20140626 of68 issuu

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F O T O G R A F I A E S P E C I A L

nÂş68 _ ano XI

Abr|Mai14

w w w. o n f i r e s u r f m a g . c o m

fac e b o o k . c o m / M o c h e i n s ta g r a m . c o m / m o c h e

bimestral _ pvp cont 3â‚Ź [iva 6% inc]



*A vida ĂŠ melhor com boardshots!



*”Today is Perfect”. Vê o dia perfeito de Mark Richards em Oneill.com

Proged SA: infoproged@proged.com




| geral@nautisurf.com


* Da inexplicável mente de Mitch Abshere vem a nova evolução com uma colaboração entre a Vans e a Captain Fin. Quando mostrámos ao capitão os últimos e melhores surf siders, ele agarrou de imediato nos “Costa Mesa”. Adicionou-lhe um xadrez e uma âncora, um slip on à mistura, e este ténis ficou pronto para fazer parte da colecção. Depois o Capitão adicionou uns calções de banho, t-shirts, um chapéu e uma mochila para meter tudo lá dentro e o nosso pack de praia favorito ficou pronto. Estamos prontos para ir e tu também!


A história por trás desta capa envolve a procura por um tecido completamente diferente do usual, um costureira com habilidades fora do comum, um dos melhores surfistas portugueses e aquele que será provavelmente o próximo português no WCT - Frederico Morais - e, na base de tudo isto, uma das mentes mais criativas do surf nacional, a do fotógrafo da ONFIRE, Carlos Pinto, que mostra ao mundo o resultado dos seus “devaneios mentais” através da fotografia. Não vamos entrar em pormenores de quantas agulhas ou pontos foram necessários para fabricar este fabuloso fato floral de Frederico Morais, mas vamos dizer-te que esta é a primeira capa da ONFIRE em que mar ou ondas estão envolvidos. A ideia era criar um tributo a Morais mas de uma forma totalmente diferente daquilo a que as revistas de surf nos habituam mas que, de uma forma muito subtil, apontassem para um estilo de vida único… E, na nossa opinião, o trabalho não poderia estar feito de forma mais imaculada!!!

C R É D I T O S ONF I RESURF 6 8 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marc Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores João Rei . Marcos Anastácio . Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira . Zaca Soveral | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #68 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

#coverstory

#welovephotos #spotlight

#surftrip

Gostaríamos de fazer toda esta edição dedicada apenas à fotografia (e respectivas legenda) mas como temos também dois artigos de excelência (com fotos que poderiam estar todas neste “welovephotos), dedicámos “apenas” 32 páginas onde poderás encontra algumas das mais incríveis fotos que viste nos últimos tempos numa revista de surf! É mais um inesquecível #welovephotos como sempre com os surfistas portugueses como principais actores!

Se a versatilidade do surfista deste Spotlight aumenta dentro de água a cada dia que passa, já fora de água esta é do mais natural que há. Pedro Boonman, um dos que melhores “aérelistas” nacionais, é um desafio para a mente de muitos mas ninguém nega as suas qualidades mais vincadas: honestidade, persistência e boa disposição com uma pitada de impulsos genuínos!… Podes descobrir tudo sobre a mente de Boonman (e já agora o seu lado mais versátil fora de água) nesta grande entrevista… Regressámos aquela que ilha que já foi conhecida como “Hawai Português”, regresso esse graças a Ruben Gonzalez, um habituée do power e perfeição madeirense, e que este ano decidiu partilhar toda a sua experiência com a mais nova geração local! Uma viagem que passou pelos mais conhecidos picos mas também por um dos menos famosos mas mais divertidos…

ALL photos by carlospintophoto.com

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*Um documentário by Jamie Henrich. Atrás das cenas da Volcom. Faz download do Blu-ray e do código em “True to this”. Disponível no itunes em 26 de Agosto de 2014. Para mais detalhes vai a volcom.com/truetothis


A ONFIRE nunca teve um “manifesto” escrito, apesar de na sua fundação termos passado longas horas a teorizar sobre o que seria este projecto. Na altura éramos uns “miúdos” entre os 24 e os 28 anos e estávamos cheios de ideais na cabeça. Muitos deles percebemos rapidamente que não eram praticáveis e tiveram de ser adaptados, mas gosto de acreditar que os mais importantes ficaram. Um ponto muito importante para nós era não ter medo de arriscar e inovar. A verdade é que é mais fácil “jogar à defesa” e acompanhar o que os outros fazem do que tentar coisas novas, sob o risco de não serem aceites ou de serem mal interpretadas. Mas aí é que entra o que de mais valioso temos na ONFIRE, uma equipa coesa e criativa. São estas pessoas, que abraçaram há muito tempo, ou pouco, este projecto que diariamente puxam pela ONFIRE para que em momento nenhum nos seja atribuído o adjectivo “estagnação”. A capa da edição que têm nas mãos enquadra-se na perfeição nesta regra. Tenho a certeza que muitos vão gostar tanto como nós, enquanto que outros, que procuram uma “manobra” na capa, vão estranhar e criticar. Mas são estes riscos que abrem novos horizontes e fazem subir patamares e por isso estaremos sempre dispostos a arriscar. Esperamos que gostem!!! _António Nielsen

