Na capital do Estado do Rio Grande do Sul, misteriosos casos no transporte público arrepiam o pelo dos habitantes da cidade. Todos os dias, fatos assustadores nos ônibus de Porto Alegre surgem como casos dignos de contar em volta de uma fogueira, tirando o sono da população. Os contos de terror do transporte público de Porto Alegre nos falam de violências institucionais, morais, físicas, verbais, sexuais e patrimoniais, inclusive com a presença de arma de fogo, instrumento responsável por mais de 70% da letalidade violenta nessa cidade. As violências institucionais e interpessoais se destacam. Para barrar isso e mostrar que o serviço prestado não vale a facada diária de R$ 4,05, criamos a campanha 405 Contos de Terror. Aqui estão reunidas histórias reais de passageiros do transporte público de Porto Alegre. Em suas mãos, estão alguns dos relatos, especialmente escolhidos, de pessoas que gentilmente dividiram conosco suas tenebrosas experiências. Prepare-se para uma realidade assustadora.
A P R E N S A M O RT Ă? F E R A
A passageira estava descendo e o motorista fechou a porta, prensando-a.
MAURICIO, NA LINHA 178 dedicado a adeli sell
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A HORA DO PESADELO
Agora que o Jr. não quer mais arrumar os ônibus, o T5 leva mais de 30 min pra chegar. E, claro, como ninguém sabe quando virá outro, todo mundo pega, mesmo estando com a lotação muito acima (lê-se: muito esmagados). A motorista fica vários minutos esperando todos subirem e se acomodarem porque fica com pena, pois entende que nossa situação está desesperadora! ROSANA, NA LINHA T5 dedicado a airto ferronato
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SUFOCO SEM FIM
Já peguei um T3 e o motor pegou fogo no meio do trajeto. Recentemente tive que pegar outro T3 onde as pessoas precisaram ficar encaixadas na porta para entrar. Não havia espaço e eu já estava há mais de uma hora na parada em horário de pico.
TAMY, NA LINHA T3 dedicado a aldacir oliboni
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O E N I G M A D E O U T RO M U N D O
O cobrador contou que haviam 81 carros parados na garagem esperando conserto e que um mecânico que desmontou alguns carros para fazer outros funcionar foi advertido e proibido de fazer isso.
TAMY, SOBRE O TRANSPORTE PĂšBLICO dedicado a alvoni medina
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PA R A D A D O T E R R O R
Fui assaltado três vezes nessa linha no mesmo mês pelas mesmas pessoas, no último assalto eles riram da minha cara. O primeiro assalto ocorreu logo após o Zaffari da Cavalhada, fiquei sem celular, o segundo ocorreu próximo ao novo Zaffari da Juca Batista e o terceiro e último ocorreu mais ou menos próximo da Juca Batista. R$ 4,05 para coletivos sem ar-condicionado, em horários de pico sempre lotados e atrasados, é demais isso! E fora os assaltos que acontecem com frequência em diversas linhas. Fui assaltado em outras também.
WILLIAM, NA LINHA LAMI dedicado a andré carús
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O SILÊNCIO DOS INOCENTES
Gente, hoje (29/09) peguei o D43 às 7h45min com minha irmã mais nova, chegamos no Campus do Vale às 8h. Sentamos atrás do motorista, porque o ônibus tava muito lotado e desceríamos só no terminal, cada uma botou seu fone e deitei a cabeça para cochilar. Quando acordei, ela me falou que o motorista ficou olhando pra ela (o que não é novidade pra mim porque já peguei ônibus com ele e ele sempre fica me encarando) e que botou a mão na perna nela (pedi pra ela me mostrar como ele fez e ele não só botou a mão, ele “acariciou” a perna dela). Por favor, TOMEM CUIDADO!!! Não deixem esse nojento chegar muito perto de vocês, não deem moral pra ele!
PASSAGEIRA ANÔNIMA, NA LINHA D43 dedicado a cassiá carpes
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N Ã O O L H E PA R A T R Á S
Quando retornava à casa, às 16h40min, no dia 20 de outubro, após reunião na Academia de Letras dos Municípios do Rio Grande do Sul, o ônibus 0568, da Linha T3, de placa INQ 7189, em que eu vinha, mal entrara na Rua Santana, quando ouvimos um estrondo. De imediato, o motorista parou e avisou-nos que descêssemos, havia perdido o motor traseiro. A superlotação do veículo, perplexa, ficou sem ação. Não sabíamos o que fazer. O cobrador, bastante constrangido, disse-nos: “Nesta linha só colocam carro sucatado. Um horror! Os senhores vão ter que esperar o próximo”. Alguns dos passageiros foram extremamente indelicados, xingando-o.
