mobilização da comunidade
O buffet de Bié Mascaro foi contratado para o coquetel oferecido aos duzentos convidados. A empresa Antarctica contribuiu com as bebidas. Ferdinando Tilli ofereceu flores para a ocasião. Toda a imprensa estava presente. A Rádio Educadora fez a transmissão direta do evento. Os prospectos, elaborados com apoio do Rotary Norte, distribuídos. Todas as salas receberam placas de identificação. Como orador, Luiz de Tella ofereceu o espaço reabilitador à cidade de Campinas, agradecendo pelo apoio amplo à obra social. A Banda Musical da Escola de Cadetes abrilhantou o evento, com diversas composições, levando o público à comoção quando apresentou trechos de obras de Carlos Gomes. Sucesso total, evento de impacto na opinião pública. Campinas passava a contar com bem equipada Entidade no atendimento aos portadores de sequelas da poliomielite e outras síndromes. A repercussão extrapolou fronteiras. Em julho, foi realizado congresso de paralisia cerebral no Rio de Janeiro e a direção do evento solicitou fotos da sede da Sociedade para exibição aos participantes, como exemplo de iniciativa regional. As boas notícias prosseguiram nesse ano de 1971. Foi concluída a negociação com a Fundação FEAC, de venda da casa da Rua Luzitana, que passou a ser a sede daquela instituição. Negócio fechado por NCr$ 75.000,00, saldados em quinze parcelas de NCr$ 5.000,00 cada, mais NCr$ 4.913,00 em juros. Decidiu-se, por outro lado, a aquisição de veículo tipo perua para a Sociedade, por NCr$ 15.480,00, sendo NCr$ 10.000,00 à vista e o restante em seis parcelas. E foram captados os dividendos das ações da Petrobrás, de NCr$ 22.000,00. A Diretoria tomou decisão importante, visando o início dos trabalhos na sede do Parque Itália com clima positivo. Foi concedido, em setembro de 1971, reajuste salarial para o corpo de empregados. Com o plano de uso do prédio e com apoio sociopolítico cada vez mais consolidado na comunidade, a Sociedade estava pronta para o futuro. A equipe multidisciplinar estava preparada. O fisioterapeuta Júlio Américo Barbugli Abbade, que desde junho de 1971 vinha orientando a instalação do setor e treinando a equipe que nele trabalharia, no método C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo XIV – Profissionalização da gestão, de olho no futuro da Casa
O projeto tinha o propósito de ajudar crianças com lesão medular por meio de atividades físicas, em função dos benefícios para esse contingente em termos motores, sociais e psicológicos. Eram oferecidas atividades semanais em piscina, permitindo a adaptação ao ambiente, a estimulação de movimentos do nado, a flutuação e a imersão. Também eram promovidas atividades lúdicas para estimular a motricidade, a cognição e os aspectos afetivos sociais. Abordagem extensa, fruto da evolução científica e tecnológica no campo do atendimento às pessoas com deficiência, que sempre esteve presente no escopo da Casa da Criança Paralítica. Em 2009, colaboradores de empresa de embalagem TetraPark realizaram ato importante ato voluntário Casa. Eles promoveram a pintura de paredes e a capina dos jardins.
27/11/2012 - Galleria Shopping. Doação da campanha “Estacionou Doou”
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Capítulo XIV – Profissionalização da gestão, de olho no futuro da Casa
Criação da Diretoria Jurídica Em 25 de novembro de 2010, com os olhos voltados à assistência integral da criança com deficiência, nas áreas médica, odontológica, paramédica, psicológica e de assistência social, a Entidade, pelos seus associados, em assembleia geral, criou o cargo de diretor jurídico, para o qual, como sua primeira ocupante, foi eleita a advogada Maria Bernadete Flamínio. A criação dessa diretoria prestou-se não apenas para dar a apoio e orientação jurídica às famílias assistidas pela Casa, como também enriqueceu o profissionalismo diuturnamente buscado na gestão da Casa. Isto porque um dos princípios adotados pelas sucessivas Diretorias, desde 2003, é o da legalidade. E para ajustar as atividades do dia a dia da Entidade ao complexo e intrincado mundo jurídico emerge a necessidade de profissionais da área. Alicerçada no respeito aos estatutos associativos da Casa, assembleia geral elegeu colegiado para o mandato 2011/2013, na presidência Valdir José de Oliveira Filho.
