bimestral _ pvp cont 3€ [iva 6% inc]
nº69 _ ano XI _ www.onfiresurfmag.com _ Junho|Julho14 _
Proged SA: infoproged@proged.com
*”Nenhum boardshort seca mais rápido. Hydrofreak apresenta O’Neill Hyperdry nano tecnologia que repele mais água, o que significa que secam completamente em menos de 300 segundos. Peso mínimo, conforto máximo. Máxima performance.
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# c ov e r s to r y Alex Botelho é um daqueles surfistas que, como todos nós, adora viajar. A grande diferença é que o surfista do Algarve faz tudo por tudo para passar a maior parte do seu ano “na estrada”. Indonésia é um dos destinos onde faz questão de ir todos os anos, e apesar de parar nos sítios mais turísticos, Botelho gosta mesmo é de ir para as ilhas menos conhecidas. A foto que faz capa desta edição da ONFIRE, a sua primeira, saiu da sua mais recente surf trip às perfeitas ilhas orientais e mostra a vertente do surf de Alex que muitos não acreditavam que este “gigante” fosse capaz de dominar, o surf áereo. Isto porque a sua fisionomia é típica de um power surfer - que ele é - e de um big wave rider - que ele é - mas Alex conseguiu também encontrar a técnica e o equilíbrio entre o seu corpo e o surf acima do lip, e é por isso mesmo que o algarvio é hoje um dos mais completos e melhores surfistas portugueses! E já era mais do que tempo de o homenagearmos com a mais importante página de qualquer revista de surf, aquela que ficará para sempre na sua memória e no seu curriculum vitae, a capa!! photo by Jean da Silva
# s u r f t r i p Uma das melhores esquerdas do mundo rebenta a pouco mais de 9 horas de carro de Portugal mas por alguma razão não é um dos destinos que os portugueses mais procuram. Também nós, ONFIRE, estranha e estupidamente nunca publicámos uma surfrip nacional a esta esquerda de sonho mas nesta edição conseguimos preencher essa grave lacuna! Os protagonistas são João Kopke e Pedro Boonman, dois goofies que já viajaram pelo mundo inteiro mas que se renderam à perfeição de Mundaka na sua viagem de estreia a este spot. Uma aventura que vais conhecer mais à frente! photo by Seth de Roullet
CRÉDITOSONFIRESURF69 The Freakin’ Director Nuno Bandeira The Psycho Editor António Nielsen Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira Arte & Design Marc Vaz [ brivaglobal.com ] Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané Escribas colaboradores João Rei . Marcos Anastácio . Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira . Zaca Soveral Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares Revista bimestral #69 Registo no ERC nº 124147 Depósito legal nº 190067/03 Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com Interdita a reprodução de textos e imagens.
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Como sabes, João de Macedo e Alex Botelho foram os vencedores do MOCHE Winter Waves, o inédito concurso online de vídeo em Portugal que procurou encontrar os surfistas que surfaram a Maior Onda assim como a Melhor Onda. Este é um Spotlight duplo e que “aquece” exactamente os vencedores deste concurso, e onde ambos nos falam da onda que acabaria por lhe dar a vitória e os deixar com mais 1.500 euros no bolso! photo by carlospintophoto.com
# s u r f t r i p Para o editor de uma revista ganhar o euro milhões é receber um convite para ir a uma das melhores ondas do mundo passar uns dias com os melhores do mundo, e surfá-la. Saiu-nos esse euro milhões mas como não somos gananciosos decidimos “oferecê-lo” na totalidade a Pedro Sousa, o surfista/ actor/colaborador da ONFIRE! Sousa foi para nada mais nada menos do que Jeffrey’s Bay e o relato que fez da sua viagem é sem dúvida um dos melhores e mais engraçados que já publicámos! E com isto Sousa habilita-se a que lhe saía o euro milhões mais vezes! photo by Pedro Sousa _09
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Sabes qual é o melhor sítio para procurares fotos de sonho para embelezares a tua sala ou quarto com um quadro magnífico, daqueles que todos invejarão? É mesmo esse que te está a passar pela cabeça e que como sabes é inteiramente nacional, o artigo #welovephotos da ONFIRE. Ok, não temos almôndegas saborosas mas conseguimos bater os preços do gigante sueco! photo by carlospintophoto.com
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Como poderão ler a partir da página 40, nesta edição um enviado especial da ONFIRE viajou até Jeffreys Bay. Seria de pensar que é algo que acontece regularmente nesta profissão, mas a realidade é outra. Em praticamente todas as edições da ONFIRE são publicadas surf trips, mas muitas são colaborações externas e quando não são o nosso representante no local, é por norma um fotógrafo. De tempos em tempos surgem excepções, como foi o caso desta viagem à África do Sul, onde já haveria três fotógrafos a trabalhar exclusivamente para captar imagens para as revistas que tinham sido convidadas. Curiosamente, em vez de haver uma batalha interna para decidir quem vai nestas viagens, a decisão é sempre fácil pois calha a quem tiver a pior desculpa para não ir. Desta vez encaixava em mim a terrível tarefa de acompanhar os melhores surfistas do mundo na (possivelmente) melhor direita do mundo pois meus colegas já estavam comprometidos, com viagens marcadas e outros compromissos também incontornáveis. Mas eu tinha a melhor desculpa de todas, uma criança em vias de chegar ao mundo a qualquer momento. Comecei a fazer contas de cabeça, semanas, luas, probabilidades e maturidades (do útero) faziam parte de uma equação onde nunca há uma resposta certa mas que muito possivelmente iria calhar mesmo em cima da viagem. Debati comigo mesmo se uma viagem destas valeria mais do que acompanhar o nascimento de um filho (ou neste caso, uma filha) e a resposta, para mim foi mais que óbvia, claro que não! Pus de lado as contas e a viagem e arranjámos um plano B, neste caso na pessoa do nosso amigo
e colaborador Pedro Sousa, que tínhamos a certeza que nos iria representar bem. Problema resolvido! Mas os dias passando, a viagem ia-se aproximando e a “criatura” continuava no “forno”. Até que o Pedro arranca e o pensamento passa pela minha cabeça que, se calhar, aquele “sacana” vinha e voltava de JBay e a criança ainda estava na barriga. Nunca iria arriscar, mas mesmo assim havia aqui uma pontinha de inveja da minha parte. Trocámos algumas mensagens por whatsapp pois é sempre bom estar em contacto nestas acasiões até que o Pedro me diz que estava no Cairo, a duas paragens de chegar ao seu destino. O alívio chegou quase no mesmo momento, mas do lado de cá do mundo, quando recebo um “apertão” da minha “cara metade”. Já desgastada de 9 luas de espera dizia-me que estava na hora. E esse foi o último momento em que me lembrei de Jeffreys Bay pois a melhor viagem da minha vida estava prestes a repetir-se! Espero voltar a ter a oportunidade de conhecer aquele país e aquela onda mas até lá, fico com a divertida descrição do nosso “enviado especial” (entre as páginas 40 e 45)! _António Nielsen
O que eras capaz de abdicar para ter esta vista? photo by Sacha Specker _11
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Nesta edição, entre outros artigos de fundo de grande valor, podes ver duas surftrips a duas das melhores ondas do mundo. Uma é um sonho para qualquer goofy e a outra para qualquer regular. “Lá vem a Indonésia outra vez!!!”, pensas! Não podias estar mais errado! A esquerda fica a 9h de carro, só rebenta no nosso Inverno (e não em todos os Invernos) e é a fuga perfeita quando o nosso país recebe as monstruosos tempestade de sul em que só está bom é dentro de casa! Já a direita é uma onda muito mais consistente que a primeira, funcionando praticamente todos os dias na época certa. Falamos de Mundaka e Jeffreys Bay, mais conhecida por JBay. É verdade que ambas já apareceram por diversas vezes ao longo destes mais de 10 anos na ONFIRE mas há uma outra verdade: nunca tínhamos publicado um artigo de surfistas portugueses que foram surfar a uma destas ondas. E se sempre nos perguntámos porque raio é que os surfistas portugueses não organizavam surftrips à esquerda de Mundaka (que sai bem mais barato que JBay), também caímos em nós e perguntámo-nos porque não fizemos esta viagem há mais tempo!?! Por um lado tenho aquela sensação de trabalho cumprido ao publicarmos esta viagem a Mundaka mas, por outro lado, tenho a sensação de que falhámos editorialmente ao não termos conseguido uma surftrip a este paraíso basco há mais tempo! Infelizmente o tempo não dá para tudo mas quando o Boonman e o Kopke decidiram arrancar para Mundaka o Inverno passado, nem hesitámos. Tinha chegado a hora de irmos a uma das melhores esquerdas do mundo e que está mesmo no “nosso” quintal! Água fria, correntes tremendas, chuva, apenas 2h de sol em 10 dias e... três e quatro tubos na mesma onda!!!
