Inominável #11

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Inominรกvel para lรก da blogosfera

N 11 - Dezembro 2017


9 e 10 de Dezembro

Entrada principal do Jumbo do Almada FĂłrum (ao lado do balcĂŁo de apoio ao cliente)


Mais um ano... E pronto! Já estamos em Dezembro, outra vez. Para quem – como eu – é fã do Natal, este é um mês mágico onde nos é permitido voltarmos a ser crianças e acreditar que nada é impossível. E mesmo quem não gosta da época – como a nossa Márcia – acaba por, de uma forma ou outra, se deixar contagiar pelo espírito e manter a esperança de encontrar no sapatinho aquilo que realmente quer: livros. Algo me diz que todos os Inomináveis desejam o mesmo, que Inominável que se preze gosta mesmo de livros. Por aqui, no rescaldo das comemorações do segundo aniversário, resolvemos fazer umas mudanças – lavar a cara, como se usa dizer – e oferecer aos nossos leitores uma imagem diferente e, de certa forma, dar ainda mais ênfase aos conteúdos: assim uma espécie de prenda de Natal antecipada para todos. A capa – estrelada como manda a época – é, também, uma promessa de boas leituras, já que por trás dela estão as nossas verdadeiras estrelas: os Inomináveis. Consultem a nossa Agenda, descubram os bastidores do Cinema, do Desporto e da Música, leiam as histórias de vida da Elsa e da Inês, as aventuras e desventuras de uma noiva, aprendam mais sobre Jogos de Computador, Cerâmica/Costura, Fotografia e… Gatos, descubram o que está na Moda, experimentem uma receita diferente este Natal, sonhem com as Viagens e a Bienal de Veneza, leiam o novo capítulo do Criador de Impossíveis, a Poesia com o Atlântico pelo meio, ou atrevam-se a fazer um curso diferente. E ainda podem ficar a saber se afinal estão constipados ou apenas apaixonados como… o Pai Natal. A Inominável está recheada de excelentes artigos e para todos os gostos, Passatempos e, como não podia deixar de ser, apelos ao vosso coração, ao divulgarmos algumas associações de solidariedade. Esperamos que gostem tanto de a ler como nós gostámos de a fazer. De nós, para todos vós:

Tenham um Feliz Natal e um excelente 2018.

EDITORIAL por Maria Alfacinha


Manifesto

Inominável

O mundo dos blogues em Portugal tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos anos, tanto em quantidade como em qualidade, e está pouco a pouco a tornar-se uma forma de comunicação com algum peso no nosso país. O que é mais uma prova da versatilidade e riqueza da nossa cultura. Foi para dar mais voz e visibilidade a estes – tantos! – bloguistas que dedicam grande parte do seu tempo à paixão de escrever e comunicar com os outros que nasceu em 2015 a Revista INOMINÁVEL. INOMINÁVEL porque não tem um nome, tem muitos: ela é o resultado da soma de todos os nomes que têm vindo a contribuir para a existência e o crescimento de um projecto feito com o coração e a vontade, com muito entusiasmo e dedicação, e com muita vontade de evoluir e melhorar. Neste momento a INOMINÁVEL é uma revista bimestral apenas publicada online (e portanto gratuita), mas com os olhos postos sempre mais longe – até porque o nosso lema é “para lá da blogosfera”. Vivendo na e da Internet, apoia-se na comunidade bloguista e nas redes sociais para se difundir e publicitar, razão pela qual os artigos de cada número da revista são depois publicados no blogue (alojado no Sapo) com o mesmo nome: revistainominavel.blogs.sapo.pt. E como o mundo virtual já não consegue – nem sabe – viver sem as redes sociais, também temos página no Facebook e conta no Instagram (@revista_inominavel). Este é o nosso manifesto: - A Revista INOMINÁVEL é um projecto flexível e em constante desenvolvimento. - A Revista INOMINÁVEL é generalista, transversal, criativa e inclusiva. - A Revista INOMINÁVEL é tolerante, mas não tolera a discriminação, o apelo à violência e a xenofobia. - A Revista INOMINÁVEL é uma forma de centralizar bloguistas cujo trabalho merece ser divulgado, pois normalmente só por acaso é que se consegue descobri-los. - A Revista INOMINÁVEL é uma revista de artigos originais. - A Revista INOMINÁVEL respeita e valoriza o estilo dos seus redactores e não censura quaisquer textos, com excepção dos que forem ostensivamente contra os valores e critérios expressos neste Manifesto.

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NESTE NÚMERO

N 11 - Dezembro 2017 INOMINÁVEIS Direcção Editorial Colunistas Maria Alfacinha e Ana CB Alexandre Álvaro Revisão Ana CB Ana CB Ana Delfino Paginação Baltazar Gonçalves Maria Alfacinha Carina Pereira Publicidades do Coração Dona Pavlova Just Smile Elsa Guilherme Passatempos Gil Cardoso Ana Rita Golimix Inês Rocha Isaura Pereira José da Xã Just Smile Malik Sousa Márcia Balsas Margarida de Sá EMAILS Marta Segão Rei Bacalhau geral Sofia Silva publicidade

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06 Agenda Inominável 10 Cá por Casa 12 Play it, Sam! 16 Na Desportiva 20 Musicalizando 22 2D3D 26 Tendências de A a Z 28 'bora lá fazer? 30 Estar no Ponto 32 Dicas de Farmacêutica 36 Animais & Mais 44 Mãos Largas 46 3 x Mãe 48 Lá vem a noiva 50 Por terras nascidas do mar 54 Viagens 74 A luz e o olhar 80 Histórias de Arte 88 Anexo 90 Colunista Acidental 96 Tanto mar entre nós 98 Criador de Impossíveis 100 Ler o Mundo


2017 2018

ADEUS BEM VINDO AGENDA INOMINÁVEL por Marta Segão

Para acabar o ano em grande e entrar em 2018 com o pé direito, a Agenda Inominável traz as melhores sugestões culturais para si. Em Dezembro, mês da magia do Natal, haverá lugar para um feiticeiro muito especial, ilusionismo, e muita diversão em família. Janeiro traz um dos concertos mais esperados pelos mais novos, que alia música, dança e patinagem num único palco. Tudo isto e muito mais, na sua Agenda Inominável!

SOY LUNA LIVE | LISBOA Depois de a digressão 2017 ter esgotado na América Latina, o espetáculo "Soy Luna Live" chega à Europa em 2018 passando por várias cidades, incluindo Lisboa no dia 20 de Janeiro. Esta será uma oportunidade única para os fãs de verem Karol Sevilla e Ruggero Pasquarelli (Luna e Matteo), acompanhados de Valentina Zenere, Michael Ronda, Carolina Kopelioff, Katja Martínez, Malena Ratner, Chiara Parravicini, Jorge López, Ana Jara, Lionel Ferro e Gastón Vietto, uma equipa de enérgicos bailarinos e uma sensacional banda, a interpretarem muitos êxitos da série, ao vivo, aliando música, dança e patinagem, num espetáculo imperdível. O espetáculo, em Lisboa, terá lugar na Altice Arena, e os bilhetes já se encontram à venda. A Everything is New aconselha a compra de bilhetes apenas nos pontos de venda oficiais: everythingisnew.pt, FNAC, Worten, El Corte Inglés e Agência ABEP.

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FIL DIVERLANDIA | LISBOA

De 6 de dezembro a 7 de janeiro todos os caminhos vão dar à Fil Diverlandia, no Parque das Nações. Na Diverlandia irão encontrar os divertimentos mais espectaculares e animados de sempre, desde os famosos clássicos, para diversão em família, até às atrações mais radicais e emocionantes, que irão deixar os mais audazes de cabelos em pé. Entre as várias diversões presentes poderão encontrar montanhas russas electrizantes, carrosséis mágicos, a maior pista de carros de choque da Europa, um Kanguru Louco XXL, os Mega e Maxi Dance, e muito mais. A entrada é grátis, pagando apenas os visitantes por cada corrida nos equipamentos de diversão. O horário, de domingo a quinta, é das 15 às 23 horas, sendo que às sextas e sábados estará aberta até às 24 horas.

"CHAOS" | PORTO

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AGENDA

De 14 a 16 de Dezembro, às 21.30 horas, na Sala principal do Teatro Sá da Bandeira, poderão assistir a "CHAOS", espetáculo de Luís de Matos estreado em 2012 e que continua a conquistar o público, que o descreve como uma experiência mágica sem precedentes, uma coleção de mistérios tornados realidade em cada representação, uma viagem mágica, pessoal, intransmissível e memorável. Em Luis de Matos CHAOS, os mais estranhos elementos interagem de forma mágica e surpreendente. Ilusão ou realidade? A escolha é vossa.

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ÓBIDOS VILA NATAL | ÓBIDOS

Como já vem sendo habitual, Óbidos veste-se mais uma vez de branco para celebrar o Natal. De 30 de novembro a 31 de dezembro, na Cerca do Castelo de Óbidos, visitem a Óbidos Vila Natal, e deixem-se contagiar pelo espírito natalício. Recriando o misticismo e o espírito inerentes à época natalícia, Óbidos vai estar repleta de brilhos, estrelas, luzes e enfeites, num ambiente destinado a reunir e entreter crianças e adultos, fazendo despontar a imaginação e o encanto perante a reprodução de personagens como gnomos, renas, bonecos de neve, e o lendário Pai Natal. Mais informações em Óbidos Vila Natal.

"O QUEBRA-NOZES" | SETÚBAL

Pela segunda vez, o Russian Classical Ballet apresenta-se em Setúbal, com mais um bailado imortal com música de Tchaikovsky. “O Quebra-Nozes”, o mais natalício de todos os bailados, será apresentado a 21 de dezembro, pelas 21.30 horas, na Sala Principal do Fórum Municipal Luísa Todi.

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O FEITICEIRO DE OZ | SINTRA

Até 17 de dezembro estará em cena, todos os sábados pelas 16 horas e domingos, pelas 11 horas, "O Feiticeiro de Oz", uma peça apresentada pelo Byfurcação Teatro com encenação de Paulo Cintrão, música de Nuno Cintrão, e interpretações de Joana Lobo, João Parreira e José Frutuoso. Os bilhetes têm o valor de 5 euros e podem ser adquiridos na bilheteira da Quinta da Regaleira, local onde a peça será exibida, bem como nos postos de venda Ticketline. Para informações e reservas, contactar a Fundação Cultursintra FP através do telefone 219 106 650 ou email bilheteira@cultursintra.pt. "Quando o Kansas é atingido por um ciclone, Dorothy e o seu cão são levados pelos ares, parando num mundo novo, onde aventuras estranhas mas maravilhosas têm o seu início. Figuras como o homem de lata, o espantalho e até o leão medroso, juntam-se a Dorothy numa viagem até à cidade das esmeraldas, onde tem de encontrar o feiticeiro de Oz."

“JUMANJI”

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AGENDA

Dia 21 de dezembro não percam a estreia do filme “Jumanji”, em que quatro estudantes descobrem uma antiga consola de jogos de vídeo – Jumanji – e são de imediato transportados para o ambiente de selva do jogo, transformando-se literalmente nos seus próprios avatares. Só que eles não se podem limitar a jogar Jumanji – eles têm de sobreviver ao jogo. E, para sobreviver e regressar ao mundo real, terão de passar pela mais perigosa aventura das suas vidas – descobrir o que Alan Parrish deixou há 20 anos e mudar a sua visão deles próprios – ou ficarão presos para sempre no jogo.

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O

R E G R E S S O

D A S

PALAVRAS CÁ POR CASA por Inês Rocha

Cá por casa sou a única que gosta de escrever criativamente! Assim, os meus queridos homens divertem-se com o meu entusiasmo - mesmo que não o entendam muito bem quando começo a rabiscar algo novo ou tenho uma ideia ou projecto ao qual dedicar o meu espírito inquieto. Ao aprender a ler e a escrever abriu-se um horizonte ilimitado na minha imaginação, e as palavras tornaram-se as melhores amigas numa infância solitária e de constantes mudanças.

Quando consegui organizar as ideias que me povoavam a mente transportei-as para o papel, e então começaram a nascer o que eu pensava serem obras literárias escritas em folhas de cadernos, atadas com as linhas da caixa de costura materna, e com direito a capas desenhadas pela minha mão: nascia assim o desejo de ser escritora quando fosse grande! A escrita foi um exorcismo de sentimentos, angústias e dúvidas, surgindo assim com naturalidade a poesia na minha pré-adolescência, de qualidade algo duvidosa à luz dos dias de hoje mas tendo um papel importante na expansão dos meus horizontes em termos de escrita. Aventurei-me também como “jornalista”, criando um jornal chamado “A gazeta do Fogueteiro”, na sua maioria com notícias fruto da minha imaginação, ilustrado e escrito à mão, e vendido porta à porta por vinte escudos, que gastava depois em pastilhas e pirulitos. Não me recordo da receita obtida, acho que só teve uma ou duas edições, e não fiquei com nenhum exemplar, infelizmente. Todas estas aspirações não eram partilhadas com a família, mas fazia-o com as colegas de escola, a quem dava a ler as histórias que escrevia, recebendo um feedback bastante positivo. Entretanto, esses anos tenros foram ensombrados por uma doença no seio da família, que culminou em morte passados seis anos e veio marcar o meu percurso de vida; perante as dificuldades inerentes, abriu-se uma gaveta para nela encerrar por muitos anos os sonhos de menina; sentia-me incapaz de escrever, consumida por um caminho atribulado que em nada se assemelhava ao que eu idealizara para a minha vida.

