bimestral _ pvp cont 3€ [iva 6% inc]
nº70 _ ano XI _ www.onfiresurfmag.com _ Ago|set14 _
*Xero Foam: melhor temperatura e flexibilidade através do aumento de oxigénio durante o processo de construção. Design com número mínimo de costuras para flexibilidade máxima. Painéis de remada estratégicos para máxima flexibilidade e conforto.
Proged SA: infoproged@proged.com
geral@nautisurf.com
*Estilo clássico. Conforto Moderno. Esta estação, Dane Reynolds foca o seu lado artístico para uma colecção especial com três estilos radicais, apoiando a velha luta entre pizza, vegetais e a anatomia humana. Vás para onde fores, estarás perfeito com um par de ténis da colecção do Dane nos teus pés!
C R É D I T O S O N F I R E S U R F 7 0 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marc Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #70 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.
#coverstory
Nicolau Von Rupp adora ondas pesadas, principalmente aquelas que parecem quase impossíveis de surfar. Mas mais do que ondas pesadas, o surfista da Praia Grande gosta é de ondas tubulares. E nos últimos anos tem provado isso mesmo através de performances em sítios como Teahupoo, Pipeline ou Mullagmore, o que lhe valeu capas e artigos em algumas das mais conceituadas publicações de surf do mundo. Mas não só além fronteiras que Von Rup se tem distinguido! No nosso país ainda há certas ondas que Von Rupp deseja mais do que tudo meter a sua unha. Esta é uma dessas ondas e ainda hoje é um dos poucos segredos do nosso desporto. “Standing tall” e de braços abertos dentro de um tubo numa bomba de três metros... o que podemos pedir mais desta foto? Um pedido é certo, fazer capa da ONFIRE! photo by Ricardo Faustino
Não havia como não colocar o júnior Vasco Ribeiro debaixo do holofote depois deste se ter sagrado campeão europeu Pro Junior, um feito que só Tiago Pires conseguiu e há 15 anos atrás. Além disso, Ribeiro conquistou o seu terceiro titulo nacional, e esto no ano em que não só perdeu o seu #spotlight patrocinador principal como teve o mais marcante acontecimento que um ser humano poder ter, a paternidade. Como é que o surfista da Poça analisa tudo isto e o que espera para o seu brilhante (e novo) futuro? photo by carlospintophoto.com
#surftrip| Dominicana Imagina o que seria mergulhares pelo arco-íris e descobrires um mundo cheio de cor, e que nesse mundo havia ondas perfeitas em água a escaldar e pouco, muito pouco, crowd. E que ias dividir essas ondas apenas com quatro amigos teus!… Foi este o prémio para os finalistas de Jervis and Vagabonds na República Dominicana, uma semana com tudo pago num destino muito colorido, a - República Dominicana, onde, além de filmarem para as fases finais deste inédito evento online, Valente, Guedes, Boonman, Botelho, e Jervis, deram tudo para garantir um bom artigo na ONFIRE! Queres saber o quanto se aplicaram ao mesmo tempo que descobres um destino perfeito para surfar e te divertires? Salta já para a página 44… photo by carlospintophoto.com
#surftrip| Açores O bom de ter eventos nos Açores é, para nós que somos viciados em free surf, toda a acção sem lucras de competição que acontece nesses dias de vestir camisolas de lycra! Sendo um evento Prime que acontecia, mais uma vez, em águas açorianas, era mais do que certo que teríamos a elite do surf nacional presente. O fotógrafo da casa, Carlos Pinto, fez malas e durante uma semana viveu a pacata vida de São Miguel, ao mesmo tempo que captava mais uma gigantesca quantidade de fotos de alta qualidade. A melhor colheita dessa viagem é o que podes ver nesta surftrip! photo by carlospintophoto.com
E se cruzamos meio oceano Atlântico para extrair uma excelente viagem para as páginas da ONFIRE com toda a acção de free surf paralela à da competição nos Açores, fizemos exatamente o mesmo quando Nicolau Von Rupp e Frederico Morais arrancaram para o WQS de Huntington. Depois de eliminados, #surftrip| USA os dois portugueses, juntamente com o fenómeno australiano Ryan Callinan, arrancaram à descoberta dos segredos (mais e menos) bem guardados dos EUA. photo by carlospintophoto.com 10_
*Segue todas as ondas, conhece todas as marĂŠs! O primeiro relĂłgio de surf com GPS.
E o que tem este texto a ver com a edição? Nada! photo by carlospintophoto.com
Talvez por ter a liberdade de surfar durante a semana, evito os picos mais conhecidos ao fim de semana. De vez em quando abro excepções, principalmente quando algum amigo com quem não faço surf há algum tempo me desafia a fazer-lhe companhia. São esses momentos de convívio que, ao longo dos anos, consolidaram amizades que ficam para a vida e é algo que, por mais ocupado que esteja, faço por manter. E foi assim que me encontrei num domingo de madrugada em Ribeira D’Ilhas, no meio de muitos “bifes”, miúdos “eléctricos” e surfistas “da antiga” a disputar ondas que não chegavam a um metro. Ribeira nunca foi das minhas ondas preferidas mas é inegável a sua qualidade, o que acaba por criar uma má proporção de ondas VS crowd. Nestes últimos anos tenho estado reticente em relação à (na falta de uma palavra melhor) “produção” de surfistas. Fico de pé atrás com os estrangeiros que aparecem vindos de surf camps com pouca experiência na água ou cultura de surf. O mesmo se passa muitas vezes com as novas gerações que vêm de escolas de surf, muitas delas que só ensinam a surfar e não a ser surfista, a saber estar na água e respeitar os outros. Mas deste dia não tenho nada a apontar aos dois “estereótipos” acima pois estavam todos no seu melhor comportamento. Foi preciso aparecer um surfista com idade quase para ser avô de alguns dos mais novos na água para dar uma aula de falta de “civismo aquático”. “Montado” no seu longboard este “cota” apanhava onda atrás de onda, sentava-se o mais fora possível e tentava apanhar tudo que se mexesse. Mesmo quando ia a remar para o outside, se via alguém mais paparuco a fazer-se a uma onda tentava passar por fora ou mesmo pela frente e lá ia ele, a deslizar até à secção do Alibábá. Não posso dizer que me fez o mesmo mas nem por isso fiquei mais incomodado pelo mau ambiente que se tinha gerado, principalmente de alguém que já tinha idade para ter juízo e bom senso. Queria dizer-lhe algo mas não sabia bem o quê até que me saiu um “olha lá, se toda a gente estivesse com a tua postura na água como achas que tinha sido a tua surfada?”. Chateado com a minha pergunta recebi como resposta a cartada do “respeito”, “porque ando aqui há muitos anos e blá blá blá”. A conversa iria rapidamente evoluir para o “se andas aqui à tanto tempo, devias saber estar e mais blá blá blá”. Mas um set interrompeu-nos, ele apanhou a primeira que conseguiu roubar, saiu e não voltou. Não pensei mais sobre o assunto excepto que deveria ter pouco tempo para surfar e por isso estava especialmente “chato” na água, o que não justificava de maneira nenhuma a sua atitude. Mas, uma hora mais tarde, quando saí da água, lá estava ele, em plena “carpark session” com os amigos, no mesmo convívio que falava no início deste “testamento”. Isto tudo para chegar à conclusão de que somos todos uns privilegiados de ter o surf como escape e amigos com quem partilhar estes momentos tão especiais, mas será que podemos aprender a não estar na água como se estivéssemos na estrada? _António Nielsen
_ 12 _
Nautisurf, Lda _ Tel. 210 108 950
_ 14 _
Não são assim tão raras as vezes que as nossas vidas tomam rumos que pouco esperamos. O começar a ONFIRE, há 11 anos atrás, é um exemplo perfeito que me aconteceu. E durante esta década, e dentro das 50.000 funções que desempenhei e desempenho dentro deste grupo de media – não faz sentido nenhum hoje em dia assumir que ONFIRE representa apenas uma revista de surf quando tem também hoje uma fortíssima componente de conteúdo online – que passa por informação diária no nosso site, produção de Scrapbooks, eventos online – como o MOCHE Winter Waves – e produção de vídeo! E de todos os produtos – de surfistas para surfistas - que hoje te apresentamos e te fazem estar ligado à ONFIRE quase a cada minuto, nenhum destes virtuais me “agarrou” mais que a produção de vídeo. Tudo começou com uma handycam para filmar as etapas do nacional e fazer uns vídeos. Depois veio o “terrível” dia em que experimentei uma camera melhor e o dia em que se decidiu que era altura de tornar estas produções caseiras em algo mais sólido. Hoje, a milhões de anos luz de ser um profissional do vídeo, é um dos maiores prazeres que tenho dentro das 50.001 funções da ONFIRE e tem sido esta que me tem permitido, nos último dois anos, viajar em trabalho como nunca antes o fiz. Então e o trabalho editorial da revista, como fica nessas viagens perguntas? Simples, naquelas em que o objectivo principal é filmar, há todo um trabalho (mais um extra) de garantir que se terá um fotógrafo local para garantir mais uma excelente reportagem para a ONFIRE. Exemplos reais são os da Califórnia (ONFIRE 62) ou, mais recente, Mundaka (ONFIRE 69). Na mais recente viagem que fiz para filmar, com o Jervis and Vagabonds para a República Dominicana, o “pacote” de trabalho permita levar também o nosso fotógrafo da casa, Carlos Pinto, e escusado será dizer que não só foi menos uma dor de cabeça, como me fez ansiar pelo dia em que o mundo seja perfeito e consigamos encaixar a fundamental parelha fotógrafo e camera man em todas as viagens que organizarmos. Porquê? Vê a reportagem dos Vagabonds na República Dominicana – e já agora a dos Açores e EUA - e vais perceber a razão! Se não viajares mentalmente pelas fotos incríveis deste que é, grito-o publicamente, um dos melhores fotógrafos do mundo, então estás cerebralmente morto! _Nuno Bandeira
Um dos mais viciantes trabalhos de fazer uma revista de surf é ver fotos! Sentir aquela sensação de que encontrámos a foto certa para o artigo certo é algo que nos faz correr a adrenalina! E temos a certeza que quando a revista estás nas tuas mãos, também tu ficas totalmente desamparado com o poder de 90% das fotos que aqui vês. Esta, do mestre das lentas da casa ONFIRE, é “apenas” mais um estonteanto exemplo! photo by carlospintophoto.com
O amor (e vício) que um surfista desenvolve por uma praia é algo muito estranho! Estranho ao ponto de, esteja como estiver o mar, é rara a surfada que não gostamos. É como se essa praia fosse um organismo vivo, cheio de vontades próprias e humores vincados, personalidade essa que ou nos dá grandes alegrias ou, para um “local”, raras frustrações. Há até quem vá mais longe e diga que as ondas da “sua” praia são como que comestíveis, daqueles alimentos que mesmo enjoados continuamos a comer. Este é o tipo de relação que João Kopke tem com a praia onde cresceu, Carcavelos, mas é uma relação que traz grandes frutos e o exemplo perfeito dessa relação de sucesso é que lhe garantiu (juntamente com o olho do fotógrafo) mais uma grande dupla de expressão na Xrpession da ONFIRE 70...
