20150309 of72 issuu

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nº72 _ ano XI _ www.onfiresurfmag.com _ Dez14|Jan15 bimestral _ pvp cont 3€ [iva 6% inc]





Proged SA infoproged@proged.com






Sabemos que há coisas que se querem grandes, outras pequenas e outras médias! E depois há coisas que se querem mega!!! A Xpression é uma dessas coisas mas só gostamos de a transformar em mega muito de vez em quando para que, quando o fazemos, ainda te saiba melhor! # m e g a x p r e s s i o n

C R É D IT O S ONF I RE SURF 7 2 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marcelo Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #72 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

#coverstory Não nos vamos adiantar muito sobre a foto que faz a capa desta edição pois terás todo um gigantesco artigo sobre o dia em que este slab de esquerda algures em Portugal deu ondas “Pipelineanas”! Um mão de loucos esteve presente em mais uma onda que desafia a integridade física de quem ousar aqui surfar, e é por isso que esta é mais uma daquelas ondas “proibidas” para o comum dos surfistas! A onda é poderosa como um touro enraivecido, assustadora como o pior filme de terror que alguma vez existiu mas tem os seus momentos celestiais. Esses são aqueles em que vez uma onda a rebentar sozinha e onde a sua perfeição solitária esconde toda a verdade por trás desta besta! É um desses momentos em que parece que o paraíso desceu à terra que figuram na capa desta edição... Mas atenção que é como dissemos, parece que o céu desceu à Terra... parece... photo by Tó Mané

# a n á l i s e Pela terceira vez na História da ONFIRE, mostramos-te uma das mais perigosas ondas de Portugal... As fotos que vais ver são de uma sessão num dia para lá de épico e num dia em que a glória e o perigo de vida pareciam siameses... Uma sessão de cortar a respiração num pico que nem nos teus sonhos podes ousar surfar...


# l i f e o f t o u r Infelizmente Tiago Pires, o melhor surfista português de sempre, não conseguiu a requalificação para o WCT de 2015 e a sua vida irá seguir um rumo completamente diferente da dos últimos anos. Como viveu os momentos em que percebeu que não iria continuar na elite do surf mundial? O que planeia para o seu futuro? De certeza que queres saber tudo isto e muito mais, e uma coisa avançamos já: se há algo que Pires não tem é planos para ficar parado!

#análise Quais os mais importantes momentos competitivos de 2014? Uma cuidada selecção do staff da ONFIRE para te relembrar porque razão o ano passado foi estrondoso para o nosso país!

# s u r f t r i p O algarvio Francisco Canelas agarrou nos seus jovens alunos para estes se aventurarem pela primeira vez nas suas vidas nas destemidas ondas madeirenses, um campo de treino indispensável para quem quer ter um futuro brilhante no surf!

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Será Portugal o melhor país do mundo para se ser surfista? Enquanto crescíamos a surfar nas ondas da linha do Estoril, eu e os meus amigos sonhávamos com ondas distantes, picos com água quente e acesso ao melhor nível surf do mundo. Indonésia, Austrália, África do Sul e Havai eram temas de conversa regulares apesar de na altura ser tudo um sonho distante (e na caso da Indonésia, proibido). Com o passar dos anos os nossos horizontes foram aumentando e locais com que sonhavamos anteriormente foram-se desmistificando. É possível, e em alguns casos certo, que qualquer um desses locais tenha ondas melhores que o nosso país mas também têm as suas especificidades, que talvez não façam deles “paraísos surfisticos”. Seja a qualidade de vida/condições básicas, quantidade de surfistas na água ou volatilidade das ondas consoante a época do ano, também esses países provaram não ser perfeitos para se estar num prazo mais longo que aqueles 10 dias (ou 2 meses) de uma surftrip. Recentemente um amigo contava-me as suas aventuras num “paraíso” distante onde as ondas ainda estão a ser descobertas e com alguma paciência e tempo poderão encontrar algumas “pérolas” para serem surfadas sem crowd e com água quente. Mas claro, contava-me, de vez em quando aparecia um tubarão ou crocodilo e “ceifava” uma vida a um pescador (já que quase não há surfistas na área). E, como em todos os outros locais que mencionei acima, há regularmente aquela sensação de desconforto, aquela necessidade de estar olho na “natureza” à tua volta que a qualquer momento se pode virar contra ti. Contavame estas suas “aventuras” enquanto partilhávamos ondas, só com mais três amigos na água num pequeno reef de esquerda “escondido” à vista de todos. Não era uma onda de classe mundial mas nos seus dias, como esse, quebram ondas boas, livres de qualquer pressão ou perigo, um autêntico parque de diversões gratuito para quem conhece os timings desta também volátil onda. A 10 minutos de carro para sul está outra praia, essa sim, nos seus dias de nível mundial. A caminho passa-se por mini point breaks, bons para escapar ao excesso de crowd e ainda a uma hora ou duas na direcção oposta estão duas ondas que surfistas de qualquer outra parte do mundo como a Austrália, Havai, África do Sul e Indonésia, pagariam para surfar. A apesar da água fria, ou gelada, como tem estado recentemente, o nosso país ainda é perfeito em muitos aspectos que outros já não conseguem ser. Este sim, é provavelmente o melhor sítio do mundo para se ser surfista! _António Nielsen

Se viesses de propósito do outro lado do mundo para surfar e encontrasses este “setting”, achas que ficavas desiludido? photo by carlospintophoto.com




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Um dos artigos principais desta edição é sobre uma das mais perigosas ondas portuguesas, aquele onda que denominamos, no nosso mundo surfístico, por slabs! Esta. a par de várias outras espalhadas pela nossa costa, sempre existiu mas que só há alguns anos começou a ser surfadas regularmente e de alguma forma divulgada. De alguma forma pois, como poderás ver mais à frente, não diremos como se chama esse spot e muito menos onde fica! É verdade que muitos saberão a sua localização e nome mas por uma questão de respeito pelos fotógrafos e surfistas, manteremos o anonimato. Pessoalmente não sou 100% a favor deste tipo de omissão e a razão é simples: estes tipo de ondas estão fora do alcance de 99,9% dos surfistas portugueses pura e simplesmente. Porquê? São extrema e seriamente perigosas; o nível para surfar lá situa-se algures entre o profissional e o maluco; algumas exigem um outro tipo de material e preparação (basta dizer que numa delas Nicolau Von Rupp, o mais atirado surfista português neste tipo de ondas, opta quase sempre por usar um colete insuflável debaixo do fato). No fim do dia contam-se literalmente pelos dedos das mãos o número de surfistas nacionais que lá surfam regularmente! Estas não são ondas que o surfista normal veja a rebentar e diga, “Vou lá experimentar!” Não são picos que funcionem com ondas pequenas para o surfista comum se habituar. São picos que rebentam quando o mar está grande, são ondas rápidas, com uma força sobrehumana e onde o risco de bater no fundo (de pedra) está presente a cada momento e pode acabar com a carreira ou mesmo vida de qualquer um! É por isso que creio que omitir os seus nomes e localização, quando muitos até já os sabem, é um contra-senso pois são poucos os que quererão/ terão capacidade de lá surfar. Um outro exemplo do que digo, a Cave! Foi há mais de seis anos que publicámos uma reportagem (capa incluída; ONFIRE 25) sobre este slab e podemos garantir que o número de crowd neste pico não aumentou e, verdade seja dita, não aumentará! Se o próprio Slater considera a Cave como uma das ondas mais perigosas que já surfou não é necessário dizer muito mais... Ao mesmo tempo percebo e respeito a opinião de quem as fotografou e de quem lá faz surf sempre que estas funcionam, e, como todo o surfista, compreendo perfeitamente o que é querer manter longe do crowd picos onde podemos fazer as ondas da nossa vida, mesmo que essas sejam impossíveis para praticamente todos os surfistas comuns! _Nuno Bandeira

Esta onda de Zé Ferreira situa-se na mais urbana surf zone do nosso país. Está longe de ser uma onda perigosa e muito mais longe de ser considerada um slab (apesar de dar uns tubos). Ano após ano o “segredo” mantém-se pois continua a ser uma onda onde o aumento de crowd quase não se sente. E como é óbvio também não seremos nós a explicar onde fica e como e quando funciona! photo by Jorge Matreno



photo by Tomás Paiva Raposo Numa edição onde um dos artigos principais é sobre uma das mais perigosas ondas que quebra em Portugal, onda essa que Nicolau Von Rupp conhece todos os cantos como muito poucos, fazia todo o sentido abrir esta Xpression com uma foto num outro slab nacional... Tal como faz todo o sentido a tua boca estar, neste preciso momento, tão ou mais aberta que a do Nicolau nesta foto, tal é a tua admiração com esta poderosa caverna aquática! _ 17 _



photo by Jorge Matreno Há uns anos atrás, havia muito a discussão se momentos como este deviam ser ou não publicados pois sabia-se que eram raras as vezes que os surfistas aterravam estas manobras. Mas os tempos mudaram, e hoje a nova geração portuguesa pode orgulhar-se do seu nível de performance ser elevadíssimo, o que significa que os mais abusados momentos captados pelos fotógrafos e posteriormente publicados são já muitas vezes de manobras completas. É por isso que hoje em dia ainda nos orgulhamos mais de publicar fotos como esta do João Kopke pois sabemos que manobras destas já são concretizadas com uma boa taxa de sucesso! _ 19 _