12 | Um line up diferente... photo by carlospintophoto.com




Tenho de vos confessar algo... Infelizmente, não tínhamos no planeamento nenhuma edição premium para este ano. O nosso desejo era, como já o referi várias vezes, que todos os nossos números fossem com este tipo de papel mas, como é fácil perceber, estes só são possíveis quanto conseguimos atingir determinados valores financeiros. Mas o mais importante para mim nesta edição é a razão principal pela qual esta deu este salto. E a razão é, maioritariamente, uma. Consegues adivinhar qual? A foto da capa! O poder de uma imagem é secular e diariamente vemos o seu efeito mas provavelmente poucos terão tanta noção desse poder como os editores de revistas e jornais (sendo que no topo desta pirâmide estão obviamente os fotógrafos) principalmente porque esse lidam com imagens todos os dias. Numa revista de surf não é diferente, e se o primeiro olhar é para procurar os mais abusados e estéticos (no conjunto da imagem) momentos de surf, o mesmo olhar “científico” é usado para o lifestyle. Olhar para uma foto de surf e dizer “Esta é uma foto de capa” sem hesitar é quase um prazer orgásmico por qualquer estranha razão. Mas olhar para uma foto de lifestyle e dizer “esta é uma foto de capa” é, para nós, uma raridade pois se para uma foto de surf ser capa temos requisitos altíssimos, então para uma de lifestyle nem se fala. É por isso que ao longo de 11 anos a ONFIRE apenas teve duas capas em que as fotos foram de lifestyle: a primeira foi na edição número 8 – o nosso primeiro especial fotografia - e foi uma onda em Santo Amaro a preto e branco. A segunda foi quase 10 anos depois; a edição foi a 60 e foi, como certamente te lembras, a primeia edição premium que lançamos. A foto foi de uma onda a passar sem rebentar e com um surfista a passar por essa e 10 pelicanos a voar...

No entanto, quer queiramos quer não, essas duas fotos tinham o elemento surf presente e é nisso que esta foto difere de qualquer uma. Claro que todos sabemos que o homem da capa é o Frederico Morais (apesar de vestido de uma forma pouco usual) mas quem estiver fora do meio do surf não adivinhará certamente que esta é uma revista de surf (com uma forte componente de lifestyle). Penso que esta foi a primeira foto que vimos de lifestyle e sem qualquer alusão directa a surf que vimos e dissemos, “esta é uma foto de surf, e que se enquadra na perfeição na capa de um especial fotografia”! E a prova de que a nossa visão (que só foi obviamente possível devido à extraordinária visão do Mestre das lentes e fotógrafo da casa ONFIRE, Carlos Pinto) estava correcta foi que foi graças a este incrível momento que conseguimos colocar nas bancas, e em mais um ano de crise mundial económica, aquele que é o nosso terceiro número premium! _Nuno Bandeira

| 15 Esta é a nossa segunda edição #welovephotos com papel de luxo, e esta de Eduardo Fernandes é um excelente exemplo do tipo de fotos que irás encontrar nas restantes páginas deste número. Parece-te bem? photo by Jorge Matreno