Evento para inauguração da Biblioteca Adaptada
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Capítulo XIV – Profissionalização da gestão, de olho no futuro da Casa
Festa do dia da criança, com participação da empresária Daysi Mecissi
Festa da Páscoa
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
Capítulo xv Vocação científica e educacional da casa Entre os fundadores da Casa da Criança Paralítica e pessoas voluntárias que para ela trabalharam estiveram presentes alguns dos mais renomados profissionais de Campinas em suas áreas. São médicos, advogados, administradores, professores, mestres e outros profissionais com passagem por importantes instituições universitárias e com relevante produção científica. A vocação científica e educacional da Entidade floresceu no século 21, como resultado dos impactos da qualificação da gestão, da mudança de perfil do público alvo atendido e das transformações tecnológicas registradas nas últimas décadas na medicina em geral e na área da reabilitação de pessoas com deficiência em particular. Fica evidente que uma das tendências para a Casa nas próximas décadas será a de acentuar o eixo científico e educacional, de modo a estreitar seus laços com o polo científico e tecnológico da cidade e região, que é um dos mais importantes do Brasil e de toda a América Latina. Existem organizações da sociedade civil na área da saúde em Campinas, com vinculação direta com o polo científico e tecnológico. Caso do Hospital Boldrini, que diuturnamente intensifica seus esforços na área da pesquisa. E o mesmo acontece com a Casa da Criança Paralítica, em decorrência direta dos fatores apontados e pelo significativo desenvolvimento ocorrido no campo da inclusão e reabilitação de pessoas com deficiência. Os primeiros e concretos passos nesse sentido foram dados pela Entidade, horizonte para o qual trabalharam e trabalham aqueles que dirigiram e dirigem a Entidade. (ver quadro XIV).
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
Para fechar, nesta quadra da existência sexagenária da Entidade, a assembleia geral dos associados elegeu diretoria para o mandato 2013/2015, na presidência Jamil Khater.
Quadro XV – Síntese do capítulo ü Vocação científica e educacional da Casa ü Mudança de perfil das síndromes atendidas pela Casa ü A Casa preparada para o século 21
A coordenação que começou a ocorrer a partir de 2004, quando assumiram a função a terapeuta ocupacional Lilian Emy Okada Mendes Robbi e a pedagoga Ana Rosa Vespasiano Lima, e, em 2006, a pedagoga Nair P. Chilida na coordenação pedagógica em substituição a Ana Rosa, trouxe muitos avanços nos atendimentos realizados pela equipe técnica. Em associação a esse fato, as mudanças acontecidas no âmbito das bases ideológicas norteadoras dos serviços de assistência começaram a se fazer notar. O conceito antes dominante do serviço social como sendo o fundamento das organizações dedicadas à caridade e a filantropia, associadas à tradição da generosidade ou de solidariedade fortemente baseada em valores assistencialistas e paternalistas, existentes na sociedade brasileira, coube durante muitos anos. Mas, os avanços do chamado Terceiro Setor chegaram como consequência natural de mudanças e deixaram suas marcas também por aqui. Atualmente, na Casa da Criança, o serviço prestado de natureza privada e finalidade pública, sem visar lucro, tem suas ações voltadas para questões como cidadania, emancipação, autonomia e, acima de tudo, observância e respeito aos direitos da criança e do adolescente. O novel enfoque dá prioridade aos princípios norteadores dessa moderna forma de atuação social, que tem sua lógica de funcionamento e sua racionalidade próprias, com princípios e valores que não se limitam ao aspecto empresarial das organizações. Essa visão, entretanto, não impede que alguns recursos modernos da administração possam ser aqui aplicados, ou seja, permite tomar empres156
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
