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O surf profissional em Portugal
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| Dos Primórdios à Actualidade
bimestral _ pvp cont 3€ [iva 6% inc]
nº71 _ ano XI _ www.onfiresurfmag.com _ Out|Nov14 _
Proged SA: infoproged@proged.com
MantĂŠm-te quente, mantĂŠm-te seco!
geral@nautisurf.com
*A Colecção de Nathan Fletcher. Nathan Fletche é sem dúvida uma lenda viva! De ondas meio metro a 30 metros, seja em que lado do planeta for, e com pranchas experimentais consigo, Nate é um surfista renascentista. Um indíviduo que requer conforto em todas as situações, a sua colecção inclui o novo Aldrich em duas variedades assim como o chinelo La Costa para quando o tempo se torna tropical!
*Surf é tudo!
# c o v e r s t o r y
Há muito que procurávamos fazer uma capa com um dos poucos surfistas da Geração Performance que ainda não o tinha feito. Mas, para nós, a foto de capa tem de ser perfeita, e das muitas fotos que recebemos deste surfista nunca sentimos que alguma tivesse a palavra “C-A-P-A” a saltar por todos os lados! Nesta sessão na Costa da Caparica estava grande parte daquela que denominamos como Geração Performance. Morais, Von Rupp, Jervis, Boonman, Zé Ferreira, Coelho e Blanco dividiram as esquerdas e (raras) direitas com mais uma mão a transbordar de locais durante hora e meia. Até que, um por um, começaram a sair, pois uma maré demasiado cheia tinha tornado as ondas francamente piores. Miguel Blanco tinha acabado de chegar do WQS da China, com uma paragem em Amesterdão pelo meio. Se na China as ondas nem se podiam chamar de ondas, em Amesterdão nem vê-las. Resumindo, não surfava há uma semana e vinha sedento! Por isso, quando todos saíram, Blanco ficou mais uma boa hora e meia na água. Quando se juntou à restante tropa, que lambia os dedos graças aos hambúrgueres mais famosos da Costa da Caparica - o Marcelino Beach Club gerido e idealizado pelo famoso surfer/punk rocker/gourmet man Miguel “Xibanga” Gomes - disse-nos que ainda se tinha sentido um bocado “preso” mas que tinha curtido. No dia seguinte recebemos o material do nosso fotógrafo residente, Carlos Pinto. E, entre várias fotos, vinha a que viste na capa, aquele que te fez dizer: “Ya, a manobra é ANIMAL mas duvido que a tenha completado!”. Pois… é altura de engolires esse pensamento porque, como podes ver, Blanco completou este A-B-U-S-O! Já percebes agora porque chamamos esta geração da Geração Performance? photo by carlospintophoto.com
#análise
Numa altura em que muitos dos grandes valores do surf português estão sem patrocinador principal – tens um exemplo concreto na capa desta edição – decidimos dissecar o surf profissional em Portugal, desde os seus primórdios até à actualidade! Uma importante análise sobre o passado, presente e futuro do nosso amado estilo de vida!
#surftrip
Uma viagem em águas nacionais com um sabor muito distinto: o team O’Neill nacional com o espanhol deslocou-se para as pérolas escondidas do Algarve!
#welovephotos
Mais uma cuidada seleção dos melhores momentos do surf português ao teu dispor em mais de 20 páginas!
The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marcelo Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba .Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #71 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens. CR É D I TOS O NFIRE SURF 7 1 _12
*32 ondas. O primeiro relĂłgio de surf com GPS. Regista todas as ondas, sabe todas as marĂŠs.
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Como poderão ver na nossa Análise, a partir da página 36, este é o melhor e, ao mesmo tempo, o pior momento para escolher a profissão de surfista profissional em Portugal. Nunca até agora houve tanto potencial para fazer uma carreira lucrativa, como nunca houve tantos surfistas com potencial de conseguir chegar à internacionalização. Actualmente, graças a Tiago Pires, o surfista português já é visto com respeito, o que é meio caminho andado para qualquer surfista que tenha o perfil certo se enquadrar nas “casas internacionais” das grandes marcas de surf. Mas há uma linha muito ténue entre ter uma carreira de sucesso e uma com pouco potencial. Pode não estar descrito em lado nenhum mas há parâmetros tanto a nível competitivo como a nível técnico que se devem atingir para manter o “sonho” vivo. E muitas vezes nem está na mão apenas dos atletas. Vasco Ribeiro, por exemplo, conseguiu um feito único na História do surf europeu ao conseguir vencer o circuito Pro Junior Europeu e Mundial (e ainda a Liga MOCHE) no mesmo ano, sem patrocínio principal. Perto do fecho desta edição recebemos a notícia que a marca portuguesa Deeply tinha fechado contrato com o talentoso surfista de S. João do Estoril, que saiu assim do volumoso grupo de grandes surfistas que surfam sem logótipo no bico da prancha perdendo por isso a oportunidade de capitalizar financeiramente nestes anos críticos desta carreira que já é bastante curta. Mas há outros, como Zé Ferreira, Miguel Blanco, Eduardo Fernandos e Carina Duarte, e mais, que não encontram apoios à altura das suas ambições. Nesta época de instabilidade muitas marcas foram obrigadas a adaptar-se a novas realidades e quem está ligado à indústria, como surfista profissional ou não, terá de acompanhar. Gostaríamos que este artigo servisse como base para quem sonha fazer vida como profissional deste desporto, mantendo o sonho vivo mas sempre acompanhado de uma boa dose de realidade. Boa sorte! _António Nielsen
São poucos os surfistas que conseguem ser profissionais sem dar cartas a nível competitivo. photo by ONFIRE
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Seja o que for que faças na vida estás sempre dependente de um grupo de trabalho, aquelas pessoas que diária ou regularmente contribuem para que no fim do dia o teu trabalho tenha sido concretizado da melhor forma, ou não. Exemplo, um surfista profissional necessita de patrocinadores, um treinador, e, cada vez mais recorrente, um camera man. A isto temos de/devemos adicionar um preparador físico, um manager (sendo que, frequentemente, estas duas últimas funções são englobadas na de treinador) e um psicólogo do desporto. Uma verdadeira “família”, toda ela a trabalhar com o mesmo fim: que o surfista se foque apenas em surfar para, consequentemente, cumprir os seus sonhos. Por isso, sempre que a ocasião pede, esse surfista agradece a toda a equipe que o apoiou! Sempre que ouço este tipo de discurso fico a pensar nas pessoas que estão no backstage, ao mesmo tempo que fico com a sensação que, por muito que exista esse agradecimento público, esse nunca é realmente entendido, por quem ouve o discurso. Um filme! O actor é o mundialmente famoso que agradece geralmente ao produtor e/ ou realizador. Estes por sua vez relembram as dezenas ou centenas de pessoas envolvidas no backstage e sem as quais o filme nunca teria tido o incalculável sucesso de bilheteira, mas não vos parece que, mesmo havendo essa menção, a real importância destes elementos nunca é bem vincada? A mim parece-me, sempre! Já por várias vezes, ao longo da História da ONFIRE, falei da importância do designer ou dos fotógrafos desta publicação, mas hoje dei por mim a pensar que nunca mencionei dois dos mais importantes autores da ONFIRE! Enaltecer o seu trabalho aqui é algo que considero quase desnecessário pois basta lerem as suas crónicas em cada OF para perceberem rapidamente que estamos perante dois gigantes do surf nacional no que diz respeito a escrita e pensamento... E, o melhor para mim, é que estes dois magos da caneta (ou do computador nos dias que correm), ambos surfistas há mais de 30 anos, não se poderiam complementar (e, consequentemente, à OF) de forma melhor! Ricardo Vieira, aquele que é o mais antigo colaborador da ONFIRE, é um contador de histórias incomparável! A forma como brinca com as palavras, que por sua vez obriga as frases e, naturalmente, todo o texto a embrulhar-se numa perfeição de fazer inveja à mais perfeita hélice de DNA, é, simplesmente, brilhante. Cada texto seu é uma viagem de sonho que me faz