03 abril 2014 _ 10:20 0 4 a b r i l 2 0 1 4 _ 07:32 0 5 a b r i l 2 0 1 4 _ 04:50 0 6 a b r i l 2 0 1 4 _ 04:28 07 abril 2014 _ 04:11 08 abril 2014 _ 04:09 0 9 a b r i l 2 0 1 4 _ 16:35 1 0 a b r i l 2 0 1 4 _ 12:00 1 1 a b r i l 2 0 1 4 _ 12:09 1 2 a b r i l 2 0 1 4 _ 13:40 1 3 a b r i l 2 0 1 4 _ 23:50 1 4 a b r i l 2 0 1 4 _ 23:56 15 abril 2014 _ 20:38 16 abril 2014 _ 15:18 1 7 a b r i l 2 0 1 4 _ 06:42 18 abril 2014 _ 02:40 1 9 a b r i l 2 0 1 4 _ 04:51 20 abril 2014 _ 20:22 2 1 a b r i l 2 0 1 4 _ 06:44 2 2 a b r i l 2 0 1 4 _ 08:08 23 abril 2014 _ 08:21 2 4 a b r i l 2 0 1 4 _ 08:07 25 abril 2014 _ 08:55 2 6 a b r i l 2 0 1 4 _ 10:57 2 7 a b r i l 2 0 1 4 _ 10:33 28 abril 2014 _ 20:20 3 0 a b r i l 2 0 1 4 _ 18:49 0 1 m a i o 2 0 1 4 _ 16:15 02 maio 2014 _ 15:18 0 3 m a i o 2 0 1 4 _ 13:16 0 4 m a i o 2 0 1 4 _ 13:16 05 maio 2014 _ 01:02 0 6 m a i o 2 0 1 4 _ 01:56 0 7 m a i o 2 0 1 4 _ 05:46 08 maio 2014 _ 07:46 09 maio 2014 _ 04:26 10 maio 2014 _ 12:44 1 1 m a i o 2 0 1 4 _ 10:38 1 2 m a i o 2 0 1 4 _ 10:27 13 maio 2014 _ 10:57 1 4 m a i o 2 0 1 4 _ 10:00 15 maio 2014 _ 09:32 1 6 m a i o 2 0 1 4 _ 09:01 17 maio 2014 _ 21:20 18 maio 2014 _ 21:15 1 9 m a i o 2 0 1 4 _ 15:57 2 0 m a i o 2 0 1 4 _ 22:30 2 1 m a i o 2 0 1 4 _ 23:58 2 2 m a i o 2 0 1 4 _ 11:24 23 maio 2014 _ 19:21 2 4 m a i o 2 0 1 4 _ 05:08 25 maio 2014 _ 07:40 26 maio 2014 _ 17:00 2 7 m a i o 2 0 1 4 _ 00:17 2 8 m a i o 2 0 1 4 _ 00:38 2 9 m a i o 2 0 1 4 _ 06:50 3 0 m a i o 2 0 1 4 _ 11:13 31 maio 2014 _ 14:57 01 junho 2014 _ 08:15 0 2 j u n h o 2 0 1 4 _ 14:50 0 3 j u n h o 2 0 1 4 _ 15:39 04 junho 2014 _ 12:26 0 5 j u n h o 2 0 1 4 _ 10:10 06 junho 2014 _ 04:47 07 junho 2014 _ 02:02 0 8 j u n h o 2 0 1 4 _ 12:02 0 9 j u n h o 2 0 1 4 _ 09:43 10 junho 2014 _ 16:20 11 junho 2014 _ 23:40 12 junho 2014 _ 23:20 1 3 j u n h o 2 0 1 4 _ 21:06 14 junho 2014 _ 20:33 1 5 j u n h o 2 0 1 4 _ 18:05 16 junho 2014 _ 17:50 1 7 j u n h o 2 0 1 4 _ 12:44 18 junho 2014 _ 20:11 1 9 j u n h o 2 0 1 4 _ 11:30 2 0 j u n h o 2 0 1 4 _ 22:42 2 1 j u n h o 2 0 1 4 _ 22:00 22 junho 2014 _ 07:16 23 junho 2014 _ 16:33 2 4 j u n h o 2 0 1 4 _ 11:33 25 junho 2014 _ 23:40 2 6 j u n h o 2 0 1 4 _ 23:40 27 junho 2014 _ 22:03 2 8 j u n h o 2 0 1 4 _ 12:13 29 junho 2014 _ 17:19 3 0 j u n h o 2 0 1 4 _ 20:07 0 1 j u l h o 2 0 1 4 _ 21:08 0 2 j u l h o 2 0 1 4 _ 23:57 03 julho 2014 _ 08:34 0 4 j u l h o 2 0 1 4 _ 07:27 0 5 j u l h o 2 0 1 4 _ 01:59

Dia 19 de Abril Vasco Ribeiro e Zé Ferreira encontravam-se novamente num heat man-on-man, desta vez era a final da segunda etapa da Liga MOCHE, o Allianz Ericeira Pro, realizado em Ribeira d’Ilhas. Depois de três dias intensos de competição foi Vasco Ribeiro que venceu, com uma nota 10 e uma de 9,25, enquanto que o seu adversário também ficou a contar com duas notas excelentes. Na categoria feminina foi Carina Duarte quem venceu, seguida de Teresa Bonvalot, Camila Kemp e Ana Sarmento. | photo by by carlospintophoto.com Foi a 26 de Abril que o surfista Pedro Boonman se estreou como organizador de eventos, criando o “Boonman Air Show”. Muitos dos melhores surfistas nacionais apareceram em Carcavelos para disputar esta prova que oferecia um valor monetário por cada aéreo acertado. A final foi vencida por Frederico Morais, seguido de Filipe Jervis, Vasco Ribeiro e Francisco Alves. | photo by Jorge Matreno Dia 8 de Maio, depois de bater Adriano de Souza e Sebastian Zietz uns dias mais cedo, no primeiro round, Tiago Pires tinha pela frente Joel Parkinson no seu heat do round 3 do Billabong Rio Pro, quarta etapa do WCT de 2014. Saca foi muito selectivo mas a estratégia acabou por não compensar pois o seu adversário acabou por vencer. Mesmo assim Pires saiu do Brasil com um 13º lugar e valiosos pontos. | photo by Moriogo/ASP Dia 11 de Maio Frederico Morais e Vasco Ribeiro encontravamse mais uma vez, pelo segundo ano consecutivo, na final da etapa da Liga MOCHE do Porto. Mas desta vez foi Vasco Ribeiro quem levou a melhor, e venceu o Sumol Porto Pro, na Praia Internacional. Na final feminina Ana Sarmento parecia estar a caminho da vitória mas foi-lhe atribuída uma interferência que a prejudicou no resultado final. Contas feitas foi Teresa Bonvalot que venceu, seguida de Sarmento, Camila Kemp e Yolanda Sequeira. | photo by Tó Mané Dia 6 de Junho a Liga MOCHE foi para o Algarve, para o Allianz Algarve Pro, quarta etapa do circuito. Dois dias depois Francisco Alves e Nicolau Von Rupp disputaram a final tacoa-taco, tendo o surfista da Praia Grande ficado com a vitória por muito pouco. A final feminina foi mais uma vez uma disputa entre Carina Duarte e Teresa Bonvalot, sendo que a surfista da Ericeira foi a grande vencedora enquanto que Bonvalot ficou em 2º, Ana Sarmento em 3º e Constança Coutinho em 4º. No penúltimo dia do Fiji Pro, 11 de Junho, Tiago Pires tinha pela frente o australiano Taj Burrow, no round 3. Apesar de ter mostrado muito bom surf no round anterior, em que derrotou o favorito à vitória final, CJ Hobgood, Saca acabou por perder para Burrow, terminando mais uma vez em 13º lugar. | photo by ASP O Quiksilver Saquarema Prime, realizado entre 20 e 25 de Maio, foi a primeira etapa com essa graduação de 2014 e quatro competidores portugueses estavam presentes. Nicolau Von Rupp foi o único que passou do round 2 e acabou por avançar até ao round 5, garantindo um valioso 9º lugar na etapa. Dia 21 de Junho perdia o último português em prova no Los Cabos Open of Surf, um WQS de 6 estrelas realizado no México. Entre os quatro portugueses em prova Frederico Morais foi quem avançou mais, tendo perdido apenas no round 4 e assim terminado em 17º lugar. No mesmo dia realizava-se a primeira etapa do Pro Junior Nacional em Espinho. Miguel Blanco foi o grande vencedor, seguido de João Kopke, Tomás Fernandes e Miguel Madeira. A final feminina teve as surfistas que também dominam as finais das etapas femininas da Liga MOCHE e Teresa Bonvalot foi a grande vencedora, seguida de Carina Duarte, Constança Coutinho e Camila Kemp. | photo by Pedro Ferreira Uma semana depois Teresa Bonvalot subia novamente ao podium em Espinho, ao ter ficado em segundo lugar no Pro Junior Europeu “Espinho Surf Destination”. A vencedora da categoria feminina foi a francesa Tessa Thyssen enquanto que Vasco Ribeiro simplesmente dominou, e venceu, a categoria masculina desta etapa de duas estrelas. | photo by Masurel/ASP