photo by Tobias Ilsanker São vários os surfistas estrangeiros que vivem em Portugal há vários anos. Podemos começar em Marlon Lipke, passar pelos irmãos Guichard e iremos chegar a Dane Hall. Este escolheu Peniche como o seu poiso e hoje é um dos que não falha uma única sessão nos Supertubos. Metro e meio com vento manhoso ou dois metros e meio pesado com vento PERFEITO, Dane Hall está sempre à procura da intensidade dos tubos portugueses mais internacionais! E acredita que é rara a surfada onde Hall não encontra uma dessas gemas. A esse fenómeno chama-se local knowledge! _ 21 _



photos by Jorge Matreno O culpado por Filipe Jervis ter dado este aéreo bárbaro é Pedro Boonman! Parece-te estranha esta afirmação? Deixanos enquadrar-te. Boonman já se encontrava na água quando Jerivs chegou à praia e, nesse momento, viu Boonman a dar um slob reverse desvairado! O facto de surfarem (e treinarem) juntos regularmente faz com que puxem um pelo outro e foi exactamente isso que aconteceu mais uma vez. Jervis ficou saudavelmente picado, entrou para a água e, na sua primeira onda, repetimos, na sua primeira onda, executou esta “besta” na perfeição! _ 23 _



photo by Jorge Matreno Diz o povo que a maçã podre cai sozinha! Como esta praia é a praia das Maçãs, assumimos que maçãs aqui são ondas e que maçãs podres são ondas más! Como é óbvio Pedro Boonman não quer comer as maçãs podres desta praia e deixa-as passar mas quando aparece aquela maçã perfeita e imaculada, Boonman apanha-a e destrói-a com a sua dentição completa! _ 25 _



photo by carlospintophoto.com Esta foto dá-nos pesadelos, e a culpa é do Francisco Alves e desta pintura! A verdade é que a foto está incrível e por isso mesmo não conseguimos parar de olhar para ela. O problema aparece quando desviamos o nosso olhar dela, passado umas seis horas, pois o nosso cérebro começa de imediato a projectar smiles amarelos em todo o lado. E por muito que um smile amarelo seja uma figura “quiducha”, vê-lo em todo o lado torna-se arrepiante! _ 27 _



photos by carlospintophoto.com Esta sequência do Frederico Morais fez-nos a pensar... Sim, parece incrível nós sabemos mas não te preocupes pois pensámos em coisas inúteis mas que mesmo assim temos de partilhar contigo. Sabemos que uma prancha fica com mossas na zona dos pés com o tempo e esta sequência fez-nos pensar se as pranchas de Morais terão também mossas naquela zona do rail que agarra sempre que dá aéreos reverse! Será que ele pede um reforço nesta zona quando manda fazer as suas pranchas? E será que esse reforço lhe coloca peso extra naquele lado da prancha, o que depois ajuda a que a lei da gravidade actue mais fortemente o que o faz completar esses aéreos com tanta regularidade? Será este um dos muitos segredos do surfista do Guincho? Ou será que estamos mesmo a pensar em coisa inúteis? _ 29 _


03 dezembro 2014 _ 04 dezembro 2014 _ 05 dezembro 2014 _ 0 6 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 07 dezembro 2014 _ 08 dezembro 2014 _ 09 dezembro 2014 _ 1 0 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 11 dezembro 2014 _ 12 dezembro 2014 _ 1 3 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 14 dezembro 2014 _ 15 dezembro 2014 _ 1 6 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 1 7 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 18 dezembro 2014 _ 19 dezembro 2014 _ 20 dezembro 2014 _ 21 dezembro 2014 _ 2 2 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 2 3 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 24 dezembro 2014 _ 25 dezembro 2014 _ 26 dezembro 2014 _ 27 dezembro 2014 _ 2 8 d e z e m b ro 2 0 1 4 _ 29 dezembro 2014 _ 30 dezembro 2014 _ 31 dezembro 2014 _ 01 janeiro 2015 _ 02 janeiro 2015 _ 03 janeiro 2015 _ 0 4 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 05 janeiro 2015 _ 06 janeiro 2015 _ 0 7 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 08 janeiro 2015 _ 09 janeiro 2015 _ 10 janeiro 2015 _ 11 janeiro 2015 _ 12 janeiro 2015 _ 1 3 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 14 janeiro 2015 _ 15 janeiro 2015 _ 16 janeiro 2015 _ 1 7 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 18 janeiro 2015 _ 19 janeiro 2015 _ 20 janeiro 2015 _ 2 1 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 22 janeiro 2015 _ 23 janeiro 2015 _ 2 4 j a n e i ro 2 0 1 5 _ 25 janeiro 2015 _ 26 janeiro 2015 _ 27 janeiro 2015 _ 28 janeiro 2015 _ 29 janeiro 2015 _ 30 janeiro 2015 _ 31 janeiro 2015 _ 01 fevereiro 2015 _ 0 2 f e v e re i ro 2 0 1 5 _ 03 fevereiro 2015 _ 04 fevereiro 2015 _ 05 fevereiro 2015 _ 06 fevereiro 2015 _ 07 fevereiro 2015 _ 08 fevereiro 2015 _ 09 fevereiro 2015 _ 10 fevereiro 2015 _ 11 fevereiro 2015 _ 12 fevereiro 2015 _ 13 fevereiro 2015 _ 14 fevereiro 2015 _ 15 fevereiro 2015 _ 1 6 f e v e re i ro 2 0 1 5 _ 1 7 f e v e re i ro 2 0 1 5 _ 18 fevereiro 2015 _ 19 fevereiro 2015 _ 20 fevereiro 2015 _ 21 fevereiro 2015 _ 22 fevereiro 2015 _ 23 fevereiro 2015 _ 24 fevereiro 2015 _ 25 fevereiro 2015 _ 26 fevereiro 2015 _ 27 fevereiro 2015 _ 28 fevereiro 2015 _ 01 março 2015 _ 02 março 2015 _ 0 3 m a rç o 2 0 1 5 _ 04 março 2015 _ 05 março 2015 _

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Dia 14 de Dezembro, ao ser eliminado no round 2 do Billabong Pipe Masters, Tiago Pires e cinco outros tops do WCT não conseguiam a qualificação para o tour de 2015. Chegou assim ao fim uma fase de uma carreira que seja examinada a nível nacional, europeu ou mundial pode ser considerada como fora de série. Com o fim da fase também a prova parou por alguns dias.

Dia 19 de Dezembro o Pipeline Masters voltou à água e quando Mick Fanning foi eliminado no heat 3 do round 5, por Alejo Muniz, Gabriel Medina sagrou-se campeão mundial da ASP, um título inédito para os surfistas do seu país. Umas horas mais tarde, Julian Wilson vencia a final e a prestigiosa Vans Triple Crown of Surfing de 2014! photo by ASP

Foi no dia 20 de Janeiro que aconteceu uma das maiores tragédias dos últimos anos para a comunidade do surf. O conhecido tube rider brasileiro, Ricardo dos Santos, foi baleado no seguimento de uma discussão na sua terra natal, acabando por falecer dois dias mais tarde como resultado dos seus ferimentos. RIP. photo by ASP

A 22 de Janeiro, Vasco Ribeiro fazia a sua estreia no circuito de 2015, no Burton Automotive Pro, etapa QS6000, abrindo assim o ano com a chave de ouro. O campeão mundial júnior foi avançando heat após heat, parando apenas nos quartos de final man-on-man onde foi batido pelo eventual campeão do evento, Alejo Muniz, terminando em 5º lugar.

A 24 de Fevereiro terminou o Allianz Capítulo Perfeito Powered by Billabong, na praia de Carcavelos. A prova tinha começado quatro dias antes mas as condições obrigaram a que as fases finais fossem adiadas. Bruno Santos, um surfista que teve a sua vaga em substituição de Ricardo dos Santos, foi o grande vencedor batendo na final dois ex-campeões da prova, Nicolau Von Rupp e Tiago Pires e ainda Ruben Gonzalez. Divulgação.

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geral@nautisurf.com


A pergunta mais difícil. Fui. Ainda sou de vez em quando. E no futuro Deus dirá.

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texto by Ricardo Vieira ricardovieira30@gmail.com

- Fazes “turbos” nas ondas?! - arranha um terceiro, filho de mecânico com certeza.

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photo by carlospintophoto.com

TUBO OU NADA! Acontece-me de vez em quando ser atropelado por um texto meu mais antigo; ou alguém o desenterra acidentalmente das coleções de revistas lá de casa ou o descobre republicado em blogues de autor nas curvas da internet. E pela segunda vez aconteceu com uma professora do ensino primário que, após macabra descoberta, resolveu que a história sobre um menino africano que não deixou de sonhar servia perfeitamente para fins de elevação moral e ensino social aos seus alunos da quarta classe. E assim fui convidado a assistir a um teatrinho montado pelos miúdos e a responder a algumas perguntas sobre o personagem no fim do mesmo. Assim que me apresento, a coisa descamba. A primeira pergunta é porque sou tão moreno. - És preto?! - dispara uma das inocências de braço no ar.