sonhar, rir ou chorar. Um poço de inspiração, uma fábrica de ideias, e que espero ansiosamente pelo dia em que os anjos se ajustem (e o trabalho dê folga) para que algumas ideias passem a projectos mais palpáveis que as páginas desta revista, assim, como que uma realidade nova saída de uma História (de surf) de encantar!... O outro colaborador, Miguel Pedreira, é nada mais nada menos do que o melhor jornalista do Surf Português! Doa a quem doer, esta é a mais pura verdade. O seu caminho é, desde sempre, o jornalismo que hoje em dia já não se pratica: o da verdade (com) ética, por muito complicado que este conceito possa parecer a muitos. Um sonhador de pés bem assentes, ferve com os assuntos mais políticos e burocráticos do surf, e estes são quase sempre o tema principal dos seus textos. Grita (sob a forma de afiadas palavras) a sua opinião, e muitas vezes fá-lo de uma forma contida - algo que muitos poderão não concordar ao lerem as suas rubricas . É desta forma que acredita que a essência do nosso estilo de vida segue o caminho certo, o crescimento (justo) para todos os envolvidos no Surf e tudo o que este envolve! É desta forma, com este agradecimento demasiado parco, que quero deixar bem presente que a ONFIRE não teria chegado onde está hoje sem estes dois importantes nomes desta que considero uma ilustre publicação do Surf Português! A eles o meu muito obrigado pessoal por tudo o que têm feito! Não vos parece que, mesmo havendo este agradecimento, a sua real importância não está bem vincada? A mim parece, e muito! _Nuno Bandeira
Os dois mais importantes contribuidores de texto da ONFIRE fazem-te sentir que vem lá uma tempestade de sonhos e de, por vezes, duras realidades da realidade do surf! E sem eles a ONFIRE nunca estaria onde hoje está, orgulhosamente debaixo dessa perfeita tempestade de conteúdos editoriais de luxo. photo by carlospintophoto.com
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“Um olho no burro, outro no cigano” é provavelmente o melhor ditado que se pode aplicar a esta foto de Frederico Morais. Passemos à explicação: o surfista do Guincho adora surfar na sua praia, e por isso está sempre com aquela sensação de que podem estar a dar umas ondas quando ele não está lá, mesmo que lá tenha estado há meia hora atrás. Assim, quando vai para a Costa da Caparica, Morais tem sempre um olho nas ondas que está a surfar mas faz questão de ter o outro no Guincho! E como é que o consegue? Voa o mais alto possível para conseguir ter ângulo para espreitar para a sua praia preferida do lado norte da Ponte 25 de Abril! photo by carlospintophoto.com
_ 21 Sábado, Domingo ou Segunda, qual destes terá sido o dia em que Filipe Jervis deu este tubo? Se Jervis segue os ditados populares à letra é fácil, Sábado, pois o ditado reza assim: “Não há Sábado sem sol, nem Domingo sem Missa, nem Segunda sem preguiça.” Ou seja, Domingo Jervis estaria na missa e segunda-feira estaria preguiçoso pelo que só poderia ser no Sábado de sol (de fim de dia) que Jervis deu este pesado tubo em Carcavelos.
photo by André Carvalho|Goma
Diz-se que é “no meio que está a virtude” mas esta foto de Zé Ferreira é um excelente exemplo que “não há regra sem excepção” (e pimba, tomem lá mais dois ditados!). Não precisamos de explicar muito, mas como nem sempre o óbvio é óbvio... O fotógrafo decidiu provar que o seu olho gosta de excepções ao enquadrar esta virtude surfistíca do Zé no lado esquerdo, desviando e trocando então as voltas à Srª. Virtude, que supostamente está sempre meio! photo by Jorge Matreno 23 _
Muitos gostam de avacalhar com o Tomás Valente por este dizer que um dos seus picos preferidos é Caxias pois, para quem não sabe, Caxias é uma praia que dá ondas não mais do que 10 a 20 vezes num ano. Mas... esperem... sintam-no a aparecer nos vossos cérebros... sim, só podia ser esse mesmo... “Em terra de cegos quem tem olho é rei”, e a prova disso mesmo é esta pois o olho (e claro, o surf) perspicaz do rei de Caxias garantiulhe esta foto na XPression!
photo by Jorge Matreno 25 _
01 setembro 2014 _ 0 2 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 03 setembro 2014 _ 0 4 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 05 setembro 2014 _ 06 setembro 2014 _ 07 setembro 2014 _ 08 setembro 2014 _ 09 setembro 2014 _ 1 0 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 11 setembro 2014 _ 12 setembro 2014 _ 13 setembro 2014 _ 14 setembro 2014 _ 1 5 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 1 6 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 17 setembro 2014 _ 1 8 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 19 setembro 2014 _ 20 setembro 2014 _ 21 setembro 2014 _ 22 setembro 2014 _ 23 setembro 2014 _ 2 4 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 25 setembro 2014 _ 26 setembro 2014 _ 27 setembro 2014 _ 2 8 s e te m b ro 2 0 1 4 _ 29 setembro 2014 _ 30 setembro 2014 _ 0 1 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 0 2 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 03 outubro 2014 _ 04 outubro 2014 _ 05 outubro 2014 _ 06 outubro 2014 _ 0 7 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 08 outubro 2014 _ 09 outubro 2014 _ 10 outubro 2014 _ 11 outubro 2014 _ 1 2 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 13 outubro 2014 _ 14 outubro 2014 _ 15 outubro 2014 _ 16 outubro 2014 _ 17 outubro 2014 _ 18 outubro 2014 _ 1 9 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 20 outubro 2014 _ 21 outubro 2014 _ 2 2 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 2 3 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 24 outubro 2014 _ 2 5 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 26 outubro 2014 _ 27 outubro 2014 _ 27 outubro 2014 _ 2 8 o u t u b ro 2 0 1 4 _ 29 outubro 2014 _ 30 outubro 2014 _ 31 outubro 2014 _ 01 novembro 2014 _ 02 novembro 2014 _ 0 3 n ove m b ro 2 0 1 4 _ 04 novembro 2014 _ 05 novembro 2014 _ 06 novembro 2014 _ 07 novembro 2014 _ 08 novembro 2014 _ 09 novembro 2014 _ 1 0 n ove m b ro 2 0 1 4 _ 11 novembro 2014 _ 12 novembro 2014 _ 13 novembro 2014 _ 14 novembro 2014 _ 15 novembro 2014 _ 16 novembro 2014 _ 17 novembro 2014 _ 18 novembro 2014 _ 19 novembro 2014 _ 20 novembro 2014 _ 21 novembro 2014 _ 22 novembro 2014 _ 23 novembro 2014 _ 24 novembro 2014 _ 25 novembro 2014 _ 26 novembro 2014 _ 2 7 n ove m b ro 2 0 1 4 _ 28 novembro 2014 _ 29 novembro 2014 _ 30 novembro 2014 _ 0 1 d e z e m b ro 2 0 1 4 _
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Foi no dia 13 de Setembro, o último do Montepio Cascais Pro by Ericeira Surf & Skate, que se decidiu o campeão da Liga MOCHE de 2014. Vasco Ribeiro e Frederico Morais disputaram o título quase até ao fim mas ao chegar à final, Ribeiro sagrou-se campeão pela terceira vez em quatro anos. Frederico Morais venceu a etapa e ficou em segundo lugar no ranking geral.
Dia 26 de Setembro, Vasco Ribeiro era eliminado no round 4 do Franito Pro Junior, derradeira etapa do circuito Pro Junior Europeu. Mas os seus adversários nesta disputa também foram caindo, e no fim do dia, com as meias finais ainda por realizar, Vasco sagrava-se campeão Europeu Pro Junior, sendo o primeiro a conseguir concretizar este feito desde Tiago Pires, em 1999. Miguel Blanco foi o melhor português em prova, terminando em segundo lugar na final.
A 4 de Outubro realizaram-se os MOCHE Trials, em ondas difíceis nos Supertubos, Peniche. À final chegaram Vasco Ribeiro, Miguel Blanco, Nicolau Von Rupp e Charles Martin, e foi o estrangeiro quem quase ficou com a vaga para o MOCHE Rip Curl Pro Portugal, etapa do WCT. Perto do fim do heat, Nicolau conseguiu um bom tubo para a esquerda e garantiu assim o primeiro lugar, depois de várias finais consecutivas neste campeonato.
No mesmo dia mas em S. Pedro do Estoril poderia ter sido decidido o título mundial feminino da ASP, no Cascais Women’s Pro, mas as candidatas continuaram a avançar e adiaram a disputa para o Havai. Stephanie Gilmore foi a grande vencedora da etapa portuguesa, numa final contra Sally Fitzgibbons, e saindo de Portugal com uma fortíssima liderança no ranking mundial.
