MESA INTERATIVA DE
BAMBU
Universidade Estadual Paulista J“ úlio de Mesquita Filho” Projeto de Conclusão de Curso Design de Produto Orientador: Prof. Claudio Roberto y Goya
Mariana Lourenço Bauru | SP Junho de 2012
AGRADECIMENTOS
// Mãe e família por eu ser quem eu sou.
// Marco A. Reis Pereira, por deixar a oficina de bambu sempre de portas abertas.
// Mauro Lúcio R. de Assis por abraçar a idéia deste trabalho colaborativamente, ceder os fins
// Integrantes e ex-integrantes do Projeto Taquara,
de semana para fazer a parte eletrônica se con-
pelos três anos de aprendizado, colaboração e
cretizar,
amizade.
// Josenei Godoi de Medeiros pelo auxílio na
// Aila M. S. Santos pela amizade, hospedagem e
montagem dos circuitos.
ajuda na pré-impressão.
// Claudinho, por dividir toda sua sabedoria em
// Mariana S. Basso por apresentar o arduino, o
marcenaria e emprestar seu tempo de férias
LabdeGaragem e pela parceria nos projetos e pesquisas anteriores com bambu.
// Miguel A. Maldonado Rosa, pela disposição em compor as músicas. // Claudio Goya, pela orientação no projeto.
ÍNDICE o quê?
1// El viaje
The start
12
Pós-modernidade e Emergência: contextualização 14 Designer: da virtualidade à atualização
17
2// Brasil com S
5//
BLaC
37
Por quê?
39
Tecnologia Design interativo: a poética 42
Mestiçagem
22
através da tecnologia
Mosaico cultural
23
Arduino
43
Cultura Imaterial
24
LDR: Sensor de luz
44
Música Brasileira
25
LEDs RGB
44
Mixcraft
45
MP3 Shield
45
3// Design Design brazuca
28
Sustentabilidade
30
Cultura sustentável: designer como educador
32
4// Bambu Bambu
36
Sonar: Sensor Ultrassônico 45
6//
Similares Design + Bambu
48
Design + LEDs
49
Design Interativo
50
como? 7// 8//
e aí?
Projetando Processo
58
Buscando colaboradores
67
Objetivos
68
Mão na Massa Materiais
72
Etapas com bambu
74
Confecção de BLaC
76
Montagem
79
Circuito
84
Instalação dos componentes 88 Produção de músicas
9//
91
A Atualização As escolhas
97
A interação
101
O fim do início
108
10// 11//
Desenho técnico
111
Revisão Bibliográfica
114
o quê?
EL VIAJE
The start É dele que vou começar: o começo. E é nela, na conjugação em que o trabalho foi concebido que me expressarei nessa introdução: 1ª pessoa. Um dos grandes prazeres deste “eu“ que vos fala é viajar, desvencilhado de tempo e espaço, ir para lugares dentro de si mesmo. Acre-
12
dito que é quando passamos por experiências novas que essas viagens acontecem, e a cada novo sentido despertado, a cada janela de conhecimento aberta, descobrimos um novo eu, uma nova faceta de nós mesmos. Mais que isso, cada um desses links geram vários outros hyperlinks que só nos fazem aumentar a paixão pelo aprendizado e nos tornam cada vez mais conectados às coisas. Inserindo agora tempo e espaço - e ao mesmo tempo metaforicamente tirando - acredi//Fig. 1: El viaje
to que uma das grandes oportunidades de fazer
o quê? // El viaje
essas grandes viagens subjetivas são as via-
mos longe de conhecer todas as microcondições e culturas desse nosso país gigante. E indo para o
gens concretas. Se jogar na estrada e ir para lu-
exterior então, a diferença é ainda mais perceptível: Como dizer pelas características físicas quem é
gares onde cada passo dado é uma descoberta
brasileiro? Como eleger alguns estilos musicais, danças ou comidas típicas para representar um país
nos proporciona momentos concentrados de
com tantos regionalismos?
novas informações, crescimento e autoconhe-
Em suma, não se pode descrever o Brasil em suma. Sua pluralidade é “irresumível”. O que
cimento. Durante este processo de experimen-
pode ser visto como problema para a formação de identidade, e consequentemente, do sentimento
tação, emoções novas são desencadeadas,
de união, hoje pode ser visto como forte característica tomando como partida o mundo globalizado
motivando a saída da zona de conforto e esti-
pós-moderno que clama por individualidade.
mulando o enfrentamento dos próprios medos.
Unindo o hibridismo do Brasil com as emoções das novas experiências, surgiu o projeto Dó Bra
Foi em um momento desses, enquanto
Sil. Espera-se criar um objeto que possibilite a interação de seus usuários, despertando-lhes para essas
“mochilava” de carro pela Argentina e Chile que
novas sensações e relações, abrindo passagem para uma grande viagem. Além disso, espera-se que a
me ocorreu a ideia de tentar proporcionar, atra-
experiência diferente seja guiada através da narrativa da cultura brasileira, representando as caracterís-
vés de um projeto como designer, essa emoção
ticas deste país aculturado, inusitado e conhecido universalmente por sua originalidade sincrética atra-
intensa, a qual lamento cogitar que muitas pes-
vés de uma composição musical híbrida e da combinação de um material rústico local com tecnologia.
soas se quer conheçam.
Durante o processo todo, que inclui desde as primeiras vontades, as primeiras ideias, rabiscos,
Foi também durante outras viagens que tive
protótipo, muitas pessoas transitaram por ele, contribuindo direta e indiretamente. Por isso, foi de extre-
grandes percepções a cerca de um assunto: a
ma importância para a conclusão dessa fase a participação de todos os colaboradores, reforçando a
falta de homogeneidade que nós, os brasileiros,
crescente tendência de coletivos e grupos colaborativos da pós-modernidade. Deste modo, me coloco
nos encaixamos. É enquanto viajamos dentro
aqui apenas como pesquisadora do assunto e gestora dum projeto de participação colaborativa, já que
do nosso país que percebemos o quanto esta-
sem as demais atuações, ele jamais seria possível.
13
o quê? // El viaje
Pós-modernidade e Emergência contextualização
14
Em um dia comum do ano de 2012, uma pes-
através do estímulo da maior quantidade de sen-
soa acorda e segue sua rotina comum. Como
tidos do usuário – audição, olfato, paladar, tato e
muitos outros, liga seu computador pessoal e
visão. Em vista disso, a interatividade tomou con-
navega por sites dos temas mais variados. Ne-
ta de todas as interfaces, até mesmo dos bons
les encontra links para outros assuntos, que leva
e velhos livros, e das noções de texto e página.
a outros ainda mais diferentes e por fim acaba onde nem imaginava de início.
Todas essas mudanças já claramente vistas no dia-a-dia refletem uma nova ordem de
O que aparentemente é mais um ato rotinei-
idéias presentes no inconsciente coletivo. A
ro pode revelar muito sobre a essência do pensa-
hibridização das interfaces e os hypertextos
mento pós-moderno para quem o deseja enxer-
estão mudando a estrutura do pensar. Isto sig-
gar. Se antes era necessário se debruçar sobre
nifica que o pensamento está deixando de ser
uma interface única e de linguagem linear para
linear para se formar em rede, na qual assuntos
obter informações, hoje o mundo vive em um
nunca antes associados passam a ser conec-
universo caótico de dados. Se sobressai nesta
tados e gerar novos hyperlinks. Eles se dobram
“guerra” quem conseguir chamar mais atenção
e desdobram gerando cada vez novas dobras.
o quê? // El viaje
Consequentemente, tendem a ser mais aberto
de maneira bottom-up, no qual não existe um
e heterogêneo.
poder centralizado, mas sim cada um atuando
Além disso, a linearidade das interfaces
conjuntamente a partir de um nível mais baixo
de mão única está sendo substituída pelas que
e simples em direção ao nível alto e complexo.
possuem duas vias, isto é, que possibilitem o
Steven Johnson (2003) denomina este de com-
feedback. Deste modo, as pessoas deixaram de
portamento emergente.
passar a maior parte do tempo recebendo informações para também interferir, ou seja, para cria-las e modifica-las. “Com o espaço cibernético temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento que se tem o acesso a isso, cada pessoa pode
“Comecemos na escala da própria cidade, suas comunidades pulsando e prosperando como fazem há séculos, enviando sinais para o mundo e atraindo seres humanos para dentro delas, como enormes ímãs globais. O fluxo de pessoas na cidade é agora regulado por uma inteligente rede de tráfego, que evolui e aprende em resposta aos padrões de movimentos dos automóveis. Você e eu vivemos em um desses imensos sistemas, contribuindo para seu contínuo desenvolvimento (...) e como parte da nossa vida na cidade, nos entretemos simulando, em um jogo de tela de nosso computador, a energia auto-organizável da vida urbana, construindo comunidades virtuais juntamente com milhares de outros jogadores ligados em rede no mundo todo. Na escala da cidade e na escala da tela, nossas vidas englobam os poderes de emergência.” (JOHNSON, 2003, p. 174)
se tornar uma emissora, o que obviamente não
Tais características podem ser enxergadas
é o caso de uma mídia como a imprensa ou a
em diversas organizações formadas na atualida-
televisão.” (LEVY, 1994)
de. Porém, não é necessário ir muito longe para
A facilidade para atuarem como força cria-
isso. O Brasil é um grande exemplo de emergên-
dora e serem proativas, a qual a rede permitiu
cia na escala da cidade. Muitas cidades cresce-
- neste caso a internet, fez com que crescesse
ram de maneira emergente, e sem o menor plane-
o número de coletivos autônomos, de funcio-
jamento urbano. Além disso, a falta de aplicação
namento similar a um enxame. Eles funcionam
rígidas das leis e organização alimenta ainda mais
15
o quê? // El viaje
esse caráter autogestor, visto que não há imposições vindas de níveis superiores. Esta sua característica é tão forte que se tornou parte da cultura. O que muitos chamam de “jeitinho brasileiro” pode também ser encarado como resultado da necessidade constante de auto-organização emergente, fruto da condição de país subdesenvolvido.
16
• “A ignorância é útil”, o qual diz respeito à simplicidade dos elementos do sistema. Ela é característica desse sistema, e faz com que os comportamentos complexos emerjam aos poucos. Por isso, elementos individualmente complexos atrapalham. • “Encoraje encontros aleatórios”, ou seja, favorecer interações eventuais. • “Procure padrões nos sinais”, que se trata de encontrar padrões globais de comportamentos para obter informações sobre o sistema. • “Prestar atenção no vizinho”, pois quanto maior for a interação com o “vizinho” maior será a sabedoria global.