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Volvidos esses anos, recorri às palavras e, numa espécie de terapia caseira, reatei relações com a minha mais velha amiga: renasceu a escrita em mim, num parto natural que me devolveu os sonhos, devagarinho. Dei passos tímidos, duvidei de mim e da qualidade do que escrevia, numa auto-crítica feroz que nem as opiniões alheias apaziguavam. Incitada por uma amiga criei o meu blog – estava agora numa era muito diferente do meu mundo de cadernos e canetas da infância. Daí a criar uma página de facebook foi relativamente rápido e natural e, aos poucos, fui desabrochando, sentindo-me a menina cheia de sonhos novamente. Participei aqui e ali em passatempos de editoras, publicando em antologias e coletâneas, colaborei num projecto de poesia da escola do meu filho - que morria de vergonha ao ver a mãe a dar uma das aulas a par da professora! - e iniciei projectos pessoais relacionados com a escrita que estão quase a ganhar forma concreta. Tudo isto com o velho sentido de auto-crítica intacto! Desde que as palavras regressaram a mim a minha vida mudou bastante, acompanhando-me num período mais negro e de poucas esperanças, por tempos atribulados de mudanças, e também de tranquilidade e alegria. Ela própria, a escrita, mudou também: cresceu, tornou-se mulher, mas manteve a mesma energia de uma adolescente, onde o único limite que existe é aquele que eu quiser que seja. A participação na Inominável foi um dos presentes do Universo, um mimo em tempos de bonança, sendo a cereja num dos vários topos de um bolo feito de muitas camadas e sabores, numa receita eternamente em elaboração, onde a cada passo se junta um novo ingrediente.

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A Accttoorreess

PLAY IT SAM! por José da Xã

A SÉRIO

Recentemente, o mundo do cinema entrou em choque com a catadupa de notícias sobre assédio sexual perpetrado por realizadores, produtores e a maioria das vezes por actores. O mundo cinematográfico, e não só, abriu a boca de espanto e vá de seguir com afinco cada dia e cada notícia, tentando trucidar, todos os dias, mais uma personagem. Foi por isso que achei que era a altura ideal para trazer aqui alguns dos meus actores preferidos.

Não pretendo com este meu gesto presumir qualquer culpabilidade ou inocência dos crimes, mas unicamente valorizar quem, pelo seu trabalho, mostrou empenho e qualidade. Porque a vida pessoal é de cada um… não obstante a sua profissão. Começo então por Charlie Chaplin, um actor, produtor e realizador multifacetado e que deu ao cinema dos mais belos momentos. O excerto que se segue é disso exemplo.

Esta lenda da sétima arte (no próximo dia de Natal comemorar-se-ão os 40 anos da sua morte) se hoje fosse vivo seria provavelmente

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também acusado de assédio, já que duas das suas mulheres tinham 16 anos quando casaram com ele. Estão agora a imaginar o que teria sido o cinema sem Charlie Chaplin? Pois… Falemos agora de Henry Fonda. Um homem do cinema mas também do teatro, onde mostrou grande talento. Começou relativamente cedo mas depressa ganhou notoriedade. Dele relembro belíssimos filmes como “As Vinhas da Ira”

ou a sua última grande-metragem, com a qual ganhou um merecidíssimo Óscar da Academia de Hollywood, intitulada “A Casa do Lago”.

CINEMA

Este monstro do grande écran foi, em toda a sua vida, casado cinco vezes. Calculo que sobre ele também recairiam algumas acusações de assédio, se ainda hoje vivesse.

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Saltemos para aquele que é para mim o meu actor predilecto de Hollywood. Diziam dele que não sabia rir, mas a verdade é que Humphrey Bogart marcou uma geração. Ele é, por assim dizer, a matriz máxima do que deve ser um portentoso actor de cinema. Dele guardo obviamente muitos e bons filmes. “À Beira do Abismo” é um deles.

e nem mesmo Raymond Chandler imaginaria melhor actor para fazer o papel de Philip Marlowe que Humphrey Bogart. Este actor americano teve também uma vida atribulada no que diz respeito a mulheres, já que em quatro anos casou “somente” três vezes. Não obstante ser um mito no cinema, ganhou unicamente um Óscar, com “A Rainha Africana”. Um filme fantástico onde contracenou com outra diva do cinema, Katharine Hepburn.

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Outro dos míticos actores de Hollywood foi sem margem para dúvida Anthony Quinn. Apareceu em dezenas de filmes e ganhou dois Óscares, unicamente como actor secundário. Talvez o seu filme mais marcante seja “Zorba, o Grego” do qual se passa o excerto final do filme:

Depois temos James Stewart, o eterno amigo de Henry Fonda, por quem o realizador Alfred Hitchcock mostrou uma enorme preferência para os seus filmes, aparecendo em quatro deles; “Vertigo” (título em português: “A mulher que viveu duas vezes”) foi a sua melhor aparição.

CINEMA

Eis assim uma mão cheia de grandes actores americanos que fizeram e ainda fazem as delícias dos verdadeiros amantes do cinema. Podia aqui trazer muito mais estrelas, mas guardo-me para próximas aventuras. Até lá, vejam bom cinema.

A gente lê-se por aí!

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MANIPULAR A MOTIVAÇÃO PARA

COMPETIR NA DESPORTIVA por Alexandre Alvaro

O encontro está perto do fim e estás a perder pela margem mínima. Está calor, o jogo foi muito batalhado e precisas que a tua mente te dê a energia que o corpo já não tem. O árbitro parou o encontro e tens alguns segundos para respirar e reflectir. O que vais fazer? Elaborar uma estratégia que te dê vantagem sobre o adversário? Convencer-te a ti próprio, em voz alta, de que vais vencer? Lançar um grito de guerra? Qual é a melhor maneira de não só te manteres concentrado e motivado, mas realmente jogares melhor?

Um grupo de cientistas britânicos pegou num pequeno jogo online (uma grelha de 6x6 em que o jogador tem de seleccionar os números por ordem crescente), juntou um número surpreendente de participantes - 44.742 - e pô-los a competir. Cada jogador tinha uma ronda de treino e três de competição contra um jogador do mesmo nível (que era, na verdade, um computador).

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Entre cada ronda os jogadores assistiam a um pequeno vídeo em que o Michael Johnson lhes dava uma curta palestra focada numa técnica mental específica, 12 diferentes no total. O impacto de cada estratégia estaria à vista nas diferenças que surgiram entre cada grupo (e em relação ao grupo de controlo, que não viu nenhuma palestra).

DESPORTO

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TÉCNICAS: As diferentes técnicas que utilizaram dividiam-se em 3 grupos gerais: Imaginação: criar imagens na nossa mente Diálogo interno: dizer a nós próprios, em voz alta ou não, que vamos conseguir fazer algo "Se-então": por exemplo, "se eu vir que o tempo está a terminar, então vou manter-me calmo e conseguir terminar o jogo" Estas técnicas subdividiam-se em 4 focos cada: Processo: durante o jogo Resultado: vencer o jogo, ou melhorar o tempo Instrução: melhorar a utilização de ferramentas ou técnicas que temos Gestão emocional: controlar as emoções, seja para ficar mais calmo, confiante ou enérgico

RESULTADOS: Como é óbvio todos os participantes melhoraram com a prática, incluíndo os do grupo que não viu palestra nenhuma. Mas, regra geral, todas as técnicas serviram para uma melhoria maior nos tempos, com excepção do grupo de Imaginação/Instrução - muito provavelmente porque a técnica e o foco são os mais difíceis de aprender e compreender, e a junção de ambos fará com que uma pessoa com pouca experiência nos dois se confunda e distraia do próprio jogo. Os melhores resultados foram para os grupos de Imaginação/Resultado, Imaginação/Processo, Diálogo Interno/Resultado e Diálogo Interno/ Processo. Destaque sobretudo para esta última, porque teve uma influência positiva não só na melhoria dos tempos, mas também na motivação e

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satisfação dos jogadores, o que é importantíssimo para que essa pessoa tenha o incentivo de continuar a melhorar e utilizar de novo esta técnica. Os diferentes focos de gestão emocional não resultaram em melhores performances, mas tiveram um impacto muito positivo na motivação e para que os jogadores se aplicassem mais na tarefa.

ESPECIFICIDADE: É preciso compreender que um jogo online, curto, que jogamos em casa, é uma tarefa com características muito específicas. A técnica "se-então", por exemplo, que teve os piores resultados, sai muito prejudicada porque se foca muito na resolução de um problema, um "se", e numa reacção estratégica a esse problema. Num jogo tão curto não há tempo para esse tipo de interactividade, mas quanto mais tempo temos ou mais relevantes são os erros que cometemos, maior impacto terá esta técnica. Aplicando este conhecimento ao desporto, será necessário ter em atenção as especificidades da própria modalidade. O futebol americano, por exemplo, é jogado em bursts temporais curtos mas muito explosivos e rápidos, enquanto o futebol tem um ritmo mais lento e longo. Um lutador de boxe precisa de combater com uma ferocidade igual à serenidade absoluta necessária ao tiro com arco. Além disso, entre cada pessoa há diferenças subtis que podem fazer com que certas técnicas funcionem melhor que outras. O que funciona com uma pessoa numa certa altura pode não funcionar para outra, ou para ela mesma num dia diferente. O importante será aplicar uma técnica e aprofundar esse conhecimento para evoluir.

DESPORTO

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miguel

MÚSICA

GAMEIRO

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Como é que nasceu a sua paixão pela música? Nasceu há cerca de 25 anos. Sempre gostei de música. O meu pai ofereceu-me uma guitarra e comecei a escrever e a compor. Aos 18 anos fundou, juntamente com António Villas-Boas, Rodrigo Ulrich, Francisco Aragão, Tó Rodrigues e Tiago Oliveira, a banda Pólo Norte. Como descreveria essa etapa da sua vida, enquanto músico? Foi uma etapa de descoberta. Foi a concretização de um sonho. Anos mais tarde, enveredou por uma carreira a solo. Quais são as principais vantagens e desvantagens, relativamente ao trabalho enquanto membro de uma banda? Uma banda obriga a um consenso e a algumas cedências. A solo, a liberdade criativa é total. Considera esta transição, de banda para cantor a solo, o percurso natural de um artista? Há bandas que estão juntas uma vida inteira. As coisas são o que são. Em 2016, 20 anos depois de terem gravado o primeiro dueto em “O Grito”, partilhou o palco com o Miguel Ângelo numa digressão pelo país, repetindo a experiência que já tinham vivenciado em 2011. Considera que a partilha do palco, e da música, entre dois artistas, acabam por os tornar mais ricos e completos? Todas as oportunidades para trocar experiências e pisar o mesmo palco são excelentes. Aprendemos muito e divertimo-nos muito também.

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MUSICALIZANDO por Marta Segão Como é que o Miguel, músico, se torna no Miguel, chef Continente? Em que momento é que a cozinha entrou na sua vida? Eu não me tornei Chef Continente. Fiz formação em cozinha na Escola de Hotelaria do Estoril e em Paris com Alain Ducasse. Estagiei também em alguns restaurantes de renome. “Maria” é o novo trabalho discográfico, composto exclusivamente por duetos com mulheres. Como é que surgiu esta ideia? Percebi que já trabalhei com algumas mulheres e colaborei com outras tantas. Achei interessante fazer um disco sobre e para a Mulher. O que considera fundamental para que um dueto funcione? Empatia. Quais são os ingredientes que não podem faltar nas suas músicas? Palavras que façam sentido e boas melodias. Sendo “Maria” um álbum que pretende celebrar a Mulher, podemos contar com o lançamento do mesmo a 8 de março do próximo ano? Dia 8 de Março de 2018 será o lançamento oficial do disco.

Muito obrigada!

Nota: Esta conversa teve o apoio da editora Farol Música, a qual cedeu também as imagens e vídeos.

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O

Ú l t i m o

J o g o

d e

MINECRAFT 2D3D por Rei Bacalhau

É reticentemente que carrego no botão. Sei que será muito provavelmente a última vez que o irei fazer para proveito próprio. Os quadrados e cubos são gerados perante os meus olhos, criando um novo mundo aleatório e relativamente incerto. Dou os primeiros passos no meu último jogo de Minecraft.

À minha volta elevam-se acácias tristes e isoladas, consistentes com o bioma de savana onde fui colocado. Dirijo-me a uma quase por memória muscular, pois o primeiro passo de qualquer novo mundo é dar socos em árvores para obter madeira. Sorrio ao pensar o quão pouco sentido esta frase faz no mundo real. Mas esse mundo ficou para trás. Agora tenho apenas de pensar em sobreviver. Adquiro madeira suficiente para começar a manufacturar algumas ferramentas básicas, nomeadamente uma picareta de madeira para perfurar um monte convenientemente posicionado para servir de base inicial e de mina. Procuro nas ervas secas da savana por sementes para poder plantar trigo, pois a comida começará a ser um problema eventualmente. Por enquanto irei subsistindo à conta de um rebanho de vacas que detectei aqui perto, já que não estou a fingir ser vegetariano.

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Nem sei bem qual é o meu objectivo. No Minecraft não existe nenhum concreto, por isso se calhar vou fazer o que faço sempre: fazer uma quinta, com hortas e um celeiro, bem protegida dos monstros nocturnos por uma cerca. Ah, claro, terei de fazer uma casinha, modesta como sempre, que eu não sou muito exigente. Para isto e muito mais dá jeito ter recursos minerais, para fazer ferramentas melhores e embelezamentos arquitectónicos. Vou para a minha mina improvisada e começo a cavar para baixo. Não directamente para baixo, claro! São as regras básicas: nunca se escava nem directamente para baixo nem directamente para cima. Os perigos ambientais são demasiados. Para baixo poderemos deparar-nos repentinamente com uma falésia profunda e cairmos desastradamente de uma altura mortal, para grande diversão e proveito dos habitantes das cavernas escuras. Para cima poderemos encontrar um aglomerado de areia ou gravilha que fará o possível para nos enterrar vivos, ou então mesmo magma, a profundidades suficientemente baixas. Penetro pela terra abaixo, cuidadosamente, e começo a ouvir os sons grotescos de monstros a deambular numa caverna próxima. Ao destruir mais um bloco de pedra, eis-me com acesso a uma gruta.