A 11 de Outubro, pelo segundo ano consecutivo, Jadson André venceu o Cascais Billabong Pro, desta vez realizado na íntegra na Praia do Guincho. O seu adversário na final foi o australiano Stu Kennedy, e entre os portugueses o melhor em prova foi Zé Ferreira que, ao terminar em 9º lugar, conseguiu a qualificação para as etapas Prime do Havai. | photo by ONFIRE
Dia 20 de Outubro terminava a etapa portuguesa do WCT, o MOCHE Rip Curl Pro Portugal, mais uma vez com excelentes ondas. Na final estava Mick Fanning e Jordy Smith, e foi o australiano quem venceu, melhorando bastante as suas hipóteses de lutar pelo título mundial em Pipeline.
Terminou no dia 29 de Outubro o Allianz World Junior Championships com Vasco Ribeiro como vencedor. Fica a saber mais detalhes sobre os resultados dos portugueses a partir da página 32. | photo by carlospintophoto.com
O Reef Hawaiian Pro, penúltima etapa Prime do ano, acabou dia 15 de Novembro, em Haleiwa, Havai. Foi uma grande prova para os 5 portugueses que competiram e foi Frederico Morais quem ficou melhor classificado, 5º lugar, numa prova vencida por Dusty Payne. | photo by ASP
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texto by Ricardo Vieira ricardovieira30@gmail.com
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Fica comigo esta noite photo by Inês [ 28 ]
A carta foi manuscrita, farejada pelos guardas da prisão, triada depois por uma organização dos direitos humanos, e por fim “scanneada” para converter em formato de email que acabou por me chegar pelo éter das internets. Foi assim o meu primeiro contacto com a Inês. A Inês dos textos profundos. A Inês da cadeia, a da pena por cumprir. A Inês que treinava take-offs na cela logo pela manhã numa tentativa de manter a sanidade, teimosa e fugidia. A Inês que era minha leitora, que era leitora da revista. A Inês que me enviava bonitos desenhos de pessoas na posição de Flor de Lótus num Yoga sempre a subir, a caminho do nirvana. A Inês das cartas e dos desenhos que se prolongaram por oito meses - o tempo da paga - e que depois, da mesma forma como começaram, acabaram. Eu permaneci mudo. Sabia a importância que alguns dos meus textos tinham tido na vida dela naquele período específico - ela dissera-me - e sabia que, em paralelo com o passar da pena,
caminhávamos também nos assim para o fim de uma relação que não passava do bico da caneta. Pelo menos para o primeiro fim...
Depois de um ano sem falarmos, e numa das piores noites da minha vida, ela retribuime os textos com um que não podia ser mais adequado ao momento. Perguntolhe se está bem e o que a levou a enviar-me aquele texto naquela altura, depois de um ano calada. Diz-me só: “foi o teu Deus que mandou”. Não aprofundo, nunca confidenciei religiosidades, fés ou intenções com ela. Partilho a história com um amigo que, empolgado, me incita a ir descobri-la na internet, ver só a fotografia, saber se é bonita. Resisto facilmente, problemas já eu tenho, não se recomenda acrescentar-lhes saias. Resisto firme como um herói. Por duas horas. Depois fui-me abaixo e, só para calar um amigo que parece um cuco de relógio, lá vou com ele procurá-la no computador, na esperança de que seja feia e ele descanse e, mais importante, me deixe descansar. Azar. A rapariga é bonita e disponível. O meu amigo já não se cala até que eu marque um café com ela. Ela, que parece combinada com ele, aceita facilmente como se tudo fizesse parte de um plano. E logo no primeiro café descubro uma pessoa diferente de todas as outras. Estranha, bastante estranha. Mas diferente. Surpreendentemente diferente. Uma pessoa com uma analise única da vida, das pessoas, das relações e do sexo. Descomplexada, simples, directa, sabedora e reclamante. Apreciadora e generosa em tudo. No dar e no querer. Com um saber estar e um a vontade como nunca vi. De pequenos pecados que me eram tão saborosos partilhar. De grandes loucuras que nunca tinha feito com ninguém e quase a pisar o risco da lei e da ordem estabelecida. E tudo com uma alegria que nunca vi nem antes tinha vivido. Em poucos dias parecíamos a Bonnie & Clyde. Num dia saíamos de mota e mochila às costas sem saber para onde íamos e só
no caminho decidíamos; noutro dávamos por nós - já com hotel marcado - às onze da noite em caminhos perdidos numa fria Ericeira à procura do melhor prego com batatas fritas da zona e, pouco depois, as três da madrugada, ainda cruzávamos ruas estreitas da vila na tentativa de desvendar o mito do chocolate quentinho jurado ali por perto por quem o conhece. Num dia lanchávamos elegantemente panquecas com doce de morango no meio de tios e tias, a gozar o prato e os tiques, e noutro comíamos cascas de batata frita servidas com bourguignonne no meio de enjeitados da vida e de artistas de rua do Chapitô. Éramos o tudo e o nada, o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. De dia fazíamos surf juntos, à noite loucuras intermináveis, inconfessáveis e, muitas vezes inacreditáveis. Fazíamos tudo com uma ansia de pólvora rápida, que arde e já foi, de pavio de queima única, sem volta atrás nem repetição. Sabíamos que o nosso tempo juntos era curto, que se o prolongássemos acabaríamos por nos consumir um ao outro, como canibais trancados em jaula comum. Éramos iguais demais... E por isso combinámos uma frase chave para dizer quando um de nós se começasse a agarrar demais ao outro, a perigar-lhe a vida e a liberdade de ser louco a sua vontade. Uma frase de segundo fim de relação, uma sequência simples de quatro palavras de morte. E tudo acabou quando um dia, depois de um jantar regado a Lambrusco para ganhar coragem, lhe disse, FICA COMIGO ESTA NOITE.
UM ANO DEPOIS Atravesso um mau período, o pior da minha vida. Uma série de pequenos problemas que se foram avolumando, autênticas bolas de escaravelho, que se foram acrescentando uns aos outros, mimetizando,metamorfoseando-se, alterando a ordem e sequência do meu próprio genoma, do meu ADN de baptismo, transportandome a lugares negros e solitários, sítios de vento frio corrido, onde almas de meia luz passeavam perdidas eternas tristezas, ao pé das quais a minha era aprendiz... Numa dessas noites de desespero em que interrogo a ausência de brilho no meu interior, recebo um email com o irónico titulo “A tua chama interior”. De quem? Da Inês.
_ RV
texto by MiguelPedreira
_ Há uns anos, um amigo disse-me: “não tentes conhecer os teus ídolos! Vais sentir-te profundamente defraudado!” Nunca, como recentemente, tinha sentido isso de forma tão violenta. Sou jornalista, nesta área, há mais de 25 anos. E tenho a convicção de pertencer a um grupo que se entreajuda, que partilha histórias e opiniões, com o objectivo de evoluir colectivamente. Os surfistas surfam, os jornalistas reportam os seus feitos e os patrocinadores permitem que tudo isto aconteça, ao criarem as condições financeiras para que atletas, promotores de eventos e órgãos de comunicação social possam cumprir as suas funções, num círculo que se nutre a si próprio constantemente. Ou seja, uma comunidade… uma tribo! Mas nos últimos meses de 2014, devido à enorme quantidade de eventos nacionais e internacionais que aconteceram, senti-me bastante defraudado com esta tribo. Surfistas que se dizem profissionais a fugirem de entrevistas, a tratarem mal a maior parte dos jornalistas e até a considerarem-nos como “paparazzi”, os “chatos” que ali estavam para “importuná-los”!… do alto das suas presunções e egos insuflados, cheguei mesmo a ver insuspeitos profissionais da informação a serem enxotados como de moscas se tratassem ou, pior, ridicularizados pelos surfistas e algumas organizações (como a ASP, agora WSL)! Ora isto é a completa inversão de valores! Os surfistas e organizações necessitam tanto dos jornalistas como estes de informação e cada surfista vale tanto como a sua capacidade de se dar a conhecer, ou aos seus feitos, ao mundo. E não há órgãos de comunicação social que valham mais que outros.
