Lyric Singer

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antores LĂ­ricos





A interpretação de uma profissão perdida vai muito para além daquilo que talvez tenhamos ambicionado algum dia vir a ser. Uma profissão em vias de extinção cujo apogeu foi há bastantes anos atrás. Uma interpretação livre de profissão perdida.




ร pera de Florenรงa, 1837 Florenรงa, Itรกlia


Cantores Líricos Ser um cantor lírico requer uma série de exigências e, principalmente, dedicação. Para além de ser necessário algo que muitos denominam de “dom” para o canto, um cantor lírico deve ter um conhecimento alargado de diferentes idiomas, teatro, literatura, cenário e, claro está, da sua voz e do que consegue fazer com ela. Um cantor de ópera tem de conseguir sobressair perante uma plateia cheia de gente, perante a banda e todos os outros cantores que o acompanham na peça, tem de ter um timbre vocal capaz de arrepiar as pessoas que assistem à ópera, por isso um grande trabalho a nível vocal é extremamente importante para que esta tenha a potência adequada para se destacar. Como era de esperar, não se pode falar de cantores líricos sem se fazer uma referência à ópera uma vez que se a ópera não existisse, também os cantores líricos não existiriam ou não seriam uma profissão comum.


Ópera A ópera é um género artístico teatral que consiste num drama acompanhado por música, ou seja, uma composição teatral onde se combina a música instrumental com o canto. Geralmente os cantores líricos (actores deste tipo de teatro especial) são acompanhados por um grupo musical que, em alguns casos, pode ser uma orquestra sinfónica completa. Uma ópera segue um roteiro padrão: a Abertura, onde a orquestra toca uma música, e o Recitativo, onde os cantores líricos ficam a dialogar através do canto e onde podem ser acompanhados, ou não, pela orquestra enquanto cantam. Cada cantor lírico tem a sua “especialidade” que está relacionada com o seu timbre vocal. De acordo com este, podem ser divididos em diferentes categorias. A origem da ópera remonta para Itália no final do século XVII. Ópera em Italiano significa trabalho e naquela época surgiu com o objectivo de definir as peças de teatro musical. Essas peças eram, até então, referidas com termos universais como “dramma per música” (drama musical) ou “favola in música” (fábula musical), uma espécie de diálogo falado ou declamado acompanhado


por uma orquestra. Devido ao seu local de origem, a maior parte das óperas é encenada em italiano e latim, e as suas origens remontam para as tragédias gregas e os cantos carnavalescos italianos, no entanto, isso não impediu que outros artistas que não italianos escrevessem ou representassem óperas noutras línguas. A primeira obra considerada uma ópera data de 1594 em Florença; chama-se ”Dafne” e foi escrita por Jacopo Peri e Rinuccini. “Dafne” foi uma tentativa de reviver uma tragédia grega, como parte de uma ampla reaparição da antiguidade que caracterizou o Renascimento. Apesar de ter uma origem Italiana, existem três grandes línguas representativas da ópera: o Italiano, o Alemão e o Francês. Para além disso, e obviamente tendo sempre em conta influências dos três países naquilo que é a ópera. Foi em Itália que se definiram os três grandes géneros de ópera: Ópera Buffa, Ópera Séria e Bel Canto. Foi a união entre luz, som, representação e cenografia que deram origem ao que designamos, nos dias de hoje, por Arte Multimédia.


Timbres Femininos Contralto

Voz baixa e grave

Mezzo-soprano

Voz feminina mais comum e intermédia

Soprano

Voz mais aguda e com maior alcance

Timbres Masculinos Baixo

Voz grave e rara, com pequeno alcance vocal

Baixo Barítono

Pode ser alta voz grave ou voz baixa; partilha características com o timbre do barítono