Escangalho-me em riso e a miudagem segue-me em cópia fiel, sem perceber a falha. - Tubos, diz-se tubos porque são como os túneis, ou a entrada do metro. Em alguns, conseguimos andar um bocado, ninguém nos vê e não vemos ninguém e depois saímos, pelo menos aqueles que os sabem fazer bem feitos. Depois de um breve silêncio, em que os piratas aproveitaram para carregar as pistolas e reposicionar o barco para o assalto final, uma mão tímida levanta-se no ar, ao fundo da sala. - Quando sais de um “túnel”... apareces sempre na mesma praia ou podes aparecer noutra?! Fiquei sem resposta. Sentei-me na cadeira com a professora a mirar-me de esguelha, como que tentada também a acreditar nessa improvável possibilidade. Que pergunta tão diferente, com tanto de ignorante puro como de génio batido. Se apareço sempre na mesma praia? Há coisas tão óbvias que nunca pensamos nelas de outra forma. E se não aparecesse? E se de vez em quando, os tubos perfeitos e profundos abrissem portais na natureza e nos fizessem aparecer noutra praia? Noutra praia qualquer, de forma aleatória... Mas não me posso dar a inquietações metafísicas numa sala de aulas da quarta classe e então resolvo “apanhar” o aluno da forma mais simples, afinal, cérebros de nove anos esbarram fácil, quase automaticamente, em incongruências. - Se eu fizesse um túnel e aparecesse numa praia muito longe de onde vivo, do outro lado do mundo, sem dinheiro nem bilhete de avião, como voltava para casa, molhado e com a prancha? O miúdo não se atrapalhou e respondeu-me d-e-v-a-g-a-r-i-n-h-o para ver se eu entendia, talvez com pena de mim.

Rio-me. Por dentro sou, respondo. E no Verão, depois de umas semanas de praia, ondas e lagartagem ao sol, quase chego lá pelo lado de fora também.

- Então, era só fazer outro túnel e aparecias outra vez na primeira praia!!!

- És “sarafista”?!, pergunta outro diabo.

A risota na sala é geral. O ignorante estava encontrado, ninguém duvidava. _RV

Já pensaste que numa outra dimensão, poderias entrar neste tubo nas Mentawaii e ao sair dele estarias, por exemplo, no Hawaii? Não pois não? É porque não tens o incrível cérebro de um miúdo de 9 anos... photo by carlospintophoto.com


Despomar Lda, 261 860 900


Muito se tem falado e escrito sobre o papel do turismo de surf na economia portuguesa, mas parece que nenhuma outra instituição tem sabido aproveitar melhor esse valor tão importante como as Câmaras Municipais do litoral nacional. A fórmula “apoio a eventos + apoio aos clubes locais e escolas + apoio a surf camps e hostels” tem funcionado bem e produzido resultados muito interessantes na economia real dos concelhos que têm apostado, sobretudo os que de forma continuada, neste conceito. Recentemente, Peniche, Cascais, Nazaré, Mafra (apesar de alguns anos de interregno) e Ribeira Grande são o exemplo mais mediático do sucesso da aplicação desta fórmula; Viana do Castelo, Porto, Figueira da Foz, Sintra, Calheta, São Vicente, Vila Nova de Gaia, Ílhavo, Sines, Aljezur, Vila do Bispo e Faro, de forma mais humilde e intermitente, também a têm aplicado ao longo dos últimos 20 anos; Espinho, Ovar e Almada são os exemplos mais recentes, mas nem por isso menos importantes. De facto, o potencial económico e laboral deste conceito ainda agora começou a ser explorado, o que é promissor para um país que cada vez mais aposta no turismo e para uma actividade que permite quebrar a sazonalidade turística do conceito clássico de “férias na praia”. Destes todos, o concelho que me é mais caro é o de Almada, onde cresci, aproveitando o enorme potencial das suas praias, naquele trecho de costa a que a maior parte das pessoas chama de Costa de Caparica, mas que na realidade tem boas ondas desde a Trafaria, até à Fonte da Telha – 30 km de areal, sempre com fundos bons num qualquer ponto da costa... A praia mais próxima do centro de Lisboa, a capital de Portugal, com águas limpíssimas e areais extensos, sempre atraiu surfistas de todo o país, uma vez que são

raros os dias ali sem ondas. A zona central da Costa de Caparica tem as praias que provavelmente são as mais frequentadas do país, diariamente. O potencial para atrair turismo de surf em larga escala sempre esteve

34 Texto by Miguel Pedreira

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“Antecâmara” das nossas

Ondas Zé Ferreira é um dos muitos surfitas portugueses que tem na Costa da Caparica um campo de treinos perfeito. Sem dúvida que com um maior apoio e mais contínuo da Câmara Municipal de Almada, a Costa da Caparica poderá ter no surf uma das grandes receitas vindas do turismo surfístico. photo by Jorge Matreno

lá, mas de uma forma ou de outra, alguma coisa não acontecia para que isso se tornasse uma realidade, como em Peniche, Cascais, Sagres ou Ericeira. Embora tenha apoiado grandes eventos e os clubes locais ao longo dos últimos 20 anos, a Câmara Municipal de Almada fê-lo de forma intermitente, o que não permitiu criar um hábito aos frequentadores destas praias, aliciados por condições e eventos regulares noutros concelhos. Mas parece que a Câmara de Almada, extremamente activa e um ponto de referência nacional no campo cultural, já percebeu esta questão, dando agora sinais de não querer perder “esta onda”, passe a expressão, quase um sacrilégio entre a nossa comunidade. E digo isto porque, com o festival de música “O Sol da Caparica”, em 2014, e agora o “Caparica Primavera Surf Fest”, que este ano se realiza entre 26 de Março e 4 de Abril, as portas do turismo de surf podem abrir-se finalmente, e de forma sustentada, para o concelho de Almada. Ainda são apenas sinais, mas são já qualquer coisa! Acredito que, com uma aposta continuada nestes festivais, um reforço do apoio aos clubes de surf locais e uma desburocratização dos passos a dar para se abrirem mais hostels e surfcamps na Costa de Caparica (bem como a resolução dos problemas criados pela falência do projecto Costa Polis, esse já da responsabilidade do governo central!), daqui a dois ou três anos poderemos ter mais um local da costa portuguesa onde a vivência saudável do surf que ali se pratica poderá ser partilhada com muitos turistas, nacionais e estrangeiros, ao longo de todo o ano. Quem sabe até, poder ser este o mote para recuperar a solução urbanista visionária do arquitecto Cassiano Branco, que em 1930 já sonhava com uma _ MP Costa de Caparica “muito à frente”?!...






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A carreira de Tiago Pires no WCT superou até as suas próprias expectativas. Foram 7 anos de batalha entre os melhores do mundo e mais ainda no circuito de qualificação. Pelo meio derrotou ícones, abriu portas e estendeu os seus limites, carregando sempre a bandeira portuguesa aos ombros. A sua carreira na elite pode ter chegado ao fim mas pela frente ainda poderá ter um longo percurso como surfista profissional. A ONFIRE quis saber mais sobre os seus últimos tempos na elite e o que se segue.

Tour



| 41 | Se houve uma manobra que se tornou na marca registada de Tiago Pires, é seguramente o carve. Cabo Verde. photo by Pedro Mestre

Tiago, depois de sete anos no WCT a tua saída aconteceu após a derrota no round 2 do Pipe Masters em Dezembro. O que te passava pela cabeça no momento em que acabou a bateria? Foi um momento difícil, mas para ser sincero estava tão cansado com a “sova” que levei dentro de água que acabei por não pensar muito nisso. Levei com um set enorme na cabeça e vim parar a terra, estavam condições de vida ou morte onde tive uns momentos bastante difíceis. Consegui voltar a passar para o outside mas demorei uns 10 minutos porque tive de dar a volta. A verdade é que nunca pensei que me fosse tão indiferente como foi, apesar de eu querer bastante estar no WCT e gostar daquilo que faço, foi menos doloroso do que estava à espera. Talvez tenha sido por estar numa fase da minha vida em que estão a aparecer novos projectos interessantes. Isso tudo ajudou para que tenha conseguido ultrapassar esse momento difícil mais levemente. Depois de tantos anos a competir ao mais alto nível sob pressão, sentiste algum tipo de alívio quando te mentalizaste que estavas fora do WCT? Sim, houve de facto algum sentimento de alívio, porque foram muitos anos a vestir uma lycra bastante pesada. Tinha basicamente o peso de uma nação carregada nos meus ombros. Vesti e carreguei com muito gosto, muito orgulho, mas houve momentos realmente de muito stress em que os níveis emotivos foram muito altos e muito baixos. Houve sofrimento, lágrimas e emoção. Ao mesmo tempo é uma carreira de que me orgulho bastante porque em miúdo, com 16 ou17 anos, nunca pensei que pudesse chegar tão longe. De facto aconteceu, estive a surfar contra os melhores do mundo durante muitos anos e acho que só posso ficar orgulhoso da carreira que tive. Quais foram os pontos altos de 2014 para ti? O Tahiti foi talvez o meu momento alto do ano, apesar de não ter sentido que fiz os meus melhores anos de competição nessa prova. Fiquei em 9º lugar, não foi um resultado por aí além. O heat contra o Taj foi quando consegui a melhor pontuação do ano e estive em grande sintonia com as ondas e com os sets. Fui melhorando os scores onda após onda e culminou numa onda que foi quase um 10. Deixei-o em combinação por isso foi um heat bom, é sempre um momento alto. Pena que no dia grande não tenha conseguido ir mais longe. Não deixou de ser um campeonato espectacular, com ondas incríveis e free surfs muito bons. Enfrentar Teahupoo com aquele tamanho é razão para recear pela vida ou sentes-te seguro devido às condições disponíveis no evento? Não, acho que é um campeonato em que toda a gente tem algum medo e muito respeito pelas ondas. Durante as três semanas que estive no Tahiti surfei ondas grandes e com força, que culminou no último dia do campeonato, o maior dia. Chegando de barco ao pico, vi que o mar estava realmente gigante e vi um bodyboarder a ir numa onda que ninguém quis entrar. Depois ouvi dizer que ele tinha ido parar ao hospital. Nesses momentos começas a jogar com as tuas emoções e os teus sentimentos. Apesar de não ter divulgado tive uma queda numa onda antes do campeonato começar e acabei por fazer um entorse ao pescoço que me desencadeou uma hérnia que neste momento ainda estou a tratar. Estive um bocado condicionado porque esta hérnia atacava-me o braço e começava a dificultar-me um bocado a remada e acho que isso também me travou um pouco no campeonato. Não estava a 100% e aquela semana e meia de free surf que tive antes do campeonato deixou algumas mazelas.