ILDA, NA LINHA T3 dedicado a cassio trogildo
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M O R TA - V I VA
Estava voltando da pucrs às 19h30min e chovia muito. Entrei no ônibus já encharcada, dividindo espaço com guarda-chuvas molhados. Estava abafado e úmido, e comecei a passar mal. Fui bem pra frente do ônibus mas não consegui lugar pra sentar e fiquei em pé. Foi entrando cada vez mais e mais gente, eu fiquei prensada no vidro do motorista e desmaiei. Mas não caí, porque era impossível se mexer. CAROLINA, NA LINHA D43 dedicado a cláudio janta
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BEBÊ A BORDO
Minha história de terror acontece todos os dias com a linha T7. Essa é a única linha que passa na Av. Nilo Peçanha. Além do ônibus ir e voltar lotado todos os dias, eu estava gestante e cansei de levar cotoveladas na barriga e ser amassada na roleta por não ter lugar para sentar e me acomodar. Muitas vezes tive que ir até o Shopping Iguatemi para ter mais opções de ônibus para ir embora. Devido ao excesso de caminhadas diárias tive que me encostar no inss pois estava sentindo contrações e poderia entrar em trabalho de parto muito antes da data prevista pelo obstetra. Fiz várias reclamações para eptc, da qual nunca tive sequer retorno ou melhorias na linha.
MELISSA, NA LINHA T7 dedicado a comandante nadia
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ACELERAÇÃO DO MAL
Entrei no ônibus depois de uma prova de um concurso e olhei para o chão, havia quase um buraco próximo da roleta no primeiro banco atrás do motorista. Fora que toda vez que temos que nos deslocar ficamos até 40 minutos na parada esperando, quando vem, vem de dois até quatro ônibus um atrás do outro batendo corrida como se estivessem em um autódromo esquecendo que estão carregando pessoas e não bichos. Os idosos são os que mais sofrem pois volta e meia eles quase caem quando estão subindo ou descendo do ônibus.
MÁRCIA, NA LINHA 182 dedicado a dr . goulart 13
ARRANQUE SANGRENTO
Fui descer do ônibus com a minha vó, uma senhora de 85 anos. O motorista não esperou que ela descesse completamente e arrancou, fazendo com que ela caísse e quebrasse o braço. Já faz quase cinco anos e ela ainda sente dores.
SUZY, SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO dedicado a dr . thiago 14
AT I V I D A D E PA R A N O R M A L
Esta linha é sempre uma surpresa, pode demorar uma eternidade pra passar e é sempre irregular Porém, ontem, fiquei na parada da ufrgs da Ramiro Barcelos durante uma hora e dez minutos, para um ônibus que DEVERIA passar a cada 15 minutos. LETÍCIA, NA LINHA SÃO MANOEL dedicado a felipe camozzato
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C H U VA Á C I D A
Sexta-feira, a chuva caía sem dar trégua, tinha água por todos os lados, fiquei esperando os dois ônibus que passam pela Av. A. J. Renner por uma hora e dez minutos. Atraso do trânsito? Mentira. Enquanto esperei passaram 6 ônibus rumo ao final da linha. Quando entrei no ônibus perguntei pela demora da linha ele me respondeu “O que posso fazer? Nada”. Simples assim. CARLOS ROBERTO, NA LINHA 704 dedicado a fernanda melchiona
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CENTOPEIA HUMANA
É um pesadelo recorrente: pegar o T10 para estar na ufrgs às 8h30min e ser transportada como gado em caminhão apertado, uns sobrepostos aos outros. As pessoas entram e nem conseguem ir até a roleta, de tão cheio que vai, e tem que pedir para os outros passarem o tri por eles. O sac dá aquelas respostas padrão, de quem realmente não tem o mínimo interesse em resolver o problema. Pior é que querem estimular as pessoas a usarem o ônibus, mas com este serviço??? Acho horrível tantos carros com UMA só pessoa, causando engarrafamentos, mas é tão desumano usar ônibus que, quem tem condições, acaba sonhando em comprar mais um carro para atulhar as ruas de Porto Alegre. Alegre???
