20150924 of75 issuu

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a Inexplorada ilandi a T a s n bond Vaga

nÂş75 _ ano XI _ Jun|Jul15 w w w . o n f i r e s u r f m a g . c o m b i m e s t r a l pvp cont 3â‚Ź [iva 6% inc]





Proged SA: infoproged@proged.com

*Confia em nós, estarás aqui durante um bocado. Flanela rígida o suficiente para se manter em pé perante os elementos e macia o suficiente para não fazer absolutamente nada.



Rhythm junta um grupo único de indivíduos com o mesmo sonho de viver a fazer o que amam. Desenhando com influencias da arte, música e surf, passado, presente e futuro. Rhythm fala de criar expressões próprias que procuram noas fronteiras além do conhecido caminho. Isto é Rhythm. “O som da mudança”

Contacto: geral@nautisurf.com



*É como se não usasses nada! Surf é tudo! Matt Wilkinson usa “Miracle Flash”


# c o v e r s t o r y Foi na segunda surfada na Tailândia, num beach break que fica numa reserva natural, que os Vagabonds meteram o surf no pé. Este foi um dos maiores dias de swell e pedia power surf! Jervis, conhecido como um dos melhores aérealistas nacionais, há muito que aprimora o seu power surf e talvez apenas sonhasse com o dia em que faria uma capa com uma perfeita curva de rail! Nesta surfada deu essa curva, uma explosão de power e água salgada. Jervis faz assim a sua primeira capa com uma das mais importantes características que um surfista de hoje em dia tem de ter, power! PATONG!

Appleton focou-se no mesmo caminho que todos os bons surfistas da sua geração! Um dia decidiu mudá-la, e um novo mundo abriu-se à sua frente... E esse parece enquadrar-se na sua personalidade que nem uma luva. Um Spotlight com um surfista da nova geração que tem uma Alma dos primórdios do Surf. Photo by Jorge Matreno

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Ruben Gonzalez, que dispensa qualquer tipo de apresentação, arrancou para a Ilha da Madeira para o seu tão desejado - por todas as camadas jovens - Training Camp! Foram quatro dias de ondas perfeitas e, consequentemente, muito surf. Gonzalez faznos um apanhado desta quarta edição!

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The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marc Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #75 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens. C R É D I T O S O N F I R E S U R F 7 5

# w e l o v e p h o t o s Haverá forma melhor de terminar o dia do que com um verdadeiro álbum de fotografia, compilado só para ti com todo o nosso Amor e carinho? Não pois não?

Os finalistas de Jervis & Vagabonds foram explorar a Tailândia. O que encontraram, dentro e fora de água, irá surpreender tudo e todos. Um destino não-surfístico que, a partir desta viagem, passou a ser surfítisco!

# s u r f t r i p photos by carlospintophoto.com



Sempre achei que esta “coisa”, para não dizer “mania”, das pranchas diferentes, tem muito que se lhe diga. Lembro-me de ver um filme de surf dos anos 90 em que Rob Machado relatava a sua conversa com o guru do shape, Al Merrick, quando lhe pediu uma twin fin. A resposta foi algo do tipo, “epá já fizemos isso no passado, não funcionavam bem, enterra isso”! Machado insistiu e Al fez-lhe a prancha e claro, Rob, sendo o mestre de estilo que sempre foi, surfou como se fosse o melhor “foguete” do mundo, influenciando uma geração de surfistas. Ao longo dos tempos vi outros, como Dave Rastovich e Dane Reynolds, a fazerem estas pequenas, e talvez não tão espontâneas acções de marketing, em prol de equipamento diferente mas o resultado na água, do surfista vulgar, era, na minha opinião, quase sempre “pobre”. Não dá para fazer o tipo de surf que os mais talentosos fazem e não era com essas pranchas que iam tirar mais rendimento das ondas, principalmente quando se está a tentar fazer o mesmo tipo de surf que fazem com as suas trifins. Vi excepções, mas eram poucas e nunca me convenceram muito. Talvez por isso quando comecei a ver a transição do nosso Spotlight desta edição, Diogo Appleton, de surfista de competição para “zen master” deste movimento alternativo tentei acompanhar para ver o resultado. E a conclusão foi interessante pois realmente estamos todos mais “viciados” num modelo de surf supostamente “high performance” e esquecemo-nos que o que nos atraiu inicialmente a fazer surf. E foi isso que vi nesse estilo de surf, um certo “back to the basics” e uma procura de sensações que perdemos rápido demais. Pode não ser o que eu ou tu procuramos mas não é uma forma menos legítima ou divertida de surfar, muito antes pelo contrário. É isso que neste momento este surfista representa e esperamos que esta entrevista abra um pouco os nossos horizontes ou pelo menos que ajude a compreender o que o surf deveria ser, pura diversão! _António Nielsen

photo by carlospintophoto.com _ 12 It’s all about having fun!




Um dos grandes pros do Jervis & Vagabonds é a experiência que os surfistas das fases finais absorvem com uma viagem de surf a Destinos não-surf, saíndo do seu conforto cultural para novos mundos e realidades. É assim que se evolui! Botelho, Boonman, Blanco e Jervis em pleno processo de absorção da cultura de uma Surftrip que garantiu que este destino não surfístico, a Tailândia, passasse para o mapa de destinos de surf (pouco convencionais)!

_15 photo by carlospintophoto.com

Todos os surfista do mundo, independentemente do seu nível, deveriam fazer uma viagem de surf para um destino não-surf, aliás, para um destino onde o surf é uma incógnita! Viajar é algo que todos gostamos e é mais do que natural que quando essa oportunidade surja, tendo em conta os preços e disponibilidade que a maioria tem para viajar, o destino escolhido seja aquele que vai garantir o melhor e mais consistente surf. Esses destinos todos sabemos quais são e é escusado sequer mencioná-los. Mas há algo que me atrai num destino de Surf pouco convencional, mesmo sabendo que a probabilidade de descobrir uma onda de classe mundial é praticamente nula, por muito que esta ideia habite sempre no meu consciente. E creio que essa sensação de acreditar que vou encontrar uma onda épica desconhecida do mundo seja o meu maior motor do meu entusiasmo para este tipo de destinos, mesmo sabendo da tal impossibilidade dessa possibilidade mas, como disse no texto da Surftrip à Tailândia - que podes ler mais à frente -, o que é a vida sem sonhos? Nos últimos dois anos tive a oportunidade de viajar para destinos pouco comuns de surf, República Dominica e, este ano, Tailândia, ambos para filmar as finais do Jervis & Vagabonds, um evento online que a ONFIRE é orgulhosamente media partner e do qual trata também de toda a parte de produção de vídeo desde o seu nascimento. Uma vez nesses destinos, e aceitando que caiu por terra mais um sonho, digo-te que este tipo de Surtrip tornamse mesmo numa das mais interessantes que podes experienciar. Primeiro porque a nossa noção de uma onda boa para surfar muda, afinal ou se faz surf no que temos à frente ou não se faz surf, uma regra que muitos, no conforto do seu dia-a-dia, erradamente ignoram porque está vento a mais ou pequeno ou mole ou whatever! Regra número 1 do Surf: faz sempre surf esteja como estiver! Depois porque geralmente estes sítios olham para o surf e surfistas como algo meio estranho, e terceiro porque é nestes destinos que saímos, grande parte das vezes, completamente do conforto da nossa cultura, sendo talvez este o maior bicho que agarra qualquer viciado em viagens. Acredito mesmo, depois de o viver, que um surfista só será completo depois de uma viagem destas, e isto de completo não tem a ver com nível de surf mas com feeling. Se pensares bem não será difícil teres oportunidade de fazer uma viagem destas pois geralmente são aquelas que rapidamente riscamos da nossa mente. As clássicas viagens de finalistas, as viagens que as namoradas exigem, luas de mel (de preferência que só tenhas uma) ou quando aqueles teus amigos não surfistas querem viajar para um destino exótico são exemplos que se irão apresentar algum dia na tua vida. Se estudares um pouco esses destinos (exclui aqueles que não têm costa) perceberás se há ondas ou não, e havendo essa possibilidade, e tendo em conta que não poderás fugir a esses compromissos para sempre, arranca com mente aberta e, se quiseres, com baixas expectativas... Bom, mas admito que escrevo estas palavtas de “papo cheio” pois nas duas viagens que fiz de surf para estes destinos não-surf, deu ondas todos os dias, longe da qualidade da Indonésia mas a anos luz dos dois meses de nortada “ciclónica” que assombraram este Verão que (felizmente) já passou! _Nuno Bandeira


_16 photo by carlospintophoto.com

Descobrimos qual a profissão que Frederico Morais irá ter no dia em que acabar a sua carreira de surfista profissional (ou seja, quando já estivermos no caixão) graças a esta foto. Consegues adivinhar? Não... Repara bem na foto... Morais, que pensa sempre no futuro, não só está a treinar surf como para essa profissão. Enquanto o seu braço esquerda manda o nose da sua prancha parar naquele ponto, o seu braço direito manda o tail avançar... Já adivinhaste qual a profissão ou temos de o soletrar? P-o-l-í-c-i-a-s-i-n-a-l-e-i-r-o.