“As favelas, constituídas de tecnologias de
É importante considerar tais aspectos ao fazer design na pós-modernidade, já que os objetos,
autogestão, com estruturas leves e integradas à
além de necessitarem estar alinhados por estarem inseridos nesse contexto, também estimulam esses
natureza, propícias ao uso espontâneo, impró-
comportamentos. O raciocínio decorrente deste pensamento de lógica aleatória e sem qualquer orde-
prias e provisórias, são realidades urbanas sem-
nada de níveis mais altos são absorvida no inconsciente do usuário, e influenciando sua conduta.
pre reversíveis e atravessáveis, como se fossem uma metáfora de esperança frente à condição de
Deste modo, um aspecto importante é que deve ter o coletivo de alguma maneira aplicado a sua proposta, já que só funciona através de múltiplas interações.
miséria e de violência que as compõe.” (BRANZI em MORAES, 2006, p. 15)
“O interessante nas possibilidades que se abrem com a emergência de uma nova inteligência a
Johnson (2003) faz ainda um paralelo so-
partir disto é que se trata de uma inteligência coletiva, ou seja, estamos na direção de uma potencializa-
bre um estudo a respeito do funcionamento de
ção da sensibilidade, da percepção, do pensamento, da imaginação e isso tudo graças a essas novas
colônias de formigas forrageadoras com o com-
formas de cooperação e coordenação em tempo real. Trata-se de equipamentos que podem ajudar o
portamento emergente. Ele destaca as princi-
aprendizado e a aquisição de saberes. Então, o inimigo necessário de ser evitado é o isolamento, a se-
pais lições tiradas:
paração.” (LEVY, 1994)
• “Mais é diferente”, isto é, a emergência só é possível ocorrer a partir de um grupo de muitos interatores agindo de maneira global.
Todas essas características fazem com que a profissão do designer deixe de ser físico prática e passa à esfera do virtual.
o quê? // El viaje
Designer: da virtualidade à atualização
O design clássico é responsável pelo projeto de peças gráficas, produtos, etc. O planejamento físico e conceitual de coisas palpáveis sempre fez parte de sua alçada. No entanto, com a inserção da dialética pós-moderna e a criação das novas interfaces advindas da tecnologia, sua atuação passou a ser ainda mais no plano virtual. As intenções inseridas nas idéias passam a ter extremo valor em um contexto de desterritorialização, desmaterialização e fluidez de informação.
“Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizarse, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes.” (LEVY, 1996, p. 15)
17
o que? // El viaje
18
o quê? // El viaje
//Fig. 2: Intenções.
“Não se deve confundir a virtualidade com sua atualização. Ele diz respeito à idéia enquanto potência, a
Apesar da virtualidade estar bastante ligada
criação ainda não formalizada. “O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possí-
a tecnologia, ela não depende dela para existir e
vel, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças
para se atualizar. O design utiliza dessas novas
que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um
ferramenta para validar sua criatividade e inova-
processo de resolução: a atualização. Esse complexo problemático pertence à entidade considerada e
ção, porém não está limitado à essas ferramen-
constitui inclusive uma de suas dimensões maiores. O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar
tas. Um exemplo da independência em relação
uma árvore.” (LEVY, 1996, p. 15)
ao ciberespaço é a música, que pode ser atua-
Deste modo, ele corresponde a um plano não concreto do projeto. Por muito tempo, o pen-
lizada tanto na interface de um computador ge-
samento racional valorizou o palpável e por isso até hoje há uma imensa dificuldade em enxergar
radas por 0 e 1 quanto, por exemplo, no violão,
como produtos resultantes do mesmo conjunto de ideias e problemáticas virtuais o que não é
geradas pelo vibração de cordas impulsionada
atualizado de maneira formal.
pela força motora dos dedos. A cultura é também um forte exemplo de virtualização. Ela diz respeito a problemática e ca-
“A atualização é uma criação, invenção de uma forma a partir de uma con-
racterísticas inerentes de um povo e que pode ser
figuração dinâmica de forças e de finalidades. Acontece então algo mais que
atualizada de maneira desterritorializada ou ocu-
a dotação de realidade a um possível ou que uma escolha entre um conjunto
pando um espaço formal. Isto se dá tanto através
predeterminado: uma produção de qualidades novas, uma transformação das
de sutilezas de comportamento, música, rituais,
idéias, um verdadeiro devir que alimenta a volta do virtual.” (LEVY, 1996, p.16-17)
quanto em roupas, construções, artefatos.
19
“Quando falamos da existência de um modelo brasileiro de mundo contemporâneo, nos referimos a uma condição econômica e operativa, mas também da uma condição filosófica: isto é, uma sociedade sincrética, mestiça, contaminada, sempre em busca de uma identidade fugidia; uma sociedade em contínuo estado de transição em direção a uma estabilização que nunca é atingida. E, por isso mesmo, uma sociedade extremamente vital, experimental, que busca a si mesma porque é livre de suas próprias tradições. Uma sociedade sem uma história pronta, mas que ainda pode ser construída.”
(BRANZI em MORAES, p. 15)
BRASIL COM S
o quê? // Brasil com S
Mestiçagem O povo brasileiro possui em seus grupos étnicos formadores os indígenas, africanos, imigrantes europeus e asiáticos, por tanto, é inegável sua formação cultural miscigenada. Inserido no contexto atual de globalização, as qualidades individuais de cada país se tornaram destaque na formação de um cenário global, tendo em vista que a sociedade pós-moderna está cada vez mais tendendo à pluralidade e favo-
22
Segundo o dicionário Aurélio, a palavra Brasil é possivelmente um derivado antigo de brasa, pela cor vermelha do pau-brasil. País tropical, caloroso em todos os sentidos, intenso, de uma dinâmica caótica, estaria muito bem representado pela cor vermelha, tanto quanto as outras cores primárias verdes e azuis da bandeira que o representam.
recendo sistemas complexos nos quais são aceitas muitas respostas para uma mesma questão. Deste modo, o multiculturalismo é percebido com grande interesse por sua riqueza multifacetada. Remontando-se o início da formação étnica brasileira, os primeiros habitantes foram os povos nativos indígenas que, ao contrário da reduzida população atual, eram dois milhões de indivíduos. Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, houve a instalação dos povos europeus. Iniciada por eles, a formação heterogênea desta nação foi enriquecida a partir do século XIX, quando o governo promoveu uma grande abertura à entrada de imigrantes. Na primeira metade do século XX desembarcaram mais de quatro milhões, principalmente europeus - espanhóis, italianos e alemães; e por asiáticos - japoneses, sírios e libaneses. Não obstante, houve também a migração forçada de africanos entre os séculos XVII e XIX. Eles foram trazidos aos milhões para um período que representou grande influência em toda a história do país no âmbito da sociedade e cultura: o período da escravidão. A vinda dos negros africanos deixou um legado incontestável de influências na arte, música, religião e culinária, os quais em regiões como da Bahia é até hoje dominante. Toda essa miscigenação pode ser vista a partir dos dados do IBGE sobre a distribuição da população segundo raça mostrada na Fig.3, na qual é comparada em 1940 - período em que havia as pri-
o quê? // Brasil com S
meiras gerações de imigrantes, e 2000 - quando
tros povos, não são mais julgados por esse cará-
a população já havia se misturado. Nota-se que
ter, como ocorre em países de etnias homogênea
a população autodeclaradas pardas, as quais
que sofreram forte imigração mais recentemente.
representam as matizes de cores variadas resul-
“A identidade étnica e a configuração cultural
tantes da mestiçagem, cresceram 81%, enquan-
do Brasil formou-se ‘distribalizando índios, desa-
to se reduziu tanto a amarela, quanto a branca
fricanizando negros e dezeuropeizando brancos’,
Mosaico cultural
(-15,3%) e a preta (-51,5%).
o que levou a um sincretismo que se vê fortemen-
Essa característica forte do país foi de encontro
Pode-se dizer que miscelânea formou um
te presente na base da cultura brasileira devido à
com os movimentos globais predominantes. A
povo de etnia autóctone, caracterizada como bra-
formação multicultural, multireligiosa e multiétnica
globalização e suas características, decorrentes
sileira. Apesar de fisicamente parecida com ou-
do país.” (RIBEIRO, apud MORAES, 2006, p. 166)
de uma nova ordem do pensamento, fizeram com que o Brasil chegasse ao auge de desenvolvimento econômico e reconhecimento internacional de sua riqueza cultural. “O fato da cultura pós-moderna ter como referência a multiplicidade fez com que ela se afastasse de um modelo narrativo linear, lógico e racional, inerente ao Moderno, e adotasse a própria diversidade como símbolo do seu pensamento e percurso evolutivo.” (MORAES, 2006, p. 145) A multiculturalidade local pode ser enxergada como um estudo de caso de globalização e pra onde ela está caminhando. A humanidade está cada vez mais conectada em rede e os limi-
//Fig. 3: População e distribuição percentual, segundo cor ou raça - Brasil - 1940/2000
tes territoriais estão cada vez menos interferindo
23
o quê? // Brasil com S
24
nas relações. Em consequência, as culturas es-
“A diferença é antes de tudo uma realidade
tão se entrelaçando, o que tornará difícil traçar o
concreta, um processo humano e social, que os
limite entre elas futuramente. O mosaico cultural
homens empregam em suas práticas cotidianas e
que hoje acontece no Brasil pode em breve se
encontra-se inserida no processo histórico. Assim,
tornar uma verdade mundial.
é impossível estudar a diferença desconsiderando-
Apesar do entrelace, a humanidade não ten-
-se as mudanças e as evoluções que fazem dessa
de a se tornar uma massa homogênea, mas sim
idéia uma realização dinâmica” (SEMPRINI, 1999,
um sistema complexo, não uniforme e auto-or-
apud ROIZENBRUCH, 2009, p.35).
Cultura imaterial Enquanto o continente europeu possui espantosa
ganizada. Suas milhares de facetas faz com que
É a diferença formada por combinação de
história do conhecimento, com atualizações em
seja uma ordem descentralizada, já que nenhuma
assuntos opostos que inspira questionamentos,
grandes monumentos arquitetônicos conservados
se sobressai sobre a outra. Em meio ao caos, ela
impulsionam estudos e, consequentemente,
e museus contendo grandes relíquias das desco-
simplesmente se organiza de maneira emergente.
surge o conhecimento. Através de sua aceita-
bertas científicas e técnicas ocorridas nessa longa
O entrelace de culturas traz ainda uma carac-
ção como elemento importante da evolução que
vida, o Brasil se destaca de maneira distinta.
terística que a muito vem causando problemas: o
foi possível enxergar o mosaico cultural brasilei-
Muito além do conhecimento baseado em uma
homem está se acostumando com as diferenças.
ro como uma riqueza.
longa história, o país possui mais desenvolvida a cultura imaterial, construída pela união ocasional
“o pós-modernismo destaca sociedades multiculturais e multiétnicas. Promove a ‘política da dife-
de pessoas das mais variadas origens, as quais
rença. A identidade não é unitária nem essencial, mas fluida e mutável, alimentada por fontes múltiplas
necessitaram de muitos elementos de sociabili-
e assumindo formas múltiplas [...] A sociedade pós-moderna associa tipicamente o local e o global.
zação para interagirem, se unirem desapegados
Os acontecimentos globais – a internacionalização da economia e da cultura – são refletidos para as
das diferenças e formarem essa nação híbrida.
sociedades nacionais, minando as estruturas nacionais e promovendo as locais. A etnicidade recebe
A imaterialidade cultural construída nesse con-
impulso renovado. Ocorre um ressurgimento do regionalismo e dos ‘nacionalismos periféricos’”. (KUMAR, 1996, apud MORAES, 2006, p. 180)
o quê? // Brasil com S
texto de sopa de costumes e etnias pode ser enxergada nas criativas festas. Sua reputação internacional de país do Carnaval, com pessoas hospitaleiras, descontraídas, que possuem uma ginga especial na dança, criadores do drink “caipirinha”, o Brasil chama a atenção do mundo por sua cultura rica em “rituais” de socialização, ou segundo Branzi (em MORAES, pg 14), por ser a capital da economia do espetáculo. Nesse contexto de produção de entertainment, um setor se desenvolveu de maneira bastante rica e diversa: a música brasileira.