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JOGOS

Mas não é uma gruta qualquer. Verifico a existência de estruturas de madeira e pequenos troços de carris. É uma mina a sério, abandonada, criada sabese lá por quem, habitada por mortos-vivos, arqueiros esqueletais, aranhas gigantes e venenosas e, pior de tudo, por "eles", os que os ingleses chamam de “creepers”. Mato à espadada um zombie, adversário de pouco valor. Esta mina em que entrei não tem organização alguma, sendo quase um labirinto para os que não estão preparados para tais ocasiões. Não é o meu caso. Equipado com uma quantidade decente de tochas que ardem infinitamente, vou colocandoas sistematicamente nas paredes à minha direita, à medida que exploro as perigosas esquinas e galerias apertadas da mina. Para voltar, bastar-me-á

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sempre seguir as tochas pela esquerda. O sistema tem algumas falhas, mas é simples e funciona para a grande maioria das situações. Enquanto exploro, aniquilando com mais dificuldade os arqueiros mortíferos e as aranhas venenosas (e fugindo “deles”), vou extraindo os minérios que aparecem nas paredes: carvão, ferro, ouro. Quando estou satisfeito, volto ao ponto de partida, onde já construí uma escada de madeira até à minha base de operações. Fabrico ferramentas de metal, aumento a minha horta, construo a minha casa e uma pequena torre/farol para o caso de me perder numa exploração à superfície.

O meu espírito completivo fez-me voltar à mina abandonada para a explorar na sua totalidade, dando finalmente com uma falésia subterrânea enorme, uma das maravilhas naturais do jogo que, não sendo horrivelmente incomum, não deixa de ter sempre o seu charme após um primeiro vislumbre. É ao descer e investigar a base desta falésia que descubro um dos recursos mais raros, icónicos e cobiçados do videojogo: diamantes. Igualmente, é ao reflectir nas características brilhantes do mineral que me surge uma ideia essencialmente difícil de concretizar, mas que daria um bom projecto de construção. Para fazer jus à minha denominação ictióide, parece-me que terei de criar uma habitação que não esteja à superfície terreste. Decidi então criar uma espécie de aquário inverso na baía ao pé da minha base: uma estrutura oca de vidro completamente submersa, onde poderia estar mais em conformidade comigo próprio. Faço uns esquemas mentais enquanto arranjo a quantidade enorme de areia necessária para criar vidro suficiente para este projecto tão insano. Podereis não acreditar, mas construir debaixo de água pode ser mais irritante do que se imagina.

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Creio que vos devo uma explicação. Aliás, devo evidentemente, pois não iria fazer este relato todo sem um propósito claro em mente. Talvez alguns de vós já tenhais ouvido falar de um videojogo chamado Minecraft. Talvez não reconheçais o nome, mas tereis eventualmente um filho ou sobrinho ou neto que esteja de vez em quando pasmado no computador/consola a brincar num mundo virtual aos cubos. O sucesso explosivo deste videojogo há vários anos atrás catapultou-o para um possível merecido título de "obra-prima", neste caso não pela sua beleza estética, mas pela singeleza das suas mecânicas de jogo, em particular a liberdade quase total que qualquer indivíduo tem para fazer os projectos mais insanos que lhe vierem à cabeça, usando simplesmente cubos de várias cores e funções. Felizmente ou infelizmente, todos os videojogos acabam naturalmente por perder o seu apelo inicial, e com o passar do tempo fui-me esquecendo dele e concentrando-me noutros títulos. De alguma forma, sem realmente me aperceber, o Minecraft que eu conhecia transformou-se completamente e foi recentemente que fiquei chocado ao saber que há crianças de tenríssima idade já a destruir cubos neste mesmíssimo videojogo. Como se um relâmpago me tivesse acertado, descobri quase sem querer que já existem escolas, mesmo cá em Portugal, que ensinam crianças e jovens a programar usando Minecraft. E ainda mais aterrador do que isto é o facto de esta tendência de infantes a jogar o mesmo que eu já não ser nova. Aparentemente, há já muito tempo que o Minecraft é considerado um videojogo de crianças. Quanto mais reflicto neste assunto mais me convenço de que se calhar já me deveria ter apercebido disto há mais tempo. Os sinais andavam por aí. Lembrome, por exemplo, de ouvir falar de quererem fazer um filme sobre o Minecraft. É facilmente induzível que o público-alvo de um filme desses não é o adulto, mas sim uma faixa etária mais jovem. Dito isto, não tenho escolha senão em passar o testemunho para os pequenos. Já não consigo jogar Minecraft sabendo que já não é... correcto fazê-lo. Analogamente, é a mesma razão pela qual já não brinco com Legos. Há certas coisas com as quais só é aceitável brincar na companhia de um membro de uma ou duas gerações seguintes. Será a última vez que jogarei Minecraft? Sinceramente, talvez não. Talvez jogue com um familiar mais pequenote, não sei. Mas foi o MEU último jogo.

JOGOS

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MODA

TRACK

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PANTS

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As track pants, conhecidas como calças com risca lateral, são um must-have nesta estação. O modelo não é novidade, a Adidas tem algumas calças de fato-de-treino com riscas laterais, sabem do que falo? Então preparem-se para usar e abusar desta tendência! Eu sou uma grande fã e estou certa de que vocês também vão ser. Podem usar no trabalho, nas férias, ou na escola; a ideia é tornarem os vossos looks 100% práticos e fashion.

PARA FAZER SOBRESSAIR O meu modelo preferido são sem dúvida alguma as joggers, e aqui deixo algumas sugestões.

TENDÊNCIAS DE A a Z por Sofia Silva

DICAS

As riscas verticais criam a ilusão de pernas compridas, usem isso a vosso favor. O Natal está mesmo à porta, já fizeram as vossas compras? Porque não oferecer umas track pants? Estas são as minhas sugestões:

O que acham desta tendência?

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É Natal, é Natal...

'BORA LÁ FAZER?

Tralala-la-la

por Ana Delfino Aqui no atelier a azáfama é mais que muita, pois o Natal está a chegar. É a melhor época do ano para pôr a imaginação – e as mãos! – a trabalhar a mil à hora e criar peças bonitas para decorar a casa ou para oferecer.

A Gata Ceramista prepara o Natal Por estes dias andam a sair do forno muitos enfeites de cerâmica – lindos e originais. Olhem só:

Querem ver o resultado final? Então venham visitar-nos ao atelier e aproveitem para ver a exposição de peças que temos para venda. Já agora, porque não experimentar as nossas aulas de cerâmica decorativa? A satisfação de criar e ver sair das nossas mãos os mais diversos objectos é tão gratificante…! E um presente feito pelas nossas mãos tem sempre valor acrescentado. Cá vos esperamos!

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Inominável


Na Costuranita não há ponto sem nó Mas se as vossas preferências vão mais para o lado da agulha e linha, as aulas da Costuranita são a solução ideal. Aqui temos tudo para fazer o gosto ao dedo (mas sem picadelas!), incluindo os tecidos – e um monte de ideias giras!

E querem uma prenda original? Que tal oferecer um workshop de costura criativa? É só comprar um (ou vários, porque não…?) dos nossos vouchers, colocar dentro de um envelope bonito, enfeitar com um belo laçarote, e já está!

CRAFTS

Tenham um Feliz Natal!

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UMA ESPÉCIE DE

BROAS CASTELARES ESTAR NO PONTO por Dona Pavlova

Vou chamá-las de “Uma espécie de Broas Castelares”, apesar de não terem nada a ver com as tradicionais que se vendem um pouco por todo o lado nesta altura do ano. Estas são deliciosas e podem ser preparadas com os ingredientes que lá andam por casa, como por exemplo frutos secos, passas, aveia, stevia, banana, castanhas, etc., e torná-las nossas, ao nosso gosto e mais ou menos saudáveis. Se juntarem banana, por exemplo, reduzam o açúcar.

Receita (dá para +/- 50 broas) 500 gr de açúcar (branco, amarelo, mascavado, etc.) 300 gr pão com alguns dias 3dl de água 200 gr de amêndoa moída (farinha de amêndoa ou outras farinhas a gosto) 30 gr de coco ralado 4 ovos raspa e sumo de 1 laranja 1 colher de café de extrato de baunilha 1 gema para pincelar Leve um tacho ao lume com o açúcar e com a água até formar ponto pérola (quando forma uma pérola na colher). Entretanto demolhe o pão em água e junte-o bem escorrido ao ponto pérola. Envolva bem, retire do lume e junte os restantes ingredientes. Atenção para os ovos não cozerem; para isso não acontecer deite um a um e mexa sempre. Leve de novo ao lume e, sempre a mexer, deixe que a mistura engrosse e descole das paredes do tacho. Retire do lume e deixe arrefecer. Ligue o forno a 190º e forre um tabuleiro com papel vegetal. Com 2 colheres de sopa (como se faz para os pastéis de bacalhau) faça as broas, pincele com a gema de ovo e leve ao forno mais ou menos 15 minutos até estarem louras. Quando estiverem cozidas, retire e deixe arrefecer.

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CULINÁRIA

Coloquem uma dúzia num saquinho e ofereçam como presente de Natal a alguém especial. Experimentem! Garanto-vos que desaparecem num instante...

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Gripe

ou

Constipação?

DICAS DE FARMACÊUTICA por Margarida de Sá

Chegou o frio e com ele as tão temíveis doenças de inverno. Nunca sabemos bem: terei gripe ou estarei só constipado? Vamos lá tirar umas dúvidas. A constipação é normalmente uma situação mais comum e menos grave do que a gripe.

A constipação é uma doença infecciosa viral do aparelho respiratório superior, que afeta sobretudo a cavidade nasal. Existem mais de 200 vírus associados às causas da constipação, sendo os mais comuns os rinovírus.

Quais são os sintomas da constipação? Fadiga ligeira Dores de cabeça ligeiras Tosse ligeira Nariz entupido Garganta irritada Espirros Raramente dá febre Normalmente dura 3 ou 4 dias

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A gripe é uma doença causado por um vírus (Influenza) que é transmitido através de partículas de saliva de uma pessoa infectada, expelidas sobretudo através da tosse e espirros mas também por contacto direto, por exemplo através das mãos.

Quais são os sintomas da gripe? Cansaço Febre elevada Dores de cabeça fortes Tosse persistente Dores musculares e articulares Nariz entupido Garganta inflamada Espirros Pode durar 3 a 4 semanas Como podem observar, muitos dos sintomas são semelhantes, daí a confusão entre estas duas doenças de inverno. Convém sempre desconfiar de uma constipação muito prolongada no tempo... Quase toda a gente já esteve constipada, mas felizmente muitos de nós nunca tiveram gripe. A grande vantagem da gripe é que pode ser prevenida através da vacina. Esta é aconselhada a pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, a doentes crónicos e imunodeprimidos, a grávidas, aos profissionais de saúde e a crianças e jovens internados em instituições. Se pertence a algum destes grupos, ainda vai a tempo: até ao final do ano pode levar a vacina da gripe. Lembre-se de que a vacinação é a melhor prevenção!

SAÚDE

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Existem também algumas medidas muito simples para prevenir estas duas doenças: Lavar as mãos frequentemente Tocar o menos possível em objectos públicos (puxadores de portas, corrimões, transportes públicos, etc.) Evitar tocar com as mãos sujas nos olhos, nariz e boca Beber muita água (1,5 Litros por dia) Fazer uma alimentação saudável, ingerindo alimentos ricos em proteínas e vitaminas Fazer exercício físico Dormir bem Evitar mudanças bruscas de temperatura Evitar grandes ajuntamentos, sobretudo em recintos fechados (centros comerciais inclusive) Melhorar a circulação de ar, abrindo as janelas Proteger o nariz e a boca enquanto espirra ou tosse Usar lenços descartáveis Evitar bebidas alcoólicas Não fumar Parece uma lista muito grande de conselhos, mas todos são importantes para passar um inverno com saúde e para aproveitar esta época do ano da melhor forma. Também há muita coisa boa para fazer no inverno: passear, conviver à volta da fogueira com os amigos, fazer desportos de inverno e ter um

Feliz Natal, cheio de Saúde!

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PESSOA ANIMAIS & MAIS por Golimix

DE

CÃES O U

Até há dois anos, a quem me perguntasse eu diria que era uma “pessoa de cães”. Tive cães praticamente desde que nasci! E não passo por um na rua a que não faça festas, obviamente depois de avaliar se é seguro, embora já tenha feito algumas tolices. Mas tive de aprender a lidar com gatos desde que uma amiga me pediu socorro para um gatinho encontrado junto ao estabelecimento dela e que parecia ferido e assustado.

Mal vi aquele pequeno, de cerca de 5-6 meses, todo encolhido, numa caixa de papelão, o meu coração apertou-se. Trouxe-o para casa, e depois é que começaram as atribulações… Um gato??!!! Mas que me deu! Eu não sei tratar de gatos! O que é preciso? Que areia lhe ponho? Que comida lhe dou? De que vacina necessita? Como é que habituo o cão ao gato e o gato ao cão? Que caixa de areia compro? Caixa aberta ou fechada? Onde dormem? Castrar ou não castrar?

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Dediquei-me então a umas pesquisas rápidas e a perguntar a quem conhecia, e que sabia que possuíam felinos, o que fazer com a pequena criatura assustada que eu tinha em mãos. O que vou deixar aqui é o que fui aprendendo neste dois anos, e fruto não só da investigação por mim realizada, mas também da experiência. Primeiro que tudo, antes até de ter um gato é importante adquirir um arranhador. É imprescindível ter esse objeto precioso em casa! Os gatos arranham, é da sua natureza, e é preferível que o façam num arranhador do que nos móveis. Se a casa tem dois pisos, coloque um no piso de cima e outro em baixo! Gaste mais dinheiro agora e lembre-se dos móveis, principalmente sofás e cadeirões, já que bichanos adoram afiar as unhas neles! O passo seguinte é educar o gato a arranhar no local certo… O que significa que o bichano deve estar confinado, no início, a um determinado espaço onde a probabilidade de fazer estragos é menor. Assim que o possamos vigiar e corrigir o seu comportamento, devemos dar-lhe liberdade pela casa. Claro que se perde um pouco de tempo no início com esta educação “onde posso ou não arranhar”, mas vai valer a pena.