Provavelmente os regulares já pensam: “Então e JBay, queremos saber sobre Jbay!”. Bom, como já deves ter deduzido, tive oportunidade de ir a Mundaka e não a JBay mas a razão de não falar tanto de JBay aqui não é essa mas sim por esta surftrip não ter sido com portugueses. No entanto foi-nos feito o convite para presenciar essa onda durante o WCT e quem ganhou o cartão dourado foi o surfista/ actor Pedro Sousa! E ele concluiu o que todos sabíamos: JBay é uma das melhores direitas do mundo!!! Ah, e já mencionei que ele é goofy? Resumindo, nesta edição tens duas visões (e duas aventuras) muito distintas de surfistas portugueses que estiveram em duas das melhores ondas do mundo, e que temos a certeza que vais absorver com todos os teus sentidos!!! _Nuno Bandeira
Este é um dos rituais naturais de quem vai a Mundaka: sentar-se neste bancos enquanto espera a maré certa para ver as esquerdas tornarem-se cada vez mais rápidas mas altamente tubulares! photo by carlospintophoto.com
15 _ Como sabem as legendas da XPression têm sempre uma boa dose de humor pois é essa a linha que escolhemos desde o nosso dia 1 para esta rubrica, afinal, surf é diversão! Mas neste caso muito concreto de Vasco Ribeiro é impossível fugir à óbvia pergunta: “Como é possível que Ribeiro esteja sem patrocínio principal?”. Não sabemos a resposta a esta questão mas uma coisa temos a certeza, não sairão muitas mais edições da ONFIRE com fotos do Vasquinho sem autocolante no nose...
photo by carlospintophoto.com
Como provavelmente deves ter lido na site da ONFIRE, foram descobertas as primeiras ondas extraterrestres numa lua de Saturno. Para nós isso significa uma coisa, é a prova de que realmente há surfistas que não são deste mundo! Eduardo Fernandes é um exemplo perfeito, e o responsável por nos fazer pensar que Edu não é deste planeta é o seu abusado surf! _ 16
photo by Jorge Matreno
Esta foto de Nicolau Von Rupp no no Alentejo é um abuso mas para nós falta algo... Um pequeno pormenor felpudo e macio a emergir de uma determinada zona pontiaguda do surfista da praia Grande, a sua cabeça! Falamos do seu famoso carrapito de Samurai que neste dia parece ter-se soltado rapidamente durante o surf, o que não é de admirar com voos destes!
photo by carlospintophoto.com 19 _
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Dia 29 de Junho, Vasco Ribeiro mais uma vez mostrou o seu valor ao vencer a primeira etapa do Pro Junior Europeu, o Espinho Surf Destination. Ribeiro era o único surfista português presente nas meias-finais desta etapa duas estrelas e, mesmo em ondas pequenas, mostrou-se superior a todos aos outros finalistas (Natxo Gonzalez, Ethan Egiguren e Gaspard Larsonneur). Teresa Bonvalot ficou muito perto de conseguir uma “dobradinha” nacional, tendo sido superada apenas por Tessa Thyssen na final, mas terminando num excelente 2º lugar! | photo by ASP|Laurent Masurel
A 6 de Julho terminou o MR Price Pro Ballito, etapa Prime a contar para o ranking de qualificação para o WCT, realizada na África do Sul. Quatro portugueses participaram nesta etapa e Tiago Pires foi quem mais avançou, terminando em 3º lugar. Saca acabou por ser eliminado pelo surpreendente Timmy Reyes, que derrotou Matt Wilkinson na final. | photo by ASP|Laurent Masurel
O Surf Open Acapulco, WQS de 4 estrelas realizado no México, atraiu cinco surfistas portugueses à procura de pontos para ficarem mais perto do circuito de qualificação. A prova terminou a 12 de Julho, com apenas um surfista nacional em prova, Vasco Ribeiro, que acabou em 9º lugar. O vencedor foi o norte-americano Luke Davis.
Dia 20 de Julho, Tomás Fernandes chegou a Santa Cruz como terceiro classificado no ranking Pro Junior Nacional e saiu como campeão. O surfista da Ericeira teve de vencer a etapa para cobrir a distância para os dois primeiros do ranking, o que acabou por acontecer. Também Teresa Bonvalot garantiu o título feminino mas foi Camila Kemp quem venceu a etapa. | photo by ONFIRE
O Sopela Pro Junior, que terminou a 27 de Julho, não foi uma boa etapa para os competidores portugueses da categoria masculina. Já no feminino a “conversa” foi outra pois Teresa Bonvalot terminou em 3º lugar com Carina Duarte e Carol Fernandes em 5º. A vencedora foi Kim Veteau e na categoria masculina Timothee Bisso. | photo by ASP|Damien Poullenot
No Lacanau Pro Junior voltaram os bons resultados para os nossos melhores juniores. Vasco Ribeiro foi um dos destaques, nesta prova que terminou a 11 de Agosto, e acabou em 3º lugar, e Miguel Blanco em 7º, tendo Tom Cloarec vencido. Mesmo assim, Ribeiro aumentou a sua liderança, colocandose numa boa posição para garantir o título.
Logo de seguida começou o Sooruz Lacanau Pro, WQS de 5 estrelas. 14 surfistas portugueses estavam inscritos mas apenas dois “sobreviveram” até ao último dia de prova. Vasco Ribeiro foi eliminado no round de 16, tendo terminado em 13º lugar, e Marlon Lipke avançou até aos quartos de final man-on-man onde perdeu, mas garantiu um 5º lugar. O grande vencedor foi Tanner Gudauskas, que derrotou o jovem Leonardo Fioravanti na final! | photo by ASP|Laurent Masurel
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*Um documentário by Jamie Henrich. Atrás das cenas da Volcom. Faz download do Blu-ray e do código em “True to this”. Disponível no itunes em 26 de Agosto de 2014. Para mais detalhes vai a volcom.com/truetothis
O Joãozinho era um rapaz esperto, ansioso por conhecer, por aprender, por respirar a vida que lhe vinha ao encontro. Começou a fazer surf no fundo da praia, numa zona onde quase não havia ondas, numa zona para onde era empurrado por um bando de idiotas do qual, infelizmente, eu também fazia parte. Numa época de grande calma, a previsão do crowd já acirrava ânimos e provocava atitudes menos simpáticas por parte dos “resistentes” que ali se banhavam há mais tempo. Mas o Joãozinho, com a persistência e a humildade que teimava em misturar ao talento que já possuía, não teve dificuldade em começar a ganhar espaço na praia e no meu círculo de amigos.