Música brasileira Muito antes do design, a música se posicionou com elementos regionais e evoluiu de maneira autócto-
mo modo que os objetos, é possível ler nas en-
ne. É possível enxergar “a questão da música popular brasileira como (...) modelo de ‘localização evoluti-
trelinhas sonoras muito de seu criador, sua na-
va’ no Brasil, com a confluência de culturas diversas, como o caso do encontro do jazz americano com o
cionalidade, o período em que foi criado, etc.
samba brasileiro, que gerou um novo e celebrado ritmo musical de grande reconhecimento internacional, a Bossa Nova.” (MORAES, p. 57 )
Por isso, pode-se enxergar o hibridismo na música local como a resultante de um sistema
Ela é caracterizada pela soma das principais culturas formadoras. Iniciou-se com os portugueses,
complexo emergido por uma cultura que se ori-
e em seguida com os europeus imigrantes. Eles trouxeram as principais influências com a introdução de
ginou a partir de diversas variáveis combinadas
instrumentos de corda como violino, viola, violão; de teclado como o antigo cravo; a flauta doce, entre
aleatoriamente. Em outras palavras, o mosaico
outros. Os escravos trouxeram a diversidade rítmica, a dança, e instrumentos africanos como agogô,
cultural brasileiro possui como grande represen-
atabaques, berimbau, cuíca. Não obstante, a cultura indígena também pode ser reconhecida através
tante a música.
das flautas indígenas e do maracá, apesar de exercer uma influência mais tímida. Por ser uma forte atualização da cultura, a música contém diversas informações virtuais. De mes-
25
DESIGN
o quê? // Design
Assim como várias outras áreas do Brasil bem como de outros países colonizados, o design surgiu baseado no modelo europeu. Segundo Moraes (2006), as primeiras escolas brasileiras que surgiram a partir da década de sessenta basearam-se nos principais modelos de design da Europa, como a alemã Escola de Ulm. De certo, ela foi criada dentro de outro contexto cultural e industrial, por isso, demorou um tempo razoável para que a indústria local se alinhasse a esse novo rumo da cultura material, e consequentemente, efetivasse uma sinergia com o design local.
28
Design brazuca
Inicialmente, quando deixou de ser exclusivamente acadêmico, o design brasileiro passou por um período de mimese, no qual seguiam a risca o purismo formal e pensamento funcionalista decorrentes da escola alemã. Isto foi um fator determinante para que, por certo tempo, a expressividade e busca por referências locais ficasse engessada, e, por conseguinte, bloqueasse o desenvolvimento autóctone. Em oposição ao design, na época, algumas áreas já estavam evoluindo de maneira mais representativa, como a arquitetura e artes plásticas. Um exemplo disso foi a Semana de Arte Moderna, em 1922. “A intenção do movimento era, claramente, digerir a cultura europeia e convertê-la em algo brasileiro; modernizar sim, mas considerar também a cultura autóctone como aspecto fundamental para a criação artística.” (MORAES, 2006, p. 44) Na arquitetura, Oscar Niemeyer uniu a livre-forma modernista da arquitetura internacional às obras de artes plásticas brasileira, como a de Cândido Portinari. Além disso, criou o que pode ser visto como um grande espelho do Brasil: “Brasília, por tanta tensão social que representa e pelo seu ecletismo estético (decodificado), destina-se justamente a ser interpretada como autenticamente brasileira”. (MORAES, 2006, p. 55) Apesar de sobreviver de mimese durante a expansão da era moderna, cujo ápice foi entre as décadas de sessenta e oitenta, o design do país passou a sofrer mudanças impulsionadas pelo pensamento
o quê? // Design
pós-moderno, intensificado na década de oitenta.
finalmente substituído por um modelo mais liberal,
As novas ideias deste movimento a favor da
com o qual os novos projetistas operaram em um
A integração de todos os valores culturais
multiplicidade num cenário mais fluido abriram
contexto produtivo internacional (...), seguem uma
obtidos na história do país torna-o um grande la-
portas para que fosse assumida sua realidade
estratégia criativa individual e não mais políticas
boratório de novas linguagens e inovações cria-
local composta, tanto por mosaico de etnias,
generalistas” (BRANZI em MORAES, 2006, p. 17)
tivas. A falta de unicidade que não permite uma
quanto por pobreza e desorganização.
semiológica.” (MORAES, 2006, p. 148)
Certamente, a cópia até hoje existe, mas
identidade única faz com que, por outro lado, não
“Estes novos protagonistas são portadores
em menor proporção. Isto ainda ocorre devido
se abandonem nenhuma das muitas origens em
de uma cultura anexa às muitas outras culturas
à competitividade sofrida enquanto país em
prol de uma. O grande desafio atual está em con-
existentes no Brasil: anexa-se à sua música, à
desenvolvimento, entretanto, é uma estratégia
seguir equilibrar a mixórdia de informação cultu-
sua dança, às festas, ao esporte e à literatura.
com menores chances de sucesso já que hoje
ral em excesso, aproveitando sua originalidade
Há hoje um design que finalmente não vai con-
os produtos necessitam de diferencial qualitati-
como diferencial competitivo para posicionar o
tra isso tudo, não procura afirmar a sua própria
vo para concorrer com a China e sobreviverem
design do país no cenário global.
hegemonia, mas vive positivamente em um con-
a longo prazo no mercado.
Nesse contexto de complexas variáveis, o
texto de multiplicidade criativa, dentro de um
Deve-se adicionar que o padrão europeu por
designer passa a ter uma função importante de
sistema mais desarticulado, que se confrontam
muito tempo copiado foi importante na constitui-
gestor. “Delineia-se hoje um novo cenário onde a
dentro de um ambiente atravessado de muitas
ção desta identidade, servindo como uma das
complexidade passa a ser vista como componen-
energias.” (BRANZI em MORAES, 2006, p. 17)
várias de suas referências criativas. A explicação
te intrínseca ao projeto, onde a capacidade de
A melhora da autoestima possibilita que de-
para isso é que “no seu escopo de ser um mo-
gerir e organizar a complexidade tornar-se-á fator
signers locais criem a partir de sua própria iden-
vimento que apontava para os valores múltiplos
determinante como qualidade dos futuros desig-
tidade, se desprendendo dos valores lineares e
(entre os quais se destacavam os valores esté-
ners” (MORAES, 2006, p. 258)
racionalistas do moderno. “Aquele teorema unitá-
ticos e os semiológicos), a cultura pós-moderna
rio impraticável, que compactava em um unicum
valeu-se também de signos e estilos do passado,
estratégico forças e lógicas não homogêneas, foi
como uma verdadeira canibalização histórica e
29
o quê? // Design
Sustentabilidade
Em 1992 houve no Brasil o segundo debate mundial com preocupação em relação ao desenvolvimento sustentável. O Eco-92 reuniu mais de cem chefes de estado que discutiram soluções e criaram tentativas de minimização do problema
Se, por um lado o pau-brasil com seu pigmento vermelho nos remete a um país caloroso e intenso, por outro nos obriga a refletir sobre sua extinção causada pela má administração dos recursos naturais do país.
De acordo com Manzini; Vezzoli (2008, p.
A necessidade do desenvolvimento de um sistema mais sustentável global torna-se ainda mais evi-
326), os principais impactos das extrações e
dente num país que possui problemas de desmatamento na floresta com mais biodiversidade do mundo
emissões são o esgotamento de recursos natu-
e que logo nos primeiros séculos de existência extinguiu a leguminosa nativa que deu nome ao país.
rais, o aquecimento do globo terrestre, a redução
A desenvolvimento humano de maneira insustentável é datado a um longo tempo atrás, porém 30
como o Protocolo de Quioto.
somente passou a ser mais amplamente discutido a partir da década de 90.
da camada de ozônio, poluição, acidificação, eutrofia, lixos, toxinas no ar, água e solo. Todos estes efeitos danosos podem ser minimizados, e o designer é um importante agente
“Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, para
transformador neste processo. Ele é um impor-
atender às necessidades humanas e para realizar as ambições humanas
tante agente de mudança já que lida com os
são simplesmente insustentáveis - tanto nas nações ricas quanto nas po-
processos industriais. Por ser o desenvolvedor
bres. Elas retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta
dos bens de consumo, possui sob seu domínio
de recursos ambientais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar
escolhas que podem trazer efeitos positivos qua-
outra coisa que não a insolvência dessa conta. Podem apresentar lucros
litativa e quantitativamente.
nos balancetes da geração atual, mas nossos filhos herdarão os prejuízos.
O papel deste profissional se estende além
Tomamos um capital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qual-
de assuntos relacionados ao material utilizado
quer intenção ou perspectiva de devolvê-lo.”
ou sua reciclagem, mas também à responsa-
(Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991, p.8)
bilidade social, pois, de acordo com Manzini &
o quê? // Design
Vezzoli (2008, p. 29), sabemos que o controle do impacto provocado no ambiente pelas atividades humanas depende de três variáveis fundamentais: A população, a procura do bem-estar humano e a ecoeficiência das tecnologias aplicadas. Para atingir tal patamar, MANZINI & VEZZOLI, 2008, p. 105 e 106 apontam estratégias caracterizadas como os principais métodos para integrar o design de produtos e serviços ao desenvolvimento sustentável: “// Minimização de Recursos: Reduzir o uso de materiais e energia; // Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental: Selecionar os materiais, os processos e as fontes energéticas de maior ecocompatibilidade; // Otimização da vida dos produtos: Projetar artefatos que perdurem; // Extensão da vida dos materiais: Projetar em função da valorização (reaplicação) dos materiais descartados; // Facilidade de desmontagem: Projetar em função da facilidade de separação das partes e dos materiais. (...)Apresentadas isoladas, tais estratégias podem parecer, por si sós, os objetivos de um projeto de design.” (MANZINI & VEZZOLI, 2008, p. 107) 31
É interessante ressaltar que o foco da sus-
zem mais problemas que vantagens. É necessá-
é tão importante quanto o quesito sustentável,
tentabilidade não é necessariamente a radical
rio estabelecer prioridades em relação aos objeti-
do contrário, deixa de ser efetivo já que todo o
não interferência na natureza. O designer não
vos e, consequentemente, decidir qual estratégia
esforço de produção “sustentável” não serviu
precisa contemplar todos os quesitos ambientais
seguir, e com quais modalidades.” (MANZINI &
para atender a nenhuma necessidade – sendo
ao projetar, pois nem sempre isto significa um
VEZZOLI, 2008, p. 109)
ela emocional ou prática.
produto ou serviço excelente ou totalmente sus-
A demanda ambiental está no tripé da sus-
“sabemos que o controle do impacto pro-
tentável. O desafio em questão é saber combiná-
tentabilidade em mesmo nível que a social e
vocado no ambiente pelas atividades huma-
los de maneira eficiente, tendo em vista todas as
econômica, por isso, não podem ser ignoradas.
nas depende de três variáveis fundamentais:
necessidades a serem atendidas.