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ANIMAIS

Resulta muito bem colocar um spray de “catnip” no arranhador; contém uma substância, estimulante para muitos gatos, que se obtém a partir das folhas da Nepeta canaria. Não é aditiva e o seu efeito dura apenas uns minutos, mas é o suficiente para o nosso felino se interessar pelo arranhador. Também lhes despertará interesse se o gato vos vir a “arranhar” o dispositivo adquirido para o efeito. Vá... Quando pararem de rir eu explico! Sim. Se nós humanos simularmos que estamos a arranhar no local que queremos que o gato o faça, ele terá mais propensão para o fazer também. Muitos dos seus comportamentos surgem por imitação. De seguida devemos comprar um corta-unhas para gatos, e aprender a cortar as unhas corretamente - qualquer veterinário vos ensinará a fazê-lo; deve-se, então, realizar a manicura ao nosso felino amiúde, isto pelo menos enquanto ele não aprender a comportar-se. As unhas cortadas diminuem muito os estragos!

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Bem, agora que temos os móveis salvaguardados é só ter um local para realizarem as suas necessidades felinas mais básicas. Existem muito WCs para gatos à venda no mercado, para todas as bolsas e gostos. Atualmente até existem uns que se limpam sozinhos! Por alguns euros pode conseguir a ScoopFree, e gastando mais um bocado a Litter Robot, ou ainda a Catit SmartSift, que são umas maravilhas da tecnologia e um pesadelo para qualquer bolsa modesta!

Eu tenho uma simples, fechada e com carvão activado no topo, dizem “eles” que absorve parte do odor, coisa em que estou tentada a não acreditar. Como a minha gata só faz o número 2 uma vez ao dia (que é o que cheira pior) e a horas mais ou menos certas é, para mim, mais fácil limpar. Pessoalmente, prefiro retirar todos os dias as suas necessidades da caixa de areia. Também prefiro uma caixa de areia fechada, acaba por ser mais higiénico não ter à vista as necessidades, além de ser menos prazeroso olhar para a caixa aberta. Quanto à portinhola, para ela entrar no respetivo “aposento de necessidades” tive de a retirar. A bichana, que é uma picuinhas, não gostava nada de ser ver enclausurada ali e ficava piursa quando a porta lhe acertava no traseiro. Mas julgo que será uma questão de hábito. Quanto à areia, aqui é que a porca torce o rabo! Neste caso, a gata! Há tantas, mas tantas, que a escolher que até se fica tonto! Há sem cheiro, ou então com cheiro a pó de talco, a lavanda e sei lá que mais, existem areias finas, extrafinas ou grossas, aglomerantes ou normais, e a sílica, que não é bem uma areia mas faz as vezes da mesma. Ainda pode contar com um material de origem vegetal e biodegradável…. Enfim… mais uma vez, há para todos os gostos e preços!

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O que é que eu uso?

Uso a economia aliada à higiene e facilidade de limpeza. Compro uma areia normal, geralmente de marca branca, embora existam umas melhores que outras - algumas largam mais pó, e essas risco logo da lista. Além da areia normal compro também aglomerante e misturo um saco de aglomerante (de 5 L) com metade da areia normal. O que acontece é que a aglomerante me facilita a retirada diária dos xixis e cocós, e as duas juntas enchem mais a caixa e permite que durem mais tempo até ficarem saturadas. Faço a limpeza total da caixa de areia sempre que noto isso, que é à volta de mais ou menos 15 dias, sempre para mais do que para menos. Não esqueço é que a profundidade de areia deve rondar os 3,5 cm, já que eles gostam de escavar. Há, no entanto, quem diga maravilhas da sílica. Quando experimentei com o gato, este mandou-me ir dar uma curva e levar a sílica comigo! Além disso, o facto de não conseguir tirar a urina do bichano diariamente, porque é absorvida, causava-me uma certa impressão. Aquilo depois fica com uma cor amarelada nada agradável. Mas isso sou eu. O conselho é que experimentem de tudo, dependendo dos gatos que estão dispostos a ter, e vejam o que resulta melhor para vocês e para o vosso amigo de 4 patas. Pronto, agora já temos arranhador, casa de banho, só falta a comida. Essa é outra história… Existe também uma enorme variedade, e depois da tontura com a escolha da areia a seguir ficará de certeza com dor de cabeça!

ANIMAIS

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O que escolher para o meu gato comer? Mais uma vez, tudo depende de ter ou não a carteira recheada. É óbvio que uma ração de melhor qualidade é o aconselhável, mas sem gastar muito pode obter uma aceitável. E, neste caso, vale a pena gastar mais um pouco. Isto porque o pêlo e a saúde do bichano estão em consideração. Com uma boa ração cairá menos pêlo, e além disso ficará mais brilhante e sedoso; para gatos esterilizados podem evitar problemas renais e obesidade. Um certo número de coisas que temos de ter em consideração. Gasta-se mais na ração, mas poupa-se na conta do veterinário e em sacos de aspirador. Quanto à comida húmida, o meu sério conselho é que a use como petisco. Há veterinários que aconselham a que se dê o equivalente a uma colher de café por dia. E colocando o que sobra de uma latinha no frigorífico, isso faz com que dê para pelo menos 3 dias. Para os gatos que conheço, a hora desse pitéu é o ponto alto do dia! Eles adoram! Mas cuidado porque não é uma alimentação adequada e deve ser muito regrada.

Os gatos precisam de vacinação? Tenho uns vizinhos que sempre tiveram gatos e o que diziam é que eles não necessitam de vacinação. Ouvia aquela afirmação e nunca tentei confirmar a sua veracidade. Mas depois de praticamente me cair um peludo felino no colo essa preocupação tornou-se premente. Os gatos precisam de vacinas, sim! Tal como para outros animais, a prevenção é sempre o melhor caminho! E há muitas maleitas que poderemos evitar se tivermos o boletim do nosso amigo em ordem. Uma das doenças que podemos prevenir é a FELV, ou vírus da leucemia felina, que assume uma importância primordial se o gato vai dar uns “passeiozinhos” ao bairro.

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Esterilizar ou não esterilizar?

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Infelizmente em Portugal não existem campanhas de esterilização e não há o hábito de esterilizar os animais. Embora exista já alguma tendência para a mudança, ela ainda não é a sério. Esterilizar um animal, principalmente um bichano que poderá dar os seus passeios, é um comportamento que todos deveríamos ter, já que reduz muito a probabilidade de termos animais abandonados. Não é a primeira vez que surgem gatinhos deitados ao lixo em sacos plásticos e que alguém descobre. Aqui há dias foram atirados para um quintal, também embrulhados num saco plástico! Há coisas que não entendo… Uma veterinária que conheço dizia que tinha clientes que esterilizavam os seus gatos às escondidas dos maridos! Pergunto-me se os maridos dessas senhoras acharão que a castração se transmite, como uma virose!! Seja como for, se não for um criador esterilize os seus animais. É caro? Para uma fêmea o preço não é pêra doce, mas se ela não sair de casa, você tiver uns bons ouvidos e não se importar com as suas lamúrias quando ela está com o cio, até compreendo que não o faça. Mas se é um felino que pode sair, por favor esterilize-o. Nos gatos, diminui a chance de marcarem território, que é algo que possui um odor pestilento! E nas gatas evita o cio. Além disso, em ambos os géneros diminui a probabilidade de surgirem algumas patologias. Por exemplo a piometra, inflamação no útero comum em felinas idosas, e que pode ser fatal se não for realizada a esterilização. Assim como diminui a possibilidade de alguns tumores, no útero e ovários. Nos felinos, como lhes são removidos os testículos não terão tumores nessa região. Os bichanos não mudam de personalidade por serem esterilizados, continuam a brincar e são os mesmos de sempre, apenas poderão ter um aumento do apetite, daí a escolha de uma ração adequada, e poderão ficar mais calmos. No entanto, existe um maior risco de infeções urinárias nos gatos, mas mais uma vez existem no mercado rações que ajudam a combater isso. E uma boa higiene da caixa de areia também é ideal.

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Eu não notei nenhuma diferença nos meus animais antes e depois de esterilizados. E nenhum deles é obeso! Não se esqueçam é de que as gatas podem ser esterilizadas a partir dos 6 meses e os gatos podem ser castrados aos 8/9 meses (no entanto, num animal mais precoce pode acontecer ser mais cedo).

Comprar uma caminha para o gato?

Nisso os gatos são muito diferentes dos cães. Os meus cães deitavam-se sempre na caminha que eu lhes arranjasse, e onde estivesse a caminha era onde se deitavam. Já os gatos é que escolhem o seu local preferido, e não adianta adquirir uma caminha toda “XPTO” que ele não quer saber! O que eu fiz foi deixá-lo escolher o seu local e depois fui introduzindo um almofadão confortável naquele @rockntech.com.br local. Neste momento adora o almofadão e é lá que se deita. Mas se eu mudar a caminha de local ele já não quer saber dela, o que quer é o sítio que escolheu! Quanto a habituar o gato ao cão e vice-versa a coisa saiu mais fácil do que eu pensava, e passados 5 dias já eram os melhores amigos. No entanto, nem todos os animais são assim tão pacíficos. O importante é nunca forçar a presença de um ao outro e deixar que ambos se conheçam ao seu ritmo e tenham pontos de fuga. Logicamente, deve travar-se desde cedo a perseguição, que não se trata, muitas vezes, mais do que curiosidade que os cães têm em relação aos gatos. A verdade é que gatos são uma maravilha, e só quem os tem é que percebe o quando eles nos fazem bem. E melhor do que um gato é ter dois gatos! Sim, neste momento é a minha conta, e só não é mais porque aos que foram surgindo à minha porta lhes fui arranjando dono. E já não posso dizer que sou uma pessoa de cães, até porque este está em minoria.

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ANIMAIS

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Em

Dezembro Mร OS LARGAS por Ana Rita

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PASSATEMPOS

Em

Janeiro N 11 - Dezembro 2017

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Ter 3 X MÃE

Gémeos Gémeosé...

por Elsa Guilherme

Em jeito de resumo e a lembrar umas figurinhas dos anos 80 (Amor É...) aqui fica: saber que não teremos um segundo de descanso, pelo menos enquanto não estão a dormir; ter (quase) sempre alguém a chorar; saber que serão o melhor amigo um do outro o resto da vida (e ficarmos descansados por isso); arranjar maneira de conseguir pô-los no carro, sem que se molhem muito, quando estou sozinha com eles e chove copiosamente (nunca consegui sozinha – duvido que consiga...); dar banho aos dois ao final do dia quando estou sozinha (dou a um de cada vez...); esquecer a questão do contágio de doenças e dar a comida com a mesma colher (eles vão contagiar-se de qualquer forma); saber que quando um fica doente , dois ou três dias depois o mano também fica; amar a forma cúmplice com que se olham e comunicam (frequentemente); não gostar nadinha quando lutam um com o outro por causa do mesmo brinquedo, ainda que tenham dezenas de outros com que poderiam brincar (sempre...); aprender com eles o contágio do riso (quando um começa o outro vai atrás, é LINDO!); ter a certeza de que o ponto anterior também se aplica à asneira (não será tão lindo );

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amar quando um deles dá miminhos ao mano que está a chorar; saber que o dia acaba no mínimo às 10 da noite (a palavra cansaço não explica de forma clara o que acontece na realidade...); perceber perfeitamente que apesar de serem gémeos cada um tem a sua personalidade bem definida e distinta; perceber que ainda que tenham personalidades distintas têm tantas coisas em comum; maravilharmo-nos quando percebemos que sentem a falta um do outro; ficar aterrorizada só de pensar o que poderá acontecer se cada um fugir para seu lado (especialmente quando estou sozinha); achar que estamos a um passo da loucura (tipo praticamente todos os dias ); amar incondicionalmente cada momento (mesmo os menos bons) em dobro;

É UMA BENÇÃO E UMA GRANDE AVENTURA! Certo é que tudo o que foi escrito atrás se aplica a qualquer criança, mas no caso de gémeos tudo é exponenciado.

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O QUE

NÃO DIZER

A UMA NOIVA

LÁ VEM A NOIVA por Just Smile

Isto de ser uma noiva é uma novidade para mim. A palavra ainda me soa estranha aos ouvidos, mas lá me tenho habituado, apesar de nunca me apresentar como “noiva”, ao contrário do que tanta gente gosta de fazer: “esta é a noiva que trabalha em Y”, “esta é a Just, a noiva que se casa no próximo ano”. Não só deixei de ser apenas a Just, como passei a ser a Just, a noiva. E é quando estas apresentações acontecem que as conversas e os comentários mais cómicos surgem na minha vida. Deixo-vos uma lista das 5 coisas que NUNCA devem dizer a uma noiva. “Vais-te casar? A sério? Como?” Não compreendo o olhar incrédulo das pessoas quando digo que vou casar, sei que tenho ar de menina (este ar de anjinho ainda engana muita gente); mas juro que já tenho mais de 18 anos e que os meus pais nem precisam de assinar uma autorização para me casar. “Oh, vais-te casar. Pena depois tantos casamentos darem em divórcio.” Acreditem ou não, a palavra mais associada a casamento é divórcio. Inúmeras foram as vezes que a disseram, ao saber que me ia casar, e de seguida vieram com a lengalenga de que mais de metade dos casamentos dão em divórcio e que os jovens já não aguentam nada e blá, blá, blá. Não acreditam as vezes que disse com um sorriso amarelo, enquanto mordia a bochecha, “Pois é, olha mas vou arriscar, logo se vê!” É tão habitual virem com essa conversa que já deixei de lhes atribuir um mau presságio ou de culpabilizar o pessimismo dos portugueses. “Que desperdício de dinheiro!” Esta é uma das minhas frases preferidas! Casar pode ou não ser sinónimo de imensas despesas; para estes lados, como o noivo não deixou fazer o meu piquenique de sonho, as despesas aumentaram exponencialmente. Contudo, sabemos que o dinheiro gasto, o NOSSO dinheiro e de mais ninguém, será gasto na realização do NOSSO sonho. Graças aos céus não pedimos a ninguém, muito menos a quem adora fazer este tipo de comentário. Normalmente, até são pessoas que gostavam de se ter casado e nunca tiveram oportunidade.