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texto by Ricardo Vieira ricardovieira30@gmail.com]
gravilha plantada pelos fracos, numa clara e preciosa ajuda à derrapagem. E o Joãozinho não o conseguiu evitar; sofreu um “acidente” e saiu da estrada. Perdeu-se em caminhos de “fumo” e não deixou que o ajudassem. Ninguém mais soube dele, mas nunca conseguimos expulsá-lo devidamente dos nossos pensamentos. Guardámos as honras e respeitos para celebração em data ausente. E não deixa de ser curioso como a princípio não o quisemos aceitar e como depois nos custou passar sem a sua companhia. Sem outro desânimo, a vida correu à nossa frente e, trinta anos depois, ainda todos fazemos pelo reumatismo, ainda nos empenhamos inocentemente pela falta de saúde que nos há-de chegar, paga em suaves prestações. Em todas as surfadas, o chequezinho do “enfermo” que nos há-de garantir a onda eterna. Ontem fui surfar numa praia ainda pouco procurada, a uma hora da Arrifana. Fui o
Em pouco tempo era um dos melhores dentro de água; com um baixo centro de gravidade, tinha um trimming perfeito, uma linha que todos tentavam copiar – mal, diga-se de passagem – e “lia” o mar como ninguém. Parecia filho. Passou de escorraçado a eleito,
em unanimidade de votação. De vale-nada a mais-que-tudo. Os idiotas perdiam terreno, felizmente. A imagem dele que mais me marcou, e que guardo até hoje, foi a de um tubo perfeito num dia de mar azul-cinza, reflexo de um tempo de obscurecida vontade. A onda, lisa, grande, larga, e perfeita, abrindo a boca ruidosamente expulsou um corredor de vagas vestido no mais perfeito estilo Tom Curren, que logo tratou de puxar, elegantemente, a prancha para fora da “besta”, para o lado de trás, sentandose depois na prancha e soltando um suspiro quase imperceptível. A “fera” fôra domada. O mestre, ali sentado na prancha, descansava agora à espera da próxima e os alunos olhavam, quietos, e em frio de ponta que lhes espigava o sentir. Mas o caminho dos “iluminados” vem quase sempre montado de curvas e contra-curvas, banhado em óleo pingado por invejosos e
segundo a molhar os pés. Na remada, a caminho do mar de fora, vi uma imensa onda a abrir a bocarra de fome e a cuspir um surfista a grande velocidade. Com a mais perfeita pose de campeão, ele comandou a prancha para fora da parede líquida, abandonando-a. Sentou-se na prancha e descansou com um terno sorriso de criança pendurado nos lábios, apesar das rugas na cara que já se fazem sentir. Os olhos brilhavam, a fazer a vez das estrelas. Reconheci o vulto e ouvi um suspiro. Só que desta vez o suspiro saiu de mim... A vantagem de chorar dentro de água é que a dança das lágrimas se confunde com os salpicos do mar e ninguém repara. O Joãozinho está de volta e, por segundos, faz-me acreditar que o tempo recua... _RV _ 22
Ruben Gonzalez olha para mais uma fera, uma que passou sem a domar com uma mestria que provavelmente se assemelhava à do Mestre Joãozinho... photo by carlospintophoto.com
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Recentemente perdi um amigo. Ou melhor, um irmão da partilha de ondas há mais de 30 anos. O Rui, surfista português que perdeu a vida na Indonésia, era meu amigo de juventude e fazia parte do meu grupo de amigos do surf de sempre, na cidade onde cresci. texto by Miguel Pedreira
_ Um verdadeiro atleta, professor de educação física, judoca representante de Portugal na selecção nacional, o Rui era um apaixonado pela Indonésia, onde voltava sempre que podia, apesar de ter viajado um pouco por todo o mundo. Esta era a décima quinta vez que lá ia. Um homem exemplar, atlético, sempre em forma, amigo dos seus amigos e sempre a desafiá-los para uma viagem ao paraíso do surf. Estava na Indo há mais de um mês, a surfar ondas remotas e maravilhosas, embora adequadas ao seu nível de surf, quando o acidente se deu. Tudo aconteceu em Lakey Peak, na ilha de Sumbawa, no que era suposto ser o seu último dia ali, antes do regresso a Bali. No dia anterior, ele e outro grande amigo, do mesmo grupo, tinham surfado ondas de 3 metros, perfeitas, durante todo o dia. Naquele dia estava 1.5m e o Rui queria despedir-se com mais uma surfada épica. O amigo, dorido do dia anterior e sem a forma física do Rui, optou por ficar a fotografá-lo. Ninguém sabe ao certo o que causou o seu desmaio e consequente afogamento... segundo o outro amigo, “o Rui estava no local errado, à hora errada”. O que se sabe é que entrou um “set vassoura”, que varreu todos os surfistas que estavam no pico, e que a seguir o Rui estava a boiar, inanimado. Pode ter levado com uma prancha, com onda directamente em cima... pode pura e simplesmente ter desmaiado com o impacto... ninguém sabe! A verdade é que foi imediatamente socorrido por outro surfista, que o puxou para a zona de águas paradas, onde foi reanimado e onde voltou a ter pulsação e respiração ao fim de 40 minutos de tentativa. Levado para terra, o pesadelo começou aí!... Nos casos de afogamento, o essencial é que as vítimas sejam imediatamente levadas para um hospital, que lhes seja retirada a água dos pulmões, de forma a que estes voltem a cumprir a sua função. Ora... o Rui esteve 30 horas até ser transferido para um hospital digno desse nome, em Bali, onde acabou por falecer, dias depois. E é aqui, nestas 30 horas, que reside o problema! Como homem meticuloso e experiente que era, o Rui contratou um seguro de acidentes pessoais em viagem, com cobertura máxima, especificando os locais para onde ia e o que ia fazer. Não funcionou! Todos sabemos que a ilha de Sumbawa é “atrás do sol posto”, que as condições de higiene e saúde não são as que estamos habituados no mundo ocidental... mas 30 horas para evacuação?... até de barco seria mais rápido! O “hospital” onde o Rui foi parar, em Sumbawa, nem “centro de saúde” devia chamar-se, tal a falta de tudo! Quando os amigos que com ele estavam conseguiram finalmente ter a imensa burocracia tratada, apesar das inúmeras tentativas de corrupção adjacentes, o helicóptero que o iria transferir não levantou... eram 16h e o tráfego aéreo nocturno é proibido ali!... anoitece às 17h... Ou seja, o meu amigo Rui teve um acidente, que podia ter acontecido em qualquer lado do mundo, em qualquer circunstância. Mas o que lhe tirou a vida não foi esse acidente. Foram alguns dos maiores problemas deste mundo: incompetência, corrupção, inércia... Foi a total e completa falta de operacionalidade das estruturas daquele país, da seguradora que contratou e do consulado português em Bali. Não duvido das boas intenções destes dois últimos, mas a realidade é que não chegou! 30 horas para ser transferido de Sumbawa a Bali foram demais, como é óbvio! Como me disse uma vez um professor, “se seres bom não chega, tens de ser melhor!” Era o que fazia o Rui! Era excelente naquilo que fazia!
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Bem sei que sou suspeito para falar neste assunto... estou a escrever com o coração partido e em causa própria, mas este é um artigo de opinião, não uma notícia. E a minha opinião é que a Indonésia não é um país seguro. Um país onde as estruturas mais básicas, de suporte de vida, não funcionam, onde o respeito pela vida humana tem um preço, não merece a quantidade de turismo de surf que recebe! São milhares (talvez mesmo milhões!), os turistas que aquele país recebe anualmente especificamente para fazer surf em algumas das melhores ondas do mundo. Mas há outras, noutros países... não cuidar daqueles que nos garantem a subsistência, é no mínimo estúpido. Sim, porque todas aquelas ilhas para onde vão os surfistas à procura de ondas, vivem deste turismo. Ter estruturas de saúde capazes e meios de evacuação prontos a actuar 24h/ dia em lugares como Sumbawa, Lombok ou Mentawaii é no mínimo sensato. Tinha planeada uma viagem à Indonésia este ano. Já não vou. Reservo-me a esse direito e apelo a todos os que lerem este artigo que pensem bem antes de ir. Não quero com isto boicotar o turismo de surf na Indonésia – nem tenho essa capacidade, apenas alertar todos os que pensarem lá ir, que o “paraíso” tem outro lado... e bem negro! Já não vou voltar a partilhar ondas com o meu amigo Rui... de alguma forma consolame saber que partiu a fazer o que mais gosta e no local do mundo que mais ama para isso. No entanto, começo a perceber o porquê da ASP ter deixado de fazer campeonatos com os seus melhores, num dos locais do mundo com melhores ondas para esses grandes eventos. Até sempre amigo... e continuação de boas ondas! _MP
Num local como a Indonésia o sonho e o pesadelo andam de mãos dadas e uma pequena distracção pode ser fatal! photo by Hugo Valente 24_
A etapa Açoriana do circuito Qualification Series da ASP faz parte do calendário do circuito mundial desde 2009 e é considerada uma das “pérolas” da “perna europeia”. A pontuação desta importante prova tem alternado entre 6 estrelas e Prime mas além de ser importante a nível de pontos, é uma etapa em que os competidores marcam presença tanto pela qualidade das ondas como pelo ambiente que os rodeia. Cerca de 15, entre os 32 dos melhores surfistas do mundo que fazem parte da elite do surf mundial, o World Championship Tour, muitos deles sem grandes necessidades de pontos a esta altura do ano, marcarão presença no Sata Azores Pro de 2014. Entre eles está o português Tiago Pires que, ano após ano, faz nesta prova uma das suas raras passagens pelo circuito de qualificação. Em 2009, Saca terminou em 3º lugar e esse foi o seu melhor resultado “nas ilhas” até à data, mas tudo indica que poderá eventualmente vencer esta prova. Ainda na “equipa” portuguesa estarão presentes Nicolau Von Rupp, Frederico Morais e Marlon Lipke, pré-classificados por ranking. Vasco Ribeiro também tem a presença garantida, via wildcard da ASP Europa, e ainda Zé Ferreira, convidado pela organização. Além deles mais um surfista português estará presente por via de triagens, realizadas entre os residentes da ilha, entre os quais Jácome Correia é o claro favorito para fazer parte dos 96 competidores com acesso à prova.