Além disso, os produtos e serviços são pro-
A população, a procura do bem-estar humano
“Devemos portanto saber decidir se duas ou
duzidos para atenderem certas carências e de-
e a ecoeficiência das tecnologias aplicadas.”
mais estratégias adotadas ao mesmo tempo tra-
mandas específicas. Essa função ser atendida
(MANZINI; VEZZOLI, 2008, p. 29)
o quê? // Design
Cultura sustentável: designer como educador
Ao tratar-se o lado emocional do design atrelado a sustentabilidade, podem ser enxergados diversos pontos que favorecem e desfavorecem-na. Tendo como exemplo a repetitiva tendên-
32
cia atual de estratégia de marketing na qual esta preocupação é utilizada como atrativo publicitário, nota-se uma intensa manipulação da consciência dos consumidores que desejam emocionalmente estar colaborando com o tema, mas que em sua grande maioria possui pouca informação a respeito. Eles representam uma considerável parcela de pessoas que já possuem consciência sustentável, mas não sabem ao certo como cooperar. Nesse ponto, pode-se dizer que a questão da sustentabilidade está aos poucos fazendo parte do sistema de consumo, e querendo ou
o quê? // Design
não, se adaptando aos mecanismos de funcionamento do sistema capitalista – sem colocar como questão a porcentagem de empresas que realmente fazem algo além da propaganda.
fundos, nos mais distantes pontos da teia. Através do design há a possibilidade de in-
De certo modo, nota-se cada vez mais o surgimento de coletivos emergentes em busca de for-
serir todas as intenções inerentes à sustentabili-
mas de interferir positivamente no desenvolvimento sustentável. Eles procuram alternativas que não
dade de uma maneira mais natural, sem o uso
sejam somente através de mudanças de hábitos de consumo ou a espera por atitudes vindas de
objetivo da linguagem verbal. Isto se dá através
cima, isto é, do governo.
dos bens e serviços, consciente e inconsciente-
Em oposição a esses grupos, muitos acreditam não ser possível a mudança de todo o sistema de
mente, presentes no dia-a-dia, utilizando de suas
produção introduzido há séculos e já enraizado culturalmente. Porém, está anexo à questão da sus-
características formais, processos, conceitos filo-
tentabilidade o caráter de transformação cultural. O design sustentável possui em seu domínio grande
sóficos embutidos, função, estratégias de marke-
responsabilidade pela mudança da cultura material. Ele norteia as noções de consumo e necessidade,
ting - como propagandas institucionais, etc.
e por isso pode ser um agente transformador das relações emocionais ligadas aos produtos.
Ao se tratar do Brasil, é de grande importân-
Metaforizando o atual sistema globalizado, ao enxergar-se o mundo atual como uma grande rede
cia considerar juntamente: as riquezas naturais
conectada feito um circuito, nota-se que a simples união de dois pontos em meio ao emaranhado
do país, questões sociais e a cultura autóctone.
caótico de conexões pode ligar determinadas partes deste antes desconectados e gerar mudanças
Por isso, tendo em vista a enorme facilidade de
em todos os pontos da cadeia.
cultivo local com fartas espécies nativas, além de
Com isso, é possível entrever como os produtos resultantes da nova ordem que emerge, ao
outras características que favorecem seu uso no
surgirem com suas próprias características estruturais e estéticas, conectarão de maneira diferente
país, o material escolhido como alvo de estudo
diversos pontos referentes ao homem e sua relação entre si e entre o planeta, causando efeitos pro-
do projeto foi o Bambu.
33
BAMBU
o quê? // Bambu
Bambu
36
Ele faz parte da evolução da cultura asiática,
Há também no colmo, além de parede e casca,
sua utilização data milhares de anos atrás. De
divisões internas chamadas nós.
alimentos, cosméticos, terapias, papel, a utensí-
Conforme Pereira & Beraldo (2007) esta gra-
lios e moradias, o bambu é de uma versatilidade
mínea pode chegar a até 30m de altura em de-
“O bambu se ajusta à idéia de ””para todas
incontestável. Sua popularidade tão grande em
terminadas espécies, e se diferencia das outras
as pessoas”” [...], é uma possível norma plane-
alguns países ressalta características interessan-
plantas pois a alcança com grande velocidade,
tária no sentido de sua vitalidade unida ao que-
tes, como ser renovável e auto-sustentável.
sendo que um broto leva de 3 a 6 meses em mé-
rer humano, pois pode-se facilmente produzi-lo
A imensa gama de produtos de bambu que
dia. Não obstante, possui ótimas características
suficientemente para todos e para qualquer das
invadiram o mercado refletem sua industrializa-
físicas, químicas, mecânicas, flexibilidade, além
mil coisas que se queira fazer.” (FARRELY, 1984,
ção, que apesar disso, nos países onde seu uso
de ser considerado o “aço vegetal” devido à razão
apud PEREIRA & BERALDO, 2007, p.154)
é pouco desenvolvido como o Brasil, costuma
entre o peso e a força que ele suporta ser superior
ser mais associado à objetos artesanais e como
ao aço, e a resistência a tração comparável.
um material rústico.
Existem mais de 1000 espécies nativas es-
Denomina-se bambu todas as plantas da
palhadas por todos os continentes menos Euro-
sub-família Bambusoideae. Ele é dividido em
pa. Depois da Asia, a América do sul é o conti-
parte subcutânea, com rizomas e raízes, e a parte
nente de maior abundância, com cerca de 450
aérea, composta por colmo (a vara), galhos e fo-
espécies nativas, sendo 200 só no Brasil.
lhas. Existem dois tipos de rizomas: de bosque, e
“É inegável o paradoxo de que o Brasil,
de moita, como a do Dendrocalamus giganteus.
detentor da maior reserva natural de bambu do
o quê? // Bambu
BLaC
mundo (só nos estados do Acre e Amazonas temos aproximadamente 70 mil Km² e 20 mil Km² respectivamente), seja um dos países que menos utiliza este recurso natural.“ (FIALHO; TONHOLO; SILVA, 2005, p. 3) Em 2011 foi sancionada uma lei que cria
Consiste em uma placa similar a madeira, porém composta por várias lâminas de bambu coladas.
a Política de Incentivo ao Cultivo do Bambu no
Devido às suas adequadas dimensões de altura, diâmetro e espessura de parede, é confeccionado
Brasil, no qual passou a ser um produto agrícola
com a espécie Dendrocalamus giganteus.
com linhas de crédito diferenciadas. O objetivo foi
Ela é relativamente comum em nosso meio rural e de fácil reprodução e cultivo. Foram plantadas
aumentar seu uso de modo alternativo à madei-
um total de 25 moitas desta espécie no ano de 1995 no Laboratório de Experimentação com Bambu
ra em projetos de manejo sustentável, pequenos
da Uiversidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, e desde 2001, são obtidas em
produtores e geração de renda de comunidades.
torno de 225 colmos anualmente, os quais estão disponíveis e vêm sendo bastante utilizados para
Assim sendo, está ainda mais fácil ser cultivo.
pesquisa e desenvolvimento de BLaC.
Um fator importante para o desenvolvimen-
Existe a possibilidade de duas colagens diferentes: uma trata-se delas lado a lado, seguida da
to do bambu de maneira sustentável é o manejo.
colagem com outras placas iguais em sentidos opostos, formando uma chapa sob a forma de um com-
Considerado vital para a saúde, vitalidade e de-
pensado; já na outra, elas se unem face com face.
senvolvimento das moitas, o manejo consiste no
Pela característica do seu formato em placa, o BLaC permite infindáveis possibilidades na explo-
corte de todos os colmos considerados maduros
ração de formas em um projeto. Segundo estudos desenvolvidos por Beraldo & Abbade (2003, apud
em termos de resistência mecânica, que ocorre a
PEREIRA & BERALDO, 2007, p.177), as características físicas e mecânicas do BLaC são plenamente
partir da idade mínima de três anos. Pelo fato de
favoráveis à utilização desse material na indústria do mobiliário.
possuírem colmos de várias idades na época do corte, a idade de cada um deles é definida previamente pela marcação anual dos colmos à medida que nascem. (PEREIRA & BERALDO, 2007).
37
38
o quê? // Bambu
//Fig. 4: Moitas.
Por quê? A planta de cultivo milenar na China possui características sustentáveis, e compatíveis com as intenções da Dó Bra Sil. A partir de Pereira; Beraldo (2007), destacamos os seguintes pontos: //Capacidade de regeneração do solo, além de evitar erosão. //Espécie florestal de melhor aproveitamento por área e renovação por tempo, além de sua velocidade de crescimento permitir a colheita de colmos e brotos a partir do terceiro ou quarto ano, muito antes que qualquer outra árvore. //É considerado um ótimo seqüestrador de carbono. //Possui facilidade para estabelecimento do plantio, já que não exige tecnologias complexas e se encaixa perfeitamente ao clima do país. //Transporte, e conseqüentemente seus gastos energéticos, são minimizados devido ao peso leve se comparado às madeiras. //Versatilidade no uso, principalmente como matéria-prima agregadora de valor econômico. Compreendem suas aplicações desde moradias, acabamentos, paisagismo, utensílios, fibras para tecidos, alimento, combustível, papel; até aplicações na medicina, farmácia e química. //É um material alternativo à madeira, possibilitando assim evitar a cadeia de problemas que sua extração acarreta - devastação de florestas pela extração, agravamento do efeito estufa causado pela liberação de CO2 das queimas, etc. //Se insere culturalmente à medida que participada em muitos aspectos do cotidiano como alimentação, cerimônias, música, vestimentas, etc. Deste modo, nota-se o designer como agente de inserção de novos hábitos de consumo, pode ajudar na redução de danos ao meio ambiente utilizando esse material de qualidade estética e estrututal. Além disso, sua utilização como parte da cultura autóctone é uma ótima maneira de se praticar um design identitário.