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“A sério que vais de sapatos de cor?” De cada vez que digo isto, os mais tradicionalistas olham-me de lado. Normalmente respondo com um sorriso e afirmo alegremente “Vou, porquê?”, ao que me respondem secamente “nada, nada”. Se há coisa que tenho aprendido ao preparar o casamento é que toda a gente tem uma opinião quanto à forma como devemos ir, como nos devemos apresentar, como devemos organizar as coisas. Pena mesmo é não ser o casamento deles! Sem dúvida que guardei a melhor para último: “Tens a certeza de que queres casar?” Claro que não! Eu simplesmente decidi da noite para o dia “Olha, vou-me casar, apetece-me gastar imeeeenso dinheiro!” As pessoas olham para nós como seres estranhos, como se tivéssemos tomado uma decisão, que (supostamente) é para a vida, de ânimo leve. Aposto que (quase) todos os que se casaram ponderaram bem - afinal este é um enorme passo na vida de qualquer pessoa.

VIDA

Esta imagem foi adaptada desta

Estas são apenas cinco frases que ouço associadas à palavra casamento ou noiva. Coisas pouco simpáticas que são completamente desnecessárias de dizer a alguém que anda a preparar um dos dias mais felizes da sua vida. Para não transformarem uma noiva numa “Bridezilla”, deixo aqui só uma sugestão: felicitemna apenas.

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POR TERRAS NASCIDAS DO POR TERRAS NASCIDAS DO MAR

por Inês Rocha

MAR

Neste preciso momento, aquele em que escrevo de caneta e papel na mão, estou sentada em frente a um mar vasto, azul como ainda não tinha visto, assim desta maneira e frente a frente, ou melhor, no meio dele. Sinto-lhe o cheiro e ouço a sua canção feita de água e espuma. Estou rodeada de rochas vulcânicas, negras e vestidas de verde, emolduradas por um céu azul salpicado aqui e ali por nuvens cinzentas que não nos roubam o calor, mesmo que escondam o sol. Lá em cima vislumbra-se o farol, vigilante...

Hoje é dia 21 de Setembro e instalei-me há dois dias nos Açores, na ponta nordeste da ilha de São Miguel, encostadinha ao mar. Mas esta longa mudança, já anunciada na última edição, e na qual me despedi das terras de Rei Artur, começou no dia 8 em que, após atravessarmos o eurotúnel, deixámos Inglaterra para entrarmos em França, aos primeiros minutos de uma madrugada chuvosa. Primeiro desafio desta aventura que iria ser bem mais longa do que poderíamos imaginar: o GPS deixou de funcionar! E ali estávamos, três alminhas dentro de um carro, qual caracol de casa às costas – pois tudo o que pudemos trazer não ficou para trás! – sem sabermos qual a direcção a tomar, e sem condução assistida ... Restou-nos a clássica solução de nos guiarmos por indicações que, felizmente, tinham sido impressas nos últimos dias; nada como ter um plano B, por mais positivo e confiante que se seja! Bem, e ter um companheiro de viagem que gosta

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de se antecipar ao pior dos cenários! Foi assim, de roteiro na mão, que fiz o meu papel de co-pilota, de braço esquerdo nas (muitas) portagens por onde passámos num carro com volante à direita; lutei contra o sono, conheci muitos WCs pelo caminho, falei em inglês, francês e espanhol (ou “espanholês”, foi mais isso) e, durante uma viagem que durou mais de trinta horas quando a média seria de vinte, deparámo-nos com chuva constante, tendo de fazer pausas mais vezes do que o previsto. Dormi sentada, ora para a esquerda ora para a direita, e acabei por (não) ver a beleza dos Pirenéus na noite cerrada. Vimos, isso sim e para tristeza nossa, muita terra queimada, e sentimo-nos um pouco como ela, agastados e esfomeados, desejosos de um banho e de uma cama. Quando vi a placa onde estava escrita a palavra “Portugal” senti inesperadamente lágrimas nos olhos, e dei graças a Deus por a minha família viver a menos de uma hora da fronteira! Finda a via sacra, finalmente saboreávamos o calor da família, de um banho, de uma refeição decente...!

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VIDA

E por ali ficámos a usufruir de uns merecidos dias de férias em Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo, localidade conhecida como Vila das Artes e com um lugar especial no meu coração, tendo sido destino de férias em todos os verões da minha infância. Matei saudades da mãe, da irmã e dos sobrinhos, do sol, do acordar sem despertador, da vista da janela para a paisagem que é mais nossa... Ah, e da bola de Berlim...! Existe coisa mais saborosa que a doce languidez do estado de férias, e com a nossa gastronomia? Se existe, naqueles dias não me ocorreu nada melhor, dias esses que escorreram pelo calendário até que, quando dei por isso, estava no aeroporto a embarcar para uma nova vida, com as malas que pareciam ter-se tornado uma extensão de mim mesma e que haviam sido, até àquele momento, como que a minha casa, o espaço resumido da minha vida e do percurso que me levara até ali. O importante não são as coisas, é certo. Mas algumas delas podem reflectir-nos: aqueles livros, fotografias, aquela prenda que alguém especial nos deu, aquela outra que trouxemos de um sítio inesquecível... não é materialismo, são memórias que ganharam forma e corpo, e eu cada vez gosto mais delas! Depois de uma hora de atraso no voo e mais umas quantas no porto para ir buscar o carro, que seguira

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de barco uns dias antes, pusemo-nos a caminho de uma casa que eu não fazia ideia de como era. Mas também não era coisa que me preocupasse demasiado! E então descobri que não criar expectativas para além do básico pode trazernos surpresas maravilhosas - qual bónus do universo por não nos prendermos a coisas fúteis - como por exemplo uma casa espaçosa e a tal cozinha rústica com que sonhava. Sonhava mas não esperava... muito menos a poucos passos de uma linda vista para o mar! Esta é uma bênção nos dias de hoje, e vou tentar ter isso sempre em mente – porque acabamos por banalizar as bênçãos que temos – mesmo até nos dias menos inspirados. Assim, sem sobressaltos, e finalmente sem stress ou correrias, instalámo-nos na ilha...

Escrevo entretanto esta coluna aos poucos, ao ritmo dos lugares que começo a conhecer. Assim, eis mais um momento em que escrevo para vocês, passados três dias do último contacto muito próximo com o mar; estamos numa praia maravilhosa chamada “Lombo Gordo”. Tivemos de descer bastante, deslumbrando-nos com um caminho rico em natureza bruta, como é habitual por aqui. A areia que se entrelaça nos dedos dos pés é preta, e quando as ondas a vêm beijar dezenas de pedras, pretas também, fazem um som quase de tambor, enquanto rolam para cá e para lá ao sabor das vagas de espuma. No pontão ao fundo dois pescadores praticam pesca à linha enquanto eu aguardo que o meu futuro jantar seja caçado com arma e barbatanas nos pés. Um cão preto, da raça Labrador, escala as rochas como se de uma cabra de montanha se tratasse, e delicia-se cá em baixo com as ondas, rebolando na areia... e eu juro que quase consigo ouvir-lhe uma gargalhada! A comunhão com a natureza é, de facto, sentida por todos sem excepção. Assim, entre o frenesim de ajeitar o ninho – como eu gosto de dizer – de ir dando notícias aos familiares e de ir tratando de burocracias, chegou o dia em que senti ser de férias novamente, sem pensar em mais nada a não ser usufruir o momento. Conheci, naturalmente, o sítio mais turístico da zona e da ilha: as furnas! As caldeiras do vulcão, o seu cheiro a enxofre que a muitas pessoas ameaça com o vómito (mas que a mim não me incomodou), a vista de fazer perder a respiração, o milho cozido na caldeira que fez a delícia do meu filho, a lagoa mágica cheia de vida, dentro e fora de água, onde podemos ver patos e gatos, estes

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personificando uma cultura zen do live and let live... tudo isto são detalhes documentados em fotografias mas que não reflectem a cor - o verde! - não têm cheiro nem o som do silêncio que por vezes nos rodeia e actua como um bálsamo.

Praias imensas, recantos secretos, arco-íris de encantar, borboletas por todo o lado a esvoaçar, miradouros e as suas colónias de gatos, habituados a turistas e a uma vida livre, flores ainda com cor de primavera e outras no outono da sua vida, plantas únicas no mundo e um pássaro que só existe no nordeste da ilha agora o meu lar - centros comerciais e serras até ao mar, a fast food e o cozido das furnas, o cheiro de bolos de chocolate que só se vendem a partir da meianoite, e noites que cheiram a sal, céu azul iluminado de sol e furacões de passagem... tudo isto e muito mais são contrastes e detalhes de que falarei em cada edição, no contexto da minha nova vida e através do meu olhar como residente de uma das “Pérolas do Atlântico”.

VIDA

Este será também um Natal diferente, com outro cheiro e sabor, com menos azáfama e mais sentimento... será mais Natal, certamente! Mas, e como tem sido até hoje, não poderei falar do que ainda não vivi, pois tudo o que vos escrevo é baseado na experiência do aqui e agora. Até lá desejo-vos também um Natal autêntico, cheio de cor, amor e sabor! Por aqui nos voltaremos a encontrar, depois do nascer de um novo ano, e desta vez por terras nascidas do mar.

Com amor, da ilha. N 11 - Dezembro 2017

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VIAGENS

e Marrocos Marrocos a

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No estreito de Gibraltar, apenas 15 km mal medidos de água do mar separam Tarifa, no extremo sul de Espanha, de Tânger, no norte de Marrocos. A partir do Rochedo de Gibraltar, em dias claros é possível ver nitidamente o Jbel Moussa, a montanha com 850 metros que se ergue no extremo norte da costa marroquina. Há mais de cinco dezenas de travessias de ferry diárias que ligam Tânger às cidades espanholas de Algeciras e Tarifa. E todos os dias há voos directos que unem Portugal a várias grandes cidades marroquinas – como Casablanca, Marraquexe ou Fez – em pouco mais de uma hora. Marrocos está mesmo muito perto de nós.E no entanto, em Marrocos parece que estamos a muitos milhares de quilómetros do nosso país, como se num tão curto espaço de tempo tivéssemos atravessado meio mundo para lá chegar. Viajar em Marrocos não é só viajar no espaço para um outro continente – é viajar também no tempo, recuando para uma realidade que era em certos aspectos nossa ainda não há 50 anos, e viajar no nosso imaginário para tentar encontrar pontos de contacto entre a ideia (quiçá romântica) que temos deste país e aquilo que ele realmente é: um cadinho de culturas, de surpresas, e de anacronismos.

VIAGENS por Ana CB

aqui tão perto... Com uma área cinco vezes maior que a de Portugal e quase 13 séculos de existência (o primeiro estado marroquino foi fundado em 788), e com uma cultura que mistura influências berberes, árabes, europeias e da África subsaariana, em Marrocos há evidentemente muito para ver e absorver. Há cidades modernas como Casablanca ou Rabat, estâncias balneares criadas para satisfazer o turismo de massas, montanhas onde se esquia no Inverno, e grandes áreas de deserto onde nem sequer faltam enormes dunas de areia. Há ruínas romanas, aldeias que são cenários de filme, desfiladeiros rochosos, bosques de cedros, palmeirais que se perdem de vista, medinas labirínticas e, sobretudo, um mundo de contrastes onde o tradicional e o moderno coabitam em partes iguais sem grandes atropelos aparentes. Entre o tanto que há para conhecer em Marrocos, há contudo alguns lugares que são incontornáveis e merecem uma visita mais atenta e demorada. Estes são apenas alguns deles.

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CHEFCHAOUEN 56

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Esta pequena cidade azul e branca é um dos locais mais turísticos do país, mas consegue no entanto conservar um ambiente tranquilo e um encanto muito especial. Mantendo as suas características mais tradicionais – ruelas e escadarias estreitas e sinuosas, onde os gatos são uma constante e até encontramos cabras à solta, roupa a secar ao sol em frente às casas, restaurantes onde nos sentamos em cadeiras baixinhas e canapés estofados – está apesar disso mais “europeizada”, facto a que não será certamente alheia a sua posição geográfica no país, já bastante a norte.

A não perder: os cantos e recantos que encontramos ao virar de cada esquina. Chaouen (como também é conhecida) é perfeita para nela nos perdermos durante horas sem nunca sentir aborrecimento.

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FEZ

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A segunda maior cidade marroquina (a maior é Casablanca) está na realidade dividida em três zonas bem distintas: Fes-el-Bali (a cidade antiga, fundada no séc. VIII); Fes-el-Jdid (a parte nova, construída no período em que o país foi protectorado francês, entre 1912 e 1956); e o Méchouar, o complexo do palácio real. Fez é a mais antiga cidade imperial de Marrocos e foi por diversas vezes capital do país; pela sua importância histórica, cultural e espiritual é também um dos ícones da civilização islâmica. Menos divulgada turisticamente do que outras suas congéneres, Fez é provavelmente a cidade mais interessante de Marrocos, e aquela que merece mais tempo de visita.