photo by Jorge Matreno _17
_ 18
São várias as vezes que nos sentimos uns verdadeiros tansos enquanto nos debruçamos sobre o fecho de uma edição da ONFIRE. Esta foi a foto que nos fez sentir dessa forma neste número pois ficámos a coçar a cabeça sobre porque raio é tão raro um surfista como o Guilherme Fonseca aparecer nas páginas da OF?!? Isto pois este júnior de Peniche tem cada vez mais momentos que merecem a sua presença nesta que consideramos como a mais ilustre revista de surf português (se não nos gabamos, ninguém o faz por nós eheh). photo by Marco Gonçalves
21 _ photo by carlospintophoto.com
Encontrar uma agulha no palheiro não é fácil e, por vezes, é durante essa procura que damos por nós a encontrar pedras preciosas no nosso arquivo. Aí esquecemos o que procurávamos e ficamos a divagar sobre qual a rubrica onde a fotos que encontrámos deve figurar na próxima edição... No caso desta “agulha” de Zé Ferreira a decisão foi fácil pois este abusado slob tinha Xpression escrito por todo o lado!
O homem do norte Sebastião “Cebas” Furtado, já foi há uns anos, na altura um “puto”, um habituée pelas nossas páginas. Infelizmente, nos últimos tempos é raro o dia em que recebemos fotos dele. E mais pena não poderíamos ter pois de uma sessão apenas saiu este shot do homem do norte! É caso para dizer, “temos de rumar mais vezes ao norte, carago!!!”. _ 22 photo by João Pedro Rocha
*Anti-chuva, anti-frio, anti-vento. Jayce Ronbinson com o casaco Control Anti Series!
13 julho 2014 14 julho 2014 15 julho 2014 16 j ul h o 2 014 17 j u l h o 2 014 18 julho 2014 1 9 j u l h o 2 0 1 4 20 j u l h o 2014 21 julho 2014 22 j u lho 2014 23 j u l h o 2014 24 j u l h o 2014 25 julho 2014 26 julho 2014 27 julho 2014 28 julho 2014 29 j u l h o 2014 30 j u lho 2014 31 j u l h o 2014 1 a g o s t o 2 0 1 4 2 a g o s t o 2 0 1 4 0 3 a g o s t o 2 0 1 4 04 agosto 2014 05 agosto 2014 06 agosto 2 014 07 agosto 2014 08 a g o s to 2014 09 agosto 2014 10 agosto 2014 11 agosto 2014 12 ago sto 2014 13 agosto 2014 4 a g o s t o 2 0 1 4 15 agosto 2 014 16 ago s to 2014 17 agosto 2014 18 agosto 2014 19 agosto 2014 20 ago sto 2014 21 agosto 2014 2 a g o s t o 2 0 1 4 23 agosto 2014 24 agosto 2014 25 agosto 2014 2 6 ago s to 2014 27 ago sto 2014 28 agosto 2014 29 agosto 2 014 30 agosto 2014 31 agosto 2014 01 setembro 2 0 1 4 02 setem b ro 2014 03 setembro 2014 04 setembro 2014 0 5 se te m b ro 2014 06 setembro 2014 07 setem b ro 2014 0 8 s e te m b ro 2 0 1 4 09 setembro 2014 10 setem b ro 2 014 1 1 s e te m b ro 2 0 1 4 12 setembro 2014 13 setembro 2014 14 setembro 2014 1 5 se te m b ro 2014 16 setemb ro 2014 1 7 s e te m b ro 2 0 1 4 18 setembro 2014 19 setembro 2014 20 setembro 2014 21 setem b ro 2014 2 2 s e te m b ro 2 0 1 4 2 3 se te m b ro 2014 24 setembro 2014 2 5 s e te m b ro 2 0 1 4 2 6 s e te m b ro 2 0 1 4 27 setembro 2014 28 setem b ro 2014 2 9 se te m b ro 2014 3 0 se te m b ro 2014 0 1 o u t u b ro 2 0 1 4 02 outu b ro 2014 03 outubro 2014 04 outubro 2014 05 outubro 2014 06 outubro 2014 07 outubro 2014 08 outubro 2014 09 o u t u b ro 2014 1 0 o u t u b ro 2 0 1 4 1 o u t u b r o 2 0 1 4 12 outub ro 2014 13 outubro 2014
_ 20:22 _ 06:44 _ 08:08 _ 08:21 _ 08:07 _ 08:55 _ 23:58 _ 23:40 _ 23:20 _ 21:06 _ 20:33 _ 18:05 _ 17:50 _ 12:44 _ 20:11 _ 11:30 _ 22:42 _ 22:00 _ 07:16 _ 16:33 _ 11:33 _ 23:40 _ 23:40 _ 22:03 _ 12:13 _ 17:19 _ 10:57 _ 10:33 _ 20:20 _ 18:49 _ 16:15 _ 15:18 _ 13:16 _ 13:16 _ 01:02 _ 01:56 _ 05:46 _ 23:40 _ 22:03 _ 12:13 _ 17:19 _ 20:07 _ 21:08 _ 23:57 _ 08:34 _ 07:27 _ 01:59 _ 05:03 _ 05:05 _ 17:12 _ 19:48 _ 10:20 _ 07:32 _ 04:50 _ 04:28 _ 04:11 _ 04:09 _ 16:35 _ 12:00 _ 12:09 _ 13:40 _ 23:50 _ 23:56 _ 20:38 _ 15:18 _ 06:42 _ 02:40 _ 04:51 _ 07:46 _ 04:26 _ 12:44 _ 10:38 _ 10:27 _ 10:57 _ 10:00 _ 09:32 _ 09:01 _ 21:20 _ 21:15 _ 15:57 _ 22:30 _ 11:24 _ 19:21 _ 05:08 _ 07:40 _ 17:00 _ 00:17 _ 00:38 _ 06:50 _ 11:13 _ 14:57 _ 08:15 _ 14:50
Dia 1 de Setembro chegou ao fim a penúltima etapa do circuito feminino de surf, o Miss Sumol Cup, realizado em Aveiro. Ao chegar à final Teresa Bonvalot sagrou-se pela primeira vez campeã da Liga MOCHE. Para confirmar o seu valor Teresa venceu também a etapa, seguida de Camila Kemp, Ana Sarmento e Carol Henriques.