MARIA, NA LINHA T10 dedicado a idenir cecchim
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H O R RO R E M S E RT Ó R I O
A linha 721 - Nova Gleba/Sertório faz o trajeto “Centro - Farrapos - Sertório Assis Brasil - Bairro”. Peguei esta linha às 18h10min. No meio da Farrapos o ônibus já estava tão lotado que as pessoas se encostavam na porta da frente. Chegando na Sertório, a situação piorou, pois abrem as portas da esquerda e as pessoas vão se aglomerando e empurrando quem está no fundo e quem já está esmagado na frente. Depois de uma hora de viagem cheguei ao meu destino, mas tive que descer pela porta da frente, pois não havia possibilidade de passar a roleta. Lembrando que esta linha não tem ar-condicionado, o que torna a sensação de abafamento pior.
RENATA, NA LINHA 721 dedicado a joão bosco vaz
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A E S P E R A I N T E R M I N ÁV E L
O C2 é um ônibus normalmente muito demorado. Já fiquei mais de 40 minutos na parada esperando por ele. Porém, o que mais me irrita é que, muitas vezes, depois desses 40 minutos, o ônibus vai pro Mercado Público onde é o “final da linha” e todos têm que descer para esperar o próximo. Sim, um ônibus circular tem final da linha! Depois, quando o próximo ônibus chega, podemos entrar pela porta traseira (e muita gente se aproveita disso, dizendo que tava no anterior), mas o problema é que essa espera pode chegar a mais 20 minutos. Aí, são mais 20 minutos na chuva, frio e perigos da região. Já vi gente ser assaltada enquanto esperava. E, se somarmos o tempo esperado, pode-se levar uma hora esperando um ônibus com uma rota que daria pra ser feita em 40 minutos! ROSANA, NA LINHA C2 dedicado a joão carlos nedel
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O O I TAV O PA S S A G E I R O 20
Uso carro mas, felizmente, ou infelizmente utilizo as linhas T1 e T1-D para trabalhar. Em uma destas oportunidades, se é que posso chamar assim, o incidente. Logo no início do trajeto, além dos passageiros habituais, nos deparamos com verdadeiros “monstros” que já se encontravam dentro do ônibus. Eles surgiam de todos os cantos, entre os bancos, nas escadas de acesso e desfilavam soberanamente no corredor. O motorista e o cobrador como que compactuados com esses entes do mal, fecharam as portas do coletivo, de modo que nenhum dos passageiros pôde abandonar o veículo. Os seres percebendo o desespero, em especial das passageiras, rapidamente começaram a se movimentar entre as pernas de todos, sendo que dos mais desavisados, que já estavam sentados, “assaltavam” as mãos, passeando ainda pelos pescoços e nucas. O motorista, que nesta altura dos acontecimentos deve ter incorporado um espírito maligno, não satisfeito diante do caos instalado, lembrou que a linha não se tratava do T-1 (embora constasse no letreiro do ônibus),
que para em TODAS AS PARADAS, mas da linha T1-D, cujas paradas são seletivas. Para o nosso horror, ficamos, então, mais de seis quadras sem o ônibus parar, em poder das criaturas. Eu estava catatônica, como em transe, mas talvez esse fosse o plano dos entes, pois percebi que se aproximavam de forma perigosa da minha bolsa e pertences. O pânico só cessou quando o motorista, tal como um algoz saído da mente de Stephen King, parou na puc, onde, talvez, para o seu deleite, embarcaram novos e inocentes passageiros. Quanto a mim, desci o mais rápido que pude, ainda ouvindo os gritos das pessoas que se encontravam no interior do ônibus fazendo eco com os que embarcaram em seguida. Não, não eram assaltantes, nem tampouco zumbis ou anjos do mal, mas BARATAS! Grandes e pequenas, pretas e marrons, com antenas longas e curtas que, no calor do verão porto-alegrense, que os senegaleses insistem em dizer ser pior que o deles, aumentavam o desespero e o frenesi dos passageiros naquela tarde fatídica! P.S.: abstraindo as “permissividades poéticas”, o relato FOI VERDADEIRO, AFFF! MÔNICA, NA LINHA T1 dedicado a josé freitas
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O N O N O PA S S A G E I R O
Estava sentada no ônibus e senti uma coceira no pé. Resolvi olhar e era UMA BARATA subindo na minha perna!!! Fui ver e tinham pelo menos três baratas naquela linha! ISABEL, NA LINHA C2 dedicado a lídio santos
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CORRA!