Barítono

Voz intermédia, grave e aveludada

Tenor

Voz masculina mais aguda produzida sem recorrer ao falsete

Contratenor

Voz que utiliza o falsete para atingir registos mais agudos




pera Italiana




Teatro di San Carlo Nรกpoles, Itรกlia


Foram três grandes cidades italianas que contribuiram para o desenvolvimento da ópera: Roma onde foram aperfeiçoados os coros, Nápoles onde se destacou o Bel Canto, também conhecido como a arte de bem cantar, e Veneza cidade na qual se destacou, sobretudo, a parte instrumental da ópera (conhecida como orquestra). A escola de ópera mais importante foi a de Veneza, onde nasceu também o primeiro génio da ópera Claudio Monteverdi. Francesco Cavalli, discípulo de Monteverdi, aperfeiçoou o seu estilo, agrupando as diferentes vozes em duetos, tercetos e quartetos e colocando os coros como algo secundário; introduziu também alguns elementos cómicos na ópera. Já em Roma, contava-se com Giacomo Carissimi e Antonio Cesti (seu discípulo) que acabou por dividir a ópera em Ópera Séria (“dramma per musica”), um estilo nobre e sério com origem nas convenções austeras do drama através da música do alto barroco, e Ópera Buffa (“commedia per musica”), que corresponde à ópera cómica, onde nem sempre o cómico se fazia notar da maneira mais clara. Por sua vez em Nápoles, Alessandro Scarlatti ligou a escola do contraponto e a do Bel Canto, que por sua vez se caracteriza através dos peculiares adornos vocais do solista; neste género, a melodia acaba por adquirir maior fluência e graça.



pera Francesa




ร pera Garnier -Palais Garnier Paris, Franรงa


Rivalizando com produções importadas da ópera italiana, uma tradição francesa separada e cantada em francês, foi fundada pelo compositor italiano Jean Baptiste Lully, em meados de 1672. Foi influenciada pelo “bel-canto” de Rossini e nela permaneceram presentes interlúdios de balett e elaboradas maquinarias cenográficas. Dentro da Ópera Francesa, podemos considerar dois grandes género de ópera, a saber: Ópera-Comique, género que consiste em diálogos falados e está directamente relacioanda com a ópera-buffa (ópera com um sentido mais cómico). Grand Ópera: caracterizada por ter decorações luxuosas e elaboradas, um grande coro bem como uma grande orquestra, baletts obrigatórios e um grande número de personagens.



pera AlemĂŁ




Teatro CuvilliĂŠs Munique, Alemanha


Inspirada predominantemente na ópera italiana, começou a desenvolver-se em meados do século XVII na Alemanha uma tradição operística na língua materna. Heinrich Schutz, compositor, foi considerado o pai deste estilo musical neste país. Naquela altura a ópera apenas era acessível às famílias mais abastadas, daí existirem teatros de óepra da corte onde dominavam as óperas italianas e onde apenas podiam entrar pessoas da mais alta sociedade da época; a ópera sempre foi considerada algo requintado e luxuoso. Assim sendo, o primeiro edíficio de ópera alemão teve origem em Munique. No entanto, existiam também teatros de ópera públicos e populares em Hamburgo, Hannover e Leipzig, onde a programação das obras e autores ia de encontro à língua alemã. A nível de compositores, destacam-se dois: Richard Wagner e Richard Strauss.



Ópera Séria Itália, Áustria, Alemanha e Inglaterra são alguns dos países que contribuiram para a herança na Ópera Séria, sendo que a maior parte dos libretos eram italianos.


É um termo musical que se refere a um estilo nobre e sério da ópera italiana que acabou por ter o seu apogeu entre 1710 e 1770. Apesar de ser quase sempre composta por libretos em italiano não era apenas composta em Itália. Países como Áustria, Alemanha e Inglaterra também tiveram um papel relevante na Ópera Séria. Alguns dos compositores mais importantes deste gnero foram: Alessandro Scarlatti com La Griselda (dividida em três atos, foi uma das suas poucas óperas que chegaram inteiras aos dias de hoje; foi a primeira ópera a ser apresentada no Teatro Capranica, em Roma, em Janeiro de 1721 apenas com cantores líricos masculinos), Johann Adolf Hasse com Cleofide ou Artaserse, Leonardo Vinci, Nicola Porpora, Georg Friedrich Händel, e, na segunda metade do século XVIII, Tommaso Traetta, Christoph Willibald Gluck, e Wolfgang Amadeus Mozart com Mitridate, re di Ponto.


La Griselda Alessandro Scarlatti



La Griselda Alessandro Scarlatti


Antonio Bernacchi Nasceu a 23 Junho de 1685 e faleceu a 1 de Março de 1756. Foi um cantor lírico italiano que nesta ópera interpretou o papel de Gualtiero, o Rei da Sicília.

La Griselda Alessandro Scarlatti


La Griselda Alessandro Scarlatti


Domenico Fontana Tendo vivido entre 1692 e 1739, foi um cantor lírico italiano que se especializou em papéis femininos devido ao timbre da sua voz, e foi por isso, e porque tinha uma certa graciosidade em palco, que ficou conhecido como “Farfallino” (pequena borboleta). Nesta ópera interpretou o papel de Griselda, a mulher de Gualtiero.