Dia 6 de Setembro terminava o Sata Azores Pro com a vitória do brasileiro Jesse Mendes. Esta etapa Prime realizada na Praia de Santa Barbara, São Miguel, Açores, contou com a presença de 7 surfistas portugueses entre os quais se destacaram Vasco Ribeiro, que terminou em 9º lugar e Frederico Morais (17º). photo by carlospintophoto.com
Dia 13 de Setembro Frederico Morais terminava a Liga MOCHE com a “chave de ouro”, uma vitória no Montepio Cascais Pro, última etapa do circuito, realizada na Praia do Guincho. Já o título ficava com Vasco Ribeiro, que tinha garantido o seu terceiro título ao chegar à final da etapa. A prova feminina seria vencida por Carina Duarte. photo by carlospintophoto.com
Foi no dia 27 de Setembro que Vasco Ribeiro conseguiu um título inédito na sua carreira, o de campeão Europeu Pro Junior. Além de Vasco apenas Tiago Pires tinha conseguido este importante título, no ano de 1999. Em grande destaque nesta prova esteve Miguel Blanco, que eliminou o último candidato ao título e avançou até à final do Franito Pro Junior, onde terminou em segundo lugar atrás do inglês Luke Dillan. Teresa Bonvalot também deu que falar neste circuito, terminando a etapa em 3º lugar, o mesmo lugar que ficou a ocupar no ranking.
26_
texto by Ricardo Vieira ricardovieira30@gmail.com
[
]
Então, o miúdo ficava ali dois, três minutos, a ver-nos e depois corria de volta a casa, antes do pai acordar. Sempre que perguntávamos se queria experimentar apanhar umas ondas, negava, com medo de se magoar e não conseguir esconder o “publema” do pai, como ele dizia. Mas no meio daquela ginga toda, lá admitia que gostava de ter uma prancha, nem que fosse de papel. Dizia que o papel também flutuava e que se o pai visse não passava disso, de papel, que até se podia esconder na rua. Tive dificuldade em perceber a lógica, mas o corpo marcado era o dele, o corpo quase sem calças mas sempre com cinto era o dele, e essa lógica bastava-me. Muitas vezes fomos tentados a deixar-lhe uma das nossas pranchas, mas ele recusava num medo crescente, como se lhe estivéssemos a pedir que saltasse para um mar infestado de tubarões. Tive medo de ser responsável por uma morte estúpida e as pranchas seguiram sempre connosco na viagem de volta. Rezei muito por ele, pedia a Deus protecção e uma “prancha de papel” no futuro do “Luzinha”. Como acontece com muitas pessoas que conhecemos em viagem, inevitavelmente,
O DIA COMEÇA a clarear enquanto avançamos pelo complexo da maré, um conjunto de favelas a norte do Rio de Janeiro. O posto da polícia militar permanece de luzes apagadas para não ser um alvo fácil dos tiros dos traficantes, os famosos donos das “bocas de fumo”. O policial de serviço, sentado numa cadeira na varanda, com uma metralhadora a descansar ao colo, quase indistinto nos contornos, levanta a mão num aceno lento e perigoso, deixando perceber um pirilampo na noite, a ponta luminosa de um cigarro que pode sempre ser o último. É muito fácil deixar de fumar nesta zona. Sabe que passamos em paz; os três rapazes com duas pranchas de surf não deixam espaço para dúvidas. Somos dois portugueses mais o “Luzinha”, um garoto de favela que nos serve de guia sem esperar nada em troca a não ser vernos a fazer surf por uns minutos, antes de iniciar
o trajecto de volta para ajudar o pai na “venda”, pequena mercearia ambulante montada na beira da estrada, à espera que o mundo acabe. O Luzinha é pobre e humilde. Muito humilde e pobre demais, daquelas histórias que não passam para o cinema porque ninguém ia acreditar. Oito anos de vida e o corpo já muito sofrido; sorridente explicou-nos uma facada na barriga, mostrou-nos a entrada e a saída de uma bala apressada no ombro, mas nada nos disse acerca das inúmeras marcas que nos pareceram de cigarro pelo corpo todo. Garantia-nos o salvo conduto por toda aquela zona pelo segundo ano, ajudava-nos a chegar ao surf, sem nunca o ter experimentado. O pai não deixava, nem podia sonhar o rapaz ali àquela hora. Patrocinado pela cerveja Brahma, gostava de usar o cinto de forma generosa em toda a família, pelo que percebi.
acabámos por perder o contacto e seguir as nossas vidas cá e quase vidas lá.
photo by Hugo Valente
Entrei numa papelaria a semana passada para comprar uma revista americana de motas.Peguei nela e reparei numa outra de surf, brasileira, no expositor ao lado. Chamou-me a atenção uma pequena foto na capa de três miúdos num pódio improvisado com o título “Campeonato de Surf Complexo da Maré”. Peguei nela e fui procurar o artigo. Página 23... Abri e confirmei o que senti...um dos miúdos era o Luzinha. Dez anos depois, num pódio de um campeonato de surf. Troféu numa mão e prancha de surf noutra mão. Um autocolante do patrocinador na prancha chamou a minha atenção; “Suzano Papel”. Em casa pesquisei na internet. Era uma empresa transformadora de... papel. Apesar de ser feita de fibra de vidro como as pranchas dos profissionais de calibre, a prancha do Luzinha era na verdade a “prancha de papel” com que ele tanto sonhou na infância.
Esta prancha não é de papel e este miúdo está num continente totalmente oposto do Luzinha mas algo nos diz que têm um amor em comum: o do surf...
“E tudo o que pedirdes, na oração, crendo, o receberás.” Deus não existe? RV_
28 _
texto by O N FIRE photos by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m
A carreira de Vasco Ribeiro tem sido de constante ascensão. Desde muito novo o surfista de S. João do Estoril conseguiu provar que tinha potencial de se tornar num dos melhores do mundo, com resultados competitivos a condizer com as expectativas. Em 2013 encontrou alguns obstáculos mas este ano voltou com força para conseguir resultados inéditos na sua carreira. A ONFIRE falou um pouco com ele pouco depois de se sagrar campeão Europeu Pro Junior e ficou a saber um pouco mais sobre a fase que atravessa e o que espera do futuro.
35 |
........................................................................................
Vasco Ribeiro não vai muitas vezes aos Coxos, mas quando vai apresenta surf do mais dinâmico que a baía já viu.
A disputa pelo título da Liga MOCHE foi uma das mais apertadas dos últimos anos, fala-nos do dia da decisão... EU sabia que tinha que estar o mais preparado possível para disputar o título com o (Frederico Morais) Kikas. As coisas correram bem, tivemos altas ondas no campeonato todo e foi muito renhido. Tinha que chegar à final e foi nisso que eu me foquei e consegui. Este título tem muito valor porque a Liga tem um nível muito alto. É óptimo competir a nível internacional e voltar a casa e continuar a ter este nível para manter o ritmo e continuar a evoluir nos campeonatos. Acho que é muito importante para quem compete no WQS. Fiquei contente por ter conseguido este título e o objectivo agora é passar os quatro títulos do Ruben Gonzalez. Qual foi o momento mais importante do ano para ti na Liga MOCHE? O meu momento de viragem na Liga foi a final em Ribeira D’Ilhas. Eu estava a sentir-me super bem antes disso mas não estava a conseguir impor o meu surf, as coisas não estavam a acontecer. Não comecei muito bem a final e até estava a precisar de uma combinação mas depois consegui apanhar duas ondas e fazer o meu surf por isso fiquei muito contente por ter ganho, especialmente por ter tido um 10 e um 9 e tal. Houve mais heats que me marcaram, mas esse mais que os outros. Depois seguiste para a as Canárias para competir no Pro Junior. Chegaste numa excelente posição mas acabaste por não conseguir um bom resultado. Fala-nos desse última campeonato! A onda onde se realizou a última etapa do Pro Junior é boa mas quando está pequeno, como estava no dia em que perdi, é muito difícil escolher bem. É um point break e as ondas parecem todas ser boas e acabam por não ser. No meu heat do round de 16 optei por apanhar muitas ondas para estar mais activo mas acabou por não correr bem pois não apanhei as boas e perdi. Foi uma das derrotas mais duras da minha carreira mas esqueci-a logo por causa do que se seguiu.