Quando me aproximava para descer do Ă´nibus, tinha um senhor perto da porta com uma bolsa no colo. Quando cheguei perto dele, ele tirou a pasta e estava com o pĂŞnis de fora. Desci correndo, com medo que pudesse acontecer algo mais. ISABEL, NA LINHA C1 dedicado a luciano marcantonio
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PÂ N I C O N A C H U VA
Fiquei na chuva durante 40 minutos aguardando o ônibus. Estava cheio de poças d’água, então cada carro que passava molhava quem estava na parada, que não tem cobertura. Não tinha nenhuma perspectiva de aviso, e havia mulheres com crianças, idosos, a parada tava cheia. Como a chuva vem de lado, não tinha como se proteger. ISABEL, NA LINHA C2 dedicado a márcio bins ely
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I N VO C AÇ ÃO D O M A L
O motorista parecia exaltado, havia brigado com o cobrador e com alguns passageiros. E ele ficava tentando cortar os carros, xingando. O clima era péssimo. Ele deu uma freada brusca e metade do ônibus caiu, incluindo eu. Torci meu pé e ainda caíem cima de um guri, super constrangedor.
CAROLINA, NA LINHA T1 dedicado a marcelo sgarbossa
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O S O U T RO S
Entrei no ônibus 756 às 18h na Sertório, tentei passar a roleta, fiquei esmagada entre a roleta e inúmeras pessoas que me pressionavam tentando fazer o mesmo, comecei a passar mal, em cada parada mais pessoas subiam, e ninguém descia. Senti que iria desmaiar pelo calor, falta de ar no ônibus, pedi ao cobrador que me ajudasse a descer, ele gritou para as pessoas saírem do ônibus para eu poder descer. Foi assustador, fiquei com pânico de pegar mais um ônibus lotado!
GRAZIELA, NA LINHA 756 dedicado a mauro zacher
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A LINHA DE SUOR
Estava indo para a universidade de manhã. Esperando o ônibus no Terminal Triângulo. Um horário falhou, e se acumularam muitas pessoas no terminal. Quando o ônibus veio, o ar-condicionado estava ligado, porém estava saindo um ar quente, apesar de estar calor. Conforme o ônibus foi indo em direção ao Campus do Vale, mais e mais pessoas foram entrando. Em um momento da viagem, contei 120 pessoas em um ônibus que acomodava 41 sentados. Quando cheguei na universidade, atrasado e estressado, estava com a roupa encharcada de suor, a ponto de os colegas perguntarem se eu fui correndo, tal era meu estado.
DANIEL, NA LINHA T10 dedicado a mauro pinheiro
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PSICOSE
Só começando pelo preço e estado dos ônibus já é assustador, mas a falta de segurança é um problema grave, ano passado eu fui assaltada num ônibus às 15h num dia de semana na Avenida Sertório por dois homens com revólveres. Eles gritaram com as pessoas, mandaram dois homens deitarem no chão e levaram todas as carteiras e celulares dos passageiros. Então a ideia do Marchezan de tirar o cobrador não ia diminuir o número de assaltos, mas a gente sabe que ele não anda de ônibus e nunca vai saber disso, o assalto não foi ao cobrador e sim aos passageiros. Eu até hoje não consigo mais pegar ônibus sem ficar toda tensa de medo de ser assaltada de novo, eu tenho preferido pegar lotação, só que é muito caro e também não é garantia de segurança, então ando sempre com medo. RAÍSSA, SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO dedicado a moisés barboza
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S U P E R L O TA Ç Ã O
Certa vez discuti com uma cobradora, pois ela queria que eu passasse da roleta, mas simplesmente não tinha como se mover dentro do ônibus. O número de passageiros era acima de 32 de pé e isso acontece diversas vezes, mas não existe fiscalização e controle. Infelizmente depender do transporte público gaúcho é se estressar todos os dias. GIULIA, SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO dedicado a mendes ribeiro
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T3 - O MASSACRE
O T3 não é mais nem conto de terror, é caso de polícia mesmo. A superlotação é corriqueira, as pessoas vão esmagadas e rezando para que não ocorra um acidente - se um T3 pega fogo, dificilmente os passageiros saem vivos. É o ônibus mais apertado que já peguei, chegando mesmo a desmaiar por conta disso. Horrível, uma vergonha. CLARA, NA LINHA T3 dedicado a paulo brum
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PÂ N I C O
Assim como eu, mais usuários da linha 441 Antonio de Carvalho se queixam todos os dias pelos atrasos da linha, sentido bairro centro, principalmente após às 17h, horário em que começa a anoitecer e tem pouco movimento principalmente na Av. Antonio de Carvalho. Todos os dias escuto relatos de assaltos nas paradas da avenida, eu nunca fui assaltada mas morro de medo, saio de casa me guiando pelo horário da tabela horária da linha 441 Antonio de Carvalho, mas ele sempre se atrasa e fico ali na parada de 40 a 45 minutos esperando e vulnerável a assaltos, sequestros e etc. Vejo motos passando e reduzindo a velocidade... Saio correndo. Nada disso iria acontecer (esse pânico) se a linha cumprisse a tabela horária.