Não percebemos porque nunca uma marca de desodorizantes pensou em usar o surf para promover os seus produtos. Se já alguma o fez e não sabemos, não o fez da forma certa pois de certeza que se o fizesse nos lembraríamos! Se pensarem bem, caros criativos, a quantidade de vezes que um surfista coloca o seu nariz perto do seu próprio sovaco enquanto faz surf é gigante! E só mesmo um bom desodorizante garantiria que esse surfista completasse a manobra (seria este o enredo da campanha), caso contrário desfaleceria com o próprio cheiro caindo da prancha. Até iriámos mais longe na campanha, colocando este cenário num heat e momento decisor de um título mundial. O slogan, que apareceria no anúncio com João Kopke como “estrela” principal seria: “Sem odor não há dor!”, sendo que a dor era a psicológica, por Kopke ter perdido o título mundial por não ter usado o desodorizante correcto! Brilhante não é? Vá agora paguem-nos lá a ideia! photo by Jorge Matreno _18



_20 photo by Pedro Mestre

Adoraríamos saber porque razão alguém (e já agora quem) um dia decidiu chamar “hambúrguer” ou “cogumelo” quando uma rocha cria aquela turbulência redonda na água como que a dizer: “Olá, estou aqui...”. Talvez tenha sido um surfista que foi surfar depois de mamar um hambúrguer com cogumelos, e que estava tão enfardado que só lhe vinham essas imagens à cabeça. Automaticamente, associou-as às rochas que teimavam em aparecer nesse pico... Não sabemos e cremos que ninguém sabe, mas sabemos que nenhum surfista quer almoçar um destes “hambúrgueres” ou “cogumelos” quando está a surfar! É por isso que Ruben Gonzalez (assim como qualquer surfista) é 100% vegetariano quando surfa na Cave (ou em qualquer sítio com rochas)!



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Dia 18 de Julho realizou-se a segunda etapa do circuito Pro Junior Nacional, o Ocean Spirit em Santa Cruz. Tomás Fernandes era o campeão em título e líder do circuito e revalidou o título com mais uma vitória nesta etapa, deixando João Kopke em segundo, Guilherme Fonseca em 3º e Luís Perloiro em 4º. Na categoria feminina foi Carol Henrique quem venceu e assim garantiu o seu primeiro título nacional. No dia 19 de Julho terminava o JBay Open, sexta etapa do CT, na África do Sul. Mick Fanning e Julian Wilson marcaram presença na final e dos dois o vencedor ficaria com a liderança do circuito. No entanto, durante a final, Mick foi atacado por um tubarão branco e apesar de ter sobrevivido sem um arranhão a final terminou sem vencedor, e a liderança manteve-se com o brasileiro Adriano de Souza. photo by WSL A 26 de Julho acabou o Peña Txuri Pro Junior Sopela, uma etapa a contar para o ranking júnior europeu. Miguel Blanco e Teresa Bonvalot foram os dois melhores classificados portugueses, terminando ambos em 5º lugar e mantendo-se na disputa pelo título. Os vencedores foram Gatien Delahaye e Leticia Canales Bilbao. Menos de um mês depois, a 17 de Agosto realizou-se o Air Walk Lacanau Pro Junior, a penúltima etapa do Pro Junior. Os melhores portugueses em prova foram João Kopke (9º lugar) e Camilla Kemp (2º lugar), enquanto que o topo do podium foi dominado por franceses, Nomme Mignot na categoria masculina e Juliette Brice na feminina. photo by WSL A 31 de Agosto terminou o Miss Sumol Cup, uma etapa a contar para o ranking feminino da Liga MOCHE. Teresa Bonvalot já liderava o circuito e tinha boas hipóteses de se sagrar bicampeã nacional, apesar de contar com forte oposição da parte de Carina Duarte. Teresa venceu a etapa e conseguiu revalidar o título, deixando Carina Duarte, Camilla Kemp e Ana Sarmento em 2º, 3º e 4º respectivamente. photo Miss Sumol Cup



TODOSOSSONHOS ÀS VEZES A VIDA PODE SER ESTRANHA. PODE AFASTAR-NOS DOS NOSSOS SONHOS DURANTE ALGUM TEMPO, MAS DUVIDO QUE CONSIGA IMPEDIR-NOS DE OS REALIZAR... Outro dia encontrei, ao acaso, um amigo meu, surfista de longos anos, que já não via há dúzia e meia de bikinis de calendários de camionista. Encontrei-o na rua perdido entre prédios de cinzento triste, açoitado por buzinas tontas de automóveis e pregões de castanha quente a dois euros e meio. Gosto destes encontros repentinos, sem que algo o faça prever. É que são a melhor maneira de aferirmos quais são os verdadeiros amigos. Se os olhos deles se iluminam com o inusitado da situação de dar repentinamente de caras com as nossas novas rugas, isso é um fiel indicativo da amizade que nos guardam. Já quando o brilho permanece por descobrir... Ele, que passo a designar por X, está diferente. Parece-me mais irritadiço, ansioso e, talvez, só talvez, um pouco a desnorte de qualquer coisa que valha a pena. Ficou contente por me ver, mas, enquanto fala comigo, põe e tira incessantemente as mãos nos bolsos e, a espaços, ajeita uma gravata maldita, que se segura ao colarinho e aos sinais vitais de X através de um firme nó de forca. X sempre foi um bom aluno e mesmo por entre inúmeras faltas às aulas em dias de ondas, lá se formou

a contragosto em Gestão de Empresas. Tal como o pai quis, ou melhor, exigiu disfarçadamente. Hoje trabalha numa empresa de telecomunicações, ganha bem e, a meus olhos, foi o melhor caminho para se perder. Entristeceu-me a mudança, já que X parece ter-se desencontrado daquela alegria contagiante que lhe escapava sob a forma de vigorosos gritos imberbes no final de cada onda, a cada manobra mais corajosa. Lembrei-me silenciosamente de uma conversa séria, embora de miúdos, que tivemos há quase quinze anos atrás, iluminados por uma fria lua de inverno, pendurada na noite adormecida por cima da nossa praia de sempre. Na altura, X confidenciou-me que não queria seguir o destino que o pai hereditariamente aceitou, de passo trocado entre números, balancetes de empresas e incontáveis facturas de “meia de leite morninha com adoçante e uma sandes mista aparadinha, se faz favor...” e a repartição das finanças por alturas dos sangrentos IRS anuais. Que não pretendia matar-se a trabalhar para ganhar a vida se depois não havia vida para viver. Que preferia menos dinheiro e, com isso, menos preocupações e encargos de uma vida estúpida. A ele, filósofo estagiário, bastavalhe encontrar a mulher ideal, cheia de amor

[ 24 ] photo by G o n ç a l o R u i v o texto by Ricardo Vieira [ricardovieira30@gmail.com]

para distribuir e, à base de um artesanato barrento e trabalho no campo, educar um par de filhos robustos, energizados a ar puro, fora do ritmo de uma cidade doida. Um sonho que agora, quinze anos depois e em frente a um ser de gravata entalada às portas de Lisboa, me pareceu totalmente ingénuo. Resolvi arriscar outra lembrança, nem que fosse só para soltar umas quantas gargalhadas. “E aquela tua ideia de abrir uma padaria no Alentejo, junto ao mar?” arrisquei, com medo de estragar o contexto com uma memória desbotada de vontade. “Por acaso, tenho andado a ver uns sítios... sabes, ainda sonho com isso...” - respondeu quase em surdina, com uns olhos instantaneamente cuspidores de brilho sem fim, pousados confiantemente na amizade dos meus. A vida, às vezes, pode ser estranha. Pode afastar-nos dos nossos sonhos durante algum tempo, mas sempre duvidei que pudesse afastar-nos de todos os nossos sonhos durante todo o tempo. Que nos impedisse de os realizar, mais cedo ou mais tarde. E tenho um pressentimento que da próxima vez que for ao Alentejo, logo pela, manhã, antes da surfada matinal, me vou deliciar com alguns volumes de pãozinho quente, acabadinhos de sair do forno da padaria de um amigo mais feliz... Vive a vida...