O S a t a Az o r e s P r o 2 a 7 de Setembro
São Miguel | A ç o r e s
A praia de Santa Bárbara, também conhecida por Areais de Santa Bárbara, é actualmente a mais conhecida de São Miguel para a prática do surf e tem sido a escolha da organização para “palco” do evento nos últimos anos. A prova de 2011 foi indiscutivelmente não só a que teve melhores ondas nas provas europeias como foi considerada uma das melhores do ano entre todo o circuito de qualificação. Esta etapa Prime recebeu todo o tipo de condições, ondas grandes e pequenas, perfeitas para fazer grandes manobras e grandes tubos. O ex-campeão do mundo CJ Hobgood, conseguiu a vitória nesse ano,
sendo assim “catapultado” de volta ao WCT, onde se encontra até à actualidade. Os outros vencedores foram o brasileiro Willian Cardoso em 2009, Laura Enever em 2010, ano em que apenas a prova feminina chegou ao fim por falta de ondas, Messias Félix em 2012, e Tomas Hermes em 2013. Em 2014 está tudo em aberto para que um ou mais surfistas façam no Sata Azores Pro um resultado importante na “escalada” à elite do surf mundial, onde todos os anos um campeão mundial é definido. E tudo poderá ter começado na “pérola” Açoriana! _ OF
t e x t o b y O N FIRE _ Tiago Pires é sempre a grande esperança lusa na etapa Açoriana. photo by Aquashot|Aspeurope.com
G-Shock
_ p h o to s b y c a r l o s p i n to p h o to . c o m
30 anos de ligação ao surf
Foi em 1983 que a conhecida marca CASIO desenvolveu o relógio G-Shock, e não demorou muito tempo até ser a marca mais usada por surfistas um pouco por todo o mundo.
Nicolau Von Rupp não perde um bom swell nem uma boa maré e agora sabemos porquê...
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Numa época (anos 80) em que o relógio era visto como uma peça delicada de “joalheria”, que precisava de ser tratada com muito cuidado, a CASIO colocou aos seus engenheiros o desafio de quebrar essa barreira e criar o produto mais resistente do mercado. Assim nasceu o G-Shock, que oferecia um relógio resistente a quase qualquer tipo de impacto, mantendo-se sempre em funcionamento. Por ser também à prova de água, era a “receita” certa para a comunidade surfistica, que até aí tinha encontrado dificuldades em encontrar um relógio que se acomodasse às condições
extremas que encontra dentro de água. Muito rapidamente passou a ser encontrado também nos pulsos de muitos dos melhores surfistas do mundo, sendo usado tanto no dia a dia como em competição. Mas esta marca japonesa não quis que sua relação com este grupo tão específico ficasse por aí, tendo
“cimentado” esta ligação ao longo dos anos tanto a nível institucional como a nível técnico. Em 1998 a G-Shock patrocinou a primeira “jóia” da conhecida Triple Crown of Surfing, um conjunto de três eventos realizados no Havai cuja credibilidade de quem vence é segunda apenas para o vencedor do circuito mundial (campeão do mundo). O G-Shock Hawaiian Pro realizou-se em Haleiwa, Havai, e além de ser uma prova 6 estrelas do circuito WQS, foi também a etapa que dava acesso a um prémio único, um milhão de dólares a quem vencesse as três provas. O havaiano Kaipo Jaquias foi o vencedor da etapa, colocando-se automaticamente como o único surfista do mundo com potencial de ganhar esse que seria o maior prize money oferecido até hoje. Mas até à data nunca um surfista venceu as três provas, e o sonho de Kaipo acabou logo na segunda fase da prova seguinte. ....................................................... Nicolau Von Rupp getting ready! photo by carlospintophoto.com
O brasileiro Filipe Toledo foi o vencedor do US Open of Surfing, uma etapa que conta com o patrocínio G-Shock. photo by ASP ..............................................................................
O patrocínio desta etapa continuou por mais alguns anos e teve como vencedores figuras de topo como Conan Hayes, Sunny Garcia e Andy Irons. Mas a primeira vez que esta marca tinha surgido como patrocinadora de uma importante prova do circuito mundial foi ainda mais cedo, em 1989, quando patrocinou o (G-Shock) US Open of Surfing, mais uma etapa do circuito mundial cheia de tradição, repetindo-o várias vezes ao longo dos anos. Em 2014, ano em que o (Vans) US Open foi vencido pelo incrível surfista brasileiro Filipe Toledo, a G-Shock manteve uma forte presença como um dos patrocinadores do evento, tal como já tinha feito no passado com a Triple Crown of Surfing. Mas não foi só em eventos que a marca teve uma forte presença. Em 1995 a G-Shock lançou uma edição limitada em associação com a Surfrider Foundation, e também a Triple Crown teve direito a um relógio de assinatura, o X-Treme G-Lide, com características de resistência acrescidas para lidar com as pesadas ondas do North Shore. Em 1999 surgiu um novo X-Treme G-Lide que, com mais funções, juntava o indicador de marés, algo que se tornaria obrigatório em todos os relógios para surfistas. Todos esses modelos de edição limitada são agora valiosas peças de colecção. A ligação desta marca com o surf estende-se até ao campo dos patrocinados, contando com vários team riders de topo entre os quais se incluem o australiano Yadin Nicol, o japonês Teppei Tajima, o havaiano Joel Centeio e o português Nicolau Von Rupp. Von Rupp é considerado neste momento como um dos mais mediáticos surfistas do mundo, e certamente uma figura de topo na Europa. Nic não dispensa um GLX150B-3 da gama G-Lide, relógio esse que nunca tira do pulso, seja a surfar num dia pequeno e high performance na Praia Grande, de onde é natural, ou um slab na Irlanda ao lado dos melhores surfistas do mundo. É mesmo a gama G-Lide que tem feito grande sucesso entre os surfistas sendo actualizada todos os anos, sempre com funções ainda mais adequadas às necessidades deste. Em 2014 foi lançando o GLX5600, que aumenta a resistência à água até à profundidade de 200 metros, além da tecnologia resistente a choques e ainda 3 alarmes multi-função e função de repetição com alerta de flash. Outras funções são o temporizador de contagem regressiva, 1/100 segundos, cronômetro e hora mundial de 29 fusos horários. Todas as funções do GLX5600 são complementadas pela maré e lua, com gráficos e dados da fase da lua, que ancora a face do relógio, permitindo uma visualização precisa de maré e ondulação, indispensável a qualquer surfista! _OF 30_
intro e lgendas by O N F I R E photo intro by T o b i a s I l s a n k e r texto by J o ã o K o p k e
No Verão temos sempre saudades do Inverno, e foi por isso que guardámos esta aventura de João Kopke e Pedro Boonman numa das melhores esquerdas do mundo, Mundaka, País Basco, para esta edição. Essa roadtrip coincidiu com o famoso Hércules, mas houve muitos mais demónios” a vencer do que os gigantes aquáticos!...
O Natal passou. Está muita gente em casa, em família e vem aí a maior festa do ano. Todos, incluindo eu, estão a fazer planos para o fim de ano, e nós, surfistas profissionais, temos esta pequena janela para deixarmos de ser atletas e aproveitarmos as noites frias de Inverno fora dos lençóis. Mas vem aí uma festa diferente... Dois meses antes, outro surfista profissional, o Pedro Boonman, tinha-me falado de uma possível investida a Mundaka. Quem é surfista, e mais ainda quem é goofy como nós, não precisa de ser apresentado a Mundaka, e o Inverno passado viu o Instagram e o Facebook serem violentamente bombardeados de filmagens incríveis desta esquerda. Faltava o incentivo para a partida ser uma possibilidade real. E quem a deu foi Eneko Acero, localíssimo de Mundaka e team Manager do Pedro na Fox. Dia 29! Já tinha companhia e programa para entrar de gatas no novo ano, e recebi esta mensagem: “Vamos arrancar amanhã...”. Vinha aí o “Hercules Storm”, uma das tempestades mais intensas que já varreu a Europa, e se o vento sul fortíssimo era o ideal para a costa norte de Espanha era ao mesmo tempo a personificação ventosa de um filme de terror em Portugal. Trinta e oito telefonemas e 25 sms depois, pude confirmar com a família que não ia passar aqui o Ano Novo. O que significou que 20 chamadas depois estava pronto para partir. O objetivo da viagem era filmar com o staff da ONFIRE para podermos fazer um clip da viagem e produzir também para os nossos clips individuais. Mas no meio disto tudo teríamos que resistir à noite do 31 basco... Nove horas de carro, depois de uma saída tardia de Lisboa, e estávamos em Mundaka... às 2 da manhã, sem cama reservada e com pouca esperança de encontrar algum hotel aberto. Estávamos a ponto de dormir de costas direitas no carro quando encontrámos um hotel aberto... Quando acordámos, passadas duas horas pois “alguém” resolveu ter um ataque de riso e iniciar uma luta de almofadas à puto de 6 anos e que durou mais de uma hora, a vista era inacreditável: o primeiro dia da viagem clareou com um céu cor de rosa, sem nuvens, e abrimos a janela para ver o off-shore a bater em 1.5m de perfeição em Mundaka. Foram alguns minutos de pasmo no quarto, nenhum de nós estava à espera de ver aquele porto mítico e aquela onda incrível da janela, e soubemos logo que o ano ia entrar com o pé direito à frente na prancha. Entrámos pelo porto, e a corrente tratou de nos colocar rapidamente no pico para logo de seguida nos tirar dele antes de entrar a primeira onda, não existe nada assim em Portugal! Aliás, não é preciso muito para perceber que é aquela corrente e aquele rio que formam um banco de areia tão único como o de Mundaka. Foi um primeiro dia de ondas boas mas estava tanta gente dentro da água que foi difícil perceber como surfar ali, como se manter no pico e apanhar as rainhas do dia pois quem ia nelas era quem era visivelmente dali. Mesmo assim, no fim do dia, já tínhamos casa onde ficar e bom surf filmado. O problema agora era mais o que comer. Claro que tínhamos feito um bom assalto às dispensas antes de vir, mas faltavam bens básicos numa surftrip. Não há Coca-Cola no frigorífico e ninguém terá paz enquanto não houver. O problema é que aqui só se faz compras das 9h às 11h e das 16h às 18h, horas de surf portanto, e nós, consecutivamente, falhámos com os horários. Para além disso, como em grande parte de Espanha, encontrar um lugar para jantar ou almoçar é complicado. Aqui “se tapea” e bebe-se vinho tinto, ou comem-se pinchos ,que para além de não serem o bom do bitoque, não estavam muito em sintonia com o budget da viagem. No fim da noite, louvado seja o chef Boonman e os seus bifes roubados lá de casa. Ainda deu tempo para ver o fogo de artifício e brindar uma mini antes de ir dormir! Foi logo no segundo dia que percebemos a realidade do resto da viagem. Não se via um raio de sol. Aliás, via-se muita chuva e batíamos muito os dentes.Também se via outra coisa: o mar estava maior. Não eram 100 pés na Nazaré, mas entravam sets de 3 metros bem medidos, daqueles que já assustam muita gente.