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texto by Ricardo Vieira [ ricardovieira30@gmail.com ]

_ Conheci o Bernardo por intermédio de um amigo comum. Comum também o facto de serem os dois “homens do norte”, Chico Malafaia e Bernardo Corrêa, gente boa, sem rodeios. _ Gostei dele de imediato; afável, simpático, sem mangas com truques escondidos. Olhos nos olhos quando fala com alguém. Houve empatia. Presumo que da parte dele também, comprou-me umas quantas linhas de escritos em forma de livro; e o dinheiro que não chegava – sou um autor carote :) - não o encabulou, nem lhe mexeu no circadiano; achou-se multibanco e logo de imediato o dinheiro da contracapa pingou na minha mão.. Nesse mesmo dia transitou para o meu pequeno lote de amigos; passámos a conviver, a ir ao surf e aos campeonatos juntos e a dividir matinais um pouco por todo o lado. Depois das ondas continuávamos a partilhar tudo menos surf; falávamos da família de ambos, de problemas de saúde, das relações entre as pessoas, do impressionante e sempre crescente número de idiotas nacionais à solta nas ruas,

Será que as descrições de Bernardo “pintaram” um quadro a este pormenor? Indonésia.

de gajas, de ovnis, de gajas, de motas, de gajas, e de viagens. As viagens eram uma das suas paixões. Viajávamos os dois muito, ele de avião da TAP e eu de National Geographic da ZON, apesar de termos, ainda assim, estado juntos numa surftrip “move cool” em Cabo Verde. Depois disso, talvez fruto das milhas acumuladas na transportadora nacional, ele viajou para todos aqueles sítios com que a maioria dos surfistas apenas sonham e passou a relatar-me com pormenores sórdidos algumas dessas viagens e ondas encontradas; o drop é assim, depois fazes isto e aquilo, viras pra cá e pra lá, vem o tubo, enfias-te lá dentro, acontece isto e depois sais e etc, etc, etc o resto dos dias, o resto da vida, o resto dos mundos. E era precisamente nestes pormenores todos - às vezes relatados durante largos minutos quase em apneia - e numa paixão mista de contador de histórias e velho lobo do mar que o Bernardo era diferente dos outros. Os olhos brilhavam, o ritmo da oratória desenvencilhava-se como novelo de pontas encontradas, o vocabulário rico e variado empurrava água, personagens e cenários a todo o gás, e a humildade, sempre presente, escorava-se em fotografias reais do ocorrido, vários takes, de vários ângulos, diferentes perspectivas, quase sempre apresentando ondas de respeito – o Bernie apanha-as grandes - facto que lhe valeu mais umas fatias da minha admiração. Mas o testemunho mais marcante para mim teve lugar numa esplanada na marina de Oeiras,entre dois cafés rápidos, quando ele, inspirado, discorreu sobre uma viagem à Indonésia que acabara de fazer. Primeiro falou-me das ondas, dicas e truques para tourear a toda a arena e sobreviver àqueles bichos feitos de água. Segundos depois mostrava fotografias – cada uma mais impressionante que a anterior, ordenadas numa sequência impactante, sufocante; já não era o meu amigo que ali estava naquelas ondas infernais, era um louco destemido que eu desconhecia, não era aquele senhor de pullover e cabelo perfeito sentado ali ao meu lado na marina ao pôr do sol, lusco fusco de barcos e mastros recortados – e enquanto apresentava provas, falava num ritmo mágico, a roçar o alucinogénico patológico, as palavras certas, divinamente alinhadas, espadas certeiras. Nessa altura ele não parecia mais um surfista viajante, parecia o próprio criador a mostrar o avesso da obra, a contabilizar os nós cegos que seguram a existência de todos com linha forte... Falava da cultura e do povo que lá conheceu e, no meio de tanto, passou-me uma imagem única que ele não sabe que ainda guardo. Imprimiu-me para sempre um balinês de chapéu típico, num barquinho ao pôr do sol a atirar redes ao mar. A imagem pára na minha cabeça como no fim dos filmes. A rede fica suspensa no ar. Os tons dourados por detrás reforçam o quadriculado da rede e aquecem os contornos da vida. A vida de um simples balinês a procurar subsistência incerta de forma quase medieval e a de dois humanos modernos a milhares de quilómetros de distância, comovidos com a respiração do planeta.

