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Proged SA: infoproged@proged.com
*Quando o Jordy sai da água, a água sai do Jordy. **Secagem rápida, repelente de água. Calções “Freakout” do Jordy com o Hyperdry da O’Neill. Molhados para secar rápido.
Rhythm junta um grupo único de indivíduos com o mesmo sonho de viver a fazer o que amam. Desenhando com influencias da arte, música e surf, passado, presente e futuro. Rhythm fala de criar expressões próprias que procuram noas fronteiras além do conhecido caminho. Isto é Rhythm. “O som da mudança”
C o n ta c to : g e r a l @ n a u t i s u r f. c o m
*Como se nĂŁo usasses nada.
# c o v e r s t o r y
Não nos vamos alongar muito pois na Surftrip desta edição tens os pormenores sobre esta sessão, que aconteceu num slab marroquino nunca antes surfado por nenhum dos surfistas na viagem. Adiantamos apenas que foi uma sessão onde nem o onshore impedia que pesados e perigosos tubos se formassem. e que foi uma sessão com assistência de motas de água pois remar para este slab, que rebenta abaixo do nível do mar, não aparenta ser possível (se se quiser entubar na zona mais animal). E ninguém melhor que Tiago Pires para agarrar este “boi pelos cornos” e o dominar na perfeição. Não é por isso de estranhar que tenha sido neste sessão que Tiago tenha conseguido agarrar a onda da viagem e dar nessa a manobra da surftrip. É essa onda e manobra, este intenso tubo, que colocaram obrigatoriamente Tiago Pires na capa da mais recente edição da OF, esta que é a quarta edição premium da OF e mais uma vez powered by Moche!
Não é fácil encontrar uma foto que sirva para ilustrar os vários artigos desta edição mas acreditamos que a foto em cima é perfeita! A sua ligação com Marrocos (o que ilustra a Capa e a Surftrip) é óbvia mas para nós serve também para situar o Spotlight e o artigo fotográfico #welovephotos. Quanto a este último a foto fala, mais uma vez, por si,pois é digna de uma secção de fotografia. Quanto ao Spotlight, esta foto lembra (-nos) viagens, e sendo o Spotlight desta edição com um surfista que passa grande parte do seu tempo a viajar (e curiosamente Marrocos é um destino onde já tem várias temporadas), então o ciclo está fechado! photo by Ricardo Bravo|Moche #fotomenu
#surftrip
Os melhores surfistas nacionais partilham uma coisa em comum, o autocolante do MOCHE. E isso significa que quando a marca decide enviar o seu team numa surftrip, esta acontecerá com a nata do surf português. Foi assim que Tiago Pires, Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Nicolau Von Rupp, Francisco Alves, Teresa Bonvalot e Carina Duarte, um elenco de luxo, se viram a bordo de um avião para passar uma semana a surfar (e não só) na perfeição dos pointbreaks marroquinos! Uma surftrip exclusiva que marca um momento na História do Surf Português... Porquê... Descobre a partir da página 32.
O algarvio Alex Botelho é um dos melhores surfistas nacionais e faz parte da raríssimo lista de portugueses que são reconhecidos internacionalmente sem ser por competição (junta-se assim a Nic Von Rupp e João de Macedo). Esta não é a única razão pela qual o colocámos no Spotlight desta edição mas se fosse era mais do que suficiente!
A fórmula de sucesso que usamos desde a edição número 1 da ONFIRE neste artigo fotográfico – a cuidada publicação das melhores fotos de alguns dos melhores surfistas PORTUGUESES – continua nesta edição da revista que se orgulha de ocupar 95% das suas páginas com “produto” nacional há mais de 10 anos!
#spotlight
#welovephotos
The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marcelo Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #73 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens. CR É D I T OS O N F I RE SUR F 7 3
#fotomenu
photo by Ricardo Bravo|Moche
_13 photo by charliephotos.com
Nesta edição focamos um surfista que tem seguido um percurso diferente dos demais com resultados acima do que se esperava. Ainda me lembro de estar presente quando debatia com o seu team manager se valeria a pena arrancar para uma etapa do circuito esperanças que estava em vias de acontecer algures pelo país. Acho que a opinião que dei na altura não terá influenciado a decisão, mas o consenso geral era que o seu resultado teria pouca expressão na sua careira. (Na altura) Com 16 anos e uma dimensão (física) acima da média, o que não ajudava quando quase todos os campeonatos eram em meio metro, um futuro no surf não parecia promissor. Falava-se da sua capacidade de enfrentar ondas grandes mas transformar isso em visibilidade era um grande desafio. Aí entra uma teoria que tenho, que basicamente passa por não fazer grandes juízos de talento até certas idades, seja para os mais prometedores ou menos. A verdade é que é se atribuem rótulos e esperanças cedo demais no surf português. “Aquele tem 10, 11 ou 12 anos e vai ser o melhor de sempre.” “O outro não passa um heat, daqui a uns anos não tem patrocínios” e aí em diante é o que mais ouço no dia a dia. Mas qualquer surfista, até provar o que vale dentro de certas métricas, é, na minha opinião, apenas potencial, potencial para fazer uma grande carreira, ou potencial para não ir a lado nenhum. E Alex Botelho é uma das provas que esta teoria poderá não ser tão absurda. Não atingiu as métricas que a maioria procura no dia a dia para ser visto como “a próxima bombinha” mas, usando o seu talento e criatividade a seu favor, aproveitou todas as oportunidades que vieram na sua direcção colocou-se numa posição invejável. Tudo porque acreditou nele próprio e manteve-se fiel ao seu sonho, viver do surf. Fica a conhecer a história da sua ascensão a partir da página 54! _António Nielsen
O que preferes, surfar ao nascer ou ao pôr do sol? Cada surfista terá a sua opinião e razões pela qual prefere uma situação ou outra. Pessoalmente prefiro o nascer do sol por várias razões. A principal é que o crowd é praticamente inexistente, enquanto que ao fim do dia é exactamente o contrário pois são muitos os que saem da escola/ trabalho para aproveitar o surf para lá do último raio de sol. Surfar ao nascer do sol dá-me também aquela sensação de que estou 100% pronto para começar o dia... Se uns usam o banho matinal para tal, creio que um surfista de matinais usa a mesma técnica mas com a diferença da água ser salgada e o “chuveiro” ser um pouco maior. Óbvio que há o lado stressante de surfar ao amanhecer: a cada segundo que passa sentimos na pele o aumento exponencial do crowd, enquanto que ao pôr do sol, se tivermos visão de toupeira para nos aguentarmos na água até ser noite, vemos o crowd diminuir drasticamente. Mas este lado não compensa o maior stress que é, para mim, surfar ao fim do dia: o desespero de saber que é mesmo uma questão de tempo até não conseguir ver um charuto e o surf estar terminado. É literalmente uma corrida contra o tempo que nunca conseguimos vencer. Já nas matinais, dá sempre para arrastar a velha história de “só mais uma para sair”. Já nem vale a pena falar que, por norma, quanto mais cedo menos vento, ou mais perfeito está o vento, porque essa razão na realidade só é valida se a maré estiver no ponto certo mas, como há muito que aprendi, se só tiveres oportunidade de surfar a uma determinada hora (seja ela qual for) não sejas esquisito e entra, mais valem 20 minutos na água do que zero. Os “preciosismos” de escolher horas de surf consoante as condições do mar estão reservados a poucos – leia-se surfistas profissionais – mas mesmo estes têm as suas preferências quanto a surfar ao nascer ou pôr do sol. Óbvio que, no final do dia, qualquer um, optaria por surfar tanto ao nascer como ao pôr do sol. Tudo isto porque pessoalmente considero que a (já) velha questão do papel vs net pode ser comparada com o que acima penso. Resumidamente, vale mesmo a pena discutir qual a mais importante neste momento, sendo que nesta questão a maioria pode optar pelas duas opções? Quem é o surfista que opta por um e não pelo outro (assumindo que a opção papel é uma revista cuidada desde o seu aspecto gráfico à escolha fotográfica e editorial, os moldes nos quais considero que a ONFIRE se enquadra)? Agora cabe-te decidir qual (papel ou net) é para ti o nascer e o pôr do sol? Para mim a resposta é fácil apesar de no fim do dia ser obrigatório passar pelos dois para se entrar num novo dia. _Nuno Bandeira 14_ Será Vasco Ribeiro um surfista que prefere matinais ou finais de tarde? Em Marrocos o campeão mundial júnior aproveitou a sua curta estadia - pois sua filha estava prestes a nascer - para surfar do nascer ao pôr do sol! photo by Ricardo Bravo|Moche