ANDRESA, NA LINHA 441 dedicado a paulinho motorista
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AT I V I D A D E PA R A N O R M A L 2
A linha tv é campeã em não cumprir trajetos e horários. Perdi o número de vezes que tive que me deslocar longos trechos para pegar essa linha porque simplesmente não cumpriam o trajeto estabelecido.
CARLOS, NA LINHA 195 TV dedicado a prof . wambert 32
E S C U R I D Ã O M O R TA L
É um absurdo que um viaduto construído para a Copa 2014, concluído em 2016, não tenha iluminação nas 5 (cinco) rampas que dão acesso aos ônibus que circulam pela Avenida Aparício Borges. Sem falar que não existe elevador para subir ou descer. Já vivi uma situação gravíssima pois durante vários dias, a parada ficou sem qualquer iluminação. Desci do T11 e não se via ninguém... ANA, NA PARADA NA PERIMETRAL, LINHA T11 dedicado a prof . alex fraga
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O E XO RC I S M O D O D 4 3 34
Todo dia pela manhã vivo um filme de terror. Moro no Bom Fim e trabalho no Campus do Vale da ufrgs. A única linha que leva pra lá é o D43. Supostamente eu deveria bater o ponto às 8 horas, mas isso nunca é possível. Chego pelas sete e pouquinho na parada do hps e passo quase uma hora assistindo diversos D43 passarem completamente lotados, sem abrirem as portas. Lá dentro, pessoas desrespeitadas, pagando uma tarifa cara e sendo tratadas como lixo, sem qualquer segurança ou salubridade no transporte público. Fico quase uma hora de pé na parada, faça chuva ou faça sol, até conseguir que um D43 pare e permita a entrada de novos passageiros. Aí é aquele tumulto, pois é claro que está lotado. Após quase uma hora de pé na parada, mais quase uma hora de pé dentro
do ônibus, o que é ainda pior Estudantes e trabalhadores espremidos. Direito ao transporte, à dignidade, à saúde e segurança? Não no transporte público de Porto Alegre. Nesse só há alegria para os donos do negócio. Os usuários vão como carga comum. Inumana. Mas não pense em se revoltar, isso é coisa de vândalo. Cidadão de bem baixa a cabecinha e aceita, com medo de ser chamado de comunista ou coisa pior, se é que existe. Bom mesmo deve ser a vida do prefeito, que não anda de ônibus na própria cidade que administra. Filme de terror para ele, só no fim de semana, no seguro e salubre cinema do shopping...
TIAGO, NA LINHA D43 dedicado a roberto robaina
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A T O R Ç Ã O T E D Á PA R A B É N S
Aperto pra descer do ônibus, a moça da minha frente desce e, quando é a minha vez, o motorista sai andando. Eu desço do bus, mas com o pé torcido.
CAROLINA, NA LINHA 373 dedicado a ricardo gomes
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S O B R E N AT U R A L
Meu ônibus nunca tem horário certo e nem adianta reclamar, os motoristas e cobradores também não sabem o horário, cada dia falta um ônibus, ou estragado ou porque a empresa suprimiu mesmo. Terrível ter que esperar 50 minutos por um ônibus e pagar essa fortuna!
ROSANA, NA LINHA 671 dedicado a reginaldo pujol
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AG RO N O M I A - A C O I S A
Ônibus com barata, fedor de urina... Falta de ar condicionado Ê o menor dos problemas.