Uma notícia num qualquer jornal regional pode ser tão ou mais importante do que uma foto na revista Surfer ou uma parte de um filme qualquer na espuma do youtube… Chocou-me a forma como alguns dos principais protagonistas dos circuitos mundiais de surf trataram os jornalistas (sobretudo portugueses, mas não só…), com a conivência das organizações. Com grandes feitos vêm grandes responsabilidades! Perguntem a Kelly Slater, que é um bom exemplo de profissionalismo. É claro que não foi o único a cumprir o seu papel para com os meios que fazem a divulgação das suas actividades. Posso dar os exemplos de Owen Wright, Jadson André, Frederico Morais, José Ferreira, Sally Fitzgibbons, Tyler Wright ou Joana Andrade, apenas para citar alguns… mas foram mais os que “fugiram” às suas responsabilidades dos que os que as cumpriram. E há uma coisa que estes surfistas e organizações ainda não entenderam… o surf está “na moda”, enquanto fenómeno mediático. Mas rapidamente, sobretudo com atitudes deste género, os verdadeiros órgãos de comunicação social (e não as equipas de filmagem ou fotógrafos pagos pelos atletas ou marcas para os seguirem, que do ponto de vista jornalístico valem zero) se vão fartar dele. Se não houver um respeito mútuo entre todos, o interesse vai-se rapidamente e reconquistá-lo vai ser muito mais difícil! É bom que estes autênticos “meninos mimados e mal-educados” ponham os olhos nas verdadeiras divas deste mundo, como alguns actores, músicos ou até mesmo outros
desportistas. Nunca os vi fugir a responsabilidades com a comunicação social, quando agendadas. Sei de casos em que passaram dias (sim, DIAS!) inteiros, seguidos, fechados em hotéis, a dar entrevistas, umas atrás das outras. É chato? Claro! Mas faz parte do seu trabalho e todos sabem disso. Querem vender discos, esgotar concertos ou salas de cinema, ou angariar mais um contrato publicitário?… têm de estar disponíveis. Ninguém compra aquilo que não conhece! É bom que a ASP (ou WSL, como queiram), que tem tentado elevar o nível destes atletas, tente igualmente elevar o seu nível de educação básica. Que lhes dê umas aulinhas de comunicação, relações públicas e bom-senso. Talvez se a própria estrutura contasse com esses atributos, as coisas não tivessem sido tão ridículas no último inverno havaiano… mas isso são outras núpcias e motivo para outro artigo!...
_ MP
30 _ _ Este “dedo”, nesta foto, é um gesto carinhoso mostrado ao fotógrafo mas, segundo o autor deste texto, este gesto foi este ano mostrado muitas vezes aos media por alguns surfistas profissionais, não desta forma tão directa mas através de acções “I don’t give a fuck”. Será que é difícil perceber que estamos todos ligados e dependentes uns dos outros para que o Surf continue a crescer? photo by carlospintophoto.com
“Historyinthemaking” no Allianz ASP World Junior Championships Pela primeira vez o nosso país recebeu a finalíssima do World Junior Championships, e o evento não poderia ter sido melhor recebido. Durante cinco dias Ribeira D’Ilhas mostrou o seu melhor, e os surfistas portugueses em prova souberam aproveitar bem o momento, protagonizando mais uma vez momentos históricos na praia que é considerada como o “berço” do surf competitivo português. texto by ONFIRE photos by Pedro Mestre|ASP
Para esta prova, que iria decidir os títulos mundiais juniores, apenas Vasco Ribeiro estava qualificado mas, por questões de ranking e localização, também Miguel Blanco, João Kopke, Tomás Fernandes, Carina Duarte e Teresa Bonvalot tiveram a oportunidade de participar. Foi a prova feminina que ocupou os dois primeiros dias do Allianz ASP World Junior Championships, com ondas de metro e meio e pouco vento. Inicialmente as surfistas portuguesas tiveram alguma dificuldade em fazer o seu melhor surf, ambas caindo para a repescagem. Mas no round 2 começaram a mostrar bom surf de backside, vencendo os seus heats contra Kim Veteau e Emma Smith. Na terceira fase, não eliminatória, Bonvalot ficou muito perto de vencer o seu heat contra a eventual vencedora da prova, Mahina Maeda, que só virou a bateria nos segundos finais. Carina Duarte seria eliminada na fase seguinte, contra Tessa Thyssen, por muito pouco, terminando em 9º lugar. Já Teresa Bonvalot, uma das surfistas mais novas da prova, bateu uma das favoritas à vitória e avançou para os quartos de final man-on-man. A sua adversária seria mais uma vez Mahina Maeda e, apesar de ter sido um heat bastante equilibrado, a havaiana saiu vencedora e Teresa terminou num excelente 5º lugar! Quando a prova masculina começou as ondas estavam um pouco maiores e ainda mais perfeitas. João Kopke foi o primeiro a competir sendo relegado para a repescagem, onde competiu com Miguel Blanco, que também tinha caído para a repescagem. Blanco dominou o heat enquanto que Kopke encontrou alguma dificuldade em surfar ao seu melhor nível e foi eliminado. No round 3, Noe Mar McGonagle apanhou duas ondas excelentes nos primeiros minutos combinando a média de 17.87. Miguel Blanco não baixou os braços e deu tudo nas suas duas últimas ondas. Apesar de não serem tão boas como as do surfista da Costa Rica, Blanco ficou muito perto e caso tivesse acertado um arriscado aéreo que tentou no fim da onda poderia ter-se qualificado para o round seguinte.
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MAIN PIC Tomás Fernandes BOTTOM PICS Miguel Blanco + Teresa Bonvalot
Vasco Ribeiro e Tomás Fernandes venceram os seus heats do round 1 contra Slade Prestwich e Matheus Navarro, e Hiroto Arai e Mathew McGillivray, respectivamente. No round 3, Tomás foi fortíssimo e bateu Miguel Tudela, enquanto que Ribeiro empatou com Jake Marshall mas, como tinha a nota mais alta, avançou. Nos oitavos de final os portugueses voltaram a brilhar, fazendo deste um momento histórico ao avançarem para os quartos man-on-man, eliminando Horito Ohhara (Fernandes) e Joshua Moniz (Ribeiro). O mesmo aconteceu nos quartos de final, e a possibilidade de haver uma final 100% portuguesa tornou-se real. Por um lado, Vasco jogava com o seu surf poderoso e a confiança de ser o campeão europeu. Já Tomás mostrava muita local knowledge, sabendo que estava a surfar na praia onde aprendeu e onde já passou mais horas que qualquer outro em prova. Ambas as meias finais foram grandes confrontos, Fernandes tinha pela frente Ítalo Ferreira, um surfista que uns meses mais tarde garantia a sua vaga no WCT de 2015. O surfista da Ericeira guardou o melhor para o fim, surfando um heat excelente. Na sua segunda onda soltou o tail em algumas manobras e surfou de rail, terminando com um bom floater para receber a nota de 7.33. Dez minutos depois apanhou uma das melhores ondas do dia e surfou-a quase na perfeição. Depois de algumas manobras fortíssimas, Tomás esperou pelo inside onde bateu mais duas vezes no lip, conseguindo um 9.17 quando precisava de 9.04. Infelizmente, Ferreira respondeu com mais uma onda forte, conseguindo a nota que precisava e assim avançar para a final. Mesmo assim foi uma excelente prova para Tomás Fernandes que, ao terminar em 3º lugar, terá acesso a todas as provas Prime de 2015! A meio da outra semi-final tudo indicava que estava para acontecer uma final 100% brasileira já que Deivid Silva dominou quase toda a bateria contra Vasco Ribeiro. Perto do fim o surfista da Poça precisava de uma onda excelente mas remou e perdeu prioridade numa onda com fraco potencial. Mas foi aí que o português mostrou o que vale pois ao sair da onda viu que se estava a formar outra na secção mais a meio da praia. Vasco “voou” para o sítio onde esta estava a quebrar, arrancando debaixo do lip. A onda tinha muita parede e Ribeiro simplesmente destruiu-a de ponta a ponta, conseguindo a nota de 8.67. A partir daí o heat, e o campeonato, era seu. Na final, Ribeiro abriu com uma onda de 9 pontos e fechou com uma de 9.67, tornando-se no primeiro campeão mundial português na ASP e fazendo desta prova um momento que nunca será esquecido no surf português.