Quem não sonha em viver uma vida em que consiga surfar e usufruir de momentos destes abdicando, se necessário, de ordenados chorudos que, na maioria das vezes, vêm com o compromisso de vida de surfista passar a memória? Francisco Alves tem a sorte de conseguir viver do surf, graças ao seu talento que o faz ser surfista profissional e vivier o sonho todos os dias!

_RV


geral@nautisurf.com


Nim t e x t o by Miguel Pedreira p h o t o by Jorge Matreno [ 26 ]

Muitos amigos perguntam-me a opinião sobre o próximo português no CT. Quem tem mais hipóteses, quem será o primeiro, quantos conseguiremos lá ter?!... Normalmente sou evasivo, pois conheço os surfistas portugueses que estão a apostar no QS e acredito sinceramente na qualidade e capacidade de todos, sem excepção. O facto inédito de termos seis surfistas nacionais no Top 100 do ranking mundial de qualificação no final de 2014 e sete a poderem participar em todos os QS 10.000 de 2015 dão-me razão para essa atitude. Mas depois do Verão e das provas que preencheram o “circuito europeu”, mudei de opinião. Neste momento, acredito piamente que o próximo português a qualificar-se para o CT chama-se... Pedro Henrique! E as razões que me levam a afirmá-lo são evidentes. Escrevo antes dos QS 10.000 dos Açores e Cascais, os primeiros em que Pedro poderá competir este ano. Neste momento, sem uma única dessas etapas que mais pontos atribuem disputada em 2015, Henrique é o melhor português no ranking mundial de qualificação – 42º. É, aliás, o melhor surfista do mundo que ainda não fez as antigas provas Prime. E como conseguiu ele isso? Para usar uma expressão típica do seu país de nascimento, “Indo atrás!” Pedrinho competiu em todas as etapas que pôde este ano, das menos cotadas aos QS 10.000, onde tentou entrar através das triagens – não conseguindo. Teve bons resultados e perdeu de primeira... mas nunca desistiu! Na perna europeia, agarrou nas suas pranchas e na família (mulher e duas filhas!), foi até França, Galiza, Marrocos... e veio de lá com o título europeu Open. Orgulhosamente conquistado com uma vitória num “mero” QS 1500, o primeiro em Marrocos, onde elevou bem alto a bandeira portuguesa! Como todos sabem, Pedro Henrique só se naturalizou português em 2015. Ao fim de alguns anos a viver neste cantinho da

Europa, que lhe deu uma segunda oportunidade de carreira, Pedro decidiu que seria justo competir pelo país que o acolheu, colocando as iniciais PRT à frente do seu nome, nas competições. E este acto, aparentemente simples, terá bastante significado para um atleta que já foi campeão mundial Pro Junior e membro da elite mundial pelo Brasil, numa altura em que ser brasileiro nos circuitos da WSL é sinónimo de “tempestade”! Com a cidadania portuguesa, Pedro já nos deu a primeira alegria do ano – o título Open – colocando a nossa bandeira no topo do surf europeu e o seu nome ao lado de Marlon Lipke e Justin Mujica (os outros dois portugueses a conseguir esse feito). Mas aposto que será a primeira de muitas alegrias que nos dará ao longo dos próximos anos! Porquê? Espírito de sacrifício, vontade férrea de conquistar objectivos e uma vida melhor, concentração e fé nas suas capacidades! As “condições” em que fez esta perna europeia, muitas vezes a dormir no chão em casas sobrelotadas, a comer em casa e não em restaurantes, ou a viajar em grupo (com a família, sempre presente!), são as possíveis para o seu curto patrocínio mas, pelos vistos, as suficientes para conquistar um objectivo válido. Muitos parabéns, Pedro Henrique! E tudo isto para perguntar: onde estavam os tais restantes sete surfistas portugueses de topo, os nossos Top 100 mundiais? Excluindo Tiago Pires, para quem correr a perna europeia já não é um objectivo – legitimamente, uma vez que já foi e já o fez, com bons resultados – onde andam os outros seis? José Ferreira fez as duas provas francesas, com resultados medianos, e voltou para Portugal. Vasco Ribeiro e Tomás Fernandes foram a Lacanau, perderam de primeira e desapareceram. Marlon Lipke foi a Pantin, onde conquistou um bom 9º lugar, mas não fez mais nenhuma... E os outros, nem isso! Mas afinal o que querem estes surfistas? Entrar para o CT ou “curtir” o Verão com os amigos? Caramba, quando temos “veteranos” como João Guedes, Eduardo Fernandes e Ruben Gonzalez a correr a perna europeia toda (Ruben fez até um brilhante 5º lugar em Pantin, o que o colocou como segundo melhor português no ranking europeu, aos 37 anos!), juniores como João Kopke, Miguel Blanco, Luís Perloiro, Guilherme Fonseca, Pedro Coelho ou Tomás Ferreira a tentarem marcar a sua presença no panorama do surf europeu, competindo em todas as provas ou em parte... onde está o exemplo dos “nossos melhores surfistas”? Em Pedro Henrique! Foi a todas! De 1500, 3000 pontos e mais o que houvesse. Era da vitória que necessitava para conquistar pontos importantes? Era nesse objectivo que se concentrava! E deu certo, pelo menos numa delas! E não é que fez mesmo o único brilharete do surf nacional deste Verão?!... quem procura sempre alcança e a sorte protege os audazes! Falta esta atitude aos restantes surfistas portugueses, que apesar de terem entrada nos primeiros quatro QS 10.000 do ano, pouco conseguiram neles. Porque estas provas são de facto muito difíceis e o talento só não chega! Há que ganhar ritmo, como vimos Joan Duru (actual Top 10 QS), Willian Cardoso,Thiago Camarão, Oney Anwar, Robson Santos ou Bino Lopes fazerem nesta perna europeia. Nem sempre com bons resultados competitivos, mas com muita vontade, seguramente! Acredito que, quando lerem este texto e já tiverem decorrido os dois QS 10.000 portugueses, teremos Pedro Henrique numa posição de virtual qualificação para o CT de 2016. Força e boa sorte a todos! P.S. Limitei-me a falar de exemplos masculinos, mas poderia ter falado igualmente em exemplos como o de Teresa Bonvalot, que também fez um Verão brilhante... mas isso fica para outra ocasião. MP _ Segundo Miguel Pedreira, Pedro Henrique, que recentemente representa as cores nacionais, será o próximo surfista português a entrar no CT.



Training Camp

“de Gala”

na Ilha da Madeira O que esperar de uma viagem à ilha da Madeira em pleno Verão? Se for c om R u b e n Go n z a l e z , p a r a o s e u T r a i n i n g C a m p, m u i to ! P e l o s e g u n d o a n o c o n s e c u t i v o , o 4 x c a m p e ã o n a c i o n a l a r r a n c o u p a r a a i l h a c om o s s e u s p u p i l o s e f o r a m r e c e b i d o s c om o n d a s p e r f e i t a s e á g u a q u e n t e d u r a n t e q u a t r o d i a s . E s e a t é e m o n d a s m á s o v e t e r a n o d a L i g a M O CHE t e m m u i to pa r a e n s i n a r , p o d e - s e d i z e r q u e n e s ta s c o n d i ç õ e s o s e u ca m p f o i “ é p i c o ” ! t e x to p h oto s

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[30] _ main pic Trestles na Madeira? top surf pic Lourenço Faria projecta um bom bottom turn com técnica de sobra para fazer o seu treinador orgulhoso. Small lifestyle pics Tomás Abreu tem sido acompanhado por Ruben e já se começam a ver os resultados. + “Groms will be groms” + “Time to get moving” + Ruben e o seus pupilos.