A não perder: a medina de Fes-el-Bali; classificada como Património Mundial pela Unesco desde 1981, tem várias particularidades que a tornam especial – é a maior zona livre de veículos automóveis do mundo, um perímetro murado com 20 quilómetros que ocupa 350 hectares e contém no seu interior 9400 vielas, mais de 13 mil edifícios, 3 mil monumentos históricos, e cerca de 200 mil fassi (habitantes de Fez); abriga, entre muitas outras jóias, a universidade de al Quaraouiyine, fundada em 859, o que faz dela a mais antiga universidade do mundo ainda em funcionamento; e no souq dos curtumes, uma ampla (e fétida…) área ao ar livre, as peles de animais continuam a ser tratadas manualmente em grandes tanques por homens imersos na água até à cintura, num processo que quase não mudou desde os tempos medievais. Numa primeira visita à medina vale muito a pena contratar um bom guia oficial, que nos leva prontamente a todos os locais de interesse e nos elucida sobre muitos aspectos da cultura e da sociedade marroquinas.

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VOLUBILIS 60

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Marrocos consegue manter ainda vários segredos pouco divulgados, e as ruínas romanas de Volubilis são um deles. Engane-se quem julgar, vendo o local ao longe, que são meia dúzia de pedras sem interesse. Também classificado (desde 1997) como Património Mundial pela Unesco, o local está a ser actualmente escavado e recuperado, pondo a descoberto belíssimos mosaicos e algumas estruturas (relativamente) intocadas. A cidade foi fundada pelos cartagineses no séc. III a.C., mas foram os romanos que a desenvolveram, sensivelmente a partir de 25 d.C. Foi uma cidade próspera e vibrante, tendo atingido no seu auge uma população de 20 mil almas.

A não perder: a melhor hora para visitar Volubilis é à tarde, quando o sol já começa a declinar – para evitar a hora de maior calor e também para usufruir do bonito pôr-do-sol naquele ambiente especial. E se alguém vos disser que meia hora chega para visitar o local, não acreditem: Volubilis é para ser apreciada com calma.

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AZROU 62

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Aninhada no Atlas, e tal como a vizinha cidade de Ifrane, Azrou deve grande parte da fama à sua estância de esqui e por isso é sobretudo frequentada no Inverno. Aqui a arquitectura reflecte totalmente essa vocação, e parece que estamos numa qualquer cidadezinha alpina e não em pleno norte de África.

Mas o maior ponto de interesse desta zona durante todo o ano é o bosque de cedros que se estende às portas da cidade, e sobretudo os seus habitantes especiais: os macacos-berberes (ou macacos-de-gibraltar). Apesar de a sua população estar a diminuir drasticamente, ainda é relativamente fácil vê-los mesmo junto à estrada que passa pelo bosque – e não é raro ter de parar o carro para deixar que atravessem sem riscos de atropelamento. A não perder: tentar ver os macacos, obviamente. Não é permitido parar o carro na estrada, mas é obrigatório reduzir (muito!) a velocidade, pelo que com um pouco de sorte é possível avistar alguns. O ideal será fazer um percurso a pé pelo bosque, com cedros lindíssimos, alguns deles bem antigos – estima-se que o mais velho de todos, o Gourand, terá mais de 800 anos de idade.

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MERZOUGA 64

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Esta pequena aldeia berbere está situada mesmo junto ao Erg Chebbi, um dos dois ergs do Saara marroquino, e como tal é inteiramente devotada ao turismo. Apesar disso mantém um ambiente tranquilo e modorrento, próprio das regiões desérticas quentes. A pé ou de camelo é muito fácil chegar à zona dunar, e não é preciso andar muito para nos vermos completamente rodeados de areia. Menos fácil é no entanto tentar atingir o topo das dunas mais altas, que chegam aos 150 metros – a subida é muito mais íngreme do que parece, e os pés enterramse na areia fina, o que não ajuda nada a progressão. Um verdadeiro desafio! Por aqui é também possível pernoitar em tendas berberes, devidamente adaptadas com maior ou menor conforto (consoante o preço) aos tempos modernos.

A não perder: passear nas dunas, obviamente, de preferência ao pôr-do-sol; os passeios de camelo são muito populares entre os turistas (e são uma experiência interessante, pela singularidade da posição e do movimento ondulante do animal), mas infelizmente nem sempre os animais são bem tratados, sobretudo quando se mostram mais teimosos; já passear a pé é uma actividade perfeitamente compatível com as boas práticas de viagem, e muito saudável – desde que, obviamente, não se escolha a hora de maior calor, e se leve muita água.

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GARGANTAS do TODGHA

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Na zona leste das montanhas do Alto Atlas, o rio Todgha abriu o seu caminho no solo pedregoso e escavou desfiladeiros fundos entre paredes rochosas, formando escarpas que atingem por vezes 200 metros de altura. Reduzido a um pequeno ribeiro na época seca, quando chove o Todgha aumenta rapidamente de caudal e percorre o desfiladeiro numa torrente impetuosa e lamacenta, chegando por vezes a cortar a estrada e até mesmo a destruir algumas das pequenas pontes erguidas ao longo do caminho. Nestas alturas a forma mais segura de percorrer o desfiladeiro é num todo-o-terreno, pois certas passagens têm de ser feitas a vau.

A não perder: a zona mais grandiosa das gargantas é a parte final (para quem vem de norte), onde o rio corre apertado entre paredes verticais com 160 metros de altura.

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KSAR de AIT-BEN-HADDOU

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Em Marrocos, um ksar é uma cidade fortificada, e o de Ait-Ben-Haddou está também designado pela Unesco como Património Mundial. Fundado no séc. VIII e formado por um conjunto de vários kasbahs (castelos) erguidas junto a um rio, o Ksar de Ait-Ben-Haddou é um fantástico exemplo da arquitectura tradicional do sul de Marrocos, com os seus edifícios feitos de lama. Apesar de hoje já serem muito poucas as famílias que ali vivem (há uma aldeia mais recente do outro lado do rio), a popularidade turística deste ksar tem ajudado à sua manutenção e recuperação, a que também não é alheio o facto de ser desde há pelo menos 50 anos lugar eleito como cenário de vários filmes e séries (sendo a mais recente a famosa Guerra dos Tronos).

A não perder: subir até à muralha erguida no topo da aldeia para ter uma visão de 360° sobre o ksar e o vale circundante.

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KASBAH de Tร LOUET

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Este é mais um dos segredos de Marrocos. Numa aldeia perdida no Atlas, a 1800 metros de altitude e disfarçadas por um exterior (infelizmente) em ruínas, neste kasbah subsistem bem conservadas algumas salas de um dos mais bonitos palácios marroquinos: o Dar Glaoui. Local de passagem das caravanas que ligavam o Saara a Marraquexe e próximo de grandes minas de sal, em finais do séc. XIX Télouet era uma localidade próspera e a capital da tribo berbere dos Glaoua. No sistema feudal ainda em vigor na época, o líder da tribo detinha vantajosos poderes administrativos, conferidos pelo sultão, numa área que chegou a abranger grande parte dos territórios a sul de Marraquexe.

O Kasbah de Télouet cresceu consideravelmente quando em 1912 Thami El Glaoui herdou a liderança dos Glaoua e o título de paxá de Marraquexe. O palácio foi aumentado e redecorado com pisos de madeira de cedro pintado e com ornamentos de estuque e azulejos coloridos nas paredes – e consta que o complexo terá chegado a albergar mais de mil pessoas. Tendo sido manifestamente apoiante dos franceses, quando Marrocos resgatou a sua independência El Glaoui caiu em desgraça, e depois da sua morte em 1956 o kasbah foi deixado ao abandono até 2010, altura em que começou a ser lentamente recuperado.

A não perder: compensa pagar a um dos “guias” que se encontram à entrada do caminho de acesso ao kasbah – o valor que cobram é reduzido (aliás em Marrocos quase tudo é barato, pelos nossos padrões) e ficamos a conhecer com maior detalhe a história do kasbah e da região.

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MARRAQUEXE 72

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É provavelmente a cidade marroquina que mais turistas atrai, e aquela em que se pensa imediatamente quando se fala de Marrocos. Também cidade imperial e antiga capital do país, é conhecida como “cidade vermelha”, pela cor das suas muralhas e de muitos edifícios. Eu substituiria “vermelho” por “rosa” – aquele rosa escuro e profundo em que se transforma o vermelho depois de muito queimado pelo sol. Cheia de contrastes, aqui coabitam o velho e o novo, a tradição e a modernidade, o básico e o luxuoso. Com quase 1 milhão de habitantes, a cidade acorda cedo e adormece tarde. As grandes avenidas da parte nova têm um trânsito intenso, e a extensa e labiríntica medina é quase caótica, com motoretas, bicicletas e carroças apressadas a passarem “tangentes” aos peões e um cheiro permanente a combustível no ar. Na segunda metade do século passado Marraquexe “caiu no goto” de algum jet set artístico e a cidade tem vindo consistentemente a popularizar-se como destino turístico de eleição (na minha opinião muito pessoal, talvez até demasiado para o que merece, pelo menos por comparação com outras cidades de Marrocos).

A não perder: os Jardins Majorelle e o Museu Berbere, na propriedade que pertenceu a Yves Saint-Laurent, e ao lado o recém-aberto museu dedicado a este famoso costureiro; dentro da medina, a Madraça de Ben Youssef, antiga e reputada escola corânica; e, como é óbvio, a incontornável Praça Djemaa el-Fna, com o seu ambiente tão peculiar – mas só depois de entardecer, que durante o dia é apenas mais um lugar de passagem sem grande interesse particular.

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A LUZ E O OLHAR por Gil Cardoso

A FOTOGRAFIA depois do OBTURADOR Escolho o motivo. Escolho o enquadramento. Escolho a abertura, velocidade e sensibilidade à luz. Carrego no botão do obturador e tiro a minha fotografia. Pronto, está feito! Não, nada mais errado! É precisamente aqui que começa todo um novo mundo. É precisamente aqui que começam as possibilidades, com a foto-edição.

Os sensores das máquinas digitais têm dificuldade em “ver” todo o cenário da mesma forma que o olho humano. Nem sempre os contrastes entre as altas e baixas luzes são os melhores, e por vezes as sombras são excessivas na nossa composição. É necessário recorrer a software de edição de imagem e aplicar essas correções. As possibilidades são imensas, algumas mais populares do que outras. Pessoalmente, destaco o Adobe Photoshop Lightroom.

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Este verdadeiro laboratório fotográfico é, se comparado com o processo de revelação de negativos, a verdadeira câmara escura dos tempos modernos. Além de todo o potencial de edição, permite catalogar as fotografias, ordenar por pastas, criar coleções personalizadas, imprimir provas, e até criar livros ou vídeos. Um potencial quase inesgotável. Para quem está a dar os primeiros passos no mundo da fotografia, a minha recomendação é que explorem este software, mas acima de tudo invistam numa formação sobre o interface. Para aumentar o vosso interesse sobre o Lightroom (Lr), vou mostrar alguns exemplos de como se podem melhorar os resultados de uma foto. E não esqueçam que eu parto sempre do princípio que defendi desde o início; fotografar SEMPRE no formato RAW. Sem processamento da câmara, sem perda de informação no ficheiro. Mesmo que a fotografia inicial vos pareça sempre esquisita, não se esqueçam de que estão a ter um ficheiro 100% puro. O potencial de edição é cinco vezes superior ao da mesma fotografia se estivesse no formato JPEG. Por exemplo, fotografar de forma a conseguir um bom detalhe nas zonas sombrias sem sobre-expor as zonas de maior intensidade de luz é uma tarefa por vezes complicada. Em pósprodução, podemos criar filtros gradientes e trazer um novo detalhe e cor às zonas mais luminosas. Podemos ainda fazer de forma inversa: colocar o filtro gradiente sobre as zonas mais sombrias, e depois clarear um pouco, de forma a fixar com detalhe em toda a composição.

FOTOGRAFIA

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Ou simplesmente explorar o potencial do software. Este exemplo da vista que se tem desde o Miradouro do pico do Ferro para a Lagoa das Furnas, em S.Miguel, mostra bem que podemos criar fotografias diferentes. Zonas de sombras completamente detalhadas, a lagoa com um fascinante efeito espelhado, e depois o céu com um aquecimento da cor. Esta fotografia foi tirada já com o sol completamente escondido pela montanha, com a última claridade do dia ao fundo.

Podemos dar um tom de aquecimento nas cores, por exemplo, de um motivo fotografado ao final do dia.

Isolar cores ou motivos é cada vez mais comum, porque também é cada vez mais fácil fazê-lo.

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Mas nem tudo é complexo e obriga a extensos passos de edição, ou a um perfeito domínio da técnica. Há pequenas coisas que são feitas de forma simples, rápida e intuitiva. Saturar um pouco as cores:

Melhorar os detalhes nas sombras:

FOTOGRAFIA

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Clarear toda a composição:

Se ficaram com interesse nesta temática da edição, pessoalmente recomendo o Adobe Lightroom. Podem, no site da Adobe, descarregar o software para avaliação. A aplicação é válida por 30 dias a contar da data de instalação e sem qualquer compromisso. No princípio pode parecer complexo, mas o video abaixo, é muito interessante e explica o princípio do software e os primeiros passos: importar fotos, criar o catálogo, edições básicas e exportar diretamente para as redes sociais.

Até breve, e boas fotos!