Sequência São as ondas intermédias, nos dias grandes em Mundaka, as que proporcionam os tubos mais intensos. Para as apanhares tens de andar várias vezes no “carrocel” do “foge aos sets e volta ao pico” mas essa “diversão” compensa! João Kopke no seu tubo número 101! Li f e s t y l e O porto de Mundaka! photo by Tobias Ilsanker + João Kopke preparado para vencer demónios líquidos bascos! + Instagram time! _ 35
D e s t a q u e São raras as vezes que em Portugal conseguimos dar tubos completamente em pé. Mais raras são as vezes em que dás tubos desses várias vezes numa sessão, e mais raras as vezes em que dás tubos desses dias e dias seguidos! Pedro Boonman aproveitou Mundaka para aprimorar o seu standing tall dentro dos canudos mágicos! Li f e s t y l e Pedro Boonman num resumo mental do que foram 10 dias de tubos perfeitos! + Fora o primeiro dia, isto foi o máximo que vimos de sol! photo by Seth de Roulet
Os primeiros momentos da surfada foram passados em mar alto, até que com o tempo nos fomos chegando à zona onde rebentavam as ondas intermédias que não passavam por fora do banco. O mar estava um bocadinho oversize, o que nos permitiu fugir um bocadinho do crowd que estava mais preocupado em passar os sets do que apanhar ondas. Ainda que as ondas do dia tenham sido dos locais, pudemos sentir o gosto de Mundaka, e a verdade é que se fizeram ondas de três tubos no primeiro dia do ano! Como em muitos lugares do mundo, Mundaka tem muito mais crowd quando o mar está pequeno. É complicado estar num pico pequeno, com poucas ondas e ter que ter a sorte dessa onda entrar onde se está sentado. Há sempre aquele local que vai na mesma, ou aquele que está à frente, e enquanto o tubo não é muito difícil, a onda não é tão fácil para manobrar como parece. Entretanto só tínhamos hotel até essa noite e tínhamos uma decisão importante para fazer. Estava a vir mais um swell e já estávamos aqui. A família foi novamente notificada e decidimos ir para um hostel... Uma viagem não é viagem sem aquela má decisão. Ninguém pode dizer que uma viagem perfeita é uma boa viagem, deixa de haver histórias para contar. Esta é a história de quando saímos do nosso quarto aquecido, com carpete no chão, varanda e casa de banho só para nós. Onde as camas eram macias e os sonhos eram cor de rosa, e fomos para uma camarata de chão frio, balneário coletivo, sem tomadas para carregar baterias das máquinas de filmar... E o momento em que nos apercebemos do desastre foi quando pagámos 12 euros por um hambúrguer manhoso e meio copo de Coca-Cola. O Hostel tinha ficado mais caro do que o nosso quartinho de modo que fizemos as malas e voltámos ao conforto depois de uma noite no frígido hostel! O lado mais positivo foi que, pelo menos, pudemos ver o regional de andebol feminino no pavilhão lá do hostel... só rir! O mar continuou a produzir. Como uma fábrica de ondas. Acordávamos e lá estava a esquerda, o off-shore, o canal. Entrávamos e lá estavam os tubos e a corrente para fora na maré vazia e para dentro na maré cheia. Um verdadeiro carrossel. Às vezes penso no que é a viagem de sonho e deparo-me com a ideia padrão da surftrip. Já fui às Mentawai, com 10 pessoas e surfei Greenbush, Macarronis e parei em Bali para ver o templo dos macacos. Mundaka deu-me uma perspectiva diferente, mostrou-me outro tipo de viagem que não deixa de ser de sonho. Nem foi pelas ondas, que não deixaram de ser das melhores que já surfei, nem pelos backdrops incríveis do país basco, ou das igrejas góticas da Europa. Todos estes factores são, sem dúvida, importantes para uma surftrip de sucesso, mas o que mais me cativou nesta viagem foi a sensação de “Go for it” que se viveu. É uma maneira de viver o surf que não está muito explorada em Portugal, tem de se olhar para surfistas como o Nicolau Von Rupp para ter uma ideia de como se faz. Escolhe-se boa companhia (tive a sorte de um dos surfistas com o surf mais bonito de Portugal e uma das maiores personagens que conheço me ter chamado), e arranca-se para experimentar uma onda, para fugir ao temporal, para explorar um swell sem nada bem programado... E tivemos sorte. Não precisámos de um mês e 2500 euros para ter sorte. Só precisámos de vontade para decidir que íamos fazer uma coisa diferente. Podia ter estado grande ou flat, ou o banco de areia podia já não estar lá mas dizem que quem não chora não mama, que quem não arrisca não petisca, e o surf sem risco, seja qual for o seu género ou tipo, não vale a viagem. Por tudo isto, e se no próximo Inverno o banco de Mundaka voltar a funcionar, é tempo de mais esquerdas tubulares em água fria!
_JK | 37_
Algures no fim de Junho recebemos um email com um convite surpreendente da parte da marca de bebidas energéticas Monster Energy. Pode-se dizer que era o equivalente a sair o “EuroMilhões” no circuito dos surf media, uma viagem à África do Sul para acompanhar o JBay Open, sexta etapa do WCT. Curiosamente, entre compromissos profissionais e familiares, nenhum membro do “núcleo duro” da ONFIRE estava disponível para “receber o prémio”, o que nos obrigou a convocar um “enviado especial”, o ex-campeão nacional de esperanças e actual actor de telenovelas (e colaborador da ONFIRE), Pedro Sousa. Sem grandes hesitações, Pedro aceitou o desafio, e esta é a história da sua “missão” ao serviço da ONFIRE na melhor direita do mundo!
A ONFIRE no
texto intro by O N F I R E texto by P e d r o S o u s a p h o t
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JBayOpen
Sasha Specker
| 43 | Esperava-se muito de John John Florence, mas apenas o vimos a “brilhar” no free surf. .......................................................................