Chegaste ao Havai com alguma expectativa de conseguires a requalificação? Fui com alguma expectativa mas sabia que ia ser difícil. Realisticamente depois da “borrada” que fiz na Europa sabia que a qualificação estava bastante dificultada. Penso que o grande erro do ano foi a minha perna europeia, que foi um desastre. Mas também culpo bastante as ondas, tivemos das piores ondas de sempre. A coisa ficou difícil mas não impossível e nunca atiro a toalha ao chão desde que tenha alguma possibilidade. Estive no Hawaii quase dois meses e no primeiro campeonato senti-me com energia, vitalizado, pronto para a guerra. Depois começou o compasso de espera de uns campeonatos para os outros e mesmo durante as provas. E lá está sempre crowd na água e não consegues apanhar as melhores ondas, vais te desgastando um bocado. Acabei por fazer uma perna havaiana fraquíssima, tirando o meu primeiro heat em Haleiwa. Era um campeonato em que estava em boa forma e é uma onda a que me adapto bem. Foi um vacilo meu porque no segundo heat perdi a precisar de 5 pontos. Guardei a prioridade nos últimos 9 minutos e não fiz nenhuma onda, fui selectivo de mais. Foi um grande golpe na minha costela e acabei por deitar uma grande oportunidade fora porque era passar mais um ou dois heats ali e ia ficar muito perto de me garantir pelo WQS. Não aconteceu, e depois Sunset foi um campeonato em que acho que não surfei mal mas tive um heat em que toda a gente surfou bem e talvez a minha escolha de ondas não tenha sido muito feliz nesse campeonato. Consideras Sunset uma das ondas mais difíceis do tour? É sempre complicado quando estás a competir num point daqueles. São ondas que nunca estão no mesmo sítio e a sorte conta muito se estiveres no sitio certo com a prioridade. Fiquei em terceiro à frente do Bede Durbidge, que também é do WCT e que também teve as mesmas dificuldades que eu em apanhar as ondas. Assim acabaram as minhas hipóteses de me garantir pelo WQS, que eram talvez menos exigentes que pelo WCT onde precisava de uma meia final. E pronto, o campeonato de Pipe foi talvez aquele que me decepcionou mais. O primeiro heat foi bastante escasso de ondas, o Bede apanhou as únicas ondas boas e o segundo foi um heat em que não queria entrar pois achei que não estavam condições para competir. Estive a ver o mar a manhã toda e tirando o heat do Kelly não houve ninguém a passar dos 6 pontos. Praticamente todos os heats estavam a ser decididos com notas de 2 e 3 e 1, achei que era um mar que não merecia a pena, não valia o risco e não estava a proporcionar espectáculo nenhum. Aquilo era mais uma arena de gladiadores a tentarem não ser mortos do que um espectáculo de surf.Tentei ainda convencer o Kieren Perrow, juntamente com o Aritz (Aranburu), que ia competir a seguir a mim, a dizer-lhe que havia muita coisa em jogo neste campeonato. E é realmente verdade, havia muitas carreiras em jogo, é triste termos de decidir o nosso ano assim desta maneira, com ondas quase insurfaveis. Mas o Kieren respondeu que as condições não eram muito boas para o resto do campeonato, e realmente não foram, ficou bastante mau, não quis parar e acabou por parar depois dos nossos heats. Foi um dia bastante estranho porque eles acabaram por parar e à tarde ficou a melhor sessão do inverno, com ondas incríveis, não sei o que se passou. Foi uma nuvem negra que pairou ali e que fez aquilo tudo parecer um pouco anedótico, mas a realidade é que foi assim que eu acabei por decidir o meu ano. Às vezes a vida no WCT é assim, nem tudo é um mar de rosas, nós pensamos que vamos sempre surfar ondas perfeitas e que é o dream tour e isto e aquilo mas a realidade é que há muitos campeonatos em que acabamos por perder com condições muito fracas. Mas é assim, estamos dependentes da natureza e temos que conseguir aceitar.

Há quem diga que Saca vê o Reef a quebrar da janela de sua casa. Não sabemos ao certo se é verdade ou mito mas a intimidade que tem com a onda indica que sim. photo by Pedro Mestre | 42 |



| 44 | Tiago Pires não surfa nos Coxos tanto como seria de esperar mas é seguramente o melhor surfista na água sempre que lá vai. photo by André Carvalho|Goma

Consideras que ter perdido nesse dia e nessas condições foi uma queda inglória do WCT? Sim, foi um bocado uma queda inglória, mas o meu ano foi perdido antes do Havai. Além da minha prestação na Europa, um campeonato que me deixou bastante triste foi o de JBay. No meu heat do round 2, contra o CJ Hobgood, acho que fui mal julgado, quem quiser rever aquele heat comigo está à vontade. Acho que ganhei aquele heat sem espinhas e acabei por perder por décimas. Foi chato porque foi em JBay que me senti a surfar no meu melhor, estava num momento físico e de confiança bastante alto e acabei por ser cuspido para fora da prova de uma forma injusta. Esses pequenos erros custaram-me o ano. Tinha acabado de vir de um 3º lugar em Durban e acabei por perder para um surfista que alisou, evitou surfar no critico, evitou o risco, caiu e conseguiu ter notas mais altas. Não sei, às vezes o critério da ASP fica um bocadinho no ar e é pena porque acho que com um bom resultado em JBay a meio do ano as coisas podiam ter sido diferentes. WCT de 2016 é algo que esteja nos teus objectivos? Não, não é um objectivo neste momento. Penso que este vai ser o meu último ano de competição na WSL. Não creio que para o ano farei muitos campeonatos a não ser que seja convidado para fazer um campeonato ou outro. Acho que é preciso também saber encerrar as botas e pensar noutras coisas, em coisas mais saudáveis, que se adeqúem mais ao momento de vida em que estou. Vou ser pai em final de Maio por isso vai ser um grande desafio e sei que cada vez mais vou ter de passar mais tempo em Portugal. Há mais pessoas a dependerem de mim, a precisarem de mm, por isso penso que este ano vai mesmo ser um ano de despedida dos campeonatos, pelo menos internacionais. Não quer dizer que não possa fazer mais campeonatos na Europa mas ir correr atrás de pontos nos rankings mundiais e vamos ver o que o ano vai trazer. Apesar de teres tido, e continuares a ter, uma carreira incrível, sentes que ficou alguma coisa por realizar? Sem dúvida, podia ter sido duas vezes campeão do mundo júnior mas não fui, fiquei duas vezes em segundo lugar; são dois títulos que não tenho. Mas foram dois títulos também que, olhando para as coisas de uma outra óptica, se calhar até me ajudaram porque às vezes sendo campeão do mundo acabas sempre por relaxar, por achar que és o melhor e que as coisas vão acontecer. Quando ficas em segundo acabas sempre por ser o primeiro derrotado, continuas a trabalhar muito mais. Ao fim ao cabo se calhar na altura doeu-me bastante mas deu-me muito mais asas para trabalhar do que se tivesse ganho, mas sem dúvida que gostava de ter tido esses dois títulos, e gostava de ter ganho um WCT e é isso, de resto sinto-me bastante feliz com o meu percurso. Para terminar, houve algum momento que te tenha marcado muito durante os teus anos no WCT? Houve um heat que nem passei, contra o Taj em Fiji, que foi o primeiro ano que lá fui como membro do WCT. Perdi mas tinha feito um 9 qualquer coisa e a minha segunda onda foi um 4 e tal num tubo que não saí mas que senti que percorri a bancada toda. Foi ao fim do dia, foi um dos últimos Heats do dia, aquela luz de pôr do sol, as condições estavam de gala - 2 metros e meio, perfeito, Cloudbreak no seu melhor. Maré vazia, estava a dar ondas incríveis e o Taj acabou por fazer um 10. Foi um heat especial, onde apanhámos ondas incríveis, onde tu sentes que estás realmente num sitio privilegiado e que a tua profissão e a tua vida são uma coisa especial, quando estás a surfar aquelas condições, com aquela luz, com alguns barcos no canal a gritarem e a puxarem por ti. E pronto, acho que se tivesse saído do segundo tubo tinha tido outro 10, tinha sido um heat quase perfeito, foi um momento realmente incrível para mim. OF



Ao longo de toda a nossa costa rebentam ondas inacessíveis para 99% dos surfistas nacionais devido ao seu perigo! A grande maioria são slabs, e a localização e condições que necessitam para funcionar são conhecidas apenas por um restrito grupo de “malucos”! O slab deste artigo é uma dessas ondas, e a sessão que vais ver nas próximas páginas só não te é proibida aqui nas páginas da ONFIRE! photos by João Pedro Rocha texto e legendas by ONFIRE

AOnda Proibida



Supertubos, nos dias bem grandes e pesados, naqueles que se contam pelos dedos de uma mão os surfistas que estão na água, tem sido talvez a praia onde o local de Peniche, Dane Hall, tem treinado afincadamente para quando este slab de esquerda funciona. E quando este dia épico chegou, Hall despencou do lip para a base e, sem vacilar, encaixou no salão mágico! photos by João Pedro Rocha | 48 |