ANA, NA LINHA AGRONOMIA dedicado a rodrigo maroni
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ENTULHO HUMANO
Venho de Guaíba de Catamarã e chego em poa às 6h55min. Sempre tem um D43 parado para sair às 7h. Ontem não estava e o próximo chegou por volta das 7h15min. E hoje mesma situação, saiu do centro lotado. Na Silva Só o motorista pediu para as pessoa irem para o fundo do ônibus, para entrarem mais passageiros. O pessoal de trás começou a gritar que não dava mais. As pessoas estavam esmagadas. Como é um horário para as pessoas irem ao trabalho e estudar (estudantes mais suas mochilas), imagina o aperto.
TAISE, NA LINHA D43 dedicado a sofia cavedon
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O H O R R O R C U S TA C A R O
Perdi o meu tri escolar e fiquei 7 dias pagando a passagem em dinheiro para ir pro colégio e para o cursinho. Gastei R$ 119,00 para 7 dias. Isso com o tri escolar (meio passe) é praticamente o valor que eu uso em 30 dias. Quem consegue estudar sem meio passe? Quem consegue estudar sem a segunda passagem gratuita? Eu, com certeza, não conseguiria. ANA PAULA, SOBRE O TRI dedicado a tarciso flecha negra
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S A LV E - S E Q U E M P U D E R
Era a Feira do Livro, 2016. Sábado, 20h30min. Fui até o fim da linha na Rua Vigário José Inácio, na esquina da Rua da Praia. Fiquei aguardando por uma hora e dez minutos. Passaram 8 lotações do iapi, mas nenhuma do Jardim Botânico. Eu ali, na frente daquela câmera de segurança. Tinha alguns trabalhadores lidando com um encanamento na Rua da Praia. Eles terminaram o trabalho e nada de lotação. Por fim, tive que ir atrás de um táxi na Salgado Filho, pois se alguém viesse me agredir ou roubar, aquela câmera não serviria para nada. Difícil tentar ficar sem transporte particular. Ao contrário dos outros países, aqui não há prestígio nenhum pelo usuário do transporte público.
MARIA, NA LINHA JARDIM BOTÂNICO, LOTAÇÃO dedicado a valter nagelstein
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O CHAMADO 42
Moro no Bairro Santa Rosa de Lima, no extremo norte de Porto Alegre. O local é bem servido em quantidade de linhas de ônibus. Porém, a qualidade do transporte despencou nos últimos 12 anos. Os ônibus sempre respeitavam os horários, as frotas eram constantemente renovadas, seguindo o bom exemplo que a Carris legava e, apesar de lotados em horários de pico, eram constantes. Hoje, não há mais respeito à tabela horária e diminuiu bastante a quantidade de ônibus. Já esperei 30 - 40 minutos por alguns ônibus que deveriam demorar 15 minutos no máximo! A Linha B25 (Arroio Feijó-Humaitá) recebe os piores ônibus da frota. Alguns já têm notadamente mais de dez anos. São os “restos” da frota. Seus horários são a cada 30 minutos, nunca tiveram ar-condicionado ou motor traseiro. Nem mesmo quando as demais linhas tinham. Outro dado muito importante é sobre a linha D73 (Diretão via F. Ferrari). A nova tática da empresa é a seguinte: quando é colocado um ônibus minhocão, pula-se um horário. Eu vi isso, pois eu estava próxima ao fim da linha, esperando. Chegou um D73, três minutos após minha chegada na parada.
Nesse meio tempo não passou mais nenhum e este mesmo minhocão saiu 32 minutos depois! Sem contar as inúmeras vezes em que se vê ônibus estragado ou com ar-condicionado desligado, porque não funciona (mesmo nos ônibus novos). Enfim, o principal problema é que não se investe em qualidade de transporte público e mobilidade urbana nesta cidade e se dá forças para o uso do carro. Na época em que a Carris era modelo em transporte coletivo, ninguém se atrevia a ir ao centro de Porto Alegre de carro, porque naquela época, os estacionamentos eram escassos, caros e os ônibus eram melhores! Além da tarifa abusiva, eu considero um verdadeiro terror ficar mofando em uma parada de ônibus, independente do horário. Porque não tem hora para isso acontecer!