Tudo começou num dia em que estava relaxado da vida a apanhar sol ao pé da minha casa e recebi um telefonema de um número desconhecido. “Pode ser trabalho”, pensei eu. Esta nova minha profissão de actor tem destas coisas, como estar de “férias” à espera de uma nova proposta de trabalho, sem saber se ela vem! Mas era o director da ONFIRE com uma invulgar proposta de “trabalho”.“Sousa, como é? Queres ir à África do Sul para a semana?”, perguntou-me. “Como é? Claro que quero! Fazer o quê?”, respondi. Ele não sabia bem pois o convite era recente e a viagem estava próxima, mas não ia deixar escapar esta oportunidade. Poucos dias depois estava a caminho de aeroporto para levar a ONFIRE a JBay, ou seria ao contrário? Não há viagem sem “filmes”, e os meus começaram logo em Portugal quando, por erro meu, chego adiantado ao aeroporto (07:40), com voo às 09.10, que para “ajudar” atrasou para as 10:45! Ainda por cima tinha dormido meia hora nessa noite (sabe-se lá a fazer o quê) e estava todo roto. Depois de uma sesta pelo aeroporto, embarco com destino a Madrid para me encontrar com o resto do grupo de completos desconhecidos. Eram eles Homer Bosch, o European Comunications Manager da Monster Energy e “anfitrião” desta viagem, Javier Amezaga, editor da revista de surf espanhola 3sessenta, e Jorge Coscaron, o redactor chefe da revista FHM espanhola. Mal aterro em Madrid, quase duas horas atrasado, toca o meu telemóvel. Era o Homer que, com uma tranquilidade disfarçada, dizia que estava à minha espera num balcão do terminal 1 para fazermos o check-in e seguir para o Cairo, Egipto. Claro que com a minha “sorte” a minha mala demorou mais de 45 minutos a aparecer e aí já o Homer não conseguiu disfarçar o pânico na segunda chamada. O check-in estava a fechar e eu ainda estava no terminal 2! Madrid tem, como muitos sabem, um aeroporto gigante, e talvez essa seja a razão pela qual as malas/pranchas chegarem ou não ser sempre um “totoloto”. Consegui chegar a tempo e apresentámo-nos uns aos outros, aliás, eu aos outros, porque com o tempo que esperaram por mim já se tinham tornado, pelo menos, amigos. Cinco horas e pouco mais tarde chegámos ao Cairo para esperar mais quatro horas para embarcar para Joanesburgo e corria tudo bem menos a viagem. Acontece a todos eu sei, mas fui sentado na fila do corredor. Resultado, estava constantemente a ser acordado pelo rabo das hospedeiras, ou pela mesma nádega de cada rabo, a direita. “Fogoooo” se ao menos fossem alguma coisa de jeito. Nada contra egípcios mas, sinceramente, nada a favor. Aterrámos em Joanesburgo em estado zombie quase, e faltava um voo de uma hora e quarenta minutos para Port Elisabeth e depois uma hora de carro até Jeffreys Bay. Já no carro, preparados para arrancar para JBay, dei “shotgun à frente”, feito o co-piloto, já que o Homer ia conduzir. Claro que adormeci passados 10 minutos, isto já a esticar o tempo acordado. Despejadas as malas na nossa casa africana, esperámos pelo colega sul-africano da Monster Energy para nos guiar até Supertubes, a praia da famosa onda, onde estava a acontecer a etapa do World Tour. Eu já só queria ver surf e mal chego à praia vou direito aos bancos de madeira no meio dos cactos clássicos de JBay e vejo dois surfistas na água, Julian Wilson e Glenn Hall. O Julian não perdeu tempo e partiu uma onda toda até ao inside onde mandou um Alley-oop animal “full rotation”. 9.10 foi o “score” e entrou para as cinco melhores do dia. Ao menos deu para ver esta onda, já que era o último heat do dia. Saímos da praia e fomos ao supermercado logo ali ao lado na Da Gama Street, que é a “marginal” dali, cheia de restaurantes, lojas de surf, ginásios e basicamente tudo o que o turista consome. Depois apanhámos outra estrada, cercada por favelas africanas, e chegámos ao “nosso” bairro Aston Bay. Comer e dormir e ficou feito o primeiro dia. No dia seguinte, às 06:30 da manhã, estamos a sair de casa e o termómetro do carro marca 4.5 graus!! E roupa para este frio!!?? Aguenta-te!! Chegámos à praia 10 minutos depois com o line up de JBay “ao barrote” de prós. Os sets estavam demorados mas estava um metro com altas ondas, perfeitinhas com um “off-shorezinho” fraquinho. Às 7.15 o sol começava a aparecer por trás das montanhas, que preenchem o horizonte, e é bonito demais para escrever sobre isso.Vão lá ver, vale a pena! Independentemente das condições perfeitas (para mim claro), eles decidem que é lay day, ou seja, não há competição mas o free surf não pára com John John, Nat Young, Julian Wilson e Adrian Buchan a fazerem as delícias das muitas pessoas que decidiram ignorar os 5 graus que se faziam sentir para virem ver ao vivo este espectáculo. Fomos todos tomar o pequeno-almoço ao African Perfection que é um Hotel/Restaurante típico ali de JBay onde o pessoal do surf costuma parar. Depois foi a altura de passar no contentor da ASP para levantar as credenciais e para minha surpresa o editor da ONFIRE tinha enviado a fotografia mais “gay” (atenção, nada contra!) que tinha conseguido encontrar no meu facebook. Resultado, andei o resto dos dias com uma credencial em que parecia um grande cromo, cortesia de uma piadinha do “Sr. Editor”. Obrigado!
Fui dar um passeio pela praia com o Javier e o Jorge, pois o Homer não parava um segundo de trabalhar, para sentir a temperatura da água, roubar búzios e tentar perceber onde se entrava e saía ali em JBay. Depois passei na casa de imprensa, à conversa entre completos desconhecidos e de uma naturalidade tremenda e a troca de informação sobre o país e ondas (claro) de cada um é o tema principal. Quase antes de saber o nome deste sul-africano de Cape Town (entretanto já me esqueci), ele já me está a emprestar a prancha para eu ir curtir umas ondas já que é lay day mas ele tem muito trabalho pela frente. Isto é o bom de viajar com, e para o meio dos viajantes, é tudo tão familiar e acolhedor quanto desconhecido. Ainda não foi nesse dia que surfei mas depois dessas conversas na Media House entrevistámos o jovem surfista de ondas grandes sul-africano Matt Bromley, e o Koffie Jacobs que é um surfista local de Jeffreys e um dos responsáveis por haver um WCT ali este ano. Em seguida fomos lanchar porque já era tarde e tínhamos ficado à espera do Dale Staples, um atleta sul-africano que esteve quase a entrar no tour o ano passado. Depois fomos para casa descansar, jantar e ir beber uma cerveja a um dos muitos bares nessa Da Gama Sztreet que estava cheia de gente porque o WCT estava integrado no programa Winter Fest, que tinha várias actividades como concertos, Motocrosse, etc. Terminada a cerveja, ou cervejas, fomos para casa e às 6:45 da manhã estamos de pé prontos para ir para a praia porque ia haver campeonato. Eu e o Javier ficámos o dia todo pelas bancadas a ver a prova, enquanto o Homer não largava os emails e o Jorge que pouco, aliás, nada percebia de surf e ao fim de dois heats desapareceu! Acho que não sou o único com esta opinião, não é por ser português, mas o nosso único representante na elite do surf mundial,Tiago Pires, foi escandalosamente roubado contra um CJ Hobgood que pouco mais fazia do que dar uma lambidelas no lip sem power e umas tentativas falhadas de floaters para cima das rochas, enquanto que o Saca impunha um surf de linha cheio de power e velocidade a dar dar carves, como é habitual dele, que são poucos os que conseguem. Passadas várias horas de alto surf, acabaram o round 2 e eu já estava maluco para ir tentar surfar aquela onda. Sim, tentar. Jeffreys é uma das melhores, senão a melhor onda direita do mundo mas é das mais difíceis de surfar (bem). Não pedi a prancha ao sul-africano mas aluguei uma 6’0” Bushman, toda escafiada, que para ali andava por 5 euros, e surfei uma hora e meia. Crowd aos montes, atletas do WCT e locais que se tentavam impor mas lá me safei e apanhei umas ondas. Os golfinhos passavam de 15 em 15 minutos para terem a certeza de que estava tudo bem com os surfistas e para dividirem as ondas connosco. No meio daquele crowd com Michel Bourez, Aritz Aranburu, Julian Wilson, John John, Occy e Tom Curren(!!!) veio um set e eu estava em posição! Começo a remar e o Tom Curren estava mesmo ao meu lado começa a remar também e eu pensei “Boa, já vou ser dropinado”, mas meti-me em pé e o Tom Curren puxou a prancha. Respeitinho pelos actores de novelas da SIC em Portugal é muito bonito!!! A experiência de surfar ali é diferente de qualquer outra onda que surfei e acreditem que já dei umas voltas (nada comparado com um surfista profissional) bem curtidas por este globo que aos poucos (ou muitos, se é que esta expressão se pode utilizar) está a ser destruído pela presença dos únicos animais racionais que nele habitam. Depois desse surf, já estava tão feliz que nem me lembro do resto do dia. Não deve ter sido nada de muito diferente disto, ir jantar a casa e dormir. Mentira!!! Lembrei-me agora... Fomos jantar a Port Elisabeth (ou PE como lhe chamam) a um restaurante muito bom chamado Ginger. O centro da cidade parecia mais aquela cidade-cenário dos estúdios da Universal, em Los Angeles, mas para pior. Tipo cenário de um filme do Tim Burton, só faltava o preto e branco que os meus olhos ainda não conseguem fazer. Vazio e com um vento consistente que parecia que a cada rajada nos dava mais a certeza de que ali não se passava nada, a não ser fantasmas para quem acredita neles. Passados uns bons minutos a andar pela cidade fantasma e umas quantas abordagens a pessoas na rua que tinham mais medo de nos responderem do que enfrentar um leão, lá fomos parar a uma estrada, para mim, principal, que já tinha mais movimento. O GPS nada dizia e o co-piloto (eu) não servia para nada até que, de repente, no meio do nada vejo esse restaurante que nos tinha sido recomendado por um local. Jantámos muito bem, comida típica sul-africana, Kudu e cerveja local com entradas muito boas e pagámos só 300 Rand que é a moeda sul-africana. Um euro (queria carregar na tecla do euro mas este portátil não é desse tempo, ahah) é igual a 15 Rand. Muito barato o restaurante, tendo em conta o serviço e a qualidade da comida. Resumindo... Foi um grande dia!! Ver heats do WCT em JBay, surfar e ainda jantar num grande restaurante por 20 euros!!!