_RV 20_



texto by Miguel Pedreira

_ Mais do que a prevenção, o que falta em Portugal é uma educação de mar! A falta de conhecimento do mar e da leitura dos sinais naturais das praias é, para mim, um dos principais motivos de sufoco e afogamento dos ditos “banhistas” durante a época balnear. Agora que se inicia o Verão na sua verdadeira acepção da palavra e que as praias se enchem legitimamente de gente à procura de uns dias de sol, calor e descanso, seria uma boa altura para implementar uma política de transmissão desses conhecimentos. Observação das linhas de maré, das correntes, dos agueiros, da forma como as ondas estão a rebentar e, no fundo, de como o mar se “comporta” num determinado dia pode ajudar a salvar vidas. Conhecimentos que para nós, surfistas (bem como para os pescadores), são empíricos, naturais e que suscitam reacções imediatas, para a maioria da população nem sequer existem. Ora, isto num país virado para o mar, com uma aposta forte no turismo de praia e com grande parte da população a viver perto da orla costeira, é no mínimo estranho. As praias têm regras de utilização, da mesma forma que há regras de condução nas estradas! Não fazer caso delas ou não conhecê-las é perigoso.

Recentemente, a cadeia de supermercados Lidl (imagine-se!) realizou uma iniciativa denominada Surf Salva, em parceria com o Instituto de Socorros a Náufragos e a Federação Portuguesa de Surf. O objectivo é dar formação a surfistas, de forma a que estes, pela natureza da prática do seu desporto, que os leva a praias não vigiadas com grande frequência, possam socorrer alguém em apuros com maiores conhecimentos das técnicas de salvamento. Ou mesmo ajudar os nadadores-salvadores nas praias vigiadas, como sempre fizeram, na realidade. Grande iniciativa, altamente inteligente e louvável! Mas agora lanço um novo desafio – a transmissão dos conhecimentos empíricos dos praticantes de desportos de ondas aos nadadores-salvadores, população portuguesa e turistas. Porque não há ninguém que melhor conheça as zonas de rebentação do que nós, surfistas. Faz parte da nossa actividade e está no nosso ADN. A forma como as ondas enrolam nas diversas fases das marés, que tipo de refluxo farão, como aproveitá-las para regressar a terra... enfim, toda uma série de conhecimentos com que crescemos e que muito ajudaria na prevenção de acidentes. Na realidade, sem educação não pode haver prevenção! Com a abertura criada pelo projecto Surf Salva, as entidades envolvidas podiam criar essa parceria e trocar conhecimentos, bem como passá-los de forma urgente a todos os utilizadores das praias portuguesas. Seguramente pouparia muitos sustos e até facilitaria o trabalho aos nadadores-salvadores, muitos deles já surfistas. Já agora, outra coisa que surfistas e pescadores poderiam fazer era dar umas dicas aos responsáveis pelo enchimento de areia das praias da Costa de Caparica, que o vão fazer em plena época balnear, durante as marés vivas de Agosto e de Sul para Norte... é que a deriva é de Norte para Sul... cheira-me que alguém vai levar com areia nos olhos durante esta “operação penso-rápido”!... logo, não insisto...

_MP

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O feedback dos surfistas para ajudar na Educação do Mar de qualquer país é sem dúvida crucial afinal quem passa mais tempo de “molho” que um surfista? |photo by carlospintophoto.com




*Os quentes sabores do VerĂŁo! **Deixa os bons momentos fluir!


C a r c a v e l o s | photo by Hugo Silva



Marlon Lipke, Cordoama | photo by João “Brek” Bracourt




Va s c o

R i b e i r o , C o s t a d a C a p a r i c a photo by carlospintophoto.com


the wait | Gonçalo “Ratinho” Lopes, Santo Amaro photo by carlospintophoto.com | photo by André Carvalho|Goma



p h o t o s

Blue... | Francisco Alves, Caparica b y c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m




p h o t o s

b y

Golden contrast c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m


C o x o s photo by carlospintophoto.com




T o m รก s F e r n a n d e s photo by carlospintophoto.com


Nuno “Stru” Figueiredo, Cagalhotos photo by João Pedro Rocha




F r e d e r i c o M o r a i s , S ĂŁ o J u l i ĂŁ o photos by carlospintophoto.com



A l e x

B o t e l h o , M a r r o c o s photo by Al Mackinnon


Zé Ferreira, Areais de Santa Bárbara, Açores photo by carlospintophoto.com



p h o t o

Tiago Pires, Cabo Verde b y P e d r o M e s t r e




N i c o l a u V o n R u p p , A l e n t e j o photo by carlospintophoto.com


Pedro Henrique, Carcavelos | photo by Jorge Matreno




Grey | photo by Sergio Villalba



*Robustez absoluta, camuflagem perfeita!


texto by O N F I R E p h o t o s b y c a r

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i n t o p h o t o . c [ (excepto quando assinalado ]

A primeira vez que Pedro Boonman apareceu numa revista de surf foi há pouco mais de 4 anos. Hoje é uma referência quando se fala em surf progressivo. Apesar de ainda não ter uma carreira competitiva a acompanhar o seu “hype” é, sem dúvida, um dos mais mediáticos surfistas no nosso país e promete não parar de “crescer”!