39
TECNOLOGIA
o quê? // Tecnologia
Design de interação : a poética através da tecnologia
lado escapa continuamente da estruturalidade técnica para as significações segundas, do sistema tecnológico dentro de um sistema cultural.” (BAUDRILLARD, 1968, p.14 apud CARNEIRO, p.33) Ao conceber um objeto interativo, aumenta-se a troca objeto-homem, deste modo, po-
42
Os artefatos foram criados pelo homem para satisfazer necessidades e solucionar problemas encon-
tencializa a absorção e questionamentos acerca
trados no cotidiano. No entanto, não é apenas o homem que influencia e condiciona os artefatos,
do conhecimento agregado a ele. Citando como
visto que o inverso também ocorre. A presença desses objetos no dia-a-dia transforma o modo como
exemplo o mobiliário doméstico de interação di-
o ser humano interage com o meio e responde aos diferentes estímulos. Por isso, a poética de cada
gital, nota-se que ao criar uma nova interface
objeto pode ser visto na maneira como proporciona de forma única e individual sua interpretação por
para a utilização deste meio, cria-se assim um a
cada usuário – incluindo aqui tanto as interações físicas quanto as relações subjetivas.
nova forma de leitura para o usuário, uma rela-
Elas podem ser inseridas não só de modo direto e prático, como através de interfaces transparentes. “Uma interface transparente seria aquela que não se coloca diretamente entre a pessoa e a atividade realizada, ou seja, ela potencializa a capacidade do objeto mas não é percebida como algo separado” (CARNEIRO, p. 31)
ção que se difere da habitual interface do computador de telas e teclados. Assim sendo, com tanta acessibilidade a tecnologias, o designer precisa encontrar novos jei-
É interessante acrescentar a um artefato corriqueiro significâncias que ultrapassem a leitura ha-
tos de atualizar o virtual de modo mais poético e
bitual do signo do objeto, mostrando ao leitor da narrativa que existem outras possibilidades além de
interessante. Necessita aprimorar o mundo físico
sua função prática imediata. Ele deixa de ser enxergado exclusivamente pela função pré-determinada
que intermedia nosso acesso aos computadores.
para comunicar uma gama de experiências e novas informações, os quais podem se anexar à ele a partir de algum tipo de interatividade. Todo objeto transforma as relações humanas, portanto, projetá-los engloba, além de seus componentes físicos, suas características imateriais, como as questões interativas, sociais e culturais. “Cada um de nossos objetos práticos se associa a um ou vários elementos estruturais, mas por outro
Não obstante, com a conexão de diferentes tipos de informações, como música, tecnologia e bambu, é possível instigar experiências ainda mais complexas e conectar pontos que podem gerar outras formas de enxergar o todo.
o quê? // Tecnologia
Arduino
O projeto Dó Bra Sil apenas pôde ser atualizado depois do conhecimento sobre a placa. Ela foi essencial devido à sua facilidade de desen-
Trata-se do projeto open-source de um hardware e software de utilização fácil e flexível. Ele é
volvimento e programação a preço acessível. Em
uma plataforma física de computação (hardware) que consiste em uma placa com microcontrolador,
virtude da enorme popularidade que ganhou nos
e possui também um ambiente de desenvolvimento (software) gratuito para sua programação pelo
últimos anos, estão disponibilizadas na internet di-
código Arduino – uma implementação do Wiring .
versas informações e códigos prontos em fóruns,
1
2
Ele favorece a criação de computadores com interfaces diferentes do PC, no qual seu controle
onde se discutem soluções de programação.
varia além do contato com mouse e teclado para outros mecanismos de acionamento - inputs, já que
A variação utilizada foi o Arduino Uno, que
admite entradas de uma série de sensores e chaves que podem controlar variedades de luz, motores ou
tem 14 pinos de entrada/saída digital (dos quais
outras saídas físicas. Além disso, podem funcionar, tanto independentemente, quanto se comunicando
6 podem ser usados como saídas PWM), 6 entra-
com softwares de um computador.
das analógicas, um cristal oscilador de 16MHz,
É interessante para artistas, designers e outros interessados em ambientes e objetos interativos,
uma conexão USB, uma entrada de alimenta-
pois oferece uma plataforma rápida de prototipagem eletrônica. Somado a isso, é também muito
ção, uma conexão ICSP e um botão de reset. Ele
utilizado no ensino de física, eletricidade, robótica, etc.
contém todos os componentes necessários para
A placa é comprada pronta ou montada pelo usuário, que pode criar suas próprias variações do ar-
suportar o microcontrolador, e pode ser alimenta-
duino e até mesmo empreender um negócio a partir disso ou de projetos baseados em seu uso. Diversas
da por conexão USB a um computador, por uma
variações, como Arduino Pro, Pro Mini, Arduino Nano, LilyPad, estão disponíveis a venda por empresas.
bateria ou por uma fonte.3
_____________________________________________ 1
open-source // código aberto ou software livre - programa de distribuição livre para todos sem distinção, incluindo seu código de fonte e permitindo alterações e
projetos derivados contanto que mantenham estas mesmas regras de licença. 2
Wiring // plataforma computacional baseada no ambiente multimídia de programação Processing.
3
Mais informações em ARDUINO.
43
o quê? // Tecnologia
LDR
Sigla em inglês de Light Dependent Resistor, ou
O LED (Light-emitting diode) é um diodo semicondutor que quando recebe energia produz eletrolumi-
em português, Resistor Dependente de Luz.
nescência, em outras palavras, emite luz. São RGB (Red Green Blue) os que possuem três LEDs em
Como o nome diz se trata de um resistor
44
LEDs RGB
Sensor de luz
um único encapsulamento, os quais emitem a cor vermelha, verde e azul. Combinados podem gerar
que depende da luz para atuar. De acordo com
infinitas cores, além da luz branca quando aceso os três.
a intensidade da radiação eletromagnética do
Ele funciona com um pino positivo, chamado anodo e outro negativo, o catodo. Geralmente, o LED RGB
espectro visível, isto é, da luz, ele aumenta ou di-
possui os três catodos ligados entre si formando o pino comum, enquanto os três anodos são alimenta-
minui sua resistência. Ao medir com um multíme-
dos individualmente acionando cada LED do RBG
tro, sua resistência na escuridão chega em seu
1 vermelhoUm (R) dos aspectos interessantes de seu uso é o 2 comumbaixo consumo de energia e dissipação de calor, 3 azul (B)além de possuírem um tamanho bastante reduzido. Ele é considerado um tipo de fonte de ilumi4 verde (G)
valor máximo, geralmente acima de 1m Ohms, enquanto na luz muito brilhante em seu valor mínimo, cerca de 100Ohms. Isso acontece pois os fótons – partículas de luz – que incidem conseguem liberar elétrons do material, quanto mais elétrons livres no material menor sua resistência. Entre seus usos conhecidos são nos postes de iluminação das ruas, avenidas e prédios que ligam ao anoitecer e desligam ao amanhecer.
4
separadamente. (Fig. 5)
1 vermelho (R) 2 comum 3 azul (B)) 4 verde (G)
nação sustentável visto que, em forma de lâmpa-
1 34 2 //Fig. 5: Terminais de LED RGB.
das, possui o consumo extremamente menor se comparado às incandescentes. É utilizado em produtos de microeletrônica como sinalizador de avisos, semáforos, painéis de LED, televisores, etc.
_____________________________________________ 4
Foto Resistor LDR // Disponível em http://eletronicadiaria.blogspot.com.br/p/foto-resistor-ldr.html. Acesso em 04/06/2012.
o quê? // Tecnologia
Mixcraft
MP3 Shield
O Mixcraft 6 é um programa de produção de
Produzido pela empresa Sparkfun para ser aco-
música que possui uma biblioteca com mais de
plado no Arduino, é um shield8 que decodifica
É um sensor que detecta a presença de corpos
6000 loops , efeitos sonoros, instrumentos virtu-
MP3 e possui a capacidade de armazenamento
e calcula a distância.
ais, tendo s mais variados estilos musicais e com
em cartão SD, transformando o Arduino em um
Funciona a partir de um emissor e receptor
uma interface simples de funcionamento.
5
6
Sonar
Sensor Ultrassônico
7
MP3player. Ele contém uma conexão de áudio
de som. Ele emite ondas sonoras que refletem
Nele é possível copiar, colar e arrastar os
3.5mm, header espaçado 0.1mm para saída de
ao bater em um corpo, e quando chega de volta,
trechos, os quais são ajustados no tempo de-
áudio e slot para cartão microSD; decodifica
calcula o tempo que levou neste trajeto, partindo
sejado. Ele permite que grave em alta qualidade
não só o formato MP3 como Ogg, Vorbis, AAC,
do princípio que o som viaja a 360m/s.
audios, arranjos e remix de trilhas, composições
WMA, MIDI. Para a utilização deste hardware
Para que detecte apenas novas presenças
com MIDI e elementos da biblioteca, adicionar
existe uma biblioteca pronta9 de códigos, os
no caso de seu uso estático, ele é programa-
efeitos, editar videos e seu audio, etc.
quais só necessitam ajustes relacionados as es-
do para que quando ligado mapeie o ambiente
pecificações do projeto.
em que está inserido para não ser acionado por componentes do local.
_____________________________________________ 5
Mixcraft // Disponível em http://www.acoustica.com/mixcraft. Acesso em 14/04/2023.
6
loop // pequenos trechos de música usados repetidamente.
7
Sparkfun // Disponível em http://www.sparkfun.com/products. Acesso em 14/04/2012.
8
shield // expansões para o arduino que lhe confere funções específicas como manipulação de motos e até sistemas de rede sem fio. São placas de circuito impresso
normalmente fixados no topo do aparelho, através de uma conexão alimentada por pinos-conectores. 9
Disponível em http://www.billporter.info/sparkfun-mp3-shield-arduino-library. Acesso em 14/04/2012.
45
SIMILARES
Design + Bambu Mesa - Blow up //Fig. 6: Blow up - Bamboo collection de Irmãos Campana
Coleção de bambu
para Alessi, 2012. Mesa de bambu com vidro no topo, com altura de 44cm.10
//Fig. 7: Conjunto de móveis de jantar feita de bambu laminado colado de Tom Dixon para a finlandesa Artek.11
Mesa de centro Ethos //Fig. 8: Feita de bambu, pupunha e vidro pelo designer Rodrigo Calixto, ganhadora dos prêmios Salão Design Movesul e Rio Design. Ela possui um tabuleiro de jogos, os quais são associados ao convívio social e proporcionam momentos de lazer, por isso caracteriza-se por um design mais preocupado com a interação do usuário com o objeto. Dimensões: 140 x 70 x 28cm.12
Design + LEDs //Fig. 9: Mesa com um sensor de proximidade infra-vermelho, que aciona LEDs com o toque ou aproximação de objetos da Because we can13.
//Fig. 10: Criada pela empresa Pos Modern14, da Indonésia, a qual utiliza madeira reciclada de refugos da produção da indústria local. Eles foram unidos por resina e possuem luzes de LED. _____________________________________________ Fontes: 10
http://www.alessi.com. Acesso 02/06/2012.