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_ 34 | MAIN + TOP RIGHT PICS = Vasco Ribeiro BW PIC = Tomás Fernandes BOTTOM PICS = Tomás Fernandes, family and friends + Ribeira d’Ilhas
Ser surfista profissional em Portugal é algo que muitos ambicionam e cada vez mais se tem tornado numa realidade. Mas será uma carreira capaz de suportar quantos surfistas? E quais são as perspectivas de futuro destes atletas? A ONFIRE analisou a História do Surf como profissão em Portugal e a viabilidade da mesma nos dias de hoje.
| O surf profissional em Portugal | |Dos Primórdios à Actualidade Análise
photos by carlospintophoto.com [ excepto quando assinalado ] texto e legendas by ONFIRE
_ photo intro|surfista: Nuno Telmo
Os primórdios do surf profissional em Portugal Nos anos 70 e 80 já se fazia surf em Portugal, havia competições e bons surfistas, mas os primeiros surfistas profissionais surgiram nos anos 90 com a chamada Geração de Ouro do surf português. Nomes como João Alexandre “Dapin”, João Antunes, Bruno Charneca “Bubas”, Nuno Matta, Rodrigo Herédia, José Gregório, Guga Gouveia, Marcos Anastácio, Paulo do Bairro, Mica Lourenço, entre muitos outros, fizeram parte da primeira geração que recebeu dinheiro dos seus patrocinadores para surfar. É uma lista incompleta pois muitos outros, antes, durante e depois do auge destes, receberam também incentivos dos seus patrocinadores. Mas estes foram os principais que, durante vários anos, batalharam para melhorar as suas condições e abriram as portas para as gerações vindouras. Na época os patrocínios eram maioritariamente das marcas de surf, que estavam em grande ascensão com o aparecimento de alguns fenómenos, como o primeiro circuito nacional de surf organizado e do programa de televisão Portugal Radical, que lançaram o desporto para um patamar de visibilidade nunca antes visto no nosso país. Havia excepções no que toca a angariação de patrocínios como por exemplo Bruno Charneca que, quando bateu Kelly Slater, era patrocinado pelo Banco Nova Rede (actual Millennium BCP). Rodrigo Herédia teve como patrocinador a marca Sagres, e Marcos Anastácio foi a primeira cara da Red Bull, uma parceria que durou mais de uma década! Os orçamentos de marketing eram 100% nacionais já que os nossos surfistas ainda não tinham expressão para ter patrocínios europeus ou internacionais. No entanto, a jogar a seu favor estavam outros factores como o facto de as marcas na altura, por norma, se especializarem num produto especifico. As marcas faziam roupa, ou fatos, óculos, calçado, relógios, acessórios, etc, enquanto que hoje em dia a tendência é de conjugar os produtos, fazendo tudo o resto ou mesmo juntando várias marcas com produtos diferentes no mesmo grupo. Isso fazia com que as pranchas estivessem carregadas de auto-colantes mas permitia que se conseguisse mais dinheiro juntando todas, algo que hoje não acontece pois a tendência vai para a exclusividade. Mas quanto recebiam, para que dava, quanto tempo durou e quais eram as perspectivas de futuro? Fizemos todas estas perguntámos a alguns dos surfistas dessa geração... Segundo José Gregório, um dos melhores dessa época, um bom ordenado para um surfista de topo rondava os 6.000 euros ano. Mas este valor variava bastante, Nuno Matta falou-nos em 1.000 euros por mês e Paulo do Bairro, que foi campeão nacional no ano 2000, também, apesar de ter referido que apenas conseguiu manter esses valores por dois anos. Por sua vez, Matta conseguiu manter-se por cerca de 8 anos, e Gregório e Anastácio passaram os dez. Consta que os surfistas mencionados acima que tiveram patrocínios “main stream” passaram esses valores, enquanto muitos outros tops da altura nunca sequer chegaram perto do valor que Gregório apontou.
MAIN PIC = José Gregório foi dos que mais evoluiu como surfista e profissional, tornando-se num dos melhores surfistas portugueses de todos os tempos. photo by Marco Gonçalves BOTTOM PIC = Paulo do Bairro vinha de uma realidade muito humilde e conseguiu fazer no surf uma carreira digna de admiração do público português. | 39 |
MAIN PIC João Alexandre “Dapin” era o surfista mais talentoso da sua época e foi dos primeiros a receber bom dinheiro dos seus patrocinadores. photo by Jorge Matreno INSTA PICS [ by top to bottom ] Pelo seu carisma e maneira de ser Marcos Anastácio era um “produto” diferenciado e durante vários anos capitalizou bem na sua imagem; Bruno Charneca tinha uma das imagens mais fortes do nosso país e foi o primeiro a receber um grande contrato fora das marcas de surf; Nuno Matta foi um dos mais competitivos da “Geração de Ouro”. photos by ONFIRE
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Apesar de alguns, poucos, terem tentando correr o WQS, era o circuito nacional de surf e o circuito europeu, EPSA, que todos tinham como referência para mostrar o seu valor. Isso significava que das suas verbas tinham de sair as deslocações e inscrições de etapas que se realizavam de Norte a Sul do país (circuito nacional), em Espanha (incluindo Canárias) e França (que chegou a incluir etapas nas ilhas de Guadalupe e Reunião). Por outro lado a premiação dessas provas, principalmente no circuito Europeu, era bastante relevantes para a época chegando aos 1.500 euros (EPSA) e rondando entre os 500, 750 e (raramente) 1.000 euros para o circuito nacional, o que proporcionalmente aos dias de hoje poderiam até equivaler a mais que os valores actuais da Liga MOCHE. Mesmo assim ser surfista profissional nessa época significava, em cerca de 90% dos casos, viver em casa dos pais ou ter outra carreira em simultâneo. E, sendo os pioneiros nesta carreira, as perspectivas de futuro eram, no mínimo, dúbias. Marcos Anastácio contou-nos que não tinha um plano B para o fim da sua carreira. “Para ser honesto nunca tive, o meu objectivo sempre foi treinar muito e ser o melhor, o resto vê-se depois, algo que é muito português. Depois as peças foram encaixando como num jogo de Tetris.” Mas isso era algo que, de certa maneira, jogou também a favor desta geração, que também poderia ser chamada a “geração desenrascada”. Nenhum destes surfistas teve treinadores, ou beneficiou por ter os pais ou managers a tratar das suas carreiras. Aprenderam a negociar, “sobrevivendo” melhor os que se souberam valorizar, criaram imagens fortes e descobriram o que era ser bom profissional. Talvez por isso, quando foi preciso dar o passo seguinte, quando os patrocínios começar a “secar” e a renovação de gerações começou a surgir, estes não tiveram grandes dificuldades em se adaptar a novas realidades, a grande maioria ligadas à indústria. Marcos Anastácio tornou-se vendedor de uma empresa que comercializa marcas de surf e skate, a Marteleira, e Paulo do Bairro está ligado à produção de pranchas, tal como Nuno Matta, enquanto que José Gregório é o Director Geral da Quiksilver em Portugal. E como eles, praticamente todos os outros fizeram boas transições pós-surf profissional, independentemente de terem entrado tarde no mercado de trabalho, algo muitas vezes difícil de contornar. Sobre as grandes diferenças entre os surfistas profissionais dos seus tempos em comparação à actualidade, Nuno Matta opinou que “tudo era mais puro e por amor ao surf. Agora os miúdos com os treinadores acordam de manhã com tudo planeado. Até já sabem quantas horas vão passar dentro de água durante a semana.” Por sua vez, Marcos Anastácio, apesar de admitir estar um pouco afastado, tocou no mesmo ponto que Matta, “sinto que fizemos as coisas com mais paixão, sentimento e coração, típico de pioneiros. À nova geração bastou colher o que deixámos e acrescentou mais técnica e preparação!”