photo by Miguel Soares Sabemos que Tomás Valente é um rapazola muito asseado, daqueles que não falha uma lavagem de mãos após se aliviar do número 1 ou 2, seja no seu torno privado ou num WC público. Isto significa que lava sempre as suas mãozinhas após esvaziar a bexiga ou tripa. Sabemos isto porque já tivemos o prazer de nos aliviar num WC público com ele (juramos que não olhámos para o lado durante esse processo), tal como sabemos que por norma usa o secador de mãos para secar as mãos depois de lavadas. No outro dia ligamoslhe porque descobrimos que esses secadores aumentam as bactérias das mãos em 255% enquanto que o papel reduz as bactérias entre 45 a 60%, ou seja, venha mais papel e menos secadores. Escusado será dizer que achou que estávamos no gozo com ele e disse-nos que ia mas era aliviar a sua mente da nossa parvoíce nos canudos de Supertubos! 17 _
photo by Pedro Mestre Sabias que Gustave Eiffel, aquele senhor que desenhou a famosa Torre Eiffel, incluiu um compartimento secreto para si no topo desta? E sabias que tambĂŠm ZĂŠ Ferreira, em dias de tubos perfeitos e pesados, desenha sempre linhas perfeitas na base da onda (aquilo que conheces vulgarmente como bottom turn) que rapidamente o levam ao seu compartimente secreto dessas ondas, o seu interior (vulgarmente conhecido por tubo)? 18 _
20 _ Se calhar não sabias que um arco-íris é, na realidade, um círculo completo. E sabes porque não sabias isto? Porque olhas sempre para o arco-íris de terra, e esse ângulo não te deixa ver toda a magnitude deste fabuloso fenómeno natural! Então o que tens de fazer se quiseres ver um arco-íris a fazer um círculo completo? “Simples”, só tens de fazer como o Pedro Boonman faz: voa o mais alto possível sempre que estiveres a surfar num dia de chuva e sol pois só mesmo do ar é que é possível observar um arco-íris a fazer um circúlo completoz! photo by Jorge Matreno
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A 29 de Março terminou a primeira etapa da Liga MOCHE, o Allianz Ericeira Pro by Ericeira Surf & Skate, na praia de Ribeira D’Ihas. Esta etapa marcou o regresso de Tiago Pires às competições nacionais depois de um interregno de vários anos. E o resultado foi o que se esperava, o veterano do CT bateu os seus dois grandes adversários nas meias finais (Frederico Morais) e final (Vasco Ribeiro), começando assim o ano no topo do ranking. Na categoria Feminina foi Teresa Bonvalot quem começou o ano como acabou em 2014, na frente! Teresa venceu sobre Carol Henrique (2º lugar), Camilla Kemp (3º lugar) e Mariana Assis (4º lugar). photo by Pedro Mestre No dia 3 de Abril terminou a primeira etapa do circuito Pro Junior Europeu, o Caparica Primavera Surf Fest Powered by O’Neill. Foram muitos os portugueses a competir neste evento e no fim haveria cores nacionais no topo. A final masculina foi composta por Miguel Blanco e o big wave rider basco Natxo Gonzalez e foi o português que acabou na frente, garantindo a sua primeira vitória no circuito e a liderança do mesmo. Outros portugueses tiraram bons resultados como Tomás Fernandes (5º) e Guilherme Fonseca (9º). No feminino também houve razões para celebrar já que Teresa Bonvalot também se inaugurou nas vitórias, enquanto que Carol Henrique e Camilla Kemp terminaram em 5º e 9º lugares. photo by carlospintophoto.com Começou a 10 e acabou a 12 de Abril a segunda etapa da Liga MOCHE, o Allianz Caparica Pro. Foi mais um grande campeonato do mais importante circuito português de surf e a final seria uma repetição de uma meia-final em Ribeira D’Ilhas, defrontando Frederico Morais e Tiago Pires. Desta vez foi o pretendente ao trono de melhor surfista do país quem venceu, deixando Tiago Pires em segundo. No feminino a grande revelação do evento foi Camilla Kemp, que surfou muito bem e venceu a final e derrotando Teresa Bonvalot (2º), Carina Duarte (3º) e Carol Henrique (4º). photo by carlospintophoto.com Dia 19 de Abril foi dia de Boonman Air Show Presented by Fox. Este evento especial organizado pelo surfista Pedro Boonman atraiu quase todos os melhores surfistas do país e alguns convidados internacionais. O grande vencedor foi o norte-americano Kanoa Igarashi que, com um surf incrivelmente progressivo, derrotou Filipe Jervis (2º), Vasco Ribeiro (3º) e Frederico Morais (4º). Já em Maio, dia 16, esteve na água a primeira etapa do Pro Junior Nacional, realizado na Praia Internacional no Porto. A grande surpresa do evento aconteceu no feminino com a vitória de Mariana Assis, uma surfista em grande ascensão, sobre Mariana Garcia (2º), Camilla Kemp (3º), Carol Henrique (4º) e Inês Bispo (5º). No masculino não houve surpresas já que o campeão em título do circuito, Tomás Fernandes, venceu. Os seus adversários na final foram Guilherme Fonseca (2º), Miguel Blanco (3º) e Luís Perloiro (4º). photo by To Mané
Poucos dias mais terminava a terceira etapa da Liga MOCHE, o Sumol Porto Pro. Inicialmente prevista para a Praia Internacional, esta prova passou para Leça da Palmeira, por falta de ondas. Frederico Morais foi mais uma vez o grande vencedor, batendo Miguel Blanco e passando assim para o topo do ranking. No feminino foi Carina Duarte quem se estreou nas vitórias em 2015, derrotando Teresa Bonvalot (2º), Carol Henrique (3º) e Ana Sarmento (4º). photo by Pedro Mestre 24 _
geral@nautisurf.com
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Surreal. Da última vez que aqui estive foi há seis anos e foi igualmente uma experiência única. Na altura dividimos as ondas da Pedra de Lume com alguns bichos que nos passaram ágeis por debaixo das pernas, enquanto boiávamos sentados nas pranchas. Quis acreditar que eram algas reflectidas numa água turva, chapinhada de vento e entusiasmo. Mas não eram, eram tubarões. Dos que trincam, mordem e matam. Ainda que o façam por engano. Ontem cheguei à ilha pela segunda vez, acomodei-me num hotel na areia e aluguei um jipe. Hoje a experiência foi ainda mais surreal. Começou com duas crianças andrajosas, pobres demais, com roupas igualmente sumidas, de cor igual à da terra do caminho, igual à da poeira da estrada e à cor da própria pele. Tudo o que é pobre parece assumir cor idêntica, uma espécie de castanho claro, quase creme, que une a existência de todos os desperdícios às vidas monocromáticas. As crianças aparecem do nada e quase atropelam o carro - o que num jipe as faria perdedoras - e só pedem umas moedas, rebuçados, pregos, parafusos, cabeças de alfinete. A mais ínfima das partículas aproveitáveis das vidas de quem vem de fora, de quem vem da sorte de outras terras e prazeres. No fundo, não precisam de coisa alguma, só que confirmemos que estão lá. Que existem. Sempre viveram com nada. Dispenso umas moedas embrulhadas na tristeza de um olhar que não pode sofrer mais e quando dou por mim já estou mais à frente, estacionado em frente ao mar, numa imensidão geográfica, num vazio quase insuportável, mas que me faz sentir a caminho de casa. Ao longe, por detrás das dunas, aparece a cabeça de um negro com uma camisa amarela - o único ponto de cor ali - que rapidamente se parece dirigir na minha direcção. Caminha rápido e num ritmo em crescendo. Vejo mais uma cabeça a sair de outra duna. E mais uma...e outra, e outra....e de repente...dezenas
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texto by Ricardo Vieira [ r i c a rd ov i e i ra 3 0 @ g m a i l . c o m ]
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de cabeças, dezenas de negros vestidos de todas as cores parecem correr na minha direcção. Assusto-me. Já não tenho tempo de reacção, é um assalto perfeito, não consigo sair daqui a tempo. O caminho sinuoso não permite uma saída rápida. Deixo-me ficar, fecho o vidro do carro, como se isso me salvasse. Dezenas de seres correm para mim, parado entre as dunas e o mar. Pontinhos coloridos, saltitantes. Mas alguma coisa não está certa... À medida que se aproximam começam a partir e a recolher ramagem das poucas plantas que ali existem. E quanto mais perto estão de mim mais confirmo que não me olham, o olhar deles está no mar. Passam por mim como se eu não estivesse lá... entram na água todos ao mesmo tempo, assumem posições que parecem ter sido previamente combinadas e começam a bater com os ramos na água enquanto falam alto e em dialecto entre si. Vejo agora que alguns trazem sacos de plástico. Fazem uma grande roda à beira mar e, lentamente, enquanto a fecham cada vez mais, as palavras saem gritadas e curtas, como se estivessem mais perto do objectivo. A água revolve-se em pequenos remoínhos. Em movimentos rápidos e precisos, começam a ensacar alguma coisa. Demorei algum tempo para perceber aquela que foi a experiência mais bonita da minha vida em terras africanas, a pesca da taínha da forma mais tradicional. Um pouco de cultura e tradição antes de viajar pode dar-nos muita tranquilidade.