11
http://www.zap.com.br/revista/imoveis/decoracao-e-jardinagem/inovar-com-bambu-20090715. Acesso em 02/06/2012
12
http://umbrinco.com/blog/2010/01/06/moveis-premiados. Acesso em 02/06/2012.
13
http://www.becausewecan.org/LED_coffee_table_Ripple/
14
http://www.posmodern.eu. Acesso em 02/06/2012.
o quê? // Similares
Design interativo
//Fig. 11:
ReacTable A ReacTable (Figura 11) foi grande inspiração para a Dó Bra Sil. Se trata de uma invenção
50
jetor que traça caminhos luminosos no vidro que indicam as interações entre os tangíveis.
open-source de cientistas da Universidade Pom-
Seu projeto, feito por grupos de musicólo-
peu Fabra, em Barcelona, que funciona como um
gos, consiste em um instrumento que possa fa-
instrumento musical através de interface simples
zer tudo que se queira. Eles consideram ser seu
possibilitando que usuários sem qualquer conhe-
maior feito o software, e não o hardware, pois mui-
cimento anterior produza sons notáveis.
to além se um sintetizador, sua intenção é criar
O lúdico é está presente nos discos e cubos
um novo modo de operar computadores, visto
translúcidos (Figura 12), chamados tangíveis,
que objetos que podem ser pegos e manipulados
que servem como manipuladores do som, e que
possuem um uso bastante mais fácil e intuitivo.16
com simples movimentos causam grandes variações na música.15 Eles são tirados, girados, trocados, movidos, sob a mesa com brilhos coloridos e deste modo, transformam a música como um DJ (deejay). Seu funcionamento consiste em uma câmera de vídeo escondida por um tampo de vidro fosco, o qual capta os símbolos impressos nos tangíveis para que o computador leia. Há também um pro-
//Fig. 12: Reactable desmontada.
//Fig. 13:
Affective Twins Produto do mestrado de Gabriela Carneiro do Nomads - USP, utiliza Arduino, LEDs, energia a bateria, além de sensor de toque, motor para vibração e módulo transceiver de rádio frequência. Se trata de duas peças gêmeas – comunicantes - de mobiliário que interagem de acordo com ações do usuário. Elas possuem a forma de cubos de 50 x 50 x 50cm, cada um com aberturas e luzes de LEDs de cores dife//Fig. 14: Objeto em exposição.
rentes. Seu comportamento ocorre com o input (informação que chega) do sensor de
nal, automatizando ações, e sim com o intuito de adicionar instâncias
toque, que responde com o output (respos-
poéticas e narrativas na relação entre pessoas e seu mobiliário.”
ta) de padrões de iluminação e vibração. Segundo a autora “A interatividade proposta é trabalhada não de forma funcio-
Foi exposto no Festival Ars Electronica 2007 (Linz, Áustria) como forma de experimentação do produto pelo público (Figura 14), cujas crianças demonstraram grande aceitação e interagiram de modo intuitivo.17
_____________________________________________ 15
Para melhor entendimento, assista http://www.youtube.com/watch?v=JoUvqfxIqlU&. Acesso 04/06/2012.
16
Imagens e informações em MANFRED, 2008 e REACTABLE.
17
Imagens e informações disponíveis em http://www.nomads.usp.br/pesquisas/design/objetos_interativos/affectivetwins.html. Acesso em 05/04/2012.
//Fig. 15:
TENORI-ON 52
Bem como a ReacTable, é um instrumento eletrônico com um tipo diferente de interface de operação intuitiva desenvolvida pelo artista Toshio Iwai em parceria com a Yamaha Corporation. Ele possui 256 sons, sequenciador de eventos de 16 pistas (layers divididas em 6 modos) formalizados em um design futurista. Possui também conexão MIDI para sincronizar com outros ou com um computador.18 Em sua interface há botões de LEDs em colunas com 16x16 que acionam os sons. Eles são localizados em um suporte portátil, o qual também possui em suas margens alto-falantes e botões que controlam o tipo de som e BPMs (batidas por minuto).19
o quê? // Similares
Incredibox É um aplicativo online no qual o usuário pode compor música com elementos pré-estabelecidos de batida, efeitos, melodias, coros e vozes. Estão disponíveis em uma interface de personagens animados em Flash, os quais também mudam de roupa com a interação. Além disso, é possível gravar as melodias criadas.20 53
//Fig. 16: Personagem de interface do Incredibox.
_____________________________________________ 18
Para melhor entendimento assista http://www.youtube.com/watch?v=_SGwDhKTrwU. Acesso 04/06/2012.
19
Imagens e informações disponíveis em TENORI-ON.
20
Disponível em http://www.incredibox.com. Acesso em 04/06/2012.
como?
PROJETANDO
como? // Projetando
Processo //Fig. 17: df //Fig. 18: . //Figs. 17-22: Sketches
58
Independentemente de como se vai atuali-
ção de ideias, desenvolvimento de conceitos e
zar sua idéia, o designer deve antes de tudo se
definição da gama de experiência a se propor-
perguntar: O que estou fazendo? O que quero
cionar ao usuário, se iniciou a produção de ske-
com isso? O que eu como indivíduo vou acres-
tches. Este foi o momento “Como?” do Dó Bra Sil.
centar? Em outras palavras, refletir muito e de-
Como será sua forma? Como ocorrerá sua con-
senvolver seu projeto do projeto, na medida que
fecção? Como atualizar todas essas vontades?
ainda está desterritorializado, enquanto ainda ocupam o não espaço virtual.
Idéias como luminária inteligente, mesa com imagens projetadas, mobiliário similar a um
O nó de tendências iniciais do projeto Dó
jukebox, mobiliário com jogos, foram algumas
Bra Sil transitavam entre as emoções que se de-
dentre as possibilidades de desenvolvimento do
sejava proporcionar e a idéia de trazer experiên-
projeto, na fase de brainstoming.
cias novas em um ambiente relaxado envolvendo
Foi feito então um estudo de formas tendo
a cultura hibrida brasileira, através de um mobiliá-
em vista sustentabilidade, técnica para confec-
rio interativo a qual seja coletivamente usado pe-
ção de protótipo, modo de interação, usabilida-
las pessoas do ambiente. Tudo isso respeitando
de, ergonomia, estética.
quesitos da sustentabilidade. A partir de então, com o período de incuba-
Os sketches foram pouco a pouco se tornando mais específicos e detalhados. (Figs. 17-22)
//Fig. 19: . //Fig. 20: . //Fig. 21: . //Fig. 22: .
como? // Projetando
59
60
como? // Projetando
61
como? // Projetando
62
como? // Projetando
63
como? // Projetando
//Figs. 23-27: Modelagens 3D.
Com o conceito formal um pouco mais desenvolvido, dúvidas quanto a forma e medidas foram sendo sanadas com a ajuda de modelagens virtuais 3D nos softwares Autodesk 3ds Max 2012 (Fig. 28) e Solid Works 2011 (Figs. 23-27). Porém, foi somente durante a confecção do protótipo que detalhes finais foram acertados.
64
como? // M達o na massa //Fig. 23: e. //Fig. 24: . //Fig. 25: . //Fig. 26: . //Fig. 27: .
65
66
como? // Projetando
Buscando colaboradores Como parte do projeto necessitava desenvolvimento em eletrônica e músicas específicas, buscou-se o auxílio colaborativo por especialistas na área.
Desenvolvedor No meio deste percurso, foi descoberto uma iniciativa voltada para a integração, colaboração e apoio aos desenvolvedores independentes de
Músico
ciência e tecnologia, o LabdeGaragem13. Eles
nião online com o engenheiro agrônomo Mauro
possuem a Rede Social, Incubadora, Loja e Es-
Lúcio Rodrigues de Assis. Ele abraçou o projeto
paço Lab de Garagem - localizado em São Paulo.
e passou a desenvolvê-lo à distância. Somente
Encontrar um músico que se comprometes-
Após visita, em Março/2012, e o contato estabe-
no fim de Abril/2012 é que o objeto já confeccio-
se com o projeto foi bastante difícil. Depois do
lecido, eles ajudaram a verificar que tipo de co-
nado foi levado de Bauru até ele, em São José
contato com muitos deles, foi o músico Miguel
nhecimento de hardware e software o desenvol-
dos Campos, para instalação dos componentes
Angelo Maldonado Rosa, descoberto por indica-
vedor necessitava, e colocou um anúncio na rede
e programação dos mesmos. Entre idas e vindas,
ção, que realmente se engajou no desafio.
social. Três deles se interessaram pelo projeto, e
o que aparentemente levaria um ou dois fins de
Ele próprio sugeriu o uso do programa de PC,
foi selecionado um de acordo com os requisitos.
semana acabaram por tomar quatro sábados e
o Acoustica Mixcraft, para composição das mú-
Duas semanas depois, foi feta a primeira reu-
domingos, de 9 as 22horas corridas.
sicas. Foram feitas algumas reuniões pessoal-
67
mente e as outras online. _____________________________________________ 14
Mais informações em http://labdegaragem.com. Acesso em 14/05/2012.
//Fig. 28: Renderização em VRay.
Objetivos
Os objetivos especificos de cada um foram:
Designer
1// 2// 3//
Projetar a parte técnica estrututal do projeto da mesa e executar - marcenaria. Gerenciar a confecção da música para a passar a sensação desejada após a programação Arquitetar todas as interações para que possa ser programada. Isto inclui a combinação de pessoas, LEDs, e música, a partir de sensores.
68
4// 5//
Criação de logo, nome e diagramação do relatório Fazer relato fotográfico e escrito de todo o processo Desenvolvedor:
1// 2//
Utilizar algum sensor de aproximação, para disparar o funcionamento da mesa Criar um mecanismo de som que seja “manipulável”, ou seja, que em função do usuário a música possa ser alterada de alguma forma.
3// 4//
Controlar aproximadamente 25 LEDs, cada um com 3 cores Utilizar programação através do programa Arduino para gerenciar os outros quatro quesitos. Músico:
1// 2//
Compor músicas com frases de instrumentos musicais da biblioteca do software Maxcraft 5.2. Salvar frase a frase de cada músicas, isto é, cada música em diversas partes.
//Fig. 29:
Mテグ NA MASSA
Materiais 72
//Fig. 31: //Fig. 32: //Fig. 33: //Fig. 34: //Fig. 35: //Fig. 36: //Fig. 37: //Fig. 38: //Fig. 39: Fig.
//Fig. 40:
30 //Cartão miniSD 2gb
//Fig. 41:
31 //Barras de terminais
//Fig. 42:
‘‘ //Termoretrátil 32 //Alto-falantes duplo amplificados stereo de alimentação USB
//Fig. 43: //Fig. 44: //Fig. 45:
33 //Arduino UNO
//Fig. 46:
34 //MP3 Shield SparkFun
//Fig. 47:
35 //LEDs RGB - 24 unid.