Geração Esperanças, os sucessores | Anos 2000 A geração de 2000, também referida como Geração Esperanças ou Lightning Bolt, incluía surfistas como André Pedroso, Pedro Monteiro “Pecas”, Nuno Telmo, David Raimundo, Nuno Silva, Aécio Flávio, João Macedo, Ruben Gonzalez, Alexandre Ferreira, David Luís, e, claro, o caso de maior sucesso da história do surf nacional,Tiago “Saca” Pires.Tirando “Saca”, que fez uma carreira completamente diferente de qualquer outro surfista de Portugal e da Europa, esta geração, bateu de frente com a de “Ouro”, que por sua teve uma longevidade competitiva e financeira acima do que se esperava, travando a ascensão desta. Nesta época os ordenados também variaram bastante, mas poucos passaram o patamar dos 1.000 euros/mês. Alguns, como David Raimundo e Aécio Flávio, assumiram nunca se ter dedicado 100% ao surf, dividindo o foco entre o surf e os estudos. Outros como Nuno Telmo e David Luís apostaram tudo nas suas carreiras. Entre estes, David Luís foi o único a correr o circuito mundial e durante 3 anos o seu ordenado chegou aos 2.000 euros, um valor que segundo o próprio era incompatível com as despesas do tour.“Depois da perna europeia percebi que era impossível fazer o tour”, comentou,“fui surfista profissional a viver em casa dos meus pais. Tudo o que ganhava investia no surf”. Praticamente todos os grandes surfistas desta época investiram principalmente no circuito nacional de surf e no reforço da sua imagem através de fortes presenças nas revistas de surf nacionais e mesmo na web, que ainda dava os primeiros passos no nosso país. A eles sucederam surfistas como Edgar Nozes, João Guedes, Miguel Ximenes, que também tentaram a sua sorte no circuito mundial, alguns mais que outros, mas apenas seguiram os passos das gerações anteriores, acrescentando níveis técnicos mais altos. A nível de duração, esta geração teve surfistas a viver com profissionais durante um tempo semelhante à anterior, muitos conseguindo passar os 10 anos e as carreiras que se seguiram em muitos casos ligaram-se ao meio do surf com a criação de escolas de surf e outros negócios ligados à indústria. Mas houve dois surfistas que se destacaram dos restantes, Ruben Gonzalez e Tiago Pires. Ruben foi simplesmente superior aos outros a nível técnico e competitivo, mantendo-se como um dos surfistas mais bem pagos do país por vários anos e ainda hoje, com 36 anos, se mantém como atleta patrocinado, apesar do seu foco ter passado para outras vertentes onde sempre mostrou potencial, o surf em ondas pesadas, e a organização de iniciativas. Já Tiago Pires é o expoente máximo do surf português e não pode ser comparado com nenhum outro. Até 1999, quando se focou no circuito mundial, todos os que tinham tentado “a sua sorte” tinham tido pouco sucesso, quer a nível de resultados competitivos, quer de retorno para os seus patrocinadores. Mas Saca atacou o circuito com outra atitude e teve sucesso a todos os níveis. A sua imagem chegou a um patamar de reconhecimento nunca antes visto, em Portugal como no resto do mundo. Até aí nunca um surfista nacional tinha chegado sequer aos quartos de final de uma prova de 4 estrelas, mas Tiago no final do seu segundo ano, fazia a final em Sunset, terminando em segundo num 6 estrelas. Nos anos que se seguiram fez várias finais e venceu algumas, em Portugal e no Japão. Com o seu sucesso seguiu-se o reconhecimento das marcas que o patrocinaram, constando no A-Team tanto da Billabong como da Quiksilver, outro grande marco da sua carreira. Em 2008 entrou no WCT e traçou um percurso que todos os outros surfistas profissionais devem seguir. Em simultâneo a fasquia subiu tanto que as carreiras focadas no circuito nacional e na visibilidade interna perderam espaço, obrigando os surfistas (salvo raras excepções) a almejar mais alto ou esquecer o surf como profissão.
MAIN PIC = Tiago Pires foi o melhor da sua geração e ainda hoje continua a ser o melhor surfista português. BOTTOM LEFT PIC = Ruben Gonzalez é recordista de títulos no circuito nacional mas com os seus talentos fora da competição mostram potencial em se manter como surfista profissional por mais alguns anos BOTTOM RIGHT PIC = Pedro [ Pecas ] Monteiro teve uma carreira de sucesso e hoje transmite os seus conhecimentos aos seus alunos. photo by André Carvalho|Goma 42 |
| 45 | SEQ. = Zé Ferreira é mais um dos nossos melhores surfistas que ficou recentemente sem patrocínio principal numa época crítica da sua carreira. Esta foi, provavelmente, uma das suas últimas sessões de free surf com o logo da O’Neill, o seu main sponsor até há muito pouco. TOP LEFT PIC = Nicolau Von Rupp tornou-se num dos surfistas mais mediáticos do mundo e poderia dedicar-se a 100% ao free surf, mas ainda não abdicou dos seus objectivos a nível competitivo. photo by Jorge Matreno VERTICAL LIFESTYLE PIC = Francisco Morais é um dos surfistas da geração performance com grande probabilidade de repetir e melhorar os passos internacionais de Tiago Pires. BOTTOM LIFESTYLE pic = A geração “actual” tem nas redes sociais uma forte “arma” para exponenciar a sua imagem e dar mais retorno aos seus patrocinadores.
A actualidade Nunca houve tantos praticantes de surf em Portugal, tal como nunca houve tantos surfistas com nível técnico tão alto nem um número de patrocinados semelhante. Os valores praticados hoje em dia também variam como nunca antes, partindo dos 5.000 euros/ano e chegando em alguns casos a passar os 100.000 euros/ano. Mas a fase que o mercado português atravessa e a crise mundial, que tanto tem enfraquecido as grandes marcas, estão a mudar a estratégia das empresas em diversas frentes, incluindo os patrocinados, que têm começado a diminuir em número. Além disso, marcas diferentes procuram perfis e objectivos diferentes. Procurámos saber, junto dos departamentos de marketing das empresas portuguesas, o que cada uma procurava especificamente, lançando os seguintes tópicos: nível de surf/resultados em competição/visibilidade nas revistas/visibilidade em vídeos e web/números nas redes sociais/acessibilidade ao público e meios de comunicação/carisma/outros. As respostas foram as seguintes: Rodrigo Pimentão | Billabong: o que se procura num surfista patrocinado é um surfista profissional e um surfista profissional tem que ter tudo isso (características acima) muito bem limado. Jean-Seb Estienne | Rip Curl: na Rip Curl valorizamos uma série de características. O nível de surf em comparação a outros surfistas da mesma idade e a margem de progressão para os anos que se seguem. A personalidade e o encaixe dentro dos valores da marca, a cobertura mediática, resultados competitivos e objectivos para os anos seguintes, seja a nível de surf, visibilidade, cobertura mediática ou mesmo estudos ou objectivos profissionais. José Gregório | Quiksilver: as marcas, e o público hoje em dia, gostam dos surfistas o mais completos possível. Essencialmente o que as marcas procuram é o “all pack”, surfistas trabalhadores com talento e carisma. Pessoalmente acho estas duas características muito difíceis de encontrar, e quando isso acontece temos super desportistas, casos de um Kelly Slater, Cristiano Ronaldo e poucos mais… Aécio Flávio | VonZipper: na realidade acredito num “pack” que reúna tudo. Cada marca tem os seus princípios e “mojo”, o nível de surf é importante mas nos dias que correm se um surfista patrocinado não faz o seu trabalho e uma divulgação própria, creio que possa sofrer um bocado no momento da escolha. Martim Branquinho | O’Neill: todas as questões levantadas são importantes. É desta forma que se configura o perfil de um bom atleta. Na O’Neill, a vertente competitiva não é considerada tão importante como a imagem do atleta. Este posicionamento deve-se ao facto de a nossa estratégia e a nossa equipa ser maioritariamente composta por atletas bastante jovens, na sua maioria numa faixa etária abaixo dos 16 anos. De todas as opções acima referidas, acredito que a que melhor define um bom atleta é o carisma e a acessibilidade ao público, sendo este último o que realmente faz o atleta. Pedro Dias | Ericeira Surf & Skate: penso que o que se procura hoje é o mesmo de sempre - que o indivíduo seja a parte tangível da “marca”. Tudo aquilo que a marca representa, seja a ideia, produto, mensagem, deverá ser reconhecida nesse indivíduo. A marca deverá perspectivar claramente qual é o plano e o que pretende do surfista. Acima de tudo, se houver um “fit” entre a marca e o surfista, o investimento/resultado é o ideal. Hélder Ferreira | Volcom: todos os acima. Depois, de acordo com a missão e filosofia de cada marca, dá-se mais peso a uns ou a outros. António Boavida | Vans, Brixton, Rhythm, Raen: hoje em dia, marcas como as nossas, procuram surfistas que tenham uma história para contar, um caminho próprio, e, é claro, que se saibam comunicar, e que possam projectar esta imagem. Gonçalo Lopes | Hurley: resultados em competição, número nas redes sociais, carisma.