Achaste que estava tudo perdido? Tinha uma noção do que tinha que acontecer depois de perder naquela fase pois o meu manager tinha-me mandado uma mensagem a dizer que nada estava perdido. Tudo era possível, especialmente naquela onda pois não depende só de nós mas não liguei muito. Fui para casa e depois segui para a praia com a minha namorada, onde estive a tarde toda sem telemóvel. Nem sequer sabia que ia haver campeonato nessa tarde, achei que eles não iam fazer, mas quando cheguei estava tudo em festa, tinha imensas mensagens no telefone e no facebook pois o mais difícil tinha acontecido, eles tinha perdido todos nos quartos de final. Na altura nem estava a acreditar, fiquei uns 5 ou 10 minutos para realizar pois nem parecia real. Fiquei muito contente, era uma coisa pela qual já estava a lutar há três anos e felizmente consegui no meu último ano como júnior. Este ano o título mundial júnior vai ser disputado em Portugal, quais são as tuas expectativas? O meu único objectivo para o World Juniors é ganhar! Vai ser realizado em Ribeira D’Ilhas que é uma das ondas em que o meu surf melhor se encaixa em Portugal. Tenho surfado lá imenso e sinto-me bem, faço sempre ondas boas e acho que tenho uma grande sintonia com aquela praia. Mas não quero pensar muito, se tenho vantagens ou não, vou entrar na água como se entrasse para um heat da Liga MOCHE, dar o meu melhor e logo se vê, mas o objectivo final é esse. O ano de 2013, e apesar de teres tido alguns bons momentos, foi muito abaixo do que nos tinhas habituado em termos de resultados. Foi algo que colocou em causa a tua motivação? Não. Realmente foi um ano mau mas acho que fez parte do meu crescimento como surfista. As derrotas fazem parte das nossas carreiras e penso que absorvi bem o que tinha para aprender com elas. Quanto muito ainda fiquei mais motivado para continuar a trabalhar e evoluir.
.......................................................................................................................... Se começasses a tua surfada com esta manobra voltavas ao pico? | 36
39 | “Libertar” o tail sempre foi uma das características mais visíveis do surf de Vasco Ribeiro ................................................................................................................................
Este ano ficaste sem patrocínio principal pela primeira vez na tua carreira, era algo que estavas à espera? Eu já sabia há algum tempo que poderia sair da Quiksilver. Ouvia-se muito que iria haver uma redução grande no team mas simplesmente continuei a fazer o meu surf. Depois acabou por acontecer mas acho que até me deu mais força pois daí para a frente tenho tido os meus melhores resultados do ano e não é por não ter auto-colante na prancha que fiquei com menos motivação. Nesta temporada não tiveste acesso às etapas Prime da primeira metade do ano, fala-nos do teu percurso no WQS. Foi complicado inicialmente porque consegui um resultado bom na Austrália mas os outros campeonatos não me correram bem e eu não tive pontos para fazer os Primes. Estive mais de metade do ano ali perto do 100º lugar, estava perto mas não dava para entrar. Graças ao wildcard que recebi para competir na etapa dos Açores consegui tirar um bom resultado o que me deixou dentro do top50 e seguro para competir no Havai. Foi um passo super importante na minha carreira portanto a partir de agora tudo é possível. No passado pensou-se que tua escoliose poderia ameaçar a tua carreira, em que ponto está essa situação agora? Está controlada. Tenho trabalhado com o Gonçalo Saldanha no sentido de me manter em forma e não tenho problemas com a minha coluna.
Há quem ache que o teu estilo de surf foi moldado por esse desvio na coluna, sentes que te dá uma “pisada” diferente para melhor? Não sei, aprendi a surfar assim, é assim que estou habituado. Para mim é como se estivesse direito, claro que às vezes vejo as minhas filmagens e percebo que realmente estou um bocado torto, mas desde que consiga surfar não me posso queixar. Para terminar, sabemos que vais ser pai em breve, conta-nos como te sentes perante essa nova etapa na tua vida... Não era uma coisa planeada, mas aconteceu e estou muito contente com isso. Sinceramente tem-me dado muita força. Já sei disto há algum tempo e tanto eu como a minha namorada estamos a apoiar-nos muito um ao outro. Ela sabe que eu tenho de me focar no surf e que não estou muito tempo cá mas todo o tempo que eu estiver será dedicado ao surf, treinos e ao meu filho ou filha e família. Não é de maneira nenhuma uma coisa má, tenho estado muito calminho hoje em dia, feliz e sei que tenho uma família que me apoia imenso. Sinto-me bem com o meu surf e a minha vida pessoal e acho que tenho tudo para tudo resultar bem e continuar o meu trabalho. OF_
.................................................................................................................................................................................................. | 40
Cores inacreditáveis é o que não falta na República Dominicana. A natureza é por si de um verde inacreditável, o céu de sonho e as nuvens… o que dizer das nuvens, excepto que serão provavelmente as mais incríveis que verás! A cor está nas pessoas e em tudo o que estas tocam!… E o sorriso e simpatia dos locais esbanja uma cor muito própria!… E o mar… como descrevê-lo? Um postal paradisíaco! Palmeiras, água quente e, ondas! A República Dominicana, ou República das Cores, foi o destino para onde os quatro finalistas do Jervis and Vagabonds, um evento de vídeo online, foram passar uma semana de luxo. Quatro dias de surf e dois dias de aventuras por montanhas e rios foi o que Tomás Valente, Pedro Boonman, João Guedes e Alex Botelho, juntamente com Jervis, viveram para nunca mais esquecerem!
texto e legendas by ONFIRE photos by carlospintophoto.com
os
“Vagabundos” dejervis
naRepúblicadasCores
Com as luzes apagadas e a noite no exterior, duzentas pessoas gritavam de excitação, batiam palmas desenfreadamente como se lhes tivesse saído o euro-milhões. E quando tudo parecia estar a acalmar, uma nova voz fazia ouvir a sua alegria o que novamente contagiava as 200 pessoas à sua volta para nova salva de “tiros” emocionais. Cinco pessoas estavam com cara de espanto, e durante os primeiro segundos tentaram combater a contaminação dessa alegria… Até que se tornou impossível, e não foi preciso muito para Tomás Valente, Pedro Boonman, Alex Botelho e João Guedes, os quatro finalistas de Jervis and Vagabonds na República Dominicana, assim como Filipe Jervis, vibraram como nunca o tinha feito na vida só por um avião estar a chegar ao seu destino. E convém referir que qualquer um destes “meninos” já viajou o equivalente a umas quantas voltas ao mundo e já conhece praticamente os quatro cantos do nosso planeta. E nunca, mas nunca, nenhum deles tinha presenciado uma festa como a que viveram dentro do avião quando este aterrou nesta ilha do Caribe! Bem-vindos à República Dominicana! Recebidos que nem reis “Recebidos que nem reis.”, comentava Tomás Valente quando se viu a passar pela área diplomática do Aeroporto Internacional de Las Americas em Santo Domingo. Este foi o primeiro privilégio in loco que Jervis e os seus “Vagabundos” sentiram, e talvez o primeiro momento em que perceberam que esta seria uma viagem muito diferente da forma como geralmente viajam para surfar. De referir que o primeiro grande privilégio que todos os Vagabonds sentiram foi o facto de saberem que se chegassem às fases finais deste inédito concurso de vídeo online em Portugal, teriam uma viagem para a República Dominicana com tudo pago para surfar, filmar, fotografar e explorar um pouco um destino totalmente novo nos seus roteiros. Longe de ser, nos dias de hoje, um destino de surf comum, viva-se aquela expectativa do que esperar. O algarvio Botelho tinha feito o “trabalho de casa” e durante as 9h de avião deixou
todos ainda mais excitados quando partilhou que iríamos ter ondas devido a um furacão que se tinha formado a norte do Atlântico. Olhando para o mapa, o que não falta em toda a Dominicana, que tem uma costa que é sensivelmente do mesmo tamanho que a nossa, são baías, pelo que a possibilidade de encontrar bons picos parecia ser mais que muita. Mas antes de nos dirigimos à costa norte, para a zona de Cabarete, tínhamos uma primeira noite na costa virada para o mar do Caribe, uma costa que segundo viemos a saber tem das melhores ondas da ilha mas que necessita de um raro swell de sul para funcionar.
| 46 _ Cerca de 15 minutos para norte de Cabarete, uma zona de hotéis de sonho na costa norte da República Dominicana, fica este beach break que é um semi secret spot - a indicação mais “fácil” é que fica numa estrada de terra e o pico é onde estão as três palmeiras (nota: o que não falta na República Dominicana são palmeiras com fartura…). Foi neste que Jervis e os restantes Vagabons apanharam as maiores ondas da viagem, e que variam entre rampas divertidas, paredes para o power surf e, eventualmente, uns tubos. Filipe Jervis aproveitou toda essa sessão para voar ainda mais alto que o normal!