O Amor pela água salgada é tanta que quem dele depende, surfista ou pescador (entre muitos outros viciados neste meio liquído) gosta de se ver envolto nele de qualquer forma! photo by Ricardo Bravo|Moche [ 26 ]
Brazilian Strong* Texto by Miguel Pedreira
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Este texto foi escrito antes de ter início a quinta etapa do circuito, nas ilhas Fiji.
Muito se tem falado da Brazilian Storm, a força e a atitude com que os surfistas brasileiros têm dominado o principal circuito mundial de surf, depois de já dominarem há anos o circuito de qualificação e os Pro Junior. E, de facto, nunca antes isso fez tanto sentido para o segundo maior contingente no CT como agora. Gabriel Medina dominou o circuito do ano passado, venceu três das etapas mais importantes, foi segundo classificado no mítico Pipe Masters e tornou-se o primeiro surfista do país irmão a conquistar o principal título mundial de surf. Isto, aos 20 anos – o segundo mais jovem de sempre a consegui-lo, a seguir a... Slater, claro! Este ano ainda não mostrou o mesmo brilhantismo, salvo num ou outro heat em Bells Beach, mas é conhecida a dificuldade em conquistar títulos consecutivos, como o próprio Mick Fanning bem lembrou em 2014. Os seus três títulos não o são... Tom Carroll e Tom Curren, com dois, Andy Irons, com três, Mark Richards e Stephanie Gilmore, com quatro, Kelly Slater, com cinco e Layne Beachley, com seis títulos consecutivos, são autênticos heróis do nosso desporto e conseguiram verdadeiros feitos nas suas épocas.
Mas se Medina ainda não deu um ar de sua graça em 2015, a verdade é que tem sido bem secundado pelos seus compatriotas. Com três dos quatro semi-finalistas na Gold Coast e vitória para Filipe Toledo, Silvana Lima a fazer as duas únicas notas 10 do circuito feminino até agora, a liderança da disputa pelo título de rookie do ano para Ítalo Ferreira, Adriano de Souza quase a vencer novamente em Bells Beach e a dominar por completo Margaret River, Filipe Toledo a (con) vencer novamente no Rio de Janeiro, deixando os restantes 33 em combinação... os factos são mais que evidentes! A acrescentar ainda uma curiosidade... o maior ídolo do surf mundial, o norte-americano Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial, nas três primeiras etapas deste ano só perdeu para surfistas brasileiros... na Gold Coast para o rookie Ítalo Ferreira, em Bells Beach para Gabriel Medina e em Margaret River para Adriano de Souza, assumindo publicamente que este é capaz de “entrar na sua cabeça” e destabilizálo... um jogo no qual sempre foi considerado rei. Mineirinho, como é conhecido Adriano, foi o surfista mais jovem de sempre a conquistar o título mundial Pro Junior, aos 16 anos de idade. Apontado como futuro campeão mundial desde então, De Souza soube construir a sua reputação nos passos de Pêpê Lopes (primeiro brasileiro numa final do Pipe Masters), Fábio Gouveia e Flávio Padaratz (pioneiros a tempo inteiro e com resultados no circuito mundial), Neco Padaratz (que mexeu realmente com a cabeça dos anglo-saxónicos devido à sua garra e atitude destemida em competição), Victor Ribas (primeiro Top 3 mundial, em 1999) e agora Gabriel Medina, que acabou por lhe
“roubar” o feito de ser o primeiro a sagrar-se campeão mundial. Na realidade, aos 28 anos e mesmo após algumas lesões complicadas, Adriano está no seu décimo ano de World Tour e é considerado uma espécie de “irmão mais velho” da nova geração brasileira, da qual Medina faz parte. Mas em dez anos, Adriano soube conquistar o respeito e, sobretudo, a tranquilidade necessárias para eventualmente alcançar o seu maior objectivo. Será este o ano? Provavelmente só em Dezembro ficaremos a saber, mas para já De Souza chega à quinta etapa do ano com uma liderança confortável no ranking mundial (embora seguido de perto pelo compatriota Filipe Toledo!), já com três resultados importantes a contar para a sua pontuação total e com uma forte possibilidade de chegar à sexta prova de 2015 com a licra dourada de líder – apenas Filipe Toledo, Mick Fanning ou Josh Kerr lha poderão tirar... Kerr terá de vencer Fiji e esperar que Adriano perca de primeira; Fanning terá de ir às meias-finais e esperar o mesmo (ou ir à final se De Souza avançar para o terceiro round) e Toledo... bem, Filipinho é o mais sério candidato à liderança do compatriota e terá apenas de ficar um lugar à frente dele para consegui-lo!... Mas Toledo não tem uma estatística de resultados muito favoráveis nas próximas três etapas e a seguinte é em Jeffreys Bay, evento que Adriano já venceu!... Uma coisa é certa desde já... o circuito CT de 2015 está a ser dominado pelos surfistas brasileiros. Quando chegarmos a Pipeline, uma das poucas etapas ainda não vencidas por um deles, só Deus (que é brasileiro!) sabe até onde estes sete guerreiros poderão chegar!... e a Brazilian Storm vai virar Brazilian Strong!...