Quanto ao número de patrocinados no futuro o consenso foi absoluto, haverá (muito) menos mas melhores. No entanto, neste momento o nosso mercado não está com dimensão para acompanhar a quantidade de surfistas que tentam dar o salto para a internacionalização, e muitos dos nossos grandes talentos encontram-se sem patrocínios ou sem condições de competir fora do país. Segundo o que apurámos, para correr o WQS um atleta precisa de receber entre 30 e 45.000 euros dos seus patrocinadores, dependendo das provas a que tem acesso e da “logística” de cada um,um valor cada vez mais difícl de conseguir. A justificação é simples, a quebra nas vendas resultante da queda do têxtil enfraqueceu o mercado e diminuiu drasticamente os orçamentos de marketing. No entanto, como Rodrigo Pimentão, Director de Marketing da Billabong, indicou, cada caso é um caso. “As dificuldades podem ser tantas… mas se o surfista tiver um forte potencial para estar na primeira liga do surf mundial as dificuldades diminuem. De uma forma geral o nível de surf é crucial. No nosso caso, relativamente ao Frederico Morais, por exemplo, não houve qualquer dificuldade, o primeiro contrato do Kikas foi assinado com a Billabong Europa, mas nem todos os casos são como o do Kikas.” Jean-Seb Estienne, director de marketing da Rip Curl Europa, desvendou ainda uma das questões que tem prejudicado as negociações entre surfistas e marcas nos últimos anos. “Algumas marcas na Europa excederamse e fizeram contratos há alguns anos altos de mais. Quando a crise entrou eles tiveram de cancelar contratos e recusar propostas que deixaram de ser realistas para a época que atravessavam.” Hélder Ferreira, da Volcom, foi ainda mais além nesta explicação, “Não há lucros, o que quer dizer que não há dinheiro e em Portugal então é que não há mesmo nenhum. De alguma maneira ainda não se percebeu nesta actividade que por agora o dinheiro acabou. As grandes marcas internacionais estão mais preocupadas em não falir e desaparecer (o que não é um cenário improvável) que em outra coisa qualquer. A nacionalidade também não ajuda, Portugal e os portugueses são periféricos e não têm impacto global, também porque os media globais não nos ligam grande coisa.” Tudo isto indica que o surf profissional continua a ser uma opção viável, mas apenas para super talentos que se destaquem bastante numa área, preferencialmente a competitiva, mas sempre acompanhados de uma grande mediatização. E, como a nível internacional, há cada vez mais espaço para outros percursos dentro do surf profissional. Os surfistas especializados em ondas grandes estão a ganhar em espaço e visibilidade apesar de, no nosso país, ainda não se traduzir em grandes apoios. Surfistas como João de Macedo e António Silva estão cada vez mais próximos dos players internacionais, mas com fraquíssimo ou nenhum retorno a nível de patrocínios. Também a carreira de free surfer tem ganho espaço fora das nossas fronteiras já que uma sessão bem trabalhada se pode traduzir numa maior visibilidade que vitórias em certas provas. A aposta nestas carreiras que, por norma, também estão aliadas a um dever competitivo a nível nacional, nomeadamente na Liga MOCHE, são bem aceites por algumas marcas pois cumprem objectivos locais apesar de se traduzirem em valores muito mais baixos do que os que procuram sucesso internacional. Em conclusão, o surf profissional em Portugal apresenta alguma saúde mas todos os que procuram investir nessa direcção terão obrigatoriamente de ter ambições altas pois a fasquia está a aumentar, tal como o “fosso” entre os que conseguirão ter carreiras longas e lucrativas e os que não vão conseguir chegar a esse patamar tem tendência a aumentar!
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47 | Miguel Blanco é um dos melhores surfistas portugueses da actualidade mas encontra-se sem condições para correr atrás dos seus objectivos. photo by Jorge Matreno
O que é necessário para uma conquista de sucesso? Um bom e numeroso “exército”! Foi isso mesmo que a O’Neill decidiu fazer: juntar o poderoso exército nacional com o espanhol e, numa missão de forças ibéricas, partir à conquista das perfeitas ondas do sul de Portugal durante três dias! E, no fim destes dias, puderam gritar em coro: veni, vidi, vici!
À
C o n q u i s ta do
Sítio Sagrado
photos by Gonçalo Silva texto by Nuno Santos intro e legendas by ONFIRE
Aeroporto de Lisboa, 12h. Lá estávamos nós esperando a equipa O’Neill de Espanha, e, enquanto aguardávamos, chegavam ao aeroporto alguns dos atletas do team nacional. Após sucessivos atrasos nos voos e 2h de espera para alugar carro, ou melhor, para alugar uma frota, lá conseguimos as quatro carrinhas para rumar à terra dos navegantes. Três horas de caminho, com muita chuva… Numa das carrinhas, os groms Manuel Teixeira e Guilherme Ribeiro decidiram passar o tempo a fazer comentários sobre as ondas, enquanto nas outras carrinhas, Indar, Ethan, Kopke e Mónica, fizeram um concurso para ver quem conseguia roncar mais alto e dormir mais tempo, todos embalados pelo ritmo da chuva! Eu, concentrado, conduzia uma das carrinhas e ia mantendo o contacto com alguns dos locais para saber como estava a evoluir o swell para saber de antemão onde estavam os melhores fundos, ao mesmo tempo que procura saber como estavam os acessos às praias pois a chuva tinha caído com uma intensidade bruta… São poucos os locais com este carisma tão forte e misterioso como SAGRES. O nome vem da palavra “Sacrum” que significa Sítio Sagrado… Sagres é um dos portos que alcançou grande projecção pela sua localização geográfica e também pelo facto de Infante D. Henrique lá ter residido. Em redor, e por toda a costa marítima, podem encontrar-se grandiosas falésias de onde se avistam as melhores praias do Algarve. A destacar: Beliche, Cordoama, Ponta Ruiva, Carrapateira, Amado, Zavial, Ingrina, entre muitas outras… E todas estas dão ondas perfeitas! É preciso dizer algo mais? Este lugar, que foi dedicado a Saturno - no séc.VI AC - pelas suas grandiosas escarpas e rochas, que nos tira o fôlego pelo seu esplendor e dimensão, que foi “o ponto da rica Europa, e que entra pelas águas salgadas do oceano povoado pelas mais horrendas criaturas”, foi também aclamado, já no Período Romano, como o ponto mais ocidental da Península Ibérica, por Estrabão (historiador, geógrafo e filósofo grego). Não era permitido oferecer sacrifícios nem pernoitar no “Sacrum”, pois durante estas horas dizia-se que o local estava tomado pelos deuses. Hoje, diz o povo de Sagres, que a cada dia, o Sol ao desaparecer no horizonte, emitia ruídos… Neste local vive-se da pesca do famoso ‘percebe’, uma iguaria muito apreciada e que é considerada uma ‘especialidade’. A alimentação é à base de peixe fresco. e a ‘sandes de moreia frita’ é uma especialidade local, como o arroz de polvo e peixe.Também o sargo e o robalo ao vapor com vegetais da terra fazem as delicias de quem por aqui passa, e, como sobremesa, nada melhor que os doces regionais confeccionados com amêndoas, ovos e açúcar. Para relaxar, não esquecer a tradicional aguardente,“medronho”. Existem muitas escolas de surf entre Sagres e Odeceixe, e o turismo para os surfcamps incide principalmente nos meses de Março a Setembro. Especial destaque para o Amado Surf Camp, na Praia do Amado, dos sócios João e André, irmãos, naturais da Carrapateira, por todos conhecidos; e a Sagres Natura Surf Camp da famosa Sara,
main image Vasco Mónica é um jovem surfista grande para a sua idade e, como tal, uma das principais características do seu surf é o power. Foram poucas as ondas que resistiram à pressão de Mónica e que, pelo meio de muita água no ar, mostrou aos seus companheiro de team que também já sabe voar... Surf O espanhol Adrian Valederrama deu um show de surf nas pequenas esquerdas que encontrou neste dia.