Ponderei o local onde fazer o RG Training Camp by Billabong. A data era excelente devido ao calendário escolar dos miúdos – altura em que entravam de férias de Verão, no mês de Junho. É também uma altura de transição de estação em que geralmente os ventos são amenos e a ondulação parece ser uma mistura da força da Primavera com clima de Verão. A água a ficar cada vez mais cristalina e as temperaturas a aumentarem. É um bom mês, e muitas vezes traz surpresas, como foi neste meu Training Camp da Madeira. Fazendo já um trabalho com um grupo de oito miúdos, prometi-lhes que iria fazer um Training Camp fora do continente. É importante nestas idades, entre os 8 e 16 anos, proporcionar novas experiências. Sinto-me bem com isso. Gosto de poder dar esta género de vivências, em que para eles tudo é novidade. E presenciá-lo é realmente muito gratificante. “Pessoal preparem-se, vamos arrancar para a Madeira. Yauuuu!!!”. Gritos e mais gritos, sorrisos de orelha a orelha e um enorme entusiasmo escarrapachado na cara de cada um. Claro que não foi logo uma confirmação mas sim muita vontade. Pois! Muitas regras estavam impostas por parte dos pais. “Vais, meu querido, se as tuas médias escolares atingirem os objectivos”, diziam todos os pais. Mas pelos vistos os meus pupilos portaram-se todos bem e tiveram carta verde para passar quatro belos dias na Ilha da Madeira a treinar com a nova geração de surf desta ilha. Como referi, “mês de Junho é um mês de surpresas” e a Madeira surpreendeu-nos. André Gato, um dos locais e treinador de grande parte dos mais novos Madeirenses, ainda se mostrou um bocado reticente quanto à data. Mas alguma coisa me dizia que iríamos apanhar boas ondas. Assim foi! Não apanhámos ondas boas mas sim ondas “de gala”. Ainda por cima nos 4 dias que lá estivemos. Nunca me passou pela cabeça ter ondas como aquelas que usufruímos naqueles dias em Junho. Fajã da Areia perfeito - que mais parecia “Trestles” nos seus dias de metro e meio - água quente, sem uma brisa de vento, esquerda e direita perfeitas até bater na rocha, à vontade do freguês. Depois, Esquerda de São Vicente de luxo em frente à nossa Padaria, onde iamos abastecer-nos de “combustível”. Neste caso, croissants, bolacha ou sumos! E tudo com uma bela onda virgem perfeitinha a arrebentar à nossa frente. De seguida, surf no nosso pico triangular ao lado ao lado dessa onda. Dia inteiro de surf, de calções das 9 da manhã até as 18h30. Não estou a exagerar. Até os próprios locais estavam incrédulos com as ondas que estávamos a apanhar. Em todos os anos que fui à Madeira penso nunca ter visto Fajã da Areia (Galinhas) tão consistente e perfeito. Os miúdos a cada surf que faziam diziam: “Fogo! O que é que é isto!? Não estou a acreditar no que está a acontecer. Estão a ser as ondas da minha vida.” Para acabar este primeiro dia, exaustos de surf, fizemos uma bela sessão de alongamentos para preparar o dia seguinte.




Acordámos com um dia mais cinzento e ondas mais pequenas na maré cheia. Era hora de tomar o pequeno-almoço e ir para o clube de São Vicente para o treino de preparação física. Pois é! Apesar de no dia anterior ter sido um dia cheio de surf, nada melhor que um treino em terra pela manhã para diluir o acido láctico e repor energia no corpo, porque gosto do lema: “Quanto mais fazes mais queres fazer”. Agachamento ali, corrida acolá, abdominal com o queixo a bater no joelho com ruídos e gemidos à mistura, e a miudagem aguentou-se até à ultima numa sessão de 45 minutos. Depois ainda dizem que o velho sou eu! Com a maré a descer mais uma vez o pico foi a Fajã da Areia. Foi o dia de treino competitivo, em que pus todos a fazer heats de 20 minutos. Foi um mix entre a nova geração do continente / nova geração da Madeira. Como é engraçado vê-los a puxar uns pelos outros. A debaterem-se onda após onda com o nível de surf a aumentar independentemente de quem são os adversários. Acabámos o dia onde começámos, no Clube de São Vicente, para fazer Yoga com um amigo que convidei, professor no continente, Rodrigo Pereira. Nada melhor que incutir algum conhecimento desta arte milenar, que tanto relaxa a mente e corpo e torna-nos leves e preparados para mais um dia de muito surf. As previsões eram excelentes... O nosso cérebro nem dava azo às ansiedades nocturnas sabendo que o dia seguinte iria estar bom. Depois de dois dias preenchidos de manhã à noite, era jantar, ver filmagens e cama. Se bem que havia sempre um quarto um pouco mais barulhento que outros... Não é António Ramos!? Nada que após uns minutos não parasse, e todos estivessem agarrados à almofada de cara espalmada e de boca semi aberta a roncar. Acordámos com vento fraco, swell de oeste, sol e alguma ondulação. Sinónimo de mudar de rota. Tudo indicava Ponta Pequena ou Paúl do Mar. Íamos na expectativa de apanhar umas ondas. Ao passar um dos túneis disse:“Vamos só aqui ver o Paúl. Quando chegámos, parecia que estávamos a ter uma miragem. Ondas de um metro a metro e meio perfeitas. O grupo da RG Surf School & Academy meio estupefacto por nunca ter visto ondas tão perfeitas a rebentar a 10 metros de calhaus redondos. Não sabiam se iam mandar tubos ou ficar com as quilhas pregadas nas rochas. Os da Madeira, já com alguma experiência, também não tinham tantas certezas devido às suas poucas surfadas no Paúl. Mas realmente surpreenderam-me todos. Mal chegaram ao outside, depois de terem passado aquele receio de como se entrava no mar, foram ganhando confiança e já mandavam cutbacks e tubinhos ao pé das rochas. O nível de surf foi aumentando com a sessão. Aquelas ondas deram-lhes uma outra realidade e penso que ao surfarem este tipo de ondas ganharam outra confiança. Esta ida à Madeira foi mais uma grande aposta minha neste local que tanto gosto e sou sempre tão bem recebido, juntamente com esta nova geração de surf. Realmente é um sítio onde o surf está a crescer e ajudanos a evoluir como surfistas. Forte agradecimento ao Ruben e Andreia pela estadia no North Coast guest House, e ao André Gato do Clube do Funchal por mais uma vez ter sido um grande anfitrião. Também é de louvar este excelente grupo de surfistas que se superaram dia após dia e mostraram um grande espírito de equipa.

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main pic O “chefe” a mostrar toda a sua mestria! Bottom right lifestyle pic Beach Break ou reef? Small lifestyle pics As ferramentas. + Depois do treino prático vem a análise. _ [33]




A Tailândia, um dos destinos mais procurados do mundo por casais em lua de mel ou grupos de amigos que querem viver aventuras asiáticas ao melhor estilo do famoso filme “A Ressaca – Parte II”, esconde uma realidade que te fará colocar este destino no teu mapa de viagens! Essa realidade, explorada por Alex Botelho, Miguel Blanco, Pedro Boonman - finalistas da terceira edição de Jervis and Vagabonds – e Filipe Jervis, é que há ondas e com muito mais qualidade do que alguma vez sonharam! E ao fim de uma semana na terra dos sorrisos, a sua ressaca foi outra: excesso de surf em água quente e sem crowd...