ADRIANA, NAS LINHAS B25, D73 E 627 dedicado a nelson marchezan júnior
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D E Q U E M É A C U L PA? 44
Compartilho uma rotina do tempo em que eu esperava pelo T5, quase todas as manhãs, por volta das 8h. Tristemente, acabei me rendendo e comprando um carro. Eu costumava esperar o T5, sentido centro-bairro, na Avenida Santana, em frente ao número 690. Foram incontáveis atrasos e sempre a mesma cena se repetia: depois de 40 minutos, ou mais, de espera chegavam três carros do T5 juntos. Um atrás do outro. Como eu ficava inconformada com isso, comecei a anotar os prefixos e registrar várias reclamações no sac da Companhia Carris. Eu ligava e passava ao atendente informações detalhadas, prefixos dos ônibus que chegavam juntos, horário preciso do início da espera e da hora em que, finalmente, o ônibus passava.
Cheguei a colecionar mais de 20 protocolos num curto período de tempo, mas que infelizmente não tenho mais comigo. Na época eu estava decidida que quanto mais eu reclamasse e registrasse as ocorrências, eventualmente algo poderia ser feito. Com uma certa ingenuidade eu pensava “vai que eles não sabem o que o passageiro passa diariamente enquanto espera na parada. Eu tenho o dever de informar e registrar”. De tudo isso, o mais difícil é falar da frustração que é pagar caro, fazer o meu papel de cidadã informando a companhia e ouvir desculpas do tipo: “Não temos culpa, senhora. É horário de pico” (8 horas da manhã).
LUÍSA, NA LINHA T5 dedicado a marcelo soletti
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G UA R D I Õ E S DA C I DA D E
Este projeto foi possível pelo apoio de 26 pessoas, através de crowdfunding, que acreditam que o transporte público de Porto Alegre deve ser mais seguro, organizado, limpo, frequente e em plenas condições para atender toda a cidade. Fiapo Barth Hélio Sassen Paz Mônica Henz Viviane Falkembah João Mauro Fonseca Senise Claudia Maia Cyntia Geller Medina Bruna Mancini Matioli de Sousa Sofia Bordin Rolim Eduarda Mendes Dante Zaupa João Francisco Silva Rasquin Katia Suman
Tiago Russell Tainá Fagundes Behle Giovani Camponogara Tiago Lazzari Luísa Kiefer Bruno Paim Diego Altieri Augusto Boranga GIordano Benites Tronco José Ronaldo dos Santos Souza Filho Laura Azeredo Cylene Oliveira Dallegrave Marcelo Nisida
O Ú LT I M O G R I T O
A Rede Minha Porto Alegre, o Meu Ônibus Lotado e a Shoot the Shit reuniram experiências negativas de usuários do transporte público no livro “405 Contos de Terror”, um projeto que luta por ônibus mais seguro, transparente, humano e inteligente. Os relatos recolhidos narram desde o descumprimento da tabela horária até casos de assédio sexual dentro dos veículos. Os “405 Contos de Terror” aludem ao valor atual da passagem de ônibus em Porto Alegre (R$4,05). Reunimos 38 “contos” para a versão impressa - todas as 405 histórias podem ser conferidas no link bit.ly/405Contos com o objetivo de levar essas experiências para quem toma as decisões sobre o tema em Porto Alegre. Por isso, as histórias estão dedicadas para cada um de vocês. São 38 experiências relatadas e endereçadas para cada um de nossos 36 vereadoras e vereadores, para o Prefeito
Nelson Marchezan Júnior e para a eptc, na figura de seu presidente Marcelo Soletti. Queremos sensibilizá-las e sensibilizá-los para essa causa provando, com o livro que vocês têm em mãos, que não é exagero comparar a hora de pegar ônibus com a “Hora do Pesadelo”. A Rede Minha Porto Alegre, o Meu Ônibus Lotado e a Shoot the Shit acreditam que um dos problemas que ocorrem no transporte é o fato de quem tem poder de operar mudanças nesse sistema raramente utiliza esse serviço. Por isso, nossa ideia é apresentar um quadro geral da situação precária de quem depende do ônibus para se locomover diariamente. Esperamos que as senhoras e os senhores tomem providências, dando para esse filme de terror um final feliz. Estamos abertos para diálogo e com muita vontade de ajudar e colaborar para que o transporte coletivo deixe de ser um pesadelo para quem depende dele em Porto Alegre.
O gabinete da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) apoiou o projeto fornecendo depoimentos coletados pelo seu aplicativo “Fiscaliza Tu”. No entanto, a Rede Minha Porto Alegre não é vinculada nem a este nem a nenhum partido.
Imagem da capa do website histomil.com Livro composto com a fonte Vesterbro da Black-Foundry.