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Foi na Praia da Adraga que este surfista conseguiu recentemente a sua segunda capa na ONFIRE. Este foi mais um excelente “shot” captado na mesma sessão. photo by Jorge Matreno _ 62

O meu último nome é Correia mas optei por usar o meu nome do meio, Boonman, porque é um nome que fica no ouvido. É um nome diferente e é sempre bom representar as origens da minha mãe, que é holandesa. Tenho dupla nacionalidade e grande parte da minha família é de lá. Só comecei a surfar aos 13 anos, em Carcavelos, com o meu irmão mais velho e um amigo. Depois comprei uma prancha de esferovite, que tinha uma fibragem de plástico e uma rolha atrás. Durante um tempo estive indeciso entre me dedicar ao surf ou skate. Escolhi o surf e tive uma proposta para treinar na escola do Benfica com o Hugo Zagalo e o Nuno Sequeira. Tinha cinco treinos por semana, acesso ao ginásio no estádio do Benfica e treinávamos com os atletas de futebol. Ainda cheguei a competir nos Esperanças, até aos sub18. Nasci num ano tramado para a competição pois tinha o “Kikas” (Frederico Morais), Zé (Ferreira), Vasco (Ribeiro), Francisco Alves, que eram e ainda são os melhores. Só quando eles faltavam é que eu chegava um bocado mais longe, o meu melhor resultado foi um segundo lugar em Viana do Castelo. Quando tinha 18 anos entrei na equipa da Fox, que foi um grande ponto de viragem na minha carreira. Tive uma ajuda incrível do Aécio Flávio, que na altura era Country Manager da marca em Portugal. Ele, e os meus treinadores da altura, abriu-me as portas a outros patrocínios como a Monster Energy, Polen, e recentemente a VonZipper. A partir daí parece que apareceu uma “estrelinha” na minha carreira que dura até agora. Na altura que entrei para a Fox tinha chumbado e estava no 11º ano. Os meus pais gostavam do surf mas não como futura profissão. Só começaram acreditar que eu estava determinado com o surf quando viram que eu andava a faltar às aulas para ir surfar. Meti-me num grande sarilho até ao dia que me sentei com eles e disse que era mesmo isto que eu queria fazer. Eles estabeleceram uma regra, que era ter de acabar o 12º ano, entrar numa faculdade e congelar a matricula. Terminei o 12º na área de Ciência e Tecnologias com média de 16. Inicialmente queria ser professor de Educação Física mas acabei por entrar no ISCTE, em Engenharia Informática. Mas a minha carreira nunca vai ser ligada aos estudos, espero levar o surf mais longe e no final da carreira ficar a trabalhar com as marcas a que estiver ligado.




_ 65 Não é só de aéreos (e tubos) que este surfista vive, “power turn” na Caparica! photo by Jorge Matreno

O meu sonho era ser free surfer, mas é difícil em Portugal por isso tenho de começar a trabalhar a parte competitiva. Nunca me dei assim tão bem em competição mas tenho de admitir que competir no Capítulo Perfeito este ano despertou em mim uma certa vontade de entrar em campeonatos mais a sério. Nesse campeonato o mar estava difícil e perdi o primeiro heat. Mas na segunda bateria apanhei uma onda incrível e fiquei perto de ter uma nota 10. Foi uma das melhores sensações que já tive, a partir daí lembro-me sempre disso quando estou a competir, sei que uma onda pode mudar tudo.

Este ano vou fazer os WQS’s europeus e acredito que isso pode ajudar a quebrar um certo bloqueio que tenho em competição. No último WQS que entrei, em Pantin, fiz notas mais altas do que tenho quando estou a competir na Liga. Comecei agora a treinar com o Rodrigo Sousa e espero vir a fazer um bom trabalho com ele, visto que é um treinador que dá bastante incentivo aos atletas. Vamos treinar os aspectos que me faltam para dar aquela evolução a nível competitivo e não só.