localíssima de Sagres. Há ainda que mencionar o enorme comércio _53 de surf em Sagres e nas zonas perto, como o Lagos Surf Center, Sagres Natura, Pipe Spot na Carrapateira, e a SW Surf Shop do meu amigo Fernando Felicidade, em Aljezur. Subitamente, notou-se um ‘repentino’ desenvolvimento de Sagres nos últimos anos. Ainda assim, esperamos que não se transforme numa cidade onde normalmente se instala a confusão e o stress, mas creio que os locais não irão permitir que tal aconteça. Apreciam a calma e a tranquilidade que este local lhes oferece, e não acredito que abdiquem da qualidade de vida que têm. O barlavento algarvio irá saber encontrar o equilíbrio necessário para preservar o encanto e o estilo de vida tão típicos deste local… Nos últimos cinco anos é notório um acentuado crescimento de surf nesta zona por haver mais surfistas locais mais maduros e competitivos: Marlon Lipke, irmãos Guichard, Miguel Mouzinho, Francisco Canelas, são apenas alguns nomes entre vários outros. Finalmente em Sagres! Dirigimo-nos para o surf Camp Sagres Natura e começou a distribuição dos quartos… Vasco Mónica, Kopke,António Rodrigues e Lourenço Alves começaram as “conversações de quem ficava com quem… Sempre os mesmo a rezingar uns com os outros eheh! Por fim, lá tiveram de optar por tiraram à sorte! Lucia Martinho, Garachi e Inês Bispo, mais confortáveis, selecionaram logo o seu quarto, assim como os groms Guilherme Ribeiro, Manuel Teixeira, Juan e Afonso Bessone (convidado especial pela O´Neill).
7:30h. O dia amanhece com um Sol brilhante e intenso, e depois de um excelente pequeno-almoço e sem perder mais tempo, rumámos ao Beliche, onde o swell era mais favorável. Destaque para João Kopke, Inês Bispo, Garachi Sanches, Ethan e ainda para Lourenço Alves, que fez o seu primeiro aéreo da trip, deixando logo os nossos hermanos com uma adrenalina difícil de traduzir... Seguimos depois para o Amado para comer uma bela anchova de 9Kg mais uns robalos de 3 kg.A equipa espanhola estava deliciada, e comentaram que a partir desse dia só comiam peixe e que carne estava ‘proibida’… Kopke, Mónica, Lourenço Alves e Manuel Teixeira eram o pânico total no restaurante, sempre com uma adrenalina e uma energia altamente positivas. Kopke, sempre com fome, comia tudo o que sobrava, e Ethan recordou os três dias do mês de Agosto que Kopke passou em sua casa e que acabou com a comida caseira de sua mãe em terras bascas. Para digerir o manjar, rumámos à Bordeira. Ondas ressacadas com uma brisa de sul. Sentimos aquela melancolia típica de que o local não era o desejado… E pensámos logo que Ponta Ruiva estaria com condições mais favoráveis… As quatro vans passeavam por caminhos estreitos de verdes paisagens, montes com bois e vacas pastando, e um silêncio que nos emociona o espírito e completa de uma energia que não é possível traduzir em palavras… No horizonte avistavam-se as linhas do swell que se dirigia para a costa portuguesa. Pelo espelho retrovisor pude ler a adrenalina estampada na expressão da equipa O´Neill, reveladora de que a energia estava a atingir o seu nível o máximo. Os esperanças, Gui e Manuel Teixeira, não se calaram durante a pequena viagem… Metro, alguns tubos, e apenas 5 a 8 pessoas na água. A luz não estava favorável para as fotos... o cameraman e o fotógrafo preparam-se, Nikon e Canon prontas a registar os momentos... pouco depois, um precioso raio de luz saiu das nuvens... Kopke e Mónica foram os primeiros a ficar prontos, e …água! Dividimos a equipa, uns para a esquerda e outros para a direita.. Juan Terran começou a sessão com um tubo ao estilo Basco… Potente e amplo para as condições que estavam, enquanto Kopke fazia uma segunda onda com um carve muito bonito e inconfundível, cheio de seu estilo, muito pessoal… Lourenço Alves aguardava e despertou com um aéreo. Até a equipa espanhola perguntou quem era o rapaz magro com tanto estilo! Vasco Mónica, ao seu estilo, fez uma direita com um cutback seguido de uma paulada que largou um tremendo leque. Guilherme Ribeiro, Manuel Teixeira e o nosso convidado Afonso Bessone, desfrutaram muito bem a esquerda de Ponta Ruiva, já que estavam emocionados por estarem a surfar com os mais velhos e experientes.Terminada a sessão, toda a equipa saiu da água com brutais sorrisos. Sem mais demora, Kopke pergunta: “Nuno, onde vamos comer?” Incrível, Kopke só pensa em surfar, comer e comer, surfar… Seguimos para a Carrapateira e parámos no “El Sitio do Forno”. Boa comida, bom humor e muita animação. Aqui, come-se à hora que se chegar… É sempre hora de picar as tradicionais especialidades desta terra sagrada! Ao sair do restaurante, ainda passámos de novo na Praia de Ponta Ruiva, onde terminámos o dia sem stress, em puro relax com ondas de cerca de um metro. Seguimos depois em direcção a Sagres para comer a Pizza que tanto desejavam… Apenas um contratempo para quem ansiava por este momento: passámos nos quartos para deixar pranchas e fatos. Um à parte para as nossas instalações no Sagres Natura Surf Camp que eram
main image Além de ser viciado em surf (e música), João Kopke também adora fazer caça submarina. O seu maior prazer é caçar e depois fazer uma bela jantarada com os seus amigos. Algo nos diz que nos dias antes desta viagem andou a comer muitos peixes-voadores, agora só nos resta saber onde os arranjou pois esses não existem por cá. Será Kopke um daqueles pescadores de supermercado eheh? Surf/LIFESTYLE PIC O jovem Guilherme Ribeiro será um dos grandes nomes do surf nacional. Se alguém tem duvidas então devia ter estado presente nestes dias com o team O’Neill!
simplesmente tremendas; bons quartos, boas camas e óptimas energias! Muito Obrigada tio Jack O’Neill por esta oportunidade! E à Tia Sara pela excelente recepção! Depois de jantar, foi tempo de passar no surf camp para ver emails, tomar umas cervejas e ficar por lá a ouvir a guitarra de Juan: fantástico! Foi a vez de Kopke que cantou “Justin Bieber” e que bem que cantou. Gargalhadas… Nos restantes dias surfámos sempre na Ponta Ruiva, as respectivas e típicas esquerda e direita. A meio da Praia, um lip de areia e uma corrente impressionante estavam à disposição dos mais aventureiros. Surfar, comer, surfar, os guerreiros nacionais e espanhóis da O’Neill batalhavam com todas as suas forças as ondas do ponto mais ocidental da Europa e, quando chegou o último dia e a hora de regresso, não se ouvia nada dentro das quatro carrinhas que rumavam ao centro de Portugal excepto o som de uma forte chuvada, vento e roncos, muitos roncos! NS _ 54
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Francisco Canelas, Algarve | photo by JoĂŁo [Brek] Bracourt
Vasco Ribeiro, Ericeira| photo by carlospintophoto.com
Frederico Morais and his toys. early morning, California air. photos by carlospintophoto.com
Time to focus! | Pedro Boonman, Maças photo by André Carvalho|Goma| photo by Jorge Matreno
Tiago Pires, Supertubos.| Tomรกs Fernandes photo by Francisco Santos | photo by carlospintophoto.com
Just onde more... | Guichard photo by Tobias Ilsanker | photo by AndrĂŠ Carvalho|Goma
Fins! | Paulo Alves Almeida, Farol photo by carlospintophoto.com | photo by TĂł ManĂŠ
João Alexandre “Dapin”, Costa da Caparica | photo by Ricardo Casal
Miguel Mouzinho, Costa Sul | Nature and city... photo by Bruno Monteiro | photo by carlospintophoto.com
Pedro Coelho, Costa da Caparica. photos by Jorge Matreno
Joรฃo Kopke, Maรงas| photo by Jorge Matreno
Nicolau Von Rupp, Baleal | photo by Jorge Matreno
Francisco Duarte, Algures no Sul | photo by Marco Gonรงalves
*Surf é tudo!