La Griselda Alessandro Scarlatti


La Griselda Alessandro Scarlatti


Giovanni Carestini Foi um cantor lĂ­rico que viveu entre 1704 e 1760; nesta Ăłpera desempenhou o papel de Constanza, a filha do Rei e de Griselda.

La Griselda Alessandro Scarlatti




Mitridate, re di Ponto

Wolfgang Amadeus Mozart



Mitridate, re di Ponto Wolfgang Amadeus Mozart


Antonia Bernasconi Foi uma cantora lĂ­rica que interpretou Aspia, a Rainha.

Mitridate, re di Ponto Wolfgang Amadeus Mozart




Ópera Buffa Nápoles: a cidade onde a Ópera Buffa se tornou popular; foi aqui que os cantores líricos começaram a ter oportunidades para exibir as suas capacidades vocais.


A Ópera Buffa refere-se à ópera como comédia. A sua origem está ligada a desenvolvimentos musicais e literários que ocorreram em Nápoles, cidade a partir da qual acabou por se espalhar para Roma e outros locais no norte de Itália, no início do século XVIII. De carácter ligeiro e burlesco, mantém o efeito dramático associado à ópera, mas frequentemente converte-se em vulgar e comum. O diálogo é falado e, apesar do nome, a acção nem sempre é cómica. Este estilo de ópera tornou-se popular em Nápoles, onde os cantores líricos tinham várias oportunidades para exibirem as suas capacidades, técnicas e adornos vocais, quanto mais únicos fossem os seus timbres mais sucesso e destaque acabariam por ter. Os grandes compositores ligados a este género foram Nicola Logroscino com L’inganno per inganno, Baldassare Galuppi com Enrico e Gioachino Rossini com Il barbiere di Siviglia.


Il barbiere di Siviglia Gioachino Rossini



Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini


Manuel Garcia Foi um cantor lĂ­rico espanhol que nasceu a 21 de Janeiro de 1775 e faleceu a 10 de Junho de 1832; nesta obra interpretou o papel de Conde de Almaviva.

Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini


Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini


Geltrude Rightetti Foi uma cantora lírica italiana que viveu entre 1793 e 1862 e que era, normalmente, associada às óperas de Rossini; nesta ópera interpretou Rosina, uma jovem rica que vivia na casa de Bartolo.

Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini


Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini


Luigi Zamboni Foi um cantor lĂ­rico italiano que nasceu em 1767 e morreu a 28 de Fevereiro de 1837; interpretou FĂ­garo, o barbeiro.

Il barbieri di Siviglia Gioachino Rossini




Bel Canto Estilo presente na Ópera Italiana desde o início do século XIX, caracteriza-se pelo virtuosismo e adornos vocais do cantor lírico.


O bel-canto teve o seu apogeu mais tarde que os outros géneros. Foi apenas em meados do século XVIII que começou a ser rechonhecido e a ganhar mais fama, contudo, os seus anos de ouro debruçam-se já sobre o século XIX. Baseia-se numa expressão vocal distinta, em que o drama é expresso através do canto, valorizando-se sobretudo a melodia. Apesar de ter tido o seu período mais marcante no século XIX, foi um estilo que ficou abandonado por décadas. Foi já em meados do século XIX que se resgatram e retomaram algumas óperas características deste género. Assim como a Ópera Buffa, também os timbres e arranjos vocais dos cantores são extremamente relevantes neste estilo operístico. Como compositores com óperas desde género podemos destacar Richard Wagner com Tristan und Isolde, Giacomo Puccini com Madama Butterfly e Turandot, e Vicenzo Bellini com Il pirata.


Tristan und Isolde Richard Wagner



Tristan und Isolde Richard Wagner


Ludwig Carolsfed Foi um cantor lírico alemão nascido a 2 de Julho de 1836 que acabou por falecer a 21 de Julho de 1865, tendo tido uma vida bastante curta devido a uma grave doença; nesta ópera criou e interpretou Tristan.

Tristan und Isolde Richard Wagner


Tristan und Isolde Richard Wagner


Malvina Carolsfed Foi uma cantora lírica portuguesa que viveu entre 1825 e 1904 e que se tornou famosa no mundo da ópera através de óperas alemãs; criou e interpretou, assim como o seu marido (Ludwig Schnorr von Carolsfed), Isolde, uma princesa irlandesa.