tados alguns de seus fundamentos como ponto de partida. A Diretoria da Casa aprovou, por exemplo, a realização do planejamento estratégico, com os olhos voltados a futuro plano diretor que conduza, de forma segura, as decisões do amanhã. Esse enfoque, advindo do Segundo Setor, não pode ser percebido como eminentemente racional e sequencial, posto que é preciso reconhecer e valorizar a intuição e a percepção. Não se deve também concentrar toda a atenção somente no conteúdo do plano, eis que as relações interpessoais existentes e a dinâmica do grupo, durante os trabalhos, são componentes igualmente essenciais para o sucesso. Na elaboração da proposta de trabalho do setor técnico de 2005 a coordenadora Lilian E. O. Robbi considerava que: “Ao longo desses anos, portanto, a Casa da Criança viu-se obrigada a modificar as estratégias do seu tratamento e muitos profissionais buscaram repensar a profissão sobre outras bases teóricas, ideológicas e práticas reconstruindo a visão que a prática profissional acabava por legitimar a exclusão mediante a confirmação de lugares especiais para pessoas especiais, além de perceberem que a abordagem assistencialista e paternalista não estava garantindo nenhum beneficio e sim criando mais um papel, o da acomodação. Apoiados por uma bagagem teórica e prática atualizadas, juntamente com os pressupostos inclusivistas tão amplamente divulgados considera-se que não basta atuar sobre o individuo, mas é preciso transformar a sociedade e a cultura. Logo, a atuação de toda a equipe em contextos socioeducativos passou a ser mais intensa do que de uma atenção individualizada. Configurou-se como uma ação que envolve a pessoa com deficiência e o meio sociocultural no qual esta inserida. A compreensão do processo terapêutico (reabilitação), aliada ao conhecimento sobre a ação humana em geral, sobre o desenvolvimento humano e as relações socioculturais permitiu aos profissionais colocarem-se como parceiros essenciais para o desenvolvimento de nossa missão.” (Proposta de Trabalho do Setor Técnico - 2005). O olhar da Casa, hoje, contempla a criança como ser único e íntegro, vislumbrando-a holisticamente. Não pela limitação que sua deficiência provoca, mas pela potencialidade que todo ser humano carrega dentro de si. A premissa é a de que deve debruçar-se, no seu dia-a-dia, na estimulação das habilidade congênitas de pessoas, enxergadas como pessoas. São essas ideias e práticas que, adotadas a partir de 2003 pelas DireC a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
torias que dirigiram e dirigem a Casa, permeiam a rotina das atividades desenvolvidas e que, somadas ao modelo de gestão administrativa permitiu que algumas metas para proporcionar desenvolvimento científico e profissional pudessem ser planejados e retomados de forma mais concreta.
Novas patologias e os seminários A população dos pacientes atendidos na Casa ganhou outro perfil. Levantamento da porcentagem de quadros patológicos atendidos evidencia esse aspecto, como se observa a seguir:
Paralisia cerebral.......................................................... 61,72% Mielomeningocele........................................................ 25,36% Distrofia muscular.......................................................... 3,35% Paralisia braquial obstétrica............................................ 0,48% Síndromes..................................................................... 7,66 % Neurofibromatose........................................................... 0,48% Amiotrofia espinhal........................................................ 0,95% O enfoque ou o propósito dos criadores da Casa, ou seja, a sequela da poliomielite, foi substituído pelas consequências resultantes da paralisia cerebral e da mielomeningocele. Estas constituem, hoje, as maiores demandas dos atendimentos. Não por outra razão, a intensificação do empenho por buscar modos diferentes de atuação tornou-se um propósito comum para todos os envolvidos com o trabalho realizado na Casa. A denominação paralisia cerebral descreve um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitações nas atividades. São atribuídas a distúrbios não progressivos que ocorrem no cérebro em desenvolvimento. As desordens motoras da paralisia cerebral são geralmente acompanhadas por alterações na sensação, na percepção, na cognição, na comunicação e no comportamento, podendo ser acompanhadas por crises convulsivas. Sua incidência nos países desenvolvidos está 158