Situada algures na costa portuguesa, esta esquerda cavernosa é proibida à maioria dos surfistas. Esta proibição deve-se pura e simplesmente ao facto de ser uma das mais perigosas ondas que rebenta na nossa costa, e antes de aprofundarmos mais esta questão, não há nada que assine mais o que dizemos do que o seguinte: Nicolau Von Rupp, o goofy português que é conhecido mundialmente principalmente pelas suas performances em ondas onde o risco de vida está presente em cada sessão – ondas como Teahupoo, Mullaghmore ou Cave -, usa um colete de flutuação por baixo do fato quase sempre que aqui vai surfar! Se isto não justifica a proibição de surfares ali então não sabemos o que justifica! E se neste momento te passa pela cabeça que estamos seriamente a exagerar para proteger este spot, acredita com todas as células do teu corpo que não estamos! Este é um spot que só funciona com ondas com tamanho, ou seja, dias de um metro não existem, e como tal só isso já afasta o comum dos surfistas pois não são todos que estão preparados para enfrentar masmorras de, no mínimo, três metros assim de repente. Mas há mais, muito mais, a “embelezar” o cenário de perigo deste slab!. Sendo um slab, a perigosa esquerda só poderia rebentar em cima de uma bancada de rocha, o que endurece um “pouco” mais a “coisa”. Depois, se estás a surfar três metros aqui, convém saberes que este é um daqueles picos que é um íman de ondas por isso facilmente tens um set de cinco metros a aparecer do nada. Imagina-te “calmamente” à espera da próxima onda quando, de repente, na zona de arranque, vês uma parede de cinco metros a surgir para te dar o maior e mais poderoso caldo da tua vida! Se não gostas de te ver debaixo de um lip de metro e meio sólido, então imagina o que seria ficares frente a frente com um lip de uma onda de três, quatro, cinco metros, e onde só o lip tem a espessura de uma parede de concreto, e a onda em si a velocidade e força de um touro em momento de ataque. Mas há mais! Este é um spot que por norma pede pranchas grandes. Se surfistas como Von Rupp ou João Guedes usam pranchas na casa do 6’5’’ pés, então que tamanho de prancha usaria um surfista como nós, que está a anos-luz de ter uma técnica de tubos como a destes grandes nomes do surf português? Sete pés? Oito pés? Quantos de nós têm sequer pranchas destas em casa? Mas mais uma vez, a realidade, por mais dura que te possa parecer, é que mesmo que tivesses o equipamento não te aconselharíamos nunca a surfar esta onda pois a experiência que uma onda deste tipo pede não se alcança de um momento para o outro mas sim com anos e anos de treino e preparação. Não haverá provavelmente exemplo melhor que a Cave, aquela que é talvez a mais perigosa onda portuguesa, para teres uma noção mais real do perigo que slabs destes representam para um surfista! Foi na edição 25 da ONFIRE que se publicou pela primeira vez na História do Surf nacional um artigo de fundo sobre a perigosíssima direita da Ericeira. A onda, juntamente com Tiago Pires, figurou também na capa, e esta foi uma das primeiras sessões de um restrito grupo de surfistas portugueses que nesse dia decidiu aventurar-se na direita que pode acabar com a carreira (ou vida) de


qualquer surfista profissional! A Cave é em muito diferente desta esquerda, sendo que o maior perigo da onda da terra dos ouriços é mesmo o facto de ao longo de toda a sua extensão teres a rocha sempre de dentes afiados a menos de um braço de distância. Cair dentro do tubo da Cave é sinónimo de um encontro com a rocha que, dependendo da zona do tubo onde cais, poderá ter mais ou menos consequências graves. Von Rupp confessounos uma vez que sente que o seu trabalho na Cave está como que feito. Já lá foi, já lá surfou, já teve o impacto mediático de tal “maluquice”, e hoje só lá quer ir em dias muito especiais pois é o primeiro a admitir que a Cave pode acabar com a sua carreira. A par de Von Rupp tens também Slater, o nome que dispensa apresentações em todos os campos do surf e que já assumiu que a Cave é uma das ondas mais perigosas e onde se sente menos à vontade no mundo! Foi então na ONFIRE 25 que publicámos o artigo sobre a Cave, ou seja, há 8 anos atrás, e se na altura apenas uma mão de surfistas lá surfava, hoje, quase uma década depois, a situação a nível de crowd continua a ser praticamente a mesma. Isto para tocar num outro importante ponto desta Não há ângulo melhor que o de dentro de água para o leitor ter uma noção o mais real possível do que é uma onda. Nesta sequência do João Guedes podes ver o quanto esta esquerda é pesada e intensa, e convém teres em atenção que esta não foi uma das bombas do dia… photos by Nuno Cardoso | 50 |


esquerda, ponto esse que mais uma vez te mostra porque estas ondas estão reservadas para uma determinada elite, por muito presunçoso que isto possa parecer: estas são ondas onde nunca haverá um aumento de crowd por muito que o aumento de surfistas em Portugal continue a crescer exponencialmente a cada ano que passa! Isto pois este tipo de spots são spots que muitos dos melhores nacionais, europeus ou internacionais não estão preparados para enfrentar confortávelmente. Mais, são picos que necessitam de condições muito específicas para funcionar, condições essas que são guardadas em segredo entre os que lá surfam, tal e qual como a sua localização exacta! Mas convém reforçar pela milésima vez que temos 100% que não irias lá surfar mesmo que te desenhássemos um mapa para lá ires juntamente com o que estas necessitam para funcionarem épicas – como aconteceu neste dia. Porquê? Porque ninguém se quer magoar a séria, esmagar-se numa rocha ou morrer afogado, é tão “simples” como isto! Quando começámos a receber material desta sessão sabíamos que se iriam levantar exactamente as mesmas questões que se levantaram há 8 anos atrás com o artigo da Cave. O receio de quem faz surf frequentemente nestes spots – entenda-se por frequente três a dez sessões por Inverno pois é mais ou menos esta a periodicidade desta esquerda – é que o crowd aumente, um receio fundamentado pelo crescente número de surfistas ano após ano! Um receio que deixa qualquer surfista comum em ácido ao pensar que o spot que frequenta como se fosse um tesouro seu de repente é “saqueado” por dezenas ou centenas de surfistas. Este é um receio muito forte, forte demais, pois vai mesmo ao ponto de moldar a visão de quem lá faz surf do óbvio e daquilo que aqui temos vindo a reforçar longamente: não há mais do que uma mão de surfistas em Portugal com capacidade para aqui surfar, logo, tal como na Cave, estas continuarão a ser sessões restritas a quem está preparado fisica e mentalmente, e tem ainda um prazer quase sádico em surfar slabs destes!



João de Macedo é e sempre foi um dos grandes big riders do surf português. Pipeline, Mavericks, Cave, este spot, e muitos outros de ondas grandes e de graves consequências sempre foram e serão uma constante na sua vida pois é para este tipo de swéis e condições que Macedo vive e treina há décadas! photo by Tó Mané | 53 |


Se te parece que Nicolau Von Rupp está um bocado mais largo nos ombros nesta sequência não penses que estás a ver mal pois ele está mesmo. Isto pois esta onda é de tal forma perigosa que Von Rupp opta quase sempre por usar um colete por baixo do fato caso as coisas corram mal. Nesta bomba as coisas correram na perfeição para o “maníaco” de slabs, e a forma como sai deste impressionante tubo (assim como o sorriso de Von Rupp na foto de lifestyle) diz tudo sobre o que lhe ia no coração nesse momento! photos by Tó Mané water photo by Nuno Cardoso | 54 |


Afastados os fantasmas da possibilidade do aumento de crowd e deste artigo divulgar a localização deste slab, resta-nos agora libertar todas as nossas hormonas de adrenalina do tesão que esta onda é! Sim, tesão, não há melhor palavra para o descrever! Imagina uma esquerda que fora de água parece mega perfeita, quase fácil de surfar principalmente se não vires ninguém na água para, o que te faria perceber que em vez de dois metros estariam quatro. Imagina agora essa esquerda mas observada de dentro de água... Rapidamente te vêm à mente semelhanças gigantescas com Pipeline tanto em largura do tubo, como espessura do lip e verticalidade do drop (se não acreditas vê com olhos de ver as fotos captadas dentro de água deste artigo... Admite que caso Von Rupp ou Guedes estivessem de calções de banho, se te disséssemos que era Pipeline acreditavas)! Agora imagina o que imaginas todos os dias, uma onda onde poderias dar o tubo da tua vida! É tudo isto e provavelmente muito mais que esta esquerda é, aliás, é isto que praticamente todas as ondas mais perigosas do mundo oferecem, a possibilidade de um surfista realizar o seu maior sonho de vida de água salgada! É esta onda que rebenta algures na nossa costa e é esta que é surfada por uma punhado de loucos guerreiros. Nicolau Von Rupp, João Guedes, João de Macedo, Ivo Cação e Dane Hall partilharam este dia mágico com os bodyboards locais, aqueles que sem dúvida conhecem melhor os segredos da onda... Cá fora, uma mão de fotógrafos e camera man registaram a louca sessão, que teve tanto de momentos mágicos como de trágicos! A esquerda é um tubo comprido e intenso, ao contrário da Cave que é um tubo intenso mas curto. O jogo do sai ou não sai do tubo está presente sempre que um surfista desaparece dentro deste cilindro mágico. Se cair tem a consequência de uma eternidade debaixo de um rolo compressor; se não cair e sair deste tubo é a explosão de adrenalina que qualquer um que deu um tubo já deu... mas acreditamos que multiplicada por 1.000.000 de vezes!