O brasileiro residente em Portugal, Eduardo Fernandes é um exemplo vivo do que significa a Brazilian Storm que tem dominado o mundo do surf desde o ano passado! photo by André Carvalho|Goma _28
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A Surftrip que se segue marca um momento na História do Surf Português por uma razão muito simples: juntou os melhores surfistas da actualidade, a nata do surf português que está a (e continua a) surpreender o panorama internacional do surf, durante uma semana em Marrocos! A última vez que tal aconteceu nos últimos 12 anos foi em 2010, quando a maioria dos surfistas desta viagem, considerados como a próxima grande geração na altura, se juntaram para uma viagem às Mentawaii, surftrip essa que publicámos na ONFIRE 48. Este momento histórico só foi agora possível pois os surfistas que compõem o elenco de luxo que demoliu as ondas marroquinas partilham todos um autocolante na prancha, o do MOCHE. Foi uma semana onde se assistiu ao melhor que há no que diz respeito a surf e, como não podia deixar de ser, de muitas aventuras e diversão. Ah, o elenco de luxo? Tiago Pires, Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Francisco Alves, Nicolau Von Rupp, Teresa Bonvalot e Carina Duarte! texto + legendas by O N F I R E photos by R i c a r d o B r a v o | M O C H E
Juntar sete surfistas que passam grande parte do seu tempo a viajar mundo fora em competições e viagens é uma missão quase impossível. Por isso não é de admirar que quando o avião para Marrocos saiu do aeroporto de Lisboa com o team Moche a bordo, Isabel Corte Real, brand manager da marca, tenha respirado de alívio pois a verdade é que esta era uma viagem que estava para acontecer há muito!... Surftrip que é surftrip tem de ter episódios de aeroporto, e esses momentos são impossíveis de não acontecer independentemente de ser a primeira vez que viajas ou de já teres dado 10 voltas ao planeta! A prova que confirma esta lei de Murphy é que o mais caricato momento de aeroporto aconteceu exactamente ao mais viajado surfista da viagem, Tiago “Saca” Pires. O episódio começou com a normal confusão dos passaportes e check in de pranchas, afinal estávamos perante um grupo de 14 pessoas, entre surfistas, cameras man, fotógrafos e equipe do MOCHE. O episódio só se tornou caricato quando a senhora do balcão não conseguiu encontrar o passaporte de Saca. E nem poderia encontrá-lo pois o ex-surfista do CT levou o passaporte da sua mulher por engano. Resultado, além dos anos que provavelmente Corte Real perdeu naquele instante, Saca teve de fazer um telefonema relâmpago para casa e pedir à sua mulher para ir ao aeroporto dar-lhe o seu passaporte. De certeza que foi um daqueles momentos em que Saca se sentiu abençoado por viver, actualmente, em Lisboa. Fast forward para terras de Marrocos, saltando o facto das pranchas não terem chegado com os surfistas, de todos os membros masculinos da viagem terem sido alarvemente inspeccionados – leia-se praticamente apalpados – nas suas zonas mais privadas à entrada de Marrocos, e da jovem Teresa Bonvalot ter ficado quase uma hora para ter autorização para entrar em terras africanas exactamente por ser menor, e temos então Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Francisco Alves, Tiago Pires, Carina Duarte e Bonvalot (Nicolau Von Rupp só foi dois dias mais tarde) já a percorrer as loucas estradas marroquinas onde os mais aventureiros condutores eram mesmo (e foram durante toda a viagem) os surfistas portugueses...
Vasco Ribeiro só ficou dois dias em Marrocos pois a sua filha poderia nascer a qualquer momento por isso aproveitou esses dias ao máximo, abusando das longas e perfeitas paredes de Boilers com o seu power, velocidade e estilo! ] 34 [
] 37 [ A primeira surfada foi feita debaixo de ventos off-shore ciclónicos o que obrigava os surfistas a surfar de olhos fechados tal era a quantidade de pó que vinha das obras mesmo em cima do pico. Mas Francisco Alves não precisa de ver para saber onde rasgar com muito power na onda, só precisa de sentir!
Este primeiro dia foi um daqueles em que se passa o dia de carro à procura das melhores ondas, o que em Marrocos significa uma ida ao deserto depois de checkar as ondas à volta de Tagazhout, a base do Moche Surf Team na viagem! Uma redução de 140 à hora para marcha a trás do surfista que se apelidava como um grande condutor, Francisco Alves; a obrigatória paragem pela polícia para largar uns dirhams; um camera man que quase vomitou o carro todo por estar 15 minutos a filmar Vasco Ribeiro nas silhuetas de alcatrão marroquino; um jipe atolado; um rally endiabrado de Vasco Ribeiro no deserto que quase provocou traumatismos cranianos a quem se encontrava nessa viatura; uma pequeno “beijinho” entre dois carros da caravana Moche e muitas praias visitadas onde as ondas estavam para lá de más, e o elenco de luxo viu-se em Boilers ao fim do primeiro dia, ainda sem sal no corpo e ansioso por surf! Um off-shore forte tornava as longas direitas de um metro sólido num prato perfeito para uma primeira degustação da “gastronomia” local, “cozinha” que já quase todos (excepção Bonvalot e Carina) conheciam de várias temporadas a este que é um dos mais procurados destinos quando as grandes ondulações de Inverno se abatem sobre a Europa. Mas Marrocos está longe de só dar ondas quando estas ondulações entram, e é raro o dia em que não dê para surfar nestas terras de Alá. A prova disso foi esta viagem que por todas as dificuldades óbvias de conseguir conciliar os calendários destes surfistas aconteceu sem se olhar para previsões de swell mas o saldo final foi surf todos os dias com ondas que qualquer um consideraria como fun, e que teve ainda direito a uma pesada sessão num inesperado slab... Mas voltando a Boilers e ao forte off-shore! Surf de rail foi o nome do jogo, tal como surfar de olhos quase fechados! Se o off-shore se encarregava de meter a água que cada surfista mandava para o ar com curva precisas quase a chegar ao espaço sideral, essa ventania também se encarregou de transportar a finíssima areia das obras que aconteciam mesmo em cima deste pico a 300 à hora para os olhos dos surfistas! Verdadeiras nuvens de pó invadiam o pico sempre que uma rajada ainda mais forte soprava mas isso não impediu que o team surfasse até ao pôr do sol... Quem assistiu, viu ao vivo e a cores um autêntico filme de surf que terminou com um sunset de filme de Hollywood!