Tristan und Isolde Richard Wagner


Tristan und Isolde Richard Wagner


Anna Deinet Foi uma cantora lírica alemã (1843 a 1919) cuja fama teve origem com a primeira exebição da ópera de Wagner onde interpretou o papel de Bragabe, uma criada de Isolde.

Tristan und Isolde Richard Wagner


Tristan und Isolde Richard Wagner


Anton Mitterwurzer Foi um cantor lírico alemão que viveu entre 1818 e 1876; nesta ópera interpretou Kurwenal, o servo de Tristan.

Tristan und Isolde Richard Wagner


Madama Butterfly Puccini



Madama Butterfly Puccini


Rosina Storchio Foi uma cantora lírica italiana que nasceu a 19 de Janeiro de 1976 e faleceu a 24 de Julho de 1945; era frequentemente convidada para fazer os papéis principais nas estreias das óperas de Puccini. Interpretou Cio-Cio-San, a Madama Butterfly.

Madama Butterfly Puccini


Madama Butterfly Puccini


Giovanni Zenatello Foi um cantor lĂ­rico italiano que viveu entre 1876 e 1949; disfrutou de uma carreira internacional de primeira e nesta Ăłpera interpretou Pinkerton, um tenente da marinha Americana.

Madama Butterfly Puccini


Madama Butterfly Puccini


Giuseppe De Luca Foi um cantor lĂ­rico italiano nascido a 25 de Dezembro de 1876 que faleceu a 26 de Agosto de 1950; nesta Ăłpera interpretou o papel de Sharpless, consul dos Estados Unidos em Nagasaki.

Madama Butterfly Puccini




Turandot Puccini



Turandot Puccini


Rosa Raisa Foi uma cantora lírica que viveu entre 1893 e 1963 e que possuía um timbre vocal único, e foi por isso que surgiu a personagem e ópera Turandot de Puccini. Interpretou a Princesa Turandot.

Turandot Puccini


Turandot Puccini


Miguel Fleta Foi um cantor lĂ­rico espanhol que nasceu em Dezembro de 1897 e faleceu em Maio de 1938; interpretou o papel de Calaf, o PrĂ­ncipe Desconhecido.

Turandot Puccini




pera Portuguesa




Teatro Nacional de SĂŁo Carlos Lisboa, Portugal


Falando agora da ópera portuguesa, não existem registos de grandes cantores líricos portugueses. No entanto, é de salientar o nome e a vida de duas cantoras que exerceram esta profissão: Malvina Schnorr von Carolsfed e Luísa Todi. Ambas tiveram sucesso na sua carreira, certamente que em alturas diferentes e fora do país de origem.



Malvina von Carolsfed Nasceu a 7 de Dezembro de 1825 na Dinamarca, tendo falecido a 8 de Fevereiro de 1904. Foi uma cantora lírica portuguesa que se tornou famosa no mundo da ópera com as óperas alemãs; foi juntamente com o seu marido, Ludwig Schnorr von Carolsfeld, que criou os papéis principais da ópera Tristan und Isolde de Wagner, onde ambos interpretaram as personagens de grande destaque.



Luísa Todi Nasceu a 9 de Janeiro de 1753 em Setúbal e faleceu em Lisboa a 1 de Outubro de 1833, aos 80 anos. Começou a sua carreira nos teatros musicais aos 14 anos; estreou-se em 1771 na corte portuguesa de D. Maria I e cantou no Porto entre 1772 e 1775. Foi também muito cedo que decidiu partir rumo a Londres e deixar para trás o seu país, em 1777; no entanto, não obteve sucesso imediato e acabou por passar algumas dificuldades. Sem nunca desistir do seu sonho viu a sua vida a voltar ao caminho certo em 1778 em Paris, onde assinou um contrato como prima-dona e apenas 2 anos depois foi considerada uma das melhores vozes de sempre. Viajou e cantou pela Áustria, Alemanha, Espanha e Rússia; voltou a Portugal em 1783 para cantar novamente na corte portuguesa. Entre 1784 e 1789 fez parte da corte de Catarina II da Rússia, onde foi presenteada com jóias fabulosas pelo seu talento e onde, como agradecimento, escreveu a ópera Pollinia para a imperatriz, juntamente com o seu marido. Após um grande sucesso internacional, maioritariamente espalhado pela Europa, terminou a sua carreira em Nápoles em 1799. Como cantora lírica aclamada, era capaz de cantar com a maior perfeição em quatro línguas diferentes (francês, inglês, italiano e alemão) e foi considerada a meia-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos.





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