Pru, Pri, a Presidente e o picante dominicano À nossa espera à saída do aeroporto estavam as duas pessoas do Ministério do Turismo da República Dominicana que nos iriam acompanhar nesta aventura durante uma semana. Pru, o nosso guia, e Pri, o nosso motorista, não os seus nomes mas diminutivos com que eles alegremente se apresentaram. É uma das característica vincadas dos dominicanos, a boa disposição com tudo! Enquanto rumávamos ao hotel, Pru começava o discurso que já deve ter dado a milhares de pessoas, onde nos forneceu as primeiras de muitos informações sobre a Dominicana. Apesar de cansados, a excitação de estar num novo sítio fazia com que todos tivesse os sentidos em alerta mas, honestamente, nenhum estava mais activo que a fome. Directos do aeroporto para um restaurante local na zona histórica de Santo Domingo, foi aí que a maioria - excepto dois viciados em bifes com batatas fritas - optou por um prato recomendado por Pru, um borrego desfiado envolto em muito molho e especiarias. Se houve algo que ninguém recusou foi experimentar a cerveja local, a Presidente! Gelada ao ponto da garrafa ter gelo, foi unânime que era uma das melhores cervejas que tínhamos provado e o ritual de beber uma Presidente ao fim do dia rapidamente se instaurou como obrigatório! Pru e Pri tinham pouco ou nenhum contacto com surf e surfistas, e apesar de acompanharem muitas vezes grupos de finalistas onde reina sempre muita festa e loucura, estes nossos dois amigos não estavam certamente preparadas para a loucura surfística… Mas é como muitas vezes se diz, mais vale mostrar logo o que se é para não haver mais surpresas e temos de admitir que as duas primeiras jantaradas foram duras, ou estranhas, para a dupla dominicana. Uma das “iguarias” era um potente picante para colocar na comida. João Guedes e o fotógrafo Carlos Pinto, ambos fãs incondicionais de picante, foram altamente moderados na quantidade de picante que colocavam em cada garfada dos deliciosos “croquetes” de caranguejo e carne, tal como Pru, que habituado à potência desse molho, advertiu várias vezes para não se colocar muito. Entretanto Pru recebeu uma chamada telefónica, a primeira de muitas que receberia a toda
a hora e em qualquer lugar como viemos a perceber ao longos dos dias, e no meio do que era supostamente uma conversa de trabalho, afirmava espantado para a pessoa do outro lado da linha: “Ele... Ele, meteu uma colher de sopa de picante na boca!!!”. É que enquanto Pru falava ao telefone, alguém se lembrou de apostar 100 euros em como ninguém conseguia comer uma colher de sopa daquele picante. Boonman é aquele tipo de pessoa que adora desafios e quando enfiou a colher de uma só vez na boa, a mesa parou... Não foram precisos muito segundos para Boonman emborcar todas as Presidentes a que conseguiu alcançar, pedir água e “pan”, muito “pan”, muita água, toda aquela que conseguisse beber! Não foram precisos mais de cinco minutos para suar que nem um animal e ficar mais vermelho que um tomate, e não foram precisos mais de 10 minutos para sentir que queria vomitar, ao mesmo tempo que começava a cambalear para cima da mesa. Uma colher de picante ultra potente com jet lag é receita perfeita para cair redondo e dormir! Se ao início a risada foi geral, menos para Pru que olhava incrédulo para o “maluco”, dois minutos depois da colherada, o grupo estava em modo ajuda. “Bebe isto, bebe aquilo, come pão, mete azeite, faz “a”, “b” e “c”...” Mas pouco mais havia a fazer do que ver Boonman sofrer e eventualmente dormir enquanto todos acabam calmamente de jantar com um zombie em cima da mesa... todos excepto Pru, que deve ter tido um bom choque cultural.
_ 49 | O pointbreak de esquerda foi o pico mais surfado pelos Vagabonds. Este tinha uma secção perfeita para voar mas muitas vezes tinha também uma secção óptima para crava o rail e dar-lhe um toque extra! João Guedes, o mais experiente surfista da viagem, mostrou como executar estes power carves na perfeição!
Santo Domingo Depois de uma primeira noite de luxo num hotel de luxo, o dia começou com uma visita pela zona histórica da cidade e que remonta ao tempo de Cristovão Colombo.Sendo uma viagem organizada pelo Turismo da República Dominica havia um programa, flexível consoante o surf, a cumprir mas há viagens em que tudo borre bem e esta foi uma delas! O swell decidiu entrar exactamente nos dias em que estaríamos em Cabarete, desaparecendo nos dias em que mudaríamos novamente de poiso para as montanhas e aventuras em água doce... mas já lá vamos. Fortes e fortalezas, ruínas de prisões, o panteão nacional... e ruas, simples ruas mas absolutamente incríveis onde se mistura o antigo com o recente mas onde a arquitetura dos dias de hoje é simples e inundada de cor, muita cor, viva, forte e alegre! O facto desta zona de Santo Domingo estar numa total revolução por se estarem a passar todos os cabos telefónicos para debaixo da terra, havendo várias ruas completamente condicionadas com gigantescas “trincheiras”, ainda fez desta zona algo mais surreal! Uma rua moderna destacase de todas as outras, pois as casas alinham-se como as cores do arco-íris numa pequena encosta... um cenário perfeito para um filme de Hollywood, e que neste caso foi “só” um dos cenários de “O Padrinho II”, um dos mais conceituados filmes dos anos 70 e que tem Robert de Niro como principal personagem. A Costa Norte e o Surf Foi hora de arrancar para a costa norte, e foi nessa altura que descobrimos que o tempo para os Dominicanos é um “pouco” diferente do resto do mundo. “Quantas horas até Cabarete?”, perguntámos enquanto nos acomodávamos no autocarro que o Turismo da República Dominicana tinha disponibilizado. “Três horas.”, disse-nos Pru. Quatro horas mais tarde, durante uma paragem no cume de um dos pontos mais alto da ilha e que tem uma vista absolutamente inacreditável, perguntámos novamente... “Uma hora mais... uma hora dominicana.”, disse-nos a rir. Tempo dominicano... um conceito novo e que se um dia lá fores, e acredita que devias ir, vai
ter de aprender. Triplica ou quadruplica o tempo que um dominicano te disse, sempre a rir, e obterás o tempo real! A zona de Cabarete é a típica zona turística, muito como o Algarve mas com a diferença que estamos num país tropical. Hotéis plantados em cima da areia e onde podes ir a pé pela praia até à zona onde tens aquele que será provavelmente um dos melhores restaurantes da ilha – o Papi – e que fica mesmo ao lado da zona de bares para quem quiser ter uma noite com muita diversão. O terceiro dia era o primeiro dia de swell e nessa manhã sabíamos já que a 10 minutos para oeste – em Encuentro - ficava uma zona onde várias escolas de surf existiam, logo o sítio mais perto com algum potencial de surf. Debaixo das palmeiras estão várias surf schools, todas construídas em madeira pelo meio das árvores, quase como que pequenas casas de madeira em cima de árvores, daquelas que sempre sonhámos em ter na nossa infância. O pico principal era perfeito para aprender a fazer surf e eram vários os locais e estrangeiros na água. Um pouco mais para oeste havia uma baía onde parecia que quebrava uma esquerda fun. Foi ali que decidimos investigar a possibilidade de uma primeira surfada, não só para fugir ao (pouco) crowd mas também por parecer a onda com mais potencial. | 50 _
O mais silencioso e puro surfista do grupo, Alex Botelho, era também o mais calmo dentro de água, esperando as suas ondas com a tranqüilidade que faz parte da sua natureza. Mas quando apanhava uma onda, fosse onde fosse, assumia um modo destruição, e litradas de água no ar ou tails a voar passavam a ser a sua forma de expressão explosiva e que tanto contrastava com a sua calma natural! _ 53 |
Uma caminhada, ou corrida, pela quente areia e os Vagabonds e Jervis sentiam pela primeira vez as ondas Dominicanas. A esquerda com meio metro sólido, e alguns sets maiores, tinha uma secção perfeita para voar. As que não davam essa secção eram boas para encaixar curvas de rail. A esquerda é curta e rebenta em cima de um reef break, e termina numa baía cravejada de palmeiras e sem (quase) ninguém... No horizonte, as nuvens que pareciam crescer verticalmente ajudavam a dar um toque especial a cada foto ou filmagem que se fazia. Foi a primeira experiência surfistica e todos saíram mais do que satisfeitos com este “achado”. Não são assim tantas as vezes que a maiorias destes surfistas viaja para um destino desconhecido à procura de surf. Geralmente optam por picos mais conhecidos e onde garantem a certeza de surf. E foi por isso que esta viagem teve um lado completamente diferente, por ser um sítio pouco documentado a nível de surf e onde se assume um papel de “descobridor”. Havia aquela sensação de que a qualquer momento se descobriria um pico novo com uma onda de classe mundial, mas
essa é aquela sensação, ou esperança, que se tem sempre que se vai para um sítio novo, nem que seja para o deserto! Durante esse primeiro dia este pico foi surfado à exaustão, afinal já todos ressacavam os dois dias sem surf. E nada soube melhor do que regressar ao hotel para abrir uma gelada Presidente e celebrar a perfeição Dominicana. Fosse qual fosse o resultado final de Jervis and Vagabonds, afinal convinha lembrar que havia também um objectivo – produzir boas ondas para as meais finais e final do evento – os quatro finalistas sentiam já que tinham ganho! Caixinha de surpresas! O nosso segundo jantar dominicano foi uma nova prova de fogo para Pru, e é aqui que temos de abrir um bom “espaço” de antena para o sexto elemento da viagem, o Rodrigo. Esta grande “caixinha de surpresas” foi o vencedor do concurso que a Sumol, um dos parceiros de Jervis and Vagabonds na República Dominicana, organizou e que oferecia a possibilidade de um português acompanhar, com tudo pago, os Vagabonds até à Dominicana. Dançarino, DJ, mestre da patinagem, modelo, não há nada que este jovem do norte com um cabelo que o distingue de qualquer pessoa não faça. Rapidamente chegámos a uma conclusão: não poderia ter havido pessoa melhor para o grupo. A sua integração, principalmente tendo em conta que não só não fazia surf como não sabia nadar, foi imediata e acabou por se tornar quase que um animador privado do nosso grupo. Aliás, os próprios animadores do hotel queriam que ele ficasse no hotel como animador isto pois o Rodrigo decidiu entrar no concurso do hotel, que oferecia uma garrafa de rum local a quem conseguisse mostrar os seus dotes mais artísticos. “O meu nome é Rodrigo e sou solteiro”, foi como se apresentou para todos os que assistiam, deixando a plateia logo de sorriso na boca para, 5 segundos depois, trocarem o sorriso por um queixo caído... A plateia, e nós, ficou boquiaberta quando viu o Rodrigo a dar piruetas, mortais, espargatas... Esta era a nossa primeira noite em Cabarete e nesta altura ainda pouco sabíamos das capacidades deste que será sem dúvida um grande artista no futuro (seja em que área for).