Numa manhã de condições perfeitas, Tiago Pires não poupou as direitas, aplicando o seu power surf e dando-lhe um toque mais high performance. Sem dúvida que foi um previlégio para todos ver ao vivo surf de CT nas ondas marroquinas! ] 38 [
O segundo dia começou com aquela que viria a ser a melhor sessão da viagem, não a mais intensa, mas a melhor, a mais perfeita. Um offshore fraco e novamente com swell de um metro sólido, e Boilers estava vestido a rigor para o team Moche que, mais uma vez, tinha o pico de direitas à sua inteira disposição só para si. Vento fraco significava também o fim das inundações de poeira das obras e todos puderem ver com os olhos bem limpos como é ao vivo surf de CT – graças a Tiago Pires – e de surfistas de alto gabarito de WQS – Morais e Ribeiro. Já Alves, o eterno entertainer dentro e fora de água - um surfista que gere a sua carreira como free surfer e competidor - mostrava que o seu backside era um dos mais afiados e power no nosso país. O seu estilo perfeito dá-lhe uma linha de surf ainda mais preciosa e com facilidade alternava fortes rasgadas com pauladas a tirar o tail e floaters em cada onda que apanhava. Vasco aproveitava a serenidade de estar na água como ninguém pois, uma vez que ia para casa nessa noite pois a sua filha estava prestes a nascer, tinha sido o mais “massacrado” pelas cameras nos tempos de não surf. Quando uma marca organiza uma surftrip com o seu team, além do surf, há um outro calendário a cumprir, e que passa quase sempre por sessões de fotos e vídeo. No caso do Moche, o objectivo dessas sessões era angariar conteúdos para o ano, fosse dos atletas a falar dos QS ou de fotos para preparar a campanha “Amigos, amigos, ondas à parte”, campanha essa que dá este ano o mote à Liga Moche, entre muitas outras sessões não surfistícas. Muitos pensam que ser surfista profissional tem quase a obrigação única de surfar e ter bons resultados nos campeonatos mas esta está longe de ser a realidade. Óbvio que é essa a grande obrigação de um profissional mas, tal como os profissionais de qualquer outra área desportiva, há sempre outro tipo de compromissos com as maras que os patrocinam. Mas a serenidade de Vasco na água estava apenas na sua mente pois a cada onda que apanhava, o surfista da Poça mostrava o porquê de ser campeão mundial júnior. É engraçado como quando se fala de um surfista, mesmo num ambiente de surftrip, que é o mais relaxado possível, se tenha sempre de puxar a “cartola” do seu curriculum vitae para o
descrever de alguma forma mas a realidade é que a competição e os seus títulos são um indicador da qualidade de um surfista, e é fácil perceber que quando se fala de um campeão mundial, qualquer pessoa, mesmo não sabendo o que é um drop ou um aéreo, automaticamente tem a percepção que esse surfista é excelente no que faz! Veloz, com muito power e com transições perfeitas, só mesmo quem não conhecia o surf do Vasco – é engraçado ver como não há muito o Vasco era sempre referido como Vasquinho – é que poderia ficar espantado com o surf que apresentava. É um surfista excelente em várias condições mas direitas de um metro sólido com parede são talvez o campo aquático onde Vasco apresenta todo o seu potencial surfístico! A maré encheria durante toda a manhã pelo que o surf à tarde teria de ser numa outra praia. Mas enquanto a maré não enchia demais para Boilers, também Morais passeava toda a sua classe. Se quisermos ir ao curriculum vitae do surfista do Guincho buscar uma referência para o seu nível, sem dúvida que temos de puxar o seu feito de ser Rookie of the Year da Triple Crown em 2013. Morais é provavelmente o surfista português mais completo neste momento e é um surfista que tem na sua base de surf o rail e o power. Já o dissemos várias vezes nas páginas da ONFIRE, que a escolha deste caminho, num momento em que o mundo se virava para o surf aéreo, o colocou no patamar onde agora se encontra e nesta sessão em Boiler’s mostrou novamente o que significa unir na perfeição o power surf com o surf performance. Quase parecia que Morais travava uma batalha amigável com Tiago para ver quem aplicava melhor técnica de rail, uma decisão que acabou por não ter vencedor nem vencido, principalmente se tivermos em conta que Saca estava também a aplicar, no final das suas curvas de rail, momentos mais high performance. De certeza que o facto de estar em modo Surftrip, e talvez por já não ter a pressão do CT, fez com que o Tigre Português mostrasse um surf diferente daquele que nos habitou sempre que vestia uma licra do CT. No final, esta “batalha” teve um empate técnico, digamos justamente! Como verdadeira surftrip, o resto do dia seguiu da melhor forma para
] 41 [ Todas as surftrips têm dias de más ondas. O team MOCHE apenas teve um dia mau mas mesmo assim fez questão de surfar no beachbreak em frente ao hotel. O resultado foi a troca de linha e rail na água pelo surf aéreo. Frederico Morais dominou os céus desta surfada!
um surfista, comer e surfar novamente. A sessão da tarde foi feita em Imessouane, uma baía de uma beleza extrema a cerca de uma hora de Tagazhout onde rebentam longaaaaaassssss direitas. Longas ao ponto de ser de loucos acabar uma onda e voltar a remar para o pico tal a distância (e a corrente). Longas ao ponto de se andar facilmente 5 minutos pela areia para chegar novamente ao pico. Vasco aproveitava aquela que seria a sua última sessão para meter o surf high performance de fora, tal como o restante team. As duas girls da viagem, Carina e Bonvalot, davam seguimento ao surf que apresentaram em Boilers, mostrando um surf vertical, perfeito e power. Se Carina parecia que estava na sua segunda casa, afinal vem da terras das direitas, Ericeira, a jovem surfista de Cascais, Bonvalot, mostrava o porquê de ser a grande esperança do surf nacional. Apesar de muito diferentes na sua forma de ser, partilham de uma característica comum, a timidez. Mas esta apenas existe fora de água pois uma vez lá dentro disputam da mesma forma que os outros as ondas, e surfam melhor do que muitos essas mesmas ondas. Uma reflexo disso está exactamente aqui nas páginas da ONFIRE. No passado, juntamente com a ONFIRE, lançavamos também a Girlz onfire, um suplemento só para surf feminino. Infelizmente com a crise esse deixou de existir mas o surf feminino continuou a crescer. No entanto, desde esse tempo, foram raríssimas as fotos de surf feminino publicadas na OF pois temos uma grande exigência no que diz respeito a momentos de surf. Sabíamos que mal houvesse oportunidade – leia-se mal a foto aparecesse – publicaríamos esse momento, e foi nesta viagem que essas fotos surgiram como podes ver nestas páginas. Se Carina Duarte aparece com uma pauladão vertical em Imessouane, já Bonvalot mostra o lado mais high performance do surf feminino nacional com um aéreo. É que apesar de ser um pico de direitas, Imessouane dá também uma curta esquerda para cima do pontão e os goofies da viagem já se tremiam por uma esquerda. Esta era perfeita para encaixar duas manobras fortes ou dar um voo. Foi a última opção
r ig h t m a in pi c
que Bonvalot tomou sempre que arrancou para a esquerda! Este grande dia não terminou sem a tipica sessão de chá marroquino, com muito pão e molhos locais à mistura, tudo num “barraco” mesmo em frente ao pico, vivendo-se a cultura local o mais genuinamente possível (excepção para a altura em que Francisco Alves resolveu relembrar que se os estranhos molhos caíssem mal a alguém estava carregado de Imodium, e que não era um Imodium qualquer, era o Rapid)! Foi como atrás dissemos, Alves é
l e ft m a in pi c Imessouane é uma longaaaaa e perfeita direita para encaixar 20 pauladas de backside, para depois se sair, correr uns bons cinco minutos pela areia e voltar a entrar no pico. É uma daquelas ondas em que tens de estar em excelente forma física para usufruir dela a 100%. Escusado será dizer que Carina Duarte estava mais do que em forma e aqui encaixa uma sticka bem vertical… A primeira de 20! ] 42 [
Apesar de ser uma direita, Imessouana também dá uma esquerda curta para cima do pontão, e essa é perfeita para voar! E ninguém do MOCHE Surf Team ficou surpreso de ver a Teresa Bonvalot a levantar voo e a deixar todos os free surfers presentes de olho bem aberto na jovem portuguesa.
b o tt o m l e ft m e d iu m / l a r g e pi c Francisco Alves, rรกpido, preciso e estiloso em Imessouane! ] 45 [
l e ft m a in pi c Tal como Vasco Ribeiro, também Nicolau Von Rupp esteve apenas dois dias em Marrocos e, como podes ver, não os desperdiçou. Esta viagem marcou a sua entrada no team MOCHE e foi com esta aquisição que se pode hoje assumir que o gigante das telecomunicações portugueses tem o melhor e mais completo team de surf português! ] 46 [
r ig h t m a in pi c Francisco Alves conseguiu ir a 120 à hora e reduzir para 20 à hora, quase explodindo com o motor do carro! Escusado será dizer que passou o resto da viagem a ouvir bocas, e neste artigo não poderíamos deixar de fazer um último trocadilho: também na água, Alves consegue passar dos 120 aos 20 num milésimo de segundo, (quase) explodindo a onda toda!