73
36 //Baterias recarregáveis 9V - 2 unid. 37 //Cabos diversos 38 //LDRs de 10mm - 6 unid.
47 //Bambu laminado colado
39 //C.I. (circuito integrado) 74HC/
--- //Cavilhas de bambu
HCT595 - 10 unid. e 4051 - 1 unid. 40 //Sensores Ultrassônicos HC-SR04 - 3 unid 41 //Adesivo dupla face 42 //Protoboards (2 unid.) 43 //Fêmea de USB 44 //Regulador de tensão 5V 45 //Resistores 10k (6 unid.) 46 //Tubo de solda
--- //Cola à base d’agua --- //Vidro //Cera de carnaúba
como? // Mão na massa
Etapas com Bambu Planejamento
gos como o caruncho (Dinoderus minutus), que
Para confecção foi necessário planejar a quanti-
é atraído pelo amido contido nele. Tal medida au-
dade material para colheita, compra e métodos de
menta a vida útil do produto final.
produção, de modo que ocorresse no tempo disponível para essa etapa: um mês e meio. Colheita 74
Foram colhidos colmos de bambu da espécie Dendrocalamus giganteus (Fig. 48) para a confecção de lâminas do BLaC, já na idade madura. A colheita ocorreu no Laboratório de Experimentação com Bambu da UNESP, o qual possui em torno de 23 espécies. É importante que durante a colheita sejam separadats todas as galhadas das quais as gemas ainda estejam alaranjadas, pois é possível produzir mudas com elas. (Fig. 49) Tratamento preventivo por imersão Antes do beneficiamento, o bambu foi imerso em Octaborato para evitar o ataque de insetos xilófa//Fig. 49: Mudas de bambu //Fig. 48: Moita de Dendrocalamus giganteus
como? // Mão na Massa
produção mais artesanal utilizando lixa. Devido ao bambu caracterizar-se por maior resistência nas regiões externas, foi essencial que a retirada do material ficasse resumida apenas à casca. Para isso, foram selecionados colmos não só por diâmetro e espessura correta, mas também por serem mais retilíneos. Foram usinados um total de quatro segmentos de 40cm de altura - com sobra - para os pés e outros quatro de 90cm para os tubos do topo, estes os quais foram postumamente divididos em pedaços menores. Foram criadas peças de retalhos de madeira (Fig. 50) para cada diâmetro de bambu, de modo a fixá-lo nos contra-pontos de centragem.
//Fig. 50: Peça de madeira prendendo bambu. Reaproveitamento de retalhos Para os colmos da superfície e pés da mesa foi possível reaproveitar sobras descartadas em outros projetos que acontecem no Laboratório, devido às pequenas alturas necessárias. Isso também seria possível em uma indústria. Experimentação: usinagem Seguindo o raciocínio de uma futura confecção em maior escala, os pés e tubos de superfície da mesa foram usinados em Torno Mecânico (Fig. 51) para melhor acabamento e precisão na retirada da casca dos colmos de bambu. A peça também poderia ser introduzida numa cadeia de //Fig. 51: Usinagem dos pés da mesa.
//Fig. 55: Lâminas sem nós.
1
Beneficiamento em Serra Circular //Fig. 52: Colmos foram segmentados em comprimentos de 90cm na destopadeira/ serra circular.. Em seguida, passado pelo sentido longitudinal na serra circular dupla, que o reparte, em média, em sete lâminas.
Confecção de BLaC 2 Retirada dos Nós //Fig. 53: Após desdobro duplo, o colmo continua unido pelos nós, por isso necessita de impacto para que a lâmina se solte. //Fig. 54: Resquícios dos nós são
extraídos em serra circular.
3
Desengrosso das quatro faces //Fig. 56: Para reduzir a geração de resíduos, foram classificadas com um paquímetro digital por grupos de medidas aproximadas. //Fig. 57: Lâmina passou pela desengrossadeira com duas tupias para aplainar a curvatura da face e duas para desengrosso das laterais. //Fig. 58: Foram separadas por espessura para confecção de placas.
4
Prensagem de lâminas //Fig. 59: Cola à base de água foi passada nas laterais das lâminas. //Fig. 60: Elas foram coladas nas laterais em prensa manual. //Fig. 61: No total, confeccionouse três placas com altura de 70cm (foto) e duas de 35cm.
como? // Mão na massa
5
Desengrosso das placas //Fig. 62: Placas passaram pela desengrossadeira para que a superfície ficasse uniforme de modo a ser prensada.
78
6 Prensagem de placas //Fig. 63: Cola foi novamente passada, porém nas faces das placas //Figs. 64-66: Passo a passo para confecção do compensado na prensa manual.
//Fig. 64: //Fig. 65: //Fig. 66:
Monta gem
7
Corte das peças //Fig. 67: Todas as peças e encaixes foram cortados para sua posterior montagem. //Fig. 68: Os tubos da tampa foram segmentados com altura de 10cm.
8
Colagem dos encaixes //Fig. 69: Cola foi passada nos encaixes confeccionados anteriormente. //Fig. 70: Placas já cortadas foram coladas nos encaixes com o auxílio de presilhas.
//Fig. 71: Detalhe do encaixe. //Fig. 72: Fundo foi colado do mesmo modo.
9
Pés: Preparação do encaixe //Fig. 73: Quatro tubos foram usinados no torno por dentro, no tamanho exato do diâmetro dos pés para encaixe. //Fig. 74: Eles foram lixados em duas superficies retas. //Fig. 75: Em seguida foram colados. 80
10
Furos
11 Confecção de cavilhas
//Fig. 76: Furos no fundo da
//Fig. 78: Cavilhas de bambu para
caixa foram feitos com uma
reforço de encaixes e travamento dos
serra copo, bem como furos nas bordas com furadeira para reforço com cavilhas nas junções.
//Fig. 77: Alguns segmentos de tubos da tampa possuiam nós, por isso foram furados com serra copo.
pés foram produzidas na lixadeira.
12
Acabamento com lixa //Fig. 79: Os pés foram lixados com lixas 100 e 300. //Fig. 80: Os tubos do topo receberam o mesmo acabamento.
13
Marcações e furação prévia //Fig. 81: Na tampa da caixa foram marcadas a localização dos tubos. //Fig. 82: Ela foi furada onde receberiam cavilhas e os tubos foram então superficialmente colados.
81
14 Prendendo os tubos na tampa //Fig. 83: Usando os furos da tampa como guia, os tubos receberam furações. //Fig. 84: Posicionou-se as cavilhas com cola nos furos. //Fig. 85: Foi llixado para tirar rebarbas.
//Fig. 86: Tubos foram prensados à tampa em prensa manual para garantir sua fixação.
15 Acabamento final //Fig. 87: Além de três demãos de cera de carnaúba. //Fig. 88: Todas as partes receberam acabamento em lixa 100 e 300.
83
Detalhes //Fig. 89: Encaixe da tampa feito em serra circular. //Fig. 90: Encaixe do pé: rebaixo de sinalização da direção do encaixe. //Fig. 91: Tubo central com altura maior: Furos para sensores. Colado somente depois da parte eletronica. //Fig. 92: Pé da mesa com sinalizador da direção do encaixe que entra no rebaixo - e buraco onde encaixa uma cavilha não fixa.
Circuito //Fig. 93: Amplificador testado com microfone.
Theremin Os primeiros testes que desenvolvedor Mauro
e dedos no ar. Os resultados demonstraram que
fez foi para captar aproximação a partir do The-
apesar de funcionar com a aproximação humana,
remino qual surgiu como um instrumento musical
trabalha apenas com distâncias muito pequenas,
que emite ondas eletromagnéticas através de an-
por tanto não se encaixou no projeto.
tenas e que se toca apenas movendo os braços 84
Microfone e Amplificador A primeira idéia de interação com músicas foi a partir de voz, isto é, que as músicas variassem de acordo com a conversa ao seu redor.
//Fig. 95: Protoboards unidas por fios e C.I.s.
Foram feitas experiências com pelo menos três tipos de microfone, os quais necessitavam a amplificação do som captado. Foram então testados com amplificadores, sendo um construído (Fig. 94) e um comprado pronto (Fig. 93). Por sua vez, não foi possível captar o som da voz ao mesmo tempo em que os alto-falantes emitiam música distinguindo um do outro, por tanto, foi descartado. Arduino Foi ligado a ele uma bateria de 9V e com somente uma placa microcontroladora foi possível comandar o MP3 Shield, LEDs, sonar e LDR. No entanto, para que isso acontecesse foi necessário multiplicar as
//Fig. 94: Amplificador criado: muitos ruídos.
como? // Mão na Massa
suas portas já que ele possui apenas treze. Por
Sonar
isso, pensou-se em uma maneira de instalar três
O sensor ultrassônico foi ligado às portas do
terminais de 24 LEDs, seis entradas para o sonar
Arduino e protoboards. Deste modo, funcionou
e para o LDR, para isso foram utilizadas duas pro-
com sucesso. (Fig. 97-98).
//Fig. 96: Circuito de ligação dos LEDs na protoboard (t, p. 111)
toboards (Fig. 95). Ele recebeu, através da linguagem de progra-
Luz
mação feita pelo desenvolvedor, informações
O obstáculo inicial foi ao descobrir que os LEDs
para que todos os inputs (por sensor de presen-
RGB adquiridos possuíam a polaridade invertida
ça e de luz) e outputs (LEDs e alto-falantes) se
em relação aos LEDs padrões, que geralmente
transformassem nas interações desejadas. //Fig. 97: Testes com Sonar.
//Fig. 98: Distância captada.
possuem o terminal negativo como comum. Assim, foram ajustadas a fiação e programação para que fossem invertidos (Fig. 100), e depois ligados à protoboard no esquema da Fig. 96. Som Para fazer o Arduino tocar e armazenar as músicas, o MP3 Shield foi uma boa opção, já que oferece a reprodução em boa qualidade pelo formato mp3.
Para permitir o som no volume desejado, foram então utilizadas caixas de som amplificadas. Na primeira experiência, seu amplificador queimou devido à voltagem ser 5V e a da bateria utilizada ser 9V. Por isso utilizou-se um regulador de tensão ligado ao conector fêmea do USB. Além disso, a caixa de som foi aberta para utilizar somente seus compoenentes (Fig. 99), porém,
//Fig. 99: Experimento: alto-falante.
notou-se que sua carcaça fazia parte da acústica.
//Fig. 100: Testes com LEDs RGB de polaridade invertida.
As segundas caixas de som amplificadas foram 86
//Fig. 101:
então mantidas em seu formato e instaladas na mesa. Elas funcionaram com sucesso plugadas no MP3 Shield e alimentadas por bateria. (Fig. 102)
//Fig. 102: Caixa de som dupla plugadas no MP3 Shield sobre o Arduino, utilizando um regulador de tensão na alimentação com bateria. Toque Os LDRs foram instalados em furos feitos nas paredes tubos de superfície para acionarem mudanças de som a partir da variação de luz resultante da aproximação de corpos, ou no caso, do toque. (Fig. 103) Ele foi ligado ao Arduino pela protoboard. //Fig. 103: LDR instalado.