Mas voltando ao jantar... bom, há coisas que convêm ficar para sempre no sítio onde elas aconteceram mas digamos que o Rodrigo inventou um novo prato local, uma espécie de empadão de massa... nada que muitos não tenham já feito... E foi depois desse jantar que o Rodrigo ainda deu o seu show, e escusado será dizer que foi depois desse que tivemos de saber mais sobre os seus dotes. Descobrimos que de tanto treinar patinagem acabou por lhe crescer uma espécie de terceira perna no joelho, “como se fosse um couto e que tive de operar para tirar”, disse-nos, para minutos depois ficarmos novamente de boca aberta quando nos contou que, também devido ao treino de 10 horas de patinagem por dia, lhe “cresceu uma bola no cotovelo que o médico disse que caso não parasse de crescer poderia ter de lhe amputar o braço!”. Duas histórias no meio de muitas incríveis principalmente se tivermos em conta que o Rodrigo tem pouco mais de 20 anos. As três palmeiras O nosso segundo dia em Cabarete era aquele em que o swell seria o maior, e no dia anterior tinhamnos dado indicações de um beach break que dava boas ondas mas que era um semi-secret spot.Vão na direcção leste e numa estrada de terra, junto a três palmeiras, é o pico. Pru (e Pri) pouco percebiam de surf e ainda hoje nos questionamos de como conseguiram encontrar esse pico. Perguntaram a meio mundo e lá foram desbravando caminho, e quando pensávamos que já estávamos perdidos lá descobrimos as famosas três palmeiras. A sensação de ver, ao primeiro deslumbre do mar, ondas de um metro perfeitas e com pouco crowd num sítio totalmente novo é uma das melhores do mundo para qualquer surfista, e não foram necessários nem 20 segundos para Boonman, Jervis e Alex estarem na água. Já Tomás Valente e Guedes foram mais calmos, 40 segundos em vez de 20, e foram três horas de surf intenso. Foi aqui que tivemos uma boa noção da qualidade dos locais e nesse dia havia uma boa meia dúzia de surfistas com um bom nível na água, confirmando que a Dominicana é um destino de surf. Brian, um jovel local de 15 anos, foi nos apontado como o melhor da nova geração da ilha e não nos surpreenderá se daqui a poucos anos começar a aparecer ao mundo.
Vivíamos a vida de sonho, acordávamos num hotel de luxo, tomávamos o pequeno-almoço bem cedo e íamos surfar água quente e ondas perfeitas a 10 minutos do nosso “poiso”. Voltávamos para almoçar qualquer coisa rápida e, ainda de sobremesa na boca, arrancávamos novamente para mais uma surfada. Pru e Pri já estavam no esquema do surf e tornaram-se verdadeiros companheiro de viagem. Pru, mais à vontade, e Pri, mais tímido, partilharam um pouco das suas vidas nas muitas horas que passávamos no autocarro no caminho para vermos algumas das mais bonitas paisagens que já vimos ou para as nossas aventuras em água doce.
| 54 _ Pedro Boonman é um expert em aéreo mas que cada vez mais explora os pormenores do carve! A perfeição Dominicana foi mais um excelente laboratório (tropical) para soltar o seu power surf!
_ 57 |
O terceiro dia de surf foi muito parecido com o primeiro, e o pico escolhido foi novamente a esquerda, de manhã até à noite. Tivemos ainda a possibilidade de ver o efeito paraíso num casal apaixonado que trocava carícias na baía deserta onde quebrava a esquerda. Não fosse um grupo de “Vagabonds” ter feito dessa baía sua devido à onda fun que ali rebentava, e esse jovem casal teria tido essa baía e os amorosos momentos que ali viveram para sempre nas suas mentes. Agora, além desses momentos, ficarão também com o momento flagrante marado, o que com certeza lhe dará para umas boas gargalhadas na velhice. A possibilidade de surf na manhã do quarto dia era remota mas mesmo assim o grupo decidiu arriscar. A noite anterior tinha sido a eleita para ter um conhecimento na noite local e acordar no dia seguinte não seria teoricamente fácil. Muitos acusaram a noite dizendo que ficariam a dormir mas eram 9 da manhã e o autocarro estava cheio e pronto para a última surfada. Infelizmente o swell tinha desaparecido e a solução foi uma das mais divertidas sessões da viagem... de paddle. Chegava a hora de mudar de hotel e as montanhas e novas aventuras esperavam os Vagabonds. O trabalho estava feito – restava escolher as melhores ondas de cada um para irem depois a voto no site jervisandvagabonds.com e para se encontrar então o grande “Vagabundo” de 2014 – e era agora tempo de relaxar de outra forma durante dois dias. Duas horas dominicanas depois (quatro horas para o resto do mundo), e chegávamos a um estonteante hotel no meio das montanhas, todo ele perfeitamente integrado na natureza e por onde passava um rio. Mais uma paisagem de sonho e que se juntava a dezenas de muitas outras que fomos vivendo durante a nossa estadia – como a subida de teleférico e onde Boonman fez questão de ir sentado ou em modo paralisado para grande alegria e diversão de quem ia dentro desse “engenho”. Essa noite foi tempo de recarregar energias pois no dia seguinte esperava-nos uma bela sessão de rafting!
Aventuras em Água Doce O primeiro contacto dos Vagabonds com a água doce já tinha acontecido uns dias antes quando entre duas surfadas fomos visitar os 27 Charcos. Pensávamos que íamos ver umas lagoas e, tendo em conta que até havia umas ondas, se o moral não ficou baixo foi porque nessa tarde o onshore entrou bem forte. Quando chegámos ao destino começámos a ver umas filmagens do que nos esperava e o excitamento explodiu! Afinal não íamos ver lagoas nenhumas mais sim equipar-nos de capacete e colete salvavidas, mais um sapatos especiais que deram uma pinta muito própria a cada membro do grupo, para nos aventurarmos por caminhos no meio de rochas, grutas e pequenas e grandes piscinas naturais. Eram 27 os charcos em que nos podíamos aventurar mas acabámos por só conhecer sete pois os restantes 20 não tinham água suficiente. Quando nos deparámos com o primeiro percebemos que íamos ter diversão à grande... Depois de nadarmos em água fria uns bons 20 metros – a primeira água fria que sentíamos em muito tempo – tivemos de subir por escadas e cordas as rochas para passar ao “nível 2”. Dois dominicanos ajudavam nas partes em que não havia escadas ou cordas, ajudando-nos a subir empurrando-nos como se fossemos penas. Pensámos que iam borregar quando tivessem de ajudar o Botelho, na altura já apelidado de Adónis dentro do grupo, mas para eles o algarvio não era mais do que uma pena um pouco maior e mais pesada. Em ravinas cheias de água os Vagabonds berravam de excitamento, contaminando a fauna marinha que nesses charcos pudesse haver com adrenalina no seu estado mais puro. Depois de subir e conhecer os sete charcos, foi tempo de voltar para trás... E o caminho seria o mesmo mas a descida para cada charco não seria feito com cordas... Escorregas naturais nas rochas ou, o melhor, saltos para a água! Foi a loucura total e o momento alto foi no salto de quatro metros quando o wonder boy Rodrigo decidiu saltar e dar duas piruetas e meia sem avisar ninguém! A sua cabeça, ou capacete, passou dois centímetros
ao lado de uma rocha, e os Vagabonds e todos os que ali estavam foram ao rubro! O segundo acontecimento de água doce foi o rafting, mais uma experiência nova para todo o grupo. De oito passámos a 30 pois vários eram os barcos que iram descer durante duas horas os rápidos dominicanos. Esta foi uma daquelas experiências que todo o ser vivo deve viver pois os momentos em que o rio acalma e nos permite tranquilizar intercalados com os momentos em que descemos cascatas de dois a quatro metros com pedras por tudo quanto é lado e remoinhos são do mais viciante que há. Cemitério, Mónica Lewinsky, Matador, eram apenas alguns dos nomes das zonas onde o rio acelerava, rodopiava ou formava cascatas, zonas essas que os guias que iam em cada barco faziam questão de explicar antes de avançarmos a todo o gás para elas. Diversão garantida e exercício físico para todos! Escusado será dizer que nessa noite os Vagabundos recolheram aos aposentos mais cedo.