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
em torno de 2 a 3 por 1000 nascidos vivos. No Brasil, os dados relacionados à paralisia cerebral e sua prevalência são precários, difíceis de precisar. Evidências apontam que a falta de acesso a serviços adequados de saúde, tanto pré-natal, quanto assistência inadequada à mãe e ao bebê no período peri e pós-natal, aumentam a sua incidência. Aos fatores predisponentes e prematuridade incluem-se infecções congênitas, hipóxia cerebral, alterações metabólicas e crises convulsivas no período neonatal. A mielomeningocele, por sua vez, é caracterizada por má-formação do tubo neural provocando abertura posterior no canal vertebral, no qual há herniação de meninges, da medula espinhal e de raízes nervosas. A patologia ocorre entre a terceira e a quarta semana de gestação. A incidência da Mielomeningocele no Brasil é alta, sendo de aproximadamente uma criança para cada mil nascidas vivas. Embora os quadros de mielomeningocele não constituam a maior porcentagem dos atendimentos, a Casa da Criança tem em sua historia uma atenção especial para o tratamento dessa patologia. No final da década de 1970, a Entidade surgia, na região, como referência no seu tratamento, contando para isso com equipe de profissionais de vanguarda como sempre ocorreu ao longo de sua trajetória. Com a bagagem científica reunida em décadas de experiência, a equipe multiprofissional sentiu-se segura para organizar seminários mediante os quais pudesse transmitir seus conhecimentos, vivências e descobertas com outros profissionais, com ênfase nos aspectos científicos do seu campo de atuação. Dentre as propostas de cunho cientifico pode ser citada a realização dos seguintes seminários técnicos:
üAbordagem multidisciplinar no tratamento da mielomeningocele, em 05/11/1988 üOs Caminhos da Paralisia Cerebral, em 9/11/2007. üNovas Abordagens no Tratamento da Paralisia Cerebral, em 5/11/2011. üMielomeningocele -“Transpondo e Construindo Novos Limites”, em 25/10/2013. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
2007 - Seminário Técnico. Os caminhos da paralisia cerebral. Abertura pelo médico neurologista Luiz Carlos Costa Morisco
2007 - Seminário Técnico. Os caminhos da paralisia cerebral. Apresentação do médico ortopedista Jair Ortiz 160
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
2007 - Seminário Técnico. Os caminhos da paralisia cerebral. Médicos: Dr. Jair Ortiz (ortopedista), Dr. Antonio Carlos Fernandes (ortopedista), Dr. Luiz Carlos Costa Morisco (neurologista) e Dr. Reginaldo César de Campos (fisiatra).
Organizados por comissão composta pelos profissionais da equipe técnica, as reuniões de estudo tiveram como objetivo essencial trazer para outros profissionais da área contribuição para troca de conhecimento e atualização dos avanços que têm sido construídos no campo de atuação da Casa da Criança e da reabilitação como um todo. Além disso, investimento tanto material quanto pessoal na capacitação e atualização da equipe técnica, estimulada pela Diretoria, vem ocorrendo de forma sistemática em especial nos últimos anos com a participação dos profissionais em seminários, jornadas, cursos, simpósios. Isso permite carrear para o contexto dos atendimentos de cada área uma complementação e renovação significativa nas propostas e paradigmas do trabalho desenvolvido. Com a possibilidade de utilizar ferramentas diferentes para execução dos atendimentos, quando comparados com os primeiros anos de trabalho realizados pelo profissional em sua área, a qualidade da assistência de cada criança ganhou outro perfil. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
