Cine Revista

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CINE 1° EDIÇÃO - ANO 1 - MAIO DE 2020

R$ 9,90

PLUS: Como o diretor BONG JOON-HO criou o thriller perfeito e ensinou Hollywood a amar legendas PAG 7

PARASITA r e w o P

Confira a lista dos melhores filmes indicados ao OSCAR 2020 e veja nossa análise sobre cada um deles PAG 3


VIVA O LADO COCA COLA DA VIDA



Filmes Direção: Bong Joon-ho Gênero: Drama/Comédia (132’)

Esse ano seu estilo lhe rendeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme Parasita (Gisaengchung), inicialmente uma comédia de humor negro sobre a família Kim e seu golpe nos riquíssimos Park porém se desenvolve em um drama pesado sobre a Coréia do Sul atual. Porém o mais interessante no filme, e isso segue em quase toda a filmografia do sul coreano, é como entramos nesses comentários sociais por meio

PARASITA do suspense criado com seus diálogos pausados e a música no momento certo. Ao colocar os personagens em cenários completamente fora do normal que então se desenvolvem como situações com bases de problemáticas comuns a quem vê o filme se torna, além de inteligente com

1917 Direção: Sam Mendes Gênero: Guerra/Drama (120’)

Grandes conflitos já foram retratados de todas as formas possíveis - de ensaios sobre a condição humana na Guerra do Vietnã às incontáveis fases 3

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de desembarcar nas praias do Dia D nos games. Mas cada pequena decisão impulsiva que precisam tomar - como seguir pela contramão, ou entrar em áreas restritas para suas patentes - são o suficiente para fazer até seus colegas militares se voltarem contra eles e puxarem brigas.

seu roteiro, acessível a todos os tipos de audiência, criando uma experiência que além de divertida também serve para conscientizar o mundo sobre a divisão de classes sociais, problema muito atual na Coréia do Sul assim como no Brasil.

Dessa forma - novamente lembrando a conexão com os games - o espectador é colocado nos ombros de Schofield durante um duelo com um atirador de elite, mas também passeia pelos cenários, entra nas trincheiras, no lamaçal e na traseira de um caminhão militar. Uma batalha noturna nas ruínas de uma cidade francesa, parcialmente iluminada pela destruição do fogo e a luz momentânea de sinalizadores, são algumas das imagens mais marcantes e belas (de uma forma deturpada) dentre os filmes que disputam Melhor Fotografia no Oscar 2020.


Direção: Todd Phillips Gênero: Drama/Crime (122’)

Direção: Todd Phillips Gênero: Drama/Crime (122’)


MATÉRIA SOBRE OS FILMES DO ÓSCAR PÁG 3


MATÉRIA SOBRE OS FILMES DO ÓSCAR PÁG 4


Entrevista

“Não sou totalmente pessimista, mas quero ser honesto diante da realidade” Numa entrevista por e-mail, Bong Joon-ho, diretor de Parasita, que estreia nesta quinta, 7 – e terá debate do Estado na quarta, 6, no Petra Belas Artes -, destaca que a Palma de Ouro para o filme, em Cannes, em maio, veio num momento especial, quando se comemora o centenário do cinema coreano. Ele assume o caráter social da obra com a discussão sobre a luta de classes na Coreia e no mundo, ainda marcado por desigualdades profundas.

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Você tem um set muito rico e complexo. A casa dos ricos, a par de ser opulenta, tem vários níveis, enquanto os pobres, no geral, habitam em porões. O set foi construído dessa maneira para expressar sua visão social? O alinhamento vertical dos espaços era a temática e também visualmente importante para a história e, desde o princípio, nos referíamos, internamente, a Parasita como um ‘filme-escada’. Existem diversos tipos de escadas que refletem a estrutura vertical de classes. É similar ao modo como a água é usada no filme – ela flui do alto e, no caso da família Kim, a dos pobres, termina por inundar a casa. A casa dos ricos foi realmente modelada

por um arquiteto de sucesso e, embora nem todos os trabalhadores vivam como os Kim, esse tipo de alojamento no subsolo é muito comum, e mais barato, nas áreas urbanas da Coreia. Seu filme é uma mistura de O Hospedeiro com Okja e também marca seu retorno à Coreia, após experiências no cinema internacional. Nasceu do seu desejo de comentar a situação no país? Nunca foi minha intenção criar uma trilogia de classes. Não tenho um projeto de carreira, conto as histórias dos personagens que me fascinam no momento. A ideia surgiu em 2013, portanto, é anterior a Expresso do Amanhã e Okja, que foram produções internacionais


porque as histórias exigiam. Os últimos sobreviventes da humanidade num trem e a busca que leva uma garota das montanhas da Coreia a Manhattan, para salvar seu animal de estimação. Gostei, claro, de trabalhar com uma equipe toda coreana, em outra história que se passa na Coreia, mas não creio que seja um retorno, não nesse sentido. O retorno é a outra escala de produção, mais próxima de filmes anteriores. Gostei de trabalhar com uma produção menor, mais focado nos problemas da narrativa e dos personagens. No começo, a gente pensa que os pobres são os parasitas da história, mas, na verdade, os ricos precisam deles e talvez sejam parasitas também (ou mais ainda). Faz sentido para você? Sem dúvida. Como a história segue o processo como a família pobre se infiltra na casa dos ricos, parece óbvio que sejam os parasitas. Mas a

Parasita, 2019

família rica vive numa situação de dependência para sobreviver. Precisa de quem dirija, cozinhe e, do ponto de vista do trabalho, também é constituída por parasitas. A ideia surgiu de alguma observação sua ou foi baseada em informações – alguma coisa que você tenha visto na TV, na internet ou lido nos jornais? O argumento e o roteiro são originais, mas, quando jovem, e ainda estava na faculdade, trabalhei como tutor na casa de uma família rica. Dava aulas particulares e, quando os pais não estavam, meu estudante me levava para conhecer os ambientes. Mostrou-me a sauna privativa, e aquilo me passou uma ideia de invasão de privacidade, como se eu fosse um voyeur, fantasiando sobre a vida daqueles estranhos. A ideia ficou comigo e, de alguma forma, germinou no que virou Parasita.

Veja Mais ww outros sucessos de Bong Joon-Ho

Okja Uma jovem chamada Mikha arrisca tudo para evitar que uma poderosa multinacional sequestre sua melhor amiga — uma porca gigante, geneticamente modificada, chamada Okja.

Expresso do Amanhã Os únicos sobreviventes de uma fracassada tentativa de conter o aquecimento global são obrigados a viver em um trem separados em vagões que determinam sua condição social.

Revista Cine // 5 de maio, 2020

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