um entertainer a tempo inteiro e em quaquer situação! O longo dia terminou com uma “troca” de companheiros de viagem, Ribeiro voltava para Portugal quase ao mesmo tempo que Nicolau Von Rupp aterrava em Marrocos. Esta viagem marcou também a entrada do surfista da Praia Grande para o team Moche. Se alguém tinha duvidas que este era o melhor team do
surf nacional, com a entrada de Nic já não há mesmo razão para duvidar. Uma cerimónia improvisada por, adivinhem... Francisco Alves, para dar as boas vindas ao team a Von Rupp fechou o dia, cerimónia essa inspirada em factos reais da Casa dos Segredos... Só rir! Mas faltava uma “obrigação” antes do xixi e cama...as desforras que ficaram por fazer no Pro Evolution Soccer 2015 (PES), cortesia do... esperem... Xico Alves, que levou a sua “menina” PS4 até Marrocos. O ranking final deste campeonato virtual ainda hoje está por encontrar pois todos os presentes se intitulam como campeões, alegando batotas e esquemas dos seus adversários que levaram a vitórias dúbias. O verdadeiro ranking é uma daqueles mistérios que nunca ninguém conseguirá desvendar! O terceiro dia seria o início da descoberta da viagem... Chegados a Imessouane, a maré cheia não deixava a onda rebentar mas, ali perto, um surfista era puxado por uma mota de água para um slab de direita que rebentava abaixo do nível do mar. Cá de fora, tentavase perceber a realidade daquele spot que produzia intensos tubos sobre uma rasa bancada e com on-shore forte. Como diria Nicolau no dia seguinte antes de entrar, “nunca pensou surfar um slab com on-shore!”. Infelizmente as pranchas para aquele tipo de ondas tinham ficado no hotel e o tempo de as ir buscar e voltar acabaria por ser o tempo que a maré permitiria surfar ali, como nos contou o surfista que estava a ser rebocado para aqueles mutantes liquidos. Aproveitou-se o facto de não haver surf para almoçar no sítio onde se tinha jantado no dia anterior. Lulas e peixe acabados de sair do mar na grelha acompanhados por uma bela salada de tomate, pão regado com azeite, e azeitonas locais, facilmente ganharam o estatuto de melhor refeição da viagem. É engraçado como é muitas vezes nos sítios mais humildes onde tudo sabe e é melhor, lição que todos os presentes já aprenderam há muito pois viajar faz parte do seu dia a dia. O dia terminou com um surf descontraído, novamente em Imessouane, mas
no caminho para o hotel, já de noite, todos tinham certamente a mente em duas coisas, na desforra do PES e que no dia seguinte as pranchas para tubos estariam nos carros! O português Alexandre Grilo é conhecido por todos como o “Rei de Marrocos”. Quando ouvires isto acredita que é mesmo verdade. Foi há mais de 10 anos que Grilo se aventurou pelas terras africanos e hoje, este “magnata” dos LaPoint Camps, conhece Marrocos como ninguém afinal foi aqui que abriu o seu primeiro surf camp. Aliás, Grilo conheceu mesmo o verdadeiro Rei de Marrocos, não o actual que “já gosta de mostrar mais o seu lado ocidentalizado pelas ruas de Agadir mas o pai deste, um verdadeiro árabe que governava como um rei...”, contounos. Por tudo isto ninguém estranhou quando no dia seguinte duas motas de água e um barco estavam preparados para dar assistência ao team Moche para surfar no slab. Aliás, todo o conforto da viagem, desde hotel a alimentação e passando pela procura das melhores ondas, foi da responsabilidade de Grilo, e não houve ninguém que não lhe faria uma vénia no final caso
b o tt o m m e d iu m pi c Ninguém esperava surfar este slab agressivo durante esta viagem mas temos a certeza que todos quererão voltar o mais rápido possível. Tiago Pires rapidamente tirou as medidas certas deste misto de Reef, Cave e The Box (na Austrália), e mostrou o porquê de ser mundialmente famoso (também neste tipo de condições e num pico onde nunca nenhum tinha surfado. m a in pi c Depois de Pires e Von Rupp, foi a vez de Alves e Morais serem puxados para as cavernas que rebentavam abaixo do nível da água do mar com vento onshore. Para eles foi uma sessão curta pois a maré encheu demasiado mas mesmo assim Frederico Morais ainda sentiu o sabor dos tubos deste mutante marroquino! ] 48 [
A última surfada de Vasco Ribeiro foi nas longas direitas de Imessouane e neste final de tarde o surfista da Poça aproveitou para enquadrar o surf high performance com a inacreditável paisagem que rodeia esta baía mágica! ] 51 [
fosse mesmo o rei de Marrocos em título. Como não era, um bom e caloroso abraço à despedida surtiram o mesmo efeito. Mas isto não é nada que os surfistas não soubessem pois quando vão para Marrocos é Grilo que os recebe. Além disso, este tem uma longa amizade com Tiago Pires e uma relação excelente com todos os surfista presentes. Tiago e Nicolau foram os primeiros a ser puxados e a apalpar terreno novo, o que seria de esprar pois são sem dúvida os que mais experiência têm em slabs. Não havia muitas bombas pois o mar tinha descido um pouco em relação ao dia anterior e o vento on-shore estava mas forte, mas volta e meia entravam verdadeiras rainhas! Assim que Pires e Nicolau largavam a corda da mota de água, entravam por trás do pico a mil à hora e começava a hora da negociação... A onda, quando entrava na laje, dobra-se em três ou quatro lips que depois, nas ondas certas, se transforma num lip apenas mas da grossura de um prédio e que enrola da forma perfeita para dar um tubo pesado. Von Rupp acabou por apanhar umas das ondas intermédias mas que deu para sentir o poder desta onda que, pelo que soubemos, raramente é surfada. Tiago Pires apanhou as melhores da sessão! Nestas condições e tendo em conta que era a primeira vez que ali surfava, o Tigre estava num campo muito seu e quando a bomba do dia entrou, o melhor surfista português de sempre protagonizou o momento surfístico da viagem! A onda tinha um metro e meio fácil e dobrou num tubo demoníaco que só largou Pires depois do bafo, deixando a multidão que entretanto se juntou para assistir à sessão de braços no ar. Esse foi o momento em que soubemos que teríamos uma inacreditável capa na edição em que saísse a reportagem desta viagem! Entretanto Saca partiu a prancha ao meio pelo que se proveitou para fazer a troca, saindo Pires e Von Rupp e entrando Alves e Morais. Pelas razões óbvias, as girls optaram por ficar de fora. Os dois ainda sentiram o poder da onda mas a maré rapidamente ficou má e a sessão teve de terminar pois a onda já ficava insurfável. O resto do dia foi passado nesta vila de pescadores e não terminou sem uma sessão leve e divertida em Imessouane.
As previsões apontavam para mar muito pequeno nos dois ultimos dias pelo que se decidiu alterar bilhetes de regresso. Como o grupo era grande e como os voos estavam complicados, foram-se encaixando regressos como se podia. Ficou reservado um último dia para visitar o famoso mercado marroquino de Agadir onde todos se perderam com confusão organizada deste souk (nome dos mercados). Regatear preços é o nome do jogo nestes, e cada um tentou o melhor preço pelas suas lembranças. Já Pires e Xico defrontavam-se num jogo muito próprio, ver quem conseguia o melhor negócio ao trocar uma camisola do Benfica (Pires) e do Sporting (Alves). Apesar de conseguir a melhor troca, um tapete, temos de assumir que Alves foi desclassificado pois ainda pagou pelo tapete e o objectivo era a troca directa. Já Saca, depois de muitas tentativas, que passaram por facas, caixas, camisolas de outros clubes e frutos, quase desisitiu, até conseguir trocar a camisola por um saco cheio de pão local. Lição: ninguém consegue sair a ganhar numa negociação com um marroquino, afinal negociar faz parte do seu DNA. Nessa noite partiam Morais, Alves, Von Rupp e Pires, enquanto Bonvalot e Carina teriam um dia só para si, e elas que eram para ser as primeiras a regressar... Uma surfada numa esquerda onde só elas e Grilo dividam as ondas de um metro foi a sua última presença em águas marroquinas. Uma segunda ida ao souk e um bom passeio por Tagazhout para mais “obrigações” extra surf e estava completo o último dia da sua estadia em Marrocos. É verdade que esta surftrip #mocheonboard não foi programada de acordo com as previsões de swell mas é inegável que foi um sucesso e uma oportunidade, infelizmente, rara de juntar os melhores surfistas portugueses durante uma semana, tal como é inegável o quanto esta oportunidade traz de positivo pelo surf de cada um! E obviamente que a pergunta que fica no ar é a clássica... Que destino receberá o próximo #mocheonboard? OF
Era impossível dizer quem era o melhor surfista na água pois estávamos perante o melhor que o surf português tem para oferecer ao mundo. Mas não era impossível dizer que os carves de Frederico Morais nas paredes do Boilers eram dos melhores do mundo! ] 52 [
ascensão de
Alex A
Botelho
O Algarvio Alex Botelho é neste momento um dos mais conhecidos surfistas da Europa. Fazer carreira como free surfer num país com a dimensão de Portugal é um feito só por si mas Botelho conseguiu atingir um mediatismo invulgar e ao mesmo tempo manter-se fiel à sua maneira de ser e de estar na vida. E talvez tenha sido esse o segredo do seu sucesso, que lhe permitiu a ascensão para um patamar de visibilidade massivo. E tudo indica que está apenas a começar. A ONFIRE vai dissecar a sua evolução, de grom a surfista profissional.