....................................................................................... [ left pic ] Terá Tiago Pires sido “underscored”? Quem viu ao vivo achou que sim.. [ right pic ] . Owen Wright tirou o seu melhor resultado dos últimos em Jeffreys Bay e ninguém teria ficado surpreendido se tivesse vencido. ......................................................
Dia seguinte mesma rotina matinal e é lay day de novo! No dia seguinte já íamos embora, por isso aproveitámos para fazer alguma coisa diferente. Safari! Lá arrancámos todos para o Addo National Elephant Park. Com o GPS do Homer, que mais servia para nos perdermos do que para chegarmos ao destino, demorámos cerca de duas horas de carro a fazer um percurso que demorava uma. Não interessava, queríamos era fazer um safari, algo que nunca fiz e desde puto que curtia fazer! Chegámos lá e fomos só buscar qualquer coisa para comer. Eu comprei uma coisa típica sul-africana que são uns pedaços de carne seca embalados e uma água. Entrámos na zona dos animais, de carro óbvio, mas no nosso, e andámos por ali duas horas e vimos alguns Kudus (típico sul-africano vejam no Google), muitos javalis, raposas e pássaros das mais variadas espécies mas nada de animais do “Big Five”. O Homer disse que esteve três dias num safari nos Estados Unidos e não viu nada de especial e perdeu a esperança assim como o resto do pessoal, menos eu. Estavamos a vir embora e de repente vimos um elefante mesmo ao nosso lado. Paraámos o carro todos contentes e mesmo à totós pegámos logo
nos smartphones e começamos a filmá-lo. De um elefante passam para uns oito, que andavam por entre os carros como se nada fosse, com uma lentidão e paz que não acredito que hoje em dia nós, seres humanos, consigamos atingir. Bem, quanto à lentidão não tenho dúvidas que consigamos, mas é uma lentidão de raciocínio já que os smartphones/computadores e todo resto das modernices electrónicas cada vez mais nos fazem dispensar dessa faculdade do corpo humano. Fomos embora do Addo todos felizes por termos experienciado a presença de pelo menos um dos “big five” animais no seu habitat natural e sem a imposição de um tratador, a obrigar o animal a exibir-se perante um grupo de curiosos que pagam para terem os animais presos ao nosso dispor para quando um dia nos apetecer. Chegámos a casa já bem perto da hora de jantar e era dia da final do campeonato do mundo de futebol, Argentina contra Alemanha, uma europeia e outra americana. Eu não ligo a isso mas os espanhóis estavam pelos argentinos. Jantámos a beber umas cervejas e a ver o jogo, boa noite África e até amanhã. Na última manhã partíamos às 11h para o aeroporto e eram 7 da manhã e a organização de prova faz novo check-in para as 10. Já só vimos dois heats antes de nos pormos a caminho dos nossos respectivos países, 4 voos e 5 aeroportos de distância para mim. O mar estava bom mas inconsistente e vimos até ao heat do Julian Wilson contra o Kolohe Andino, em que passou o Kolohe. Não vimos o final do heat, soube através da internet o resultado deste, bem com do resto do round 3 e round 4. Já no aeroporto do Cairo, depois de uma viagem de 8 ou 9 horas, desta vez, graças a Deus, o voo vinha vazio e orientei quatro bancos só para mim onde dormi 7 ou 6 horas. Foi então que me lembrei que tinha de ter feito o check-in para o meu último voo de Madrid para Lisboa pela Easyjet online. Não tinha internet no telemóvel e a net do aeroporto era lenta demais para me safar com esse check-in. Fui para ao pé do Lounge da Star Alliance e pedi por favor que me dessem a passe do wifi para poder fazer o check-in online já que o voo do Cairo para Madrid atrasou e eu ia chegar a cinco minutos de fechar o check-in. Claro que não me cederam a passe e fiquei agarrado mas não saí do balcão deles e às tantas alguém pediu a passe (em egípcio!!), e eu entendi. A necessidade definitivamente aguça o engenho. Fiz o check-in e fui a correr para o gate para embarcar para Madrid, atrasado para variar. Cheguei a Madrid, curiosamente a minha mala foi das primeiras a sair, e assim que saiu, dei um abraço aos meus colegas de trabalho/viagem/aventura e fui a correr para conseguir embarcar para Lisboa. Passei toda a gente que havia para passar à frente e enfiei-me no avião! Foi uma experiência muito boa, para mim é difícil fazer-lhe justiça através deste pequeno texto mas é o que se vai desenrolando desta tão má memória minha, sentado no chão da minha sala, com um copo de vinho do Porto, portátil ao colo e o iPod com a “banda sonorizar-me” memória. Mais um “check” nesta lista _ 45 infinita de “a fazer antes de ir dormir definitivamente”... _ PS _
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........................................................................................................................................................................................ No Inverno em que a nossa costa recebeu algumas das maiores ondulações de que há memória (2013/14), a ONFIRE lançou um desafio inédito e aberto a todos os surfistas portugueses. Quem conseguisse surfar a melhor e maior onda venceria o MOCHE Winter Waves, que oferecia um prémio monetário de 1.500 euros por categoria. A adesão foi massiva e mesmo tendo sido um Inverno difícil de surfar, alguns dos mais conhecidos ou mais “underground” surfistas portugueses batalharam pela vitória nas suas categorias. No fim só poderiam haver dois vencedores, e ambos nos falaram um pouco sobre a onda que os levou à vitória.
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o M a c e d o Vencedor da categoria “Maior Onda”
O Inverno de 2013/14 foi difícil para quem procura ondas grandes em Portugal! Algumas das maiores ondulações das últimas décadas “bateram” na nossa costa mas quase sempre trouxeram consigo muito vento e condições “duras” de surfar. Mesmo assim foi um ano em que novos picos de ondas grandes foram surfados e muitos surfistas testaram os seus limites. João de Macedo é neste momento a maior referência do “big wave riding” português, e quando submeteu uma onda da expedição aos Açores “Mar Sem Fim”, todos sabiam que seria uma forte candidata à vitória, o que acabou por acontecer!
João, antes da sessão que te deu a vitória já tinhas apanhado grandes por ali? Tínhamos tido um bom surf no Praia da Viola, portanto já estávamos mais relaxados mas queríamos, sem dúvida, qualquer coisa de mais especial. Estávamos todos agarrados às previsões a tentar perceber se os ventos iam colaborar! Ia estar grande, agora era ver se tempestade não estava muito agressiva, em cima de nós! O dia anterior de swell grande e sempre intenso foi um misto de adrenalina e medo... Nesse dia até fizemos uma sessão de yoga ao fim da tarde para canalizar as emoções todas e conseguir mantermo-nos focados. Como foi a logística do “dia D”? Estávamos de pé de noite ainda, a preparar tudo. Tínhamos combinado com o Marco Medeiros, Bombeiro de Ribeira Grande e Chefe da Segurança do Mar Sem Fim, na bomba de gasolina Galp (quem sabe, sabe do que estou a falar!) onde dá para ver perfeitamente o baixio de Santana. À distância é difícil ver o tamanho das ondas mas de repente veio um set e deu uma esquerda brutal com um bafo animal e começámos a correr para os carros para arrancar para o porto de Rabo de Peixe. Nas primeiras horas da manhã o vento ainda não estava bom e fizemos um compasso de espera, o que e difícil com tanta excitação e adrenalina. Começou-se a falar em ir ver o Pico da Viola, e mais uma onda sei lá onde!! Enfim... conseguimo-nos manter focados e finalmente arrancámos!