_ 58 | Dêem uma esquerda perfeita a Jervis e ele mostra todo o seu repertório! Foi isso que fez nas várias surfadas dadas na baía mágica onde rebentava esta esquerda por cima de uma bancada de coral, e onde ninguém, excepto um atrevido casal americano… mais não podemos dizer, experimentou mais variantes de áereos que o surfista do Guincho. Este slob reverse é o exemplo do quanto técnico Jervis foi nesta viagem!
O surfista de Caxias, Tomás Valente, foi sem dúvida o mais divertido surfista da viagem, juntamente com o seu companheiro de quarto, Rodrigo, o vencedor do concurso da Sumol que oferecia a possibilidade a um português de acompanhar os Vagabonds para a República Dominicana com tudo pago! E se fora de água, principalmente durante as longas e duras viagens de autocarro, fazia todos rir - muito graças ao seu engenho “telemóvico” e uma gravação de flatulências da qual ele se ria mesmo de a ouvir 10.000 vezes depois contagiando todos -, dentro de água fazia todos rir quando, depois de dar grandes manobrões (ou falhanços de manobras) assumia estranhas posições ou saltava da prancha com uma originalidade rara. _ 61 |
A Despedida Chegávamos ao último dia e era altura de regressar a Santo Domingo – sempre com o nosso autocarro a bombar merengue, a música local -, almoçar em mais um restaurante típico e fazer uma última visita, esta ao inacreditável museu do Colombo, antes de embarcarmos de regresso a Portugal. O museu do Colombo é um edifício imponente em forma de cruz e onde está o baú que supostamente tem os restos mortais de Colombo no seu interior. Supostamente pois, segundo Pru, os espanhóis continuam a dizer que os restos de Colombo estão em Espanha. Pormenores à parte, tens de visitar este museu pois se o seu exterior é imponente o interior não fica atrás.
Uma semana depois estávamos de volta ao aeroporto e mais uma vez com direito a tratamento VIP no que tratava a despachar malas e pranchas (e todos sabemos o difícil que é com pranchas de surf nos aeroportos), mais uma das milhares de delicadezas do Turismo da República Dominicana. Despedimo-nos do Pru e Pri, e iniciámos o voo de regresso. Tomás Valente voltou a usar a sua arma de diversão para alegrar tudo e todos os que estavam à sua volta – o seu famoso telemóvel “peidofónico” – até que todos se renderam ao cansaço e passaram a noite a dormir até Espanha. Uma “pequena” espera de oito horas e arrancávamos para Lisboa. O Jervis and Vagabonds foi, como certamente sabes, um concurso online que foi lançado o ano passado e que convida 16 dos melhores nacionais a submeterem vídeos de ondas suas que entram depois em “combate” online. A edição deste ano teve o excelente upgrade de ter o Turismo da República Dominicana envolvido, o que permitiu que os quatro finalistas fossem para o outro lado do Atlântico, para um destino totalmente novo em termos de surf para a maioria, durante uma semana e com todas as mordomias possíveis. Foi sem dúvida uma viagem que ficará na cabeça de todos e Filipe Jervis, mentor do evento, não poderia estar mais satisfeito com o rumo que este seu projecto! Resta um agradecimento especial ao Turismo da República Dominicana, ao Viva Tangerine/Viva Wyndham Resorts – o nosso paraíso em Cabarete, ao Master of the Ocean, Take Off Surf School, que nos garantiram que encontrassemos os bons picos de surf; ao Hotel Gran Jimenoa en Jarabacoa – o espantoso hotel nas montanhas e ao Rancho Baiguate en Jarabacoa, tudo sítios que recomendamos quando decidires marcar o teu bilhete para a República Dominicana, um destino onde casarás o surf com muita Aventura fora da água salgada!
_OF
Do Verão ao Inverno
no Sata Azores Pro
Como já seria de esperar a Ilha de S ã o M i g u e l, nos Açores, recebeu alguns dos melhores surfistas do mundo com excelentes ondas para a e t a p a P r im e. E se, pelas experiências do passado, os competidores já conheciam as ondas, desta vez ficaram a conhecer melhor o significado de “c l im a o c e â n i c o ”.
t
e
x
t
o
by ONFIRE
photos by
c
a
r
l
o
s
p
i
n
t
o
p
h
o
t
o
.
c
o
m
Entre os 96 surfistas inscritos no Sata Azores Pro apenas sete eram portugueses e só quatro deles tinham nesta fase “seeding” para competir numa etapa Prime. Tiago Pires, Frederico Morais e Marlon Lipke tinham pontos suficientes para disputar esta etapa, um campeonato obrigatório para a qualificação para o WCT ou, no caso de Saca, manutenção. A eles juntavam Vasco Ribeiro e Zé Ferreira, dois competidores que apesar de não terem pontos suficientes usufruíam de um wildcard cedido pela organização como compensação pelo suas performances ao longo do ano no circuito de qualificação. Para completar a “armada lusa” juntar-se-ia o surfista local que vencesse os trials e todas as apostas apontavam para Jácome Correia, que é considerado o melhor surfista de sempre da Ilha. Mas outro local, Manuel Morgado, não se deixou abater com estatutos e venceu os trials, garantindo assim a vaga no main event. Entre os competidores lusos Tiago Pires foi o primeiro a competir, logo na madrugada do primeiro dia de prova. As ondas estavam com um metro e aparente boa formação mas a maré ainda estava um pouco vazia e o mar ainda não tinha “acertado”. Apesar de ter estado numa boa posição durante quase toda a bateria nos últimos minutos foi superado pelos seus adversários, saindo da ilha com um resultado muito abaixo do que se esperava. Também Marlon Lipke, Nicolau Von Rupp e Manuel Morgado ficavam pela primeira fase, não conseguindo os pontos que os levaram a competir nesta etapa. Zé Ferreira estava a ter um ano difícil no circuito, perdendo por diversas vezes por muito pouco em baterias de notas altas. Na Praia de Santa Barbara, onde se estava a realizar a prova, Ferreira voltou a encontrar o seu melhor nível batendo três surfistas bem conhecido a nível internacional para avançar em primeiro lugar e garantir assim pontos que mais tarde lhe seriam valiosos. Vasco e Frederico conseguiram avançar as duas primeiras fases sem grandes dificuldades, passando para o round 3, a única fase não eliminatória do Sata Azores Pro. Foi aí que aconteceu um dos fenómenos que muito caracteriza o clima oceânico/temperado marítimo. O sol tinhase feito sentir o dia todo até que, no início da tarde, o céu começava a ficar tapado por nuvens. Pouco depois, sem aviso, a chuva caiu com tanta intensidade que a prova teve de parar. Durante uma hora foi Inverno na Ilha e quando menos se esperava a chuva terminou, o sol voltou e as ondas ficaram perfeitas, com um metro sem vento e água quente. De imediato o campeonato recomeçou com condições ainda melhores que nos dias anteriores. 66 | Tiago Pires não se deu bem no campeonato mas ficou mais alguns dias nas ilhas. Dá para perceber porquê?
Jácome Correia não venceu os trials e não teve acesso ao main event, mas não perdeu o estatuto de melhor surfista da ilha.
| 68 Jesse Mendes andava a precisar de um bom resultado para conseguir voltar à disputa por uma vaga no WCT, e nesta etapa tudo bateu certo.