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Confesso que talvez estivesse mais entusiasmado que os Vagabonds com esta viagem! Não pelo surf em si pois este era, para todos, uma incógnita que nem as informações do mundo virtual conseguiam decifrar! Mas a ideia de conhecer uma Tailândia inexplorada (em termos de surf), aliado a todo o lifestyle que envolve este país asiático dava-me um entusiasmo extra, e deixava aquele bicho na barriga que te faz acreditar que vais encontrar a onda mais incrível que o mundo já viu querer explodir-me o estômago... Rapidamente percebi que esse entusiasmo era partilhado pelos três finalistas da terceira edição do Jervis and Vagabonds - Alex Botelho, Miguel Blanco e Pedro Boonman - e o mentor de evento, Filipe Jervis, assim como do fotógrafo da viagem, Carlos Pinto. A grande razão de tanta excitação eram mesmo as previsões, que indicavam um sólido swell que cresceria desde o dia em que aterrássemos até ao dia em que abandonássemos a terra dos sorrisos. Com muito vento on-shore à mistura, sem dúvida, mas uma costa altamente recortada dava-nos esperança de encontrar bom surf. Eu, como disse, continuava a viver o sonho de descobrir uma das ondas mais perfeitas e/ou perigosas do mundo... Sonhos... Mas o que é viver sem sonhar certo? E viva o novo off-shore! Os nossos sonhos tornaram-se realidade (os meus desceram à realidade) assim que pisámos o beach break de Kata, isto depois de uma viagem de 20h. A cinco minutos a pé do nossos hotel, e deambulando pelo meio das turísticas ruas de Phuket de ouvidos abertos e língua de fora à procura do som das ondas e do sabor da maresia, descobrimos Kata Beach e os seus banhistas chineses, australianos e europeus a usufruir da temperatura tropical do ar e da água. E, ondas! Meio metro sólido com um on-shore apetitoso (decididamente a direcção certa do vento é, nos dias de hoje, qualquer uma!) confirmava que a saída do hotel de tronco nú , prancha na mão e em corrida desenfreada não foi tão louca como poderia parecer! Foi a típica surfada de adaptação, não à água quente ou a ondas de vento, pois essas condições já estes conhecem bem, mas sim do corpo a uma surfada com uma viagem nas costas, poucas horas de sono (excepto Blanco e Boonman que dormiram que nem bebés), e o corpo tipicamente moído de quem passa demasiadas horas sentado!

_ 38 Há sempre uma palavra qualquer que fica na cabeça de todos numa viagem e nesta foi Pedro Boonman, que dominou os ceús da Tailândia, quem garantiu que por tudo e por nada saísse um PATONG da boca de qualquer um dos Vagabonds.



Na sua estreia numa final do Vagabonds, Miguel Blanco mostrou-se viciado em duas coisas: o Ăłbvio surf e a massagem mesmo ao lado do nosso hotel! NĂŁo admira que com o corpo sempre relaxado, a sua performance fosse deste nĂ­vel! _ 40




43 _ No dia mais pequeno, Filipe Jervis aproveitou para meter ainda mais power no seu surf, o que nunca é fácil em condições destas.



Cinco “Hurras” para o Turista Chinês! Enquanto Blanco, Jervis, Boonman e Botelho soltavam o esqueleto num dos vários picos que rebentavam no meio do beach break, diante dos olhos de quem estava cá fora começava um outro filme, que duraria até ao fim da viagem e sempre sem perder uma pitada de interesse... Seja na Europa, EUA, América do Sul ou Austrália, o lifestyle de praia (leia-se areia) é praticamente todo igual. Mas na Tailândia estás num mundo novo, e o teu cérebro agradece, encanta-se e espanta-se com tudo o que acontece nas areias de Phuket. Não falo do turista europeu ou australiano, mas do chinês. Mas o que primeiro me chamou a atenção nas areias de Kata Beach foi a estratégia de uma das muitas actividades que os tailandeses têm na praia para turistas... A “actividade” era fazer tranças, nada de mais, mas quando a forma para atrair o turista é espetar uma cabeça de manequim num pau, cabeça essa com uma peruca de tranças e pau esse que é depois espetado na areia, há algo de mórbido... E divertido ao mesmo tempo, e com o tempo lá arranjámos forma de meter o criativo Alex a interagir com uma dessas cabeças... E agora mistura dezenas de pequenos chineses vestidos com fatos de banho do anos 60, uma ou mais bóias de todos os tamanho e feitios a envolver-lhes o corpo e todos a segurar o pau com o telemóvel provavelmente a tirar uma selfie a cada passo... Surreal! Se na Europa a selfie ainda é tirada com alguma vergonha, nas areias de Kata Beach, a selfie era tirada como se fosse uma verdadeira produção de moda, onde a/o modelo é manequim, fotógrafo, produtor, director, maquilhador e todos os “-or” que envolvem uma produção! Tudo isto não teria metade da piada se não tivéssemos os Vagabonds a surfar como palco principal, e a “diversão” do fotógrafo e camera era captar todo este universo paralelo enquadrando, se possível, todo o surf com todos o entretenimento não-surfístico. Tailândia Mapeada Nem todas as praias de Phuket vivem essa “massificação”! Se ficares por Kata Beach ou Patong (a zona mais turística e onde tudo acontece), o cenário atrás descrito é provavelmente o que vais encontrar mas basta andar 15 minutos para sul ou entre 20 a 50 minutos para norte, e chegas a praias com meia dúzia de turistas que procuram fugir à confusão. Decidimos, logo no segundo dia e graças a uma chuvada torrencial da parte da manhã, percorrer toda essa costa para fazer a prospecção de mercado surfístico, ou seja, perceber, ou tentar, onde e quais eram os melhores picos. Seja para norte ou sul, podes ter a certeza que se houver swell tens ondas, e com os recortes da costa essas variam em tamanho (apesar de não muito) mas varia principalmente a direcção do vento. Praticamente todas as praias são baías com fundos de areia e ladeadas por rochas gigantes que podem produzir wedges. Surin é o pico mais consistente, a cerca de 40 minutos a norte de Kata Beach (entre Surin e Kata há várias praias com ondas), mas é muito exposto ao onshore. A 10 minutos de Surin tens uma incrível reserva natural onde existe um outro beach break muito consistente e onde o vento parece entrar menos. Foi neste que os Vagabonds deram o seu segundo surf, depois da monção matinal ter desaparecido e com ela o vento. Com ondas de um metro sólidas, Jervis metia o seu power em jogo, cravando o rail e explodindo as junções com o tail, numa altura – relembre-se que era o segundo dia – em que Boonman já gritava PATONG a cada manobra...

Este wedge de esquerda foi um dos picos mais surfados e era perfeito para o maior viciado em massagens, Alex Botelho, soltar todo o seu backside entre chuva e sol tailandeses! 45 _


Fotografar na Tailândia talvez seja das coisas mais difíceis do mundo, por incrível que pareça. Isto pois se na água a acção nunca pára, fruto destes serem swéis de vento o que faz com que haja ondas com fartura, fora de água a acção também não abranda, fruto dos milhares de chineses que nos divertem com a sua forma diferente de estar na praia. Claro que o fotógrafo da viagem, Carlos Pinto, conseguiu conjugar os dois elementos na perfeição! Um exemplo perfeito é este stickadão de Pedro Boonman. _ 46

PATONG!!! Por qualquer razão, o nosso cérebro tem tendência a memorizar algumas palavras e a aplicá-las em tudo menos aquilo que a que elas se referem. Em viagem, ainda mais há essa tendência e, numa viagem com o Boonman, os cérebros de quem o acompanha ainda mais bombardeados são. Quando nessa manhã passámos na zona onde acontece toda a loucura da noite de Phuket, e vimos que se chamava Patong, não houve nenhum cérebro que não ficasse com o nome gravado, talvez por sabermos que estávamos perante a zona “proibida”, talvez pela fonética da palavra ou talvez pelo Boonman soltar um imediato PATONG, e que não o largou (nem, consequentemente, ao restante grupo) durante os dias que se seguiram! A partir desse momento, era PATONG por tudo e por nada! Voltando ao surf, eram PATONGs por todo o lado, fosse o power de Jervis, os aéreos de Boonman, os blow tails ninjas de Blanco ou as “rabetadas” agressivas de Botelho! Os corpos moídos da viagem pareciam ter desaparecido, e o surf de cada um estava cada vez mais em ponto rebuçado! Iguarias locais Depois de uma surfada um surfista só pensa em comer! E como em qualquer parte do mundo, convém saber os melhores sítios para saciar a fome. Kata Beach tem restaurantes a cada metro, literalmente, mas há uns melhores que outros. A comida tailandesa é como a maioria da asiática, à base de noodles, arroz, vegetais e galinha. Phucket tem muito marisco à disposição e vários tipos de caril, do mais ao menos picante. Em Kata descobrimos dois sítios incríveis: uma pizzaria gerida por um genuíno italiano, e, do lado oposto, o The Coffe Club, de origem australiana, e que tem uns bifes, hambúrgueres e mesmo pratos locais confecionados na perfeição. Isto se quiseres ocidentalizar o teu estômago! Se quiseres (e deves) “orientalizar” o teu saco digestivo, opta pela comida local, e o melhor será perguntares a um local os melhores sítios. A melhor refeição tailandesa que comemos, depois da surfada no parque natural, foi numa “taverna” algures no meio de uma movimentada estrada onde ninguém falava inglês e muito menos havia listas em inglês. Mas tinham fotos e nós tínhamos a nossa arma secreta, o nosso guia - um dos muitos privilégios de ter tido a Autoridade do Turismo da Tailândia como principal patrocinador desta edição do Jervis and Vagabonds. Comemos as melhores iguarias, e mesmo Jervis, que é o mais “cuidadoso” (para não dizer esquisito) com a comida, lambeu os dedos no fim! Facilmente conseguirás descobrir estes sitios perguntando aos locais. Foge um pouco do lado turístico da zona de praia e comerás muito bem e por um preço absurdo!