Slob Reverse na Praia das Maçãs. photos by Ricardo Casal

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Identifico-me bastante com os eventos/concursos que têm acontecido em Portugal muito ligados ao free surf como o Capítulo Perfeito, Surf à noite, Jervis and Vagabonds e MOCHE Winter Waves. Não estava à espera de ganhar o Vagabonds, pois mal vi o quadro de heats sabia que ia ser difícil. Na fase dos tubos podia ter perdido mas acabei por arranjar uma onda para passar. Nas meias finais era o maior aéreo que contava e aí já tinha uma “cartada” boa para lançar. Acabei por calhar contra o Francisco (Alves) na final que sabia que ia ser muito disputada e acabei por levar a melhor, ainda por cima com uma onda surfada na “casa” dele, na Costa da Caparica. Para fazer o meu evento, o “Bonnman Air Show”, andei a pensar um bocado em formatos de competição. Queria fazer um evento diferente e acabei por agarrar no conceito do Cash for Tricks, da Nike, que já não se realiza há 4 anos. Queria fazer em Carcavelos e pagar por manobras que é o que eu faço melhor. Fiz também uma expression session para o público, para quem quisesse participar e foi assim que nasceu o “Boonman Air Show”. Quando o evento acabou foi a melhor sensação de sempre, as marcas adoraram, os surfistas gostaram e divertiram-se e consegui fazer tudo praticamente sozinho. Foi uma experiência totalmente nova, deu imenso trabalho, na semana dos preparativos tive de fazer várias directas, as últimas três noites foram de loucos, não consegui dormir. Só tive a ajuda da minha namorada e pouco mais. Tive sorte nas previsões que apanhei e tive uma excelente final, com grandes nomes. Mas acho que no global todos os atletas convidados para este evento deram-se bem e gostaram bastante de terem participado. Se para o ano há mais? Acho que vai depender de outros factores. Tem de ser muito melhor do que foi, é preciso estar sempre a evoluir. Sobretudo tem de haver mais incentivo financeiro da parte das marcas.

Como se não chegasse a altura a que está a voar, Boonman “graba” com a mão de trás para controlar a aterragem. photo by carlospintophoto.com _ 68



Quase todas as viagens que fiz foram todas repetidas. Fui duas vezes à Califórnia e duas vezes à Indonésia, Bali e Mentawai. Mas a viagem que acabou por ser a melhor foi a mais imprevista, Mundaka. Tudo “nasceu” de um telefonema do Eneko Acero, que é team manager da Fox, que me disse para ir directo para lá pois ia estar muito bom. Fui e nunca tinha visto uma onda assim, podes mandar uns cinco tubos por onda. Apanhamos aquilo épico e o João Kopke juntouse a nós. Foi a viagem que apanhei melhores ondas até agora. Curiosamente também fui lá duas vezes...

Além de ser surfista profissional, trabalho como jardineiro. O Sr. António, pai do saudoso Tomi (nota da redacção, Tomi foi um dos melhores surfistas dos anos 80 e início dos 90. Faleceu muito jovem num acidente de viação, um acontecimento que marcou uma geração), no Verão passado viu-me a dar aulas de surf numa escola e perguntou-me se não queria ganhar uns dinheiros. Ensinou-me a trabalhar em jardinagem e todos os dias faço algumas horas de trabalho no jardim dele. Ele deixa-me surfar quando o mar está bom e compensar quando não está, tem sido uma ajuda incrível. Assim dá para aqueles extras, viajar, competir na Liga, tudo o que precisar sem mexer muito no meu orçamento dos patrocínios. _PB AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: styling by Joana Barrios [ joanabarrios.com ] vestuário by Scotch & Soda [ scotch-soda.com ]

Se há outra faceta que se destaca no surf de Pedro Boonman, é o seu “à vontade” nos tubos. Carcavelos _ photo by André Carvalho/Goma _ 70





Apesar de ter muitas das melhores ondas do nosso país, a Ilha da Madeira saiu do roteiro de muitos viajantes portugueses, possivelmente devido a relatos sobre o deterioração de alguns dos melhores picos. Mas, apesar dessa dura realidade, este que já foi considerado o “Havai português” continua a ser um dos melhores destinos de surf da Europa. Ruben Gonzalez conhece bem a ilha e nesta viagem além de ter andado atrás das melhores ondas, partilhou parte da sua vasta experiência com alguns dos melhores “groms” locais. intro e lgendas by O N F I R E p h o t o s b y texto by R u b e

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Tudo começou em Viana do Castelo quando estava numa competição Europeia. Vejo um grupo de miúdos com muito graça, já todos atléticos, com pranchas debaixo do braço irem direitinhos para o mar juntamente com o seu professor, André Gato. Conversa puxa conversa, venho a saber que esta miudagem era toda Madeirense e que tinha estado no fim de semana anterior a fazer um Pro Junior. Ficaram radiantes por me verem ali, elogiando o meu surf e também os meus Training Camps. Claramente, logo decidi fazer um Training Camp na Madeira juntamente com aquele grupo, que tanto desejo tinha de aprender e surfar com surfistas diferentes na sua terra maravilhosa Madeirense.

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Saí de um continente chuvoso e frio para depois de 1h50 de viagem estar no paraíso. Esta é a descrição que tenho a fazer. Sol, 22 graus, mar azul e ondas de 2 metros perfeitas. Não queria acreditar! As boas vindas estavam dadas! André Gato, responsável pelo grupo de miúdos a quem eu ia dar

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Então lá fui eu para aquele lugar fantástico que já não visitava há 6 anos. Uma das razões foram todas as infra-estruturas que tinham sido feitas ao longo da orla costeira, ouvia-se dizer que as ondas já não eram a mesma coisa. Enfim... Errado! Realmente em certas alturas da maré - principalmente de maré cheia – certos spots não funcionam tão bem, mas isso até é um motivo para podermos descansar e recuperar energias.