Falta um pouco da sessão... A emoção de surfar uma onda sem ninguém à volta e incrível e a sensação de sabermos que tanta gente já tinha visto esta onda mas nunca tinha conseguido a surfar ainda mais. Relatos do windsurfer, velejador, surfista e aventureiro “Sabão” depois apareceram a dizer que ele apanhou uma onda de windsurf no baixio de Santana, mas que estávamos sozinhos, neste dia estávamos!!! Eu estava com uma 10’1! Patagonia shapeada pelo Fletcher Chouinard e o Eric Rebiere estava numa 11’6”, equipamento obrigatório para apanhar ondas grandes à séria, especialmente vagas de mar aberto. O feeling de ir na remada foi mesmo o culminar desta primeira expedição. Apanhar ondas a braços e o culminar da arte de surfar ondas grandes é aquilo em que o Mundial de Ondas Grandes se basei. As fotos não fazem justiça ao buraco e ao tamanho que a onda faz quando bate no baixio, isto ainda vai dar muito que falar ainda!! Levaste com uma na cabeça antes desta não foi? Ou foi depois? Acho que antes de apanhar esta onda, o Eric e eu fomos apanhados de surpresa por um set e tivemos que abandonar as pranchas para nos safarmos. Foi daquele tipo de situação que destabiliza logo o teu feeling e obriga-te a ires buscar fundo outra vez o teu posicionamento e não ires a remar para o horizonte, onde está seguro e não levas com mais nenhuma mas também não apanhas nada!!
Às vezes a preparação é mais assustadora que o momento do próprio drop. left pic _ photo by Rui Soares Photography right pic _ photo by Ricardo Bravo|EDP Mar Sem FIm
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Fala-nos na onda vencedora... Foi uma sensação incrível, este drop! Só no primeiro frame da filmagem é que acho que dá para perceber como foi vertical o take-off e como a onda levanta mesmo bem no reef. Vi a onda e senti-me atrasado, a onda quase a rebentar em cima de mim, mas fogo, tínhamos vindo este caminho todo, este era o dia, tinha que ir e mais nada!!! A sensação de descer o bicho até cá abaixo, passar a secção e completar a onda, foi única! O que dizes sobre o potencial dos Açores? Todos ficámos impressionados com a qualidade da onda, por ser um pico tão definido. Não era um swell muito alinhado e tinha estado vento de manhã e mesmo assim, o pico estava lá. A maneira como as ondas se alinhavam e organizavam quando entravam em contacto com o baixio era o tipo de coisa que como surfistas sonhamos ver e sentir! A costa Norte de Ribeira Grande e as nove ilhas dos Açores têm muito para dar e descobrir, é espectacular! Como estás fisicamente neste momento? Sabemos que estiveste lesionado... Na onda a seguir a esta ou é capaz de ter sido no inside desta, escorregoume o pé de trás e fiz uma lesão aparatosa no joelho direito. Ainda consegui surfar o resto da sessão, mas estava com dores fortes. Estou a recuperar, a informar-me em relação à situação de um injury wildcard para o Mundial de Ondas Grandes. Enfim! Lesões são coisas complicadas mas permitemnos voltar com mais pica e realmente mostrar a vontade e feeling que temos por aquilo que fazemos, neste caso, a paixão pelo mar e as ondas. E essa paixão só vai sair mais forte!! _OF
O ângulo em que foi fotografada não faz justiça ao tamanho e “peso” da onda, mas é seguro dizer que esta foi a maior onda surfada “a braços” em águas portuguesas no Inverno de 2013/14. photos by Ricardo Bravo|EDP Mar Sem FIm _ 53
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x B o t e l h o Vencedor da categoria “Melhor Onda”
O Algarvio Alex Botelho é um raro caso de sucesso entre os muitos surfistas portugueses que já tentaram uma carreira como free surfers profissionais. Apesar de lhe ter sido reconhecido talento desde muito jovem, a sua constituição física não o beneficiou quando tentou seguir o mesmo percurso que o resto dos surfistas da sua geração pois muitas das competições para juniores realizavam-se em ondas muito pequenas, algo que nunca foi o seu forte. Mas o seu carisma manteve-o visível até ao momento que descobriu o seu “nicho”, a procura de ondas grandes e perfeitas pelo mundo fora. Aos poucos, o algarvio foi-se tornando muito cada vez mais mediático, recebendo o reconhecimento não só do público como da indústria e patrocinadores, que por sua vez lhe foram permitindo continuar a crescer como surfista. Actualmente Botelho é uma das poucas referências do nosso país no “mundo” das ondas grandes, mas pode ser considerado um “expert” também em ondas tubulares.
Apesar de ter mostrado muito interesse em participar no MOCHE Winter Waves, Alex esteve lesionado durante grande parte do período de espera, mas uma ondulação perfeita nas últimas semanas do concurso permitiram-lhe candidatar-se à vitória na categoria “Melhor Onda”.
Alex, foste o vencedor da categoria de “Melhor Onda” no MOCHE Winter Waves, como te sentes? Fiquei muito contente, foi uma surpresa e foi porreiro por ter sido num dia em que estava clássico e toda a gente a apanhar altas ondas e a divertir-se. Estavas à espera de ganhar? Não tinha muitas expectativas, nem tinha combinado filmar com ninguém, por isso foi uma surpresa alguém ter filmado, neste acaso até foram três pessoas a filmar e tive de escolher um dos ângulos. Fala-nos desse dia... Eu tenho passado algum tempo na Ericeira no Inverno e estava por lá nesse dia. Sabia que ia estar bom e surfámos logo de manhã nas “Pontes”, nos Coxos. À tarde o mar ficou ainda melhor e entrámos novamente, estava glass e altas ondas, um dos melhores dias que já surfei lá. Era só pessoal amigo dentro de água e toda a gente fez ondas boas.
Logo que remaste para essa onda parecia que ia ser perfeita? Nem por isso, estávamos a apanhar ondas à vez, eu estava no “fim da fila” mas ninguém quis aquela pois parecia que ia fechar. Eu pensei, “olha, já que estou aqui vou tentar apanhar”. E foi o que fiz, fiquei à espera para ver se dava alguma coisa e quando decidi que ia tentar, tentei dar velocidade com um bocado de força a mais e a prancha fugiu, mas agarrou logo a seguir e consegui ficar ainda mais fundo e sair. Na altura não te conseguimos contactar para dar a notícia, por onde andavas? Estava na Indonésia, Java, em Watu Karung, mesmo no meio do nada e não havia recepção, nem rede, nem nada. Tinha que subir para o topo de um monte para ter rede no telemóvel e lá consegui ver as minhas mensagens. Como estavam as ondas nessa viagem? Apanhámos boas onda, primeiro em Lakey Peak, em Sumbawa, Java, Lombok, e depois West Sumbawa.
left pic _ Botelho “getting ready” para o Capítulo Perfeito, outro evento que parece ser feito à medida para o Algarvio. photo by Jorge Matreno right pic _ O carve de frontside de Alex Botelho é um dos mais fortes do país. photo by Spencer Homlquist
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Sabemos que até há pouco passavas os verões a trabalhar para ires viajar no Inverno, como é a tua rotina actualmente? Hoje em dia os meus patrocínios permitem-me viajar, até têm vindo a melhorar por isso posso viajar a maior parte do ano. Tenho-me dedicado ao free surf e é isso que pretendo continuar a fazer, tenho trabalhado em vídeos, produzido fotos e apanhado ondas boas. Tenho que agradecer aos meus patrocinadores pelo apoio, são eles a Volcom, Vans, Ferox, Ocean & Earth e Future Fins. Tens tido muito “solicitado” em eventos como o MOCHE Winter Waves, Capítulo Perfeito e, por exemplo, o Jervis and Vagabonds. Achas que este estilo de “Special Events” se enquadram bem no teu percurso como surfista? Sim, principalmente eventos com vídeo. O Winter Waves foi um evento divertido para mim porque havia uma janela muito grande para se apanhar a onda para a categoria que se pretende enquanto se vê as ondas das outras pessoas. Eu passei uma grande parte do ano passado lesionado e só em Janeiro é que comecei a surfar novamente e mesmo assim tive a oportunidade de participar e ganhar. _OF
O tubo mais pesado do Inverno? O júri do MOCHE Winter Waves votou SIM!. photos by carlospintophoto.com _ 56
Sonho!| photo by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m
Tomรกs Fernande C o x o s photo by carlospintophoto.com
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F i l i p e J e r v i s a r i c c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m
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A l v e s , Mentawai| photo by Tomรกs Paiva Raposo
Frederico Morais M ĂŠ x i c o photo by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m
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J o ã o G u d e s a l h o photos by Tó Mané
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Melvin Lipke, algures... | End!... photo by João “Brek” Bracourt | photo by carlospintophoto.com
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Rafael Brites ã o J u l i ã photo by P e d r o M e s t r e
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A รง o r e s
| photo by carlospintophoto.com
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Z é F e r r e i r a Açores c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m
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| photo by carlospintophoto.com
Miguel Blanco, C o x o s | photo by Marco Gonรงalves