Creio que ninguém aprecia mais comer do que Miguel Blanco. O tempo e a quantidade de perguntas que faz sobre cada prato são quase uma ciência que inventou mas como ele diz: “Gosto de comer bem”. O seu sorriso, quando acerta no prato, é gigante, e a cada garfada solta sons de prazer enquanto saboreia a comida de olhos fechados. Só mesmo visto! Se há algo que tem mais prazer do que comer é surfar. Apesar de conhecer o seu surf mais que bem, nunca tinha passado uma semana seguida a vê-lo surfar, e posso assumir que cresceu ainda mais a minha opinião sobre o excelente surfista que é. A manobra que domina melhor é o blow tail de frontside! O power surf é também o seu forte e, como todos sabemos, tem um apetite peculiar por ondas grandes. Mesmo sem patrocínio principal, Blanco luta para alcançar o seu sonho no mundo do surf. Pode ser mais difícil mas não é impossível! O Wedge Longe de estar terminado, o segundo dia traria mais descobertas... Era tempo de rumar a sul, passar Kata Beach e procurar uma esquerda que supostamente rebentava numa pequena baía e em frente a um rio. O nome dessa praia é Nah Harn Beach e foi a cereja em cima do bolo. Nah Harn é, ou foi sem dúvida, o melhor pico que mapeámos. A onda rebenta ao lado de uma imponente e verde colina, que faz com que se forme um triângulo para a esquerda perfeito para descolar. Um autêntico wedge, e foi neste que os Vagabonds abusaram do surf aéreo, Jervis e Boonman de frontside, Botelho e Blanco de backside. Os dias seguiram-se com várias surfadas no wedge de esquerda, sempre com água quente, side-shore (o onshore de Kata torna-se side shore) e sem crowd. Saudável competição Apesar de ser uma Surftrip, havia uma certa tensão no ar pois disputava-se a final do Jervis and Vagabonds. A vantagem e ao mesmo tempo desvantagem dos finalistas estarem todos juntos é que veem quase todas as ondas dos seus adversários, ficando com noção do que precisam fazer para se ultrapassarem. Botelho, Blanco e Boonman apostavam claramente no mais abusado aéreo, apesar do critério para a final ser a melhor manobra. Mas o wedge de esquerda de Nah Harn é perfeito para voar, e por isso o aéreo mais alto, com a rotação mais rápida e o mais técnico possível era o objectivo de cada Vagabond. Quando as surfadas eram feitas em Kata Beach - que é a praia onde realmente há crowd, talvez 30 (?!?) surfistas -, os Vagabonds continuavam a apostar no surf performance.

Miguel Blanco passou a viagem toda a querer ir ao Flowrider mas como ninguém o acompanhou, aproveitou o dia maior, em que as ondas tinham mais power, para descarregar a sua desanimação por não experimentar o surf de água doce! 48 _



Banhocas à la chinês! Foi entre Nah Harn e Kata beach que os Vagabonds passaram as suas horas e horas de molho. Os surfistas locais, que ou são professores de surf ou salva-vidas, como bons tailandeses, recebiam-nos sempre com um sincero sorriso. Não é por acaso que a Tailândia é o país dos sorrisos, mas irei mais longe dizendo que é o País do Sorrisos, da Simpatia e da Ternura, tal a forma como as pessoas parecem respeitar as diferentes culturas que procuram este destino para descansar e se divertirem. Fora de água, a acção não parava, e os chineses teimavam em querer roubar a atenção das nossas lentes. A cada minuto aparecia um novo “ser” pequenino com o seu fato de banho bizarro e colorido. Uns vinham com gigantes chapéus, outros com toucas e óculos de piscina mas todos vinham com o telemóvel, ou espetado no pole para a selfie ou, caso fosse hora de banhoca, dentro de sacos impermeáveis que eram colocados ao pescoço. E lá iam eles, arrastados nas ondas do shore break sempre com o telemóvel pendurado a dançar ao sabor das ondas. Trabalhar assim nunca é monótono, até é (quase) complicado pois se os swéis de vento já fazem com que as ondas não parem e com que os surfistas não parem de surfar, adicionar a tentação de captar todas as banhocas à lá chinês complica tudo! Massagens, o vício do grupo (com Botelho a liderar) Há muito para fazer na Tailândia além de surf mas nada teve mais sucesso que as massagens que haviam a 20 passos do nosso hotel. Parem essas mentes mais perversas de pensar o que pensam, falamos de massagens à séria, daquelas que entras e te dão uns chinelos que só por si já te massajam os pés (ao ponto que alguém – invocamos o anonimato - um belo dia se esqueceu de os tirar e os levou para o hotel e, reza lenda, que para Portugal). Depois levam-te para uma sala onde uma música suave te massaja o cérebro enquanto recebes, durante uma hora, uma massagem que poderá ser mais ou menos intensa conforme desejares. Mais intensa significa que a força em vez de ser exercida com mãos ou cotovelos é com a massagista em pé. Uma boa massagem tem de ter também um pouco de dor, caso contrário não faz efeito. Ninguém ficou mais viciado que Alex Botelho. O ano passado, Botelho batalhou com graves lesões no ombro e costas. Correu literalmente mundo à procura de bons tratamentos, inclusivamente foi visto pelo mesmo fisioterapeuta de Slater, mas foi na Tailândia que Alex encontrou algo que não tinha conseguido. Alex tinha quase a sua massagista privada, uma simpática tailandesa que tinha estudado medicina oriental e tirado toda uma série de cursos adicionais, que aliados a anos e anos de trabalho, lhe davam uma experiência rara. “Nunca me senti tão solto e bem na vida desde que tenho lesões”, comentava o gigante Adónis, como o chamávamos, cada vez que saía da massagem. E continuava a descrever-nos como ela tinha feito assim ou assado para puxar ali ou aqui e meter “tudo no sítio”. “Adónis” já ia directo do surf para a massagem, e se ao início eram massagens de uma hora, nos últimos dias eram de duas. Aliás, por pouco não perdemos o avião de regresso porque Botelho (e Blanco) decidiu prolongar a sua última massagem.

Apesar de não estar a competir na final do Jervis and Vagabonds, Filipe Jervis, mentor do evento online, esteve obviamente presente na Tailândia. O wedge de esquerda revelou-se perfeito para treinar os vários aéreos que existem. Slob invertido sem ninguém excepto os Vagabonds na água para verem! 50 _




Durante esta viagem, Alex Botelho fez anos e nada melhor do que uma bela surfada em água quente e com amigos para celebrar. E, para finalizar o dia e começar a noite de celebração, nada melhor que, adivinhem… mais uma mega massagem! 53 _