O enfoque numa avaliação regular dos resultados alcançados pela criança, em cada área da reabilitação, usando para isso instrumentos e modelos padronizados, como a CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade material desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde, permite uma linguagem padrão para referência quanto à avaliação, diagnóstico e prognóstico das crianças atendidas. Nos anos 1990, por exemplo, estes instrumentos e modelos não eram acessíveis. Devem ser considerados, por outro lado, os recursos da tecnologia assistiva, conceituada como “área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”. (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). Ou seja, é todo equipamento que se utiliza para manter ou melhorar as capacidades funcionais de pessoas com deficiência, como, por exemplo, a comunicação alternativa, o emprego de cadeiras de rodas, órteses, próteses, etc. Essa tecnologia assistiva ainda está distante da realidade da maioria das crianças e de suas famílias, resultado do seu alto custo. Por outro lado, não se pode afastar, nesse contexto, o desconhecimento da sua existência e, principalmente, a visão da incapacidade preponderando sobre a visão funcional das potencialidades da pessoa com deficiência. Sendo assim, diante desse quadro, passou a ser objetivo da Entidade, em especial a partir dos primeiros anos do século XXI, introduzir os pacientes da Casa no mundo de recursos transformadores, que podem trazer mudanças significativas em suas relações com o mundo e consigo mesmo, fazendo com que a almejada qualidade de vida possa ser alcançada também por meios dessas ferramentas. A busca por avanços na prática terapêutica tornou-se outro diferencial no atendimento oferecido pela equipe e, no ano de 2014, a chegada da técnica denominada pediasuit permitiu a qualificação dos profissionais da área de fisioterapia para a sua utilização, bem como disponibilizou recursos financeiros para a aquisição do material necessário para a sua aplicação. O pediasuit é uma vestimenta ortopédica macia e dinâmica que consiste em chapéu, colete, calção, joelheiras e calçados 162
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
adaptados e interligados por bandas elásticas. Visa criar uma unidade de suporte para alinhar o corpo o mais próximo do normal possível, restabelecendo desssa forma o correto alinhamento postural e a descarga de peso que são fundamentais para normalização do tônus muscular, da função sensorial e vestibular da criança. Complementar ao progresso da metodologia aplicada ao processo de reabilitação, nada obstante não menos importante, é a atenção especial à família, como participante ativa desse processo. Na mesma linha, o denominado entorno reabilitador, vale dizer, a vizinhança que cerca a criança no seu dia a dia, também é objeto de atenção. O amparo à família e o cuidado com seu entorno reabilitador constituem, hoje, outras variáveis que são trabalhadas na visão holística de atendimento. Para isso varias intervenções vêm sendo realizadas, em especial sob a responsabilidade dos setores de Psicologia e Serviço Social. A abordagem é psicossocial e procura avaliar as relações que cada família constrói com o universo da deficiência em seu núcleo, para depois ir à busca por alternativas que tragam melhores e maiores condições de vida para todos os envolvidos nessa dinâmica. A atuação de toda equipe considera a importância da participação da família para que resultados efetivos possam alcançados continuamente. Da mesma forma, o olhar para a atuação do corpo de colaboradores, como um todo, pela da Diretoria da Casa, possibilitou a realização dos seguintes seminários:
1º Seminário üSeminário da Conquista - em 20/10/2006. 2º Seminário üQualidade de vida no ambiente de trabalho em 28/11/2008 3º Seminário üQualidade de Vida a partir do ambiente de trabalho em 28/10/2010. 4º Seminário üQualidade de Vida e Mundo Digital no Ambiente de Trabalho em 9/11/2012. 5º Seminário üQualidade de Vida e Mundo Digital no Ambiente de Trabalho em 10/10/2014. C a s a da C r i a n ç a Pa r a l í t i c a
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
Referidos seminários constituíram -- e constituem --, oportunidades de aprendizado e de reflexão sobre o lugar e o papel de cada colaborador dentro da dinâmica da organização e frente aos temas atuais. A importância dessas iniciativas da Diretoria coloca em destaque as mudanças na visão da ocupação do espaço institucional e contribuíram para transformar a relação de trabalho em experiência pessoal e profissional mais humana, gratificante e desafiadora. Essa combinação de perspectivas aponta para o futuro dos serviços prestados pela Casa da Criança e, ao lado de mostrar o rumo a seguir, trazem à consciência o fato de que ainda há muito a construir.