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à margem da

BIENAL parte 1

HISTÓRIAS DE ARTE por Ana CB

“A arte de hoje, em face dos conflitos e tumultos do mundo, testemunha a parte mais preciosa da humanidade, num momento em que o humanismo está precisamente em perigo. Ela é o lugar de excelência da reflexão, da expressão individual e da liberdade, e também das questões fundamentais. Mais do que nunca, o papel, a voz e a responsabilidade do artista são por isso cruciais no contexto dos debates contemporâneos.” Chistine Macel, Curadora da 57ª Exposição Internacional de Arte / Bienal de Veneza

A Bienal de Veneza é uma das instituições mais antigas, importantes e prestigiadas do mundo artístico. A história da Bienal recua a 1895, data em que foi realizada a primeira Exposição Internacional de Arte, e apesar de desde os anos 30 terem vindo a ser criados pela instituição vários festivais e exposições especificamente dedicados a áreas artísticas diversas (música, cinema, dança, teatro, arquitectura), a Exposição de Arte continua a ser o evento mais frequentado, comentado e artisticamente influente de todos, registando actualmente mais de 500 mil visitantes ao longo dos seus vários meses de duração. A deste ano teve início em 13 de Maio e encerrou portas no domingo passado, 26 de Novembro; apresentou trabalhos de 120 artistas convidados oriundos de 51 países, 103 dos quais participaram nesta Exposição pela primeira vez, além de 23 eventos colaterais e vários outros projectos especiais e paralelos. Mas há mais, muito mais. Em Veneza, uma cidade onde se respira arte, a influência da Bienal estende-se por todo o lado como os tentáculos de um polvo, pelas ruas e ilhas, pelos jardins, pelos palazzi, pelas igrejas. São incontáveis as obras expostas ao público, isoladamente ou em grupo, de artistas vindos dos quatro cantos do mundo. Um verdadeiro vendaval de arte que revolve a cabeça de qualquer visitante da cidade nos anos em que se realiza a Bienal. É precisamente de alguns desses projectos que aqui vou falar.

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Support / Lorenzo Quinn A obra que se tornou o ex libris da Bienal deste ano não estava nos recintos típicos da exposição mas sim junto ao hotel Ca’ Segredo: duas mãos, brancas e descomunais, emergindo do Grande Canal para suportarem o edifício. Nas palavras do artista, “Veneza é uma cidade de arte flutuante que tem inspirado culturas desde há séculos, mas para continuar a fazê-lo necessita do suporte da nossa geração e das futuras, porque está ameaçada pelas alterações climáticas e pela decadência provocada pelo tempo”.

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Ve(s)tige/Ve(r)tige / Enki Bilal Bilal é um nome grande daquela a que já se convencionou chamar “nona arte”: a banda desenhada – e eu assumo desde já que é o meu criador favorito de BD. Com incursões esporádicas noutras áreas conexas à sua arte principal (como por exemplo o cinema), no Museu Arqueológico de Veneza esteve exposta uma instalação da sua autoria, através da qual Bilal propunha ao visitante um experiência que misturava transparência, reflexão e vibrações sonoras. Expostos como se se tratassem de achados arqueológicos (fazendo assim a ponte com o próprio espaço expositivo em que estavam inseridas), os objectos/desenhos que ilustram as várias fases do trabalho do artista materializam uma cartografia da vertigem, onde jogam os reflexos do plexiglass do módulo que contém a instalação.

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Ritratto continuo mod. 3.375.020.000 Francesca Montinaro O número que faz parte do título desta instalação em vídeo é o total aproximado da população feminina em todo o mundo. Todas as mulheres que foram filmadas para este trabalho estiveram sentadas numa mesma cadeira, a qual esteve também em exibição na forma dos seus componentes, completamente desmanchada. A artista pediu a cada mulher que reflectisse sobre a sua identidade e o seu papel, e que resumisse tudo isso num gesto simbólico – sujar as mãos e escrever nelas uma mensagem, que ficará registada para as gerações vindouras. Um testemunho da convicção de que as mulheres são uma força vital e podem ter uma influência positiva no futuro da humanidade e do mundo.

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Diaspora Pavilion Esta exposição, apresentada pelo International Curators Forum (ICF) e pela University of the Arts London (UAL) no Palazzo Pisani, foi concebida como um desafio à habitual prevalência de pavilhões nacionais na estrutura da Bienal, e juntou 19 artistas etnicamente diversos mas que trabalham essencialmente no Reino Unido, cujas obras falam eloquentemente das infinitas complexidades da ideia de nacionalidade, ao mesmo tempo que sublinham a importância que a realidade vivida da diáspora continua a ter nos nossos dias para a construção de um sentimento de identidade. De entre os trabalhos expostos, o de “maior fôlego” é a instalação “British Library” de Yinka Shonibare: uma divisão forradas de estantes com livros, em que cada volume está embrulhado em tecidos batik concebidos pela artista e tem no dorso, em letras douradas, o nome de alguém (uns mais famosos, outros menos) que foi imigrante no Reino Unido e contribuiu para enriquecer a cultura britânica. No centro da divisão existe uma secretária onde estão instalados tablets

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que os visitantes podem usar para pesquisar os nomes impressos nos livros e conhecer melhor a vida e a carreira dessas pessoas. No espaço térreo do palazzo esteve exposto o novo trabalho do escultor Hew Locke, “On The Thethys Sea”: uma flotilha de embarcações penduradas por fios, como que dirigindo-se na nossa direcção, cada barco decorado com uma mistura de ícones culturais e talismãs místicos – como se fosse um desfile de festa – numa clara alusão às inúmeras embarcações de refugiados que todos os dias cruzam o Mediterrâneo. Nas paredes da escadaria para o piso superior, destaque para “Transcended”, desenhos a carvão de Barbara Walker baseados em fotografias de soldados voluntários do Regimento Britânico da Índia Ocidental durante a 1ª Grande Guerra – homens que se voluntariaram para combater na Europa com os Aliados mas se viram relegados para simples postos de apoio e se revoltaram contra essa discriminação.

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The dish ran away with the spoon. Everything you can think of is true Robert Wilson Deixei propositadamente para o fim a exposição que foi para mim a mais deliciosa das que vi – e não, não foi por ser patrocinada por uma marca de café… A Colecção de Arte da conhecida marca Illy iniciou-se em 1992 com a chávena concebida por Matteo Thun, e desde essa altura já mais de 100 artistas prestigiados criaram desenhos para decorar esta chávena. Este ano a Illy celebrou o 25º aniversário da sua Colecção de Arte durante a Bienal com uma exposição absolutamente arrebatadora, criada pelo artista americano Robert Wilson e dividida em sete espaços que combinavam uma ampla variedade de estilos artísticos. Uma viagem que convocava todos os nossos sentidos, cada espaço com o seu próprio ambiente onírico de grande impacto visual e emocional, povoado por animais e referências ao imaginário das canções e histórias infantis, e terminando inesperadamente numa “Wunderkammer” onde a imagem de uma menina de vestido esvoaçante, segurando numa chávena de café, se fundia num cenário nocturno marítimo e idílico, num ambiente sonoro de riso cristalino, como que convidando à tranquilidade necessária para apreciar um bom café e aludindo à satisfação que esse acto pode trazer.

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O Natal e os

LIVROS ANEXO por Márcia Balsas

O Natal tornou-se um fenómeno que começa cada vez mais cedo. Se quando eu era criança os preparativos começavam na semana anterior, mais coisa menos coisa, hoje em dia o evento é planeado com meses de antecedência.

Esta situação tem um efeito diabólico nas crianças, que começam logo a chatear o Pai Natal e a sua mulher Popota com pedidos de tudo o que a publicidade (essa malvada) lhes enfia pelos olhos dentro. O efeito não é menos aterrador nos viciados em livros que, agora que penso nisso, por vezes mais parecem crianças. Não vale a pena esconder, eu não gosto do Natal. Pronto, já disse. Quero dizer, gosto de algumas coisas, como da comida e dos presentes. Vendo bem, é disso que toda a gente gosta, pois já ninguém se lembra de que o Natal em tempos foi a festa da amizade e da família, da partilha e dos encontros. Bom, como a comida é a área da Dona Pavlova eu vou falar dos presentes. Sendo que para mim só há um tipo de presentes: livros. Eu não percebo porquê, mas as pessoas costumam dizer que é muito difícil comprar-me livros. Porque eu tenho muitos e têm medo de oferecer livros repetidos, ou porque não conseguem acompanhar as minhas leituras e não sabem o que mais me interessa no momento, e ainda porque (a minha favorita) já me deram livros e agora querem oferecer-me outras coisas.

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Bom, gente, tenho a dizer-vos o seguinte: os livros repetidos podem trocar-se, desde que guardem a factura da compra, se não sabem as minhas preferências informem-se sondando-me de forma subtil ou perguntem directamente aos meus amigos. Ou arrisquem. Por uma vez entrem na livraria e escolham-me um livro. Leiam as sinopses apreciem as capas, descubram um trecho à sorte, cheirem os livros. Quem sabe não saem da loja com um livro para mim e outro para a vossa mesinha de cabeceira (de preferência diferentes para podermos trocar). Se nenhuma destas sugestões vos convencer ofereçam-me um clássico da literatura, são normalmente apostas vencedoras. Por último, mas muito importante, quando vos apetecer comprarme outras coisas esperem que essa vontade passe e vão a uma livraria (de carteira recheada, de preferência). Sim, o (meu) mundo seria um lugar melhor se o meu Pai Natal seguisse estes conselhos. Acontece que não há mundos nem vidas perfeitas e todos os anos tenho de ser uma espécie de duende da oficina do Pai Natal para mim mesma. Se eu gosto disso? Não muito. Mas é melhor receber os livros da minha lista do que cuecas, meias, cachecóis, sabonetes, cremes e demais lembranças natalícias. Todos os anos selecciono um conjunto simpático de títulos que

LEITURAS

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Quando o Pai Natal se apaixona, DEVERÁ HAVER NATAL? Era uma vez… Assim começavam as histórias que sempre ouvi e fazem parte do meu baú de recordações… Ora eram de reis, ora de piratas… ou então de meninos bem e mal comportados, com lição de moral no final do enredo… Por norma eram estes os protagonistas das histórias do antigamente. Os tempos mudam e como tal também as narrativas evoluem e acompanham a fita do tempo. Os contextos são outros: a monarquia está moribunda, só há bons rapazes e piratas só existem nas Caraíbas, versão Johnny Depp. Enfim, novos tempos em que as crónicas se adaptam às realidades actuais…

CONVIDADO

As histórias querem-se alegres, mesmo que de início reine a tristeza e esta, mais que uma história, é o relato de um dilema que vivo e a prova sentida de que não estamos a salvo de nada, nem das consequências de uma simples resposta a um anúncio para um curto emprego. A globalização tem destas coisas e uma ocupação para um país estrangeiro com direito a alojamento, refeições e ajudas de custo, não é de deitar prò borralho. Pode custar a habituação, mas um bom profissional não altera essa condição por uma simples mudança geográfica. E cá estou eu, recém-chegado de Pikku-Poikela, pequeno lugar perto de Haaravaara bem no norte do mundo, na Lapónia finlandesa, em condições de preparar o trabalho para a última semana do ano. Alojado na Grande Casa de Cevide, na aldeia mais setentrional deste rectângulo de praia, é local bem discreto, tal como se pretende para a azáfama que me espera… ou esperava, direi. Tem apenas seis habitantes… e a Hanna. A Hanna… a Hanna é o meu problema! Um grave problema que poderá pôr em causa o Natal em Portugal. Caso inédito seria…

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Ser-se Pai Natal, sem barriga nem barbas, a título precário, deslocalizado para o país do sol, longe das neves e dos gelos, longe dos supermercados das renas e dos trenós, acreditem que não é fácil; agora ser Pai Natal e ter conhecido a Hanna é muito mais complicado... Incompatível, direi eu, pois o rigoroso e frio manual de instruções para Pais Natal é bem claro: proibido todo e qualquer tipo de paixões! É falta grave, e para além de perdermos a magia que nos orienta na noite-luz, o alarme soa na sede e desligam o Natal para o país onde estamos. Uma tragédia nunca sentida! Até entendo o regulamento - não pode haver distracções, atrasos ou presentes trocados. Concentração absoluta na função é brio. Dizem que nos tempos idos era mais fácil, pois acreditava-se no Pai Natal e esperava-se pacientemente por qualquer presente, fosse ele de que espécie fosse. Os miúdos de agora já não perdoam, não esperam e são bastante exigentes. Mas o que mais me dói é ser Pai Natal por uma noite, uma vez por ano, e tão pouquíssimos acreditarem na causa. Cem horas de formação intensiva para ter um “ho-ho-ho” capaz, e ninguém nos leva a sério. Que mágoa! A Hanna, filha da proprietária do meu alojamento, aos meus olhos é uma mulher doce, delicada, portadora de um olhar sorridente e penetrante, apaixonada, inteligente e misteriosa; tirou-me o chão definitivamente quando, após questionar se na Lapónia os elefantes voavam, e lhe ter respondido que a minha especialidade eram as renas e que achava que tais animais eram abundantes mas noutras latitudes, respondeu que voavam; aliás, todos voavam mesmo sem asas, pois o que faz voar é a mente, o espirito… a nossa cabeça. A falta de asas é apenas uma desculpa para quem não sabe ou não quer deixar voar; ninguém é prisioneiro, desde que sonhe - rematou.

@BGR

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Estas palavras soletradas com o brilho dos olhos não me deixaram qualquer dúvida de que estava na presença do outro pedaço que tanto procurava. Eu não escondia esta condição e sentia que Hanna a saboreava - já passavam mais de oito dias de longas conversas, intensos olhares e sorrisos cúmplices - pois fazia questão de me convidar todos os dias para um longo e pachorrento passeio pelas margens do Trancoso e do Minho, realçando cada bucólico recanto e dando a conhecer toda a beleza do local, em harmonia com as transparentes e abundantes águas que cheias de vida alegremente corriam para a foz.