Diversões não-surfísticas Tínhamos algumas actividades programadas para “cumprir”, oferecidas pela Autoridade do Turismo da Tailândia. Um passeio de elefante, scuba dive e uma aula de Muay Thai. É difícil escolher qual foi a preferida mas creio que o Muay Thai e o scuba dive ganharam. Talvez por serem actividades mais físicas, se bem que a experiência de tocar e andar num dos maiores seres vivos do mundo e olhar bem no seu enorme olho, que segundo dizem memoriza tudo o que vê, é surreal. O scuba dive implica ir para a costa leste de Phuket, aquela que não apanha swell. Depois de uma hora de barco - com Boonman mais enjoado que uma pescada - chegámos a uma ilha de filme, onde começou a “operação” mergulho. Nenhum dos Vagabonds tinha ainda respirado debaixo de água, e depois de uma lição básica de como usar o equipamento lá foram dois a dois com os seus instrutores. Fizemos dois mergulhos, com intervalo de hora e meia para comer, e o resto do dia foi passado a descrever o que cada um viu nas “profundezes” da Tailândia. Ninguém estava mais feliz que Boonman pois era o seu dia de anos, e os seus últimos cinco aniversários foram passados dentro de um carro a viajar para campeonatos. Óbvio que o dia não terminou sem mais uma sessão no wedge de Nah Harn. Fight! O Muay Thai foi outra aventura! Ninguém estava preparado para o que lá vinha, nem mesmo um grupo de surfistas profissionais, que além de surf, fazem muita preparação física. Creio que não estou errado ao dizer que o treino de Muay Thai é um dos mais puxados do mundo, e o facto de Blanco, Jervis, Boonman e Botelho dizerem que nunca fizeram um treino tão hardcore comprova-o. Começaram com noções básicas de socos e pontapés, forma de posicionar o corpo para defender e atacar. Entre séries não descansavam, faziam flexões, e durante duas horas a única “pausa” era para beber água. Assim que um se sentava, vinha um treinador, verdadeiras máquinas de treino, mandá-los levantar. E se não eram flexões, na altura em que “descansavam” entre as séries, levavam com plastrons nos abdominais! Quando tudo parecia terminado, mais exercícios. Creio que ninguém levou a aula mais a sério que Jervis, principalmente quando chegou a parte de dar combinações nos plastrons do treinador. Jervis era o que mais jeito tinha dos quatro, pelo menos pareceu-me, e disferia Patongs a 1000% nos plastrons. Talvez, se soubesse que a aula nem a meio ia, tivesse poupado as forças... ou talvez não! Botelho e Blanco também tiveram o seu momento alto no ringue, quando o objectivo era ver quem conseguia deitar o outro abaixo usando uma técnica que envolve entrelaçar os braços no pescoço do outro. Agora imaginem... o gigante Alex com Blanco pendurado no seu pescoço a tentar derrubálo. Mas Blanco é duro, e foi um “combate” justo que terminou em empate técnico (e muitos risos dos treinadores). Ah, e se pensam que depois de duas horas os Vagabonds deram o dia por teminado enganam-se. Foi comer e ir directo para o wegde para três horas de surf. E depois, adivinhem... massagem!



And the winner is... A viagem estava a chegar ao fim e a Tailândia surfística estava já mais que mapeada. Neste momento era impossível dizer quem seria o vencedor mas talvez Blanco estivesse um “passo” à frente de Boonman e Botelho. Boonam, vencedor das edições passadas, passou a semana a tentar aéreos altos mas em sucesso. Na penúltima sessão, Boonman acertou um aéreo bruto, e com esse todos sabiam que a vitória estava ao seu alcance. Blanco e Botelho não desistiram nunca mas ninguém conseguiu melhor manobra que essa. Claro que seria o júri dos Vagabonds a definir o vencedor depois de ver as filmagens da melhor manobra de cada um no site do evento (jervisandvagabonds.com), júri esse que também tu fazias parte. A esta hora já sabes que foi mesmo Boonman quem venceu, novamente, o Jervis and Vagabons, e o seu aéreo é também o que podes ver aqui! Será para o ano que o Rei dos Vagabonds vai ser destronado depois de um reinado de três anos?... Desfecho A Tailândia não é nem será o primeiro destino da tua lista de Surftrips! Digo mais, não estará no teu top 5, mas, como certamente percebeste, é um destino onde há surf! Não é a qualidade de uma Indonésia mas há surf, e surf de relativa qualidade. Tens água quente e clima tropical. É verdade que a época de surf coincide com as monções mas a chuva num clima destes não faz mal a ninguém. Junta uma cultura diferente, muitas actividades não surfisticas, diversão nocturna e, se quiseres, espetáculos “proibidos”, e tens uma viagem de surf diferente! Um agradecimento especial à Autoridade do Turismo da Tailândia por uma viagem de sonho, e aos restantes patrocinadores do Jervis & Vagabonds (Ericeira Surf & Skate, Eru, Swatch, Lapoint e Xhapeland) por também permitirem uma experiência destas a todos! OF _

55 _ Apesar de ser uma Surftrip, os Vagabonds estavam na Tailândia com um objectivo: vencer o evento online! Vencia quem desse a melhor manobra e, pela terceira vez consecutiva, o surfista que venceu foi aquele que só pode mesmo ser o Rei incontestável dos Vagabonds, Pedro Boonman. A manobra, este aéreo! PATONG!




Just Flow O

Paradigma

d e App l e t o n

Durante grande parte da sua vida, Diogo Appleton focouse no mesmo que todos os bons surfistas da sua geração, a vertente competitiva do surf. Caso tivesse mantido essa direcção, é provável que chegasse a disputar títulos e fosse mais um “surfista de topo” a nível nacional e, possivelmente, europeu. Até que um dia decidiu mudar de rumo, e um mundo novo abriu-se à sua frente, mundo esse que se enquadra na sua personalidade como uma luva. Sem saber, Appleton tornou-se no rosto mais visível de um “movimento alternativo” de surf no nosso país, uma “corrente” que vive o surf num “paradigma” diferente. P

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bodyboard até começar a fazer surf de novo. Foi quando fomos de férias para Cabo Verde que voltei ao surf. Não levei a prancha de bodyboard por isso usei a de surf do meu pai e aí voltou a vontade de surfar, acho que tinha 10 anos. E o que se seguiu? Como todos os meus amigos comecei a entrar em campeonatos. Aos 14 anos fui patrocinado pela Volcom e estive lá dois ou três anos e depois fiquei vários anos sem patrocínios. Como competidor ganhei uma ou duas etapas do Esperanças mas nunca fui campeão de nada. Ao fim de uns anos comecei a sentir que aquilo

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Diogo, sabemos que a ligação da tua família com o surf já existia mesmo antes de teres nascido, fala-nos um pouco desse “tema”... Sim, o meu pai começou a fazer surf nos anos 80. Ele viveu no Brasil na altura do 25 de Abril, onde foi introduzido ao surf. Depois, quando voltou, começou a surfar na Costa da Caparica e criou uma marca de pranchas chamada “Alva”, com um amigo. Eram feitas na garagem da nossa casa por isso sempre tive o contacto com o surf. E foi ele que te influenciou a começares a surfar? Sim, mas nunca insistiu muito, tanto que comecei a fazer surf e depois passei para o

não era para mim porque era uma “granda” frustração. Perder, fazer aquelas viagens todas, gastar dinheiro, perder outra vez, estava a começar a ficar depressivo. Mas houve uma fase em que parecia que os resultados começavam a aparecer... Foi quando fui para a Surftecnique (actual APS) pois levei a coisa mais a sério. Mas sempre fui teimoso ao ponto de dizer que a competição não era para mim. Na altura que entrei para aquele grupo de treino a coisa começou a mudar mas sabia que não era o meu forte. Quando é que se deu o “breaking point”? O último campeonato que fiz foi um Pro Junior Europeu em Sopelana. O processo até chegar a esse dia... já não estava a gostar, perdi cedo e mesmo não tendo tomado a decisão aí optei por não ir à prova seguinte, em Salinas. Disse aos meus treinadores que precisava de sair dali pois já não estava a aguentar a pressão de estar em campeonatos e que mais tarde ia ter com eles e falávamos. Depois decidi que ia deixar de competir e foi o que fiz. Mas não tenho aversão nenhuma à competição, sonhei em ser surfista profissional nesses moldes como todos os outros.