87
como? // Mão na massa //Fig. 104: Soldagem dos fios no Sonar. //Fig. 105: Instalando no tubo maior, que
88
Instalação dos compo nentes
necessitou ser desbastado internamente com mini retífica para que o sensor alcancasse o lado externo.
//Fig. 106: Fio descascado. //Fig. 107: Soldagens das barras de terminais para ligação no Arduino e Protoboard. //Fig. 108: Termoretrátil isolante. //Fig. 109: Retração dele pelo calor de soprador. //Fig. 110: Isolamento dos terminais com termoretrátil. //Fig. 111: Retraindo-o por calor. //Fig. 112: Instalando os LEDs. //Fig. 113: Soldando nos fios.
como? // Mão na massa
//Fig. 114: Descascando as duas pontas de todos os fios.
//Fig. 115: Soldagem dos fios nos LEDs.
//Fig. 116: Fiação dos LEDs, organizadas por termoretrátil preto.
//Fig. 117: Produção de uma música no Mixcraft.
90
Produção de músicas
Culturalmente confuso Brasileiro é aculturado Líbio, libanês, árabe turco Acha farinha do mesmo saco
As músicas foram feitas pelo Miguel, de acordo com a idéia de que fosse um som bastante híbrido, com diver-
Não saca croata, curdo
sas influências e variedade de instrumentos (Fig. 117)
Não saca iugoslavo
Foram dados alguns exemplos de música com
Nem belga, nem mameluco
bastante percurssão, instrumentos de sopro, elementos de funk, entre outros. Algumas músicas citadas
Não saca Platão, nem Plutarco
como referência foram: // Comadre Fulozinha - Mambú e Abacaxia
Não saca que um cafuzo
// Hermeto Pascoal - Candango
Mestiço não é mulato
// Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos - Aculturado
Que apito toca o Caruso
// Lurdes da Luz - Ziriguidum
Que apito toca Bach
// Karina Buhr - Ciranda do Incentivo Com isso, foram produzidas um total de quatro
Não saca sueco, luso
músicas com uma média de quatro minutos e meio
Egípcio, tchecoslovaco
cada uma. Depois, salvou cada uma em suas diversas
Kafka, Freud, Confúcio
partes para que durante a interação o usuário sentis-
Não saca que russo é cossaco
se que estava “montando a música“. O corte foi feito com precisão baseado no BPM (batida por minuto),
Itamar Assumpção e
para que durante a interação mantivesse coerência
Naná Vasconcelos - Aculturado
musical ao serem tocados aleatóriamente.
Álbum: Isso vai dar repercussão
91
e aí?
A ATUALIZAÇÃO
96
e aí? // A Atualização
As escolhas O nome Dó Bra Sil foi escolhido entre diversas outras opções por conter três idéias a nota musical Dó; a idéia de ser “do Brasil”, além de remeter a um sotaque que representa um regionalismo autóctone do país, que é o nordestisno; e a palavra dobra, que faz referência a filosofia contemporânea de Gilles Deleuze. O logotipo foi desenvolvido com uma linguagem orgânica representando o natural do bambu, com pequenos círculos nos cantos das letras representando as conecções de circuitos. As circunferências maiores são uma referência direta à forma do objeto, suas dimensões são um retângulo de base metade da altura, como o objeto. Os tons foram escolhidos de modo que houvesse o colorido representando o mosaico brasileiro, sendo elas vermelho (quente, pau-brasil, natural) e azul (fria, cor da bandeira, artificial). Ela é uma mesa de centro por ser um objeto coletivo, a qual se localiza em um ambiente onde geralmente ocorrem muitas trocas entre as pessoas, que é a sala. A medida ampla do vidro acolhe vários membros da família em sua volta. A escolha pela altura do chão ao tampo de aproximadamente 45cm foi de acordo com a pesquisa dos similares. Ela favorece que reúnam-se ao seu redor sentados no chão, tornando assim a interação mais relaxada, fluida e descompromissada, mas ao mesmo tempo, não elimina a possibilidade de que o usuário sente-se em assentos, caso seja de idade avançada. O vidro transparente foi escolhido como material para o tampo para que valorizasse o padrão de círculos formado pelos bambus e a própria textura do material no topo. Apesar de serem luzes diretas, concluiu-se não ser necessário um material translúcido – como o vidro fosco – para difusão da luz, visto que o comprimento de 10cm dos bambus já proporcionou uma luz mais dissipada, se tomar como partida o ângulo de visão do usuário. A utilização do vidro temperado se fez necessária para prezar a segurança do usuário, já que este quanto quebrado não se estilhaça. Sustentavelmente falando, a opção também se deu pela maior durabilidade e vantagem econômica, quando comparada a outros materiais como acrílico. Sua reciclagem apesar de mais difícil que o vidro comum já é possível. No furo do centro passa o tubo de bambu com altura maior, que acopla o sensor de aproximação e ajuda na fixação do vidro. Ele foi adquirido com o apoio da FEB/UNESP para o Laboratório de Experimentação com Bambu. O tampo suporte dos tubos foi feito de maneira a se encaixar no resto da caixa, podendo esta ser facilmente aberta para manutenção das fiações, partes eletrônicas, troca dos LEDs, troca de baterias, atualização do cartão miniSD e Arduino. Os pés foram usinados não só pela estética específica do produto como para encaixes que permitem sua desmontagem. Deste modo, ocupa menor espaço facilitando o armazenamento, e ainda diminuindo os gastos energéticos com a redução de espaço no transporte. Além disso, possui um sistema
97
de montagem dos pés para o próprio usuário, de modo fácil e intuitivo com a sinalização da direção do encaixe por um pino e travamento através do encaixe de uma cavilha. Todas as peças com BLaC foram fixadas sem materiais secundários, isto é, todas as junções foram por encaixes, unidos por cavilhas de bambu e cola a base d’água. Isso facilita a futura decomposição do produto após descarte, que necessitará ser separado dos componentes eletrônicos. É bem verdade que o descarte componentes eletrônicos hoje são um problema, no entanto sua utilização era parte essencial para este projeto. Por isso optou-se por usá-lo como elemento agregador de funções ao objeto, o que prolonga seu uso e retarda o descarte do objeto como um todo. Além disso, todos os componentes estão dispostos de maneira a ter fácil manutenção e reparo, o que também prolonga sua vida útil. Outro fator interessante é a fácil remoção dos componentes para a separação quando descartados, facilitando assim a reciclagem e possível fechamento de um tecnociclo (não-interferência). A simplicidade formal foi buscada para evitar a obsolescência estética, outro fator que pode acelerar o descarte do produto. Além disso, possui uma versatilidade que lhe confere uma segunda função. Por ser desmontável, ele pode ser colocado na parede sem os pés e vidro, quando fixada a base dos tubos, como adordo ou objeto interativo de exposição. O uso de protoboards e Arduino possuem a conecção dos fios neles bastante frágil, pois pode ser removida e mudada a qualquer momento pelo caráter de protótipo. No caso de uma produção para venda, seria necessário fazer o circuito em um software e fazer uma placa de circuito impresso.
99
100
e aí? // A Atualização
A interação Ao se aproximar do objeto, sensores de presença acionam luzes que se acendem e, em seguida, começa a tocar música. Enquanto toma seu cafézinho e conversa no ambiente, as pessoas podem tocar pontos da mesa com sensores de variaçao de luz que mudam a atividade sonora. Deste modo ela mesmo pode montar sua ambientação musical, formando sons híbridos e mutáveis. Enquanto isso, luzes coloridas de LEDs nos tubos acendem ora nas cores azul, ora rosa, vermelho, laranja, verde, verde água, furta cor, e, deste modo, interagem juntamente à musica. A música desenvolvida possui a mistura de diversos ritmos e instrumentos de origens distintas formando assim uma representação sonora da cultura híbrida brasileira e a inserindo no cotidiano. Até o fechamento deste relatório, a interação estava tendo problemas devido ao limite de memória do Arduino, porém acredita-se que será possível compactar as informações de programação e resolvê-lo.
101
e aí? // A Atualização
102
103
e aí? // A Atualização
104
e aí? // A Atualização
105
e aí? // A Atualização
107
O fim do início Notou-se que a hibridização é uma forte tendência do contemporâneo, e que pode enriquecer todas as áreas do saber. Ao nos enxergar em um momento em que o conhecimento em determinadas áreas já estão bastante aprofundados, pode-se notar que iniciar a mescla entre eles é o caminho para 108
idéias novas e possivelmente de sucesso. Por isso, conectar conhecimentos aparentemente distantes, à exemplo de design, circuitos eletrônicos, tecnologia, sustentabilidade, cultura brasileira, interatividade, etc, se demonstrou modo bastante interessante para produzir inovações, e atingir novos patamares no desenvolvimento criativo. O grande desafio desses projetos é a gestão do sistema complexo criado, mas que quando obtidas com sucesso, acabam por dar o “start” na geração de vários outros. Em adição, o Dó Bra Sil é o tipo de objeto que costura suavemente no tecido da vida cotidiana a informação digital, através de uma interface intuitiva e de estética atraente. As interações possíveis de serem programadas são infinitas devido às diversas variáveis, como os 24 LEDs RGBs que podem assumir muitas cores e combinações, os sensores e as músicas em formato mp3 que podem ser adicionadas e programadas a infinitas maneiras. Deste modo, o objeto é mutável e um versátil brinquedo para programadores e designers de interação. Em outras palavras, está aberto a transformações.
109
Desenho tĂŠcnico
8,5
2
10 1 25
4
5,5 9,5
6
50
,7
R2
60
68
70,8
80
0
47
50
11
36
10
9 1
35
11,5
19,3 55,4
1
0,8
9,5 0,5
4,3
30
68
70,8 5
bambu de 36 di창metro maior
6
50 ,7 R2
bambu de di창metro menor
1
9,
17,5 4,3 9
35 0,8
0,5 1 19,3
bambu de di창metro maior
2
1 1
10
10 11,5
36
5
mbu de 창metro enor
120
17,5
11
80 8,5
8,5
25
36 47 30 36 25 30
0,8 19,3
bambu de diâmetro maior
5,5 2
5,5
1
10
1
11,5
bambu de diâmetro menor
bambu bambu e vidro caixa
47
4
5
3
vidro 55,4
tampo tampa da caixa montagem com os pés caixa
3
5,5
80
1
80
Peça
3
55,4
60 Material
Ref. 2
11
36
1
1
1
11,5
9,5 0,5
6
2
1
50
2
1
,7
10
11,568
19,3
0,8 70,8
0,8
4
R2
19,3
10
1
1
4
Re
17,5
1
4,3 4
2 35
9
3
10
4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Borges, M. L. Sounddesign: A dobra como
Fialho, E. G.; Tonholo, J.; Silva, A. L. P. da.
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