O surfista da Figueira da Foz, Ivo Cação, era o regular desta sessão o que não deve ser nada positivo pois encarar bestas destas de backside é de certeza bem mais complicado. Mas Cação é um exímio tuberider e um dos que tem no sangue aquela química de ondas que desafiam a vida de um surfista. Nesta onda, Cação compõe o quadro perfeito para os habitantes das casas que vêm todos os swéis que por aqui passam há centenas de anos! photos by Tó Mané | 56 |


A adrenalina e a explosão hormonal que estas sessões provocam estendem-se muitas vezes semanas e meses após as sessões em si mas de uma forma muito diferente... Esse prolongamento começa com a visualização das imagens logo após a sessão. As fotos são analisadas pelos surfistas e fotógrafos ao mais ínfimo pormenor, afinal, de uma sessão como esta, saem sempre imagens raramente vistas, e o mesmo acontece com os vídeos captados que são vistos dezenas de vezes frame a frame, quase até o cartão de memória queimar! A partir deste ponto, a adrenalina começa a estender-se para lá da praia. Se os fotógrafos amadores rapidamente invadem as redes sociais com fotos e vídeos de baixa qualidade, já os profissionais optam por garantir que o seu trabalho é entregue às melhores revistas nacionais e, nestes casos e se possível, internacionais. Tal como na sessão da Cave, não pestanejamos sequer quando alguns dos fotógrafos desta sessão - Tó Mané, João Pedro Rocha e Nuno Cardoso - nos largaram um mail com os previews das bombas que podes ver nestas páginas! Num milésimo de segundo garantimos a publicação do artigo pois para nós, editores e crentes eternos do poder do papel, estas sessões são pedras preciosas raras! No mesmo milésimo de segundo que o nosso interesse no artigo foi revelado, foi também revelado o que já sabíamos que iria acontecer, uma tempestade de preocupações por parte de todos os envolvidos quanto à publicação ou não deste material.


Há quem defenda que determinadas ondas devem permanecer longe dos media de surf e, consequentemente, das massas do surf. Até podemos concordar de alguma forma com quem tem esta opinião pois ninguém gosta de ver um segredo revelado, mas com o que concordamos mesmo é que os media de surf devem publicar estas ondas desde que não se revele a sua localização ou condições necessárias para funcionarem. Recentemente foi-nos proposta uma viagem onde um local nos garantiu que nos levaria a spots secretos (com consentimento dos vários locais) e que poderíamos usar as filmagens ou fotos desde que não se filmassem ou fotografassem determinados backgrounds pois esses poderiam ajudar a revelar a localização das ondas. Mais uma vez, no caso concreto de spots como esta esquerda – ou várias outros que sabemos que rebentam por Portugal... – o factor mais forte que nos faz esquecer esta questão da divulgação ou não de ondas deste escalão é o que até aqui temos referido: são ondas inacessíveis a nível de surf para 99.9% dos surfistas portugueses devido ao seu elevado risco! Claro que isto não impediu que fotógrafos, surfistas e bodyboardrs locais passassem umas boas horas ao telefone a debater esta questão. Nuno Cardoso, um respeitado camera man/fotógrafo aquático confessounos que passou mais de 10h ao telefone por causa desta sessão. Nicolau Von Rupp pediu aos fotógrafos que não enviassem as fotos, e à OF que as fotos não fossem publicadas – e convém salientar que até do Hawaii, via whatsapp, o fez –, e só descansou quando lhe garantimos pela milésima vez que nunca revelaríamos a localização da onda por todas as razões óbvias e em última estância até porque, do ponto de vista editorial, o artigo fica com muito mais impacto envolto numa boa e neste caso real dose de mistério. Ajudou o facto do nosso histórico com situações como esta, não havendo exemplo melhor que o de Asha Point, um outro slab algures em Portugal sobre o qual publicámos um artigo (capa incluída) na edição de celebração do número 50 da ONFIRE. E, como Von Rupp teve oportunidade de ver muito recentemente, passaramse três anos desde que essa edição saiu e hoje o crowd em Asha Point continua restrito a uma mão de locais e raríssimos visitantes, todos eles com um grau exímio de surf pois esta é mais uma onda para lá de perigosa (poderás ver este artigo de Von Rupp, Morais e Pires em Asha Point numa das próximas edições da ONFIRE)!


Nicolau Von Rupp apanhou a bomba do dia e tens de admitir que se nesta foto ele estivesse de calções e te dissessemos que era Pipeline tu acreditarias. E não há foto melhor do que esta para perceberes realmente porque dizemos que esta onda é uma onda “proibida” para a grande maioria dos surfistas, doa o que esta verdade te doer! photo by Nuno Cardoso | 59 |


João Guedes, outro “doido” por slabs de consequência e um dos regulares nesta onda sempre que funciona, partilhou um pouco da preocupação de Nicolau – não tanto como o surfista da Praia Grande pois neste campo este é imbatível eheh. Mas no fim do dia sabia que não valia a pena tapar o sol com a peneira pois além do acordo unânime entre todos relativamente às “regras” de publicação deste artigo, o surfista do norte sabe perfeitamente que daqui a 5 anos o crowd surfístico pouco ou nada terá aumentado neste slab! E se há realmente um perigo no que toca à divulgação de/e da localização de ondas “proibidas”, esse assenta hoje nos curiosos e a sua acção nas redes sociais e não nos media de surf pois estes últimos são, por norma, surfistas e não há um surfista no mundo que se tiver um pico perfeito só para si queira divulgar a sua onda particular, é assim o lado egoísta deste nosso viciante estilo de vida! Continuando na questão de se publicar ou não este tipo de conteúdos editoriais, temos de olhar friamente para o surf enquanto negócio, custe o que custar, pois são artigos como estes que captam a atenção dos leitores e já para não falar que são as imagens captadas nestes dias que, uma vez publicadas ao mundo de uma forma profissional, potenciam a imagem de um surfista, uma das preocupações constantes de qualquer surfista profissional! A linha de pensamento, apesar de parecer complexa, é do mais simples que há: um dia mágico acontece num secret como este, fotógrafos e cameras profissionais estão presentes quer surfistas queiram quer não, e, com ouro nas mãos, procuram os media para vender o seu trabalho, afinal é disso que vivem. Os media publicam estas pérolas com todo o orgulho possível (e dentro das regras éticas deste tipo de ondas), os surfistas mostram imagens inacreditáveis ao país e mundo projectando a sua imagem e a dos seus patrocinadores, os leitores babamse e sonham, o mercado do surf cresce, e fecha-se o ciclo perfeito. Esta pode parecer uma análise dura e sem feeling mas é a real do ponto de vista do surf como negócio! Como já o dissemos não iremos revelar a localização desta onda não só porque foi acordado entre todos os envolvidos mas porque, mesmo que pudéssemos, não o faríamos! E a razão é a mais simples que há e só envolve uma “simples” coisa: o puro feeling do surf! A verdade é que não há surfista que não pagasse para ter um pico perfeito só para si e para amigos, e temos a certeza que esse surfista caso tivesse esse milagre, nunca irir revelar a sua localização sem mais nem menos ao mundo. OF


A primeira vez que publicámos fotos desta onda, há uns largos anos atrás, foi de uma sessão de tow-in pois nessa a dupla Tiago Pires e José Gregório treinava esta vertente do surf e esta parecia ser uma onda dificilmente acessível à remada nos dias insanos. Uns bons anos mais tarde e hoje é raro haver sessões de tow-in sendo que a “velha” remada é mesmo a que reina neste spot! João Guedes domina também o surf de tow-in mas só opta por esta opção quando as ondas são literalmente impossíveis de dropar à remada. Claro que o impossível para ele está a anos luz do impossível para a maioria de nós! | photo by João Pedro Rocha | 61 |



Francisco Canelas foi um dos poucos algarvios de sucesso há mais de uma década, altura essa em que escrever o nome no surf nacional não sendo um surfista do centro, era tarefa árdua! Hoje continua a ser um dos grandes nomes do surf português, e toda a sua vasta experiência levou-o a seguir o caminho de treinador de surf. Debaixo dos seus olhos tem uma jovem e promissora geração algarvia, e foi com eles que viajou a um dos poderosos segredos nacionais do Oceano Atlântico: a Ilha da Madeira!

texto by Francisco Canelas photos by Sebastian|Salty Frames intro e legendas by ONFIRE

À Descoberta do Oeste pelo Sul...