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CONVIDADO

Ontem, sobre a ponte de tábuas que os miúdos levantaram, tropeçou e caiu desamparada nos meus braços, que nem presente de Natal inesperado pois, como sabem, ninguém oferece prendas ao Pai Natal. O beijo trocado num desejo mútuo e incontido foi como um grande laço… um laçarote indescritível, tal a sua beleza e a força que me prendeu a este alguém. Nesse momento, sem sonhos nem irrealismos, descobrir que esse alguém não pode ser de mais ninguém, tal como eu a mais outro alguém pertencia. E agora? Que faço eu, Pai Natal, que não posso apaixonar-me? Irei partir, fugir… sei lá… sem olhar para trás, abandonando quem me faz sorrir? Será justo? Liberto-me do peso da minha profissão e abarco o amor a dois, privando dez milhões da festa natalícia? Será justo? Sinto-me mal, sem forças para tamanha empreitada! Estarei doente? Será que estou a morrer??? Será possível morrer… de amor? Claro que não se morre de amor!!! Nunca se morreu de amor!!! Aliás, não conheço ninguém que tenha tido tal sorte, nem ninguém que conheça alguém.

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No século da racionalidade, da tecnologia e do fundamentalismo, não se morre de amor. Morre-se de tudo, morre-se de nada, da desgraça, do cataclismo, da fome e da sede, do coração e do tabaco, da preguiça e do trabalho, mas de amor, morrer de amor é coisa das fábulas e dos contos que os meus avós desfiavam vezes sem conta, para que o ritual da sesta se cumprisse mesmo na metade do ano em que a luz não se despe. É caso para dizer, coitado do coração… Bem precisa das campanhas de promoção e do Maio, para tentar reparar-se e valorizar-se. Não imagino o coração a lutar contra a razão, pois normalmente o coração perde. Perde e perderá sempre. O coração não pensa, age. A razão equaciona e estimula. Actua com certezas refinadas, e por isso ganha, e ganhará sempre. Bom é morrer de amor vezes sem conta e continuar bem vivo para usufruir e viver a história. Que bonito, dirão todos. Sim… que bonito… Não fora eu o Pai Natal e também entraria no coro… Com a quadra a bater à porta, sem qualquer vontade de trabalhar, atafulhado num imenso rol de endereços que terei de visitar, de frente para a enorme montanha de prendas a embrulhar, apenas tenho pensamentos para a Hanna, mas o peso do compromisso assumido com a entidade patronal desassossega-me e tira-me lucidez. Que faço eu, Pai Natal, que me deixei apaixonar? E agora? Que faço? A Hanna ou o Natal??? Um amor para duas vidas ou um Natal para um país? O que vale mais? Ajudem-me a decidir… Afinal, só terão de optar pela harmonia de duas pessoas, ou por uma quadra festiva! Grato

Um Pai Natal desesperado

texto de Eliseu Pimenta, a quem muito agradecemos ter sido o nosso...Pai Natal

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Tanto mar... Quando uma mulher ama Brasil BALTAZAR DESOLADA ELA PERGUNTA: por que demora e não esqueço meu primeiro amor que foi levado pelo vento? CANSADA ELA CHORA: chego ao trono da insensatez desfeito sozinha com a dor de ser nesta vida passageira. SOLITÁRIA ELA PENSA: um de nós espelha a humanidade inteira somos fagulha, rastro na órbita do solidão cada um é centelha que brilha um instante. O tempo habita os corações, é como a traça. O tempo constrói sua casa perfurando tecidos deixa marcas, abre passagens. Para a traça a ruína é morada, para o coração cansado o tempo não passa. (Os pensamentos dela sangram, têm ritmo, têm pulso e duram no tempo mesmo se dorme; Os pensamentos dela são estrias abertas na epiderme dum oceano, fagulha centelha na órbita do engano) INQUIETA ELA CONCLUI: se o amor é dor profunda na carne, a marca não some; se o amor é evento distante, a dor não se mostra; mas se aquele amor habita companheiro o pensamento é para a vida inteira ferida viva que dói, mata e não sangra

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A minha pátria é a Língua Portuguesa | Fernando Pessoa

Uma noite especial Portugal

MALIK

Naquele fim de tarde o espírito de Natal pairava no ar entrava em conflito com o tempo difícil que estava a passar, perdido o emprego, contas por pagar, marido doente a todo o momento, o ficar sem tecto, tormento na mente, sem prenda p’ro filho, luz dos meus olhos, amor permanente; Tocaram à porta, espreitei e vi um vulto no jardim era um mendigo, talvez sem abrigo, lembrei-me de mim, olhei-o nos olhos e sem mais receios convidei-o a entrar ofereci-lhe um banho para usufruir de algum bem estar, meu filho pediu, por favor mãe, que fique para jantar; Lá fomos p’rá mesa farta de pobreza para partilhar intuí uma mensagem, surgiu uma imagem, tudo vai mudar, este mendigo teria consigo um poder curador olhar penetrante, raio cintilante, mago redentor, meu filho sorriu, como quem abriu, o cofre do amor; Esta noite do ano, sem qualquer engano, muita Luz faz nascer até o avarento, de humor cinzento, acaba por crer, que a Luz da Verdade não conhece idade nem escolhe morada cobre toda a Terra, derrota a guerra, ilumina a jornada, meu filho é prova que a vida renova qual seiva sagrada!

... entre nós N 11 - Dezembro 2017

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17anos antes CRIADOR DE IMPOSSÍVEIS por Carina Pereira

Sora recusava agora encará-la, apesar das tentativas de Ignis, passado o choque inicial. Virada de costas para ela, de pé, fitava a parede da sala de estar. Falava, porque precisava de contar tudo a Ignis antes que perdesse a coragem que lhe fora arrancada pelas circunstâncias. Ignis ouvia. Queria ficar zangada, queria acusá-la de lhe ter mentido, mas não conseguia. Sora era a sua guardiã, tinha-a criado e pouco importava se o seu sangue corria nas suas veias ou não. Fora com ela que aprendera o que é o amor de mãe, fora com ela que aprendera o conceito de família. Havia tanto ainda para assimilar, mas de uma coisa tinha a certeza: independentemente do que acontecesse, Sora seria sempre a sua mãe. Já não era a primeira vez que Escarlate visitava a terra lá em baixo, mas era a primeira vez que não o fazia sozinha. Da última vez tinha demorado tanto a regressar que a tinham vindo buscar. Não queria deixar Aperos para sempre, mas queria conhecer o povo dali o melhor possível. Queria aprender a curar com as ervas medicinais que não cresciam naturalmente em Aperos. Queria levar algumas para as estufas deles e vê-las crescer. Queria fazer mais do que aquilo que tinha tempo para fazer. Sora viera por curiosidade e para completar estudos, mas agora mostrava-se ainda mais reticente em relação ao povo. Dizia que eram estranhos, sádicos até, enquanto Escarlate insistia que eram apenas diferentes. Gostaria de lhe ter provado o quão errada estava, mas a situação que tinham presenciado uns dias antes inquietara ambas. Agora, Sora tinha desaparecido e Escarlate não sabia dela. Não havia nenhuma nota, pegadas, nada que pudesse guiá-la na direcção da outra, por isso tinha de esperar ali até ela regressar ou perder-se-iam uma da outra. Sora chegou pouco depois da meia-noite. Guiara-se na escuridão com a ajuda de uma pequena chama que lhe brotava da mão; no outro braço, segurava o que parecia um emaranhado de trapos. Escarlate levantou-se e, mesmo sem ver na totalidade, soube logo. - O que é que foste fazer? Sora abanou a cabeça, não queria responder. Entrou na tenda, apagando o fogo da mão, e pousou o que carregava sobre o seu saco-cama. Deitou a mochila para o chão com cuidado. A tenda estava quente. Lentamente, desenrolou os trapos, e lá dentro um bebé dormia profundamente.

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- Não posso deixá-la aqui assim. – levantou-se, encarando Escarlate – Não podemos deixá-la aqui assim. Tu viste as condições em que a mantinham. Se não fizermos nada, matam-na. Escarlate agarrou-lhe o braço, um costume quando queria acalmá-la. - Não podemos fazer isto. Temos de ir aos serviços sociais… - Que serviços sociais, Escarlate? Tu já viste como é que eles funcionam aqui? Ela corre perigo. Eu não a deixo voltar para a família dela. Se queres ajudar-me, tudo bem, senão eu levo-a sozinha. - Leva-la? Mas leva-la para onde? Sora fitou-a, mas não respondeu. Não era preciso. - Tu vais raptá-la? - Escarlate, os pais dela deixam-na sozinha horas seguidas. Não a alimentam, olha – descobriu o torso do bebé com cuidado, tentando não o acordar – tem nódoas negras. Eu sei que não está certo levá-la assim, sem dizer nada, mas eles são perigosos e não querem cuidar de um bebé. Vão acabar por matá-la. A forma como os serviços sociais funcionam aqui… eu vim para cá para estudar exactamente isso, e está ali a conclusão a que chegamos. – apontou para uma capa, onde estavam guardados os vários relatórios que Sora tinha feito para apresentar mais tarde em Aperos – Ela vai comigo. - E o que é que vais dizer lá em cima? Que raptaste um bebé? - Não. – decidiu Sora, e Escarlate viu nela uma determinação que não sabia existir ali – Vou dizer que é minha. - Mas… nós não ficámos sequer cá tempo suficiente para essa mentira… - Vamos ficar. Eu vou, pelo menos. E se tu decidires ir contra isto, eu desapareço. Nunca mais regresso a Aperos. Escarlate engoliu em seco. Entendia o lado de Sora, entendia o porquê da decisão dela, mas não concordava com o que estavam prestes a fazer. Sim, porque em todo o tempo em que tentara demover Sora da ideia, Escarlate sabia que no final faria exactamente tudo o que Sora lhe pedisse.

CONTO

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Formação “Escrita Criativa” Istambul | Novembro 2017

@ Melhores destinos de viagens

LEITURAS MODA

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ERASMUS

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LER O MUNDO Erasmus! Acho que a certa altura da nossa vida ouvimos falar neste nome. Não, não vou falar-vos de Erasmo de Roterdão, filósofo holandês, mas sim do Programa da União Europeia Erasmus+ e das minhas experiências.

por Isaura Pereira

Tive recentemente numa formação em Istambul, na Turquia, subordinada ao tema “Creative Writing | Working with and about Refugees”, que decorreu de 30 de Outubro a 4 de Novembro de 2017. Esta formação foi desenvolvida para técnicos que trabalham com jovens. Estes foram alguns dos objectivos da formação: • Obter maior conhecimento sobre o que é a escrita criativa; • Explorar o potencial da escrita criativa no trabalho com jovens; • Partilha de experiências de trabalho com refugiados. • Entre outros… Durante estes quatro dias tive a oportunidade de conviver e partilhar experiências com pessoas de outros países, como Polónia, Turquia, Hungria, Lituânia, Egipto, Palestina, Jordânia, Bósnia e Sérvia. Uma formação muito dinâmica, sempre com muitos jogos de grupo, teambuilding e icebreakers. Dar uma formação a 27 participantes de países diferentes, com línguas e culturas diferentes e backgrounds distintos, não é fácil. Há que “quebrar o gelo”. Após essa fase tudo parece simples. Foi uma semana de trabalho intenso, sobre escrita criativa e como utilizar essa ferramenta no trabalho com jovens e com ou para os refugiados. Como formadora e trabalhadora social aprendi muitas outras técnicas e adquiri competências que só formações como estas são capazes de fornecer.

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É cliché dizer que foi uma experiência enriquecedora. Mas de facto foi. Toda esta partilha de momentos, de cultura e de conhecimento contribuiu não só para o meu desenvolvimento enquanto profissional, mas também enquanto cidadã. O trabalho com refugiados é uma realidade muito preocupante em todo o mundo, mas especialmente na Turquia. Tivemos ainda a oportunidade de visitar um Centro de Acolhimento para Refugiados em Istambul, onde recebem principalmente refugiados provenientes da Síria. Há muito trabalho a fazer. São precisas ideias, projectos, voluntários, financiamento e muita boa vontade. Mas vou explicar um pouco o que é o Programa Erasmus+.

O que é o Programa Erasmus+?

LEITURAS MODA

O Erasmus+ é o programa da União Europeia para a educação, formação, juventude e desporto. Dá a milhões de europeus oportunidades de estudo, formação, aquisição de experiência e voluntariado no estrangeiro.

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A quem se destina? Pessoas: Pessoas de todas as idades que queiram partilhar e adquirir conhecimento ou experiência em diversas intuições de outros países. Organizações: universidades, organizações variadas, estabelecimentos de ensino e formação, associações locais e empresas privadas.

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Quais são os seus objectivos ? Os seus objectivos principais são: • Redução do desemprego, especialmente dos jovens; • Promoção da educação de adultos; • Promoção da participação dos jovens na democracia europeia: • Promoção da mobilidade e da cooperação com países parceiros da UE

Mais informações:

Como participar? Para participar nestas experiências temos de ir através de uma organização de envio. Eu fui pela Associação Check-IN – Cooperação e Desenvolvimento. É uma organização sem fins lucrativos que promove diversos projetos e oportunidades para uma participação activa na sociedade, sobre desenvolvimento sustentável e na aprendizagem ao longo da vida. Gostavam de embarcar nesta aventura? Ela espera por todos vós!

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Testemunhos: “The training was very informative and also very interactive. The way how it was organized provided a great sample to use them in youth work. I liked the session that was led by a professional novelist on creative writing the most.” Enikő Bereczki, 41 anos, Coordenadora de Formação – Budapeste, Hungria

“This training was a new lesson for me. From this training I have learned a very important aspect of the Creative Writing. It was a great lesson for me because I have had the chance to meet with new colleagues of the region with whom we are exchanging different experiences and our thoughts. The trainers have been great and I thank them for their commitment. I have been challenged and motivated. The agenda was very well planned, the activities informative and practical, and we had fun at the same time, the atmosphere casual and warmly comfortable. The information and techniques that this workshop’s presented us with in the four-day workshop really opened my eyes to a different way of not only targeting our hidden potential, but getting them on the hook. Different cultures, different backgrounds but our goal was the same ‘making tomorrows better’”.

LEITURAS MODA

Eda Kaya, 22 anos, Estudante de Psicologia – Izmir, Turquia

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Voltamos em

Fevereiro


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