É raro um surfista numa fase dessas da carreira abandonar a competição, como foi o feedback das pessoas que te rodeavam? O feedback das pessoas foi estranho, até fiquei um bocado assustado. Veio muita gente ter comigo a perguntar o que estava a fazer! Mas pensei logo que se não vivesse do surf iria viver de outra coisa qualquer. Foi nesse dia que a pressão saiu de cima de mim. A ligação com o surf, por gosto, estava a perder-se um bocado, por causa dos campeonatos, e quando tomei essa decisão o surf teve muito mais gosto para mim. Os dias seguintes foram muito bons, queria outra vez fazer surf todos os dias! Foi aí que começaste a testar material diferente, por não teres obrigações a nível de performance? Sim, nessa altura ainda não tinha usado pranchas diferentes, tinha curiosidade mas em Portugal é muito difícil arranjar esse género de pranchas, mesmo o que o meu pai fazia era com três quilhas. E quando voltaste a ter patrocínios? Foi uns meses antes de ter deixado de competir, entrei na Rhythm e Vans, e foi um bom encaixe pois desde o início deixaram-me à vontade para fazer o que quisesse já que não fazia tanto sentido para eles ter um surfista de competição mas alguém que levasse o surf de um modo não tão sério. E quando decidiste arrancar para a Austrália? Era um sítio que sempre quis ir por isso decidi ir no início do ano seguinte. Fui sem expectativas

nenhumas mas as coisas foram acontecendo e acabou por ser uma “granda” viagem. Queria ir para Byron Bay mas aterrei na Gold Coast e fiquei em Coolangata inicialmente. Mandei um email ao Neal Purchase Jr, e foi ele que me recebeu e apresentou ao Justin, que era dono de uma surfshop e tinha um quiver incrível de pranchas diferentes do que eu tinha acesso cá. Fiquei em casa dele duas semanas e comecei a conhecer muitas pessoas durante esse tempo antes de ir para Byron Bay. Para quem não sabe, quem é o Neal Purchase Jr? O Neal não é muito conhecido cá mas na Austrália é um surfista e shaper muito respeitado e foi um dos fundadores da Rhythm. O pai dele já era shaper antes dele e é um surfista que usa todo o tipo de pranchas diferentes e lá, isso já faz parte da cultura, vê-se muita gente a usá-las e a curtir.

Medium left pic Um surfista c o m p l e t o não precisa de c o n d i ç õ e s épicas para se divertir. p h o t o b y N i c k P u m p h r all other pics Foi na sala de shape que Appleton descobriu a melhor maneira de se preencher fora de á g u a photos by Filipe Neto 62 |

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Achas que cá não se vê isso por falta de “maturidade” na cultura de surf, que é muito mais recente do que na Austrália, ou será por sermos pessoas com mentalidades diferentes? Também é isso, mas um ponto super importante é que cá não temos ondas de qualidade para fazer esse tipo de surf. Temos muitos beach breaks e ondas com força e, além disso, está tudo muito focado no surf de alta performance e competição. Voltando à Austrália, como foi a experiência? Na altura em que fui era Verão, e o mar não estava nada de especial mas quando entravam os ciclones dava boas ondas. Depois de Coolangata fui para Byron e não curti muito, achei aquilo muito falso, aí sim, ia com expectativas e achava que me ia identificar e nada, muitos turistas, muita confusão, muita caro. O sítio é giro mas não me identifiquei. Fiquei duas semanas ou três, e depois voltei a Coolangata onde fiquei o resto do tempo. Foram bons tempos, não tinha responsabilidades quase nenhumas, acordava, ia surfar, ia a festas, ia conhecer pessoas. Quando cheguei a Portugal passado uma semana comecei a fazer pranchas com o meu pai e fiz a minha marca, Diogo Appleton Hand Shapes.

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Main image O surf de Appleton continua de ponta! photo by Filipe Neto medium right pic Condições perfeitas para o surfista e a prancha certa... photo by Nick Pumphrey small surf pic Os shapes de Appleton causam sempre muita curiosidade. photo by Jorge Matreno

Como foi a experiência, conseguiste logo fazer os shapes que querias? Não, no início, não. Não é fácil shapear, mas não é um bicho de sete cabeças, Geralmente o que faço é pranchas para mim, depois vendo em segunda mão e com esse dinheiro faço outra. Compro novos blocos e faço as pranchas. Usas a máquina de shape? O que achas dessa tecnologia? Não uso, para quem tem uma produção não há nada melhor mas acho que o shape em si tem mais piada se se fizer tudo à mão. Geralmente que tipo de pranchas fazes? Gosto de dizer que faço pranchas de surf. Faço tudo, até pranchas “performance”. Tenho tido várias fases, inicialmente fiz single fins e depois passei para twin fins. Mais tarde comecei a fazer pranchas com tês quilhas mas com medidas diferentes do que normalmente se usa nas trifins. Depois voltei outra vez para as single fins e quando voltei da segunda viagem à Austrália passei às assimétricas e agora para as sem quilhas (finless). É bom porque quando estou a shapear sei o que estou a fazer e consigo logo na segunda ou terceira onda fazer um apanhado de tudo e o que poderia ter feito diferente e assim consigo evoluir. Sentes que já há procura para as tuas pranchas? Sim, e as redes sociais, principalmente o Instagram, são uma grande ajuda. As pessoas vão lá comentar e recebo mesmo encomendas.


Fala-nos de pranchas assimétricas. Não é um “terreno” pouco explorado? Destas assimétricas que fiz, tenho uma prancha que vai para a esquerda e outra para direita. Mas o que estou a fazer é que de um lado funciona como uma twin fin e do outro como uma quad. Tenho um copinho de um lado e dois do outro. Uso o lado twin fin para virar para a parede da onda e quando faço as curvas para trás usa o lado quad, bottoms twin fin e curva quad. Tem muito que se lhe diga, posso fazer um rail mais deitado ou um rail mais box e a prancha vai ter um comportamento completamente diferente. É um mundo, há muito para explorar, estas são as minhas ideias e as minhas sensações. Sentes que ainda há muito por explorar no mundo do shape? Às vezes penso que sim, outra vezes penso que não. As ideias já foram quase todas feitas, há pranchas com cinco quilhas e com uma. Quem começou com esta ideia, de um lado ser twin fin e do outro ser quad, foi um senhor chamado Carl Ekstrom, ele é que inventou este conceito nos anos 50! As tuas pranchas são muito especificas. Com quantas andas no dia a dia? Pelo menos com três. O meu quiver tem duas assimétricas, uma para cada lado, e uma fish 5’0” twin fin, que é uma adaptação. As twin fins eram difíceis de surfar de rail para rail. Este outline que o Cory Man fez, que é um grande amigo meu da Austrália, que tem a minha idade e faz pranchas e é uma grande influência para mim, é uma adaptação em que dá para fazer um surf

quase high performance com aquela prancha. Ando sempre com a última finless que fiz e a tri fin que o meu pai me fez. Às vezes, quando me apetece surfar mais de single fin, ando mais de single fin. Basicamente acordo e vejo logo o que quero fazer. Como é a tua rotina? Varia, às vezes fico uma semana inteira sem surfar, só a shapear, e depois fico duas semanas sem shapear e fico só a surfar. Consigo conciliar o que vou fazer. O meu trabalho é mais shaper do que surfista mas ainda me estou a habituar a não ter uma rotina obrigatória. Achas que o tipo de surf e pranchas que fazes se está a tornar num movimento emergente em Portugal? Sim, e já há interesse, eu devia promover e divulgar mais isto mas tem a ver com a minha personalidade, gosto de estar um bocado mais na minha. Mas aos poucos vou tentando chegar a mais pessoas... Para terminar, o que devemos esperar de ti no futuro? Não sei, estou completamente de mente aberta. Num futuro mais próximo quero ir à Califórnia para conhecer ondas como Rincon! Além disso, parei de estudar há três anos e estou a pensar em voltar a estudar e tirar um curso de realização de cinema. Mas acho que nesta área do shape ainda consigo progredir muito, há muito espaço para crescer aqui, pois é uma área pouco trabalhada. Tenho aqui “pano para mangas” para criar um bom impacto em Portugal.

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main image Diogo Appleton, waterman.

smaller pics Seja a cravar o rail ou só a deslizar na onda, Appleton parece estar sempre em sintonia com as ondas! photos by Nich Pumphrey



Surfer in Love Surf photo by Tobias Ilsanker




Nicolau Von Rupp in Control photo by carlospintophoto.com



lifestyle

Francisco Pereira in Eyes Wide Open photo by Francisco Santos

s u r f António Silva in Eyes Wide Shut photo by Diogo D’Orey | Liquideye



l i f e s t y l e Perfection in Mentawaii photo by carlospintophoto.com

surf

Felipe Teixeira in UNI Chef photo by Everton Luis



Vasco Ribeiro in Power Spining photos by Jorge Matreno


s u r f & l i f e s t y l e Tomรกs Valente in Peekaboo & The Thinker photo by Francisco Santos & Ricardo Casal



Lourenรงo Alves in Slashing photo Arquivo Pessoal



Photographer in We Will Miss Summer photo by Jorge Matreno



*Surf é tudo!


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