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| 56 | Alex a entubar na viagem tropical que o lançou e num ambiente oposto, o frio da Irlanda com a sua inseparável namorada. photos by Al MacKinnon
Alex Botelho tinha tudo para nunca ter sido surfista! Filho de pai algarvio e mãe Holandesa das Caraíbas, Alex nasceu no interior do Canadá e o conceito de praia era algo que, até aos 5 anos, estava guardado na sua memória como algo que existia no país do seu pai. Mesmo quando a família decidiu voltar às origens do lado Botelho, o surf não estava nos planos. Estabelecendo-se em Lagos, o seu primeiro contacto com as ondas foi por volta dos 9 anos, enquanto praticava vela no Clube de Vela de Lagos. Essa foi a sua primeira paixão e a sensação de liberdade proveniente desse desporto fez com que dedicasse praticamente todo o seu foco a esta modalidade. Mas, para sua grande frustração, nem sempre dava para sair de barco. Quando entravam as ondulações de sueste os pequenos (e grandes) velejadores eram obrigado a ficar em terra, o que o aborrecia bastante. Eventualmente descobriu a sua primeira prancha e começou a aproveitar as ondas das praias mais próximas para se entreter até passar a ondulação. Não durou muito até ao dia em que o “bichinho” pelas ondas superou o gosto pela vela e Alex largou o clube para se integrar numa das mais dinâmicas escolas de surf do país, a escola de Sérgio Wu. Sérgio, um surfista de longa data, foi um dos pioneiros no treino de surf do país e na época já tinha trabalhado com grandes campeões como Marlon Lipke, Gony Zubizarreta e outros nomes fortes da sua geração. Botelho ainda não tinha feito a transição do bodyboad para o surf mas, por mais que tenha batalhado contra, nessa escola era surf que se praticava e teve que mudar. A partir daí a sua evolução foi rápida, mostrando-se muito à vontade no mar graças às bases da vela. Aos 11 anos já era visível o seu potencial e teve o primeiro patrocínio, de uma marca que anda estava a dar os primeiros passos no nosso país mas que já tinha fortes ligações com o Algarve e Sérgio. O representante da Volcom em Portugal, Hélder Ferreira, tinha uma estratégia muito bem definida no que tocava a patrocinados já que a Volcom, tanto a nível nacional como internacional, ainda estava a “engrenar”. Havia um patrocinado em cada zona do país, Norte e Centro, mas no Sul a aposta foi feito no futuro, ficando com dois “groms” muito prometedores. Alex e Miguel Mouzinho, com 11 e 13 anos, eram as grandes apostas e acabariam por fazer longas carreiras na marca. Começaram também os campeonatos, e o team algarvio marcava sempre forte presença em todo o tipo de provas, com destaque para os campeonatos de esperanças e Pro-Junior. Botelho fez um percurso que se pode considerar bastante sólido na arena competitiva, surfando regularmente com surfistas como Frederico Morais, Pedro Pinto e Nicolau Von Rupp e conseguindo os títulos de vice-campeão nacional nas categorias de sub12 e sub14. A meio desse percurso, por volta dos 14 anos, Botelho cresceu muito fisicamente, e apesar do seu surf ter acompanhado quebrou o seu foco competitivo pelos 17 anos. Na altura uma carreira no surf ainda era só um sonho e o algarvio inscreveu-se na Faculdade de Belas-Artes, em Lisboa, com intenções de garantir o seu futuro pela via académica. Mas, antes de se atirar de cabeça aos estudos, fez uma viagem que acabaria por mudar o seu destino.
Alex começou por Bali, o destino mais “batido” de toda a viagem. Depois seguiu para as Ilhas Mentawai e o facto de não ter orçamento para seguir a via mais facilitada, uma boat trip, fez com que vivesse uma autêntica aventura que acabaria por abrir os seus horizontes. “Apanhei um barco em Padang que era suposto ter demorado 12 horas na travessia até aos Mewtawai, mas demorou 28 horas. Era um barco de carga, com galinhas e mercadoria no porão, e muita gente no deck. Havia outras opções, outros barcos, mas eu tinha pouco dinheiro para gerir nestes meses e esta viagem era tipo 7 euros. Comecei a travessia na parte de cima do barco pois lá em baixo estava cheio de gente, além das galinhas, cabras e todo o tipo de bichos. Fui para o deck e adormeci mas começou a chover e acordei dentro de uma poça de água, todo encharcado e fui forçado a ir novamente lá abaixo, para o porão. Adormeci no chão do primeiro sítio que encontrei e ao fim de algum tempo comecei a sentir uma coisa nos dedos, mas não liguei e voltei a dormir. Depois comecei a sentir a mesma coisa noutros sítios e não liguei, até que senti na cara, dei uma chapada naquilo e abri os olhos para ver melhor à minha volta. Havia “rios” de baratas, por todo o lado e eu estava no meio delas(risos). Tive de sair dali e encontrar outro local mas estava tudo cheio. Finalmente cheguei a uma ilha e comecei a perguntar como se chegava à que queria ir, que tinha ondas. Um senhor disse-me que os pescadores que iam lá só iam no dia seguinte e que podia ficar na casa dele nessa noite. Explicou-me que não havia nada lá por isso fomos às compras no mercado, enchi uma caixa cheia de massas, batatas, ovos, água, tudo para ficar lá o tempo que fosse necessário e combinei com ele para me vir buscar 20 dias depois, no mesmo sítio. Apanhei ondas incríveis, a maior parte das vezes sozinho. É uma sensação estranha, surfar aquelas ondas sozinho, sentes-te exposto, os picos eram longe e se acontecesse alguma coisa... mas ao mesmo tempo dá pica, as ondas eram de sonho. Vim todo cortado, tinha feridas onde os bichos põe ovos e ainda tenho cicatrizes nos pés dessa viagem. No total gastei 100 euros na viagem toda. Foi essa experiência que suscitou o interesse de ir a mais sítios, de não parar de viajar. Depois segui para a Austrália, para a Gold Coast. Cheguei a Brisbon e também foi uma boa experiência. Apanhei um autocarro para a Gold Coast e parei em Burleigh Heads. Saí e pensei, e agora, para onde vou? Tive sorte por acaso, saí de lá, fui andando pela cidade, fui a um café, comi lá qualquer coisa, saí e estava lá uma rapariga. Começámos a conversar e ela disse que se quisesse podia ficar na casa dela. Depois conheci mais pessoas e acabámos por alugar uma casa e estive por lá mais algum tempo.” Pouco depois de ter chegado começou a faculdade e passou o primeiro semestre sem grandes dificuldades. Botelho cumpriu a sua parte e fez as cadeiras todas, mas tinha ficado um “bichinho”, a vontade de viajar e fazer mais alguma coisa no surf era grande, acabando por abandonar o curso com o intenções de talvez recomeçar mais tarde. Um bom contributo para o seu “fundo de viagem” era o seu patrocinador que já contribuia com um investimento financeiro desde os 15 anos. Inicialmente o valor era usado para entrar em competições mas não havia qualquer estipulação de como teria de ser usado e, para dar continuidade a esta relação, que já começava a ganhar expressão, o algarvio apostou em cumprir a sua parte com retorno mediático. Apesar do orçamento inicial não dar para grandes aventuras, Alex não se deixou atrapalhar e durante alguns anos trabalhou durante o Verão num restaurante de Lagos para viajar no Inverno. O seu próximo grande destino foi a Califórnia e mais uma vez deu um grande passo na evolução da sua carreira, quando enfrentou uma onda que poucos surfistas europeus tinham tido a oportunidade e atitude de desafiar, um pico de ondas grandes chamado Mavericks. “Quando fui à Califórnia a primeira vez nunca tinha surfado ondas grandes mas Mavericks era uma coisa que estava na minha cabeça. Não levava pranchas grandes mas quando chegámos a essa parte da costa ficámos com uma amiga que vivia lá com o namorado que surfava em Mavericks. Quando deu ondas ele pediu a amigos pranchas emprestadas e levou-nos, a mim, ao Tomás Valente e ao Francisco Laranjinha a surfar. Já tinha visto a onda em filmes mas ver aquela mesma imagem ao vivo é impressionante.”