Este ano preparei uma viagem com os atletas juniores do Algarve que tenho o privilégio de acompanhar! Comecei a fazer contas e cheguei à conclusão que a nossa ilha da Madeira era o destino! Depois de sete idas à Madeira, confesso que senti o peso da responsabilidade… Sabia o que de certeza iríamos encontrar, e também o que poderíamos vir a encontrar… Algumas más decisões podem facilmente transformar uma viagem num pesadelo, sobretudo se tivermos em conta que estamos a falar de viajar com miúdos dos 13 aos 16 anos. Com cerca de 350 euros por atleta tivemos seis dias de sonho. A viagem incluiu uma espetacular deslocação de avião, estadia muito descontraída no Surfcamp do “Master” Abílio Pinto, descoberta gastronómica muito saborosa, acesso a várias ondas de calibre mundial, e a importante particularidade de termos levado um fotógrafo muito cool chamado Sebastian “Salty Frames”. Fomos ainda abençoados por um swell gigante que marcou definitivamente a viagem, num dia com muito sol e sem vento, e onde todos surfaram a maior onda das suas vidas! No total demos 12 surfadas, duas por dia, e que se transformaram em quase incontáveis horas de surf! Quem nunca foi à Madeira não sabe que este é um sítio único, uma ilha linda onde a natureza abunda, as pessoas são genuínas, acessíveis e muito respeitadoras, onde toda a energia da ilha é intensa. Quanto ao Surf, temos a Costa Sul solarenga e amena que bomba direitas, e a Costa Norte, mais sombria e selvagem, que dá esquerdas. O que une as duas é a perfeição das ondas, que aguentam paredes de um a dez metros. As entradas e saídas são uma experiência única, mas como o Billy diz, “é tudo uma questão de timimng e calma, muita calma, é só esperar…” Apenas existe uma praia de areia, e só uma onda que rola com menos de metro e meio (Fajãs). Tudo para dizer que a Madeira é uma realidade diferente do Continente, e está mesmo aqui ao lado. Depois da viagem fizemos aquele pacto que é feito em quase todas as surftrips: vamos voltar pois queremos quebrar barreiras de ano para ano. Se eles querem ser surfistas profissionais têm que tratar as ondas da Madeira por “tu”, pois deste modo estarão preparados para qualquer onda em qualquer parte do Mundo. É impressionante que com tantos Centros de Alto Rendimento, ninguém se lembrou de fazer um na Madeira... Não posso deixar de enaltecer a atitude dos meus atletas, pois definitivamente que esta foi a viagem que mais me marcou como treinador. Foi bom ver no terreno e ao vivo aquilo que levamos anos a ensinar. Foram para a arena e venceram. Muita atitude e respeito, com os outros e com o mar. O Martim foi o “herói” da viagem, aquela sessão da Ponta Pequena foi qualquer coisa, o puto é franzino mas atirou-se que nem um Leão, estava excitadíssimo! Só lhe dizia para vir mais para o canal. para não ir na primeira, mas não valia a pena… enfardou que nem um Leão também mas correu tudo bem… apesar de me assustar um bocado tenho muita confiança nele!

65_ main IMAGE Martim Magalhães voa controlado pelos céus da Madeira num dos muitos dias fun que apanhou!

MIDDLE IMAGE Jakob Lilienweiss está habituado a fazer muitos kms para surfar mas na Madeira tinha ondas à porta de casa por isso passou horas a aprimorar os seus carves!

LIFESTYLE A perfeição da ilha da Madeira em vários momentos!


main image Francisco Canelas continua a ser um dos melhores surfistas nacionais seja em ondas grandes ou ondas performance! 66_

MIDDLE IMAGE Enquanto o swell grande não chegou, os jovens algarvios aproveitaram para voar, cravar o rail e dar stickas verticais. António Silveira, sticka a 90º!

SMALL IMAGE Surf aéreo e tails de fora (mas não só...) fazem de Martim Magalhães um dos mais completos surfistas da nova geração algarvia!

O Jakob, 16 anos, é um miúdo de Tavira que faz cerca de 1000Kms por semana para surfar… Isso diz tudo, a sua vontade e dos seus pais é incansável, o que se tem refletido no seu surf. Tem evoluído muito e rápido, a sua humildade e espírito de sacrifício vão estar à vista de todos em breve. Get ready! A sua descrição da viagem é típica de um grom que está a conhecer um destino pela primeira vez: “Madeira - o Hawaii Europeu! Os Young Guns algarvios António Silveira, Henrique Poucochinho (aka Pouco), eu, Martim Magalhães e o coach Francisco Canelas deslocaram-se para a Madeira com o intuito de apanhar os últimos swéis de Inverno que vagueavam pelo Atlântico. Tendo como base o Madeira Surfing Life e guia o conceituado big rider Abílio Pinto (aka Billy), partiram todos os dias para a melhor onda da ilha de acordo com as condições. Passaram por Paúl do Mar - onda tubular e rápida -, Jardim do Mar, Ponta Pequena e Ribeira da Janela. A minha onda favorita foi a Ponta Pequena, que apanhámos clássica. Não tínhamos o quiver adequado para aquele tipo de mar, ondas com tamanho e muita massa de água para as nossas semi-guns, mas demos o nosso melhor e acabámos por nos dar bem. Adorei o bolo do caco no café em frente ao Paúl do Mar onde víamos da esplanada infinitas ondas a rolar sem ninguém, e o restaurante das espetadas a pendurar no tecto, um conceito inovador. Foi uma semana cheia de boas vibes, diversão e muito surf. Espero voltar pois fiquei muito impressionado pela qualidade de ondas, e preferencialmente com a mesma companhia pois foi uma viagem que vai ficar na memória. A única coisa negativa foi a Ryanair que nos fez um traço sobre o esquema, obrigando-nos a pagar extra pelas pranchas devido ao excesso de peso… é o que dá surfar até a última e não deixar secar os fatos antes de os guardar. Upsss!” Um dos meus outros alunos, o António Silveira, o mais adulto e ponderado, conhece bem os seus limites, ou pelo menos pensa que conhece, facto que não o impediu de dropar umas valentes bombas na Ponta Pequena. Resultado, a sua felicidade via-se do Continente. Os mais velhos também o ajudaram bastante, fiquei muito orgulhoso da união e amizade entre eles. “Foi a melhor viagem que fiz. Foi importante para ganhar experiência em ondas maiores e com mais força. Estiveram boas ondas todos os dias, tivemos muita sorte com o swell pois apanhámos dias clássicos. A surfada mais memorável foi na Ponta Pequena, onde apanhei as maiores ondas da minha vida. Esta foi a minha onda preferida; a onda mais difícil para entrar e sair foi Paúl do Mar. Quero voltar porque foi uma viagem em que ganhei muita experiência e ainda tenho muita a aprender nestas condições.”




O Henrique, a “coqueluche” da viagem, com apenas 13 aninhos rumou para a Madeira com a mesma atitude e vontade de um adulto, sim, porque ele sabia o que lhe esperava e estava mortinho para se pôr à prova. Resumindo, o Henrique entrou todas as vezes com os restantes colegas, à excepção do dia gigante da Ponta Pequena – aquela que foi também a sua onda de eleição -, em que estava de fato vestido para entrar na mar, quando viu o Billy apanhar a primeira onda… 3 metros sólidos…. “Ups!!! Henrique vais ter de ficar a filmar”. Apesar de ter ficado desolado com este momento, aquele que aponta como o que menos gostou na viagem, não me arrependi da decisão… Ainda por cima vieram dois sets piratas! Podia ter sido histórico mas acima de tudo está a segurança e as emoções de uma criança de 13 anos, que foram ao rubro com a melhor manobra que deu: “foi uma manobra simples, mas que me saiu bem. No último dia, uma paulada de backside que foi a despedida perfeita.” Já falei atrás do fotógrafo Sebastian, uma “aquisição” de última hora que, como bom fotógrafo, vê o mundo de uma forma particular. É esse mundo que ele tenta captar com as suas lentes mas que também o sabe fazer através da sua escrita: “Três e meia da noite. Na auto-estrada para Lisboa. Está a chover, os limpa-vidros da nossa carrinha estão a chiar e o motor zumbe. Sigo os meus pensamentos... Só queria fugir ao Inverno frio alemão de Hamburgo, por isso viajei até ao Algarve para apanhar sol, fazer surf e descobrir se iria encontrar o mesmo prazer na minha velha paixão, que nos últimos anos teria deixado para trás, a fotografia. O prazer de tirar fotos voltou rapidamente, e assim não só passei muito tempo dentro da água mas ainda mais tempo com a máquina fotográfica. Troquei palavras... Foi assim que conheci Jakob Lilienweiss, que nasceu na Alemanha mas vive há dez anos com os seus pais no Algarve. Jakob contou-me que iria à Madeira. Nunca tinha estado lá e parecia ser uma pequena aventura. Verifiquei as minhas finanças para descobrir que era bem provável estar falido ao regressar mas que conseguiria pagar a viagem e o alojamento. Perguntei ao Jakob se me podia juntar ao grupo para fotografar. Estou sentado no carro em direcção ao aeroporto. Canelas ao meu lado ao volante, que nos indica a direcção, e atrás de mim dormem os groms. A nossa missão: seis dias na Madeira sobre o lema: “Surf. Eat. Sleep. – Repeat!” A ilha de Madeira recebeu-nos com temperaturas de Verão. Desempacotar pranchas, prendê-las no topo do carro e lá fomos outra vez. Os dias passaram de abalada. O Billy, o guia perfeito, sabia exactamente quando e onde tínhamos de estar para aproveitar das melhores condições. Chegou uma altura em que deixei de contar as horas que os rapazes passavam dentro da água. Eram simplesmente demais. O pouco tempo em terra passámos com comida saborosa, a chegar ao próximo spot ou a dormir um pouco. O grande swell chegou e nessa manhã, ao sair de um dos mil túneis e avistando o spot, não acreditámos no que víamos. Parecia saído de postais, e duvidámos se não tínhamos sido transplantados para a Indonésia. Um dia inesquecível com ondas grandes e perfeitas, late drops brutais, pura adrenalina e um êxtase que iria permanecer por dias. À parte, seja dito que me apaixonei nesta ilha. Por uma bebida... Brisa Maracujá! E aparentemente faz parte de cada surftrip bem sucedida apaixonarmo-nos... e quase perder o voo de regresso. A bagagem que na viagem de ida não apresentava problemas, de repente ficou pesada demais, e no controlo somos todos revistados, um por um. Estávamos de tal forma atrasados que fomos acompanhados pessoalmente por uma hospedeira ao avião que apenas esperava por nós. Acordo depois de uma noite curta em casa do Jakob, e este já estava novamente na água, de volta ao seu home spot. Nos últimos dias tinha havido Levante e havia condições perfeitas na costa sul do Algarve. E eu só pensava: “Surf. Eat. Sleep. - Repeat!” _ FC