Fra nc isc oO rne las

o Training Camp, recebeu-me muito bem, e pôs-me logo a par de todas as novidades Madeirenses. Aproveitei para ir dar uns mergulhos, conhecer melhor o Maktub Guest House onde ia ficar instalado e também dar uma vista de olhos nas redondezas para ver onde iria efectuar os treinos físicos, o yoga, dar a palestra sobre alimentação e spots para o surf. Vi também uma Madeira mais desenvolvida, sempre com muitos turistas, uma melhoria na qualidade das estradas e de fácil acessos para um lado e outro da ilha. Estando isto tudo delineado, o grupo de surfistas entre os 9 e 16 anos estavam reunidos. As condições eram perfeitas para os 3 dias que se seguiam e vontade de ir para a água não faltava. Já ao amanhecer do dia, ao abrir a porta do quarto, a vista era deslumbrante. Ponta pequena e Paul do Mar mais atrás a rebentarem com ondas simplesmente incríveis. Isto era a vista do nosso despertar durante estes dias. A ansiedade fazia-se sentir, porque não é fácil ver aquele cenário e não ir logo para o mar. Apenas quis começar por um treino físico, de activação muscularn para de seguida partimos para a Ponta Pequena surfar. destaque _ Ruben Gonzalez tem mais anos de surf na Madeira que muitos dos seus pupilos de vida. Curvas como esta compravam a sua cumplicidade com as ondas. tubo _ RG completamente à vontade nos tubos madeirenses. _77


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surf_ Belmiro Mendes, um dos locais, não perde um dia bom de surf e por isso não é de admirar que se tenha cruzado com Ruben Gonzalez todos os dias. Ca rlo ta Re

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Lourenço Faria




Ao chegar fiquei impressionado com as ondas, mas ainda mais com a atitude daqueles miúdos em que eles andavam sobre as rochas como se fosse areia. Ondas a baterem nas rochas, outras no outside a rebentarem de mar raso, outras tubulares em que fazia medo a qualquer surfista e estes meninos lá iam para dentro como nada se passasse. Só de ter visto este momento a minha admiração subiu como uma flecha. Como se não bastasse, pouco a pouco lá iam eles testando os seus limites, drop ali, rasgada acolá, pedra a ficar de fora mas parecia que não existia, lá iam por onda fora todos contentes até à finalização. Enfim! Isto só visto.

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Acabámos a surfada todos de barriga cheia, com vários momentos de adrenalina e de ondas boas em que alguns ultrapassaram os seus limites. Depois de conversarmos sobre o surf que fizemos, enquanto almoçávamos, víamos que a Ponta Pequena era o local para surfarmos à tarde. Caminhada longa pelas rochas, com uns 28 graus a baterem-nos no corpo. Mas nem isso nos fazia parar. As ondas que víamos ao longe e o glass que estava foi um instante chegar ao outside. Foi uma daquelas sessões que ficaram na memória, com o nosso Cameraman Luís do Go-s.tv e o Carlos “Luchi” Pinto a captarem altos momentos dentro e fora de água. Assim terminava este dia clássico de surf, de convívio e muita preparação para os dias seguintes. Que bem me estava a sentir. Não só pelas boas ondas como na companhia em que me encontrava. Estava num grupo de 9 surfistas fantásticos, de uma humildade impressionante e com uma vontade gigante de aprender. Absorviam tudo o que se falava e sempre prontos para fazer mais perguntas sobre o surf. Mais um dia se avizinhava com ida directa para o lado Norte. O surf já estava diferente. Mar mais puxado e com vento, mas os nossos surfistas não se acanharam. Já se notava algo de diferente. Carlota Reis, Lourenço Faria, Tomás Lacerda foram para mim aqueles que mais me encheram o olho. Já com uma linha de surf bonita, a mandarem uns carves e alguma consistência, foram eles os atletas da surfada. Porém, os outros como o Chico Basílio e Francisco Ornelas apanhavam as melhores do dia em que não desperdiçavam uma parede para rasgar. Surpreendido também com os mais principiantes como o Nuno Faria, Gonçalo Gomes e Bernardo Correia, que não se acanhavam nas difíceis condições que estavam.

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Realmente fiquei surpreendido. Só com dois dias de Training Camp e com três surfadas em Machico, estes meninos apenas destruíam aquela ondinha – esquerda de meio metro perfeita até a pedra – que não deixavam passar uma secção sem arriscar uma manobra. Essa era o trabalho ali a fazer. Arriscarem. Não interessava se caíssem ou não, pois estávamos ali para isso mesmo. A errar é que se aprende e foi o que aconteceu. O surf de cada um a crescer cada vez mais e neste último dia deu para ver a evolução de cada um. Para mim foi um prazer enorme estar e surfar com eles todos. Foi bom ter voltado à Madeira e ainda para mais ter passado os três dias nesta excelente companhia cheia de boa energia. Um enorme agradecimento ao pessoal do Maktub Guest House e ao Bar restaurante no Paul do Mar por nos terem proporcionado um excelente churrasco de fim de tarde. Também ao André Gato por toda a ajuda e ter me apresentado a este grupo de miúdos cheios de valores. RG surf_ Tomás Fernandes é “prata da casa Billabong” e não deixou de partilhar com os “groms” o melhor surf do continente. 82_




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