Botelho não precisa de sair do país para produzir conteúdo, já que no seu Algarve não faltam cenários de sonho. photo by Brek | 59 |
Curiosamente o seu carve não é o seu momento mais mediático, mas podia ser! photos by carlospintophoto.com | 61 |
Essa foi a primeira vez que surfou ondas grandes, tinha 18 anos, mas foi quando passou na Califórnia pela terceira vez que aconteceu o seu primeiro grande momento de viragem. Depois de mais algumas sessões em “Mav’s”, Alex já não era o miúdo que passou lá e surfou uma vez mas sim um surfista reconhecido em ondas de consequência. E se a sua imagem em Portugal já estava muito forte, a nível internacional também ganhou muita notoriedade, passando a ser patrocinado pela “casa” Internacional da Volcom. Apesar de ter ganho notoriedade em ondas de consequência, o seu surf continuava a destacar-se em todo o tipo de surf, atacando ondas pequenas com a mesma atitude e abusando com manobras new school e grandes carves de rail. Isso permitiu que a sua carreira ganhasse outra dimensão já que estava em vias de receber um telefonema que o iria elevar a outro patamar. A sua reputação como “charger” chamou a atenção de um fotógrafo de surf pouco conhecido, mas que tinha um “tesouro” na mão à espera de ser desenterrado. Alex tinha acabado de chegar da Madeira quando foi contactado por Al Mckinnon, que o desafiou para arrancar numa viagem para as Caraíbas logo no dia seguinte. “Ele ligou-me e perguntou se estava disponível para arrancar no dia seguinte para um sítio um bocadinho inóspito algures nas Caraíbas e aceitei, claro. Não fui o primeiro a surfar lá mas a ilha precisava de ondulação de uma direcção muito especial e esta era a maior desde 1960! A onda situava-se num areal extenso e recto e por detrás tinha tipo uma lagoa que juntava com o mar e faz uma ponta. Quando o swell entrava começava a ficar perpendicular ao areal, e é aí que a onda começa a correr e faz essa direita. Quando chegámos, num avião pequeno, sobrevoámos mesmo por cima da onda, e vimos logo as ondas a correr, foi uma sorte. No dia seguinte fomos para lá logo de manhã e tivemos 4 dias de ondas a bombar e outros dias flat. Foi a onda mais impressionante que já surfei. Quase ficámos no caminho à procura daquilo, era tudo pantanoso, íamos andando e ia ficando cada vez mais fundo, e a água começou a entrar pelas portas do carro, que começava a ir abaixo. Se parássemos ali ficávamos, sem carro, sem surf, sem nada. Além disso, por causa dessas águas paradas havia mosquitos por todo o lado, foi o sítio que eu já vi com mais mosquitos, nuvens deles. Contei 300 picadas só nas costas do Al no fim do primeiro dia, só da caminhada entre a onda e carro.”
Manobras new school em ondas com algum tamanho não são para todos mas Alex Botelho não encontrou grandes dificuldades em acertar este aéreo reverse. photos by Tom Carey | 62 |
Apesar das dificuldades as imagens que saíram da viagem foram como algo que nunca se tinha visto. A cor da água, a perfeição das ondas, o elemento inóspito e, claro, o surfista que fez tudo encaixar, foi uma combinação que transformou a viagem numa das mais mediáticas de sempre de um surfista português. Capas em várias revistas pelo mundo fora e várias dezenas de páginas de conteúdo editorial acrescentaram ainda mais ao estatuto deste free surfer, que assim deu mais um passo em frente na sua carreira. Seguiram-se outras viagens e mais capas, com e sem Al, e apesar da recentemente ganha notoriedade, Botelho começou a trabalhar a sua imagem através da plataforma mais procurada nos dias de hoje no meio do surf, o vídeo! Qualquer bom surfista pode fazer um vídeo de surf mas Alex acrescentou a sua criatividade a um produto diferenciador que se tornaria a sua marca registada, os vídeos #noedit. Uma mistura entre surf e um enredo invulgar e sempre engraçado fez dos vídeos um grande sucesso, sendo partilhado em grande escala a nível europeu.“Comecei a lançar os meus, sem qualquer pressão dos patrocinadores. Entretanto a Volcom disse que era uma coisa boa, para continuar e isso ajudou muito a me projectar. Daí para a frente, como era uma coisa que gostava de fazer, e me beneficiava, comecei a apostar bastante. Os conceitos surgem com espontaneidade, uns num contexto de amigos, outros a conduzir o carro, ouvir uma música e fazer lembrar alguma coisa. Noutros estou sentado e vejo alguma coisa no fundo do mar e dá-me uma ideia.” À medida que a sua imagem foi crescendo, outros patrocínios foram surgindo. A Volcom, depois de 13 anos, mantém-se o principal auto-colante na sua prancha mas também a Vans, Electric, O&E, Ferox e o apoio da Future Fins apostaram no que o algarvio representa para dar visibilidade às suas marcas e assim permitindo que se dedique a 100% ao surf. As obrigações com os patrocinadores actuais são simples, que continue o trabalho como tem feito até aqui. E, mesmo sendo pago para ser free surfer, ainda mostra algum gosto pela competição, participando quando os eventos prometem ondas boas. Na primeira etapa da Liga MOCHE de 2015, em Ribeira D’Ilhas, Botelho parecia estar pronto para fazer estragos e mesmo fazendo uma interferência quase avançou para a fase seguinte. Uma semana antes tinha surpreendido tudo e todos numa etapa do regional na mesma praia, que muitos consideraram o “regional mais internacional de sempre”. Muitos dos competidores mais fortes da Liga, como Gony Zubizarreta e Marlon Lipke e outros, estavam na área, e aproveitaram para fazer um treino final antes da prova nacional e foram surpreendidos por Alex, que venceu o campeonato, mostrando que se quisesse ainda tinha muito para dar nessa arena. Mas são os special events que lhe dão mais “pica”, tendo sido convidado para praticamente todos os que foram realizados em território nacional e acabando como vencedor do MOCHE Winter Waves, temporada de 2013/14. Aos 24 anos, este que é um dos mais interessantes surfistas portugueses mantém a sua humildade e vontade de surfar e viajar como se fosse um “grom”. E tudo indica que o seu incrível percurso ainda está a começar... OF
Carcavelos photo by carlospintophoto.com
Jรกcome Correia Areais de Santa Bรกrbara photo by Miguel Rezendes
Filipe Jervis in&out photos by Jorge Matreno
l i f e s t y l e Secret photo by AndrĂŠ Carvalho|Goma surf
Francisco Alves Linha do Estoril photo by Jorge Matreno
Tomรกs Fernandes Santa Cruz photo by carlospintophoto.com
Marlon Lipke in&out photos by Pedro Mestre
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Pedro Coelho Alentejo Resting... photos by Jorge Matreno
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l i f e s t y l e Light... photo by Pedro Mestre s u r f Guilherme Fonseca SuperTubos photo by Luis Bento
s e q Praia Grande photos by Jorge Matreno
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JoĂŁo Kopke
Hapiness photo by carlospintophoto.com
*Surf é tudo!