69_ main image Ondas grandes são outra paixão de Martim Magalhães e no Madeira pode também alimentar esta paixão ardente!!!

middle IMAGE O jovem de 13 anos, Henrique Poucochinho, era o mais novo do grupo e gozou da vantagem de ter os mais “velhos” a apoiá-lo a 100%-


29 dias em que Portugal foi

Meca


texto by ONFIRE

É a Austrália que abre a época competitiva do circuito mundial e o Havai que fecha a mesma. Durante algumas semanas todo e qualquer surfista que deseje ser alguém no surf profissional é atraído a esses pedaços de costa como “peregrino a Meca”! Mas também o nosso país, no mês de Outubro, teve direito a peregrinação com três títulos mundiais em disputa, muitos pontos e prize money. E mais uma vez a costa portuguesa mostrou que recebe algumas das melhores ondas do mundo! A ONFIRE destaca alguns dos mais impressionantes momentos desses 29 dias de grande acção. photo by Jorge Matreno


First two Lifestyle pics Teresa Bonvalot representou muito bem o nosso paĂ­s. photo by Pedro Mestre Left Main Image & Lifestyle Above Stephanie Gilmore, um passo mais perto do tĂ­tulo. photos by Pedro Mestre Right Main Image & Lifestyle above Nicolau Von Rupp limpou o orgulho nacional ao finalmente vencer os MOCHE Trials. photos by Jorge Matreno


D i a _ 0 5 ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... 73 |

Bafureira | S. Pedro do Estoril

Supertubos | Peniche

Foi o Cascais Women’s Pro, penúltima etapa do circuito feminino, que abriu a “perna portuguesa”, ou “Portuguese Wave Series” em Portugal Continental. Em disputa estava o sexto título mundial de Gilmore, a única surfista com hipóteses matemáticas de conseguir o título por antecipação. Três surfistas podiam adiar a decisão, Tyler Wright, Sally Fitzgibbons e Carissa Moore, e foi o que acabou por acontecer. Foi a prova mais móvel da temporada lusa pois começou na Praia do Guincho, passou por Carcavelos e seguiu para S. Pedro do Estoril, uma praia que por diversas vezes recebeu o circuito mundial feminino. Foi na Bafureira que terminou a prova, com a vitória de Gilmore, que assim ficou mais perto do título. Mas logo pela manhã do último dia de prova, Wright deixou claro que a taça deveria ser enviada para o Havai pois, ao bater Johanne Defay nos quartos de final, garantiu o 3º lugar que precisava para adiar a decisão!

Os MOCHE Trials, realizados em Peniche, valiam ao vencedor um wildcard para o mais importante evento de surf em Portugal, o MOCHE Rip Curl Pro Portugal, etapa do WCT O histórico do evento não era favorável aos portugueses que, apesar de serem a grande maioria na prova, tinham perdido as vagas nos últimos anos para os estrangeiros. Supertubos não estava no seu melhor, não passando de metro e meio com algum vento, mas os tubos foram decisores. À final chegaram Nicolau Von Rupp, Miguel Blanco, Vasco Ribeiro e o francês Charly Martin. Von Rupp foi quem dominou no início mas a poucos minutos do fim parecia que mais uma vez a vaga iria fugir dos lusos, graças a dois bons tubos de Martin. Von Rupp era quem estava mais perto do primeiro lugar e nos últimos segundos escapou da marcação do françês e conseguiu, com um tubo excelente, a vitória e o wildcard para o WCT!



Guincho | Cascais

| 75 Right Main Image Miguel Pupo foi um dos melhores nas sessões de free surf. Left Medium lifestyle pic Jadson André, aka Mr. Cascais? Left Bottom medium image Guincho.

25 (em 32) tops do WCT deve ser algum tipo de recorde de presenças numa prova Prime fora do Havai, e foi este o número de tops que surgiu em Cascais. A juntar a este número estavam seis surfistas portugueses e o resto dos guerreiros do WQS, o que fez do Guincho um hot spot de surf high performance. A ondulação não parou de entrar com força, acalmando apenas para o fim da prova, o que fez com o que Cascais Billabong Pro não saísse do Guincho, apesar da mega estrutura que estava montada na praia de Carcavelos. Zé Ferreira foi “o” atleta nacional nesta etapa, conseguindo um fortíssimo 9º lugar que lhe daria acesso às provas Prime do Havai. O grande vencedor foi mais uma vez o brasileiro Jadson André, que já tinha vencido no ano anterior e em 2014 mostrou-se novamente num nível à frente de todos os seus adversários

............................................................................................................................................................................................................................................................................................... D i a _ 1 0 Left Main Image & Lifestyle Zé Ferreira mostrou conhecimento local e conseguiu o resultado que precisava na sua última oportunidade do ano. photos by Pedro Mestre


D i a _ 1 6 ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Papôa | Peniche Depois de um arranque morno, a etapa do WCT em Portugal, o MOCHE Rip Curl Pro Portugal, ficou on hold por alguns dias. Havia ondulação de sobra mas a direcção e vento não favorecia os Supertubos. E foi aí que a Papôa se tornou no centro de todas as atenções. Este spot tinha caído no esquecimento durante mais de uma década, apesar de no passado ter sido palco de grandes sessões de ondas grandes. Neste dia atraiu big wave riders como Peter Mel e Strider Wasilewski, e ainda John John Florence e surfistas portugueses como Nicolau Von Rupp, João Macedo, António Silva e o “underground” António Magalhães, e proporcionou uma tarde muito bem passado a um público faminto de acção! O tamanho? 15 pés “hawaiian”!


| 77 First two Lifestyle Pics & Right Main Image A sessão na Papôa ajudou a mostrar a diversidade de condições que são possíveis surfar em Peniche. João de Macedo drop uma bomba! Left Main Image John John Florence. photos by Jorge Matreno


78 | A resposta de Kolohe Andino a Kelly Slater. photos by Jorge Matreno


Baía | Peniche

Baía | Peniche

bom uso dessa informação. Seja 540 ou 720º graus (o debate continua), o que é certo é que Slater fez a manobra do ano em águas portuguesas. Mas a sessão não se ficou por aí. Andino deu um aéreo 360 incrível, Fred Patacchia deu tubo atrás de tubo nas esquerdas, e mesmo surfistas que andavam mais low profile em Peniche como Tiago Pires, Nicolau Von Rupp e Gabriel Medina, entre outros, passaram pelo line up, fazendo desta sessão provavelmente a mais mediática do ano! ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... D i a _ 1 7 Quem diria que uma das sessões mais mediáticas do ano a nível mundial fosse ocorrer na Baía? Esta praia não é muito procurada pelos melhores surfistas mas neste dia recebeu “le creme de la creme” do surf profissional. As ondas rondavam os dois metros e proporcionavam bons tubos para a esquerda e direita. Kolohe Andino comentou com Kelly Salter que o vento estava a ficar perfeito para as rotações aéreas e o 11x campeão do mundo fez


Supertubos | Peniche John John Florence fez os melhores tubos, Kelly Slater tropeçou e Mick Fanning relançou-se na disputa pelo título mas a grande história do MOCHE Rip Curl Pro Portugal de 2015 foi o apoio a Gabriel Medina. O jovem surfista brasileiro chegou ao nosso país com fortes possibilidades de se sagrar campeão mundial e isso mobilizou todo o tipo de “entidades”. Começando com a maneira como foi recebido à chegada ao aeroporto e terminando com o espesso “muro humano” que foi criado à sua volta no momento em se preparava para competir no round 3, ficou visível em águas portuguesas que a sua importância no surf profissional está acima de todas expectativas. Depois de fazer um round 1 brilhante, “Gabe” foi surpreendido por Brett Simpson e nenhum tubo ou voo o conseguiu salvar, deitando por água abaixo a potencial coroação do título em Portugal. Mas quem assistiu aos momentos que se viveram sempre que esteve dentro de água nunca se irá esquecer desta que será a nova intensidade do circuito mundial. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... D i a _ 1 9


| 81 Main Image & first medium Lifestyle pic Esperava-se um título mundial de Gabriel Medina e apesar de não ter acontecido em Portugal viu-se muito bom surf. photos by Jorge Matreno Second medium Lifestyle pic Tiago Pires, o herói nacional. photo by Jorge Matreno Bottom Lifestyle Pic photos by Jorge Matreno Smaller two Lifestyle pics photos by Pedro Mestre


D i a _ 2 9 ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Main Image and Top Medium Lifestyle pic Vasco Ribeiro conseguiu um título inédito para Portugal, o de campeão mundial júnior da ASP. Two smaller lifesyle pics Ribeira D’Ilhas “vestida com as suas melhores roupinhas”. photos by Pedro Mestre

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Ribeira D’Ilhas | Ericeira O mês “mais quente de sempre” a nível competitivo em Portugal terminou com o título mundial júnior de Vasco Ribeiro, um feito inédito até aí. Também Tomás Fernandes mostrou o seu valor ao ter terminado em 3º lugar, garantindo assim acesso a todas as provas Prime de 2015. Na categoria feminina Teresa Bonvalot foi 5º lugar e Carina Duarte 9º, confirmando a excelente fase que o surf português atravessa. Mas quem roubou o espectáculo foram mesmo as ondas. Durante cerca de uma semana a Ericeira quebrou com ondas perfeitas todos os dias, alternando entre o metro e os dois metros. O nível de surf foi altíssimo e as sessões em Ribeira D’Ilhas, Coxos e um pouco por toda a Ericeira foram épicas provando ao mundo que, sem qualquer dúvida, a costa portuguesa é uma das melhores do mundo para a prática do surf. _OF



*Surf é tudo!


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