Entidade qualificada e capacitada Entidade social qualificada e capacitada para enfrentar os desafios atuais, com gestão contemporânea, que utiliza os conceitos de gestão e de planejamento estratégico e de outras ferramentas apropriadas para o cumprimento, com eficiência, de sua missão e busca constante da sustentabilidade financeira, ademais de ter os olhos voltados à sua longevidade. Este é, em resumo, o perfil da Casa da Criança Paralítica na segunda década do século 21. O presidente Jamil Khater, ademais dos princípios do atendimento à criança, da legalidade e da transparência, destaca o empenho pelo equilíbrio financeiro, com a diversificação das fontes de recursos como um dos pontos fortes deste momento. A própria composição da equipe de trabalhadores da Entidade confirma a afirmativa do presidente. Dos 80 funcionários - ou quarenta vezes o tamanho do modesto grupo de dois com o qual a Casa começou a trabalhar – são 38 atuando na captação de recursos, sendo 22 na unidade de processamento da Nota Fiscal Paulista e 16 no setor de telemarketing, que continua a ser um dos canais de comunicação com a sociedade e de arrecadação de recursos. São 38 pessoas atuando na busca de apoio financeiro, expressivo progresso em relação à fase pioneira, quando a captação de recursos era feita de forma voluntária. No campo da prestação de serviços diretos aos pacientes, a Casa está sempre em busca de melhorias, assinala o presidente Jamil Khater. Sua equipe multidisciplinar é composta por médicos, dentistas, assistentes sociais, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicóloga, nutricionista e auxiliar odontológico. Além destes, trabalham cinco profis164
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Capítulo XV – Vocação científica e educacional da Casa
sionais no setor pedagógico, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças. O restante do corpo profissional abrange os empregados nas áreas da Diretoria, bazar, cozinha, financeiro, administrativo, limpeza, recepção, manutenção e suprimentos. Assistência jurídica é prestada para pacientes e família pela Diretoria Jurídica. O grupo é habilitado e trabalha para o cumprimento da missão da Casa da Criança Paralítica, que projeta novas iniciativas para curto, médio e longo prazos. A estruturação de piscina aquecida coberta e de academia adaptada, podendo ambas ser utilizada pela comunidade em geral, como fonte de recursos, está nos horizontes da Entidade, entre outras ideias cultivadas pela Diretoria. Dentro dessa linha de trabalho, a Casa chega aos 60 anos e sua Diretoria começou trabalho no sentido de preparar plano de cenários futuros – principiando pela realização de planejamento estratégico --, visando a melhor preparação para enfrentar novos desafios, típicos do mundo contemporâneo e os específicos de Campinas, sede de uma metrópole dinâmica em constante crescimento. A ampliação de alianças estratégicas, atendimento ao paciente, equilíbrio econômico financeiro, transparência nos procedimentos e legalidade são alguns dos princípios que continuarão sendo fundamentais para a Entidade, afirma o presidente Khater. Também continuará a busca permanente de qualificação da comunicação com a sociedade. Nesta área foi contratada, em 2013, assessoria de comunicação, como apoio às decisões da Diretoria. Ciência e educação, tecnologia, pró-atividade na captação de recursos, gestão profissional, comunicação e planejamento estratégico. A Casa da Criança Paralítica, sexagenária, chega mais moderna e ativa do que nunca, honrando a memória dos seus fundadores e sucessores.
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C a s a d a C r i a n ç a Pa r a l í t i c a de Campinas As pessoas que contemplam a estrutura física da Casa da Criança Paralítica vislumbram um prédio de tijolinhos, com colunas brancas e um grande espaço ao redor. Aqueles que entram em suas dependências, enxergam grande quantidade de salas, locais onde são atendidas suas crianças e seus jovens pacientes. Exceto os colaboradores que, por uma ou por outra razão, conhecem um pouco de sua história, os visitantes, naturalmente, ignoram o grande número de pessoas que, de forma voluntária, trabalharam forte nos primórdios das suas atividades. A leitura mais aprofundada da história da Casa -- entre outros relevantes fatos --, revela o esforço realizado por uma gama de pessoas solidárias que tiveram a tarefa de criar e de instalar a clínica; o trabalho foi intenso, posto que, criada a Entidade, não existia uma sede e, muito menos, aparelhada para a assistência devida às crianças e jovens com sequela da poliomielite que grassava na ocasião.
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