Vasco Ribeiro foi o melhor português no campeonato, terminando em 9º lugar e garantindo assim a presença nas provas Prime até ao fim do ano. | 69
Frederico Morais não tirou o resultado que esperava mas provou que estava “soltinho” como sempre. | 71
As prestações dos dois portugueses ainda em prova foram diferentes pois Frederico Morais caiu para a repescagem enquanto que Vasco Ribeiro venceu a sua bateria e passou directo para o round 5. Ribeiro já tinha batido o (então) líder do ranking de qualificação, Matt Banting, no round 1 e nesta fase faria o mesmo, passando também à frente do vencedor da etapa no ano anterior, Tomas Hermes. Infelizmente seria a sua última vitória pois Hermes usou toda a sua competitividade para vencer um heat onde claramente não era favorito. Assim terminou a passagem dos surfistas portugueses pela etapa, com um 9º lugar para o surfista de S. João do Estoril. Apesar disso praticamente todos os competidores mantiveram-se na ilha, ou não fossem as ondas continuar com qualidade. E, com “atracões” espalhadas pela Ilha quem conseguiria resistir? Lagoa do Fogo, Caldeira das Sete Cidades, Poça da Dona Beija, Furnas e Caldeira Velha foram alguns dos locais que durante essa semana estava “apetrechados” de surfistas do WCT, guerreiros do WQS e respectivos amigos e namoradas. Mas nenhum local estava mais cheio de surfistas de nível mundial que duas praias especificas. Apesar de se estar a realizar o campeonato na Praia de Santa Barbara, havia espaço de sobra para se fazer muito free surf pois a dimensão da praia faz com que haja sempre vários picos espalhados, quase todos com boas ondas. Além disso ainda havia a Praia do Monte Verde, um pouco mais a norte, que no passado chegou a ser palco do evento. Entre sessões memoráveis e muito turismo o Sata Azores Pro foi avançando. À final chegaram dois goofies, o francês Joan Duru e o brasileiro Jesse Mendes e a disputa foi muito equilibrada. Jesse era o favorito e fez valer o seu estatuto. Sendo membro da mais forte geração de surfistas do seu país esperava-se que se juntasse a Medina, Muniz, Pupo e Toledo há algum tempo mas apesar de ter ameaçado a qualificação à cerca de dois anos o seu percurso não tem sido fácil. Nesta etapa bateu tudo certo. As ondas estavam com cerca de um metro e meio e apesar de estarem um pouco afectadas pelo vento, estavam muito boas. E enquanto Duro apostou principalmente no surf de backside, Mendes viu nas esquerdas potencial para vencer e foi com alguns snaps fortíssimos e batidas verticais que acabou à frente. E assim se manteve a história de sucesso do surf brasileiro neste evento, que venceu todas menos uma etapa. Jesse saiu da “Ilha Verde” com mais 6.500 pontos do ranking e alguns degraus mais perto do seu grande objectivo, o WCT.
_OF
icones da
p
h
o
t
o
s
by carlospintophoto.com
Ca l i f รณ r n i a texto by O
N
F
I
R
E
Três surfistas viajaram até à Califórnia à procura de pontos no ranking de qualificação da ASP, mas apenas um conseguiu. Todos já tinham estado na “Capital do Surf “anteriormente mas regressavam numa fase diferente das suas carreiras, já de olho num lugar WCT. E depois de terminarem as suas prestações no US Open, chegou a altura de ficarem a conhecer melhor as praias mais icónicas do “Golden State”.
À chegada à Califórnia Frederico Morais ficou a saber que tinha pela frente a repetição de um dos maiores desafios da sua carreira. No ano anterior o surfista do Guincho tinha recebido um wildcard para prova portuguesa do WCT e consequentemente eliminado o 11x campeão do mundo no round 2. Essa derrota acabou (não oficialmente) com as hipóteses de Kelly Slater garantir o seu 12º título mundial pois mesmo tendo vencido a última etapa do ano não seria suficiente para ser campeão. Agora as posições invertiam-se, seria Kelly quem receberia Morais na sua terra (adoptiva) e era o português quem precisava de pontos no ranking enquanto que o melhor surfista de todos os tempos não tinha nada a perder. No entanto a previsão apontava para ondas muito fracas em Huntington Beach e o norte-americano da Flórida acabou por se retirar do evento, sendo substituído por um “alternate”. De facto as ondas em Huntington estavam mesmo abaixo do que se esperava o que dificultou muito a prestação de Frederico Morais, que acabou eliminado no primeiro round. Mas não foi o único do grupo a ter uma campeonato abaixo das expectativas. Nicolau Von Rupp competiu nos trials e apesar de ter surfado bem no primeiro round não conseguiu uma vaga no main event, o que equivale poucos ou nenhuns pontos no ranking. Por sua vez o australiano Ryan Callinan, colega de equipa de Morais, juntou-se ao grupo e foi quem chegou mais longe no evento, terminando em 17º lugar. Ryan e Frederico têm em comum o “coach”, Richard “Dog” Marsh, um ex-top 10 do WCT que treina os surfistas em ascensão da Billabong entre os quais também se inclui, além do português e do aussie, o brasileiro Peterson Crisanto e o tahitiano Mateia Hiquily. Desta vez sem o treinador, os dois tinham em mente seguir para o México para fazer algumas sessões de fotografia com o residente da ONFIRE, Carlos Pinto. Mas o México no verão é um pouco como Portugal, pouco consistente. Isso significa que seria uma aposta que podia sair furado e com o custo dos voos para o México saindo da Califórnia rondar os 900 USD, o “team” decidiu não apostar e ficar nos line ups da área. | 76 O ditado “Quando em Roma, faz como os romanos” já começa a ser repetitivo mas este aéreo abusado de Frederico Morais tem surf “high performance” escrito.
Newport Beach, apesar de não ser considerada uma onda de nível mundial é sem qualquer dúvida um dos “Ícones da Califórnia”. O pico mais conhecido desta praia é “The Wedge”, talvez o maior quebra-côco do mundo. Esta onda faz as delicias dos praticantes de skiming e body board mas muitos surfistas tentam a sua sorte nesta perigosa onda. Quando o trio “luso-australiano” passou por “Newps” a famosa onda não estava a quebrar mas havia boas ondas espalhadas pelo areal e deu para fazer várias sessões de surf por lá. A base de Ryan, Frederico e Carlos era um pequeno apartamento em Huntington Beach, a cerca de 14 quilómetros dali. Por perto, cerca de 30 quilómetros a sul estava San Clemente, uma das mais genuínas “surf cities”. Lower Trestles é a onda mais conhecida desta cidade, mas está longe de ser o único pico bom da área. Outras ondas como The Pier, San Onofre e Upper Trestles também tem boas ondas mas as surfadas acabaram por ser quase todas em Lowers. Esta praia tem um “setting” muito especial ficando a cerca de um quilometro da estrada mais próxima. Localizada ao lado de uma base militar, surfar neste pico obriga a uma boa caminhada ao lado de um pântano e um estuário. O facto de estar localizado ao lado da base significa que a praia e mesmo as ondas estão sob controlo do exército, o que deu origem a algumas disputas entre surfistas e militares no passado. Nos anos 70 o ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, vivia na área e foi responsável pela requalificação de Trestles a parque estadual, proibindo assim a presença a surfistas. A “batalha” para ter acesso novamente a esta onda foi longa mas eventualmente ganha. Na altura Tresltes parecia um point break de direita mas uma tempestade acabou por mudar a topografia da onda, criando uma esquerda com características diferentes à direita, mas em nada inferiores. Apesar de ser regularmente frequentada por muitos dos melhores surfistas dos EUA Frederico, Nicolau e Ryan não tiveram dificuldades em se destacar no line up e apanhar as suas quotas de ondas boas. | 79 Ryan Callinan é um dos mais progressivos surfistas da sua geração mas o seu estilo de surf não se limita a manobras acima do lip.
81 | O surf de rail é um dos fortes de Frederico Morais e mesmo estando na terra do surf “high performance” fez questão de mostrar curvas à moda do velho continente.
É também em San Clemente que estás localizado outro local icónico para qualquer surfista, uma rua apelidada de “shaper’s alley”. Como o nome indica, é num “beco” muito especifico que se baseiam muitos dos melhores fabricantes de pranchas, entre os quais se destacam Matt Biolos “Mayhem”, Timmy Patterson, Jed Noll, filho do mítico Greg Noll e um “expert” em pranchas retro, e mais cerca de 10 fabricantes de pranchas, mais ou menos consagrados, numa área bastante próxima. Apesar desta proximidade qualquer um dos três já tinha o seu quiver bem apetrechado, graças a um refinamento mais perto do início da época competitiva, e nenhum precisou de recorrer à excelente mão de obra local desta vez. A rotina não variou muito ao longo das duas semanas que se seguiram alternando entre Trestles, T-Street, Oceanside, Huntington e Newport beach. O facto de estarem longe de casa ajudou a estarem 100% focado em surfar, fotografar, filmar e curtir o melhor que a Califórnia tinha para oferecer. Poucas semanas depois começava a perna Europeia do circuito, com ondas muito parecidas ao que tinham encontrado nos EUA, fazendo da viagem um autêntico estágio que irá ser repetido ano após ano! OF_
Nicolau Von Rupp está preparado para tudo e ataca uma secção da mesma maneira seja em Newport Beach ou na Praia das Maçãs. 82 |